pedagogia universitÁria: reflexÕes sobre … · pesquisa-formaÇÃo na induÇÃo de um processo...
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PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA: REFLEXÕES SOBRE AUTORIDADE DOCENTE, FORMAÇÃO E PRÁTICAS INOVADORAS
A Pedagogia universitaria, como espaço de recente conformação no campo pedagógico,
tem se preocupado em produzir e difundir conhecimentos sobre as diversas estrategias
que permitam concretizar, na atualidade, em nível institucional e na sala de aula
universitária, as políticas de inclusão e retenção. As ações de formação pedagógica dos
docentes universitarios são um dos seus interesses centrais, já que eles junto aos
assessores pedagógicos são considerados como atores impressindíveis na transformação
didático pedagógica e na formação profisssional de qualidade. Num contexto de
exigencias avaliativas e de busca de qualidade no processo pedagógico, cada fez mais se
faz necessário o protagonismo e a autoridade docente. A autoridade está relacionada à
ideia de autor, de criador, de compositor, de inventor ou arquiteto, ou ainda, alguém que
se legitima por sua obra. Nesse sentido, a autoridade do docente é decorrente de sua
produção científica e do exercício de seus processos, ou seja, de sua forma de atuar, o
qual autoriza-se pelas suas obras, suas criações e sua palavra explícita. Para isso é
preciso superar obstáculos organizacionais, administrativos, econômicos e psicossociais
que se apresentam nas instituições. Essa condição, necessariamente, implica a seleção
criativa de alternativas e a utilização de recursos de uma nova forma, incluindo
originalidade. Nesse sentido para inovar é preciso romper com normatizações e
certezas, características do paradigma regulatório. Portanto, outro foco de interesse se
constitue na identificação, análise sistemática e difusão de práticas inovadoras no
proceso de formação em nível superior.
Palavras-chave: Pegagogia Universitária, Autoridade Docente, Práticas Inovadoras
PESQUISA-FORMAÇÃO NA INDUÇÃO DE UM PROCESSO DE TRABALHO
COM E SOBRE O ENSINO DE GRADUAÇÃO
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
8136ISSN 2177-336X
Maria José Batista P. Flores
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Maria Inês Barreiros Senna
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Resumo
Nesse trabalho, buscamos analisar as potencialidades formativas de um trabalho
pedagógico coletivo, referenciado na pesquisa-formação, com a participação de
professores, estudantes e funcionários, em torno da construção de indicadores de
qualidade do ensino de graduação em Odontologia. Tal ação foi desencadeada a partir
de um projeto de ensino proposto por um grupo de professores e pela assessoria
pedagógica da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Para tanto, focalizamos no processo de trabalho especificando o percurso e as
análises geradas articulando a uma reflexão sobre as dimensões formativas no âmbito da
docência do ensino superior. Consideramos que a pesquisa-formação no contexto do
projeto de ensino com docentes do curso de Odontologia da UFMG induziu a um
processo de trabalho coletivo e colaborativo sobre e com o ensino permitindo alargar as
dimensões da docência universitária, entendida em um contexto de possibilidades de
recriar o fazer docente, tanto no aspecto das interações, dadas as implicações dos
estudantes e funcionários nesse processo, assim como nas atividades concernentes a
articulação ensino e pesquisa. Ampliamos as apropriações conceituais sobre o ensino e
as implicações político pedagógicas sobre o modo como o concebemos e
desenvolvemos. Também alcançamos a inserção da pesquisa pedagógica no âmbito
acadêmico, estimulando a produção coletiva e sua publicização. Esse processo
formativo nos acena sobre as possibilidades de se avançar na articulação ensino
pesquisa no âmbito das práticas pedagógicas da graduação em Odontologia. Enfim, o
processo de pesquisa-formação nos possibilitou uma formação ancorada no contexto de
trabalho da docência universitária e apresentou-se como uma abordagem profícua para
os contornos da pedagogia no âmbito do ensino superior, em uma universidade pública
brasileira.
Palavras-chave: Pesquisa-formação. Docência. Pedagogia universitária.
Introdução
Neste trabalho, buscamos analisar as potencialidades formativas de um trabalho
pedagógico coletivo, referenciado na pesquisa-formação, com a participação de
professores, estudantes e funcionários, em torno da construção de indicadores de
qualidade do ensino de graduação em Odontologia. Tal ação foi desencadeada a partir
de um projeto de ensino proposto por um grupo de professores e pela assessoria
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pedagógica da Faculdade de Odontologia (FO) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
O objetivo deste artigo é analisar o processo de trabalho especificando o
percurso e as análises geradas articulando a uma reflexão sobre as dimensões formativas
no âmbito da docência do ensino superior.
Na primeira parte do trabalho, serão apresentadas as referências teóricas e
metodológicas que nortearam a proposta, explicitando a compreensão conceitual e
contextual da docência universitária e o entendimento teórico-metodológico da
pesquisa-formação. Na segunda parte serão apresentados os percursos de pesquisa-
formação especificando as ações e análises que emergiram nesse processo e por fim,
serão apresentadas as análises das repercussões da formação entre os sujeitos
participantes.
Docência Universitária e Pesquisa-Formação
Os professores do ensino superior têm sido historicamente considerados como
aqueles que produzem e aplicam os próprios conhecimentos, sendo sua prática
profissional sedimentada na perspectiva de que quem sabe fazer, sabe ensinar.
(PIMENTA e ANASTASIOU, 2005; CUNHA, 2009)
No entanto, as transformações sociais recentes, a (re)significação do lugar do
conhecimento com a disseminação de informações, bem como os problemas
pedagógicos enfrentados pelas Instituições de Ensino Superior frente aos processos de
democratização, tais como evasão e repetências dos alunos, têm sido apresentados como
alguns dos desafios que se impõem ao ensino universitário. (CUNHA, 1999;
MASETTO, 2009)
Acrescenta-se a esse contexto as mudanças na organização do trabalho na
universidade sob influência de critérios de produtividade articulados aos processos de
avaliação de desempenho com vieses economicista e tecnocrático. (SOBRINHO, 2010)
Nessa perspectiva, tem sido problematizada a importância dos saberes docentes
no âmbito da educação superior, considerando as múltiplas atividades desenvolvidas
pelos professores em torno do ensino, da pesquisa, da extensão e seus reflexos no ato de
ensinar. Tardif (2009), ao abordar a profissionalização dos docentes universitários,
argumenta que o ensino e a pesquisa formam o centro da vida profissional dos
professores. No âmbito do ensino, já não se sustenta a concepção de que para ser
professor universitário basta “ter boas ideias ou reproduzir o comportamento de um
professor apreciado na sua formação”. Também na pesquisa não se pode admitir que “a
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aprendizagem dos professores no domínio da pesquisa se realizava numa dinâmica de
osmose entre um mestre e um aprendiz, numa equipe de pesquisadores.” (TARDIF,
2009, p.64)
Para Cunha (2007) nem o estereótipo do docente erudito, nem o docente que
interpreta os conhecimentos já produzidos são suficientes para atender às demandas do
atual contexto educacional. Neste caso, com a revolução tecnológica contemporânea,
não há mais lugar para o docente como principal fonte de informação. Portanto, é
necessário repensar e instituir uma profissionalidade docente em que o professor
enfrente outros desafios: desempenhar o papel de mediador entre os conhecimentos
disponíveis e os dos educandos; não somente os cognitivos, mas também socioculturais.
(CUNHA, 2007, p. 18). Assim, os desafios desse processo consistem em enfrentar as
próprias condições de trabalho dos docentes, cujas carreiras são centradas na
meritocracia e na individualidade, prevalecendo a valorização da atividade de pesquisa
sobre o ensino e extensão, dos títulos adquiridos sobre as experiências formativas em si,
enfim, favorecendo um percurso individualizado e até mesmo concorrencial.
Segundo Cunha (2007), é importante resgatar o trabalho coletivo como condição
para as construções dos saberes docentes, os quais “implicam consciência, compreensão
e conhecimento.” (CUNHA, 2007, p.22). A construção desses saberes envolve uma
consistente relação entre teoria e prática, na qual a capacidade investigativa é
importante, pois “a docência como atividade profissional, exige a condição de saber
justificar as ações desenvolvidas, recorrendo a uma base de conhecimentos
fundamentados e a uma argumentação teoricamente sustentada.” (CUNHA, 2007, p.22)
Ao analisar a indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão como princípio
constitutivo da universidade e referência para pensar sua qualidade, pondera que na
perspectiva do ensino, tal princípio pressupõe:
...uma Visão Metodológica nas formas de produzir o conhecimento que envolve
assumir a pesquisa como base dos processos didáticos que colocam o estudante frente
ao conhecimento e exige do professor uma ação investigativa sobre o ensino que
realiza. Quando potencializada essa condição se institui como espaço aprendente,
dando à formação docente uma possibilidade de aprender com a experiência,
devidamente teorizada. (CUNHA, 2014, p.799)
Considerando essas perspectivas teóricas e contextuais sobre a docência
universitária, na nossa prática, ao estabelecermos uma abordagem da formação de
professores universitários tomamos como referência os princípios da pesquisa-
formação. Esses princípios nos têm guiado para uma produção coletiva e colaborativa
de conhecimento sobre e com o ensino de graduação.
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A pesquisa-formação consiste em práticas formativas nas quais se articulam
pesquisadores e sujeitos em torno da produção de conhecimento sobre o contexto de
trabalho com vista à transformação de suas práticas. (LONGAREZI E SILVA, 2013).
A pesquisa-formação emergiu, a partir da segunda metade do século XX, no
contexto da formação de professores a partir do entendimento e necessidade de superar
as formas convencionais de abordagem de pesquisa e formação com os docentes
(LONGAREZI E SILVA, 2013). Buscavam romper com as posturas unilaterais entre
pesquisadores e professores, em que estes quase sempre são reduzidos a “amostras” ou
objetos de estudo. Ao mesmo tempo, os pesquisadores educacionais são os formadores
de professores e nesse processo formativo, a cisão continua estabelecida entre “o
especialista” que traz o conhecimento a ser disseminado na prática e o professor a
aplicá-lo à sua prática.
Na perspectiva de superação dessas práticas, as iniciativas de pesquisa-formação
passam a entender “a pesquisa como aquela que imerge na realidade e, em seu próprio
processo, transforma-a formando.” (LONGAREZI E SILVA, 2013, p. 216). Trata-se de
pesquisas que se comprometem com a formação dos sujeitos a partir de uma relação
ativa e participativa na produção de conhecimento sobre suas práticas, articulando
pesquisadores e professores e envolvendo necessariamente um processo educativo
capaz de transformar e criar novas práticas.
Esse tipo de pesquisa tem crescido significativamente por meio de metodologias
como pesquisa ação, pesquisa participante, pesquisa colaborativa, pesquisa coletiva,
entre outras. Tais abordagens resguardam uma preocupação eminentemente política,
pois se propõem a transformação de práticas e contextos de trabalho. Não se tratam de
mudanças pontuais ou centradas em sujeitos particulares desvinculados de uma
articulação mais ampla com o contexto estudado. (LONGAREZI E SILVA, 2013)
Ao privilegiarmos a pesquisa-formação no processo de formação docente
concordamos com as análises de Longarezi e Silva (2013) de que essa formação não se
reduz “a uma solução imediata dos seus problemas pedagógicos.” A pesquisa-formação
é vista como:
...uma metodologia de pesquisa em que todos os sujeitos envolvidos participam
ativamente do seu processo, investigando situações-problema na busca por construir
respostas e soluções para elas; compreende pesquisa acadêmica e prática pedagógica
como unidade; é desenvolvida por todos os seus membros mediante discussões e
interações diversas; parte das necessidades dos sujeitos envolvidos, dando sentido ao
processo que estão vivenciando; ocorre no contexto escolar; toma a prática
pedagógica como conteúdo do processo formativo; respeita as diversas formas de
saber existentes; e, fundamentalmente, é processo de formação política.
(LONGAREZI E SILVA, 2013, p.223)
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É nessa perspectiva que foi elaborado e desenvolvido um projeto de ensino no contexto
da docência universitária no curso de Odontologia da UFMG.
O processo de construção de indicadores de qualidade do ensino de graduação em
Odontologia da UFMG
A proposta de elaboração de indicadores de qualidade do ensino de graduação
surgiu a partir da necessidade de avaliação e monitoramento da implementação da nova
proposta curricular do curso iniciada no segundo semestre de 2013. A abertura de
editais da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG para subsidiar projetos de ensino, por
meio do Programa de Inovação da qualidade do Ensino de Graduação (PIQEG), levou à
elaboração do projeto “Inovação na Qualidade do Ensino: construção de indicadores
para avaliação do processo de implantação do novo currículo do curso de Odontologia
da UFMG”, coordenado pelo Colegiado de Graduação. Este projeto foi aprovado para o
ano de 2013 e em 2014, seu prosseguimento foi renovado.
Em 2014, os docentes, funcionários e estudantes integraram-se em um processo
de pesquisa sobre a qualidade do ensino de graduação para subsidiar uma auto-avaliação
da implementação do novo currículo. Desenvolveu-se um processo de trabalho
envolvendo discussão conceitual e de planejamento da metodologia e coleta de dados,
assim como de sua realização e sistematização. Assim práticas e sentidos sobre a
condução da investigação-formação emergiram e balizaram as ações e análises.
O trabalho e a reflexão coletiva como condição básica na produção sobre o ensino
O trabalho coletivo permitiu ampliar compreensões e compartilhar visões
distintas sobre o ensino de graduação, de modo a enriquecer e complexificar o processo
de construção de indicadores de qualidade no contexto do curso de Odontologia. Foram
realizadas reuniões periódicas de atividades preparatórias, de desenvolvimento e
articulação com um compromisso contínuo de troca das informações e descobertas
vivenciadas pelo grupo, tanto na forma de relato oral, quanto na consolidação dos
relatórios.
Atividades preparatórias: compreenderam diferentes estratégias de estudo e
mobilização do grupo de pesquisadores, por meio de oficinas da equipe (discussão
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empírica e teórica) sobre qualidade do ensino e inovação; pesquisa bibliográfica, análise
documental, reuniões de alinhamento da equipe em torno do projeto, do entendimento
sobre indicadores de qualidade, avaliação, implantação do novo currículo e do
planejamento coletivo das atividades de pesquisa (elaboração de instrumentos, coleta e
análise dos dados), busca de criação de uma prática colaborativa por meio do uso de
redes sociais (espaço no facebook, e-mails, fóruns online).
Atividades de desenvolvimento: ocorreram por meio da operacionalização da
pesquisa por Grupos de Trabalho (GT) específicos para o levantamento de dados junto
aos informantes-chave (Estudantes, Docentes e Funcionários). Assim, cada GT
organizava, discutia e compartilhava seus avanços e dificuldades tanto entre si, quanto
no Grupo geral por meio de encontros periódicos e registros de relatórios.
Atividades articuladoras: instituiu-se um Fórum dos Coordenadores de Módulos
Curriculares, com periodicidade semestral, no qual o corpo docente era convocado a
participar e socializar as avaliações sobre o desenvolvimento das suas atividades.
Contavam com participação dos estudantes e funcionários.
A discussão e compreensão dos sentidos atribuídos à qualidade, indicadores de
qualidade, inovação, avaliação e implantação curricular
As discussões geradas no âmbito do trabalho do grupo de pesquisadores, a partir
das experiências, das trocas e dos aportes conceituais trazidos pelos diversos
integrantes, explicitaram os seguintes constructos conceituais.
Qualidade: Entendida como multidimensional, abrangendo uma diversidade de
aspectos que incidem sobre os processos formativos e que guardam interdependências,
tais como: características dos sujeitos (docentes, discentes, funcionários); avaliação dos
processos formativos; infraestrutura; gestão pedagógica e administrativa; currículo;
pesquisa; cenários de aprendizagem; usuários e demandas da sociedade; ética, dentre
outros. Esse entendimento converge com a produção teórica no sentido de compreender
a qualidade como conceitualmente complexa, demandando atenção ao contexto no qual
esteja referida, assim como às concepções de mundo, sociedade e educação que a
expressam (CUNHA, 2012; DOURADO et al, 2009 e 2007; FREITAS et al, 2009).
Indicadores de qualidade: A compreensão sobre indicadores de qualidade recaiu
sobre a dimensão política que os envolvem, defendendo a ideia de que a “indicação de
qualidade não tenha um fim em si mesmo” e ressaltando a importância da produção de
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indicadores plausíveis e mensuráveis. No âmbito educacional, a construção de
indicadores de qualidade tem nos desafiado a romper com uma cultura avaliativa
centrada em índices genéricos estabelecidos a partir das agências reguladoras que
servem de parâmetros nos processos de avaliação do ensino em todos os níveis. Assim,
alguns autores como Cunha (2012); Dourado et al, (2007e 2009); Freitas et al, (2009);
Minayo, (2009); Bertolin, (2007); chamam atenção para as possibilidades de construção
de processos alternativos de estabelecimentos de indicadores que levem em
consideração os aspectos contextuais e, portanto, os entendam como “um exercício
sempre circunstanciado e sujeito à distensões.” (CUNHA, 2012, p. 203)
Inovação: O entendimento da inovação como mudança no ensino em várias
dimensões e não reduzido à ideia de novas metodologias e tecnologias. Um cuidado
para que a inovação no âmbito do currículo não seja abortada por meio de mudanças
apenas nos nomes das disciplinas. Deve-se ainda, reconhecer que tanto para professores
quanto para os alunos uma proposta de mudança efetiva pode gerar medo. Esta
perspectiva de compreensão converge com os argumentos de Cunha (2012) e Masetto
(2012). Para Cunha (2012), a inovação requer uma ruptura que possibilite a
reconfiguração do conhecimento, ou seja, é uma ruptura de paradigma e não apenas a
inclusão de novidades, inclusive as tecnológicas. Envolve uma mudança na forma de
entender o conhecimento. A autora nos lembra que a inovação se realiza em um
contexto histórico e social, ou seja existe num lugar, num tempo e em circunstâncias
determinados, como produto de uma ação humana sobre o ambiente ou meio social.
Para Masetto (2012) as inovações no ensino superior podem estar relacionadas com as
mudanças na sociedade e com o papel e a missão das universidades e surgem de
determinada concepção de educação. E os projetos inovadores em educação superior
devem alterar significativamente as dimensões: organização curricular, gestão
acadêmico-administrativa e formação dos professores.
Avaliação: a avaliação do ensino vista como um exercício a ser realizado
constantemente pelo coletivo, de modo “em que esta seja processual e que mereça mais
atenção de nossa parte daqui para frente.” A avalição exige saberes necessários à prática
educativa: “que saibamos considerar os vários instrumentos e dimensões do processo
avaliativo e de auto-avaliação”. Observa-se uma compreensão da avaliação como uma
atividade educativa que exige esforço no sentido de torná-la mais formativa, sendo este
um anseio do grupo. Frente ao contexto de predominância de avaliações externas e
centralizadas, este Freitas (2012) defende o entendimento da avaliação como uma
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categoria intrínseca ao processo de ensino-aprendizagem e ao projeto político
pedagógico da escola, portanto, seu sentido se faz dentro da própria organização do
trabalho pedagógico do professor e da escola. (FREITAS, 2012, p.78)
Implantação curricular: entendimento de que o currículo envolve a perspectiva
do prescrito e do vivido, ambas passíveis tanto de distanciamento, quanto de interação:
“a implantação do novo currículo não significa o final de um processo, mas uma etapa
que evidencia a necessidade de uma atenção redobrada e permanente quanto a
atualização do modelo de formação.” Nesse sentido, o grupo reconhece que a
implantação é tarefa co-participativa: “o currículo não é responsabilidade do
profissional isoladamente. Há espaços formais que, hoje, ampliam a questão curricular
como responsabilidade de todos.” Ao mesmo tempo evidenciam os desafios a serem
enfrentados, tais como: valorização da graduação frente o foco na pós graduação que
tem levado a perda de qualidade no ensino de graduação, integração teoria e prática,
promoção de formação mais humana, ética e cidadã, colaboração e participação dos
docentes, dentre outros. A complexidade observada no processo de implementação
curricular converge para as teorias sobre currículo, que afirmam envolver relações de
poder e disputas por afirmações identitárias legitimadas por distintos atores ou grupos.
(SILVA, 2010)
Constatou-se coletivamente que a construção de indicadores de qualidade do
ensino de graduação envolvia um processo de constante reflexão, que orientava tomadas
de decisões para a melhoria contínua do ensino. Também ficaram evidentes as posturas
necessárias para o processo de elaboração de indicadores e a avaliação de implantação
do novo currículo como: levar em conta as especificidades, escutar a comunidade,
promover participação, referenciar-se na proposta curricular e avaliar permanentemente.
A sistematização da matriz de indicadores de qualidade do ensino de graduação
em Odontologia da UFMG
A sistematização da matriz de indicadores de qualidade foi realizada articulando os
referenciais teóricos, a proposta curricular do curso de Odontologia, o contexto
institucional e os resultados empíricos. Considerando que
a construção de indicadores representa um momento crucial dessa discussão
na medida em que remete ao problema da validez e da relação entre a teoria e
a realidade empírica. A sua escolha pressupõe a tomada de decisão sobre os
aspectos da realidade a serem investigados que deve possibilitar a realização
de representações cognitivas construídas com base em referências definidas
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no âmbito das diversas abordagens teóricas vinculadas aos campos de estudos
específicos (Ferreira e Tenório, 2010, p.73).
Neste sentido, ao buscar a articulação da teoria sobre a qualidade e inovação na
educação superior e o contexto local, nos identificamos com a proposição de Masetto
(2012), pois consideramos que a implementação da proposta curricular do curso de
Odontologia demandava atenção aos atributos de um projeto inovador: organização
curricular, gestão acadêmica e formação docente.
A análise da proposta curricular evidenciava que ela superava um currículo estruturado
por disciplinas com a organização em módulos curriculares, articulando conteúdos da
formação profissional em torno dos ciclos de formação humana. Pretendia-se que o
módulo, além de favorecer o encontro e a comunicação entre docentes, constituísse-se
também na unidade capaz de identificar e processar questões pertinentes ao novo
currículo criando maior integração entre os espaços/tempos do ensino.
No campo da gestão acadêmica, outro elemento de inovação era a proposta de
ampliação da gestão do currículo no âmbito da FO, que seriam operacionalizadas por
meio da atuação de duas instâncias, o Fórum de Coordenadores de Módulos, já
implantado e a discussão sobre a retomada dos Conselhos de Classe do Curso de
Odontologia. O Fórum de Coordenadores de Módulos formado pelos professores
coordenadores dos 08 módulos curriculares se constituía em espaço de reflexão,
investigação, negociação e tomada de decisão colaborativa sobre o processo de ensino-
aprendizagem e do currículo. O Conselho de Classe poderia afirmar uma instância
coletiva de auto-avaliação permanente do processo de desenvolvimento curricular,
formada por representantes dos estudantes, professores e técnicos administrativos em
educação.
O desenvolvimento da formação docente, outro aspecto necessário para a implantação
de processos inovadores na educação superior estava identificado com a implantação do
Núcleo de Estudo, Pesquisa e Prática em Educação Odontológica da Faculdade de
Odontologia da UFMG (NEPPEO), que foi instalado em uma sala da instituição. Este
Núcleo fomentaria a pesquisa, o ensino, a extensão e a gestão dos processos
pedagógicos do curso de Odontologia, considerando-o numa interface saúde e educação.
Frente a tais considerações, partimos do pressuposto de que a qualidade do ensino no
contexto do curso de Odontologia da UFMG seria definida em seu caráter
circunstancial. Consideramos que demandava inovação e necessitava de construção de
espaços que a viabilizassem. Esses seriam fatores convergentes para a identificação das
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dimensões selecionadas como indicadoras de qualidade do curso de Odontologia, e os
módulos curriculares como unidade de análise.
Nesse sentido, se estabeleceram as condições necessárias para um ensino de qualidade
na graduação circunstanciando os elementos a serem focados como dimensões para
indicar as referências de qualidade. Constituem-se por sujeitos e práticas que
influenciam diretamente no processo de ensino: gestão, cenários de aprendizagem,
estudantes, infraestrutura, docentes, funcionários, políticas públicas de saúde e
avaliação, conforme apresentado na FIG.1.
Figura 01: Mapa conceitual sobre a qualidade do ensino no curso de Odontologia da UFMG, 2013
Fonte: UFMG, Faculdade de Odontologia. 2014
A partir dos elementos elencados no mapa conceitual, foi realizada a triangulação das
informações levantadas nos GTs com professores, funcionários e estudantes. Nessa fase,
foi necessária uma problematização, cujo objetivo foi priorizar as dimensões com
maiores possibilidades para contribuir para avaliação da qualidade no contexto
específico do curso de Odontologia. Esta problematização foi mediada pela análise dos
resultados dos levantamentos sobre a percepção da qualidade, a proposta curricular e a
literatura sobre o tema.
O maior desafio foi traduzir as percepções emitidas pelos sujeitos em possíveis
indicadores de qualidade. Além de serem sujeitos que vêem o ensino de diferentes
lugares (funcionários, professores e alunos), houve a tendência de apontar julgamentos
sobre a qualidade do ensino em curso. Ressaltamos que essa prática também ocorreu
entre o grupo de pesquisadores, ou seja, apresentamos dificuldades em estabelecer uma
referência como indicador de qualidade em certas situações analisadas.
Esse desafio se constituiu em um rico processo formativo, pois permitiu uma intensa
interação entre sujeitos e evidenciou aspectos relevantes como, por exemplo, a
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importância de incluir, nesse processo, os usuários dos serviços de saúde bucal. A FO
tem parceria com o sistema de saúde e atende ao seu público.
Outro desafio no processo de elaboração da matriz de indicadores foi o estabelecimento
do modelo, a definição do formato, da seleção dos conteúdos, da apresentação dos
componentes, etc. Foi realizada a análise de diferentes propostas de matriz de
indicadores nas áreas da saúde e da educação. Optou-se por um modelo de matriz
formada pelos itens de identificação da dimensão, descrição dos conteúdos mais
relevantes em cada dimensão e para cada conteúdo, o desenvolvimento de descritores
por meio de perguntas e conceitos. Essa sistematização se deu coletivamente e apontou
para importância de dar continuidade ao processo de tomar o ensino como objeto de
interlocução entre os diversos sujeitos que atuam na Faculdade de Odontologia.
Considerações finais
A pesquisa-formação no contexto do projeto de ensino com docentes do curso de
Odontologia da UFMG induziu a um processo de trabalho coletivo e colaborativo sobre
e com o ensino, envolvendo funcionários e estudantes. Nessa perspectiva, ampliamos as
dimensões da docência universitária, entendida em um contexto de possibilidades de
recriar o fazer docente, tanto no aspecto das interações, dadas as implicações dos
estudantes e funcionários nesse processo, assim como nas atividades concernentes a
articulação ensino e pesquisa.
Vivenciamos uma experiência de sistematização de uma pesquisa sobre e com o
ensino articulando pesquisa pedagógica no âmbito acadêmico, estimulando a produção
coletiva e sua publicação tanto na Faculdade quanto em periódicos e livros a serem
acessados por outros públicos. Esse processo formativo nos acena sobre as
possibilidades de se avançar na articulação ensino pesquisa no âmbito das práticas
pedagógicas da graduação em Odontologia.
Ampliamos as apropriações conceituais sobre o ensino e as implicações político-
pedagógicas sobre o modo como o concebemos e desenvolvemos. Neste aspecto, uma
das questões emblemáticas geradas nos processos de identificação dos indicadores de
qualidade foi a dimensão política da formação, ou seja, das finalidades do ensino de
graduação em Odontologia. Neste contexto, se deve considerar o perfil do egresso e a
relação com a saúde bucal no campo do direito a saúde e das políticas públicas
correspondentes. Assim, uma das lacunas a serem preenchidas é buscar a participação
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dos usuários no planejamento e desenvolvimento do ensino de graduação em
Odontologia na UFMG.
Enfim, consideramos que o processo de pesquisa-formação nos possibilitou uma
formação ancorada no contexto de trabalho da docência universitária e apresentou-se
como uma abordagem profícua para os contornos da pedagogia no ensino superior.
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UFMG
.
EL ASESOR PEDAGÓGICO UNIVERSITARIO: IDENTIDAD EN LA
DIVERSIDAD
Dra. Elisa Lucarelli
Universidad de Buenos Aires - UBA
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
8149ISSN 2177-336X
Universidad Nacional de Tres de Febrero - UNTREF
Resumen
La preocupación por dar respuesta a los nuevos escenarios generados por las
poblaciones de reciente incorporación a la vida universitaria genera nuevos desafíos en
la construcción de un campo reciente como es del de la Pedagogía y Didáctica
Universitarias. Sin embargo la búsqueda de alternativas con miras a la transformación
de las prácticas rutinarias, la identificación de innovaciones que incluyan y vayan más
allá de la incorporación de las nuevas tecnologías no siempre forma parte de los
debates políticos y de los programas de reforma en el nivel. Uno de los actores
relevantes de las estrategias diseñadas por las instituciones en pos del mejoramiento de
la enseñanza es el asesor pedagógico universitario, cuyo trabajo se define en función de
distintas expectativas institucionales, configurando imágenes, muchas veces
contradictorios acerca de su rol, y de la naturaleza sus prácticas. Alrededor de esas
estrategias y de ese sujeto se desarrolló un proyecto conjunto de investigación entre
universidades brasileñas y argentinas, a las que se incorporó una uruguaya,
presentándose en este Panel resultados obtenidos por el Grupo del Plata. Uno de sus ejes
giró sobre la posibilidad del asesor pedagógico universitario de reconocerse y ser
reconocido como sujeto de la profesión académica dentro de una comunidad
universitaria diversa a la de pertenencia. A partir de los resultados obtenidos en nuestras
investigaciones, parece importante insistir que la formación continua y la investigación
son dos de los pilares que configuran el campo de la profesión académica, tanto para el
docente como para el asesor pedagógico universitario
Palabras-clave: Asesor pedagógico universitario. Identidad. Diversidad.
El contexto
Abordo el tema de las APU en un contexto crítico latinoamericano donde pareciera que
a partir de una vuelta del neoliberalismo a nivel mundial, con amenazas ciertas en
nuestra región de combatir al Estado y su aliento a políticas favorecedoras de las
mayorías poblacionales, las instituciones educativas y la universidad entre ellas, pueden
sufrir un retroceso en la implementación de esas políticas.
En las últimas décadas en nuestros países se han hecho considerables esfuerzos hechos
para abrir el ingreso a estudiantes en las instituciones existentes, y para expandir el sistema
dando lugar a la creación de nuevas universidades en un movimiento de interiorización de la
educación superior que ha permitido incorporar a las aulas a poblaciones de sectores
históricamente marginados, con realidades culturales propias que difieren a las
tradicionalmente presentes en las instituciones. En esas décadas estos procesos se fueron
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8150ISSN 2177-336X
desarrollando simultáneamente desde la década del 90, con el resurgimiento (en
Latinoamérica y a nivel mundial) del neoconservadurismo en contextos históricos de
pobreza, que hicieron que esas políticas se implementaran en un delicado equilibrio con
otras fuertemente influidas por la presión de los organismos internacionales de
financiamiento.
El interés (generado en la mayoría de los casos por motivaciones externas) en los
procesos de evaluación y acreditación de sus instituciones y programas de grado y
posgrado, fue ganando terreno quedando muchas veces en segundo plano el interés por
adentrarse en cuestiones referidas a qué se enseña y cómo se enseña en la universidad.
La preocupación por dar respuesta a los nuevos escenarios generados por las
poblaciones de reciente incorporación a la vida universitaria no se traslada
necesariamente al campo pedagógico y didáctico. La búsqueda de alternativas con miras
a la transformación de las prácticas rutinarias, la identificación de innovaciones que
incluyan y vayan más allá de la incorporación de las nuevas tecnologías no siempre
forma parte de los debates políticos y de los programas de reforma en el nivel.
En este contexto las asesorías pedagógicas desarrollan su trabajo, estructurado en
función de distintas expectativas hacia su labor y configurando imágenes, muchas
veces contradictorios acerca de su rol, y de la naturaleza sus prácticas.
La asesoría en el terreno pedagógico es considerada como profesión de ayuda y su
actividad implica un acompañamiento, un acercamiento entre sujetos, un proceso
interactivo de colaboración, que adquiere características muy peculiares al mirarla desde
su concreción en la universidad. En función de estas prácticas el asesor pedagógico del
nivel es, junto a los docentes y los investigadores interesados en indagar acerca de la
enseñanza y la formación, uno de los principales actores del campo de la Didáctica y la
Pedagogía Universitaria.
Un proyecto en parceria
Durante casi tres décadas desde el Programa Estudios sobre el aula universitaria de la
Universidad de Buenos Aires, incursionamos en la problemática de este actor:
participamos conjuntamente con ellos en la identificación, análisis y difusión de
prácticas docentes innovadoras, creamos espacios para indagar sistemáticamente ese rol
y colaboramos en su desarrollo profesional a través de acciones formativas.
Con esa experiencia argentina como telón de fondo, emprendimos un Proyecto conjunto
con Brasil, y cuya dirección compartimos con María Isabel Da Cunha (Proyecto
Conjunto de Investigación Mercosur Argentina (SPU)- Brasil,(CAPES) PPCP 003/11,
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8151ISSN 2177-336X
Estrategias institucionales para el mejoramiento de la calidad de la Educación
Superior y el desarrollo profesional docente), ella desde la UNISINOS y yo desde la
UBA. Este Proyecto, en el que participaron varias universidades brasileñasi y
argentinas, así como también una uruguaya, se asienta en un trabajo compartido de más
de dos décadas con diversos momentos académicos en común entre los equipos
argentinos y brasileños, incorporándose posteriormente el uruguayo. Se generó un
entramado teórico práctico, de respeto académico y afecto, que facilitó el trabajo en
conjunto, desde la diversidad nacional e institucional, en acciones orientadas al estudio
de las innovaciones en el aula universitaria, de la formación pedagógica de los docentes
en el nivel y de las estrategias que llevan a cabo las instituciones para desarrollar una
enseñanza universitaria de calidad.
El Proyecto conjunto, orientado hacia la formación de posgraduandos y a la
investigación, estudió diversas estrategias institucionales para el mejoramiento de la
calidad de la enseñanza universitaria, entre ellas el asesoramiento.
En esta Comunicación se considerarán algunas aportaciones surgidas del análisis de
experiencias de asesorías que realizaron investigadores de universidades del área del
Plata: Universidad de Buenos Aires, Universidad Nacional de Tucumán y Universidad
Nacional del Sur, de Argentina, y Universidad de la República, de Uruguayii
El asesoramiento pedagógico en la universidad
Como toda actividad pedagógica, la del asesoramiento se despliega en función de un
marco teórico valorativo acerca de la formación, la enseñanza y el aprendizaje, acerca
de la institución, de los sujetos que intervienen, del reconocimiento de las diversas
posiciones organizacionales que ocupan, el tipo de vínculos que se establecen entre
esos actores, las relaciones con el contexto sociohistórico en que se desarrollan los
procesos y, fundamentalmente, su concepción acerca del conocimiento y de la
posibilidad de cambio. La consideración de cuáles son las epistemologías que los
docentes portan y que transfieren en sus prácticas de enseñanza y de evaluación se
constituyen en un punto de partida necesario para las acciones de asesoramiento, estén
ellas destinadas a prevenir posibles problemas, identificar las dimensiones y factores
intervinientes en situaciones conflictivas, participar y ayudar en su resolución. Los
docentes, la gestión, los estudiantes pueden ser fuente de demandas que ponen al asesor
en situación de analizar de qué manera articula su propio marco teórico valorativo para
crear una situación favorable de manera de proponer a los sujetos cuya formación
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
8152ISSN 2177-336X
proviene de otro campo profesional disciplinar, pensar pedagógicamente las
situaciones y las prácticas en cuestión.
Uno de los nudos más interesantes que atraviesan la función del pedagogo que se
desempeña como asesor pedagógico en la universidad es la posibilidad de reconocerse y
ser reconocido como sujeto de la profesión académica dentro de una comunidad
universitaria diversa a la que lo identifica a él como profesional. El asesor pedagógico
muy comúnmente trabaja en espacios académicos pertenecientes a otras disciplinas, a
otras profesiones, (la ingeniería, la medicina, la arquitectura, las ciencias exactas)
distintas en conocimientos y cultura al de su formación y experticia, el de las Ciencias
de la Educación. De allí que una de sus notas identitarias en su tarea de asesor es la de
la extranjeridad (Garramuño, 2004); aceptar esta condición implica reconocerse en la
diversidad, percibirse a sí mismo como diferente, y aceptar que ella está presente en
los otros, en las tribus dueñas del territorio (Becher, 2001).
Al respecto de la articulación entre profesionales, entre campos académicos diversos, y
cómo esto es percibido desde la gestión, señala una de las autoridades universitarias en
una de las instituciones estudiadas:
Es necesario encontrar un justo equilibrio entre el saber disciplinar y el saber
pedagógico para mejorar los resultados. Es necesaria la visión del experto
pedagogo que nos diga “por acá van bien, acá tienen dificultades¨, y nosotros
también a su vez influimos desde lo disciplinar en el saber experto pedagogo
(citado por Collazo, De Bellis, Perera y Sanguinetti, 2015, p. 193)
Por otro lado el asesor pedagógico universitario construye su identidad como académico
en la medida que desarrolla acciones que incluyen las prácticas que connotan a estos
profesionales, esto es, en la medida se asume como docente y como investigador y
como sujeto que realiza acciones de extensión y servicios con la comunidad. Esta
perspectiva de su rol lo consolida como actor significativo dentro de su propio campo
disciplinar, el de la Pedagogía y Didáctica universitaria, a la vez que instala condiciones
posibles para su inserción en el campo complejo de la academia.
El asesoramiento pedagógico en las universidades del Plata, la identidad en la
diversidad
Tal como se señaló precedentemente dentro del Proyecto binacional mencionado, un
subgrupo estuvo constituido por equipos de investigación de la UBA, de la UNT, de la
UNS y de la UdelaR de Uruguay. Mientras que los tres equipos mencionados en último
término analizaron el problema de las asesorías pedagógicas universitarias (APUs) en
sus instituciones, el equipo UBA realizó una investigación transversal de la situación de
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8153ISSN 2177-336X
las asesorías pedagógicas en veinte instituciones universitarias nacionales, a partir de la
visión de los propios asesores, según lo expresado en comunicaciones elaboradas para
un evento académico.
Desde un punto de vista metodológico, se siguió un camino de tipo cualitativo,
orientada hacia un modo de generación conceptual, es, decir aquel que “…expresa la
centralidad de los procedimientos de construcción de categorías que dan cuenta de la
descripción y comprensión del hecho social investigado, en términos de los significados
atribuidos por los actores a los fenómenos de su entorno cotidiano” (Sirvent, 2015, p.
12).
En todos los casos se trabajó respetando las peculiaridades de cada equipo y de sus
instituciones, compartiendo un marco teórico metodológico común; además del
material documental mencionado, según los casos se analizaron documentos de la
política universitaria de cada universidad, se realizaron entrevistas y se aplicaron
cuestionarios que fueron permitiendo derivar en informes que permitían evidenciar
cómo eran concebidas y cómo desarrollaban las unidades de asesoría pedagógica en las
instituciones estudiadas, evidenciando la idiosincrasia propia de cada situación.
En este contexto se perfilaron algunas notas recurrentes de los estudios particulares, las
cuales permiten tener una visión de conjunto de la situación de las asesorías
pedagógicas universitarias en el contexto en análisis:
1) Una primera nota en común en cuanto a su contextualización histórica,
se refiere al período en que surgen y se desarrollan de las Unidades de
Asesoramiento en las universidades nacionales de Argentina y Uruguay. Si bien
en los años 60, 70 del siglo pasado se registró, como antecedente interesante, la
existencia de algunas unidades que cumplían funciones de asesoría, el hito
fundacional de la organización actual de las APUs, se ubica a mediados de la
década del 80: la recuperación de la democracia en nuestros países, posibilitó
la transformación del modo de gobierno y de las formas de vida institucional en
las universidades nacionales, asoladas hasta entonces por los procesos
dictatoriales y dio lugar al desarrollo de estas Unidades como uno de las
estrategias posibles para acompañar esos procesos de cambio.
2) Una segunda reflexión que surge del análisis del proceso que hace a la
estructuración actual de las APU, revela el camino sinuoso, con alteraciones,
avances y retrocesos que atraviesan las Unidades en la consolidación y
legitimación del rol. Este espacio construido a lo largo de décadas, no
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8154ISSN 2177-336X
fácilmente se convierte en lugar y en pocos casos en territorio, este último
entendido por la inclusión de “…indicadores de legitimación, el aporte legal, el
tiempo de ocupación, revelador de la intensidad de su institucionalización, y el
reconocimiento de sus efectos por los destinatarios de sus acciones de
formación.”(Da Cunha, 2010: 57). La búsqueda de su legitimación es una
demanda constante en el proceso identitario del APU en las universidades
nacionales argentinas y una meta que surge como posible en la universidad
uruguaya en la actualidad, que se reconoce en condiciones de pasar a ocupar
territorios académicos. Uno de los casos estudiados es paradigmático, ya que
pone en evidencia la fragilidad de estas conquistas cuando no son sostenidas en
el tiempo por políticas y disposiciones pertinentes, poniendo en tensión las
posibilidades de permanencia o disolución de la unidad que cumple las
funciones de formación y las propias de la asesoría.
3) Una tercera reflexión se refiere a la diversidad que manifiestan los
equipos tanto en su estructura interna (en cuanto a número, cargo, condiciones
de estabilidad y formación de sus integrantes), como en su dinámica y en sus
desarrollos. En cada caso la situación sociohistórica institucional definió en
gran medida las características idiosincrásicas de ejercer el rol y el juego de
tensiones en los que actúa (Lucarelli, 2015). Esa diversidad se manifiesta en un
escenario contrastante de situaciones y procesos que van: desde la estabilidad
laboral hasta la transitoriedad y fragilidad en el cargo; de la presencia de equipos
netamente pedagógicos (a veces unipersonales) a equipos multidisciplinarios y
multiprofesionales, y por tanto heterogéneos en cuanto al campo
epistemológico; desde instituciones caracterizadas por el afianzamiento y la
permanencia de las APU hasta otras que evidenciaron su debilitamiento y
disolución, en función, la mayoría de las veces, de los cambios en la gestión;
desde la valoración de los aportes del APU en el contexto institucional al
desconocimiento de esos aportes por parte de los otros actores institucionales;
desde estilos de desempeño del rol, donde se observa la tendencia hacia la
innovación, a otros caracterizados por la reproducción rutinaria de prácticas; de
equipos que manifiestan el predominio del perfil pedagógico en sus actividades
a otros donde se da la preponderancia del perfil gestor.
4) En esta misma línea de reflexiones, otros rasgos a destacar se encuadran
en la dimensión administrativa. Importa recordar que las APUs tienen diferente
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8155ISSN 2177-336X
tipo de ubicación jerárquica en la estructura administrativa de las universidades,
ya que pueden depender, o formar parte, del Rectorado, de la Facultad
(preferentemente en las Secretarías Académicas), de un Departamento y hasta
de una cátedra, y ser nominadas, evidenciando diferente naturaleza y nivel
jerárquico, como Instituto, Centro, División, Gabinete, Área, Unidad, Programa.
En algunos casos las acciones de asesoramiento pedagógico realizadas por otras
estructuras específicas de educación,(por ejemplo los Departamentos de
Formación Pedagógicas en los Profesorados) conviven con las que llevan a
cabo las APUs formalmente establecidas; en una de las universidades
estudiadas, se observó como caso “tardío” de creación, en la última década, de
una Unidad de Asesoría Pedagógica a nivel de Rectorado. Si bien fue antecedida
por el funcionamiento de otra a nivel de una Facultad, esta Unidad de reciente
origen coexiste con otras formas de asesoramiento ya existentes, evidenciando
ambas distintos matices en sus finalidades, con un marco general propositivo
común, el mejoramiento de la enseñanza en la universidad.
5) Otro punto de interés, asociado con lo anterior, marca la estructura del
campo de actividades de un APU; este puede definirse, sin lugar a dudas, como
de gran variedad y complejidad ya que incluye tareas de: asesoramiento directo
a docentes y a órganos de gobierno, formación docente, orientación y tutorías a
estudiantes, realización de proyectos institucionales, participación en los
procesos elaboración y evaluación curricular, de evaluación institucional y
acreditación de carreras, extensión a la comunidad, investigación. De este
conjunto, una de las acciones que conserva prioridad dentro de las
históricamente desarrolladas por las APUs, es la relativa a la formación de los
docentes en el campo pedagógico. Entendida como un modo de promover
mejoras en las prácticas de enseñanza, adopta distintas modalidades que van
desde acciones puntuales y de contenido específico hasta el diseño de complejos
programas de formación. Estas actividades, presentes en las cuatro
investigaciones realizadas, involucran diferentes grados de innovación en el
statu quo institucional, constituyéndose en algunos casos en verdaderos espacios
instituyentes.
6) Dentro del conjunto de las acciones que lleva a cabo el APU, una menor
relevancia evidencian, en nuestros estudios, las asociadas a funciones que, junto
con la docencia, históricamente han identificado a la institución universitaria:
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8156ISSN 2177-336X
la extensión y la investigación. La primera se concreta en algunas ocasiones
ligada a los programas de articulación con las escuelas medias, tales como los de
capacitación de docentes de ese nivel por parte de los universitarios, los de
orientación vocacional y los que implican la realización de proyectos conjuntos
para favorecer el ingreso a la universidad. Por su parte, la investigación se
constituye en objeto de uno de los desafíos pendientes para el APU: muy
valorado y deseado en su imaginario y menos presente en sus realizaciones.
Pareciera que satisfacer las variadas demandas, siempre prioritarias, siempre
urgentes, deja poco espacio para sistematizar la experiencia ganada en sus
prácticas cotidianas, de manera de poder así seguir contribuyendo a la
conformación del campo de la Pedagogía y la Didáctica Universitarias. Resultó
interesante conocer, en el caso uruguayo, que es en el entorno de las ciencias
duras donde se observa una tendencia a brindar mayor importancia a las
funciones de investigación didáctica, en primer lugar a nivel curricular y, en un
segundo plano, a nivel de la enseñanza.
A modo de reflexión final…
A partir de los resultados obtenidos en nuestras investigaciones, parece importante
insistir que la formación continua y la investigación son dos de los pilares que
configuran el campo de la profesión académica, tanto para el docente como para el
asesor pedagógico universitario. En ese sentido se constituyen en vías legítimas para
consolidar la presencia del pedagogo en el ámbito institucional y su identidad como
profesional académico, y consecuentemente, formas de profesionalización que pueden
contribuir a que sea percibido por los otros actores institucionales como sujeto diverso
en cuanto conocimiento que porta y, a la vez, como par en el proceso de construcción
de un campo científico.
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XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
8158ISSN 2177-336X
A AUTORIDADE DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NO CONTEXTO DA
SALA DE AULA NA PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES
Gildo Volpato
Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC
Resumo
Embora o lugar de professor historicamente seja um lugar de autoridade ele não se
sustenta somente pelo lugar que ocupa, mas fundamentalmente pelo que faz e pela
forma como faz o seu fazer pedagógico no contexto da sala de aula na universidade.
Neste sentido foi levantado algumas questões de estudo como: quais os elementos ou
dimensões que envolvem o âmbito pedagógico que se constituem como referência na
docência? As práticas dos professores referências apresentam sinais de rupturas com
práticas tradicionais na educação superior? O objetivo deste estudo foi compreender os
elementos constitutivos e referenciais qualitativos que evidenciam a autoridade docente
no contexto da formação em nível superior. O estudo foi exploratório e de abordagem
qualitativa, sendo utilizado o questionário com questões abertas com estudantes da
Educação Superior em três universidades catarinenses. Embora o estudo foi realizado
em 2006 e 2007 e tratou de outras questões já apresentadas em trabalhos anteriores, este
recorte foi reconstruído e analisado a partir de referenciais teóricos que tratam da
autoridade docente. O estudo demonstrou que a autoridade professor na universidade é
percebida pelos estudantes a partir de três dimensões que abarca o processo educativo:
domínio de conteúdo e conhecimento; didática e metodologia de ensino e; atitudes e
posturas pessoais do professor. Da mesma forma há sinais de inovação na prática
pedagógica ou na postura de professores apontados como referência na educação
superior, categorizados como: ruptura com a transposição e transferência de
conhecimento; ruptura com a postura hierárquica da relação professor e aluno; ruptura
com a concepção de conhecimento pronto e acabado; ruptura com a avaliação
classificatória e verificatória e; ruptura com a sisudez e apatia na sala de aula.
Palavras-chave: Educação superior. Autoridade do professor. Inovação.
Introdução
Falar em autoridade docente no nível superior na atualidade requer muito cuidado e
rigor acadêmico, pois como sabemos, é algo que não se produz nem se conhece
desconectada do contexto histórico, político, econômico e social, em que está inserida,
ou seja, do mundo globalizado e das políticas do Estado Neoliberal.
Embora o lugar de professor historicamente seja um lugar de autoridade ele não se
sustenta somente pelo lugar, mas pelo que se faz e como se é neste lugar que é a sala de
aula na universidade. Nesse sentido foi levantado algumas questões de estudo como:
quais os elementos ou dimensões que envolvem o âmbito pedagógico que se constituem
como referência na docência? As práticas dos professores referências apresentam sinais
de rupturas com práticas tradicionais na educação superior?
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A partir dessas questões partimos do objetivo de buscar compreender elementos
constitutivos e referenciais qualitativos que evidenciam a autoridade docente no
contexto da formação em nível superior.
O estudo foi exploratório e de abordagem qualitativa, sendo utilizado o questionário
com questões abertas com estudantes da Educação Superior em três universidade
catarinenses. Embora o estudo foi realizado em 2006 e 2007 e tratou de outras questões
já apresentadas em trabalhos anteriores, este recorte foi reconstruído e analisado a partir
de referenciais teóricos que tratam da autoridade docente.
Bases teórico/conceituais
Muitos autores têm dedicado seu tempo pesquisando e analisando os limites e
possibilidades de desenvolvimento e do exercício da autoridade do professor na
atualidade, tendo em vista as constantes mudanças no cenário nacional e internacional.
Se no passado a delegação da autoridade estava garantida pela tradição, pela experiência
dos antepassados e pelo discurso religioso, hoje ela precisa ser sustentada
continuamente por meio de práticas sociais contratualizadas continuadamente. “Daí seu
caráter de oscilação e, por extensão, de provisoriedade”, nas palavras de Aquino (1999,
p.137).
Aquino (1999) trata da questão da autoridade docente a partir da idéia de ocupação de
um lugar social instituído, lugar este preexistente e predeterminado historicamente e
como tal comportando necessariamente polaridades complementares. Nesse sentido a
autoridade é um fenômeno de cunho institucional, estreitamente vinculado à ideia de
delegação e crédito ao outro. Para ele a autoridade deve ser compreendida como uma
espécie de amálgama institucional, que se ritualiza a cada instante, dependendo de
como a relação entre os parceiros se desenrola.
Em outras palavras, o fenômeno da autoridade só pode ser compreendido como um
efeito institucional sempre singularizado pelas condições concretas de sua consecução.
Nessa perspectiva, “o reconhecimento da autoridade do agente não é uma reação
automática, nem um dever „natural‟ da clientela; ele precisa ser forjado na ação
cotidiana, e sempre em ato.” (AQUINO, 1999, p.137).
Com base no autor, podemos dizer que ocupar um lugar social instituído, e neste caso o
de professor universitário, não significa garantia absoluta de que o estudante venha
obrigatoriamente a reconhecê-lo como autoridade. É preciso que o exercício da
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autoridade seja reconhecido e consentido pelo(s) parceiro(s) da relação, ou seja, os
estudantes.
Uma das bases fundamentais para que o professor consiga o reconhecimento da
autoridade, é ter conhecimento, segundo Aquino (1999). Ele parte do princípio de que o
professor deve “saber mais” a respeito daquilo que se propõe a ensinar do que seus
alunos, pois a confiança deles é diretamente proporcional à segurança daquele, isto é, do
seu domínio teórico em determinado campo de conhecimento.
De posse de um saber diferente dos alunos cabe ao professor escolher a forma mais
adequada de comunicar, de mediar considerando a heterogeneidade do grupo. É aí que
entra em cena o domínio metodológico. Aquino (1999) ainda acrescenta que para o
professor ser reconhecido como autoridade que mereça confiança, precisa, ainda, de
maestria no exercício de sua função. Ou seja, a autoridade do professor constitui-se a
partir da relação entre conhecimento e experiência na condução do processo educativo.
É preciso, portanto, que o professor domine tanto o fenômeno a ser conhecido como o
processo de conhecer. Conforme o autor “é possível assegurar que a autoridade docente
não se sustenta exclusivamente na – e nem é decorrência unívoca da – erudição de seu
portador, mas do trabalho engenhoso, árduo e compromissado daquele que, de fato, se
dispõe a ensinar algo a outrem” (p. 140).
Correia e Matos (1999, 2003) entendem a autoridade em sintonia com sua raiz
etimológica, ou seja, associada à idéia de autor, de criador, de compositor, de inventor
ou arquiteto, ou ainda, alguém que se legitima por sua obra. Sendo assim a autoridade
do professor é decorrente de sua produção científica e do exercício de seus processos, o
qual se autoriza pelas suas obras, suas criações e sua palavra explícita. Um agente que
se encontra na origem de sua própria ação e que é capaz de se autorizar.
Esta dimensão pessoal constitutiva da autoridade do professor é evidenciada por Tadif
(2001) que introduz a dimensão afetiva presente na relação professor/aluno. Ele ressalta
a importância de o professor buscar uma harmonia entre as ações dos alunos e as suas,
uma vez que trabalha com grupos heterogêneos.
Ele aponta como verdadeiras tecnologias de ensino ou de interação a coerção, a
autoridade e a persuasão. A coerção consiste em comportamentos punitivos reais e
simbólicos, pois para ele não há educação sem constrangimento, sem coerção simbólica;
a autoridade seria o respeito sem coerção e a personalidade do professor seria o fator
definidor de sua autoridade diante dos alunos; a persuasão seria a capacidade de
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convencimento pela linguagem, ou, em outras palavras, a arte de convencer o outro a
fazer algo ou acreditar em algo.
Para Tardif (2002) a autoridade está ligada diretamente a missão, ou ao papel que a
escola confere ao docente, bem como à própria personalidade e carisma pessoal do
mesmo no exercício de sua atividade. Esse aspecto torna-se importante uma vez que
ajuda na compreensão da transformação dos atributos subjetivos em condições objetivas
da profissão em tecnologia de interação. Como ele diz “os professores insistem
frequentemente na importância de sua „personalidade‟ como justificativa para a sua
competência e como fonte de seu êxito com os alunos” (p.139).
O autor fala que o professor que é capaz de se impor a partir daquilo que é como pessoa,
e que os alunos respeitam e até apreciam, já venceu a mais terrível e dolorosa
experiência de seu ofício, que é ser aceito pelos alunos e pode, a partir de então, avançar
com a colaboração deles.
Tardif (2002) diz que o trabalho vivido, emocional, mental e moral, integram a
personalidade do professor, portanto, podemos dizer, que definem sua autoridade
enquanto docente. Sendo assim a autoridade é resultante de uma caminhada, que exige
escolhas, de formas e procedimentos de agir, de atitudes a serem adotadas diante dos
alunos, da vida e da sociedade, além, é evidente, de o professor ter que ampliar os seus
conhecimentos e de produzi-los nesta trajetória.
Mesmo reconhecendo o contexto político, econômico e cultural intervindo no
reconhecimento da autoridade docente, fica expressa a necessidade de o professor se
mover no sentido de conquistar de forma consciente a sua autoridade enquanto pessoa e
profissional e poder exercê-la.
Contreras (2003) diz que custou muito a entender que o rastro principal que tinha que
seguir era o dele mesmo e que precisava atuar dando sentido às coisas.
Essa busca de sentido, diz o autor, está sempre vinculada ao saber da experiência que
sempre tem saber e relação que sustenta esse saber. Sempre há saber e alguém que o
sustenta, alguém que o vive e o comunica, como quando aprendemos a falar. Por isso, a
relação que nos dá liberdade é sempre uma relação de autoridade: é ela que nos autoriza
a empreender nossos próprios voos, porém não nos deixa desnudos; ao contrário, nos dá
asas.
Essas questões, colocadas por Tardif (2002) e Contreras (2003), nos fazem lembrar do
pensamento de Paulo Freire (1989) a partir de um diálogo realizado com profissionais
da educação, onde expressa seu conceito de autoridade: “Tive uma professora brilhante
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(...) que me marcou enormemente”. “(...) era democrática, mas tinha a consciência de
sua autoridade, de que devia fazer funcionar a autoridade dela, sem a qual as liberdades
não se constituiriam” (p.2).
Ser mestre, diz Contreras (2003) é ter, é dizer, é criar, é conseguir e manter autoridade,
e para isso é preciso ter, dizer, é preciso construir e ganhar a credibilidade, a confiança e
o reconhecimento. Porém, para que isso ocorra é preciso poder atuar em primeira
pessoa, isto é, ser autor ou autora: criar a relação, o sentido dela mesma, o sentido de
que é com ela e através dela que se transmite o sentido das coisas, isto é, sobre o saber e
o viver. Para Contreras (2003, p. 28),
ser maestro o maestra, es exponerse, mostrar lo que uno es y aprendió en la
vida, es tener (es recibir e mantener) la autoridad, la confianza y es
reconocimiento para decir su verdad, para hablar por sí mesmo el lenguaje
con el que aprender a encontrar nuevos sentidos al mundo y al vivir,
autorizando así a que cada uno emprenda la búsqueda y encuentre la medida
en su maestra, en su maestro, „para ver si era eso lo que había que hacer.
Para o autor o professor que tem autoridade, sem precisar dizer nem ocultar, mostra as
seus alunos/as as profundezas e adverte dos perigos que poderão encontrar na
caminhada. O fundamental no ato de educar consiste em o professor conseguir dar
autorização aos alunos de pensarem por si mesmos, porque confiam na autoridade dele
como professor, porque lhe concedem autoridade que lhes dá um caminho, porém um
caminho que os dirige a si mesmos.
A partir e com base na fundamentação teórica, passamos a apresentar os resultados do
estudo.
Os referenciais de autoridade do professor na percepção dos estudantes.
Os estudantes foram os interlocutores. Um número expressivo, ou seja, trezentos e
noventa e três (393) deles, de três (3) diferentes cursos de graduação e de três (3)
instituições catarinenses, após esclarecimentos sobre o motivo de aplicação do
questionário, responderam voluntariamente. A questão a ser identificada por meio do
questionário era saber qual o docente eles tinham como autoridade, como referência no
fazer pedagógico.
Dentre as razões da escolha do professor referência na sala de aula três categorias que
envolvem as dimensões do processo educativo foram identificadas: domínio do
conteúdo/conhecimento, didática/metodologia de ensino e; atitudes e posturas pessoais
do professor.
O domínio do conteúdo/conhecimento foi um dos motivos de escolha do professor
referência. Além do domínio de conteúdo ou de conhecimento, utilizaram as seguintes
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expressões: atende às dúvidas sem titubear, é atualizado na área, é detentor do
conhecimento, sabe muito pelos exemplos que passa. Contudo, parece ter pouco valor
para os alunos se o domínio de conteúdo/conhecimento se limitar ao domínio da
matéria, se não estiver correlacionado à capacidade didática de trabalhá-lo em sala de
aula e de relacioná-la ao campo profissional. “O professor que tem domínio de
conhecimento e didática consegue passar o que acontece na realidade”. “Relaciona
teoria e prática que te prende a atenção”. “Expõe com propriedade, não fica enrolando.
Se tiver algo que ele não sabe, ele diz que vai pesquisar ou te diz onde pesquisar.
Escolhi, principalmente pela segurança no responder”.
Alarcão (1998, p. 104) afirma que o “conhecimento do professor não é meramente
acadêmico, racional, feito de factos, noções e teorias, como também não é um
conhecimento feito só de experiência. (...) É um saber agir em situações”. Parece que os
alunos esperam que o professor esteja sempre pronto para agir e responder suas
indagações e que tenha domínio pleno sobre o conteúdo de suas respostas.
Em relação à didática/metodologia de ensino como razões da escolha do professor
referência e autoridade na docência, utilizaram expressões como: expõe com clareza
suas ideias e o conteúdo da disciplina; aulas teóricas interessantes e esclarecedoras; sabe
passar os conteúdos de modo divertido e, ao mesmo tempo, sério; aulas dinâmicas e de
fácil compreensão; faz frequentes comparações e exemplificações com casos reais,
relacionando teoria e prática; interage, exige a participação, discute e debate
esclarecendo dúvidas; aulas relacionadas ao dia a dia do profissional; relaciona e
envolve outras áreas do conhecimento; procura inovar; as explicações têm um cunho
crítico; aproveita bem o tempo em sala de aula; não entrega tudo pronto, faz pensar,
estimula o raciocínio.
Para os estudantes parece não haver problema se a aula for expositiva, desde que o
professor consiga estabelecer relações entre teoria e prática, que os envolva e os ajude a
compreender significativamente o conteúdo ensinado. “Ele consegue envolver a turma
na teoria. Ele passa a teoria, mas consegue envolver a gente para entendermos”.
Para Freire (1996, p. 96),
o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a
intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e
não uma „cantiga de ninar‟. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam
porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas
pausas, suas dúvidas, suas incertezas.
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As atitudes e posturas pessoais do professor como escolha do professor demonstram o
quanto às dimensões afetiva, emocional e ética são valorizadas por eles. As expressões
utilizadas revelam o peso desta dimensão: dinâmico, empolgado, bem-humorado,
alegre, incentiva o questionamento, disponibilidade, dedicado, interessado, preocupado
com a aprendizagem e a formação, afetivo, respeitoso, ético, paciente, responsável,
partilha, gosta de ensinar, atencioso, imparcial, organizado, sábio, íntegro, nunca falta,
carismático, coerente, não irônico, não humilha, não mantém aquela distância, bom
caráter, coloca-se no mesmo nível dos alunos, querido, inteligente, sério, rigoroso,
exigente, profissional, senso de justiça, correto nas avaliações, comunicativo, crítico,
autêntico, sensível.
Cunha (1992, p. 69), em seus estudos, evidenciou que
(...) dificilmente um aluno apontaria um professor como bom, ou melhor de
um curso, sem que este tenha as condições básicas de conhecimento de sua
matéria de ensino ou habilidades para organizar suas aulas, além de manter
relações positivas. Contudo, quando os alunos verbalizam o porquê da
escolha do professor, enfatizam os aspectos afetivos.
O professor marcante, traçado pelos alunos, não é só o que se desafia a tornar o
conhecimento de sua disciplina significativo, mas o que procura, além disso, estabelecer
relação “com problemas sociais, políticos, econômicos e culturais que caracterizam o
momento atual” de forma participativa e dialógica, rompendo com a figura do professor
“detentor absoluto do conhecimento”, como bem evidenciou Balzan (2003, p. 47).
A inovação em sala de aula, também, pode se caracterizar como um ingrediente na
representação da autoridade do professor por parte dos estudantes.
A ruptura com posturas e práticas pedagógicas tradicionais geralmente acontece a partir
de desafios, de problemas a resolver nas salas de aulas universitárias, como já
mencionado por Lucarelli (2003) e Cunha (2006), dentre outros.
Santos (2002) chama a atenção para o fato de que “o grau de inovação mede o grau de
ruptura”, pois o que parece ser comum em alguma área pode ser considerado como
ruptura em outras.
Neste sentido, o estudo apontou algumas rupturas que podem ser consideradas
inovações por parte dos professores, as quais foram motivadores da escolha como
autoridades no fazer pedagógico: ruptura com a transposição/transferência de
conhecimento; ruptura com a postura hierárquica da relação professor/aluno; ruptura
com a concepção de conhecimento pronto/acabado; ruptura com a avaliação
classificatória/verificatoria e; ruptura com a sisudez/apatia na sala de aula.
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Ruptura com a transposição/transferência de conhecimento: Apesar de as aulas serem,
na sua maioria, expositivas, notou-se a preocupação dos professores em encontrar
formas de fazer com que os alunos se interessem pelos conteúdos, participem das aulas,
usando ou não recursos tecnológicos, mas buscando, sempre que possível, relacionar
teoria e prática;
Lucarelli (2003), em seus estudos, evidenciou que a preocupação em articular teoria e
prática são características que marcam os docentes que buscam inovar em suas práticas
pedagógicas. Relacionar teoria e prática requer, na maioria das vezes, mudanças na
metodologia e estratégias de ensino.
A gente busca o defeito e ele quer que falemos o que achamos desse defeito,
o porquê que ocorreu isso, o que se faz para consertar. E aí ele
complementa: „é isso, „é aquilo‟, dá o parecer dele. Ele faz a gente pensar,
vê se a gente consegue resolver, essa é a diferença.
Ruptura com a postura hierárquica de relação professor/aluno: Os professores, embora
de forma nem sempre explícita, demonstraram ter certo grau de consciência sobre o
poder advindo do conhecimento ou atribuído a ele. Sem abrir mão da necessária
autoridade, parece haver preocupação em não adotarem uma postura de superioridade,
de arrogância acadêmica, com o intuito de estabelecerem uma boa relação com os
alunos e favorecerem a aprendizagem; “Pela atenção que ele dá para o aluno. Ele
respeita. A gente precisa dele e ele chega, conversa (...) Sempre atende na medida do
possível” “No primeiro dia que começou a dar aula, ele já disse: Por mais ignorante que
possa parecer a pergunta, faça-a”.
Isaia (2003) diz que os sentimentos ainda são pouco valorizados em nossa cultura,
apesar de terem um caráter essencial para a vida das pessoas e da importância dessa
dimensão na realização de qualquer atividade humana.
Ruptura com a concepção de conhecimento pronto/acabado: O que diferencia o ensino
inovador de práticas tradicionais são posturas e atitudes dos professores diante do
conhecimento, considerando-o sempre em processo e inacabado.
A norma diz isso!”, mas só que a norma foi feita através do conhecimento.
No decorrer do tempo, com conhecimento, foi determinada esta norma, mas
pode ser mudada em qualquer momento em que justifique a alteração dela.
A norma foi feita pelos homens. É essa visão que ele tem e passa pra gente.
Mesmo não sendo os produtores dos conhecimentos, dos conteúdos que trabalham em
sala de aula, os professores se autorizam pela conduta, pela forma como concebem e
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mobilizam o conhecimento para que os alunos se apropriem deles, o que nos remete a
ideia de autoria de Correia e Matos (1999, 2003).
Ruptura com a avaliação classificatória/verificatória: quando a avaliação passou a
servir não somente para verificar os níveis de aprendizagem e classificar os alunos, mas
como instrumento de reflexão, resultando em mudanças na forma de atuação por parte
dos alunos e do professor. “A gente apresentou um trabalho e ele disse: – Não, seria
melhor que estivesse assim? Ele fez uma correção coletiva, demonstrou quais os
defeitos dos trabalhos e melhoraram 100%”.
Ruptura com a sisudez/apatia na sala de aula: demonstrada a partir da preocupação dos
professores em manter os alunos atentos, interessados, motivados. Dar à aula uma
condição de prazer, tornando o ensino atraente, de modo a motivar e desafiar os
estudantes nas suas aprendizagens. “Vamos lá, vamos de novo!”, “Pode estar morrendo
de cansaço, mas ele chega aqui na aula e se renova”. Atributos pessoais como a simpatia
do professor também é levada em conta pelos estudantes. “Ele é simpático, não é aquele
professor carrancudo, aquele que tu fica com medo de falar as coisas”.
Conforme Freire (1996) a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver.
Por isso ele faz a relação entre a alegria necessária, a atividade educativa e a esperança e
diz: “há esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar,
inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir, aos obstáculos à nossa alegria” (p.
80).
Considerando que no ensino tradicional os professores transferiam a responsabilidade
pelos problemas de aprendizagem somente aos alunos, reconhecer a importância de
manter um bom clima e tornar o ensino atraente de modo que motive os alunos é
inovador.
Considerações finais
A partir do questionamento de quais os elementos ou dimensões que envolvem o âmbito
pedagógico que se constituem como referência na docência, o estudo demonstrou que a
autoridade do professor passa pelas seguintes qualidades:
ter domínio de conteúdo e demonstrar essa condição, fazendo as mediações
necessárias e aprofundando os conhecimentos;
saber estabelecer relações entre a teoria e o cotidiano da profissão.
respeitá-los, sendo acessível e atencioso;
cobrar e exigir deles aquilo que ensina, estando sempre presente na aula;
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gostar de dar aula e demonstrar essa condição com suas atitudes;
preocupar-se com a coerência entre o que protagoniza na aula e o que cobra nas
avaliações.
Este estudo demonstrou que os professores que se tornaram referência na docência e
podem ser considerados autores de suas obras, fizeram rupturas com práticas
tradicionais e protagonizam práticas inovadoras, que podem ser caracterizadas como:
ruptura com a simples transposição/transferência de conhecimento;
ruptura com a postura hierárquica da relação professor /aluno;
ruptura com a concepção de conhecimento pronto/acabado;
ruptura com a avaliação classificatória/verificatória;
ruptura com a sisudez/apatia na sala de aula.
Enfim, é possível considerar que, apesar dos condicionantes históricos, políticos,
econômicos e sociais ainda restam na gênese da atividade docente, a possibilidade de
exercício da autoridade, dada tanto pelo “lugar” de atuação do mesmo, pelo significado
construído acerca dessa atividade profissional, como também pela dimensão pessoal,
pela “personalidade”, pela pessoa do professor. Isto não se dá nem por decreto, nem por
imposição, se dá na busca paciente e persistente de uma profissionalidade e
pessoalidade competente, comprometida e consciente.
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ii Los investigadores participantes fueron: Elisa Lucarelli, Claudia Finkelstein y Viviana Solberg (UBA), M.
Alicia Villagra (UNT), Ana M. Malet (UNS), y Mercedes Collazo, Sylvia De Bellis, Patricia Perera, Vanesa
Sanguinetti (UdelaR).
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