8/18/2019 Pela janela - 08.10.2000

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Pela janela

(8/10/2000)

 

Reparei pela primeira vez naquele apartamento quando passava de carro, enfrentando

o trânsito lento do fim de tarde, na a!oa" Pelas cortinas entrea#ertas, conse!uia ver apenas

uma parede, #an$ada pela luz indireta de um a#ajur" %as nessa parede $avia uma estante, que

me c$amou aten&'o por sua #eleza e solidez estava repleta de livros, com sua lom#adas

multicoloridas" l!uns eram encadernados, outros n'o" %uitos pareciam anti!os" %as o

importante * que a estante n'o tin$a enfeites, nem plantas, nada + apenas livros"

mediatamente, comecei a ima!inar quem seria o morador daquele apartamento" -'o

sei por que, mas ac$ei que os livros pertenciam a um $omem" . fui al*m" Pensei num

$istoriador, um apaionado por pesquisa, al!u*m de mais de 0 anos, talvez ruivo, de ca#elos

encaracolados, usando culos de aro fino para leitura" ma!inei um $omem sensvel, mas um

 pouco ranzinza, sempre implicando com a empre!ada por tirar do lu!ar os pap*is da

escrivanin$a, e lo!o depois dizendo al!uma coisa en!ra&ada, para que ela o perdoasse"

l!u*m que vivesse sozin$o + e feliz"

%as o sinal a#riu l3 na frente, perto da 4onte da 5audade, e eu se!ui, deiando para

tr3s meu ami!o ima!in3rio"

6esde ent'o, sempre que passava por aquela pista da a!oa, mesmo em velocidade

mais alta, eu aproveitava para espiar" 5 dava certo se estivesse escuro" .sse tipo de

o#serva&'o precisa da noite para acontecer" 7uando a luz a!ressiva do dia se dissolve esur!em, atrav*s das janelas, as salas e os quartos com sua luminosidade artificial + s ent'o + 

* possvel o#servar, captar fra!mentos, compor $istrias" . penetrar um pouco na vida das

 pessoas, irmanarse a elas, vencendo o isolamento das paredes"

%as como eu sempre passava pela a!oa ao cair da noite, podia o#servar 9 vontade"

cortina estava sempre entrea#erta, no mesmo ân!ulo, o a#ajur aceso, e para mim aquele

apartamento era apenas isso uma parede, a estante e seus livros" :amais conse!ui ver o resto

da sala" -unca vi, tampouco, al!u*m na janela" %as meu ami!o $istoriador continuou

eistindo, por meses e meses, em min$a ima!ina&'o, com uma clareza quase so#renatural" .u

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!ostava dele, de sua solid'o delicada, de seus fins de tarde 9 meialuz, na compan$ia dos

livros" Porque, em#ora eu n'o o visse, sa#ia que estava ali"

t* que outro dia, passando por l3, tive um c$oque" .ra crep;sculo, mas ainda $avia

luz e eu dera uma ol$ada r3pida, despretensiosa, sa#endo que talvez n'o conse!uisse ver nada"

%as vi"