“pela estrada a fora”: sensibilidades e … · temos, então, o conto da “chapeuzinho...

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1 “PELA ESTRADA A FORA...”: SENSIBILIDADES E REPRESENTAÇÕES SOBRE A VISITA DOMICILIAR Daniel Péricles Arruda 1 Patrícia da Silva Pinto 2 RESUMO A reflexão acerca da visita domiciliar é relevante, ainda mais em uma cotidianidade densa, complexa e dinâmica. Escutamos os sujeitos que atendemos. Apreendemos as suas demandas. Realizamos diversas intervenções. Mas, o que há de importante na visita domiciliar? O artigo apresenta um debate reflexivo acerca dessa questão. Palavras-chave: Visita Domiciliar; Sensibilidades; Representações. 1 Bacharel em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC Minas em Contagem. É mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP (Ex-bolsista Ford Foundation International Fellowships Program 2010-2012). Atualmente é doutorando em Serviço Social pela PUC-SP, pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Identidade (NEPI) do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP Site: www.vulgoelemento.blogspot.com.br - @vulgoelemento 2 Bacharel em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC Minas em Contagem; Especialista em Políticas Públicas pela Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Especialista em Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Atualmente é mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) pesquisadora da linha Culturas, Memórias e Linguagens em Processos Educativos.

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“PELA ESTRADA A FORA...”: SENSIBILIDADES E REPRESENTAÇÕES

SOBRE A VISITA DOMICILIAR

Daniel Péricles Arruda1

Patrícia da Silva Pinto2

RESUMO

A reflexão acerca da visita domiciliar é relevante, ainda mais em uma cotidianidade

densa, complexa e dinâmica. Escutamos os sujeitos que atendemos. Apreendemos as

suas demandas. Realizamos diversas intervenções. Mas, o que há de importante na

visita domiciliar? O artigo apresenta um debate reflexivo acerca dessa questão.

Palavras-chave: Visita Domiciliar; Sensibilidades; Representações.

1 Bacharel em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais –

PUC Minas em Contagem. É mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo / PUC-SP (Ex-bolsista Ford Foundation International

Fellowships Program 2010-2012). Atualmente é doutorando em Serviço Social pela

PUC-SP, pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Identidade (NEPI) do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC-SP Site:

www.vulgoelemento.blogspot.com.br - @vulgoelemento

2 Bacharel em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais –

PUC Minas em Contagem; Especialista em Políticas Públicas pela Faculdade de

Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG);

Especialista em Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais.

Atualmente é mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Minas Gerais

(UEMG) pesquisadora da linha Culturas, Memórias e Linguagens em Processos

Educativos.

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1 Introdução

O Serviço Social é a profissão da práxis. As nossas ações não se fazem apenas

por meio da prática objetiva e concreta. Temos um legado histórico permeado de lutas,

conflitos, superações e transformações que nos possibilita criar novas reflexões e

práticas metodológicas para o exercício profissional.

A identidade do Serviço Social apresenta múltiplas fases e faces. Por isso, não

estamos sós, não somos uma coisa só. Prova disso é que ao longo dos anos fomos

elaborando novas formas de sermos o que somos. Isto é:

Somos profissionais que chegamos o mais próximo possível da vida cotidiana

das pessoas com as quais trabalhamos. Poucas profissões conseguem chegar

tão perto deste limite como nós. É, portanto, uma profissão que nos dá uma

dimensão de realidade muito grande e que nos abre a possibilidade de

construir e reconstruir identidades – a da profissão e a nossa – em um

movimento contínuo (MARTINELLI, 2006, p. 2).

Certamente, aproximar de uma realidade de maneira crítica possibilita a

ampliação do olhar. Porém, se não atentarmos para construção de uma identidade

crítica, nenhum olhar a partir de nós será crítico. O pensamento crítico corrobora para a

prática profissional. O pensamento crítico também é uma prática. (Grifo nosso).

Chamamos atenção para o fato de que a prática profissional acontece de acordo o

público atendido, por isso a importância de não naturalizarmos os instrumentos e as

instrumentalidades profissionais. É sempre bom olharmos para nós e analisarmos o

nosso fazer.

Assim, em especial, neste artigo, apresentamos algumas reflexões sobre a visita

domiciliar por compreendermos a sua relevância e, ao mesmo tempo, por identificarmos

poucas produções que abordam, diretamente, esse tema.

O artigo, além desta introdução, apresenta mais três partes: A primeira, “Era

uma vez...: visitar para julgar ou para compreender?”, faz uma leitura reflexiva

sobre a visita domiciliar com alusão ao conto da “Chapeuzinho Vermelho”.

A segunda parte, “Apresentações e representações da visita domiciliar:

análise crítica e autocrítica profissional”, discute a articulação da visita domiciliar

com os demais instrumentos da profissão.

Por fim, nas conclusões, retomamos alguns aspectos apresentados no artigo e

apresentamos algumas propostas no afã de contribuir com o tema.

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1 Era uma vez...: visitar para julgar ou para compreender?

Geralmente, os contos começam assim, “Era uma vez...”. Essa expressão é uma

forma de marcar um início sem precisar o tempo. É uma expressão que indica que o fato

já ocorreu e que não é relevante o seu tempo cronológico, e sim o valor do tempo em

que se escuta o conto. “Era uma vez...” pode ter acontecido ontem ou amanhã. É

importante o valor desse tempo. A prova disso é que contamos as histórias hoje, como

se elas fossem de um passado recente ou, até mesmo, no presente, como nas peças

teatrais. O surgimento dos principais contos é de longa data e suas origens são

discutíveis até hoje, bem como o contexto e o sentido moral de sua elaboração e de seu

uso social.

Temos, então, o conto da “Chapeuzinho Vermelho”. História conhecida por

muitos. A maioria dos estudos afirma que o conto surgiu na Europa medieval.

Entretanto, outros estudos acreditam que a história da “Chapeuzinho Vermelho” que

conhecemos hoje, tem raízes na Ásia e África. O que percebemos é que as adaptações

tiveram por base a cultura local. Percebemos, também, que boa parte das adaptações

conserva um elemento importante: a visita de Chapeuzinho Vermelho à sua avó. E é por

esse caminho que vamos desenvolver as nossas reflexões.

Decidimos por não reproduzir o conto aqui. Porém, para facilitar o acesso,

disponibilizamos nos anexos deste artigo uma versão do mesmo.

Quando falamos em visita domiciliar parece ser uma prática comum, pois já

estamos acostumados – na nossa vida particular – a visitar um amigo ou familiar. Essa

visita foi a que Chapeuzinho Vermelho fez. A pedido de sua mãe, a menina foi até a

casa de sua avó para levar alguns remédios e guloseimas. A sua visita tinha um

propósito definido.

Esse aspecto nos chama atenção para as seguintes indagações: Por que fazemos

visita domiciliar? Como fazemos visita domiciliar? Quais caminhos devemos percorrer?

O que levamos? Quem levamos? O que trazemos? Quanto tempo deve durar? Como

enxergamos o outro e as suas condições? Se a família nos oferecer alguma coisa para

beber ou comer, devemos aceitar? Se não, como podemos nos recusar? Devemos pedir

para entrar? Devemos pedir para conhecer a casa? Eis questões pertinentes para o

exercício prático-reflexivo.

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A visita domiciliar é de fundamental importância para a prática do assistente

social. Aqui, a visita é técnica e requer técnicas, ou seja, não é uma visita qualquer. Não

estamos visitando a “vovozinha”, e sim sujeitos em diversas condições materiais e

subjetivas.

Nunca sabemos do resultado da visita antes de fazê-la. Podemos, conforme os

atendimentos realizados anteriormente e de outras informações do caso, ter um suposto

conhecimento da condição da pessoa e de como ela se apresenta nesse lugar íntimo que

é a casa. Mas é somente a visita que nos apresenta o que não sabemos, e, mesmo assim,

nenhuma visita diz tudo, e não pode, e nem deve! Apreendemos apenas um momento. E

esse momento pode ser marcante na tomada de decisão acerca de um atendimento. Por

meio de uma visita domiciliar podemos identificar o “Lobo Mau” do caso ou, então,

podemos sê-lo, principalmente, por meio de leituras rasas e de posicionamentos

preconceituosos. Mas, também, não é o foco ir para uma visita para encontrar o “Lobo

Mau”, se ele estiver no enredo, se possível, cabe-nos ouvi-lo, também. Pois podemos

nos equivocar acerca da imagem que temos das pessoas. São vários os casos que

sabemos de uma determinada situação através da reunião com a rede, da pasta de

atendimento, do prontuário, porém, às vezes, sem ter contato direto com a história, com

o dono da história, que é o sujeito. Às vezes, pode não ter “Lobo Mau”, e sim, um

fantasma dele. A experiência nos ensina que não é preciso ser “Lobo Mau” para violar

direitos e deveres!

Por exemplo, um profissional realiza visita domiciliar à casa de uma família, em

uma segunda-feira, às 11 horas da manhã. O profissional chega à casa da pessoa e se

depara com a família dormindo, com vasilhames utilizados dentro da pia da cozinha e

vê roupas atiradas ao chão. Como a visita perpassa o âmbito do valor da família e do

local, implica também o valor do profissional, que deve ser um valor ético e não

moralista. Logo, esse técnico pode considerar esse cenário esdrúxulo e inóspito para a

convivência familiar e comunitária de uma criança a qual outra instância aguarda o seu

parecer técnico para avaliar melhor a decisão a ser tomada. O profissional pensa que ‘é

um absurdo a família estar dormindo uma hora dessa, com a casa bagunçada em plena

segunda-feira’. Esse exemplo, fala mais do problema de quem atende ao invés de quem

é atendido. O profissional não sabe que a família pode ter passado o domingo

trabalhando. Independentemente a isso, temos que ter muito cuidado ao entrar no

mundo dos outros, temos que ter sensibilidade para interpretar os diversos modos de

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vida. O profissional não sabe que a dinâmica da família não é a mesma que a sua. E

mesmo se soubesse, poderia continuar com o seu pensamento pífio. Provando ainda

mais o seu preconceito e a sua incapacidade de estar ali, eticamente, exercendo a

profissão.

Outro exemplo é o que chamamos de preconceito residencial. Isso ocorre,

principalmente, quando o profissional tem que visitar uma família pobre, que reside em

local nobre. Pois, erroneamente, acredita que trabalhamos com pobreza. Assim, a

pobreza só deve residir em lugares vulneráveis. Aqui, nessa leitura, a pobreza ganha

status de sujeito. Como se a pobreza fosse só material. Como se a fome fosse só de

comida, ou seja:

Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de

quê? A gente não quer só comida A gente quer comida, diversão e arte. A

gente não quer só comida A gente quer saída para qualquer parte (Titãs -

Comida3)

E, nas vezes em que se visita uma família com melhores condições materiais, é

seduzido pelo brilho do lustre e do porcelanato. Esquece que não somos arquitetos ou

decoradores – com todo respeito a esses profissionais –, mas o nosso foco é a totalidade,

a dinâmica, a compreensão da família por meio do respeito e da sensibilidade.

Nós, assistentes sociais, devemos nos preocupar com a seguinte questão: como

vamos para a visita domiciliar? Chapeuzinho Vermelho vai como seu capuz,

cantarolando saltitante pelo caminho. Ao apanhar as flores, é abordada pelo Lobo Mau

que, astuto e sedutor, toma ciência de onde a menina vai, assim, rapidamente, teve a

ideia de adiantar-se para poder atacar a vovó e, depois, aí sim, atacar, Chapeuzinho.

Assim, podemos ser conhecidos e aguardados pela família, mas não pelo

território. Quanto mais desconhecidos somos, mais alteramos o lugar e a relação entre

as pessoas. E essa realidade se embaraça mais ainda. Isso acaba se tornando uma

armadilha, bem como o contato com o já conhecido, o local comum. Essa questão

reporta-nos a um estudo de caso em que um profissional se considerava ultra-

conhecedor do contexto, pois ele e o jovem atendido moravam na mesma comunidade.

Então, o profissional afirmava, ‘Eu conheço ele desde pequeno. Ele não tem jeito. Eu

3 Fonte: https://www.letras.mus.br/titas/91453

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sou nascido e criado aqui, conheço bem o lugar!’. Pois bem, conhecer o lugar e as

pessoas não significa que conhecemos a verdade, e vice-versa. Esse conhecimento é

patológico, limitado e hostil.

Se analisarmos bem, o conto apresenta três tipos de visita. A primeira foi a do

Lobo Mau que chega primeiro à casa, finge ser Chapeuzinho e consegue entrar e ataca a

Vovozinha. A segunda, foi a visita de Chapeuzinho. E a terceira foi a do Lenhador que

ao ouvir os gritos de socorro, invade a casa para salvar a menina e sua avó.

Numa abordagem constitucional, lembramos o que afirma a Constituição da

República Federativa do Brasil, em seu o artigo 5º, inciso XI:

a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem

consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou

para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

O Lobo Mau entrou na casa com o consentimento da moradora, mas utilizou de

falsa identidade para conseguir entrar. Chapeuzinho também entrou com o

consentimento “da moradora”, que era o Lobo. Já o Lenhador, não. Ele, ao ver a

situação entrou na casa, sem consentimento, para prestar socorro. A gravidade da

situação consentiu a sua entrada.

Então, pensemos, deve-se avisar a família que a visita domiciliar será realizada?

Consideramos que sim. Mas há situações em que não é possível agendar com a família.

Porém, mesmo que não seja possível agendar é necessário que a família saiba que a

visita poderá acontecer, e que ela saiba também de sua finalidade. Consideramos

inapropriada a prática de não avisar a família com o intuito de pegá-la de “surpresa” ou

para evitar que a família “maquie a realidade”. Práticas valiosas são aquelas criativas e

éticas. Por isso, cada caso exige uma forma específica de atendimento. Cada visita é

uma experiência particular. Há intervenções profissionais em que a visita não é

realizada com frequência em razão da dinâmica e necessidade do caso e, até mesmo, do

foco do próprio Serviço. Em outras instituições as visitas são práticas constantes.

Entendemos que existe um grande perigo na realização da visita sem que seja explicada

à família a razão de fazê-la, quando ela acontece sem motivo. Também há perigo

quando ela ocorre de modo invasivo e autoritário, por exemplo, ao destampar panelas e

abrir a porta da geladeira para saber se a família está se alimentando. A família nos

revela a sua condição por meio de sua narrativa, e o profissional toma consciência dessa

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realidade por meio de sua escuta e, também, por meio de sua leitura crítica acerca das

condições matérias apresentadas no contexto.

Se ao chegarmos em uma casa e a família não permitir a nossa entrada, é um

direito que ela tem. Um direito constitucional, diga-se de passagem. Essa não permissão

diz muito. E requer muito cuidado para interpretá-la. Indaguemos: nós avisamos a

família que faríamos a visita? A família consentiu em nos receber? A família sabia de

tudo e consentiu, mas na hora não pode nos receber, o que houve, então?

Devemos sempre lembrar que somos estranhos ao entrarmos no espaço do outro.

A casa é o lugar privado do ser. Assim, quem visita, incomoda. Incomodar no sentido

de atrapalhar e no sentido de modificar o que estava ali, antes da nossa chegada.

Receber uma visita pode ser bom para a família ou não. O dia, o horário, a finalidade, o

modo como falamos e até como vestimos, tudo isso, pode interferir negativamente ou

positivamente na visita domiciliar.

As apresentações e representações em visita domiciliar requer atenção e

habilidades para não ficarmos reféns de uma irrealidade. Inclusive, essa é uma das

questões que apresentamos no próximo item.

2 Apresentações e representações da visita domiciliar: análise crítica e autocrítica

profissional

A visita domiciliar é uma escolha técnica-operativa do profissional que facilita

sua aproximação à realidade do individuo; é também uma representação social, como

veremos a seguir. Assim, podemos dizer que a visita domiciliar é uma intervenção e um

estudo social no lócus, proporcionando coleta de dados e observações mais fidedignas a

realidade. Para Amaro (2007), o profissional que realiza a visita domiciliar precisa

adotá-la como técnica e como parte de um planejamento de atendimento, pois se trata de

um instrumento que possui vantagens e desvantagens que devem ser consideradas.

Dentre as vantagens está:

O fato de realizar-se num lócus privilegiado, o espaço vivido

do sujeito e, no geral contar com a boa receptividade do

visitado. O fato de acontecer no ambiente doméstico, no

cenário do mundo vivido do sujeito, dispõe regras de

convivialidade e relacionamento profissionais mais flexíveis e

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descontraídas do que as práticas do cenário institucional

(AMARO, 2007, p. 17).

Acredita-se que quando o assistente social está presente no espaço vivido pela

família, o profissional tem mais facilidade para apreender as necessidades dos

indivíduos e melhores condições para elaborar estratégias de intervenção mais coerente

com a realidade.

De acordo com Amaro (2007), a visita domiciliar pode ser fadada ao fracasso

quando:

À natureza da cotidianidade, reforçada na visita, na qual tanto

rotinas e práticas regulares como fatos imprevistos são

comuns. [...] o profissional, ao visitar, se insere no cotidiano do

outro e de alguma forma deve se ajustar às condições que

encontrar. O espaço ideal para aquele testemunho nem sempre

existe. [...] não se pode, no espaço do outro, repreendê-lo ou

corrigi-lo por gritar com o filho ou mesmo reagir colérico

contra um vizinho (AMARO, 2007, p. 17).

Transcorre que a visita domiciliar é vivenciada de forma singular por quem a

realiza e por quem recebe o visitador em sua casa. E cada participante da cena

produzida durante visita domiciliar a representa da forma mais significativa para si

mesmo e ao seu modo.

A multiplicidade de sentidos e usos do termo “representação” faz com que este

termo seja bastante abrangente. Diante disso, neste artigo termos como base a

perspectiva feita por Chartier (1990), segunda a qual busca-se identificar o modo como,

em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade é construída, pensada e

comunicada, de forma particular e historicamente determinada. Nesse sentido,

representação é compreendida como algo que permite “ver uma coisa ausente” ou ainda

a “exibição de uma presença”, considerada pelo autor como algo superior à

mentalidade. Ela é a “pedra angular” da nova história, sendo o conceito de apropriação

o seu “centro”. A apropriação é “uma história social das interpretações, remetidas para

as suas determinações fundamentais”, e estas interpretações são, segundo o autor,

“sociais, institucionais e culturais” (CHARTIER, 1990, p. 26).

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Para uma maior delimitação do conceito de representação4, o autor considera as

classificações, divisões e delimitações que organizam a apreensão do mundo social

como categorias fundamentais de percepção e de apreciação do real. Os meios

intelectuais são produzidos pelas disposições estáveis e partilhadas, próprias do grupo.

São esses meios intelectuais que criam as figuras que dão sentido ao presente, torna o

outro inteligível e o espaço ser decifrado. As representações do mundo social são assim

construídas, embora indiquem uma ideia de universalidades, as quais são sempre

determinadas pelos interesses de grupos que as moldam. Dessa forma, podemos inferir

que os discursos proferidos ocupam a mesma posição de quem os utilizam. Para balizar

os discursos que os assistentes sociais auto produzem e reproduzem no cotidiano

profissional é muito importante que não esqueçamos dos nossos princípios éticos e

políticos da profissão. E esses discursos devem estar atualizados com as legislações

sociais e com documentos orientadores das políticas públicas e setoriais no qual estão

inseridos no campo sócio-profissional; além do mais os profissionais devem buscar

formação de senso crítico que possibilite localizar sua posição no mundo e frente ao

mundo. Devido às tensões da vida cotidiana não podemos permitir sermos sugados por

discursos midiáticos, rasos e vazios de conteúdo que nada contribuem para emancipação

humana.

Chartier (1990) alerta que as percepções do social não são de forma alguma

discursos neutros, pois produzem estratégias e práticas que tendem a impor um modo de

pensar em detrimento de outros, legitimam ou justificam um projeto para os próprios

indivíduos em função de algumas escolhas. Por isso, as representações estão sempre

posta em um campo de constante tensão/conflito e concorrência, cujos desafios são

enunciados em termos de poder e dominação. Nesse contexto, também se encontram

inseridos os assistentes sociais (e outros profissionais) que ao realizarem uma visita

domiciliar não chegam no campo isentos de seus valores. No caso da história de

“Chaupeuzinho Vermelho”, cada personagem foi até a casa da vovozinha com uma

intenção (positiva ou não!).

4 Outra vertente teórica trabalhada por Chartier propõe uma compreensão do conceito de representação

por meio da história cultural. No entanto, neste artigo, utilizaremos o conceito de representação

focalizado na perspectiva da função simbólica. Para um maior detalhamento dessa vertente, ver

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel/Rio de Janeiro:

Bertrand. 1989 – 1994.

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No entanto, os profissionais de Serviço Social tem o dever de zelar pela ética

profissional e procurar desvendar a situação da vida real embasados em seus princípios

éticos e legais e de outros recursos que possibilitem uma leitura mais próxima da

história. Segundo Amaro (2007), o profissional deve dirigir-se a cada visita disposto a

conhecer uma realidade distinta, e depois refletir sobre esta experiência que certamente

nos ensinará algo. Desse modo, não podemos nos satisfazer com o que está posto ou que

é dito, mas devemos investigar o que está nas entrelinhas. Para tanto é preciso se vestir

da vontade de estar ali, e, ali poder escutar de forma interessada o que o outro tem para

nos contar. É preciso valorizar o discurso, pois o discurso é a forma como o indivíduo

se apresenta e representa o mundo.

A visita domiciliar possuiu uma dimensão objetiva e uma subjetiva. Na

dimensão objetiva, o que é concreto e real que constitui o terreno da história mais

segura, são os documentos poupáveis e quantificáveis; enquanto que a dimensão

subjetiva está ligada a outra história que é vinculada aos discursos interiorizados, com

imagens mentais e com esquemas singulares (CHARTIER, 1990). Nesse sentido,

podemos dizer que a visita domiciliar possuiu uma dimensão objetiva e quantificável,

pois o simples fato de realiza-la já a materializa, pois será contada no relatório de

atividades no fim do mês. E outra dimensão subjetiva e qualitativa, que talvez seja a que

mais aproxima-se do fazer profissional do assistente social. Para o assistente social ao

fazer uma visita, por mais habituado e experiente que possa ser, uma visita sempre o

despertará algo novo.

A visita nos toca! E como não ser tocado pelo “cheiro do café”5, pelas

condições de sociabilidades dignas e outras tantas tão indignas. Somos tocados

cotidianamente pelas situações que presenciamos, escutamos e somos convocados a

intervir, na realidade da vida e na vida do outro. Nessa relação de causas e efeitos somos

transformados. Às vezes, nos sentimos inoperantes e impotentes diante de um modo de

produção capitalista que cada vez mais reduz as possibilidades de intervir e criar

alternativas em prol da população mais vulnerável e, até mesmo, da ausência do Estado.

Essa dimensão subjetiva traz efeitos imensuráveis para a prática do assistente social.

5 “O cheiro do café” refere-se a uma visita domiciliar realizada por um dos autores deste artigo. Nessa

visita, a atendida nos ofereceu um café. Percebíamos que na medida em que a usuária preparava o café,

ela conseguia, também, desenvolver melhor o diálogo com os profissionais. Percebíamos também que o

preparo do café deu-lhe segurança e foi uma maneira dela nos oferecer algo que fazia muito bem.

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A dimensão subjetiva também ocorre obviamente com a pessoa visitada.

Nem sempre a família está à vontade para receber uma visita e muito menos a visita de

um profissional, que representa uma instituição. É preciso entrar com cuidado, com

respeito. Por isso, é importante em um plano de atendimento familiar fazer uma

previsão ou uma programação da visita junto à família, desde já esclarecer os objetivos

da visita, o tempo previsto e outras informações relevantes para o contexto. Nossa

prática profissional tem uma dimensão investigativa, mas não somos investigadores de

polícia ou da justiça e esse tipo de posicionamento não nos compete e desonra as lutas

do Serviço Social Brasileiro.

De forma geral a visita domiciliar, como uma intervenção reúne pelo menos três

pontos essenciais: a observação, a entrevista e a história oral6. O assistente social por

meio da observação da visita domiciliar e da entrevista realizada, coleta as informações

fazendo a interpretação de um “recorte” da vida familiar, ou da situação presenciada.

Esse é um diagnóstico dinâmico, pois o momento da visita é uma parte da história e não

a história completa. Segundo Amaro (2007, p.20), a realidade é “bem maior do que o

nosso olhar ou percepção pode captar. [...] por que é tão fácil distorcermos os fatos e

construirmos interpretações equivocadas”. Ainda que, esse fator seja algo que dificulta a

intervenção, ao mesmo tempo é um desafio para o profissional.

Entre esses destacamos a “história oral” ou “o discurso do individuo”, como sendo o

ponto de maior investimento de escuta nesse processo. Durante a entrevista em um

espaço de atendimento ou visita o indivíduo nos conta de sua experiência pessoal ou

familiar. Esse é um momento íntimo e privado, pois ele está nos contanto a sua verdade,

a sua forma de representar-se e apresentar o mundo em que vive. Nesse contexto, não

existe uma única verdade, nem devemos querer descobrir a verdade, mas é importante

compreender o que é a verdade para aquela pessoa. E aceitar que para cada membro do

grupo familiar a história pode significar uma verdade e na mesma família pode haver

mais de uma verdade. A verdade aqui tem a ver com a vivência da pessoa e como ela a

representa em sua vida. Assim, buscar compreender a história oral em seu contexto

sócio-histórico e amarrado às representações sociais que foram construídas ao longo da

vida é um desafio cotidiano para os assistentes sociais.

6 Para aprofundamento vide a obra “A entrevista de Ajuda” do autor Alfred Bejamim (1996)

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Nesse ponto, podemos novamente dialogar com Chartier (1990) a partir da

relação indissociável da observação, entrevista e história oral, pode-se pensar a

construção da história que tome por objeto a compreensão das formas e dos motivos,

ou, por outras palavras, das representações do mundo social, que à revelia dos atores

sociais traduzem as suas posições e interesses objetivamente confrontados e que,

paralelamente, descrevem a sociedade tal como pensam o que ela é, ou que gostariam

que fosse e como experienciam a vida, o cotidiano.

O momento da visita domiciliar não possui caráter formal de atendimento,

assim o indivíduo expõe com facilidade seus problemas e o assistente social pode

intervir de forma mais próxima prestando as informações e orientações para que possam

acessar os direitos e ter conhecimento dos seus deveres. Após a realização da visita

domiciliar é comum que os profissionais elaborem relatórios ou diagnóstico social. O

produto desse estudo pode ser apresentado durante a prática de estudo de caso em

equipe. Nesse espaço, o assistente social de forma atenta aos pressupostos éticos irá

trazer sua contribuição e poderá mencionar a realização da visita domiciliar e até

mesmo as informações relevantes para a compreensão do caso. Nesse contexto, o

assistente social está fazendo uma apresentação da história de vida familiar, está

representando por meio de seu discurso oral a experiência vivida durante a visita

domiciliar. A representação permite a presentificação daquilo que se encontra ausente, é

“re-apresentar” algo ou alguém que se encontra ausente naquele espaço. Porém, a

representação não é uma correspondência direta do real, sua imagem fiel, mas sim uma

construção elaborada através deste mesmo real (PESAVENTO, 2004).

Assim, as representações, elaboradas sobre o mundo, se colocam no lugar do

mundo, mas também fazem com que os sujeitos tenham percepção da realidade e

através delas tenham referência para sua própria existência. As representações

proporcionam a geração de matrizes que conduzem as práticas sociais e são marcadas

pela possibilidade de promover integração, coesão e explicação do real. “Indivíduos e

grupos dão sentido ao mundo por meio das representações que constroem sobre a

realidade” (PESAVENTO, 2004, p. 39).

Conclusões

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Estamos em um momento social muito diversificado, onde as famílias

apresentam novas formas de convivência, novos sentidos sociais, novas demandas. Se o

assistente social não estiver atento a essas mudanças poderá ter uma postura fora do

tempo sócio-histórico. Muitos anos de atuação profissional não garantem o exercício

ético da profissão, não impedem que caiamos nas armadilhas da visita domiciliar, não

nos blindam da inocência de “Chapeuzinho Vermelho” que conversou por duas vezes

com o “Lobo Mau”. Na primeira, disse-lhe aonde ia. Na segunda, ao chegar à casa de

sua avó, quando começou a perceber que algo estava estranho.

Entendemos que a visita domiciliar nos apresenta três principais aspectos. O

primeiro está na forma como o profissional se prepara, como ele se aproxima do outro e

como ele lida com as demandas apresentadas e percebidas durante a visita. O segundo

está no cuidado em analisar a diversidade do modo de vida do outro, o modo como ele

vive e convive socialmente. E terceiro refere-se ao tratamento destinado ao pós-visita e

à relação da visita domiciliar com as demais práticas dos Serviços, inclusive, na relação

com equipes multi e interdisciplinares e nas relações intersetoriais.

Portanto, ao conhecer o mundo do outro temos que ter sensibilidade para ler a

realidade e reflexão para interpretar e expressar os processos vivenciados em visita

domiciliar. Esses são pontos relevantes para não realizarmos a visita do modo como fez

“Chapeuzinho Vermelho”.

Referências Bibliográficas

AMARO, Sarita. Visita Domiciliar: guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre:

Age, 2007.

BAPTISTA, Myrian Veras; & BATTINI, Odária. (Organizadoras). A prática

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Veras Batista, 2009.

______________________. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação.

3.ed. São Paulo: Veras Editora, 2013.

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética: fundamentos sócio-históricos. 2. ed. São Paulo:

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BEJAMIM, Alfred. A entrevista de Ajuda. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Page 14: “PELA ESTRADA A FORA”: SENSIBILIDADES E … · Temos, então, o conto da “Chapeuzinho Vermelho”. História conhecida por muitos. A maioria dos estudos afirma que o conto surgiu

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso

em: 30 mai. 2012.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa:

Difel/Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Reflexões sobre o Serviço Social e o projeto ético-político

profissional, 2006. In http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/69/67

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. Belo Horizonte, MG:

Autêntica, 2004.

ANEXO

Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez uma menina que ganhou um capuz vermelho de sua avó. Como ela só

usava este capuz recebeu o apelido de Chapeuzinho Vermelho.

Um dia a mamãe de Chapeuzinho Vermelho a mandou levar alguns doces para sua

avó. A garota saiu com os doces e enquanto passeava pela floresta encontra um lobo

faminto que quer devorá-la. O danado do lobo já tinha até um plano: apostou corrida

com a menina do capuz vermelho para ver quem chega primeiro na casa da vovó. Mas o

lobo conhece um atalho e chega antes.

Quando o lobo se aproxima da casa da boa velhinha, bate na porta e finge ser

Chapeuzinho Vermelho. Entra devagar, vai até o quarto e devora a vovó. Depois se

disfarça de avó e fica esperando pela menina.

Quando Chapeuzinho Vermelho chega à casa da vovozinha, bate na porta, entra e vai

até seu quarto para lhe entregar a cesta de doces. Chegando perto da cama ela percebe

que a avó está diferente e começa a fazer algumas perguntas:

- Que olhos grandes você tem?

- São para te ver melhor!

- Que orelhas grandes você tem?

- É para te ouvir melhor, minha netinha!

- Que nariz grande você tem?

- São para te cheirar melhor!

- E que boca e dentes grandes você tem vovó?

- São para te devorar!

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Neste momento Chapeuzinho Vermelho é atacada pelo lobo feroz. Ela corre e grita

por socorro. Um caçador que passa ali por perto ouve os gritos da menina. Corre até a

casa, salva Chapeuzinho Vermelho e a avó. Depois coloca pedras na barriga do lobo que

quando acorda sai correndo e foge, mas acaba se afogando em um rio ao tentar beber

um pouco de água.

Chapeuzinho Vermelho e a vovó foram felizes para sempre.

Fonte: http://www.dombosco.g12.br/noticia/conto-da-chapeuzinho-vermelho Acesso em 02 fev 2016, às

18h37.