pedagogia e arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04...

48
Abril Edição nº33 Distribuição a Nível Nacional com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente. Outra escola é possível Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzados

Upload: others

Post on 08-Jun-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Abril Edição nº33 Distribuição a Nível Nacional com o Jornal Público. Encarte da responsabilidade de Página Exclusiva, Lda. Não pode ser vendido separadamente.

Outra escola é possívelPedagogia e Arquitetura - olhares cruzados

Page 2: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

2 // Abr2019 // Ensino // Grupo Ribadouro

Integrar espaços, ensino e aprendizagem: rumo a uma escola que não podemos adiar

A Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Cató-

lica Portuguesa, através do seu Serviço de Apoio à Melhoria da

Educação (SAME), tem vindo a prestar consultoria científica às

escolas do Grupo Ribadouro desde há seis anos. O trabalho que

temos vindo a desenvolver com estas escolas, e que consiste,

essencialmente, no acompanhamento das suas dinâmicas de

autoavaliação e melhoria, permite-nos afirmar que estas são

organizações educativas que partilham de uma cultura de aus-

cultação, reflexão e ponderação, essenciais para uma tomada

de decisão empírica e teoricamente sustentada.

A vontade de melhorar a qualidade da ação educativa e, con-

sequentemente, das aprendizagens dos alunos, faz parte, por-

tanto, desta cultura organizacional que temos podido teste-

munhar e que tem levado à implementação de diversos pro-

gramas e projetos de melhoria contínua.

O projeto “ARQUITETURA AO SERVIÇO DA PEDAGOGIA” é, as-

sim, parte de uma estratégia mais ampla de desenvolvimento

organizacional que marca a identidade destas escolas. Com

elas temos vindo a trabalhar um conceito de inovação e mu-

dança holístico e integrado, que parte do pressuposto de que

as melhorias desejadas só podem ser atingidas através de

uma intervenção transversal e articulada, que resulte numa

ação concertada nos vários níveis e dimensões que fazem par-

te de uma organização escolar. Este pressuposto leva-nos a

considerar a (re)organização dos espaços e dos tempos de

aprendizagem como um dos fatores-chave para a melhoria do

ensino e da aprendizagem.

O nosso papel, enquanto amigo crítico neste projeto em par-

ticular, é o de orientar as escolas do Grupo Ribadouro, os seus

educadores e professores e as arquitetas que o abraçaram, ru-

mo a uma escola que já não podemos adiar, face à obsolescên-

cia e falência do modelo pedagógico e didático que ainda impe-

ra na maioria das escolas. Numa fase inicial, organizámos uma

visita a duas escolas de Barcelona que investiram na reorgani-

zação dos espaços para induzir a adoção de práticas educati-

vas mais eficazes. Foi uma visita inspiradora, que reforçou nas

escolas do Grupo Ribadouro a necessidade já identificada de

investir nesta área.

Sabemos que temos agora um importante desafio em mãos:

o de continuarmos a contribuir para que estas escolas prossi-

gam um caminho de inovação e melhoria sustentável que as-

senta, acima de tudo, na concertação de uma grande e comple-

xa diversidade de ações que possam conduzir a uma meta-

morfose positiva do ensino e das aprendizagens dos alunos,

das quais se destacam:

• uma maior integração dos espaços escolares, tornando-

-os mais abertos, mais flexíveis e passando da lógica de

organização da sala de aula enquanto ilha na qual habita

uma determinada turma por um determinado período de

tempo, para uma lógica de organização em arquipélago,

no qual os vários espaços (não só as tradicionais salas de

aulas) se encontram interligados, articulados e se cons-

tituem enquanto espaços comuns ao serviço das apren-

dizagens de todos e de cada um;

• uma maior integração entre a formação contínua dos docentes

e a sua ação pedagógica concreta, apostando em lógicas de

formação-ação, nas quais a teoria seja colocada ao serviço do

aperfeiçoamento das práticas e, por sua vez, a ação docente

seja levada para a formação, constituindo-se como o seu obje-

to central.

O que pretendemos é que a reorganização dos espaços escola-

res se constitua como um catalisador para uma consequente alte-

ração da gramática escolar, que passa por equacionar novos mo-

dos de agrupar os alunos, segundo matrizes flexíveis e mutáveis,

fazer um uso mais inteligente do tempo e dos espaços de instru-

ção, organizando-os para fazer com que os alunos aprendam

mais, criar novas formas de gestão curricular, mais inovadoras, in-

terativas, integradas e flexíveis, e criar mecanismos de diferencia-

ção pedagógica do trabalho escolar que permitam dotá-lo de

mais sentido, dando um outro sentido ao tempo da transmissão e

da construção do conhecimento.

Depoimento de Ilídia Cabral, Professora Auxiliar

da Faculdade de Educação e Psicologia

da Universidade Católica Portuguesa e coordenadora

do Serviço de Apoio à Melhoria da Educação (SAME)

Grupo Ribadouro: outra escola é possível

“O nosso papel, enquanto amigo crítico neste projeto em particular, é o de orientar as escolas do Grupo Ribadouro, os seus educadores e professores e as arquitetas que o

abraçaram, rumo a uma escola que já não podemos adiar, face à obsolescência e falência do modelo pedagógico e didático

que ainda impera na maioria das escolas”.

Page 3: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Grupo Ribadouro // Ensino // Abr2019 // 3

Externato Ribadouro: aliar a tradição à mudança

Perspetivar a escola do futuro demanda olhar atentamente

para o passado e refletir em torno do agora, sobretudo em

tempos de incerteza e de volatilidade de pensamento e ação,

que acompanham o presente século XXI.

A inovação surge recorrentemente em discursos oriundos

de diferentes áreas e a educação não permanece indiferente a

tal semente contemporânea. Não se trata, todavia, de criar uma

nova escola, porque há muito a mesma foi inventada, mas sim

de procurar uma outra escola, que amplie as oportunidades de

aprendizagem.

Nesse sentido, o Grupo Ribadouro tem procurado equilibrar a

convenção e a tradição (referências basilares) com os ventos

de mudança que sopram em múltiplas direções e tem feito um

esforço acrescido para repensar a sua organização e práticas,

com enfoque nas Pessoas, concebendo-lhes a possibilidade

de desenvolvimento dos seus projetos de vida. Assim sendo,

consideramos crucial munirmo-nos da arte da escutatória, im-

plicando todos os atores educativos: Lideranças, Professores,

Alunos, Assistentes operacionais e Famílias.

A equação para a reinvenção da escola passará, na nossa vi-

são e missão, pela ponderação entre os Espaços, a Pedagogia,

os Perfis do Aluno e do Professor e pela relação com a Comu-

nidade envolvente/Sociedade civil.

A humildade de ver ambientes de aprendizagem ditos inova-

dores conduziu-nos até à Catalunha, onde fervilha a mudança

e melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico. Esta visi-

ta enquadrou-se num plano de melhoria e de autoavaliação

que o Ribadouro tem vindo a desenvolver, com a orientação e

supervisão da Prof. Drª Ilídia Cabral e do Prof. Drº Matias Alves,

da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católi-

ca Portuguesa. Os espaços são de facto uma preocupação, so-

bretudo para uma escola cujas paredes pertencem ao centro

histórico da cidade do Porto. É neste balanço entre o tradicio-

nalismo e a vanguarda que nos situamos, priorizando a multi-

dimensionalidade a que se deve associar uma sala de aula,

tendo em vista aprendizagens significativas e conducentes ao

treino de competências essenciais para enfrentar desafios

profissionais e pessoais futuros.

A aposta no desenvolvimento profissional dos professo-

res, mediante formação continuada e especializada (pós-

-graduações, mestrados e doutoramentos), denota a im-

portância que o Ribadouro atribui às estratégias de ensino e

aprendizagem, que devem acompanhar as novas exigências

e as características pessoais dos alunos, que crescem ace-

leradamente em pleno lufa lufa quodiano. Alunos criativos,

reflexivos, com capacidade para enfrentar o imprevisto, de

trabalharem de forma colaborativa e autores dos seus pro-

jetos devem ser acompanhados de professores que co-

mungam do mesmo espírito.

Numa altura em que tudo se pede à escola, o Ribadouro urge

pensar numa abertura da sua cultura organizacional à realida-

de envolvente, convocando as Famílias à participação em mo-

mentos de partilha, assim como outras entidades, numa lógica

de olhar para o Outro, recebendo contributos e permitindo a

disseminação do que o Outro considere levar enquanto boa

prática.

A metamorfose educacional que emerge não se consegue

travar e não permite a indiferença, pelo que não ambicionamos

uma revolução, mas comprometemo-nos com uma evolução

pensada, equilibrada e com responsabilidade partilhada, para

que o trabalho escolar jamais perca o seu sentido.

Direção Externato Ribadouro

“Alunos criativos, reflexivos, com capacidade para enfrentar o imprevisto, de trabalharem de forma colaborativa e autores dos seus projetos devem ser acompanhados de professores

que comungam do mesmo espírito”.

Page 4: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

4 // Abr2019 // Ensino // Grupo Ribadouro

so-studio: a arquitetura aliada à pedagogia

O espaço escolar é um dos pilares no processo de construção de

conhecimento, impacta as práticas pedagógicas e é fundamental

pensar na sua adaptação face aos desafios que, desde já, uma vi-

são prospetiva permite antecipar.

E como pode a Arquitetura estar aliada à Pedagogia nesta evolu-

ção que se impõe?

Entendemos que, para encontrar respostas para estes desafios,

é necessário pensar a escola através da auscultação de todos os

diferentes atores que a constituem: a direção, os professores, os

alunos, os assistentes e as famílias. Dar-lhes voz significa, tam-

bém, responsabilizá-los pelo projeto escola, ir ao encontro dos

seus interesses, dos seus desejos, das suas necessidades atuais e

das suas expectativas para o futuro.

Assim, o Externato Ribadouro – em colaboração com o atelier de

arquitetura so-studio – organizou sessões de workshops em que

os participantes foram convidados a pensar o papel dos espaços

escolares, a pedagogia e a sua estrutura educativa, o perfil do alu-

no, o perfil do professor, e a relação da escola com a família e com a

comunidade, tendo como objetivo compreender todos os diferen-

tes pontos de vista sobre a evolução da escola.

A arquitetura escolar, enquanto instrumento do projeto pedagó-

gico, assume assim um papel essencial, devendo a evolução dos

espaços surgir do resultado deste processo de auscultação, pro-

cesso de compreensão de como o espaço pode despertar senti-

mentos, gerar ideias, promover a criatividade, gerar pensamento

crítico, criar impulsos no sentido da procura do conhecimento, mo-

tivar a aprendizagem, promover o encontro, a comunicação e a

partilha.

Depoimento de Arq. Sofia Passos Santos,

so-studio

“O Externato Ribadouro – em colaboração com o atelier de arquitetura so-studio – organizou sessões de workshops

em que os participantes foram convidados a pensar o papel dos espaços escolares, a pedagogia e a sua estrutura educativa, o perfil do aluno, o perfil do professor, e a relação

da escola com a família e com a comunidade”.

Page 5: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Grupo Ribadouro // Ensino // Abr2019 // 5

Externato Camões: o espaço escolar como território pedagógico

A escola está em processo de transformação. O seu objetivo já

não é a transmissão de conhecimento. Esse é quase totalmente

cumprido pelos media e pelas ferramentas digitais e tecnológicas

que se encontram disponíveis. O espaço escola tem de ser pensa-

do como um facilitador das práticas pedagógicas promotoras de

aprendizagens e competências de nível superior, inspiradoras,

desafiantes e criativas. Os estudos internacionais revelam que faz

falta um ensino que envolva os alunos em tarefas intelectualmen-

te desafiantes, significativas e pertinentes que os tornem capazes

de mobilizar o conhecimento para a resolução de problemas, que

tenham capacidade de pensar, decidir e agir de modo a que se

afirmem como pessoas e humanamente mais capazes.

Esta transformação exige uma mudança estrutural nos espa-

ços da escola. Todos eles devem ser pensados, adequados ao

perfil de aluno que se pretende desenvolver, promotores de com-

portamentos socialmente ativos e construtivos, nu-

ma visão holística do de-

senvolvimento do indivíduo. Pretende-se que a escola encerre

uma racionalidade educativa na forma como se organiza, num tra-

balho pensado, participado e permanentemente avaliado. Todos

os espaços da escola são pedagógicos. Os espaços intermediá-

rios entre o dentro e o fora do edifício escolar funcionam como

uma extensão da sala de aula, promovendo o enriquecimento

de olhares, sensações e perceções. O edifício escolar tem de

ser responsivo; deve estimular a formação, a construção de

conhecimento e promover a curiosidade. A arquitetura escolar

responsiva só é possível a partir da auscultação e interlocução

entre os sujeitos que habitam esse espaço.

Desta forma, o Externato Camões pretende envolver

os alunos no desenho de uma “nova escola”, começando,

num futuro próximo, por transformar as salas do 1º ciclo

e outros espaços pedagógicos, de forma a promover e

permitir práticas pedagógicas inovadoras, de qualidade

estruturante, transformadoras, desenvolvendo com-

petências académicas, pessoais e sociais que con-

substanciem o perfil do aluno à saída da escolaridade

obrigatória e as competências para o sec. XXI. Este

projeto, denominado “A ARQUITETURA AO SERVIÇO

DA PEDAGOGIA”, orientado pela arquiteta Rita Rodrigues, será

um processo participado entre elementos da comunidade

educativa (pais, alunos, professores, entre outros) e já iniciou

com a dinamização de painéis de discussão focalizada para

compreender as perceções dos vários públicos sobre a melhor

forma de aprender, de fazer aprender e sobre a influência dos

espaços na atividade pedagógica.

A recolha destas sensibilidades definirá a segunda fase deste

projeto, em que representantes dos vários setores da comunida-

de educativa terão oportunidade de redesenhar os espaços a in-

tervencionar, de acordo com os seus desejos e as suas convic-

ções, através da construção de maquetas para planeamento e

transformação dos espaços existentes. Da explosão de ideias de-

fendidas pelos diferentes públicos nascerão várias perspetivas

sobre o espaço escolar que a arquitetura terá em conta para que a

escola se transforme num território de aprendizagem que corres-

ponda às expectativas e às necessidades dos que nela habitam.

“All fine architectural values are human values, else not valua-

ble”, lembrava Frank Lloyd Wright.

Direção Externato Camões

rar.studio: arquitetura, pedagogia e comunidade escolar

O rar.studio é a equipa responsável pelo processo de aproxima-

ção entre as novas metodologias pedagógicas e o espaço físico da

escola, no Externato Camões.

A reformulação do equipamento escolar na sua dimensão

espacial comporta, necessariamente, um olhar crítico e funda-

mentado sobre o histórico de transformações e adaptações

que esta tipologia arquitetónica comporta. Seja pela força de

um contexto ou pela correlação com a pedagogia, a história da

arquitetura da tipologia escolar revela uma profícua e diversa

produção de abordagens, modelos, e de edifícios

singulares. O papel do rar.studio no Externato

Camões é o da investigação, produção e imple-

mentação de uma multiplicidade de soluções,

alterações, adaptações e dispositivos que pos-

sam servir os desígnios da escola e da pedagogia

atuais. Mas, igual e primordialmente, de soluções que possam

servir uma comunidade singular: a Comunidade do Externato

Camões. As transformações deverão surgir, então, como re-

sultado de um processo de auscultação e colaboração com a

comunidade escolar funcionando, simultaneamente, como

mote para um trabalho conjunto de reflexão entre a direção, os

professores, os alunos, os assistentes, as famílias e os arqui-

tetos.

Depoimento da Arq. Rita Aguiar Rodrigues, rar.studio

“Todos os espaços da escola são pedagógicos. Os espaços intermediários entre o dentro e o fora do

edifício escolar funcionam como uma extensão da sala de aula.”

“O papel do rar.studio no Externato Camões é o da investigação, produção e implementação de uma multiplicidade de soluções,

alterações, adaptações e dispositivos que possam servir os desígnios da escola e da pedagogia atuais. Mas, igual e primordialmente, de soluções que possam servir uma

comunidade singular: a Comunidade do Externato Camões”.

Page 6: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

EnsinoTema de Capa: Grupo Ribadouro .......................................................2Colégio CCG ..........................................................................................7Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa ......10Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra ..................12Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro......14Coimbra Business School | ISCAC...................................................16Departamento de Física da Universidade de Coimbra .................18

InvestigaçãoDepartamento de Física da Universidade de Coimbra – LIBPhys-UC e CFisUC .................................................19Departamento de Física da Universidade de Coimbra – LIP-Coimbra ................................................................20ISEP – GECAD .....................................................................................21Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra ............................................................22Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operacional da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ................................................................24Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal .....26

SaúdeOpinião – António Araújo ..................................................................29Associação de Apoio ao Serviço de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto ...................................30APNEP – Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica .......................................................................31APNEP – ASCI .....................................................................................32Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas...........................34Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica ...................................36Encontros da Primavera 2019 .........................................................37Grupo Germano de Sousa.................................................................38Gastroenterologia – Professor Doutor José Cotter ........................40Cirurgia Plástica – Dr. António Conde .............................................42Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial ..........................................44

Propriedade: Página Exclusiva – Publicações Periódicas, Lda • Telefones: 22 502 39 07 / 22 502 39 09 • Fax: 22 502 39 08 • Site: www.perspetivas.pt Email: [email protected] • Gestores de Processos Jornalísticos: José Ferreira e Nuno Sintrão • Periodicidade: Mensal Distribuição: Gratuita com o Jornal “Público” • Depósito Legal: 408479/16 • Preço Unitário: 4€ / Assinatura Anual: 44€ (11 números)

Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins sem autorização do editor. A paginação é efetuada de acordo com os interesses editoriais e técnicos do suplemento e o editor não se responsabiliza pelas inserções com erros ou omissões que sejam imputáveis aos anunciantes.

Page 7: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Colégio CCG // Ensino // Abr2019 // 7

10 anos a educarcom valor

ATENTA À NECESSIDADE DE PREPARAR AS CRIANÇAS DE HOJE PARA OS GRANDES DESAFIOS DO AMANHÃ, A

FUNDADORA E DIRETORA GERAL DO COLÉGIO CCG, ELISA ALMEIDA, APRESENTA-NOS O AMBICIOSO

PROJETO EDUCATIVO DE UMA INSTITUIÇÃO ÍMPAR.

O Colégio CCG nasceu no ano de 2008 (sob o nome Colégio

Central de Gueifães) com as valências de creche e de educação

pré-escolar. Dando cumprimento à sua vocação de escola es-

pecializada na faixa etária 0-12, direcionada para a construção

de uma educação de base sólida e multifacetada, no ano se-

guinte arrancou o 1º ciclo. Mais tarde, com a ampliação das ins-

talações e a alteração de designação para CCG, surge o 2º ciclo

que fecha a oferta formativa do Colégio, numa altura em que os

nossos alunos estão a entrar na adolescência.

Quando pensamos na história deste Colégio, percebemos

que o projeto de base foi sempre evoluindo, assim como as ins-

talações construídas de raiz foram sendo alvo de um “restyling”

permanente, mas os valores que o alicerçavam mantêm-se co-

mo um porto seguro. A segurança, a afetividade e a responsabi-

lidade continuam a ser a pedra de toque de todo o trabalho rea-

lizado no CCG, assim como alguns traços que estão associados

ao “Ser CCG”: a atenção aos pormenores, o brio, o rigor e a pro-

ximidade com que acolhemos cada criança e cada família.

Uma década de sucessoA celebração da primeira década de existência do CCG foi certa-

mente inesquecível para toda a comunidade educativa. Os eventos

sucederam-se e culminaram, no mês de setembro de 2018, com

uma Festa memorável: um dia inteiro dedicado às famílias que nos

escolheram para a educação dos seus filhos, repleto de atividades

para todas as idades. Nesse dia, fizemos o lançamento do livro Co-

légio CCG – 10 Anos de uma Educação com Valor, tendo-se ainda

assinalado a efeméride com a atribuição de prémios aos alunos

que estavam há 10 anos no Colégio.

Foi também um momento para recordar todos os colabora-

dores que estiveram ao meu lado, em momentos exigentes co-

mo foram, especialmente, os do arranque do Colégio em 2008

e, por isso, também houve lugar à entrega de prémios para os

colaboradores mais antigos. E como manter o sucesso é ainda

mais difícil do que alcançá-lo, 2018 foi também, simbolicamen-

te, o ano em que reconhecemos o decisivo contributo de todos

aqueles que aqui trabalham e que, sendo 100% CCG nas variadas

funções que desempenham, assumem o compromisso diário

de construir uma verdadeira educação com valor. Por isso, os

habituais prémios de mérito e de assiduidade foram atribuídos

A segurança, a afetividade e a responsabilidade continuam a ser a pedra de toque de todo o trabalho realizado no CCG,

assim como alguns traços que estão associados ao “Ser CCG”: a atenção aos pormenores, o brio, o rigor e a proximidade com

que acolhemos cada criança e cada família.

Page 8: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

8 // Abr2019 // Ensino // Colégio CCG

em dobro e dinamizado um conjunto de ações que proporcio-

naram ainda melhores condições de trabalho e, acreditamos,

maior felicidade a todos os que aqui trabalham.

Em jeito de balanço, posso afirmar que somos o que sempre

ambicionamos: uma Grande Escola de pequena dimensão e o

CCG assume-se hoje, pela qualidade dos serviços que presta e

pelas ofertas educativas que disponibiliza, como uma referên-

cia no panorama educativo, muito além da cidade da Maia.

Um projeto educativo para a vidaA dimensão do CCG permitiu desde sempre construir um cur-

rículo que, por um lado, padronizasse um conjunto de saberes

considerados fundamentais para uma verdadeira educação de

base – é o que hoje se designa por “aprendizagens essenciais”

e que, por outro lado, permitisse ajustar o currículo às idiossin-

crasias de cada criança. Numa altura em que tanto se valoriza a

autonomia que o decreto-lei nº 55/2018 trouxe às escolas para

a construção da sua autonomia pedagógica, num Colégio com o

perfil do CCG, o impacto desta medida não foi assim tão signifi-

cativo. Certamente que torna tudo, em termos práticos, mais

fluído, mas a oferta do Colégio sempre proporcionou a todas as

crianças o que nos parecia essencial para a aquisição da multi-

plicidade de saberes e de experiências que são necessárias na

formação de base de cada indivíduo.

Embora parecendo extracurricular, porque fora do currículo,

as nossas crianças já tinham Inglês a partir dos 3 anos, aulas de

Conversation Classes com professor nativo, Oficina de Ciências,

de Motricidade, de Escrita, de Cálculo, Laboratório de Números e

Letras, Orquestra Orff ou Novas Tecnologias, entre outras ativi-

dades. Tim Oates, um nome de referência na área da educação,

sublinha a importância da coerência do currículo em articulação

com os recursos materiais e com a metodologia de trabalho e é,

sem dúvida, neste pressuposto que o Colégio CCG tem realiza-

do as suas opções educativas.

Projeto BYTEO Colégio CCG vive atualmente uma fase de amadurecimento.

Fruto do trabalho realizado ao longo dos anos, das várias inicia-

tivas que fomos levando à prática, da reflexão sobre os resulta-

dos obtidos, temos agora uma ideia mais clara do caminho que

queremos seguir e do que temos para oferecer às famílias que

nos procuram. É neste contexto que vamos lançar, no próximo

ano letivo, o Projeto BYTE – Build Your Technological Element.

A comunicação, a inteligência emocional, o espírito crítico, a capacidade de trabalhar em equipa e a plasticidade intelectual

serão pré-requisitos para os cidadãos do Amanhã e o CCG promove condições para que o seu desenvolvimento aconteça

desde o nascimento.

Page 9: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Colégio CCG // Ensino // Abr2019 // 9

Transversal a todas as valências do Colégio, mas com foco nos

anos que constituem o arranque da escolaridade básica, o pro-

jeto BYTE assenta numa metodologia de trabalho de projeto

colaborativo.

A par dos smartboards de última geração, conectados a dis-

positivos móveis com software pedagógico, da escola virtual e

dos computadores portáteis, os alunos passarão a usar regu-

larmente, em contexto de sala de aula, tablets e manuais digi-

tais. Passarão a ter no seu currículo uma disciplina designada

Projeto BYTE que se desenvolverá num espaço marcadamente

tecnológico (o Espaço BYTE) e que irá potenciar um trabalho di-

ferente, na medida em que os alunos irão, em pequenos grupos,

desenvolver projetos que têm em conta os seus interesses e

necessidades e cuja concretização resulta da sua ação, da sua

participação cooperativa e da sua agilidade comunicativa.

Todavia, temos a consciência de que, numa sociedade que

tende a ser cada vez mais tecnológica, são os valores humanos

que lhe podem dar sustentabilidade e trazer o equilíbrio tão ne-

cessário entre os avanços tecnológicos e o seu uso em prol do

bem-estar dos seres humanos. Por isso, os valores do brio, do

trabalho, da autoexigência, da solidariedade e do respeito por si

próprio como pessoa e pelo outro são as pedras basilares para

a construção de um Futuro que terá de os habilitar com compe-

tências que conciliem uma Formação Tecnológica com uma

vertente Humanista.

Há pouco, por exemplo, li um artigo em que um diretor de Re-

cursos Humanos da Samsung dizia que, numa primeira fase de

recrutamento, são avaliadas as “skills” mas, numa etapa final, o

elemento diferenciador eram as “soft skills”. Conscientes deste

facto, entendemos que características como a comunicação, a

inteligência emocional, o espírito crítico, a capacidade de traba-

lhar em equipa e a plasticidade intelectual serão, na nossa opi-

nião, pré-requisitos para os cidadãos do Amanhã e o CCG pre-

tende ser um espaço que promove condições para que o seu

desenvolvimento aconteça logo desde o nascimento. Estamos

a falar de competências que se situam mais no domínio do Ser,

na esfera do comportamental, que tendem a desenvolver-se

pela exercitação.

Por isso, é tão importante adquirir bons hábitos precoce-

mente na nossa vida, sendo que o autoconhecimento irá poten-

ciar uma melhoria contínua na evolução de cada criança como

pessoa e marcar no futuro, sem dúvida, toda a diferença num

mundo do trabalho cada vez mais competitivo. É neste contex-

to que irá surgir, a partir de setembro, no plano curricular de to-

dos os alunos, uma disciplina nova chamada Mindfulness, que

conjuga emoções, consciência e foco com equilíbrio, bem-estar

e positividade.

Pensar a Escola do futuroJulgo que já próximos do final da segunda década do século

XXI, os pais e a sociedade em geral têm consciência de que as

crianças nascidas nesta sociedade do conhecimento têm de ser

educadas e ensinadas para o Futuro, num paradigma de uma

escola diferente, que tem de ser mais apelativa, mais desafia-

dora e mais acolhedora. A dificuldade está, como em todos os

projetos, em operacionalizar os nossos objetivos e, por isso,

estamos sensíveis à necessidade imperiosa de monitorizar to-

do o trabalho que iremos desenvolver e de sermos humildes e

flexíveis para introduzir as alterações que se manifestem ne-

cessárias.

Contudo, as crianças não são cobaias e é, por isso, fundamental

que uma escola mobilize todos os profissionais de educação e to-

da a informação de que dispõe para refletir sobre estes desafios

antes de implementar qualquer plano de ação. No caso concreto

do Projeto BYTE, os encarregados de educação mostraram con-

fiança no projeto que lhes apresentamos e estão empenhados em

dar o seu contributo para mudarmos o paradigma da formação dos

educandos e construirmos, juntos, uma escola muito diferente da-

quela que tiveram enquanto alunos.

Os pais e a sociedade em geral têm consciência de que as crianças nascidas nesta sociedade do conhecimento têm de ser educadas e ensinadas para o Futuro, num paradigma de uma escola diferente, que tem de ser mais apelativa, mais

desafiadora e mais acolhedora.

Page 10: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

10 // Abr2019 // Ensino // Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa

FMH-ULisboa gera carreiras de sucesso

A FORMAÇÃO E A INVESTIGAÇÃO NA FMH–ULISBOA TEM GERADO PERCURSOS

PROFISSIONAIS DE EXCELÊNCIA COM RECONHECIDO IMPACTO SOCIAL.

.

“A Faculdade de Motricidade Humana está compro-

metida com a participação e o sucesso dos alunos e

com a influência na sociedade através da otimização

dos recursos humanos e do desenvolvimento do co-

nhecimento nas áreas da Educação, das Ciências So-

ciais, das Humanidades, do Desporto e da Saúde. De-

dica-se à formação graduada e pós-graduada espe-

cializada em Ciências do Desporto, Gestão do Des-

porto, Dança, Ergonomia e Reabil itação Psicomotora,

centrada no desenvolvimento de competências e co-

nhecimentos relevantes na formação de estudantes

conhecedores, competentes, íntegros, resil ientes e

influentes na sociedade.

Adota uma visão de sustentabil idade e aperfeiçoa-

mento permanente da excelência do ensino e da in-

vestigação, com reputação nacional e internacional.

Na sua identidade destaca-se uma longa história de

sucesso de formação de professores de Educação Fí-

sica, Treinadores, Psicomotricistas, Ergonomistas e

Fisiologistas do Exercício com abertura para a troca

de ideias, a l iberdade de expressão, o espírito solidá-

rio, a iniciativa empreendedora e a criação de novas

ofertas formativas para se dar resposta às necessi-

dades emergentes da sociedade. É uma identidade

também liderante nas suas áreas de atuação com um

corpo docente muito qualificado, empenhado no de-

senvolvimento pessoal dos alunos e na investigação.

São inúmeros os exemplos de profissionais de exce-

lência que obtiveram a educação na Faculdade de Mo-

tricidade Humana, trabalhando em Portugal ou no es-

trangeiro. O mesmo se passa no âmbito da investiga-

ção, em que alguns investigadores têm influenciado a

área de especialização no plano internacional. Uma

especial referência também para os programas junto

da comunidade com caraterísticas inovadoras envol-

vendo docentes, investigadores e alunos, contribuin-

do para uma apropriada integração da universidade

na sociedade e na resolução de algumas das suas ne-

cessidades e também ajudando os alunos a estarem

mais bem preparados para os desafios e para as

oportunidades atuais e do futuro.”

Luís Bettencourt Sardinha

Pós-graduado em High Performance Football Coaching, atualmente Treinador Adjunto na Seleção Nacional da Colômbia.

“A FMH–ULisboa é, obviamente, uma referência

nacional na área de estudo de Ciências do Desporto

e do Treino Desportivo e apesar de não ter tido a

oportunidade de ter sido aluno de l icenciatura ou de

mestrado sempre tive a ambição de frequentar um

ciclo de estudos na faculdade.

To m e i c o n h ec i m e n to d a p ó s - g ra d u a çã o H i g h

Pe rfo rm a n c e Fo o t b a l l Co a c h i n g , a travé s d e u m

a m i g o q u e freq u e n tava o c u r so d e m e stra d o e m

Tre i n o D e s p o rt i vo . O p te i p o r freq u e n t a r e st a p ó s -

- g ra d u a çã o p o r u m a co m b i n a çã o d e fa to re s : u m

p ro g ra m a d e e st u d o s b a sta n te co m p le to , co m

u m a co b e rt u ra a b ra n g e n te d e á rea s d i sc i p l i n a re s

q u e co n t ri b u e m p a ra u m e s tu d o s i ste m á t i co e s i s -

té m i co d o fu te b o l ; u m co rp o d o ce n te co n st i t u í d o

co m u m i m p o rta n te eq u i l í b ri o e n t re re p u t a çã o

a ca d é m i ca e exp e ri ê n c i a p ro fi s s i o n a l ; a o p o rt u n i -

d a d e d e i n teg ra r u m g ru p o d e a l u n o s m u lt i c u lt u ra l

e co m u m ca p i ta l d e exp e ri ê n c i a s q u e p o d e ri a re -

p re se n t a r “ u m c u r so d e n t ro d o c u r so ” ; o fa c to d e

o c u r so d eco rre r n a s d a t a s i n te rn a c i o n a i s F I FA e ,

p o r i s so , s e r p o s s í ve l co n j u g a r co m a a t i v i d a d e

p ro fi s s i o n a l n u m c l u b e . O bv i a m e n te q u e , p e rce b e r

q u e o c u r so se ri a co o rd e n a d o p e lo J o sé M o u ri n h o

e p e lo P ro f . A n tó n i o Ve lo so ( q u e j á co n h ec i a e co m

q u e m j á t i n h a co o p e ra d o n o u tro s p ro j e to s ) re fo r -

ço u a s u a c red i b i l i d a d e e a n tec i p o u o q u e m a i s p u -

d e co n fi rm a r : q u e o c u r so e ra u m a exce le n te o p o r -

t u n i d a d e d e d e se nvo lv i m e n to p ro fi s s i o n a l e p e s -

so a l .

A dinâmica imposta pelo curso, quer através da

mestria dos docentes, das atividades letivas ou

através da parti lha entre colegas, constituiu ao lon-

go da duração do curso importantes momentos de

reflexão e/ou questionamento sobre a prática pro-

fissional que de outro modo seria difíci l uma vez

imersos no ritmo desenfreado da vida de treinador

de futebol. A abertura e o grau de sofisticação com

que se debateram os temas mais pertinentes que

enfrentamos na prática profissional foram fatores

que aceleraram o meu desenvolvimento enquanto

treinador. A rede de contatos que se estabeleceu

com os colegas e com os docentes é, ainda hoje,

uma forte contribuição para o meu desenvolvimento

profissional. A plataforma on-line na qual os con-

teúdos do curso foram (e continuam a ser) disponi-

bil izados é uma mais-valia muito significativa e uma

oportunidade de termos acesso a conteúdos de ex-

celência que constituem uma ferramenta de forma-

ção contínua.”

Hugo Pereira

Page 11: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa // Ensino // Abr2019 // 11

Licenciado em Ciências do Desporto, atualmente a realizar o Doutoramento e a lecionar na Universidade de Edith Cowan (Austrália)

“Licenciei-me em 2014 em Ciências do Desporto na

FMH–ULisboa e atualmente estou a completar um douto-

ramento e a lecionar na Universidade de Edith Cowan, na

Austrália. Durante a minha licenciatura na FMH–ULisboa

fui me apercebendo que ali, na Cruz Quebrada, estava a

desfrutar de uma maravilhosa rampa de lançamento. En-

tão atirei-me de cabeça.

Tinha 17 anos quando fomos recebidos num ambiente de ab-

soluta integração: “Bem-vindos à melhor faculdade do mundo”.

Impossível discutir tal veracidade, mas de uma coisa tenho a

certeza: tornar-me motricitário foi a melhor decisão que pode-

ria ter feito. Um ambiente acolhedor, com uma localização privi-

legiada que fomenta a união e o sentimento de familiaridade.

O que me conduziu primariamente à escolha da FMH–ULisboa

foi o facto de saber que queria seguir o ramo académico e con-

tribuir para a nossa área através da investigação científica na

área do exercício físico. A FMH–ULisboa é um centro de excelên-

cia para a produção de conhecimento na área da motricidade

humana. E eu queria fazer isso por Portugal e pelo mundo fora. A

FMH–ULisboa possibilitou-me isso mesmo.

Hoje, enquanto ex-aluno, valorizo a proximidade e o carác-

ter saudável da relação docente-discente na FMH–ULisboa,

que na altura me possibilitou colaborar em projetos de inves-

tigação e descobrir o meu bichinho científico. Valorizo tam-

bém as suas relações internacionais estreitas, que me possi-

bilitaram estudar em Inglaterra um ano (ERASMUS), abraçar

um projeto de investigação (também em Inglaterra) no final

da minha licenciatura e agarrar um mestrado na área da Fi-

siologia do Exercício numa universidade bastante conceitua-

da na Finlândia. Hoje em dia, é importante não nos limitarmos

a um percurso curricular standard. A FMH–ULisboa mostra as

portas. Basta abrir, sorrir e descobrir.

Atualmente continuo ligado à FMH–ULisboa, através da

colaboração de projetos de investigação à distância. Cada vez

que regresso a Lisboa, passo pela Cruz Quebrada para reviver

emoções motricitárias e abraçar aqueles que estão longe,

mas perto.”

Ricardo Mesquita

Licenciada em Educação Especial e Reabilitação, Mestre em Reabilitação Psicomotora, atualmente a frequentar o Doutoramento em Motricidade Humana, na especialização de Reabilitação.

“A escolha de realizar o meu doutoramento na

FMH–ULisboa foi uma escolha natural . É aqui que

tenho as maiores referências académicas e con-

fio nesta instituição e nas pessoas que dela fa-

zem parte. Além disso sabia que aqui continuava

a ter junto de mim pessoas que falavam a minha

l inguagem.

Esta é, sem dúvida, uma Faculdade de referên-

cia a nível nacional e internacional nas suas áreas

de estudo e tem feito uma evolução e percurso

notáveis na investigação nos últimos anos.

A minha experiência no seio da FMH iniciou em 1996

com a Licenciatura e agora decidi voltar para fazer

o Doutoramento. Tem sido uma experiência mui-

to positiva e de uma grande aprendizagem con-

junta. Neste momento, estou mais afastada da

vivência do espaço físico, mas continuo a sentir-

-me verdadeiramente próxima da Faculdade,

principalmente das minhas orientadora e co-

-orientadora, que se mantêm sempre presentes

e apoiantes neste processo.

No futuro, o meu objetivo é continuar na inves-

tigação, para a qual já tenho algumas ideias de

novos estudos, e desenvolver um percurso mais

consistente como docente”.

Susana Guimarães

Licenciada em Ciências do Desporto, atualmente a frequentar o Mestrado em Exercício e Saúde.

“O que me fez escolher a FMH–ULisboa para estudar na

licenciatura foi o facto de se tratar de uma faculdade com

grande investigação na área do desporto, exercício e saú-

de que pretende dotar os seus alunos com o conhecimen-

to científico mais atualizado.

O que distingue a FMH–ULisboa de outras instituições

congéneres é, entre outras coisas, a sua localização privi-

legiada, visto que se encontra envolvida pelo Centro Des-

portivo Nacional do Jamor que, além das suas zonas ver-

des e de lazer, possui uma série de infraestruturas des-

portivas de grande qualidade como o Complexo de Pisci-

nas, Centro de Treino de Ténis, Clube de Canoagem,

Estádio Nacional e Centro de Alto rendimento, locais utili-

zados pelos estudantes da faculdade durante as aulas. A

constante inovação e pesquisa por novos conhecimentos

confere distinção à FMH–ULisboa, visto que os vários la-

boratórios de investigação sediados na faculdade produ-

zem conhecimento científico reconhecido a nível nacional

e internacional.

A minha experiência na FMH–ULisboa tem sido muito

enriquecedora tanto a nível pessoal como académico,

desde participar em equipas de desporto universitário,

passando pelos eventos sociais até à participação em

eventos na comunidade onde as aprendizagens e conhe-

cimentos académicos são postos em prática e mostram

resultados, sendo muitas vezes os docentes da instituição

que nos proporcionam estas oportunidades.

No segundo ano de mestrado irei realizar Tese ou Está-

gio e ainda não decidi se irei dar continuidade à minha car-

reira académica via pós-graduação ou doutoramento,

mas com certeza que se o fizer, será na FMH–ULisboa.”

Helena Lima Bernardo

Page 12: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

12 // Abr2019 // Ensino // Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

Responder aos desafios das Ciências Farmacêuticas, em Portugal e no mundo

ENQUANTO DIRETOR DA FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, FRANCISCO VEIGA

APRESENTA OS TRAÇOS IDENTITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO QUE SE CONSTITUI COMO UMA

INCONTORNÁVEL REFERÊNCIA NA SUA ÁREA, NÃO APENAS EM PORTUGAL, MAS TAMBÉM ALÉM-

FRONTEIRAS. PARA ALÉM DA OFERTA FORMATIVA, FAZ-SE ALUSÃO A DOMÍNIOS COMO A

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E OS DESAFIOS QUE SE ANTECIPAM NO FUTURO.

A Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra

(FFUC) tem hoje todas as condições para vencer os com-

plexos desafios que nos inquietam. Temos estudantes de

qualidade que acedem aos nossos cursos com médias ele-

vadas, temos um corpo docente altamente qualificado, te-

mos uma oferta formativa alargada e diferenciadora, relati-

vamente às restantes Faculdades de Farmácia do país, te-

mos ainda funcionários dedicados e experientes nas suas

funções. A todos estes pontos fortes, acrescem instala-

ções de ensino e investigação modernas de enorme quali-

dade que estão ao nível das melhores da Europa.

A FFUC é uma das unidades orgânicas da Universidade de

Coimbra com melhores indicadores no que diz respeito a

sucesso escolar, qualidade pedagógica, produtividade

científica, atratividade de estudantes, custos de funciona-

mento por metro quadrado, nível de equipamento pedagó-

gico e científico, e muitos outros. Por isso, é legítimo afir-

mar peremptoriamente, que temos uma Faculdade atrativa,

empreendedora e com futuro, onde existe uma cultura de

excelência, cada vez mais competitiva e que é reconhecida

nacional e internacionalmente.

Oferta formativa de referênciaA FFUC possui uma oferta formativa diversificada, con-

substanciada em dois cursos de Licenciatura (“Farmácia

Biomédica” e “Ciências Bioanalíticas”), no “Mestrado Inte-

grado em Ciências Farmacêuticas”, em seis cursos de Mes-

trado (“Mestrado em Análises Clínicas”, “Mestrado em Bio-

tecnologia Farmacêutica”, “Mestrado em Farmacologia

Aplicada”, “Mestrado em Química Farmacêutica Industrial”,

“Mestrado em Segurança Alimentar” e “Mestrado em Tec-

nologias do Medicamento”), no curso de “Doutoramento

em Ciências Farmacêuticas”com 14 especialidades e que

acolhe, no seu seio, o “Programa de Doutoramento em Em-

presa: Drugs Research & Development”, financiado pela

FCT e realizado em consórcio com 12 das melhores empre-

sas nacionais de indústria farmacêutica.

Oferece, ainda, dois cursos de pós-graduação, não con-

ferentes de grau: “Curso de Pós-Graduação em Medica-

mentos e Produtos de Saúde à Base de Plantas” e “Curso

de Pós-Graduação em Gestão e Direção em Saúde – GE-

DIS”, sendo este último alicerçado numa parceria com a Fa-

culdade de Medicina e com a Faculdade de Economia da UC.

Esta diversidade formativa e a indissociável investigação

pluridisciplinar desenvolvida tornam a FFUC uma instituição

verdadeiramente singular no panorama nacional e interna-

cional do ensino farmacêutico.

Desde há mais de uma década que o quadro de docentes

de carreira da FFUC é inteiramente constituído por profes-

sores com doutoramento, maioritariamente em domínios

das Ciências Farmacêuticas, altamente qualificados e dife-

renciados. Em complemento, a FFUC tem tomado a iniciati-

va de integrar na docência reconhecidos profissionais de

setores-chave de atividade que, com o estatuto de docen-

tes convidados, contribuem com as suas competências e

experiência para um ensino dinâmico e contextualizado

com as realidades sociais e do mercado de trabalho.

Empregabilidade e parceriasDuma forma geral, as perspetivas de empregabilidade

associadas à formação ministrada na FFUC são considera-

das muito boas. Os dados disponíveis indicam que mais de

80% dos Estudantes que terminam o curso de Ciências Far-

macêuticas (curso core da FFUC que representa mais de

2/3 de todos os graduados em cada ano) conseguem um

posto de trabalho nos três meses subsequentes ao térmi-

nus do curso.

A FFUC tem mais de duzentas parcerias ativas com em-

pregadores nacionais da área das Ciências da Saúde. Per-

mitimo-nos destacar não só as Farmácias Comunitárias, os

Hospitais Públicos e Privados, a Indústria Farmacêutica e o

INFARMED, mas também os Laboratórios do Estado como o

INSA e o INIAV, os Laboratórios de Análises Clínicas e as

Empresas de Distribuição Farmacêutica, só para referir lo-

cais mais procurados pelos nossos Estudantes para reali-

zar estágios, sejam curriculares ou extracurriculares.

A FFUC é uma das unidades orgânicas da Universidade de Coimbra com melhores indicadores de sucesso escolar,

qualidade pedagógica, produtividade científica, atratividade de estudantes, custos de funcionamento por metro quadrado e

nível de equipamento pedagógico e científico.

Page 13: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra // Ensino // Abr2019 // 13

Acrescem também as parcerias com os Centros de Inves-

tigação – quer nacionais, quer transnacionais –, onde os

nossos Estudantes realizam estágios em áreas tão impor-

tantes como a Investigação e a Inovação.

O imperativo da internacionalização

A FFUC posiciona-se e concorre no panorama internacio-

nal. Desde logo, no plano institucional, além de ser parte

ativa em todas as redes internacionais que a Universidade

de Coimbra lidera, integra ainda outras que são específicas

do seu setor, das quais destacamos, pelo reconhecimento

que nos tem sido dado, a rede Latino-americana de Facul-

dades de Farmácia - COIFFA.

No plano da cooperação científica, a maioria dos nossos

investigadores estende o seu trabalho e mantém colabora-

ção com grupos de investigação de topo, em todos os con-

tinentes, o que se reflete nos indicadores de internacionali-

zação da sua produção científica. Alguns são, também,

membros ativos de Sociedades Científicas Internacionais,

ao passo que outros são peritos de organismos regulado-

res, tais como a Agência Europeia do Medicamento ou a

Agência de Segurança Alimentar.

Na FFUC é também estimulada a mobilidade internacio-

nal de estudantes e de docentes (suportada, sobretudo,

por programas de mobilidade Europeus e da América Lati-

na). No ano letivo de 2017/2018, colocámos estudantes em

21 universidades estrangeiras e recebemos estudantes de

27 instituições (no total de 12 nacionalidades).

Investigação científica

Todos os indicadores mostram que a FFUC assume um

lugar de destaque no que respeita à produtividade e quali-

dade da sua investigação. É pertinente destacar que 90%

dos professores e investigadores da FFUC integram cen-

tros de investigação de excelência, como são exemplos o

consórcio Centro de Neurociências e Biologia Celular / Ins-

tituto Biomédico de Investigação da Luz e da Imagem –

CNC/IBILI, o Centro de Engenharia dos Processo Químicos e

Produtos da Floresta – CIEPQPF, o Centro de Química de

Coimbra – CQC, o Centro de Centro de Estudos Interdiscipli-

nares do Século XX – CEIS XX, ou a Rede de Química e Tec-

nologia –REQUIMTE.

Centrada, sobretudo, nos domínios das Ciências da Vida e

da Saúde, é uma investigação diversificada e interdiscipli-

nar que tem trazido contribuições importantes para o avan-

ço da Ciência e para a Humanidade, como, por exemplo, a

elucidação de mecanismos de doença e de novos alvos te-

rapêuticos (sobretudo associados a doenças metabólicas e

neurodegenerativas), o desenvolvimento e modelização de

novos fármacos (de origem natural e sintética), o desenvol-

vimento novas formas farmacêuticas e de vetorização de

fármacos (formas para administração oral de insulina e va-

cinas, vectorização de fármacos antitumorais, etc.) avalia-

ções farmacoepidemiológicas e de tecnologias da Saúde,

avaliações de impacto dos resíduos de medicamentos em

alimentos e no ambiente, entre outras.

Desafios para o futuroA área da Saúde é, desde sempre, um domínio em cons-

tante renovação. Nos dias de hoje, estima-se que 20% do

conhecimento nesta área fique desatualizado a cada cinco

anos. Dito de uma forma mais prosaica, quando o Estudan-

te termina o seu curso de cinco anos, o que “aprendeu du-

rante um ano” já está desatualizado. Assim, já hoje na FFUC

se faz frequentemente referência a este facto e se reco-

menda e se pratica a constante atualização de conheci-

mentos.

O domínio científico da Saúde é, porventura, o mais im-

pactante, socialmente falando. Não será de estranhar que, a

par de todos os avanços tecnológicos que todos anseiam,

se avalie cada vez mais o binómio risco/benefício dessas

tecnologias (e não esquecer que as tecnologias do medica-

mento são das que mais benefícios têm conseguido na me-

lhoria de qualidade de vida dos cidadãos). Ora, a par com

todo este desenvolvimento, é cada vez mais evidente que a

área de gestão/organização deste setor tem que contar

com conhecimentos multidisciplinares que possam condu-

zir à melhor otimização de recursos possível. A FFUC já ho-

je está atenta a este desígnio e a sua abertura para colabo-

rar com outras áreas do conhecimento, com o objetivo de

melhorar o papel social da Saúde, é total.

FFUC_I_V.png (imagem PNG, 2287 × 2230 pixeis) - Redimensionado... https://www.uc.pt/identidadevisual/Marcas_UC_submarcas/FFUC/F...

1 de 1 28/03/2019, 12:08

A Faculdade tem tomado a iniciativa de integrar reconhecidos profissionais que, com o estatuto de docentes convidados,

contribuem com as suas competências e experiência para um ensino dinâmico e contextualizado com as realidades sociais

e do mercado de trabalho.

Page 14: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

14 // Abr2019 // Ensino // Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro

Estudar as Ciências Médicas num ambiente interdisciplinar

MANUEL SANTOS, DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS MÉDICAS (DCM) DA UNIVERSIDADE DE

AVEIRO, APRESENTA O CARIZ DIFERENCIADOR DE UMA OFERTA FORMATIVA QUE PREPARA OS

ESTUDANTES PARA OS GRANDES DESAFIOS DA NOSSA SOCIEDADE. PARALELAMENTE, REFLETE-SE SOBRE O DECISIVO CONTRIBUTO QUE SE RESERVA À INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA NUM FUTURO CADA VEZ

MAIS PRÓXIMO.

Instituído em novembro de 2016, o DCM constitui-se co-

mo um organismo dotado – tal como contextualiza o seu

diretor – “de uma visão abrangente e multidisciplinar das

Ciências Médicas”, incorporando um corpo de docentes,

investigadores e técnicos jovens, que tem vindo a consoli-

dar-se desde então. Subjacente a toda a atividade deste

núcleo é a visão abrangente das Ciências Médicas, inte-

grando de modo multidisciplinar a Biomedicina, a Enge-

nharia Biomédica, a Psicologia, a Bioquímica, a Biotecno-

logia, a Estatística Médica, a Enfermagem e a Fisioterapia,

numa perspetiva de preparar profissionais para a Investi-

gação Biomédica, a Investigação Clínica e a Gestão da In-

vestigação Clínica.

Longe de se assumir enquanto elemento inédito, tama-

nha perspetiva de “interdisciplinaridade” corresponde a

“uma marca muito forte da Universidade de Aveiro”, uma

instituição desde sempre convicta da importância de não

existirem “áreas científicas estanques”, mas antes “um

cruzamento de saberes”, que permita uma mais abran-

gente materialização do conhecimento. Naturalmente, o

reflexo deste entendimento pode ser reconhecido não

apenas mediante a oferta formativa do Departamento,

como também na intensa atividade de investigação cientí-

fica que o tem vindo a caracterizar. Se, nesse sentido,

muita da atividade pedagógica do DCM se concentra na li-

cenciatura em Ciências Biomédicas (que engloba dois me-

nores no 3º ano: Biomedicina Molecular e Biomedicina Far-

macêutica), importará sublinhar a rede de colaborações

aqui celebradas no âmbito da oferta de mestrados.

De facto, e em consonância com os cursos de 2º ciclo em

Biomedicina Molecular ou em Tecnologias da Imagem Médi-

ca, são também dinamizados mestrados nas áreas de Ges-

tão da Investigação Clínica (em parceria com a Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa), Estatísti-

ca Médica (em colaboração com o Departamento de Mate-

mática) e Bioquímica Clínica (em harmonia com o Departa-

mento de Química). Importa, posto isto, referir ainda a exis-

tência de um programa doutoral em Biomedicina (uma vez

mais, em colaboração com a Faculdade de Ciências Médicas

da Universidade Nova de Lisboa), bem como a participação

do DCM na formação de 3º ciclo desenvolvida, na Universida-

de de Aveiro, em Bioquímica e em Biotecnologia.

Uma formação diferenciadoraFalar da licenciatura em Ciências Biomédicas é fazer-se

alusão a um ciclo de formação em que, pura e simplesmente,

“não existe desemprego”, atendendo à diversificação das

saídas profissionais a ele associadas. Nesse sentido, “uma

componente das Ciências Biomédicas está muito ligada à in-

vestigação científica”, começa por esclarecer Manuel Santos,

antes de acrescentar que muitos dos estudantes que se-

guem esta vertente “acabam por integrar-se em institutos

de investigação e por seguir uma carreira académica”. Existe,

por outro lado, uma significativa parte de estudantes cujo

percurso profissional se entrecruza com as necessidades de

empresas dedicadas a ensaios clínicos ou à indústria farma-

cêutica. Por fim, destaca-se um outro grupo de estudantes

que, uma vez concluída a licenciatura, opta por ingressar em

cursos de Medicina.

Falar da licenciatura em Ciências Biomédicas é fazer-se alusão a um ciclo de formação em que, pura e simplesmente,

“não existe desemprego”, atendendo à diversificação das saídas profissionais a ele associadas.

Page 15: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro // Ensino // Abr2019 // 15

Mais, todavia, do que contentar-se com as promissoras

perspetivas de empregabilidade que a licenciatura em

Ciências Biomédicas assegura, o Departamento tem vindo

a dinamizar e a reforçar, ano após ano, “um modelo inova-

dor de ensino” que tem por base o conceito de “aprendi-

zagem ativa”. Significa isto que, ao longo do seu percurso

académico, os estudantes não só assistirão às tradicio-

nais aulas de natureza teórica, como serão também desa-

fiados, ao abrigo de diversas unidades curriculares, a “re-

solver problemas” numa lógica que privilegia a autonomia,

a capacidade de argumentação, o sentido crítico e – claro

está – o trabalho em equipa. Falamos, por outras palavras,

de um sistema de “Problem based learning” (PBL), em que

os docentes se encarregam de organizar os estudantes

em grupos de trabalho e de monitorizar (ou, quando ne-

cessário, reorientar) o seu progresso no alcance dos obje-

tivos de aprendizagem estabelecidos.

Ainda que relativamente recente, esta metodologia de

ensino (que se diferencia pela forte ênfase numa compo-

nente experimental) tem vindo a recolher interessantes

frutos: “o feedback que temos recebido das empresas e

das unidades de investigação que integraram os nossos

estudantes é que eles são excelentes a resolver proble-

mas, não ficam preocupados com aquilo que surge à sua

frente e, para além disso, são também bons líderes de

equipa”, sustenta o diretor. Um aspeto que, por seu turno,

contribui para reforçar o promissor futuro dos estudantes

do DCM reside na rede de parcerias que esta jovem unida-

de orgânica da UA tem vindo a celebrar, quer junto dos

“melhores institutos nacionais de investigação Biomédica

e de Medicina Molecular”, quer no seio de “empresas –

sejam start-ups, sejam SMEs – focadas na gestão de in-

vestigação clínica”, lembra Manuel Santos. Igualmente va-

lioso é, no entanto, o contributo que estes alunos podem

proporcionar em unidades hospitalares, na medida em

que “existem muitos ensaios clínicos a decorrer nos hos-

pitais e estes nem sempre têm os recursos humanos dis-

poníveis para os gerir”, sustenta o porta-voz.

Desafios da investigação científica

Atendendo às características da sua missão, a in-

vestigação científica corresponde a outro dos impor-

tantes pilares em torno dos quais se sustenta o tra-

balho do DCM. A comprová-lo, bastará sublinhar que

este é um dos diversos Departamentos da Universi-

dade de Aveiro que colabora no iBiMED (Institute for

Biomedicine) – um centro de investigação criado em

2015 e que obteve, logo no seu primeiro processo de

avaliação, a classificação de “Excelente”. Pese embo-

ra esta unidade de I&D seja de constituição recente e

ainda se encontre em fase de “consolidação”, Manuel

Santos lembra “o elevado sucesso” já obtido “na an-

gariação de financiamento e de bolsas para doutora-

mento”. Com efeito, “a nossa dimensão é considera-

velmente menor do que os grandes institutos nacio-

nais, mas temos feito investigação científica que é

competitiva a nível internacional e, neste momento,

estamos a percorrer um caminho de interação com os

hospitais”, afirma.

Concomitantemente, “não há dúvida de que a investi-

gação biomédica portuguesa tem contribuído bastante

para a compreensão de múltiplas patologias”, avança o

nosso interlocutor, quando questionado sobre o impac-

to que esta área científica assume no bem-estar da so-

ciedade. Contudo, para além de promover a qualidade

de vida da população, o trabalho de investigação dina-

mizado em unidades como o iBiMED poderá assegurar

respostas a desafios como sejam “a diminuição dos

custos da Saúde”, que têm vindo a “crescer de uma for-

ma preocupante”, na sequência de fenómenos como

sejam o envelhecimento da população. Um fator que, no

entender de Manuel Santos, se afigurará cada vez mais

decisivo é o desenvolvimento da “medicina personali-

zada”, a qual pressupõe – em termos gerais – “que o

médico possua ferramentas que lhe permitam analisar

cada paciente de uma forma diferenciada, diagnosti-

cando e planeando a terapêutica mais adequada” a cada

caso.

Encarar o horizonteUma vez identificados alguns dos imperativos a que a

investigação científica associada às Ciências Médicas de-

verá atender no futuro próximo, importa lembrar as outras

ambições que o DCM antecipa no seu horizonte. No que à

formação diz respeito, por exemplo, o diretor sublinha “a

intensificação da componente experimental da licenciatu-

ra, que poderá envolver a participação dos estudantes em

projetos de investigação desde muito cedo”, possibilitan-

do que os alunos contribuam de uma forma ainda mais

ativa na produção de conhecimento.

Em sintonia com este objetivo, estarão os continua-

dos esforços de transição do modelo pedagógico, a fim

de que este se torne, cada vez mais, num processo de

“aprendizagem baseada em projetos”. Salvaguardando,

ainda assim, que “os desafios são sempre contínuos”,

continuarão a fazer parte das linhas-mestras do DCM o

reforço das “interações com universidades estrangei-

ras”, o desenvolvimento de “cursos avançados para os

docentes”, a dinamização da “internacionalização” e o

alargamento da “rede de interações do Departamento

com a indústria”.

Departamento de Ciências Médicas

Ao longo do seu percurso académico, os estudantes não só assistirão às tradicionais aulas de natureza teórica, como

serão também desafiados, ao abrigo de diversas unidades curriculares, a “resolver problemas” numa lógica que privilegia a autonomia, a capacidade de argumentação, o sentido crítico

e – claro está – o trabalho em equipa

Page 16: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

16 // Abr2019 // Ensino // Coimbra Business School | ISCAC

Formar os grandesempresários do futuro

O PRESIDENTE DA COIMBRA BUSINESS SCHOOL | ISCAC, PEDRO NUNES DA COSTA, SUBLINHA OS

TRAÇOS IDENTITÁRIOS DE UMA ESCOLA COMPROMETIDA NÃO APENAS COM O SUCESSO DOS

SEUS ESTUDANTES, MAS TAMBÉM COM O ENRIQUECIMENTO DA CULTURAL EMPRESARIAL DO

TECIDO PORTUGUÊS.

A Coimbra Business School | ISCAC é uma Escola moderna,

reconhecida pela excelência, referência não só ao nível da quali-

dade pedagógica, técnica e científica – absolutamente funda-

mentais – mas também como espaço aberto, pluridimensional,

humanista, de liberdade académica, de reflexão e crítica. So-

mos, efetivamente, uma das escolas que melhor prepara os

seus alunos para serem competitivos no trabalho, nas empre-

sas, em Portugal. Garantimos maior empregabilidade, porque o

reconhecimento da qualidade dos nossos diplomados, pelo

mercado, é cada vez maior.

O foco na inovação nas ciências empresariais passou a ser o

horizonte central de toda a atividade de professores, alunos e

funcionários da Coimbra Business School. Como a investigação

e a inovação se tornaram condição imprescindível para o desen-

volvimento sustentável do país – baseado na criação de riqueza

pelas empresas através de atividades especializadas geradoras

de elevado valor acrescentado –, os nossos ciclos de estudo

passaram a ter uma forte componente de aplicação prática, que

atende às reais necessidades da indústria, das empresas e da

comunidade, desenvolvendo competências na gestão e na cria-

ção de produtos, serviços e processos. É isso que torna as nos-

sas licenciaturas, mestrados e pós-graduações tão competiti-

vas face a outras ofertas do ensino superior politécnico ou uni-

versitário.

Sempre que possível, a formação da Coimbra Business

School é desenvolvida em contexto empresarial – grandes

empresas, PME’s, centros tecnológicos, polos de inovação –

permitindo que os nossos estudantes se formem como qua-

dros de elevado desempenho, com potencial para desenhar e

implementar estratégias de sucesso para a inovação e inter-

nacionalização da economia portuguesa. Paralelamente, nos

últimos anos foram reforçadas as qualificações académicas

do corpo docente, apoiando e incentivando a obtenção dos

graus de doutor e de títulos de especialista, obrigatórios pa-

ra efeitos de acreditação dos cursos ministrados e, simulta-

neamente, necessários para garantir a sua estabilidade con-

tratual.

Para além disso, e em consonância com a realização de

trabalhos de investigação de grande qualidade internacional,

a Coimbra Business School organiza muito regularmente, nas

suas instalações, conferências nacionais e internacionais, de

grande relevância científica. Em síntese, toda esta dinâmica

irá produzir mais e melhor inovação nas ciências empresa-

riais ministradas na Coimbra Business School, estruturando,

enquadrando e orientando toda a sua política de estímulo e

de oferta de condições para a investigação e para produção

científica no seu interior.

A formação que faz a diferençaNa Coimbra Business School estamos centrados nos nossos

estudantes, na qualidade da sua formação – humana e técnico-

-científica – e no seu futuro. A Escola é vista, também, como es-

paço de cultura, de livre pensamento e liberdade. Esse tem sido,

nos últimos anos, um fator distintivo na afirmação da Coimbra

Business School como uma Escola completa, capaz de propor-

cionar uma formação cívica e humana, complementar à tradi-

cional formação científico-técnica, de confirmada qualidade.

Como presidente da Escola, creio que a chave é a nossa flexi-

bilidade perante a evolução das ciências, a nossa rapidez para

nos adaptarmos ao que as empresas precisam e ao que os no-

vos gestores procuram. Numa frase: a nossa capacidade de fa-

zer diferente. Por exemplo: numa cidade universitária como

Coimbra, não há nenhuma instituição que organize mais confe-

rências científicas de gestão, económicas, políticas e sociais,

seminários, debates, palestras e tertúlias do que a Coimbra Bu-

siness School. Tornámo-nos numa Escola que é mais do que

uma Escola: somos o principal fórum de discussão científica,

económica, social e política da região Centro e, seguramente,

um dos principais do país.

Sucesso profissionalA Coimbra Business School é reconhecida pela excelência dos

seus diplomados e pela grande empregabilidade e capacidade

empreendedora que estes revelam. A transferência de conheci-

mento para a sociedade – um dos pilares da estratégia da nos-

sa Escola – em necessária articulação com o ensino e a investi-

gação realizadas na Coimbra Business School, reflete, de modo

holístico, o relacionamento da Escola com o seu exterior, no seu

contexto social, cultural e económico, com base numa coopera-

ção regular mútua.

Na verdade, somos uma verdadeira Escola-Empresa, os nos-

sos alunos realizam auditorias e processos de recrutamento em

contexto real e os nossos finalistas desenvolvem aplicações e

sistemas de informação que resolvem problemas concretos em

organizações reais. Além disso, possibilitamos que os nossos

alunos prossigam os seus estudos em algumas das melhores

universidades europeias nossas parceiras.

Quando saem para o mercado de trabalho, os nossos alu-

nos já parecem quadros com elevada experiência. Esta é,

penso eu, a principal razão pela qual os estudantes preferem

Somos uma Escola que é mais do que uma Escola: somos o principal fórum de discussão científica, económica, social

e política da região Centro e um dos principais do país.

Page 17: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Coimbra Business School | ISCAC // Ensino // Abr2019 // 17

nacionais e internacionais, possuindo currículos e compe-

tências científicas de nível internacional.

Num país onde a formação de elevado nível está ainda

muito abaixo do patamar de países mais desenvolvidos, as

empresas precisam de quadros com potencial para desenhar

e implementar estratégias de sucesso para a inovação e in-

ternacionalização da economia portuguesa. Logo, tanto a

formação de quadros que já trabalham em empresas, como a

realização de projetos em organizações reais – estudando

problemas reais, mas, também, ajudando a resolver proble-

mas concretos “in loco” – serão decisivos, não só para elevar

a qualidade do nosso ensino, mas, igualmente, para ajudar a

qualificar a economia portuguesa em termos de gestão, de

ciência e de tecnologia.

Pensar o futuroO grande desafio é perceber (e integrar) que as caraterísti-

cas mais rentáveis dos negócios contemporâneos depen-

dem dessa coisa imaterial chamada “criatividade”. E com-

preender que a ciência, a inovação e a criatividade surgem

com mais espontaneidade – e com mais potencial para se-

rem rentáveis – em ecossistemas em que as pessoas se

sentem mais felizes e realizadas. O presente e o futuro preci-

sam de um tipo de gestão que vá ao mais fundo das relações

entre as pessoas, que vá ao mais fundo da arte de motivar

muitas pessoas, todas elas diferentes, o que implica uma

forma específica – e, portanto, necessariamente diferente –

de motivar cada uma delas. Isto não é fácil em nenhuma es-

cala, mesmo pequena – basta ter filhos para perceber isso.

Mas é particularmente complexo em organizações que te-

nham dezenas, centenas, milhares ou dezenas de milhar de

trabalhadores. Este é, creio eu, o principal desafio que os

profissionais das Ciências Empresariais terão de enfrentar no

futuro.- As empresas precisam de quadros com potencial

para desenhar e implementar estratégias de sucesso para a

inovação e internacionalização da economia portuguesa.

Somos uma verdadeira Escola-Empresa: os nossos alunos realizam auditorias e processos de recrutamento

em contexto real e os nossos finalistas desenvolvem aplicações e sistemas de informação que resolvem

problemas concretos em organizações reais.

tíssimo, enquanto promotora de cooperação, a um nível mais

precoce, entre os estudantes e a sociedade.

Aposta na internacionalizaçãoEstamos a captar cada vez mais alunos internacionais para

os nossos cursos (conferentes e não conferentes de grau),

através da apresentação e divulgação da nossa Escola e da

nossa oferta formativa em escolas secundárias de outros

países, desde logo países da Lusofonia, da América Latina e

com comunidades portuguesas significativas.

A nossa participação em projetos internacionais de coope-

ração e mobilidade não tem parado de aumentar. Ao mesmo

tempo, estamos a estabelecer acordos de cooperação bila-

terais com instituições de todo o mundo e temos programas

de divulgação, entre os estudantes, de oportunidades de

mobilidade e de estágios internacionais.

Investigação científicaAlguns docentes da Coimbra Business School colaboram

em centros de investigação competitivos, acreditados pela

Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), alguns deles

com polos ou mesmo sedeados nos próprios politécnicos.

Temos ainda muitos professores que integram programas de

doutoramento e orientam doutorandos em universidades

vir estudar na Coimbra Business School e esgotam, logo na

primeira fase, a totalidade das vagas disponíveis da nossa

oferta formativa.

Uma rede de grandes parceriasA Coimbra Business School tem promovido e dinamizado o

estabelecimento de redes de parcerias com organizações na-

cionais de grande relevo em áreas de atuação alinhadas com as

preocupações e desafios do país: entidades públicas e privadas,

associações empresariais, instituições de solidariedade social e

instituições de ensino superior e não-superior.

No domínio da prestação de serviços, há um grande dinamis-

mo dos nossos laboratórios, através do estabelecimento de re-

des de parcerias com mais de um milhar de organizações ex-

ternas, nacionais e internacionais, de relevo. Desses laborató-

rios, destacam-se: o RISKLAB (para a área de auditoria e risco),

o TecLab (para as tecnologias de informação), o LABORatório

(em parceria com a UGT, para a área das condições de trabalho),

o TAXLAB (Laboratório fiscal, na área da ciência fiscal), o POL-

LAB (de estudos de mercado e sondagens), o Observatório do

Comércio (estudos no âmbito do comércio tradicional) e o Vo-

luntas (Gabinete de Voluntariado).

Por outro lado, a ISCAC Junior Solutions (IJS) – a empresa jú-

nior da Coimbra Business School, única no país associada a um

instituto politécnico, tem desempenhado um papel importan-

Page 18: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

18 // Abr2019 // Ensino // Departamento de Física da Universidade de Coimbra

A excelência da formação em Física

tudantes, tirando partido de elementos como sejam a sua especial

“versatilidade”, tal como sublinha o diretor do Departamento, José

António Paixão. São, a este respeito, amplos os exemplos de su-

cesso que o nosso interlocutor poderia enumerar: “os engenheiros

físicos são profissionais que para além dos seus conhecimentos

nas tecnologias baseadas na Física Moderna são também muito

competentes em programação e instrumentação, incluindo inter-

faces com equipamento industrial”, sustenta.

Mas o input destes recém-licenciados não se exprime somente

nos setores mais associados à indústria. Também “empresas de-

dicadas às áreas da consultadoria, da banca e dos seguros” têm

vindo a procurar candidatos formados em Física ou Engenharia Fí-

sica, dado que apresentam “uma grande habilidade para resolver

problemas, bem como uma capacidade analítica” bastante admi-

rada no mercado de trabalho, nomeadamente em modalidades

como sejam o desenvolvimento de algoritmos.

Não será, por outro lado, incomum encontrar estudantes destes

universos científicos a prosseguir carreiras no âmbito da investiga-

ção capazes de os levar aos mais diversos laboratórios, não apenas

em Portugal, mas também no panorama internacional. Sublinhe-

-se, por fim, a apetência que diversas unidades hospitalares têm

demonstrado em integrar alunos formados em Engenharia Bio-

médica, bem como o serviço de “interesse nacional” que o DF as-

segura ao ministrar um dos poucos mestrados dedicados à forma-

ção de docentes para o Ensino Secundário nas áreas da Física e da

Química.

Aposta na internacionalizaçãoObedecendo ao seu estatuto enquanto Departamento Uni-

versitário, o DF assume uma estratégia de contínua internacio-

nalização, consubstanciada por duas verentes que se entrecru-

zam: o ensino e a investigação científica. Nesse sentido, e em

consonância com a ampla consolidação de uma série de pro-

gramas de mobilidade que tem permitido acolher e promover o

intercâmbio de estudantes oriundos das mais heterogéneas

geografias, sublinhe-se o contributo que os investigadores e

docentes do DF tem prestado no avanço do conhecimento cien-

tífico, ao abrigo de “grandes colaborações internacionais” que

têm sido protagonizadas pelas unidades de investigação afetas

ao DF.

Efetivamente, “Coimbra está desde há muitos anos associa-

da a grandes projetos internacionais na área da Física”, não de-

vendo constituir surpresa que o Departamento de Física conte-

nha, nas suas instalações, laboratórios, oficinas e equipamen-

tos de topo, incluindo um supercomputador de alto desempe-

nho.

DISPONDO DOS MAIS AVANÇADOS EQUIPAMENTOS CIENTÍFICOS E COMPUTACIONAIS, O DEPARTAMENTO DE

FÍSICA (DF) DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA CARACTERIZA-SE PELA QUALIDADE DA SUA OFERTA

FORMATIVA E PELA INTENSA INTERNACIONALIZAÇÃO.

Integrado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universida-

de de Coimbra, o DF conta com um prestigiado corpo docente

constituído por cerca de 50 especialistas doutorados nos domínios

da Física, da Engenharia Física e – mais recentemente – das áreas

científicas em interface com a Biomedicina. Nesse sentido, e fazen-

do jus à sua missão de ministrar uma oferta formativa em sintonia

com a qualidade e exigência dos grandes modelos internacionais, o

DF proporciona uma licenciatura e um mestrado em Física, bem

como mestrados integrados nas áreas de Engenharia Física e de

Engenharia Biomédica. A este leque acrescentam-se ainda cursos

de 2º ciclo nas áreas de Astrofísica e Instrumentação para o Espa-

ço, bem como de Ensino de Física e de Química.

Igualmente digno de nota é o conjunto de programas doutorais

coordenados pelo Departamento, que se multiplicam pelo âmbito

da Física, da Engenharia Física, da Engenharia Biomédica e da His-

tória das Ciências e Educação Científica. Paralelamente, o DF tem

colaborado num conjunto de outras formações de 3º ciclo (em par-

ceria com outros Departamentos da UC ou, inclusivamente, outras

universidades) que pressuponham o envolvimento das suas áreas

de especialidade, tal como é, por exemplo, o caso dos programas

doutorais ChemMat (em Química dos Materiais, que envolve a Fa-

culdade de Ciências da Universidade do Porto, o Instituto Superior

Técnico e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de

Coimbra), o IDPASC (em Física de Partículas, Astrofísica e Cosmo-

logia, em consórcio com várias instituições nacionais e internacio-

nais) e o DAEPHYS (em Física Aplicada e Engenharia Física, que en-

globa quatro universidades, dois laboratórios associados e um

centro de investigação).

EmpregabilidadeSe existe um elemento evidenciador da excelente formação mi-

nistrada pelo DF, tal corresponderá aos elevados índices de em-

pregabilidade subjacentes à diversidade de saídas profissionais. A

leitura que os dados, monitorizados ano após ano, permitem efe-

tuar é a de que “o mercado de trabalho absorve facilmente” os es-

As empresas têm procurado candidatos formados em Física ou Engenharia Física, porque apresentam "uma capacidade analítica" para resolver problemas

que é bastante admirada.

Page 19: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Departamento de Física da Universidade de Coimbra - LIBPhys-UC e CFisUC (centros de investigação) // Investigação // Abr2019 // 19

O Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física

da Radiação da Universidade de Coimbra (LIBPhys-UC) constitui-

-se como uma unidade de investigação dotada de uma forte na-

tureza interdisciplinar. Coordenado por Joaquim Santos, o cen-

tro de investigação organiza-se em torno de três grandes

áreas científicas, munidas de um potencial de aplicabilidade

igualmente heterogéneo.

No âmbito da Engenharia Biomédica, por exemplo, os

investigadores do LIBPhys-UC têm vindo a trabalhar o

processamento de sinais biológicos (especialmente no domínio da Hemodinâmica – ou

seja, no que à pressão e à circulação sanguínea diz respeito) e técnicas de imagiologia

para biomarcadores, num esforço que tem promovido a sua aproximação a múltiplas

clínicas e unidades hospitalares da região de Coimbra.

Outro grande foco da investigação materializada neste Laboratório relaciona-se

com a Instrumentação para Física da Radiação. São, neste contexto, desenvolvidos

detetores de radiação de altas energias e detetores de fluorescência de raios-x,

seja para a análise de materiais, seja para a astrofísica, seja para o desenvolvimen-

to de sistemas de imagiologia

com aplicação em contexto mé-

dico.

Importa salientar um terceiro

âmbito de atuação afeto ao

LIBPhys-UC: a Automação In-

dustrial, bem como a Automa-

ção e Controlo. Pelas suas ca-

racterísticas, este assume-se

como um campo que tem justi-

ficado a celebração de diversas

ligações ao universo empresarial, atendendo ao modo como o processamento de

sinais para sistemas de automação é concretizado em concomitância com as ne-

cessidades apontadas pelos agentes da indústria.

Se existe um aspeto que ajuda a compreender o alcance da investigação desen-

volvida a bordo do LIBPhys-UC, tal corresponderá à filosofia de estreita colaboração

internacional que este centro desenvolve junto de outros centros de investigação dis-

tribuídos pelo mundo. É notório o contributo que o LIBPhys-UC tem proporcionado à co-

munidade científica além-fronteiras no âmbito das diversas Colaborações Internacionais

que integra.

Outro elemento essencial à atividade de qualquer centro de investigação é a transferên-

cia do conhecimento, não de-

vendo surpreender que unida-

des como o LIBPhys-UC se em-

penhem na contribuição de novos

elementos para a consolidação da

formação avançada de Recursos Huma-

nos (mestres e doutorados), assegurando

que os mais recentes desenvolvimentos se

materializem, por sua vez, nas necessidades do

tecido empresarial.

Investigação de excelência no âmbito da FísicaDESENVOLVENDO INVESTIGAÇÃO EM DOMÍNIOS BASTANTE DIVERSOS, O LIBPHYS-UC E CFISUC CORRESPONDEM A DUAS UNIDADES

INTEGRADAS NO DEPARTAMENTO DE FÍSICA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA QUE SE DEMARCAM PELA INTERNACIONALIZAÇÃO DE UM TRABALHO CIENTÍFICO QUE NÃO ESQUECE A LIGAÇÃO À SOCIEDADE.

Dedicado ao desenvolvimento de investigação científica de excelência, o Centro de Fí-

sica da Universidade de Coimbra (CFisUC) é uma unidade dirigida atualmente por Cons-

tança Providência, que reúne um grande número de docentes integrados no Departamento

de Física desta instituição. Fazendo jus a uma diversificada abrangência de domínios, concilia

uma forte vertente de trabalho em ‘ciência pura’ (especialmente nos domínios da Física Nu-

clear e de Partículas, Astrofísica e Física da Matéria Condensada) com uma estreita articulação a

diferentes setores da sociedade.

No campo da Física de Partículas – e numa referência a trabalhos de natureza essencialmente teóri-

ca –, poderá fazer-se referência ao estudo do formalismo da teoria quântica de campos ou ao estudo

da força forte, a força responsável pela ligação da maior parte da matéria que conhecemos, com recurso

a cálculos ab initio que exigem um forte poder computacional (cromodinâmica quântica na rede), e a mé-

todos fenomenológicos. É ainda de referir o estudo das estrelas de neutrões, um verdadeiro laboratório de

física nuclear e de partículas.

Existe, por outro lado, um vasto campo de investigação

que encontra na Física da Matéria Condensada o seu deno-

minador comum. Com efeito, a investigação de sistemas

biológicos (nomeadamente, no desenvolvimento de redes

vasculares que se revestem de interesse para o estudo do

cancro ou da diabetes), ou a utilização de métodos compu-

tacionais e de teorias do funcional da densidade para inves-

tigar materiais complexos (como sejam as propriedades

óticas de moléculas complexas e o design de novos mate-

riais), ou ainda uma vertente mais experimental, que se re-

flete no estudo de materiais multifuncionais, supercondutores, topológicos ou magnéticos, consti-

tuem elucidativos exemplos dessa diversidade.

Amplamente internacionalizado (encontrando-se integrado em oito redes COST e participando em

várias infraestruturas internacionais), o centro de investigação estabelece igualmente fortes vínculos

com a sociedade. Esta ligação traduz-se na colaboração com as indústrias farmacêutica e eletro-me-

cânica, com a proposta de soluções para problemas científicos ou tecnológicos, na realização de es-

tudos relacionados com o Património Arquitetónico e História da Ciência, em particular, da Universi-

dade de Coimbra, ou ainda na divulgação da Física. Há onze anos que o CFisUC dinamiza uma es-

cola que proporciona uma formação de excelência para jovens apaixonados pela Física, a Escola

Quark!, e onde se preparam os

mais promissores talentos para

a participação na Olimpíada

Internacional da Física.

Page 20: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

20 // Abr2019 // Investigação // Departamento de Física da Universidade de Coimbra - LIP-Coimbra (centro de investigação)

Física de Partículas: investigação fundamental apoiada em tecnologia de ponta

também executam trabalhos encomendados por outras expe-

riências, laboratórios e empresas, dentro e fora do país.

O LIP-Coimbra conta hoje com um total de cerca de 60 cola-

boradores, sendo cerca de 35 investigadores doutorados, 16 es-

tudantes de doutoramento ou mestrado e um conjunto de 12

técnicos altamente qualificados. No que toca ao seu background

científico, este coletivo constitui-se em torno de pessoas espe-

cializadas em Física ou Engenharia Física, maioritariamente,

mas também em Engenharia Eletrotécnica e a Computação.

Outro elemento relevante é o facto de “este corpo de investiga-

dores ser muito dinâmico e internacional”, complementa Rui

Marques.

Colaboração em grandes experiênciasA atividade do LIP na área da Física Experimental de Partículas

decorre principalmente em grandes experiências internacio-

nais, compreendendo tanto a complexa análise dos dados para

extrair os resultados de Física como o I&D de equipamentos pa-

ra essas experiências.

Um exemplo é a participação na experiência de deteção de

matéria escura LUX-ZEPLIN, nos EUA, de que o LIP foi uma das

instituições preponentes, em 2012. Refere Isabel Lopes que

“nesta experiência, o LIP-Coimbra é responsável, entre muitas

outras coisas, pela conceção e implementação do sistema de

controlo do detector LUX-ZEPLIN de 10 toneladas de xénon lí-

quido, que é atualmente o maior detetor de matéria escura em

construção”, para além de colaborar em muitos outros aspetos,

desde o desenvolvimento de ferramentas de análise de dados, a

estudos de Física Fundamental.

A especialização de Coimbra em I&D em detetores gasosos,

reconhecida já desde antes da criação do LIP, foi sendo incre-

mentada e encontram-se hoje detetores de partículas desen-

volvidos e construídos pelo LIP a operar em laboratório de refe-

rência, como o GSI, na Alemanha, AUGER (o maior laboratório de

raios cósmicos do mundo), na Argentina, ou uma experiência-

-piloto na Antártida.

No âmbito das colaborações com outros laboratórios e

empresas nacionais, é de salientar o contributo que o LIP tem

dado na conceção e desenvolvimento de “instrumentação

biomédica”. Um exemplo emblemático é o sistema PET para

ratos, com a resolução espacial mais fina até hoje atingida

mundialmente. Este sistema, da máxima utilidade para a

pesquisa de novos fármacos, está já a ser explorado no

ICNAS – Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde,

da Universidade de Coimbra.

Ligação à sociedadeNuma conjuntura em que a sociedade surge cada vez mais

sensibilizada para a importância de temáticas científicas como

as que o LIP-Coimbra tem cultivado, Isabel Lopes salienta os

esforços feitos pelo LIP na “divulgação da ciência para a juven-

tude e para o público em geral”, que passam pela “organização

anual de estágios para jovens de diferentes níveis de ensino e

das Masterclasses em Física de Partículas em Portugal”, ou a

própria deslocação de elementos do Laboratório a escolas para

a realização de palestras e demonstrações. Outro vínculo com a

comunidade envolvente traduz-se na facilidade com que estu-

dantes do LIP que se doutoram conseguem hoje transitar para o

tecido empresarial, comprovando as inegáveis mais-valias da

sua exigente formação.

O LIP-COIMBRA PARTICIPA EM ALGUMAS DAS MAIS AVANÇADAS EXPERIÊNCIAS MUNDIAIS DE FÍSICA DE PARTÍCULAS, SENDO EXEMPLO DE UMA ESTRUTURA

CIENTÍFICA COM VOCAÇÃO INTERNACIONAL QUE TAMBÉM PROMOVE A INOVAÇÃO E A TRANSFERÊNCIA

DE CONHECIMENTO.

O Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de

Partículas (LIP), estruturado em três polos – um deles no De-

partamento de Física da Universidade de Coimbra e aqui apre-

sentado pelos diretores e investigadores, Isabel Lopes e Rui

Marques – é um organismo científico fundado em 1986 que há

muito se afirmou no contexto internacional como uma referên-

cia na investigação em Física Experimental de Partículas e As-

tropartículas. Para além desse domínio fundamental, o LIP-

-Coimbra trabalha ainda em áreas que vão do Espaço à Instru-

mentação Biomédica.

A par da investigação em problemas de Física Fundamental –

da descoberta e caracterização das partículas elementares, em

aceleradores ou com raios cósmicos, à natureza e deteção da

matéria escura – o LIP desenvolve atividade de I&D na área dos

detetores de partículas e de sistemas para controlo de expe-

riências complexas. “O LIP tem hoje grupos de referência a nível

mundial em tecnologias de deteção de partículas”, sublinha Isa-

bel Lopes. Para o trabalho de I&D, o LIP-Coimbra conta com um

laboratório de detetores apoiado numa oficina mecânica de

precisão e dispõe de um centro de competência em sistemas

de monitorização e controlo.

Complementando as equipas de investigadores, estas in-

fraestruturas estão vocacionadas para o desenvolvimento e

produção de detetores e sistemas auxiliares para as experiên-

cias internacionais em que o LIP participa. “É o caso do sistema

de calibração de elevada complexidade que produzimos para a

experiência SNO+ dedicada ao estudo de neutrinos”, esclarece

Rui Marques, numa referência à experiência instalada no SNO-

LAB, no Canadá, “situada numa mina, a cerca de 2000 metros

de profundidade”. É de realçar que as infraestruturas referidas

A par da investigação em problemas de Física Fundamental, o LIP-Coimbra desenvolve atividade de I&D na área dos detetores de partículas e de sistemas

para controlo de experiências complexas.

Page 21: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

ISEP – GECAD // Investigação // Abr2019 // 21

TheRoute chega ao Brasil através do projeto LAPASSION

O THEROUTE (TOURISM AND HERITAGE ROUTES INCLUDING AMBIENT INTELLIGENCE WITH VISITANTS’ PROFILE ADAPTATION AND CONTEXT AWARENESS - REFERÊNCIA SAICT/023447) É UM PROJETO DE I&D FINANCIADO PELA FUNDAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA, PELO PROGRAMA OPERACIONAL DA REGIÃO NORTE DE PORTUGAL (PO-NORTE) E PELO

PROGRAMA FEDER.

Trata-se da maior experiência de I&D multidisciplinar

dentro do Instituto Politécnico do Porto (IPP), estando en-

volvidos professores, investigadores e bolseiros de todas

as oito escolas do IPP. Com tanta multidisciplinaridade, é

natural que o TheRoute consiga projetar-se através de

outro projeto do GECAD – Grupo de Investigação em En-

genharia e Computação Inteligente para a Inovação e De-

senvolvimento, o grupo de pesquisa vocacionado para a

Inteligência Artificial do Instituto Superior de Engenharia

(ISEP) do IPP. O projeto LAPASSION é um projeto Eras-

mus+ Capacity Building que visa o desenvolvimento de

projetos multidisciplinares por parte de alunos pesquisa-

dores, de modo a dar resposta a desafios abertos.

Neste exato momento, estão a decorrer três conjuntos

de projetos multidisciplinares LAPASSION na América do

Sul: dois no Brasil e um no Uruguai. De realçar que o proje-

to em curso em São Luís do Maranhão – com o desafio de

como aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano

nesse Estado – tem dois subprojetos inspirados no The-

Route, com aplicação no Turismo para as cidades Mara-

nhenses de São Luís e Santo Amaro.

O projeto LAPASSION em São Luís do Maranhão come-

çou com uma cerimónia envolvendo o Instituto Federal do

Maranhão (IFMA), com a presença do governo do Estado.

Passaram nessa mesma semana de arranque dois docu-

mentários nas principais televisões do Estado, filiadas na

Globo e SBT. Os professores e alunos envolvidos foram

também recebidos no Palácio dos Leões, sede do governo

do Estado do Maranhão, a convite do próprio Governador

Flávio Dino. Dois alunos do ISEP estão em São Luís em

conjunto com alunos da Finlândia, Espanha, Uruguai e so-

bretudo Brasil, com alunos de cindo Estados do país (Ma-

ranhão, Amazonas, Pernambuco, Alagoas e Rondônia). O

projeto decorre durante 10 semanas.

Daliana Marques é a aluna que está no projeto de Tu-

rismo para Santo Amaro, um dos locais onde estão os

famosos Lençóis Maranhenses, e seu o grupo envolve

também alunos da Finlândia e do Brasil. Daniel Ramos

está no projeto de Turismo para São Luís, cidade famo-

sa pelo Património Histórico reconhecido pela UNESCO,

e o seu grupo envolve também alunos do Uruguai e Bra-

sil.

Por volta de setembro, 16 alunos do Instituto Federal do

Maranhão irão para o Porto para fazer estágios de pesqui-

sa no GECAD e em outros grupos de pesquisa do ISEP. Cin-

co deles irão integrar o projeto TheRoute no Porto.

O projeto TheRoute efetua estudos, pesquisa e expe-

rimentação à volta do desafio de geração automática de

rotas para turistas e visitantes de pontos de interesse

relacionados com o Turismo, Património, Artes e Cultu-

ra. As rotas sugeridas são adequadas ao perfil dos visi-

tantes, e grupos de visitantes, e estarão atentas ao

contexto (por exemplo, as situações climatéricas). Os

tours sugeridos poderão desenvolver-se à volta de um

local ou rota ou à volta de um tema. O sistema desen-

volve-se em ambiente de Computador, Tablet e Smart-

phone, cobrindo o ciclo de vida da experiência do visi-

tante. Alguns exemplos de rotas específicas são, por

exemplo, as rotas do Caminho de Santiago de Compos-

tela, rotas do Grafitti, ou rotas de artistas e escritores.

O projeto é liderado pelo IPP e envolve o ISEP, através

do grupo de I&D GECAD, o Instituto Politécnico de Viana

do Castelo e a empresa Douro Azul.

Esta articulação entre o TheRoute e o LAPASSION per-

mite dar um alcance internacional de implantação do The-

Route, na Europa e América Latina. O GECAD dispõe ainda

do projeto Grouplanner, também do programa SAICT, para

Rotas para Grupos de Turistas Chineses. Juntos, os três

projetos representam um investimento de cerca de 1 mi-

lhão e meio de euros.

Carlos Ramos, investigador responsável pelo projeto TheRoute

Aluno do ISEP entrevistado na Televisão SBT Brasil

Alunos LAPASSION recebidos pelo Governador do Maranhão

Page 22: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

22 // Abr2019 // Investigação // Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra

Estudar o Passado,aproximando-o do Presente

A OPERAR A PARTIR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, O CENTRO DE ESTUDOS CLÁSSICOS E HUMANÍSTICOS (CECH) É UMA UNIDADE DE NATUREZA TRANSVERSAL QUE TEM VINDO A MATERIALIZAR TODA UMA SÉRIE DE

PROJETOS CIENTÍFICOS, TENDO EM VISTA COMPREENDER EM QUE MEDIDA O CORPUS DE

CERTOS PERÍODOS DA NOSSA HISTÓRIA NOS AJUDA A (RE)CONTEXTUALIZAR O PRESENTE.

Fundado em 1967, o CECH corresponde a uma unidade

de investigação que se dedica à análise (mediante uma

forte base filológica, para a qual contribui um conjunto

de outras áreas do saber) do corpus de textos que com-

põem o património cultural europeu. Tal como contex-

tualiza o coordenador, Delfim Leão, este é “um Centro

que estuda e procura compreender o Passado, mas pa-

ra se reinventar”, manifestando, por exemplo, interesse

em “demonstrar como uma experiência do Passado po-

de ser muito útil no Presente” ou de que forma elemen-

tos de outrora (como sejam as reflexões suscitadas pe-

las grandes obras e pensadores da Antiguidade ou o

conceito do mito) se encontram “perfeitamente enqua-

drados naquilo que são os referentes do nosso dia-a-

-dia”.

Atendendo à natureza dos seus objetos de análise, o

trabalho do CECH começou por circunscrever-se à área

dos Estudos Literários e da Filologia em torno dos Estu-

dos Clássicos (Grego e Latim clássico) e Humanísticos

(isto é, dos períodos medieval e renascentista). Mas, se

aos primeiros se acrescentou o contributo de universos

como a História Antiga e a Arqueologia, importará lem-

brar também o enriquecimento que a Filosofia, bem co-

mo os Estudos de Música e de Teatro, proporcionaram

aos segundos. Em consonância com esta transversali-

dade, o centro de investigação agrega atualmente mais

de 130 elementos (no seio do quais se englobam cerca

de 90 doutorados e aproximadamente 40 doutoran-

dos), usufruindo de estreitas ligações junto de congé-

neres internacionais.

Cinco áreas de estudoAtendendo ao modo como diferentes âmbitos de in-

vestigação se “entrecruzam” e “fertilizam” de forma

constante ao abrigo do CECH, não se privilegia a criação

de Grupos de Investigação estruturados segundo lógi-

cas estanques, pelo que as cinco grandes áreas de es-

tudo existentes se distinguem pela forma como esti-

mulam um forte diálogo transversal. Nesse sentido, e

fazendo jus à sua designação, o domínio dos Estudos

Gregos debruça-se em torno “do estudo da língua, da

cultura e da literatura da Grécia Antiga”, embora o âm-

bito de intervenção tenha vindo a englobar, mais recen-

temente, disciplinas como a História Antiga e o Direito,

bem como os Estudos do Mito e a sua Receção. Por sua

vez, a Área de Investigação de Estudos Latinos centra-

-se na análise destes mesmos elementos, embora apli-

cados à Antiguidade Romana (desde a sua época mais

recuada até ao surgimento da Idade Média e dos pri-

meiros autores cristãos).

Já num enquadramento posterior, a Área de Investi-

gação em Estudos Medievais e Renascentistas abrange

um período civilizacional em que “o Latim se consagrou

como aquilo que o Inglês é atualmente: a lingua franca

de comunicação e de reflexão”, constituindo-se esta

como uma época que, ao longo de mais de mil anos,

“permite seguir uma série de movimentos culturais, de

pessoas e de ideias”, com o apoio de um amplo “conhe-

cimento filológico da língua, da cultura e da literatura”

para o qual são convocados domínios como a História,

mas também os Estudos de Receção. Mas se as três

Áreas de Investigação até agora salientadas assumem

“uma conotação literária e filológica mais marcada”,

importará lembrar que a ação do CECH se complementa

na companhia de outros dois grandes domínios.

Por um lado, o grupo de trabalho centrado na Racio-

nalidade Hermenêutica encontra na Filosofia uma for-

tíssima base teórica, na medida em que esta desenvol-

ve “um diálogo fertilíssimo com a Grécia Antiga – onde

se encontram grandes referências como Sócrates, Pla-

tão e Aristóteles –, mas também com a Filosofia Latina

e com o Latim enquanto grande veículo de transmissão

dessa mesma cultura filosófica. Como tal, “a Racionali-

dade Hermenêutica dota o Centro de toda uma capaci-

dade de reflexão teorética” que se estende não apenas

aos já mencionados domínios da Literatura ou da Histó-

ria, mas também a “questões centrais da Ética, da Bioé-

tica e da Medicina”, lembra Delfim Leão.

Mas também “reflexões sobre o conceito de cidada-

nia”, outrora realizadas, se revestem de interessantes

elementos para compreender a realidade política e so-

cial que hoje se vive, particularmente a bordo de “uma

Europa que atravessa uma enorme crise identitária”.

Por fim, a Área de Investigação em Semântica e Prag-

mática da Arte concebe a Música e o Teatro como plata-

formas laboratoriais para a investigação desenvolvida

no CECH, disponibilizando meios para que a tradução e o

“O mito permite-nos estudar a sua expressão (que, no caso da Antiguidade, se traduziu sobretudo

nas grandes obras literárias) e a forma como foi sendo recebido e reinterpretado ao longo da História”

31 mm

9 7 8 9 0 0 4 3 4 0 0 5 3

PORTRAYALS OF ANTIGONE IN PORTUGAL

20th and 21st Century Rewritings of the Antigone Myth

METAFORMS STUDIES IN THE RECEPTION OF CLASSICAL ANTIQUITY

ISSN 2212-9405 brill.com/srca

Portrayals of Antigone in Portugal gathers a collection of essays on the Portuguese drama rewritings of this Theban myth produced in the 20th and 21st centuries. For each of the cases analysed, the Portuguese historical, political and cultural context is described. This perspective is expanded through a dialogue with coeval European events. As concerns Portugal, this results principally in political and feminist approaches to the texts.

Since the importation of the Sophoclean model is often indirect, the volume includes comparisons with intermediate sources, namely French (Cocteau, Anouilh) and Spanish (María Zambrano), which were extremely influential on the many and diversified versions written in Portugal during this period.

Contributors to this volume are: Inês Alves Mendes, Rosa Andújar, Maria do Céu Fialho, Maria de Fátima Silva, Maria Fernanda Brasete, Lorna Hardwick, Aurora López, Carlos Morais, Konstantinos Nikoloutsos, Andrés Pociña, Ália Rosa Rodrigues, Nuno Simões Rodrigues, and Stéphanie Urdician.

CARLOS MORAIS, PhD in Literature, University of Aveiro wrote his thesis on the Sophoclean trimeter, published as O Trímetro Sofocliano: variações sobre um esquema (Lisboa, FCT/FCG, 2010). His main areas of research include Greek literature and the reception of Classical drama.

LORNA HARDWICK, Emeritus Professor of Classical Studies, Open University, UK, is Honorary Research Associate at the Archive of Performances of Greek and Roman Drama, University of Oxford. She is co-editor of the Classical Presences series (OUP) and founding editor of the Classical Receptions Journal.

MARIA DE FÁTIMA SILVA, PhD in Literature with a thesis on Theatre criticism in Ancient Greek Comedy, is Full Professor of Classical Studies at the University of Coimbra.She has published several translations and written extensively on Greek Tragedy and Comedy and its modern reception.

PO

RTR

AYA

LS OF A

NTIG

ON

E IN P

OR

TUG

AL

Carlos Morais, Lorna H

ardwick, and M

aria de Fátima Silva (Eds.)

Edited by Carlos Morais, Lorna Hardwick,

and Maria de Fátima Silva

METAFORMS STUDIES IN THE RECEPTION OF CLASSICAL ANTIQUITY

Exemplo de uma obra lançada pela editora Brill sobre os estudos do mito

Prof. Dr. Delfim Leão (coordenador do CECH)

Page 23: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra // Investigação // Abr2019 // 23

estudo filológico da dramaturgia greco-romana ou de

arquivos musicais antigos possam ser interpretados,

recuperados e, desse modo, disponibilizados à socie-

dade.

Projetos estruturantesFazendo uso das mais-valias subjacentes à sua

transversalidade, o centro de investigação tem vindo a

desenvolver uma miríade de pertinentes projetos cien-

tíficos. Em termos elucidativos, poderão, efetivamente,

enumerar-se trabalhos como a tradução da Bíblia, a

criação de materiais didáticos para o ensino das Lín-

guas Clássicas e a área da “Reescrita do Mito” – ou não

tivesse este, “uma densidade plasmável, em constante

reconstrução”. Esclarecido por outras palavras, “o mito

permite-nos estudar a sua expressão (que, no caso da

Antiguidade, se traduziu sobretudo nas grandes obras

literárias) e a forma como foi sendo recebido e reinter-

pretado ao longo da História”, enfatiza o nosso interlo-

cutor. Outro projeto digno de referência é o “Diaita: Pa-

trimónio Alimentar e Identidade Cultural”, cujo foco en-

volve a compreensão de regimes como a Dieta Mediter-

rânica sob o ponto de vista da sua “justificação cultural

e histórica”, bem como “os afetos ligados ao património

alimentar”. Subjacente à dimensão desse projeto está o

seu potencial de cruzamento com áreas tão díspares

quanto a Medicina, a Gastronomia ou o Turismo.

Já outro dos mais relevantes trabalhos científicos di-

namizados no CECH consiste num inédito processo de

transcrição e de tradução integral do “Cursus Aristoteli-

cus Conimbricensis” (uma obra de reflexão do pensa-

mento filosófico de Aristóteles desenvolvida pela Esco-

la Jesuíta de Coimbra, que se tornou influente em diver-

sas regiões do globo, ao longo de diferentes épocas da

História) para Língua Portuguesa e, numa etapa poste-

rior, para Inglês. Por sua vez, o projeto “Mundos e Fun-

dos” dedica-se não apenas à identificação, digitaliza-

ção e estudo do vasto património musical secular que

se encontra conservado em instituições como a Biblio-

teca Geral da Universidade de Coimbra, como também à

promoção do seu acesso, com o ulterior objetivo de que

grupos associados à área da Música possam proceder à

sua interpretação.

Por fim, uma iniciativa “transversal” a todas as

Áreas de Intervenção do CECH é o projeto Classica Di-

gitalia, que opera, há precisamente dez anos, como

uma biblioteca digital em regime de “acesso aberto”

e que engloba “mais de 250 volumes publicados, on-

de se incluem textos Gregos e Latinos, traduções ou

estudos realizados pelo Centro”, enumera Delfim

Leão. Mais, todavia, do que restringir-se aos colabo-

radores da unidade de investigação, este repositório

tem merecido também o contributo de aproximada-

mente um milhar de investigadores oriundos de todo

o mundo, “possibil itando que o projeto alcance mas-

sa crítica e, desde logo, que a qualidade do que é pro-

duzido saia largamente reforçada”, conclui o porta-

-voz.

“Roma nosso Lar: Tradição (Auto)Biográfica e Consolidação da(s) Identidade(s)”

Coordenado por José Luís Brandão, da Universidade

de Coimbra (investigador principal), e por Cláudia Am-

paro Afonso Teixeira, da Universidade de Évora (inves-

tigadora co-principal), este projeto visa “compreen-

der a identidade europeia, a partir da sua génese”: a

ideia de Roma e o Império Romano.

Para tal efeito, este trabalho científico procura ana-

lisar (numa primeira etapa) de que forma “os romanos

percecionavam a sua identidade”, em que medida (nu-

ma segunda dimensão) desempenhavam o processo

de integração (essencial na cultura romana e uma das

razões do seu grande sucesso e estabilidade) de di-

versos povos e como se autopercecionavam face ao

“Outro” e, já num contexto de globalização (terceira

fase), “compreender como é que se perspetivava a identidade global de um Império que se estendia da Britânia

ao Egito, da Península Ibérica à Ásia Menor e, portanto, por todo o mundo mediterrâneo, incluindo uma significa-

tiva parte do norte de África” face a elementos de identidade regionais (tratados em estudos de casos específi-

cos), resume José Luís Brandão.

Recorrendo à análise de “um corpus de textos” (de natureza biográfica e autobiográfica), o projeto científico pre-

tende compreender em que medida estes registos contribuem para “a definição de identidade europeia”, através da

análise de uma galeria de homens ilustres (e icónicos) e das políticas por eles desenvolvidas, e publicar os resultados

da pesquisa em três grandes volumes principais de estudos. Indissociável do estudo do referido acervo histórico-bio-

gráfico será, naturalmente, a posterior disponibilização em acesso aberto da tradução desses mesmos textos. Na

prossecução deste projeto colabora “uma equipa, que se pretende – uma vez mais – transversal e interdisciplinar, de

investigadores de várias universidades portuguesas” (Coimbra, Évora, Lisboa, Porto e Madeira) e da Universidade de

Ouro Preto, no Brasil, e que inclui conselheiros de várias universidades europeias.

Este é um projeto aprovado e financiado pela FCT (PTDC/LLT-OUT/28431/2017) entre 2018 e 2021Biscoito académico: um dos produtos resultantes do projeto Diaita

Exemplo de uma representação teatral

Prof. Dr. José Luís Brandão (investigador do CECH)

Page 24: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

24 // Abr2019 // Investigação // Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operacional da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operacional

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa impõe grande tradição e competência no ensino e na

produção de investigação científica nas Ciências Matemáticas. Com várias unidades de investigação

criadas nas últimas décadas do século passado tornou-se crucial a adaptação aos novos desafios globais,

potenciada com a agregação de maior massa crítica. É neste contexto que se enquadra o CMAFcIO.

O Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e In-

vestigação Operacional (CMAFcIO) é uma unidade de Investi-

gação e Desenvolvimento que resultou da fusão, em vigor

desde 2015, das Unidades CMAF e CIO, tendo mantido a clas-

sificação de “Excelente” atribuída pela Fundação para a Ciên-

cia e para a Tecnologia (FCT), numa linha de continuidade

com os resultados dessas duas Unidades. Em particular, o

CMAF é o herdeiro direto do antigo Centro de Estudos de Ma-

temática de Lisboa, criado em 1940, sob a direção científica

de António Monteiro, e dirigido, entre 1952 e 1972, pelo Pro-

fessor José Sebastião e Silva.

Os seus principais objetivos visam a realização de estu-

dos aprofundados em várias áreas da Matemática, a for-

mação de jovens investigadores em diversas etapas das

suas carreiras e a promoção e desenvolvimento de aplica-

ções para problemas relevantes nas áreas das Ciências e

da Indústria. Juntamente com a divulgação de resultados

científicos, o CMAFcIO promove a comunicação da Mate-

mática nas escolas e para o público em geral, incluindo vá-

rias exposições.

Em termos organizacionais, o CMAFcIO tem um uma Co-

missão Diretiva composto por três membros, incluindo o Di-

retor e um Comité Consultivo Internacional. O CMAFcIO inte-

gra 57 membros (incluindo três investigadores FCT), 11 estu-

dantes de doutoramento e 27 membros não integrados. Os

membros são da ULisboa (principalmente de Ciências, al-

guns do ISEG, Instituto Superior Técnico e Instituto Superior

de Agronomia) e de escolas do ensino superiores em Faro,

Setúbal, Leiria e Coimbra, o que de algum modo reflete a di-

versidade das suas áreas científicas.

Num ambiente em que as questões que gravitam na esfe-

ra da Matemática são debatidas no plano da multidisciplina-

riedade, os investigadores do CMAFcIO são reconhecidos pe-

la sua visão, grau de conhecimento e produção científica

dentro e fora do país.

Linhas de investigaçãoDedicada à investigação nas Ciências Matemáticas o CMA-

FcIO agrega três grandes áreas de Investigação: i) Lógica,

Geometria e Sistemas Dinâmicos; ii) Análise Não Linear e

Equações Diferenciais e iii) Investigação Operacional.

A área de Lógica, Geometria e Sistemas Dinâmicos inclui

investigadores ativos com uma visibilidade internacional

significativa, que trabalham em Teoria da Demonstração,

Teoria de Modelos e Combinação de Lógica, bem como em

Geometria, nomeadamente superfícies Willmore, D-Módu-

los, Geometria Algébrica e Sistemas Dinâmicos discretos e

contínuos.

A Análise Não Linear e Equações Diferenciais inclui um

dos maiores e importantes grupos em Portugal em Equa-

ções com Derivadas Parciais e em Equações Diferenciais

Ordinárias - com especialização em tópicos modernos de

Cálculo de Variações e várias aplicações em Física Mate-

mática e em Biomatemática. Tópicos relevantes são o es-

tudo de equações específicas como Navier-Stokes,

Schrödinger e Kac-Boltzman, juntamente com problemas

do tipo Kepler, equações funcionais-diferenciais, teoria

cinética de gases, modelos de campo de fase, elasto-

-plasticidade, problemas de fronteiras livres, otimização

de formas e renormalização.

Por fim, a área de Investigação Operacional e Otimização

inclui investigadores de um grupo pioneiro em Portugal cuja

A atual Comissão Diretiva em reunião recente. Da esquerda para a direita, Mário Jorge Edmundo, sLuís Gouveia (Coordenador) e José Francisco Rodrigues.

A galeria das 45 superfícies cúbicas não regradas, no Edifício C6 da FCUL, ilustra um teorema de geometria algébrica de 1987, exibindo na Universidade de Lisboa, belas formas impressas em 3-d pela primeira vez um quarto de século depois da sua demonstração.

"O Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operaciona (CMAFcIO) é uma unidade de Investigação e Desenvolvimento que resultou da fusão,

em vigor desde 2015, das Unidades CMAF e CIO"

Page 25: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operacional da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa // Investigação // Abr2019 // 25

produção científica em Otimização Discreta e de Redes é

considerada uma referência a nível internacional. As contri-

buições na Otimização Estocástica também são dignas de

nota, assim como em áreas como Otimização Multicritério e

Programação Disjuntiva Generalizada.

Algumas das investigações feitas pelos membros desta

unidade, nomeadamente nas áreas de Análise Não Linear

e Equações Diferenciais e de Investigação Operacional po-

dem ser enquadradas em matemática aplicada e indus-

trial. A visibilidade acrescida neste campo é uma conse-

quência da junção que ocorreu em 2015. Os tópicos de

pesquisa variam desde o manejo florestal até análises e

simulações de modelos de reação-difusão, a dinâmica

das populações de peixes, epidemiologia da dengue, da-

dos de assistência médica, análise de localização de sen-

sores, operações de resgate em massa, pesquisas de

amostragem, estacionamento e roteamento de agentes

fiscalizadores e programação otimizada de refinarias de

petróleo. Exemplos de parceiros na Indústria são a Mari-

nha Portuguesa, a EMEL (Mobilidade e Estacionamento em

Lisboa), o IPMA (Instituto do Mar e da Atmosfera), a ABB, a

SASOL, a Unilever e vários hospitais públicos e privados.

A teoria dos grafos e os desenvolvimentos recentes da matemática discreta são essenciais na teoria e prática da Investigação Operacional.

A visibilidade internacional do CMAFcIO está patente em

vários outros aspetos que resultam da atividade dos seus

membros em jornais editoriais; associação e liderança de

grupos de investigação internacionais e organizações cientí-

ficas; presidência e organização de conferências internacio-

nais e escolas; colaborações com investigadores internacio-

nais.

Singularidade de açãoO CMAFcIO pretende assumir um papel de relevo na inves-

tigação que atualmente se faz em Matemática, procurando

os padrões de qualidade em todas as áreas da sua atividade.

Apresentando interesses comuns com investigadores de

outros centros e muitas colaborações a nível nacional e in-

ternacional, os seus investigadores procuram dar especial

atenção às características que moldam a identidade da equi-

pa. Assim, no futuro, será preservado o caráter de um centro

em que a investigação fundamental e aplicada coexistem,

com áreas fortes bastante visíveis, mas onde domínios es-

peciais podem progredir e evoluir mesmo em pequenos sub-

grupos.

Aliás, no plano estratégico para o triénio 2018-22, foca-se a

necessidade de a equipa lidar com problemas matemáticos

atuais e pertinentes em várias áreas importantes, estando al-

guns membros já envolvidos em projetos de aplicabilidade da

Matemática a problemas do mundo real. Esta característica e as

áreas envolvidas tanto na investigação teórica como na investi-

gação aplicada definem um perfil para o CMAFcIO que é singular

e o destaca entre unidades semelhantes.

"Num ambiente em que as questões que gravitam na esfera da Matemática são debatidas no plano da multidisciplinariedade, os

investigadores do CMAFcIO são reconhecidos pela sua visão, grau de conhecimento e produção científica dentro e fora do país."

UID/MAT/04561/2019

Um aspeto da Mostra sobre Biologia e Matemática, iniciativa do CMAFcIO, em exibição na Faculdade de Ciências da Univer-sidade de Lisboa desde dezembro de 2018, na sequência do ano dedicado na Europa à interação daquelas duas Ciências.

"A visibilidade internacional do CMAFcIO está patente em vários outros aspetos que resultam da atividade dos seus membros"

Page 26: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

26 // Abr2019 // Investigação // Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal

CIISA integra projetos orientados para a sociedade e resolução de problemas globais

A ATIVIDADE DO CIISA EM INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO

ESTÁ ALICERÇADA NUM VASTO PORTEFÓLIO DE PROJETOS MULTI E INTERDISCIPLINARES.

O Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade

Animal (CIISA) desenvolve na atualidade 36 projetos de in-

vestigação e desenvolvimento (I&D), inovação e demons-

tração, com suporte de uma grande diversidade de fontes

de financiamento, incluindo a União Europeia (H2020),

agências governamentais (FCT - Fundação para a Ciência

e Tecnologia; ANI - Agência Nacional de Inovação), progra-

mas nacionais e regionais com cofinanciamento FEDER

(PRODER, PDR2020, Portugal2020) e setor privado.

Estes projetos congregam parcerias enraizadas em

consórcios e redes nacionais e internacionais. A atividade

de I&D do CIISA é por natureza multi e interdisciplinar nas

áreas científicas da produção animal, segurança alimen-

tar, saúde animal e saúde pública (conceito ONE HEALTH) e

ciências biomédicas (medicina translacional). Abaixo se-

guem exemplos de projetos que espelham a diversidade

da atividade naquelas áreas científicas em aplicações

orientadas à sociedade.

Luís Lopes da Costa,

coordenador científico

Projeto NAT-OMEGA3 (PDR2020 -1.0.1-FEADER-031461) - Desenvolvimento de uma nova gama de produtos lácteos, naturalmente enriquecidos em ácidos gordos polinsaturados Ómega 3 por via nutricional, promotores da saúde humana, bem-estar animal e sustentabilidade económica e ambiental das explorações leiteiras www.natomega3.com

Este projeto coordenado pela

FMV-ULisboa (CIISA) congrega

como parceiros uma cooperativa

leiteira (VIVALEITE - COOPERATIVA

DE PRODUTORES DE LEITE, CRL),

uma fábrica de alimentos com-

postos para animais (EUROCE-

REAL-COMERCIALIZAÇÃO DE PRO-

DUTOS AGRO-PECUARIOS S.A.) e uma empresa de produção

e distribuição de lacticínios (TERRA ALEGRE LACTICÍNIOS S.A.,

grupo Jerónimo Martins). O objetivo é o desenvolvimento de

produtos lácteos (leite e seus derivados) naturalmente enri-

quecidos em ácidos gordos polinsaturados (cadeia Omega3),

por via da alimentação das vacas leiteiras. Foi desenvolvido

um produto rico nestes nutrientes que, protegido da biohi-

drogenação que fisiologicamente ocorre nos compartimen-

tos gástricos dos ruminantes e os transforma em outros áci-

dos gordos, permite a sua absorção intestinal e ulterior pas-

sagem para a constituição do leite, ocorrendo em elevada

concentração nos derivados lácteos (manteiga, queijo, iogur-

te, natas). A fonte adicional de compostos Omega3 terá re-

percussões positivas em três domínios: i) na saúde do consu-

midor, pois está demonstrado o efeito benéfico destes nu-

trientes na prevenção de diversas doenças, como as cardio-

vasculares; ii) na saúde e fertilidade dos animais, aumentando

o bem-estar animal e por consequência a sua capacidade

produtiva e rentabilidade económica; e iii) no ambiente, pois a

alteração metabólica introduzida nos animais, resulta numa

diminuição significativa das emissões de metano (CH4) e, por

consequência, na diminuição da pegada ecológica da produ-

ção de bovinos.

Em resumo, este projeto multidisciplinar considera o de-

senvolvimento de um alimento natural diferenciado (leite) e

seus derivados tecnológicos com impacte positivo na saúde

humana consumidora, saúde e bem-estar animal, ambiente

e fileira económica.

Domínios do impacte do conhecimento adquirido com o projeto NAT-

-OMEGA3

Projeto Safe Meat Products (PDR2020-1.0.1-FEADER-031359) - Estratégias para a qualidade e segurança de produtos cárneos transformados garantindo a redução de compostos com potencial carcinogénico. www.safemeatprod.com

O plano de ação deste projeto pretende estudar formas de

reduzir a presença de substâncias potencialmente carcinogé-

nicas (cancerígenas) em produtos alimentares de origem ani-

mal curados secos, através do uso de ingredientes naturais,

da biopreservação, da utilização de revestimentos ativos edí-

veis e da aplicação de tecnologias emergentes, garantindo o

controlo de bactérias patogénicas e a aceitação sensorial. O

projeto coordenado pela FMV-ULisboa (CIISA) considera co-

mo parceiros a CERCICA, Coop. Agrícola BOTICAS CAPOLIB,

CRL., A. N. Criadores Suínos Raça Bisara, Irmãos Monteiro, SA,

Paladares SOC. PRO. COM. PROD. ALIMENTARES. LDA., Univer-

sidade Católica Portuguesa, Universidade de Évora e a Univer-

sidade de Trás os Montes e Alto Douro.

Page 27: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal // Investigação // Abr2019 // 27

Projeto CAMPYFREE (PDR2020-1.0.1-FEADER-031254) - Abordagem integrada - farm to fork - sobre a contaminação de carne de aves por Campylobacter spp., orientada ao desenvolvimento, validação e transferência de conhecimento sobre estratégias eficazes para o controlo e redução da sua prevalência.www.campyfree.com

A segurança dos alimentos é uma preocupação crescente

dos consumidores e uma prioridade política da União Euro-

peia. No âmbito das zoonoses (doenças comuns transmissí-

veis entre animais e humanos), a bactéria Campylobacter spp.

tem justificado um crescente interesse e, na Europa, é identi-

ficada pela EFSA (2018) como o mais frequente agente pato-

génico causador de doença gastrointestinal. O projeto pre-

tende angariar, criar, validar e transferir conhecimento sobre

o efeito de várias intervenções ao nível da produção, indústria

e distribuição que, de forma integrada e sinérgica, contribuam

significativamente para o controlo e minimização do risco de

infeção por Campylobacter spp.. Com a aplicação de interven-

ções ao longo da cadeia produtiva, previamente validadas

quanto ao seu grau de eficácia, os operadores envolvidos

terão ganhos relacionados com o reforço de confiança do

consumidor e dos parceiros sobre os seus produtos, mini-

mizando-se os riscos de retiradas de produto não seguro e

a penalização da imagem das empresas desta fileira. O pro-

jeto coordenado pela FMV-ULisboa (CIISA) engloba como

parceiros a Ancave, Hiperfrango, Lusiaves e a Universidade

Católica Portuguesa.

Projeto – sdAb-go-BBB (PTDC/BBB-BIO/0508/2014) - Ultrapassando o dilema da entrega de fármacos no cérebro: Desenvolvimento de anticorpos de domínio único para direcionamento e entrega de drogas no cérebro.

O desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para o tratamento de doenças do sistema nervoso central (SNC), como

por exemplo o Alzheimer, tem sido sistematicamente impedido por uma das barreiras mais compactas e seletivas do corpo hu-

mano, a barreira hemato-encefálica (BHE). Basicamente, 100% dos fármacos constituídos por grandes proteínas e mais de 98%

dos fármacos compostos por pequenas moléculas não atravessam a BHE. Uma possível abordagem para resolver este proble-

ma consiste em usar como alvo o sistema de transporte da BHE e desenvolver estratégias de entrega dos fármacos no SNC que

utilizem estes sistemas naturais de transporte para entrarem no cérebro. Neste sentido, a equipa CIISA e os seus parceiros, Ins-

tituto de Medicina Molecular, Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e Desenvolvimento e empresa Tech-

nophage, têm-se focado no desenvolvimento de anticorpos monoclonais que tenham como alvo os recetores da BHE e que pos-

sam ser acoplados a “veículos” de transporte de fármacos como os lipossomas. O objetivo é desenvolver moléculas inovadoras

com capacidade de passar a BHE para o tratamento de doenças do foro neurológico como o Alzheimer, cancro e a meningite.

Estratégia para ultrapassar a BHE no aporte de fármacos ao SNC

BarreiraHemato-encefálica

Cérebro

Immunoliposoma

Fármaco

Sangue

Anticorpo

Novas abordagens terapeuticas para Alzheimer, Cancro e Meningite

Projeto PET-Risk (JPIAMR/0002/2016) - Risco de transmissão de resistência aos antibióticos entre animais de companhia e o homem durante diferentes tipos de infeção animal.www.petrisk.fmv.ulisboa.pt

Os nossos cães e gatos podem trocar bactérias multirre-

sistentes aos antibióticos com o Homem? Qual o risco para

a Saúde pública?

O PET-Risk, um Consortium internacional coordenado pel

FMV-Ulisboa (CIISA), envolvendo prestigiados laboratórios

da Alemanha, Suíça, Reino Unido e Canadá, recentemente

detetou a partilha de bactérias multirresistentes aos anti-

bióticos de último recurso para a Medicina Humana entre

animais de companhia e o Homem. Este Consortium conta

com uma equipa multidisciplinar para investigar a transfe-

rência de resistência aos antibióticos entre animais e huma-

nos em coabitação de modo a compreender as consequên-

cias deste contacto tão próximo numa perspetiva de “uma

só saúde” (ONE HEALTH).

O PETrisk tem por objetivo determinar a frequência e importância da transmissão de bactérias resistentes entre cães, gatos e seus tutores

UID/CVT/00276/2013

Page 28: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Saúde

Page 29: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

30 // Abr2019 // Opinião // António Araújo, presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos

O acervo humano do SNS

Deixem-me sublinhar (e recordar a alguns responsáveis)

que o melhor do Sistema Nacional de Saúde (SNS) são os

seus profissionais de saúde. É axiomático afirmar que sem o

envolvimento ativo, a resiliência diária e a abnegação inces-

sante destes profissionais, a saúde e o SNS não passariam

de uma sombra do que são hoje.

As atividades de educação contínua e o firme empenho em

projetos de desenvolvimento das suas áreas de conheci-

mento são apanágio destes homens e mulheres, que com-

põem o grupo de profissões que mais se dedica ao cidadão.

Mas, apesar de se continuar a ouvir, cada vez mais debil-

mente, que temos o melhor serviço de saúde do mundo, não

se vislumbra o empenho esperado, por parte da tutela, quer

no investimento estrutural e em recursos humanos, quer no

reconhecimento destes.

Mais, não se entende porque teimam os decisores políticos

em não refletir acerca dos problemas reais que o SNS en-

frenta. Deixem-me, a este propósito, ter a veleidade de citar

apenas três exemplos.

Dos 21 ACeS que compões a ARS Norte, atualmente, ape-

nas dois têm médicos como diretores executivos, sendo ex-

tremamente difícil arranjar presidentes para os Conselhos

Clínicos. Não se criam condições que facilitem aos médicos a

aquisição das competências necessárias à alta direção de

instituições de saúde, nem se advoga que esses cargos se-

jam devidamente remunerados, de forma a que não venham

a auferir um vencimento menor do que aquele que se obtém

com o trabalho assistencial normal. As candidaturas para es-

tes cargos não são públicas nem abertas, na maior parte dos

casos, apenas tendo em consideração as filiações partidá-

rias. Não existe, para os profissionais de saúde, uma carreira

de gestão em saúde, para que os que sintam apetência para

esta área não sejam desmotivados pela ocasionalidade do

cargo, com repercussão direta e negativa na carreira e no

vencimento.

Recentemente, foi divulgado que das 300 vagas abertas

em hospitais e centros de saúde do continente no último

concurso, para médicos especialistas, apenas 165 foram

preenchidas. Este é um problema antigo e recorrente, que

se tem vindo a acentuar nos últimos anos. Não se ouviu

até hoje qualquer pensamento construtivo a este propósi-

to, registando-se apenas afirmações vazias de sentido e

bom senso, como a proferida por um governante, afir-

mando que tal era culpa da respetiva Ordem profissional.

No entanto, abrem-se concursos que não respondem aos

anseios de quem procura colocação nem aos de quem di-

rige os serviços. Existe cada vez menos incentivo para

projetos de desenvolvimento profissional e cada vez mais

se aprofunda o abismo que separa o valor da retribuição

das responsabilidades exigidas. Não se conseguindo im-

plementar medidas reais de combate à interioridade, os

cuidados de saúde prestados a essa população represen-

tarão um problema ainda mais substancial dentro de meia

dúzia de anos.

Em março, soube-se que o Estado Português estava a

preparar mais uma injeção obscena de capital num banco

(850 milhões de euros). Uns dias antes, um relatório da Co-

missão Europeia veio revelar que o governo irá diminuir a

despesa com a saúde e com a educação em 118 milhões de

euros. Algo não está bem e faz-me confusão - sendo a saú-

de e a educação as áreas prioritárias para a esmagadora

maioria dos portugueses, porque está o nosso governo a ti-

rar dinheiro a essas valências e a colocá-lo num banco? As

unidades de saúde necessitam de contratos-programa e or-

çamentos ajustados à realidade, e necessitam de autonomia

(com algum controlo, para evitar “derrapagens”) para reali-

zar os investimentos estruturais e em recursos humanos

necessários.

Por tudo isto, é importante que os bons exemplos sejam

mostrados, quer para os tornar públicos quer para acarinhar

quem, apesar de todos estes constrangimentos, tenta ensi-

nar, modernizar e inovar. Se a tutela não o faz, que seja a so-

ciedade civil a fazê-lo. Se já não temos o melhor sistema de

saúde do mundo, podemos, pelo menos, orgulhar-nos de ter

profissionais de saúde de grande qualidade humana e pro-

fissional.

António Araújo

Presidente do Conselho Regional

do Norte da Ordem dos Médicos

Page 30: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

30 // Abr2019 // Saúde // Associação de Apoio ao Serviço de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto

Congresso promoveu saberes e práticas nos cuidados intensivos

“uma série de temáticas e pessoas que estão envolvidas no trata-

mento dos doentes críticos de todo o hospital”.

Enquanto catalisadora de um sucesso que justificou mais de

2000 inscrições no evento organizado pela Associação de Apoio ao

Serviço de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário

do Porto (ASCI) em parceria com a Associação Portuguesa de Nu-

trição Entérica e Parentérica (APNEP), esta mesma interdisciplinari-

dade reveste-se de uma extraordinária importância. Efetivamen-

te, perspetiva-se que, “no futuro, os hospitais terão maioritaria-

mente doentes de Medicina Intensiva quer de Nível I, quer de Ní-

vel II (Intermédios)” – o que exige equipas devidamente

adaptadas para tal –, à medida que os doentes menos graves

tenderão a ser tratados essencialmente em ambulatório.

Por outro lado – e em paralelo à reflexão sobre temáticas e

avanços como a utilização da ventilação não invasiva nos cuida-

dos intensivos (uma área que sempre foi “muito querida” a Fer-

nando Rua, tendo o nosso interlocutor sido pioneiro na sua im-

plementação em contexto nacional) – antecipam-se dois gran-

des desafios, no âmbito do nosso país. O primeiro corresponde

à necessidade do “aumento do número de camas para cuidados

intensivos” que ainda se revela “muito baixo nos hospitais por-

tugueses”. Efetivamente, “a percentagem do número de camas

de doentes críticos tem aumentado exponencialmente na gran-

de maioria dos Hospitais da Europa, mas em Portugal ainda não

chegou ao necessário”. Igualmente importante, todavia, é con-

seguir “o número suficiente de especialistas (em Medicina In-

tensiva) para ocupar as unidades de cuidados intensivos”.

Refletir sobre a Enfermagem IntensivaFalando em nome dos profissionais de Enfermagem Intensi-

va, José António Pinho sublinha, por sua vez, os benefícios de

uma visão estratégica que procurou o valioso intercâmbio de

saberes, experiências e inovações tendo em vista “discutir para

conseguirmos alcançar a excelência padronizada”. Não deverá,

nesse sentido, constituir surpresa que o critério subjacente à

escolha dos oradores convidados por este elemento da comis-

são organizadora tenha sido o valor das suas intervenções não

numa componente teórica, mas na demonstração e partilha das

melhores práticas profissionais.

Caracterizado por uma interessante abrangência de temáti-

cas, o Congresso permitiu – a título exemplificativo – colocar a

tónica em áreas como o controlo de infecção e a otimização dos

registos a ele associados. Mas outro dos temas mais desafian-

tes foi a reflexão sobre “Que Enfermagem em Cuidados Intensi-

vos: Liderança, Formação e Paixão”, no seio da qual se discuti-

ram alguns dos condicionalismos que se colocam ao exercício

diário destes profissionais e de que forma é possível superar,

em contextos de prática, essas mesmas limitações e, desse

modo, conseguir liderar equipas devidamente motivadas. A

pertinência em torno destas reflexões reforça-se numa con-

juntura em que, tal como enfatiza o enfermeiro chefe, “temos

uma unidade de cuidados intensivos com uma população muito

envelhecida e paliativa, sendo necessária uma boa retaguarda

para este tipo de doentes”.

Mas se a realidade nacional atravessa um conjunto decisivo

de novos desafios, importa recordar em que medida a partilha

de sensibilidades profissionais entre congéneres portugueses

e internacionais se tem assumido como bastante vantajosa.

“Na área do intensivismo, temos – enquanto Serviço de Cuida-

dos Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto – al-

gumas parcerias com outros países e há imensa troca de infor-

mações e de resultados, bem como de procedimentos e atitu-

des”, lembra José António Pinho. É precisamente este espírito

de abertura que o Congresso procurou também reforçar, sem-

pre com um objetivo ulterior: “melhorar os serviços prestados à

comunidade e ao utente”.

NO ÂMBITO DO VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE CUIDADOS INTENSIVOS, DECORRIDO A 1 E 2 DE ABRIL

EM MATOSINHOS, O PERSPETIVAS CONVERSOU COM O DIRETOR (FERNANDO RUA) E O ENFERMEIRO CHEFE (JOSÉ ANTÓNIO PINHO) DO SERVIÇO DE CUIDADOS

INTENSIVOS DO CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DO PORTO SOBRE A IMPORTÂNCIA DE QUE SE

REVESTE UM EVENTO DESTA NATUREZA PARA DIFERENTES AGENTES DO SETOR DA SAÚDE.

“Convocar os profissionais mais avançados”, promover “a troca

de impressões” e transmitir novo conhecimento científico, tendo

em vista “o desenvolvimento do Serviço e uma constante atualiza-

ção”. É desta forma que Fernando Rua avalia as potencialidades

daquilo que correspondeu a muito mais do que “um Congresso

clássico dedicado apenas aos cuidados intensivos” e prossupôs –

pelo contrário – uma lógica de interdisciplinaridade, englobando

Perspetiva-se que, “no futuro, os hospitais terão maioritariamente doentes de Medicina Intensiva quer de

Nível I, quer de Nível II (Intermédios)” – o que exige equipas devidamente adaptadas (Dr. Fernando Rua)

Dr. Fernando Rua (Diretor do Serviço de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto)

Enf. José António Pinho (Enfermeiro chefe do Serviço de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário do Porto)

Page 31: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

APNEP - Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica // Saúde // Abr2019 // 31

XXI Congresso da APNEP “valoriza a Nutrição"

A APNEP – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO ENTÉRICA E PARENTÉRICA ORGANIZOU, NOS DIAS 1 E 2 DE ABRIL, O SEU XXI CONGRESSO ANUAL. A INICIATIVA MERECEU A PRESENÇA DE MAIS DE 2.800 INSCRITOS, QUE

PUDERAM ACOMPANHAR – AO LONGO DE OITO SALAS A FUNCIONAR EM SIMULTÂNEO – MOMENTOS INTERDISCIPLINARES DE FORMAÇÃO, PARTILHA DE EXPERIÊNCIAS OU DEBATE EM TORNO DAS GRANDES

TEMÁTICAS DA NUTRIÇÃO.

Aníbal Marinho (Presidente da APNEP e do Congresso)

Na saúde é obrigatória a partilha dos cuidados num mo-

delo inter e transdisciplinar. Esta é uma prática diária que to-

dos conhecemos bem. A organização de conferências e

simpósios por áreas específicas e dirigidas a determinados

grupos profissionais é habitual.

Um desafio maior consiste em congregar um grupo de

peritos para integrar uma comissão científica multidisciplinar

que tem de estruturar todo um programa com cursos, sim-

pósios, hot topics de interesse comum para todos os profis-

sionais. Estruturar um programa de cinco dias nesta dinâmi-

ca não é fácil. Pensar num programa aliciante para estudan-

tes finalistas, colegas mais jovens mas também onde os de-

canos se revejam e possam partilhar a sua experiência é um exercício difícil. Imaginem agora outro cenário. Conseguem idealizar

três congressos em simultâneo durante cincos dias com vários cursos a decorrer ao mesmo tempo, com oito salas a funcionar

em simultâneo, com 2914 participantes, com 320 preletores nacionais e internacionais? Todos a trabalharem juntos num mes-

mo período e num espaço comum?

Não é imaginação. Foi a realidade. Entre o Porto e Matosinhos, de 29 de março a 2 de abril de 2019, decorreu o “XXI Congresso Anual

APNEP”, o “VI Congresso Internacional de Cuidados Intensivos”, e o “XVI Congresso do Arco IberoAtlântico”. Num modelo inovador

convidámos enfermeiros, farmacêuticos, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas da fala, psicólogos, assistentes sociais,

administradores hospitalares, associações de doentes, entre outros a partilharem o seu know-how, a sua experiência e prática diária

em diferentes áreas. Foram apresentadas as mais recentes inovações, as melhores práticas, o estado da arte em áreas tão diferentes

como a saúde pública, os cuidados de saúde primários, a intervenção terapêutica em múltiplas patologias.

Foi uma associação feliz de três congressos num evento único. Quando os recursos humanos e económicos são escassos,

temos que ser engenhosos. Um evento em que se rentabilizou o fim-de-semana, permitindo que um maior número de profis-

sionais pudessem participar (abdicando do seu fim-de-semana e não reduzindo o já escasso n.º de profissionais no SNS), a

participação gratuita aos membros das sociedades científicas, a rentabilização dos espaços no fim-de-semana que tem me-

nor ocupação. Tudo. Tudo foi tudo pensado ao pormenor.

Obrigado a todos os que aceitaram este desafio. Sob o ponto de vista organizativo e científico este evento foi marcante e convida-

-nos a pensar que com criatividade, competência, rigor e muito trabalho tudo é possível em prol dos doentes e dos cidadãos.

Lino Mendes (Secretário-geral da APNEP)O Congresso foi muito abrangente – indo desde áreas como

a Saúde Pública e a Nutrição Clínica aplicada a patologias muito

específicas. Nessa perspetiva, o programa foi muito eclético.

Penso que o objetivo base – se tivesse de encontrar uma frase

– seria “valorizar a Nutrição”, ou seja, fazer com que os profis-

sionais sintam que a Nutrição é muito importante para as dife-

rentes áreas da Saúde. Tivemos a participação de médicos, en-

fermeiros, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e adminis-

tradores hospitalares para que todas estas pessoas pudessem

– cada qual com o seu contributo – valorizar aquilo que é a Nu-

trição em prol do doente. Mas apesar de o Congresso ter sido

bastante centrado na Nutrição Clínica, ele visava também o ci-

dadão, pois é dele que falamos quando nos referimos à Saúde

Pública.

Também tivemos a perspetiva de envolver os estudantes de di-

ferentes instituições de ensino na área da Saúde e alguns dos cur-

sos pré-Congresso foram dirigidos a finalistas do país inteiro. O

nosso objetivo é motivar os estudantes, na fase final da sua forma-

ção em Saúde, para a relevância da Nutrição.

António Sousa Guerreiro (Presidente da Assembleia Geral da APNEP)Uma reunião tão grande, como esta que a APNEP organizou, funciona como um motor importante para promover, a nível na-

cional, o interesse pela Nutrição e, mais particularmente, pela Nutrição Clínica. Esta tem sido aplicada, sobretudo, nos hospi-

tais, embora também já em ambulatório. Mas, para isso, é necessária formação. Desde 2003 que vários estados-membros da

União Europeia tomaram algumas atitudes a nível hospitalar, como é o caso da identificação do risco nutricional.

Neste momento, o Governo português prepara-se para implementar a identificação do risco nutricional e, por isso mesmo, é mui-

to importante que os vários agentes da Saúde – médicos, enfermeiros, nutricionistas e farmacêuticos – estejam efetivamente liga-

dos entre si. Está demonstrado que existem ganhos para as unidades hospitalares (no que diz respeito à qualidade do trabalho) se a

identificação do risco nutricional for efetuada nos doentes. De facto, não é possível trabalhar em Nutrição se não houver interdisci-

plinaridade. Temos de trabalhar em equipa. Felizmente, os nutricionistas e médicos interessam-se cada vez mais por este assunto.

Acho, no fundo, que o Congresso foi um bom estímulo.

Page 32: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

32 // Abr2019 // Saúde // APNEP - ASCI

Partilha de testemunhos em Congresso dedicado à Nutrição e aos Cuidados Intensivos

À MARGEM DO XXI CONGRESSO ANUAL DA APNEP E DO VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE CUIDADOS INTENSIVOS, O SUPLEMENTO PERSPETIVAS CONVERSOU COM ALGUNS DOS CERCA DE 300 CONFERENCISTAS E

CONVIDADOS. PARA ALÉM DO BALANÇO A UM EVENTO DE INTERESSANTE ABRANGÊNCIA E RELEVO CIENTÍFICO, PARTILHAM-SE REFLEXÕES SOBRE ALGUNS DOS GRANDES DESAFIOS DO PRESENTE.

Pierre Singer (médico do General Intensive Care Department e Institute for Nutrition Research no Rabin Medical Center, Hospital Beilinson, Israel)

A minha sensação é a de que este Congresso permitiu

demonstrar o quanto os portugueses estão interessados

no tema dos Cuidados Intensivos e da Nutrição. As pessoas

provaram que tinham interesse em aprender e também em

reunir-se e fazer networking, discutindo os grandes tópicos

em torno da Nutrição. De facto, esta tornou-se uma ques-

tão muito importante para todo o mundo, Portugal incluído,

até porque a desnutrição é um problema que existe em to-

do o planeta e é bastante difícil de combater. Temos mais

de 40% das pessoas em risco de desnutrição nos hospitais

e muitas sofrem dela nas suas casas. Como tal, é muito im-

portante que os especialistas, os administradores hospita-

lares e os elementos dos Ministérios se apercebam de que

esta é uma questão essencial.

A grande mensagem que tem surgido nas investigações

em Nutrição revela-nos que combate a desnutrição é eco-

nomicamente vantajoso, porque para além de se fazer tra-

tamento às pessoas, também se reduzem os cursos asso-

ciados à Saúde. Existe uma iniciativa a decorrer em todo o

mundo e que está a juntar sociedades de Nutrição de vários

continentes para se criar uma nova definição de desnutri-

ção, que possa ser aceite por todos, que será submetida à

Organização Mundial de Saúde. De resto, existem sempre

novas técnicas, novas abordagens, novas publicações, no-

vas discussões. Esta é uma área em constante desenvolvi-

mento e isso é muito bom, porque mostra que as pessoas

estão realmente interessadas nela.

Paulo Martins (Diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de Coimbra e antigo Presidente da APNEP)

Este é um dos Congressos-marca que existem em termos

nacionais, no que diz respeito ao mundo da Nutrição. O facto

de terem funcionado tantas salas em simultâneo traduz bem

a vivacidade que a Nutrição suscita para os diferentes profis-

sionais de saúde. Hoje, de facto, existe uma consciencializa-

ção muito maior para a necessidade do suporte nutricional

dentro dos hospitais, resultado de um trabalho que foi sendo

feito ao longo dos anos.

Mas ainda há coisas a fazer, como materializar um Diplo-

ma que permita trazer a Nutrição para fora das unidades

hospitalares. Sentimos que os doentes, enquanto estão

hospitalizados, são nutridos da forma adequada, mas quan-

do regressam às suas casas não têm capacidade para fazer o

suporte nutricional, que é caro e não é comparticipado, o que

"É muito importante que os especialistas, os administradores hospitalares e os elementos dos Ministérios se apercebam de que a Nutrição

é uma questão essencial" (Dr. Pierre Singer)

faz com que o trabalho de manter a massa muscular e a re-

cuperação funcional se perde, depois da saída do hospital. A

concretização deste Diploma é um dos anseios que a APNEP

teve ao longo dos anos. É importante dizer à população e à

estrutura governativa que a Nutrição não é um gasto, mas

sim um investimento.

Page 33: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

APNEP - ASCI // Saúde // Abr2019 // 33

José Júlio Nóbrega (Diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira - SESARAM)

Com uma reunião desta índole e dimensão, havia muito por que

esperar. Os palestrantes muniram-se dos mais recentes avanços

dentro da Medicina Intensiva, percorrendo um programa de varia-

díssimos temas e todos eles com muito interesse para a aplicação

nos cuidados intensivos, como a ventilação não invasiva, nutrição

artificial, técnicas de substituição da função renal, entre outros.

Foram temas muito pertinentes que deram a oportunidade

de entrar em contacto com especialistas de cada área, permi-

tindo que quem mais sabe pudesse dar formação. Informal-

mente, também se trocaram experiências sobre o que se faz

em cada Serviço. Foi uma reunião muito importante, das maio-

res de cuidados intensivos em Portugal e foi uma honra ter sido

convidado para marcar presença e falar sobre hipotermia tera-

pêutica no doente crítico.

Paula Guerra (médica do Centro Materno Pediátrico do Centro Hospitalar de São João)

Aplico a Nutrição na minha prática clínica, através da as-

sistência nutricional a crianças que estão internadas e

que precisam de nutrição artificial – seja ela enteral ou

parenteral. Mas também desenvolvemos um programa de

Nutrição Parentérica no domicílio. Neste momento, já te-

mos 16 crianças em domicílio, num total de 46. A Nutrição

Artificial é uma área muito importante, porque permite

que crianças que não conseguem comer adequadamente

possam ser alimentadas – através da via digestiva com

uma sonda nasogástrica, ou com uma gastrostomia ou

através de um cateter central, permitindo que elas pos-

sam ter um bom estado nutricional, apesar de estarem

bastante doentes.

As expectativas para o Congresso estavam muito ele-

vadas. Foi muito importante porque pessoas de vários

centros hospitalares vieram partilhar as suas experiên-

cias e o que tem acontecido nos últimos tempos. Há sem-

pre muitas evoluções, nomeadamente na área da Nutri-

ção Parenteral e da Insuficiência Intestinal, por exemplo.

Por outro lado, hoje em dia fala-se muito sobre as nutri-

ções parentéricas de formulação personalizada, o que

contém vantagens e desvantagens, tanto em relação ao

doente internado como o que está em ambulatório.

Jorge Daniel (Diretor do Programa de Transplantação Hepática do Hospital de Santo António) e Donzília Silva (Cirurgiã das equipas de Transplantação de Pâncreas e de Fígado do Hospital de Santo António)

Jorge Daniel: Tratou-se de um Congresso dedicado

aos cuidados intensivos, que se liga bastante com o te-

ma dos doentes transplantados, já que a transplanta-

ção não é possível se não houver cuidados intensivos.

São duas áreas que estão completamente interligadas.

A transplantação é algo que já existe em Portugal há

mais de três décadas e é óbvio que tem havido uma

atualização constante. As gerações vão mudando, mas

a sensibilização da comunidade médica é uma ativida-

de sempre em desenvolvimento contínuo. Só dessa

forma se pode manter a atualidades destes progra-

mas.

Donzília Silva: Acho fundamental que num Congresso

como este pudesse falar sobre a seleção de dadores de

órgãos para transplantação. Foi um momento fundamen-

tal para focarmos uma das estratégias que temos para

aumentar o número de dadores que, cada vez mais, é es-

casso. Ainda assim, no que toca ao panorama da trans-

plantação em Portugal, penso que está ao nível dos me-

lhores países, não só em termos de taxa de doação, mas

também no que diz respeito aos resultados.

“É importante dizer à população e à estrutura governativa que a Nutrição não é um gasto,

mas sim um investimento" (Dr. Paulo Martins)

Acho fundamental que num Congresso como este pudesse falar sobre a seleção de dadores de órgãos para transplantação. Foi um momento fundamental para focarmos uma das estratégias que temos para aumentar o número

de dadores que, cada vez mais, é escasso" (Drª. Donzília Silva)

Page 34: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

34 // Abr2019 // Saúde // Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas

Antigas doenças, novos tratamentos

Inicialmente eram doenças identificadas maioritariamente em

crianças, sendo habitualmente muito graves, conduzindo a severa

incapacidade e precoce mortalidade. Com o avanço científico, cada

vez mais doenças têm tratamento e cada vez mais se identificam

formas menos graves nos adultos. Assim, houve necessidade de

alargamento das doenças identificadas no diagnóstico neonatal,

vulgarmente conhecido por “teste do pezinho”. Este teste é prati-

camente universal em Portugal, ou seja, praticamente todas as

crianças nascidas no nosso país realizam este teste na primeira

semana de vida. Tal não é uniforme em todos os países, pelo que

um dos temas debatidos neste Simpósio foi o diagnóstico neona-

tal, comparando a experiência em Inglaterra (onde diagnosticam

nove doenças), Itália (onde diagnosticam 45 doenças) e Portugal

onde se identificam 26 doenças, sendo 24 dessas DHM.

Os tratamentos nas DHM são muito dispendiosos, condicionan-

do importantes questões na gestão do SNS. A criação do conceito

de droga orfã veio permitir às empresas farmacêuticas investirem

no desenvolvimento destes fármacos. A visão do economista, do

regulador e do clínico foi abordada no Simpósio. A inovação em

saúde está associanada a custos, o sistema regulador (Infarmed)

regula a introdução dos medicamentos no mercado de acordo com

os estudos de eficácia e o clínico, na presença de um doente com

indicação para tratamento, prescreve. Como os custos no trata-

mento de doenças raras são extremamente elevados a decisão de

inclusão do medicamento no país é muitas vezes política.

O tratamento de várias doenças foi abordado no Simpósio, in-

cluindo: a discussão de novos objetivos terapêuticos na doença de

Gaucher, novo tratamento na Lipofuscinose Ceroide tipo 2, tera-

pêutica enzimática na Hipofosfatásia, terapia génica na Adrenoleu-

codistrofia Ligada ao X, terapia oral na doença de Fabry, aborda-

gem terapêutica na agudização das Doenças do ciclo da Ureia,

doenças tratáveis com Riboflavina (vitamina B2) e investigação de

novo alvo terapêutico na Doença de Niemann-Pick tipo C.

Algumas DHM têm abordagens dietéticas específicas, pelo que

foram discutidos alguns paradigmas nutricionais nestas doenças,

como o impacto dos micronutrientes, nutrição no pós-transplante

hepático e na fenilcetonúria.

Mecanismos intracelulares, intercelulares e hipotalâmicos sub-

jacentes às DHM foram abordados numa sessão, assim como a

atualização no diagnóstico das doenças mitocondriais.

As DHM são mal conhecidas, pelo que exigem profissionais com

expêriencia e equipas multidisciplinares no tratamento e segui-

mento da pessoa portadora de doença metabólica. A Sociedade

Portuguesa de Doenças Metabólicas realiza anualmente um Sim-

pósio internacional, onde são debatidos temas da atualidadee e os

grupos nacionais de investigação clínica ou básica apresentam os

seus trabalhos. Estas atividades permitem o melhor conhecimen-

to da problemática destas doenças, levando a melhores cuidados

para as pessoas portadoras de doença metabolica.

Maria Carmo Macário

(Presidente da comissão organizadora local do

Simpósio, Neurologista do Centro de Referência de

Doenças Hereditárias do Metabolismo do Centro

Hospitalar e Universitário de Coimbra)

REALIZOU-SE EM COIMBRA, NOS DIAS 14, 15 E 16 DE MARÇO, O 15º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE DOENÇAS METABÓLICAS INTITULADO:

ANTIGAS DOENÇAS, NOVOS TRATAMENTOS.

As Doenças Hereditárias do Metabolismo (DHM) são um

conjunto de doenças que têm em comum: um defeito numa

via metabólica do organismo, serem doenças raras e serem

causadas por uma alteração genética. Cada doença indivi-

dualmente é rara, ou seja afeta menos de cinco pessoas em

dez mil indivíduos, contudo no seu conjunto constituem uma

importante preocupação para o Sistema Nacional de Saúde

(SNS).

O fato de serem doenças raras condiciona a que sejam mal co-

nhecidas. Nos últimos anos tem havido uma preocupação do SNS

relativa a esta temática. O reconhecimento e criação dos Centros

de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo, em 2016,

permitiu identificar os profissionais que, nos principais centros, se-

guem as pessoas portadoras destas doenças. A criação do Cartão

de Pessoa com Doença Rara, que pode ser emitido pelo médico

assistente, após consentimento da mesma ou do seu representan-

te, é mais um avanço na identificação e seguimento destes pacientes.

A direção da SPDM

Page 35: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

CONVIDADOS | FACULTY PRESIDENTE DE HONRAJoão Marta PimentelJoão Marta Pimentel

PRESIDENTE SPORL-CCFEzequiel BarrosEzequiel Barros

COORDENADORES José SaraivaJosé Saraiva

Paulo Vera-CruzPaulo Vera-Cruz

Pedro EscadaPedro Escada

º66CONGRESSO

X CONGRESSO Luso-Brasileiro de ORL

da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologiae Cirurgia Cabeça e Pescoço

Hotel MH AtlânticoPENICHE

maio 20193 5

SECRETARIADO

Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia

e Cirurgia Cabeça e Pescoço

www.sporl.net

SECRETARIADO EXECUTIVO

Rua Augusto Macedo,12-D, Escrit. 2-3 1600-503 Lisboa

Tel.: 217 120 778 [email protected]

Agricio Crespo | BrasilAldo Stamm | BrasilAndrés Soto Varela | EspanhaCarlos Martín-Martín | EspanhaClaudio Vicini |ItáliaDomingo Tsuji | BrasilEdson Mitre | BrasilEduardo Baptistella | BrasilEnrique Iturriaga | Estados UnidosJaime Marco | EspanhaJoel Lavinsky | BrasilJosé Eduardo Dolci | BrasilLuiz Ubirajara Sennes | BrasilMárcio Abrahão | BrasilMárcio Nakanishi | BrasilRaimundo Gutiérrez Fonseca |EspanhaRebecca Maunsell | BrasilRicardo Bento | BrasilRicardo Dolci | BrasilRodolfo Lugo | MéxicoSady Costa | BrasilSílvio Vasconcelos | BrasilVitor Chen | BrasilWashington Cerqueira Almeida | BrasilWilma Terezinha Lima | Brasil

VERANATURA - Conference Organizers

Page 36: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

36 // Abr2019 // Saúde // Sociedade Portuguesa de Patologia Clínica

Patologia Clínica, especialidade central que suporta o ato médico

estimular inclusive a atividade científica. O amplo espec-

tro de temáticas está de acordo precisamente com o am-

plo espectro de temas médicos abordados pelo especia-

lista em Patologia Clínica.

P - Ao longo de dois dias de Congresso várias ses-

sões de trabalho promoveram o “Encontro com Espe-

cialistas”, “Sessões Científicas”, “Simpósio” e “Con-

trovérsias”. Quais os temas que geraram maior inte-

resse junto do público e onde se verifica maior avanço

científico?

MJRS - Os temas como a Oncogenómica, a Genética das

várias áreas Laboratoriais, o microbioma e o uptake de

novos testes laboratoriais. Estes temas geraram maior in-

teresse junto do público por serem também temas mais

contemporâneos e onde se tem verificado um maior avan-

ço científico.

P - Espaço de debate e montra da investigação produzida

pelos especialistas, o Congresso Nacional dá voz aos seus

membros por via da apresentação de trabalhos. Qual a adesão

a estas iniciativas e a sua importância no debate de temáticas

entre pares?

MJRS - A adesão foi enorme e muito importante. Foram subme-

tidos 78 abstracts dos quais foram selecionados 16 para comuni-

cações orais. Esta atividade é de enorme importância pois uma so-

ciedade científica tem também por missão o estímulo da atividade

científica e desse modo constitui-se um palco de apresentação

dos trabalhos, na sua maioria apresentados por internos, que são

um treino importante na sua formação específica. Ainda por outro

lado, a SPPC distribuiu dois prémios: para o melhor trabalho por

médico Interno e por médico especialista e assim continuará a fa-

zer nas próximas edições, contribuindo desse modo para a conti-

nuidade desta atividade central na profissão médica.

P – Quais as principais conclusões que saíram deste Con-

gresso que reuniu reputados especialistas nacionais e inter-

nacionais de diferentes especialidades?

MJRS - A principal conclusão que sai deste Congresso é a identi-

ficação da necessidade de um espaço anual como este para uma

reunião científica dos patologistas clínicos, algo que foi realçado

pela grande maioria dos participantes, que acolheu com grande

satisfação o anúncio que a SPPC passaria a organizar o seu Con-

gresso com uma periodicidade anual. Neste Congresso todos nós

aprofundámos os nossos conhecimentos através da discussão de

temas atuais. A partilha de conhecimento e experiências com cole-

gas portugueses e estrangeiros deixou-nos todos melhores pro-

fissionais. Podemos concluir que a Patologia Clínica está viva, sau-

dável e em constante evolução.

P – Qual a preponderância deste evento no incremento de

uma melhor e maior inter-relação entre profissionais de Pato-

logia Clínica e outras especialidades?

MJRS - Esta é uma questão central da nossa Sociedade. A Pa-

tologia Clínica é uma especialidade central que suporta todos os

atos médicos e como tal é fundamental que todos nós esteja-

mos aptos para a interlocução e diálogo com os colegas de ou-

tras especialidades. Por isso trouxemos colegas clínicos para

debaterem com o laboratório questões que interessam a todos,

e que salientam a importância do médico de Patologia Clínica

também como consultor do colega clínico na marcha diagnósti-

ca. Por outro lado, quisemos organizar um Congresso em que

os Clínicos também se interessassem em assistir. Para quem

os temas também fossem importantes e de charneira, contri-

buindo assim para o estreitamento da comunicação entre as di-

ferentes especialidades

P – Em que medida esta interação melhora a atividade das

instituições de saúde onde estes profissionais exercem a sua

prática clínica?

MJRS - O especialista de Patologia Clínica deve constituir-se co-

mo consultor do clínico para um mais eficiente e eficaz diagnóstico,

em prol do doente. Do diálogo entre estas diferentes especialida-

des, surgem esclarecimentos e orientações que vão permitir uma

mais célere clarificação dos quadros diagnósticos assim como das

aplicações terapêuticas. Veja-se o caso da oncogenómica e do pa-

pel que o Laboratório tem em emitir pareceres que podem permi-

tir orientar para terapêuticas mais personalizadas.

EM RETROSPETIVA, A PRESIDENTE DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PATOLOGIA CLÍNICA,

PROF. DRA. MARIA JOSÉ REGO DE SOUSA, ABORDA O IX CONGRESSO NACIONAL DE PATOLOGIA CLÍNICA.

Perspetivas (P) - Que balanço faz do IX Congresso Nacional de

Patologia Clínica que decorreu entre os dias 21 a 23 de fevereiro?

Maria José Rego de Sousa (MJRS) - O IX Congresso Nacional de

Patologia Clínica foi um Congresso de uma enorme importância

para a comunidade dos especialistas em Patologia Clínica e para os

internos de formação específica de Patologia Clínica. Estiveram

presentes cerca de 350 especialistas. O programa foi muito diver-

so, abrangendo todas as áreas desta tão diversificada especialida-

de que sustenta todos os atos da Medicina Clínica, e foi também de

levado nível, tendo presentes como Palestrantes muito especialis-

tas de renome quer nacionais quer estrangeiros.

P - Os cinco cursos pré-congresso abordaram desde te-

mas mais técnicos e de grande especificidade clínica como

“A medula óssea nas síndromes mielodisplásicas”, até

áreas mais abrangentes como a “Escrita Científica” ou

“Gestão de Qualidade”. Este amplo espetro de temáticas é

reflexo do papel que a Sociedade Portuguesa de Patologia

Clínica quer manter junto dos seus associados?

MJRS - A SPPC tem como missão mais estrita a educa-

ção e a formação médica diferenciada, orientada quer pa-

ra o Internos de formação específica de Patologia Clínica,

quer para o especialista. Estes cursos têm por objetivo al-

cançar dotar os interessados de novas e diferenciadas

ferramentas que suportem a sua atividade profissional, e

Page 37: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Encontros da Primavera 2019 // Saúde // Abr2019 // 37

A Oncologia no centro do debate nos Encontros da Primavera 2019

DE 10 A 13 DE ABRIL ÉVORA ACOLHE OS ENCONTROS DA PRIMAVERA 2019. PEDRO CHINITA E HELDER

MANSINHO APRESENTAM ESTE CONGRESSO QUE ENCONTRA NA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR O

CORAÇÃO DA SUA RAZÃO DE SER, PREZANDO SEMPRE POR REVELAR AS MAIS RECENTES ATUALIZAÇÕES

TERAPÊUTICAS.

Perspetivas (P) - Evento que reúne, anualmente, em Évora cen-

tenas de profissionais de saúde para discutirem temas fulcrais do

foro oncológico, qual a importância dos Encontros da Primavera

2019 - Oncologia para o incremento de uma abordagem concerta-

da a estas patologias no contexto nacional?

Pedro Chinita (PC) - Os Encontros da Primavera constituem, qua-

se seguramente, um dos mais antigos encontros multisciplinares

na área da oncologia e procuram concentrar num espaço de apenas

alguns dias uma real atualização sobre o maior número possível de

terapêuticas. Desde há muito tempo, e com um grau irreversível de

certeza, que sabemos que só a abordagem multidisciplinar e a par-

tilha de conhecimentos são garantia de qualidade na escolha da te-

rapêutica mais adequada, tal como estamos bem conscientes de

que os avanços, cada vez mais rápidos, exigem uma permanente

atualização e diálogo entre os diversos profissionais.

P - Qual a pertinência dos temas abordados nos dois cursos

pré-congresso?

Helder Mansinho (HM) - Em 2019 teremos dois cursos pré-con-

gresso - “Tratamento da Anemia no doente oncológico” e “Gestão

da toxicidades em Imunoterapia”. Os dois temas em análise consti-

tuem assuntos importantes para serem tratados de uma maneira

mais pormenorizada e constituírem matéria para formação pré-

-congresso. As anemias com causas sempre multifatoriais conse-

quentes da doença e muitas vezes da terapêutica, e pela sua abor-

dagem pouco concisa e objectiva, por vezes mesmo facilitada,

constitui causa de sintomas importantes para os doentes com con-

sequente deterioração do seu performance status. Há que siste-

matizar a sua abordagem e obedecer às orientações terapêuticas

instituídas.

As toxicidades consequentes à imunoterapia resumem a sua

importância pela atualidade e crescente utilização transversal

destes fármacos em várias patologias, assim como, a necessi-

dade de conhecimento pormenorizado daquelas toxicidades

que são as mais frequentes para que o seu diagnóstico seja cé-

lere, assim como a sua terapêutica seja instituída de uma manei-

ra objetiva e rápida.

P - Ao longo de três dias de Congresso, em XXV sessões de tra-

balho, serão discutidas de forma aprofundada neoplasias especí-

ficas. A abordagem focalizada é fundamental no espectro tão am-

plo da Oncologia?

PC - A vastidão das abordagens oncológicas obriga-nos a

realizar escolhas com abordagens que procuramos, em cada

ano, sejam capazes de destacar – e nos focalizar - nos mais im-

portante progressos e inovações, num diálogo crescentemente

multidisciplinar. Em 2019, para além dos cursos pré-congresso,

importantes são os mitos e realidades em torno dos biossimila-

res bem como o papel das comissões de farmácia terapêutica.

Os cancros urológicos (bexiga, rim, próstata), os tumores de ca-

beça e pescoço, o update sobre melanoma e o carcinoma das

células de Merkel (carcinomas cutâneos), a patologia digestiva

(pâncreas, tumores colorrectais), os tumores mamários, no-

meadamente os biomarcadores e novas estratégias de trata-

mento (sobretudo nas doentes triplas negativas), a quimiotera-

pia metronómica, para além dos avanços recentes na terapêuti-

ca ginecológica, pulmonar e hematológica são exemplos da

multiplicidade das temáticas. O papel da imuno-oncologia, co-

mo terapêutica emergente, é incontornável mas outras ques-

tões (tromboembolismo, hipertermia, manuseio de complica-

ções na ferida maligna, os cuidados paliativos, o papel da enfer-

magem na patologia digestiva e nos cuidados pré e pós-cirúrgi-

cos) para já não falar do incontornável interesse relativo à

Oncologia nos PALOP são a evidência de que ambicionamos

abordar temas variados. Pensar “out of the box” e percepcionar

o futuro da oncologia é fundamental. Por isso estes Encontros

têm acreditação pela European Union of Medical Specialists!

P - De que forma a investigação gerada pelos profissionais en-

volvidos será valorizada neste evento?

HM - Como já vem sendo hábito a investigação gerada pelas di-

versas instituições é alvo de destaque e valorização pela atribuição

de prémios para os melhores trabalhos, quer sob a forma de comu-

nicação oral quer sob a forma de poster. As comunicações orais dos

trabalhos mais valorizados pelo juri terão a sua apresentação em

horário nobre do programa diário o que procura ser uma maneira de

valorização dos mesmos.

P - O que poderemos esperar da Edição Especial “Out of the

Box”?

HM - A edição especial “out of the box” procura ser uma sessão

em que se pretende antever o futuro da aplicação da inovação e das

novas tecnologias ao serviço da decisão em medicina.

Terá a moderação do profissional da informação da TVI Pedro

Pinto, do Dr. Sérgio Barroso, e contará com a contribuição da Drª So-

fia Rocha, internista membro do Health Parliament e responsável

pela “Skin Soul” que gere uma aplicação baseada em inteligência

artificial e que procura reduzir o tempo de diagnóstico de cancro

cutâneo e da Drª Cristina Semião da IBM e que nos falará também de

inteligência artificial e sobre a realidade actual e experiência da apli-

cação Watson.

P - O debate multidisciplinar é uma das imagens de marca des-

te encontro. Hoje, assim como no futuro, o avanço tecnológico de-

ve ser acompanhado por todos os profissionais de saúde que dia-

riamente lidam com o doente oncológico?

PC - Por tudo o que já foi dito parece-nos óbvio que a abordagem

multidisciplinar é uma exigência irreversível. Para reforçar esse ca-

ráter devo salientar que neste ano será anunciado o Prémio Júlio

Teixeira, um reputado e já falecido colega, que irá premiar o melhor

poster ou comunicação oral na área da radioncologia com o propó-

sito de incentivar os seus profissionais a realizarem e apresentarem

trabalhos científicos de inegável interesse e que evidenciam os mais

diversos aspectos desta terapêutica. Este prémio junta-se a outros,

mais antigos, que procuram premiar a produção nacional de traba-

lhos oncológicos.

Helder MansinhoPedro Chinita

Page 38: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

38 // Abr2019 // Saúde // Grupo Germano de Sousa

A importância da Patologia Molecular no combate ao cancro

novas áreas, reforçando o papel junto do Clínico sobretudo

nos campos da genética e da genómica. Sediado em moder-

nas instalações localizadas em Lisboa, aí se encontram além

da grande rotina laboratorial, os laboratórios mais especiali-

zados do Grupo.

Desde 2017, o Grupo integrou o Centro de Diagnóstico Anáto-

mo-Patológico (CEDAP), em Coimbra, e recentemente inaugu-

rou o Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa no

Porto, na zona da Trindade.

Em conversa com o Professor Germano de Sousa e com o

Doutor José Germano de Sousa, embrenhamo-nos na dinâmica

do Grupo dentro de uma área muito específica: a Oncologia.

Entendendo como fundamental o papel do laboratório no

diagnóstico oncológico, o Professor Germano de Sousa assume

que a “oncologia médica nunca poderá evoluir sem o apoio ao

diagnóstico cada vez mais constante da Patologia Molecular”.

“Temos a perceção real que a medicina do presente já é a medi-

cina do futuro e, como em muitas outras áreas, a oncologia de-

pende de um domínio tecnológico que revela resultados de ver-

dadeiro sucesso”, complementa José Germano de Sousa, des-

tacando a pertinência da oncogenómica no diagnóstico e, inclu-

sive, no acompanhamento terapêutico por uma medicina de

precisão que não visa “tratar populações, mas sim tratar pes-

soas” � “aquele tumor, aquela mutação”. Desta forma, o Grupo

Germano de Sousa coloca à disposição do médico oncologista

profissionais altamente credenciados em áreas como a anato-

mia patológica, a oncogenómica, o estudo da sequenciação do

DNA do tumor, a biópsia líquida, que permite isolar e sequenciar

o DNA de um tumor existente algures no organismo. Isto signi-

fica que tal lhe permite ser parceiro ativo no diagnóstico e no

aconselhamento da indicação terapêutica, respondendo em ca-

sos de diagnóstico molecular oncológico agudo, como por

exemplo em hemato-oncologia, em menos de 24 horas.

Genoma HumanoA Anatomia Patológica esteve largas décadas associada à

observação microscópica de material biológico obtido a partir

de orgãos ou tecidos. Contudo, a descoberta do genoma huma-

no e das técnicas de biologia molecular que permitem estudar

mutações e fusões existentes nos genes do genoma humano,

representaram um avanço excecional, sendo hoje possível, es-

tudar os tumores desse ponto de vista. Também quando o tu-

mor inicial é retirado ou quando é mantido ou submetido a uma

terapêutica personalizada para verificar se existem metástases

ou confirmar a terapêutica mais correta, o Laboratório de Genó-

mica Germano de Sousa recorre à biopsia líquida isolando e se-

quenciado o DNA circulante desse tumor, garantindo desta for-

ma um melhor diagnóstico ou melhor terapêutica.

Buscando a vanguarda do diagnóstico e acompanhamento

terapêutico no campo da oncogenómica, o Grupo Germano de

Sousa rodeou-se de peritos, especialistas e doutorados nesta

área que oferecem todas as garantias do ponto de vista ético e

deontológico, algo que o Professor Germano de Sousa, ex-

-Bastonário da Ordem dos Médicos, entende como vital. Nesse

sentido, os testes de risco oncológico têm que ser requisitados

pelo Médico Assistente e o doente avaliado nos laboratórios

Germano de Sousa por uma médica geneticista que determina

a pertinência do teste, podendo o clínico solicitar, a qualquer

momento, o apoio desta mesma especialista.

A INVESTIGAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO FORAM SEMPRE UMA PRIORIDADE NO GRUPO GERMANO DE

SOUSA O QUE LHE PERMITIU ESTAR AGORA NA VANGUARDA DA MEDICINA DE PRECISÃO. FUNDADO

HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS E VIVENDO A PROFISSÃO COM ORGULHO E REFORÇADO SENTIDO

DE MISSÃO, A FILOSOFIA DO MENTOR, O PROFESSOR GERMANO DE SOUSA, É SEGUIDA POR TODA A EQUIPA NUM PERCURSO QUE SE DEMARCA PELA ÉTICA, PELA QUALIDADE DOS PROCEDIMENTOS E PELA INOVAÇÃO.

O Grupo Germano de Sousa é o maior centro de medicina

laboratorial presente em Portugal, gerido por médicos que

detêm a exclusividade do capital. A sua evolução consubs-

tancia-se diariamente em virtude do serviço de excelência

que é prestado a pacientes e a clínicos, no rigor dos atos la-

boratoriais, na investigação científica e na apresentação de

serviços pioneiros em Portugal. Com uma estratégia assente

no serviço de proximidade, o Grupo detém dois laboratórios

principais, 13 laboratórios de proximidade e cerca de 450 uni-

dades em território nacional, com serviço de estafetagem

que corre o país com o foco na oferta do melhor atendimen-

to e a resposta mais atempada.

No decurso dos anos, o Grupo Germano de Sousa tem

acompanhado toda a evolução da Medicina e investido em

“O Grupo Germano de Sousa é o maior centro de medicina laboratorial presente em Portugal, gerido por médicos

que detêm a exclusividade do capital."

“O Grupo Germano de Sousa tem acompanhado toda a evolução da Medicina e investido em novas áreas,

reforçando o papel junto do Clínico sobretudo nos campos da genética e da genómica.”

Professor Germano de Sousa (Ex-Bastonário da Ordem dos Médicos; Presidente Executivo, Diretor Clínico e Fundador do Grupo Germano de Sousa) Dr. José Germano de Sousa (Médico Patologista Clínico e Administrador

do Grupo Germano de Sousa)

Page 39: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Grupo Germano de Sousa // Saúde // Abr2019 // 39

Importância dos testesO Grupo Germano de Sousa oferece com todas as garan-

tias de qualidade toda a gama de testes moleculares neces-

sários para que o médico oncologista possa intervir com efi-

cácia, quer em cancros primários como em cancros secun-

dários (metástases).

Percebendo que a requisição ao exterior de determinados

exames do espectro oncológico acarreta elevados custos para

o doente e que infelizmente não são em grande parte compar-

ticipados pelo Sistema Nacional de Saúde, o Grupo Germano de

Sousa tem feito um forte investimento tecnológico e de recur-

sos humanos que lhe permite assumir a realização de todos os

testes oncológicos, tornando-os muito mais acessíveis ao

doente. Neste sentido, o Professor Germano de Sousa lança o

alerta às companhias de seguros: na sua estratégia de negócio,

o financiamento de testes preditivos como o BRCA 1 e BRCA 2

(cancro da mama hereditário) pode, indiscutivelmente, refletir-

-se numa poupança para a seguradora a médio longo prazo

pois, perante o resultado, o doente tem a hipótese de reforçar

uma atitude preventiva.

“Uma das preocupações que nos parecem fundamentais é

ter, cada vez mais, testes de diagnóstico precoce e testes

preditivos de neoplasias hereditárias”, sublinha o Professor

Germano de Sousa. Assim, procurando colocar à disposição

do paciente os testes mais avançados e a preços mais ajus-

tados à realidade nacional, o Grupo Germano de Sousa reali-

za, entre outros, o teste Ophi-Breast+. Este é um teste gené-

tico de diagnóstico molecular realizado a partir de uma pe-

quena amostra de sangue em que mediante o estudo de 29

genes, permite determinar a suscetibilidade genética de

uma mulher desenvolver cancro da mama ou ovário e, no ca-

so de já existir um cancro, perceber se este é de origem fa-

miliar. Neste campo, surge também o EndoPredict, um teste

preditivo que define se uma doente com um cancro da mama

já submetida a cirurgia incorre no risco de, num espaço tem-

poral de dez anos, sofrer de metástases evitando assim tra-

tamentos tão violentos como a quimioterapia.

O Grupo Germano de Sousa é também o representante

exclusivo em Portugal do Select MDX, um teste para can-

cro da próstata que, se o resultado for positivo indica a

existência de um tumor com alto risco de agressividade e

impõe a realização de biópsia e que, se o resultado for ne-

gativo indica inexistência ou baixo risco da eventual neo-

plasia (com valor preditivo negativo de 98%).

Este teste evita mais de 50% das biópsias (sendo que

mais de 70% destas revelam resultados negativos, dado o

baixo grau de probabilidade de se selecionar tecido tumo-

ral) com toda a morbilidade que lhe está adjacente. Com a

informação molecular, adquirida por via da realização de

uma biópsia líquida, os patologistas clínicos detetam o

RNA mensageiro de duas mutações que definem o perfil

de risco de desenvolver um tumor o que permite aos mé-

dicos e aos patologistas clínicos, integrando equipas mul-

tidisciplinares, tomarem decisões terapêuticas.

Ainda na vanguarda do diagnóstico precoce, o Grupo

Germano de Sousa está a trabalhar na conclusão de um

teste genómico que através da análise da urina despista o

cancro da bexiga e suas recidivas – o Uro-Monitor.

“Quanto mais precocemente uma neoplasia for detetada,

melhores resultados clínicos são obtidos. A definição deste

momento é o futuro Santo Graal da oncologia médica”, expõe

José Germano de Sousa. A oncologia médica caminha a passos

largos no sentido de se detetar esse momento e estipular tem-

pos de vigilância. Falamos de decisões altamente complexas e

pouco consensuais dadas as componentes científicas, éticas,

económicas, políticas, sociais, etc. envolventes.

Esta rápida evolução da Patologia Molecular/Genómica, im-

portantíssimo ramo da Patologia Clínica, é altamente entusias-

mante e nas palavras do Professor Germano de Sousa “permite

ter a noção de que cada vez mais, o Laboratório é atuante e é

fundamental no prolongar da vida do doente oncológico”.

Big Data HumanoA descoberta da sequenciação do genoma

humano permitiu à Medicina ter um controlo

sobre a informação da pessoa que antes não

existia � Big Data do indivíduo: informação

molecular, perfil exato da pessoa, hábitos da

pessoa, etc.

Para maior e melhor interpretação dos da-

dos recolhidos, para além do software próprio,

o Grupo Germano de Sousa é o único laborató-

rio em Portugal a trabalhar com o IBM Watson

For Genomics, o maior computador do mundo

especializado nesta área e que integra uma

tecnologia suportada por inteligência artificial

que fornece informação terapêutica, validada

por especialistas, atualizada, abrangente e ba-

seada na evidência e em ensaios clínicos.

A "oncologia médica nunca poderá evoluir sem o apoio ao diagnóstico cada vez mais constante

da Patologia Molecular".

Sede Laboratorial do Grupo Germano de Sousa em Lisboa

Page 40: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

40 // Abr2019 // Saúde // Gastroenterologia - Professor Doutor José Cotter

Colonoscopia: o método mais eficaz no combate ao cancro do colon e reto

Pese embora os vários procedimentos utilizados, o Pro-

fessor Doutor José Cotter defende que “a colonoscopia é o

único método que permite efetuar o diagnóstico e, simul-

taneamente, deter capacidade terapêutica”. Ou seja, pos-

sibilita a realização do diagnóstico das lesões pré-malig-

nas, a sua extração, revelando ainda, face a todos os ou-

tros métodos, maior grau de sensibilidade.

Perante esta evidência o especialista entende que, “nem

sempre por razões completamente transparentes, têm vindo

a ser aconselhados outros métodos de diagnóstico, nomea-

damente a pesquisa de sangue oculto nas fezes”. Falamos

de um método alternativo que “revela falhas muito impor-

tantes”, nomeadamente a “baixíssima” sensibilidade para a

deteção de pólipos. Isto é, “apenas em cerca de 30% dos

doentes que revelam a presença de pólipos, manifesta-se a

presença de sangue oculto nas fezes. Como há dias alertou o

presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia

[Professor Doutor Luís Tomé], muitos dos doentes que fa-

zem o teste de sangue oculto nas fezes, obtém resultado ne-

gativo quando têm, efetivamente, pólipos em crescimento”.

O mesmo é dizer que os doentes ficam tranquilos por ter um

exame negativo, quando na realidade têm uma doença em

início que pode a breve trecho revelar-se maligna.

Focado na realidade portuguesa, o Professor Doutor José

Cotter entende que após as medidas de alargamento e a

criação de centros acreditados pelas entidades estatais

competentes para a realização de colonoscopias, estão reu-

A IMPORTÂNCIA DA COLONOSCOPIA ENQUANTO PRINCIPAL EXAME DE PREVENÇÃO E DETEÇÃO

PRECOCE DO CANCRO DO COLON E RETO É AMPLAMENTE DEFENDIDA PELO PROFESSOR

DOUTOR JOSÉ COTTER, MÉDICO GASTRENTEROLOGISTA E PROFESSOR DA ESCOLA

DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO MINHO.

O cancro do colon e reto, habitualmente designado por

cancro do intestino, “é uma doença gravíssima”, sendo a

segunda doença maligna que mais mortes provoca em

Portugal. Tal cenário, justifica, na visão do Professor Dou-

tor José Cotter, a tomada de medidas efetivas no âmbito

da prevenção e da deteção precoce da doença.

Surgem em Portugal cerca de 7 mil novos casos por ano

e a mortalidade associada a esta patologia atinge, anual-

mente, cerca de 4 mil doentes. Estes números são cho-

cantes face aos amplos benefícios de medidas concerta-

das de prevenção, pois, ao contrário de muitas outras

doenças malignas, em cerca de 90% dos casos o cancro é

precedido de uma lesão benigna, os designados pólipos

(adenomas). “Se esses pólipos forem diagnosticados e

retirados atempadamente, impedimos a evolução onco-

génica e esses doentes ficam curados. Quebra-se o pro-

cesso evolutivo do que poderia vir a transformar-se num

tumor maligno”, alerta o gastrenterologista.

“Surgem em Portugal cerca de 7 mil novos casos por ano de cancro do colon e reto e a mortalidade atinge, anualmente, cerca de

4 mil doentes”

“Se os pólipos forem diagnosticados e retirados atempadamente, impedimos a evolução oncogénica e esses doentes

ficam curados.”

Imagens que pretendem exemplificar o crescimento progressivo de um pequeno pólipo (à esquerda) até à cancerização (à direita)

Page 41: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Gastroenterologia - Professor Doutor José Cotter // Saúde // Abr2019 // 41

sar-se em fazer um programa de rastreio eficaz dentro dos

hospitais públicos, tal revela-se impossível nos próximos tem-

pos”. Com estas afirmações o especialista defende que, “numa

ação essencialmente política, se está a passar para a opinião

pública a ideia de um programa nacional de rastreio que, da for-

ma como está a ser tentado impor, na realidade, não tem condi-

ções morais, constitucionais e práticas para ser efetivado de

forma igualmente justa para todos.

Avanços na colonoscopia A colonoscopia apresenta-se hoje perante a comuni-

dade médica como o método de eleição na prevenção e

no diagnóstico do cancro do colon e reto, tendo evitado

muitas mortes pelo seu elevado grau de fiabilidade no

diagnóstico precoce de lesões malignas, mas, funda-

mentalmente, pela possibilidade de detetar e retirar le-

sões pré-malignas que poderiam degenerar em doen-

ça. É nesta linha de pensamento que o Professor Doutor

José Cotter realça que, “à semelhança do que já aconte-

ce em alguns países, é crucial sensibilizar os cidadãos e

os clínicos para a importância da realização de colonos-

copias”.

Os avanços na medicina permitem que a colonoscopia

e a preparação que antecede o exame não induzam ao

paciente o desconforto imposto outrora. O exame de-

corre sob efeito de sedação, sendo absolutamente in-

dolor, e o plano de preparação – isto é, a necessidade

de limpar o intestino – é feita com produtos que são,

incomparavelmente, menos desconfortáveis face ao

que anteriormente sucedia. “Têm um paladar menos

desagradável e apresentam-se num volume infinita-

mente menor, o que permite que as pessoas façam ho-

je esse processo sem grande dificuldade”, alerta o es-

pecialista.

Defenda-se do cancro do colon e retoO cancro do colon e reto revela taxas de prevalência

muito elevadas, porém beneficia de um eficaz método de

prevenção – colonoscopia – que, se realizado atempada-

mente, diminui francamente o risco de lesão maligna.

Informa-se que qualquer cidadão assintomático deve

solicitar junto do seu médico de Medicina Geral e Familiar

a realização da colonoscopia a partir dos 45 anos a 50

anos de idade.

Cidadãos que manifestem sintomas – sangue nas fe-

zes, alterações inexplicáveis de funcionamento do intesti-

no, dor abdominal persistente e sintomas chamados

constitucionais, como perda de peso, emagrecimento,

anemia – têm indicação para realizar o exame mais cedo.

Já os casos que apresentem risco familiar devem fazê-lo

mais precocemente.

nidas as condições para se efetuarem estes exames de for-

ma atempada como método de rastreio. Porém, aponta al-

guns pontos que inviabilizam a correta aplicação deste pla-

no: “Existe uma pressão muito grande, baseada numa pers-

petiva errada, que relega a eficácia para segundo plano

apostando em outros métodos de diagnóstico, nomeada-

mente, a pesquisa de sangue oculto nas fezes. Outro proble-

ma é que alguns estão a tentar realizar um programa de ras-

treio dentro dos hospitais públicos quando na realidade a

maior parte destes não possuem, neste momento, capaci-

dade para dar resposta, já que nem tão pouco a têm para os

seus próprios doentes intrínsecos (doentes das suas con-

sultas externas, doentes do internamento)”, alerta o espe-

cialista, dando enfoque à ideia de que “os cidadãos que vão

fazer rastreio, até prova em contrário, são saudáveis, pelo

que seria imoral, anti-constitucional (porque alteraria a

igualdade de acesso) e deontologicamente errado (como há

dias referiu a Senhora Ministra da Saúde) permitir a ultrapas-

sagem de uns em prejuízo de verdadeiros doentes que

aguardam meses e em alguns casos anos, pela realização de

um exame que o “seu” hospital não tem meios para lhe for-

necer atempadamente”.

As razões que limitam esta capacidade de resposta por parte

dos hospitais públicos são, “em primeiro lugar, a falta de recur-

sos humanos, nomeadamente, a falta de anestesistas que

prestam apoio às colonoscopias, mas também de gastrentero-

logistas, enfermeiros, e restante pessoal. Associadamente, há

em muitos hospitais públicos recursos técnicos manifesta-

mente insuficientes que não permitem que os serviços tenham

uma resposta assistencial atempada. Portanto, é utópico pen-

“O cancro do colon e reto revela taxas de prevalência muito elevadas, porém beneficia de um eficaz método de prevenção – colonoscopia – que, se realizado atempadamente,

diminui muito significativamente o risco de lesão maligna.”

“Os avanços na medicina permitem que a colonoscopia e a preparação que antecede o exame não induzam ao

paciente o desconforto imposto outrora.”

Retirada por via endoscópica de um pólipo do intestino

Page 42: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

42 // Abr2019 // Saúde // Cirurgia Plástica – Dr. António Conde

A Cirurgia Estética sob o ponto de vista do especialista

ATRAÍDO PELA ÁREA CIRÚRGICA, O DR. ANTÓNIO CONDE OPTOU POR ABRAÇAR A ESPECIALIDADE DE CIRURGIA PLÁSTICA PELO DESAFIO QUE UMA ÁREA AINDA EMBRIONÁRIA NO CONTEXTO NACIONAL LHE

APRESENTAVA, FUGINDO ASSIM AO CLASSICISMO DA CIRURGIA GERAL. OS PRIMEIROS MESES DE CONTACTO

COM A ESPECIALIDADE VALIDARAM ESTA ESCOLHA QUE HOJE MANUSEIA COM VERDADEIRA PAIXÃO.

Falamos de uma área que trabalha todo o corpo humano

e que se apresenta verdadeiramente diversificada na sua

ação, nunca dissociando a estética da função. “Se ao cor-

rigirmos um defeito estético não tivermos em considera-

ção a vertente funcional o resultado será sempre mau. Is-

to permite-me derivar para outro aspeto fundamental que

é a forma como nos é ensinada a especialidade e como

deve ser…”. Quer com isto o Dr. António Conde dizer que o

especialista em Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética

deve ter uma base muito forte de Cirurgia Reconstrutiva.

Esta experiência adquire-se na prática diária de um Servi-

ço hospitalar para onde são direcionados os casos de

grandes acidentados, amputações, etc. e onde é necessá-

rio fazer a correção de todas essas deformidades, algu-

mas do foro congénito. “É esta experiência que nos permi-

te avançar para a Cirurgia Estética”.

“A «Escola» transmite os conhecimentos sobre a prática

da Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, sendo a vertente estéti-

ca uma ramificação dessa grande área, todavia não devemos

deixar também de ensinar a Cirurgia Estética nos hospitais

onde os internos fazem a especialidade. Não há dúvida que

um defeito funcional requer muito mais atenção do que um

defeito estético – nesse sentido, os hospitais estão muito

mais vocacionados para esse tipo de correção –, todavia,

terminada a especialidade, muitos cirurgiões enveredam pe-

la Cirurgia Estética e necessitam de ter o conhecimento para

proceder a esses atos cirúrgicos. Considero por isso que es-

sa matéria deveria ser revista”.

Durante o período de internato, é incumbência do Serviço on-

de o médico está inserido facultar-lhe todas as ferramentas pa-

ra o seu desenvolvimento dentro da especialidade, mas, expõe

o Dr. António Conde, “compete também ao interno lutar pela

sua formação”. Foi com essa ambição que na década de 90

muitos dos médicos que integravam o Serviço de Cirurgia Plás-

tica e Reconstrutiva do Hospital de São João rumaram ao es-

trangeiro em busca de novas técnicas. Nessa vaga, o nosso en-

trevistado estagiou durante oito meses em Bordéus, França,

num centro, à época, altamente desenvolvido ao nível da micro-

cirurgia e cirurgia da mão. Fruto desse trabalho de investigação

e formação contínua, o Dr. António Conde foi pioneiro na intro-

dução de algumas técnicas em Portugal: “Ao nível da Cirurgia

Reconstrutiva introduzi em Portugal o retalho sural em ilha de

reconstrução do membro inferior. Descrevi e publiquei junta-

mente com Joseph Bakhach, o retalho auricular em ilha de fluxo

invertido para reconstruções da asa do nariz”.

Apesar dos avanços e da mudança de mentalidades,

ainda vivemos sob o estigma de que a estética é uma área

do foro cirúrgico que trata “pequenos caprichos”, o sonho

em alcançar o corpo ideal. Enquanto especialista que lida

diariamente com estes casos, o nosso interlocutor abre-

-nos uma janela para outra realidade onde a correção de

pequenos defeitos estéticos traz repercussões inimagi-

náveis à vida do indivíduo, como uma maior autoestima,

maior integração social e até adaptação ao mercado de

trabalho onde, em determinadas profissões, a imagem

assume elevada importância. Ademais, num universo

commumente associado à imagem feminina, cada vez

mais homens recorrem à cirurgia para corrigir alguns pro-

blemas estéticos, nomeadamente a calvície.

Perfil

Percurso académico concretizado na Faculdade de Medi-

cina da Universidade do Porto e no Hospital de São João on-

de ingressou para a especialidade no Serviço de Cirurgia

Plástica e Reconstrutiva. No término da especialidade foi

convidado para dirigir a Unidade de Cirurgia Plástica do Hos-

pital São Sebastião – com a atual designação de Centro

Hospitalar Entre Douro e Vouga – onde se manteve até 2018.

É responsável pela Unidade de Cirurgia Plástica do Hospital

dos Lusíadas – Porto, onde realiza a sua atividade clínica

particular, em exclusividade.

“Se ao corrigirmos um defeito estético não tivermos em consideração a vertente funcional o resultado será sempre mau. Isto permite-me derivar para outro aspeto fundamental que é a forma como nos é ensinada a especialidade e como deve ser...”.

Page 43: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Cirurgia Plástica – Dr. António Conde // Saúde // Abr2019 // 43

À luz do Estado da Arte, em que os melhores profissio-

nais atingiram um patamar de excelência na sua área de

especialização – por via de muita investigação, formação

e trabalho –, a presença no mercado de pessoas não habi-

litadas para a realização de técnicas de Cirurgia Estética

torna-se insustentável.

Sabemos que a Ordem dos Médicos permite que um indi-

víduo licenciado em Medicina e detentor de especialidade

proceda a intervenções cirúrgicas entrando livremente, por

exemplo, no campo da Cirurgia Estética. Se isto pode ser

aceitável em áreas-fronteira – “por exemplo, um otorrinola-

ringologista que trabalha o nariz sob o ponto de vista funcio-

nal pode, caso veja necessidade, fazer um ato estético” –,

“abre também caminho a ‘curiosos’ que, sem formação, utili-

zando materiais de qualidade duvidosa e em espaços sem

condições mínimas, se apresentam como especialistas, con-

correndo com profissionais devidamente acreditados e com

anos de formação”, alerta o Dr. António Conde. Esta intrusão

é altamente perigosa resultando em muitos casos de más

práticas que se tornam públicos, muitas vezes, pela ocorrên-

cia de mortes.

Com mais de 20 mil intervenções cirúrgicas realizadas, e um

volume acentuado de cirurgias reconstrutivas, o Dr. António

Conde assegura que o seu sucesso na cirurgia estética se deve

à forte casuística que detém na Cirurgia Plástica e Reconstruti-

va. “A Cirurgia Estética, sendo uma cirurgia delicada, torna-se

muitas vezes invasiva podendo ser alvo de complicações. Essas

complicações têm que ser, naturalmente, evitadas, mas peran-

te uma ocorrência o especialista tem que ter a capacidade de

tratá-la, algo que se adquire com o treino, nomeadamente, no

ato de Cirurgia Reconstrutiva”. A experiência permite enfrentar

todas as situações com a consciência da capacidade real para

solucionar problemas que, não sendo de todo recorrentes, po-

dem acontecer.

Prezando durante toda a sua carreira a seriedade no contacto

com o utente, o Dr. António Conde oferece aos seus pacientes as

condições de segurança para a prática da sua atividade. Operando

num hospital que tem assistência médica e de enfermagem 24 ho-

ras por dia, não se recorda de ter passado por nenhuma situação

crítica, porém não dispensa “fazer o trapézio com rede”.

Ao nível da estética, o especialista realiza um volume consi-

derável de mamoplastias de aumento e de redução, mastope-

xias, e reconstrução mamária já no campo da Cirurgia Plástica e

Reconstrutiva. No que concerne à cirurgia da face destacam-se

os face lifting, cirurgia do envelhecimento facial, blefaroplastia,

rinoplastia, abdomnoplastia, lipoaspiração, cirurgia da calvície

(ato em que foi pioneiro no Porto). Em todos estes atos cirúrgi-

cos o nosso entrevistado realça que deve imperar o bom senso:

“Temos que situar bem a expectativa do doente, explicar o que

é expectável e exequível, de modo a que o resultado final seja o

mais harmonioso possível”.

Reforçando a questão da qualidade dos materiais utilizados, nu-

ma intervenção comum como a colocação de próteses mamárias,

por exemplo, para um leigo na matéria, os produtos são todos

idênticos, porém as diferenças são avassaladoras aos olhos dos

profissionais. “As próteses que utilizamos têm um seguro asso-

ciado que é oferecido ao doente em caso da ocorrência de alguma

complicação – contraturas, mau posicionamento, rejeições, etc. –

que possa ocorrer no tempo. São (grandes) pormenores como es-

te que os doentes desconhecem e que podem ser cruciais na es-

colha do profissional ou entidade que vai proceder à sua interven-

ção”. Neste campo, o Dr. António Conde vai iniciar a utilização de um

software que permite à utente ver a antecipação dos resultados.

Através da digitalização do tronco da mulher, é possível selecionar

diferentes volumes e formatos com a participação da mulher.

À luz do Estado da Arte, em que os melhores profissionais atingiram um patamar de excelência na sua área de especialização – por via de

muita investigação, formação e trabalho –, a presença no mercado de pessoas não habilitadas para a realização de técnicas de Cirurgia

Estética torna-se insustentável.

Page 44: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

44 // Abr2019 // Saúde // Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial

Inovação na cura da Hiperidrose

também na cabeça. Esta alteração do sistema nervoso autó-

nomo provoca uma transpiração excessiva e desnecessária

das glândulas sudoríparas écrinas, que se revela muito incó-

moda, dado ser totalmente incontrolável e independente do

calor e de períodos de atividade, porém intimamente relacio-

nada com estados de ânimo. “Só de pensar que vai ter que

cumprimentar alguém com a mão, o doente começa a trans-

pirar. Em situações de mais stress e ansiedade o doente ain-

da transpira mais, criando um ciclo vicioso que não consegue

controlar”, expõe Javier Gallego, cirurgião cardiotorácico com

vasta experiência na cirurgia da Hiperidrose, tendo operado

mais de mil doentes com sucesso.

A Hiperidrose mais frequente é a das palmas das mãos –

Hiperidrose Palmar –, que surge normalmente em idade pe-

diátrica, muitas vezes associada à transpiração das axilas e

dos pés, ou a combinação destas possibilidades.

A Hiperidrose Axilar isolada surge mais tarde, habitual-

mente por volta da terceira década de vida do indivíduo. Nes-

te nível é importante diferenciar a Hiperidrose (transpiração

composta praticamente por água, que não revela cor nem

cheiro) da Bromidose, uma patologia que afeta as glândulas

sudoríparas axilares apócrinas, responsáveis pela produção

de um suor mais viscoso, de cor geralmente amarelada e

com cheiro próprio, que aumenta o desconforto dos pacien-

tes. “Muitos doentes revelam que logo após terminarem de

tomar banho, já libertam odor axilar o que provoca grande in-

cómodo”, comenta o especialista.

Estas formas da doença enquadram-se na esfera da Hipe-

ridrose Primária: resumidamente, está relacionada com um

defeito do sistema nervoso autónomo.

Outra manifestação classifica-se como Hiperidrose Se-

cundária que, por seu turno, surge associada a distúrbios

hormonais como a diabetes, hipertiroidismo, problemas on-

cológicos, etc., manifestando-se mais tarde, através de uma

sudação generalizada.

Terapêutica

Para um correto diagnóstico e solução terapêutica é fun-

damental que o paciente recorra a um médico especializado

na área da Hiperidrose. Habitualmente, estes doentes antes

de chegarem ao contacto com a Unidade de Hiperidrose e

Rubor Facial fizeram um longo percurso de consultas, sendo

reencaminhados para a Unidade por profissionais da Derma-

tologia ou da Medicina Geral e Familiar.

Falamos por isso com Javier Gallego. O cirurgião cardioto-

rácico explica-nos que a Hiperidrose é uma doença que reve-

la uma forte base genética, pelo que perante um novo caso

clínico o especialista questiona o doente sobre a existência

de antecedentes familiares, “sendo frequentes as respostas

afirmativas”. Se em tempos este problema não tinha solu-

ção, existindo adultos que conviveram com o desconforto ao

longo da vida, hoje são muitos os pais que trazem os filhos a

consulta.

Em ambiente de primeira consulta, na Unidade de Hiperi-

drose e Rubor Facial o paciente é observado e é definida a

patologia, com o apoio de uma equipa especializada, para um

correto tratamento – cirurgia; microondas; injeções de Bo-

tox®. A decisão final sobre a terapêutica a aplicar é sempre

feita pelo doente sob forte orientação clínica.

A HIPERIDROSE AFETA MAIS DE 300 MIL PORTUGUESES. ENTENDIDA PELO SENSO COMUM

COMO UMA CONDICIONANTE MERAMENTE ESTÉTICA DA VIDA DO INDIVÍDUO, A CIÊNCIA REFORÇA A HIPERIDROSE COMO UMA CONDIÇÃO MÉDICA E APRESENTA SOLUÇÕES DEFINITIVAS NA CURA

DESTA PATOLOGIA.

A Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial, sob a direção clí-

nica do Professor Doutor Javier Gallego, é composta por uma

equipa multidisciplinar e altamente especializada no trata-

mento da Hiperidrose e do Rubor Facial. Presentes em Lis-

boa, Porto, Coimbra e Algarve as suas equipas partilham os

mesmos princípios e a inovação na técnica cirúrgica.

Hiperidrose: o que é?

Sendo a transpiração uma resposta biológica necessária

para regular a temperatura corporal, a Hiperidrose pode ser

definida como um desajuste que provoca um excesso de su-

dorese, mesmo em ambientes climatizados, independente-

mente de o indivíduo sentir calor ou não.

Esta é uma patologia que se caracteriza pelo desajuste da

termorregulação, função do sistema nervoso autónomo que

depende de um tipo de glândulas sudoríparas específicas

designadas de glândulas écrinas – localizadas com maior

concentração ao nível das mãos, das axilas e dos pés, mas

Um dos grandes problemas da Hiperidrose prende-se com o facto de muitos pacientes e a população em geral

desconhecerem que este distúrbio é um problema de saúde que pode ser tratado.

Page 45: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial // Saúde // Abr2019 // 45

resultados num período de 6 a 8 meses. Para estes casos de

Hiperidrose Axilar apresenta-se uma terceira opção de tra-

tamento com microondas, através de um equipamento es-

pecífico - MiraDry® - que utiliza microondas eletromagnéti-

cas para vaporizar e eliminar as glândulas sudoríparas écri-

nas e apócrinas das axilas. A aplicação de microondas é se-

gura, não há relatos de efeitos colaterais e é a terapia mais

recomendada por médicos de todo o mundo graças ao per-

centual, quase absoluto, de casos tratados com sucesso.

Ao nível da Hiperidrose Plantar o controlo da transpiração

revela-se mais complexo de tratar em todas as suas formas,

sendo que aqui os resultados não são tão satisfatórios com

os tratamentos atuais.

Perante doentes que manifestem a doença nas mãos, axi-

las e pés, Javier Gallego aconselha a cirurgia como o melhor

tratamento. “Porquê? Porque com isso conseguimos tratar

as mãos e as axilas de forma definitiva e, provavelmente,

melhorar muito os pés”, explica-nos.

Para os pacientes que transpiram ao nível da cabeça são

apresentadas três possibilidades. Alguns especialistas apli-

cam Botox® ao nível do couro cabeludo, mas a dor e o des-

conforto que esta aplicação provoca numa área tão grande,

não se revela no entendimento de Javier Gallego a solução

mais viável. Em 2018 o especialista começou a aplicar um

composto de manipulação farmacêutica chamado Glicopiro-

lato, que é feito sob a forma de gel, que responde às especi-

ficidades de cada doente, e que “tem apresentado bons re-

sultados ao nível da transpiração crânio-facial”. Existe tam-

bém a possibilidade de se fazer um tratamento definitivo por

via cirúrgica, “aplicando a técnica num ponto mais alto da ca-

deia simpática torácica”.

Esta cirurgia é aplicada também aos doentes que revelam

rubor facial – reação com uma base patológica de alterações

do sistema nervoso autónomo –, que são submetidos a uma

cirurgia que consegue controlar aquilo que muitos doentes

designam como “explosões de calor” e que se reflete na ver-

melhidão do rosto.

Um dos grandes problemas da Hiperidrose prende-se com

o facto de muitos pacientes e a população em geral desco-

nhecerem que este distúrbio é um problema de saúde que

pode ser tratado. Todos os interessados em saber mais ou

entrar em contacto com a equipa da Unidade de Hiperidrose

e Rubor Facial encontram no site hiperidrose.pt todas as ex-

plicações, locais de tratamento e a possibilidade de fazerem

marcação de consulta online.

Diferentes respostas terapêuticas

A Simpatectomia Torácica Superior Bilateral é a cirurgia

que trata definitivamente a Hiperidrose Axilar, Palmar e

Plantar. Fazendo duas pequenas incisões de 3mm por baixo

da axila, o cirurgião começa por introduzir um tubo flexível

com uma microcâmara até junto do nervo simpático, situado

nas costas junto da coluna vertebral. Na outra incisão, o ci-

rurgião introduz o clip de titânio que permite isolar o gânglio

responsável pela produção de suor na região afetada pela

Hiperidrose. A cirurgia demora entre 10 a 15 minutos, estando

o doente sob o efeito de sedação. Acordando no recobro o

paciente depara-se com a resolução do seu problema de

forma definitiva e tem alta para o domicílio.

A Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial foi pioneira em Por-

tugal na técnica de colocação de clips de titânio, quando muitos

cirurgiões ainda optam por uma técnica clássica, a ablação ou

corte do nervo simpático, responsável pelo processo que con-

duz à transpiração das mãos e axilas (ver caixa de texto).

A Hiperidrose Palmar beneficia de tratamento cirúrgico,

minimamente invasivo, com uma taxa de sucesso na ordem

dos 98% e que resolve de forma simples e definitiva o pro-

blema. Neste caso, surge também a possibilidade de aplicar

Botox® nas mãos, porém o tratamento revela-se “extrema-

mente doloroso e tem uma duração inferior a dois meses”.

Para além da necessidade de efetuar uma manutenção re-

gular, o paciente corre o risco de perder força muscular nas

mãos, dado que a toxina botulínica bloqueia a musculatura.

Quando se trata de uma transpiração axilar de forma isola-

da, a cirurgia oferece resultados positivos, com taxas de su-

cesso de 98%. A aplicação de Botox® revela também bons www.hiperidrose.pt

www.umics.pt

Técnica cirúrgica inovadoraA Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial opera cerca de 300 doentes por ano. Apoiada na forte es-

pecialização dos seus profissionais, a Unidade de Hiperidrose e Rubor Facial foi pioneira em Portugal

na técnica de colocação de clips de titânio, um tratamento definitivo, seguro, minimamente invasivo,

que permite ao doente ir para casa no mesmo dia. Uma intervenção que beneficia ainda de comparti-

cipação pela maior parte das seguradoras e subsistemas de saúde.

A Simpatectomia Torácica Superior Bilateral vídeo assistida com clips é uma técnica considerada

reversível no caso de doentes que possam ter uma transpiração compensatória que oscila em cerca

de 1% a 2% dos doentes operados, recuperando o estado anterior em alguns meses.

Page 46: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico
Page 47: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico
Page 48: Pedagogia e Arquitetura - olhares cruzadosperspetivas.pt › wp-content › uploads › 2019 › 04 › 33_PERSP_COMPLETA.pdfe melhoria escolar a nível arquitetónico e pedagógico

Smart Boards da última geração, dotados de alta resolução e conectados a dispositivos móveis com conteúdos e software pedagógicos, tablets, computadores portáteis, acesso a manuais e

plataformas digitais vocacionadas para potenciar a aprendizagem autónoma dos alunos, escola virtual, reforço da proficiência oral do inglês, apostando no seu ensino com professores nativos bilingues... estes são apenas alguns dos inúmeros recursos e ferramentas disponibilizados no

âmbito do PROJETO BYTE. Um projeto com a marca CCG, que concilia uma Formação Tecnológica com uma vertente Humanista, assente numa metodologia de trabalho de projeto colaborativo,

para uma verdadeira EDUCAÇÃO COM VALOR!

Creche • Pré-Escolar • 1º e 2º CiclosTel.: 22 906 00 18 – 96 002 20 30 • [email protected] • www.colegioccg.com