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O ENSINO DA DANÇA: (RE) PENSANDO CONCEITOS NO AMBIENTE ESCOLAR Roberto Rodrigues RESUMO O ensino da dança no âmbito escolar vem sendo, historicamente, difundido a partir do pensamento tradicional que defende um corpo disciplinado e tecnicamente preparado para a execução dos repertórios e espetáculos de dança. A Educação Física ao chamar para si a responsabilidade de tratar tal conteúdo, disseminou os mesmos ideais que pregam uma prática excludente. Ao conceber um padrão de corpo para executar dança, a prática pedagógica se desvincula do entendimento crítico e consciente da realidade social. Refletindo sobre tal problemática o presente estudo visa, a partir de uma revisão bibliográfica, discutir e (re) pensar o ensino da dança, propondo um olhar contemporâneo acerca desta manifestação artística no ambiente escolar. Palavras- chave: Dança. Contemporaneidade. Educação Física. INTRODUÇÃO A dança como arte reveladora do corpo e suas dimensões vem sendo, ao longo de muitas décadas, difundida e “ensinada” a partir dos preceitos racionalistas impregnados pelo cientificismo e a lógica industrial. Ao tratar do corpo e suas contradições, esta foi silenciada e, posteriormente, formatada de acordo com os interesses das diversas sociedades atendendo aos contextos políticos que dimensionam e regulam a existência humana. A inserção da dança no âmbito escolar trouxe para a área alguns conflitos que se revelam a partir da perda de sua especificidade, uma vez que, o pensamento tradicional historicamente enraizado no chão da escola, sempre ditou os caminhos que o ensino da dança percorreria. Desta forma a Acadêmico do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Goiás- ESEFFEGO

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Investigação sobre o ensino da dança na escola no ensino fundamental.

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PENSANDO A DANA: PROBLEMATIZANDO O CORPOREIDADE ATRAVS DA EXPERIMENTAO E IMPROVISAO NO MBITO ESCOLAR

O ENSINO DA DANA: (RE) PENSANDO CONCEITOS NO AMBIENTE ESCOLAR(Roberto Rodrigues

RESUMO

O ensino da dana no mbito escolar vem sendo, historicamente, difundido a partir do pensamento tradicional que defende um corpo disciplinado e tecnicamente preparado para a execuo dos repertrios e espetculos de dana. A Educao Fsica ao chamar para si a responsabilidade de tratar tal contedo, disseminou os mesmos ideais que pregam uma prtica excludente. Ao conceber um padro de corpo para executar dana, a prtica pedaggica se desvincula do entendimento crtico e consciente da realidade social. Refletindo sobre tal problemtica o presente estudo visa, a partir de uma reviso bibliogrfica, discutir e (re) pensar o ensino da dana, propondo um olhar contemporneo acerca desta manifestao artstica no ambiente escolar.Palavras- chave: Dana. Contemporaneidade. Educao Fsica.

INTRODUOA dana como arte reveladora do corpo e suas dimenses vem sendo, ao longo de muitas dcadas, difundida e ensinada a partir dos preceitos racionalistas impregnados pelo cientificismo e a lgica industrial. Ao tratar do corpo e suas contradies, esta foi silenciada e, posteriormente, formatada de acordo com os interesses das diversas sociedades atendendo aos contextos polticos que dimensionam e regulam a existncia humana.

A insero da dana no mbito escolar trouxe para a rea alguns conflitos que se revelam a partir da perda de sua especificidade, uma vez que, o pensamento tradicional historicamente enraizado no cho da escola, sempre ditou os caminhos que o ensino da dana percorreria. Desta forma a prtica pedaggica sempre foi permeada pelo tecnicismo que encobre e aprisiona o corpo e seus movimentos.Fazer dana parece, para alguns, sinnimo de destreza e tcnica. Um corpo esbelto, flexvel, com postura e capaz de executar uma gama de feitos hericos que caracterizam o movimento perfeito. Assim s dana quem nasceu para danar.O pensamento contemporneo trouxe para a dana uma dinamicidade e criticidade que revela o sentido humano e problematizador da corporeidade humana. O corpo e todas as suas manifestaes podem ser sentidos e danado emergindo em construes peculiares que trazem para a dana uma pluralidade e uma nova dimenso esttica para a realidade na qual est inserida.

A Educao Fsica, ao chamar para si a responsabilidade de tratar tal contedo no tem se atentado para essas discusses e pensamentos, essenciais no processo de formao humana, reafirmando os ideais do pensamento tradicional que silenciam as potencialidades do ser e exclui uma parte significativa dos alunos no ambiente escolar. Nesse sentido a tematizao da dana no mbito formal tem que perpassar pela dialtica da realidade em busca de questionamentos e a problematizao que trar ao ensino novos significados, em busca de dilogos corporais possibilitando a construo do conhecimento.

Desta forma o presente estudo buscar nas prximas linhas, discutir o ensino da dana na educao formal, mais especificamente no trato dado pela educao fsica, propondo um olhar contemporneo que desperte novos sentidos/significados para a sua prtica pedaggica.

OS CAMINHOS DA DANAFalar de dana no contexto da Educao Fsica um tanto complexo. Esta quando est inserida nos currculos escolares muitas vezes impregnada de conceitos fechados e pensamentos cristalizados do que realmente venha a ser ensinar dana.

A mxima de que quem sabe dana quem no sabe ensina, historicamente enraizada no universo da dana, acaba por influenciar as aes na rea que se tornam esvaziadas de sentido ao fixarem conceitos e mtodos que distorcem os reais significados da prtica pedaggica.

A idia que se tem de dana em alguns espaos acadmicos reforam o pensamento tradicional e simplista do processo na atualidade. O espetacularismo to bem enraizado pelo bal clssico, nos leva a pensar que a dana est limitada movimentos hericos e quem quer aprender dana deve ter um corpo especfico para tal.Contrapondo-se a esses pensamentos, o movimento ps-moderno trouxe para a rea da dana novos conceitos e olhares que buscam questionar o lugar do corpo nessa manifestao artstica. Desencadeada a partir das dcadas de 60 e 70, a dana contempornea tornou-se uma proposta peculiar onde o corpo e os movimentos podem sem aproveitados em toda a sua completude. Focada no corpo humano, esse novo pensamento sobre a arte/dana traz novas dimenses estticas para o processo de criao artstica na atualidade.Os dados fundamentais para este outro jogo no campo da arte foram lanados na dcada de 60, anos marcados pela diluio de fronteiras, englobando experincias de tendncias artsticas diversas, estilos mltiplos, tcnicas mescladas. (FAVARETTO, 1991)O pensamento contemporneo traz, ento, um olhar crtico sobre a arte na realidade social. A dana neste contexto assume novos sentidos/significados ganhando novos espaos no cenrio atual.A insero da dana na escola, por sua vez, no acompanhou os mesmos caminhos. As novas propostas e olhares pairaram apenas nos espaos de formao especfica em dana. Como contedo da Educao Fsica esta pouco discutida e problematizada no mbito escolar. Muitas vezes os professores da rea sequer inserem a dana em seus planejamentos, devido forte influncia do esporte na escola que acaba dominando o espao escolar e pela prpria precariedade das experincias e discusses no universo acadmico.

A arte mudou, mas isto no afetou decisivamente o ensino da dana. Efetuadas as experincias corporais e cnicas das dcadas de 60 e 70, outra concepo de ensino de dana deveria estar hoje em pauta [...] o conceito de dana trabalhado pelos danarinos/coregrafos dos anos 60 e 70 poderia estar fornecendo elementos para que a ao educativa de hoje pudesse levar participao, compreenso, desfrute e reconstruo das atuais aberturas da arte.

(MARQUES, 2001, pp.26 e 27)

A partir dessas reflexes nasce e necessidade de ampliar as discusses acerca do processo educativo da dana, mais especificamente no trato dado pela Educao Fsica.(RE) PENSANDO CONCEITOS

Refletir sobre a arte tambm refletir sobre a cultura corporal. A arte enquanto manifestao simblica do ser humano fala sobre suas emoes, anseios e desejos. O corpo, nesse sentido, o veculo de comunicao e criao do indivduo. atravs dele que o ser humano se expressa e se afirma. Assim, atravs destas relaes que ele estabelece com seu corpo e com o mundo, que este constri sentidos/significados para as suas aes.

A dana como forma de conhecer o mundo permite ao ser humano estabelecer dilogos corporais diretos com as diversas dimenses de sua existncia. Pode ser considerada como linguagem social que permite a transmisso de sentimentos, emoes da afetividade vividas na esfera da religiosidade, do trabalho, dos costumes, hbitos, da sade, da guerra, etc. (Soares et al. 1992, p.82).

nesse cenrio que esto inseridos os pensamentos de Isabel Marques e de alguns tericos da Educao Fsica mentores da abordagem crtico-superadora. Para o ensino da dana h que se considerar, ento, os diversos contextos relacionados ao ser humano. As relaes estabelecidas no ambiente escolar entre educadores e educandos so essenciais para um (re) pensar da dana. preciso refletir, antes de tudo, sobre os papis assumidos entre professores e alunos no processo educativo. Estabelecendo uma relao dialtica, ambos (co) existem enquanto sujeitos ativos na construo do conhecimento. O educador enquanto mediador desta construo deve proporcionar ao educando o acesso aos saberes historicamente produzidos, fazendo uma conexo entre o conhecimento do aluno e o conhecimento cientfico. O educando capaz de questionar e transformar esses conhecimentos de acordo com suas necessidades.

Esse entendimento dos papis assumidos pelos sujeitos envolvidos no processo educativo nos remete ao conceito crtico que deve perpassar o ensino da Educao Fsica e, por sua vez o ensino da dana.

Deste modo, penso que seria interessante hoje, em nossas experincias educativas na rea da dana, problematizarmos a possibilidade de viver o momento, de relativizar o tempo, de no prescrever disciplinas, de enfatizar a relao corporal consigo prprio e com o mundo como vetor de um tempo contnuo, dinmico, internalizado e sentido. (MARQUES, 2001, p.66)O corpo to silenciado nos diversos contextos da histria da humanidade precisa se mostrar, se relacionar conscientemente com o espao, com o tempo, com o outro. Essas relaes to fundamentais precisam ser problematizadas pela dana. Como o corpo se expressa? Por que ele se expressa? Para quem ele se expressa? Perguntas que nos remetem a novos conceitos e propostas. Articular o mundo real com o mundo ideal, ou seja, articular a realidade de cada indivduo com o desejo e o poder de mudanas.

O trabalho com dana tem que se atentar e se vincular ao contexto dos alunos para que se torne um meio de reflexo sobre a realidade social, despertando o desejo de transformao do conhecimento e da prpria realidade. Despertar os nossos alunos para a pesquisa corporal, fazendo com que criem expressem suas potencialidades atravs do corpo. Movimentar-se livremente atentando-se para o que isso pode gerar pode ser um caminho interessante. E como nos coloca Ribeiro (2003) improvisar deixa de ser espontanesta para se tornar uma investigao do acaso e onde ele pode nos levar. Estabelecer dilogos atravs da dana permite construir novos significados para as aes do corpo, desde as mais simples at um salto virtuoso reconstruindo, assim, um mundo mais significativo para o prprio indivduo.

Ouvir, sentir, perceber e experimentar conscientemente as relaes entre respirao, energia muscular, cadeias sseas, etc. e as qualidades do movimento, a ocupao do espao, a escolha das aes permite-nos escolher e decidir em nossos corpos o que melhor para ns. (STINSON apud MARQUES, 2001)

Essas possibilidades de aes tornam-se um fator de (re) construo da conscincia corporal, muitas vezes apagada pela era tecnolgica que condiciona os corpos a partir da perda da percepo de tempo e espao. A capacidade de expresso e criao do ser humano atravs de seu corpo d lugar evaso de sentidos autnticos para a arte/dana que se revela como uma construo prpria onde as relaes corpo/mundo so fatores contribuintes para a construo do conhecimento. E neste contexto que a dana enquanto possibilidade de interveno no processo educativo pode ser ensinada e difundida luz do pensamento crtico na contemporaneidade.Nesse sentido, deve-se entender que a dana como arte no uma transposio da vida, seno sua representao estilizada e simblica. Mas, como arte, deve encontrar os seus fundamentos na prpria vida, concretizando-se numa expresso dela e no numa produo acrobtica. (SOARES et al, 1992, p.82)

Essa relao direta com a vida revela o carter autntico da arte/dana. Estabelecer conexes entre as experincias cotidianas e as construes coreogrficas pode ser uma possibilidade de pesquisa bastante interessante. Deste modo, forma-se um novo conceito para a dana. Assim concordamos com Ferreira (2006) que qualquer movimento pode ser considerado dana o que vale a potica de cada indivduo, a expresso de cada ser.

A simplicidade imersa nos movimentos cotidianos pode se tornar um material bastante interessante no ensino da dana. Tornar o corpo um veculo de criao artstica, de expresses autnticas o gesto potico da dana contempornea. O corpo o senhor de tudo. E a dana tem a sua prpria razo de ser ali, naquele corpo. E com isso qualquer um pode danar. Desta forma democratiza-se o acesso construo do conhecimento. Abre-se o processo. Transformam-se os contextos abre-se a possibilidade de que processos de criao artstica possam ser revistos e repensados como processo tambm explicitamente educacionais (MARQUES, 2001).

CONSIDERAES FINAIS

As discusses aqui propostas buscaram despertar os professores de Educao Fsica para um (re) pensar da dana no ambiente escolar. O que se quer/quis um olhar contemporneo que prima pela investigao corporal das possibilidades de aes do sujeito/danarino.

A atuao crtica dos sujeitos docentes e discentes permite trilhar novos caminhos no ensino da dana. Esta deve ser entendida como forma de conhecer o mundo a partir das reaes entre corpo, tempo e espao. O resgate s experincias cotidianas de nossos alunos algo extremamente interessante. A histria de cada sujeito est gravada em seu corpo. A nossa dana nos revela.

Longe de apresentar ou propor um mtodo de ensino, o presente estudo buscou compartilhar alguns olhares de pesquisadores que vem a dana com olhos de educadores apaixonados e compromissados com a transformao do conhecimento. Buscamos a cada passo de nossas pesquisas, trilhar novos caminhos (re) fazendo nossa histria. Certos de termos dado mais um grande passo, partimos de novo rumo ao conhecimento.

REFERENCIAL TERICO

FAVARETTO, C. Notas sobre arte contempornea. In: E. Pacheco (Org.) Comunicao, educao e arte na cultura infanto-juvenil. So Paulo, Loyola.

FERREIRA, Rousejany. A dana se diz de vrias maneiras. Disponvel em: http:/www.festivaldiagnostico.com.br/ Acesso feito em : 01 de out. de 2008.

MARQUES, Isabel A. Ensino de dana hoje: textos e contextos. So Paulo: Cortez, 2001.RIBEIRO, Luciana Gomes. Os sentidos da dana: construo de identidades de dana a partir da experincia com o Por Qu? grupo experimental de dana. Dissertao de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao Fsica, Campinas: SP, 2003.

SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino da Educao Fsica. So Paulo: Cortez, 1992( Acadmico do curso de Educao Fsica da Universidade Estadual de Gois- ESEFFEGO