pedro duarte - desemprego estrutual e informalidade

Upload: eugenio-pereira

Post on 08-Jan-2016

12 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

jvkjfvb

TRANSCRIPT

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 199

    DESEMPREGO ESTRUTURAL E A PROBLEMTICA DA INFORMALIDADE

    STRUCTURAL UNEMPLOYMENT AND THE ISSUE OF INFORMALITY

    Pedro Henrique Evangelista Duarte 1 RESUMO A economia brasileira se desenvolveu, ao longo do sculo XX, sem solucionar os principais problemas estruturais referentes s relaes de trabalho, mesmo tendo composto um conjunto de leis que deveriam garantir direitos sociais classe trabalhadora. Se, ao longo do perodo 1930-1970, o capitalismo industrial brasileiro se consolidou, o desemprego estrutural permaneceu como caracterstica intrnseca dessa economia. O perodo instvel nas dcadas de 1980 e 1990 criou um ambiente propcio precarizao do trabalho que, tendo na informalidade um de seus principais reflexos, s viria na dcada seguinte a ter um quadro econmico que comeava a desenhar os aspectos de sua possvel recuperao. Partindo dessas questes, o objetivo do presente trabalho , luz da discusso a respeito do desemprego estrutural, analisar a questo da informalidade no Brasil no perodo 1990-2010, tendo em mente que a informalidade se instaura como uma das principais caractersticas da precariedade histrica das relaes de trabalho no Brasil. Palavras-chave: Desemprego estrutural. Heterogeneidade estrutural. Informalidade. Relaes de trabalho. Polticas neoliberais. ABSTRACT The Brazilian economy has developed, throughout the twentieth century, without solving the main structural problems regarding to labor relations, even considering the set of laws created to guarantee social rights of the working class. Even if the Brazilian industrial capitalism was consolidated over the period 1930-1970, structural unemployment has remained as an intrinsic characteristic of this economy. The unstable period in the 1980s and 1990s created an economic environment conducive to job insecurity, which has the informality as one of its main effects, and only would have appropriate conditions to begin to draw aspects of their possible recovery on the next years. From these questions, the main aim of this paper is highlight the discussion of structural unemployment and address the issue of informality in Brazil in the period 1990-2010, keeping in mind that informality is established as one of the main characteristic elements of precariousness of labor relations in Brazil. Keywords: Structural. Unemployment. Structural heterogeneity. Informality. Labor relations. Neoliberal policies. 1. INTRODUO Desde sua constituio, a economia brasileira mantm um conjunto de caractersticas estruturais que resultaram num complexo de desigualdade de renda e pobreza, os quais acabaram por se consolidar como gargalos intrnsecos sua estrutura econmica e social. Marcada pela heterogeneidade e pelo desemprego estrutural, que condicionaram o desenvolvimento desequilibrado de seus setores produtivos e a incapacidade de oferecer postos de trabalho para todo o contingente de mo de obra disponvel, a economia brasileira passou a ter como um de seus principais desafios a resoluo de problemas que, em diferentes momentos de sua histria, se viram 1 Professor da Faculdade de Administrao, Cincias Contbeis e Cincias Econmicas da Universidade Federal de Gois (FACE-UFG) E-mail: [email protected]

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 200

    intensificados pelos impactos das crises internacionais, pelas relaes de dependncia poltica e econmica com os pases capitalistas centrais ou ainda pela implementao de polticas econmicas que, equivocadas em seu diagnstico, conduziram to somente intensificao de ditos problemas. Se a crise da dcada de 1980 interrompeu um longo processo cclico de desenvolvimento industrial e crescimento do nvel de emprego que se estabeleceu na economia brasileira ao longo do perodo 1930-1970, a implementao das polticas neoliberais e a incluso definitiva do Brasil nos meandros da globalizao na dcada de 1990, a despeito do controle inflacionrio, apenas conduziram a economia brasileira a um quadro marcado pela elevada vulnerabilidade externa, fragilidade financeira, extrema dependncia dos capitais internacionais e crise no balano de pagamentos. Dentro de um quadro de instabilidade e baixas taxas de crescimento, ficava latente a dificuldade de se resolver os problemas que acometiam o mercado de trabalho que, ao contrrio de serem resolvidos, viram sua estrutura se modificar em favor de um sistema de flexibilizao e baixos salrios que precarizaram por completo as condies da classe trabalhadora. dentro do contexto da necessidade extrema de se enfrentar os dilemas do baixo crescimento econmico e da precarizao das relaes de trabalho que o Brasil adentra os anos 2000, dcada na qual os dilemas do mercado de trabalho voltaram ao campo principal de desafios a serem enfrentados pelo governo federal. A partir desses apontamentos, o presente artigo tem por objetivo, no escopo da discusso terico-analtica referente ao desemprego estrutural, analisar os aspectos tericos e concretos a respeito da informalidade no Brasil, ao longo das duas ltimas dcadas. Os argumentos que respaldam tal objetivo so, de um lado, a noo de que a economia brasileira se caracteriza historicamente pela presena do desemprego estrutural, entendendo este como a incapacidade do sistema econmico de oferecer postos de trabalho cobertos pela legislao vigente, e de maneira estvel, para o conjunto da populao disponvel para tal mercado, o qual ganha impulso pela prpria existncia de um excedente estrutural de mo de obra; de outro lado, pelo fato da informalidade ser um dos elementos fundamentais que explicitam os problemas estruturais do mercado de trabalho brasileiro, na medida em que os mecanismos de trabalho informal se consolidam tanto como alternativa para uma classe trabalhadora que no consegue se inserir no mercado de trabalho formal, quanto para a classe capitalista, que enxerga em tais mecanismos uma fonte de reduo dos custos do trabalho2. Alm da introduo, o artigo est dividido em trs sees. Na primeira seo, feita a discusso sobre a noo adotada de desemprego estrutural na economia brasileira, entendendo o mesmo com resultado do problema histrico da formao do mercado de trabalho, bem como sua articulao com a questo da heterogeneidade estrutural. Na segunda seo, analisado o debate em torno do conceito de informalidade, partindo de suas consideraes mais gerais para chegar s anlises especficas para a Amrica Latina e para o Brasil. Na terceira parte, realizada uma anlise das condies de trabalho no Brasil ao longo das ltimas dcadas, com especial destaque aos fatores relativos ao desemprego estrutural e informalidade, vale dizer, ao comportamento do nvel de emprego, da populao economicamente e em idade ativa, da posio na ocupao e do grau de informalidade. Ao final, so apresentadas as concluses. 2 No entanto, preciso chamar a ateno para o fato de que a informalidade, isoladamente, no fundamental a existncia de desemprego estrutural no Brasil. A suposio adotada to somente assume a mesma como um dos elementos a serem analisados, reconhecendo a necessidade de que uma srie de outros condicionantes deve ser considerada para uma avaliao mais ampla e detalhada.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 201

    2. O DETABE SOBRE O DESEMPREGO ESTRUTURAL Do ponto de vista das condies histricas, ao se lanar os olhos sobre a conformao da estrutura econmico-social dos pases latino-americano, possvel visualizar os elementos que determinaram suas caractersticas histrico-estruturais que, partindo de uma anlise crtica do dito processo, pode ser consubstanciada na ideia da chamada heterogeneidade estrutural. Inseridos no comrcio internacional como produtores de bens primrios e tendo, por isso, assumido uma postura subordinada no que diz respeito ao seu grau de autonomia econmica, esses pases foram submetidos a um processo de deteriorao dos termos de troca, o qual determinava, por conta do intercmbio de produtos com diferentes valores agregados, na transferncia de renda periferia-centro. No plano interno, seu processo de industrializao feito tardiamente, se concretizou para atender a uma demanda especfica e limitada j existente, o que impedia uma expanso setorial acompanhada e puxada pelo concomitante crescimento da demanda. Esse processo, ao concentrar suas foras em determinados setores e, por isso, promover a modernizao descolada do conjunto da economia como um todo, resultou na edificao de uma economia onde diferentes setores apresentavam diversos graus de produtividade, avano tecnolgico e crescimento. Configurava-se, assim, a partir dos desnveis de produtividade entre esses setores e regies, a heterogeneidade estrutural. Tal caracterstica, que acompanhou o desenvolvimento capitalista dos pases da regio, resultou na consolidao de uma srie de outros gargalos, fundamentais para explicar as crises enfrentadas pelos pases latino-americanos. O Brasil, com seu capitalismo tardio, se inseriu de maneira estreita dentro dessa estrutural.

    A discusso sobre a heterogeneidade estrutural vem coadunada a outra que, para o caso brasileiro, possui fundamentos histricos similares e conjugados: a questo do desemprego estrutural. No entanto, antes de ver as formas pela quais ambos os elementos se articulam, faz-se necessrio compreender como se estrutura historicamente o mercado de trabalho brasileiro elementos que so fundamentais para a compreenso dos problemas contemporneos do emprego no Brasil. O processo de formao do mercado e das relaes de trabalho no Brasil deu-se a partir da conjugao de uma srie de fatos histricos. De acordo com Dedecca (2005), trs elementos se articulam na estruturao do mercado de trabalho brasileiro. O primeiro diz respeito ao movimento de transio do trabalho escravo para o trabalho livre, o qual permite explicar a abundncia de mo de obra disponvel no momento da ecloso do processo de industrializao. O impedimento da posse de terras pela populao negra livre, por conta do regime de propriedade privada, articulado atravs Lei de Terras, imps a essa populao uma permanente subordinao ao trabalho no latifndio. Em segundo lugar, a intensa expanso cafeeira em direo a So Paulo imps a necessidade de uma poltica migratria para suprir a demanda por trabalho. No entanto, ao contrrio de se optar por uma realocao da populao das regies Norte e Nordeste, ento em processo de decadncia de suas principais atividades, optou-se por uma poltica de migrao externa financiada pelo Estado central. Com isso, estabeleceu-se um acordo que permitiu a montagem do mercado de trabalho brasileiro sem o aproveitamento da disponibilidade de mo de obra existente. Em terceiro lugar, o incio do processo de industrializao e a crise do setor cafeeiro se deram no momento da integrao das atividades econmicas com o mercado de trabalho. Assim, nos anos 1930, iniciou-se uma intensa migrao rural-urbana, com mobilizao dos trabalhadores das regies Norte e Nordeste para a regio Sudeste. No entanto, naquele momento, a regio Sudeste j havia montado seu mercado de trabalho livre e no possua capacidade

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 202

    de absorver de forma adequada a disponibilidade de mo de obra. Mesmo com a elevada capacidade de gerao de emprego, nas atividades industriais e no setor de servios, era invivel a absoro de toda a mo de obra, com o que a industrializao se fez com elevada e recorrente disponibilidade da fora de trabalho. A estes elementos adicionava-se o modelo de regulao do mercado e das relaes de trabalho que se consolidou no Brasil na dcada de 1940. Durante este perodo, foi estabelecida uma ampla regulao do mercado de trabalho, com a instituio do salrio mnimo e do sistema de proteo social, alm da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT). Aparentemente benfico classe trabalhadora, esse modelo de regulao favoreceu a ao repressiva e a manipulao poltica da Era Vargas: de um lado, a tutela em relao aos sindicatos impediu aos mesmos uma dinmica autnoma de negociao coletiva que pudesse favorecer a difuso dos direitos legais, reconhecendo o direito privado das empresas na gesto das relaes de trabalho; de outro, o modelo poltico de regulao ocorreu com a reproduo sistemtica de um mercado de trabalho com baixa proteo social ao final do perodo de industrializao 1930-1980, metade da populao ocupada no tinha acesso ao sistema de proteo social. De forma adicional, cabe destacar que, em princpio, esse conjunto de leis beneficiou apenas os trabalhadores urbanos, no sendo estendido aos trabalhadores do campo. Tais elementos garantiram a reproduo de um mercado de trabalho pouco institucionalizado, marcado pela presena extensa de contratos de trabalho estabelecidos informalmente. Do conjunto de elementos apresentados, possvel reconhecer que as relaes de trabalho no Brasil nascem e se consolidam fundadas numa base favorvel constituio de condies de trabalho marcadas no somente pelo excedente de mo de obra, mas tambm pela elevada marginalizao da classe trabalhadora. A reproduo da lgica de trabalho prpria economia escravista, os incentivos desenfreados imigrao e a ausncia de um plano de incluso no mercado de trabalho das populaes que participaram do xodo rural, compuseram o quadro de elementos extremamente frgeis que caracterizariam a classe trabalhadora brasileira. E a partir desse quadro que se conjugam a crise da economia agroexportadora e a ecloso do processo de industrializao, cuja consolidao s foi possvel a partir do estabelecimento de uma mo de obra excedente, exposta elevada explorao e aos baixos salrios. Se as dcadas de 1960 e 1970 apresentaram um crescimento econmico que poderia dar sinais para uma possvel superao destas deficincias mas que, concretamente, foram marcadas pelo crescimento com elevada concentrao da renda -, a crise da dcada de 1980, com a interrupo do crdito externo que havia viabilizado o crescimento acelerado da economia brasileira na dcada anterior, em especial no setor industrial, veio para se sobrepor a todas essas possibilidades. E foi mediante a impossibilidade histrica de absoro da oferta de mo de obra existente que o mercado de trabalho brasileiro passou a se caracterizar pelo desemprego estrutural. Tal configurao resulta no apenas numa presso constante sobre o mercado de trabalho, criando uma tendncia a baixos nveis de remunerao, mas tambm em diferenciais qualitativos no mercado de trabalho, fazendo com que trabalhadores de diferentes setores e ocupaes tenham condies de trabalho completamente distintas, especialmente no que diz respeito ao tempo de trabalho, s formas de remunerao e proteo social. Em sntese, pode-se dizer que, a partir dos determinantes apontados acima, a estrutura econmico-social brasileira historicamente demarcada por uma dupla caracterstica: de um lado, a heterogeneidade estrutural, que condiciona os diferenciais de produtividade e, consequentemente, de rentabilidade entre os diferentes setores da economia; de outro, o desemprego estrutural, como resultado de um conjunto de

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 203

    relaes de trabalho consolidadas com deficincias que impedem e/ou limitam a absoro da mo de obra disponvel, ao mesmo tempo em que conduz a discrepantes desnveis entre diferentes ocupaes. De modo que se cria um ambiente econmico e social marcado pelos desequilbrios nas relaes de trabalho, os quais conduzem a um quadro permanente de elevada explorao, desemprego, desigualdade e pobreza. O que cabe destacar que a heterogeneidade estrutural, ao condicionar um tipo de desenvolvimento marcado pelo crescimento desequilibrado entre os setores da economia e, alm disso, determinar diferenciais de rendimento e salrios, ao se combinar com relaes de trabalho, tambm marcadas por deficincias, promove um ambiente propcio existncia de um elevado excedente de mo de obra, que se consolida como caracterstica da estrutural social e cria entraves ao desenvolvimento econmico. Tendo em mente esse pano de fundo, passamos anlise da discusso sobre a informalidade, assumindo este enquanto um dos elementos primordiais que permitem a caracterizao de uma economia a partir do aparato do desemprego estrutural. 3. O DEBATE SOBRE A INFORMALIDADE O debate acerca da conceituao, ou do entendimento, do que vem a ser a informalidade, foi historicamente permeado por polmicas e, em certo sentido, de ausncia de convergncia entre distintas correntes de pensamento, dada a complexidade de se reunir, num nico termo, um universo de relaes produtivas, sociais e de trabalho que, na esteira do prprio desenvolvimento das foras capitalistas, foi ganhando novas formas e roupagens. No estranhamente, ao contrrio da existncia de um nico termo, foi elaborada uma srie de definies no intuito de conseguir abarcar, da maneira mais genrica possvel, todo esse conjunto de relaes. Dada essa complexidade, o objetivo da presente seo apresentar, de maneira breve, as origens e ramificaes do termo, bem como aquilo que ser considerado como informalidade no presente trabalho, de modo a dar respaldo terico anlise a ser realizada na prxima seo. A denominao mercado de trabalho informal foi utilizada, pela primeira vez, por Keith Hart em um estudo sobre o emprego urbano em Gana, em 1971. Hart introduziu a ideia de oportunidades de gerao de renda formais e informais para estudar a ocupao urbana entre os estratos de menor renda da populao, fazendo uma distino entre formal e informal a partir da identificao do primeiro com o emprego assalariado e do segundo com o emprego por conta prpria. No entanto, a difuso mundial do termo parte da interpretao que surge dos estudos realizados pela Organizao Internacional do Trabalho (OIT) nos marcos do Programa Mundial de Emprego, o qual tinha por objetivo a realizao de estudos e a proposio de estratgias de desenvolvimento econmico focados na gerao de empregos. Nos termos desse programa, o setor informal era entendido como um fenmeno tpico dos pases subdesenvolvidos, nos quais a especificidade do desenvolvimento capitalista no havia permitido a incorporao expressiva, no mercado de trabalho, de parcela da populao trabalhadora, de modo que, como alternativa para essa populao, abriu-se a possibilidade para o surgimento de outras estratgias de sobrevivncia, as quais estavam circunscritas ao conjunto das chamadas atividades informais. Especificamente para a Amrica Latina criado, em fins dos anos 1960 e dentro do Programa Mundial de Emprego, o Programa Regional del Empleo para Amrica Latina y el Caribe (PREALC). Mantendo a concepo dual apresentada inicialmente pela OIT, o PREALC considerava o setor informal como o conjunto de atividades de baixa produtividade, com empresas muito pequenas e no organizadas e trabalhadores independentes, cuja demanda por trabalho no obedecia a uma definio tcnica de postos de trabalho disponveis, mas dependia da fora de trabalho no absorvida no

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 204

    setor formal e das oportunidades que esse conjunto de trabalhadores tinha de produzir e vender bens que lhes retribusse algum nvel de renda. Partindo da ideia de que a heterogeneidade da estrutura produtiva nos pases latino-americanos dava origem a dois setores no mercado de trabalho urbano, o Programa considerava o conjunto de trabalhadores vinculados ao setor informal enquanto manifestao do excedente estrutural da mo de obra. Ao servir, ora como estrutura amortecedora do mercado de trabalho, ora como reservatrio de trabalho, o setor informal era tido, nessa interpretao, como funcional ao desenvolvimento das foras capitalistas, em especial ao permitir o rebaixamento do custo da mo de obra. De forma alternativa e crtica leitura estruturalista fornecida pela PREALC, a interpretao marxista buscou nas contradies do modelo de acumulao capitalista consolidado com base nas relaes de subordinao e dependncia entre a periferia latino-americana e os pases centrais a explicao para a existncia de um contingente de mo de obra que, excludo do processo de integrao ao mercado de trabalho, tinha como fonte de renda o conjunto das atividades do setor informal. Para essa corrente, a informalidade nas economias subdesenvolvidas no decorria de uma condio de inadequao de parte do sistema a periferia ao seu padro normal de funcionamento os pases centrais -, mas sim do prprio modo de acumulao capitalista, estruturado a partir de uma lgica de dominao das relaes de produo e de classe, que tem no exrcito industrial de reserva nada mais que seu excedente de trabalho. Nesse sentido, a anlise empreendida pela corrente marxista parte do prprio modelo de desenvolvimento verificado na periferia, centrado numa industrializao capital-intensiva que, ao gerar poucos postos de trabalho, era incapaz de absorver a fora de trabalho coadunada com o padro de crescimento demogrfico. Mesmo a expanso do setor industrial verificada durante as dcadas de 1960 e 1970 foi incapaz de gerar empregos suficientes mediante o crescimento da populao urbana que, de forma natural, seguiu o caminho da ampliao e da criao de novas modalidades de trabalho informal, dando corpo ao setor informal. Assim sendo, o setor informal era, de maneira clara, funcional e rentvel ao padro de acumulao capitalista, ao se enquadrar como fator de barateamento e disciplinamento da fora de trabalho (COSTA, 2010). No que diz respeito ao debate em torno do conceito de informalidade para o caso especfico do Brasil3, o primeiro aspecto a se chamar a ateno trata-se da introduo dos conceitos de processo de informalidade, mercado de trabalho informal e trabalho informal, realizado por Cacciamali (2000). De acordo com a autora, com a maior complexificao das relaes de produo e de trabalho, a adoo de um conjunto de diferentes conceitos realizada como forma de conseguir abarcar aspectos distintos da informalidade, uma vez que a anlise esquemtica j se mostrava limitada para explicar um conjunto de elementos que no mais se baseavam na dicotomia e no dualismo entre mercado formal e mercado informal. Nesses termos, define processo de informalidade a partir das mudanas estruturais em andamento na sociedade e na economia que incide na redefinio das relaes de produo, das formas de insero dos trabalhadores na produo, dos processos de trabalho e das instituies, e que resulta em dois fenmenos: a reorganizao do trabalho assalariado e o surgimento do auto emprego como 3 Cabe destacar que o debate apresentado aqui no abarca todo o conjunto de interpretaes realizadas para o caso brasileiro. Dada a complexidade do tema, diversos autores, ao longo dos ltimos 40 anos, se lanaram no esforo de tentar sistematizar o conceito de informalidade. Tendo claros os objetivos deste trabalho, o esforo aqui to somente o de destacar algumas interpretaes tericas oriundas de diferentes correntes, que permitam deixar mais ntidas as divergncias e polmicas que estiveram em torno desse debate ao longo das ltimas dcadas.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 205

    estratgia de sobrevivncia empreendida por aqueles que encontram dificuldades de ingresso no mercado de trabalho. J o mercado de trabalho informal o lcus de compra e venda da fora de trabalho sem registro em carteira e, por conta disso, sem vinculao com a seguridade social. Por fim, o trabalho informal so todas as formas de trabalho exercidas margem da legislao vigente ou que passam a ser permitidas a partir das modificaes institucionais que prevalecem aps o processo de desregulao do trabalho. Com o mesmo objetivo de apresentar diferentes conceitos de informalidade que permitam a anlise de situaes distintas no que tange s novas formas de contratao do trabalho, Filgueiras, Druck e Amaral (2004) partem de trs concepes de informalidade para estabelecer um novo conjunto de critrios a ser utilizado para a verificao emprica do caso brasileiro. A primeira concepo diz respeito existncia de um setor informal como consequncia de um excedente de mo de obra resultante do elevado crescimento demogrfico; a segunda, ao surgimento de um setor informal a partir da crise do fordismo e do Estado de Bem Estar nos pases desenvolvidos, conduzindo aos programas de reestruturao produtiva e de liberalizao econmica; por fim, a terceira descreve o surgimento da chamada nova informalidade nos pases perifricos, a partir da ecloso dos mesmos mecanismos que levaram, nos pases centrais, ao processo de reestruturao produtiva, com a transferncia de trabalhadores dos setores protegidos para as atividades informais para estabelecer um novo conjunto de critrios a ser utilizado para a verificao emprica no caso brasileiro. Por sua vez, esse conjunto de critrios conduziria a trs distintas abordagens sobre a informalidade. A primeira delimita o conceito de informalidade pelo critrio das atividades que no so tipicamente capitalistas: o setor formal agrega as atividades capitalistas e o setor informal agrega as atividades no capitalistas. A segunda adota a tica da regulamentao da atividade: as atividades formais seriam aquelas registradas, onde os ocupados contribuem para a previdncia social, e as atividades informais ou subterrneas so aquelas onde os ocupados no contribuem para a previdncia. A ltima abordagem parte da juno dos dois critrios considerados nas demais abordagens, conduzindo ao estabelecimento do critrio das atividades fordistas atividades capitalistas registradas e as atividades no fordistas atividades capitalistas subterrneas mais atividades no capitalistas, sejam estas registradas ou subterrneas. Seguindo uma lgica similar, mas buscando resgatar as conexes entre desenvolvimento, dependncia e informalidade, Barbosa (2009) apresenta uma argumentao mostrando que, num contexto de permanente heterogeneidade estrutural, a compreenso do que venha a ser formal e informal constantemente redefinida, a partir da prpria modificao das relaes que so operadas no capitalismo perifrico. Nesses termos, os esforos de se tentar enquadrar num nico termo aquilo que se entende por informalidade acabariam por limitar a prpria capacidade de anlise, em especial na medida em que o sistema capitalista, em regies onde predomina como caracterstica estrutural o excedente de mo de obra e os enormes diferenciais de remunerao intra e inter setorial, recria de forma permanente as formas de contratao no intuito de permitir a maior explorao do trabalho. De modo que, dada a complexidade das relaes de trabalho contemporneas, o autor aponta para a dificuldade de se adotar explicaes genricas para a compreenso da informalidade, especialmente pela observao de que, na atualidade, h a expanso tanto de empregos formais precrios quanto de empregos no regulados, mas que no so considerados precrios. A compreenso das formas que assumem as relaes de trabalho deve ser tomada a cada perodo de tempo, sempre tendo como pano de fundo as caractersticas estruturais da economia.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 206

    Apresentadas as interpretaes tericas, passamos anlise dos dados sobre desemprego estrutural e informalidade no Brasil ao longo das ltimas duas dcadas, com o objetivo de verificar se, e em que medida, esse indicador oferece elementos que deem suporte no apenas tese de que o mercado de trabalho brasileiro possui como caracterstica prpria e intrnseca o desemprego estrutural, mas que h, em certa medida, uma relao dessa caracterstica com o crescimento e a expanso da informalidade. Para tanto, ser assumida uma abordagem ampla da compreenso de informalidade, fundamentada na noo de processo de informalidade, uma vez que se considera tal abordagem como a mais coerente para o tratamento do conjunto de transformaes operadas na economia brasileira ao longo do perodo estudado, bem com seus reflexos sobre as relaes e condies de trabalho, especialmente no que diz respeito complexificao da relao capital-trabalho. 4. INFORMALIDADE NO BRASIL No incio da dcada de 1990, teve incio no Brasil a implementao das chamadas polticas neoliberais, consubstanciadas fundamentalmente na abertura econmica, na flexibilizao da regulamentao financeira e na reduo do papel do Estado, em termos da sua interveno no processo econmico. O argumento de cunho conversador para a implementao de tais polticas se baseava na ineficincia do projeto poltico estatal levado a cabo ao longo dos 40 anos antecedentes, que teria apenas conduzido o Brasil rumo a uma trajetria econmica inflacionria, com elevada concentrao de renda e excessivamente protecionista, sem condies de competio internacional. No entanto, como a prpria histria tratou de mostrar, os efeitos imediatos da implementao desse conjunto de polticas, de forma conjunta estabilizao monetria, foi o aumento da vulnerabilidade e da instabilidade econmica, expanso das dvidas interna e externa, o baixo crescimento econmico e a piora consistente nos indicadores de renda. To profundos e desastrosos quanto os resultados para o conjunto dos componentes macroeconmicos foram os relativos s relaes de trabalho. Num momento onde o comportamento padro era a readequao da produo nova lgica competitiva internacional, as indstrias que conseguiram sobreviver ao desmonte promovido pela exposio concorrncia internacional promoveram uma reorganizao produtiva onde o elo mais fraco do processo produtivo a fora de trabalho passou por um momento de precarizao nunca antes visto no Brasil. No s milhes de postos de trabalho foram destrudos, mas os salrios foram desvalorizados, as formas de contratao foram flexibilizadas, e os direitos reduzidos, tudo em favor da consolidao de mecanismos que, em tese, permitiriam indstria nacional melhores condies de competio internacional. no contexto desse quadro macroeconmico que se pretende realizar uma anlise das condies do trabalho no Brasil e, em especfico, seu reflexo na questo da informalidade.

    A partir dos dados da Tabela 1, possvel verificar que, entre 1992 e 2002, houve expanso, em termos absolutos, tanto da Populao Economicamente Ativa quanto da Populao em Idade Ativa, que segue a tendncia do crescimento populacional do perodo e do crescimento do nmero de pessoas empregadas ou que procuravam emprego. O crescimento mais expressivo da PEA ao longo dos anos 2000, em comparao dcada de 1990, explica-se por ter sido este um perodo de baixo crescimento econmico e, em consequncia, de baixa gerao de empregos, ao passo que nos anos 2000, em especial a partir de 2004, a economia comea a apresentar sinais de recuperao. J o menor crescimento da PEA em relao PIA para os anos 2000 aponta para uma menor presso sobre o mercado de trabalho, na medida em que uma

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 207

    menor parcela relativa do contingente populacional com idade mnima para o trabalho adentrou no mercado de trabalho. O que cabe destacar que o crescimento mais acentuado da PIA em relao a PEA aponta para uma reduo da presso sobre o mercado de trabalho, na medida em que houve relativa expanso dos postos de trabalho.

    Tabela 1: Populao Economicamente Ativa, Populao em Idade Ativa e Ocupados (em pessoas)

    Ano PEA PIA Ocupados 1992 65.977.197 113.295.184 61.229.427 1993 66.944.596 115.658.037 62.390.584 1995 70.055.469 120.600.205 65.386.630 1996 69.583.474 123.377.657 64.299.685 1997 71.634.612 125.081.924 65.576.717 1998 73.284.362 127.732.727 66.139.771 1999 77.243.166 133.172.799 69.181.057 2001 80.400.976 138.962.241 72.323.336 2002 83.079.896 141.831.382 74.887.898 2003 84.684.123 144.585.745 75.817.114 2004 86.985.753 146.930.667 78.534.280 2005 89.529.881 149.839.640 80.399.758 2006 90.549.690 152.811.425 82.200.824 2007 91.757.699 155.454.625 83.571.545 2008 93.325.283 158.209.812 86.060.399 2009 95.380.939 160.438.234 86.744.608

    Fonte: Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (www.ipeadata.gov.br)

    Assim, nos anos 2000, uma maior parcela da populao conseguiu uma colocao no mercado de trabalho, como possvel observar a partir da anlise dos dados referentes aos ocupados. Apesar de manter a mesma trajetria de crescimento da PEA e da PIA ao longo de todo o perodo, notvel que a expanso dos ocupados mais acentuada nos anos 2000 que na dcada de 1990 enquanto o crescimento nos anos 1990 foi de pouco menos de 8 milhes de pessoas, nos anos 2000 sua expanso foi de mais de 14 milhes de pessoas. Desse modo, a quase totalidade da expanso da populao economicamente ativa nos anos 2000 encontrou ocupao, quadro muito diferente dos anos 1990, ao longo dos quais mais de 3 (trs) milhes de pessoas se encontravam desocupadas. Desses resultados, possvel inferir que, em termos da ocupao, as condies de trabalho durante a dcada de 1990 foram de extrema ampliao da precariedade, com melhoras considerveis na dcada seguinte. No entanto, preciso chamar a ateno para o fato de que a expanso da ocupao no necessariamente foi reflexo do surgimento de postos de trabalho formais. De fato, grande parte da expanso das ocupaes ao longo das duas ltimas dcadas se deu em condies precrias, fato que, inclusive, amorteceu os indicadores de desemprego do perodo.

    Os dados da Tabela 2 permitem verificar a expanso, durante a dcada de 1990, do trabalho domstico este, com oscilao ascendente entre 1992 e 1997, e posterior queda e volta para ao mesmo patamar de 1995 em 1999 -, e do trabalho por conta-

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 208

    prpria, ambas as categorias enquadradas dentro do trabalho informal4. Em relao ao trabalho no remunerado e produo para o prprio consumo, possvel notar pequena queda, ao passo que a construo para o prprio consumo descreve a mesma tendncia do trabalho domstico. Para os anos 2000, h queda de todos os indicadores, com exceo para a produo e construo para o prprio consumo, que apresenta queda e posterior retorno para patamares similares aos de 1999, em 2007.

    Tabela 2 Populao de 10 anos ou mais de idade, ocupada, por posio na ocupao (em porcentagem)

    Opo 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001Empregado 52,3 52,4 51,3 53,1 52,1 52,5 51,4 54,3Empregador 3,7 3,6 3,9 3,7 4 4,1 4,1 4,2 CP 21,7 21,7 22,5 22,3 22,7 23 23,2 22,3TD 6,7 6,9 7,4 7,4 7,6 7,2 7,4 7,8 NR 10,5 10,4 10 9,1 9 8,7 9,3 7,4 PPC 4,9 4,8 4,6 4,2 4,3 4,3 4,5 3,8 CPC 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,2 0,2 Opo 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009Empregado 54,3 54,4 55,9 55,7 56,6 57,9 57,5 60,6Empregador 4,2 4,2 4,1 4,2 4,5 3,8 33,7 32,15 CP 22,3 22,3 21,8 21,5 21 21TD 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,5 5,0 4,8 NR 7,4 7,1 6,5 6,4 5,7 5,5 3,8 2,4 PPC 4 4,2 3,8 4,3 4,4 4,2 - - CPC 0,2 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 - -

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 1992-2007. Legenda: TD = trabalhador domstico; CP = conta prpria; NR = no remunerado; PPC = produo para prprio consumo; CPC = construo para prprio consumo. Comentrios: Resultados de 2004 a 2007 harmonizados com a abrangncia geogrfica da PNAD at 2003, que exclui a populao a populao rural de Rondnia, Acre, Amazonas, Roraima, Par e Amap.. Para os anos de 2008 e 2009, no h dados sobre Produo e Construo para o prprio consumo. Nos mesmos anos, as estatsticas de Contra Prpria e Empregador foram agregadas.

    Nesse sentido o que se observa , para a dcada de 1990, uma expanso de formas de ocupaes enquadradas dentro do trabalho informal, ao passo que, nos anos 2000, h melhoria nas categorias mais significativas, o que aponta para os resultados positivos da conjugao tanto da poltica econmica quanto da poltica social, que tinha na valorizao do salrio mnimo e na consequente melhoria das condies de vida das classes menos favorecidas um de seus principais focos. No entanto, preciso chamar a ateno para o ainda elevado patamar de alguns desses indicadores em especial o trabalho por conta prpria. O que nos permite apontar para o fato de que, a despeito do arrefecimento das categorias enquadradas dentro das formas de trabalho informal nos ltimos anos, marcante o elevado percentual de trabalhadores que se mantm vinculado a esse tipo de trabalho, mostrando tambm que a elevao do nmero de ocupados tem respaldo no crescimento do setor informal. 4 O conceito de trabalho domstico definido pelo IBGE considera, no mesmo, pessoas que trabalham prestando servio domstico remunerado em dinheiro ou benefcios, em uma ou mais unidades domiciliares, de modo que no h uma separao, no conceito aqui adotado, dos empregados domsticos com carteira que seriam trabalhadores formais dos empregados domsticos sem carteira. No entanto, como aqui est sendo adotada uma noo ampla de informalidade, e levando em conta a precariedade que, historicamente, circunscreve o trabalho domstico, tal categoria ser considerada como informal, mesmo que do ponto de vista legal os trabalhadores domsticos com carteira sejam considerados formais.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 209

    No que diz respeito ao comportamento da taxa de participao e para a taxa de ocupao, pode-se apontar que as mesmas seguiram as tendncias das demais variveis. A taxa de participao, definida pela relao entre a Populao Economicamente Ativa e a Populao em Idade Ativa, assumida como uma proxy da oferta de trabalho na economia, na medida em que expressa a porcentagem total da populao que, tendo idade mnima para trabalhar, est ofertando sua mo de obra no mercado de trabalho. No mesmo sentido, a taxa de ocupao, definida pela relao entre os Ocupados e a Populao Economicamente Ativa, adotada como proxy para a demanda de trabalho na economia, exatamente por mostrar a porcentagem da populao que, ofertando sua mo de obra no mercado de trabalho, consegue encontrar uma ocupao.

    Analisando os dados da Tabela 3, possvel observar que, durante a segunda metade da dcada de 1990, com algumas variaes no perodo, a taxa de participao se manteve praticamente a mesma, mostrando que no houve grandes modificaes no nvel de oferta de trabalho na economia.

    Tabela 3 Taxa de ocupao e taxa de participao (em porcentagem) Ano Taxa de participao Taxa de ocupao 1995 58,10 93,331996 56,42 92,401997 57,28 91,541998 57,39 90,251999 58,02 89,562001 57,86 89,952002 58,58 90,132003 58,57 89,522004 59,20 90,28

    2005 59,75 89,802006 59,25 90,772007 59,02 91,072008 58,98 92,212009 59,45 90,94

    Fonte: Instituto de Pesquisa Econmica e Aplicada. Tal comportamento compatvel tanto com as condies gerais da conjuntura econmica no perodo quanto com as modificaes pelas quais passou a composio da populao em idade ativa no Brasil, j que, nos ltimos anos da dcada de 1990, cresceu a participao dos adultos e idosos e reduziu a participao relativa das populaes infantil e juvenil, o que justifica a no modificao, de maneira expressiva, da oferta de trabalho. Em relao taxa de ocupao, notvel sua diminuio gradual ao longo da segunda metade dos anos 1990, apresentando reduo de 4% no perodo considerado. Claramente h uma indicao da reduo da demanda de trabalho no perodo, tambm coerente com o quadro macroeconmico, na medida em que, como j apontado, o processo de abertura econmica, de um lado, desagregou importantes elos da cadeia produtiva, reduzindo substancialmente os postos de trabalho e, de outro lado, a reestruturao produtiva imposta pela nova lgica concorrencial se estabeleceu no sentido de ampliar a produtividade com base na racionalizao produtiva e em termos da precarizao do trabalho. J nos anos 2000, houve crescimento de um ponto percentual da taxa de participao ao longo da dcada, em grande parte explicada, em termos relativos, do aumento do nmero de mulheres e a reduo, em menor escala, do nmero de jovens entre 15 e 19 anos. De toda forma, o comportamento da taxa de participao refora o observado pela relao entre a PIA e a PEA: no perodo, houve

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 210

    um aumento da presso no mercado de trabalho, dado o aumento do nmero de pessoas em busca de trabalho. J, a taxa de ocupao apresentou o mesmo comportamento, com aumento de um ponto percentual no final da dcada em relao ao incio. Esse resultado mostra o melhor comportamento do mercado de trabalho durante os anos 2000, com a recuperao da economia e o crescimento do nmero de postos de trabalho, no mesmo sentido em que contrabalana o aumento da presso sobre o mercado de trabalho expresso na taxa de participao. Assim, pode-se dizer que o aumento da procura de trabalho no perodo foi, de forma relativa, compensado pelo aumento do nmero de vagas criadas. Outro importante elemento a ser considerado o comportamento da taxa de emprego. A partir dos dados apresentados, possvel observar que, como crescimento do nmero de ocupados durante os anos 1990 no foi suficiente para compensar o crescimento da Populao Economicamente Ativa enquanto o aumento da PEA foi de aproximadamente 12 milhes de pessoas, a populao ocupada cresceu apenas em 8 milhes ocorreu uma exploso do desemprego aberto, que passou de menos de 5% da PEA para mais de 10% ao final da dcada (veja Tabela 4).

    Tabela 4 - Taxa de desemprego (em porcentagem)

    Fonte: Instituto de Pesquisa Econmica e Aplicada. Por outro lado, o nmero de desempregados aumentou de cerca de 3 milhes

    para 8 milhes. Considerando este aumento, e levando em conta que o aumento do nmero de empregados em estabelecimentos e em servios domsticos foi de 3 milhes, a expanso do desemprego foi, em nmeros absolutos, maior que o do trabalho assalariado total. Em consequncia, a taxa de desemprego do trabalho assalariado5 passou de 10% para 17% da fora de trabalho ao longo dos anos 1990, indicando o forte estreitamento do mercado de trabalho, num perodo de crescimento expressivo da PEA. Ou seja, a economia brasileira, na dcada de 1990, fica marcada por uma transformao produtiva que, mesmo modernizando parte do seu parque produtivo, e elevando a produtividade em determinados setores, foi incapaz de gerar postos de trabalho suficientes para uma populao economicamente ativa elevada e em constante crescimento fator que se justifica no apenas da desarticulao de importantes elos da

    5 A taxa de desemprego do trabalho assalariado medida pela relao entre o nmero de desempregados e a soma de desempregados, empregados em estabelecimentos e trabalhadores do servio domstico remunerado.

    Ano Desemprego1995 6,61996 7,61997 8,41998 9,71999 10,42001 10,02002 9,92003 10,52004 9,72005 10,22006 9,22007 9,02008 7,82009 9,0

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 211

    cadeia produtiva, mas tambm na flexibilizao e desregulamentao das relaes de trabalho.

    Mesmo com a retomada do crescimento econmico, em 2008 o desemprego ainda alcanava o nvel de 7,8%, sendo que do total da populao economicamente ativa, 31,2% estavam ocupados como trabalhadores por conta prpria, trabalhadores no-remunerados, trabalhadores com produo agrcola para o prprio consumo e na construo da casa prpria, e empregadores. De forma que o emprego assalariado no cobria mais que 62% da PEA, dos quais 33,7% eram empregados sem registro e 10,9% eram empregados no trabalho domstico remunerado. Analisando por faixa etria, a reduo do desemprego foi mais intensa entre os adultos e idosos, ao passo que o desemprego entre jovens (15 a 24 anos), mesmo considerando sua expressiva queda no contingente da populao economicamente ativa, manteve-se em nveis elevados. Esses dados permitem, numa primeira aproximao, apontar que mesmo mediante os efeitos da recuperao do crescimento econmico, e ainda que esteja em nveis abaixo dos verificados na dcada de 1990, o desemprego no Brasil ainda atingia um elevado contingente da populao economicamente ativa no final da primeira dcada dos anos 2000 e, assim como na dcada anterior, foi arrefecido pela expanso do trabalho por conta prpria e do trabalho domstico remunerado. Em fins da primeira dcada dos anos 2000 h uma melhora relativa das condies de trabalho na economia - se analisado do ponto de vista da gerao de empregos, das formas de ocupao e da reduo da presso no mercado de trabalho especialmente se comparado com o quadro geral da dcada de 1990, quando as condies de trabalho alcanaram um nvel de elevada precariedade, mediante o contexto geral de implementao das polticas neoliberais. Tendo essa perspectiva em mente que se pretende analisar a informalidade6, bem como sua relao com um possvel quadro estrutural de desemprego, caracterizado pela existncia permanente de um excedente de mo de obra.

    As informaes da Tabela 5, que apresenta os dados dos graus de informalidade I, II e III, mostram que, para todo o perodo analisado, houve reduo da informalidade. No entanto, preciso analisar separadamente os anos 1990 dos anos 2000. Na dcada de 1990, para os trs critrios adotados possvel observar uma ampliao do grau de informalidade nos primeiro e terceiro casos, de dois pontos percentuais, e no segundo caso, de um ponto percentual -, anlise que vai de encontro ao comportamento das demais variveis. O que nos permite dizer que, num contexto de pouco dinamismo, 6 No presente trabalho, a informalidade ser analisada a partir do critrio do grau de informalidade, estabelecido pelo Instituto de Pesquisa Econmica e Aplicada. Os graus de informalidade podem ser definidos como se segue: 1) Grau de informalidade I: relao entre a somatria dos empregados sem carteira e dos trabalhadores por conta prpria e a somatria dos trabalhadores protegidos, empregados sem carteira e trabalhadores por conta prpria; 2) Grau de informalidade II: relao entre a somatria dos empregados sem carteira, trabalhadores por conta prpria e no-remunerados e a somatria dos trabalhadores protegidos, empregados sem carteira, trabalhadores por conta prpria, no-remunerados e empregadores; e 3) Grau de informalidade III: relao entre a somatria dos empregados sem carteira e dos trabalhadores por conta prpria e a somatria dos trabalhadores protegidos, empregados sem carteira, trabalhadores por conta prpria e empregadores. Importa chamar a ateno para o fato de que a definio adotada pelo IPEA, diferentemente daquela adotada pelo IBGE, considera separadamente os trabalhadores domsticos com e sem carteira. No entanto, assumimos que, do ponto de vista de uma anlise mais ampla, tal diferenciao no prejudica a avaliao da informalidade, considerando os critrios tericos estabelecidos para a anlise aqui realizada, a partir da noo do processo de informalidade.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 212

    baixo crescimento econmico e, consequentemente, de baixa gerao de empregos, alm da flexibilizao das relaes de trabalho, houve um aumento da presso sobre o mercado de trabalho, no correspondido pelo aumento substancial do nmero de ocupados. Por outro lado, houve aumento do emprego sem registro e do trabalho domstico remunerado, indicando que parte considervel das vagas criadas ao longo da dcada se deu a partir de formas de trabalho precrias e, nesse sentido, permitiram o aumento da informalidade. De tal modo que natural a ocorrncia de ampliao do trabalho informal, que se justifica no apenas pela falta de oportunidades nos setores regulados dado o baixo dinamismo econmico mas tambm por se apresentar como mecanismo alternativo para auferir rendimento para uma populao sem trabalho e de baixa renda.

    Tabela 5: Grau de informalidade (em porcentagem)

    Ano Tipo I Tipo II Tipo III 1992 54,3 56,8 51,9 1993 55,0 57,5 52,7 1995 55,2 57,2 52,7 1996 54,9 56,7 52,6 1997 55,2 56,7 52,7 1998 55,6 56,9 53,0 1999 56,2 57,6 53,5 2001 55,1 55,7 52,5 2002 55,3 55,8 52,6 2003 54,3 54,8 51,8 2004 53,8 54,1 51,3 2005 53,1 53,3 50,5 2006 52,1 52,0 49,5 2007 50,8 51,1 48,7 2008 49,2 48,9 46,8 2009 48,7 48,4 46,4

    Fonte: Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada. A tendncia de crescimento do grau de informalidade se mantm at o ano de 1999. J em 2001, os trs critrios para o grau de informalidade comeam a apresentar tendncias de queda, sendo reduzido ao longo da dcada em respectivamente 7,5%, 9,2% e 7,1%. Ou seja, a recuperao da economia que se d principalmente a partir de 2004, com relativa queda em 2006 e nova recuperao em 2007 -, em especial a partir do crescimento econmico e do retorno dos investimentos do Estado, comps um ambiente favorvel expanso do emprego, em especial do emprego com carteira assinada. Alm desses aspectos, dois outros elementos chamam a ateno neste cenrio. De um lado, o papel do Ministrio do Trabalho e da Justia do Trabalho que, a partir de sua funo fiscalizadora, foi fundamental para reduzir e coibir a expanso de formas precrias de trabalho que, por sua lgica, se enquadram como tipos de trabalho informais. De outro lado, o conjunto de polticas sociais levadas a cabo pelo governo federal, a partir do governo Lula que, mesmo no tendo reflexos diretos na gerao de empregos formais, foram fundamentais para a melhoria geral das condies de trabalho, seja do ponto de vista da remunerao atravs da poltica sistemtica de elevao do salrio mnimo seja a partir do conjunto de benefcios sociais elaborados para as classes de baixa renda. Nesse sentido, chama a ateno a substancial reduo da informalidade no perodo, fator que agregado aos demais elementos aponta para uma

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 213

    melhoria relativa das condies de trabalho na economia brasileira ao longo da ltima dcada. Grfico 1: Evoluo da informalidade, desemprego e grau de qualificao da fora

    de trabalho

    Fonte: Mello e Santos, 2009. A despeito das melhorias verificadas ao longo dos ltimos anos, e da clara queda

    da informalidade, preciso chamar a ateno para o fato de que a reduo do grau de informalidade no necessariamente expresso da reduo absoluta do trabalho informal. Observando-se os dados da matriz de transio do mercado de trabalho, possvel notar que, em 2007, tanto o nmero de trabalhadores informais quanto o nmero de desempregados que transitaram para as atividades formais cresceu, comparativamente a 2003 (veja Tabela 6).

    Tabela 6: Matriz de transio do mercado de trabalho (em porcentagem) Informal Formal Desempregado Fora da PEA Total

    2003Informal 65,5 22,4 4,1 8,0 100,0Formal 5,9 88,1 1,6 4,4 100,0

    Desempregado 8,1 9,3 53,8 28,7 100,0Fora da PEA 2,1 3,8 5,0 89,1 100,0

    Total 10,7 38,6 7,1 43,6 100,02007

    Informal Formal Desempregado Fora da PEA TotalInformal 66,6 23,0 2,0 8,4 100,0Formal 4,2 91,0 0,8 4,0 100,0

    Desempregado 7,3 13,2 47,0 32,6 100,0Fora da PEA 1,9 3,8 2,7 91,6 100,0

    Total 8,9 44,3 3,3 43,3 100,0Fonte: Filho e Moura, 2012. Por outro lado, aumentou o nmero de trabalhadores informais que se

    mantiveram no mesmo tipo de atividade, e manteve-se elevado o nmero de desempregados tambm na mesma condio, mesmo tendo apresentado queda. Do que se pode inferir, partindo de uma anlise de dados relativos, tal queda pode ser resultado tanto da maior expanso dos trabalhadores protegidos em relao aos no cobertos pela

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 214

    legislao - o que indica que ambos esto em franco crescimento quanto pela queda do nmero de trabalhadores informais. Concretamente, o que se pde avaliar para o caso do Brasil nos ltimos 10 anos, dada a modificao no seu quadro macroeconmico, foi sim uma reduo do trabalho informal, mas tambm a manuteno do mesmo, em patamares elevados, coadunando-se s tentativas de se criar novas formas de contratao no cobertas pela legislao como o caso da contratao atravs de Pessoa Jurdica. Em resumo e assumindo a informalidade como caracterstica fundamental para a anlise da estrutura do mercado de trabalho brasileiro e, em consequncia, para a colocao do desemprego estrutural como uma de suas caractersticas intrnsecas pode-se dizer que os anos 1990 foram um perodo extremamente propcio expanso do trabalho informal no Brasil, em especial por conta do baixo crescimento econmico, durante o qual a flexibilizao das relaes de trabalho e a expanso de formas precrias de trabalho puderam se consolidar. Na dcada seguinte, a modificao da poltica econmica, o retorno dos investimentos estatais e a recuperao econmica comearam a desenhar um quadro propcio recuperao, onde se pde observar a reduo do desemprego, a elevao dos salrios e a queda da informalidade ainda que todos estes se mantenham em patamares elevados para o atual estgio de desenvolvimento da economia brasileira. CONSIDERAES FINAIS O presente artigo buscou analisar, a luz da discusso referente ao desemprego estrutural, os aspectos referentes informalidade no Brasil ao longo dos anos 1990 e 2000, assumindo este como um dos elementos fundamentais ainda que no o nico para a caracterizao do mercado de trabalho brasileiro a partir do desemprego estrutural. O argumento que norteou a discusso foi o de que, se ao longo da dcada de 1990 a implementao das polticas neoliberais e seus efeitos sobre o baixo crescimento econmico, sobre a destruio de importantes elos da cadeia produtiva e, especialmente, sobre a desregulamentao do mercado de trabalho, criou um ambiente propcio expanso do trabalho informal. J, a modificao da poltica econmica e social nos anos 2000 e o retorno do crescimento econmico e da recuperao da economia contrabalanaram as tendncias da dcada anterior. Foi possvel observar o crescimento do emprego formal e a melhoria em termos da remunerao e do acesso aos direitos sociais pela classe trabalhadora, para o que o papel desempenhado pelo Ministrio do Trabalho, enquanto rgo de fiscalizao, foi de extrema importncia para a aplicao da legislao do trabalho. Em termos do debate terico, dois elementos precisam ser destacados. Num primeiro plano, a definio do que pode ser entendido por desemprego estrutural. Ainda que no exista consenso para uma definio concreta do termo, aqui consideramos desemprego estrutural como caracterstica de toda economia que no possui uma estrutura econmica organizada e articulada de modo a absorver, dentro dos parmetros legais das relaes de trabalho, a mo de obra disponvel na economia, resultando na existncia de excedente de fora de trabalho e, em consequncia, de elevadas taxas de desemprego, baixa remunerao e alta heterogeneidade produtiva do trabalho. Assumindo o conjunto de elementos analisados, possvel apontar, de maneira aproximativa, o desemprego estrutural como caracterstica da economia brasileira, o qual se manteve mesmo em momentos elevado crescimento econmico. A partir desse resultado aproximativo, chama ateno a necessidade de avaliar individualmente cada um dos aspectos que compe o desemprego estrutural como o caso, assumido aqui, da informalidade.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 215

    Num segundo plano, e no mesmo sentido, as dificuldades envolvidas na definio da informalidade. Como objetivamos mostrar, h um intenso debate, permeado por polmicas e divergncias, em relao quilo que deve ser considerado como informal. A partir de enfoques diversos, um conjunto de autores fizeram esforos no sentido de tentar sistematizar uma ideia, mais ampla possvel, que pudesse oferecer de aparato terico e analtico para as relaes constitudas dentro do mercado de trabalho. No entanto, na esteira do prprio desenvolvimento do sistema capitalista, as relaes de trabalho tornaram-se cada vez mais complexas, trazendo tona a dificuldade de se reunir, num nico termo, um emaranhado de relaes estabelecidas no interior das relaes produtivas. A par dessas dificuldades e divergncias, acreditamos que tomar uma abordagem ampla, que agregue um conjunto de conceitos, apresenta-se como instrumental coerente e suficiente para a anlise que aqui se objetivou elaborar. Assim, trabalhar conjuntamente com os conceitos de setor informal, mercado de trabalho informal e trabalho informal abre um leque de possibilidades analticas que, de forma concreta, um nico conceito no conseguiria abordar. A partir desses dois planos, possvel inferir que, tendo no elevado excedente de mo de obra, de um lado, o elemento determinante da existncia de desemprego estrutural, e de outro, assumindo tal elemento como caracterstico da economia brasileira, a consolidao do setor e das formas de trabalho informal se deu assentada nesse excedente, vale dizer, a expanso do trabalho informal ganhou espao em decorrncia da formao e do crescimento da fora de trabalho excedente. Ao longo das duas ltimas dcadas, como desdobramento da implementao das polticas neoliberais, a constituio de um processo de informalidade deu nova roupagem e novo sentido lgica do trabalho informal, mas sem desvincular tais aspectos da condio de existncia de um excesso de mo de obra. De modo que, ao se constituir como elemento decorrente uma estrutura econmica que cresce e se desenvolve com oferta de mo de obra excedente, a expanso do trabalho informal se firma como elemento constituinte de uma lgica onde, nas relaes capital-trabalho, prevalece a existncia do desemprego estrutural. Em concluso, os resultados apontados por este trabalho mostram que, em primeiro lugar, o tratamento da informalidade fundamental, ainda que no suficiente, para a caracterizao de uma economia, com a estrutura da economia brasileira, a partir do desemprego estrutural. Assim, ainda que no se possa dizer que a economia brasileira possui desemprego estrutural exclusivamente pelo critrio da informalidade, fundamental apontar que os elementos que agregam relaes de trabalho informal so passveis de ocorrncia em economias com excedente estrutural de mo de obra e com desequilbrios e disfuncionalidades intra e intersetoriais e, portanto, so locus da existncia de desemprego estrutural. Em segundo lugar, mesmo que nos ltimos anos a economia brasileira tenha passado por um crescimento econmico que permitiu a recuperao dos indicadores relativos ao mercado de trabalho dentre eles, a reduo da informalidade importante ter em mente a fragilidade e vulnerabilidade dessa estrutura econmica, de tal modo que o comportamento da economia e, especificamente, do mercado de trabalho, no oferecem substrato suficiente para apontar uma possvel modificao das relaes de trabalho na economia brasileira. REFERNCIAS ALVES, G. O novo (e precrio) mundo do trabalho Reestruturao produtiva e crise do sindicalismo. 2.ed. So Paulo: Boitempo Editorial, 2005.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 216

    BALTAR, P. Crise econmica e emprego no Brasil. In: Moretto, A; Krein, J. D.; Pochmann, M. e Macambira, J. Economia, desenvolvimento regional e mercado de trabalho no Brasil. Campinas/Fortaleza: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, Banco do Nordeste do Brasil e Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho. 2010. BALTAR, P.; DEDECCA, C. S. Mercado de trabalho e informalidade nos anos 90. Estudos Econmicos, v. 27, nmero especial. 1997. BALTAR, P. et al. Moving towards decent work. Labour in the Lula Government: reflections on recent brazilian experience. Global Labour University Working Papers, n. 9. 2010. BARBOSA, A. de F. De setor para economia informal: aventuras e desventuras de um conceito. So Paulo: USP. 2009. ___________. O Mercado de Trabalho Brasileiro ps-1990: Mudanas Estruturais e o Desafio da Incluso Social. Texto elaborado para o Seminrio Internacional Empleo, Desempleo y polticas de empleo en el Mercosur y en la Unin Europea. 18-20 de Agosto de 2004. ___________. Reconceptualizing the Urban 'Informal Sector' in Underdeveloped Countries: An Overview of the Brazilian, Indian and South African Cases. Global Labour University Conference. 22-24 February 2009. CACCIAMALI, M. C. A composio do mercado informal de trabalho e o papel do mercado de trabalho na reduo da pobreza. So Paulo: Fipe. 2002. ___________. Globalizao e processo de informalidade. Economia e Sociedade, 14. jun. 2000. ___________. Setor informal urbano e formas de participao na produo. So Paulo: Instituto de Pesquisa Econmica. 1983. CEPAL. La Hora de la Igualdad: Brechas por Cerrar, Caminos por abrir. Santiago de Chile: Naes Unidas. 2010. COSTA, M. da S. Trabalho informal: um problema estrutural bsico no entendimento das desigualdades na sociedade brasileira. Cadernos CRH, 58. Salvador. Janeiro/Abril de 2010. DEDECCA, C. S. Notas sobre a evoluo do mercado de trabalho no Brasil. Revista de Economia Poltica, v. 25, n.1 (97), pp. 94-111. Jan./Mar. 2005. ___________. Crise contempornea e mercado de trabalho no Brasil. In: Oliveira, M. A. (Org.). Economia e trabalho textos bsicos. Campinas: IE Unicamp. 1998. DEDECCA, C. S.; PRONI, M. (Orgs.). Polticas pblicas e trabalho: textos para estudo dirigido. Campinas: Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas. 2006. FILGUEIRAS, L.; DRUCK, G.; AMARAL, M. O conceito de informalidade: um exerccio de aplicao emprica. Cadernos CRH, v. 17, n. 41. maio/ago. 2004. FILHO, F. H. B.; MOURA, R. L. Evoluo recente da informalidade no Brasil: uma anlise segundo caractersticas da oferta e demanda de trabalho. Texto para discusso n. 17. Fundao Getlio Vargas Instituto Brasileiro de Economia. 2012.

  • Revista da ABET, v. 13, n. 2, Julho a Dezembro de 2014 217

    HART, K. Informal Income Opportunities and Urban Employment in Ghana. The Journal of Modern African Studies, v. 11, 1971. KREIN, J. D.; PRONI, M. Economia informal: aspectos conceituais e tericos". Srie Trabalho Decente no Brasil, documento de trabalho n. 4. So Paulo: Organizao Internacional do Trabalho. 2010. MELLO, R. F.; SANTOS, D. D. Acelerao educacional e queda recente da informalidade. Nota tcnica do IPEA mercado de trabalho. 2009. OLIVEIRA, F. de. Crtica razo dualista. O ornitorrinco. So Paulo: Boitempo. 2003. OLIVEIRA, C. A. B. Formao do mercado de trabalho no Brasil. In: Oliveira, M. A. Economia e trabalho textos bsicos. Campinas: IE Unicamp. 1998. TAVARES, M. Trabalho informal e suas funes sociais. Revista Praia Vermelha, v. 20, n.1. jan./jun. 2010. Recebido em junho de 2014. Aprovado em outubro de 2014.