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GIZELY CESCONETTO DE CAMPOS PATRIMÔNIO EDIFICADO DE LAGUNA: CONHECER, INTERPRETAR E PRESERVAR Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ci- ências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Mário Guidarini. Tubarão 2007

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GIZELY CESCONETTO DE CAMPOS

PATRIMÔNIO EDIFICADO DE LAGUNA:

CONHECER, INTERPRETAR E PRESERVAR

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ci-

ências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa

Catarina como requisito parcial à obtenção do título de

Mestre em Ciências da Linguagem.

Orientador: Prof. Dr. Mário Guidarini.

Tubarão

2007

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GIZELY CESCONETTO DE CAMPOS

PATRIMÔNIO EDIFICADO DE LAGUNA:

CONHECER, INTERPRETAR E PRESERVAR

Esta dissertação foi julgada adequada à obtenção do tí-

tulo de Mestre em Ciências da Linguagem e aprovada

em sua forma final pelo Curso de Mestrado em Ciências

da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catari-

na.

Tubarão, (dia) de (mês) de 2007.

______________________________________________________

Professor e orientador Mário Guidarini, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Profª. Fabíola Holanda Barbosa, Drª.

Universidade Federal de Rondônia

______________________________________________________

Profª. Jussara Bittencourt de Sá, Drª.

Universidade do Sul de Santa Catarina

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À família.

A meus grandes amores: „Pite‟ e Francisco.

Fontes inesgotáveis de energia, alegria e amor.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é ato de reconhecimento da gratidão dedicada a alguém por outro ou

outros. Neste caso, gratidão conferida por mim a várias pessoas, todas indispensáveis e impor-

tantes para concretização desta dissertação. Portanto, agradeço:

Ao meu marido, Pite, e filho, Francisco, pela compreensão, paciência e amor.

Aos meus pais, José Silvestre e Ilma, pelo apoio incondicional.

A tia Selva, “Pepa”, pela disponibilidade e prontidão de 24 horas, além do carinho

e das gargalhadas contagiantes.

A minha mana Gianny, pelas dicas valiosas, e ao meu compadre Cláudio,que jun-

tos possibilitaram a alegria da presença em nossas vidas das gêmeas Laura e Beatriz.

Ao meu mano “Tio Zé”, por existir, resistir bravamente às surpresas da vida e ad-

vogar em meu favor.

Aos meus sogros “Nunão e Miná” pela torcida.

Aos meus amigos pelo desejo de comemorarmos a liberdade.

A funcionária de meu lar, Denise por me liberar dos „sufocos‟ domésticos.

A equipe do ETEC-Laguna: amiga „chefe‟ Ana Paula, por ser companheira e soli-

dária, a Leila, voluntária para todas as horas, com direito a gráficos e ilustrações, e a Fátima

pelos inúmeros favores prestados.

Ao amigo Marega, pelas informações, empréstimos e pelo exemplo de vida dedi-

cada, a uma grande paixão, Laguna.

Aos colegas, chefias e a própria instituição mãe, IPHAN, que acolhe e permite o

crescimento pessoal, em especial a Cristiane Galhardo Biazin, solidária no apuro.

Aos colegas, professores e amigos do Mestrado Ciências da Linguagem, da UNI-

SUL, que de fato partilharam suas vidas e conhecimentos comigo, provocando um verdadeiro

encontro.

As agentes comunitárias do Plano de Saúde Familiar de Laguna, pela contribuição

valiosa em cadastrar os colaboradores: Ana Cristina Fernandes Neves e Rita Maria Machado

Lang. Principalmente, a Rosane da Silva Coelho, que idealizou e nos colocou em contato com

as agentes comunitárias.

Aos colaboradores da pesquisa, que a tornaram possível, aqui chamados de forma

pessoal e carinhosa: Dona Amelinha, Nico, Conceição, Dirlene, Seu Eduardo e Dona Liane,

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Gelza, Dona Helena, Lenira, Luciano, Marcília, Maria Guerreira, Dona Natércia. Suas contri-

buições foram valiosas, exemplos concretos de solidariedade.

Em especial, ao meu orientador, Professor Mário Guidarini, pela voz mansa e

calma, pela firmeza e sabedoria, pelo equilíbrio, e tantas outras qualidades silenciadas no sor-

riso, e na timidez. Um verdadeiro mestre. Inesquecível.

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Assim como há gente que tem medo do novo,

há gente que tem medo do antigo. Eu defende-

rei até a morte o novo por causa do antigo e

até a vida o antigo por causa do novo. O antigo

que foi novo e tão novo como o mais novo. O

que é preciso é saber discerni-lo no meio das

velhacas velharias que nos impingiram durante

tanto tempo.

(Augusto de Campos, 1978)

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RESUMO

O Centro Histórico de Laguna, patrimônio nacional, é delimitado por uma poligonal de tom-

bamento. Notamos, pela experiência de trabalho no Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-

tico Nacional, indícios de rejeição ao patrimônio pelos moradores da área tombada. Para

compreendermos esta realidade, selecionamos uma amostra de 13 moradores visitantes do seu

próprio bairro e sítio histórico. Em grupo e num ambiente fechado relataram suas observações

antes e após intervenção pedagógica. Este trabalho de campo foi realizado em três semanas,

um dia por semana. A intervenção aconteceu no segundo encontro. Nosso objetivo foi verifi-

car o nível de percepção, interpretação e produção de novos significados através da amostra-

gem de moradores (parte pelo todo), pela mediação da pesquisadora. Fundamentamos esta

pesquisa na percepção semiótica proposta por Charles Sanders Peirce. Utilizamos como me-

todologia e técnica dessa pesquisa de campo em grupo a História Oral Temática em três ní-

veis. Os relatos revelaram aumento qualitativo após a intervenção e apontaram alternativas

para maior identificação e conseqüente preservação do Centro Histórico.

Palavras-chave: Patrimônio. Semiótica. Preservação.

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ABSTRACT

The Historical Center of Laguna is a registered national patrimony under government trust.

Through my work experience in the National Institute for the Historical and Artistic Patrimo-

ny, I noticed a certain rejection to the preservation site by the local residents. To understand

this reality, a sample of 13 visiting inhabitants among those living in the preservation site was

selected. In group and behind closed doors, they reported their observations before and after a

pedagogical intervention. This field work was carried through in three weeks, one day per

week. The pedagogical intervention occurred in the second meeting. The objective was to

verify the level of perception, interpretation and production of new meanings by a sample of

inhabitants (part of total), through the researcher‟s mediation. This research is grounded on

the perception of semiotics as proposed by Charles Sanders Peirce. Thematic Oral History in

three levels was engaged in this field research as methodological procedure and technique.

The reports of the participants revealed a qualitative increase after the pedagogical interven-

tion and pointed out alternatives for greater identification and consequently better preserva-

tion of the Historical Center.

Keywords: Patrimony. Semiotics. Preservation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Delimitação da poligonal da área tombada do Centro Histórico. ........................... 13

Figura 2 – Centro Histórico de Laguna: o núcleo original. Visual da área de terra plana

circundada por morros. Destaque aos quatro pontos conformadores do arruamento. ...... 38

Figura 3 – Relação do número de colaboradores e referida porcentagem em nível de

primeiridade, segundidade e terceridade no primeiro encontro. ...................................... 88

Figura 4 – Relação do número de colaboradores e referida porcentagem em nível de

primeiridade, segundidade e terceridade no terceiro encontro. ........................................ 89

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tabela comparativa dos assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em

primeira ordem. ................................................................................................................ 81

Tabela 2 – Tabela comparativa: assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em

segunda ordem. ................................................................................................................. 83

Tabela 3 – Tabela comparativa: assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em

terceira ordem. .................................................................................................................. 87

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................12

CAPÍTULO PRIMEIRO .....................................................................................................................19

QUADRO TEÓRICO METODOLÓGICO DE CHARLES SANDERS PEIRCE ........................19

CAPÍTULO SEGUNDO ......................................................................................................................28

MÉTODO E TÉCNICA DA HISTÓRIA ORAL TEMÁTICA .......................................................28

MEMORIAL DESCRITIVO .......................................................................................................................31 CENTRO HISTÓRICO DE LAGUNA ........................................................................................................35

CAPÍTULO TERCEIRO ....................................................................................................................46

ESTUDO DE CASO DE GRUPO .......................................................................................................46

DESAFIOS DE INTERPRETAÇÃO .............................................................................................................49 RELATOS GRAVADOS E TRANSCRIADOS ...............................................................................................50

CAPÍTULO QUARTO ........................................................................................................................81

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RELATOS ....................................................................................81

CONCLUSÃO ......................................................................................................................................94

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................97

ANEXOS .............................................................................................................................................100

ANEXO A – MAPA DO TRAJETO .................................................................................................101

ANEXO B – CARTA DE CESSÃO ..................................................................................................102

ANEXO C – APRESENTAÇÃO EM LÂMINAS DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM POWER

POINT..................................................................................................................................................103

ANEXO D – FOTOCÓPIAS DAS CESSÕES REGISTRADAS EM CARTÓRIO .....................117

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INTRODUÇÃO

O Centro Histórico de Laguna possui tombamento, considerado tardio pelos pro-

fissionais em preservação, suas edificações e paisagem sofreram alterações, decorrentes dos

automóveis, do comércio a varejo e demais pressões da modernidade. Por se tratar de um cen-

tro histórico tombado em 1985, praticamente, no final do século XX, encontramos neste espa-

ço urbano estilos arquitetônicos bem marcados como o luso-brasileiro, o eclético, o art deco,

os de influência moura, germânica e itálica, e edificações com padrão estético duvidoso.

Os moradores estão mais familiarizados com idéias e ações de revitalização, rea-

bilitação e restauração propostas ao Centro Histórico. Estes conceitos possuem em comum

mais do que o simples prefixo „re‟, pois implicam nova vida, nova habitabilidade e nova cons-

tituição. A idéia contida no „re‟ pauta-se na preservação de um passado, agora não condizente

com as novas necessidades impostas pelo presente tecnológico globalizado e espetaculariza-

do. 1 Mas, ao mesmo tempo em que os moradores buscam acatar o patrimônio, o anulam.

Pois, dar nova vida, habitabilidade e constituição significa que a realidade patrimonial não é

adequada, nem aos defensores do patrimônio e nem aos moradores.

Esclarecemos que o tombamento do Centro Histórico de Laguna decorreu “(...) da

escolha criteriosa do sítio; pelo papel que o povoado pode desempenhar, em virtude de sua

localização, no processo de expansão das fronteiras meridionais; e, sobretudo, pela forma ur-

bana assumida (...)” (FRANCO, 1995, p.9). A área tombada é delimitada por uma poligonal

que compreende “o centro histórico de Laguna em seu acervo paisagístico constituído pelo

sistema natural que o envolve, pelo conjunto de logradouros em seu traçado e dimensão, pelo

cais junto à lagoa de Santo Antônio e pelo conjunto de edificações em sua volumetria, em sua

ocupação do solo e em suas características arquitetônicas, que expressam a continuidade da

evolução histórica do núcleo urbano original” (FRANCO, 1995, p.16).

1 Guy Debord no livro “A sociedade do espetáculo” diz que “o conceito de espetáculo unifica e explica uma

grande diversidade de fenômenos aparentes. Suas diversidades e contrastes são as aparências dessa aparência

organizada socialmente, que deve ser reconhecida em sua verdade geral. Considerado de acordo com seus

próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana – isto é, social

– como simples aparência. Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo o descobre como a negação visí-

vel da vida; como negação da vida que se tornou visível” (1997, p.16).

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Figura 1 – Delimitação da poligonal da área tombada do Centro Histórico. Fonte: SIMON, Lilian. Documentação e monitoramento de sítios urbanos históricos com apoio do cadastro

técnico multifinalitário e da fotogrametria digital. Estudo de caso: Laguna. 2000. 108p. Dissertação. (Pro-

grama de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PPGEC) Universidade Federal de Santa Catarina. 2000, p.56,

adaptada.

O sítio histórico através de signos não-verbais como arruamento, loteamento, pra-

ças, edificações, cores, materiais construtivos, estilos arquitetônicos, informa sobre seus habi-

tantes, suas preferências, expectativas e memórias. Esta linguagem não-verbal representa a

forma de pensar dos moradores e usuários deste espaço urbano. 2 O Centro Histórico reconhe-

cido como detentor de valor documental, de identidade e memória nacional, representa e fun-

ciona como referência. É signo. No entanto, percebemos através de indícios, obras clandesti-

nas, alterações dos materiais originais, poluição visual, descuido com espaços públicos, que

há um distanciamento do morador com o patrimônio. Vários fatores sociais, econômicos, cul-

turais desencadearam esse afastamento. Em decorrência deles o alvo de nossa pesquisa e o

motivador do problema é a baixa compreensão, por parte dos moradores do Centro Histórico

de Laguna, dos elementos estéticos tradicionais, presentes no espaço urbano tombado.

Portanto, o problema desta pesquisa é a falta de compreensão de como os mo-

radores percebem, interpretam e produzem novos significados acerca do patrimônio

tombado. Assim como diz Augusto de Campos (1978) na epígrafe dessa Dissertação, o que

2 Lucrécia Ferrara em seu livro intitulado “Ver a cidade: cidade, imagem e leitura” (São Paulo: Nobel, 1988)

reúne uma série de trabalhos que possuem a semiótica do ambiente urbano como interesse.

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precisamos é saber discernir o significado do patrimônio “no meio das velhacas velharias que

nos impingiram durante tanto tempo”.

Assim, o aumento das descaracterizações do patrimônio alerta para o estudo do

nível de compreensão, análise das percepções, da produção de significados pelos moradores

do patrimônio edificado, antes e após terem acesso às informações das características estéticas

e constitutivas deste patrimônio. “Essa interpretação das características culturais e informaci-

onais da cidade constitui a contribuição da semiótica aos estudos urbanos”. (FERRARA,

1999, p.19).

Notamos, pela experiência acumulada nos sete anos de trabalho no Escritório

Técnico de Laguna (ETEC-Laguna) da 11ª Superintendência Regional de Santa Catarina do

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (11ªSR IPHAN/SC), indícios de rejei-

ção do patrimônio presentes nos murmúrios dos moradores do Centro Histórico. Desde o

tombamento várias ações de intervenção urbana, revitalização, reabilitação e restauração fo-

ram realizadas, e, mesmo assim, outras tantas são necessárias. O patrimônio edificado não

possui, como dizem os empreendedores, auto sustentabilidade. Com exceção de alguns co-

merciantes e moradores prósperos, os demais moradores não possuem renda para conservar

ou sequer manter seus imóveis. Em geral, os moradores relutam em conservar os traços origi-

nais das construções, adornos, assoalhos, forros de madeira, reboco à cal, ritmo das aberturas,

coberturas de cerâmica, e outros. Pedidos de demolição e substituição de elementos originais

são freqüentes. Além do custo de manutenção, e da idéia de progresso, onde o que é novo é o

melhor, atribuímos à falta de conhecimento acerca do valor da originalidade dos materiais, e

estilos arquitetônicos, causa da baixa preservação.

Estudos relacionados à preservação e aos conceitos do que é patrimônio e como

preservá-lo, são objetos de reflexões em diversos países do mundo. Estes estudos originam

“documentos de caráter científico elaborados para conferir suporte conceitual e difundir a

necessidade da preservação de forma mais ampla” (SIMON, 2000, p. 21).

Sobre Laguna, algumas teses, dissertações, monografias, artigos e livros já discu-

tiram diversos aspectos conceituais. A respeito de sua formação histórica podemos encontrar,

entre outros, João Dall‟Alba, Saul e Ruben Ulysséa, Osvaldo Rodrigues Cabral, Norberto

Ulysséa Ungaretti, autores responsáveis pela construção de discursos sobre Laguna.

Destacamos a leitura da Dissertação de Mestrado de João Batista Bittencourt

(1997) reveladora e confirmadora de entendimento sobre a história como “um olhar perspec-

tivo e parcial, comprometido com o lugar social e a visão de mundo de seus construtores”

(p.193). Os construtores analisados por Bittencourt foram João Johanny, Saul e Rubem Ulys-

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séa, e Osvaldo Rodrigues Cabral que configuraram a identidade histórica de terra da tradição

e da cultura. Bittencourt atenta que estes “artesãos da „condição histórica‟ lagunense tinham

interesses de seus tempos e, no que sugerem não demonstravam qualquer sinal de desejarem

fazer da história um produto de atração turística” (p. 193).

Esta percepção de cidade turística vislumbramos a partir de 1970 até o presente. A

própria condição de patrimônio nacional faz com que caminhemos neste sentido. Hoje o tu-

rismo é apresentado, pelo IPHAN, à comunidade como alternativa viável de sustentabilidade

do patrimônio, não só de Laguna, e demais cidades detentoras de riqueza patrimonial.

Em Laguna, o turismo ainda é tímido. Não existe planejamento e muito menos a-

ções sistêmicas de desenvolvimento pelos poderes públicos e privados. Percebemos visões

antagônicas entre turismo de exploração e de desenvolvimento sustentável, sendo que ambos

carecem de investimentos. Além disso, há a preocupação com a manutenção da vida cotidia-

na. O turismo de exploração, quando atividade dominante, poderá extingui-la. Neste sentido

exemplificamos com o caso polêmico, amplamente divulgado pela mídia, bairro histórico de

Salvador/BA, o Pelorinho. Neste espaço Antônio Carlos Magalhães inicia a revitalização com

uma política de „higienização‟. Retira os moradores de baixa renda para privilegiar a elite e a

ocupação comercial. Desta forma, extingue os legítimos usuários, os moradores.

A lista é “interminável” das cidadelas „pitorescas‟ cuja ocupação é apenas artifici-

al e sazonal e dos centros antigos cujas habitações esvaziam-se pelo excesso de movimento

diurno e, sobretudo, pelo barulho durante as noites de veraneio. O patrimônio não é mais uti-

lizado diariamente por seus herdeiros legítimos. Não desconsideramos o turismo patrimonial.

O importante, portanto, é defendê-lo como categoria de atividade, vinculada a uma política

ativa que conserva e valoriza o patrimônio em benefício de seus habitantes, tendo em vista a

satisfação, a qualidade de vida e o legítimo orgulho de serem guardas de importante herança.

A valorização econômica do patrimônio faz parte, de maneira natural, da tomada de consciên-

cia de seu "verdadeiro" valor, e menos de sua exploração comercial. Essa tomada de consci-

ência possibilita, por exemplo, operações de sensibilização por projetos educativos, seminá-

rios, encontros, jornadas, pesquisas e legislações que discutam, reflitam e desenvolvam condi-

ções de preservação do patrimônio local.

Além do turismo, as próprias necessidades contemporâneas acarretam modifica-

ções e substituições dos materiais originais. Por conseguinte perdem-se evidências das tecno-

logias de construções tradicionais. Conhecimentos sobre „o saber fazer‟ presente nas constru-

ções (documentos concretos), desaparecem. Deste modo, até como conseqüência, surgem

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preocupações que desencadeiam leis e estudos direcionados ao registro, e à documentação do

patrimônio material e imaterial. 3

A Dissertação de mestrado (SIMON, 2000) e a Monografia de especialização

(SIMON, 2002) da arquiteta Lílian Mendonça Simon, apontam respectivamente para criação

de instrumentos documentais e gestão do patrimônio cultural lagunense. Liliane M. F. de Lu-

cena (1998) também na sua Dissertação de mestrado registra a evolução urbana dos espaços

públicos de Laguna desde a colonização até fins do séc. XX. O trabalho acadêmico dos alunos

do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (TAVARES

et al., 1983) pode ser considerado o marco para o tombamento do Centro Histórico de Lagu-

na. Nele os alunos realizaram levantamento arquitetônico e bibliográfico acerca do espaço

urbano e das edificações.

No ano 2005 o IPHAN também realizou em Laguna o Inventário Nacional de

Bens Imóveis (INBI) e o Inventário de Configuração de Espaços Urbanos (INCEU), com o

objetivo de documentar e catalogar o estado de conservação dos imóveis e paisagem. Está em

andamento, também, a elaboração das Normas de Preservação para o Centro Histórico que

funcionará como Plano Diretor, incluídas no Plano Diretor da cidade. Portanto, as normas

serão transformadas em Lei Municipal que por sua vez estabelecerá diretrizes para a ocupação

da cidade, com o objetivo de “identificar e analisar as características físicas, as atividades

predominantes e as vocações da cidade, os problemas e as potencialidades.” 4 Esta ação vem

cumprir com o Estatuto da Cidade, Lei 10.257, que entrou em vigor no dia 10 de julho de

2001, regulamentando artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988. Além disso, espe-

ramos que a definição e publicação das normas de preservação elucidem os usuários sobre o

pensamento das ações propostas pelo IPHAN, e outros órgãos competentes, na intervenção e

preservação do patrimônio.

Verificamos um grande número de trabalhos acadêmicos de conclusão de curso

(arquitetura, história, geografia e turismo, entre outros) que procuraram registrar o patrimônio

3 A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e

técnicas. Instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados, e comunidades, grupos e, em alguns

casos, indivíduos que se reconhecem como parte integrante do patrimônio cultural.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan. Acesso em 28 de

julho de 2007).

4 Encontram-se mais informações do que é plano diretor nos sites: http://plano.itajai.sc.gov.br, e

http://www.estatutodacidade.com.br. Acessos em 23 de maio de 2007.

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lagunense. Além disso, escolas municipais trabalham, timidamente, no sentido de sensibilizar

a valorização do patrimônio, através de projetos educativos formais.

Nossa pesquisa diferencia-se das pesquisas e práticas anteriores já realizadas ao

tornarmos o morador visitante de seu próprio bairro e sítio histórico. Convidamos pessoal-

mente moradores do Centro Histórico para realizarem um trajeto pré-definido, pela pesquisa-

dora, no Centro Histórico, para após, em grupo, num ambiente fechado narrarem suas percep-

ções, interpretações e produção de novos significados antes e após intervenção pedagógica.

Este trabalho de campo foi realizado em três semanas, um dia por semana, sendo a interven-

ção realizada no segundo encontro. Importante informar que estes moradores serão tratados

por nós como colaboradores da pesquisa, pois sem as suas narrativas esta pesquisa não pode-

ria se efetivar. 5

Assim, a presente pesquisa objetiva verificar o nível de percepção, interpretação e

produção de novos significados através de uma amostragem de moradores (parte pelo todo),

pela mediação da pesquisadora. Para isso utilizamos como metodologia e técnica dessa pes-

quisa de campo em grupo a História Oral Temática em três níveis. Ilustramos os resultados

em formas de figuras, por se tratar de uma pesquisa qualitativa. Gravamos os relatos culturais

antes e após a intervenção pedagógica da pesquisadora sobre percepção, interpretação de con-

flitos e produção de novos significados, e encaminhamos ao Laboratório de Imagem e Orali-

dade (LIO) do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET/SC) para

o arquivamento das fitas com os depoimentos, bem como as transcrições finais aprovadas

pelos entrevistados.

Portanto, a presente Dissertação objetiva solucionar o problema encontrado pela

pesquisadora em seu ambiente de trabalho, o IPHAN.

Para isto nos fundamentamos na percepção semiótica proposta por Charles San-

ders Peirce.

No primeiro capítulo, a fundamentação teórica elucida de forma objetiva em parte

a percepção semiótica desenvolvida por Peirce. Afirmamos em parte, pois a semiótica é muito

abrangente na análise da experiência humana. Optamos em apresentar o que de mais relevante

Peirce pesquisou sobre a percepção. Assim, concentramo-nos nas três categorias designadas

pelas expressões: „primeiridade‟, „segundidade‟ e „terceiridade‟. No nosso caso estas catego-

5 Para nós é fundamental pensar o grupo de moradores do Centro Histórico, como colaboradores, pois o termo

define a relação de compromisso entre os envolvidos na pesquisa. Para Meihy (citado por Caldas, 2006) „co-

laborador‟ é uma pessoa que aceita ser entrevistada e ocupa papel preponderante na pesquisa, sem a qual a

pesquisa não se viabiliza.

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rias fundamentam as análises semióticas dos relatos dos moradores do Centro Histórico, parti-

cipantes da amostra.

Os relatos foram categorizados, antes e após a intervenção pedagógica (realizada

pela pesquisadora) para verificarmos o grau de percepção, leitura e interpretação acerca do

patrimônio edificado. As descrições e as análises destes configuram o quarto capítulo. O pri-

meiro capítulo surge da necessidade de esclarecer o leitor sobre a anatomia do signo em ques-

tão, o Centro Histórico, e o patrimônio edificado. Assim, construímos um breve histórico de

Laguna, com ênfase nos aspectos arquitetônicos e tombamento do núcleo original. No segun-

do capítulo aplicamos metodologia da História Oral Temática, ferramenta de coleta das per-

cepções, leituras e interpretações dos moradores. Apoiamos-nos, principalmente, no Manual

de História Oral de José Carlos Sebe Bom Meihy (2005). O terceiro capítulo dedica-se ao

estudo de caso de grupo.

As considerações finais traduzem nossas percepções enquanto pesquisadora da

experiência ocorrida em janeiro de 2007, nos encontros com os moradores, e as interlocuções

provocadas pelas leituras, orientações e bate-papos. Ou seja, a experiência de vida da pesqui-

sadora, com a orientação do curso do Mestrado de Ciências da Linguagem. Surgiram possí-

veis conclusões, provisórias e referenciais. Provisórias, no sentindo de estudo de caso de gru-

po. Referenciais por serem contextuais e por isso aplicáveis sob alguns aspectos as demais

realidades semelhantes ao Centro Histórico de Laguna.

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19

CAPÍTULO PRIMEIRO

QUADRO TEÓRICO METODOLÓGICO DE CHARLES SANDERS PEIRCE

Para iniciarmos caracterizaremos o objeto de leitura a que nos propomos pesqui-

sar: o Centro Histórico de Laguna. Para isto nos apoiaremos em Lucrecia d‟Aléssio Ferrara

que afirma: “a cidade é o lugar do texto não-verbal” (1988, p.12). No espaço da cidade é que

o texto não-verbal se institui. A cidade, em suas características físicas revela aspectos sociais,

econômicos, políticos, culturais e se constitui como linguagem, pois informa e comunica.

Comunica no sentido de estar “em relação com” o usuário (AGUIAR, 2004, p. 13). Nesta

pesquisa o usuário evidenciado é o morador que cotidianamente estabelece um processo soci-

al de interação com a cidade e a cidade com o morador. Enfocaremos aspectos estéticos e

construtivos, mas com isto não estamos excluindo outros enfoques. Procuramos sim uma me-

todologia de leitura não-verbal - a semiótica. 6

Ferrara aponta dificuldades de caracterização do texto não-verbal, “nele não en-

contramos um signo, mas signos aglomerados sem convenções: traços, tamanho, cor, contras-

te, textura, sons, palavras, cheiros, ao mesmo tempo juntos e dispersos porque, imediatamen-

te, nada os relaciona. 7 Esta fragmentação, descontinuidade na emissão sígnica, opera como

uma membrana de opacidade, de neutralidade significativa” (1988, p.9). Ferrara continua a-

firmando que não há substituição do verbal pelo não-verbal os dois coexistem, se relacionam

e complementam-se. O verbal perde sua hegemonia e centralidade para aglomerar-se com o

visual, o tátil, o sonoro, o olfativo, e nessa relação de signos, a sintaxe do não verbal manifes-

ta-se como condução, cuja propriedade está na superação dos limites de cada código particu-

lar pela introdução de informações comparativas entre suas especificidades.

6 Toda representação de um signo em relação ao objeto é sempre parcial, pois não esgota as faces do objeto.

Assim, semiotização envolve a representação parcial do signo em relação ao objeto, mais a relação interpre-

tante que o intérprete, o receptor ou o usuário de um signo estabelecem entre a recepção e o próprio objeto

representado apreendido na sua totalidade. Ao estudo dessa lógica dá-se o nome de semiótica. (FERRARA,

1988, p. 9)

7 Signo: entendido por Peirce como “algo que, para alguém, equivale a alguma coisa, sob algum aspecto ou

capacidade” (PEIRCE, 1980).

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Portanto, a variedade domina essa fragmentação sígnica do não-verbal e “opera

como contraste entre as sintaxes que especificam cada código e provocam intersemiose, a

percepção do receptor, as analogias e similaridades repertoriais” (FERRARA, 1988, p.56). 8

Os registros dos relatos orais dos colaboradores evidenciam esta fragmentação e esta varieda-

de do signo não-verbal. Os moradores atentam para as ruas, calçamento, cores, qualidades e

imperfeições das edificações, ao mesmo tempo os relacionam a outros espaços, e tempos,

lembranças e vivências. Sugerem alterações. Projetam soluções espaciais e políticas para qua-

lificação do espaço em que transitam. Como exemplo, segue trecho de um relato: “O calça-

mento é muito ruim. Esse odor [...] dos esgostos [...] algum tipo de vento dá na cidade e dá

mal estar na gente. Acho que teria de ser tratado, porque acho que não é só as casas que teri-

am que ser cuidadas.” Gelza Olga dos Santos.

Este estudo se propôs a considerar a cidade (Centro Histórico) - texto não-verbal -

como um local de produção cultural, onde seus aspectos físicos e materiais são decorrentes

dos usos e hábitos, ou seja, da dinâmica da vida. Portanto, discuti-la é atentarmos para o seu

contexto e seus usuários. Utilizamos o estudo lógico da linguagem, a semiótica, de Charles

Sanders Peirce (1980, p.51) que procura relacionar três operações básicas: percepção, leitura e

interpretação. 9 A percepção e a leitura do ambiente urbano, instrumentos de interpretação

espacial, trazem para a ação patrimonial parâmetros mais reais sobre os significados do espa-

ço urbano para os usuários (FERRARA, 1999, p. 126). Levamos os moradores, legítimos usu-

ários, a debaterem sobre este espaço urbano, decodificando-o, e a crerem numa maior identi-

ficação e conseqüente preservação deste patrimônio na pesquisa de campo.

Para nós qualquer indivíduo que tem acesso a novas informações sobre determi-

nado assunto passa a percebê-lo sob novas formas. A contribuição deste estudo não é verifi-

car o poder da mediação pela educação, mas sim comparar resultados antes e depois de rece-

ber uma orientação sobre percepção, leitura e significação deste patrimônio.

Assim, nossa pesquisa caracteriza-se como estudo de caso de grupo. O estudo de

caso como estratégia se aplica quando a questão de pesquisa possui forma de “como” ou “por

quê?”. Serve, também, para descrever um contexto de vida real na qual uma intervenção ocor-

8 A linguagem, a cultura, a sociedade, o meio ambiente são signos interpretantes do próprio homem, signos me-

lhor elaborados para sua própria cognição. Os repertórios são estes sinais interpretantes, a memória da exis-

tência de um indivíduo ou grupo, codificada num sistema harmônico (FERRARA, 1988, p.56).

9 Entendemos a semiótica como um dos membros da tríade das ciências normativas: estética, ética, e lógica (se-

miótica) (SANTAELLA, 2004, p.2).

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reu. Nesta pesquisa buscamos responder como os moradores percebem, interpretam e pro-

duzem novos significados acerca do patrimônio tombado.

Portanto, esta estratégia atende a nossa procura de entender este fenômeno social

complexo onde não possuímos controle. Assim, estudo de caso é uma pesquisa empírica que,

além de outras, possui a finalidade de investigar fatos atuais dentro de seu contexto real. Nos-

sa unidade de análise é um grupo de moradores do Centro Histórico de Laguna. Onde a semi-

ótica de Peirce, nosso referencial teórico, estabelece através das três categorias primeiridade,

segundidade, terceridade os critérios para coletar e interpretar os relatos. Além disso, utiliza-

mos a História Oral Temática como técnica de coleta dos dados.

A validade científica está exatamente no estabelecimento destas definições con-

ceituais e operacionais dos principais termos e variáveis do estudo. Assim sabemos exatamen-

te o que queremos estudar, medir e/ou descrever. Procuramos, através do estudo de caso de

grupo, entender o objeto de pesquisa dentro de determinadas condições (causas). As causas

conduzem os efeitos (as outras situações). E neste sentido, descobrimos o domínio sobre o

qual a pesquisa poderá ser generalizada. O estudo de caso de grupo é confiável na medida em

que possibilita ser repetido obtendo-se resultados assemelhados.

Nosso estudo compara e analisa os relatos antes e depois da intervenção. Na cole-

ta e posterior comparação dos dados surgiram surpresas, que decorreram da experiência a que

chegamos de acordo com os objetivos desta pesquisa. Dentre estas surpresas está a constata-

ção da homogeneidade do grupo sob o aspecto da importância da preservação do patrimônio.

Todos consideram necessário preservar. Está também, o aumento qualitativo dos relatos em

relação ao patrimônio, por meio da intervenção pedagógica, maior do que esperávamos.

O quadro teórico que escolhemos atende tanto a forma de apreensão e análise das

percepções, leituras e significados. Na concepção do estudo de caso de grupo pensamos as

três categorias de Peirce primeiridade, segundidade e terceridade numa seqüência e, propomos

a divisão dos encontros também em três. 10

Pois, pressupomos que os colaboradores ao transi-

tarem pela primeira vez o trajeto pré-definido, pela pesquisadora, no Centro Histórico emitiri-

am neste primeiro momento opiniões relacionadas a percepção (primeiridade). No segundo

encontro, após a intervenção pedagógica, com novas informações e provocações à reflexão,

identificamos relatos de segundidade e, conseqüentemente, dado o tempo de maturação das

idéias, relatos de terceridade.

10

Peirce considera a existência de três diferentes espécies de coisas ou fenômenos. Estas constituem três catego-

rias designadas pelas expressões: „primeiridade‟, „segundidade‟ e „terceiridade‟ (PEIRCE, 1980).

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As três categorias da experiência humana de Peirce contribuem com a idéia que se

algo estiver numa determinada relação com outrem sob algum aspecto, para certos propósitos,

estará inextricavelmente ligada à função de representação (PEIRCE, 2003, p.61). Ou seja,

todo pensamento, conceito, descrição, testemunho, relato, são formas de representação e estão

no lugar de, representam sob algum aspecto o objeto. 11

Afirmamos ser representação, pois já

não é mais o objeto (experiência/fato). O fato é passado, portanto tudo o que se produz para

narrá-lo, descrevê-lo ou explicá-lo o representa, está no lugar de. Tanto a representação quan-

to a interpretação de alguma coisa é sempre dada por um interpretante. A interpretação reali-

za-se através do Signo. O representamen, no signo, “é o Primeiro que se coloca numa relação

triádica genuína tal com um Segundo, denominado seu Objeto, que é capaz de determinar um

Terceiro, denominado seu Interpretante, que assuma a mesma relação triádica com seu Objeto

na qual ele próprio está em relação com o mesmo Objeto” (PEIRCE, 2003, p.63).

Traduzindo isto para nosso trabalho. Os relatos das percepções, leituras e produ-

ção de significado pelos moradores, colaboradores com a pesquisa, constituem o representa-

men, que é o meio (signo) a ser interpretado; o patrimônio edificado, o objeto; o pesquisador,

o interpretante. Na pesquisa de campo: o representamen é o meio; o objeto, o patrimônio edi-

ficado; e os moradores interpretantes do signo triádico. Interpretantes do signo em nível de

primeridade, segundidade, e terceridade. Aliás, podem ser possíveis interpretantes em nível de

segundidade e terceridade, pois estes níveis dependem das relações, e produção de novos sig-

nificados estabelecidos além dos cinco sentidos (primeiridade). Pois, em primeiridade a per-

cepção, ligada diretamente com o percepto, é a síntese das operações dos cinco sentidos, ou

seja, a consciência imediata que não se assemelha a qualquer outra coisa, independe de toda

força e razão. Peirce (2003, p.24) diz que em primeiridade o mundo é reduzido a uma quali-

dade de sentimento não analisado. Mas a partir do momento que o sentimento (percepto) pas-

sa à consciência torna-se percepção. Percepção é algo binário, mas que não formula, não gera

idéias, não cria mentalmente. Quando julgamos o que estamos percebendo, captado pelos nos-

sos sentidos, estamos realizando um juízo perceptivo. Este juízo perceptivo é que possibilita

nossa interpretação. Tomemos como exemplo alguns trechos dos relatos dos colaboradores :

“Eu acho tudo muito bonito essas casas antiga [...] Eu gosto” (Dirlene da Silva Siqueira). São

falas que representam emoções (primeiridade). Mas, a partir do momento que se acrescentam

dados ao gostar, a qualidade atribuída ao objeto, há um julgamento. Quando procuramos res-

11

Pensamento por nós entendido como atividade psíquica que engloba os fenômenos cognitivos, distinguindo-se

da sensação (primeiridade) e da vontade (segundidade). Ou seja, está em terceridade.

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ponder por que gosto, ou acho bonito, estamos realizando juízo perceptivo. Neste momento

estamos em segundidade.

Segundo Peirce (2003, p.24) a dúvida é uma das formas mais profundas da binari-

edade.

A leitura semiótica “se faz colada ao objeto lido, seja ele qual for, isto é, ela é ge-

rada pelo estímulo instintivo, [estímulo-resposta] que o objeto provoca na sensibilidade do

leitor, mais o artifício de um controle indutivo sobre as inferências suscitadas” (FERRARA,

1988, p. 1). A reflexão que ela permite sobre si própria tem necessariamente a característica

indutiva, a fim de ser possível sistematizá-la.

O patrimônio desperta no indivíduo que o contempla percepção qualitativa de

formas, cores, texturas, sons e odores. Alguns fragmentos dos relatos dos colaboradores, sobre

as casas, as ruas, ou seja, acerca do trajeto realizado no Centro Histórico podem ajudar nesta

compreensão:

“umas (casas) tão pintada bonita, muito bonitas. [...] das ruas gostei muito daque-

la pintura ali do Blondin, aquela pintura ali é linda né.” (Conceição Guerreira Siqueira) “Eu

acho muito feio estes postes no meio das ruas. É feio mesmo. O calçamento é muito ruim.

Esse odor dos esgostos [...] dá mal estar na gente.” (Gelza Olga dos Santos). “Nosso jar-

dim continua um horror, fico muito triste com isto”. (Lenira Maria Amboni Nicolazzi).

[...] Sobre o cais, aqueles lixo que vem ali pro canto, aquele cheiro, quando a gente passa por

perto aquele cheiro assim de maresia.” (Dirlene da Silva Oliveira). “O que me chamou mais

atenção, foi ali no final, ali no mercado velho, aquela fachada feia, horrível. Aquilo ali era

pra ser mais bonito, e ta muito feio aquilo ali.” (Maria Guerreira). Estes relatos demonstram

primeiridade, pois constatam puramente emoções.

Encontramos também relatos que estão em transição, da primeiridade para segun-

didade. A binariedade está na comparação do passado com o presente. Está na construção

mental, no estabelecimento de relação semiótica.

“Antigamente muito mais bonito. [...] Eu acho muito bonito o Centro Histórico

sobre as casas antigas. [...] As cores também. Eu acho essas cores fortes bonita, que cha-

mam atenção.” (Dirlene da Silva Oliveira) “Eu sinto na Laguna uma tristeza. É triste. Eu

conheço vários municípios que são muito mais bonitos, as praças, as casas, e cada vez

que passa Laguna se torna mais triste.” (Eduardo Tasso de Miranda). “Não gostei da cor

que ele (o mercado público) tem hoje. [...] Em relação a praça eu não acho que é tão assim

desastroso aquela cor lilás daquela casa, eu até gostei desta vez.” (Luciano Candemil).

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Podemos verificar nos depoimentos que as percepções variam sobre o que é bom,

bonito, feio, e horrível. Atrelados a isto está o gosto, satisfação, alegria ou tristeza. Represen-

tam-se também os odores. As representações destas percepções em forma de juízos percepti-

vos são objetos de comparação. Portanto, como afirmamos anteriormente, além destas sensa-

ções o patrimônio também provoca relações em nível de segundidade a fatos e acontecimen-

tos determinados no tempo e no espaço presente com o passado. As relações sociais e cultu-

rais também se presentificam no patrimônio, e este, como Signo espacial que é, sugere e faz

refletir sobre a memória individual e coletiva. Provoca questionamentos sobre as origens,

fundamentadas no passado (segundidade); confronta-as com o presente (primeiridade) e pro-

jeta-as para o futuro (terceridade).

Podemos exemplificar o signo como legi-signo representando a memória indivi-

dual quando a colaboradora Amélia Baumgaurten Baião diz: “Eu colaborei com a lei que

tombou o Centro Histórico de Laguna.” Ou quando o senhor Eduardo Tasso de Miranda e sua

esposa Liane dizem que após a intervenção da pesquisadora puderam associar uma rua de

Laguna com o Largo da Ordem em Curitiba. Comparam espaços urbanos distintos, pois ob-

servaram que os sin-signos de leitura são similares. O colaborador Luciano Candemil também

remete-se a São Luiz do Maranhão quando verifica semelhança formal entre a Casa do Si-

queira Pesca, de Laguna, e o Teatro Arthur Azevedo, de São Luiz do Maranhão.

Alguns colaboradores fizeram referência a acontecimentos e paisagens do passa-

do, como a Conceição Guerreira Siqueira que lamenta a demolição da antiga rodoviária. Para

ela o vazio (presente) que ficou no lugar da antiga rodoviária (passado) acrescentou ao espaço

urbano, além de tristeza, uma espécie de „apagão‟ em suas memórias familiares. Conceição

relata que, naquele espaço, viveu com seu marido momentos felizes. Seu marido era um traba-

lhador da rodoviária. O rememorar refere-se a um determinado momento de sua vida, e o

Centro Histórico, no caso a antiga rodoviária, funcionou como um indicativo de segundidade

para suas lembranças aflorarem.

Podemos confirmar este raciocínio com o relato de outra colaboradora, Marcília

Soccas. Ela indica o Centro Histórico com a função de lembrar os velhos tempos. Pois as edi-

ficações são marcas no espaço urbano de tempos vividos. Diz que o morador atual, que já

conviveu neste lugar, caminha pelas ruas históricas e lembra da sua infância “porque viu uma

casa e fez lembrar isso aí”.

Quando a colaboradora Gelza após a mediação da pesquisadora verifica que o es-

paço urbano possui “o lado antigo, [...] o pós-moderno e o moderno, numa sintonia [...] que

até então a gente olhava só aquelas (edificações) mais antigas”, a colaboradora está lendo a

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relação sígnica dual como algo que indica a relação temporal entre presente e passado. Mas,

ao afirmar que deveria haver um outro tipo de tratamento ao patrimônio, respeitando essas

diferenças temporais Gelza não só indica, mas interpreta. Interpreta que as diferenças tempo-

rais estampadas nas edificações devam ser respeitadas e mantidas. Ela ainda verifica que a

não conservação dos imóveis é motivada pela falta de recursos dos moradores. Pois, ao reali-

zar o caminho e observar os imóveis deduz que os imóveis menos preservados são de pessoas

de menor posse. Aliás, outros colaboradores chegam a esta conclusão. O próprio legi-signo

induz interpretações. Mas, estas estão atreladas ao grau de conhecimento, histórico e sócio

cultural, que se detém de determinado signo (SANTAELLA, 2004, p.6). A Gelza só pode

inferir porque ela conhece quem habita as edificações e possui conhecimento acerca do ônus

relativo a manutenção de um imóvel antigo.

Verificamos que percepções, leituras e produções de novos significados estão pre-

sentes nos relatos dos moradores e, portanto, são objetos de análise e para isto consideramos a

afirmação de Peirce (1980) da existência de três diferentes espécies de coisas ou fenômenos

que se constituem em três categorias designadas: primeiridade, segundidade e terceiridade.

Assim, apresentamos os conceitos fundamentais à nossa pesquisa. São eles:

a) percepção atrelada à categoria de primeiridade;

b) leitura acoplada à segundidade;

c) produção de novos significados indexada à terceiridade.

A primeiridade diz respeito as emoções ou qualidades puras, como: prazeres, co-

res, sons, odores, ou seja, fenômenos singulares (independentes dos demais, completos em si

mesmos – os ícones). Constituem livres possibilidades de experiência humana, são qualidades

da percepção e não possuem qualquer relação. Opera sempre no presente. Referem-se às per-

cepções imediatas, decorrentes dos cinco sentidos, armazenadas pelo Percepto. A percepção é

representada por signos. Nos relatos encontramos palavras e expressões bonito, feio, horrível,

gosto, não gosto, entre outros, no nível de primeiridade.

O Centro Histórico possui signos que são lidos pelo morador (interpretante) de

maneira própria e singular. Ao se movimentar pelo espaço urbano, o morador já familiarizado

com as informações sígnicas passa a despercebê-las como informações. Sua percepção é atra-

ída pelas novidades encontradas em seu trajeto. Os textos não-verbais para o morador são

apenas pontos de referência. O hábito e a utilização rotineira levam á homogeneização do

espaço. Para ler este espaço, e não só as novidades, o morador precisa estranhá-lo.

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O estranhamento faz parte da segundidade que se refere ao conflito de interpreta-

ções sobre ocorrências reais. 12

Reações de duplo termo nas quais uma coisa conflita com ou-

tra. Ao indexar o presente com o tempo passado cria conflitos de interpretação entre percep-

ções e suas possíveis leituras pelos moradores do Centro Histórico, diferentemente, da primei-

ridade onde a percepção é uma mera constatação icônica. A segundidade lida com a surpresa,

com o conflito, com a oposição. Comparar o presente com o passado, historicizar o contexto,

perceber a evolução do espaço são ações que geram indiciais leituras. Ler é distanciar-se do

objeto para percebê-lo não só como algo dado, icônico, mas como algo que possui história e

memória, enquanto índice duma relação semiótica ou lógica. Ferrara escreve que a leitura

presume o juízo perceptivo, e este supõe o percepto. “O juízo perceptivo é a manifestação de

qualidade de um signo-pensamento; a leitura, sua reação diádica, situada e histórica; a inter-

pretação, a manifestação da expectativa de sua terceridade” (1988, p.27).

A terceiridade implica compreensões cognitivas em tempo futuro capaz de gerar

novos significados como síntese conceitual formulada pelos interpretantes. Em Peirce (1980,

p.31) encontramos: “terceridade é a característica de um objeto que encarna em si o-Ser-entre

ou Mediação em sua forma mais simples e rudimentar” ou ainda “terceridade é [...] apenas

sinônimo de Representação”. Os símbolos são considerados por Peirce como o gênero relati-

vamente genuíno de representamen, preenche sua função sem qualquer similaridade ou ana-

logia com o seu objeto, é independente de qualquer ligação factual. Na terceiridade encontra-

mos moradores do Centro Histórico como produtores de significados novos. Pois, após reali-

zarem as leituras, estabelecidas pelos conflitos, poderão ressignificar em nível de terceridade

o espaço urbano percebido.

“A leitura semiótica revela a interdependência entre as categorias sígnicas ao colocar

o índice como estágio de mediação indispensável à realização dela, ou seja, supõe-se

transformar em traços de secundidade a qualidade do ícone ou o padrão do símbolo.

Levanta-se a hipótese de que o índice é estrutura sígnica operacionalizada em qual-

quer exercício de leitura, verbal ou não-verbal. Ele é o signo que se pode ler, e não

há leitura que não seja semiótica, uma relação entre signos, embora nem sempre en-

tre códigos” (FERRARA, 1988, p. 27).

É o interpretamen (morador) o elemento essencial para a natureza do signo (Cen-

tro Histórico - patrimônio edificado). Portanto, é o morador que em primeiridade (quali-signo)

expressa as qualidades percebidas no meio urbano, como: tamanho, forma, cor, texturas, odo-

res, sons. Ou seja, aquilo que os cinco sentidos informam. Em segundidade o interpretamen

12

Estranhamento é a desautomatização da percepção (FERRARA, 1986, p.36)

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(sün-signo) denota conflitos, paradoxos e em terceiridade (legi-signo) implica a formulação

de um valor, de um novo significado, de uma idéia generalizadora acerca do Centro Histórico

– patrimônio edificado. Nem sempre um interpretamen atinge a terceiridade. Há pessoas que

permanecem a vida inteira em nível de primeiridade, ou de segundidade. Podemos simples-

mente sentir as coisas, os objetos e não compará-los ou inferi-los. Para haver a leitura dos

signos e conseqüente interpretação é preciso distanciamento, raciocínio e criação. Só quando

atingimos a segundidade ou terceridade é que a semiose ilimitada ocorre, em decorrência de

relações semióticas entre o presente e o passado e destas, em forma de síntese, com o futuro.

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CAPÍTULO SEGUNDO

MÉTODO E TÉCNICA DA HISTÓRIA ORAL TEMÁTICA

A nossa pesquisa de campo caracteriza-se como um estudo de caso de grupo. Pes-

quisa qualitativa de intervenção, que parte de uma condição inicial e sofre uma interferência

da pesquisadora para verificar um possível salto qualitativo no resultado final. Segundo Fábio

Rauen (2002, p.210) o estudo de caso é adequado para explorar situações da vida real. Além

disso, exige investigação de um objeto que possibilite o seu conhecimento amplo e detalhado,

o que se aplica à nossa pesquisa.

Essa pesquisa de campo reuniu um grupo de treze colaboradores, moradores do

Centro Histórico (CH), para percorrerem, a pé, um trajeto, pré-definido, no CH. 13

Após a

caminhada os colaboradores, em ambiente fechado, relataram o que observaram. Todos os

relatos foram gravados. Foram três visitas ao CH, em quintas-feiras seguidas. No primeiro

passeio não houve interferência da pesquisadora. Os colaboradores apenas, caminharam, ob-

servaram e relataram. No segundo encontro, antes dos colaboradores realizarem o trajeto, a

pesquisadora interveio, pedagogicamente. Explanou conteúdos pertinentes à preservação do

patrimônio, aos aspectos estéticos, construtivos e históricos, visando informar, provocar pos-

síveis conflitos e reflexões. 14

O terceiro encontro, como o primeiro, não houve interferência

pois, seu objetivo era verificar se a influência da mediação realizada no segundo encontro

amenizou o problema da não compreensão a partir da percepção, interpretação e produção de

novos significados.

Portanto, a pesquisa utilizou um grupo de 13 (treze) colaboradores que percorre-

ram o CH de Laguna, nos dias 11 (onze), 18 (dezoito) e 25 (vinte e cinco) de janeiro de 2007.

A seleção do grupo de moradores, colaboradores, iniciou-se por adesão através de

cartas padrões enviadas a algumas residências escolhidas, aleatoriamente, dentre aproxima-

damente 700 edificações do CH. Percebemos dificuldades nesta estratégia pelas conversas

informais realizadas com alguns moradores ao sinalizarem desinteresse. Diante disto resolve-

13

Utilizamos (algumas vezes) nesta pesquisa a sigla CH ao nos referirmos ao Centro Histórico.

14 Estes conteúdos formam um tópico, a parte, deste capítulo, intitulado: Centro Histórico de Laguna.

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mos abordar pessoalmente e individualmente os moradores. Não obtivemos o sucesso espera-

do, dos quarenta contatados somente cinco moradores inscreveram-se na pesquisa. As dificul-

dades de adesão decorreram da estratégia na coleta das informações, ou seja, três encontros,

trajeto a ser percorrido, relatos gravados em grupo, e pelo fato de sermos pessoa desconheci-

da.

Inventamos nova estratégia para romper a frieza do primeiro contato. Para isto,

pedimos auxílio às agentes comunitárias do Plano de Saúde Familiar (PSF) do Município de

Laguna. Na área tombada duas agentes comunitárias trabalharam. Uma operou na parte alta

da cidade e imediações, e a outra na parte baixa. Fizemos uma reunião com as agentes, para

esclarecer os objetivos e métodos da pesquisa. Elas fizeram, gentilmente, uma triagem de

quem poderia contribuir levando em consideração o tempo disponível e a saúde dos morado-

res. Fomos a campo junto com as agentes e a recepção mudou completamente, tínhamos aces-

so e liberdade de explicar a pesquisa, seus objetivos e metodologia. Conseguimos agendar

trinta e três colaboradores, tomamos nota do nome completo, endereço, telefone, e grau de

escolaridade. Conseguimos moradores de diferentes áreas do CH, com graus de escolaridade

variados.

Agendamos e confirmamos nossos encontros por telefone. Para o primeiro encon-

tro vinte e seis colaboradores confirmaram presença, sendo que compareceram dezesseis. Es-

tes confirmaram presença para o segundo encontro, sendo que treze compareceram e mantive-

ram-se até o terceiro encontro. Conseguimos o número dentro do planejado, que eram de dez

a trinta colaboradores.

Consideramos fundamental que os colaboradores fossem moradores, pois a forma

de perceberem o patrimônio difere substancialmente de um simples usuário ou visitante. As

relações de poder, e o ônus da posse de uma edificação tombada, no nosso entendimento, são

fatores de interferência na percepção, leitura e produção de significados pelos moradores do

patrimônio.

Os encontros com os colaboradores foram desenvolvidos dentro da perspectiva da

História Oral Temática (H.O.Temática). Para Meihy (2005, p. 162) a H.O. Temática é uma

técnica que parte de um assunto específico e delimitado, e utiliza colaboradores para elucidá-

lo. Ou seja, procuramos esclarecer conceitos pré-definidos pelo pesquisador sobre algum e-

vento, pressupomos o entendimento do passado como algo contínuo, atual e em desenvolvi-

mento. Preocupamo-nos, prioritariamente, com pesquisas referentes à experiência social de

pessoas e de grupos.

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Ao nos apoiarmos na H. O. Temática, não estamos apenas preocupados com a

técnica das entrevistas, e com o arquivamento dos depoimentos. Trabalhamos com colabora-

dores, moradores do CH, com seus direitos cerceados pelo governo. Suas vozes caladas e ao

mesmo tempo (no nosso entendimento) não conseguem decodificar os signos presentes no

espaço urbano. Tornar consciente a forma como os percebem, lêem e significam faz parte dos

propósitos da H. O. Temática que se “fundamenta no direito de participação social” (MEIHY,

2005, p.24).

Esse direito à participação social deve ser entendido como a oportunidade dos co-

laboradores tornarem públicas suas incompreensões a respeito do espaço urbano onde resi-

dem. A Dissertação, como documento público, se propõe a dar visibilidade às falas dos cola-

boradores da pesquisa, moradores do CH. Desta forma, a pesquisa faz uma espécie de interlo-

cução dos moradores com as instituições governamentais e demais responsáveis pela cidade

de Laguna. Não estamos com isto substituindo os espaços públicos e coletivos da participação

social. Espaços estes de responsabilidade política do Estado, onde inclusive deve ocorrer o

próprio debate do significado da participação social que, conforme Evelina Dagnino (2004, p.

103), atualmente sofre deslizamento semântico, em conformidade com uma política neoliberal

não condizente com os princípios genuínos da democracia. Esta elucidação se faz necessária

para demonstrar nosso modo de ver, mas não cabe a esta pesquisa discorrer sobre este aspec-

to.

A pesquisa, além do registro e análise, possibilitará ver, ler e significar novas lei-

turas por mediação da pesquisadora visando o salto qualitativo da compreensão do morar no

CH de Laguna.

Este método da História Oral é bem objetivo. Direciona as narrativas segundo os

objetivos da pesquisa. Mas, não tão objetivamente a ponto de direcionar perguntas e respostas

mediante questionário fechado. Deixamos claro para os colaboradores os objetivos da pesqui-

sa e os procedimentos para alcançá-los, sendo que impressões, sensações, leituras e significa-

ções nos serão úteis pela espontaneidade das narrativas. Pois a seleção, a seqüência, e as ne-

gociações que os colaboradores fizerem dos espaços para narrar coletivamente são marcas

necessárias para identificarmos como se processa a percepção, a leitura e a significação do

ambiente urbano pelos colaboradores, dentro da três categorias de Peirce.

Esta metodologia dá conta daquilo que é fundamental: esclarecer a forma de per-

cepção e apreensão do significado social do espaço urbano. Os sentidos e as opiniões narrados

coletivamente sincronizados às vivências diárias contribuem para a compreensão do espaço

urbano. O diálogo estabelecido e permitido pela H. O. Temática nos dá segurança enquanto

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pesquisadores e nos desloca da posição central, apesar de controlarmos a pesquisa. Conside-

ramos os relatos dos colaboradores ponto de partida e motivo da escritura desta Dissertação

acerca das relações conflitantes dos colaboradores com as normas do IPHAN, patrimônio his-

tórico de Laguna, ao visarmos a compreensão em outra dimensão do patrimônio. Atentamos

desta forma para outros possíveis significados sócio-históricos deste patrimônio da humani-

dade.

Portanto, pesquisar o nível de elaboração das percepções antes e após a mediação

pedagógica da pesquisadora acerca do patrimônio constitui o principal objetivo desta Disser-

tação.

As considerações teórico-metodológicas a respeito dos relatos encontrar-se-ão na

descrição e análise dos relatos. Segue, portanto, o memorial descritivo da dinâmica dos três

encontros. Os três encontros foram realizados às quintas-feiras, com início às três horas da

tarde. O primeiro encontro foi no auditório, do Centro Cultural da Paróquia Santo Antônio

dos Anjos. A pedido dos colaboradores fizemos os outros dois encontros no porão do Casarão

do Escritório Técnico do IPHAN. Os dois locais situam-se na Praça Vidal Ramos, no Centro

Histórico de Laguna.

MEMORIAL DESCRITIVO

No primeiro encontro iniciamos com uma rápida exposição para o grupo dos obje-

tivos da pesquisa e metodologia, com ênfase na importância da colaboração, gravação e trans-

crição dos depoimentos. Entregamos uma pasta com mapa do trajeto (anexo A) e carta de

cessão (anexo B) para futuro preenchimento e devolução. Esta carta trata da autorização dos

colaboradores para uso científico das gravações. Além disso, distribuímos crachás identifica-

dores e realizamos uma breve apresentação entre todos. Logo após saímos para realizar o tra-

jeto.

Importante ressaltar que não fizemos qualquer tipo de motivação pedagógica para

realização do primeiro trajeto, pois a intenção era registrarmos as impressões e percepções

mais genuínas, apesar dos moradores não estarem fazendo seus trajetos costumeiros, e esta-

rem sim na condição de visitantes de sua própria cidade, por acreditarmos que suas sensibili-

zações perceptivas seriam bem peculiares. Estariam em nível de primeridade sensório-motora

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onde os cinco sentidos coletam informações pré-lingüísticas como formas, cores, odores, e

demais quali-signos urbanos. Realizar o trajeto pela primeira vez nos faz pensar que resistên-

cias e relações não surgirão a princípio e sim emoções, categoria primeira pré-consciênte

(PEIRCE, 2003, p. 14).

Uma hora de caminhada. Retornamos para a gravação dos relatos. Utilizamos dois

gravadores de voz analógicos e fitas cassetes. A ordem dos relatos foi construída livremente

pelos colaboradores. O trajeto e o mapa utilizados na pesquisa foi „Museu a céu aberto‟ de-

senvolvido pela arquiteta Ivana Lucy Szczuk. Esse Projeto foi iniciado com o Trabalho de

Conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina,

em 1999 e concluído em 2001. Propõe três percursos, o luso brasileiro, o eclético e o art deco.

Não foi implementado no CH. Contudo, verificamos a funcionalidade de tais percursos, in-

corporados nesta pesquisa de campo.

O segundo encontro iniciou com uma explanação didática. Utilizamos um projetor

multimídia com uma apresentação preparada no programa power point (anexo C). Vinte e

nove lâminas com imagens e textos sobre o patrimônio edificado: tipologia arquitetônica, com

ênfase sobre os três estilos mais marcantes, ou seja, suas características estéticas. Além disso,

fizemos um breve histórico da formação da cidade, arruamento, paisagem, ciclos econômicos,

códigos de posturas, detalhes técnicos construtivos e confronto de valores de habitabilidade

antigos e contemporâneos. 15

Fizemos um confronto entre o que os moradores possuíam antes

e as informações novas apresentadas. Portanto, provocamos conflito de interpretação em nível

de segundidade, entre tempo presente e passado, pois introduzimos um sentido de polaridade

(PEIRCE, 2003, p. 16). Logo após saímos às ruas e realizamos o mesmo trajeto. Ao retornar-

mos gravamos os relatos seguindo a mesma dinâmica do primeiro encontro, sem qualquer

cerceamento.

No terceiro encontro nos reunimos e saímos às ruas, já que todos estavam familia-

rizados com a dinâmica de campo. Fizemos o mesmo trajeto e voltamos para a gravação dos

relatos. Esta visitação serviu para registrarmos o que aprenderam com as informações novas, e

se foram capazes de gerar novos significados em nível de terceridade em relação ao patrimô-

nio. Despedimo-nos com a leitura do poema “O Amor quando se revela...” de Fernando Pes-

soa e entrega de uma flor vermelha e bombons para cada colaborador como agradecimento.

Para marcarmos simbolicamente a participação na pesquisa.

15

O próximo tópico deste capítulo, intitulado: Centro Histórico de Laguna apresenta em forma textual estes

conteúdos.

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A gravação das falas dos 13 colaboradores foi realizada na presença de todos. As-

sim as falas foram socializadas e apresentaram interferências dos participantes e da pesquisa-

dora.

Após os encontros das narrativas orais fizemos as transcrições das gravações das

falas, nos dois dias após os relatos. É primordial não haver um tempo longo entre os encontros

e as transcrições, pois o clima e as sensibilizações tendem com o tempo a se dispersarem. As

transcrições não foram necessariamente literais, pois, apoiados na H. O. Temática a passagem

do oral para o escrito nunca dará conta da forma como ocorreram os acontecimentos. Assim, a

transcrição é entendida como uma etapa destinada a dar visibilidade às histórias narradas. As

palavras importam pelas idéias, conceitos e emoções que contenham (MEIHY, 2005, p.24). O

presente estudo de caso, apesar de ter sido em grupo, trata de narrativas individuais onde o

trabalho de transcrição foi mais trabalhoso no sentido de contextualizá-lo com as interferên-

cias dos outros participantes. A transcrição realizada, de todas as falas para textos escritos,

procurou sugerir o clima dos colaboradores, sinalizando risadas, interrupções e interferências,

no texto final dos relatos, visualizadas entre parênteses. Logo após passamos à textualização

que é um refinamento da transcrição onde organizamos as idéias, deduzimos algumas interfe-

rências, não significativas à pesquisa, para tornar o texto de leitura mais fácil. Procuramos

assinalar a pontuação com ritmo da fala e nos utilizamos da reticência para marcar omissões e

pausas da fala. Esta etapa foi realizada e inspirada na transcriação proposta por Alberto Lins

Caldas, porém com limitações decorrentes do tipo de relatos, curtos, conseguidos pela nossa

pesquisa de campo.

Para Caldas transcriação

[...] quer dizer uma ação criativa geral que busca tanto as ficcionalidades pessoais,

grupais e coletivas quanto o presente como nossa matéria fundamental, nossa ficcio-

nalidade básica. É recriar, através dos artifícios de diálogos gravados, tanto as possi-

bilidades do significado (o que no fundo é dizer que não traduzimos nenhum signifi-

cado), quanto as flutuações até mesmo físicas daquilo que é o outro: dar vida ao pre-

sente do outro: transcriar: fazer viver uma vivência de uma outra maneira, isto é, fa-

zer fluir a vivência da interioridade, da voz, para o mundo da escrita: buscar o espíri-

to da vivência, jamais um reflexo do vivido: criamos em conjunto um texto aberto

que possa dialogar com as aberturas das vivências, com a polissemia, as multiplici-

dades próprias do ser social. Daí porque o texto transcriado se liberta do seu reflexo,

da sua origem, para se tornar referência de si, sem refletir enquanto objeto outro ob-

jeto (1999, p.4).

Quando transcriamos partimos de um texto construído a partir da tradução do oral

para o escrito, da transcrição, portanto esta escrita já é uma ficção. Aliás, a própria oralidade

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já é tradução de sensações, sentimentos e pensamentos. Nesta tradução as ênfases, os gestos, o

clima, o contexto, são representados pela linguagem escrita.

Ao mencionarmos a tradução trazemos o pensamento de Augusto de Campos

(1978, p.7) de “tradução é criativa”. Seu irmão Haroldo de Campos (1976, p.10) também par-

tilha desta idéia de tradução como interpretação e criação. Apesar dos dois também utilizarem

o termo transcriação, Alberto Lins Caldas amplia este termo conectando-o à memória, à fala,

à transcrição, à textualização e à interpretação. Para Caldas os irmãos Campos limitam a

transcriação a uma tradução com certa liberdade estética, porém sempre atrelada à leitura do

original. Ainda para Alberto Lins Caldas um texto transcriado possui vida própria, não repre-

senta o relato, ou a vivência, ele é um texto sujeito.

Para as metas de nossa pesquisa entendemos o pensamento de transcriação, de-

senvolvido por Alberto Lins Caldas, referente às histórias orais de vida, às narrativas da me-

mória de vida de um ou mais narradores. Nossa pesquisa, diferente desta história oral de vida,

trabalha com relatos imediatos de uma vivência de campo. Relatos rápidos e focados num

objetivo. Ou seja, fizemos o trajeto no CH e logo os relatos das observações em campo pelos

colaboradores.

Assim consideramos a etapa de transcriação como uma textualização. O que para

Alberto Lins Caldas poderá parecer uma aberração. Mas, a fizemos conscientemente. Estas

etapas de transcrição, textualização e transcriação da História Oral estão embasadas no Manu-

al de História Oral do autor José Carlos Sebe Bom Meihy (2005). Neste manual percebemos

também a importância do processo de negociar com os colaboradores os cortes e enxertos de

seus relatos. 16

Os colaboradores da pesquisa colocaram-se à disposição para a aprovação do tex-

to final, ao identificarem ou não suas vozes com suas marcas, e legitimariam as narrativas.

Contudo esta etapa não foi realizada. Registramos a cessão dos depoimentos em cartório sem

que eles ouvissem o registro escrito (final) de seus relatos. Seguem em anexo as fotocópias

das cessões registradas em cartório (anexo D). Foi decisão coletiva, acertada tendo em vista o

tempo que se despenderia a mais em suas vidas para tal procedimento. Como não se trata de

grandes narrativas e sim de pequenos relatos, acreditamos não estarmos ferindo nenhum prin-

cípio ético de legitimidade.

16

As transcriações na íntegra fazem parte do terceiro capítulo „estudo de caso de grupo‟.

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CENTRO HISTÓRICO DE LAGUNA

Este tópico surgiu da intenção de apresentar ao leitor desta Dissertação o conteúdo

apresentado junto com as lâminas (anexo C) aos colaboradores desta pesquisa no segundo

encontro. A construção textual deste tópico não se inclui no estilo da pesquisa, pois é resulta-

do dos sete anos do trabalho com educação patrimonial no Escritório Técnico II da 11ª SR

IPHAN/SC em Laguna. São conteúdos referentes ao processo de ocupação do núcleo original

de Laguna, aos materiais, estilos e técnicas construtivas das edificações históricas. Conheci-

mentos introjetados ao longo dos anos na prática diária de atendimento a estudantes, professo-

res e comunidade. Introjeção que dificulta reconhecermos as fontes bibliográficas, mesmo

assim, dentro do possível, legitimamos as autorias com citações e referências.

Além disso, entendemos necessário o leitor, desta pesquisa, familiarizar-se com o

Centro Histórico. Assim, poderá também fazer suas inferências quando em contato com os

relatos dos colaboradores. Acreditamos com isto possibilitar ao leitor da Dissertação um olhar

mais rico, pois criará possibilidades de interpretação, apesar da seleção dos conteúdos aqui

expostos.

“Eu acho que Laguna tem um potencial que outras cidades talvez queiram

ter e não possuem...” (Marcília Soccas - colaboradora desta pesquisa).

Este trecho da fala da Marcília, colaboradora desta pesquisa, parece ter a mesma

sensação dos primeiros habitantes de Laguna. Pois, os registros históricos marcam Laguna

pelo seu potencial de moradia, alimentação e água potável abundantes. Antes mesmo de ser

colonizada, era habitada pelos indígenas. Segundo indícios arqueológicos fixaram residências

há mais de 4.000 anos. Viviam em comunidade, eram numerosos e possuíam dieta rica em

frutos do mar (pescados, moluscos, entre outros) (DEBLASIS, et all, 2006). Mais tarde, no

século XVI, os jesuítas descrevem com precisão o complexo lagunar desta região, na missão

de catequizar os nativos. 17

Em “notas históricas sobre a fundação da póvoa Santo Antônio

17

Ruben Ulysséa no artigo “Aspecto antropogeográfico de Laguna” escreve que a região de Laguna não era

“completamente estranha ao homem branco. Ainda nos começos do séc. XVI, por aqui passaram navegado-

res espanhóis e, há pelo menos cem anos estas terras eram regularmente visitadas pelos jesuítas, no seu ativo

trabalho de catequese”. Edição única comemorativa do 10° aniversário do Clube “Bola Preta”, Cidade Julia-

na, 1946, p. 30.

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dos Anjos da Laguna”, o historiador catarinense, Osvaldo Rodrigues Cabral (1976) registra

trechos de documentos originais de relatos dos jesuítas, viajantes e possíveis colonizadores:

A região era farta, ampla, perfeitamente conhecida e palmilhada. [...] Lugar abun-

dante de pescado (p.71). [...] Laguna conhecida como ponto de pesca abundante,

conhecida até na Bahia. (p.72). [...] Terra muito fértil, e abundante de pescados e

carnes [...] (p. 80). 18

Portanto, o espaço destinado para fixação da póvoa de Laguna pelo bandeirante e

vicentista Domingos de Brito Peixoto, em 1676, já era „conhecido‟ e foi escolhido estrategi-

camente para ampliar os limites do Brasil português ao sul. Pois, apresentava formação geo-

gráfica condizente ao estabelecimento de uma vila na faixa de terra plana junto à lagoa, cuja

existência do porto natural protegido dos ventos contribuiria para o desenvolvimento local e

conquista de territórios ao sul. 19

“A Domingos de Brito Peixoto e seus filhos coube o convite para a colonização de

Laguna. [...] plano de povoar a costa para assegurar as fronteiras [...] Fundar ao sul

da ilha de Santa Catarina, à entrada, ou em lugar que mais conveniente julgasse do

último dos três portos daquela freqüentada costa, uma povoação que se tornasse um

marco vivo e palpitante do domínio lusitano. (FERREIRA,1959, p.214).

O arquiteto Luiz Fernando P. N. Franco elaborador do documento de recomenda-

ção do tombamento do Centro Histórico de Laguna, provavelmente, sem conhecimento das

fontes primárias que Osvaldo Rodrigues Cabral utilizou em seus estudos, escreve:

“[...] não parece arriscado imaginar que o perfil da costa de Laguna já estivesse ra-

biscado nas anotações para um primeiro portulano, nem talvez, que fossem consul-

tadas logo em seguida, à procura do anfiteatro natural e silencioso de suas colinas

[...]” (1995, p.12) (grifo nosso).

Logo, as fontes comprovam que esta terra despertou atenção pela sua formação e

posição geográficas e, coincidia sua localização com o último porto natural ao Sul dentro dos

limites do território português estabelecido pelo meridiano do Tratado de Tordesilhas (1494).

Além disso, “encontrava-se entre dois importantes eixos político, demográfico e econômico:

na extremidade sul estavam Buenos Aires e Montevidéu; no outro extremo, São Paulo, Rio de

Janeiro e Belo Horizonte” (NASCIMENTO, 2006, p. 58).

Importante assinalar que antes do povoado de Santo Antônio dos Anjos da Lagu-

na ser elevado à categoria de vila em 1714, no final do século XVII (1696) edificou-se a Ca-

18

Osvaldo Rodrigues Cabral foi médico, político, antropólogo, ficcionista, e professor universitário conhecido

também pela maneira peculiar de escrever, a partir de fontes primárias, sobre acontecimentos históricos. Nas-

cido em Laguna em 1903, faleceu em Florianópolis em 1978.

19 A data oficial da fundação de Laguna é 29 de julho de 1676. Convencionou-se este dia baseado na Proclama-

ção da República Catarinense, mais conhecida por República Juliana (29 de julho de 1839), correspondendo

aos interesses do calendário turístico, previsto na Lei municipal Nº15/1975.

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pela dedicada a Santo Antônio dos Anjos. 20

Esta edificação funcionou como marco da con-

quista de Domingos de Brito Peixoto, após ele e seus filhos retornaram a São Vicente. Assim,

fica Laguna “entregue à miséria de seus moradores, baldos de recursos de qualquer natureza e

esquecidos de todos, num abandono completo” (FERREIRA, 1959, p. 215). Aliás, esta reali-

dade de ficar a deriva logo após a fixação da bandeira é cabível a todas as fundações brasilei-

ras do sul do país (CABRAL, 1976, p.103).

Esta constatação sobre o abandono, já no início da formação de Laguna, é perti-

nente para estabelecermos relação com as sensações manifestadas nos relatos dos colaborado-

res. Não são raras as vezes que os moradores colocam-se numa posição semelhante aos pri-

meiros habitantes deste espaço urbano, sem auxílio e desamparados.

Somente quando Laguna transforma-se em Vila, unidade político-administrativa

colonial é que se inicia a primeira etapa de “urbanização” (CABRAL, 1987, p. 54). Neste pe-

ríodo há a distinção entre a área urbana e a área rural, especificando-se as normas de constru-

ção (LUCENA, 1998, p.17). Foi o Ouvidor-Mor Rafael Pires Pardinho que ao visitar Laguna,

em 1720, implanta o primeiro Código de Posturas estabelecido pelo reino, que provê, entre

outras questões, o regulamento do traçado viário e normas para as novas construções.

“Não havendo na povoação uma só casa de pedra, nem ao menos coberta de telhas,

apesar de grandes comodidades que havia, gastando os moradores o tempo em faze-

rem casas de pau-a-pique cobertas de palha. Necessitam de contínuos reparos, no

que gastam muito tempo sem utilidade alguma. Nem podiam deixar a seus filhos

propriedade. Proveu que ninguém faça casa sem obtenção de licença da Câmara. Es-

ta medirá o terreno, indicará o local, sendo que as casas que daí em diante se fizes-

sem fossem arruadas, de modo que uma rua se visse doutra banda. Devem todas ser

na mesma carreira. A primeira que se fizesse fosse perto da Igreja, de cuja porta

principal fique direta ao mar. Depois desta, iam se formando as demais, em quadra.

Que nenhuma tivesse menos de quarenta palmos de largura. Que na beira do mar fi-

casse uma rua, cujas portas e janelas olhassem para o mar. Em caso algum dar-se-ia

licença para que ficasse alguma com quintal para o mar. Porque além de ficar desta

forma a povoação, destrói a fortificação da Vila. Poderá haver ocasião em que seja

preciso defender-se do inimigo que venha para o mar. Nesta rua ficarão os Paços do

Conselho, cadeia, uma praça larga no meio da qual estará o pelourinho. Deverão ser

demolidas as casas de palha e pau-a-pique que existam com costas para o mar.”

(DALL´ALBA, 1979, p.96)

Um ano depois de sua transformação em Vila, 1721, Laguna recebe o governo de

Francisco de Brito Peixoto, filho do fundador, nomeado Capitão-Mor. Assim os moradores

20

Oswaldo Rodrigues Cabral, cita no livro “Santo Antônio dos Anjos da Laguna” (1976, p.57) o Professor Ru-

ben Ulysséa, um estudioso “das coisas da sua terra”. Este sugere 2 de outubro de 1676 como a data provável

da chegada de Domingos de Brito Peixoto a Laguna. Dia dos Anjos. Isto explicaria o porquê de Santo Antô-

nio de Pádua ou Lisboa receber em Laguna o nome de Santo Antônio dos Anjos. O fundador teria dedicado à

freguesia ao Santo de sua devoção, Santo Antônio, acrescido do „santo‟ do dia, Dos Anjos, ficando Santo An-

tônio dos Anjos.

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sentem-se mais seguros e amparados, com as criações de leis e a promessa de maior visibili-

dade junto a Coroa.

Interessante notarmos que na maioria das vilas portuguesas, no Brasil, a Igreja e o

Paço Municipal localizam-se na mesma praça. Demonstração de disputa entre estes dois pode-

res na vida política, econômica e social da povoação. Em Laguna, ao contrário, a Igreja Ma-

triz Santo Antônio dos Anjos e o Paço Municipal (atual Museu Anita Garibaldi) situam-se em

praças distintas. 21

As ligações destas duas edificações com a Fonte da Carioca e o porto (do-

cas) definiram o traçado das ruas principais da cidade (SIMON, 2002, p.18).

Figura 2 – Centro Histórico de Laguna: o núcleo original. Visual da área de terra plana cir-

cundada por morros. Destaque aos quatro pontos conformadores do arruamento.

Fonte: Google Earth, 2007, adaptada.

Notamos na figura que as primeiras ruas surgem mais organicamente, sem um

planejamento. Surgem como ligação dos quatro pontos: Carioca, Igreja, Casa de Câmara e

Cadeia (atual Museu Anita Garibaldi), e as Docas. Os lotes mais ortogonais surgem no século

XIX. Concentram-se mais no „miolo‟ do centro urbano, por motivo do aumento populacional

e crescimento econômico.

21

No Paço Municipal encontrava-se a Casa de Câmara e Cadeia, construída em 1747. Possuía dois andares, no

superior funcionava o poder legislativo e no térreo a cadeia.

Núcleo original delimitado

em 1985.

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O desenvolvimento da vila foi impulsionado pelo comércio em função do movi-

mento do porto. Isto originou uma classe social de maior poder aquisitivo, evidenciado nas

casas mais sólidas que começaram a ser construídas. As casas térreas passaram a dividir o

espaço urbano com os sobrados. Estes, geralmente, abrigavam o comércio no térreo e a resi-

dência no pavimento superior. Surgiram também, nesta época, armazéns e depósitos ao longo

do porto, destinados a estocagem de produtos que chegavam e partiam. Neste período o gado

vindo do Sul era abatido, retalhado, salgado (charqueado), no antigo bairro da Carniça, hoje

Campos Verdes. Após era embarcado para São Vicente, por via marítima, movimentando

ainda mais o porto de Laguna.

Mas, com a abertura do “Caminho das Tropas” (iniciado em 1728), de Viamão no

Rio Grande do Sul a Sorocaba em São Paulo, o gado passou a ser levado pela serra, desvian-

do-se de Laguna. Assim, perde gradativamente a importância como porto exportador de carne.

Sofre com isso um declínio econômico. Essa nova rota do gado ocasiona também um esvazi-

amento no número de habitantes da vila. Estes se deslocaram para povoarem mais ao sul.

Entre os anos de 1748 e 1756, vieram os imigrantes açorianos, incentivados pela

Coroa Portuguesa com a intenção de impulsionar as vilas litorâneas do sul do Brasil com au-

mento populacional. Isto provoca uma grande modificação nos usos e costumes da Vila, mai-

or desenvolvimento da agricultura e dos moinhos de farinha de mandioca. Os açorianos ao

chegarem adaptaram-se a nova vida. Modificaram alguns de seus hábitos, entre eles os ali-

mentares. Substituíram a farinha de trigo, base da alimentação, pela farinha de mandioca e a

carne pelo peixe. O peixe era salgado para consumo ou exportação. Até o início do séc. XIX a

economia continuou sendo de subsistência. Ressaltamos a existência do porto como fator pre-

ponderante ao desenvolvimento de Laguna.

Nesta época, séc. XVII até meados do séc XIX o estilo arquitetônico preponderan-

te era o luso-brasileiro. Este estilo é característico das vilas portuguesas no Brasil. Evidencia-

do em Laguna por algumas características, entre elas: 22

a) edificações construídas em lotes com testada pequena, grande profundidade e ocupação de

quase 100% do lote. Respeitam o alinhamento da rua. Geminadas e conjugadas por razões

de segurança e economia. 23

Configuram um corredor contínuo e bastante homogêneo.

22

As características arquitetônicas desenvolvidas neste capítulo são baseadas no trabalho de conclusão de curso

intitulado „Valorização do sítio histórico da Laguna‟ de TAVARES, Jeanine Mara et al.,1983.

23 A economia refere-se não só ao ônus da construção, como também a limitação de área para construção. Limi-

tação causada pela formação geográfica do núcleo original que compreende a área de terra plana circundada

pelos morros. (ULYSSEA, 1946, p.30)

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b) Tipologias comuns como: casa térrea, sobrado e chácaras. A distribuição interna dos cô-

modos sem variação, correspondendo as tipologias.

c) Edificações construídas com materiais de construção existentes na região: cal, extraída das

conchas; barro, extraído das primeiras camadas do solo das encostas dos morros; e pedra,

solta à beira-mar. As casas mais comuns com paredes de adobe (tijolos maciços de barro

cru) que medem, aproximadamente, 50 cm. As casas de melhor padrão com paredes de

pedra, argamassa de barro e óleo de baleia.

d) As casas térreas na maioria apresentavam piso em chão batido, uma porta e até duas jane-

las.

e) Os sobrados tinham piso em tábuas corridas e presença de forro.

f) As portas e as janelas apresentavam grossos requadros em madeira pesadas ou em pedra.

As vergas eram executadas planas ou em arco abatido. As janelas abriam em guilhotina.

g) A cobertura era geralmente em duas águas (tecnologia mais simples), com telha de barro.

Até meados do séc. XIX sem calhas e condutores.

h) As edificações eram austeras e com pouca decoração. A fachada principal era marcada

pela cimalha abaixo do beiral e pelos grossos cunhais presentes nas extremidades.

i) As cores mais comuns no corpo da edificação eram: branco, ocre, amarelo ou cinza claro.

As vergas, geralmente, eram pintadas em verde, vermelho e azul escuros.

j) Nas áreas públicas ausência de áreas de vegetação verde, não existiam jardins públicos e

particulares.

k) A importação de outros materiais altera as fachadas. Os beirais são substituídos por plati-

bandas e calhas, e as janelas de madeira por vidro.

No ano de 1820 registramos que a população estimada em Laguna era de 9000

(nove mil) habitantes, destes uma parte era uma população verdadeiramente pobre (soldados e

marinheiros), e a outra parte uma classe média, que sobrevivia do lucro do comércio e trans-

porte de gêneros. “Estes comerciantes formariam mais tarde parte de uma elite que se conso-

lidaria a partir da segunda metade do século XIX.” (LUCENA, 1998, p.32).

Laguna em 1847, por Decreto Imperial, foi elevada a categoria de cidade.

Neste tempo é importante registrarmos a vinda dos imigrantes europeus (italianos

e alemães). Os imigrantes chegavam pelo porto de Laguna, ficavam na beira da praia, nos

trapiches, esperando embarcações e seguiam para o interior. No começo era pelas lagoas e

rios e mais tarde através da estrada de ferro D. Tereza Cristina (iniciada sua construção em

1880 e aberta ao tráfego em 1884).

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Com o desenvolvimento das colônias (Azambuja, Urussanga, Grão-Pará, Princesa

Isabel e Braço do Norte) os produtos por elas produzidos eram trazidos de trem e escoados

através do porto de Laguna. Este fato juntamente com a exploração do carvão, fez com que,

na segunda metade do séc. XIX, Laguna assumisse a 4ª posição no estado quanto a movimen-

tação portuária.

O comércio de representações aliado as indústrias da região enriquece ainda mais

as companhias de navegação, lucrando também no transporte. Isto fez com que desfrutassem

de uma situação econômica invejável possibilitando com isso, melhores condições de vida a

toda a população. Este período constituiu a época áurea de Laguna. Algumas construções do

Centro Histórico testemunham ainda hoje a riqueza vivida nestes anos. Parte da geração desta

época está registrada, hoje, nas ruas de Laguna, através dos nomes de ruas, como: Conselheiro

Jerônimo Coelho, Raulino Horn, Oswaldo Cabral, Tenente Bessa, entre outros.

A implantação das edificações nos lotes urbanos foi aos poucos se modificando.

As casas térreas e os sobrados passaram a conviver com novas edificações, agora no estilo

eclético.

A princípio eram os porões altos ainda no alinhamento dos lotes. Mais tarde são

os recuos laterais, possibilitando os acessos através de escadas junto aos jardins, cada vez

maiores e mais imponentes. O espaço urbano conseqüentemente alterou-se significativamente

e passou a incorporar vazios entre as edificações, que antes formavam uma superfície contí-

nua com as fachadas das casas. As construções ecléticas foram locadas principalmente na

parte mais central do Centro Histórico. A maioria construída para uso residencial. Mantinham

o interior das casas na forma original e alteravam o exterior, em busca do “status” social. São

as renovações “fachadistas”. O ecletismo tardio de Laguna veio carregado de influências neo-

góticas, neoclássicas e mesmo art-nouveaux trazidas principalmente pelos imigrantes alemães

e italianos, entre outros.

A cidade figura edificações carregadas de decorações, vidros desenhados e ferros

importados. O telhado arrematado com platibandas ornamentais, balaustradas, e calha para

escoar a água das chuvas. O peitoril e a bandeira desaparecem sendo substituído por massa

com motivos decorativos. As paredes passam a ser construídas de tijolos e cal, dando maior

precisão e diminuindo a espessura. Estes novos elementos marcaram fortemente a nova arqui-

tetura e mudaram a paisagem urbana.

Portanto, foi na virada do século, pelo enriquecimento natural da população, que

Laguna testemunhou o desenvolvimento urbano e intelectual mais significativo desde a sua

fundação. Surgiram nesta época o Teatro Sete de Setembro (1858), a tipografia do primeiro

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jornal (1878), o hospital (1879), o primeiro hotel na Rua da Praia, o Cine Central, a ilumina-

ção pública a petróleo (1891) e o antigo Mercado Público (1893). Este último, incendiado na

primeira metade do século XX.

Entre 1914 e 15 organizam o Jardim Calheiros da Graça com chafariz, palmeiras e

iluminação. Inaugurado em 25 de abril de 1915. Inaugura-se a Biblioteca Pública em 1925, e

também o prédio do Banco Nacional do Comércio.

Entre os anos de 1930 a 1950 aconteceram grandes transformações. Surge o pri-

meiro automóvel, ônibus urbano e ruas calçadas.

No período de 1930 a 1940 edificam-se as sedes do Clube Blondin (hoje Casarão

do ETEC-Laguna da 11ª SR/IPHAN/SC), e a nova sede do Clube do Congresso Lagunense.

Retratos da intensa vida social que o lagunense desfrutava.

Mais tarde, a Rua da Praia (atual Gustavo Richard) perde o movimento de embar-

que e desembarque, pois o porto foi transferido para o atual local, no bairro Mar Grosso. A

estação de trem para o final do Campo de Fora. Antes, o porto do centro fervilhava durante a

semana, e o Jardim, com o teatro, o cinema, e a Igreja atraiam pessoas das diversas classes

sociais.

Após a 2ª Guerra Mundial com a organização do porto de Imbituba, melhor loca-

lizado para receber navios maiores e de maior cabotagem, Laguna perde competitividade. A

crise não foi maior devido a concentração de serviços comerciais, financeiros e públicos que

Imbituba ainda não possuía.

A partir da década de 40 o estilo arquitetônico art deco passou a marcar fortemen-

te os conjuntos urbanos de uso comercial. Mas, com poucos exemplares significativos já em

decorrência do declínio econômico que a cidade sofria. Ressaltamos o edifício do Cine Mussi,

inaugurado em 1950, como o mais importante exemplar desta tipologia arquitetônica no Esta-

do de Santa Catarina. Foi construído neste estilo o novo Mercado Público (1958).

Este estilo retrata a modernidade. A era da máquina, vivida a partir de 1920. Suas

características são: a ruptura com o passado e a inspiração no futuro. Influenciado pelo cu-

bismo e por outras correntes artísticas do começo do século XX, o art deco surgiu como estilo

produzido, principalmente, por designers para adequarem seus produtos à indústria. É o pre-

núncio do modernismo.

A arquitetura desta época apresenta elementos característicos.

a) quebra com o passado, negando a ornamentação e utilizando linhas geométricas;

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b) o lote urbano herdado do séc. XIX não muda. A arquitetura inventa formas para

adaptar-se ao esquema do lote antigo;

c) as construções de esquina são “arredondadas” suavizando o impacto visual;

d) as formas são simplificadas e os detalhes geometrizados (linhas retas nas fachadas,

nas aberturas e detalhes). Uso da platibanda para ocultar o telhado;

e) as residências das famílias mais abastadas, apesar do afastamento em relação a to-

dos os limites do lote, continuam respeitando o paralelismo rígido;

f) valorização da frente em relação aos fundos, mesmo em termos de fachada;

g) desaparecem os porões, fazendo uma aproximação com os jardins;

h) surge a edícula habitável.

No final da década de 50, Laguna decaiu economicamente pela diminuição da ati-

vidade portuária, pelo enfraquecimento do pólo comercial, e fracasso na tentativa de indus-

trialização.

Na década de 60, a construção civil praticamente paralisou. Outro fator determi-

nante para o declínio foi o transporte rodoviário. A construção da BR 101 e abertura ao tráfe-

go da ponte rodoviária da Cabeçuda, deslocou o pólo econômico da região sul de Laguna,

para outros municípios, como por exemplo, Tubarão. Permaneceram aqui somente produtos

pesqueiros, pequenas indústrias, como confecções e o processamento da fécula de mandioca e

arroz.

Mas, na década de 70, a mesma abertura da BR 101 trouxe a possibilidade de uma

nova atividade econômica. A exploração turística do Balneário do Mar Grosso, bairro oposto

ao Centro Histórico, impôs uma implantação urbana diferenciada dos outros bairros da cidade

que se expandiram espontaneamente.

O crescimento do número de turistas de veraneio estimulou a especulação imobi-

liária na praia e, como conseqüência, o centro histórico da cidade também sofreu pressões

desta natureza. Foi o “progresso” desenfreado dos anos 70, que “aniquilava” as cidades para

criar uma nova. O padrão era explorar sem levar em consideração o contexto na qual estavam

inseridas.

No Centro Histórico, o Plano Diretor de 1979, permitia a construção de edifica-

ções de até quatro pavimentos. Incentivava a substituição das casas térreas e sobrados antigos.

Este incentivo faz surgir o rompimento do equilíbrio e da escala humana antes presente no

núcleo histórico da cidade.

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Em 1985, após estudos baseados no levantamento acadêmico de 1983 (TAVA-

RES, et all) o IPHAN, propôs o tombamento de uma fração da cidade. Esta considerada, por

suas características e atributos, o centro fundamental para a manutenção da identidade e da

paisagem urbana tradicional do sítio „histórico‟ da cidade. Este espaço urbano incorpora, a-

proximadamente, 700 edificações e abrange uma área de 1,2Km². Estas formam um conjunto

com características singulares construídas a partir do séc. XVIII. São residências térreas, so-

brados, edificações de grande volumetria, em estilos arquitetônicos variados como luso-

brasileiro, eclético, art deco, modernistas, entre outros. Para efeito do tombamento conside-

ramos, também, o acervo paisagístico. Constituído pelo sistema natural que o envolve, o teci-

do urbano em seu traçado e dimensão, o cais junto à Lagoa de Santo Antônio e o conjunto

heterogêneo de edificações em sua volumetria, ocupação do solo e características arquitetôni-

cas, que expressam a continuidade da evolução histórica do núcleo urbano original.

Ou seja, o tombamento, limitado pela poligonal, abrange não só o exterior, mas

também o interior dos imóveis com diferentes níveis de proteção. Variam desde a proteção

integral até a substituição total do edifício.

Laguna além do tombamento federal da poligonal, com base no Decreto-Lei n° 25

de 1937, possui um bem isolado, antiga casa de câmara e cadeia, atual Museu Anita Garibaldi,

tombado em 1954. A cidade possui também tombamentos em nível municipal e estadual. São

eles:

1. Municipais: Decreto nº 17/78, tomba as fachadas de edificações da Praça

República Juliana e Largo do Rosário. Protege integralmente também, o

Palacete Polidoro Santiago, as Ruínas do Forte do Camacho, e mais dez

edificações isoladas. Decreto nº 26/81, tomba quatro edificações isoladas.

Decreto nº 28/82, tomba uma edificação de moradia e as ruínas do Forte

Garibaldi na Ponta da Barra. Decreto nº 34/88 considera como tombada,

para efeito da lei n° 34/77, a “Ponte de Ferro da Cabeçuda”.

2. Estadual: Decreto n° 1290/29 de 1996, tomba a Igreja do Senhor Bom Je-

sus do Socorro da Pescaria Brava.

O centro da cidade abrigava tradicionalmente as instituições de poder (executivo,

legislativo e religioso) e as funções econômicas. Com isto atribuía-se um valor simbólico su-

perior aos demais bairros da cidade. Lamentavelmente os poderes executivo e legislativo es-

tão migrando para uma outra área da cidade, recém criada as margens do Centro Histórico,

para atenderem interesses privados.

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Hoje a principal atividade econômica é o comércio, com poucos restaurantes, ba-

res e estabelecimentos de hospedagem. Apesar do grande potencial de turismo cultural a ati-

vidade econômica relacionada com o turismo concentra-se ainda na praia, limitada à estação

do verão. Entretanto, o potencial cultural do Centro Histórico poderá, com gestão adequada,

tornar-se a causa da quebra da sazonalidade. Desenvolvendo-se num pólo de visitação e de

lazer regional durante o ano todo.

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CAPÍTULO TERCEIRO

ESTUDO DE CASO DE GRUPO

O nosso estudo de caso de grupo deu-se no Centro Histórico de Laguna com a co-

laboração de treze moradores deste espaço urbano. A vivência destes moradores neste espaço

varia entre 6 (seis) meses e 70 (setenta) anos. São homens e mulheres, jovens, adultos e ido-

sos, ou seja, indivíduos diferentes com histórias de vida distintas. O que os une a princípio

como grupo é o fato de viverem no „mesmo‟ espaço urbano, o Centro Histórico da cidade de

Laguna.

Para analisarmos os depoimentos, relatos, devemos considerar, portanto, o que

nos diz Walter Benjamim (1994, p.200): “[...] o narrador retira da experiência o que ele conta:

sua própria experiência ou a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiên-

cia dos seus ouvintes.” Os colaboradores são os narradores de percepções, leituras e interpre-

tações que realizaram durante os três trajetos pelo Centro Histórico. Agregaram as suas falas,

suas vivências particulares e coletivas, experiências em meios formais e informais de educa-

ção, como a escola e a família, bem como grupos de convívio social. Afloraram de forma

mais intensa memórias de viagens, realizadas fisicamente, ou por meio da literatura ou mídias

em geral, e com isto estabeleceram relações com os trajetos percorridos.

Benjamin contribui com a distinção de dois grupos de narradores, o viajante (ma-

rinheiro) e o sedentário (velho artesão), que se interpenetram de múltiplas maneiras. O narra-

dor só se materializa plenamente se temos presente esses dois grupos. "Quem viaja tem muito

que contar", diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas

também ouvimos com prazer o homem que levou honestamente sua vida sem sair do seu país

(seu lugar) e que conhece suas histórias e tradições (1994, p.198). Seguindo Benjamin pode-

mos dizer que as histórias narradas oralmente estão ligadas a uma vida que simultaneamente

as suscita e as pode escutar. Assim, os relatos dos colaboradores constituem o passado perce-

bido no presente, lido e interpretado no futuro sobre o trajeto, referenciado semioticamente às

histórias de vida. O grupo de colaboradores de certa forma é esse narrador múltiplo, um misto

de viajante e sedentário. O conjunto das narrativas inventa um possível Centro Histórico de

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Laguna. Possível porque a significação é dada pelos interpretantes do signo (CH), os colabo-

radores.

Lembramos que Peirce considera o signo de natureza triádica, podendo ser anali-

sado: em suas propriedades internas (seu poder de significar); em sua referência àquilo que

indica (o objeto); e nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus interpretantes usuá-

rios. Ou seja, a semiótica pode dar conta “dos modos como no papel de receptores, percebe-

mos, sentimos e entendemos mensagens, enfim, como reagimos a elas” (SANTAELLA, 2004,

p. 6).

O patrimônio edificado, objeto do nosso estudo, é signo não verbal, espacial e re-

presenta a identidade e a memória nacional, por ser tombado e reconhecido como patrimônio

nacional. O objeto deste signo é amplo, pois se constituí pela e na história com seus saberes e

tecnologias, no tempo e espaço, e na cultura local.

Importante lembrar que o tombamento representa

“a principal forma legal de garantir a preservação do patrimônio cultural [...] apesar

de não ter sido formulado inicialmente como um direito a ser adquirido (já que foi

sempre outorgado pelo poder público). [...] Surge muitas vezes como um recurso ex-

tremo a fim de garantir a manutenção de marcos e referenciais urbanos significati-

vos” (NIGRO, 2003, p. 170).

Conforme, relata Cinthia Nigro (2003, p. 170), o tombamento atua como forma de

intervenção no espaço urbano, tanto com o „caráter normativo, quanto o „caráter simbólico‟

em nível de terceridade. O normativo refere-se a forma jurídico-administrativa que restringe,

e gera novas formas quanto ao uso e a ocupação dos bens e entornos preservados. O caráter

simbólico diz respeito ao valor atribuído aos bens culturais. Denominá-los „patrimônio‟ é im-

primir novos valores, usos e vivência destes bens tombados com a cidade.

Neste sentido percebemos, lemos e interpretamos o Centro Histórico como signo

espacial. Patrimônio histórico.

O livro intitulado „Alegoria do Patrimônio‟ de Françoise Choay (1999) discorre

sobre a noção de monumento e patrimônio histórico relacionados com a história, a memória e

o tempo. Apresenta que, em princípio, o patrimônio era tratado como monumento, monumen-

to histórico, aquele que, originalmente, interpela a memória. “Qualquer artefato edificado por

uma comunidade de indivíduos para se recordarem, ou fazer recordar as outras gerações, pes-

soas, acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças” (1999, p.16). Com o tempo perde esta refe-

rência tão marcante para ganhar um valor arqueológico, testemunho de grandes civilizações e

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potências, como as pirâmides do Egito. Mais tarde volta-se para valores estéticos e de prestí-

gio. Atualmente esta expressão (patrimônio histórico) marca

“um fundo destinado ao usufruto de uma comunidade alargada a dimensões planetá-

rias e constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que con-

gregam a sua pertença ao passado: obras e obras-primas das belas-artes e das artes

aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e conhecimentos humanos. [...]

Sempre em transformação devido ao movimento e ubiqüidade do seu presente. [...]

Tornou-se numa das palavras chaves da tribo mediática: ela remete para uma institu-

ição e para uma mentalidade”. (CHOAY, 1999, p.11)

Portanto, o patrimônio atualmente presume reconhecimento oficial de um conjun-

to vasto, heterogêneo, e em constante construção de bens culturais materiais (móveis e imó-

veis), imateriais e ambientais. A sua existência atual refere-se ao passado dentro da formação

histórica da nação e da formação de uma responsabilidade coletiva visando o futuro (NIGRO,

2003, p. 166).

Mas, nem todos os traços do passado podem ser considerados patrimônio. Con-

forme SILVA (2006, p.1) “o patrimônio não é só o legado que é herdado, mas o legado que,

através de uma seleção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futu-

ro.” Há uma eleição cultural subentendida à vontade de manter o patrimônio para gerações

futuras e consequentemente um sentimento de posse por parte de um determinado grupo sobre

o que é coletivamente herdado.

Em Laguna, o patrimônio foi eleito por um determinado grupo de certa forma eli-

tizado. Pois, o desejo de legar a cidade, núcleo original, para o futuro partiu de instituições de

ensino, como a universidade, de órgãos de preservação, como o IPHAN, e de autoridades mu-

nicipais. À população coube aceitar a eleição deste patrimônio, o Centro Histórico, e talvez

por isso, o sentimento de incompreensão não seja o condizente para tal herança.

Quando nos referimos a herança, automaticamente vem-nos a noção de valor. Por-

tanto, o patrimônio é carregado de valores individuais e coletivos atribuídos ao bem. Estes

valores correspondem ao tempo e ao meio de determinadas culturas.

Assim, o valor dispensado ao Centro Histórico após seu tombamento no presente

e no futuro com certeza será distinto. Podemos dizer então que o patrimônio é uma construção

social, ou melhor, cultural. Como construção representa simbolicamente uma identidade, no

caso de Laguna, patrimônio nacional, não só dos lagunenses, mas de todos os brasileiros.

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DESAFIOS DE INTERPRETAÇÃO

Observamos na literatura desafios travados no campo teórico e prático acerca do

patrimônio. A própria definição do termo é um deles, inclusive pelos desvios semânticos já

sofridos ao longo da história, conforme já apresentamos. Podemos afirmar que não há uma

unidade conceitual por mais que percebamos essa vontade, mas as premissas estão contem-

pladas neste recorte que construímos.

Desta forma, os próprios termos, debatidos e registrados nas Cartas e Recomenda-

ções internacionais e nacionais, relacionados à permanência do patrimônio como: conserva-

ção, preservação, e restauração, também, buscam consenso conceitual em nível de tercerida-

de.

Um outro termo que cabe uma pausa para definirmos é memória, tendo em vista

sua estreita relação com a noção de patrimônio. Assim como o patrimônio a memória tem seu

fundamento no passado. Segundo Peirce (2003, p.25) a memória “fornece-nos um conheci-

mento do passado através de uma espécie de força bruta”. Seleciona, modifica e segue em

algum grau cada tendência. Possui propensão e intenção. “É uma ação bem binária, sem ne-

nhum raciocinar”.

De acordo com Afonso Carlos M. dos Santos em seu livro Memória, Cidade e

Cultura (1997, p.19) memória é diferente de história.

“[...] o olhar do historiador permanentemente crítico para a memória tomada como

construção imaginária e percebida como elaboração simbólica. Desta perspectiva,

tomamos consciência de que a memória [...] é a reconstrução do passado no presente

vivido, tendendo a projeta-lo no terreno do sagrado. Ela sacraliza o passado, partin-

do, para quem rememora, de uma relação afetiva com o passado que tende a mitifi-

ca-lo.” (FARIAS, 2000, p. 39).

Portanto, enquanto a história está preocupada na narração metódica dos fatos o-

corridos com a humanidade em geral, a memória modifica estes fatos, acrescentando a eles

sentimentos e valores simbólicos. Nós todos com essa relação afetiva com o passado somos

verdadeiros narradores de „história‟. Segundo Marilena Chauí „memorialistas‟ ou como na

antiga sociedade inca „homens-memória‟. Estamos sempre narrando fatos vividos ou que pen-

samos ter vivido. “A memória se configura como (...) a matéria mais irrenunciável do homem

[...], o nosso mais valioso e invisível patrimônio [...]”. (Octavio Paz, in FARIAS, 2000, p.40)

Michael Pollak (1989, p.3) escreve sobre a análise da memória coletiva realizada

por Maurice Halbwachs onde “enfatiza a força dos diferentes pontos de referência que estru-

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turam nossa memória e que a inserem na memória da coletividade a que pertencemos”. 24

Nestes pontos de referência de nossa memória Pollack inclui os monumentos,

“esses „lugares da memória‟, o patrimônio arquitetônico e seu estilo, que nos acom-

panham por toda a vida, as paisagens, as datas e personagens históricas de cuja im-

portância somos incessantemente lembrados, as tradições, os costumes, certas regras

de interação, o folclore e a música, e, porque não, as tradições culinárias”. 25

São pontos de referência em nossa memória, portanto bens (materiais e imateriais)

culturalmente produzidos. Assim, a memória também é produzida, é seletiva, negocia segun-

do Halbawchs a conciliação entre a memória coletiva e as memórias individuais.

“Para que a nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles nos tragam

seus testemunhos: é preciso também que ela não tenha deixado de concordar com

suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre elas e as outras para

que a lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre uma base

comum”. (POLLACK, 1989, p.4)

Nesse estudo de caso de grupo tratamos, preferencialmente, do patrimônio edifi-

cado por considerá-lo mais ligado diretamente ao quadro da vida coletiva e individual dos

colaboradores, usuários deste espaço.

RELATOS GRAVADOS E TRANSCRIADOS

Relembrando. Os treze colaboradores ao percorrerem o Centro Histórico, espaço

urbano, praticaram percepções de primeiridade, leituras, interpretações de segundidade e pro-

posições de terceridade. É nosso objetivo verificar o nível de elaboração destas práticas, após

a intervenção pedagógica da pesquisadora. Foram três encontros onde cada colaborador fez

seu relato totalizando trinta e nove relatos. Todos aparecerão neste capítulo na íntegra, trans-

criados. Consideramos fundamental apresentá-los integralmente, pois haverá melhor visuali-

zação da fala, garantia do registro e da participação dos colaboradores. Afinal os relatos são

essência desta pesquisa. Nada mais justo do que incluí-los no corpo deste capítulo e não se-

rem tratados como anexo.

Os relatos apresentam-se em ordem alfabética, pelos nomes completos dos cola-

boradores, com suas respectivas datas 11, 18 e 25 de janeiro de 2007. Além disso, acrescen-

24

Os escritos de Maurice Halbwachs analisados por Pollak constam do livro La mémoire collective, realizado em

Paris pela editora PUF em 1968.

25 Esta expressão „lugares da memória‟ é encontrada na obra Lês lieux de mémorie. Paris, Gallimard, 1985.

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tamos o nível de escolaridade por considerarmos ser determinante na elaboração dos relatos.

Marcamos nos relatos com cores diferenciadas ocorrências das categorias peircianas: primei-

ridade, segundidade e terceridade.

1 - Amélia Baumgaurten Baião - Graduação e pós-graduação/especialização.

Relato do dia 11/01/07

Então, eu sou Amélia, tenho prazer enorme de tá com vocês aqui e colaborando

com a Gizely, neste trabalho tão gratificante e exemplar. Eu gostari... Eu não... Eu não quero

me estender muito, mas eu olho o tombamento da cidade, o Centro Histórico, sobre três as-

pectos. Primeiro aspecto como moradora da cidade, segundo como fazendo parte de uma fa-

mília daqui de Laguna, sem falsa modéstia, dizer assim tradicional em termos de professores,

historiadores, e em terceiro lugar, o terceiro aspecto, seria porque eu fiz parte do tomba... Da

lei. Eu colaborei com a lei que tombou o Centro Histórico de Laguna. Eu influenciei, naquela

época, muito a visão do prefeito atual, e eu me senti um pouco responsável por ela. Então de

uma maneira geral as minhas opiniões também divergem muito (riu). Dentro destes três as-

pectos... Como moradora de fato eu tenho ainda... Eu guardei e vou trazer pra vocês a primei-

ra reportagem que saiu aqui, depois que Laguna foi tombada, parece que em 85. Né? É. Foi

tombada, a primeira reportagem que saiu foi... Não sei se foi Diário Catarinense ou Jornal de

Santa Catarina. Na época eu guardei. Inclusive eles tiraram fotografias lá de casa, da praça, ali

do centro do Centro Histórico. Então, eles prometiam muito. Prometiam muito. E o nosso

morador ele recebeu o tombamento assim como uma bomba. Ele não tinha conhecimento. Ele

não foi instruído. Ele não foi preparado. Não tinha condições financeiras, não tinha nada que

pudesse fazê-lo valorizar e gostar, daquilo. Então, houve muita relutância no início, muito

bate boca. Há ainda no meio de tudo isso os que olham o lado financeiro, que não é o caso do

nosso morador, porque acho que neste ponto ele colaborou. Apesar de tudo é um dos mais

sacrificados. E... Resumindo tudo isso, pra não me prolongar, eu acho que depois de quantos

anos, de 20, 30 anos? (21 anos – Gizely) 21 anos. Eu acho que o respaldo foi válido. Nós es-

tamos de uma certa forma mais compenetrados, valorizando mais. Reclamando de quem tá

assassinando as suas casas. Como no caso agora o Jéferson gritou logo pela poluição visual, a

Lenira vocês gritaram logo pela conservação dos jardins e tudo mais. Isso é um trabalho de

todos nós. Não é só do IPHAN, não é do prefeito, não é do governo. É principalmente nosso.

Agora, nós precisamos condições, que nos dêem condições para tal. Eu acho que esse trabalho

da Gizely vai acrescentar muita coisa, neste sentido. Tá bom?

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Relato do dia 18/01/07

Então, o que tenho que dizer hoje é que eu gostei muito da fala da Gizely, do que

ela ilustrou. Veio acrescentar muita coisa também ao que eu sabia, ao que eu já tinha esqueci-

do, mas valorizou mais ainda a nossa consciência neste sentido. Agora eu continuo lastimando

é que ainda há uma distância muito grande entre o órgão público, o IPHAN, e o morador de

Laguna. Falta aquela, um termo que se usa muito agora, sincronicidade. Eu sei que isso é difí-

cil, né, que muda governo e as pessoas também aqui, a própria população também vai se al-

ternando. Mas, já se nota que há uma consciência muito maior do que no início. As pessoas já

estão sentindo o valor dos prédios antigos, das construções como se fosse algo que precisa ser

preservado. E precisa mesmo. Porque Laguna ainda mantém, felizmente, apesar de todas as

agressões que já foram feitas, ela ainda mantém aquela característica. Isso é muito importante.

Agora, eu queria finalizar com um apelo pro IPHAN: uma vez houve um projeto que surtiu

muito efeito, quando as pessoas lá do centro... Eu chamo lá a Praça República Juliana. O cen-

tro do centro histórico. Porque parece que tudo vai pra li, e de fato ali tem muita construção

de muito valor arquitetônico. Mas, numa época em que houve um projeto que o IPHAN pare-

ce que dava a mão de obra e o morador dava a tinta ou vice versa. Então, isso houve. Uma

troca de relações. Houve uma relação mais íntima entre o morador e o IPHAN. Então, que

houvessem outros projetos neste sentido. Não sei como. Não sei se vocês fariam ou a gente,

sei lá, algum órgão público daqui, da prefeitura que pudesse nos orientar, mas, eu acho que

isso tá faltando. Porque isso aproxima muito o morador e vai valorizando mais essa idéia, essa

concepção que ele tem. Muito Obrigada.

Relato do dia 25/01/07

Olha como educadores, como professores, eu gostaria de partir da seguinte pre-

missa: todos os valores em voga, todos os valores que nós vivemos, geralmente, nós trazemos

de uma filosofia de vida. A filosofia de vida gera um sistema de vida e um vai reforçando o

outro. Então, tem que haver uma concepção de vida, uma concepção de valores para que as

pessoas consigam ter um certo discernimento, ter um certo... Condições às vezes de se atuali-

zar e de conhecer determinada realidade. Voltando a questão do tombamento, a lei do tomba-

mento ela foi, no tempo do antigo SPHAN, hoje é IPHAN, era do tempo do antigo SPHAN,

ela foi assinada, a reunião foi feita em Curitiba. Não sei se sabes disso Gizely? Foi feita em

Curitiba a portas fechadas.Aqui havia um movimento da Universidade Federal de Santa Cata-

rina, um grupo de arquitetos, da universidade federal. Acompanhados até daquela moça, que

te falei muito, que ela foi muito atuante, que eu esqueci o nome agora. (Janine – Gizely). É.

Então eles percorriam as casas... Meu Deus! Eles caiam de costas quando eles viam. Adora-

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vam. “–Mas que jóia, que maravilha! Isso precisa ser preservado!” Isso contagiou o jovem

daquela época, aqui em Laguna, né. E o jovem, então, ajudado e influenciado, com essa turma

da Universidade Federal começaram com este movimento do tombamento, e paralelamente,

as pessoas interessadas, principalmente, também prefeitos, e pessoas mais influentes na cida-

de também se mostraram a favor. Então, foi feito um levantamento. Existe muita coisa de

valor ainda que precisa ser preservado, embora muita coisa tenha sido agredida, os próprios...

Chamavam naquela época, não sei se usam até hoje “indivíduos arquitetônicos”. Um termo

que eles usavam pros prédios e as casas, né. Então, existia ainda muita coisa, de muito valor,

que precisava ser preservado, em detrimento daquilo que não tinha valor nenhum, como a

própria Gizely nos mostrou. Mas, que era necessário que se fizesse esse negócio de baixo pra

cima, sem filosofia de vida, sem concepções, sem treinamento, sem nada. Foi uma bomba que

caiu, e o lagunense despreparado, causou logo um impacto. As características da cidade, se a

cidade fosse tombada naquela época, elas ainda seriam preservadas, como quem vem de fora

vê logo que é uma cidade que guarda os resquícios de uma colonização mais antiga, de uma

tend... De patrimônio, de potencial e tudo mais. Mas, voltando a questão... Então, agora fui

fazer este adendo e me esqueci o que eu tava dizendo antes. A Laguna manteve as suas carac-

terísticas, então ela precisava ser tombada. Tudo bem, ela foi tombada. Foi de cima pra baixo.

O impacto que causou foi tremendo. Houve um movimento inclusive, vocês não sabem disto,

acho que nem a Gizely sabe disto. Houve um movimento pra destombar, logo em seguida,

inclusive... Olha, prefeito, advogados, pessoas influentes na cidade, até um promotor público!

Foram visitar o presidente José Sarney. E o José Sarney é um homem culto que já tinha tom-

bado São Luiz. É São Luiz do Maranhão, e inclusive chamou o presi..., o Ministro da Cultura,

que eu não me lembro mais quem era na época. Então, receberam a comissão de Laguna que

foi pedir pra destombar, a primeira coisa que eles disseram: “–Meus parabéns vocês vêem...

Vocês moram numa jóia. Um patrimônio nacional! Faço questão de conversar com vocês.

Peço que vocês levem pra lá tudo o que a gente puder fazer.” Então eu ainda vejo, de vez em

quando, umas fotografias desta visita. Não destombaram nada. Porque eu acho que não havia

razão nenhuma, muito pelo contrário. E uma das coisas que me chamou mais atenção na épo-

ca, é que a juventude era a favor. Principalmente, pelo seguinte, uma promessa que muito

pouco se cumpriu que os projetos que o IPHAN iria trazer eram principalmente projetos cul-

turais. Até se falou muito. O Dalmo Vieira, que eu tenho por ele todo o respeito. Adoro o

Dalmo. Ele, hoje, é um dos que ocupa um dos cargos majoritários em Brasília, já. E ele é mui-

to entendido, muito dedicado, gosta muito disso aqui. Mas, o Dalmo uma das coisas que ele

disse que viria pra cá era o seguinte: existiam aqui no sul do estado, diversas escolas de arqui-

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tetura. Então, durante as férias esses alunos de arquitetura viriam pra cá ajudar os moradores,

com o curso de férias. Ajudar os moradores a conhecer pormenores das suas casas, das suas

ruas, da sua cidade. Para que junto com esses alunos da arquitetura, alunos de curso de férias,

fizessem qualquer coisa, cursos, que levassem adiante todo esse tema que deve ser muito ex-

plorado e que ainda foi pouco explorado. Eu sei por exemplo, que eu andei pesquisando, que

em Ouro Preto... Eu não quero dizer que o IPHAN tem obrigação de chegar aqui, aquela porta

caiu e o IPHAN ter a obrigação de botar. Claro que não. Mas eu sei que em Ouro Preto o I-

PHAN muda trinco de porta tombada! Eu não sei se porque é tombada pela humanidade, né?

É patrimônio histórico da Humanidade, Ouro Preto, como é Olinda, como é Salvador, Brasí-

lia. São cinco só, patrimônio histórico da humanidade. Olha o calçamento de Ouro Preto...

Uma maravilha, ele não é... Não são paralelepípedos, são pedras, mas também de vez em

quando ele sofre com erosões, com tudo e logo tudo é restaurado. Pode ser que seja uma zona

mais rica. Eu não ponho a culpa nos prefeitos, absolutamente. Laguna é uma cidade pobre.

Laguna não tem indústria, não tem renda, mal e mal prefeitura. Basta eles estarem do nosso

lado. O nosso lado que eu digo é a favor do tombamento e a favor dessa Laguna, caracterizada

por essa maravilha que nós podemos considerar até uma jóia preciosa. E além de tudo, essa

proximidade que eu continuo batendo na mesma tecla. Projetos culturais que eles prometeram

não vieram. Outra coisa que o IPHAN fez, outra promessa que fez no início, é que todos os

prédios, a maioria dos prédios históricos, aqui, iriam ser aproveitados pelas autarquias, pelas

entidades púbicas. Então, isso já viria dinheiro de fora, gente de fora, e não pelo contrário. Ao

invés de vir foram alugar Shopping. Foram alugar isso, alugar aquilo. Então, aí a culpa não é

do IPHAN, a culpa não é da Prefeitura. Não sei de quem é. Mas, eu acho que nós moradores

precisávamos nos unir. Ela falou com muita propriedade, “-Ah! Que vem alguém.” Não acre-

ditem muito nisso, que não vem milagre. Não cai milagre do céu, de jeito nenhum. Milagre

nós é que vamos fazer, ta. Eu não mais, porque daqui a pouco a gente ta (risos). Mas, assim

quem ainda é jovem, tem muito ideal... E esse milagre existe a custa de muito esforço, não

vem do céu milagre não, absolutamente. (Posso dar um adendo? Eu não quis dizer que eu era

contra o tombamento, mas sim teria que repensar a forma de como ele acontece - Luciano

Candemil) É isso, isso é o que eu digo. Aqui por exemplo, eu vejo que ninguém se mostrou

contra. Não, só aquela primeira menina daquele dia, né? Que queria botar fogo em tudo, né?

(risadas) (Está referindo-se a uma colaboradora que desistiu da pesquisa após o primeiro en-

contro) (Gizely, não adianta só o corpo técnico do IPHAN, arquitetos e estudiosos, estudantes.

“- Ó aqui é o clássico. Aqui não sei o que e tal.” Falta é a gente conhecer, e a forma pra pre-

servar... Aqui, como é o nome, aqui? Conhecer pra preservar. Não é uma coisa mais ou menos

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assim? As pessoas... Pros lagunenses conhecer... Por isso que eu disse, a gente tem que ter

acesso a mais edificações antigas não só um, dois, três, quatro museus - Luciano) Agora, nós

temos que entender que de fato pro morador de Laguna ele onera. Pra conservação de uma

casa antiga é muito mais difícil do que uma casa moderna. É muito mais. (Só mais um dado

importante. A minha avó, Dona Zulma Candemil, ela doou uma casa pro IPHAN, com algu-

mas exigências que fosse pra uso público. Porque a casa tava numa condição precária e ela

não tinha condições de recuperar. Porque vivia de renda e por medo da casa cair em cima de

alguém e ela sofrer alguma alguma... Como é? Uma ação judicial, coisa desse tipo, ela doou a

casa - Luciano Candemil) Quanta gente devia fazer isso? (Ela até... Ela pôde, mas tem gente

que só tem essa casa pra morar – Luciano Candemil)

2 - Antônio Cláudio Quirino Ramos - Graduação

Relato do dia 11/01/07

Bom. Eu sou o Antônio Cláudio, quero dar a minha visão do Centro. Sou formado

em Turismo. Então, dar a minha visão como turismólogo, né. Eu acho que o Centro que a

gente tem aqui é muito completo em estilo. Falando em estilo arquitetônico, nós temos três

aqui que são os mais, que aparecem mais aqui. Só que eu acho que o que ta prejudicando a

gente vê isso, como eles já falaram antes, é a poluição visual. Como placas muito grandes,

toldos e essas coisas que atrapalham bastante. Isso que ta atrapalhando bastante e o calçamen-

to também. A má conservação de algumas e a ótima conservação de outras que isso é impor-

tante a gente falar. A gente passou e viu algumas casas sendo reformadas, tem uma do lado do

IPHAN que tá sendo. Isso é muito importante pra gente, tanto pro morador que vai ta numa

cidade melhor, quanto pro turista, que é o caso da nossa cidade. E eu acho que a gente tem

que... Como já falaram, e eu também nunca andei pelas ruas com o olhar crítico, pouco críti-

co, mas não tanto como hoje, hoje tinha no foco. Eu acho que a gente devia fazer mais isso.

Buscar o que a gente acha que a nossa cidade merece, porque o nosso centro aqui é difícil de

ver algum parecido com isso que a gente tem em Laguna. É esse o meu depoimento.

Relato do dia 18/01/07

Bom, eu já tinha assistido a uma palestra parecida com esta. Foi a primeira, assim,

sobre os estilos arquitetônicos de Laguna que já deu uma visão diferente, pra mim, da visão

que eu tinha do nosso centro. E hoje foi um detalhe, assim, que ela me acrescentou. Mais uma

vez um detalhe diferente, que foi prestar atenção nos detalhes das casas. Naquelas sacadas,

acho que não é sacada..., (nos balcões – Gizely) nos balcões, detalhes de flor, de ramos, de...

Os detalhes. Todos os detalhes que eu não tinha prestado atenção. Eu sabia que era detalhe,

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mas eu nunca tinha olhado e identificado o que era aquilo ali. Era um detalhe. É bonito, mas

não sabia o que era. Se alguém me perguntasse: “- Ah o que tem naquela casa que o Joinha tá

reformando?” Hoje eu sei que é flor. Tem uns ramos, tem vidro jateado que também tem mo-

tivos florais, né. É coisa que eu nunca tinha prestado atenção, pra mim. Também no IPHAN

aqui, acho que é um C e um B, né, do Clube Blondin que era aqui antes. Eu nunca tinha pres-

tado atenção, e... Agora eu comecei a prestar atenção neste detalhes que eu acho muito impor-

tante. Isso chama bastante atenção. E a preservação deles, a gente manter eles aqui, isso foi

com relação à palestra. Agora uma coisa que o primeiro colega falou ali sobre o mercado.

Uma vez eu fui numa palestra do Beto Barreiros que é dono do Box 32, lá de Floripa, Floria-

nópolis, que foi um dos principais atores da revitalização do mercado público. Lá ele falou

que... Uma das citações dele é a seguinte: “quando for numa cidade e tiver o mercado público

visite porque lá tem todos os segmentos de uma cidade”. Tu conheces uma cidade dentro do

mercado, e eu acho que em Laguna seria uma idéia, de um projeto de revitalização, a gente

conseguir botar isso tudo lá. A gente até tem, mas eu acho que é muita mistura, assim, meio...

Não mostra como é a cidade. Não tem o prato típico. Tem a peixaria, mas não tem o prato

típico. Não tem uma... Não mostra como a gente é, como é o nosso dia a dia. Era isso.

Relato do dia 25/01/07

Boa tarde a todos. Gostaria de agradecer a Gizely, aproveitando que é o último

depoimento, a aprender um pouco mais da minha cidade. Cidade que eu to voltando agora,

seis meses que to aqui de novo, e a gente acha que a gente sabe tudo, né? E não sabe na ver-

dade nada da nossa cidade. Então, além de conhecer pessoas novas, né, de vista a gente co-

nhece bastante gente, mas assim não. E, como eu falei, não é muita coisa que eu vou acrescen-

tar nos meus relatos, mas é a coisa que eu achei muito importante não foi só... O outro, no

outro relato eu falei que eu comecei a prestar atenção nos detalhes das edificações, mas achei

que era naquela caminhada e não era mais. Mas, eu to chato comigo mesmo, assim eu to an-

dando nas ruas e to prestando atenção em cada detalhezinho. Buscando achar detalhes nas

edificações, nas casas, buscando identificar o que é aquele símbolo que ta lá, o que é aquilo, o

que é cada coisa que ta em cada casa aqui. E deixo uma crítica que é com relação às ruas e as

calçadas, principalmente. A gente nota bastante dificuldade no pessoal. Muita dificuldade,

principalmente, quem usa um salto mais alto ou...É bem difícil, ou olhando pra cima, tropeça

e é capaz de se machucar. E as... Acho também que o que está atrapalhando bastante a gente a

observar esses detalhes que eu tanto falo, são as placas. Placa muito grande, muita placa e

algumas cores também que não..., que destoam completamente do nosso Centro. A maioria a

gente vê que ta dentro do padrão, mas aquele, pra mim, aquele rosa muito forte, aquele laranja

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muito forte, aquele roxo pra uma casa não dá. Eu acho até... Eu prestei atenção ali na do

“Bloko Rosa”, que é rosa a casa. Até é uma casa pequena e é o “Bloko Rosa”. Então, eu achei

até que não agride, e acaba não agredindo tanto pelo fato de ser o “Bloko Rosa”. Não sei se

pro turista, digo, to dizendo na visão de um lagunense. A gente conhece o “Bloko Rosa”. A

gente conhece, a gente sabe por que a casa é rosa e não uma farmácia. A gente quer dizer...

Sei que é rosa só pra chamar atenção, e o “Bloko Rosa” não é só isso, chega até... Pode al-

guém achar que destoou, mas eu achei que ficou combinando com a nossa cidade. Foi isso

que eu achei. Gostaria de encerrar agradecendo a todos, e a Gizely por esse aprendizado. Mui-

to obrigado.

3 - Conceição Guerreira Siqueira - Fundamental incompleto

Relato do dia 11/01/07

Boa tarde, o meu nome é Conceição. Eu moro no Centro, né. Moro há 33 anos a-

qui. E a minha visão também é o que elas falaram, né. Que a cidade, que os calçamentos que

ta tudo estragado. As casas, as frente das casas... Ali do lado da livraria do Juca aqueles lixo

na rua que não tem umas lixeirinha pra por. Não tem nada. Os lixo é... Todos os cachorro an-

do revirando, e as ruas estragada. Outra coisa que eu queria é que não tivesse tirado da Lagu-

na ali era o antigo..., a antiga rodoviária que tinha no centro da cidade. (É uma pena, né. He-

loísa). É. Eu gostava daquilo ali. Tinha os bar, tinha tanta coisa bonita ali. Eles tiraram. Dei-

xaram aquilo tudo aberto, aquilo ali devia de ser preservado, aquilo ali. Eu achava bonito. Ali,

também, a praça... Ali, também, da antiga Anita. Ali, também, tá bem ruim. O calçamento,

tudo ali, né, ta bem... É o que eu achava que devia ser melhor. E o resto... Têm muitas casa

bonita, outras tão mais, né, com as frente bem estragadas que deviam ser bem preservada. O

resto eu acho que já disseram tudo, né? Dos calçamentos, das ruas, dos postes, da casa. Isso

todo mundo já falou. É o que eu tinha pra dizer. (O que fixou na tua mente é exatamente as-

sim: andou e sentiu a falta da rodoviária? - Gizely) É da rodoviária que eu gostava que tives-

se... Eu achava que devia não ter tirado da cidade, que devia preservar. Eu tenho lá em casa o

jornal. Eu tenho um jornalzinho, lá em casa, e olho pra ela e tenho saudade daquele tempo ali.

Meu marido trabalhou muito tempo ali, bastante, né. Eu acho que não devia ser... Não devia

ter tirado dali do Centro da cidade, né. E o resto é só. Fiquei muito feliz, também, né, de co-

nhecer elas, de caminhar junto com você, de conhecer você, também. E o resto é só.

Relato do dia 18/01/07

Ai meu Deus. Eu não gosto de falar. Eu, ai meu Deus, o que eu vou dizer? Já dis-

seram tudo. Boa tarde a todos, né, e primeiramente, eu to muito feliz de ta aqui de volta né,

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com todo mundo, com você Gizely, né, e o pessoal todo... O que eu gostei da nossa caminha-

da... Gostei muito foi da..., que a gente..., foi explicado tudo direitinho, que ela já disse, né,

das casas. Umas que não tão, ta mais ruim, umas tão pintada bonita, muito bonitas. E das ruas

gostei muito daquela pintura ali do Blondin, aquela pintura ali é linda né, do Congresso. Do

Congresso. E aquela ali da Clínica e outras casas também que a gente passou que tão muito

bonitas, né. E esse negócio do mau cheiro na cidade, também, na cidade. Desses esgotos, des-

sas coisas, alguns entupido, né. E o resto eu acho que não tem muita coisa, né, pra acrescentar,

né. Gostei de muitas coisas, gostei de ta junto com vocês todos. To muito feliz. Gostei da ex-

plicação tua, também ali, né. Explicou muito bem explicado pra gente, né? A gente não en-

tendia passou a entender, né. A gente passava como ela disse. Passava nas casas... A gente

olhava aquela..., as casas assim na frente e não..., olhava tudo bonito, mas não sabia como é

que era feito. Não sabia. Não tinha explicação de nada, e então, você explicou muito bem.

Tava tudo muito bonito e muito obrigado por tudo, né, e até a próxima.

Relato do dia 25/01/07

Me descobriram aqui! Ai meu Deus! Boa tarde a todos, né. Pra mim... Sou Con-

ceição. Pra mim é um prazer ta aqui de volta com vocês. E vou falar sobre as ruas, né, que tão

ruim. Todas elas bem estragadas, e sobre as casas, e sobre o tombamento que pra mim eu a-

cho muito bonito. Também as cores das casas têm umas que tão mais ruim, outras melhor, né.

E olha, eu não sei mais nem o que... Todo mundo já falou tudo, né. Eu volto, aquele..., atrás

aquele negócio ali da rodoviária, né. Eu insisto naquilo ali. Aquilo ali devia ser preservado,

né. Era muito bonito, aquilo, de vê pela cidade. Ali tinha dois bar grande. Tinha muita gente

empregada ali. Tinha um posto de gasolina. Tinha muitas coisas ali que era bonita, né. Então

devia aquilo ali ser preservado e tiraram da cidade, e aquilo ali ficou muito vazio, aquela parte

ali, né. Então, eu voltei atrás de novo, porque eu queria que se fosse pra voltar atrás que tives-

se... Eu queria que voltasse aquilo ali. Mas não pode né, então. E o resto é sobre a cidade que

as vezes tem muito lixo, também. Muitas coisa, né. Sobre a casa também estragada, né, muitas

casas elas só tem a frente não tem mais..., só o terreno. E o resto não tem mais o que falar. Eu

to muito contente de ta com vocês aqui de novo. Foi um prazer ter conhecido ela e muita gen-

te, alguns eu conhecia outros não, foi um prazer conhecer eles, né. E o resto é uma boa tarde a

todos, uma boa noite.

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4 - Dirlene da Silva Oliveira - Fundamental incompleto

Relato do dia 11/01/07

Boa tarde a todos. Meu nome é Dirlene. Eu gostaria de falar sobre as fachadas das

casas, né. Antigamente muito mais bonito, bem trabalhado, tudo feito com tanto carinho, né,

mais dificuldade pra fazer as coisas. Sobre os materiais, eram mais difícil pra se encontrar e

tudo tão bonito. Hoje eles fazem umas casas, uns quadrados e pronto, ta pronta a casa, né? E

todo aquele trabalho, aquelas coisas... Eu acho muito bonito o Centro Histórico, sobre as casas

antiga, né, que tem esses trabalho. Só.

Relato do dia 18/01/07

Boa tarde meu nome é Dirlene. Hoje eu gostaria de falar das praças. A praça aqui

da Igreja ta muito abandonada, sem flor. Ta morta, sem flor. A Praça da República Juliana

botaram um calçamento, não sei o que foi aquilo, tamparam tudo, né. Ficou assim uma coisa

sem vida. Não parece mais uma praça. Tem uns quadrados lá. Não sabe se é banco, se é can-

teiro, que flor não existe, né. Sobre isso e sobre o cais, aqueles lixo que vem ali pro canto,

aquele cheiro. Quando a gente passa por perto tem aquele cheiro assim de maresia, uma coisa

esquisita, bem no canto, não sei se tu já notasses. Toco, lixo, aquelas coisarada que vem tudo

ali. O pessoal, que vende peixe, acho que joga os restos ali, dos peixes. Sobre isso e sobre as

casas. Como eu já falei na primeira e não me canso de falar, e não me canso de olhar porque

eu gosto. Eu passo várias vezes. Eu observo várias vezes, já procurei saber. Tudo que tu falou

eu já tinha percebido, já tinha visto, já parei perto, já olhei bem de perto. Passei a mão, brasi-

leiro é assim, pra ver aquilo. Porque eu acho tudo muito bonito, essas casas antigas, e as co-

res, também, né. Eu acho essas cores fortes bonitas, que chama atenção. São casas antigas, a

gente olha com outro olhar. Assim, quanto mais forte mais bonito fica, na minha opinião. O

que eu acho é isso.

Relato do dia 25/01/07

Hoje eu vou falar sobre as escadas que eu observei das casas, né. A escada, eu

nunca tinha observado a gente só olha, assim, os detalhes das fachadas, mas é tão bonito. A-

cho assim que naquele tempo as mulheres viviam, assim, nas altura sem salto alto. É porque

assim, bem chique, de certo descendo com aqueles vestido bem grandão, né. Bem chique,

com aqueles vestidos (risos). E sobre os porões também, né, que eu acho legal. Hoje querem

abrir tudo, fazer garagem, mas é tão bonito assim conservar, né. Como nós estamos aqui no

porão conversando, né. Esses porões são tão bonitos.

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5 - Eduardo Tasso de Miranda - Ensino Médio incompleto

Relato do dia 11/01/07

Eu nem sou daqui (Ah, seu Eduardo, o senhor é daqui. - Gizely.) Eu sou o marido

dela (referindo-se a Liane). (É eu sei disso. Não é só marido. O senhor é o Eduardo - Gizely).

Quem tá falando é o Eduardo Miranda. O que eu sinto na Laguna é uma tristeza. É triste. Eu

conheço vários municípios que são muito mais bonitos, as praças, as casas, e cada vez que

passa a Laguna se torna mais triste. (quis devolver o gravador) Muito obrigado. (Mas essa

tristeza esta associada às ruas? - Gizely) A tudo, a cidade em si, as casas, o calçamento. Eu sei

que é uma cidade pobre, mas não... Nem tanto relaxamento assim, neste ponto de vista.

Relato do dia 18/01/07

Eu Eduardo Tasso Miranda. Eu achei que a Laguna melhorou muito. No ano que

eu cheguei aqui as casas não eram tão bem pintadas como hoje. Eram mais rústica, não tinha

pintura. Hoje elas tem. Ali na rua da praia, na rua, principalmente na rua da Praia eu fiquei

muito impressionado agora, hoje. Deu uma visão muito bonita atual. A Laguna em si que era

antigamente, melhorou muito. Melhorou. Já que a gente não vê, é o dia a dia, chama atenção,

tudo pintadinha. Deu uma impressão muito boa. Hoje eu vi de outra maneira. Muitas casas aí

que tão reformando. Não tem até..., ninguém ta morando e não foi esquecido, na parte históri-

ca da Laguna. Uma parte, algumas ruas. Agora eu não posso aceitar um cidadão como ali na

praça. Comprou um terreno e abandonou. Não ta construindo porque não pode. Eu acho que

tem que haver alguma lei. Tem que se dizer alguma coisa. Ele tem que fazer alguma coisa.

Ele comprou agora um terreno do lado da Bega, tá mesma coisa. Ficou lá, vai ficar abandona-

do, ou então ele vende pra uma outra pessoa. Eles façam o que quiser, mas eu acho que ele

tem que ter um prazo pra construção ali de uma casa projetada pela própria SPHAN, da ma-

neira como tem que ser. (E justamente ali... Posso continuar da casa? Onde a Bega tem uma

livraria que fechou agora, né, a livraria do Juka. Ali é um porta lixo. Na frente da casa deste

rapaz que ele comprou – Liane) O que tem de rato ali é uma coisa impressionante. (É porta

lixo. Todo mundo... Moradores vêm lá de longe colocar o lixo ali. Ela quando... Ela abria a

livraria e até pedia pra pessoas não botar, porque o mau cheiro dentro da livraria era impossí-

vel. E continua o lixo todo dia ali, móvel, cadeira velha, tudo – Liane) Eu não sei se você sabe

mas o rato sobe a parede pode ser a altura que for ele sobe. Esses camundongos, eles, vem por

baixo até da casa cheia de areia. Isso eu já observei quando eu botei o piso da minha casa, eu

observei aquilo. (E são esses dois terrenos, justamente, que ali ta chamando. O lixo é bem na

frente do terreno - Liane). Bem que eu tinha pra dizer era só isso. Eu gostei. Eu gostei da sua

aula também, vi de outra maneira (A gente aprendeu bastante – Lenira) Por isso que eu com-

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parei com Curitiba, Largo São Francisco, (Largo da Ordem – Liane) Largo da Ordem. As

construções são quase idênticas (Pra quem faz arquitetura vale a pena visitar. Visite, visite –

Liane).

Relato do dia 25/01/07

Eu sou Eduardo Miranda falando sobre a Praça República Juliana. O Cadorin fez

aquela Praça pra trazer animais do Rio Grande do Sul. Pra fazer desfile de cavalo. Pra fazer a

comemoração da... Farroupilha, sobre a Anita Garibaldi, sobre aquela festa que ele fez. Fez

mais ou menos, depois que a Praça teve pronta, umas dez ou doze festas por ali. Somente pra

cavalos, aquela Praça. Pode notar. Pode observar em frente do Museu é limpo, não tem entra-

ve. Ali é que se faziam aglomeração de animais. Toda vida foi isso. A intenção deles pra fazer

essa Praça, da maneira como feito, da maneira como foi planejada, foi única e exclusivamente

pra festa da (Tomada de Laguna – Luciano) é, exatamente. Pra aparecer, e o resto ela ta vazia.

Até as plantas que eles plantaram morreu. Morreu tudo. Não tem...Uma criança não pode

brincar de bola, de balança. Todas as Praças que eu conheço no Brasil tem. Ali é proibido.

Turista não tem mais nada. Quando eu cheguei na Laguna o Museu da Laguna tinha muito

mais coisa pra se ver do que hoje, hoje não tem, absolutamente, quase nada lá dentro. (Hoje

Eduardo eles fazem o acervo itinerante. Eles guardam e vão movimentando aos poucos, por-

que é uma técnica de museu – Amélia) Mas, aí eu acho... Bom, pra mim eu acho errado isso,

né. As coisas deviam ta lá. (Na época que o Jorge tomava conta que a gente ia lá..., até a mi-

nha sogra fez questão, veio de Curitiba, fez questão de conhecer o Museu. Ele tinha coisas

lindíssimas, que também tem hoje não to dizendo que não tem, mas eram coisas muito dife-

rentes e o povo ia ver. Hoje ninguém entra. Eu não acredito nisso. Liane) (Não entra porque é

pago – Gelza) (Mas, eles dizem que por aí tudo é pago – Liane) Em qualquer cidade históri-

ca... (É pago! Pois é, é pago! – Liane) (Mas, a diretora do Museu ela gaba que ta aumentando

cada vez o número de visitadores. Não entendo isso. Ela vê pelo ingresso - Amélia) (Não,

Amélia é o seguinte: vem muita criança, muito escolar. Criança, estudante de faculdade, tal-

vez, ou 2º grau. Muita professora, muita coisa, mas o turista mesmo, assim de mais..., de ter-

ceira idade, ou então casais, ou outras pessoas vem muito menos. As pessoas não entram no

Museu. Entram as que são de escola, que precisa fazer um trabalho – Liane) Eu queria falar

sobre a Praça (Do passeio... O senhor... – Gizely) É. Eu botei a praça é um ponto fraco nosso.

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6 - Gelza Olga dos Santos - Ensino fundamental completo

Relato do dia 11/01/07

Boa tarde a todos, eu sou a Gelza. Moro aqui na Laguna há 28 anos. Eu sinto que

a nossa cidade está cada vez mais deixada de lado. Os nossos governantes eu acho que eles

pensam tanto, mas ao mesmo tempo eles se esquecem das coisas. Não estão conservando. Não

ajudam, e as coisas se acabam. Todo muito já falou da poluição visual. Eu acho muito feios

esses postes no meio das ruas. É feio mesmo. As placas tudo. E as casas agora até que já tão

sendo mais bem tratadas. Tem casas muito bonitas, com os acabamentos, assim, que deixam a

gente olhando, que não cansa de olhar. Muito lindo. Por mim, e a minha família, nunca deixa-

ria acabar isso. Porque é uma coisa que até me emociono de falar mesmo, porque eu acho

maravilhoso. Todos teriam de ter a consciência de guardar mesmo o nosso passado. E espero

que todo mundo, que essa pesquisa da Gizely, que ela tenha mais abrangência e que todo

mundo ajude que ela possa mesmo pensar pelo morador, porque talvez o próprio morador não

tenha... Muitos não tenham como cuidar. Porque eu acho que teria que ter uma outra forma de

como a pessoa conservar. Porque tirar do bolso, nem todo mundo pode. Então o que puder ser

feito pra conservação do patrimônio eu acho que deve ser feito. Muito Obrigada.

Relato do dia 18/01/07

No meu novo modo de olhar a cidade, que não mudei, a minha idéia continua a

mesma, eu acho que tem que ser conservado mesmo, né. Só que eu acho assim que tem esse

lado de mau calçamento. O calçamento é muito ruim. Esse odor, né, dos esgotos também que

dia de vento, algum tipo de vento dá na cidade e dá mal estar na gente. Acho que teria de ser

tratado também. Porque acho que não é só as casas que teriam que ser cuidadas. Não é só nes-

se lado, acho também teria que ter um outro tipo de tratamento também pra isso, né. E que

assim, tem o lado antigo e tem o pós-moderno e moderno, numa sintonia que eu achei até le-

gal. Porque ai olhando, vi um outro tipo de casa que até então a gente olhava só aquelas mais

antigas. Mas, tem o outro tipo que foi feito após né, que até tu explicou como que era, eu a-

chei bem legal também. Eu também acho, assim, que tem que tanto ter o velho, assim conser-

vado, e tem que ter o moderno, que tem que manter, porque senão o cidadão não vai gostar.

Ele não vai gostar. Nem todo mundo gosta do antigo, né. Se uma pessoa quer investir na cida-

de tem que incluir o moderno. Tem que dar espaço também. Tem que ter senão a pessoa de-

siste. Eu já ouvi conversa que tem gente... “- Não eu não vou investir lá na Laguna. Como vou

investir lá? Eles só querem aquelas coisas antigas, né. Não aceitam nada do que a gente quer.”

Mas, ta legal. Ta bom. Eu acho que dentro disso, eu acho que ta sendo muito bem conservado.

É isso que tem que ser, que eu acho que é o certo.

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Relato do dia 25/01/07

Meu pensamento é um só, mas com alguns detalhes, né, de antigo e novo. Eu gos-

to da aparência da cidade, do modo como ela é. Saudosista pra maioria das pessoas. Até quem

chega aqui, que vem morar aqui, também gosta de como ela é. Pena que nem todas pessoas

têm o poder aquisitivo pra ta arrumando a casa como teria que ser feito. Essas edificações

antigas que tem que ter um preparo. Tem que ser um modo diferente. Pelo poder aquisitivo

mesmo acho que é o mais difícil, não que ele se torne mais caro. Mas é que a pessoa..., difícil

tirar o seu dinheiro do dia a dia pra investir. Eu acho que é por isso que as edificações muitas

vezes se acabam, né. Seria interessante, claro que se o poder público pudesse ajudar, mas eu

acho que tem tanta coisa pra ser ajudado que não sei se levariam em consideração isso, né. E

tem que ter o novo também, tem que ter essa do novo, porque nem todos gostam do antigo. A

pessoa quer preservar, mas ao mesmo tempo também quer fazer uma coisa nova, acho que

dentro da harmonia das edificações é importante também pensar assim. Então, eu continuo

fazendo é... Vamos dizer assim, uma corrente, pra que nada se perca. Que consigamos, com o

tempo a gente fazendo as coisas necessárias andarem, e... Era isso o que eu tinha pra dizer.

Estou muito contente com todos, de conhecer pessoas novas e me relacionar com todos vocês.

Pra mim foi uma honra. Muito obrigada.

7 - Helena Preuss Foss - Ensino fundamental incompleto.

Relato do dia 11/01/07

Meu nome é Helena. Moro há 50 anos aqui. Não sou daqui. Moro já há 50 anos

Os filhos cresceram tudo aqui. E era muito diferente quando eu cheguei aqui em Laguna, né,

dá vista de hoje, né. As crianças podiam brincar na rua. Tu não precisava nem olhar. Brinca-

vam. O carnaval era a coisa mais linda. Eu achava muito bonito o carnaval antigamente. Não

é mais como hoje. Hoje é diferente. Não é isto. Tu podia sair com as criança de noite. Anda-

vam sozinho. Hoje em dia não pode mais. Mas é porque mudou tudo, né? E a cidade assim,

nós... A minha casa também é tombada, né. A gente cuida do jeito como pode, né. Mas falta,

assim, muita coisa. Era bonito, assim, pintar os meio fio que ta tudo abandonado, né. Isso que

eu acho bonito, né, pra quando vem os turistas pra ver a cidade. O Museu também não ta mais

muito conservado. Ta ficando feinho, né. Tem que ter uma pinturinha. É isso. (risadas) Só

isso. (O que marcou no caminho? O que marcou a senhora no caminho? A senhora veio pen-

sando sobre isso?) É vim pensando, mas tem umas casas muito bonita. Uma casas antigas

muito bem conservadas, naquela rua de lá, em frente ao mercado, ali. Ali é a rua melhor que

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tem, né. É ali as casas mais bonita. (Onde tem o Uega? – Gizely) É ali. No centro, ali a Rauli-

no Horn já não é tão bonita, tem mais buraquinho, tem as coisa tudo.

Relato do dia 18/01/07

Boa tarde. Primeiro gostei muito. Gostei muito da palestra. Gostei muito porque

explicou direitinho. Porque a gente não entendia bem, né. As casas, essas coisas, né. Hoje eu

gostei mais porque tem bastante casa, assim, que ta bem pintadinha, né. Bonitas. Tem..., só

que tem umas ruas que tão feia, mas até que as casas tão bem conservadinhas, né. Naquelas

ruas como a Gustavo Richard e a Raulino Horn ta bem, eu achei que tava tudo legal, mesmo.

E ali na pracinha também já falaram, né. Não adianta falar sobre a pracinha. Não adianta. (Fa-

la o que você pensa - Gizely) Tinha aquele... Um prédio ali do lado do museu, né, que ta fe-

chado. Esse prédio é uma pena que não arruma. E qualquer dia ele cai né. E se fosse... Isso aí

devia arruma, né. Podia se inventar uma outra coisa pra abri isso aí, pra funcionar, né. As ca-

sas mais conservadas. O mercado já falaram, também, que ta feio. E aquela rua lá eu achei

tudo bom. Só as calçadas que tão meio quebrada, né. Tão feias. Hoje é só.

Relato do dia 25/01/07

Eu gosto muito das casa, né. Adoro essas casas antigas. Desde que eu cheguei a-

qui em Laguna, sempre gostei dessas casas, né. Porque eu morei numa casa dessa. Depois

compramos outra casa, e eu gosto muito. Só que tem algumas que tão muito feinha, né. Bem

feinhas. E as ruas também que tão... Porque antigamente parece que não era assim. Quando eu

vim pra cá parece que era mais conservado, não sei. Ela tinha mais casas antigas que foram

derrubadas, né. Já não existe mais, como ali no Banco do Brasil, tinha uma casa muito bonita

e qual é a outra, lá na Caixa Eco..., não no Bradesco, também, era tudo umas casas, uma mais

bonita do que a outra, né. E é isso, essas casas, assim. Eu gosto muito é dessas casas antiga

mesmo. Não gosto desses apartamento alto. Dessas coisas assim não. Não gosto de coisa mo-

derna. Não é todo mundo que gosta, né. Tem gente que não gosta. Mas, meu parente quando

vem lá de fora, eles adoram. A gente leva eles pra tudo quanto é lugar. É pro farol, é pra co-

nhecer tudo, né. Então eles gostam. Eles gostam de coisas antigas. Eles vêm do Paraná, de

São Paulo. (Eles não querem ver o que tem na cidade deles –Amélia). Da Alemanha, já tive-

ram lá em casa. Dormiram lá na época que o coral trazia os alemão pra cá, né. Que o coral foi

pra Alemanha depois veio a turma da Alemanha pra Laguna, aí cada um levou um casal pra

dormir na sua casa, né. Eles adoraram a Laguna, gostaram muito, só que acharam que tava

muito mal conservada, né. Porque lá é tudo diferente, né. Muito diferente. Mas é isto. É a

mesma coisa hoje, é a mesma coisa, né. É tudo igual como na outra vez.

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8 - Lenira Maria Amboni Nicolazzi - Ensino médio completo

Relato do dia 11/01/07

Lenira Nicollazzi participo desta tarefa de ajudar nossa amiga, aqui, Gizely pra

historiar bem, olhar bem o centro de Laguna. Coisas que a gente as vezes não se detém em

olhar, né, fica meio sorvida, assim, em outras coisas. E é realmente como falou o meu ante-

cessor... Realmente uma coisa que me toca muito, que eu falo muito, que eu critico muito, é a

nossa praça, o nosso jardim, é o nosso cartão de visita. Pessoas agora que vieram do Rio de

Janeiro perguntaram pra nós... Eu não sei a quem compete a conservação do jardim. Não sei

se é o IPHAN. Não sei se é a prefeitura. Não sei se é o..., como é o (Moradores? - Amélia)

Não! Moradores não... E a gente fica assim. Vê essa tristeza ali. Só limpam, só varrem, né.

Não tem uma grama, não tem uma flor, uma conservação. Muito triste mesmo. Até pergunta-

ram: “- Meu Deus a cidade de vocês não tem prefeito?” Não tô culpando o prefeito nada...

Mas eu acho que ali era o cartão de visitas às pessoas que chegam. E as vezes também... Eu

notei, também, certas ruas aquelas casas que a gente vê que na frente tão quase caindo tudo.

Eu acho que pelo menos a frente daquelas casas deveria tomar providências, antes que acon-

teça algum acidente com alguma pessoa... São as coisas assim que me chamaram muita aten-

ção. O calçamento também da cidade, né. Aquela parte ali do jardim, aquelas árvores que já

subiram pela calçada. A noite aquelas pessoas que vão a missa, né, pessoas mais velhas então

levam um tombo. Volta e meia a gente vê. Então, eu acho que a vida humana é muito impor-

tante, né, e que teria que ser tomadas providências. Muitas coisas. Eu acho que o nosso Centro

Histórico é muito pequeno e poderia ser mais bem vistoriado. Esse é o meu depoimento.

Relato do dia 18/01/07

Boa tarde a todos. Hoje a gente teve uma aula maravilhosa com a Gizely. A gente

aprendeu bastante coisa e viu que a gente aprendeu que olhando todos os dias, assim, não se

detém naquelas construções, assim. A gente viu que tem muita coisa que agora que a gente ta

começando a notar. E por exemplo assim, aquelas madeiras que a Gizely mostrou ali no pai-

nel... Madeiras entalhadas, aquelas coisas, que hoje é tão difícil de a gente ver. A gente que

morou numa casa assim, né, tão antiga que hoje é o SESC. Então, a gente tinha porões com

aqueles acabamentos em ferro, aquilo tudo. Então, deu uma saudade assim muito grande. E

hoje aqui na Laguna muita coisa mudou, já não é mais assim aquele centro histórico muito

bonito não. Tem muita coisa bonita, que foi conservada, mas tem muita coisa que eu acho que

ainda que agora mudou, que agora é difícil de consertar uns prédios, umas casas, umas coisas,

assim, que nunca deveria ser mexida no Centro Histórico, né. Então mudou pra mim no meu

modo de ver as coisas, né. E eu gostaria de fazer uma pergunta pra Gizely assim é tipo assim:

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por que a IPHAN ela interdita uma obra, uma coisa, quando ela é feita dentro da casa, na casa

de uma pessoa? Por que não só com fachadas, com essas coisas, com a arquitetura dela, né?

Por que dentro de uma casa? É que as pessoas me perguntam e até me pediram pra fazer essa

pergunta pra Gizely. Por que dentro de uma casa uma parede que as vezes tem dois centíme-

tros a menos ou a mais a obra é embargada? Então? (Porque a gente não preserva só a capa do

livro. A gente preserva o que tem dentro do livro. A casa, usando a metáfora do livro, a casa

não é só paredes externas, o que tem dentro diz muito dela. Por exemplo a planta baixa daque-

la casa que eu mostrei, se tivessem permitido tirar todas as paredes e aumentar as divisões...

Eu já não tenho mais noção do que era quarto, sala, o que ela dizia, como esse povo vivia a-

qui. Porque a partir do momento que tem o tombamento não se está mais preocupado só com

quem vive aqui, mas manter também o pensamento do passado. Então se vive em cima de

balizas... O que posso alterar que não vai alterar uma história? E o que posso alterar que a-

crescenta mais a essa história? São pareceres muito subjetivos. Não tem uma diretriz que diga

isso pode, isso não pode. Existe umas coisas que não podem: aumento de volumetria quando a

edificação é muito antiga, tirar uma parede de pau a pique pra substituir por uma parede de

tijolo furado... A tecnologia do pau-a-pique é muito difícil de se fazer hoje. Não tem gente

que saiba fazer pau a pique como antigamente. Esse tipo de coisa que se pondera sempre. A

conservação de coisas antigas, tabuado, taco, machetaria, forro sai e camisa... A tecnologia ta

indo embora com os carpinteiros que estão morrendo. Então, esse tipo de coisa é preocupante,

onde se firma o pé. Com coisas que não merecem firmar o pé não se firma. Quando o IPHAN

ta firmando pé com alguma coisa, ao invés das pessoas pararem e dizerem assim: “ - Ui que

chatos. Dizer assim: “- Opa, o que tem lá de tanto valor que eles estão teimando? O questio-

namento deveria ser diferente. Questionamento deve existir, mas a gente deveria sempre pen-

sar: “- O que esse povo que trabalha com patrimônio está teimando com uma coisa que parece

que não tem valor?” Tem valor, só que não se tem tempo e nem gente suficiente pra esclare-

cer todo mundo. Motivo há pra se preservar, ninguém faz algo por „picuinha‟. Porque quero

manter aquela janela ali, porque acho bonitinho. Nem tem critério de eu acho bonitinho. Exis-

te um porque embasado na tecnologia antiga... Preservar coisas que hoje em dia não se faz

mais. É nesse ponto que se pondera. Por isso que dentro é importante - Gizely) Hoje eu nem

sei muito o que vou te dizer, alguma coisa mais... Não sei... Estou contente de ta aqui, de ta te

ajudando. É o que eu posso fazer pra te ajudar, e acho que a IPHAN ta melhorando bastante

do que a IPHAN antiga que veio pra cá.

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Relato do dia 25/01/07

Boa tarde a todos. Agradeço, também, pelo convite da Gizely e fico contente da

minha parte se eu poder ter colaborado pro mestrado dela. Eu ficarei muito feliz quando ela se

sair bem dele pra me dizer... Eu to loca pra saber. E muita pouca coisa assim hoje teria pra

dizer. Porque a gente já teve esses outros dois passeios antes e... Continuo afirmando que tem

muita coisa ainda a desejar na nossa cidade. Acho assim que da parte de prefeitura ta péssima.

Nosso Jardim continua um horror, fico muito triste com isto. Muitas casas precisando assim

de pintura. Não sei se... lógico a gente sabe, né, que as pessoas..., muitas não tem condições

econômicas no momento, mas não sei se quem sabe um acordo aí entre governo do estado,

IPHAN. Alguma coisa em doar a tinta, ou doar a mão de obra, como se fazia antigamente. As

coisas ficariam mais bonitas. Eu tenho certeza. Porque eu tenho certeza que uma pintura numa

casa ela modifica bastante o visual, né Amélia? E que mais que eu poderia te dizer, algum...

Ta o calçamento, conforme o menino falou, também péssimo em algumas ruas, né. E muita

pouca coisa eu tenho que dizer. Porque a gente não tem uma formação, né, em arquitetura, em

nada. Então, até pra nós foi muito bom esse encontro aqui com a Gizely, porque pra nós ela

foi até como uma professora. Ela nos ensinou muita coisa e hoje a gente começa a perceber a

cidade de Laguna, eu principalmente, com outros olhos. Eu começo a notar os detalhes, né,

aqueles varandões, aquelas coisas, aqueles acabamentos, aqueles madeirame, aquilo tudo.

Então, eu to bem contente por isso também. To bem contente com o grupo de amizade que a

gente fez, e com a Gizely que ela se sai super bem na tese dela e que ela tenha muito sucesso.

Se precisar de mim, qualquer coisa, outra vez, estou ao seu inteiro dispor.

9 - Liane Laranjeira de Miranda - Ensino médio completo

Relato do dia 11/01/07

Bom eu sou Liane e queria falar sobre as praças, o jardim, principalmente esse

jardim aqui que o meu avô, Ataliba Goulart Rollin, foi uma das pessoas que ajudaram a fazer.

Ele trabalhou junto com as pessoas e fez o Jardim, que na época não era um jardim, era só

um... Não tinha nem árvore, não tinha nada. De acordo com esse trabalho ele trabalhou tanto

que acabou pegando uma bronquite crônica e ficou doente, pelo trabalho que ele fez junto

com as pessoas no jardim. Outra coisa é a Praça que antigamente se chamava Praça da Ban-

deira que eu moro lá há cinqüenta anos. Nunca foi tão mal tratada como é agora. Ela tinha

bancos, outros tipos de bancos, muita árvores. Era menor... Era outro tipo... Era um pouco

maior tinha uma ponta que depois cortaram. Não tinha esse calçamento, esse que fizerem o

calçamento todo. Era.... Sei lá, eu acho que naquele tempo tinha mais criança brincando. Ti-

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nha mais tudo. A praça chamava mais atenção. E hoje, eu acho que quando abro a janela de

manhã parece que to vendo uma cidade morta! Muita casa ali já ninguém mais mora. Muita

casa é, já, comércio, e... É uma cidade, assim, que morreu. Pra mim Laguna, dos tempos que

passou pra agora, morreu. Eu vivi quinze anos em Curitiba, quando voltei senti a diferença de

Laguna. Laguna não é mais aquela. Tá, só. (risadinhas)

Relato do dia 18/01/07

Então, boa tarde. Gostei muito da palestra da Gizely, vendo aquelas casas antigas

como o Congresso, como a clínica, o Cine Mussi e outras residências que são as coisas que

estão embelezando a Laguna. Essas casas tão lindas mesmo e outras que conservaram como

as dos Mussi. As duas do Mussi. Naquela rua ali várias casas conservadas. É a rua que mais

eu acho que conservou casa. Ali, a Rua Rio Branco. Ali naquele pedaço que tem umas casas

que pitaram que ficaram bonitas. É o Albor que foi restaurado... Ali tudo, e lembro também de

um local que eu conheço muito que é o Largo da Ordem em Curitiba, que também tem essas

residências assim. Numa esquina tem uma igreja presbiteriana idêntica ao Congresso, e a Clí-

nica, a torre idêntica ao Largo da Ordem, onde tem a praça que tem a feirinha do artesanato.

(Nunca viu? – Eduardo; Não conheço – Gizely) Ah! Vale a pena. (Ta tudo tombado lá tam-

bém – Eduardo) Vale a pena, o Largo da Ordem em Curitiba. Vale a pena conhecer. É tudo

assim, tudo antigo. (Até o bebedouro dos cavalos ainda tem lá– Eduardo) Ainda tem, é tudo

muito bonito. (É atrás da catedral – Eduardo) É ali onde eles fazem aquela feira de artesanato,

todo domingo, e é tudo muito bonito. E uma outra coisa que uma pessoa me pediu pra falar e

eu tinha me esquecido na outra ocasião. É sobre um som que tem lá na praça que uma loja que

botou muito alto. Ta incomodando as pessoas, mas isso também não vem ao caso. O caso é o

seguinte, quando tem a semana cultural que eles colocam aquele som... Se tem uma apresen-

tação mais suave, tudo bem, mas quando é assim uma coisa de mais jovem... Não to condena-

do o jovem, ta tudo muito certo, mas é que o som... A altura do som é tão alta que as paredes,

as vidraças nossas da praça, elas sacodem (trepida – Eduardo), mesmo lá no fim onde a gente

ta na sala de televisão as janelas fazem a trepidação. A pessoa que pediu pra mim mora mais

perto ainda do som. Ela diz que não pode nem parar porque a casa dela toda treme. Quer di-

zer, o som tem direito é festa, a semana cultural é tudo muito bonito, ninguém ta condenado,

adoro quando tem aquilo tudo lá na praça que até movimenta, mas é na hora do som dessas

músicas assim hip hop... Essas coisas que é mais alta, aí prejudica. (Vai ás duas horas da ma-

drugada – Eduardo) É e vai muito alto, e sacode muito. Teve até um rapaz ali da praça que fez

um abaixo assinado pra mandar pro pessoal da cultura, pro som ser mais baixo... Houve a

outra semana cultural no outro ano e não abaixou nessa hora, não abaixou. As outras apresen-

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tações foram tudo muito bonito, muito né. Tudo era muito bonito, mas esse som alto demais é

que não dá. Não é que eu quero dizer que ali mora muita gente que tem mais idade... Não é

isso. Mora gente jovem, mas... “- Ah! É porque eles são de mais idade e não gostam de festa

de jovem”. Não é isso. A gente gosta quando tem a semana cultural ali. Embeleza a praça.

Esse abaixo assinado foi feito no outro ano e esse ano houve outra vez a festa. Houve duas

noites de som alto. Aquelas outras apresentações folclóricas, aquilo tudo, aquilo não atrapalha

nada, mas é o som da... Quando é uma banda de hip hop, essas coisas assim. E outra coisa

também... Voltando a praça. Se aqueles canteiros que ninguém gostou, se fossem retirados, se

fosse feito um outro projeto, um outro projeto paisagista? Ali diferente, pra alegrar mais a

visão? Porque não dá! Até as gramas secaram. As plantinhas que foram colocadas ali de vez

em quando a gente ia lá jogava uma água. Mas o que adianta? Só nós os moradores?! Devia

ser uma pessoa encarregada da prefeitura vir pra molhar, pra grama conservar. Não conser-

vou. É só isso, e muito obrigada pelo convite.

Relato do dia 25/01/07

Vou pegar a dica do menino lá (referindo-se ao Luciano). Pegar a tua empolgação

e vou continuar. Liane. Sou residente da Praça República Juliana que ele acabou de falar, que

aquilo lá ta morrendo. E os moradores morrendo junto, porque eu me sinto triste. Triste, né,

de vê aquilo. Porque na frente... Não sei se alguém lembra que na frente do museu, naquela

parte ali, tinham várias árvores com bancos. Todo mundo sentava ali. Era a praça. A praça era

toda de árvores. Era diferente. Depois que resolveram fazer o tal do calçadão, não tem mais

movimento de carro. Lógico aí não entra nada. Não entra carro. Carro só parado passa lá. Na

frente ninguém pode parar. Se para é multado. E... Aqueles canteiros que fizeram..., botaram a

grama. Ninguém cuidou da grama. As plantinhas que colocaram ali, flores coloridas, morreu

tudo. Ninguém cuidou mais. Ficou a praça... Ao invés de ficar bonita, ela ficou horrorosa.

Agora a questão do turista é verdade. O turista quase não..., nem entra no museu. Eles chegam

na porta, perguntam quanto é, e não vão no museu. Eles preferem ir lá no artesanato, que tem

ali na minha casa, não é meu é alugado, olhar as coisas, comprar um sorvete do que ir ver o

museu. Tem gente que diz: “- Ah, não! Prefiro ficar aqui na praça”. Sentado ou vai comprar...

Eu escuto. As vezes eu to na janela, to vendo o movimento do turista na praça. Aquela praça

devia ter outra atração. Uma vez até, quando foi feita a planta, quem também começou a fazer

a planta, quem veio falar com o IPHAN eu acho que foi o Karin Bacha. Não sei, não me lem-

bro... Ele distribuiu, até pra todos, um xerox. Teria floreiras no estilo da rua XV, de Curitiba.

Floreiras diferentes. Não era aquele quadrado ali, e a sugestão dele, também, era botar um

coreto pra haver de vez em quando uma apresentação de banda. Uma apresentação de conjun-

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to musical, pessoas que cantem. Coisas pra alegrar o pessoal da praça, o turista e o pessoal da

Laguna, né. Porque ali era um local que podia ter isso, uma coisa assim. No verão tem o car-

naval que também não é na praça. Começa já na outra esquina, mas no inverno não tem nada.

Quando tem a semana cultural é só aquela semana cultural e logo depois acaba, né. Nós não

temos lá na praça... Hoje a minha intenção é só falar sobre a praça. Quando eles resolveram

fazer o calçadão... Eles: a CASAN, a CELESC e a TELESC furaram as calçadas para botar...,

passar os fios por baixo né. No caso da CELESC... A CASAN também fez aquela parte pra

botar o relógio. Eles quebraram as calçadas e não fizeram mais nada. Ninguém nem... A gente

ficou pensando que eles depois iriam recuperar as calçadas. Na frente da minha casa... Eu

acho que sou privilegiada. Eu tenho três rodas, uma roda da TELESC, o quadrado da CASAN

e o quadrado da CELESC, bem na porta de casa. Antes tinha um poste que era bem na porta

da minha casa. Agora tiraram o poste. Tudo bem, ficou bonito, não resta a menor dúvida, mas

a praça não ficou bonita e ainda aquela canaleta. Aquele negócio que eles botaram pra correr a

água. A água não corre, a água... Sabe naquele dia, sábado, que houve um chuva muito forte?

A água entrou nas portas das casas. A água subiu tudo ali, porque entupiu tudo. Aquilo fica

cheio de folha. Eles não limpam. É isso eu quero falar, sobre o lugar onde eu moro. A minha...

O meu canto. Aonde eu mo..(Na verdade aquilo não é uma praça.É um passeio, né? – Luciano

Candemil) E turista? Muito pouco, muito pouco. É só. A agradeço a Gizely, por ter convida-

do. Muita gente aqui eu já conhecia. O moço ali (referindo-se ao Luciano Candemil) eu fiquei

satisfeita, ele sabe falar muito bem. Gostei bastante. As meninas ali, as outras pessoas já são

conhecidas minhas, e muito obrigado.

10 - Luciano Candemil - Graduação

Relato do dia 11/01/07

Meu nome é Luciano Candemil, inicialmente Gizely obrigado pelo convite pra es-

se projeto inédito, como você falou antes. Eu queria assim... Na caminhada eu pensei tanta

coisa que eu espero lembrar agora. Vamos ver... Mas, eu queria começar pelo final, pela con-

clusão. Eu acho que... Olhando, assim, as casas, os prédios que as pessoas, antigamente, eram

mais felizes. Porque assim... As casas eram mais alegres. As janelas são grandes. As portas

são grandes, de frente pra rua... Talvez porque não tinham medo da violência. Já a janela está

de cara na rua. Acho que tinham mais contato. As pessoas já abriam as janelas conversavam

com as outras que passavam na calçada. A casa era muito mais que uma casa. Tinham assim...

Acho que uma vontade de expressar alguma coisa. Tem aqueles brasões, tem alguns dese-

nhos... Não sei. A casa tinha uma informação a mais, assim. Talvez da família, talvez do tra-

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balho que as pessoas faziam, e bem... Essa é a minha conclusão. Acho que as pessoas eram

mais alegres. E a casa passava isso. E o resto é que, infelizmente, tem algumas coisas aqui no

Centro Histórico que destoam muito. Tem um prédio aqui de quatro andares que não tem nada

haver com cidade. É... Os postes, a poluição visual... Sei lá. E o resto, né. E.... Acho que é

isto. Resumindo bem acho que antigamente as pessoas eram mais felizes e a forma como as

casa eram demonstra isso. Esse é o meu sentimento.

Relato do dia 18/01/07

Bom, boa tarde, mais uma vez, a todos. Gizely obrigado pelos ensinamentos na

pequena palestra que a gente teve ali. Foi bem importante. Eu queria começar o meu relato,

praticamente, da mesma forma do meu primeiro e até reforçar ele. Eu acho que as pessoas

antigamente eram mais felizes e isso ta refletido nas casas antigas, nas formas como elas eram

feitas. Acho que as casas eram muito mais que casas. As janelas eram maiores, as portas. Ti-

nham uma vontade de receber mais luz, ter mais contato com a natureza... As pessoas viviam

mais com as pessoas. As pessoas viviam mais com as pessoas e o fato de viver mais com as

pessoas eram mais felizes. (A palestra influenciou o teu olhar em algum aspecto ou não? Gi-

zely). Nem... Acho que nem tanto. Porque eu tinha observado isso já da outra vez... O fato de

a casa ter os detalhes, ter algumas informações, da beleza, né. A casa não era só uma casa

tinha uma coisa a mais, assim, acho que eu falei isso da outra vez. O que me ajudou foi aquela

planta da casa. A planta que tu mostrou me clareou essa concepção de que as pessoas real-

mente viviam mais em comunidade, assim, mais... Se conversavam mais. Talvez isso é que

deixavam elas mais felizes, não o fato de ficarem isolados com o computador, com... Não

sei... Acho que as pessoas tinham mais tempo para outras pessoas, né. Hoje todo mundo ta

ocupado, não tem tempo. Não sei o que. Não posso e tal. Então, até eu pergunto. Até que pon-

to o progresso ele é importante, assim? Fora isso eu queria pontuar algumas coisas que eu

marquei aqui. É o seguinte. Assim, que me fez pensar. Porque que o calçamento da rua Rauli-

no Horn é diferente do resto, que é de lajota, né? É... Eu acho que o mercado ele perdeu a fun-

ção dele como um serviço pra cidade. Não gostei da cor que ele tem hoje. É... Existem uns

quatro prédios de quatro andares, cada um, terríveis dentro do contexto do patrimônio históri-

co. Embora tenha até uma função. Até é engraçado ele tem uma função importante. Ele que...

Ele foi um divisor de águas, né? Na questão de tornar a cidade, este centro num patrimônio

histórico. Tem mais algumas coisinhas aqui... Ah! Aquela loja de esquina onde é o Siqueira...

Me remeteu ao Teatro Arthur Azevedo de São Luiz. Não sei se pela cor, pelo tipo de fachada.

Embora menor me fez lembrar, assim. A casa onde é a Uega, né? Me lembrou a rua Portugal

de São Luiz, também, que tem aquelas casas assim. Fora isso... Mais algumas três coisas que

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é: a casa antiga mesmo pequena, por menor que seja... Ela reformada, mantendo seu aspecto,

ela chama muito mais atenção, assim, mais que uma casa grande moderna. A outra coisa... Eu

percebi que os prédios históricos de grande porte tão em três pontos distintos. Assim, tem o

Cine Mussi, tem o Mercado, tem os clubes, né, o Blondin, o Congresso e o Operária, e tem os

prédios dos museus ali. E pra encerrar a questão do poste, dos postes, né... Já falaram aqui que

era uma poluição visual, só que ninguém..., o poste não chegou sozinho ali, né. Alguém botou

o poste ali, claro que não a melhor concepção de visual, mas e se a gente tirasse os postes dali

hoje? Dava pra viver assim? (É porque na praça foi tirado - Liane) É não to defendendo ele

como ele está, mas, também, não dá pra tirar ele de uma vez... Tirar ele assim de qualquer

modo. Porque não ia ter luz na cidade. Então acho que deu, né, bastante coisa.

Relato do dia 25/01/07

Boa tarde. Ah! Eu marquei um monte de coisa, mas eu vou falar menos do que da

outra vez ta. Prometo. Eu queria fugir do meu tema, sempre vida, mas não dá. Eu vou voltar

no mesmo assunto, só que de uma outra forma. Hoje eu não observei as casas, os detalhes,

assim. Não quis dar uma de arquiteto, de desenhista, eu não sei, eu fui mais pra tentar obser-

var o arredor das casas. E aí eu observei umas coisas... Por exemplo, a principal que eu acho:

a diferença da praça do jardim, pra da Bandeira. A da bandeira não tem vida. Ela é uma praça

que nem é pro turista e nem pro morador. No meu modo de ver. Eu até coloquei aqui ó: na

praça do jardim tinham vinte pessoas sentadas, tinha cachorro na outra nem cachorro tinha.

Criança andando de bicicleta, eu escutei o som das árvores, eu senti muito o vento, a sombra.

Tinha morador, tinha turista, né. Então, eu acho que precisava repensar. Eu sei que a pracinha

aqui não ta nas melhores condições, pode ter chafariz, pode ter... Mas a da Bandeira pra mim

ta sem sentido. Eu acho que fizeram uma coisa pra turista, mas no fim não vai nem turista e

nem o morador. Eu acho que podia ter mais coisa, mais sombra. Tiraram a vida da praça. Eu

acho que é isso. Eu acho que teria que repensar aquela praça. Usar mais ela, usar mais ela. Ah,

e em relação a praça eu não acho que é tão assim desastroso aquela cor lilás daquela casa. Eu

até gostei desta vez. Porque eu olhei de um ponto... Eu olhei, assim, a lilás, aquela casa dos

Nunes que é branca, e uma amarelinha. A amarelinha com a lilás combinam. Eu acho que de

repente tenham outras casas que não tão combinando. Tem umas casas quase caindo. Tem

umas que tão só no reboco. Eu acho que não é tão agravante assim, é minha opinião ta Gizely.

É... Deixa eu ver aqui... Deixa eu me organizar aqui. Ta. Uma das outras coisas que eu obser-

vei assim foi que desta vez eu fui atrás de todo mundo, né. Engraçado, né, a gente, todo mun-

do foi pela sombra, né. Todo o trecho a gente foi atrás da sombra. Então a sombra é importan-

te, o vento. Eu senti muito o vento hoje. Muito vento pelas ruas, sombra... E a gente sempre ia

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pela sombra. Observei todo mundo aqui. Sombra pra cá, sombra... Então aquela praça, vol-

tando ao início, ta faltando sombra, pras pessoas sentarem, ler um livro, olhar pro museu. Não

sei o que, e tal. As casas antigas não tem grades, né, nas janelas. Hoje em dia tu já constrói

uma casa e já põe... “- Não, aqui vai um portão de grade”. Não sei o que, e tal. Isso eu obser-

vei, as casas antigas não tinham grades de proteção. Deixa eu me organizar aqui. Eu sugiro

que a gente um dia, nós todos aqui, se a Gizely puder agilizar, que a gente fizesse um passeio

com o guia. Eu nunca fiz um passeio em Laguna com um guia turístico. Eu já fiz em São Lu-

iz, Salvador, Fortaleza..., mas nunca em Laguna. Lá a gente aprendia mais coisas. Eu acho

que a gente podia aproveitar esta turma aqui e numa outra tarde, num outro mês, sei lá, inven-

tar um passeio com guia. Como se fosse turista, chegar como turista. Aqui nasceu... aqui teve

Garibaldi, aqui perdeu a arma, ali não sei o que, conheceu Ani... A gente não conhece... Ah,

falando no jardim... O jardim tem assim biotipos diversos de árvores. Tem uma...sintonia inte-

ressante que na outra praça não tem. E acho que tem... Bem a questão do tombamento eu acho

que tem que ser revisada. Porque pra uma época como esta que já é, quinta–feira à tarde de

sol, verão tem pouquíssimos turistas na cidade. Então, assim como a Gizely falou, turismo,

turismo... Turismo de patrimônio, né? (Turismo Cultural – Gizely) Turismo Cultural é um dos

mercados mais fortes do Brasil. Hoje eu acho que Laguna não ta pegando nem uma fatia desta

parte aí. Eu acho que podia pegar uma fatia muito maior. Então, tem que repensar o tomba-

mento. Eu acho que tem que ser uma coisa mais..., contextualizar a coisa geral. Porque, assim,

eu já tive muito nas cidades do nordeste e a gente vê muito turista caminhando pelas ruas do

Centro Histórico. Aqui não, eles vão na pracinha da Igreja. Aí saem. Pegam ônibus vão lá pra

outra pracinha. Eu não vejo turista caminhando pela cidade. Não só hoje. Todos os dias quan-

do eu ando por aqui. E, a outra coisa, pegando da explicação passada que a Gizely deu que um

dos motivos de manter as casas antigas é pra conhecer como as pessoas viviam antes... Foi

isso que tu falou? Então, de novo teria de repensar o tombamento. Eu acho que o governo

municipal, estadual, nacional devia é comprar algumas casas pra que a gente pudesse entrar.

Porque se pega uma casa, assim, uma casa antiga e uma família compra, nós nunca vamos

saber como é que ela era por dentro e, conseqüentemente, nunca vamos aprender como é que

eles vivam antes. Agora uma casa antiga que transforma numa escola, num museu, num con-

servatório, numa casa de artes, numa biblioteca, eu acho que as pessoas da Laguna tem que ter

mais acesso a esse ambientes. (Como a Celesc – Lenira) É por exemplo. Aí a gente vai lá pa-

gar uma conta, quer dizer, vê um negócio, vê aquele quadro enorme bonito, entra pelos cômo-

dos... Porque uma casa particular a gente vai olhar por fora, ta bonita, não sei o que. Mas, não

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vai conhecer o modus vivendi de antigamente. Então eu acho que a questão do tombamento,

nesse ponto, ele deveria ser repensado. Deu é isso.

11 - Marcília Soccas – Graduação

Relato do dia 11/01/07

Boa tarde. Eu sou a Marcília. Eu não sei se eu sou uma idealista, ou... Eu não sei.

Eu vejo a Laguna com outros olhos. Eu adorei passear pelas ruas, ver aquela orla ali. O que

me chamou mais atenção foi aquela orla. Eu acho que Laguna tem um potencial que outras

cidades talvez queriam ter e não possuem, belezas naturais e tudo. É claro que a gente ta ven-

do que precisa de melhorias quanto aos postes, as ruas, as praças. Mas eu acho, né, tudo isso...

Eu sou moradora ali, nasci aqui, mas eu acho que a gente também tem que conhecer a nossa

cidade, a nossa história. Eu tento passar pros meus sobrinhos o quão importante é, né, não

desmerecendo, né, a tua opinião (referindo-se a Maria Cristina-colaboradora desistente no 1º

encontro). Acho que cada um tem opinião, por isso que eu acho que sou uma idealista. Por-

que eu acho que Laguna tem tudo pra ir pra frente, pra gente olhar com outros olhos e não só

de críticas e não só é culpa do governo, ou sei lá... Ou enfim, a gente mesmo tem que buscar

melhorias, né, pra nossa cidade, pra nossa comunidade, e passar isso pras crianças também já

irem conhecendo a história. Eu adoro a Laguna. Eu acho é que tinha mais que preservar esses

casarios, essas... Claro buscando sempre recursos, que eu acho que ninguém consegue, né,

sozinho. Enfim, valorizando sim a belezas naturais. Eu acho... Claro que o Mar Grosso, a

praia, tá crescendo, e eu acho que isto faz parte da cidade mesmo, né. (Cidade nova com cida-

de velha - Heloísa) Lógico a gente não vive de passado, a gente tem que olhar pra frente, mas

não deixando morrer essa história, de Anita, de Garibaldi, do Museu, esses pontos turísticos,

assim, que devem ser melhor, lógico preservados. Mas eu acho que Laguna tem um potencial.

Eu acho linda, tem mais é que preservar, mesmo. (Mas essas casas que tão abandonadas tem

que tomar uma atitude, né? Heloísa) Sim, aí até como moradora eu queria saber o que a gente

pode fazer pra... Teremos interesse em preservar a nossa praça, né Heloísa? Assim, cuidando,

e... Enfim, acho que é isso. Eu acho que tem que conhecer pra preservar mesmo. (Nós aqui,

elas cuidamos das nossas casas, quando dá pinta, quando pode arruma. Agora o que eu sou

bem contra mesmo são aquelas casas que tão caindo, que tão fechadas, eu acho que deveriam

tomar uma atitude - Heloísa) É e até os moradores verem também o que podem, né. (É. Lá

perto da minha casa tem duas casas tombadas que vai ser tombada pelo..., por falta de aten-

ção, de cuidado, que vão cair, vão tombar mesmo, vão tombar na marra - Heloísa) Literalmen-

te vão cair. Então, a gente tem que lutar. E Laguna vive disso do Turismo (Eu não troco La-

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guna por cidade nenhuma do mundo – Heloísa) Não também não, porque praia, ninguém vem

pra praia, né, tem em todo e qualquer lugar, mas querem vir na carioca, né, querem conhecer a

Igreja, a Matriz. Acho que deu né? Falei demais até (risadas).

Relato do dia 18/01/07

Bom boa tarde. Eu acho que assim que da semana passada pra essa, por mais que

as pessoas... Mudou a visão delas... Eu vejo que antes eram mais críticas, das casas, disso

mesmo que hoje ainda ocorra, né, o calçamento, uma coisa e outra, o problema de esgoto, e

tudo. Mas, eu acho que depois... Eu acho que tu tais fazendo uma ponte, né, assim entre o

IPHAN e que tão te olhando muito assim: “Ah! A Gizely ela vai resolver tudo, a gente vai

fazer, né”. Não é assim. Eu acho que a ponte que ela ta fazendo, que eu acho... To achando

assim importante, é tentar passar conhecimento pra gente. Pra que a gente conheça a nossa

história, eu acho né. Eu acho que a tua palestra foi assim numa linguagem clara, assim bastan-

te clara mesmo. Porque, né, pessoas de todos os tipos, assim, que entendem melhor ou não as

coisas. Enfim, mas eu achei bem explicado e o pessoal vai sair daqui, com certeza, falando e

vendo Laguna de uma outra forma. Sabe assim? Até eu mesmo que já tenho..., que gosto de

Laguna, que já via..., hoje eu percebi detalhes que nunca tinha olhado. Ali do muro do SINE,

ali que tu comentaste. Quando tu comentaste, eu assim pra mim: “- Mas que detalhe que tem

nesse muro do SINE, que pra mim é um muro. Até acho bonito, meio arredondado... O que

tem lá?” Eu nunca tinha observado aqueles detalhes assim, aqueles vazados. Eu achei lindo,

assim. Claro que a gente olha, mas a gente olha mas não vê. Sabe assim? Tu olha como tu.

Hoje não, eu comecei a ver os detalhes das casas. A diferença que tem sim de casas mais anti-

gas, né, dos beirados... Tudo com outros olhos, que na outra vez eu sai olhando mais... Olhan-

do os casarios mais antigos, assim, né. Os que a gente acha que tem mais destaque, os que tão

realmente ruins precisando de pintura, o calçamento... Até um olhar mais crítico do que... Ou

então: “- Muito bonito.” Eu achei da outra vez a orla, e tal, que me chamou a atenção. Hoje

não. Hoje eu me apeguei aos detalhes. E vi, e percebi, assim, que as pessoas também, assim,

tiveram uma outra visão. Acho que devido a tua palestra... Eu acho que deu uma outra visão

pra nós. Eu percebi isso, né. Não sei o que os outros acham, então que... Eu vejo o quão im-

portante é a gente conhecer a nossa história. Eu acho que isso tem que partir de pequeno. Sa-

be, assim, do ensino mesmo, de que passe isso de uma pessoa, que passe de uma forma clara...

Porque todos querem saber da história, da nossa história, das nossas raízes, e tudo, né. E que

possa abranger todo um público, assim sabe, todas as pessoas em diferentes níveis, em dife-

rentes... Mas que possam saber da nossa história mesmo. Acho que isto falta em Laguna. É

isso mesmo. Eu acho que tu tais fazendo esta ponte, assim. Porque se tu não tivesse feito... É

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claro que umas pessoas aqui tão deixando de fazer uma coisa, ou uns desistiram, ou... Mas, se

tu não tivesse feito essa ponte, quem estaria aqui? Quem pararia essas três semanas pra olhar

Laguna com olhar ou crítico, ou... Mas de uma maneira diferente. Tudo bem a gente ta no dia

a dia, no corre corre “- Ah! Bonita aquela casa. Ah! ta caindo. Ah! precisa reformar.” Mas

ninguém pára pra realmente ver como é. Olham, mas... É aquela coisa assim que passa batido.

Assim, sabe? E eu percebi que as pessoas olharam Laguna, viram as coisas. Enfim, apesar

de... É claro que as críticas vêm e tudo que a gente olha tem coisas boas e ruins, né. É claro,

mas assim eu acho que foi muito bom, e que essa ponte foi válida, assim sabe. Porque são

pessoas diferentes. Pessoas que até, assim, a gente conhece, mas não tem aquele contato, né.

Não foi só os moradores lá no caso da Praça República Juliana, na qual eu sou moradora, mas

daqui do... Foi importante isso, eu acho. E que deve haver mais essas pontes, mais palestras,

mais... A pessoa as vezes fica relutando “-Não eu não vou porque eu tenho uma coisa, eu te-

nho outra.” Mas quando ta aqui é bom né. Assim eu acho. Foi muito válido. Eu adorei. Era

isso.

Relato do dia 25/01/07

O tombamento ele foi imposto e pelo visto não foi bem aceito. Por isso talvez te

olhem como Dona Amelinha diz de uma maneira mais assim, tipo: “– Lá vem. O que será que

ela vai me proibir de mexer na minha casa, e tal.” Porque justamente não conhecem o trabalho

que tu queres fazer. Não é porque tu queres simplesmente. “– Ah! Não quero que tu tires essa

janela porque eu Gizely não quero.” Não é isso. Tem todo um embasamento, todo um porque,

mas o morador não conhece isso. E eu acho que o lagunense ele é bem assim, né. Ele gosta de

resgatar. Ele gosta de valorizar suas raízes. Eu acredito nisso e, infelizmente, ele desconhece o

que, né. E eu acho até que tu estais fazendo essa ponte. Hoje nós estamos todos aqui, ou de

uma maneira, ou de outra não nos encontraríamos, mas estamos aqui e eu acho que deve ser

feito mais. Nas escolas também. Eu acho que é isso. (E na caminhada de hoje, o que te cha-

mou? Gizely) Olha eu acho que nem tanto as casas assim, mas o resgate que eu vi de conver-

sas paralelas. Assim sabe? Lembrando dos velhos tempos. Mas por quê? Porque viu uma casa

e fez lembrar isso. Dona Liane, Dona Natércia, enfim, aquela coisas, assim, que eu acho que

isso também deve ser preservado. A cidade é isso também. Eu acho que no mais foi isso aí.

12 - Maria Guerreira - Sem estudo formal, não letrada (assina seu nome)

Relato do dia 11/01/07

Uma boa tarde pra vocês todos... (Senhor Eduardo interrompe). Eu vou começar

porque eu fui interrompida. O meu nome é Maria Guerreira. Eu to dando boa tarde pra minhas

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amigas. Eu to muito contente de ser convidada pra este passeio, porque eu não moro aqui em

Laguna só a um ano ou dois, eu moro a trinta e seis anos. Eu não sou daqui, eu sou de Crici-

úma, e essa cidade foi muito acolhedora. Eu me sinto feliz aqui. Nós temo aqui algumas coisa,

como já foi falado, já foi comentado, nas calçadas, nas casas... Se nós pudéssemos conseguir

melhorar isso tudo seria muito bom. A gente vivia mais feliz e mais alegre. É Isso que eu ti-

nha pra dizer. (O que chamou mais atenção da senhora no caminho? Gizely) O que me cha-

mou mais atenção? Foi no final, ali no Mercado Velho aquela fachada feia, horrível. Ali era

pra ser mais bonito e ta muito feio aquilo ali. Eu como moro aqui já acho feio, imagino quem

vem de fora, que percorre a nossa cidade. Isso aí me chamou muito atenção. Eu achei feio

aquilo ali. E no mais.

Relato do dia 18/01/07

Eu não tenho... Eu quase não tenho nada pra acrescentar, né. Porque a gente pas-

sou pelos mesmos..., que já teve da outra vez, né. (Só um pouquinho... Com o sino a gente não

vai conseguir gravar. Vai lá Maria Guerreira, você é sempre interrompida na vez da sua fala –

Gizely) Eles cismo comigo, mas não te importância eu sou guerreira, eu vou em frente. Eu

não tenho nada pra acrescentar como eu já falei, né. Porque todos já disseram o que a gente

viu da primeira vez e viu agora, né. Eu to muito contente foi com a tua palestra porque a gente

aprende mesmo. Tu foste uma professora pra nós, porque tu explicasses tudo muito direitinho.

O que a gente viu, mas não entende muito bem, e hoje tu explicasses direitinho pra nós, né,

como é as casa da cidade. Foi uma coisa muito bonita isso aí. Eu gostei muito de escutar essa

palestra. E eu continuo teimando naquele mercado ali, que aquilo dali é um horror. Mas eu

acho que eles vão arrumar, né. Se eles arrumar, ta muito bom. E tem mais alguma coisinha

que eu posso acrescentar aqui? Mas só que não foi onde a gente andou. Posso? (Pode – Gi-

zely) É lá perto da onde eu moro. Tem o lixeiro lá que eles passam e tiram só o que ta em ci-

ma, e o que fica por baixo não. Não dá da gente passar naquela rua atrás do hospital. A gente

mora ali pertinho, né. Olha um cheiro que não dá pra gente agüentar. E outra coisa. Dentro do

hospital também ta faltando muita coisa pros paciente. Eu acho que você já sabe o que é. (É

mais é que... Está virando um espaço de reinvidicação, né? – Gizely) Posso falar isso aí? (Fa-

la, fala... - Gizely) É porque os pacientes vão pra lá... Tem as camas que não são muito bem

cuidada, aquelas roupa de cama... A gente nota, porque a gente é pobre mas a gente é limpa,

né. Poucas roupas de cama. É certo que tem e que eles não podem trocar, né. Porque os em-

pregado não são culpado do que acontece. Então, tem que ter um ali que tome conta, que seje

mais cuidadoso, né, com os pacientes. Ta sendo muito horroroso aquilo lá. (Da palestra.

Quando você fala que foi muito importante, que você conseguiu agora ver na rua algo que

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você já via e não conseguia explicar... O que marcou? Tem alguma coisa no andar te fez pen-

sar? – Gizely.) O que mais marcou do que eu não entendia é aquelas casas que tu explicasse

direitinho, como é que elas eram feita. A gente olhava assim... Eu achava que aquilo ali eram

iguais as outras, mas não. Ali tem coisas que hoje em dia não tem material pra fazer, o que foi

feito aquele tempo. Então, isso tudo ali foi uma coisa que abriu a cabeça da gente. A gente

ficou mais por dentro do que ta acontecendo dentro da Laguna e do que já aconteceu. Porque

tem que preservar..., e a gente vai fazer isso aí. Porque isso aí é importante, né. E o mais... De

eu ser... Como eu disse da outra vez, a Laguna é muito acolhedora, porque eu não sou daqui e

eu me dou muito bem aqui, e aqui eu quero morrer.

Relato do dia 25/01/07

Maria Guerreira, uma boa tarde a todos... Olha eu hoje vou ficar com as mesmas

coisas que eu disse né. Porque a gente passou nos mesmos lugar, na nossa passeata, né. Mas

eu de manhã... Eu fui fazer os meus deveres e eu passei num local, e vi uma coisa... Eu anda-

va muito triste e hoje eu me alegrei um pouco, que é lá o ginásio coberto. Aquele ginásio lá,

ele serve... Ele é de serventia pra nós idosas, que a gente tem muito lazer lá. A gente teve u-

mas apresentação lá bonitas. E pros jovens também, né, que tinha muita coisa boa lá pra eles.

Aquilo lá tava desprezado. Aí, hoje eu passei lá, olhei e digo: “- Ai! Coisa boa! Tão restau-

rando, né. Tão dando uma reforma.” Então eu fiquei muito contente com aquilo ali, né. Aí,

quando eu chego aqui perto da Igreja fiquei triste. Ali onde botaram aqueles enfeite... Ali na

frente da Igreja. Aqueles murinho baixinho que eu nem sei o que é aquilo. Tinha dois quebra-

do. Pra que fazer aquilo? Aquilo me deu uma dor no coração, digo: “-Meu Deus, bem na fren-

te da Igreja? Fazer uma coisa daquela ali.” Então aquilo ali... Eu fiquei triste, mas como em

todo lugar acontece o bom e o ruim... A gente tem que concorda às vezes com alguma coisa,

né? E outra coisa... Eu to muito feliz por ser convidada pra passear com vocês e observar nos-

sa cidade. Porque eu não sou daqui, eu sou de Criciúma, mas eu tenho... Eu tenho essa cidade

como a minha cidade. Porque eu gosto muito daqui e peço a Deus que aparece alguém que

bote a nossa cidade lá pra cima. Porque ela ta desmoronando. Mas eu tenho muita fé em Deus.

Deus vai ajudar que a gente vai vê isso daí. E no mais, eu te agradeço muito. Tu és muito que-

rida, isso aí foi uma coisa boa pra ensinar alguma coisa pra nós também, né? E a próxima vez

que precisar de mim eu to a disposição. Muito obrigado por ter me convidado, e é só.

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13 - Natércia Faria Ferreira - Ensino médio completo (aperfeiçoamento em

Matemática)

Relato do dia 11/01/07

Ah! Eu to tão ruim do aparelho (aparelho auditivo). Eu como boa saudosista... Pra

mim... Meu Deus, assim, fiquei com saudade de tudo... Quando a gente passava... Aquela...

Ali onde tem a casa das Damas... Eles... Sei lá. Tão lembrados, né? Era aquela casinha onde a

gente fazia... Comprava lanche pra ir pro grupo. Bem pequenininha. A casinha das cabreiras,

né. Elas eram tão caprichosas... A minha vó contava que ela vinha fazer o enxoval das filhas

delas aqui em Laguna. Porque Laguna é que era o centro de tudo, né. De São Joaquim saiam...

(cabreiras? Gizely). Eram as cabreirinhas, né. Como era? Elas são... O nome da família? (Se

davam muito com a vovó Mariquinha - Heloísa). Era o Seu Salomão que era irmão delas, né.

E elas faziam naquela época os edredons de cetim, assim todo... Laguna tinha muito contato

com o Rio. A gente, né, que viajava muito... Então, o pessoal da Serra vinha todos fazer o

enxoval em Laguna. Então, eu passei por ali e a saudade daquelas casinhas todas. Ali também

que a gente sai do Jardim pra lá tudo era casinha baixa. A gente passava na janela. A gente

conversava. Tudo isso foi, mas tem de ser assim, né. É o progresso. (É a evolução dos tempos

- Heloísa) Mas, eu sou muito saudosista, né. Então, eu não posso... Mas tava ótimo.

Relato do dia 18/01/07

Ta horrível, ta horrível o aparelho auditivo. To suando. Suou o aparelho. (A Se-

nhora quer esperar um pouquinho? – Gizely) Não, não tem jeito, tem que esperar. (Ele passa

daqui há pouco? – Gizely) Não passa. Ele molhou do suor agora tem que tirar. Esperar. Lim-

par e ficar sem aparelho um pouco. Daí pra falar eu tenho que botar, e se eu desligar daí eu

nem sei o que tais dizendo. Não eu achei tudo maravilhoso, assim sempre tivesse, né. Pessoas

que se interessassem pela cidade como vocês agora estão se interessando. Mas, infelizmente,

tem sempre aqueles que são contra tudo, né. Acha que o IPHAN que é culpado de muita coisa

aqui. Mas, eu acho que foi muito bom o que nós fizemos, que estamos fazendo.

Relato do dia 25/01/07

Olha. Eu vou dar o recado do turista ali, né. Porque ele só viu uma placa bem

grande “Casa São Paulo” (gargalhadas). Não visse? Quando ele falou? Ele disse assim:

“-Olha uma placa bem grande da loja Casa São Paulo. Não podia ser Casa Laguna?” (riu)

Não, eu achei válido o teu trabalho. Achei maravilhoso, né? De vez em quando pode fazer e

contar com a gente. (E o passeio? – Gizely) O passeio ali na casa... Aquela na Praça da Ban-

deira que até tu desse detalhes, né, achei maravilhosa aquelas vigas. Naquela casa do... (Ah!

Onde era do Adib, né. Onde era restaurante? - Lenira) Era restaurante? (Onde era a lavande-

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ria. Os barrotes aparentes. – Gizely) É, mas em compensação logo tu vês o forro daquelas

tabuinhas cumpridas. Devia ser pelo menos uma tábua larga, né? Porque é bonito aquele...

(Mas eu acho que é antigo – Lenira) (Aquilo ali sempre foi... – Liane) (O forro? – Gizely)

Não. Ai! Como chama? (Ah! O assoalho do andar de cima, de tábua? Macho e fêmea? Ali

tem os barrotes e o assoalho. O assoalho é de tábua fina, não de tábua larga. Ali é macho e

fêmea, canela e peroba. É porque é eclética, normalmente, era assoalho. Não era tábua corri-

da. Não era tabuado. A luso-brasileira, normalmente, era tabuado. – Gizely) Mas, achei muito

bom, tudo muito bom, já concordo com a maior parte do que tu disseste, né. Agora a Amélia

fala por mim um pouco.

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CAPÍTULO QUARTO

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RELATOS

Iniciamos as análises debruçando-nos sobre as narrativas conseguidas por meio da

história oral temática. Separamos nos relatos „frases‟ de primeridade, segundidade e terceri-

dade, para facilitar utilizamos cores diferenciadas. Isto está evidenciado nos relatos transcria-

dos no capítulo anterior.

Após construímos três tabelas comparativas dos relatos do primeiro, segundo e

terceiro encontro, separando os conteúdos em primeira ordem (primeiridade) (Tabela 1), se-

gunda ordem (segundidade) (Tabela 2) e terceira ordem (terceridade) (Tabela 3). Desta forma,

procuramos facilitar a visibilidade da construção do espaço urbano, e as sensações afloradas

pelos colaboradores. Portanto, colocamos na seqüência as três tabelas comparativas.

Na primeira tabela (Tabela 1) visualizamos maior incidência de quali-signos (pri-

meiridade) na coluna referente ao segundo encontro. Isso se deve a interferência pedagógica,

que chamou a atenção aos detalhes e estilos arquitetônicos das edificações. Ao orientarmos o

olhar para os aspectos estéticos, não tão observáveis corriqueiramente, induzimos os colabo-

radores a observarem pela primeira vez estas características, e assim, reagiram em primerida-

de. Verificamos nos relatos dos três encontros e nas três categorias peirceanas que os colabo-

radores repetem seus focos de atenção.

Na primeira tabela separamos em cada coluna as falas em grupos de característi-

cas predicáveis. Estas características estão ligadas a qualidades e sensações singulares atribuí-

das as edificações, ruas, praças, e a infraestrutura urbana.

Tabela 1 – Tabela comparativa dos assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em

primeira ordem.

1º encontro 2º encontro 3º encontro

O

R

D

E

M

Bonita(s):

antiga rodoviária;

casas;

antigas fachadas;

as casas com acabamentos;

mais bonita Rua Gustavo

Richard;

Bonita(o,s):

pinturas das casas;

casas antigas;

o Albor;

tudo;

tábuas largas de assoalhos e

forros;

Bonita(s):

pinturas das casas;

Feia(s):

algumas casas;

a Praça República Juliana

após a intervenção.

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O

R

D

E

M

não tão bonita Rua Raulino

Horn (possui muitos bura-

cos).

Linda:

Laguna.

Feio(s)(a):

postes no meio das calça-

das;

fachada do Mercado;

fachada do Museu;

Museu.

Horrível:

Museu.

Estragada (os):

cidade;

calçamentos.

Tristeza:

pela Laguna;

em ver o mau estado do

Jardim Calheiros da Graça.

Atenção:

a orla;

a praça de Anita

Felicidade:

pelo convite do passeio;.

por morar em Laguna que é

uma cidade acolhedora;

por passear pelas ruas;

por ver a orla;

por poder participar da

pesquisa e conhecer gente

nova.

Agradecimento:

pelo convite para participar

da pesquisa.

cores fortes.

Linda e impressionante:

rua da praia.

Maravilhosas:

vigas da casa da Praça da

Bandeira - (antiga lavande-

ria)

„Legal‟:

os porões;

ruas Gustavo Richard e

Raulino Horn.

Feio:

Mercado Público.

Atenção:

aos detalhes bonitos das

casas: flores, ramos, bal-

cões, vidro jateado;

as pinturas ruins, e lindas

das casas;

a Rua Rio Branco que mais

conservou as casas;

Ruim:

Calçamento.

Quebradas e feias:

Calçadas.

Mau cheiro:

na cidade pelos esgotos

entupidos.

no cais: maresia de lixo, de

restos de peixes.

Mal estar:

provocado pelo odor dos

esgotos e cheiro do lixo da

rua detrás do hospital.

Não gosto:

pela cor atual do Mercado.

Gosto:

pelo Centro Histórico;

pela explicação pormenori-

zada acerca do patrimônio

edificado de Laguna.

Felicidade:

de poder participar da pes-

quisa e conhecer gente no-

va;

pela caminhada em grupo;

pelo encontro.

Maravilhosa e válida:

a pesquisa.

Horrível:

o Jardim.

Atenção:

aos detalhes bonitos e as

pinturas estragadas das

edificações;

as ruas bonitas e estraga-

das.

Tristeza:

pela retirada da rodoviária

do centro da cidade;

de ver a Praça República

Juliana morrendo e os mo-

radores também;

pelo jardim continuar um

horror;

em ver a depredação dos

“frades” do adro lateral da

Igreja Matriz;

Sensação:

do vento.

Não gosto:

pelas casas modernas, e

apartamentos altos.

Gosto:

pela aparência da cidade,

do antigo e do novo;

pelas casas antigas;

pela cor lilás da casa na

Praça da Bandeira.

Felicidade:

pela reforma do Ginásio de

Esportes;

por morar em Laguna;

pelo grupo de amizade

formado nos encontros;

pelo passeio com o grupo.

Agradecimento:

pela oportunidade de con-

tribuir com a pesquisa;

pela oportunidade em a-

prender com a intervenção

pedagógica.

Maravilhosa e válida:

a pesquisa.

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Visualizamos pela Tabela 2 um volume maior de relatos, em relação a Tabela 1 e Ta-

bela 3. Este acréscimo de observações realizadas pelos colaboradores estão pautadas na rela-

ção entre o presente e o passado. A exemplo: como Laguna era e como Laguna é. Isto porque

ao nos colocarmos numa situação de observadores nossa tendência é estabelecer relações com

o nosso repertório. Ou seja, ao expormos o que nos chama atenção formulamos comparações,

sentido de ação e reação, espécie de metáforas.

Apresentaremos, na Tabela 2, trechos dos relatos que selecionamos e recompusemos a

fim de demonstrar estas relações binárias (presente/passado, memória, dúvidas, desejos).

Tabela 2 – Tabela comparativa: assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em se-

gunda ordem.

1º encontro 2º encontro 3º encontro

O

R

D

E

M

“As casas não cansam o

olhar: por mim e pela mi-

nha família nunca deixaria

isso acabar.”

“A cidade é pobre, mas

tanto relaxamento é inacei-

tável.”

“Há prédios de quatro an-

dares que destoam o Centro

Histórico.”

“Faltam lixeiras no espaço

urbano.”

Desejo que a antiga rodovi-

ária ainda estivesse no es-

paço urbano: “Eu achava

que devia não ter tirado da

cidade, que devia preservar.

Eu tenho lá em casa o jor-

nal. Eu tenho um jornalzi-

nho, lá em casa, e olho pra

ela e tenho saudade daquele

tempo ali. Meu marido tra-

balhou muito tempo ali

[...]Não devia ter tirado dali

do Centro da cidade.”

Relato sobre o avô que aju-

dou a fazer o Jardim Ca-

lheiros da Graça, empe-

nhou-se tanto que adquiriu

uma bronquite.

“A antiga Praça da Bandei-

Relação do Mercado Públi-

co de Laguna com uma

palestra do proprietário do

BOX 32/Mercado Público

de Florianópolis: “os mer-

cados devem possuir todos

os segmentos da cidade, e

coisas típicas.”

Praça República Juliana:

dúvida acerca do projeto de

urbanismo executado, can-

teiros quadrados, sem flor,

que parecem bancos, mas

não são.

“Sobre a Praça República

Juliana nem adianta falar.”

“Sobre aquele prédio ao

lado do Museu uma pena

não ser arrumado qualquer

dia ele cai, deveria se in-

ventar algo pra ele funcio-

nar.”

Sobre os sobrados e casas

com porões: “antigamente

as mulheres viviam nas

alturas, sem salto alto, com

vestidos chiques e gran-

des.”

“Hoje querem abrir os po-

rões e fazer garagem, mas o

certo é conservar o antigo.”

Lembranças: o processo de

tombamento em Laguna, a

vinda dos alunos da UFSC

estagiários de verão para

proteger os “indivíduos

arquitetônicos”, promessas

de projetos culturais até

hoje não cumpridos, e o

pedido de destombamento

por uma comitiva de auto-

ridades lagunenses ao Pre-

sidente do Brasil José Sar-

ney.

Dificuldades em perceber o

patrimônio: poluição visu-

al, placas grandes, calça-

mento inadequado.

Relação da antiga rodoviá-

ria no centro da cidade,

com o vazio causado pela

sua demolição.

“Desejo voltar ao tempo da

antiga rodoviária.”

“A Praça República Juliana

foi utilizada e pensada pelo

Cadorin como praça pra

trazer animais, por isso a

praça é seca, pra receber

cavalos e não gente.”

“As instituições como a

CELESC, CASAN e TE-

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O

R

D

E

M

ra nunca foi tão maltratada

nestes últimos 50 anos: era

menor sem esse calçamen-

to, possuía mais crianças

brincando, árvores e ban-

cos, chamava mais aten-

ção.”

Lembranças da juventude

embasadas na saudade de

edificações, pessoas e prá-

ticas cotidianas.

da antiga rotina pessoal,

trabalho do marido, com a

antiga rodoviária.

Relação das fachadas anti-

gas mais bonitas, com às

edificações quadradas atu-

ais.

“Antigamente era mais

difícil conseguir os materi-

ais e as edificações eram

mais bonitas que as atuais.”

“Laguna (ruas e praças) em

relação a outros municípios

melhores dá tristeza.”

“A cada ano que passa La-

guna se torna mais triste.

Sinto que Laguna está cada

vez mais deixada de lado.”

“Quanto à segurança: a

cidade antigamente era

diferente da cidade de hoje:

as crianças podiam brincar

na rua e você não precisava

nem olhar.”

“O carnaval de antigamente

era bonito, não é como ho-

je.”

Comparação entre espaços

urbanos (praças, ruas e ca-

sas).

Jardim Calheiros da Graça

é como um cartão de visita

da cidade.

“Comparar Laguna de hoje

com 50 ou 15 anos atrás,

revela uma cidade morta.

Ninguém mais mora, já é

tudo comércio.”

“As edificações (casas e

“Laguna melhorou muito

do ano que eu cheguei aqui:

as casas estão bem pinta-

das, antigamente eram mais

rústicas e não tinham pintu-

ra, por exemplo: a rua da

praia está linda, impressio-

nante.”

“Hoje vi Laguna de uma

forma diferente, mais posi-

tiva.”

“Muitas casas estão refor-

mando, até as vazias estão

sendo reformadas.”

“É inaceitável cidadãos que

compram terrenos no cen-

tro e abandonam.”

“Lixo depositado em frente

as edificações e terrenos

abandonados causam infes-

tação de ratos.” “Tratar os

esgotos da cidade deve ser

prioridade também, e não

só as casas.”

Comparação do Centro

Histórico com o Largo da

Ordem em Curitiba. Com-

paração da esquina de uma

Igreja Presbiteriana de Cu-

ritiba com a casa da Clínica

e o Congresso Lagunense.

“Casas como a Clínica,

Cine Mussi e outras resi-

dências como as do Mussi,

são coisas que estão embe-

lezando Laguna.”

“Após a intervenção passei

a observar as construções

com outro olhar.”

“Agora observo madeiras

entalhadas que antes não

valorizava, recordo que

morei em casa antiga, com

ferros antigos (SESC) e isto

me dá saudade.”

“O Centro Histórico de

hoje é diferente, muita coi-

sa mudou, não é tão bonito

como antigamente. Casas

foram mexidas e nunca

LESC quebraram as calça-

das e não arrumaram até

hoje. Além disso, as calhas

foram sub-dimensionadas e

mal executadas, pois não

possibilitam manutenção,

aliás a prefeitura nem lim-

pa.”

“Desejo falar do lugar onde

moro, do meu canto, a Pra-

ça República Juliana sem

flores, sem plantas, sem

vida, sem espaço para brin-

cadeiras de criança, sem

turista.” “Antigamente a

praça tinha mais árvores,

mais bancos, era mais fre-

qüentada. Depois do calça-

dão ela morreu.”

“A Praça República Juliana

é um ponto fraco da cida-

de.”

“Desejo um coreto na Praça

República Juliana para a-

presentações.”

“O Museu Anita Garibaldi

de hoje comparado com

antigamente não possui

mais acervo, não tem mais

nada.”

“O público do Museu é

criança em idade escolar e

professores, entram pra

fazer trabalho. Turista e

visitantes da 3ª idade não

entram, pois o acervo não é

atrativo.”

“O acervo do Museu Anita

Garibaldi é itinerante, e o

número de visitantes au-

menta anualmente segundo

a diretora do museu.”

Pena por nem todos os mo-

radores possuírem poder

aquisitivo para arrumar as

edificações dentro das es-

pecificações técnicas.

“Para interferir nas edifica-

ções é preciso preparo.”

“Sempre gostei das casas

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O

R

D

E

M

prédios) revelam que as

pessoas antigamente eram

mais felizes, pois as portas

e janelas são grandes de

frente pra rua – a cidade era

segura, as pessoas possuí-

am mais contato, conversa-

vam da janela com as que

transitavam na rua.”

“Os adornos das casas in-

formavam algo a mais.”

“As edificações eram mais

do que abrigo ou moradia,

não eram pensadas somente

pela funcionalidade.”

“Laguna tem potencial que

outras cidades talvez quei-

ram e não possuem: como

belezas naturais e tudo.”

“Na minha rua tem duas

casas que estão caindo, que

vão tombar literalmente.”

“Os governantes pensam

tanto, e ao mesmo tempo

esquecem das coisas, de

conservar, por isso as coi-

sas se acabam.”

“Deveria existir outra for-

ma das pessoas conserva-

rem suas edificações, pois

tirar do próprio bolso nem

todos podem.”

“Devemos olhar mais pra

cidade e sugerir melhoras.”

“O que puder ser feito pra

conservação do patrimônio

deve ser feito.”

“Cotidianamente não dete-

nho o olhar no patrimônio

por estar atenta em outras

coisas.”

“A minha casa é tombada a

gente cuida como pode,

mas falta muita coisa.”

“O Centro Histórico é mui-

to pequeno e deveria ser

mais bem vistoriado.”

“A cidade precisa de me-

lhorias, postes, ruas, pra-

ças.”

deveriam ter sido mexi-

das.”

Dúvida sobre a atuação do

IPHAN em limitar obras

internas. “Até onde vai o

poder do IPHAN?”

“As pessoas antigamente

eram mais felizes, isto se

revela nas formas como as

casas eram feitas. As jane-

las e portas eram maiores,

recebiam mais luz, tinham

mais contato com a nature-

za, as pessoas viviam mais

com as pessoas.”

“Já havia observado, ante-

riormente, que as casas

possuem detalhes, mais

informações de beleza. As

casas possuem uma coisa a

mais.”

“A planta da casa luso-

brasileira apresentada pela

Gizely clareou a concepção

de que as pessoas realmen-

te viviam mais em comuni-

dade, possuíam mais tempo

umas com as outras. Não

ficavam no computador.

Por isso, até que ponto o

progresso é importante?”

“Por que o calçamento (la-

jota) da Raulino Horn é

diferente do resto?”

“O mercado perdeu a fun-

ção como um serviço para a

cidade.”

“Existem quatro prédios de

quatro andares que são ter-

ríveis dentro do contexto

do Centro Histórico.”

“A loja do Siqueira remete

ao Teatro Arthur Azevedo

de São Luiz.”

“A casa do Uega me lem-

bra a Rua Portugal de São

Luiz.”

“A casa antiga por menor

que seja, mantendo seu

aspecto, chama mais aten-

antigas, porque desde que

cheguei na cidade moro em

casa antiga.”

“Quando vim pra Laguna

parece que era tudo mais

conservado, a cidade tinha

mais casas antigas que fo-

ram derrubadas, como o

Banco do Brasil, a Caixa

Econômica, o Bradesco.

Todas eram casas muito

bonitas.”

“Os alemães que vieram

pra cá adoraram Laguna, só

que acharam que estava

muito mal conservada.”

“A cidade deixa muito a

desejar.”

“A prefeitura possui uma

péssima atuação.”

“Muitas edificações neces-

sitam de pintura.”

“Agora noto detalhes que

eram despercebidos: varan-

dões, acabamentos, madei-

rames.”

“Há diferenças entre a Pra-

ça do Jardim e a da Bandei-

ra: a da Bandeira é sem

vida, não foi feita nem pro

morador e nem pro turista.

A Praça do Jardim, apesar

das condições, e do chafa-

riz desligado, possuía vinte

pessoas sentadas, cachorro,

vento, sombra, moradores e

turistas transitando. A Pra-

ça da Bandeira está sem

sentido não atinge nem o

morador e nem o turista.

Está sem sombra, necessita

de mais coisas, precisa ser

usada, criar eventos nela.

Andamos pela sombra, a

sombra e o vento são im-

portantes. A Praça da Ban-

deira precisa de sombra

para as pessoas descansa-

rem, lerem livro, por e-

xemplo.”

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O

R

D

E

M

“Desejos de melhoras nas

calçadas e as casas, pois

isto tornaria todos mais

felizes.”

De condições aos morado-

res para conservar seus

imóveis.

Cobrança de promessas

decorrentes do tombamen-

to.

Dúvida quanto a competên-

cia na conservação do Jar-

dim.

“Como moradora o que a

gente pode fazer pra pre-

servar o casario?”

ção que uma casa contem-

porânea enorme.”

“Percebi que os prédios

históricos (Cine Mussi,

Congresso, Blondin, União

Operária, Museu) de gran-

de porte estão em três pon-

tos distintos.”

“As pessoas estão achando

que a Gizely vai resolver

tudo. Não a vejo assim, a

importância está em repas-

sar o conhecimento, pra

que nós conheçamos a nos-

sa história.”

“Palestra com linguagem

clara, que atingiu todos os

tipos de pessoas.”

“Percebi detalhes até então

despercebidos.”

“Observei que hoje o grupo

percebeu detalhes mais

positivo, e foi menos críti-

co.”

“Desejo mais palestra sobre

o patrimônio.”

“Desejo normas que regu-

lem a altura do som das

apresentações das semanas

culturais e da loja de R$

1.99, na Praça República

Juliana.”

Denúncia sobre o descaso

com os pacientes do hospi-

tal, ambiente sujo (lençóis

sujos).

“O tombamento foi impos-

to e tudo indica que não foi

aceito.”

“Eu acredito que o lagu-

nense gosta de valorizar e

de resgatar suas raízes, mas

infelizmente ele as desco-

nhece.”

“Peço a Deus que apareça

alguém que eleve a cidade

de Laguna, pois ela está

precisando.”

Observando a Tabela 2 podemos inferir que a interferência pedagógica e a intimi-

dade dos colaboradores com a metodologia e com o próprio grupo contribuíram neste aumen-

to do volume dos relatos.

Na Tabela 3 harmonizamos e destacamos trechos dos relatos em terceridade que

representam a mediação dos colaboradores com o Centro Histórico, resultando em generaliza-

ções e proposições ao contexto do patrimônio edificado.

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Tabela 3 – Tabela comparativa: assuntos do primeiro, segundo e terceiro encontros em tercei-

ra ordem.

1º encontro 2º encontro 3º encontro

O

R

D

E

M

Tombamento.

“O Centro que a gente tem

aqui é muito completo em

estilo arquitetônico. Nós

temos três aqui que são os

mais, que aparecem mais.”

“O que prejudica a identifi-

cação do patrimônio e esti-

los é a poluição visual: pla-

cas grandes, toldos e cal-

çamento inadequado.”

“Restauração é importante

tanto pro morador quanto

pro turista, pois terão uma

cidade melhor.”

Morador sem condições

econômicas para preservar.

Moradores pós-tombamento

mais compenetrados no

patrimônio.

“Nós mesmos devemos

buscar melhorias pra nossa

cidade e ensinar as crianças

sobre a nossa história.”

“Temos que conhecer nossa

cidade e repassar o quão

importante ela é.”

“Tem que preservar os ca-

sarios, buscando recursos,

pois sozinho é muito difí-

cil.”

“Tem que conhecer pra

preservar.”

“Deveriam tomar providên-

cias quanto às fachadas das

casas em ruínas.”

“Os moradores devem ver o

que podem fazer para re-

solver os problemas detec-

tados.”

“Laguna vive do Turismo

(Praia existe em outros lu-

gares o turista vem pra co-

nhecer a Igreja, etc.).”

Distância do IPHAN como

os moradores, falta de sin-

cronicidade do IPHAN com

os moradores.

Maior consciência do mo-

rador em relação ao patri-

mônio.

“Laguna possui caracterís-

ticas ainda originais que

devem ser preservadas.”

“Aproximação do IPHAN

com os moradores através

de projetos que custeiem a

manutenção dos imóveis.”

Proposição para o mercado

público possuir produtos

mais típicos á venda.

Proposição de estabelecer

prazos para construção e

restauro para quem adquirir

atualmente edificações ou

terrenos.

“O patrimônio tem que ser

conservado.”

“Há sintonia do moderno e

pós-moderno com o antigo.

Devem-se conservar todos

que merecem fazer parte do

futuro, inclusive para atrair

investimentos.”

Proposição de remodelação

e gestão pública responsá-

vel da Praça República Ju-

liana.

Tombamento.

Educação como solução

para a compreensão da rea-

lidade.

Lei de tombamento em La-

guna vinda de forma autori-

tária, de cima pra baixo,

pela falta de valores atribu-

ídos aos bens pelos lagu-

nenses.

“O tombamento teve efeito

de bomba.”

“As edificações se acabam

pela falta de poder aquisiti-

vo por parte dos moradores

e pela falta de uma política

pública de investimentos.”

Sugestão de acordos com o

governo para doação de

tintas e mão-de-obra para

conservação das edifica-

ções.

“A pintura das edificações

modifica (qualifica) a pai-

sagem.”

Proposição de organização

de grupos de moradores

serem turistas por um dia na

cidade e agendarem guia-

mento com guias de turis-

mo. Isto pode provocar no-

vos olhares acerca do pa-

trimônio.

“Revisar o tombamento e a

cidade histórica para o tu-

rismo como alternativa de

desenvolvimento.”

“Transformar algumas edi-

ficações em conservatórios,

museus, escolas de artes

através de iniciativas públi-

cas governamentais.” “Pos-

sibilitar acesso à comunida-

de ao interior das edifica-

ções para identificar mate-

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88

15%

70%

15%

primeridade

segundidade

terceridade

2

9

2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1

O

R

D

E

M

riais, e plantas originais, ou

seja, o modus vivendi de

antigamente.”

“O tombamento foi imposto

e não foi aceito, porque as

pessoas não conhecem o

trabalho e as normas do

IPHAN.”

“Andar pela cidade permite

resgatar a memória, pois o

espaço urbano preserva

características de tempos

passados. O morador cami-

nha e lembra de sua infân-

cia. A cidade é isso tam-

bém, é memória e identida-

de.”

Este resumo e categorização dos relatos conseguidos através das três tabelas com-

parativas, nos possibilita verificar a porcentagem dos colaboradores que ficaram na primeiri-

dade, bem como dos que ascenderam à segundidade e dos que deram o salto qualitativo, em

nível de terceridade, após a intervenção e colaboração da pesquisadora. Podemos observar a

situação inicial (primeiro encontro) contraposta com a situação final (terceiro encontro) atra-

vés das figuras a seguir:

Figura 3 – Relação do número de colaboradores e referida porcentagem em nível de primeiri-

dade, segundidade e terceridade no primeiro encontro.

SITUAÇÃO INICIAL

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89

Figura 4 – Relação do número de colaboradores e referida porcentagem em nível

de primeiridade, segundidade e terceridade no terceiro encontro.

Na situação inicial dos treze colaboradores, dois iniciaram a pesquisa em primei-

ridade (15%), nove em segundidade (70%) e dois em terceridade (15%).

Uma colaboradora (7%) permaneceu em primeiridade até o fim da pesquisa. Pois,

apresentou observações, sobre o trajeto realizado, fundamentalmente, em nível sensório, co-

mo: gosto ou não gosto; bonito ou feio. A intervenção pedagógica gerou um efeito não identi-

ficado nos demais. Ao invés de narrar sobre o trajeto vivenciado a colaboradora enfatiza ob-

servações de problemas fora deste trajeto e da área tombada. O relato adquiriu uma dimensão

de reivindicação de melhorias a ambientes “estranhos” a pesquisa. Talvez o fato de a pesqui-

sadora exercer função no IPHAN a fez confundir os objetivos da colaboração. Atribuímos a

sua permanência na primeiridade a dois fatores. Primeiro ao fato de não possuir escolaridade,

e segundo à confusão estabelecida com o objetivo de sua participação na pesquisa.

A outra colaboradora ascendeu para segundidade após a intervenção pedagógica.

Dos nove que iniciaram em segundidade, dois atingiram a terceridade. Assim, oito colabora-

dores (62%) terminaram a pesquisa em segundidade.

Estes, em segundidade, oscilaram seus discursos entre a primeridade e a segundi-

dade. Ou seja, suas colocações ora refletem qualidades de sensações, ora correspondem a uma

ação física ou mental. O signo é lido pelo que chama a atenção. Portanto, ora percebem o

Centro Histórico como ícone, ora o lêem como índice. Explicando melhor, os colaboradores

no primeiro encontro fizeram suas observações mais adjetivadas e de memória afetiva. Sendo

7%

62%

31%

primeridade

segundidade

terceridade

1

8

4

0

1

2

3

4

5

6

7

8

1

SITUAÇÃO FINAL

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que as adjetivações foram mais num sentido pessimista, voltado aos defeitos presentes no

Centro Histórico, lido mais como espaço urbano (cidade) e menos como patrimônio. A per-

cepção e leitura estavam mais voltadas às questões de infra-estrutura urbana do que propria-

mente cultural. O aspecto simbólico do CH como patrimônio nos pareceu esmaecido diante de

tantos problemas apontados nos relatos, entre eles: buracos nas ruas e calçadas; identidade

visual inadequada; postes em demasia e super dimensionados à largura das calçadas, impe-

dindo o caminhar contínuo e despreocupado; iluminação pública inadequada; praças abando-

nadas; falta de arborização, flores, e sombras para descanso e encontro. Além disso, marcam

como motivo principal a não preservação por dificuldades de recursos financeiros diante do

ônus da manutenção de casas antigas. Constataram falta de políticas e investimentos públicos

à conservação de imóveis privados.

Diferente dos dois colaboradores que ascenderam à terceiridade, a compreensão

dos demais acerca da responsabilidade sobre a conservação do patrimônio é alheia a eles. Não

se sentem responsáveis e afirmam-se como vítimas de leis, normas, e do descaso das institui-

ções públicas gestoras da área tombada, ou seja, do governo federal e municipal.

A intervenção pedagógica serviu para o direcionamento do olhar, ou seja, a medi-

ação da pesquisadora conseguiu de alguma forma amenizar estas percepções „negativas‟. Isto,

está mais evidenciado nos relatos do segundo encontro e menos no terceiro encontro.

O olhar no segundo encontro voltou-se para o patrimônio edificado e os relatos

ressaltam características estéticas. Os colaboradores notam as edificações mais conservadas,

comparam-nas com outros espaços conhecidos. Recorrem à memória de outros tempos viven-

ciados. Percebem vazios deixados pelas demolições de outras edificações que no entendimen-

to individual e coletivo deveriam fazer parte do futuro, a exemplo: antiga rodoviária e antigo

Banco do Brasil. Neste segundo encontro, em decorrência da mediação pedagógica notamos

que o Centro Histórico passou a ser visto com carga simbólica, como patrimônio.

Mas, ao analisarmos que o período de maturação das idéias e, por conseguinte a

apreensão dos novos significados não foi satisfatória, pois no terceiro relato não atingiram a

terceridade e voltaram a indicar mais aspectos da cidade e menos do patrimônio. No terceiro

encontro os relatos retornam aos aspectos narrados no primeiro encontro.

Este grupo que finaliza em segundidade, formado por oito (8) colaboradores, pos-

sui um nível de escolaridade heterogêneo: 3(três) com fundamental incompleto, 1 (um) com

ensino médio incompleto, 3 (três) com ensino médio completo, 1(um) com graduação univer-

sitária (recém formado). Encontramos uma exceção, de uma colaboradora que possui a defici-

ência auditiva. Em decorrência de defeitos de seu aparelho eletrônico auditivo não consegui-

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mos definir até que ponto seus relatos acerca da percepção, leitura e produção de novos signi-

ficados foram comprometidos.

Poderíamos nos empenhar a buscar explicações para um grupo heterogêneo man-

ter-se num mesmo nível, mas esclarecemos que além de não ser objetivo desta pesquisa tal

caso pode ser explicado pela individualidade de cada um. Com certeza o que os une como

grupo „homogêneo‟ em segundidade, é a resposta que deram ao desafio proposto pelo cami-

nhar no trajeto do Centro Histórico. Ao responderem, eles não elaboraram ou inventaram no-

vos conceitos e ações diante da „realidade‟. Limitaram-se a comparações. Experimentaram

sensações (primeiridade). Interpelaram a memória (segundidade) e não refletiram ou sintetiza-

ram seus pensamentos e sequer criaram novos conceitos (terceridade).

Duas colaboradoras iniciaram a pesquisa em terceira idade e, logicamente, perma-

neceu desta forma até o último encontro (15%). Este fato justifica-se pelo nível de escolarida-

de (pós-graduada e graduada).

Uma (7,5%) pelo seu envolvimento pessoal e profissional na efetivação do tom-

bamento do Centro Histórico de Laguna. Todo o relato desta colaboradora desvela-se pronto,

consolidado. Percebemos que realizar o trajeto não acrescenta conteúdo às suas observações e

reflexões. Já possui um conceito elaborado sobre o espaço urbano em que reside. Seu relato

não aponta questões puramente de sensações ou de memória afetiva, e sim realiza um relato

histórico. Os elementos estéticos não são enfatizados, tampouco observa defeitos no patrimô-

nio edificado. A colaboradora aponta para discursos e responsabilidades à preservação. Age

como observadora da pesquisa e referencia os relatos dos outros colaboradores. Demonstra

conhecimento sobre o que é patrimônio e a importância de preservá-lo. Sugere mudanças de

postura dos órgãos de preservação para com a comunidade e como conseqüência para o pa-

trimônio.

A outra (7,5%) sugere, desde o primeiro encontro, embasada em sua vivência e

concepção de mundo que a educação é a alternativa para a valorização e conseqüente preser-

vação do patrimônio. Ou seja, elabora a educação como alternativa segura para a preservação.

Desde o primeiro encontro ela ensaia (indica) esta solução. Seus relatos possuem observações

de primeira, segunda e terceira ordem, e evoluem gradativamente a cada encontro. Num dado

momento, também, faz inferências acerca da participação dos outros colaboradores quando

estes passam a agir como se a pesquisa fosse uma “tábua de salvação” para os problemas rela-

tivos à gestão e conservação do patrimônio. Esclarece ao grupo que a pesquisa é acadêmica. E

que esta se propõem a uma prática social pelo simples fato de envolver os próprios moradores

do Centro Histórico, e não como solução imediata. Alerta sobre a característica inovadora da

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pesquisa. Demonstra com isto maturidade e serve como uma espécie de interlocutora da pes-

quisadora com os outros colaboradores.

Dois colaboradores iniciaram a pesquisa com relatos de primeira e segunda ordem

e após a intervenção ascendem para terceira ordem. Mas, verificamos que destes somente um

é, explicitamente, motivado pela intervenção pedagógica. Esta colaboradora possui o ensino

fundamental completo, podemos considerar um nível de escolaridade básico. No primeiro

relato mantém-se mais acerca da dicotomia entre preservar ou não. Seu salto qualitativo é

demonstrado quando no segundo encontro verifica contraste de edificações antigas e contem-

porâneas, até então despercebidas, e no terceiro encontro elabora uma explicação para a per-

manência destes contrastes num ambiente tombado. Podemos afirmar que a intervenção peda-

gógica foi fundamental para seu salto qualitativo, pois no primeiro relato não há indícios deste

raciocínio.

Já no outro colaborador que atingiu a terceiridade a mediação serviu como um re-

forço. Uma segurança a mais em suas inferências. Inicia com uma série de „achismos‟ e de

relações a outros espaços urbanos, resultado de viagens. A partir da intervenção desenvolve

um olhar mais apurado sobre o patrimônio edificado, criando teoria acerca das suas observa-

ções. Ou seja, na comparação entre os espaços, provocada pela experiência direta, com base

em sua história de vida e formação escolar emite observações com juízos, sintetizando-os em

teorias. Propõe a criação de casas museus, de determinadas épocas, inspirado numa planta de

casa luso-brasileira apresentada na mediação da pesquisadora.

Através das figuras 3 e 4, apresentadas anteriormente (p.88 e 89), visualizamos

um aumento significativo na qualidade dos relatos, 23% deslocaram-se de uma situação para

outra. Podemos inferir que esta mobilidade e avanço de uma categoria para outra foram alcan-

çados pela mediação da pesquisadora, e pelo tempo maior de observação do objeto.

A mediação como intervenção lançou problemas para os colaboradores. 26

As i-

déias apresentadas orientaram para reflexão do espaço urbano tombado, acerca de suas tipolo-

gias arquitetônicas, materiais construtivos, tecnologias antigas de construção e evolução histó-

rica contrapostas com o contexto e os valores contemporâneos da cidade. Os colaboradores

que se sentiram impelidos pela intervenção, a agirem e pensarem de outra maneira, saíram da

situação inicial e avançaram. Destes, dois colaboradores deslocaram-se para terceridade, de-

ram o salto qualitativo. Representam aproximadamente 16%. Mas, não somos ingênuos de

26

Ao estudarmos sobre criatividade encontramos que há pensadores que determinam como fundamento para o

desenvolvimento desta a colocação de um problema. Segundo Barreto “problema é uma aspiração de desfrute

contrariada por obstáculos numa situação em que o indivíduo sinta que lhe cabe atuar” (1997, p.11).

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pensar que o simples fato de sentirem-se desafiados pode gerar síntese e proposições. Sabe-

mos que para o ato criador, vários fatores devem ser considerados, entre eles “as característi-

cas pessoais, as condições ambientais e os fatores antecedentes nos contextos familiar e edu-

cacional” (SORIANO, 1993).

Nas características pessoais visualizamos personalidade, motivações e atitudes re-

lacionadas a criação, combinação de habilidades cognitivas, imaginação crítica, traços psico-

lógicos de iniciativa, independência de pensamento e ação, persistência, audácia, auto-

confiança, intuição e flexibilidade.

Nas condições ambientais percebemos diferentes tratamentos, nas diversas socie-

dades, quanto a dimensão e profundidade nos traços de personalidade, que favorecem a criati-

vidade e quanto as oportunidades no desenvolvimento destas habilidades. Variam de uma

sociedade pra outra a inovação, o estímulo ao ato criador, a aceitação, a valorização e as con-

dições favoráveis à criação. Há diferença nas oportunidades e incentivos para o desenvolvi-

mento de produção significativa entre homens e mulheres. 27

Desde o „nascimento‟, o homem

enfrenta forças de expectativas, que modulam seu comportamento, suas necessidades e suas

sensações. A maior influência à produção criativa ou científica é a possibilidade de liberdade

de outros compromissos e de tempo disponível para o envolvimento com um projeto maior.

Quanto aos fatores antecedentes nos contextos familiar e educacional é fundamen-

tal percebermos como família e escola tratam a curiosidade da criança nos primeiros anos de

vida. A criatividade demonstra-se maior em indivíduos que estimulam e encorajam o seu po-

tencial, respeitam pensamentos e ações, proporcionam liberdade e autonomia, incentivam e

demonstram confiança, não criticam, restringem ou punem, convivem em clima de competi-

ção e de concurso, recebem apoio e incentivos do professor que direciona o aprendizado e

abre caminhos, consciência de que há muito a ser criado e que tudo pode ser reelaborado.

27

Hayes organiza um quadro onde apresenta dados relativos à produção relativa entre homens e mulheres. Per-

cebe que o número de filhos impede uma maior produção das mulheres. Este dado não é significativo para os

homens. Nota ainda, que o casamento contribui pra a produção masculina e não feminina (SORIANO, 1993).

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CONCLUSÃO

Nesta Dissertação tratamos exatamente “da recepção, das apropriações e aprecia-

ções que podem variar de indivíduo a indivíduo de acordo com o lugar social que ocupa, de

acordo com seu ‘habitus’ ” (BITTENCOURT, 1997, p.22). 28

Ao iniciá-la colocamos o mora-

dor habituado a termos como revitalização, reabilitação, e restauração, utilizados pelo IPHAN

em suas obras de intervenção urbana. E ressaltamos o turismo, com gestão adequada, como

alternativa de sustentabilidade deste patrimônio, idéia difundida pelo mesmo Instituto preser-

vacionista. Nossas observações realizadas através da pesquisa retratam esta mesma vontade

por parte dos moradores. Há desejo em visualizar uma cidade que agrade tanto aos que resi-

dem quanto aos visitantes. Nos relatos encontramos preocupação com a aparência, funcionali-

dade, sustentabilidade, responsabilidade de gestão, entre outros. Os moradores demonstram

que o patrimônio possui ligação direta com a idéia de cidade, de moradia, viva e dinâmica. O

patrimônio como símbolo ainda não está totalmente construído. Suas ligações com a memória

individual e coletiva são mais presentes do que com a idéia de futuro, e de possibilidades.

Percebemos isto pela maioria dos colaboradores que ficaram em segundidade.

A pesquisa, também, demonstra que a colaboradora que se manteve em primeiri-

dade o fato de participar do grupo, de ser ouvida, de ver-se como colaboradora isto a trans-

formou. O relato evidencia a sua felicidade por estar participando, atuando em algo que con-

sidera importante. Começou tímida, com medo de falar e, com o tempo, seus relatos cresce-

ram. Transformou o espaço do relato num espaço de reivindicações para conseguir melhorias

para comunidade. Reforça sua identidade de lagunense, apesar de não ser natural de Laguna.

Sua participação na pesquisa chancela sua identidade desejada, ser lagunense.

Como pesquisadores nos propusemos a verificar o grau de elaboração dos mora-

dores acerca do patrimônio edificado, através da percepção, leitura e elaboração de novos

significados. Tínhamos como hipótese: quanto maior o nível de instrução e escolaridade im-

plicaria maior nível de semiose (criação) e noese (conhecimento). Isto se confirmou, com ex-

ceção de dois colaboradores. Uma colaboradora com ensino fundamental completo que atin-

28

Para Pierre Bordieu Habitus “mostra que a cultura não é só um código comum, nem mesmo um repertório

comum de respostas a problemas comuns ou um grupo de esquemas de pensamento particulares e particulari-

zados: é, sobretudo, um conjunto de esquemas fundamentais, precisamente assimilados, a partir dos quais se

engendram, segundo uma arte da invenção semelhante à da escrita musical, uma infinidade de esquemas par-

ticulares,diretamente aplicados a situações particulares” (1974, p. 346). Alguns autores inferem que habitus

seja um sinônimo de ideologia, o que nos parece não ser o que o autor pretendia ao resignificar o termo.

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giu a terceiridade e um colaborador que possui graduação universitária manteve-se em segun-

didade. Assim, confirmamos que a educação escolar nem sempre é a responsável pela forma-

ção dos indivíduos. Com certeza, a colaboradora (exceção à regra) que sem um nível adequa-

do de escolaridade ascendeu a terceridade possui leituras, e desenvolve seus conhecimentos

na sua relação com outros indivíduos permeados pelo meio em que vivem.

A pesquisa reafirma o que podemos dizer ser uma das máximas de Paulo Freire:

“ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam entre si, mediatiza-

dos pelo mundo” (1987, p.39).

Caminhar pelo Centro Histórico, torná-lo um lugar de reflexão sobre as múltiplas

relações entre passado, presente e futuro já era preocupação da pesquisadora. O patrimônio

edificado ganha sentido quando as questões de memória individuais e coletivas, sociais e his-

tóricas, ou seja, quando o passado relaciona-se com as questões e desafios travados na atuali-

dade. Perceber, ler e produzir novos significados, é um instrumento de intervenção na realida-

de de quem os realiza, mas pode vir a ser uma forma de transformação na realidade se toma-

dos como estratégia social, como estratégia educativa.

Os moradores do Centro Histórico, colaboradores desta pesquisa e nós pesquisa-

dores não realizamos só uma experiência individual e em grupo com percepção, leitura e pro-

dução de novos significados relativos ao patrimônio edificado. Nós vivenciamos um processo

de educação. Educação no sentido freiriano, “que só se entende o eu na interação do nós”

(SILVA FILHO, 2003, p.9). Ao compartilharem seus relatos no grupo sobre o Centro Históri-

co, somados a mediação pedagógica, nós (grupo e pesquisadora) desenvolvemos, e semeamos

uma nova forma de agirmos no mundo. Observando, „debatendo‟, „pesquisando‟, e principal-

mente socializando nossas sensações, leituras e interpretações acerca do objeto analisado.

A educação, apontada pelos próprios colaboradores, pode ser a solução para o

problema detectado através dos relatos sobre a incompreensão dos moradores, relativos aos

procedimentos legais impostos pelo IPHAN. Na própria Proposta Curricular de Santa Catari-

na encontramos:

“o conhecimento se dá nas pessoas, e ninguém pode aprender pelo outro, mas é pos-

sível criar condições de interação e comunicação que favoreçam a geração subjetiva

do conhecimento. Se as comunicações ampliam a possibilidade de interagir, aumen-

tam, por conseguinte, a possibilidade de aprender com prazer, já que o aprender pro-

porciona a alegria de perceber o significado pessoal das informações que lhe trans-

mitem os outros. Por isso, os avançados sistemas de ensino-aprendizagem intensifi-

cam a prática do interacionismo subjetivista e social. Subjetivista, porque mesmo o

conhecimento coletivo se dá a partir do aprendizado individual; e social, porque o

processo de comunicação que favorece o novo conhecimento pressupõe, no mínimo,

a interação de duas pessoas, e se enriquece exponencialmente pela interação de um

número maior de atores” (2005, p.6).

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A questão motivadora desta pesquisa foi a valorização do patrimônio pelos mora-

dores, legítimos usuários do patrimônio edificado. Grande parte sem educação formal. Os

filhos em idade escolar poderiam ser os responsáveis para levarem estas questões para dentro

de casa. Parece-nos óbvio que a escola deva se ocupar desta tarefa, tanto para os alunos quan-

to para os pais. Mas, ainda assim parte da comunidade não se contempla. Neste ponto entram

as instituições não formais de educação os museus e o próprio IPHAN.

Tratar o Centro Histórico como um museu a céu aberto, como um museu percurso

pode ser uma alternativa. Pois, seus visitantes seriam impulsionados, através de mecanismos

educativos, a refletirem sobre o espaço urbano. Aqui não estaria a função museológica e tam-

bém turística? Através do patrimônio edificado a comunidade questiona-se, reporta-se e se

projeta. O patrimônio, neste caso, o edificado é o que mais se interioriza em nós, pois nos

envolve com suas formas volumétricas. É “imóvel”. Por ser tombado, pouco se altera, ao se

cristalizar na memória. Portanto, importa tratá-lo de forma diferenciada, não corriqueira, não

como simples edificação e sim como patrimônio, detentor e construtor de identidades e me-

mórias sócio-históricas.

Contudo, a Cidade quando tratada como museu carrega em si a tarefa e o risco de

se espetacularizar. Na tarefa está a dinamização e a provocação da comunidade para se conhe-

cer e conviver. E no risco está a mumificação.

Registrar e analisar os resultados serviu-nos, não só, como exercício científico,

mas, fundamentalmente, como possibilidade dum documento de negociação para criações de

políticas públicas e programas educacionais, formais e museológicos, para maior identificação

da comunidade com o patrimônio de Laguna.

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ANEXOS

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ANEXO A – MAPA DO TRAJETO

Mercado Público

Docas do Mercado

Cine Teatro Mussi

Arquivo PúblicoCasa Candemil

Lagoa de Santo Antônio

Casa de Anita

Igreja de Sto Antônio dos Anjos

IPHANMuseu de Arqueologia

Praça Vidal Ramos

Biblioteca MunicipalAntigo Ginásio Lagunense

Museu AnitaGaribaldi

Praça Anita Garibaldi

Memorial de TordesilhasAntiga Usina Elétrica

Morro do Rosário

Fonte da Carioca

Casa Pinto D’Ulyssea

início percursoluso-brasileiro

início percursoart deco

início percursoeclético

percurso luso-brasileiro

percurso eclético

percurso art deco

i

E

Ponto deInformações Turísticas

Área para estacionamento

i

E

E

E

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ANEXO B – CARTA DE CESSÃO

Exemplo retirado do Manual de História Oral (MEIHY, 2005, p.214-215).

[Local,data]

[Destinatário]

Eu, [nome, estado civil, documento de identidade], declaro par os devidos fins que

cedo os direitos de minha entrevista, gravada [data(s)] para [entidade e pessoas], para ser usa-

da integralmente ou em partes, sem restrições de prazos e limites de citações, desde a presente

data. Da mesma foram, autorizo que terceiros a ouçam e usem citações dela, ficando vincula-

do o controle à [instituição], que tem sua guarda.

Abdicando de direitos meus e de meus descendentes, subescrevo a presente, que

terá minha firma reconhecida em cartório.

[Nome e assinatura do colaborador]

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ANEXO C – APRESENTAÇÃO EM LÂMINAS DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA EM

POWER POINT

Patrimônio edificado de Laguna:

conhecer, interpretar e preservar

Gizely Cesconetto de Campos

Orientador: Prof.Dr. Mário Guidarini

““da minha aldeia vejo quanto da terra se da minha aldeia vejo quanto da terra se

pode ver no universo...pode ver no universo...

Por isso a minha aldeia Por isso a minha aldeia éé tão grande como tão grande como

outra terra qualqueroutra terra qualquer

Por que eu sou do tamanho do que vejoPor que eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura...E não do tamanho da minha altura...””

Fernando PessoaFernando Pessoa

Embalando... Os dizeres do poeta...

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luso-brasileiro

luso-brasileiro

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Arquitetura luso-brasileira

edificações

austeras, sem

decoração,

marcadas pelas

cimalhas no beiral.

Paredes com

50cm de

espessura,

construídas com

materiais da

região. As casas

térreas eram de

piso em chão

batido, com uma

porta e janela ou

duas janelas.

cimalha abertura em guilhotina

porta no nível da rua telhado visível

Arquitetura luso-brasileira

fachadas marcadas por

grossos cunhais

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As casas faziam um corredor contínuo, seguindo a

formação das ruas.

Arquitetura luso-brasileira

Arquitetura luso-brasileira

Os limites laterais colados um nos outros deixavam os

quartos sem iluminação (chamados de alcovas).

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As casas começam

a ter entradas

laterais, com

portões de ferro,

possibilitando a

ventilação dos

quartos. Em

algumas o

afastamento com o

vizinho é maior e

aparecem os

jardins e as

varandas

platibandarevestimento com massa

decorativa

balcão

entalado

gateirapresentes em edificações elevadas do

nível da rua, surgem os porões habitados

Arquitetura eclética

eclético

Torre marcando a esquina

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eclético

eclético

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Formas

simplificadas,

predomínio de

linhas sóbrias e

geométricas.

Como no luso-

brasileiro, mantém

o alinhamento com

a rua.

as platibandas: formas retas sem

elementos decorativos

as fachadas são marcadas por

linhas geométricas em alto

relevo

Arquitetura

art deco

Cine Mussi - a edificação ocupa

praticamente toda quadra e na

entrada principal seu volume é

arredondado marcando a

esquina.

art deco

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art deco

germânica

itálica

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modernistas

padrão

estético

duvidoso

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Materiais construtivos

Materiais construtivos

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Materiais construtivos

encaixes

Materiais construtivos

Saber fazer

(conhecimentos)

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Materiais construtivos

pau-a-pique

alvenaria

mista

cantaria

Materiais construtivos

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Materiais construtivos

Materiais construtivos

arcos

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Materiais construtivos

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ANEXO D – FOTOCÓPIAS DAS CESSÕES REGISTRADAS EM CARTÓRIO

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