paulo s. hrobel a questÃo nuclear nas relaÇÕes brasil

168
PAULO S. HROBEL A QUESTÃO NUCLEAR NAS RELAÇÕES BRASIL-ESTADOS UNIDOS Tese de Mestrado apresentada ao IUPERJ como requisito parci-1 para a obtenção - — do grau de Mestre em Ciência Política ero maio de 1986 Biblioteca IUPERJ Data J 3. ZLi ir.-A Banca Examinadora •Eli Diniz (Orientadora) José Murilo de Carvalho it . A Gerson Moura VA.HW Rio de Janeiro 1986

Upload: others

Post on 26-Oct-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

PAULO S. HROBEL

A QUESTÃO NUCLEAR NAS RELAÇÕES BRASIL-ESTADOS UNIDOS

Tese de Mestrado apresentada ao IUPERJ

como requisito parci-1 para a obtenção

- — do grau de Mestre em Ciência Política

ero maio de 1986

Biblioteca IUPERJ

Data

J 3.ZLi ir.-A

Banca Examinadora

•Eli Diniz (Orientadora)

José Murilo de Carvalhoit .A

Gerson Moura

VA.HW

Rio de Janeiro1986

Í N D I C E

Agradecimentos l ü

INTRODUÇÃO 2

CAPITULO 1: Brasil-Estados Unidos no Contexto do

Segrego Atômico

- Introdução 18

- A Montagem do Segredo Atômico 20

- Os Primeiros Acordos Atômicos entre o Bra

sil e os Estados Unidos 31

- A Tese das Compensações Especificas * :• 37

- Guerra-Fria na America Latina 43

- Os Novos Acordos Atômicos 50

- Café Filho e Kubitschek 58

CAPtTÜLO 2: A Busca de Autonomia: Os Percalços

da Política Nuclear Brasileira

- "Átomos para a Paz" ( 63

.- A Posição dos Cientistas 71

- Energia Nuclear para os Países Subdesemrol

vidos 82

- Novo Acordo e a Decisão de Angra 86

CAPÍTULO 3: Brasil-Estados Unidos nos Quadros da

Não-Proliferação e da Concorrência

Comercial

- Introdução 94

- As Mudanças uo Mercado Internacional * 96

- A Não-Proliferaç5o Nuclear ' 106

— As Atitudes Norte-Americanas Face à Não-Pro

liferação . - 114

— Brasil-Estados Unidos sob o Governo Ford 124

— O Governo Carter e o Brasil . 133

CONCLUSÃO . 143

BIBLIOGRAFIA * 150

IIl

AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Dotações para Pesquisa da ANPOCS (cora

recursos da Fundação Ford) e ao convênio CNPq/Fundação Alexan

dre Gusmão do Itamarati pelo auxilio financeiro concedido.

 Comissão Fulbright e à Universidade do Texas-Austin,

pela oportunidade de uma viagem aos EUA que possibilitou o le

vantamento de fontes, essencial para a realização deste traba

lho. :

I

 Ana Caillaux pelo auxílio na preparação dá biblio

grafia; ã Tema Pechman pelo interesse demonstrado por este trai

balho e ã Yedda Ennes pelo trabalho de datilografia.

Aos colegas ide turma do IUPERJ pelo dialogo e compeii

lnheirismo.

Aos professores do IUPERJ, José Murilo de Carvalho e

Eli Diniz, pelo apoio recebido.

Aos colegas do Instituto de Relações Internacionais

— IRI/PUC/RJ — pelo incentivo ã realização deste trabalho.

à Monica Hirst, Gerson Moura, Roberto Boüzas, Paulo

Kramer e Sérgio Lipkin pelas discussões travadas durante a xea

lização do "Programa de Estudos Americanos", no IRI.

A Maria Regina Soares de Lima que, mesmo de longe,

contribuiu muito mais do que supõe.

Ao colega e amigo. Gerson Moura pela leitura atenta

e conselhos de mestre na•preparação deste trabalho.

A Ronaldo Gomes e ao grupo, que contribuíram para a

maturidade pessoal exigida para o trabalho ir*-.electual.

|

A meus tios, Moisés e Samuel, que talvez mais do que

quaisquer outros, me âespertaram para o espinhoso e apaixonai)

te mundo da política.

INTRODUÇÃO

Apesar do esforço de inúmeros pesquisadores, brasi

leiros e estrangeiros, que têm procurado ampliar o conhecimen

to e a interpretação das relações internacionais do Brasil e,

em especial, das suas relações com os Estados Unidos — pais

com o qual o Brasil, possui, historicamente, o padrão de rela

ções mais complexo — é ainda pequeno este conhecimento acuou

lado e grande o número de questões a serem exploradas.

O propósito deste trabalho de pesquisa é contribuir

para este proceso de conhecimento que se encontra ainda em cons

tração, na busca de paradigmas mais sólidos para o entendimen

to das relações internacionais do Brasil.

Após o sucesso experimentado entre o pensamento so

ciai latino-americano e internacional, na década de setenta,

pela teoria da dependência — denominação para um guarda-chuva

de noções que abrange uma ampla gama de idéias (») — ela foi

alvo de inúmeras críticas contundentes tanto de latino-america

nos quanto de pensadores fora do subcontinents e não pode raais

ser considerada como paradigma consensual desta reflexão sobre

as relações entre o Brasil e os Estados Unidos (*)..

C1) Mais do que quaisquer outros autores, a teoria da depende jncia está intelectualmente associada ao livro de FernandoHenrique Cardoso e Enzo Falctto, Dependência e Desenvolvi,mento na America Latina, Zahar Editores, RJ, 1969. Veja--se, também, Fernando Henrique Cardoso, "Notas sobre o Estado atual dos Estudos sobre Dependência" em Cadernos Ce.brap n° 11, SP 1973; Hélio Ja&uaribe, Aldo Ferrer» MiguelWionczek e Theotonio dos Santos, La Dependência político-e.conôroica de América Latina, Sigo XXI editores, Mexico, 1970

: e Claire Savit Bacha, A Dependência nas Relações Internj.1 cionais, tese de Mestrado, 1UPERJ, RJ, 1971»

(2) Veja-se as críticas de Albert Hirshman, Essays In Trespassing, Economics to Politics and beyond, Cambridge UtiiversT

Continua.,,

Este trabalho, entretanto, se propõe a ser muito mais

•odesto âo que esta difícil e árdua tarefa de construção de no

vos conceitos e noções. Ele intenta, muito mais simplesmente,

destacar, dentre as inúmeras questões onde concretamente se

realizam as relações entre dois estados soberanos, uma questão

específica e entendê-la de uma perspectiva histórica —> a quês

tão nuclear. Por questão nuclear, entendo o complexo de situa

ções que envolvem o domínio do ciclo do combustível nuclear,

seja no intuito de produzir energia através de nücleo-elétricas,

seja para construir artefatos bélicos utilizando materiais fis_

seis, como o urânio ou o plutônto.

Com efeito, diferentemente de estudiosos (*) que, ao

analisarem as relações Brasil-Estados Unidos, concentraram-se

apenas na dinâmica interna brasileira, este texto procurara

descrever simultaneamente as dinâmicas internas dos dois pai:

ceiros e as inter-relações delas decorrentes. Obviamente, o

plano de generalização em que são tratadas estas duas cntid<»

des •—-.--como nações — não significa que as entendamos como re

presentantes de seus diversos setores como um todo — classes,

grupos, segmentos. Quando estiver me referindo a decisões bra

fileiras ou norte-americanas deve-se entendê-las como um cem

junto de medidas tomadas pelas elites especializadas respecti

(*) Continuaçãoty Press, 1981; Bruce E. Moon, "Consensus or Compliance?Foreign policy change and external depedence", International Organization. Spring, 1985 e James Caparaso, "Dependeice, Dependency and Power in the Global System: A Structural amiBehavioral Analysis", International Organization, Winter, 1978.

(*) Por exemplo, Carlos Estevara Martins, Brasil-Estados Unidosdos 60 aos 70. Cadernos Cebrap n° 9, SP 1972.

vas, seja através das agências estatais específicos ou . das

instituições responsáveis. Ê importante que isto fique claro»

dado as polêmicas e criticas discutidas no corpo do trabalho»

especialmente devido ao caráter particularmente complexo e es

pecializado do tema.

t Certos autores, ao tratarem da política externa bra

sileira e, mais especificamente, de suas relações com os; Esta

dos Unidos, apontam a Ilegitimidade das medidas/ tomadas frente

â representação da nação como um todo, dado o caráter "classis

ta" das agências estatais ou instituições especializadas (*) .

Este é um tipo de critica que não estou levando em considera

ção devido, principalmente,' ao beco sem saída que este tipo de

discussão produz, polarizando a discussão sempre era função do

estado e das classes sociais.

A constatação de que estou trabalhando com agências

especializadas, logo com elites tomadoras de decisão, poderia

levar-me à opção de apreender o processo de tentativa de cria

ção de ruma política nuclear para o Brasil e a influência sofri

da nesta busca pelas ações e reações norte-americanas ao pa

drão de análise conhecida como política burocrática (*). Esta

abordagem teórica critica os conceitos tradicionais do campo

das relações internacionais devido ao seu excessivo generally

(*•) Lembro a polêmica dos anos setenta sobre o subimperialismobrasileiro na America Latina, envolvendo, entre outros.Rui Mauro Mariní c Theoconio dos Santos. Veja taobem at abordagem de Otávio Ianni era Diplomacia e Imperialismo na AmerT. ca Latina, Cadernos Cebrap n9 12, 1973. ~"

(*) Orna boa analise e defesa desta teoria encontra-se eu Cr a,ham Allison, Essence of Decision Understanding the CubanMissile Crisis, Little, Brown I Company, Boston, 1971.

no e tenta demonstrar que ê somente pela apreensão da lógica

interna das burocracias especializadas — suas motivações, a

ções, comportamentos e decisões — que se entendem as medidas

de políticas externa de uma nação.

:: Em Bedley Bull.(') encontra-se uma consistente defe

sa do método clássico de abordagem das relações internacionais

e a importância da historia nesse processo. " Ele demonstra co

mo a maioria dos temas mais relevantes da disciplina não são

tratados pela teoria "científica" das relações internacionais

— nas quais se inclui a política burocrática — que se atem

predominantemente apenas aos temas periféricos ou de métodos de

pesquisa, sem avançar a disciplina em direção âs respostas que

estas grandes questões colocam. Creio, e nisto-mais do que

Buli, que a contribuição da teoria "científica*, através da

formalização por modelos, teoria dos jogos, simulações e todas

as novas tentativas metodológicas, acrescentam â disciplina,eni

riquecendo-a e abrindo novos horizontes de pesquisa.

^ A defesa que faço da abordagem histórica por mim es_

colhida prende-se, em primeiro lugar, ã natureza do tema. O

segmento do pensamento econômico interessado en estudar os pa_í

ses pobres que surge ..--depois da Segunda Guerra Mundial — o

desenvolvimento econômico — sempre contou como um de seus fo

cos privilegiados o problema do desenvolvimento e da autonomia

científica e tecnológica. A questão nuclear, que possui essa

dimensão científico-tecnológica, além da dimensão político-es_

(*) "Teoria Internacional: Em defesa da Escola Clássica", tesetos de aula, Universidade de Brasília, s/d. "~

tratêgica, é aqui apreendida dentro desse contexto mundial pôs

-1945. Nesse momento, em que o estado brasileiro inicia o pro

cesso de sua institucionalização como catalizador do esforço

de desenvolvimento tecnológico e cientifico, consubstanciado na

criação d<x .Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) em 1951, ele

se depara com a supremacia absoluta'norte-americana no campo

então, considerado como de excelência para o avanço tecnolõgi

co-industrial — o campo atômico.

O Brasil, que havia despertado para este campo devi

do à influência das demandas- norte-americanas por suas mat£

rias-primas radioativas^, se vê limitado nessa parceria a exer

cer o papel de supridor das necessidades de materiais estrate

gicos para os Estados Unidos. Ao tentar apreender os momento:*

mais marcantes dessa relação, só poderia fazê-lo reconstituin

do a gênese do mundo atômico — este complexo de relações cati

sado pelo impacto da descoberta e das possíveis aplicações da

fissão do átomo — e captando suas etapas principais. Não se

trata,^ntretanto, de descrever uma história cronológica com

pleta desse mundo e dessa relação, mas sim de localizar os pon

tos de inflexão que permitem estabelecer um padrão inteligívelir. '•

de relações entre o Brasil e os Estados Unidos.

Em função dessa tarefa, ê tão redundante quanto inü

til considerar ambos os países como dois estados soberanos. Na

dimensão cientifico-tecnológica da questão nuclear, sem menclo

nar a dimensão polítíco-estratégica, é impossível tratá-los co

mo dois estados igualmente soberanos no sentido de autônomo»

em seu processo de opções e tomada de decisões (7). Na -verda

(') En essência, e assim que entendo a noção de recursos tfe p<»Continua..T

de, são duas nações que possuem recursos de poder diferencia ;

dos e que se relacionam, neste campo, assimetricamente. Os

meios, instrumentos e recursos necessários para a implementa

çao de uma efetiva política nuclear nacional encontravam-se de

sigualmente distribuídos, concentrados em um dos parrsiros —

os Estados Unidos. "

Se consideramos a questão nuclear como um tema funda

mental nas relações internacionais do pós-guerra, seria empo

brecer a análise isolá-lo como tema macrohistõrico e concer

trar os esforços apenas no processo de tomada de decisões das

instituições especializadas brasileiras. A tentativa de re

construção dos condicionamentos internacionais, da moldura his

tôrica concreta em que se deram estas opções (ou sua • falta) e ,

essencial para a correta apreensão desse processo.

Mesmo na década de setenta, guando os estudiosos in

ternacionais e especialmente os brasilianistas norte-americanos

começaram a perceber o Brasil como uma potência emergente, co

mo. um poder intermediário na hierarquia do sistema internacio

nal (•), chamando a atenção para o aspecto de maior autonomia

das decisões brasileiras internas ou de política externa — e

a política nuclear de então servindo de exemplo — creio que

(7) Continuaçãoder: a capacidade de um.país de dispor autonoraamentc demeios para atingir seus fins propostos. Veja David Bald,win, "Power Analysis and World Politics: New Trends Versus"Old Tendencies" in World Politics n9 31, janeiro de 1979.

(•) HÍ uma seriü de livros e artigos de brasiliar.iatas a recpeito. Veja especialmente Wayne Schelccr, ed. Brasil inthe International Sysium: The Rise of a Middle Power. Wesjtfview Press, Colorado, 1981. ""

devemos encarar cora grande cuidado essas interpretações. Este

trabalho parte do pressuposto de que é incorreto generalizar,

baseado em estudos de caso e na noção de recursos de poder de

sigualmente distribuídos, o comportamento ou a ação mais ou me

nos autônoma de uma política nacional do país menos "poderoso"

em relação ao país mais "poderoso".* A autonomia não se trans

fere automaticamente de um setor a outro, de uma política loca

lizada â outra, nem se espalha para a nação como um todo. O

. tratamento de um estudo de caso, em que podemos perceber os li

mites da autonomia nacional em termos de recursos materiais e

capacidade de afirmar, interesses próprios contra interesses dei

terceiros no processo de implantação de uma política definida, •

pode ter apenas a intenção, de compreender este caso. Torno a

frisar aqui que é pelo ?cúmulo de estudos de casos específicos

que podemos partir para algum tipo de apreensão mais sistema ti

ca das relações gerais e para uma formulação teórica mais a

brangente, que possa romper com as concepções abstratas presen

tes nas "análises apontadas.

A abordagem teórica mais consistente para um estudo

de.caso encontra-se em Emanuel Adler (•). Em seu estuâo sobre

as políticas nuclear e de informática no Brasil e na Argentina,

Adler nos mostra como, para vencer a barreira da dependência

tecnológica — dependência entendida aí como uma denominação

concreta e não uma teoria — hã que se criar um conjunto de

(•) "The Pover of Ideology: Computer and Nuclear Energy develo£nent in Argentina and Brasil", paper apresentado no "lnter_national Seminar on Development and Scientific and Technological Research Effectiveness", RJ, 1984. ~

instituições e pessoas com mentalidade disposta a romper a bar

reira material e psicológica dessa dependência (l0). Em qua

tro estudos de caso — a política nuclear e de informática,bra

sileiras e argentinas — Adler demonstra como aqueles que obtd

veram êxito nesse processo — a política nuclear argentina e a

política de informática brasileira -^ deveram-no ã criação âes

sa mentalidade independente e â possibilidade de instrumental^

zã-la em uma política de estado consistente e duradoura. Nesse

sentido, a caracterização da política nuclear brasileira como

um fracasso, em decorrência do insucesso no processo de cria

ção das instituições e mentalidade necessárias, não pode ser

generalizada para a política tecnológica da nação como um todo,

como parece demonstrar o segmento da informática, fi esta for

ma de encarar a política nuclear brasileira que considero a

mais frutífera, tentando entendê-la no contexto de sua relação

com os Estados Unidos sob a forma de uma dependência — no sen

tido de Adler — setorial. '

*** Encaradas dessa perspectiva, as divisões internas

aos setores responsáveis pela elaboração de uma política nude

ar para o país e as indefinições quanto aos melhores instruraen

tos e meios para tal fim, nao permitiram a consolidação de uma

política clara, de propósitos definidos e com continuidade açt

ministrativa. o processo histórico da constituição e permanên

cia dessas hesitações será aqui interpretado, privilegiando o

papel exercido pelos Estados Unidos enquanto barreira ou esti

mulante na busca dessa autonomia. A noção de dependência assu

(*») Adler os denomina de "pragmatic anti-dependency guerrillas"

Be aqui uma perspectiva empírica, deixando o plano das formula

ções abstratos. • .

Em um post-scriptura as edições inglesa e alemã de

seu trabalho clássico, Dependência e Desenvolvimento na Amerl.

ca Latina, Cardoso e Faletto í11) reafirmam o caráter depender*

te do desenvolvimento capitalista recente da América Latina, em

sua etapa internacionalizada, assumindo a forma do desenvolvi

nento associado. Os autores explicam as transformações por que

passou o sistema internacional na primeira metade da década de

setenta, enfocando principalmente, como pontos de ruptura, a

detente Leste-Oe^te e o aparecimento de outros pólos importai)

tes de poder econômico no mundo capitalista — Europa' Ociden

tal (especialmente Alemanha e França) e Japão. Esse abranda,

mento do clima de guerra-fria e a multilaterização econômi

ca possibilitariam a criação de novas alternativas aos países

latino-americanos, no sentido de poderem diferenciar seus par

ceiros comerciais e alianças políticas, fugindo ao quase mono

põlio norte-americano. O fundamental para os autores, dentro

desse novo quadro, seria a dinâmica política interna dos pajt

ses latino-americanos que, apesar de viverem, em sua maioria,

processos autoritários, desenvolviam uma consciência no senti

do de superar o mecanismo histórico da dependência pela rejei^

ção do capitalismo.

Em um sentido inteiramente inverso, apostando na via

bilidade do capitalismo industrial brasileiro, porém utilizan

(U) America Latina; Processo Interno Y Orden Mundial, Flacso,Santiago, 1976.

do um diagnóstico semelhante da situação internacional de nea

dos dos anos setenta —- detente e multilaterização do podert e>

conômico mundial —- os tecnocratas e fovmuladores da política

nuclear brasileira a justificam como um ato de independência

nacional (12). A opção alemã que então se abriu para um «cor.

do de cooperação e transferência tecnológica de equipamentos mi

cleares ao Brasil, ultrapassando a tradicional e até então prá

ticamente exclusiva parceria com os Estados Unidos, é defendi

da e justificada como exemplo de maturidade política e da auto.1

nomia nacional. Esse clima de defesa da soberania nacional;i

contra as pressões e interferências norte-americanas contami/

nou virtualmente todo o espectro político nacional, forjando u ;

ma unanimidade artificial, a favor do acordo coro a Alemanha,

tão circunstancial quanto inverídica.

O clima deteriorado das relações entre o Brasil e os

Estados Unidos do período Geisel/Carter — o período considera

do mais problemático das relações recentes entre os dois paí^

ses —ttero na questão nuclear um de seus eixos principais (>*)•

Ao examinar, porém, o longo livro de memórias do ex-presidente

Jimmy Carter, Keeping Faith (>*), em seu capítulo sobre a ques_

t'ao nuclear não há uma só referência ao problema com o Brasil

ou ao acordo teuto-brasileiro. Diga-se de passagem que não bá

(12) "0 Programa Nuclear Brasileiro", Diário do Congresso Nacional Seção II n9 9, 12/3/77.

<»») Veja Robert Wesson, The United States and Brazil, limitsof Influence. Praeger, NY, 1981, especialmente Capitulo k,"The Carter Controversies", pp. 75/103.

(l%) Jimmy Carter, Keeping Faith, Banton Books, NY, 1982.

12

menção alguma ac Brasil em todo o livro. Não quero tirar dis

to nenhuma conclusão raivosa no sentido de. defender os brios

nacionais atingidos ou certezas precipitadas sobre a desimpor

tância do país no sistema internacional. Em todo o capítulo

sobre a questão nuclear, .Carter descreve as relações norte-ame

ricano-soviéticas, priorizando a dimensão político-estratégica

do problema nuclear. Em um artigo para o Foreign Affairs (»*)#

Warren Christopher, o segundo homem do Departamento de Estado

do período Carter, faz um balanço do problema da não-prolifera

ção nuclear e também não menciona, entre as questões relevai»

tes, o conflito com o Brasil.- Foi .Christopher o negociador di-

reto com o governo brasileiro no momento mais dramático das djl ;

vergências.

Apoiando-rae nas idéias de Hirshman, tiraria desses

fatos uma conclusão evidente e outra especulativa (>'). A pri^

meira é que certamente Brasil e Estados Unidos sentiram e vives

raro de forma diferenciada esse conjunto de episódios. E o Bra

sil o viveu muito mais intensa e apaixonadamente, elevando os

decibeis de seu tradicionalmente moderado discurso diplomático

quando a questão nuclear foi agravada com a denúncia sobre vio

lações dos direitos humanos (17). Para os Estados Unidos, co

mo parecem demonstrar as citações acima, os episódios foram vi

(15) Warren Christopher, "Ceaseline Between the Branches: aCompact in Foreign Affairs" ir Foreign Affair», Summer1982.

(is) Albert 0. Hirshman, Essays in Trespassing, Economics toPolitics and Beyond, Cambridge University Press, 1981, e£pecialmente pp. 1/33. *~

(17) Wesson, ob.cit. pp. 89/99.

13

vidos como naturais ao jogo diplomático, como mais uma dentre

as inúmeras questões de política externa de uma imensa e cora

plexa agenda. A conclusão especulativa que eu tiraria decorre

ria dessa diferença de importância atribuída a um issue especX

fico pelos dois países. -Se para o país A o problema ê fundj»

mental e'ele investe esforços, meios e instrumentos adequados

para sua realização e se para o país B a questão e secundaria,

ocupando um lugar não prioritário na hierarquia de prioridades

de sua'política externa, é mais provável que o país A tenha su

cesso em seü intento. Se ainda relativizamos o conflito e não

o consideramos como um jogo de soma zero, soluções conciliatõ

rias a favor de A serão muito prováveis de acontecer. Não se

trata, evidentemente, de menosprezar a diferença de visões e

práticas sobre a questão nuclear entre os dois países ou de ne

gar a importância da não-proliferação nuclear na política extexr

na do governo Carter, como veremos no Capítulo III. Trata-sei

apenas que, para os Estados Unidos, esta era uma das questões

vividas"" com um dos países entre os quais buscava-se influencia

ar.ou pressionar no sentido de uma alteração de política. Para

o Brasil, era o país-chave no domínio econômico e tecnológico

— apesar da percepção de abertura de alternativas oferecidas

na década de setenta — e qualquer conflito surgido era particu

lamente relevante.

Embora não apreendida com a mesma dramaticiclade e

carga explícita de pressões, a política nacional recente da re

serva de mercado da informática, a medida que se tornou um su

cesso financeiro e ainda uma incognita tecnológica, é hoje uma

fonte de atritos e sujeita a constantes pressões norte-amerjl

canas. Certamente não podemos comparar os dois segmentos in

dustriais — informática e nuclear — que apresentam perfis

de investimento completamente diferenciados. Mas podemos en

tendê-los sob a denominação geral de high-tech e, assim, - com

preender o porque da resistência norte-americana. t. «o preten

do embrenhar-me pelo caminho das discussões de opcc.es tecnolõ

gicas mas contextualizã-las enquanto constituintes de proble

mas centrais de relação entre dois países de recursos de poder

desigualmente distribuídos. É ainda uma questão aberta o pá

pel atribuído, no processo de reconquista da hegemonia econômi

ca norte-americana, aos setores de alta tecnologia, embora jã

se possa prever que estas pressões contra a reserva de mercado

da informática, por exemplo, não serão facilmente contornadas.

A tendência que se observa ê de que, á medida em que a econo

mia norte-americana se reorganiza, se desindustria11zando em

relação as atividades econômicas tradicionais, será essencial

o controle dos mercados dos-novos setores dinâmicos. Isto,por

enquanto, não passa de uma especulação e é apenas uma tentati-

va de se pensar o futuro plausível para as relações entre os

dois países.

' Creio que há um desafio colocado ao pensamento so

ciai por este processo que se inicia na década de oitenta,quan

do o aprofundamento das relações entre o Brasil e o capitalist

mo internacional caminha para uma direção ainda em aberto, po

rém já deixando para trás as polêmicas sobre a viabilidade ou

não da industrialização capitalista periférica. Há hoje um

consenso a respeito do patamar industrial alcançado pelo pais,

diferente das outras nações latino-americanas. Este fato pro

15

te, para a agenda de negociações internacionais do Brasil «um

grau de complexidade muito maior, exigindo.também um muito

maior discernimento das questões.

No primeiro capítulo do trabalho, apresentarei o qua

dro do pós-guerra, onde foi concebida a estratégia norte-ame

ricana para lidar com o monopólio do saber atômico. Seguem-se

os primeiros acordos entre o Brasil e os Estados Unidos sobre

a exportaçãV brasileira dos materiais radioativos, relação es.

ta aprofundada com a entrada ec cena da guerra fria.

O segundo capitulo inicia-se com o ponto de inf lje

xão mais importante desse período, que foi o programa "norte-«a

mericano conhecido como "Átomos para a Paz". Essa mudança da

política' mundial dos Estados Unidos em relação ã questão mi

clear tem como conseqüência principal para o Brasil o primeiro

contato com a tecnologia nuclear pela importação de reatores

de pesquisa. A polêmica entre os cientistas brasileiros, ini_

ciada com essas importações, só terã uma solução mais definida

em finsrxla década de sessenta, com a opção de se importar o

primeiro reator de potência junto â empresa norte-americana

Westinghouse.

' O terceiro capítulo abordará as transformações por

que passou o mercado internacional de reatores de potência no

inicio dos anos setenta, possibilitando o aparecimento de em

presas e países concorrentes aos Estados Unidos como vendedo

res de equipamentos nucleares, dos quais o Brasil se utilizou

para conseguir a transferência de tecnologia que passou a fa

zer parte de sua política nuclear desde o final da década de

sessenta. O acordo nuclear com a Alemanha, de 1975, é então

examinado dentro desse contexto. Desse acordo advirá uma rea

ção norte-americana, com diversas fases e diferentes significa

dos, que serão pormenorizadamente analisados. Em fins de 1978,

apôs o período mais tenso e desgastado das relações entre os

dois países, hã uma virtual aceitação do acordo com a Alemanha

como um fato consumado, roergulhando-ôs em uma relação, no cam

po nuclear, praticamente formal.

/ • . •

CAPITULO l:

BRASIL-ESTADOS UNIDOS NO CONTEXTO

DO SEGREDO ATÔMICO

INTRODUÇÃO /

\

\Com o fim da II Guerra Mundial, em 1945, emerge ao

lado das imensas transformações econômicas, sociais e politi

cas trazidas pela guerra, uma onda de euforia, entusiasmo e es

perança quanto ao futuro. Junto com *o alivio pelo término dos

confrontos e a lenta tomada de consciência das terríveis per

das humanas, materiais e morais, propaga-se internacionalmente

a maré de mudanças e progresso sociais. Obviamente nos países

vencedores, a combinação entre a vitoria e o clamor transforma

dor que se seguiu era mais nítido e compreensível (*). "

O fato polltico-militar que apressou o fim da guerra

no Pacifico com a rendição total japonesa — as bombas atômi

cas de Hiroshima e Nagasaki — teve pelo menos dois aspectos

percebidos contraditoriamente pala opinião mundial. De um In

do, a repulsa humanista ao espetáculo de terror e destruição

causado pelas mais mortíferas bombas jamais vistas. De outro

lado, a^percepção de que se abria para a humanidade com este

invento as portas de um infinito conhecimento e domínio sobre

a natureza, que poderia conduzir o homem um futuro de bem-e£

tar e progresso até então inimagináveis.

Ê deste segundo aspecto que trataremos aqui. O extra

(') A literatura que trata dos efeitos sociais da guerra sobreos costumes, hábitos e vida social dos povos 2 imensa. Go£taria aqui apenas de ressaltar o clima de demanda por r<T, formas sociais que atinge grande parte dos principais paTses envolvidos no conflito, logo apôs o seu termino. Estamaré transformadora será importante dentro do estudo aquiapresentado, pois a tecnologia nuclear e um produto da prõpria guerra e reflete as expectativas de paz e desenvolvTmento que então se iniciavam. ~*

19

ordinário volume de recursos e pesquisas concentrados no Proje

to Manhattan (*) não criou apenas as bombas atômicas, mas uma

nova possibilidade para a tecnologia moderna. A partir dal,

as relações entre comunidade científica, estado, saber, segre

do e liberdade de pesquisa, entravam em um novo patamar. Pela

primeira.vez podia-se falar em uma política cientifica nacio

nal, centralmente organizada e abundante em recursos.

B dentro deste quadro mundial de criarão e transfor

nação do saber atômico em política cientifica que deve ser en

tendida a primeira etapa das relações entre o Brasil e os Esta

dos Unidos quanto à questão nuclear. Esta primeira fase &tr<a

vessa a criação das agências governamentais norte-americanas

e internacionais que tratam exclusivamente da matéria até o

estabelecimento da primeira agência governamental brasileira

nos moldes norte-americanos — a Comissão Nacional de Energia

Nuclear (CNEN), em 1956. ]

O objetivo de reconstituir o quadro . histõrico-ins_

titucional em que ocorreram as primeiras relações bilaterais

brasíleiros-norte-americanas não tem a intenção de esgotar epi

sõdios históricos complexos e ricos cm nuances. A abundante

literatura internacional sobre o pós-guerra e a riqueza dos f«a

(*) "The Manhattan Engineer District" era o none em código d©que passou a ser conhecido como projeto Manhattan, a somade esforços de pesquisa e industriais conduzidos no maisabsoluto sigilo por estrategistas militares e cientistas

! canadenses, ingleses, norte-americanos e europeus exiladosque culminou na explosão do primeiro artefato atômico nodeserto do Novo Mexico, no Trimity Site cm 16 de julho de1945, Malcolm W. Browne, "In AO years of Nuclear Peace LosAlamos lives with bomb", The New York Times. July 14, 1985,pp. 1 e 16.

tos levaram-me a ser extremamente modesto nesta pesquisa histõ

rica. A descrição dos elementos essenciais que permitem - com

preender o pano de fundo das relações assimétricas entre Bra

sil e os Estados Unidos se concentrará na trama fundamental:

do lado norte-americano,.o monopólio do saber, o segredo, «

consciência do trunfo; do lado brasileiro, a quase total igno

rância cientifica, a barganha como política de estado, as ri

quezas naturais como matéria-prima. O aspecto fundamental dcs

tas relações, como veremos, .dava-se no âmbito de um pais que

partia para a industrialização e produção em grande escala do

complexo nuclear, mas era carente de matérias-primas fundamen

tais como o urânio e o tÔriò; e de outro pais, que era poten

cialmente abundante destas matérias-primas mas achava-se na es

taça zero em termos de conhecimento cientifico e equipamentos

industriais.

i

A Montagem do Segredo Atômico . -

Em 30 de..junho e em 25 de julho de 1946, 42.000 e£

pfèctadores, incluindo militares, políticos, cientistas e diplo

matas assistiram a um curioso espetáculo de operações da Hari^

nha de Guerra norte-americana nas Ilhas Marshall, no atol de

Bikini no Pacifico: a explosão de novos artefatos atômicos, fa

to que alguns autores consideram o verdadeiro inicio da corri

da arroamentista (J). Menos de um ano depois das primeiras bom

(») Dentre os vãrios autores, especialmente Walter rC. *TattejrjContinua..T

21

bas lançadas sobre vidas humanas no Japão, o que mais chama a

atenção ê que este espetáculo representou a continuidade " dos

Investimentos em pesquisas em armamentos após o término de sua

alegada principal razão de ser: a Guerra Mundial (*).

A insistência em investir em pesquisas atômicas apôs

o fim do confronto remete-sc 1 sensação, ou mais corretamente,

â certeza de força que a nova descoberta produziu no pensamen

to das elites norte-americanas. Talvez mais do que .nunca na

historia recente, o conhecimento e a informação foram claramen

te utilizados como recursos de poder.

A estruturação da, equipe de cientistas e técnicos en

volvidos no projeto Manhattan e bem ilustrativo das intenções

(•) Continua ••.;•.son, La Energia Nuclear, H- BIune Ediciones, Madri, 1982(edição originai xnglesa 1976) pp. 132/133, descreve comriqueza de detalhes os problemas posteriores de radiaçãocausados por estas'explosões experimentais nas populaçõesdo atol. Os problemas de contaminação ambientais e humanos da nova e fantástica descoberta ficavam neste primeiromomento ofuscados por seus êxitos científicos.

p-

(*>) A polemica historiograf ica sobre a decisão norte-americanade lançar as bombas sobre as cidades japonesas de Hiroshj_ma e Nagasaki e muito grande nos EUA e polariza todas asdiscussões sobre o início da guerra-fria e a nova ordem do

j.*-* pos-guerra. Este debate, de múltiplos aspectos, pode serreduzido a duas posições principais. A primeira, de autores que aceitam a versão oficial do governo norte-americã"no, difundida especialmente pelo Secretário de Guerra Hen"ry-L. Stimson em fevereiro de 1947 na revista Harper's,de que o objetivo principal do "to dropp the bomb1' era ode evitar uma invasão norte-americana do arquipélago japo_nes, salvando milhares de vidas de soldados norte-america_nos. A principal posição oposta discorda desta versão eprocura interpretar a decisão como um ato político relacÍ£nado ao poderio soviético na Europa e sua eminente invasãodo Japão. Os principais autores envolvidos nesta polemicasão: Herbert Feis, Barton J. Bernstein, Gar. Alperovitz,Martin J. Shervin, John Lewis Gaddis, Daniel Yergin e recentemente Rufus E..Miles Jr. Veja o numero de dezembro"de 1985 do Bulletin of the Atomic Scientists.

zz

norte-americanas. Mem as primeiras descobertas cientificas so

bre o átomo, datadas do inicio do século, nem os maiores e mais

ilustres cérebros estavam inicialmente concentrados nos EDA.

Os grandes trunfos que o pais utilizou para atrair o esforço

dos aliados na competição pela primeira bomba atômica contra

uma pretensa similar, nazista, foram'sua extraordinária âotação

de recursos, a acolhida a eminentes cientistas fugidos das per

seguições européias e a colaboração internacional, especialmen

te inglesa e canadense (').II

A mentalidade vigente, entre todos os setores que

participaram da fantástica descoberta da energia atômica, do

seu potencial construtivo ou destrutivo — pelo menos como era

então percebido — foi responsável pelo surgimento de confljL

tos internos nos EUA, especialmente entre a comunidade cientâi

fica e os meios militares aos quais ela se encontrava subordi_

nada (*). Para o que aqui rios interessa, importa ressaltar de

_ _ j

(s) Este ponto esta bem tratado em Patterson., ob.cit., p. 137,• em diante e em James L. Cormly, "The Washington Declarationand the 'Poor Relation1: Anglo-American Atomic Diplomacy".

. Diplomatic History vol. 8 n9 2 Spring 1984» pp. 125/143.

(s) Neste tempo, ainda analisava-se a questão atômica de um'r":' ponto de vista "neutro", procurando-se separar o julgamen

to moral sobre as bombas do potencial científico, quer dTzer, para o bem da descoberta. A difícil e penosa relaçãoentre a comunidade científica norte-americana e o poder doestado e um dos mais interessantes casos de cooperação eresistência entre saber e poder que a história contemporitnea forneceu. Os dramáticos casos de Oppeinheimer e dosRosemberg são apenas os mais visíveis desta tumultuada his_tória. A revista da comunidade científica dissidente deChicago, Bulletin of the Atomic Scientists existente desde1945 é um formidável exemplo de persistência e lucidez coiitra o* aspectos "destrutivos" do saber atômico, advogando"durante todo este tempo as < «usas da paz e da colabora_ção científica internacional. Veja um amplo balanço de£tas relações no numero de agosto de 1985 do Bulletin of the"Atomic Scientists. — — — — — — — .

23

que forma o conhecimento e a informação tornaram-se um segredo

guardado a sete chaves pelo estado norte-americano, que o ve

dou mesmo aos seus aliados mais próximos como a Inglaterra e o

Canada. Ê importante entendermos como se deu o processo inter

no de constituição do segredo nos EUA, para compreendermos seus

desdobramentos diplomáticos internacionais.

fi importante neste ponto explicitar o que se entende

por uso do saber atômico neste momento histórico. Ê inegável

á estreita relação entre fins pacíficos e bélicos da tecnolo

gia nuclear. E a primeira aplicação concreta da nova descober

ta foi a construção de artefatos bélicos, no contexto da gucr

ra mundial (7). O que significava então partilhar o segredo?

Seria somente permitir que os países aliados tivessem acesso

também a construção de bombas?

O domínio do átomo não implicava apenas na constrit

ção de poderosas bombas. Os integrantes desta comunidade, ljL

gada â defesa, que incluía militares de todas as patentes, ci

entistás de várias especialidades, políticos dos dois partidos

e diplomatas envolvidos, sabiam por conhecimento genuíno (aJL

guns) ou por divulgação e publicidade (muitos), que o novo do_

mínio envolvia uma enorme potencialidade de aplicações após o

conflito. A complexidade dos fatores envolvidos, aprofundada

pela irrupção da guerra-fria, condicionou os desdobramentos

(7) Certos cientistas, favoráveis a energia nuclear, comparambem-humoradamente a energia nuclear c a energia elétricacom a seguinte imagem: imaginemos qual seria o conceitomundial da energia elétrica se a primeira vez que se Hgasse um interruptor fosse para acionarmos uma cadeira ele*

. trica? . """

futuros desta história. A partir de então, há uma ligação ime

diata entre saber atômico e armamentismo. *

Faremos então uma rápida descrição dos condicionan

tes políticos internos, nos Estados Unidos, envolvendo Executi

vo, Legislativo e os militares que trabalhavam na "Segurança

do Estado" sobre como se montou o arcabouço institucional de

proteção ao segredo atômico e as tentativas de transcendê-lo

para o plano internacional. Em 3 de outubro de 1945, o Presi

dente Truman, em um discurso no Congresso norte-americano, 1

dentificou o controle da energia atômica como "number one pro

blem in the world" (•)• Nos meios políticos, científicos e na

"opiniçao publica" em geral havia divisões quanto ao melhor ca

ninho a seguir como política de estado: partilhar as informa

çoes atômicas com os países alinhados incluindo aí a URSS, ou

manter o monopólio do conhecimento. Nas palavras de Gormly:

i

"He [Trwnanj also* revealed his willingness todiscuss the problem with America's nuclear partners,the United Kingdom and Canada, and implied that such

• * talks would be the first step toward international^* zing the control of atomic energy." (») ""*

x; Quatro dias depois, em uma conferência de imprensa

no Tennesse, Truman esvaeceu as ilusões dos partidários da

partilha de informações com os aliados. : A pai:

tir de então, são cada vez mais fortes os indícios de que o se

<•) John Lewis Gaddis, The United States and the Origins ofthe Cold Var, 1941-1947, Columbia University Press, N.Y.1972, p. 247 e Gormly art.cit. p. 125.

(») Goroly, art.cit. p. 125.

gredo passaria a ser a prioridade na política nuclear nortè-a

nericana e qualquer iniciativa de procurar os aliados para ^ a

discussão do assunto passava a ser de única responsabilidade do '

governo norte-americano que não aceitaria mais qualquer deroan

da de seus aliados por cooperação.

A primeira iniciativa norte-americana de procurá-los

ocorreu por meio de uma conferência em Washington em novembro

de 45 entre EUA, Inglaterra e Canadá. O plano oferecido pelos

EDA, elaborado por Vannevar Bush, diretor do "Office of Scien

tific Research and Development" admitia a cooperação e o contro»

le internacional na órbita da recém criada ONU, . através da •

formação de uma agência especializada. Não estava ainda resoJL

vida a profunda discussão interna no governo dos Estados Uni.

dos sobre convidar ou não a URSS, então ainda um aliado, a com

partilhar as informações disponíveis (10).

Uma conferência em Moscou em dezembro de 1945, reuni

da não exclusivamente mas também para se discutir temas nuclea

res, estabeleceu um consenso entre os.três principais aliados vitorio

sos (URSS, EUA, Inglaterra), de que deveria haver uma ação coor-

denada ao nível do Conselho de Segurança da ONU no sentido de

centralizar e repartir as informações e a tecnologia que os

EUA monopolizavam. Nesta conferência, a URSS pareceu não se

impressionar muito com a posse da bomba pelos EUA e do poderio

dela decorrente. A insistência dos norte-americanos, porém,

em demonstrar que possuíam esta força única e que jã ocorrera

(10) Esta discussão acha-se bem desenvolvida em Gaddis, ob,cit. pp. 283 e seguintes.

desde a conferência de Postdam em julho do mesmo ano, mostra

cono, em relação a URSS, já se efetivava uma real "diplomacia

atômica". A rápida sucessão de acontecimentos políticos, prin

cipalmente na Europa.e a deterioração do"relacionamento entre

os dois aliados, subordinavam a busca de um entendimento inter

nacional do "number one problem of the World" às vicissitudes

da política norte-americana. \ * •

Em março de 1946, o Congresso norte-americano apro

vou o que viria a ser a pá de cal nas pretensões daqueles —-

especialmente os britânicos — que lutavam pela -disseminaçãoi

das informações cientificas sobre a nova descoberta: o McMahoni

Act. O Act criava a "Atomic Energy Commission" (AEC), estab£

lecia o segredo absoluto sobre todos os assuntos que envolves

sem o saber atômico, sendo passível de pena de morte quem o

rompesse e centralizava todas as pesquisas nas agências goveir

namentais, proibindo quaisquer iniciativas privadas, fossem pes_

soais ou empresariais (**)•'• • •

^ O Congresso norte-americano, com a criação do Special

Senate Committee on Atomic Energy em outubro de 1945, entrava

em cena como um ator importante apôs ficar relativamente margi

nálizado durante os anos da guerra. Os parlamentares critica

vara o altíssimo custo das bombas — US$ 2,5 bilhões — e eram

em sua maioria contrários â partilha de informações .com os a

(J1) Veja Peter Pringle e James Spigelman, The Nuclear Barons,Avon Books, N.Y. 1981, pp. 75/77: "When senator McMahondrew up the legislation, he did not know the extent ofthe wartime cooperation, between Britain, Canada,.and the.United States; if he had known, he said latter, he vou Idnot have pushed for such tough restrictions on theof information".

27

liados, sob o argumento de que o monopólio era um recurso de

poder inigualável (55 representantes em 61 de uma pesquisa fei.

ta opunham-se resolutamente a partilhar o segredo da bomba com

qualquer pais) O 2 ) . Os legisladores eram também contra o con

trole internacional da energia atômica, através da ONU, refle

fcindo uma tendência da população em geral. Desde a conferên

d a de Washington entre Truman-Atlee-King, -tentando estabele

cer as bases para um acordo entre EUA/Inglaterra/Canadã, o Con

gresso se sentia marginalizado das decisões, tomadas, diga-se

de passagem, em um clima de confusão e incertezas quanto ao me

lhor caminho a seguir. j

Parecia haver um descompasso entre a-avaliação do po

derio assegurado pelo monopólio e as formas institucionais de

expressar este poder. As contradições e. dubiedades de posjl

ções que expressam o período se prendem a estas indefinições.

A diplomacia atômica encontrava-se na encruzilhada, para a qual

convergiam todos os problemas de criação da nova ordem do pós-

—guerra"; e especialmente em como se relacionar com os aliados,

vencedores, em particular a URSS. O governo do EUA, entretan

to, prosseguia suas diligências para formar uma Agência Inteir

nacional.

Em Moscou, o secretario de Estado James Byrnes havia

conseguido a concordância soviética para um plano de criação

de uma Comissão de Energia Atômica na órbita da ONU. O plano

(12) parlamentares com intensa atuação em política externa cono o Senador Arthur Wanderberg e o assessor republicanopara questões internacionais John Foster Dulles foram de_cisivos para o endurecimento da posição norte-americana,conforme Caddis, ob.cit. pp. 228/229 e 251/292. .

encontrava porém fortíssima oposição entre republicanos proemi

nentes e mesmo entre colaboradores do governo Truman.

Sob a responsabilidade de Dean Acheson, subsecretã

rio de Estado, forma-se um comitê para estudar a viabilidade do

estabelecimento de uma política exeqüível para o controle in

ternacional da energia atômica, soba responsabilidade das Na

ções Unidas. O Acheson-Lilienthal Report é o resultado deste

plano.

"Although developing an American plan for thepostwar control of atomic energy was proposed by individuals both inside and outside of the governmentlong before the first atomic bomb was successfullytested in July 194S, it was not until January 1946that the first major step in -.the development ofspecific proposals took place. At that time Secre_tary of State James Byrnes appointed a committeebreaded by Undersecretary Dean Acheson to formulatean American plan that could be presented to theUNAENj which was about to be created. Acheson 'scommittee was assisted by a board of consultants thatincluded David Lilienthal and J. Robert Oppenheimer."

**" O Report aconselha como recomendações principais o

estabelecimento de uma "Autoridade de Desenvolvimento Atômico"

("Atomic Development Authority") com as atribuições de reali

zar urn survey das reservas mundiais de materiais estratégicos

(raw materials), no intuito de assumir o controle dos depõsjL

tos mundiais de urânio e tôrio. Estes recursos minerais fica

riam disponíveis somente para aplicações pacíficas, controlados

pela Agência. Além disso, os EUA se reservavam o direito de

'(»») Larry 6. Gerber, "The Baruch Plan and the Origins of theCold War", Diplomatic History vol. 6 n9 1, Winter 1982p. 71.

ter sozinhos a decisão de interromper ou não a fabricação de

bombas atômicas. Tal plano tornou-se público em 28 de março

de 1946. i

Bernard M. - Baruch foi designado por Truman para a ta

refá de apresenta-lo como proposta norte-americana às Nações U

nidas. Já idoso, e cora muito prestígio, Baruch cercou-se de

um grupo de assessores de Wall Street, ao invés de cientistas

especializados, que não entendiam muito bem o intrincado mun

do atômico. Com algumas modificações do plano original Ache

son-Lilienthal, Baruch apresenta-o, na ONU a 14 de junho de

1946, utilizando uma linguagem apocalíptica e com recursos de •

dramartugia. A pronta recusa do representante soviético, An

drei Gromyko, que* propôs a imediata destruição de todos os ar

tefatos atônicos existentes estabeleceu um impasse. A discus

são arrastou-se até dezembro de 1946, sem um consenso/ quando

então houve a votação entre os membros da Comissão Atômica, em

que a proposta de Baruch ê aprovada por 1 0 - 0 , com a URSS e a

Polônia^abstendo-se. Transferindo o for o de debates para o Con» • •

selho de Segurança da ONU, a URSS usa seu poder de veto pára

rejeitar a proposta ils),

£ interessante lançarmos uma olhada para a posição

(1%) Sobre esse assunto ver Gerber, art.cit. pp.. 74/75 e 90/92. A avaliação de Gerber das intenções do plano Baruch c, en resumo, a seguíjate: "This study of the Baruch plan indicates that a newconcept of national security, with its global dimensions,combined with an older tradition of Wilsonian internacionalism to create an American plan for the control of atc[mic energy that, if adopte, vould have had the. effectof preserving the position of dominance that the UnitedStates had achieved at the end of the Second World War".(p. 95).

brasileira, membro original da Comissão de Energia Atômica, pe

Ias suas presumíveis grandes reservas de materiais fisseis. tO

representante brasileiro era o almirante Álvaro Alberto, figu

ra de proa em todo o debate que envolveu a criação de uma poli

tica nuclear brasileira ate a década de cinqüenta. Pelas info£

inações disponíveis, sabe-se que Alváro Alberto era simpático à

proposta soviética, mas a época era de aliança fiel com os EUA

e sob a orientação do Ministério das Relações Exteriores, mani

festou-se favorável ao plano Baruch, com reservas, consciente

das dificuldades de sua implementação. Alberto apoiaria o pia :

no, desde que ele permitisse o acesso dos países que assim o '

desejassem à tencologia norte-americana (15). A correspondên ••

cia pessoal entre* Baruch e Alberto a que tive acesso (»«) dei

xa entrever uma relação de extremo afeto e admiração pessoal

mútua, sobressaindo o constante elogio de Alberto a "grande na

ção amiga", o que complica o quadro posterior de constantes a

cusações de atitudes anti-americanas em que Alberto :viria a

ser envolvido.

(ls) Telegrama do MRE a delegação brasileira, 20 de junho de1946 na tese de Gerson Moura, 0 Aliado Fiel: A naturezado alinhamento brasileiro aos Estados Unidos durante e apos a Segunda Guerra Mundial no contexto das relações xnternacionais, PhD, Londres 1984, p. 225. ~

(lê) Arquivo de Bernard Baruch, universidade de Princenton-USA.Cartas de Baruch para Alberto e dè Alberto pára Baruch.Esta correspondência se encontra no arquivo do CPDOC.

31

Os Primeiros Acordos Atômicos entre o Brasil

e os Estados Unidos

De posse destas informações sobre a moldura histôri

co-institucional com que.se montou o segredo e o monopólio da

energia atômica por parte dos EUA/ vejamos como se desenvolve

ram as relações com o Brasil e como se deram os primeiros açor

dos atômicos entre as duas nações.

. . A descoberta de areias monazíticas no Brasil, conten

do alto teor de tório e sais importantes colocou o país na poi

sJLçao de fornecedor de uma das matérias-primas indispensáveisi

para a indústria atômica. Mas há tipos distintos de : fornece

dores. Os dois principais fornecedores de urânio para os EUA

até então, eram o Canada e o Congo Belga. Obviamente havia u

ma diferença nas relações destes países com os EUA. Já vimos

como, apesar de sua importante participação na criação e nas

pesquisas do projeto Manhattan, o Canadá viu-se marginalizado

das informações técnicas indispensáveis, ocorrida com a monta

gem institucional do segredo que culminou na Lei HcMahon. O

Canada porém, assim como a Grã-Bretanha, apôs as primeiras rea

ções de protesto pela exclusão, não permaneceram de mãos com

pletamente atadas, partindo para pesquisas próprias, o que os

levou em pouco tempo a uma situação de enorme prestigio cientí

fico internacional, capacidade técnico-industrial (no caso do

Canadá) e bélica (no caso inglês).

0 Brasil não pode ser entendido nem numa situação de

sólida base industrial e tecnológica que permitisse um vôo au

tonomo no âmbito das pesquisas e nem estava inserido nuraa sL

tuação colonial como a do Congo Belga.. Em meados da década de

40, apesar de. jâ relativamente industrializado, assistia-se ain

da no pais a debates como de Roberto Simonsen/Eugênio Gudin,

discutindo a viabilidade da industrialização do pais e a supe

ração de sua pretensa "vocação agrícola" (17). Existia ainda

toda uma mentalidade interna que entendia o país de um ponto

de vista de exportador de matérias-primas, fornecedor das na

ções Industrializadas, sem capacidade de dar o salto industri

ai. Os argumentos dos defensores da relação com os Estados U

nidos nestas bases são fortalecidos por dois principais raoti

vos: j *

1) a força com que os EUA saem da IIa Guerra Mundial, ali

ando sua força moral como potência vencedora à indiscu

tível supremacia econômica que a guerra aprofundou, com

a destruição da base econômica dos seus possíveis corape

tidores; ! ,

2) a ignorância interna1, era relação aos assuntos atômicos,

«vistos ainda sob a aura do mistério e do inatingível (**).

Com efeito, realmente a empreitada de construção de

artefatos atômicos implica uma base industrial moderna c desen

volvida mas, como veremos, o próprio EUA careciam naquele momen

to de uma clareza maior quanto as aplicações econômico-Indus

trials da nova descoberta, perceptível nas dificuldades de iro

(l7) Heitor Ferreira Lima, Historia do Pensamento Econômico no• Brasil, Cia. Editora Nacional, SP 1976, cap. XI1I, pp.

170/193.

(it) Sobre a ausência de qualquer avaliação «ais objetiva^ eprofunda da posição brasileira nos debates da Comissão daONU, veja nota 15.

33

piemen tar uma po l í t i ca de construção de usinas atômicas com o

intui to de produzir energia. Este é um processo que demora

mais de uma década até se dispor de tecnologia para uma produ

ção comercialmente v iável .

O que podemos caracterizar coro diferença fundamental

quanto à percepção da importância do saber atcmico entre as duas nações

e que mesmo ainda não inteiramente esclarecido <fo«r prwriHt i iffaA*g eco

nômicas de aplicações da fissão atômica, os EUA pressentiam que

encontravara-se diante de uma nova etapa c ient í f i ca revoluciona

r i a . 6 óbvio que não se trata de comparar una potência mundial,com

interesses intercontinentais e que fazia uso neste momento das

armas atômicas cano reforço de sua supremacia mundial, cem uma nação po

bre sem maior relevância internacional como o Bras i l . Os Esta

dos Unidos em 1946, de uma forma confusa e ainda sem claros instrumentos

para atingir seu intento, pressentem que há um lonçp candnho a pejr

correr no demínio da nova técnica. O Brasil, apesar de certos homens

que compartilhavam esta visão, carecia ainda ds instrumentos mínimos de

incentiVo ao desenvolvimento têcnico-c ient í f ico .

Este sentimento de inferioridade aliado à ignorância

c ient í f i ca ,â penúria material e aos interesses norte-americanos

fazem com que propostas autonomistas esbarrassem em invencí^

veis obstáculos internos e externos.

A distância histórica permite-nos fazer um parale lo

com outras bem-sucedidas pol í t icas nacionais, que buscavam au

tonomia setorial como a do petróleo e a da recente reserva de

mercado da informática. É muito d i f í c i l reduzir um conjunto

de fatores responsáveis pelo sucesso ou fracasso de uma p o l í t i

ca de estado, a apenas um fator. Mas sem dúvida as verdadej.

ras campanhas nacionais que contaram com o apoio de diversos

segmentos da sociedade, especialmente militares e técnicos* com

poder decisõrio, presentes nos dois casos citados, é um compo

nente importantíssimo (»•).

O que quero ressaltar ê que tal componente, aliado

a uma clareza de propósitos esteve ausente da política nuclear

em todo o período inicial, dividindo internamente os policy-

-makers brasileiros em dois grupos muito claros. Um grupo, li

derado pelo almirante Álvaro Alberto, ausente durante dois a_

nos como representante brasileiro na Comissão de Energia Atômi

ca da ONU, volta e começa aj lutar pela necessidade de es tabele

cer uma política científica nacional, então internacionalmente

percebida como intrinsicamente ligada aos caminhos da energia

atômica. O outro grupo, liderado pelo Itamarati, que não via

condições de, em curto prazo, o país poder desenvolver-se auto

nomamente em termos científicos e tecnológicos. O caminho quei

restava 'a curto prazo era o de participar do projeto norte-ame

ricano,r*bar ganhando sua condição de exportador de matérias-pri^

mas estratégicas e retirando os dividendos desta política.

O resumo dos principais fatos apresentados a seguir

tem o objetivo de demonstrar a polarização criada entre estes

dois principais grupos que, no interior do estado brasileiro,

lutavam por seus pontos de vista e interesses conflitantes. A

(•») Sobre petróleo, Gabriel Cohn, Petróleo e Nacionalismo, Difel, SP 1968, e Cerson Moura, A Campanha do Petróleo, Brasilicnse, SP 1986. Sobre informática, Paulo S. Wrobel"7"Política Nacional de Informática: o desafio esta lançaáon9 Brasil. Perspectivas Internacionais. IRI/PUC-RJ nov7

35

polêmica levantada sobre os primeiros acordos com os í EUA de

1945, que marcaram o inicio das relações nucleares entre os

dois países, perdurou durante os governos Café Filho, Dutra,

o segundo governo Vargas e o início do governo Kubitschek. Nes_

te ultimo governo, através de uma CPI no Congresso e de uma

Comissão especializada, nomeada pelo executivo, são analisadas

e prescritas soluções administrativas mais claras para uma po

lítica nuclear nacional. Esta CPI — a primeira na historia

brasileira sobre a questão nuclear — esclareceu algumas destas

principais indefinições ocorridas nestes anos, principalmente

pelo depoimento do general Juarez Távora (2o).

O primeiro acordo atômico entre o Brasil, e os Esta

dos Unidos e assinado a 6 de julho de 1945 (ratificado dois ddl

as depois pelo governo brasileiro) 7 no período da decisão so

bre o lançamento das bombas atômicas no território japonês- ga

rantindo a venda pelo Brasil, com exclusividade, de 300 tone Ia

das anuais de monazita aos EUA, ao preço de 31 a 40 dólares a

tonelada., pelo prazo de 3 anos, prorrogável por até dez vezes,

dentro do espírito da Ata de Chapultepec.

Internamente o país achava-se em grande instabilid£

de devido â luta pelo fim do regime autoritário vargista, que*

viria a acontecer com sua deposição aproximadamente três meses

depois. Em agosto do ano seguinte, jã no governo Dutra, o Cor»

(2°) Sobre a CPI e suas principais conclusões, veja principal1 mente o depoimento do general Juarez Távora cm teu livroXtomos para o Brasil, José Olympio Editora, RJ 1958; a teise de Maria Cristina Leal Caminhos e Descaminhos do BrjL«il Nuclear; 1945-1958, IUPERJ, RJ 1982 e o depoimento deRenato Archer, CPDOC - Hiwtõria Oral, FGV, Rio 1979; exi£te cm bom resumo da CPI no Jornal do Brasil de 17/4/77.

selho de Segurança Nacional denuncia o Acordo através de um'me

morando secreto enviado â Presidência, propondo o seu cumpri

rcento apenas no primeiro triênio. A denúncia devia-se, espe

cialmente, à consciência dos militares nacionalistas de que «a

traves dele entregavam-se as riquezas minerais do pais sem

maior beneficiamento e exploração interna. Resultado disto é

a criação da Comissão de Estudos e Fiscalização de Minerais Es

tratêgicos (CEFME), incumbida d' centralizar as*decisões sobre

estes minerais, que passa a funciono: na Secretaria Geral do CSN

a partir de janeiro de 1947, pouco depois, portanto, da denunciai

Em 1948, findo o período de três anos de vigência do-

primeiro acordo atômico, apesar das tentativas norte-america_ •

nas de prorrogá-lo, o acordo foi denunciado pelo governo brasi^

leiro, interrompendo-se o fornecimento da monazita brasileira.

No período compreendido entre a denuncia do acordo, até a assi

natura do segundo acordo atômico em 1952, ocorrem quatro anos

Je infrutíferas tentativas norte-americanas de novos acordos.

A intenção erá a de manter o mesmo espírito do acordo de 45,

de importar matérias-primas consideradas como indispensáveis

para a segurança nacional dos EUA sem nenhuma contrapartida em

equipamentos ou tecnologia. Do lado brasileiro exigiam-se mu

danças no teor e na estrutura da relação que até então prevale

cia entre os dois países, buscando-se romper com a exportação

das matérias-primas em estado bruto, percebidas então como con

trãrias aos interesses nacionais. Estes quatro anos, entretan

to, foram anos de indefinições, onde nenhum dos dois (grupos

nacionalistas ou prÕ-norte-americanos conseguiu estabelecer »

ma clara supremacia de suas posições. Uma das teses básicas

37

do grupo nacionalista, a tese das compensações específicas, en

contra um canal institucional onde se expressar, o Conselho Na

cional de Pesquisas.

A Tese das Compensações Especificas' *

As mudanças de visão do lado brasileiro localizavam-

-se principalmente na criação e na tentativa de consolidação

de uma das vertentes em que se dividia o espectro de opiniões

nacionais quanto a viabilidade de implantação de uma política

científica nacional. A identificação feita pelos dentistas,

e governo entre o apoio decidido do estado às pesquisas cientí

ficas e o desenvolvimento da energia atômica ocorreu, corao vi_

mos, no decorrer da guerra e foi subseqüentemente estimulado

pelo sucesso tecnológico norte-americano.

A participação de uma delegação brasileira nos pri.

m6râios_jda Agencia de Energia Atômica da ONU, devido ao reco

nhecimento do país como fornecedor de matérias-primas estraté

gicas e potencialmente possuidor de grandes reservas, possib^

látou aos representantes nacionais um estreito contato com a

vanguarda das discussões publicas sobre o assunto. Não enten

deremos corretamente a importância desta arena internacional

se não tivermos bem claro o impacto causado pelas descobertas

científicas nucleares. Nunca é demais lembrar a atmosfera de

dor, sofrimento e desesperança causadas pelos anos de guerra e

a esperança que se abriu com o seu final. Pois ê exatamente

em cima deste contexto que a criação atômica foi pensada, pe

las elites, como panacéia universal que abriria um futuro ra

diante para a humanidade como um todo, ou pelo menos para a

parcela da humanidade localizada nos centros mais atingidos pe

Ia guerra, a dos países industrializados.

O chefe da representação brasileira na Agência, o ai

mirante Álvaro Alberto (*»), por ser um homem de ciência e ao

mesmo tempo por seu passado militar, percebe claramente a nova

era que se abre e o novo papel do estado como agencia de incre

mento científico e procura estimular a discussão interna sobre

a necessidade de criação de um organismo dedicado a estabele

cer uma política científica no país.

Como presidente da Agência e cultivando uma repute

ção internacional, o almirante Álvaro Alberto envia ao presjL

dente Dutra, em fins de 46, um memorando contendo uma serie de

recomendações visando à criação de uma política nuclear para o

Brasil, abordando principalmente os seguintes pontos:

1) Criação de um organismo de estudo e controle da energia

• fyiclear.

2)' Nacionalização das reservas brasileiras de urânio e tõ

rio. '

' - 3) Revisão das concessões jã efetuadas para a mineração des

tas riquezas.•

4) Controle das exportações destes minérios, impedindo a

saída bruta deles do país, sem antes passar por algum

(21) Informações sobre a vida do almirante Xlvaro Alberto p' dem ser encontradas no Dicionãrio Historico-Biograf ico Brsileiro, 1930-1983, Coord, de Israel Beloch e Alzira Aves. de Abreu, FGV, Rio, Ed. Forense, 1984, pp. 38/39.

processo de beneficiamento, que seria estimulado pelo

governo às firmas nacionais interessadas.

5) Incentivo as pesquisas e atividades científicas sobre e

nergia atômica.*

O impacto imediato deste programa pode ser sentido no

projeto de criação da CEFME e na posição que passa a ser defl

nida pelo CSN a favor do rompimento do acordo de 1945 com os

Estados Unidos.

/ Na sua volta ao país, o almirante Álvaro Alberto é

nomeado chefe de um grupo de estudos responsável pela criação

de um organismo de apoio à .ciência e tecnologia no país, era

brião do futuro CNPq. Em janeiro de 1951 é aprovado o projeto

de lei — Lei nÇ 1310 — criando o Conselho Nacional de PesqujT

sas, tendo Álvaro Alberto como seu primeiro presidente.

£ indiscutível que a criação do Conselho reflete a

incorporação de idéias modernizantes ao estado brasileiro e a

vitória-dos setores que apostavam na industrialização do país.

O fato,-por em, de o almirante Álvaro Alberto ser guindado ã posjL

ção máxima e o próprio termo dos estatutos do Conselho ref le

tem o papel essencial atribuído a uma política nuclear para o

país. Sendo um órgão para as pesquisas científicas em geral,

ele i especialmente destinado, por seus programas, para as pes,

quisas que possam desenvolver a capacitação nacional do domjt

nio do que na época era considerado a ciência per si, o conhe

cimento atômico (22).

(22) Para a formação do Conselho Nacional de Pesquisas e o pjapel de una política nuclear neste processo» veja a tese"

Continua.».

A partir de então, o CNPq passa a ser um intransigen

te defensor das propostas contidas no memorando acima descrito,

lutando por todos os meios possíveis para a vitória de soas te

ses. Quanto ao sensível ponto das diferenças de concepção dos

papéis respectivos do Brasil e dos Estados Unidos em seu comer

cio particular, entrou em cena uma concepção formulada pelo

presidente do CNPq, que servirá de discórdia durante um bom;

tempo entre os dois países, dificultando a renovação automãti

ca do primeiro acordo atômico — a tese das compensações espe

cíficas. l

A tese das compensações específicas foi desenvolvida .

pelos setores comprometidos com uma visão do país que procura '

va romper com o tradicional sistema de trocas prevalecente en

tre um país industrializado — os EUA — e um país exportador

de matérias-primas — o Brasil. O pressuposto em que se basea

varo os formuladores da tese era de que as reservas conhecidas

de monazita, de onde se extraia o tõrio e demais materiais ra

dioatiyos, e ás reservas estipuladas de urânio eram um mate

rial'precioso demais, e ainda por cima escasso, para ser livre

mente exportado em bruto, pouco contribuindo para a riqueza do

país.

Os mecanismos de proteção e defesa das reservas «de

matérias-primas deveriam ser estimulados, permitindo a exportei

Continuação^de Regina Lúcia de Moraes Morei, Considerações sobre a ^lítica Científica do Brasil, Universidade de Brasllia71975, especialmente pp. 104/106 e Simon Schvartzman Fojrmação da Comunidade Científica no Brasil, FINEP/Ci** *EdTtora Nacional, RJ e SP 1979, pp. 289/290. *

ção de uma pequena parcela das reservas, por força das alian

ças internacionais, porém, sofrendo obrigatoriamente um proces

so de beneficiamento. E, ainda mais importante, qualquer açor

do com o país importador, exigiria uma compensação, ou seja,

uma troca por materiais de pesquisa e equipamentos que permi

tissem aos cientistas e técnicos nacionais desenvolverem inter

naroente os conhecimentos indispensáveis no sentido de capaci

tar intelectualmente o pais a aproveitar seu potencial natural.

A tese das compensações especificas exigia «ma reversão do a

cordo de 45, que estabelecia a compra e, não a troca, das mate

rias-primas brasileiras.

Uma outra tese defendida pelo almirante Álvaro Albejri

to e seus aliados no CNPq era a de que não havia razão para a

exclusividade no relacionamento com apenas um pais — no caso

os EUA — em um comércio tão relevante como o de materiais ato

micos. Se o Brasil havia despertado para.a importância de aç3

quirir capacitação tecnológica e industrial, não haveria moti

vo para permanecer atrelado a apenas um único parceiro. Mesmo

que a este interessasse assegurar o monopólio das fontes supri

doras de materiais radioativos, como era a intenção norte-ame

ricana, uma posição nacional independente exigiria, segundo ÂJL

varo .Alberto, a autonomia de relacionar-se com quaisquer ou

trás nações que pudessem proporcionar o que o pais necessitas^

se. Foi baseado nesta argumentação, que o CNPq estabeleceu

contatos e intercâmbios científicos e comerciais com a França

e a Alemanha..

Como veremos, o principal argumento dos setores de

fensores da aliança exclusiva com os EUA, baseava-se na exi£

tenda da Lei McMahon que proibia aos EUA. a exportação ..

quaisquer equipamentos ou técnicas que ferissem o monopólio ex

presso em lei. E ainda mais: a Atomic Energy Comlssion nòrtes-

-americana teria poder de veto em relação a negócios com eqüi

pamentos atômicos na Alemanha, cujo governo encontrava—se ain

da sob a administração dos aliados vencedores. MO depoimento

do general Juarez Tãvora â CPI, isto fica muito claro quando

ele defende como objetivamente correta* a relação especial com

os EUA, por ser*a nação mais interessada em nossas reservas. Ê

interessante observar que mesmo o general Tãvora defende, pelo

menos teoricamente, a tese das compensações específicas:

"De qualquer forma, quero deixar bem claro quenunca passou pelo meu espirito eliminar ou enfraquecera exigência de fornecimento jie equipamentos tecnicos especiais^ como compensações específicas asnossas exportações de minerais radioativos.

Sempre considerei isso o elemento fundamentalda linha de ação de nossa política atômica, Pj** *£véssemos que modificar esta linha de ação eu nao pt±deria faze-lo sob a exclusiva responsabilidade da Secretaria Geral do Conselho de Segurança." (2J) °~r- .

Ê neste período indefinido que ocorre a interrupção

do acordo de exportação de 1945 explicitando mais nitidamente

as duas visões em choque: os setores que propunham uma diversjL

ficação das fontes de intercâmbio e a favor da tese das competi

sações específicas e os setores que apoiavam a continuação de

relações exclusivas com os EUA. Estes lutavam por um novo a

cordo nos mesmos termos do anterior, de 1945, não levando em

(2») Tãvora, ob.cit., p. 44. 0 general defende-se d* acusaçãode que suas diretrizes contrariavam a tese das compensa^ções específicas*

conta, por considerá-la irrealizãvel e impossível, a tese das

compensações especificas. * .

Guerra-Fria na América Latina

A importância de tratarmos mais cuidadosamente as re

lações que se estabeleceram entre o Brasil — compreendido no

contexto latino-americano — e os Estados Unidos no período da

guerra fria, explica-se pela singularidade do padrão de rela

ção que o período implica (**) e pela sua influência nesta par '

cela das elites que lutavam pela exclusividade da aliança com

os Estados Unidos*.

O que marcou fundamentalmente a década de SO e boa

parte da década de 60, foi a forma explícita dos EUA de enca

rar a América Latina como fornecedora de matérias-primas estra

tégicas para sua segurança. Independente da tomada de conis

ciência~-de certos atores latino-americanos da urgência do de

senvolvimento econômico e técnico-científico, a questão chave

é que em um tema como o da energia atômica, em que as cartas

estavam todas concentradas nas mãos de um sõ jogador, a assinus

tria das trocas se mantinha.

No contexto do imediato pós-guerra e, sem dúvida ajL

(2*) Sobre a guerra-fria como uma relação singular entre asgrandes potências veja principalmente Raymond Aron, Repjjbl ica Imperial, Zahar Editores, RJ, 1975, pp. 45/78 e WUl R K l Th T i h C t W l d I ?liam R. Keylor, The Twentieth-Century World; an Interntional History, Oxford University Press, 1984, pp. 2687?rr:

?/

guma, en toda a década de 50, a América Latina é orna região de

baixa prioridade para os E0A (2*). A estratégia internacional

norte-americana, apôs a Doutrina Truman de 47, baseada no con

talnment do suposto expansionismo soviético, privilegia as re

giões do mundo onde os analistas norte-americanos percebiam co

mo mais vulneráveis â penetração inimiga (*«). E nesta priori

dade não está incluída, por enquanto, a América Latina. A aju

da econômica direta da potência norte-americana/ que possui

neste momento uma enorme capacidade financeira e comercial, co

mo demonstra a reconstrução européia pelo Plano Marshall, ai

cança então todas as regiões do planeta, menos a sua vizinha '

região do Sul. \

Esta dramática, e porque não dizer quase .inverossí

mel situação e nitidamente percebida pelas elites . latino-ame

ricanas. Desde a Ata de Chapultepec (27), que mencionava os

(25) 0 artigo de Stephen G. Rabe, "The Elusive Conference: United State.s Economic Relations with Latin American, 1945~-1.9.52", Diplomatic History vol. 2 n9 3, Summer 1978, pp.279/294 e esclarecedor a esse respeito.

(2*) A analise clássica sobre o containment e ã de John LewisGadáis, Strategies of Containment, Oxford University Press,

.,.. N.Y., 1982. K muito útil também a coletânea Containment.*'•- Documents on American Policy and Strategy, ~1943-1950,

editada por Thomas Hertzold and John Lewis Caddxs, Columbia University Press, N.Y. 1978. Ver também Robert AT

. Pollard, "Economic Security and the Origins of theCold War: Bretton Woods, the Marshall Plan, and AmericanRearmament, 1944-50", Diplomatic History vol 9 s9 3 Summer 1985, pp. 271/289. ~

(27) Segundo David Green, "The Cold War Comes to Latin Atneri_. c«" en B.J. Bernstein(ed,), Politics & Policies of the TrumanAdministration, Quadrangle Books, Chicago, 1970, p. 159:"US policy strategists felt that the open world approach,upon which the Roosevelt administration's position atChapultepec was based, provided the most effective leverfor exercising US influence in Latin America?.

graves problemas econômicos da região, mas priorizava a coope

ração politico-estratégica, os diplomatas latino-americanos .vii ^ > * •t

nham insistindo na necessidade de um encontro multilateral que

se detivesse especialmente nas questões econômicas. Os sucej*

sivos adiamentos de tal encontro por parte dos EUA eram justi

ficados pela existência de problemas concretos na região, mas

devem ser na verdade creditados ao desinteresse norte-americja

no em estabelecer um claro programa de ajuda econômica direta

â América Latina COFIO um todo, dada a sua baixa prioridade po

lítico-estratigica í.2*).

Inicialmente o primeiro motivo apresentado como com'

plicador para uma reunião multilateral americana era o problem '

ma da Argentina. • C conflito EUA/Argentina arrastava-se desde

a negativa argentina de rompimento de relações com os países

do Eixo em 1942, exigida pelos EUA, até o não-reconhecimento pe

los EUA do governo surgido pelo golpe militar do Grupo de Ofi

ciales Unidos (GOU) em 1943 e as sucessivas acusações de pró-

-nazistas aos dirigentes argentinos. Em 1946, o famoso Blue

Book'do governo norte-americano apontava as íntimas conexões

do governo militar argentino com a Alemanha nazista, tumultuan

do ainda mais estas jã difíceis relações. Estes dois anos de

tensas relações argentino-norte-americanas serviram de motivo

(*•) Segundo Rabc, na verdade,_ desde a Terceira Cemferencia de Ministros de Relações Exteriores no Rio de Jji

. neiro em janeiro de 1942 a agenda econômica tenta se impor, sem sucesso, sobre a agenda ' polxtico-estrategícaMAt the Third Meeting . of Foreign Ministers heldin Rio de Janeiro in January 1942, Under Secretary of

'; State Summer Welles committed the United States to suppojrting the economic development of Latin America". Rabe, ob.cit. p. 279,

para o adiamento da nova conferência interamericana que vinha

sendo requerida pelos latino-americanos desde Chapultepec - sob

a alegação.dos norte-americanos de que não fazia sentido um en

contro desta magnitude sem a presença de uma nação da importãn

cia da Argentina, sob o risco do esfacelamento da unidade in

teramericana (*»).

Apôs a sua difícil assimilação â comunidade interame

ricana rendida às pressões, dos EUA e também da complicadissima

aceitação pela comunidade das nações — a ONU — devido à con

tinuada oposição soviética,.' a Argentina normaliza seu quadroí

de relações com os EUA. Estes só haviam reconhecido o governo

militar argentino em 45, dois anos apôs o golpe e as relações

de fato sõ se normalizaram em 47.

Com isto, o principal motivo alegado para os constar»

tes adiamentos de uma nova conferência desapareceu. Era agosto

de 47, a "Inter-American Conference for the Maintenance of the

Continental Peace and Security" se reuniu no Rio de- Janeiro,

contando com a presença de todas as repúblicas americanas, in

elusive a Argentina. Nesta conferência, mais uma vez os pro

blemas econômicos foram deixados de lado e a ênfase foi colo

dada nas questões de segurança continental. *

(?») Pode-se consultar dois trabalhos de Roger R. Trask, "TheImpact of the Cold War on United States - Latin AmericanRelations, 1945-1949", Diplomatic History vol. 1 n? 3 Sunmer 1977 pp. 271/284 e especialmente, "Spruille BradcnVersus George Messersmith: World War II, the Cold War,

\ and Argentine Policy, 1945-1947", Journal of Interamerican Studies and World Affairs, vol.26 n9 1, Feb. 1984, pp. 69/79TI P. 69: "Between 1945 and 1947, Argentina posed acomplex and exasperating problem for the United States asit endeavored to develop policy to guide its relationswith Latin America".

47

Com o TIAR, "The first of the *cold war pacts* and

the forerunner of the Nato and others" (Gordon' Connel-Snith),

criou-se um pacto de segurança coletiva para os paises america

nos, já no espirito do containment de Trüman.

O presidente norte-americano, presente à Conferência,

acentuava em seu discurso as diferenças existentes entre a pre

nente necessidade de reconstrução da Europa e a colaboração e

coaômica privada e de longo prazo entre os EUA e a América La

tina./ Mais uma vez patenteava-se o desejo norte-americano de

mantsr os países latino-americanos como mercados cativos dos

produtos industrializados do Morte e, no que'aqui mais nos in

ter ess a, exportadores de matérias-primas. Especialmente as na

térias-primas estratégicas e escissas essenciais para a "segu

rança" norte-americana onde sobressaíam-se os minerais atôrci

cos. Dois anos depois, o ponto IV de Truman reforçaria esta

concepção ('•).

- Menos de um ano depois, em março/maio de 48, em Bogo

tá, a Npjia Conferência Internacional dos Estados Ameri

canosr, cria a Organização dos Estados Americanos (OEA). Em uma

tumultuada Conferência, acompanhada por distúrbios e manifesta^

çoes anti-norte-americanos pela população colombiana, discutem

-se as propostas da Carta da OEA que, "provided an ins ti tu ti o

nal framework for the inter-american system and machinery for

(»o) Sobre o desejo dos países latino-americanos de criar «2.gum plano semelhante ao Plano Marshall, veja Rabe, art.cit. p. 286: "Whatever President Truman and SecretaryMarshall's intentions at Rio, States and Treasury depar£sent officials never seriously considered a Marshall Planfor Latin America".

implementation of the Rio pact" (S1). . " • "

A fundação da OEA, na verdade, deve ser entendida

dentro de uma discussão, que jã ocorria desde os foros em que

se debateu a Carta da ONU em São Francisco, sobre a possibili

dade ou não de alianças regionais e seu relacionamento com a*

nova comunidade das nações. O peso'relativo das republicas a

mericanas na época da criação da ONU era muito grande: 20 em.

48 votos em São Francisco. "The dispute over regional securi

ty at the San Francisco Conference trapped the United States

between the Soviet Union and the American Republics and nearly

defeated efforts to found the United Nations Organization in

the spring of 1945" (»*).

' O famoso artigo 51 da Carta da ONU, permitiu concjL

liar os interesses locais e preservar a autoridade da organizei

ção. A criação da OEA então pode ser realizada, sem chocar-se

frontalmente com a supremacia internacional da Carta das Na

ções Unidas. Certamente, porém, a OEA cristalizou a formação

de um bloco regional alinhado aos interesses norte-americanos.

Mais uma vez, desde 1945, a agenda econômica é adiada era um fo

rum continental, concentrando-se a reunião de Bogotá mais uma

vez nas questões de segurança coletiva.

(»») Trask, art.cit. p. 281.

(32) j. Tillapaugh, "Closed Hemisphere and Open World TheDispute over Regional Security and the U.N. Conference,1945", Diplomatic History vol. 2 n? 1 Winter 1978, pp.

; 25/A2. Sobre a origem das discussões: "Ho satij»factory planning occurred before the San Francisco Con£e_rence to relate the region to the world in a way accept?ble to both the great powers and the American rep"ublics", oc.cit. p. 26. ~"

Em um estudo sobre as votações nominais (roll-call

votes) nos encontros da OEA de 1948 a 1974, George Meek -tenta

demonstrar como a autonomia de votos das nações americanas em

relação aos EUA é maior-do que se supõe, contrariando a visão

paradigmática de um alinhamento automático das republicas ame

ricanas dos EUA (33). Em um ponto,*entretanto, fica nítido e

claro este alinhamento: nas votações sobre os problemas chama

dos genericamente de questões da guerra fria. Analisando as

votações de 1948 a 1974, Meek mostra como nos assuntos referen

tes â guerra-fria, os votos nominais dos países americanos são

coincidentes com o voto norte-americano. De 65 votações sobrei

o tema, em apenas uma os EUA não estavam do lado vencedor ("•)•

Em 23 votações propostas pelos EUA, 16 foram vitoriosas, obter)

do um índice de aprovação muito acima da media geral. (As ou

trás questões em que se dividem a amostra das roll-call votes

são: outras questões políticas, jurídicas e de segurança; eco

nômicos e sociais; processuais, institucionais e gerais).

^ A importância maior de se situar a formação de pa£

tos é organizações regionais no contexto da guerra-fria em re

lação â América Latina é ressaltar como se refletiu no Brasil,

no'início da década de cinqüenta o impacto da criação desta

mentalidade aliancista. £ entendendo esta moldura internacio

nal, que podemos captar mais profundamente de que maneira a di

(19) George Meek, "US Influence in the Organization of Aroerican States", Journal of Interatnerican Studies and World"Affairs vol. 17 n9 3 August 1975, pp. 311/325.

"On issues related to Communism and the Cold War, theUnited States has been quite influential in the OAS". Meekart.cit. p. 320.

visão interna das posições no estado brasileiro relacionava-se

âs necessidades de segurança e gestão do estado norte—america

no. Q discurso e as práticas do. containment, aprofundados pe

Ia Guerra da Coréia é pela percepção de. recrudescimento dos con

flitos mundiais que os anos cinqüenta trazem, fazia com que

países como o Brasil, longes ainda dos principais focos de lu

ta, fossem enquadrados pela política externa norte-americana

como .zonas resguardadas das disputas internacionais, e ainda

com funções preclpuas de fornecerem ajuda para a defesa e segu

rança do "Hemisfério Ocidental". . '

Ê desta consciência de estar participando de "um ess

forço comum — no caso como exportador de matérias-primas es_

tratégicas — que o pensamento da guerra-fria penetrava parce_

Ias das elites brasileiras e latino-americanas, realizando-se

plenamente através das organizações regionais. As idéias que

sempre atormentaram as.elites de nosso subcontinente, de infe

rioridacte em relação â cultura anglo-saxônica e de apatia e im

potência quanto às .grandes questões mundiais, puderam ser pelo

menos parcialmente mitigadas através do esforço comum com a na

ção mais poderosa, engajando-se no verdadeiro espírito de cru

zada representado pelo containment.

Os Novos Acordos Atômicos

O início da década de 50 fornece então o pano de fun.

'do ideal para a reafirmação dos valores de integração da .íincjL

piente política nuclear brasileira ãs necessidades e vicissitu

des norte-americanas. O argumento principal com que venho ba

seando a minha análise constitui-se na idéia de recursos de po

der desigualmente distribuídos entre duas nações e como elas

interagem em cima deste.quadro. Até agora o que procurei mos

trar foi como o monopólio e o segredo atômico foram utilizados

pelos EUA como recursos de poder, impedindo o acesso de outros

países interessados em desenvolver sua tecnologia no campo,

independente da natureza das relações que estes países tinham

com os EUA. A década de 50 assiste a uma transformação radi

cal neste quadro (3S).

Em relação a uma tecnologia tão sensível quanto a ai

tômica, foco privilegiado de tensões, e como vimos, um tema

ainda rodeado de segredo por todos os lados, o aguçamento das

tensões internacionais não deixou intocáveis as principais po

lxticas que o guardaram.

A Guerra da Coréia, conflito que passa a ser inter

nacionalizado pela intervenção norte-americana respaldada pela

ONU, acirrou e'aprofundou a lógica da contenção, com os EUA e

xigindo a colaboração direta das nações latino-americanas, me

diante o envio de tropas. Tal exigência foi formulada, concre

tamènte, na IV Reunião de Consulta dos Chanceleres Latino-Anre

ricrnos, realizada em Washington era 1951. Com exceção da Co

lômbia, que enviou tropas, os demais países da região prometes

(**) A noção de recursos de poder como uma noção concreta, v£lida apenas se contextualizada em cada "policy continge_ncy framework" acha-se desenvolvida era Pavid Baldwin, "Pc[ver Analysis and World Politics: Mew Trends Versus Old"

. Tendencies", World Politics 31, janeiro de 1979, p. 165.Veja também a introdução deste trabalho.

ram colaborar no esforço de guerra, na aliança anticomunista,

com outra forma de comprometimento que não o envio direto de

homens.

Para agravar este contexto, I importante . ressaltar

o sentimento de frustração com que as nações latino-americanas

viveram o período, ao serem alijadas 'do esforço de reconstru

ção econômica da pós-guerra patrocinado pelo plano Marshall.

Para os países subdesenvolvidos, o Ponto IV de Tru

man, de 1949, éra o principal instrumento de política economy

ca dos EUA, que dava prioridade ao controle das matérias-pri

mas estratégicas em escala mundial e a integração econômica

destes países ao capital norte-americano (3*).

• Assim, tornaram-se mais compreensíveis as pressões

efetuadas pelos EUA contra o rompimento do acordo atômico de

1945 pelo Brasil e seu esforço no sentido de se restabelecer o

fluxo de matérias-primas estratégicas. Com o acirramento dasi

tensões internacionais ha Coréia, usou-se novamente o argunen

to do esforço de guerra, clamando as nações aliadas ã colabore»

rem com seus recursos disponíveis. O acordo atômico de 15 de

janeiro de 1952 deve ser visto neste contexto «•

Nos debates travados por ocasião da CPI de 1956, sur

(»*) "Celui-ci (Ponto IV) va etre le principal instrument dela politique economique nord-americaine pour les pays•ous-développcs dans cette phase. Les objectifs de cettepolitique transparaissent dans le fait que, entre 1945 et

<: 1951, le pourcentage des credits de 1'Eximbank destinestu development de nouvelles sources etrangeres de_ matx£res premieres, notamment netalliques, passe de 6Z a 30Z"TLuciano Martins, Pouvoii et développetnent economique edJLtions Anthropos, Paris, 1976, pp. 368/369.

ge uma versão do acordo de 1952, levantada pelo embaixador Ed

mundo Barbosa da Silva, chefe do Departamento Econômico do Ita

marati, de que o Brasil teria trocado sua participação direta

no conflito da Coréia ao. lado das forças norte-americanas, pe

Io restabelecimento de exportação de matérias-primas estratêgi

cas (37). . . • •

Internamente, tenta-se negar esta- versão, que demons

tra tão explicitamente o atrelamento nacional a uma decisão ex

terna, com o argumento do acerto da medida e da defesa dos ge

nulnos interesses nacionais. Afinal, estamos em uma época em

que afloram sentimentos nacionalistas e industrializantes e oni • •

de nenhum setor político quer ser identificado como contrario

aos legítimos interesses nacionais.

Como resultado da Conferência de Washington de 51, e

em virtude das demandas de maior cooperação econômica entre as

partes, estabeleceu-se uma agenda muito maior de cooperação bi

lateral entre os países da América Latina e os EUA. O Brasil,

que liderava o bloco de nações desejosas de recursos financei_

ros, -cria uma Comissão Mista Brasil-EUA com o intuito de incre

mentar a cooperação econômica e o fluxo de empréstimos norte-ct

mericanos.

Sem entrar diretamente no mérito da coooperação eco

nôraica e atendo-nos aos assuntos nucleares, o fato é que em fe

(>7) Sobre as negociações de Washington, Martins, ob.cit. pp.369/377; verbetes do Dicionário cit. sobre Comissão MistaBrasil-Estados Unidos, pp. 8527853 de Vera Calicchío/DoraFlaksman e Acordo Militar Brasil-EUA (1952) pp. 23/24 deMaria Celina d'Araujo; Leal, ob.cit. pp. 4/45 e Archer,depoimento cit. p. 104.

vereiro e março de 1952, o Brasil e os EUA assinam dois polémi

cos acordos, forjados na ótica da cooperação bilateral: o 29

Acordo Atômico e o Acordo de Assistência Militar.

Os dois acordos — o atômico e o militar — estão a_

qui associados pelo fato.de fazerem parte da mesma lógica de

cooperação bilateral cora os Estados Unidos. A busca -de um

maior auxílio norte-americano para a industrialização brasilei^

ra neste momento, estava inteiramente conectada com as pres_

soes dos EUA a favor de um alinhamento brasileiro às suas posjL

ções internacionais.. A velha demanda de parcela das Forças Ar

madas brasileiras de modernização de seus equipamentos^ encon

tra, assim, ressonância da parte de quem poderia ajudá-la — os

EUA — em troca de um engajamento mais efetivo a seu lado no

quadro das tensões Leste-Oeste.

O acordo atômico deve também assim ser entendido. O

Ministro das Relações Exteriores de então, João Neves da Fon

tour a, o maior defensor deste alinhamento com os EUA, . afirma

em seu rlivro de depoimentos (3*) que os dois acordos per ten

ciam ao mesmo processo de negociação e defende-os com o *rgts

mento de que ambos foram aprovados em uma mesma e única reunião

do Conselho de Segurança Nacional, onde estavam presentes to

dos os Ministros de Estado e o representante do EMFA:

"Acerca do assunto relativo às monazitas, pronunciouse também o CNPq, cujas recomendações, de ~Sde julho e 3 de dezembro de 1951, foram levadas em

%(»•) João Neves da Fontoura, Depoimento» de um ex-Mínístro r(Peronismo -— minerais atômicos — política externa) Org. STaões, RJ 1957. ""

eonta pelos negociadores." (Fontoura* 155?, p.

\\

Fontoura lembra ainda a visita ao Brasil, em novem

bro de 1951, do Presidente da Atomic Energy Comission (AEC)nor

te-americana, Gordon Dean com a missão de comprar toda a mate \

ria-priraa radioativa disponível. O'Brasil não pode resistir,

então a esse apelo de seu principal aliado: * * jt

* i

' . "Os EUA vinham pleiteando a venda de avultadasquantidades de monazita, como contribuição â obra de \segurança mútua." (Fontoura, 19S7, p. 29) \

Internamente, uma decisão de fevereiro de 52, colo

ecu ainda um novo elemento no plano do quadro decisorio da polity

ca nuclear: a criação da Comissão de Exportação de Minerais Ex

tratêgicos (CEME) (3>) vinculada ao Ministério das Relações Ex• -

teriores, que diga-se de passagem, era quem estava longamente

habituado a negociar com os EUA, a CEME absorveu do CNPq as &

tribuiçoes quanto ã venda de urânio, tório e seus componentes

minerais. A Comissão atribuiu-se a competência para aprovar

quaisquer exportações destes minerais, resguardados os esto

quês exigidos pelo CSN. Embora não se possa afirmar que este

('*) Fontoura, ob.cit. p. 120: "Quando sugeri ao Presidente daRepública a criação da Comissão (CEME), ao contrario dedestinã-la a favorecer o interesse norte-americano na compra de materiais estratégicos, meu intuito foi o de poder_nos deter a exportação, mesmo do que jã houvéssemos prone_

, tido vender aos Estados Unidos, acertando o ritmo das no£sas remessas com os financiamentos dos projetos da Comís_são Mista Brasil-Estados Unidos para o desenvolvimento e_

. conomico".Sobre a CEME ver também Dicionário cit. pp. 848/849,

verbete de Alzira Alves de Abreu/Dora Flafcsnan.

segundo acordo atômico já reflita a atuação da CEME, pois ela

sô passou efetivamente a funcionar a partir de narço dé 1952,

sen dúvida já reflete a marginalização do CNPq e dos grupos na

cionalistas em seu interior. Ainda em setembro de 52, o CHPq

envia uma exposição de motivos — de n9 51 — criticando os

termos do segundo acordo atômico pela ausência de compensações

especificas.

Este acordo é novamente apenas um acordo de venda de

15 toneladas de monazita, sais de cério e terras raras pelo pe

rxodo de três anos. Os sais de cério e as terras raras cons

titulam-se em uma novidade,'por serem materiais que já sofriam

algum beneficiamento, efetuados pela empresa nacional Orquima

S.A. Em agosto de 52, apôs terem importado a quantidade de mo

nazita correspondente a todo o período do acordo, ou seja os

três anos, os EUA denunciam o acordo, desobrigando-se assim de

comprar a parte dos materiais beneficiados, sais de cério e asi

terras raras. í• • " • i -

Este fato agravou ainda mais o período de aberto con** "~

flito quanto às diretrizes da política nuclear brasileira, eis

pecialmente no tocante as exportações, entre as forças alinha

d.a's em torno do CNPq e da CEME. O acordo de 52 refletiu a vi

tôria da CEME, assim como a exposição de motivos n9 51 do CNPq,

aprovada pela Presidência da República refletiu a vitoria do

CNPq. Em 1953 e 54, até o período final do governo Vargas, im

plantou-se uma firme política de busca a todo custo de tecnolo

gia para implantação de usinas nucleares no país., que levou ã

-secreta encomenda das ultracentrífugas à Alemanha pelo «almiran

te Álvaro Alberto. Apôs serem produzidas e pagas foram proibi

57

ocdasode embarcarem para o Brasil pelo Comando Militar Aliado,

qupietáté .néritão governava a Alemanha. A ordem partiu da Cómis

sãsãcüsde Energia Atômica dos EUA, baseada na proibição à • Alentai

nlahatirâe produzir qualquer material atômico (*«).

ReKéfletindo o equil íbrio de forças do f inal do ultimo

ccgxaverno Vargas, a CEME consegue, dias antes do seu s u i c í d i o , a

piprovar urtxterceiro acordo atômico, trocando desta vez 5 mil t o

Jicneiadas âecmonazita e 5 mil toneladas de sais de cério e t er

rcrasreraras vpor -10 mil toneladas de trigo norte-americano "Hard

VMWinter n$!2f. Tal acordo contou com a óbvia oposição do CNPq.

• • .. Este. terceiro acordo de 1954 deve ser entendido como*

: parte da mesma estratégia de pressão dos EUA utilizada no açor

:\ do de 1952, tal .como narrada por João Neves da Fontoura. Someii

te a perplexidade e o estado caótico dos últimos momentos var

gistas explica este acordo. Ele foi celebrado a 20 de agosto

de 1954, quatro dias,portanto,do suicídio de Vargas. Archer,

em sua entrevista ao CPDOC afirma:

"A carta-teBtamento de Getúlio, que pareceu tãohorrendamente demagógica, referia-se ao problema daenergia nuclear. Schmidt Joi recebido por ^ Ce túliono dia 23 de agocto, na véspera de seu suicídio,

i\ Na realidade, vocês vao encontrar no Diário Oficiai-do dia seguinte, uma autorização^dada por Cetu^ 'lio para a exportação de areias monaziticas, porque

t ele estava convencido de que se autorizasse esta exportaçao — que seria a segunda — talvez a pressãoamericana contra ele diminuísse." (**)

(*Oc)íTãvor«t ob.cit. pp. 48/50.

> (•»!) Archer, depoimento cit. p. 102

Café Filho e Kubitschek .

\Este precário equilíbrio entre os dois grupos se r«s

solve, politicamente, com o suicídio de Vargas e a subida de

Café Filho ao poder. Para isso foi decisiva a nomeação do- ge

neral Juarez Távora para a Chefia dà Casa Militar e o Comando

do Conselho de Segurança Nacional. Embora ocupando durante

poucos meses o cargo, de onde se exonerou para concorrer às c*

leiçoes presidenciais, Juarez, um militar tradicionalmente vojL

tado para as grandes questões nacionais, propôs através de um

oficio uma mudança profunda na política nuclear seguida nos úl

timos anos, sugerindo.o abandono definitivo da tese das compen

sações especificas e um alinhamento exclusivo aos EUA.

Entre novembro de 1954 e janeiro de 1955, o antigo e

quillbrio de forças rompeu-se definitivamente. Em um período

de três meses os seguintes acontecimentos indicam o predomínio

dos setores ligados a uma colaboração mais estreita com os EUA:

o Conselho de Segurança Nacional envia exposição de motivos a

Café Filho — n9 1012 — para novas orientações da política nu

clear brasileira, consolidando o Ministério das Relações Exte

riòres cano o único órgão responsável pelas negociações com o

exterior em matéria nuclear. Em janeiro de 55, o CNPq é ofi

cialmente alijado em sua capacidade de lidar com o exterior era

assuntos nucleares, delegando-se as responsabilidades exclusjL

vãmente à CEME. Em dezembro, Raul Fernandes, Ministro das Re

lações Exteriores, contacta os EUA para um grande acordo sobre

.os minerais radioativos brasileiros. Em janeiro, o almirante

Álvaro Alberto demite-se do CNPq, sob o suposto de uma alegada

ineficiência administrativa C>2). Em agosto de 55, culminando

esta série rápida de transformações, são assinados dois açor

dos gerais entre o Brasil e os EUA: o "Programa de Cooperação

para o Reconhecimento e a Investigação do Urânio no Brasil" e

o "Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento da Energia Ato

mica com Finalidades Pacificas". Estes programas fazem parte,

alem da referida mudança de ênfase da política nuclear brasjL

leira, da virada fundamental da política nuclear norte-araeric<*

na ocorrida com Eisenhower, o "Átomos para a Paz", que veremos

no próximo capítulo.

Todos estes acontecimentos internos de consolidação

temporária de uma das posições em conflito e que não ficaram

restritos a providências administrativas, virão â tona no inx

cio da administração Kubitschek, com a instalação de uma CPI na

Câmara sobre a política nuclear brasileira. Pela primeira

vez, um dos assuntos tabus do governo, pela carga de interes_

ses investidos, pode desvendar-se mais claramente para a socie

dade. Não sé trata aqui de fazer uma descrição minuciosa da

historia e influência da Comissão de Inquérito (*')» mas somen

0 episódio sobre-a exoneração de Alberto do CNPq e um dosmais discutidos na CPI de 1956 e um dos quais o generalJuarez Tãvora mais se defende. Veja Tãvora, ob.cit. pp.50/62, 112, 130/140, 198/212; Leal, ob.cit. pp. 94/97 edepoimento de Archer ao CPDOC p. 103, "... quando encojntrei na calçada, o almirante Xlvaro Alberto que passava.Ele jã não era o Presidente da Comissão. Foi demitido noGoverno Cafe Filho, em função da pressão americana, fatoque foi confirmado por ele em carta e num inquérito quelevou o general Juarez Tãvora a se transferir para a r£•erva",

(*•') A descrição acha-se desenvolvida por Leal, ob.cit. pp.127/143.

te de chamar a atenção para os aspectos de interesse, quais se

jam, os que detectam uma influência norte-americana nas mudan

ças de orientação ocorridas na política nuclear brasileira.

Os dois protagonistas principais da Comissão, respon

sãveis pelos debates mais candentes, foram o general Juarez Tji

vora e o jovem deputado do PSD do Maranhão Renato Archer (**»).

O primeiro como acusado de ter ordenado as mudanças da politi

ca nuclear em um sentido antinacional e o segundo como o mais

atuante e inquisidor deputado, trazendo as provas coraproraetedo

ras da posição do general Tãvora. A argumentação de Archer

fundamentou-se na apresentação de quatro documentos secretos

nos quais teria se baseado o general Tãvora para as novas dire

trizes propostas no CSN, documentos estes que, segundo Archer,

foram originados da Embaixada norte-americana (*5). Os docu

mentos secretos n?s 1, 2, 3 e 4 propunham em sua essência no

vas negociações atômicas diretas entre o Brasil e os EUA, CXÍL

ticavam a atuação do almirante Álvaro Alberto â frente do CNPq

como elemento àntinorte-americano e acentuava a relação de ex

clusividade que o pais deveria manter com os EUA, evitando bus

car cooperação com os países europeus, incluindo-se ai espe

ciãímente a compra das ultracentrífugas alemães.

Esta polêmica, que motivou o pedido de passagem para

a reserva do general Tãvora e tornou Archer um especialista em

C**) Dicionário cit., verbetes sobre Renato Archer» pp. 199/1202 e sobre Juarez Tavora, pp. 3311/3325, este um verbjete de Sílvia Pantoja/Daniel Camarinha.

(**) Archer, depoimento cit., pp. 107/111. A íntegra dos docaBentos secretos acha-se no livro de Tãvora, ob.cit. pp7336/346.

questões nucleares, gerando a sua posterior indicação como re

presentante brasileiro na Agência Internacional de Energia Ato

mica (AIEA) de Viena, mais uma vez colocou nitidamente na are

na as duas visões em choque que antagonizavam os setores res.

ponsáveis nacionais. Aceitando-se ou não as evidências dos do

cumentos secretos, o fato é que no governo Café Filho a tendên

cia foi a do alinhamento exclusivo â vontade norte-americana, £

xemplificados nos acordos de 1955 e ã submissão aquele padrão

por nos jã apresentado, exportador de matérias-primas es trate

gicas e sujeição às regras internacionais de distribuição desi_t

gual de poder. !

Paralelamente â constituição da CPI, o governo no

meia uma Comissão de especialistas com o intuito de propor uma

nova política nuclear para o país. Ambas as Comissões, a do

Legislativo e a do Executivo, recomendaram a criação de uma a_

gência especializada, que centralizasse todo o trabalho de pes

quisa, negociação e execução1 de uma política nuclear, nos mol

des da AEC norte-americana. Foi criada então a Comissão Nacio

nal dé Energia Nuclear (CNEN), para substituir tanto as atri_

buições do CNPq quanto da CEME, centralizando a partir de en_

tão" a política nuclear brasileira e vinculando-se diretamente

â Presidência da Republica (*•*)*

(**) Leal, ob.cit. pp. 141/143 e Morel, ob.cit. pp. 99/115.

\

\

CAPÍTULO 2:

( A BUSCA DE AUTONOMIA: OS PERCALÇOS

( DA POLÍTICA NUCLEAR BRASILEIRA

(

(

<

(

(

(

(

(

(

(

* • •

"ÁTOMOS PARA A PAZ"

Com a assinatura do acordo de 1955, o primeiro que

compreende a exportação de tecnologia para o país — reatores

de pesquisa para os. laboratórios científicos do Rio de Janeiro,

São Paulo e Belo Horizonte — inicia-se uma nova etapa no pro

cesso de implantação de uma efetiva polxtica nuclear br asilei^

ra. As principais questões nucleares entre o Brasil e os Es£a

dos Unidos, nação líder no.desenvolvimento nuclear e a qual a

política, nuclear brasileira ate então atrelava-se, tornam-se

mais complexas. Ãs antigas polêmicas sobre a pesquisa de mine

rais atômicos no Brasil por parte de equipes norte-americanas

junta-se, agora um novo elemento: a tecnologia norte-americana

advinda coro estes primeiros reatores de pesquisa.

No quadro norte-americano, a eleição do presidente

Eisenhower pareceu representar a culminação da lógica militar

da guerra-fria. A década de cinqüenta, aliás, mais do que

qualquer outra; ficou historicamente associada com a fase por

excelência da luta ideológica entre "paz e socialismo1* de um

lado e o "mundo livre" e os "valores democrãtico-cristãos" do

outro. A presença de John Foster Dulles como Secretário de Es

tado durante boa parte da década pode ser considerada como seu

símbolo mais bem acabado.

Há hoje em dia uma polêmica n& historiografia norte-

-americana a respeito do verdadeiro papel representado pelo

presiâente Eisenhower no contexto da guerra-fria de então. Uma

das correntes interpretativas quer apresentã-lo como um poli ti

co. moderado que, apesar de cercado por assessores que preconi.

zavam um endurecimento com a URSS até a guerra se fosse preci

so, esforçava-se seriamente em buscar uma política de entendi

mento e relacionamento menos belicoso com a URSS (*).

Quanto aos armamentos nucleares, uma das questões

centrais da guerra-fria,.o impacto causado pelo fim do monopõ

lio norte-americano em 1949 — guando a URSS explodiu sua pri

meira bomba atômica — acelerou as pesquisas .norte-americanas

para produzir a bomba.de hidrogênio, mil vezes mais poderosa

que a primeira bomba atômica, e recolocou para os EUA novas

questões estratégicas. Pela primeira vez, apesar das Inúmeras

questões técnicas ainda irrespondíveis, os EUA tornavam-se um

alvo possível de armas nucleares, criando dentro de uma parce

Ia do estado norte-americano um grupo favorável à busca de su

perioridade bélica, custasse o que custasse. O grupo contra

rio, embora contasse com figuras notáveis como Kennan, Lilien

thai e Oppenheimer, não podia deter a nascente lógica da cor

rida armamentista. A cristalização desta posição encontra-se

no documento conhecido como NSC-68, aprovado por Truman em se

tembro de 1950 (2).

(}) Tomas F. Soapcs "A Cold Warrior seeks Peace: Eisenhower**Strategy for Nuclear Disarmament", Diplomatic History Vol.4 n9 1 Winter 1980 aborda esta polemica, favorecendo a visao do Eisenhower moderado. Sobre a estratégia nuclear nortjs-americana do período veja especialmente Michael Mandelbaun,The Nuclear Question, the United States and Nuclear Weapons1946-1976, Cambridge University Press 1979, pp. 41/68 e «extraordinária obra de Lawrence Freedoan, The Evolution ofNuclear Strategy, The Macmillan Press, London 1981, pp.63/96.

(2) "NSC-68 offered a prospect of persistent East-West hostjLlity, with a danger of war not only from miscalculations'in the midst of a crisis, but as a consequence of premeditated Soviet aggression. The Soviet Union, or wore precTsely "the Kremlin", was identified as an ideal-type agre?sor". Preedman, ob.cit. p. 70. "*

Ê com diretrizes firmemente encaminhadas para a con

. . frontação e o investimento militar que o presidente Eisenhower

assume em 1953. Em dezembro deste mesmo ano, em uma decisão

que não contou com a. unanimidade de seus principais assessores,

veio a publico, em uma arena privilegiada para a propagação nun

dial como a Assembléia Geral da ONU; uma proposta apresenta

.da sob a denominação de "Átomos para a Paz". A intenção era

de, mais uma vez, lidar com a complicada trama internacional

da energia atômica, apelando para os propósitos pacíficos nor

te-americanos, utilizando uma linguagem internacionalista e

contundente. :i

Não entrarei aqui em detalhes sobre á grande polêmjL

ca que sempre permeou a política externa norte-americana, colo

cando de um lado os isolacionistas e do outro os internaciona

listas. De uma certa maneira, matizados por problemas estraté

gicos que a nova ordem internacional do pós-guerra inexoraveJL

mente colocou, estas duas visões históricas encontravam-se pre

sentes nas discussões quanto as formulações políticas do pro

blema' atômico, de uma maneira mais ou menos coincidente. Certa

mente podemos perceber a questão como apenas uma discussão de

método sobre a melhor estratégia de domínio daquilo que era

consensualmente percebido como sinônimo do status de uma graji

de potência: as armas atômicas. Desde o fracassado plano Ba_

ruch até a formulação de uma política que assegurasse o monopó

lio nuclear, pode-se perceber uma linha de continuidade na pç>

lítica atômica norte-americana, unindo ás duas principais cor

rentes acima de suas divergências. Tratava-se afinal de asse

gurar um conhecimento único e do transcendente valor histórico.

O fim do monopólio das armas atômicas, a partir da

conquista soviética da bomba atômica e da muito mais poderosa

bomba de hidrogênio que se seguiu, colocou então os EUA frente

a uma nova realidade, exigindo novas políticas. No plano es

tratégico, sem dúvida, o.acirramento da guerra-fria refletia*

esta nova paridade de poder. Porém,' 'surge também para a nova

administração republicana a oportunidade de. retomar o velho so

nho do imediata pôs-guerra: fazer do uso. civil da descoberta a

tômica uma panacéia para os grandes, problemas mundiais, assu

mindo para o seu país uma posição de liderança moral mundial ei

luta contra o subdesenvolvimento. Agora não mais apenas como

possuidor de armas ameaçadoras e mortíferas, mas também como

aquele que quer socializar o.progresso, repartindo com as na

çôes da comunidade internacional o novo conhecimento. Este é

o tora com que Eisenhower apresenta seu programa:

"I feel impelled to speak today in a languagethai in a sense ia new-one which I, who have spentso much of my life in the military profession, would

• have prefered never to use. That new language isthe language of atomic warfare. The atomic age has

• moved forward at such a pace that every citizen ofthe world should have some comprehension, at leastin comparative terms, of the extent of this develop

i'j- ment, of the utmost significance to every one of us.Clearly, if the people of the world are to conductan intelligent search por peace, they must be armedwith the significant facts of today's existence."{*)

Segue-se então uma descrição pormenorizada do enfo

que norte-americano das armas nucleares, atômicas e de hidrogê

(*) 0 Programa encontra-se em Henry Steele Commager, ed., DoCMments of American History, 9? cd. Prentice Hall. NY p. 586/555

nio ("••• are in the ranges of millions of TNT equivalent") e

da capacidade que a aviação norte-americana teria de bambar

dear qualquer alvo com um poder de fogo superior ao da recente

IIa Guerra Mundial.

Utilizando uma. linguagem que ao mesmo tempo tenta

harmonizar ameaça militar e preceitos morais, acentuando os

riscos que estes estoques de armas coloca para a humanidade,Ei

senhower desenvolve os argumentos da dissuasâo e da retaliação

como elementos da estratégia contra o fim do monopólio norte—a_Í

mericano e o desenvolvimento de armas semelhantes pela URSS.

Sua proposta, entretanto, enfatiza um outro lado, como repreI

sentante de uma nação que "sempre quis a paz e esteve ao lado

do progresso", no sentido de utilizar o poder construtivo. e

não o destrutivo da nova tecnologia.

"So. my country '8 purpose is to help us move outof the dark chamber of horrors into the light> tofind a way by which the minds of men, th*>. hopes ofmen, the souls of men everywhere, can move forwardtoward peace and happiness and well being.

r- The United State» would seek more than the merereduction or elimination of atomic materials for m£litary purposes. It is not enough to take thisweapon out of the hands of those who will know howto strip its military casing and adapt it to the arts of

}/.; peace.' • . The United States knows that peaceful power

from atomic energy is no dreau of the future» Thatcapability, already proved, is here-now-today. Whocan doubt, if the entire body of the world's seien^

- tists and engineers had adequate airounts of fissionable material with which to test and develop the-Crideas, that this capability would rapidly be transformed into universal, efficient, and economic usage,7

(%) Conmagcr ob.cit. p. 587

Estas longas passagens refletem melhor do que minhas

palavras poderiam dizer, a dupla mensagem contida no famoso

programa "Atoms for Peace". -

\Há uma tendência muito arraigada no pensamento sobre

política internacional e, especialmente nas questões que envoi

vem armamentos, de perceber as atitudes das nações em termos

de ação e reação. Toda a idéia de corrida armamentista, por <*

xemplo, parte deste princípio. Um mundo bipolar, presta-se mui

to mais ainda a este tipo de raciocínio, embora ele esteja pre

sente também em um universo multipolarizado. O discurso do :

presidente republicano, embora não explicite esta lógica de a_ ;

ção e reação, ê claramente uma tentativa de colocar seu país .\

em uma posição internacional de autoridade moral, utilizando o

imenso prestígio material e cientifico (os cientistas e enge

nheiros citados) norte-americano .em uma ousada, para a época,

cooperação internacional.

A primeira proposta concreta ao programa é a favor

da criação de uma "International Atomic Energy Agency", respon

sãvel,pelos estoques mundiais de urânio e demais materiais fxs

seis. Tal agência ficaria sob os auspícios da ONU. A explora^

ção. destes materiais nos países possuidores de reservas come£

cialmente significativas contariam com a colaboração norte-a

mericana e ... "will find the United States a not unreasonable

or ungenerous associate" (5). A responsabilidade principal da

Agência seria a de desenvolver métodos para alocar o material

fissil no intuito de servir as atividades pacificas, especiaJL

(s) Commager, ob.cit. p. 587.

mente agricultura e medicina, além de proporcionar abundante e

nergia elétrica para as ãreas carentes do mundo.

Em resumo o plano apresentado na ONU pelo presidente

Eisenhower continha o seguinte:

1) Encorajar uma investigação a nível mundial do uso pacx

fico dos materiais físseis, assegurando todos os instru

mentos necessários para a condução das experiências «t

propriadas.

2), Começar a diminuir o potencial destrutivo dos -estoques

atômicos mundiais.

3) Assegurar aos. povos de todas as nações que as grandes

potências da terra, a leste ou a oeste, estão mais ir»

téressados. nas aspirações humanas do que na construção

de armamentos para a guerra.

4) Abrir um novo canal para discussões sobre a paz, por

meio de uma nova abordagem dos muitos e difíceis proble^

mas que necessitam de resolução, através de conversa

jÇÕes públicas e privadas que possam sacudir o mundo da

inércia imposta pelo medo.

Este ambicioso programa, que sem dúvida fracassou

nos seus aspectos em que propunha o fim da corrida armament is

ta a nível mundial, pois o mundo assistiu desde então â proli

feração atômica horizontal e vertical — quer dizer, novas nj»

çoes possuidoras de armas atômicas como a Inglaterra, França e

China e armas cada vez mais destruidoras nos estoques dos dois

grandes — este programa foi um relativo sucesso, encarado da

lógica norte-americana, em difundir por diversas nações a sua

tecnologia.

Para melhor entender este quadro, duas outras medi.

das que ocorreram na política atômica norte-americana no mesmo

período, colaboraram para uma mudança de rota no até então su

per-secreto programa atômico. A primeira delas é a revisão do

McHahon Act em 1954, modificando-o em duas principais âire

çoes: o fim do monopólio atômico por parte do governo norte-ai

mericano, abrindo às empresas privadas a capacidade de invés

tir e pesquisar por seus próprios meios; o fim. do segredo cien

tífico, permitindo o acesso de outros países a informações até

então resguardadas, especialmente a reatores de pesquisa que

possibilitassem aos cientistas fora dos EUA familiarizarem-se

com a nova tecnologia. A física nuclear, para evoluir teórica

mente depende do campo experimental, onde a presença de um rest

tor de pesquisas é fundamental. A segunda transformação dos

anos 50 que nos ajuda a entender o porque do relativo sucesso

do "Átomos para a Paz", está conectado com o velho problema

já levantado sobre a ligação inexorável entre fins pacíficos

e bélicos da energia nuclear. A existência de reatores de pes_

quisa'nos laboratórios norte-americanos nos anos 40, possibiljl

tando o acumulo de urânio ou plutonio que criaram os primeiros

artefatos atômicos, apontavam para a eventualidade de que rea

tores de muito mais capacidade, reatores de potência, transfor

massem os materiais flsseis em energia elétrica. Este passo,

porém, foi um longo processo. Na verdade, o desenvolvimento

dos reatores de potência nos Estadoi Unidos ocorreu também co

mo um subproduto da indústria militar.

Foram os laboratórios de pesquisa da marinha norte-a

mericana visando a construção de um submarino movido a energia

nuclear, com maior autonomia de mergulho — contribuindo assim

para diversificar os veículos lançadores de bombas atômicas >a

lim dos grandes aviões — os responsáveis pela construção dos

primeiros protótipos de reatores de potência, que serão poste

riormente aperfeiçoados pelas empresas privadas norte-america

nas. Para se ter uma idéia, ê somente em 1956, que o primeiro

reator de potência começa a funcionar no Ocidente para a produ

ção de energia elétrica. Isto acontece não nos EUA e sim na

Inglaterra, país muito mais carente de energia por meio de re.

cursos renováveis (').

A Posição dos Cientistas

Voltando às relações brasileiro-norte-americanas da

década de 50, vemos que o acordo assinado em 1955, permitiu pe

Ia primeira vez a recepção pelo Brasil de um reator de pesqujL

saj antes, portanto, da unificação de toda a política nuclear

brasileira na CNEN, ocorrida em 1956. 0 período era ainda "de

muitas hesitações, marcado pelas indefinições quanto a uma cia

(') A primeira usina no mundo a produzir energia elétrica porneios nucleares foi a Central de Obninsk, na URSS era 1954.Fora da URSS, a Inglaterra foi o primeiro pais, com a Ceiitrai de Calder Hall em 1956. Nos EUA a primeira foi a Cej»trai de Dresden-1 em 1960. Veja Patterson, ob.cit. pp.324/332.

Segundo Pringle e Spigelman, ob.cit. p. 222: "Thefanfare that accompanied the Queen's opening of the Britishpower reactor at Calder Hall in 1956 placed great.emphasison the triumphant arrival of the peaceful «ton and maskedthe equally important use of the reactor: to provide pltitonium for Britain's bomb project". "~

ra política a seguir. Ausência, diga-se de passagem, que mais

de um físico assinalou como sendo a marca registrada da poljí

tica nuclear brasileira em toda a sua história (7).

O primeiro reator de pesquisa, do tipo "piscina", de

5 MW de potência, foi para São Paulo, jã marcado pelo signo da

polêmica entre os principais físicos brasileiros. A polêmica

colocava de um lado principalmente José Leite Lopes e de outro

Marcelo Damy (•).

, Damy, um dos discípulos brasileiros de Gleb Hataghin

(o responsável pela introdução da física moderna no Brasil na

USP), sempre estimulou e defendeu a física experimentai. Sob

sua supervisão, já se havia instalado um acelerador de partícu

Ias na USP em 1949, o Betraton, importado também dos Estados

Unidos. Em 1957, chegou a São Paulo este primeiro reator de

pesquisa norte-americano, produto da política de exportação do

"Átomos para a Paz". Foi criado para abrigá-lo o Instituto de

Energia Atômica (IEA) de São Paulo, e organizou-se um núcleo

de pesquisadores em torno dele.

' A discussão principal que polarizou os cientistas em

dois grupos distintos devia-se ao modelo de ciência que se ob

jfetivava produzir e a relação deste modelo com o saber e os e

quipamentos importados. A corrente de opinião defendida por

(') Conforme as entrevistas de Marcelo Dany de Souza Santos,José Goldemberg e José Israel Vargas. A primeira ao Est^,do de S. Paulo, 2/9/1979; as seguintes ao projeto. Historia da Ciência no Brasil, acervo de depoimentos, PINEP//CPDOC, F.G.V., RJ. GÕTdemberg, 29/12/1976 « Vargas,1/7//1977.

(•) Goldemberg, depoimento cit.

Damy era favorável a aproveitar a oportunidade de acesso a te£

nologia estrangeira pelo programa, que possibilitava a vinda

de reatores de pesquisa,, estabelecendo um corpo de pesquisado

res que fossem aprendendo experimentalmente com ele. Toda a

atuação de Damy, primeiro como dirigente do IEA e depois como

presidente da CNEN no período Jânio Quadros, pautava-se pelo

maior contato possível com os centros mais avançados de tecno

logia, como por exemplo os íntimos contatos estabelecidos com

a França durante sua gestão na CNEN (').

Não podemos nos esquecer que as descobertas de Cesar

Lattes, de repercussão mundial, foram fundamentais para estinm

lar no Brasil a curiosidade que envolvia a física nuclear e fo

ram importantíssimos para acelerar as decisões governamentais

de estímulo â pesquisa básica. A criação por exemplo, do Cen

tro Brasileiro de Pesquisas Tísicas (CBPF) no T'.o em 1949, ter»

do a frente Leite Lopes e Lattes, deve ser entendi>lr neste coin

texto. Damy, contrariando uma boa parcela dos físicos de en

tão,, resolveu seguir com o núcleo de pesquisa baseado no rect

tor norte-americano, enquanto aqueles fxsicos liderados por

Leite.Lopes, achava mais importante utilizar o capital acu

mulado da física teórica brasileira e ir construindo um prot£

tipo de reator de pesquisas no Brasil adaptando a tecnologia £

xistente (").

Minha intenção não é fazer uma história das princi

(') Vargas, depoimento cít.

(J0) J. Leite Lopes: "A Física Nuclear no Brasil: Os PrimeirosVinte Anos" em Ciência e Libertação, Paz e Terra» RJ 1969,pp.133/146.

pais controvérsias da física nuclear brasileira. A criação de

instituições no eixo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, as polêmir

cas entre a ênfase na física teórica ou experimental, as diver

sas vinculações internacionais dos centros de pesquisa e as

idiossincrasias pessoais-dos envolvidos exigiria uma historia

bem mais ampla e completa. Meu objetivo é apenas o de retra

tar a polêmica entre os físicos neste momento, enquanto refle

xo das posições políticas que venho assinalando a nível do es

tado.

Como vimos, até meados da década de 50, a polêmica

envolvia basicamente a prospecção e a exportação dos minerais

atômicos. Após as mudanças de substância representada pelo "&

tomos para a Paz" .e pela revisão do McMahon Act, passaram a

integrar este quadro as questões tecnológicas, no sentido do a_

cesso brasileiro aos equipamentos norte-americanos, no caso

reatores de pesquisa.

Apesar da clareza do almirante Álvaro Alberto, que

percebia a energia atômica enquanto fonte de uma matriz energé

tica do qual o país tinha que desenvolver, por não ter aprovei

tado devidamente as matrizes energéticas do carvão e, era parte,

do'petróleo, não se percebe ainda uma clareza em todas estas

polêmicas quanto â prioridade energética das pesquisas atômi

cas no Brasil. Para dar uma idéia, é só em 1967 que a CNEN

passa a ser vinculada definitivamente ao Ministério das Minas

e Energia, após um curto período no início da década de sessen

ta, subordinando sua política a um programa energético nacio

nal. Esta subordinação é decorrente, no plano organizacional,

de uma reforma administrativa mais ampla, e especialmente no

que se refere a ciência e teconologia, é resultado do aspecto

modernizador que assume o estado brasileiro pôs-64. ' Porém,

a desvinculação da CNEN ao programa energético até 1967 refle

tiu a descontinuidade dos programas e a ausência de propostas

claras para uma política, nuclear brasileira. A assimetria das

relações com os países tecnologicamente mais avançados no cam

po, e em especial os Estados Unidos ré um dos componentes es_

senciais destas indefinições, pois uma política nuclear clara

exigiria em primeiro lugar uma política tecnológica definida. 1i l

A corrente de pensamento aqui representada por José j

Leite Lopes, mas que inclui muitos outros que tiveram uma atu<* l

ção destacada como Jacques Danon, Roberto Salmeron, etc... ba

tia-se especialmente pela crítica â importação de um reator de

pesquisa, que viria do exterior como uma autêntica caixa-preta.

Não só um reator deste tipo não permitiria acesso a conhecimen

tos e tecnologia, como inibiria a pesquisa nacional, de um Ia

do por concentrar recursos em algo infrutífero, e por outro

por vincular a pesquisa científica nacional a padrões tecnolõ

gicos estrangeiros.

O verdadeiro nó gõrdio da questão referia-se ao com

biístível destes reatores que utilizavam a tecnologia norte-ame

ricana do urânio enriquecido, que dependia para a sua produção

de imensos recursos financeiros que só os Estados Unidos, en

tre as nações ocidentais, era capaz de dispender. O complexo

norte-americano de Oak Ridge no Tennessee, uma imensa sucessão

de centros de pesquisa, fábricas, depósitos, sistemas de comu

nicação realmente inimagináveis/ garantia a produção e o mono

pólio de urânio enriquecido. Todos os reatores de pesquisa esc

portados pelos EUA, utilizavam o urânio enriquecido como çòm

bustível, sujeitando os compradores à dependência norte-ameti

cana, implicando em aceitar suas regras de controle e vistor

rias periódicas. Os reatores de pesquisa importados pelo Bra

sil, por exemplo, sofriam obrigatoriamente vistorias de «eis

em seis meses pela Agência de Energia Atônica dos EOA, para se

certificarem de que seu funcionamento era somente para fins de

pesquisa e não militares.

Aprofundando esta linha de raciocínio, estes físicos

consideravam que as exportações de reatores de pesquisas, . no

programa criado por Eisenhower, era uma forma deliberada de •

criação de um mercado externo para colocar os inúmeros rea '

tores que começavam a ser produzidos pelas empresas privadas

norte-americanas, permitidas de entrarem no ramo até então mo

nopolizado pelo governo norte-americano.

Nas palavras de Leite Lopes:

n(~,.) ao contrario, o padrão escolhido foi o de compràr pequenos reatores de pesquisa e colocá-los emalgumas Universidades — primeiro em São Paulo 3 depois em Belo Horizonte e no Fio de Janeiro. (Se ospaíses industrialmente desenvolvidos deveriam amorti_zar seu capital investido, era necessário que outrospaíses fossem persuadidos a comprar seus produtos)."(ii)

(ll) José Leite Lopes, "Atoms in the developing nations*', Bui,letin of the Atomic Scientists Abril 1978, p. 32. Este *rtigo, publicado no auge das agudas divergências sobre ã"não-proliferaçao nuclear, que veremos no próximo capito

. Io, mereceu o seguinte comentário do editor da revista nXp. 31: "This article exhibits an ambivalence common amongLatin American scholars. Being unable to decide.which isgreater evil — Yankee imperialism or the military dictator ships with which their countries are currently aff icted"

Continua»••

Ou segundo José {?-"*• mberg:

"0 Átomos pai-w z fo»air .* forma hábil dos americanos controlarem a expansão mundial dos reatõ_res de pesquisa. Estes tipos de reatores .acostumariam os usuários com a tecnologia norte-americana, ~e~a medida que os reatores são construídos de uma maneira tal que há uma garantia intrínseca de que vocênão consegue o domínio da tecnologia nuclear* o atra_so científico e a dependência tecnológica tornam-sê•inevitáveis." (»*)

O segundo reator de pesquisas do programa "Átomos pa

ra a Paz" adquirido pelo Brasil foi um reator de tipo Triga,

instalado no Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR) em Belot

Horizonte, sob a responsabilidade de Francisco Magalhães Gomes.

Com o apoio de Álvaro Alberto, montou-se um laboratório de aJL

to gabarito financiado pelo governo do Estado de Minas Gerais.

"Era só nos EUA que era possível naquele tempoobter-um reator^ de pesquisa. Com a Rússia nós naotínhamos relações para fazer lã. A França e a Ingla^terra podiam fazer, mas elas ainda não estavam no co_méycio internacional de reatores. Elas também depen_diam muito dos EUA para o urânio enriquecido." (n)

(íl) Continuação— they tend to lump the two evils together. It's a vicvrthat is especially difficult to maintain in the case ofthe subject under discussion: the virtues or dangers ofU.S. opposition to the aquisition by Brazil of a nuclearweapons capability via the "peaceful"_njclear energy rottte". Para melhor se entender a posição de Jose Leite L£pes sobre ciência e política científica e tecnológica vc~ja-se J. Leite Lopes, ob.cit. . "~

(>2) Coldemberg, depoimento cit.

(i») Francisco Magalhães Gomes, projeto Historia da Ciência noBrasil, acervo de depoimentos, FINEP/CPDOC, F.G.V. ST,"27/12/1976.

O reator de pesquisa do tipo Triga, bastante moderno

na época, foi comprado a empresa norte-americana General Ato

mie por 140 mil dólares e mais 60 mil de equipamentos e peças

de reposição. Sendo o primeiro Triga exportado para o exte_

rior, contou com todo o apoio técnico dos cientistas da empre

sa norte-americana, que tinha todo ò empenho em valorizar seu

novo produto em um mercado em expansão.

Ê interessante observar este aspecto comercial que

atinge inicialmente os reatores de pesquisa e em seguida os

reatores de potência» Certamente os altíssimos custos finai)

ceiros exigidos pelos investimentos privados' que a mudança le_

gislativa norte-americana possibilitou, só poderiam ser conce

bidos levando-se em conta o mercado internacional. Este é um

aspecto de competição comercial que vai ser extremamente impor

tante nos muito mais complexos e caros reatores de potência, ã

medida em que sua demanda internacional vai crescendo a partir

dos anos 60 e especialmente'do início dos anos 70, com o pril

me4.ro choque do petróleo. No próximo capitulo este assunto sçst

rã tratado pormenorizadamente.

O fato é que nas décadas de 50 e 60, os Estados Uni_

cfos possuíam o monopólio da fabricação de reatores de pesquisa,

vendidos às dezenas pelos quatro cantos do mundo. A tecnolo-

gia do urânio enriquecido utilizada por estes reatores obrigou

os países do mundo que os adquiriram a moldar seu desenvolvi

mento científico em cima deste combustível. Porém, houve ejç

ceções vitoriosas, como por exemplo, a Índia e a Argentina. Es_

ttes países, por caminhos diversos, conseguiram fugir ao monopó

lio norte-americano, estabelecendo uma política nuclear com ob

jetivos claros e com continuidade desde a década de 50. Ao in

vês de vincularem-se somente a uma tecnologia importada', suas

políticas foram de pequenos acordos de transferência tecnolõ

gica que possibilitassem a formação de massa crítica capaz de

desenvolver gradativamente um projeto tecnológico próprio. Ca

nada e França foram os principais países que auxiliaram tecnl

camente Índia e Argentina a investirem em reatores de pesqui

sa utilizando urânio natural e água pesada, independendo por

tanto, do monopólio norte-americano do urânio enriquecido (**).í

.Ambos os programas, por motivos diferentes, são con

siderados internacionalmente um sucesso. A índia concentrou

inicialmente seus esforços de pesquisa em desenvolver um arte

fato bélico, explodido em 1974, fugindo ao controle das salva

guardas internacionais. Apesar de não ter conseguido furar o

bloqueio imposto pelas grandes potências, e ascender a um stj»

tus político internacional maior, com que a energia atômica

sempre esteve associada, a Índia não restringiu seu programa

nuclear a este'episódio, investindo sempre mais e mais em tcc

nologia nuclear ate a recente produção do moderníssimo reator

tipo fast-breeder.

r";' Já a Argentina, escolhendo um caminho mais modesto,

manteve a sua autonomia tecnológica e chegou a anunciar o do

mínio completo âo ciclo âo átomo em fins de 1983. Isto signi

fica a posse dos conhecimentos científicos e dos meios técni

(1%) Sobre o programa argentino veja Daniel Poneman, NuclearPower in the Developing World, George Allen & Unvin, Lotidreg, 1982 pp. 68/83. Sobre a India, Pringle e Spigelaan,ob.cít. especialmente pp. 374/388.

cos que torneariam possível a produção de um artefato bélico,

bastando uma decisão política de fazê-lo a um custo financeiro

determinado.

Não quero aqui afirmar que a medida de êxito de um

programa nuclear seja a produção de um artefato bélico. Muito

embora, como veremos no capitulo seguinte, as discussões da dé_

cada de 70 girem principalmente em torno desta problemática,

contida nas políticas de antiproliferação nuclear, não creio

que se possa fazer uma identificação inequívoca entre produção

de artefatos bélicos é progresso científico e tecnológico. As

especulações que a literatura e a imprensa internacional fazem

quanto â virtual produção de armas nucleares por países como

Israel, Africa do Sul, Paquistão e Argentina, por exemplo, ob

viamente reflete a situação destas nações, que se encontram em

um patamar tecnológico .desenvolvido, a. meio termo entre

os países avançados e os muitos atrasados. Mas tal situaçãoi

reflete em primeiro lugar problemas político-estratégicos, que

os impeliram, cada um com seu. discurso próprio, a tomar a deci

são política de construir suas bombas. Em um mundo de extrema

e rápida comunicação, em que, apesar de controlada, é possível

aióirculação de idéias para nações "problemáticas" no cenário

internacional, como a Africa do Sul e Israel, a decisão de se

investir na construção de uma pequena força nuclear independei!

te, é hoje acima de tudo uma questão financeira. Neste contex

to inclui-se também o hoje indistuível "programa nuclear pari»

leio" brasileiro.

O Brasil também possuiu a sua tentativa de elaborar

um programa nuclear tecnologicamente autônomo, que evoluiu do

núcleo que se formou em torno do reator de pesquisa tipo Triga

no IPR em Belo Horizonte. Com uma firme política dè formação

de pessoal, o XPR contou com apoio financeiro do governo de Mi

nas Gerais e do CNPq e enviou mais de setenta cientistas para

se formarem no exterior, -procurando, absorvê-los na volta me

diante a criação de um sólido grupo*de pesquisas. Este núcleo

que ficou conhecido» como "grupo do tório", pelas pesquisas de

senvolvidas com esta matéria-prima, abundante no pais, como ai

ternativa frente* ao urânio enriquecido importado, morreu vlti

ma de uma peculiar.mistura de-morte natural por inanição e as

sassinato premeditado. Na verdade mais uma vítima da indefini

ção que atravessou a política nuclear brasileira.

Nas palavras de Francisco Magalhães Gomes, criador

do IPR:

"... o principal ê que os técnicos e cientistas doIPR conceberam um programa nacional que tornaria facilmente o Brasil independente em programa atômicoT"... o de fazer um reator de potência de urânio natu^rat., que jã tornava o Brasil independente, usando oreator canadense, chamado CANDU, que é de urânio nabural e água pesada. Fui membro da CHEN e apoiei es_te programa que foi muito estudado aqui por nós, e~que tinha apoio do professor Marcelo Damy, então pre^sidente da CNEN. Mas o medo le nós fazermos a bombaatômica impeditu Deu muita confusão. Isso é muitocomplicado. Esse negócio de programa de energia atô_mica c muito complexo e envolve muita discussão intemacional," (IS) ' *""

(1$) Além da entrevista de Comes, sobre o grupo do tÕrío, p<>de-se consultar José Murilo de Carvalho, A Política Çiefttífica e Tecnológica do Brasilf Relatório de Pesquisa,

. 1976, pp. 84/86, onde^a extinção do grupo_do torio é explicada pela "inexistência de uma definição sobre a P°lj[tica nacional de energia nuclear". ""

Pelas observações de Francisco .Gomes podemos sentir

que "esse negocio muito complexo" não teve a continuidade e o

apoio decidido do governo nacional. As indefinições da década

de 60, guando inicialmente a prioridade dada à energia nuclear

era baixa, foi resolvida no governo Costa e Silva, quando se

vinculos a política atômica â política energética e optou-se,

numa decisão centralizada na CNEN, pelo acordo com a Westing

house para a construção do primeiro reator de potência no Bra

sil. O grupo do tório, que durante a década de 60 vinha con

seguindo algumas conquistas independentemente, deixou de ter

razão de existir ao se escolher um reator a urânio enriqueci

do. O IPR foi absorvido pela Companhia Brasileira de Tecnolo

gia Nuclear criada em 1972, transformada depois em Nuclebrás.

Energia Nuclear para os Países Subdesenvolvidos

Os dois últimos pontos que gostaria de analisar me

lhor,'diz respeito a dois tópicos que atravessam a década de

60: o primeiro refere-se a concepção de ciência e tecnologia

associada a Leite Lopes, priorizando a autonomia tecnológica e

a relação ciência-sociedade e que possui na América Latina um

representante que vale a pena destacar: o físico argentino Jor

ge Sãbato P*)« 0 segundo ponto relaciona-se cora a diplomacia

(>*) Sãbato alem de um técnico importantíssimo do programa nuclear argentino, foi difusor e propagandist» da energianuclear para os países subdesenvolvidos e defensor, frente as pressões norte-americanas, do programa nuclear br]»

Continua. »T

seguida pelo Itamarati, contraria ao Tratado de Não-Prolifera

ção. de Armas Nucleares, que caracterizou uma posição de inde

pendência frente âs pressões das grandes potências. Esta re

sistência, substanciada na identificação entre o Tratado e a

feliz expressão de Araújo Castro, "congelamento do poder mun

dial" representou uma realização importante da diplomacia bra

sileira (»*).

Jorge Sãbato, certamente ura dos maiores responsáveis

pela continuidade do programa nuclear argentino, em um impor

tanté artigo em co-autoria com Jairman Ramesh, "Programas de

Energia Nuclear en ei mundo en desarrollo: su fundamento e im

pacto" (*•) , defende a necessidade dos países subdesenvolvidos

terem acesso.ao desafio nuclear e aponta para seis respostas

que uma política nuclear séria precisaria e deveria conter da

parte destes países:

1) a defesa de suas matérias-primas nucleares;

2) um desenvolvimento —'tônomo da tecnologia nuclear.i .

3) enfrentar com decisão a busca de prestígio e poder asso

: biados com a energia atômica;

-4) necessidade de entender o processo nuclear completo pa

r..(**) Continuação

sileiro. Veja-se por exemplo, Jorge Sãbato, "El plan nuclear brasileno y Ia bomba atônica". Estúdios Internacio.pales Ano XI n9 Al, janciro-março de 1978, pp. 73/82 e~Adler, art.cit. pp. 22/27.

(>7) Sobre a posição de Araújo Castro veja a coletânea de seusescritos, Araújo Castro, org. e notas de Rodrigo Amado,editora Universidade de Brasília, 1982, pp. 51/118 e 197//212.

(••) Estúdios Internacionales Ano XIII n9 49, janeiro-warço deT58ÕT '

ra conhecer suas principais dificuldades e poder supera-

-Ias .tecnicamente, levando em conta problemas tais como o

de radiação, de segurança das usinas, e t c ;

5) concentrar o programa na produção de reatores nücleo-e

létricos visando a independência energética do país,• -

ponto de partida para qualquer política conseqüente de

desenvolvimento industrial;

6) difusão dos conhecimentos atômicos para a industria, ca

pacitando as empresas nacionais a fornecerem os equipa

. mentos para o ciclo nuclear e aplicarem os subprodutos

das pesquisas para o avanço industrial do país como um.;

todo. \

Os autores dividem em três etapas o desenvolvimento

nuclear â nível internacional, sendo a primeira a "política ne

gativa" do monopólio nuclear norte-americano que se segue ao

projeto Manhattan; a segunda a "política do Átomos para a Paz",

que tem o objetivo de controlar os planos de desenvolvimento

nuclear de países que já possuíam um programa razoavelmente a_

diantadó, como a Argentina, Brasil e Índia; o terceiro perío

do é o que se segue às "Conferências de Genebra sobre os usos

pacíficos da Energia Atômica" em 1955 e 1958 e a criação da A

gência Internacional de Energia Atômica (IAEA) em 1957.

Ê exatamente em cima das possibilidades abertas por .

esta terceira etapa, que Sábato prega a necessidade de uma de

cisão política por parte dos países em desenvolvimento de par

tir para uma política nuclear ousada e independente. Países de

.relativo desenvolvimento tecnológico como os citados Argentina,

Brasil e Índia deveriam lutar contra o status quo internado

nal, buscando a independência tecnológica. O Tratado de Não-

--Proliferação de Armas Nucleares (TNP), assinado por Londres,

Washington e Moscou e mais 59 países em 19 de julho de 1968

teria a finalidade de retardar este avanço.

Com este mesmo - sentido a diplomacia brasileira perce*

be o tratado no final dos anos 60. *Apõs o curto período de a

linhamento automático com a política externa norte-americana

que se segue ao golpe de 64, a diplomacia brasileira retoma ajL

guns temas e vias que lhe eram caras no inicio dos anos 60, sem

contudo retomar completamente sua "política externa independen

te" <»»).-

A postura de maior equilíbrio entre os dois blocos

foi retomada nos últimos anos da década de sessenta, especiajLi

mente na ação diplomática de critica ao TNP e a recusa em assjl

nã-lo, apesar das pressões internacionais. A identificação do

Tratado com a tentativa das grandes potências de congelar as

relações de poder internacionais ocorreu no bojo das discuss

soes, que então se iniciavam, sobre a nova ordem econômica Inr- . •

ternacional, que domina a agenda internacional da primeira me

tadè dos anos setenta e é conhecida como o diálogo Norte-Sul.

Embora sempre de uma forma moderada e recusando qualquer papel

de liderança.terceiro-mundista, a diplomacia brasileira conde

nou claramente o TNP.

Postura semelhante assumiu diante do Tratado de Tia

telolco, em relação ao qual, apesar de ter sido um de seus J

(>»)MA trajetória do Pragmatismo", Dado» 25» n9.3f 1982, pp.349/363. .

dealizadores e de tê-lo assinado e ratificado, o Brasil junta

«ente com o Chile não aceitou sua plena vigência, em virtude

da não-ratificaçlo do Tratado por parte de todos os países a

tingidos pelo Protocolo I do acordo. Tal Protocolo afirma que

todas as nações que possuem possessões na região devem aceitar

seus termos. A França, como um destes países, assinou mas não

ratificou sua. assinatura, constituindo-se assim no motivo ale

gado pelo Brasil e pelo Chile para protelarem sua total aceita

ção (20).

' A relutância da diplomacia brasileira em relação aos

dois tratados não significou a negação do pais de submeter-se

as salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica

(AIEA) de Viena. Como veremos a seguir, desde 1965, data de

um novo acordo atômico coro os EUA, o Brasil submeteu-se alem

das salvaguardas bilaterais Brasil-Estados Unidos, às salva

guardas trilaterais Brasil-Estados Unidos-AIEA.

Novo Acordo e a Decisão de Angra

Em 1967, o presidente Costa e Silva ratificou e torif'-

nou publico um novo acordo atômico com os EUA elaborado era 1965

que, nas palavras dos observadores da época, apenas prosseguia

(20) Uma descrição completa do ambiente histórico dos dois tratados, seu texto completo e a relação dos países signat?rios encontra-se em Arms Control and Disarmament Agreements.Texts and Histories of Hegociations, 1982 Edition, United/State Arms Control and Disarmament Agency, WashingtonD.C. 1982 pp. 59/88. V

87

o acordo anterior de 1955 e referia-se somente a reatores 'de

pesquisa. Pela quantidade máxima de importação de. urânio en

riquecido aos EUA estabelecido no acordo (15 quilos por ano) e5

pelas referências ao tipo de salvaguarda incluído, parece não

haver dúvida de que não havia nenhuma novidade quanto a uma

maior cooperação cientifica ou ao desenvolvimento de um progra

ma de reatores de potência. A cautela que estes observadores

utilizaram para externar suas opiniões sobre este acordo, ex

plica-se pelo baixíssimo grau de informações publicas a : seu

respeito. O inicio das conversações realizadas em Washington

em 1965 foi mantido em sigilo, só se tornando conhecido o seu

teor após a ratificação brasileira em 1967. Ê natural então

que fosse difícil para a época ter um julgamento mais informa

do (2i).

Em 1967 ainda, visitou o Brasil o presidente da AEC,

Glen Seaborg, para cumprir uma extensa agenda de encontros cjl

entlficos, reuniões de cúpula na CNEN e entrevistas â impren

sa. Sua visita transmitiu uma sensação geral de desapontamein

to ã quantos esperavam um aprofundamento da cooperação cientí

fica nuclear entre o Brasil e os EUA. Atendo-se somente a va

gas. promessas na esteira de um programa extenso de colaboração

nuclear alardeado pelo Presidente Johnson em Punta dei Este,

Seaborg apenas tratou de vagas promessas, sem abordar nenhum

aspecto mais especifico de transferência de tecnologia ou ex

portação de reatores de potência para o Brasil. Comentando as

(2i) Jorge Gurgel do Amaral, "Este é o novo acordo nuclear Brasil-EUA", Folha de S, Paulo, 29/10/67. Neste artigo hi.um bom resumo do acordo e de sua repercussão na época.

. propostas de Seaborg, o embaixador Sérgio Corrêa da Costa afirv

( . mou que as perspectivas de colaboração e cooperação com a Fran

ça pareciam, naquele momento, muito mais auspiciosas ( 2 2). \

( . O acordo de 1965, que vem a publico neste contexto,

foi percebido como desimportante, reafirmando o desinteresse

( norte-americano em aceitar uma cooperação nuclear mais acentua

( da com o Brasil (2S). Se o entendermos dentro do período de

/ . reorganização por que passava o estado e a economia brasilei

( ros, preparando-se para um novo patamar de acumulação capita

lista, verificamos que a questão nuclear detinha, neste montei)

( to, uma posição ainda marginal nas novas prioridades dò cresci

mento industrial brasileiro. . ' .

( Desde 1956, quando a American Foreign Power Company,

1 uma antiga holding norte-americana que controlava uma série de

. empresas brasileiras de eletricidade depois nacionalizadas pe

< (22) "Posição- dos EUA no setor nuclear decepciona brasileiros**.( Jornal do Brasil, 4/7/67. Sérgio Corrêa da Costa». Secr«s* taçio-Geral de Política Externa do Itamarati, no discurso

que proferiu em homenagem a Seaborg afirmou que: "a inte( gração latino-americana iniciada na era nuclear deveria( ' ter sido desde o início concebida em termos nucleares. Ha

da mais eficaz poderia os Estados Unidos fazer para a ijt' ,. tegração latino-americana do-que se pretendei uma extei»

1 sao do Programa Plowshare à América Latina". *~

(23) A opinião de José Coldembcrg sobre o acordo é a seguinte:< . "Este é um Acordo que se refere a reatores de pesquisa e( que exclui cuidadosamente reatores de potência. Isto se. ve em vários artigos. Em primeiro lugar, no artigo I,que* diz explicitamente que *sao trocadas informações sobre( projeto, construção e funcionamento de reatores de pesqu^, sa e 'sua utilização como instrumentos de pesquisa, de de[

senvolvimento de engenharia e de terapia médica*. 0 me:»* mo espírito se ve novamente no artigo III - A, que diz ele( plicitamente que em caso algum a quantidade de materiais

nucleares devera em tempo algum ultrapassar 250 graaas de'• plutonio." Jorge Curgel do Amaral, art.cie.

89

la Eletrobrás, cogitou de instalar uma usina nuclear de peque

no porte para a geração de energia no Brasil, existia o desejo

de se construir no sudeste brasileiro reatores de potência pa

ra integrarem o carente sistema de produção energética da re

gião. A CNEN, apôs a sua criação em 1956, desenvolveu a "Supe

rintendência do projeto Mambucaba" com a incumbência de estu

dar a viabilidade de se construir uma usina nuclear na margem

do rio Mambucaba no estado do Rio de Janeiro. Este projeto

foi posteriormente abandonado (2 M .

• '.. • Estes primeiros ensaios tinham todos a caracterlsti

ca de serem iniciativas isoladas, não integradas em uma políti

ca nacional de produção energética como ura todo. Em 1967, pe

Ia primeira vez foi constituído um grupo de trabalho envolven

do representantes do Conselho de Segurança Nacional, Minis té

rio das Minas e Energia, CNEN e Eletrobrás, com o intuito de

examinar a viabilidade de utilização de energia nuclear na re

gião sudeste, já integrado a um programa nacional de energia

elétrica. Em 1969, incentivados por um relatório de técnicos

da AI EA recomendando a instalação de uma primeira usina nuclear

comercial, o governo brasileiro decide partir para sua constru

ção.

Neste mesmo ano, técnicos foram enviados aos EUA, Ca

nada e Europa para observarem os progressos mais recentes • no

campo da energia nuclear. 0 objetivo era de escolher o modelo

Veja Renato de Biasi, a Energia Nuclear no Brasil, Biblioteca do Exército Editora, RJ, 1979, pp. 47/50 e Luiz Pii»guelli Rosa, "Evolução da Política Nuclear Brasileira"contros com a Civilização Brasileira n9 7, janeiro1979.

de reator a ser utilizado, com base nos então existentes no

mercado internacional. De posse destas informações foi estabe

lecida uma concorrência publica em 1970, fixado o prazo de 3a

neiro de 1971 para a apresentação das propostas pelas empresas,

conectadas. A escolha de um reator que utilizasse como combus

tível o urânio enriquecido baseou-se/ segundo a CNEN, em cri ti

rios técnicos tais como o de sua experiência-comprovada em inu

meras usinas em funcionamento no mundo todo e em sua moderniza

çao tecnológica (2$).

Das seis empresas inicialmente contactadas a apreseri

tarem proposta, a escolhida em 1 de maio de 1971 foi a 'norte-at

mericana Westinghouse Electric Corporation. Os acordos de saJL

vaguardas quanto à utilização do combustível urânio enriqueci^

do, foi' celebrado em Washington em julho de 1972, tendo como re

presentante brasileiro o Ministério das Relações Exteriores com

o apoio técnico da CNEN.

r- ... „ " ••-

(25) A avaliação de Pinguelli desta opção é a seguinte: "Tran8_ferindo a Furnas a responsabilidade da compra do reator,

' dentro de uma perspectiva de empresa de energia elétrica,sem uma clara orientação política para o setor nuclear,

.r-.• o governo criou todas as condições para a compra do rea_1'' í,or a urânio enriquecido norte-americano.

Dentro dessa diretriz, cabendo a Furnas o encargo deconstruir o primeiro reator no país, procuravam seus *nge_nheiros a solução mais cômoda e confiável, minimizando õ"transtorno provocado por aquele corpo estranho a ser insjerido em um sistema predominantemente hidroelétrico.. Con opreço do urânio enriquecido artificialmente baixo, comseu suprimento supostamente garantido, fomos levados f£talmente a comprar um reator PWR norte-americano. As ojutrás alternativar, a fabricação no país ou a compra dê"reator a urânio natural e ãgua pesada, possivelmente dotipo CANDU, implicavam na^aceitação de condições técnicasmenos garantidas naquela época." Pinguelli, art.cit. p.33.

"Este acordo, de sentido geral, constitui a base para um contrato comercial que posteriormente foTfirmado entre Furnas e a antiga AEC9 estabelecendoas condições especificas para enriquecimento nos Es^tados Unidos do urânio que Furnas adquiriu na Africado Sul." (**)

Ainda em julho de 1972, estabeleceu-se um acordo de

- salvaguardas trilateral com a AIEA, 'através do qual ambos os

países comprometeram-se a cumprir o sistema de salvaguardas es

tabelecido pela Agência de Viena.

Com estes passos, inaugurou-se no Brasil a produção

de energia por meios nucleares (27). A intenção dos . planeja

(2*) Renato de Biasi, ob.cit. p. 73. As outras empresas queforam convidadas a apresentarem propostas, todas tendo coao combustível o urânio enriquecido» foram as seguintes,p. 56.1. •' ASEA - ATOM - Suécia - reator tipo BWR2. The Nuclear Power Group - Inglaterra - reator tipo SGHWR3. Combustion Eng. - EUA - reator tipo PWR4. General Electric - EUA - reator tipo BUR5. Vestinghouse - EUA - reator tipo PKR6. Kraftverk Union - Alemanha - reator tipo PWR e BWR.Nem todas as empresas ofereceram propostas na concorrência,

(27) Em um informativo artigo, "A encruzilhada atômica", Veja20/9/72, a polemica que divide a comunidade científica C£tre os defensores do urânio natural c do enriquecido como;COmbustxvel para o primeiro reator de potência brasileiroe comparada "a mesma paixão que Marilyn Monroe e Gina Lo^lobrigida dividiram a juventude na decada de 50. Quem d£fende o urânio natural diz que o enriquecimento tem pre

.-.- ços artificialmente baixos, onde não estão computadas as'"'' inversões para a montagem das usinas de beneficiamento,

realizadas no esforço econômico da Segunda Guerra. Alemdisso, acenam com a catástrofe de um corte de fornecimento do urânio capaz de levar as usinas ao colapso. Os advogados do urânio enriquecido empunham a bandeira da qualTficação tecnológica". A opção brasileira pelo urânio eríriquecido e justificada, no artigo, com base na afirmaçãode Abraham Friedman, diretor da divisão de programas iiiternacionais da Comissão de Energia Atômica dos Estados U_nidos: "Durante os últimos anos foram vendidos no cornercio internacional cerca de trinta reatores de potenciaTDestes, sõ cinco funcionam com urânio natural. A «xp£riência tem mostrado que^ se o objetivo_e produzir enejrgia elétrica, o caminho c o reator a urânio enriquccido"T

dores deste primeiro acordo com a firma norte-americana era de

ampliá-lo com um segundo e terceiro reator de potência * utili^

zando o mesmo esquema comercial. As iniciais indefinições dà

política nuclear norte-americana entretanto, seguiram-se pro

fundas modificações, tornando inviável o negocio entre Furnas

e Westinghouse, restringindo-o então a um único reator — An

gral. A ironicamente nomeada "Central Nuclear Almirante Alva

xo Alberto" vai, de uma certa maneira, cumprir o destino dese

jado pelo pioneiro da energia nuclear no país, que era o d e am

pliar as relações nucleares do Brasil para outros países alem

do tradicional aliado norte-americano. Mas isto já . é outra

história, que veremos no proximo capítulo.

CAPITULO 3í

BRASIL-ESTADOS UNIDOS NOS QUADROS DA NÃO-PROLIFERAÇÃO

E DA CONCORRÊNCIA COMERCIAL

INTRODUÇÃO

Este terceiro capitulo tratara, de uma certa maneira,

do ponto de partida de onde minhas pesquisas começaram: das

transformações da política nuclear internacional da década de

setenta e, no que se refere ao Brasil, das repercussões do am

pio e complexo "negócio do século", como ficou conhecido o a

cordo nuclear Brasil-Alemanha de 1975. A necessidade de um re_

trospecto histórico, de um balanço abrangente do período, de

ve-se a dois motivos. Em primeiro lugar, pela consideração de

que, apesar do grande impacto causado pelo acordo nas relações

Brasil-Estados Unidos, ele deve ser entendido no contexto da

longa e acirrada polêmica entre os formuladores da política i»

tômica brasileira. Em segundo lugar, as transformações ocorri,

das na conjuntura internacional, nos anos setenta, cspecialmeii

te quanto a política nuclear foram definidoras de um novo per

fil de relações nucleares entre o Brasil e'os EUA.

v. o esforço de não isolar as decisões internas brasjL

leiras quarto à política nuclear do contexto internacional e

principalmente das relações com os Estados Unidos, torna-se ain

da-roais necessário no quadro internacional muito mais complexo

dos anos setenta. Ao optar pela importação do primeiro reator

de potência que utilizava urânio enriquecido, o Brasil parecia

ter aceito definitivamente a tecnologia norte-americana. O ti

po de reator comprado ã Westinghouse parecia consolidar um pa

drão de relação sempre sonhado por importantes parcelas da eli

te brasileira: a parceria privilegiada com os EUA.

A impressão de que esta opção do final dos anos see

95

senta expressava a crescente e desejada cooperação sofreu um

abalo considerável. As mudanças no mercado .internacional de

reatores de potência, com a entrada competitiva de novos forrie

cedores internacionais concorrendo através de empresas que pas

saram a utilizar a própria tecnologia norte-americana — que

conseguiram dominar graças a acordos com a empresas norte-ame

ricanas — serã o primeiro ponto abordado neste capítulo. A ca

pacitação, principalmente da Alemanha e da França., como cone x

rentes ao quase-monopólio das empresas dos. Estados Unidos foi

um dado decisivo do jogo da política internacional da energia

nuclear a partir de então; sem ele, é impossível entendermos

a nova conjuntura.

Outro ponto fundamental foram as transformações da

política nuclear norte-americana que atravessaram os governos

Nixos, Ford e Carter. Desde o início da década de setenta, os

norte-americanos sentiram o impacto da entrada de novas nações

nucleares e reagiram, diante da nova tendência internacional.E£

ta tendência significava o domínio da produção nuclear pararv

fins energéticos, expandindo enormemente o mercado mundial de

equipamentos nucleares até então restrito a poucos países. O

primeiro choque com o aumento dos preços do petróleo foi deci

sivo ao estimular os países ainda recalcitrantes a desenvolve

rem uma política nuclear mais agressiva.

É nesse quadro de expansão do mercado internacional

de reatores de potência e equipamentos e da inesperada expio

são da bomba indiana que devemos entender as inúmeras pressões

decorridas pela assinatura do acordo entre Brasil e Alemanha

e o impacto então ocorrido nos EUA. 0 aprofundamento da poli

tica norte-americana de não-proliferação nuclear, jã presente

no governo Ford, tornou-se, um dós eixos da disputa eleitoralv

de 1976, principalmente pela repercussão dos acordos de trans

ferência de tecnologia aos países do Terceiro-Mundo. \

As Mudanças no Mercado Internacional

O país pioneiro na exportação de reatores de potêri

cia nio foram os Estados Unidos e sim a Inglaterra, com seu mo

delo de reator Magnox, utilizando urânio natural, ainda na dê

cada de cinqüenta. Sendo um dos primeiros países a investir

firmemente na. capacitação tecnológica de transformação do co

nhecimento nuclear em produção energética, a Inglaterra partiu

logo para a imediata comercialização de seu investimento (»).

A medida, porém, que o mercado internacional se expandia e se

tornava mais competitivo e que a tecnologia norte-americana se

desenvolvia principalmente pelas mudanças efetuadas em 1954, o

modelo norte-americano de reator de potência, o LWR (light~wa

(*) Este modelo inglês de reator, -apesar de ser o primeiro ai entrar em operação comercial foi um fracasso de vendas no

mercado mundial, apesar de seu sucesso interno na Inglatejrra. Veja, Patterson, ob.cit. p. 227 e Ralph T; Mabry, Jr7"The Export Policies of the Major Suppliers",apendix B dolivro de Joseph A. Yager (with the assistance of Ralph T.Mabry., Jr.) International Cooperation in Nuclear Energy,The Brooking* Institution, Washington, D.C. 1981, p. 181:"Despite intensive efforts by the British nuclear powerindustry to increase its share in international nucleartrade, Britain has not fared well in foreign reactor sales.Only two reactors have been marketed overseas, one Co It£ly and one to Japan. No sales of reactor components have*been made since 1970, and the last export of « completeBritish reactor took place in 1957".

ter reactor) tornou-se um padrão tecnológico indisputado (2).

Apenas o modelo canadense CANDU — à água pesada e urânio na

tural — conseguia competir em alguns lugares com ò modelo nor

te-americano — à água leve e urânio enriquecido. Não podemos

nos esquecer que estamos - falando não sõ de tecnologia nas tam

bem de competição comercial, e isto * significa a presença de

componentes de marketing, crédito e financiamentos, prazos, a£

sistência técnica, etc... A superioridade adquirida pelos

LHR está diretamente relacionada â pujança industrial norte-a

nericana e à sua alta capacidade de investimentos em tecnolo

gia e pesquisa. Os países que optaram pelo modelo canadense

CANDU, o fizeram motivados pela busca de opções tecnológicas

mais autônomas — possibilitados pelo urânio natural — como

os exemplos já apontados da Argentina e da índia, nos quais a

importação de reatores de potência era um dos elementos de uma

estratégia de absorção tecnológica mais ampla (')•

A medida em que o mercado de reatores começava a se

desenvolver na-década de sessenta, principalmente através dos

países europeus e do Japão que, dependentes do petróleo impor;

tado, passaram a investir maciçamente em um programa nuclear co

/ • . . •

(2) Mabry, Jr. ob.cit. p. 173: "The United States has beenand remains today the world's foremost supplier of nuclearmaterials and equipment. It leads all other countries inboth power reactor exports and enrichment services supplied".

(') Daniel Poneman, Nuclear Power in the Developing World,Ceorge Alles L. Unwin, London, 1982, estuda os casos da Argeíãtina, Irã e Indonésia. Para a Argentina pp. 68/83. A A7gentina representa para Poneman o modelo de desenvolvimejnto de uma política nuclear independente. Ver também, D 7niel Poneman, "Nuclear Proliferation Prospects for ArgentTna" Orbis, Winter 1984, pp. 853/880. ""

ao alternativa à produção de energia para suas economias em

franco processo de expansão, o modelo de reator norte-america

no LWR assume quase o monopólio mundial das encomendas. Para

termos uma idéia, em 1973, dos 382 reatores em funcionamente ou

em construção, 307 eram LHR (*).

A aceitação internacional*do reator de potência que

tem como combustível o urânio enriquecido, acarretou um serio

problema, o da obtenção deste combustível. Já vimos que as

caríssimas e complexas instalações necessárias para o enrique

cimento do urânio estavam todas localizadas, praticamente, nos

Estados Unidos (5). Havia uma cláusula embutida nos contratos

de exportação dos reatores norte-americanos — tanto os de pes»

quisa quanto os de potência — de fornecimento de urânio enri

quecido pelo prazo de vida útil das usinas ou dos reatores de

laboratório . (em geral 30 anos), desde que cumpridas as exigen

cias e salvaguardas requeridas pela AÉC. Um dos motivos priri

cipais alegados pelos países1, que procuravam fugir — ou pelos

cientistas que.propunham alternativas mais autônomas — aos

(••) Joseph A. Yager e Eleanor B. Steinberg, Energy and DS,_.. reign Policy, Ballinger Publishing, Cambridge 1974, cap.

^ XVI pp. 331/359. Para termos uma idéia da dimensão destemercado, p. 354: "Despite US dominance in the comae»ciainuclear field during the 1950s and 1960s, US nuclcar-ie_lated exports were rather limited because world demand wasmodest. From 1959 through 1970, US exports on nuclear p£ver equipment, goods, and services totaled approximately$1.5 billion. Between 1971 and 1973, the value of US rct£tor exports increased by about 40 percent; and in fiscalyear 1973 the total value of nuclear exports was almost »Blarge as the cumulative value of nuclear exports for theentire 1959-70 period".

4.*) As eres usinas são: Oak Ridge no Tennessee; PortsmouthOhio e Paducah no Kentucky.

reatores de urânio enriquecido era a sua dependência a um úni

co fornecedor, os EUA. A supremacia comercial deste reator de

via-se, além dos motivos apontados, à sua comprovada tecnolo-

gia. Os países europeus, por exemplo, que já possuíam seus

próprios modelos de reator a urânio natural, acabaram optando

pela tecnologia do urânio enriquecido; por meio de acordos en

tre empresas européias em formação e empresas norte-americanas

que consentiram em transferir tecnologia em troca de pagamen

tos de royalties e patentes ou através de associações de empre

sas européias com as norte-americanas. Oeste modo, países co

mo a França e a Alemanha, que possuíam programas nucleares am

biciosos, criaram grandes estruturas empresariais e tecnolõg L

cas que, a partir dos anos setenta, começaram a desafiar a in

conteste supremacia mundial norte-americana.

O caso da Alemanha, por exemplo, além de ser o que

nos interessa diretamente, ê bem ilustrativo do desenvoivimeni

to da indústria nuclear européia. Em 1954, a Alemanha, visari\ •

do a sua reintegração européia como país membro da OTAN e a re

tomada de sua capacidade de se armar convencionalmente, renun

ciou ã produção de armamento nuclear. Como condição, entretan

to, a Alemanha exigiu a permissão de desenvolver uma industriaV'' ' ~nuclear com fins pacíficos para a produção de energia.

"When the Federal Government eet up its firstprogram of nuclear research and development in themid-19SOs, it was supported by virtually all segmentsof the political spectrum: parties of the right andleft, public opinion, the scientific community, labor unions and business associations." (') ""

(*) Erwin Hackel, "The Politic» of Nuclear Exports in WestContinua..

Este amplo espectro de apoio a um programa nuclear,

apesar da resistência das industrias competitivas de produtos

energéticos — carvão e hidrocarburaiites — contribuiu decisi

vãmente para tornar realidade a produção comercial desta tec

nologia. Com o sucesso alcançado pelos LHR no mercado Inter

no norte-americano e seu prestigio internacional, os alemães

procuraram desenvolver este tipo de reator através de uma es

tratégia empresarial — principalmente a gigante do ramo ele

trico-eletrônico Siemens — de produzir tais reatores, uób ÍJL

cença da Westinghouse. A Krafterwerk Union (KWU), subsidia

ria da Siemens em associação com a AEG Telefunken, tornou-se

uma fornecedora quase monopolista de todo o equipamento nu

clear para o mercado interno alemão.

"The first and most dramatic step towards foreignindependence in the light water reactor field earns. in 2969 with the formation of the KWU organization— a company that, operates without importing US equipment and with no apparent dependence on the originalGeneral Electric or Westinghouse licensing arrangement8." (?) ~

Como conseqüência, houve uma enorme expansão do pro

grama nuclear alemão, tornando, em meados da década de setenta,

o segundo mercado mundial de reatores, atras somente dos EUA.

Com a constituição da empresa estatal Pr ema tone, a

(O Continuaçãomany" capítulo 4 do livro Nuclear Exports and World ^tics; Policy and Regime, editado por Robert Boardaan e Janes F. Keeley, St. Martins Press, NY 1983, p. 62.

(7) Yager e Steinbcrger, ob.cit. p. 338.

101

França também surgiu como uni concorrente importante no mercado

internacional, como atestam seus contratos com a Coréia do Sul

e o Paquistão, na mesma época do acordo Brasil-Alemanha. Sõ

que, diferentemente da Alemanha, por possuir armamentos nuclea

res, o que implica o domínio de certas tecnologias específicas,

a França passou a. investir mais no "ciclo do plutônio", o que

foi motivo de grande polêmica com o governo Carter, a respeito

dos super-reatores conhecidos como super-regeneradores (fast-

-breeder) como veremos adiante.

Ficava claro naquele momento que o desenvolvimento

da capacidade de competição internacional de' reatores de potên

cia por parte da Alemanha, França, Canada e outros países que

brando o quase-monopôlio das empresas norte-americanas, constjL

tuiu uma pré-condiçlo necessária para a abertura de novas ajL

ter nativas aos países do Terceiro-Munâo que almejavam um pro

grama nuclear mais ambicioso. A competição comercial dos anos

setenta colocava um elemento, alternativo antes não existente,

impedindo que as empresas e o governo, norte-americano conti

nuassero a ser as únicas fornecedoras mundiais. Abri a-se uma

possibilidade de barganha para os países que desejassem ingres_

sar; no seleto clube de compradores do mercado internacional de

reatores, superpondo agora a dimensão política da opção à diL

roensão comercial da concorrência.

Escrevendo em 1973, Yager e Steinberger, já aponta

vara que "while no foreign company has to date won a light wa

ter reactor competition against US firms in any area outside

Western Europe and Japan, it is only a matter of time before

this OS export monopoly will be broken" (•). Contrariando s. a

visão otimista da AEC, que previa que o mercado do Terceiro-

-Mundo se manteria totalmente em mãos de empresas norte-america

nas, estes autores afirmavam qre esta previsão seria certamen

te ultrapassada pelos fatos.

Outro aspecto que caracterizou o fim do monopólio nor

te-americano tal como foi conhecido nas décadas de cinqüenta e

sessenta foram os investimentos europeus em consórcios para a

produção de urânio enriquecido: primeiro o EURATOM em 1968, en

globando Alemanha, Inglaterra e Holanda e depois o EURODIF, li

derado pela França em 1973. Com a entrada da URSS no mercado;

como fornecedora de urânio enriquecido no início dos «nos se '

tenta, estes países europeus, jã com grande quantidade de rea

tores a urânio enriquecido em funcionamento ou em construção,

achavam-se suficientemente maduros tecnologicamente para en

frentar os altos custos de um projeto deste tipo. As rápidas

e decisivas mudanças porque passou a política norte-americana

em relação ao .urânio enriquecido, a partir dos anos setenta,

corroborou os sentimentos autonomistas europeus.

Um outro elemento que acentuou a competição entre os

países desenvolvidos nuclearmente' diz respeito aos ataques que

a alternativa nuclear passou a sofrer internamente nos países

com programa nuclear avançado. Muito embora não haja hoje a

menor duvida de que o fator impulsionador primordial para um

pesado investimento em energia nuclear foi a crise do petróleo,

que colocou a nu a vulnerabilidade dos países excessivamente de

(») Yager e Steinberger, ob.cit. p. 335,

103

pendentes do petróleo importado, também não há a menor duvida

de que a maioria destes programas foi inadequadamente dimensio

nada e, alguns deles foram claramente desastrosos (•). A asso

ciação que então se estabeleceu mundialmente entre energia e

poder, energia e recursos estratégicos, ao mesmo tempo que ser

viu de alerta em relação ao modelo perdulário de estilo ociden

tal de consumo das fontes não renováveis de energia t teve tam

bem como conseqüência a transformação de soluções até então <i

penas experimentais em soluções de caráter definitivo. Por e

xemplo, a superestimação da demanda energética por parte dos

países que em breve mergulhariam em depressão econômica profun

da —— a mais seria do põs-guerra — garou o açodamento das die

cisões que, pela magnitude financeira envolvida, deveriam no

mínimo serem mais conseqüentemente avaliadas.

Foi então, no mesmo momento histórico em que países

como o Brasil e outros dependentes do petróleo importado — e

não apenas eles—lançavam-se a ambiciosos programas nucleares,

que começaram a surgir nitidamente nos paíse*- nuclearmente £

variçados, sérias restrições econômico-sõcio-polício-ambientais

â sua disseminação, que parecia então irreversível. Devemos

ter- as coisas muito claras: o consumo de energia nuclear emj '.'•

(') Embora outros elementos também estejam presentes, como abusca de prestígio e status internacional, a luta por aut<>nomia tecnológica, a ausência de fontes convencionais dê"energia, etc... a crise de energia que ocorreu nos paísesdependentes de petróleo importado pelo estrangulamento dobalanço de pagamentos foi decisiva para o estabelecimentode certos programas nucleares, como é certamente o caso doBrasil. Ja a presença de países como o Irã e o Iraque entre os de um programa nuclear mais ambicioso não pode ser"entendida neste sentido.

1973 representava apenas 2% de todo o consumo energético nun

dial. Estamos na verdade, falando mais de uma tendência do

que de uma realidade já estabelecida. O que ocorria é que to

das as previsões apontavam, no início da .década, para um futu

ro rõseo que aguardava a.indústria nuclear no mundo. £ bem

verdade que o tempo de maturação do*investimento em usinas nu

cleares ê muito longo, e os 2% não refletiam o número de reato

res em construção, que superava de muito o número de reatores

em funcionamento (»•)..* " #Era contra.esta tendência e seu incontrolãvel cresci

imento que começaram a lutar segmentos da sociedade na * Europa

Ocidental e EUA principalmente, mobilizando a sociedade no in

tuito de formar movimentos sociais organizados de resistência.

As principais críticas destes setores referiam-se ao aspecto

autoritário do processo de tomada de decisão em favor de uma

solução nuclear; o favorecimento financeiro de grandes corpora

çoes, questões de segurança è ambientais; o "fetiche tecnológjL

co"; o abandono do financiamento às pesquisas energéticas ai

ternativas entre outras (>»).

('.*.) Segundo uma tabela da US Atomic Energy Commission, e a s£r- guinte a situação em 1973 para os países do mundo capita

lista: _ ~*reatores em operação^ - 87

. reatores em construção - 98

. reatores encomendados - 100

. reatores em estudo - 99Total: 384

Yager e Steinberger, ob.cit. p. 336.

O O Já existe uma longa e rica bibliografia sobre os tnovimejitos sociais anti-energia nuclear em seus aspectos civis ê"sobre o fenômeno político do pacifismo moderno como for_ça política nas sociedades industrializadas. Entre ©7

Continua. ••

105

A inserção destas questões na agenda pública daque

Ias sociedades durante os anos setenta, politizando-as, ger£

ram um curioso fenômeno de reflexos muito importantes: o iní

cio da decadência da solução nuclear para aquelas sociedades

começa a se dar no momento mesmo de sáu auge industrial e co

mercial. Quer dizer, tão logo as principais e colossais empr£

sas terminaram de equipar-se convenientemente para abastecer

um sorridente e próspero mercado, este passou a sofrer golpes

de todos os lados. Seja pela estratégia de resistência a nl

vel municipal com apoio de frações do movimento operário como

na França, seja em discussões parlamentares como na Holanda e

na Alemanha, seja na recusa de alguns estados de aceitarem "u

tilities" equipados nuclearmente, como nos Estados Unidos, o

fato é que os grandes mercados mundiais começam a retrair-se.

Outra vez o caso KWU, na Alemanha, serve de paradig

ma. .A empresa havia se preparado e investido maciçamente vi

sando principalmente o mercado interno alemão. Com a brusca

queda da demanda interna, a empresa necessitou desesperadameii

te de;exportações para sua sobrevivência. Este caso certamen

te não é único na economia alemã, a economia que mais exporta

no mundo ocidental, quer dizer, o modelo mesmo de reconstrução

(1J) Continuaçãoprincipais trabalhos recomendo a coletânea Pacifisme etDissuation, La contestation pacifiste et 3'avenir de Iosecurité de 1'Europe" editada por Pierre Lc)louche, Ins titute Français de Relations Internacionalcs, Paris v 1983*fFernando Perez-Diaz, "La Controverse nucleaire au £tats~-Unis", Anexo do livro Nuclcopolis, Presses Universitairede Grenoble, 1979, pp. 485/517 e Paulo Wrobel, A Esquerdae a bomba: Notas «obre o movimento pacifista europeu, IRITextos n9 6, 1985. \

econômica da Republica Federal obedeceu a um esquema âe compe

titiviâaâe internacional, do qual a Ostpolitik de Brandt foi

sua contrapartida política. Porém o caso dramático da KWO é

que ela se equipou no intuito de produzir um volume anuf.l de

reatores incompatível com um mercado ainda em formação e logo

retraído, obrigando-a a uma agressiva política de exportação

cujas conseqüências nos, mais do que qualquer outro país, co

nhecemos de perto í12)..

Quando o Brasil, com seu projeto de industrialização

acelerada e sua retórica de grande potência, decidiu partir pa

ra um volumoso projeto nuclear, com a esperança de resolver ou

reduzir sua dependência energética, encontrou no mercado inter

nacional, um substituto alternativo aos recorrentes impasses

gerados pela sua relação com os Estados Unidos, até recentemen

te monopolista no mercado internacional.

Não-Proliferação.Nuclear

De uma certa maneira, o que tratamos até agora no

primeiro e segundo capítulos — a tentativa norte-americana de

manter o segredo atômico em suas mãos ou de controlar sua dlfu

' são — pode ser entendido sob o termo não-proliferação. Ha, po

rém, certas mudanças fundamentais nas duas décadas que se se

(12) Uma boa analise das questões politico-estratigicas envolvidas na recuperação econômica e política alemão do põs-"-guerra e desenvolvida em Catherine Hcardle Kelleher, Cermany & the politics of nuclear weapons, Columbia Uni ver'•ity Press, NY 1975, especialmente pp. 293/315. "*

IO 7

guiram à IIa Grande Guerra, que transformaram a percepção mun

dial desta noção. Inicialmente, as maiores fontes de preocupa

ção para. os SUA, eram a URSS, os paxses europeus ocidentais

e o Japão, pela sua capacidade tecnolõgico-industrial de nucle

arizar-se. Ê interessante lembrar que os cinco países que pos

suem armamentos nucleares (ls), sem'exceção, criaram programas

militares explícitos como meio de desenvolver sua capacidade

nuclear. O que se constituiu em novidade, tornando-se o foco

novo da agenda política internacional dos nos setenta e uro.das.

seus mais discutidos temast foi a proliferação horizontal, ou

seja, para o Sul, para os países do Terceiro-Mundo (»*).i

Um dos principais meios, da ótica dos países nuclei»

res, de deter a nuclearização dos armamentos para outros pajt

ses além dos cinco que já os possuíam foi o Tratado de Não-Pro

liferação Nuclear (TNP). O TNP, patrocinado conjuntamente pe

Ia URSS, USA e Inglaterra, surgiu de longas negociações dei

mais de uma década, visando p controle da tecnologia nuclear,r

(13) EUA, URSS, Inglaterra» França e China. A India mesno explodindo um artefato bélico, não e considerada uma potcmcia nuclear.

(V**) Dois estudos fundamentais sobre a importância do apare_". cimento dos paxses do Sul na política nuclear internacío^

nal sao: Assofc Kapur, "Nuclear energy, nuclear proliferation and national security: views from the South", capitulo 8 do livro de Boardman e Keeley, ob.cit. pp. 163/193 eBertrand Goldschmith and Myron B. Kratzer, "Peaceful Nuclear Relations: A Study of the Creation and the Erosion*of Confidence", capitulo 2 do livro World Nuclear Energyeditado por Ian Smart, Johns Hopkins University Press, Lon_don, 1978. Segundo Kapur, p. 180: "The decisions ofsouthern states to move along various nuclear paths — interns of their development of nuclear science and indus_try as well as of nuclear weapons potential — paralleled"American efforts to formulate an international nuclearcontrol regime in the period from 1946 to the present".

impedindo a produção ou a transferência de armamentos nuclea

res para os países até então não nucleares. 0 Tratado foi con

cretizado no âmbito do Comitê de Desarmamento da ONU e submeti

do a aprovação na.Assembléia Geral de maio de 1968.

O TNP, instrumento das principais potências nuclea

res, para conter a proliferação de armamentos permitiu em sua

redação a exportação de tecnologia nuclear para fins pacíficos

(artigo IV) e passou, a partir dos anos setenta, a sofrer una

-série de abalos. Ha verdade, ò uso da expressão proliferação

nuclear na linguagem político-diplomãtica, ê uma criação dos

anos sessenta, quando a atuação da AIEA passou a ser técnica

mente mais consistente. O acordo Brasil-EÜA de 1965, por e_

xemplo, transferiu a aplicação de salvaguardas da AEC para a

órbita da Agência.de Viena.

Três fatores principais, entre outros ocorridos na

primeira metade dos anos setenta, tornaram a questão da não-

-proliferação um tema tao relevante das relações ' internado

nais. Em primeiro lugar, o aumento repentino e de grande ma<£

nitude no preço do petróleo e derivados, estimulando uma corri^

da â fontes alternativas de energia. Hoje, passados quase quin

ze.anos deste primeiro choque e da crise de matérias-primas

dos anos setenta, sabemos que a economia do petróleo envolve

tantos fatores político-estratégicos que a política de preços

que fortaleceu a OPEP entrou em colapso, mas naqueles anos a

valorização da tão preciosa mercadoria parecia um fato da vida.

Os países então mais vulneráveis ao petróleo importado, agrava

do ainda mais pelo fantasma das ameaças de embargo pelos pa£

*es árabes produtores, partiram para a tentativa de. contraba

109

lançar esta fonte de suprimento de energia através do investi

men to nuclear. O primeiro choque petrolífero tornou clara '• a

relação entre autonomia nacional e autonomia energética vividai

neste momento preciso pelos estados nacionais. Tornava-se uma

questão de honra para a retórica da independência nacional uma

política energética abrangente e com forte componente autono

mista. Em países como o Brasil, onde a questão energética sem

pre esteve associada à independência nacional e foi fonte de

choque entre visões diferenciadas de um projeto nacional, o ní

vel de politização da questão foi sempre,intenso (**). Mesmo

as medidas autoritárias tomadas para o acordo com a Alemanha,

em um período político sem participação democrática e de deci^

soes tecnocráticas, não conseguiu escapar inteiramente do deba

te publico (*«).

O segundo fator que desestabilizou o novo e já ultr«i

passado regime de nio-proliferação nuclear ('7) na primeira me

tade dos anos setenta foi a explosão subterrânea de um artefa

to pela Índia -— oficialmente uma explosão pacífica mas tecnor- *~

(l5) É sõ lembrarmos a campanha do "petróleo é nosso".

O*) A primeira reunião um mês depois do acordo da SociedadeBrasileira de Física, em Belo Horizonte cm 1975, ainda emum período de arrocho político, manifestou-se contráriaao acordo recém assinado com a Alemanha e repudiou o carãter excessivamente centralizado e autoritário da decTsão. Veja A SBPC e a energia nuclear, Suplemento de Ciei»cia e Cultura, volume 33, 1981 e Pingelli, art.cit. p. 37.

(17) Regime de não-pruliferação e como se designa na literatura corrente internacional o conjunto de medidas que engljõba o estabelecimento da Agência de Viena, 0 TNP, o Trata*do de Tlatelolco e todas as ações visando deter a prolTferação vertical e horizontal — principalmente esta —^de armamentos nucleares.

logicamente igual a um teste militar — em maio de 1974. Apon

tado. por alguns autores («•) como o principal motivo de crise- " li

do regime de não-proliferação, a explosão indiana afetou de moi

do decisivo o sistema internacional de salvaguardas e dramati

2ou violentamente a percepção de perigo do Sul. Não podemos

nos esquecer que a nova ordem internacional do pós-guerra,esta

bilizando as relações entre as grandes potências» seja através

da guerra-fria ou da detente» deslocou os conflitos internado

nais para os países do Terceiro-Hundo, fruto principalmente do

processo de descolonização e do ressurgimento de velhas polêrai

cas territoriais abafadas pela ordem anterior. Esta rápida e

insatisfatória visão da origem dos conflitos na periferia da

ordem internacional tem apenas o objetivo de mostrar alguma ba

se de fundamento real para uma tendência dos anos setenta de

se ver a decisão de "go nuclear" por um viés essencialmente re

gional. A proliferação de trabalhos que tentavam dar conta da

gravidade da proliferação de armamentos nucleares no Terce ir o-

-Mundo enfocavam prioritariamente a eclosão de conflitos loca

lizados como o principal motivo da corrida armamentista entre

os países periféricos (>»). Não só os casos óbvios de Israel

e* África do Sul, mas Índia e Paquistão, Brasil e Argentina, Co

réia do Sul e do Norte, Irã e Iraque, são interpretados em fun

(*•) Kapur, ob.cit. e Goldsmith c Kratzer, ob.cit.

(l9) Entre outros, William C. Potter, Nuclear Power and Nonpro.liferation, O.C. and H. Publishers, Cambridge, 1982 especialmente pp. 131/196; William Courtney, "Brazil and ATgentina: Strategies for American Diplomacy", capitulo \T>de Nonproliferation and US Foreign Policy editado porJoseph Yager, The Brooking» Institution, Washington, iI>C,1980.

çao da busca de supremacia em seus subcontinentes respectivos

ou como motivo de autodefesa contra a ameaça potencial de seus

vizinhos. O componente estratégico aqui sobressai-se de quajL

quer .outro, restringindo a ordem mundial à constante busca de

supremacia em subsistemas com lógica própria.j

A abundante literatura que trata da explosão Indiana

analisa o fato de vários ângulos possíveis, alguns enfocando a |

independência tecnológica, outros acentuando a decisão politi [

ca. Kapur (20), por exemplo, enfatiza a frustração e o senti !

mento de abandono vivido pela índia em relação às duas grandes

potências, em virtude da crise de 1971, como o motivo princfc.

pai para a sua decisão de estarrecer o mundo com um gesto de

independência, como foi a detonação. Apesar de não ter rigoso

samente burlado nenhum sistema de salvaguardas da AIAE, a ín

dia contou com a cooperação canadense como fundamental para a

explosão. O reator experimental CIRUS, que produziu o plutó

nio armazenado para a detonação, foi um dos primeiros reatores

exportados pelo Canadá, entrando em funcionamento em 1960, com

assistência técnica dos EUA. A explosão caiu como uma bomba

nos meios políticos e diplomáticos canadenses, tornando-o o

primeiro pais a propor revisões profundas no sistema de salv<a

guardas e levando-o a tomar decisões unilaterais cm tratados

já concluídos. Em virtude das pressões canadense-norte-anerica

nas, o TNP passou a considerar o processo de reprocessamento

(20) Kapur, ob.cit. p. 172: "... and India's 1974 test was apolitical demonstration to friends and enemies alike thatnuclearisation of the regional environment would occur ifexternal powers did not exercise restraint in tbeirtegic behaviour".

do combustível utilizado nos reatores com o fim de obter plutô

nio como instrumento bélico e portanto passível de sofrer res

trições comerciais. . \

O terceiro fator que sacudiu o regime de não-prolife

ração, foram os contratos de exportação de tecnologia nuclear

que, pela primeira vez, contemplavam*a possibilidade de trans_

ferência do ciclo completo de combustível, incluindo os proces_

sos de enriquecimento de urânio e o processo de reprocessamen

to deste, estabelecidos entre países industrializados e países

do Tefceiro-Mundo. 0 caso mais visível foi o acordo Brasil-A

lemanha, porém não o único. Na mesma época, a França assinou

um acordo com o Paquistão e outro com a Coréia do Sul, incluin

do a transferência de tecnologias sensíveis. Pêlo seu custo,

proporção e complexidade, o acordo com a Alemanha tornou o Brai

sil o maior alvo da ação antiproliferadora, até porque, dadas

as inúmeras pressões norte-americanas, a Coréia do Sul recuou

de suas pretensões e a França acabou modificando o acordo com

o Paquistão.

r" A participação do Irã no consórcio europeu liderado

pela França para a produção do urânio enriquecido — EURODIF

— e o ambicioso programa nuclear do Iraque, também em colaboi

ração com França — as instalações iraquianas sofreram um bom

bardeio israelense em junho de 1981 — contribuíram para drama

tizar ainda mais o novo quadro internacional.

Além dos três principais fatores apontados, outras

causas ainda vêm se somar, agravando o que ficou conhecido co

roo a crise do regime de não-proliferação. São elas:

1) «A decisão do Presidente Hixon de oferecer reatores nu

113

cleares para Israel e Egito em 1972, que, embora sob

salvaguardas, estavam sendo oferecidos a países local!

zados em uma zona mundial no mínimo turbulenta, alên de

ambos não serem signatários do TNP. No debate interno

dos EUA sobre proliferação esta medida foi. alvo de cri

ticas contundentes.

2) O medo de que grupos que lutam por autonomia regional

ou países em guerra civil, tivessem acesso a materiais

/ radioativos como o plutõnio, permitindo-lhes a fabrica

çao de bombas .nucleares para efeito de chantagem polítjL

ca.

3) A formação, já apontada, de grupos preocupados com o

meio-ambience nos países nuclearmente desenvolvidos,quss

tvtionando a pertinência desse tipo de fonte energética.

4) A consciência entre os experts em salvaguardar da preca

riedade de seu sistema operacional, especialmente a faJL

ta de homens e recursos da AIEA. Eles apontava» para a

{necessidade de se prevenir a disseminação Je equipamen

tos e tecnologias sensíveis pelo controle comercial des»

se material, impondo-se salvaguardas mais estritas e ri

''-' gidas.

5) A emergência de novos produtores de urânio enriquecido,

como os consórcios europeus URENCO e EURODIF e a URSS,

quebrando o monopólio norte-americano de 25 anos e, con

seqüentemente, sua capacidade de controlar o mercado e

a disseminação dos reatores de potência.

A reação canadense, que se seguiu ao anuncio da ex

plosão indiana, teve um impacto simbólico importante mas limi,

taâo dado o pequeno peso de seus reatores no mercado interna

cional. Muito mais importante e decisiva seria a reação nor

te-americana, que contava com a possibilidade de desestabili

zar o mercado. Estas reações serão exploradas aqui em dois n£

veis. Em primeiro lugar; as medidas gerais propostas visando

o. fortalecimento dos mecanismos de controle sobre o mercado in

ternacional, concebidas inicialmente no governo Ford e aprofun

dadas pelo governo Carter. Em segundo lugar,, examinaremos a

reação norte-americana no que toca especialmente ao acordo nu

clear Brasil-Alemanha, reação esta que inicialmente foi mais

poderosa na imprensa e no Congresso e, posteriormente, com Car

ter, atinge o auge pelas medidas do Executivo norte-americano.

Atitudes Norte-Americanas Face â Nao-Proliferacão

No princípio da década de setenta, sob o governo NjL

xon, iniciaram-se mudanças profundas na política nuclear nor

te-americana. A primeira medida de impacto executada foi a

tentativa de privatização das atividades de enriquecimento de

urânio, até então concentradas nas mãos da AEC, com suas três

usinas de enriquecimento, sendo a mais recente construída em

1956 (2O. Ò motivo alegado foi a iminência de saturamento da

capacidade destas usinas, que abasteciam não apenas as necessjL

(21) para todo o complexo problema do enriquecimento do urânio,uma boa fonte de informação e Edward Wonder, Nuclear Fueland American Foreign Policy, Hultilarization for UraniumEnrichment, Wettviev Press, Colorado, 1977.

115

dades internas norte-americanas mas os reatores LWR espalhados

pelo mundo. A exportação do urânio enriquecido era uma impor

tante componente da estratégia de venda de reatores pelas em

presas norte-americanas. Em julho de 1974 os EUA , ainda sob

o impacto do teste indiano, suspenderam o fornecimento do ora

nio enriquecido até segunda ordem, alegando que a sua demanda

comercial, já teria ultrapassado, de longe, a capacidade de pro

dução .das usinas. Além disso, a AEC tomou medidas retroativas,

colocando sob ressalva os contratos de enriquecimento já acer

tados para J15 reatores estrangeiros programados para entrarem

em atividade nos primeiros anos da década de 80, incluindo 2

no Brasil e 10 na Alemanha (22).

A possibilidade de privatização da produção de ura

nio enriquecido nos EUA está relacionada à privatização geral

do complexo nuclear advinda da Emenda de 1964 do Atomic Energy

Act, permitindo a propriedade privada de materiais nucleares es_

peciais, dado o caráter comercial da energia ruclear. O enri^

quecimento era a ultima atividade ainda em mãos inteiramente do

estado. Apôs duas décadas de dsencorajamento da criação de tt

(**) Wonder, ob.cit. p. 60: NThe inconsistencies of the Amer£can policy and the bureaucratic difficulties were bornTout in two episodes that had serious international repcj^cussions. Both of these, ironically, occurred while dis_cussions within the framework of the 1974 initiative verebeing held. Faced with a June 30, 1974, deadline forsigning contracts requiring delivery before June 30, 1983,foreign utilities made a last minute contracting rush.The unprepared AEC assigned forty-live contidional cot*tacts (these assumed plutonium recycle, stretching enrichment capacity) to foreign customers. Since the lTcensing decision permitting recycling might not be handedfdown for several years, the conditional contractsred rather speculative".

sinas de enriquecimento fora de suas fronteiras, os EUA deram

o primeiro passo no sentido de encorajar o enriquecimento na

Europa através do Tratado de Almelo em março de 1970. Em 1971,

paralelo ao esforço intenso de privatização, houve um primeiro

encontro multilateral em-Washington visando a troca de informa

ções técnicas sobre o enriquecimento entre europeus e norte-a

mericanos. Os europeus saem frustrados desse encontro pela

sistemática negativa norte-americana em fornece informações re

levantes, especialmente sobre o método de centrifugação (*»).

Esse fracasso estimulou ainda mais a independência européia,

encerrando as ainda existentes expectativas internacionalistas

e gerou um clima de quase confronto nos anos seguintes. Em

1973, novos termos de contratos restritivos foram anunciados pei

Ia AEC, angariando ainda maiores antipatias européias e 3apo

nesas, pois o objetivo era assegurar para os EUA os mercados

de urânio enriquecido da Europa e do Japão para a década de oi

tenta. A Alemanha, por exemplo, estimulou a sua maior empresa

fornecedora de energia nuclear a assinar um acordo de compra

de urânio enriquecido com a URSS e o Japão garantiu futuras

compras de urânio enriquecido da recém-criada EURODIF.

Foi somente em 1974, no contexto de um novo programa

energético norte-americano que visava reduzir a dependência ao

petróleo importado e estabelecer ligações mais sólidas com os

parceiros do Primeiro-Mundo, que Xissinger retomou as propojs

tas de multilaterização do enriquecimento, agora com a EURATOM

(*•) 0 método de centrifugação era um dos três métodos jcidos de enriquecimento e o utilizado comercialmente nalTusinas norte-americanas.

e a EURODIF em pleno crescimento (**)• O fracasso da proposta

de privatização, após a. formação de dois grandes consórcios in

ternos que não chegaram a deslanchar ficou evidente e, em ouiu

bro de 1976, os EUA desistiram oficialmente de estimula-Ia. '

A outra grande.iniciativa norte-americana, que terá

efeitos mais concretos, foi a formação de um fórum de vendedo

res de equipamentos nucleares, conhecido como o "London Suj>

plierr Group", organizado em fins de 1974. - O grupo original

contou com a presença da URSS, França, Alemanha Ocidental, Ca

nada,. Inglaterra, Japão e EUA.- Este grupo expandiu-se poste

riormente, agregando mais países exportadores de equipamentos

nucleares, a Leste e a Oeste, com a intenção de se criar ua»

guideline que ordenasse o competitivo mercado internacional.Se

gundo Ebinger:

"The formation of the London Suppliers Croup added a complicating element to the international poTX^tics of nuclear supply. Because the London SuppliersCroup remained outside the IAEA system and %ta nego^tiations tt?e kept secret, it became suspect in theeyes of Third World states who interpreted it an ano_ther attempt by the development world to perpetuate'its economic and technological dominance." (**)

,. A cooperação e internacionalização então em curso nosi.'

anos se tenta levou os EUA a, através deste f or ura, t e n t a r contro

lar uma situação internacional tão zelosamente guardada desde o põs-

(2%) Wonder, ob.cit . p. 42: "The oil embargo pol i t ic izes intejrnational energy cooperation, placing i t at the top of thepolicy-making agenda".

(2 S) Charles K. Ebinger, International Politics off Huclear 1nergy. The Washington Papers, p. 53.

-guerra. Em 1978, o primeiro guia de regras comuns aos países

exportadores viria à luz, fruto de três anos de discussões no

fórum de Londres.

Com Jimmy Carter estas medidas são aprofundadas. Des

de sua campanha como candidato à eleição presidencial. Carter

adotava uma perspectiva reformistas para a política externa

norte-americana, abordando especialmente a questão da não-pro

liferação nuclear. No âmbito da imprensa e do Congresso nor

te-araericanos, a repercussão de episódios como o acordo nuclear

Brasil-Aleraanha, era bem maior do que no Executivo, que tratou

de minimizá-lo. Carter propunha uma revisão completa do regi

me mundial da não-proliferação e da legislação norte-americana,

que continuava indefinida.* * •

Em maio de 76, em um discurso na sede da ONU em Nova

Yorque, falando como candidato democrata à presidência na con

ferência sobre "Energia Nuclear e Ordem Mundial", Carter delJL

neou as principais linhas que viria a adotar na Presidência

(2 6): "I have a deep personal concern with nuclear energy and

world order. I had training as a nuclear engineer, working in

the United States Navy on our country's early nuclear submari,

ne,program. I learned how nuclear power can be used for pea

ceful purposes — for propelling ships, for generating electric

power-and for scientific and medical research. I am acutely

aware of its potential — and it's dangers".

Depois dessas credenciais, Carter faz um balanço das

(**) Discurso reproduzido no Bulletin of the Atomic Scientists,October 1976, sob o título "Three steps towards nuclearresponsabi.lities", PP« 8/4

reservas mundiais de energia e apela para uma tomada de corns

ciência mundial contra os riscos do desenvolvimento da energia

nuclear que "... gives any country possessing a reprocessing

plant a nuclear weapons option. Furthermore, with the maturing

of nuclear power in the advanced countries, intense conpetition

has developed in the sale of power reactor, which has also in

eluded the sale of the most highly sensitive technologies, in

eluding reprocessing plants" (27).

O crescimento de uma poderosa e complexa indústria

nuclear, levou Carter a propor ainda neste discurso uma conf£

rência internacional sob os auspícios das Nações Unidas, com o

objetivo de fazer um grande balanço dos recursos energéticos

mundiais e um planejamento mais racional para o futuro. A ener

gia era assim entendida como um dos grandes temas internado

nais do fim do século XX, que requeria uma cooperação interna

cional mais ampla e menos conflituosa (2$). Em seu discurso

propõe ainda uma moratória nos negócios de exportação de reato

res comerciais até se conseguir um consenso maior quanto aos

problemas de segurança envolvidos nos equipamentos nucleares.

Assumindo seu mandato em uma situação de indefinição

da política cnergéticr norte-americana e especialmente sua po

lítica nuclear — as polêmicas sobre o urânio enriquecido e as

tecnologias sensíveis — Carter começou a implementar seu plé»

(>7) Carter, art.cit. p. 9.

(2*) Carter, art.cit. p. IA: "We want to cooperate ~ not simply debate. A point program — weather on nuclear energyor other global problems — is infinitely preferable tosustained and destructive polemics".

no anunciado em campanha, levando um observador a comparar seu

primeiro discurso'depois de eleito sobre energia de abril de

1977 ao discurso de Eisenhower em 1953 sobre os "Átomos para a

paz", pela sua grande abrangência e mudança de rota na poli ti

ca dos EüA (23). . .

O ano de 1977 foi marcado por intensas gestões diplo

mãticas, envolvendo uma ofensiva contra os governos da Alemã

nha e do Brasil no sentido de reverter o "acordo, do século",es

pecialmente no tocante â transferência das tecnologias sensí

veis. As pressões sobre a Alemanha, refletiram-se até em uma

guerra particular entre a imprensa dos dois países, na qual fo

ram feitas até mesmo acusações de ressurgimento do perigo na

zista e respondiam sem dúvida à nova força comercial competi

tiva exibida pelas robustas empresas alemãs. Mas acusações inú

tuas, a guerra comercial também ficou explícita, como por exem

pio no ataque alemão ao uso pelas empresas norte-americanas do

poderoso mecanismo financeiro do EXIMBAKK para vencer as con

corrências internacionais.

; As pressões dos EUA ocorreram em duas frentes princi

pais. A primeira, diplomática, que se iniciou com a viagem do

vice-presidente Mondale a Alemanha, logo apôs sua posse, para

tratar de uma extensa agenda bilateral, onde aparecia em prjL

meiro plano ò acordo nuclear (*«). Ainda na gestão Ford, quan

(2>) Go 1 d s chiai d t and Kratzer, ob.cit. p. 19: "Two major speechesby American presidents twenty-three years apart have uarked this history: the Eisenhower Atoms for Peace declaraition of December 1953 and the April 1977 Carter pronouiicement".

(»•) Folha de São Paulo, 25/1/77, e Jornal do Brasil, 26/1/77,

121

do as principais vozes anti-acordo encontravam-se no. Congresso,

o próprio Ministro das Relações Exteriores alemão, Gensher, so

freu uma sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado

dos EUA (3i). As gestões diplomáticas prosseguiram com a ida

de funcionários graduados a Alemanha para discutir detalhes

técnicos da questão e especialmente a viagem de Warren Chris to

phen, o subsecretário do Departamento de Estado, cora o intuito

declarado de dissuadir:o governo alemão a interromper o nego

cio com o Brasil.

O outro locus de luta contra a exportação da tecnolo

gia sensível foi o "London Suppliers Group". Reunido inici

almente como um grupo secreto, a partir de 1977 passou a atuar

mais publicamente, como um verdadeiro fórum de acertos das dis

sensões entre os países exportadores. As suspeitas com que es_

tas ações foram encaradas pelos países não nucleares aumentou

em vista das propostas de setores norte-americanos de se criar

um cartel de exportadores nucleares, uma clara política de djL

visão de mercado entre as principais nações industrializadas,

como meio de diminuir a competição proliferadora e resguardar

seus interesses. Alguns analistas apontam que foi nas discus

soes do London Group, em 1977 que a França e a Alemanha passa

ram a aceitarem as medidas contra a venda de tecnologias

sensíveis para os países do Sul, rendendo-se, afinal, as pre£

soes norte-americanas (í2).

A França, por exemplo, sempre zeloza de sua indepen

(»J) Estado de São Paulo. 19/6/75.

O 2 ) For exemplo, Ebinger» ob.cit. p. 73.

dência e autonomia nacional vis-a-vis os EUA, certamente foi

convencida, no âmbito do encontro de Londres, da necessidade

de se engajar em novas medidas antiproliferaçao. Muito embora

seus. dois principais negócios envolvendo -tecnologias sensíveis,

com a Coréia do Sul e o Paquistão, não tivessem a mesma reper

cussâo internacional que o acordo teuto-brasileiro, as pressões

contra as exportações francesas foram também muito intensas.

O primeiro negócio desfeito, com a Coréia do Sul, contou com a

aquiescência desta, rendida à argumentação norte-americana- o

segundo e maior negocio, com o Paquistão foi revertido por des

cisão unilateral francesa, alegando mudanças políticas inter

nas nesta nação que tornavam o negócio muito inseguro. Quanto

â decisão alemã de não mais exportar tecnologias sensíveis, to

mada em junho.de 1977, motivada pelas pressões norte-america

nas e aquiescência européia, não teve caráter retroativo, dei_

xando intocado o acordo assinado com o Brasil (33).

— ' i

Das ações prometidas por Carter em campanha, uma das

primeiras a ser tomada foi a formação de um novo fórum de ava

liação da energia nuclear, o "International Nuclear Fuel Cycle

Evaluation" (INFCE), a partir de outubro óe 1977, coro duração

prevista até fevereiro de 1980. Reunindo mais de SOO experts

de 46 países, objetivava estudar detalhadamente os aspectos

técnicos, econômicos e institucionais do desenvolvimento da c

nergia nuclear no mundo, com o objetivo de reconciliar a neces^

sidade da energia nuclear e o impedimento de armas ato

('*) Pierre Lellouche, "Breaking the rules without quite *toj>ping the bomb: European views" in International Organirj^tion 31, 1, Winter 1981, pp. 39/58.

123

Micas (an). O segundo objetivo principal da reunião — que se

propunha a ser mais ampla e representativa do que o semi-secre

to London Group — foi de avaliar a chamada "economia do plu

tônio". Desde o governo Ford que os EUA. jã haviam paralisado

suas pesquisas sobre o plutônio e os reatores conhecidos como

os fast-breeder, entrando em serio choque com os países euro

peus que consideravam esta geração mais moderna de reatores

fundamental para sua política energética. A França, por exem

pio, que ê até hoje o pais mais avançado neste tipo de tecnolo

giaf recusou-se terminantemente a interromper suas pesquisas.

O que se encontrava embutida na proposta feita por Carter, de

colocar o plutônio em discussão no fórum internacional, era

sua intenção de criar um consenso técnico internacional contra

o seu uso ('*)•

A outra decisão fundamental da primeira fase do go

verno Carter foi o "Nuclear Nonproliferation Act (NNPA7* do Con

gresso, de março de 1978, um conjunto de decisões com o objeti^

vo de colocar rígidos entraves â exportação norte-americana de

material'nuclear, especialmente impedindo a difusão das tecno

logias sensíveis. Esta legislação que era, nas palavras de um

autor europeu (*O , uma tentativa de legislar para o mundo, rei .

fletiu as atitudes do Congresso como o mais ardente defensor

de uma estratégia antiproliferação, tornando lei várias das

('*) Pierre Lellouche, "International Nuclear Politic*" in Fç>reign Affairs vol. 58 n9 2, Winter 1979/80, pp. 336/350.

(»*) Lcllouchc, art.cit. p. 337.

(»*) Lellouche, art.cit. p. 345.

propostas de "full scope safeguards" no objetivo de reassumir

para os EDA a liderança indisputada do ciclo de energia nuclear.

Brasil-EUA Sob o Governo.Ford

Voltando às relações nucleares entre o Brasil e os

EUA apôs esta contextual!zação histórica das transformações da

década de setenta, destaca-se era primeiro plano o grande marco

no que se refere â. questão nuclear no Brasil — e porque não

dizer, um dos grandes fatos na conjuntura da política 'nuclear*

internacional — ponto de ruptura da política nuclear brasilei^

ra: o famoso acordo nuclear Brasil-Alemanha de junho de 1975

(3S). Não farei aqui uma descrição minuciosa do acordo, levari

do em conta todos os seus aspectos sõcio-econômicosf políticos

e estratégicos.

Tendo passado hoje tempo suficiente para uma avali£

ção mais cuidadosa das reais dimensões do acordo, consensual

mente, considerado como superdimensionado e excessivamente con

creto para as possibilidades e necessidades imediatas do país

(3?)t podemos tentar uma explicação coerente, levando em consi/ • . ' . " • " " "

deração as interpretações mais abalizadas (especialmente dos

(37) A íntegra do acordo acha-se no "0 Programa Nuclear Brasileiro", Diário do Congresso Nacional Seção II ní 9, 12*7/3/1977.

(»•) Lourcnço Dantas Mota (coord.) "Entrevista com Marcelo Damy", Estado de Soo Paulo, 2/9/1979 e José Colderaberg, "DejTvenda-se o Mistério do Acordo Nuclear", Estado de Sao Pai»Io, 22/4/1979.

125

físicos). O autoritarismo e o fechamento do circulo de deci

soes, que excluía os físicos mais importantes do pais, incluía

os burocratas do Itamarati e das agências especializadas (CNEN

e Ministério das Minas e Energia) assessorados por cientistas

menos expressivos ê ura dos argumentos críticos constantemente

levantados. Norman Gall (»»), por exemplo, faz uma interessan

te correlação entre regimes autoritários nos países do Tercei

ro Mundo como sendo aqueles onde se desenvolveram os maiores

planos e/ou implementações de programas nucleares complexos.

Esta crítica tem que ser ponderada, porém, cora o argumento de

que, dada a magnitude dos problemas técnicos e financeiros er»

volvidos, a maioria das decisões envolvendo política nuclear

padece do mesmo mal, inclusive nos países de instituições demo

crãticas. As pressões de setores organizados acontecem sempre

como uma reação às medidas tomadas pelos governos* era círculos

fechados. Pode-se constatar isto no enorme número de projes

tos iniciados e posteriormente abandonados por pressão publica

em diversos estados norte-americanos e países europeus.

; Um outro fator considerado como decisivo para a injl

ciativa brasileira, e certamente o de maior impacto imediato,

foi a crise do petróleo, que colocou a nu a vulnerabilidade da

economia brasileira. Os grandes projetos de criação de infra-

-estrutura e substituição de importações de bens de capital

que foram a tônica do governo Gelsei, com a intenção de se com

pletar a construção de uma moderna economia industrial para o

('») "0 que dará ao Brasil o acordo nuclear". Estado de SaoPaulo. 13/6/1976.

Brasil, foram percebidos como inviáveis diante da verdadeira re

viravolta representada pela decisão árabe. Isto explica, em

grande parte, a rapidez das decisões.

Um outro argumento muito levantado por alguns auto

res (•»») diz respeito ao aspecto estratégico-militar e geopolí

tico que o domínio nuclear traria para o pais, possibilitando a

construção de bombas nucleares. As explicações remetera-se ao

caráter militar do regime; a competição armamentista com a Ar

gentina; â consciência do status mundial associado com a posse

da bomba; â recusa de se assinar o TNP; â insistência de se do

minar o ciclo completo de produção do átomo, incluindo o plutô

nio; ao desenvolvimento da indústria nacional de armamentos con

vencionais e, mais recentemente, às noticias sobre o programa

nuclear paralelo, desenvolvido principalmente era instituições

ligadas às Forças Armadas. As evidências recentes (*i) são

mais fortes do que os sistemáticos desmentidos do governo,mas,

como já está suficientemente demonstrado (**), se a intenção

brasileira fosse predominantemente militar, o meio escolhido

para isto seria absolutamente incompreensível. Soluções taais

simples e baratas, inclusive evitando as salvaguardas interna

cionais, seriam mais lógicas.

Não se trata, de maneira alguma, de não levar em con

(H0) Pinguelli, art.cit. c Courtney, art.cit.

(•»!) Folha de São Paulo, 28/4/85, "Brasil devera ter tuameíra bomba atômica cm 1990".

(*•*) Jorge SHbato, "El plan nuclear brasileno y Ia bomba ^ca". Estúdio» Internationales n9 41, jan/raar.1978, ppT74/82. I

sideração a validade deste argumento, principalmente tendo em

vista a incontestável imagem do "Brasil potência" do período. A

sistemática recusa em assinar o TNP, além da motivação critica

da diplomacia brasileira anticongelamento do poder mundial,sem

dúvida deixava aberta ao-país a porta "da proliferação. Princl

palmente depois do anúncio argentino de domínio do ciclo com

pleto do átomo em fins de 1983, a possibilidade de o estamento

militar brasileiro lançar-se â produção de armamento nuclear ê

uma hipótese viável, embora,para efeito interpretativo, nâo ha

ver ainda provas conclusivas a respeito.

Uma sucinta descrição dos episódios mais importantes

pré-acordo podem esclarecer, entre esta série de motivos apon

tados,. os mais importantes passos dados. Após a decisão da

CNEN de se construir ura reator utilizando urânio enriquecido,

vencida a concorrência pela Wéstinghouse, a confusa conjuntura

que envolveu a política nuclear norte-americana, especialmen

te em relação ao combustível — urânio enriquecido — conveii

ceu a alta cúpula da CNEN, Furnas e dos envolvidos no planejaT-

mento;energético nacional de que se deveria partir para os no

vos contratos dos reatores planejados quando da concorrência

de Angra I, buscando a transferência da tecnologia que permii —

tisse ao país enriquecer urânio, para não trocar a dependência

do petróleo pela do urânio enriquecido f*')» A Wéstinghouse, a

primeira contactada para novos negócios manifestou interesse

(H3) "o Programa Nuclear Brasileiro", Diário do Congresso N&cional p. 281: "A fim de evitar o que ocorrera com o p£trõleo, era imperativo que, no caso da energia nuclear, asolução fosse suscetível de dar ao país, ao nedio prazo,a indispensável autonomia".

nas foi imediatamente demovida pelo governo norte-americano,em

nome das transformações por que passava sua política nuclear.

A França, contactada em seguida, recusou-se também, alegando

motivos técnicos.e políticos pois seu consórcio EURODIF apenas

• se firmava.

. A próxima negociação, com'a Alemanha, teve outro des

fecho. Desde 1968, com a visita do então Chanceler Willy Brandt

ao Brasil e como conseqüência de uma oferta sua, a Alemanha e

o Brasil assinaram um tratado de cooperação técnica e científi

ca no campo nuclear, o que levou especialistas brasileiros a

estudarem no mais importante centro de pesquisas alemães em e

nergia nuclear entre os oito. existentes, o de Juelich, em Colo

nia (%*). Quando se iniciaram as conversações, era 1974, sobre

a possibilidade de uma grande cooperação bilateral, ja havia

11 cientistas e técnicos brasileiros na Alemanha. O principal

negociador brasileiro, o diplomata Paulo Nogueira Batista, d es

locado para Bonn para prosseguir nas negociações, tornou-ce u

ma peça-chave do acordo, como atesta sua nomeação para a presi

dência da Nuclebrãs. As negociações acançaram em 74 e 75, até

se desenhar o primeiro esboço do acordo que atingiu, aparente

mente as necessidades brasileiras, e igualmente os objetivos a

lemães. O programa nuclear alemão encontrava-se com uma série

de pontos de estrangulamento, necessitando urgentemente de no

vas encomendas exteriores para não entrar em colapso.

Marcelo Damy (**), por exemplo, desenvolveu seu ra

<**> Estado de são Paulo. 28/6/75.

O») Entrevista cit. ao Estado de Sao Paulo. 2/9/1979.

129

ciocínio neste sentido ao afirmar que, através do acordo, to

programa nuclear brasileiro tornou-se apenas um apêndice dot

programa nuclear alemão. E mais ainda, que todo o acordo te

ria sido imaginado e desenvolvido pelos cientistas alemães ten

do em vista suas necessidades e só pode ser aceito pela incore

petência ou má-fé dos negociadores brasileiros.

Para a KNU o negócio foi excelente. Em um mercado

extremamente competitivo, tendendo à depressão, cercado de re

ceios, criticas e ameaças de paralisação, a empresa assegurou

a encomenda de oito. reatores, o que era uma garantia de estaLi

lidade financeira e emprego aos trabalhadores alemães. A trans

ferência tecnológica embutida no processo, só se daria com a

exportação completa dos oito reatores, quantidade mínima que

capacitaria o país a dominar o "know-how" de se construir com

plexas usinas e montar um sofisticado parque industrial. A e

xigência brasileira de não mais importar reatores "turn-key"

ou caixa-preta, seria satisfeita por este longo processo de

transferência tecnológica e formação de mão-de-obra especial^

zada.

A necessidade alemã, de urânio natural foi resolvida

no acordo através da formação de uma empresa conjunta para ai .'

prospecção de urânio no Brasil — a Nuclan (%*) — onde rezava

o contrato que 70% de todo o urânio encontrado no país seria

obrigatoriamente exportado para a Alemanha. As reservas conhe

cidas de urânio no país não eram grandes, mas havia grandes cs_

peranças de que rapidamente se iria descobrir grandes reservas

(") Bia»i, ob.cit. p. 88.

e ufanistamente comentava-se a eventualidade do Brasil fazer

parte da nova OPEP do final do século XX — a dos produtores

de urânio.

As duas usinas tecnicamente necessárias para o dona

nio do ciclo completo de produção e güe se tornaram o nõ gôr

dio da discórdia com os EUA, foram as usinas de enriquecimento

de urânio e de reprocessamento do combustível utilizado. B

nestas também as vantagens alemães eram evidentes. Em primei^

ro lugar, a tecnologia de enriquecimento de urânio contemplada

no acordo, a do "jet-nozzle", era ainda experimental na Alemã

nha e teria a primeira aplicação comercial no Brasil. O meto

do,• desenvolvido pelo professor Becker, era antigo e experiment

talmente correto, demandando proém ura imenso consumo de ener

gia. O acordo possibilitaria, então, a comercialização do pro

cesso,, sõ possível em um país de abundante e barata energia hi.

droelétrica como o Brasil. A segunda e mais "perigosa" trans

ferência das tecnologias sensitivas seria a* de uma usina de re

processamento capaz de gerar plutônio. Essa usina seria uma

usina-piíoto, nâo comercial, que capacitasse o país a con£

truir futuramente, quando completasse a construção de um nünus

ro de reatores que o requeresse, uma usina comercial de reproi

cessamento.

Alinhavados estes pontos controversos do acordo —

enriquecimento e reprocessamento de urânio —- veremos quais fo

ram as principais reações do princxpal e tradicional parceiro

nacional, os EUA. Desde maio de 1975, antes mesmo da pomposa

assinatura oficial do acordo, o assunto veio a publico, despe£

tando iradas reações de dois dos principais segmentos da vida

131

publica norte-americana: a imprensa e o Congresso. Na impren

sa, capitaneada pelos dois principais jornais nacionais* New

York Times e Washington Post, abundaram reportagens e edito'

riais contra o acordo, enfocando o aspecto da nio-proliferação

e da ameaça de se ter uma nova India no continente americano

(*7). No Congresso, principalmente no Senado, ouviram-se as

vozes de vãrios senadores, republicanos e democratas, chegando

até ao nível de ameaças de sanções econômicas ao j._isil e Ale

manha. Senadores como John Pastore e sua conhecida frase: "Se

esse acordo for assinado dessa forma, farã da doutrina Monroe

«ma palhaçada" (*•); Abraham Ribicoff, partidário da carteliza

ção dos países produtores de equipamentos nucleares; John Glenn

e,. mais importante de todos, o futuro vice-presidente Walter

Hondale, acusaram o acordo até de solapar o sistema norte-ame

ricano de defesa.

Nesta etapa, entretanto, a atitude do Executivo repu_

blicano norte-americano foi de, após um primeiro momento de a

preensoes, aceitar o acordo como um fato consumado, insistin

do apenas na questão do cumprimento das salvaguardas. A prin

cipal figura da administração republicana, Kissinger, havia hã

pouco firmado um memorando de entendimentos com o chanceler

Azeredo da Silveira, tratando o Brasil com um status diplomat^

C*7) 0 New York Times publicou editoriais sobre o acordo eo9, 13, 24 e 29 de junho de 1975. Conforme New York Tíwes,7/7/1975.

<*f0 Jornal do Brasil, 8/6/75 e Margarette K. Luddeman, Kuclear Technology from West Germany: A case of Disharmonyin US-Brazilian Relations, Georgetown University, 1978,—TI

co especial de nação, líder da América Latina. O Departamento

de Estado publicamente se diz satisfeito com as garantias e

salvaguardas contidas .no acordo como elementos antiprolifera

ção suficientes. A prova mais concreta desta aceitação neste

momento é a concordância, junto com a URSS e os outros - países

membros da AIEA, do sistema tripartite de salvaguardas assina

das pelo Brasil, a Alemanha e a. agência de Viena, em fevereiro

de 1976. Este sistema de salvaguardas chegou a ser considera

do um modelo para futuros acordos e o mais avançado até então

existente. •

A avaliação da imprensa, cientistas, políticos e di_

plomatas brasileiros e alemães, foi de que por- trás da violén :

ta reação do Congresso e da imprensa norte-americana, escondi

am-se os interesses comerciais de suas empresas lesados pela

concorrência alemã C 1 9 ) . Este será um argumento que retomara

sua força posteriormente, na nova investida do governo do EUA

como um todo, a partir de janeiro de 1977. Estas acusações fo

ram reforçadas por um episódio que tornou-se motivo de ácidos co

mentãrios: a oferta de uma grande empresa norte-americana —

a Betchel Corporation — de vender para o Brasil a tecnologia

sensível proibida pelo seu governo (50). A oferta da Betchel

visava convencer o governo brasileiro a não fechar negócios

com a Alemanha antes de saber todas as condições oferecidas pe

(*') Norman Gall» "Xtomos para o Brasil" in Gctulio Carvalho(coord.) As Multinacionais: Os Limites da Soberania, FCVRJ, 1980.

Este episódio encontra-se bem explicado em Edward Wonderf"Nuclear Commerce and Nuclear Proliferation: Germany andBrasil, 1975" in Orbis, Summer 1977.

133

Io concorrente norte-americano. 0 episódio foi contornado por

uma segunda comunicação da empresa ao governo brasileiro, seraa

nas após a primeira, tornando sem efeito a oferta, por determi-

nação superior. A história foi explicada, como sendo um excesso

de um executivo mais afoito, que teria interpretado mal a ain

da confusa política de privatização do enriquecimento. Seja

como for, o episódio da Betchel muniu de mais argumentos ague

les que viram na reação da imprensa e do Congresso dos EUA

principalmente uma represália comercial .ou, no máximo, uma me£

cia de motivos ideológicos e comerciais, de qualquer forma nun

ca uma motivação meramente altruísta. Já do lado alemão, além

da imprensa, as empresas alemãs contavam com um poderoso dos

fensor de seus interesses — a diplomacia alemã — que agiu o

tempo todo como intransigente defensora de seus negócios.

O Governo Carter e o Brasil' . •

. Com a chegada de Carter ao poder, em janeiro de 77,

deu-se inicio imediatamente a um processo de reavaliação do a

cordo nuclear Brasil-Alemanha dentro da lógica de não-prolife

ração como um dos pilares de sua política externa. Como vimos,

desde sua campanha eleitoral, a proposta reformista de Carter

para a política externa norte-americana, partiu do principio

de revisão global da estratégia nuclear ác seu pais c centrou-

~se inicialmente nos riscos de proliferação para os países do

Sul. Embora as pressões anti-acordo continuassem a ser perce

bidas e denunciadas por parcelas ponderáveis da sociedade, tan

to no Brasil quanto na Alemanha, como uma estratégia comercial,

hã elementos que fazem contrabalançar estes argumentos. Não se

trata aqui de fazer um balanço do governo Carter ou da "since

ridade" de seus propósitos reformistas; hã, hoje em dia, aya

liações de seu governo, para todos os gostos e opiniões (S1).

Gostaria de frisar que sua política antiproliferaçao, incoereii

te e desigual, mal-formulada e mal-implantada, era uma poli ti

ca — uma policy — que transcendia os aspectos comerciais

da questão, apesar da evidente presença desses espectros. Os

melhores argumentos para sustentar esta interpretação são a o

posição da própria industria nuclear norte-americana à pollti

ca de Carter agravada pela rigidez do "Nuclear Non Prolifera

tion Act". Podemos afirmar com certeza que a segunda metade

do governo Carter assitiu a um nítido refluxo desta política

reformista, a nível de discurso e de praticas, e uma acomoda

ção as grandes linhas tradicionais da política externa dos BOA.

Analistas europeus e norte-americanos não comprometi

dos com a política de Carter, tendem a enfatizar o aspecto de

tentativa de retomada da hegemonia recém-perdida do mercado in

ternacional de reatores de potência, através da sua retórica

antiproliferaçao (S2). Eles apontam, apoiados em solida eyi

dência histórica, que o regime de não-proliferação, considera

do ultrapassado pelos democratas, não foi visto assim

(si) Veja-se Stanley Hoffman, "The Hell of Good Intentions" inForeign Policy n9 29, Winter 1977/78, pp. 3/26.

(52) Lellouchc, arts.cits, e Karl Kaiser, "The Great NuclearDebate: Cernian-American Disagreements" in Foreign Policyn9 30, Spring 1978.

enquanto a supremacia norte-americana era inconteste. As trans

formações requeridas pelos democratas eram ao mesmo tempo con

tra os paxses emergentes e contra os europeus recém-chegados

ao jogo. Isto explica, por exemplo, o porque de governos con

servadores europeus se tornarem retoricamente defensores da au

tonomia tecnológica do Terceiro-Mundo. Razões polxtico-estraté

gicas e comerciais mesclaram-se de um e de outro lado do Atlân

tico.

A viagem do ex-senador Walter Mondale, opositor fer

renho e notõrido do acordo, agora vice-presidente, à Alemanha

poucos dias após a sua posse é o primeiro gesto nítido de pres

são do novo governo a favor da revisão do acordo que, diga-se

de passagem, encontrava-se ainda em fase de implantação, por

tanto passível de modificações no tocante às tecnologias sensí

veis — enriquecimento e reprocessamento. Na Alemanha, que

reaparecia como peça-chave no cenário europeu, vozes oficiais

e oficiosas recorreram a uma expressão popular ("vertragsten"),

algo como "cumpridor de compromissos", para reagir às pressões

dos EUA e assegurar o caráter irrevogável de seus compromissos

comerciais (53).

Do lado brasileiro, o Itaraarati aguardou com apreen

são a viagem de Mondale â Alemanha pois sentiu-se ultrapassado

por não ter sido comunicado do teor das conversações, que envoi

Viam um assunto tão importante para o país (**). O espírito

(sí) Folha de São Paulo, 25/1/1967 e Jornal do Brasil, 26/1//1977.

(*••) Jornal do Brasil, 26/1/1977 e Folha de São Paulo. 27/1//1977.

do memorando de entendimentos pregava a consulta em tal situa

ção. Iniciaram-se aí seis meses de Intensas pressões norte-a

meriçanas sobre o Brasil e uma vigorosa oposição brasileira

— que chegou a incluir a oposição política e os cientistas

contrários ao acordo — calcada na soberania.e autodeterminação,

período considerado como o mais problemático entre os dois pai

ses na história recente. Agravada pelas denúncias sobre a vio

lação dos direitos humanos no Brasil, que passaram a fazer par

te do discurso do governo. Carter, a polêmica nuclear gerou res

sentimentos e conflitos abertos entre os dois países (**).

No início de janeiro, antes da visita de Mondale a

Bonn, o futuro principal assessor do Secretário de Estado Çj£

rus Vance, para questões nucleares, Joseph Nye, Jr., propôs que

ò Brasil abandonasse o desejo de possuir uma usina de enrique

cimento de urânio em troca do compromisso norte-americano de

abastecer os reatores brasileiros (**). Esta oferta foi rece

bida com ceticismo pelo Itamarati, setores oficiais, parlaroen

tares de oposição e cientistas renomados, que defenderam esto

aspecto do acordo contra a ingerência dos EUA. Durante os me

ses de maior virulência nas relações, apareceu nitidamente a

formação de um consensointerno prõ-acordo, em nome da sobera

nia nacional. A. situação chegou a um ponto emocional tal «a

(ss) Uma excelente abordagem das disputas brasileiro-norte-am£ricana* sobre o problema nuclear encontra-se no capxtulcTI da tese de Doutoramento de Maria Regina Soares de Lima,intitulado: "The Nuclear Agreement: 'Breaking the RulesWithout Quite Getting the Bomb", Vanderbilt University,Nashville, 1985 (mimeo).

<**) Jornal do Brasil, 25/1/1977.

13?

que se refere criticamente Ennio Candotti (S7) , que identifi

cou-se os críticos do acordo como partidários da interferência

norte-americana nos destinos pátrios. Esta proposta de Nye,

embora oficialmente desmentida pelo Departamento de Estado, na

verdade esteve sempre presente como elemento de barganha nas

negociações que se seguiram, nas quais o próprio Nye, confirma

do no cargo, foi um dos elementos de destaque.

As negociações diplomáticas entre o Brasil e os EUA,

se seguiram com o envio de uma carta de Vance a Azeredo da SiX

veira. Ministro das Relações Exteriores, através do. embaixador

Grinmins, assegurando a validade do mecanismo de consulta bila

•teral e propondo um futuro encontro para resolver as questões

nucleares pendentes. A resposta do Itamarati a Vance, alguns

dias depois, ocorreu em um clima carregado, devido â primeira

entrevista coletiva do Secretário Vance, três dias depois da

carta entregue a Azeredo da Silveira. Nesta entrevista, Vance

propunha um congelamento do acordo até que se desenvolvessem ne

gociações, proposta recebida com muito mal-estar pelo Itamara

ti, gerando um clima de comoção ainda maior nos meios oficiais

brasileiro. O não brasileiro a esta proposta recebeu unânime

apoio interno. O teor da resposta oficial brasileira a Vance,

alguns dias depois, reafirmou claramente a posição do governo

' quanto à intocabilidade do acordo e convida o Secretário de Es

tado a vir a Brasília, pois o memorando de entendimento ainda

estava de pé. O convite foi aceito por Vance, que enviou a

Brasília a 19 de março uma pequena delegação de oito pessoas,

(*»> Jornal do Brasil, 28/1/1977.

chefiadas por Warren Christopher, Secretario-Adjunto do Depar

tamento de Estado (se). Christopher já havia, durante o mês

de fevereiro, iniciado negociações com a Alemanha, recebendo

Peter Hernes do Ministério de Pesquisa e Tecnologia alemão, em

Washington, aparentemente negociando de uma maneira dura. A

vinda de Christopher a Brasilia, precedida de muita expectatjl

va pelo Itamarati, que se cercou de competentes e hábeis diplo

matas e experts para a negociação, deu-se em um.clima muito

ruim. O encontro durou mais de quatro horas e terminou com po

sições irredutíveis dos dois lados (SÍ). Nenhuma declaração ã

imprensa foi formulada apôs a reunião, oficialmente apresenta .

da como uma conversa franca para tomar posição, mais do que u

ma negociação propriamente dita.

O comunicado conjunto do dia seguinte foi extremamen

te S3CO e apontou apenas para a possibilidade de futuras nego

ciações. Do Brasil, Christopher e sua comitiva seguiram para

Bonn, onde se centralizaram efetivamente as negociações a par

tir de.então. • Os posteriores encontros com Gensher, Ministro

alemão das Relações Exteriores nos EUA, com Vance na Alemanha

e o encontro de cúpula em Londres entre Carter e Schmidt em

maio de 1977, parecem indicar que, apôs a fracassada visita de

Christopher ao Brasil e o clima de comoção nacional então cria

do, as negociações ficaram todas concentradas entre os dois

parceiros mais iguais — EUA e Alemanha — que, além disso, ti

nham outras diferenças comerciais a acertar. Mesmo assim,'

(»•) Estado de Sao Paulo, 1/3/1977.

(*») Estado de Sao Paulo. 2/3/1977.

desapareceram as opiniões, publicamente expressas por represei»

tantes do governo norte-americano, no sentido de não aceitar

as usinas em questão, insatisfeitos com as salvaguardas e com

a sistemática recusa do Brasil em aderir ao TNP.

Nesses meses em que as negociações pareciam distar»

tes do Brasil, desenvolveu-se uma discussão interna sobre a

viabilidade do país vir a construir sozinho as usinas nuclei*

res, no caso de uma reviravolta no acordo. Pela primeira ve&

desde o início do processo de negociação,: velhas polêmicas fo

ram reabertas, envolvendo a participação de figuras de proa da

física nuclear brasileira. ' A hipótese, levantada pelo chance

ler Azeredo da Silveira, da possível autonomia brasileira, ti

nha a intenção de demonstrar o amadurecimento político e tecno

lógico nacional e seu status de nação responsável. Disto apro

veitaram-se diversos cientistas para manifestar-se mais livre

mente sobre a opção do tipo de reator encomendado â Alemanha c

a autonomia tecnológica. Este teor de criticas se aprofundou

no ano seguinte, quando se começou a divulgar as primeiras in

formações sobre corrupção, atraso e erros de projetos nas o

bras recém iniciadas. Tornaram-se patentes,então, as falhas

quanto â formação de pessoal especializado e o pouco aprovei^

tamento dos cientistas nacionais, crítica unânime e constante

entre' os principais físicos nacionais.

Em abril.de 1977, sob o aplauso dos quatro partidos

alemães representados no Bundestag, o governo alemão liberou

as licenças de exportação das usinas de tecnologia sensível, a.

pos examinar as questões pendentes. Este gesto foi considera^

do como de reafirmação da independência alemã frente as

soes norte-americanas. Dois dias antes, em um discurso. Car

ter havia novamente pedido o adiamento destas exportações. Em

meados de maio, pela primeira vez, uma alta autoridade do go

verno Carter em uma entrevista (so) admitiu que os EUA não ti

nham condições de deter os aspectos imediatos jâ em andamento

do acordo Brasil-Alemanha. Afirmava ainda que por ser o açor

do de longo prazo, e por ainda não desistirem de suas ôbjeçoes,

os EUA continuariam insistindo em futuras modificações a médio

c longo prazos. Admitiu que houve um consenso an «.prolifera

çao no recém-encerrado encontro de cúpula em Londres e que os

paises presentes se comprometeram a não mais exportar tecnolo

gias sensíveis. •

' Esta entrevista foi entendida como um primeiro sinal

de aceitação do acordo pelos EUA corroborada pela manifestação

de alivio e contentamento expressas por Azeredo da Silveira era

um encontro com Vance dias depois eiç Paris (61). O chanceler

brasileiro afirmou que se acabavam as pressões norte-americanas

sobre o:acordo, enquanto o Secretário de Estado reafirmou a va

lidade do memorando de entendimento dos anos Kissinger. No raes

roo dia, em um encontro Silveira-Gensher, ambos.afirmaram que o

acordo seria integralmente cumprido.

As viagens posteriores de personalidades norte-ameri

canas ao Brasil como a de Rosalyn Carter, de Vance em novembro

e de Carter em março de 1978, embora envolvendo ainda o assun

(*•) Entrevista com Zbigníew Brzezinski reproduzida no Estado. de São Paulo, 13/5/1977.

t<«) Estado de São Paulo, 1/6/1977.

to nuclear na sua agenda de conversações, não fizeram dele o

elemento central da pauta bilateral. Na viagem de Rosalyn,pòr

exemplo, os direitos humanos e as liberâaâes políticas foram

os focos principais, publicamente reconhecidos. A de Carter,

já passada a fase mais turbulenta, teve o objetivo de normali

zar as abaladas relações recentes, retornando-as em um patamar

menos conturbado que do ano anterior. Até o final de seu go

ver no, à medida, que a questão da não-proliferação foi dando l\i

gar, na hierarquia de sua política externa, a outros pontos, o

acordo nuclear teuto-brasileiro passou a assumir plenamente sua

dimensão comercial que, em breve começaria a sofrer os primei,

ros abalos decorrentes da difícil situação cambial brasileira

e da recessão econômica.

c

( ' CONCLUSÃO

c

Apôs o ref luxo das pressões ostensivas dos Estados

Unidos sobre o acordo nuclear com a Alemanha, com o objetivo

de deter a transferência de tecnologia sensível para o Brasil,

parecia enfim desobstruído o caminho para a realização de mais

um dos grandes projetos do "Brasil Potência", autônomo e se

nhor de seu destino. A resistência diante da interferência nor

te-americana, apregoada como sinal de independência de um pais

politicamente maduro, logo demonstrou ser pouco para garantir

um programa do porte do nuclear, que necessitava de ura aporte

financeiro acima da capacidade do país.

Em 1979, o fim da aparente e irreal sustentação do

acordo, somado ao abrandamento da censura à imprensa, permitiu

que aparecessem publicamente as críticas, especialmente da co

munidade científica, ao caráter megalômano e autoritário do

programa nuclear. Em setembro de 1978 já havia sido instalada

uma CPI no Senado sob a iniciativa do Senador Paulo Brossard

O ) para investigar o programa nuclear brasileiro após o "açor

do do século". - Começava a vir à luz o que até então era mantir."' —

do como segredo de estado. A imprensa já apontava inúmeros

problemas técnicos, especialmente de engenharia nas fundações

dos reatores no terreno arenoso de Angra dos Reis e o atraso

no cronograroa original das obras, sistematicamente negados pe

Ia direção da Nuclebrás. Depoimentos à CPI como dos engenhei

ros John Cotrin, ex-presidente de FURNAS e Joaquim de Carvalho,

ex-diretor da NUCLEN, esclareceram pontos obscuros, como a ne

(») Em Carlos A. Girotti, Estado Nuclear no Brasil, editora Brasiliense, SP 1984, encontra-se um bom resumo das princTpais críticas levantadas pela CPI. ' ~~

cessidade ou não da instalação de todos os reatores especifi

cados no contrato e quanto ao custo por KW da eletricidade nu

clear, que poderia elevar o volume de recursos dos oito reato

res programados a cifras incalculáveis.

Além destes problemas técnicos e financeiros levanta

dos na CPI, começavam a despontar no horizonte da realidade

brasileira dois fenômenos incompatíveis com a mentalidade dos

grandes projetos governamentais: a recessão econômica e a cri

se cambial. Ainda em 1979 jã se anunciavam os primeiros si

nais de queda no ritmo das obras dos dois. primeiros reatores ±

niciadas.

Em relação aos Estados Unidos, a presidência de Rea

gan iniciada em 1981, parecia indicar um retorno àqueles pa

drões de íntima ou privilegiada parceria do período pré-Carter.

As mudanças de ênfase no discurso de Reagan sobre política ex

terna, com o abandono da política dos direitos humanos e um a

brandamento do programa de não-proliferaçlo nuclear, eram s_i

nais de que os motivos principais para a deterioração das re

lações recentes pareciam superados. Reagan e seu Secretário

de Estado George Schultz, visitaram o Brasil, o primeiro em

1982 e o segundo em 1984. Durante a visita de Reagan foram

criados Grupos de Trabalho visando a cooperação bilateral cm

cinco áreas consideradas fundamentais. Uma delas foi a coope

ração nuclear. Na visita de Schultz, dois anos depois, a djL

vulgação dos resultados destes Grupos de Trabalho foram deceg

cionantes, por aterem-se apenas a intenções e não a propostas

de cooperação concretas. 0 rompimento do Acordo Militar entre

o Brasil e os Estados Unidos em 1977. no bojo da crise envoJL

venâo o problema nuclear e os direitos humanos, havia criado

uma situação de distanciamento entre os estamentos militares,

que os Grupos de Trabalho não conseguiram reverter (2).

- Mais importante, talvez, para o entendimento do pro

cesso de não retomada do-diálogo ao nível do Memorando de En

tendimentos da era Kissinger foi o aprofundamento do contendo

so comercial entre as duas nações dos anos oitenta. Do lado

norte-americano, a retomada da hegemonia econômico-financeira

sobre o mundo capitalista associado ao recrudescimento das prá

ticas protecionistas entrou em colisão com a tentativa bras_i

leira de aprofundar a conquista de mercados externos. O novo

patamar de modernização econômica brasileira criou, talvez, um

problema estrutural para as relações Brasil-EUA, pela nova com

petitividade do perfil de exportações do Brasil na década de

oitenta: agricultura de exportação, produtos manufaturados,ser

viços. A velha complementaridade entre as duas economias, s£

nhada por parcelas da elite brasileira, foi rompida.

r* Este processo se encontra ainda em construção e que

permite, portanto, varias leituras dificulta qualquer interpr£ -

taçâo unívoca das tendências da competição comercial mundial.

*'' . O setor nuclear expressa uma realidade diversa. Nos

Estados Unidos t nos países industrializados a Leste e a Oeste,

este setor vem mantendo uma certa continuidade de invéstimen

tos, sem entretanto ostentar mais a aura de modernidade tecn£

(?) Para um balanço das relações Brasil-Estados Unidos nos £aos oitenta, veja G. Moura» P. Kramer e P. Wrobel, "Os c£ninhos (difíceis) da autonomia: As relações Brasll-EUA" inContexto Internacional n9 2, julho/dezembro de 1985..

lógica e relevância científica que representou até muito recen

temente. Os laboratórios científicos e as empresas espalhadas

pelo mundo vêm se dedicando prioritariamente a resolver os inu

meros problemas que a utilização comercial dos reatores de po

tência apresentam. O abandono deste segmento industrial por

algumas gra.ides empresas e a ostensiva pressão da "opinião pü

blica" são elementos que pesam na avaliação do futuro incerto

desta fonte de energia que sabidamente desperta forças — natu

rais e sociais — incontroláveis.

No Brasil, o processo de reavaliação da indústria nu

clear começou quando dois dos oito reatores planejados*— An

gra II e Angra III — jã encontravam-se em construção {*). Era

1981 os projetos que se iniciavam para mais dois reatores fo

raio adiados até futuras deliberações. Durante o governo Fi

gueiredo, as mudanças administrativas nos órgãos responsáveis

pela política nuclear brasileira - CNEN e Nuclebrás -. conduzira»

a avaliações mais realistas.das possibilidades e conveniências

era prosseguir .o programa original, mas adiaram qualquer décjL

são definitiva em relação ao acordo cora a Alemanha.

Foi a Nova Republica a encarregada de tomar estas de

cjLsões .(*) . Uma Comissão foi fornada, presidida pelo prof. Jo

sé Israel Vargas, encarregada de fazer um balanço global do es

tado do programa nuclear brasileiro c elaborar soluções exeqíií

(') Veja Rex Nazareth Alves, "Política Nacional de Energia Nju•clear", Conferência na Escola Superior de Guerra, 29 dejulho de 1983.

(*) Paulo S. Wrobel, "A Política Nuclear da Nova Republica" inBrasil, perspectivas internacionais n9 5, jan/fev de 1985.

veis. Apôs meio ano de estudos, a Comissão entregou um docu

mento ao governo contendo propostas de autonomia e independên

cia no campo nuclear (5). A reflexão sobre a utilização des

tes termos — autonomia e independência — mais do que quais_

quer outras questões constituíram o pano de fundo desta tese.

Se de um lado as recomendações desta Comissão parecem indicar

a conquista no campo nuclear daquela mentalidade "guerrilhei

raN desenvolvida por Adler, por outro lado a natureza do tema

coloca questões -que só uma ampla participação da sociedade po

de resolver. Se temos hoje um consenso de que a energia é um

bem da vida moderna que não podemos prescindir e para isto te

mos que incorrer em custos sócio-ambientais — presentes tam

bem na exploração.do petróleo, das hidroelétricas e da agri

cultura extensiva — isto não deve ser motivo para raciona li za_

ções e decisões tenocrãticas. A sociedade tem o direito e o

dever de se fazer ouvir, seja por que meio for e influir nas

decisões.

_ Os complexos e caros equipamentos para a construção

de centrais nucleares, demandam recursos financeiros altos que

podem ser usados alternativamente para outras carências e d£

mandas sociais. Portanto, a associação feita no período dos

grandes projetos nacionais — amparada pela auto-suficiência do

discurso do Brasil potência — entre autonomia, independência,

soberania, resistência às pressões externas e uma política

centralizadora de decisões não pode ser aceita. Não se trata

(»') William Waak, "0 sonho da autonomia nuclear"* Jornal doBrasil, 27/4/1986.

de termos ilusões sobre a natureza do regime polxtico e da

participação de amplos setores em seu processo decisôrio, pois

o estado moderno ê, por definição, centralizador. Isto não ira

pede que lutemos pela democratização e discussão pública do te

ma nuclear de forma a contribuir para a perda da camada de s«s

gredo que sempre o envolveu. Torná-lo uma fonte e um resulte*

do da autonomia nacional exige primeiro um consenso a favor de

sua aceitação como legxtimo meio de produção energética ou a

bandonã-lo em favor de outras soluções. Neste caso, o debate

publico assume seu lugar como um passo concreto na direção da

independência e da autonomia nacional.

BIBLIOGRAFIA

/ • - . •

Documentos

Brasil, Congresso Nacional. Diário do Congresso Nacional -14/09/1972: projeto de Decreto Legislativo n9 18 de1972 - Aprova o texto do Acordo de Cooperação Referente aos Usos Civis da Energia Atômica, celebradoentre os Governos da República Federativa do Brasile dos Estados Unidos da América.

Brasil, Congresso Nacional. Diário do Congresso Nacional -12/03/1977: O Programa Nuclear Brasileiro.

Bresil, Escola Superior de Guerra. • Conferência . de Alves,Rex. N. *- "Política Nacional de Energia Nuclear". Conferência na Escola Superior de Guerra,29/7/1983.

EUA. Congresso. HEARING before the Subcommittee on International Security and Scientific Affairs - Ninety--Fourth Congress, second session, 7 de junho de 1976:

; Nuclear Proliferation and Reprocessing.

EUA. Congresso. HEARING before the Subcommittee on International Security and Scientific Affairs - Ninety-SixCongress, first session, 16 de julho de 1979: TheSecond Nuclear Nonproliferation Treaty Reviev/ Confgrence: Implications of Recent Nuclear Developments.

EUA. Congresso. HEARING before the Subcommittee on International Economic Policy aid Trade - Ninety-Fifth Congress, second session, 26 de setembro e 3 de outubrode 1978: Nuclear Fuel Transfer for Reprocessing Pending Cases.

EUA. Agência de Controle de Armamentos e Desarmamento, unitedStates Arms Control and Disarmament Agency: Arms Con,trol and Disarmament Agreements, Texts and Historiesof Negotiations. 1982 edition, Washington DC.

Arquivo

EUA. Universidade de Princeton. Arquivo de Bernard Baruch(As cartas deste arquivo utilizadas encontram-se noCPDOC/FGV, Rio de Janeiro)

CPDOC/FGV, Rio de Janeiro - Historia Oral

ARCHER, Renato - Depoimento, 1977/1978, Rio, FGV, 1979 (mimeo).

CPDOC/FGV-FINEP, Rio de Janeiro - História da Ciência no Brasil - Acervo de Depoimentos;

Francisco de Magalhães Gomes - 27/12/1976José Goldenberg - 29/12/1976José Israel Vargas - 01/07/1977Jagues Danon - 14/07/1977Jayme Tiomno - 26/04/1977Oscar Sala - 25/01/1977

Jornais Consultados• • • !

Estado de São PauloFolha de São PauloJornal do BrasilNew York Times

Artigos de Jornal

BERGKR, John J. iJornal do Brasil 7 6/2/1977: "A Mudança na Casa Bran

ca".

BERTRAN, ChristophJornal do Brasil - 2/2/1977: "Proliferação Nuclear".

BROWNE, Malcolm W.The New York Times - 14/7/1985: "In 40 Years of Nu

clear Peace Los Alamos Learns to Live With theBomb".

CERQUEIRA LEITE, Rogério CezarJornal do Brasil - 16/1/1978: "Fábula Nuclear".

DANTAS MOTA, Lourenço (coord.)Estado de São Paulo - 2/09/1979: "Entrevista com Mar

ceio Damy".

GALL, NormanEstado de Sao Paulo - 13/6/1976: "O que dará ao Bra

sil o Acordo Nuclear". '•""

Estado de São Paulo - 20/6/1976: "Acordo Nuclear Pode Levar a um Impasse". • r*

Jornal do Brasil - 3/12/1978: "O Impasse Nuclear".

GOLDENBERG, JoséEstado de São Paulo - 22/8/1975: "Analise do Acordo. Nuclear Brasil-Alemanha".

Estado de São Paulo - 22/4/1979: "Desvenda-se o Mistério do Acordo Nuclear". ""

Estado de São Paulo - 17/7/1985: "o Acordo, dez anosdepois (1975-1985)".

GURGEL.DO AMARAL, JorgeFolha de São Paulo - 29/10/1967: "Este ê o Novo Açor

. do Nuclear Brasil-EÜA". "*

HILTON, StanleyEstado de São Paulo - 10/6/1977: "Precursores do A

cordo nuclear teuto-brasileiro".

SÂ13ATO, Jorge A. "Jornal do Brasil - 3/7/1977: "Acordo Nuclear, uma VJL

são Argentina".

r* • • •

» *

Revistas

VEJA - 20/09/1972; 12/06/1974; 23/10/1974 e 13/11/1974.

BULLETIN of the Atomic Scientists - August 1985; December 1985.

CIÊNCIA E CULTURA (Suplemento) - "A SBPC e a Energia Nuclear"vol. 33, 1981.

Livros» Artigos e Teses

ADLER, Emanuel1984 - "The Power of Ideology: Computer and Nuclear Energy-

Development in Argentina and Brazil", paper do International Seminar, "Development and Scientific andTecnological Research Effectiveness", RJ.

•• »

ALLISON, Graham1971 - Essence of Decision; Understanding the Cuban Missj.

le Crisis, Little Brown & Companhy, Boston

ARON, RaymondI975 - República Imperial - Os Estados Unidos no Mundo do

Pos-Guerra. Zahar Editores, RJ.

BACHA, Claire Savit1971 - A Dependência nas Relações Internacionais. Tese de

Mestrado. IUPERJ, RJ (mimeo).

1

BALDWIN,. David A.1979 - "Power Analysis and World Politics: New Trends vejr

sus Old Tendencies" in World Politics, n9 31, Jan.

BANDEIRA, Muni21973 - Presença dos Estados Unidos no Brasil. Civilização

. Brasileira, RJ.

BELOCH, Israel e ABREU, Alzira Alves de (coords.)19B4 - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro 1930-1933.

FGV, CPDOC, editora Forense-Universitãria/FINEP, RJ.

BERNSTEIN, Barton J.1975 - "Roosevelt, Truman and the Atomic Bomb, 1941-1945: A

Reinterpretation" in Political Science Ouatcrly. vol.90, n9 1, Spring.

BIASI, Renato de1979 - A Energia Nuclear no Brasil. Biblioteca do Exército

Editora, RJ.

BOARDMAN, Robert e KEELEY, James1983 - "Nuclear Export Policies and the Non-proliferation

Regime" in Nuclear Exports and World Politics, Pollcy and Regime^ St. Martin's Press, NY.

BOYER, Paul1985 - "Social Scientists and.the Bomb" in Bulletin of the

Atomic Scientists. Vol. 41, n? 9, Out"! !

BULL, Hedleys/d r. Teoria Internacional; Em Defesa da Escola Clássica.

. Textos de Aula, Universidade de Brasilia, editora.»

.CAPORASO, Games1978 - "Dependence, dependency and power in the global sys

tem: a structural and behavioral analysis" in International Organization, n9 32, Winter. ""

CARDOSO, Fernando Henrique1972 - Notas sobre Estado e Dependência. Cadernos CEBRAP,

n9 11, PS.

CARDOSO, Fernando Henrique e FALETTO, Enzo1969 - Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Za

har Editores, RJ.

1976 - America Latina; Processo Interno Y Orden Mundial.FLACSO, Santiago.

CARTER, Jimmy1976 - "Three Steps Toward Nuclear Responsibility" in Bullj>

tin òf the Atomic Scientsts, Oct.

1982 - Keeping Faith, Banton Books, NY.

CARVALHO, José Murilo de1976 * A Política Cientifica e Tecnológica do Brasil. Rel£

tõrio de Pesquisa, RJ (mimeo).

CASTRO, J.A. de Araújo1982 - Araújo Castro. Editado por Rodrigo Amado, Editora

Universidade de Brasília.

CERQUEIRA LEITE, Rogério Cezars/d - "Autonomia e Cooperação no Desenvolvimento TecnológjL

co Brasileiro", ILDES, RJ.

CHRISTOPHER, Warren1982 - Ceasefire Between the Branches: A Compact in «Foreign

Affairs", in Foreign Affaris, Summer.

COHN, Gabriel1968 - Petróleo e Nacionalismo. Editora Difel, SP.

COMMAGER, Henry S. (ed.)1973 - Documents of American History, Englewood Cliffs,Preri

tice-Hall, New Jersey.

COURTNEY, William H. •1980 - "Brasil and Argentina: Strategies for American Diplo

- macy" in Non-proliferation and US Foreign Policy (Y?»gerf Jeseph editor). The Brookings . Institution,Washington DC.

EBINGER, Charles K.1978 - International Politics of Nuclear Energy.The Washing

ton Papers, Georgetown University, Washington DC.

FERREIRA LIMA, Heitor1976 - História do Pensamento Econômico no Brasil. Compa

nhia Editora Nacional, SP. .

FISHLOW, Albert1982 - "Brazil: The Case of the Missing Relationship" in

Foreign Affairs, n9 4, Spring.

FONTAINE, Roger1977 - "The End of a Beautiful Relationship" in Foreign Po

• ' licy, n9 28, FALL. "*

FREEDMAN, Lawrence1983 - The Evolution of Nuclear Strategy. The Macraillan

Press, London.

CADDIS, John Lewis1972 - The United States and the Origins of the Cold War

1941-1947. Columbia University Press, NY.

1982 - Strategies of Containment. Oxford University Press,NY.

GADDIS, John Lewis e HERTZOLD, Thomas (eds.)1978 - Containment, Documents on American Policy and Strate

qy 1946-1950. Columbia University Press, NY. *"

(

. GALL, Norman* 1980 - "Átomos para o Brasil" in As Multinacionais 2 Os Limj( tes da Soberania. (Getülio Carvalho coord.) Ed. Fm/ daçào Getülio Vargas, RJ. \~< •( GERBER, Larry G.

f 1982 - "The Baruch Plan and the Origins of the Cold War" ii1 . Diplomatic History, vol. 6, n9 1, Winter.(

• •'• GIROTTI, Carlos A.I . • . 1984 - Estado Nuclear no Brasil. Editora Brasiliense, SP,( .

^ GOES, Walder de( 1978 - O Brasil do General Geisel. Editora Nova Fronteira,( / RJ.

(( GOLDENBERG, José( 1978 - Energia Nuclear no Brasil; As Origens das Decisões.1 HUCITEC, SP.<

GOLDSCHMIDT, Bertrand e KRATZER, Myron^ 1982 - "Peaceful Nuclear Relations: A Study of the Crcatioi( and the Erosion of Confidence" in World Nuclear Ene;( SX (Ian Smart, ed.) John Hopkins University Press]

London. -(( " *

GORMILY, James L.1 1984 - "The Washington Declaration and the 'Poor Relation':( . Anglo-American Atomic Diplomacy, 1945-46" in Dipli( r* roatic History, vol. 8, n9 2, Spring.

( GREEN, David1970 - "The Cold War Comes to Latin America" in Politico

* .-.; and Policies of the Truman Administration (B.J.Berm( *'' . tein editor). Quadrangle Books, Chicago.

( HÃCKEL, Erwin( 1983 - "The Politics of Nuclear Exports in West Germany" ir

Nuclear Exports and World Politics, Policy and Regj* me, St. Martin's Press, NY.

HIRSCHMAN, Albert( 1981 - Essays in Trespassing, Economics to Politics anc( ' Beyond. Cambridge University Press, CambridgeJ

HIRST, Monica"In»;çaoPOCS (mimeo).

1ST, Monica1980 - "Impasses e Descaminhosjia Política de Mio Prolifera

ção Nuclear". Comunicação 49 Encontro Anual da AN

HIRSTr Monica (coord.)1982 - Ação e Pensamento da Política Externa Brasileira; O

segundo Governo Vargas"! CPDOC/FGV, RJ.

HOFFMANN, Stanley. 1977/78 - *The Bell of Good Intentions" in Foreign Policy

n9 29, Winter.

IANNI, Octãvio1973 - Diplomacia e Imperialismo na América Latina. Cader

nos CEBRAP, n9 12, SP.

KAISER, Karl1978 - "The Great Nuclear Debate; German-American Disagree-

ments" in Foreign Policy, n9 30, Spring.t

KAPUR, Ashok1983 - "Nuclear Energy, Nuclear Proliferation and National

Security: Views from the South" in Nuclear Exports. and World Politics, Policy and Regime"! St. Martin'sPress, NY.

KELLEHER, Catherine M.1975 - Germany and the Politics of Nuclear Weapons, Columbia

r* university Press, NY.

KEYLOR, William R.1984 - The Twentieth-Century World, An International Histo.

tf' ry_. Oxford University Press, NY.

LAFER, Celso1979 - "Política Exterior Brasileira: Balanço e PerspectjL

va" in Dados, n9 22. ""*

LEAL, Maria Cristina1982 - Caminhos e Descaminhos do Brasil Nuclear: 1945-1958.

Tese de Mestrado. IUPERJ, RJ (mimeo).

LEFEVER, Ernst W.1979 - Nuclear Arms in the Third World. The Brook ings In£

titution, Washington DC.

LEITE LOPES, J.1969 - Ciência e Libertação. Paz e Terra, RJ.

1978 - "Atoms in the Developing Nations" in Bulletin of theAtomic Scientists, April. ""

LELLOUCH, Pierre1979/80 - "International Nuclear Politics" in . Foreign Af

fairs, vol. 58, n9 2, Winter.

1981 - "Breaking the Rules without quite Stopping the Bomb:European Views" in International Organization, vol.35, nQ 1, Winter.

it

LELLOUCHE, Pierre (editor)1983 - Paciflsme et Dissuation: La Contestation Pacifiste

et l'Avenir de Ia Securité de 1* Europe! InstituteFrançais de Relations Internacionales, Paris.

LUDDEMAN, Margarete K.1978 - Nuclear Technology from West Germany: A Case of Pis

harmony in US-Brazilian Relations. Latin AmericanStudies Program, Occacional Paper n? 1, GeorgetownUniversity,.Washington DC.

1983 - "Nuclear Power in ,Latin America" in Journal of Iiteramerican Studies and World Affairs, vol. 25, n9

• 3, August. ,

MABRYv Jr., Ralph T.1981 - "The Export Policies of the Major Suppliers", appendix

B do livro de Joseph Yager, International Coopera,tion in Nuclear Energy, The Brookimja Institution,

/£!, Washington DC.

MACHADO, Antonio- D. (coord.)1980 - Energia Nuclear e Sociedade. Paz e Terra, RJ.

MANDELBAUM, Michael1977 - "A nuclear exporters cartel" in Bulletin of the Ato

mie Scientists, Jan.

1979 - The Nuclear Question: The United States and NuclearWeapons, 1946-1976. Cambridge University Fress, Cambridge. ""••

MARTINS, Carlos Estevara1972 - Brasil-Estados unidos, dos 60 aos 70. Cadernos CE

BRAP, n9 9, SP. t~*\

MARTINS, Luciano ,1976 - Pouvoir et Développement Êconomique. Editions An

thropos, Paris. . ~*

MEEK, George1975 - "US Influence in the Organization of American States"

in Journal of Interamerican Studies and World Affairsvol. 17, n9 3, Aug.

MILES. Jr., Rufus E.1985 - "Hiroshima: The Strange Myth, of Half a Million Ameri

can Lives Saved" in International Security, vol. 10,n9 2, Fall.

MOON, Bruce1985 - "Consensus or Compliance? Foreign policy change and

external dependence" in International Organization ,vol. 39', n? 2, Spring.

MOREL, Regina R. de M.1975 - Considerações Sobre a Política Científica do Brasil.

Tese de Mestrado, Universidade de Brasília (rairaeo).

MOURA, Gerson1980 - Autonomia na Dependência. Editora Nova Fronteira, RJ.

19,84 - O Aliado Fiel: A Natureza do Alinhamento Brasileiroaos Estados Unidos durante e após a Seçjunda-GuerraMundial, no Contexto das Relações Internacionais. Tese de Doutoramento, Universidade de Londres (mimeo).

1986 - A Campanha do Petróleo. Editora Brasiliense, SP.

MOURA, Gerson; KRAMER, P. e WROBEL, P.1985 - "Os caminhos (difíceis) da autonomia: As relações Bra

sil-EUA" in Contexto Internacional n9 2, julho-dezembro. "~

MYERS III, Desaix1978 - 0 Debate Sobre Energia Nuclear. Editora Cultrix, SP.

MYERS, David J.1984 - "Brazil: Reluctant Pursuit of the Nuclear Option" in

Orbis, Winter.

NAD, Henry R.1982 - National Politics and International Technology.Johns

Hopkins University Press. Baltimore. - -

NAZARIO, Olga1983 - Pragmatism in Brazilian Foreign Policy; The Geisel

Years» 1974-19797 Tese de Doutoramento, UnJLversidade de Miami, Florida (mimeo).

PACH, Chester J. Jr.1982 - "The Containment of US Military Aid to Latin* America,

1944-49" in Diplomatic History vol. 6, nQ 3# Summer.

PATTERSON, Walter C.1982 - Lá Energia Nuclear, H. Blume Ediciones, Madrid.

PEREZ-DIAZ, Fernando1979 - "La controverse nuclêaire aux États-Unis" in Nuclêg

polis: Matériaux pour 1*analyse d'une socleté nucleaire. Prssse Universitaires de Grenoble. ""

PINGUELLIROSA, Luiz1979 - "Evolução da Política Nuclear Brasileira" in Encon

• tros Cora a Civilização Brasileira n9 7, jan.

POLLARD, Robert A.1985 - "Economic Security and the Origins of the Cold War:

Bretton Woods, the Marshall Plan, and American Rearmoment, 1944-50" in Diplomatic History vol. 9, n9 37Summer.

t; •

PONEMAN, Daniel1982 - Nuclear Power in the Developing World. George Allen

& Unwin, London..

1984 - "Nuclear Proliferation Prospects for Argentina" inOrbis, Winter.

POTTER, William C.1982'- Nuclear Power and Nonproliferation, An Interdlscipli

nary Perspective. O.G. * H., Cambridge.

PRINGLF., Peter e SPIGELMAN, James1981 - The Nuclear Barons, Avon Books, NY.

RABE, Stephen G.1978 - "The Eclusive Conference: United States Economic Re

lations with Latin America, 1945-1952" in DiplomaticHistory vol. 2, n9 3, Summer.

KEDICK, John R.1981 - "The Tlatelolco Regime and Nonproliferation in Latin

America" in International Organization, vol. 35, n91, Winter.

ROMERO, Anibal1979 - Estratégia y Política en la Era Nuclear, Editorial

Tecnos, Madrid.

SABATO, Jorge A.1978 - "El plan nuclear brasileno y la bomba atômica" in Es.

. tudios Internacionales, n9 41, jan/mar.

SÃBATO, Jorge A. e RAMESH, Jairman1980 - "Programas de Energia Nuclear en el mundo en desar

rollo: su fundamento e impacto" in Estúdios Internacionales, n9 49, jan/mar. "

SANTOS, Theotônio dos et alli1973 - La Dependência Político-econômica de America Latina.

Sxglo XXI editores, México.

SCHWARTZMAN, Simon1979 - Formação da Comunidade Científica no Brasil. FIIIEP/

Cia. Edit. Nacional, RJ/SP.

SELCHER, Wayne A. (ed.)1981 - Brazil in the International System; The Rise of a Mid

die Power. Westview Press, Colorado.

SOAPES, Thomas F.1980 - "A Cold Warrior Seeks Peace: Eisenhower's Strategy

for Nuclear Disarmament" in Diplomatic History, vol.4, n9 1, Winter.

SOARES DE LIMA, Maria Regina. 1986 - "The Nuclear Agreement: 'Breaking the Rules Without

Quite Getting the Bomb". Capítulo I da tese de Doutoramento, Vanderbilt university, Nashville (mimeo).

SOARES DE LIMA, M.R. e HIRST, M.1981 - "Estados Unidos y America Latina: Cerrando una época

en decomposiciõn" in Estúdios Internacionales, nç 56out/dez.

SOARES DE LIMA, M.R. e MOURA, G.1982 - "A Trajetória do Pragmatismo" in Dados 25 n9 3.

SPECTOR, Leonard S.1984 - Nuclear Proliferation Today. Vintage Books, NY.

TAVORA, Juarez1958 - A tomos para o Brasil. José Olyrapio Editora, RJ.

TILLAPAUGH, J.1978 - "Closed Hemisphere and Open World? The Dispute Over

Regional Security at the UN Conference, 1945" in IXi, plomatic History vol. 2, n<? 1, Winter. """*

TRASK, Roger R.1977 - "The Impact of the Cold War on United States-Latin A

merican Relation, 1945-1949" in Diplomatic Historyvol. 1, n9 3, Summer.

1978 - "George F. Kennan's Report on Latin America (1950)"in Diplomatic History vol. 2, n9 3, Summer.

-1984*- "Spruille Braden versus George Mosscrsraith - World' War II, the Cold War, and Argentine Policy, 1945-

-1947" in Journal of Infceramerican Studies and WorldAffairs vol. 1W, n9 1, Feb. *

/ • • ; -

WESSON, Robert1981 -The United States and Brazil, Limits of Influence.

Praeger, NY.

WONDER, Edward1977 - "Nuclear Commerce and Nuclear Proliferation: Germany

and Brazil, 1975" in Orbis, Summer.

1977 - Nuclear Fuel and American Foreign Policy, Muitilate.ralizatlon for Uranium Enrichment. Wcstview Press.,Colorado.

163

WROBEL, Paulo S.1984 - "Política Nacional de Informática: O desafio está lajn

çado" in Brasil, Perspectivas Internacionais n^ \4tnov/dez. IRI, PUC/RJ.

1985 - "A Política Nuclear da Nova República14 in Brasil,Perspectivas Internacionais n9 5, jan/fev. IRI, PUC//RJ.

1985 — A Esquerda e a Bomba; Notas Sobre o Movimento PacjLfista Europeu. IRI Textos n9 6, IRI, PÜC/RJ.

YAGER, Joseph A. e STEIMBERG, Eleanor B.1974 - Energy and US Foreign Policy. Ballinger, Cambridge.

YERGIN, Daniel1978 - Shattered Peace; The Origins of the Cold War and the

National Security State. Houghton Mifflin, Boston.

/ • . '