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PAULO YURI OLIVEIRA BARACHO
NOVAS ABORDAGENS NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES
DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: SISTEMA DE
GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL
NATAL-RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Paulo Yuri Oliveira Baracho
Novas abordagens na prevenção de acidentes de trabalho na construção civil: sistema de
gestão da segurança e saúde ocupacional
Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida
Natal-RN
2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Baracho, Paulo Yuri Oliveira.
Novas abordagens na prevenção de acidentes de trabalho na
construção civil: sistema de gestão da segurança e saúde
ocupacional / Paulo Yuri Oliveira Baracho. - 2018.
16 f.: il.
Artigo científico (graduação) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia
Civil. Natal, RN, 2018.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida.
1. Segurança do trabalho. 2. Novas abordagens. 3. Prevenção
de acidentes. I. Almeida, Marcos Lacerda. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 331.46
Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco – CRB 15/262
Paulo Yuri Oliveira Baracho
Novas abordagens na prevenção de acidentes de trabalho na construção civil: sistema de
gestão da segurança e saúde ocupacional
Trabalho de conclusão de curso na modalidade
Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.
Aprovado em 20 de junho de 2018:
___________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Orientador
___________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Waldemiro Soares Cunha - Examinador interno
___________________________________________________
Eng. Ramon Catarino Pessoa Vieira Lima- Examinador externo
Natal-RN
2018
RESUMO
NOVAS ABORDAGENS NA PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE TRABALHO NA
CONSTRUÇÃO CIVIL: SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE
OCUPACIONAL
A Segurança no Trabalho é uma importante ferramenta para o desenvolvimento e
conscientização nas atividades na construção civil de forma a obter qualidade de vida para o
trabalhador. Este trabalho tem por objetivo evidenciar que a Segurança no Trabalho no setor
da Construção Civil é um procedimento necessário para a prevenção de acidentes. Foi
desenvolvido pesquisa na área sobre os aspectos da segurança no trabalho no setor da
construção civil e os aspectos de organização e segurança do trabalho. Verifica-se que o
comportamento e atitudes dos trabalhadores aliadas ao ambiente e processo de trabalho são
desencadeadores dos acidentes de trabalho. Assim, a Segurança no Trabalho decorrem da
importância de minimizar os riscos a que estão expostos os trabalhadores e promover uma
cultura prevencionista no ambiente de trabalho, sendo ela associada a novas abordagens que
contribuam para essa redução. O setor da construção civil é caracterizado pela baixa
escolaridade da mão-de-obra, conscientização da falta de atenção, exposição a trabalhos
intensos, ambiente de trabalho inseguro, falta de utilização de equipamentos de proteção
individual. Como sabemos o objetivo da segurança no trabalho é desenvolver ações
preventivas no sentido de evitar danos à saúde do indivíduo, também busca envolver os
trabalhadores e os empregadores na busca de um ambiente de trabalho saudável e melhor
qualidade de trabalho e de vida.
Palavras-chave: Segurança no trabalho. Prevenção de acidentes. Novas abordagens.
ABSTRACT
NEW APPROACHES TO PREVENTING WORPLACE ACCIDENTS IN CIVIL
CONSTRUCTION: OCCUPATION HEALTH AND SAFETY MANAGEMENT SYSTEM.
Safety in a work environment is an important tool for development and awareness on
civil construction activities when aiming to ensure life quality to the labor class. This work
has the objective to evidence the fact that work safety is a vital procedure in civil construction
in order to prevent accidents. Research was developed about the work safety and
organizations aspects within civil construction environment. It is verified that workers‟
behavior and procedures combined with working protocols are the acidents‟ triggers.
Therefore, work safety comes from the importance to minimize risks which the workers are
exposed to and to promote a preventive culture inside the work environment, with it being
associated to new approaches that contribuite to this reduction. Civil construction sector is
known for its low education level manpower, lack of focus awareness, intense work routine
exposure, unsafe work environment and lack of individual protection equipments. As we
know safety work objective is to develop preventive actions in order to avoid health
manpower risks, and also to involve both workers and employers in the search for a healthy
work environment and better work and life quality.
Keywords: Work safety, accident prevention, new approaches.
5
Paulo Yuri Oliveira Baracho, graduando em Engenharia Civil, UFRN
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida, Departamento de Engenharia Civil da UFRN
1- INTRODUÇÃO
A construção civil ao longo do tempo vem passando por um grande processo de
transformação, seja na área de projetos, de equipamentos ou na área pessoal. Nesta
transformação da construção tivemos a perda de milhões de vidas, provocadas por acidentes
de trabalho, causadas principalmente, pela falta de controle do meio ambiente de trabalho, do
processo produtivo e da orientação dos operários. Muitos destes acidentes poderiam ser
evitados se tivessem desenvolvido e implantado programas de segurança e saúde no trabalho.
Estes programas visam à antecipação, avaliação e o controle de acidentes de trabalho e riscos
ambientais existentes no ambiente de trabalho.
A análise de acidentes se defronta com várias dificuldades insuperáveis através de uma
abordagem clássica, típica das teorias e práticas que orientam as atuais políticas de segurança
no trabalho. Na tentativa de compreender os acidentes e na elaboração das medidas
preventivas, se reproduz a concepção “naturalista” hegemônica na análise clássica das causas
dos acidentes. As falhas humanas (atos inseguros) e causas materiais ou naturais (condições
inseguras) não representam a natureza específica do acidente de trabalho. No mundo da
produção, as perturbações, os acidentes, as disfunções são sempre relacionados a uma “falha”
ou “erro humano”. (FPA, Lima ; ASSUNÇÃO, Ada, 2010)
De modo geral, como toda falha decorre de uma decisão humana, o que se denomina
“falha técnica” nada mais é do que o resultado de decisões anteriores. Todo evento tem
antecedentes e uma certa história. A falta desta perspectiva é a principal deficiência das
análises dos acidentes ocorridos: não se investiga a árvore de causas até chegar a estas
decisões críticas, que, as vezes, fazem parte do cotidiano da produção e da gestão de um
sistema complexo. Os erros ativos são associados às atividades dos operadores que estão
na „linha de frente” de um sistema complexo, já os erros latentes, por sua vez, têm sobretudo
uma tendência a se originarem nas atividades daqueles que estão afastados do controle direto,
tanto no tempo quanto no espaço: os projetistas, os tomadores de decisões de alto escalão, os
trabalhadores que constroem o sistema, os diretores e o pessoal de manutenção.(REASON,
1993)
Neste sentido, a Gestão de Segurança ajuda a monitorar o que acontece na obra e
permitem controlar alguns elementos, como instalação de EPC – Equipamentos de Proteção
Coletiva; entrega, troca e devolução de EPI – Equipamentos de Proteção Individual; para o
trabalhador e ajudam a reduzir os números alarmantes de acidentes de trabalho da construção
civil no Brasil. Dessa forma, é possível ter mais produtividade e um desempenho positivo sem
esquecer o principal, que é a segurança.
________________
Este Artigo vai estudar e demonstrar os atuais métodos de análise dos acidentes do
trabalho e as tentativas de reduzi-los, à vista da sensação generalizada de que na pesquisa dos
acidentes do trabalho são necessárias teorias radicalmente novas. A realização deste trabalho
justifica-se por buscar a melhoria da gestão de segurança do trabalho na construção civil, afim
de contribuir para redução do número de acidentes e incentivar uma análise mais precisa e
elaborada das causas e formas de prevenções dos mesmos.
treinamentos dos colaboradores por função e avaliação de eficácia; planejamento e
apresentação das reuniões de segurança e documentação trabalhista; registros dos
colaboradores. Estes e outros elementos trabalhados pela gestão garantem mais segurança
6
2- REVISÃO DE LITERATURA
2.1 – RISCOS ENVOLVIDOS NO TRABALHO
Toda análise da árvore de causas, levada a bom termo através de uma pesquisa
exaustiva, conduz necessariamente às decisões que estão na raiz dos eventos imediatos
que estão diretamente relacionados ao acidente. Evidentemente seria necessário uma
investigação bem mais aprofundada, que pudesse retratar o cotidiano da empresa, antes de
apontar tais decisões críticas.
Logo, em uma análise sobre os principais riscos oferecidos aos trabalhadores da
construção civil, temos:
Queda de pessoas e de cargas;
Queda de altura;
Espaços confinados;
Cargas instáveis que se deslocam;
Colisão com outros veículos;
Fadiga causada por longas viagens;
Carga física e riscos elétricos;
Falta de manutenção em equipamentos;
Falta de treinamento de capacitação;
Falta do uso de EPI‟s e EPC.
O risco é parte inerente da atividade humana. O domínio do homem sobre a natureza
só se desenvolve quando se exploram objetos desconhecidos. Não há como fazê-lo sem
assumir uma certa dose de risco. De certa forma, o risco é o preço que se paga ao
desenvolvimento da própria capacidade humana de tornar a vida mais confortável e mais
segura. Todavia, esta argumentação abstrata não justifica a distribuição desigual dos riscos e
das responsabilidades entre trabalhadores e os tomadores de decisão. Esse é o ponto falho da
ideologia do “risco social”, que tolera os acidentes em nome do progresso econômico.
Segundo Celso B. Leite, ex-secretário da Previdência Social, os acidentes e doenças
do trabalho devem ser considerados como um “risco social”, sendo inadequada a concepção
de risco profissional que acarreta a responsabilidade civil da empresa.
2.2 – DADOS ESTATÍSTICOS
Os acidentes de trabalho no Brasil são negativos tanto para as empresas e para as
vítimas quanto para a Previdência Social. De acordo com o Ministério de Trabalho e Emprego
(MTE), 20% a 40% dos acidentes de trabalho no Brasil estão relacionados ao trabalho em
altura, sendo a principal causa de mortes na indústria no país. Na última divulgação
do anuário estatístico, a Previdência Social informou que, no período de 2007 a 2013, 45%
dos acidentes de trabalho ocasionaram morte, invalidez permanente ou, no mínimo,
afastamento do trabalho por período temporário. Considerando-se que no ano de 2013, o
Brasil registrou 2797 óbitos. Com isso, pelo menos 559 destes óbitos, equivalente a 20% do
total, teriam sido ocasionados por quedas em trabalho em altura, podendo esse número ser
superior, considerando que foram registrados apenas trabalhadores de carteira assinada. (FEITEN, 2015)
7
Gráfico 1- taxa de mortalidade por acidente e doença do trabalho
.
Fonte Disponível em:
http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/legislacao_2016_14120161355237055475.pdf
2.3 – NORMAS REGULAMENTADORAS
As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e saúde do trabalho, são de
observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da
administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário,
que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.
Normas regulamentadoras Aplicadas a Construção civil
NRs 1 à 5 - Disposições Gerais (CIPA)
NR 6 - Equipamentos de Proteção individual
NR 7 - Exames médicos
NR 8 - Edificações
NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
NR 10- Segurança em instalações e serviços em eletricidade
NR 11- Transporte, movimentação, Armazenagem e manuseio de materiais
NR 12- Segurança do trabalho em máquinas e equipamentos
NR 13- Caldeiras, vasos de pressão e tubulação
NR 14- Fornos
NR 15 – Atividade e operações insalubres
NR 16 – Atividades e operações perigosas
NRs 17 à 22 - Ergonomia, explosivos, inflamáveis e trabalhos a céu aberto
NR 23 – Proteção contra Incêndios
NRs 24 e 25 Condições sanitárias e resíduos industriais
NR 26 – Sinalização de Segurança
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NRs 27 e 28- Registro profissional, fiscalização e penalidades
NR 33- Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados
Muitas foram as alterações introduzidas na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho),
especificamente no Capítulo V, Título II em dezembro de 1977 e 1978, conforme a Lei n.
6514, por ser a construção, um cenário de construção de grandes obras que dependiam de
recursos internos, no ano de 1977, por meio da Lei n. 6514 de 22 de dezembro, foi criada a
Portaria n. 3214, de 08 de Junho de 1978, introduzindo no cenário da Engenharia de
Segurança no Trabalho e, consecutivamente, no setor da construção civil, as Normas
Regulamentadoras (NRs), que vigoram até os dias atuais.
A partir de então, com a introdução da segurança do trabalho no ramo da construção
civil, ainda assim, todos os envolvidos na área da construção civil precisam promover e
aplicar programas de Engenharia de Segurança no Trabalho como ferramentas obrigatórias
para reduzir os acidentes de trabalho, fazendo com que os operários se sintam mais seguros.
Para que um Programa de Segurança seja eficaz é necessário que este se realize como um
trabalho de equipe, tendo em vista a importância da educação no processo de orientação ao
trabalhador.
Figura 1- Normas regulamentadoras
Fonte Disponível em: http://segemed.com.br/seguranca-do-trabalho-conceito-normas-
regulamentadoras-responsabilidades-e-reducao-de-custos
Pode-se citar itens relevantes ao que diz relação com o processo documental de gestão
de segurança no trabalho no setor de construção civil, são itens que devem fazer parte do
cotidiano da segurança no trabalho, todos os itens pesquisados para o trabalho, foram citados
a partir de pesquisas do autor, não há norma específica que trata exclusivamente de toda
documentação de segurança no trabalho na construção civil, em um primeiro momento
buscou-se o máximo de informação possível para atender toda questão da gestão em
segurança no trabalho no setor da construção civil.
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2.4 – ISO 45001:2015
No mês de março de 2018 foi publicada a Norma ISO 45001, mais precisamente no
dia 12 e foi aprovada após uma impressionante votação final de 93% pelos Organismos
Nacionais de Normalização (National Standard Bodies - NSBs) membros da ISO. A ISO
45001 é a nova norma internacional para saúde e segurança ocupacional (SSO) e substituirá a
atual OHSAS 18001.
Pela Norma ISO 45001, risco de Segurança e saúde ocupacional (SSO) é a
combinação da probabilidade de ocorrência de um evento ou problemas de saúde, que pode
ser causada por um evento ou exposição. O levantamento e a reavaliação dos riscos, segundo
a Norma, é uma etapa fundamental para a implantação e manutenção de um sistema de gestão
de SSO, principalmente no que diz respeito a prevenção de acidentes. A Norma com o seu
formato baseado no Anexo SL utiliza do princípio do Método iterativo de gestão de quatro
passos (PDCA), utilizado para controle e melhoria contínua de processos e produtos, para
estruturar o sistema de gestão de SSO. Na etapa de planejamento (P – Plan) a norma propõe o
levantamento dos riscos, através dos itens Contexto da Organização (4) e Planejamento (6)
Figura 2- Estrutura da Norma ISO 45001:2015 segundo conceito de PDCA
Fonte Disponível em: https://certificacaoiso.com.br/iso-45001-prevencao-de-acidentes-e-o-modelo-
do-queijo-suico/
O fluxo proposto é que com base nos riscos identificados no item Contexto da
Organização a etapa de Planejamento proponha ações para:
Garantir que o sistema de gestão da SSO pode alcançar seu resultado pretendido(s);
Prevenir, ou reduzir, efeitos indesejáveis;
Alcançar a melhoria continua.
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Também na etapa de Planejamento, o objetivo é identificar os perigos e avaliar os
riscos de SSO, para que Controles Operacionais e Ações Emergenciais sejam definidos e
implantados focando na prevenção de incidentes e acidentes.
3- MATERIAS E MÉTODOS – METODOLOGIA
3.1 – CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE ABORDAGENS TRADICIONAIS
Ao se fazer uma análise crítica das abordagens tradicionais dos fatores humanos, sobre
as quais foram desenvolvidas as técnicas e a prática da prevenção e da engenharia de
segurança. O estudo dos homens no trabalho, visando a melhoria de seu desempenho e da
segurança se distribuem entre dois polos extremos, cada qual com sua abordagem, métodos e
conceitos próprios: de um lado a caracterização do fator humano como falha humana, de
outro, como recurso humano. O quadro seguinte resume de forma contrastada os principais
aspectos dessas duas abordagens:
Quadro 1- Abordagens Tradicionais dos fatores humanos
Cada uma dessas abordagens trata do processo de trabalho munida de pressupostos
específicos sobre (1) o que é o homem; (2) o que é tecnologia; e (3) o que é trabalho. No que
diz respeito à segurança no trabalho, o pressuposto das teorias da falha humana é que a
atividade correta é considerada como já conhecida, sendo possível formalizá-la
em procedimentos operatórios e treinar os trabalhadores. (CHRISTOPHE, Dejours, 1995)
Assim, os erros humanos se explicariam a partir de dois grupos de hipóteses
possíveis:
1ª) em termos de negligência ou de incompetência [podemos acrescentar também, a
imperícia];
2ª) insuficiência da concepção ou da prescrição do comportamento.
Fonte Adaptada de Dejours. O Fator Humano . São Paulo, FGV (2007)
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3.2- LIMITES DA LEGISLAÇÃO E DA NORMATIZAÇÃO PARA A PREVENÇÃO
Certos tipos de acidentes ocorrem sem que alguém tenha cometido um erro visível:
são acidentes onde não se identificam falhas humanas ou condições inseguras diretamente
relacionadas ao evento. É fácil ver que uma prática que sempre busca um culpado, um bode
expiatório, fique desnorteada diante desses eventos sem culpa ou responsabilidade pessoal. Os
serviços de segurança internos à empresa e a presença do engenheiro de segurança se
tornaram obrigatórios por força de lei, o que favorece um certo desvio da prática
prevencionista.
A reserva de mercado do engenheiro de segurança tem como contrapartida a ação nos
limites do previsto na lei e de forma apenas legal. Não importa se a prevenção está sendo
efetiva, importa se a lei está sendo cumprida. Há uma série de procedimentos, todos criados
com as melhores intenções, que se tornam meros rituais uma vez que são incorporados à
legislação e tornados obrigatórios na prática da engenharia de segurança e de outras profissões
relacionadas à saúde do trabalhador. O caso da NR-17, com a fixação de limites para entrada
de dados, é paradigmático: desde que o número de toques esteja abaixo do limite legal, os
novos casos de lesões por esforços repetitivos são descaracterizados e atribuídos a outras
causas não relacionadas ao trabalho. O mesmo ocorre com a obrigatoriedade dos mapas de
risco, do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) e do PPRA
(Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais), cumpridos apenas de forma ritualística e
sem uma preocupação efetiva com a segurança e a saúde do trabalhador.
3.3 – APLICAÇÃO DA ISO 45001: O QUE MUDOU COM RELAÇÃO À OHSAS
18001
A OHSAS 18001, atualmente a mais popular norma de Sistema de Gestão de Saúde e
Segurança do Trabalho está sendo substituída pela ISO 45001, uma norma internacional, bem
mais moderna e coerente com as demais normas. Desde a sua primeira publicação em 1999, a
OHSAS 18001 tem sido uma norma de sistema de gerenciamento de segurança e saúde
ocupacional (SSO) mais aceitas e certificadas no mundo.
A primeira diferença diz respeito à sua estrutura. O ISO 45001 é baseado no Guia ISO
83 (“Anexo SL”), que define uma estrutura comum de alto nível, texto e termos e definições
comuns para a próxima geração de sistemas de gerenciamento, como ISO 9001 e a ISO
14001. Esta estrutura visa facilitar o processo de implementação e a integração de vários
sistemas de gestão de forma harmonizada, estruturada e eficiente. Há também um foco mais
forte no “contexto da organização”, ou seja, as organizações terão que olhar além de seus
próprios problemas de saúde e segurança e considerar o que a sociedade espera deles, em
relação aos problemas de saúde e segurança.
Algumas organizações que utilizam o OHSAS 18001 delegam responsabilidades de
segurança a um gerente de segurança, em vez de integrar o sistema nas operações da
organização. O ISO 45001 requer a incorporação de aspectos de saúde e segurança no sistema
geral de gerenciamento da organização, levando a alta administração a desempenhar um papel
de liderança mais forte no que diz respeito ao sistema de gerenciamento de SSO, além de
concentra-se na identificação e controle de riscos ao invés de perigos, como é exigido no
OHSAS 18001. Essa mudança é bastante significativa, pois requer da organização uma
análise muito mais detalhada das hipóteses de risco e não somente daquilo que já se tornou
perigoso.
O ISO 45001 exige que as organizações tenham em conta como os fornecedores e os
contratantes estão gerenciando seus riscos. Não basta mais apenas auditar os fornecedores ou
monitorar seus acidentes. A organização precisará acompanhar a gestão de seus riscos. Nesse
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sentido alguns conceitos fundamentais são alterados, como risco, trabalhador e local de
trabalho. Há também novas definições de termos, tais como: monitoramento, medição,
eficácia, desempenho e processo de SSO
Na ISO 45001, os termos “documento” e “registro” foram ambos substituídos pelo
termo “informações documentadas”, também afirma que a informação documentada deve ser
mantida na medida necessária para ter confiança de que os processos foram realizados
conforme planejado. Apesar dessas mudanças, o objetivo geral do ISO 45001 permanece o
mesmo que a OHSAS 18001, que consiste em reduzir os riscos inaceitáveis e garantir a
segurança e o bem-estar de todos os envolvidos nas atividades de uma organização. Porém, os
controles se tornam ainda mais necessários.
4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior parte dos especialistas mencionados, consideram inevitável que os acidentes
ocorram e continuem a ocorrer diante da relatividade de nosso conhecimento, da incerteza em
situações de tomada de decisão ou devido à complexidade dos sistemas sócio técnicos. Apesar
de compartilharmos seus diagnósticos, acreditamos que a análise das condições cotidianas,
que dos processos decisórios quer da gestão e do controle da produção, permite evidenciar os
mecanismos de regulação e, desta forma, se antecipar àqueles eventos catastróficos que se
anunciam. Em alguns casos, a experiência acumulada já permite reconhecer situações
potencialmente arriscadas:
1) transferência de tecnologia;
2) aumento de produtividade;
3) mudanças de processos e introdução de inovações;
4) mudanças organizacionais (turnos, terceirização, aposentadorias e demissões).
Inovações importantes deveriam ser reproduzidas em escala real, mas de forma
controlada, não mesclando atividades produtivas e experimentos. A produção sempre está
sujeita a certas exigências (prazos, qualidade e quantidade) que são incompatíveis com a fase
de aprendizagem e de domínio de um novo processo. Aqui é necessário mais cautela e mais
tempo de reflexão, raramente possíveis quando se entra no ritmo de produção normal. Em
suma, uma concepção de segurança que, revalorizando o cotidiano e a experiência, permita
antever e evitar os acidentes normais, está baseada nos seguintes princípios:
1) análise voltada às situações de “normalidade”, procurando evidenciar os compromissos
cognitivos, as micro regulações, as variabilidades do processo e os incidentes;
2) controle especial de situações potencialmente perigosas, como inovações tecnológicas e
organizacionais, transferência de tecnologia, mudanças de procedimentos e de processos,
corridas por aumento de produtividade. O fundamento desse controle também está no
conhecimento do cotidiano mencionado no item anterior. Sobretudo quando se trata de
transferência de tecnologia, esquece-se de trazer junto com o equipamento as regras
de prudência que garantiam a sua operação segura;
3) Revalorização da intuição e da experiência dos trabalhadores, sobretudo daqueles que estão
em posição subalterna e que não dominam nem as habilidades discursivas nem os
instrumentos de demonstração matemática e experimental de suas opiniões;
4) abrir espaço e valorizar a controvérsia ao invés do consenso. Em termos de antecipação de
risco potenciais, manter a fé em demonstrações objetivas é evidentemente inadequado. Deque
vale a certeza dos números diante de eventos que são, por natureza, incertos? Os cálculos
probabilísticos da confiabilidade de sistemas têm se mostrado insuficientes para lidar com
sistemas complexos. Por outro lado, o consenso, hoje tão valorizado na gestão à moda
japonesa, normalmente obtido pela coerção direta ou indireta, elimina as diferenças de
opinião e faz com que as controvérsias acabem antes de se chegar a um real convencimento;
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5) desenvolvimento coletivo e socialmente controlado de tecnologias de risco.
Esta prática de cooperação já é uma realidade em pesquisa e desenvolvimento que
envolvem investimentos de risco. Nada impede que também seja um investimento para avaliação e
controle dos riscos em prol da segurança
6- CONCLUSÃO
Este presente artigo teve por objetivo, demonstrar alguns pontos que afligem os
especialistas a respeito das novas abordagens em segurança do trabalho na construção civil.
Desta forma, observamos que não há porque esperar que os acidentes ocorram para agir
corretivamente: eles já estão de certa forma presentes nas situações cotidianas. Temos que
aprender a ouvir os trabalhadores, reconhecer as suas opiniões e suas preocupações, a analisar
as suas estratégias e os mecanismos de regulação. Infelizmente, o que se observa na maioria
dos casos, sobretudo quando se trata de analisar os acidentes graves, é um verdadeiro silêncio
em torno da experiência vivida dos trabalhadores diretamente envolvidos com a operação.
Podemos também entender porque a corrida pelo aumento contínuo de produtividade e
as inovações tecnológicas representam situações de risco potencial. A corrida
pela produtividade desestabiliza as regulações e modos operatórios já consolidados, ao levar
os mecanismos de regulação ao extremo, reduzindo os espaços e margens de manobra dos
operadores para lidar com as variabilidades e com os incidentes. Cada minuto economizado
em um processo, é um minuto a menos para diagnosticar problemas e corrigi-los. Quebra-se a
tradição e não se criam as condições necessárias para que ela se reconstitua.
Essa forma de ver o cotidiano do trabalho implica em outra concepção de velhos
conceitos. Assim, a margem de segurança deixa de ser apenas uma indicação de nossa
ignorância a respeito de uma dada realidade.
14
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
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ÁVILA, A. A. Para uma nova abordagem da segurança no trabalho. Disponível em :
<https://pt.scribd.com/document/350100761/Para-Uma-Nova-Abordagem-Da-Seguranca-No-
Trabalho> Acesso em 20 de maio. 2018
REVISTA PLANETA. Segurança em foco. 2016. disponível em:
<http://www.revistaplaneta.com.br/seguranca-em-foco/> Acesso em 15 abril. 2018
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<http://www.federacaodosestivadores.org.br/painel/lateral/NR-35 (Trabalho em Altura).pdf>.
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PORTARIA SECRETARIA DE INSPEÇÃO DO TRABALHO , Normas
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LEITE, CELSO B. O seguro dos acidentes do trabalho ainda tem razão de ser? Revista Brasileira de SaúdeOcupacional, disponível em
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CHRISTOPHE DEJOURS, C. O Fator Humano . Rio de Janeiro, Editora da FGV, 1999.
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15
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