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Exemplar n° 80 Dezembro 2015 Primeira publicação: 29 de Maio de 1995 Não jogue este impresso em vias públicas O Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes comemorou em 2015 trinta edições. Muitos foram os escritores e homenageados ao longo dos anos, mas o encanto e o poder da palavra permanecem transmitindo sentimentos e impressões sobre a vida e o mundo. Confira mais nas Páginas 3 a 6. Escola de Educação Comunitária Av. Engenheiro Richard, 116 Grajaú - Rio de Janeiro, RJ (21) 2577-4546 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Pena de Morte A alienação de maior parte da população faz com que o conceito de justiça se torne banalizado. Questionamos por que uma pessoa merece morrer, e depois questionamos o motivo pelo qual ela cometeu aquele crime passível de pena de morte. Leia a discussão na página 2 Capacidade de Mudar O conhecimento artístico possui uma grande importância na formação dos cidadãos politizados e críticos, porém no Brasil essa verdade não é considerada. Leia mais sobre a Capacidade de Mudar, na página 7 Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes

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Page 1: Pena de Morte - eco.g12.br · PALMADA, o CASAMENTO HOMOAFETIVO, o FEMINISMO, o ENGAJAMENTO DA JUVENTUDE, o ... Moraes, Mário Quintana, Chico Buarque, Cecília Meireles, Marina Colasanti,

Exemplar n° 80 Dezembro 2015Primeira publicação: 29 de Maio de 1995

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O Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes comemorou em 2015 trinta edições. Muitos foram os escritores e homenageados ao longo dos anos, mas o encanto e o poder da palavra permanecem transmitindo sentimentos e impressões sobre a vida e o mundo. Confira mais nas Páginas 3 a 6.

Escola de Educação ComunitáriaAv. Engenheiro Richard, 116

Grajaú - Rio de Janeiro, RJ(21) 2577-4546

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Pena de Morte

A alienação de maior parte da população faz com que o conceito de justiça se torne banalizado. Questionamos por que uma pessoa merece morrer, e depois questionamos o motivo pelo qual ela cometeu aquele crime passível de pena de morte. Leia a discussão na página 2

Capacidade de Mudar

O conhecimento artístico possui uma grande importância na formação dos cidadãos politizados e críticos, porém no Brasil essa verdade não é considerada. Leia mais sobre a Capacidade de Mudar, na página 7

20 anos

Concurso de LiteraturaMaria Helena Xavier Fernandes

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www.eco.g12.br

Dezembro de 2015. Muito se passou para que chegássemos até aqui e a PAPELETA nos acompanhou em toda essa trajetória.

Para você, caro leitor, se pudesse fazer uma retrospectiva do ano, certamente, um número de nosso jornal não seria suficiente. Pois bem, para nós também seria impossível resumir ou retomar tudo o que aconteceu no mundo e na ECO com palavras.

Novamente, a PAPELETA resgatou em nossos jovens o desejo de gritar para o mundo seus desejos, medos e aspirações.

Em todas as linhas, em cada texto, uma voz: o famoso e controverso JEITINHO BRASILEIRO, a polêmica LEI DA PALMADA, o CASAMENTO HOMOAFETIVO, o FEMINISMO, o ENGAJAMENTO DA JUVENTUDE, o TROTE UNIVERSITÁRIO, o CANABIDIOL, entre tantos outros temas passearam por aqui, para despertar nos jovens e em todos os leitores a certeza de que esse é o espaço onde todos têm sua vez.

A alienação de maior parte da população faz com que o conceito de justiça se torne banalizado. A questão do direito à vida é pouco pensado e pouco questionado. Deve-se perguntar por que uma pessoa merece morrer, e depois questionar o motivo pelo qual ela cometeu aquele crime passível de pena de morte – pode ser falta de acesso à educação, de noções de vida, de estrutura familiar, problemas psicológicos, entre outros. A partir dessas considerações, fazemos o seguinte questionamento: se alguns possuem tudo o que falta no cidadão marginalizado, tendo a chance de aprender o que é certo e o que é errado, por que o cidadão infrator não merece a oportunidade de viver e ter auxílio, principalmente governamental, para suprir todas as ausências?

“Olho por olho, dente por dente”. Estava escrito na lei de Talião, do código de Hamurabi e é algo reproduzido por muitos inconscientemente. Se essa verdade histórica falhou numa época em que a informação era transmitida muito mais lentamente do que agora, não pode funcionar

Dezembro 2015

na sociedade atual, problematizadora. Além de que, na atual conjuntura social, o espírito de vingança e a competitividade impediria que a pena de morte servisse como ameaça para os chamados criminosos.

É válido lembrar que matar não educa, assim como a agressão – que só provoca revolta. Não adiantaria impor a pena de morte e permanecer com os altos índices de analfabetismo e carência de aulas de ética e moral nas escolas. Seguindo a linha de pensamento de John Locke, de que o ser humano é uma tabula rasa, entendemos, pois, que a sociedade teria que oferecer mais educação a todos, visto que todos nasceriam como uma tela em branco, a ser pintada.

Executar quem comete qualquer crime é violar o direito à vida. Em um corpo social não igualitário, matar um criminoso é como entregar um filho ao lixo. “Olho por olho, e o mundo acabará cego”, disse Mahatma Gandhi. Implantar mais escolas em zonas, principalmente de baixa renda, e nessas escolas estudar os direitos humanos, ética e moral, dar oportunidades de emprego para profissionais sem qualif icação ou pouco qualificados oferece a humanização e a igualdade que por si só pode resolver ou amenizar os problemas principais.

Isabella Maria Albuquerque – Pré III

Como é bom enxergar nossos alunos como produtores do conhecimento e de seus próprios saberes. Como é bom saber que, ao menos nessas páginas, não há limite, não censura, não o que temer. Em dias em que nosso país precisa tanto enfrentar, refletir e criticar, é isso que propomos.

Os textos que aqui se apresentam são livres, refletem as verdadeiras ideias de seus criadores, proporcionando, pois, o encontro tão esperado – criador e criatura.

Nas próximas páginas, o leitor voraz saciará sua sede de narrativa, de dissertação, de frescor e de inovação. Sei que enfrentar ansiedade pela busca das palavras não é fácil, é ardor que consome a mente e o ânimo. Mas ao passo que a busca alcança seu objetivo, o criador sente uma leve brisa aconchegando a alma, afagando o peito – alívio e prazer que se misturam, se confundem.

Para cada escritor que a partir de agora lhes apresento, – alguns, aliás, velhos conhecidos – MUITO OBRIGADA, a PAPELETA é de vocês e para vocês.

Aos leitores, façam uma ótima leitura e Boas Festas!Até a próxima.

Professora Ana Carolina Nóbrega

Pena De

Morte

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www.eco.g12.brDezembro 2015

O Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes comemora, em 2015, trinta edições. São trinta anos de celebração da palavra e pela palavra, e não poderíamos deixar de festejar esse momento tão especial e grandioso.

Em toda sua trajetória, muitos contribuíram e construíram para que hoje pudéssemos chegar ao trigésimo Concurso. Muitos também foram os homenageados: Millôr Fernandes, Vinicius de Moraes, Mário Quintana, Chico Buarque, Cecília Meireles, Marina Colasanti, Mário Lago, entre tantos outros que inspiraram nossos escritores e estrelas de todos esses anos.

Na noite de 26 de novembro, mais uma vez contemplamos o valor da tradição, reiterando que, mesmo com o avanço da tecnologia, com a mudança dos tempos e da sociedade, a palavra não perdeu seu poder de fascinação.

Todo o fulgor dessa comemoração nos fez apresentar, nesse ano especial, dois grandes nomes da literatura brasileira – Luis Fernando Veríssimo e Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Em cada texto, sentimos o encanto e o poder da palavra, com sua essência contagiante, que transmite sentimentos e impressões sobre a vida e o mundo.

Professora Ana Carolina Nóbrega

Esse texto fez parte do estímulo emocional oferecido aos alunos, no Dia da Criação, em 14 de agosto.

Confira os grandes vencedores de 2015, no XXX Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes:

Grupo I – turmas 42 e 52:1º Lugar: Leonardo Duarte Pinto de Oliveira Coelho – t. 522º Lugar: Maria Luiza Netto La Rocque de Freitas – t. 423º Lugar: Marianne Cattete Reis de Aguiar – t. 42

Grupo II – turmas 62, 63 e 71:1º Lugar: Lara Mel Soares di Leta – t. 612º Lugar: Fabiano Marques Bastos Filho – t. 713º Lugar: Gustavo Rodrigues de Moraes – t. 71

Grupo III – turmas 81, 91 e 93:1º Lugar: Carolina Valente Correa de Sá e Benevides – t. 812º Lugar: Ana Beatriz Alexandre Cosenza Fernandes – t. 933º Lugar: Octavio Lyra Heitor – t. 93

Grupo IV – turmas Pré I, Pré II e Pré III:1º Lugar: Felipe Tinoco Cantone Corrêa de Sá – Pré III2º Lugar: Daniel da Costa Ferrari – Pré III3º Lugar: Yasmin Bonaparte Martins D'Elly – Pré III

O maior dilema na vida de um escritor é quando ele se depara com uma folha de papel completamente em branco e uma cabeça vazia de ideias. Urde o tempo e a necessidade de sujar o papel com a tinta da caneta se torna urgente. O medo e o relógio são nossos maiores inimigos. É o fracasso que se aproxima.

Imagina se, além de todos esses problemas, o autor ainda tiver a incumbência de fazer da folha em branco um sorriso. Se da falta de ideias, da falta de assunto, do medo, dos pequenos delitos que todo ser humano comete só por ser humano, ele ainda precisar transformar tudo isso em humor. […]

Nesse lastro, os textos que aqui figuram não carregam em sua semântica o riso fácil, o riso fingido para ocultar a dor que nem sabemos ter. Estas histórias buscam trazer

aquele riso cerebral, no qual ficamos procurando no texto o motivo do sorriso que escorrega para o canto da boca.

[…]Não há no mundo coisa maior do que a palavra escrita,

pois é ela que nos vem trazendo ao longo do tempo, que vem nos contando a nós mesmos, através dos milênios. Se Brás Cubas deixou seu legado para o primeiro verme que lhe roeu as entranhas; aqui temos o legado do riso para quem prefere morrer de rir (com coceguinhas cerebrais).

Professor Ludwig Araújo

Trecho do prefácio produzido para o livro do XXX Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes

Maria Helena Xavier FernandesXXX Concurso de Literatura

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www.eco.g12.br Dezembro 2015

Estava no ônibus indo ao meu trabalho até que uma mulher gorda entrou e, como o ônibus estava lotado, ficou mais lotado ainda.

De todos os lugares em que ela podia sentar, ela decidiu se sentar ao meu lado. Eu sou muito azarado, mas de todas as ocasiões, essa mostrou meu azar supremo.

Ela não parava de se mexer no banco e perguntou para mim do que eu gostava. Eu disse:

– Senhora, por favor, não me arrume briga.Depois ela disse:– É dor de barriga?!Depois disso todo mundo riu. E eu só queria ir trabalhar.Logo depois ela começou a me fazer muitas perguntas…

muitas!Depois desse inferno, principalmente porque no ônibus

não tinha ar-condicionado, eu cheguei ao trabalho, e ela me perguntou se podia me adicionar no Facebook. Eu disse que não e, quando eu saí, ela quebrou o vidro com um martelo e correu pra cima de mim.

Eu tentei fugir, mas ela me alcançou. Pensei que ia me matar, mas ela só quis perguntar:

– Então me adiciona no Skype?

Leonardo Duarte Pinto de Oliveira Coelho – T.: 52

Texto vencedor do Primeiro Lugar do Grupo I, no XXX Concurso de Literatura Maria Helena

Xavier Fernandes.

A AtoladaFoi em um lindo dia que saí com meu pai. Sempre que

saíamos, ele conversava comigo no carro, até chegar à casa da minha avó. Naquele dia, ele disse:

– Filha, adotei um gato. O nome dele é Biscoito!Eu sem saber o que dizer, fiquei parada pensando em

todos os cuidados que eu deveria ter. Então para não levar bronca, eu disse:

–Legal! Por que “Biscoito”?– Porque ele é filhote, brinca com o Tor e o Biscoito ao

lado dele parece um biscoito!Então eu olhei para cima com cara de pensativa e

balancei a cabeça, falando que sim.Ao chegar à casa de minha avó, meu pai abriu a porta e

eu olhei a sala inteira e escutei um miado vindo da sala. Olhei de novo e… nada! E depois, de novo, até olhar para os meus pés e vê-lo. Olhei para aquele pequeno gato preto e branco e adorei. Então me sentei no sofá e ele veio junto. Não resisti! Logo fui para o quarto do meu pai brincar no computador e de repente o computador desligou. Fui correndo falar com meu pai e ele foi até o quarto. Quando viu, a internet da casa inteira havia sido desligada. Mas, por quem? – pensamos.

Biscoito! Ele estava todo entrelaçado nos fios, miando! Achei aquilo o máximo: um gato desligar a internet da casa inteira.

Enquanto isso, meu pai com o gato no colo, morrendo de raiva e eu sorrindo e olhando a cara dele. Então pedi para que ele soltasse o gato. Com raiva, ele soltou. Chamei o gato e ele veio! Pronto! Foi o bastante para eu achá-lo um gato INIMAGINÁVEL!!!

Houve muitos outros dias e vivemos muitas aventuras! Ele desligou muitas vezes a internet, já o chamei muitas vezes, entre outras coisas anormais que gatos normais não fazem – e o meu pai ainda não o achava um gato normal. Apesar de eu vê-lo de quinze em quinze dias, eu sentia mais amor por ele do que meu pai e a família dele que o viam sempre, mas não o achavam um gato anormal.

Há pouco tempo fui à casa da minha avó; não a visitava há quatro ou cinco meses. Então na hora de subir as escadas, Biscoito estava ali na frente, mancando e com a coluna toda torta. Meu pai olhou e não disse nada. O gato me olhou e veio se deitar nos meus pés. Eu, com medo, não fiz nada, mas meus olhos se encheram de lágrimas. Meu pai foi subindo a escada e o gato me olhando e eu o olhava! Senti pena, mas não pude fazer nada.

Até hoje não perguntei para meu pai sobre o gato. O gato era INIMAGINÁVEL!

Lara Mel Soares Di Leta – T.: 61

Texto vencedor do Primeiro Lugar do Grupo II, no XXX Concurso de Literatura Maria Helena

Xavier Fernandes.

oGato

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www.eco.g12.brDezembro 2015

Era noite, o ladrão se preparava para um novo assalto. Ia invadir uma casa. Estava todo orgulhoso, pois ia tirar onda com seus amigos depois.

Entrou na casa pela janela de um quarto que estava com a luz apagada. Ligou a luz e começou a pegar os objetos mais valiosos, até que viu uma foto com uma mulher que reconheceu na hora; era seu primeiro amor. A paixão pela garota foi sumindo ao longo dos anos, mas quando viu aquela foto, ficou apaixonado novamente.

Ele queria muito vê-la, queria finalmente declarar sua paixão, mas não podia, senão ela iria chamar a polícia. Ficou pensando em algum jeito de encontrá-la sem que ela estranhasse. Quando descobriu, saiu cuidadosamente do quarto em que estava e fui procurá-la. Ia ser difícil, pois a casa era bem grande, tinha dois andares.

Entrou em vários cômodos, a maioria não tinha um só móvel. Perguntava para si mesmo o porquê de tantos quartos vazios, já que só morava uma pessoa naquela casa. Quando estava indo para a sala, viu a garota descendo as escadas.

O ladrão ficou parado, não sabia o que fazer. A garota o estava encarando.

– Antônio? É você? O que está fazendo aqui?– Eu… eu… eu preciso falar uma coisa pra você –

respondeu sorrindo.A garota “percebeu” o que ele queria dizer e

rapidamente reagiu sorrindo:– Claro! Eu aceito!– O quê? – estranhou o ladrão.– Eu aceito me casar com você! – Mas não era bem isso o que eu iria dizer…– Eu estou esperando isso há anos! – disse a garota,

ignorando o que Antônio disse – vamos morar aqui, nesta casa! Finalmente vou encher esses quartos com móveis para crianças!

– Do que você está falando?! – perguntou o ladrão, assustado.

– Nós vamos ter muitos filhos! – respondeu animada.O ladrão ficou em choque. Até tinha gostado um pouco

da ideia do casamento, mas ter filhos?! Ele nunca pensou em ter filhos, além disso, ele não fazia a menor ideia de como sustentar uma família enorme roubando.

Enquanto a garota não parava de falar sobre seus planos, o ladrão saiu rapidamente da casa, e ele só pensava em uma coisa:

– Ela é louca.

Carolina Valente Correa de Sá e Benevides – T.: 81

Texto vencedor do Primeiro Lugar do Grupo III, no XXX Concurso de Literatura Maria Helena

Xavier Fernandes

PaixãoExagerada O provérbio latino “verba volant, scripta manent” sintetiza

nosso pensamento neste exato momento – saudações pelos vinte anos desde a primeira publicação da PAPELETA.

De fato, as palavras faladas voam, sem sabermos aonde podem parar, mas a palavra escrita permanece. É por isso que há vinte anos a PAPELETA permanece traduzindo o pensamento de nossos alunos e professores: para que as palavras que ora voam sem destino, tenham pouso certo.

E é esse pouso certo das palavras semeadas que nos faz continuar. Seguir criando, escrevendo, refletindo e buscando a palavra certa para incorporar o sentimento, a vida, a luta.

Nesses vinte anos, muitos foram os editores que procuraram o espaço e a medida – a letra e a voz – numa busca incansável. Muitos foram os alunos e professores que colaboraram, construindo um belo e sólido caminho.

Hoje é tempo nos calcarmos na realidade, vivendo o sorriso, a dor, a dificuldade, a crise e a superação de cada dia. A PAPELETA é o espaço de dividirmos os sentimentos que transbordam no ânimo de cada um, para tocar o pensamento do outro.

Das mais variadas são as maneiras de viver e sentir a realidade, mas temos a certeza de que nas páginas da PAPELETA tudo se transforma em um só gesto de carinho, de resignação, de luta, de caminhada.

Quando digo luta, cerro o punho e digo no mais alto tom que posso dentro do silêncio de mim mesma: lutemos para preservar esse espaço, essa vontade de transcender e inovar. Lutemos pela igualdade que todos os colaboradores aqui têm. Lutemos por essa inesgotável fonte de educação e formação cidadã que é a Escola. A PAPELETA é, pois, braço firme dessa escola que desperta a criticidade em todas as suas formas e respeita o mundo como ele é ou como ele deve ser.

Que venham mais vinte, e mais vinte e muitos outros anos e espaços para nossa aniversariante ilustre! Parabéns à PAPELETA!

Professora Ana Carolina Nóbrega

Papeleta 20 anos

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Todo país temo seu jeitinhose vou aos Estados Unidossó vejo mauricinho.

Se vou à Rússia,não entendo nadae na Alemanhasó tem cara amarrada.

Fui à Itália,mas não deu em nadafiquei só comendo… lasanha e macarronada.

Mas prefiro ficaraqui em Copacabanadeitado na sombrapagando de bacana.

Prefiro o meu Riocom jeito de malandroesperto, pilantravivendo de molecagem.

O jeitinho brasileiroé o jeitinho do carioca,vou dar uma dica“pra ver se tu acorda”

“A luta tá aí”,desigualdade também,vamos melhorar issopara ficar “geral mais zen…”

RaimundoBrasileiro

No Brasil tem ladrãoe muita corrupção,mas agora, fala sério,o país é “maneirão”!RAIMUNDO BRASILEIRO

O Brasil, país da idiossincrasia, não cabe nesse MundoE se a última palavra desse verso fosse RaimundoDaquele Carlos, que foi gaucheSeria um jeitinho de burlar a intensa lida,Uma licença poética.

Mas as rimas brasileiras são que nem nossa línguaIntercontinental, não só a nós pertenceMesmo só a nós parecendo pertencer.

Sinhô português deu um jeito na rotaQue de indiana virou indígenaQue fez Tupã sofrerAchou terra, e junto com ela o abuso, a força, a perna e o braçoEternizando esse laço.

Colonos ainda amarraram os NegrosDando um jeitinho, um RaimundoNão querendo sujar de barro sua mãosMesmo sujando de lama suas almas.

A herança hoje está em BrasíliaDe terno e gravata, personificadaDe chifre e cauda Com Raimundo dando um jeitinho no jeitinhoQuerendo prender recém-nascido.

Está na renda que diminui pro impostoNo guarda de trânsito, no pixulecoNa mulher “presejada”, no nosso teto...Raimundando por aí.

Felipe Tinoco Cantone Corrêa de Sá – Pré III

Texto vencedor do Primeiro Lugar do Grupo IV, no XXX Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes.

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www.eco.g12.brDezembro 2015

A homossexualidade é um tema que tem estado presente intensamente em debates do nosso cotidiano. Foi aprovado pelo Senado um projeto de lei que designa família apenas como a união entre homens e mulheres. O processo institucionaliza o preconceito e a discriminação, além de fomentar a intolerância. Defasagens na área da educação, por exemplo, diminuem o ritmo da evolução do pensamento humano.

É importante destacar, inicialmente, que em 2011 foi legalizado o casamento homoafetivo no Brasil, sendo uma decisão reconhecida juridicamente, concedendo aos parceiros direitos e deveres semelhantes aos direitos do casamento heterossexual, como o direito à adoção, por exemplo. Portanto, é uma decisão contraditória e arcaica definir que uma família só pode ser considerada tal, sendo ela constituída por um homem e uma mulher, visto que, qualquer um que tenha uma renda estável e uma boa saúde mental, pode adotar uma criança e assim, formar uma família.

“Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”. Segundo a famosa frase do educador brasileiro, Paulo Freire, uma boa educação é a base de uma nação. A má qualidade da educação brasileira e os poucos ensinamentos sobre sociedade, tolerância e a não discriminação são passados às crianças, formando cidadãos intolerantes e preconceituosos. O Estado deve atentar mais sobre o assunto nas escolas, fomentando a ideia de que apesar das diferenças, independentes de quais sejam, todos são iguais perante a lei.

Desta forma, é evidente a importância do Estado, que deveria implementar no currículo escolar conteúdos como cidadania ou outros que abordem a homossexualidade, por exemplo. Há a necessidade de que o assunto seja tratado com normalidade, mostrando que são as diferenças que formam uma sociedade saudável. Informar é o primeiro passo para a quebra do preconceito. Além disso, são necessárias campanhas publicitárias que enfatizem a naturalidade de fatos que ainda impressionam algumas pessoas. Vale salientar o quão importantes são essas propostas, pois mostram a dificuldade que é sofrida por aqueles que não se encaixam ao “comportamento padrão” estabelecido por alguns.

Paula Amaral – Pré III

O conhecimento artístico possui uma grande importância na formação dos cidadãos politizados e críticos, porém no Brasil essa verdade não é considerada. Os baixos níveis educacionais da população juntamente com a forte presença de uma mídia alienadora e de baixo cunho cultural influenciam nesse processo. Portanto, é necessário analisar como tais fatores se articulam e impedem a diminuição da arte como promovedor de mudanças sociais.

Em primeiro plano, é necessário compreender como se faz o uso da arte e sua abordagem na base educacional do Brasil. Nas escolas, o modelo arcaico de relacionamento entre o aluno e o conhecimento artístico é feita de maneira que não os atrai, a partir de livros com conteúdos muito avançados para algumas idades, além da ausência de recursos alternativos, como músicas ou filmes. Com isso, cria-se um afastamento entre o aluno e diversos conteúdos de riquíssimo teor cultural, mas que acabam sendo vistos como algo abstrato demais.

Ademais, o distanciamento, principalmente dos jovens a esses assuntos cria uma lacuna de entretenimento a ser preenchida. A falta de uma bagagem cultural causa a necessidade de um modelo intelectual precário e limitado, carente de teor político e questionador. Por isso, as grandes mídias televisivas tomam o controle da produção artística de filmes, músicas ou outras produções, adequando-se e limitando suas possibilidades de conhecimento.

Portanto, percebe-se que uma deficiente estrutura educacional no âmbito artístico e uma forte presença das grandes corporações midiáticas causam a limitação do uso da arte no meio cultural e social. Faz-se necessário, então, medidas na área da educação, por parte do governo, em incentivos a visitas a museus e peças teatrais. Paralelamente, é urgente resolver um antigo problema da mídia monopolizada brasileira, por meio de uma democratização dos canais e mídias, polarizando os conteúdos expostos para a massa.

Lucas Maia – Pré III

Família éFeita de Amor

A De

MudarCapacidade

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O Concurso de Literatura Maria Helena Xavier Fernandes comemorou em 2015 trinta edições. Muitos foram os escritores e homenageados ao longo dos anos, mas o encanto e o poder da palavra permanecem transmitindo sentimentos e impressões sobre a vida e o mundo. Confira mais nas Páginas 3 a 6.

Escola de Educação ComunitáriaAv. Engenheiro Richard, 116

Grajaú - Rio de Janeiro, RJ(21) 2577-4546

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Pena de Morte

A alienação de maior parte da população faz com que o conceito de justiça se torne banalizado. Questionamos por que uma pessoa merece morrer, e depois questionamos o motivo pelo qual ela cometeu aquele crime passível de pena de morte. Leia a discussão na página 2

Capacidade de Mudar

O conhecimento artístico possui uma grande importância na formação dos cidadãos politizados e críticos, porém no Brasil essa verdade não é considerada. Leia mais sobre a Capacidade de Mudar, na página 7

20 anos

Concurso de LiteraturaMaria Helena Xavier Fernandes