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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL PATRICIA RACHEL PISANI MANZOLI RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO ÉTICO E CIDADÃO DO EMPRESARIADO BRASILEIRO COM A EDUCAÇÃO. FRANCA 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL

PATRICIA RACHEL PISANI MANZOLI

RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE O

COMPROMISSO ÉTICO E CIDADÃO DO EMPRESARIADO

BRASILEIRO COM A EDUCAÇÃO.

FRANCA

2009

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PATRICIA RACHEL PISANI MANZOLI

RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE O

COMPROMISSO ÉTICO E CIDADÃO DO EMPRESARIADO

BRASILEIRO COM A EDUCAÇÃO. Dissertação apresentada à Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” como requisito para obtenção do Título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Trabalho e Sociedade. Orientador: Prof. Dr. Ubaldo Silveira.

FRANCA 2009

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Manzoli, Patricia R.P. Responsabilidade social : um estudo sobre o compromisso ético e cidadão do empresariado brasileiro com a educação / Patrícia R.P. Manzoli. –Franca : UNESP, 2009 Dissertação – Mestrado – Serviço Social – Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP. 1. Responsabilidade empresarial. 2. Serviço Social – Empresa. 3. Educação – Investimentos sociais. 4. Cidadania. CDD – 362.85

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PATRICIA RACHEL PISANI MANZOLI

RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE O

COMPROMISSO ÉTICO E CIDADÃO DO EMPRESARIADO

BRASILEIRO COM A EDUCAÇÃO.

Dissertação apresentada à Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” como requisito para obtenção do Título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração: Trabalho e Sociedade.

BANCA EXAMINADORA

Presidente:_________________________________________________________

Prof. Dr. Ubaldo Silveira

1°Examinador:______________________________________________________

Prof. Dra. Helen Barbosa Raiz Engler

2°Examinador:______________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Ruiz Sanches

Franca, _____, de_____________de 2009

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Dedico a Sueli e Fernando, muito mais que pais, eternos confidentes.

A Cassiano motivo de minhas alegrias, extensão de minha alma.

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao Prof. Dr. Ubaldo Silveira Por auxiliar-me neste caminho acadêmico tendo a ética como princípio fundamental para o alcance de todo objetivo.

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para a concretização deste estudo.

À Sandra Lourenço amiga querida e grande pesquisadora, à Anna Patrícia China que com sua leveza me incentivou a cada semana além de possuir participação especial neste trabalho.

Agradeço à Jucimeire pelas orientações que levaram ao foco deste estudo, à Laura Jardim pelas adequações à ABNT.

Agradeço a todos os meus familiares, a meus pais, Sueli e Fernando por sempre me apoiarem e estarem presentes nos principais momentos de minha vida, a querida vovó Yolanda que não me esquece em suas orações e especialmente à Cassiano, que esteve ao meu lado com toda paciência e dedicação todas as vezes que as forças pareciam faltar.

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[..] Não me importa saber Se é terrível demais

Quantas guerras terei que vencer Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão

E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão

Sonho Impossível.

Chico Buarque

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MANZOLI, Patricia Rachel Pisani. Responsabilidade social: um estudo sobre o compromisso ético e cidadão do empresariado brasileiro com a educação. 2009.101s f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2009.

RESUMO A ação das empresas no âmbito de função social não lucrativo acompanhou a trajetória do capitalismo brasileiro. Somente na década de 1990 foi possível verificar ações mais organizadas estratégica e sistematicamente voltadas para o tema Responsabilidade Social Empresarial. (RSE) O capitalismo excludente exercido pelas empresas até então passa a ser amparado por ideais que transformam o enfoque da iniciativa privada buscando um desenvolvimento capaz de articular mercado e cidadania, desenvolvimento econômico e justiça social.Para os propósitos da presente dissertação, destaca-se os conceitos de ética e cidadania como categorias fundamentais para discutir e compreender o compromisso do empresariado nacional realizado através de investimentos sociais na área educacional. Considera-se neste estudo, a educação um campo de ação e disseminação de valores éticos e da prática da cidadania capazes de catalisar a transformação social desejada no Brasil. O objeto de estudo, Responsabilidade Social Empresarial foi direcionado para ações empresariais voltadas a projetos educacionais a partir de análise dos resultados das pesquisas secundárias: Censo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Censo GIFE) 2005/2006, Censo GIFE Educação 2005/2006, Censo GIFE 2007/2008 e a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômicas e Aplicadas (Ipea): A iniciativa privada e o espírito publico: a evolução da ação social das empresas privadas no Brasil. O conceito de Investimento Social Privado foi utilizado para se distinguir da doação filantrópica destinada à caridade por não ser realizada de forma planejada, monitorada e sistemática. A diferenciação entre investimento social privado e filantropia é ressaltada para demonstrar o fato de que a doação por si só não significa efetivamente uma ação socialmente responsável. Palavras–chave: responsabilidade social. ética. educação. investimento social privado.

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MANZOLI, Patricia Rachel Pisani. Responsabilidade social: a study about ethical and citizen commitment of Brazilian entrepreneurship with education. 2009. 101 s. Paper. (Master in Social Service) - Faculty of History, Law and Social Work, São Paulo University State, Franca, 2009.

ABSTRACT The action of the companies regarding their non-profitable social function has accompanied the trajectory of capitalism in Brasil. It is possible to verify in the 1990s alone, more strategically organized and systematically actions focused on the theme Corporate Social Responsibility (CSR). Excluding capitalism exercised by companies until then has been transformed and has become supported by ideals that focus on private initiative in search of development which can articulate the market and citizenship, economical development and social justice.For the purposes of this dissertation, the concept of ethics and citizenship as fundamental categories are highlighted, in order to discuss and understand the commitment of national entrepreneurship carried out through social investments in education. It is considered in this study, education as a field of action and dissemination of ethical values and the practice of citizenship as being able to catalyze the desired social transformation in Brazil.The object of study, Corporate Social Responsibility has been targeted to business actions which focus on educational projects based on the analysis of the results found in secondary researches: Census of Institutes, Fundations and Corporates (Censu GIFE) 2005/2006, Census GIFE Education 2005/2006, Census 2007/2008 and the Economic and Applied Research Institute (Instituto de Pesquisa Econômicas e Aplicadas - Ipea): private initiative and public spirit: the evolution of social action of private companies in Brazil.The concept of Private Social Investment was used to distinguish philanthropic donations destined to charity which is not performed in a planned, systematic nor monitored manner. The distinction between private social investment and philanthropy is highlighted to demonstrate the fact that donation by itself does not mean an effective socially responsible action. Keywords: social responsibility. ethics. education. private social investments.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Áreas de atuação: associados, entidades e pessoas beneficiadas e recursos

investidos dos associados GIF. Censo 2005-2006 ........................................... 86

TABELA 2 - Percentual de atuação dos associados GIFE por área.

Censo 2007-2008 (%) ....................................................................................... 88

TABELA 3 - Linhas de ação prioritárias na área de educação ............................................... 89

TABELA 4 - Investimentos em Educação .............................................................................. 90

TABELA 5 - Número de entidades e pessoas beneficiadas em projetos de Educação .......... 90

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LISTA DE SIGLAS

ABERJE Associação Brasileira de Comunicação Empresarial

Abrinq Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos

ADCE Dirigentes Cristãos de Empresas

Amcham American Chamber of Commerce for Brazil

APIMEC Associação dos analistas e Profissionais de Investimento do Mercado

de Capitais

CEATS Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro

Setor

Cepal Comissão Econômica para a América Latina

CPDOC Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do

Brasil

DVA Demonstração do Valor Adicionado

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EUA Estados Unidos da América

FEA/USP Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da

Universidade de São Paulo

FIA Fundação Instituto de Administração

FIDES Fundação Instituto e Desenvolvimento Empresarial e Social

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FGV Fundação Getúlio Vargas

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

Ipea Instituto de Pesquisa Econômicas e Aplicadas

Iseb Instituto Superior de Estudos Brasileiros

ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial

ISP Investimento Social Privado

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

PIB Produto Interno Bruto

RSE Responsabilidade Social Empresarial

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SAI Social Accountability International

OCIPS Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

ONU Organização das Nações Unidas

ONGs Organizações Não-Governamentais

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

CAPITULO 1 RESPONSABILIDADE SOCIAL NO MUNDO DOS NEGÓCIOS ........ 21

1.1 Responsabilidade Social: o despertar da cidadania empresarial ................................. 22

1.2 Da Responsabilidade Social do Estado para a Responsabilidade Social das

Empresas ............................................................................................................................ 31

CAPÍTULO 2 CENÁRIOS PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS

EMPRESAS .................................................................................................. 42

2.1 A disseminação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial no mundo ..... 43

2.2 A disseminação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial no Brasil ....... 50

2.3 O processo de reconhecimento das demandas sociais no Brasil .................................. 59

CAPÍTULO 3 ÉTICA E CIDADANIA PARA RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS

NEGÓCIOS ................................................................................................... 68

3.1 Ética e Cidadania: Categorias fundamentais para a prática da Responsabilidade

Social Empresarial ............................................................................................................ 69

3.2 A ética e a cidadania na prática: a aplicabilidade de indicadores de

responsabilidade social das empresas ............................................................................. 74

3.3 Educação: um caminho transformador para o compromisso ético e cidadão ............ 80

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 94

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 98

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INTRODUÇÃO

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O presente estudo é resultado da pesquisa realizada no programa de pós-

graduação stricto sensu (mestrado) em Serviço Social. O enfoque dado ao tema

Responsabilidade Social Empresarial considera os conceitos, Ética e Cidadania,

como categorias fundamentais para discutir e compreender o compromisso do

empresariado nacional realizado através de investimentos sociais na área

educacional.

O conceito de responsabilidade social é abrangente, justamente pela

diversidade de comportamentos e de ações que uma organização pode assumir

voltados a assegurar o bem-estar dos indivíduos ou dos grupos sociais relacionados

direta ou indiretamente com suas atividades. O presente estudo utilizará o conceito

específico de Responsabilidade Social Empresarial, ou seja, ações exercidas por

empresas. A definição adotada para este conceito será a mesma do Instituto Ethos1.

Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. (INSTITUTO ETHOS DE RESPNSABILIDADE SOCIAL, online).

O intuito de compreender e analisar o compromisso ético e cidadão do

empresariado nacional com a educação em nosso país deu-se, primeiramente, por

considerar a educação um campo de ação e disseminação de valores éticos e da

prática da cidadania capazes de catalisar a transformação social desejada no Brasil

convertendo-se em ações consistentes e de impacto duradouro ao público

beneficiado. E por ser a responsabilidade social empresarial um passo consistente

para a gestão ética dos negócios em busca de uma maior integração social dos

excluídos socioeconomicamente.

É importante destacar que a educação a qual esta dissertação refere-se é

vista, no presente estudo, como processo de formação dos indivíduos e da própria

sociedade e como disseminação de valores éticos e práticas de cidadania.

1 Criado com a missão de disseminar a prática da responsabilidade social empresarial, o Instituto Ethos de

Responsabilidade Social foi criado em 1998 no Brasil, por um grupo de empresários e executivos oriundos da iniciativa privada que é caracterizado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).

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Uma das primeiras dificuldades encontradas para abordar o tema proposto

estava justamente na abrangência do campo a ser analisado: o empresariado

nacional. Necessariamente, surgiram os primeiros questionamentos que levaram a

este estudo. Quem é este empresariado? Qual o seu perfil? Realizam investimentos

sociais privados em educação? Estes investimentos podem ser considerados como

apreensão efetiva do conceito de responsabilidade social uma vez que este conceito

pressupõe o estabelecimento de padrões éticos nas atividades empresariais e na

sua forma de gestão?

É importante destacar que os mapeamentos efetuados sobre

responsabilidade social são raros e recentes e, em sua maioria, não respondem

completamente a esses questionamentos, mas têm contribuído para aprofundar o

conhecimento sobre o envolvimento do setor empresarial na área social, além disso,

são relevantes para os Governos que passam a dispor de informações que lhes

permitem aprimorar suas relações com entidades ou ações não governamentais,

assim como compreender o papel social das empresas, cada vez mais chamadas a

atuar em parceria no campo social através das Ações de Responsabilidade Social

Empresarial.

Seguindo a relevância dos mapeamentos efetuados sobre ações de

responsabilidade social, a discussão teórica realizada nesta dissertação utiliza-se de

pesquisas secundárias para mensurar, por meio dos dados quantitativos, o

envolvimento do empresariado nacional com a educação.

A metodologia empregada para a realização deste trabalho de cunho teórico

consiste em pesquisa bibliográfica, aliando as áreas de Responsabilidade Social

Empresarial (RSE) e Serviço Social, sendo a coleta de informações realizada,

principalmente, através de dados secundários, a saber: livros, teses, revistas,

pesquisas de instituições e sites na internet.

O primeiro capítulo desta dissertação apresenta o conceito de

responsabilidade social inserido no mundo dos negócios, a concepção de cidadania

empresarial e a transição do foco das responsabilidades sociais do Estado para a

responsabilidade social das empresas.

O segundo capítulo apresenta a trajetória do conceito de responsabilidade

social no mundo e no Brasil, contextualizando esta temática à história econômica e

social do país. O cenário social brasileiro é destacado por meio da pesquisa da

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) intitulada: Crescimento

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Econômico: como superar a limitação e atingir o desenvolvimento social. Esta

pesquisa salienta a importância da educação como política social fundamental para

o real desenvolvimento social e econômico da nação.

O terceiro capítulo aborda os conceitos de ética e de cidadania como

categorias fundamentais para as práticas de responsabilidade social empresarial.

Este capítulo possui grande importância por servir como elo entre todos os demais

capítulos e por realizar a conexão do tema responsabilidade social empresarial ao

tema Educação. Considerando que as práticas de responsabilidade social

empresarial, realmente eficazes enquanto medidas sociais, devam estar

profundamente alicerçadas em valores éticos e práticas de cidadania

transformadoras e não remediáveis.

Por considerar a educação o exemplo maior de política social efetiva para o

desenvolvimento real tanto social quanto econômico de um país, o capítulo três

demonstra, claramente, que as categorias, ética e cidadania, estão na pauta de

discussão do mundo empresarial nas últimas três décadas.

O destaque deste capítulo está na apresentação da ação empresarial do

Brasil voltada para educação. Esta apresentação é realizada por meio das análises

dos resultados das pesquisas secundárias: Censo GIFE 2005/2006, Censo GIFE

Educação 2005/2006, Censo GIFE 2007/2008 e a pesquisa do Instituto de Pesquisa

Econômicas e Aplicadas (Ipea): A iniciativa privada e o espírito publico: a evolução

da ação social das empresas privadas no Brasil2.

Este capítulo ressalta resultados apresentados nas pesquisas que se

relacionam diretamente ao tema deste estudo e, desta forma, estabelece diálogo

com a bibliografia que alicerça as bases conceituais da presente dissertação. O

capítulo também pode ser visto como um alerta sem pretensões, mas reflexivo ao

empresariado nacional sobre a relevância da responsabilidade social empresarial no

Brasil, em especial, o investimento social privado em práticas educacionais.

A escolha por estas pesquisas deu-se pela relevância e representatividade

das mesmas a respeito dos resultados quantitativos e análises qualitativas das

atividades de investimento social privado desenvolvidas pelos integrantes do Grupo

de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e pela credibilidade do Instituto de

2 Esta pesquisa dá continuidade à série de estudos realizados sobre a ação social empresarial no Brasil para a

atualização dos dados nacionais da Pesquisa Ação Social das Empresas.

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Pesquisa Econômicas e Aplicadas (Ipea), fundação pública federal vinculada à

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

As atividades de pesquisa do Ipea fornecem suporte técnico e institucional às

ações governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e

programas de desenvolvimento brasileiros. A credibilidade dessas pesquisas quanto

à metodologia adotada e o ineditismo dos resultados foram determinantes para

nortear a discussão conceitual e as análises apresentadas neste estudo.

O Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) foi a primeira

associação da América do Sul a reunir empresas, institutos e fundações de origem

privada ou instituídos para a prática de investimento social privado. Em seu site

oficial, a rede de associados GIFE destaca que investe quase R$ 1 bilhão por ano

em projetos variados. No ranking das áreas temáticas priorizadas, destacam-se

Educação, Cultura e Artes, e Desenvolvimento Comunitário. O diferencial da Rede

GIFE de Investimento Social Privado é a preocupação na construção de uma

sociedade sustentável. Por isso, procuram transferir para os projetos que financiam

ou operam a cultura da gestão de recursos financeiros e humanos, planejamento,

definição de metas e avaliação de resultados, buscando a cumplicidade da

comunidade nas tomadas de decisão. (GIFE, 2009 b,online).

O conceito de Investimento Social Privado é caracterizado pelo GIFE como

repasse de recursos privados para fins públicos por meio de projetos sociais,

culturais e ambientais, de forma planejada, monitorada e sistemática diferindo-se

das demais ações filantrópicas, exatamente por retirar o enfoque dado à caridade e

lidar diretamente com as causas das questões sociais, avaliando a relevância das

mesmas e aplicando ferramentas de gestão em seus projetos sociais. Dessa forma,

a grande diferenciação entre investimento social privado e filantropia está no fato de

que a doação por si só não significa efetivamente uma ação socialmente

responsável. Para que a ação seja de responsabilidade social, é preciso ter

assimilado na gestão dos negócios uma ética empresarial que demonstre

responsabilidade pelo desenvolvimento social. Será possível compreender que

mesmo ações filantrópicas podem e devem estar alicerçadas em um processo ético

e transparente. Por ser o conceito de Responsabilidade Social abrangente e estar

diretamente atrelado aos conceitos de ética e cidadania, esta dissertação enfocará

ações sistematizadas de responsabilidade social de empresas, ou seja, corporações

que profissionalizam suas ações sociais praticadas para a comunidade.

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Existe, hoje, um forte consenso, na sociedade brasileira, sobre a importância

da educação como instrumento central para melhoria das condições de vida e para o

desenvolvimento social e econômico do país. O setor privado tem se mobilizado

para ajudar, e o GIFE congrega a maioria das instituições no país que desenvolvem

ações educativas e de apoio à educação de diferentes tipos.

Face ao exposto e com a comprovação de resultados de pesquisas citadas no

decorrer deste trabalho, acredita-se que este contribui na divulgação e promoção de

conceitos importantes que podem nortear a sociedade empresarial brasileira a uma

maior conscientização de suas responsabilidades para com a sociedade na qual

está inserida. O conceito de responsabilidade social pressupõe a aplicação de ações

planejadas para o desenvolvimento social e, consequentemente, econômico. Por

esse motivo, faz-se necessário apresentar um panorama do desenvolvimento

histórico do conceito de responsabilidade social empresarial no Brasil.

Nas considerações finais, destacou-se que a análise sobre o processo de

divulgação e implementação do conceito de responsabilidade social está

intimamente relacionada ao desenvolvimento das próprias questões da assistência

social no país, por sua vez, resultado das demandas da sociedade capitalista e de

suas diferentes requisições no embate da chamada “questão social”, mas que, em

sua origem, estava intimamente relacionada à prática cristã católica. A dimensão

prática do Serviço Social confere a esta dissertação efetividade à discussão sobre o

processo de desenvolvimento social e as transformações do Mundo do Trabalho

ocorridas desde o início do século XX, questões que contextualizam o conceito e a

disseminação das práticas de Responsabilidade Social Empresarial.

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CAPÍTULO 1 RESPONSABILIDADE SOCIAL NO MUNDO DOS NEGÓCIOS

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1.1 Responsabilidade Social: o despertar da cidadania empresarial.

Boas ações, gestos de caridade, ajudar alguém necessitado disponibilizando

recursos financeiros ou até mesmo recursos para a própria sobrevivência, atuar

como voluntário em algum projeto social ou ambiental são ações facilmente

associadas ao conceito de Responsabilidade Social. Na verdade, este é um engano

comum e, para desmistificar esta noção, é preciso primeiramente compreender que

o despertar da responsabilidade social das empresas não apresenta um histórico

cronologicamente definido, justamente por fazer parte de uma evolução da postura

das organizações em face da questão social, provocada por uma série de

acontecimentos sociopolíticos determinantes e também pela própria trajetória

histórica do capitalismo mundial.

O termo Responsabilidade Social é um conceito que se vinculou,

gradativamente, ao mundo corporativo e, atualmente, traduz-se em uma forma ética

de conduzir os negócios. Seja a responsabilidade social voltada a projetos

ambientais, educacionais ou de outra natureza, o fato é que o conceito de

responsabilidade social é abrangente, justamente pela diversidade de

comportamentos e ações que uma organização pode assumir, voltados a assegurar

o bem-estar dos indivíduos ou dos grupos sociais relacionados direta ou

indiretamente com suas atividades.

Na busca da garantia de espaço no mercado globalizado, na potencialização do seu desenvolvimento, as empresas inteligentes, incansáveis na redefinição de seus valores como forma de adequá-los às necessidades mercadológicas vigentes, desenvolvem um novo comportamento voltado para o seu estabelecimento no mundo competitivo: Responsabilidade Social de Empresas (RSE), esta é a nova forma de “como fazer” adotada pelas empresas modernas. (PESSOA, 2005, online).

Foi em torno das Guerras Mundiais que o embate entre capital e trabalho

assumiu diferentes formas, projetando-se como proposta “socializante” com os

modelos estadistas como o soviético, o de bem-estar social ou desenvolvimentista.

Com a crise desses modelos, o setor privado passou gradativamente a assumir a

liderança no papel do desenvolvimento econômico, o que fez aumentar também as

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expectativas sobre as responsabilidades que o setor privado assumiria diante do

agravamento das desigualdades sociais. Surge, no período pós-guerra, um

movimento de descentralização por meio de formação de blocos econômicos,

ocorrendo, portanto, flexibilização e fortalecimento da sociedade civil, o qual passa a

compor um novo pacto para as condições de governabilidade do país.

Nesta interdependência entre governo, setor privado e sociedade civil, o

campo social ganha espaço através do chamado Terceiro Setor. Uma zona que se

coloca entre o Estado e o mercado representado por organizações da sociedade

civil e fundações empresariais sem fins lucrativos.

É possível afirmar, desta forma, que, a partir do século XX, diversos fatores

de ordem política, econômica e social levaram ao reconhecimento e legitimação de

algumas necessidades e demandas sociais decorrentes das mudanças no mundo do

trabalho que provocaram alterações no modelo do desenvolvimento econômico.

Do ponto de vista social, o impacto mais marcante foi e ainda é o

desemprego que se origina cada vez mais da desqualificação e despreparo da mão

de obra para as funções atuais. O conceito de cidadania difunde-se, então, a partir

deste novo cenário, não apenas como temática social, mas mantém-se atualmente

nas pautas do universo político e econômico como uma nova demanda das

sociedades complexas.

É importante ressaltar que a gestão da política social sempre está ancorada

na parceria entre Estado, sociedade civil e iniciativa privada; e a base deste arranjo

está sedimentada exatamente no valor social de cidadania.

Delinear um entrelaçamento nas discussões entre ética e cidadania é mais que estreitar os relacionamentos entre o saber ético-filosófico e o saber político. Trata-se de colocar a nu uma evidência, que é aquela segundo a qual boa parte das práticas sociais (boas ou más, úteis ou não lícitas ou ilícitas) se compõem de ações (individuais ou coletivas) capazes de traduzir os sentimentos, as sensações, as angústias, as dificuldades etc. ligados ao comportamento humano em sociedade. (BITTAR, 2004, p.1).

Altos déficits públicos, revolução informacional, transformação produtiva,

desemprego e desigualdades sociais formam um cenário mundial que requer novas

posturas tanto do setor público quanto privado. Assim, as empresas despontam para

a atuação social.

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A ação das empresas, neste âmbito de função social não lucrativo,

acompanhou a trajetória do capitalismo mundial e, no Brasil, essas ações ganharam

força somente na década de 1990, em que foi possível detectar ações mais

organizadas, sistematicamente e estrategicamente voltadas para o tema

Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Por serem importantes agentes de

promoção do desenvolvimento econômico e do avanço tecnológico, a qualidade de

vida da humanidade depende cada vez mais de ações cooperativas, de empresas

que incorporam, progressivamente, o conceito de responsabilidade social

empresarial, tornando-o um comportamento muitas vezes formalizado em projetos

de atuação na sociedade civil.

A ética e a cidadania permeiam discussões sobre o que é ser politicamente

correto. Nesta pauta de discussão, as relações do homem com o meio ambiente e

suas responsabilidades com o futuro da humanidade face às desigualdades sociais

ganham força. Ao falar em cidadania empresarial, é necessário resgatar a origem da

palavra cidadania e demonstrar as alterações sofridas pela concepção de cidadania

ao longo do tempo.

A palavra “cidadania” é derivada de cidadão, que vem do latim civitas. Na Roma antiga, o conjunto de cidadãos que constituíam uma cidade era chamado de civitate. A cidade era a comunidade organizada politicamente. Era considerado “cidadão” aquele que estava integrado na vida política da cidade. Naquela época, e durante muito tempo, a noção de cidadania esteve ligada à idéia de privilégio, pois os direitos de cidadania eram explicitamente restritos a determinadas classes e grupos. (PONCHIROLLI, 2007, p. 64).

As transformações sobre a concepção de cidadania estiveram relacionadas à

própria concepção do que é ser cidadão. Ao longo do tempo, a noção de cidadania

esteve por muitas vezes condicionada à concepção política. Neste caso, ser cidadão

é possuir o direito de votar e, na história da humanidade, por muitos anos, este

direito esteve condicionado ao poder econômico.

Historicamente, as revoluções burguesas, em particular a Revolução

Francesa (1798), estabeleceram as Cartas Constitucionais. Segundo Covre (2002),

nestas cartas, o chamado Estado de Direito se estabelece em oposição ao processo

de normas difusas e indiscriminadas da sociedade feudal e às normas arbitrárias do

regime monárquico ditatorial, anunciando, desta forma, uma relação jurídica

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centralizada. Assim como o próprio conceito de cidadania sofreu e sofre alterações,

o conceito de cidadania empresarial ainda é tratado apenas como uma vantagem

competitiva da empresa. Mas não há como escapar do fato de que, a partir do

momento em que as organizações empresariais atrelam o conceito de cidadania em

sua própria missão, elas estão divulgando abertamente à sociedade um

compromisso ético, mesmo que a intenção da empresa seja gerir sua própria

reputação, ao lidar com valores intangíveis, ativa-se o imaginário popular quanto ao

valor (no sentido ético) que se atribuirá à organização.

Se a empresa-cidadã é aquela que não foge aos compromissos de trabalhar para a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade, logo o conceito de cidadania empresarial encampa a noção de co-responsabilidade da empresa pelos problemas da sociedade. (PONCHIROLLI, 2007, p.65).

A partir dos anos de 1990, as empresas no Brasil aumentaram os

investimentos em projetos sociais, passaram a defender padrões mais éticos de

relação com seus públicos de interesse (fornecedores, funcionários, clientes,

governo e acionistas) e práticas ambientais sustentáveis. Sob o rótulo de

"responsabilidade social", foi incluído um conjunto de normas e práticas que se

tornou condição para garantir lucratividade e sustentabilidade aos negócios.

Uma das hipóteses é de que tais mudanças não decorrem apenas de

condicionamentos infligidos pelo consumidor ou pelo mercado, mas da interpretação

que os gestores fazem do cenário e do que entendem ser a melhor conduta para a

empresa.

O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das

normas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de que as

normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e influem na

sua estrutura organizacional e na maneira como relacionam-se com seus públicos

de interesse. Analisar este comportamento empresarial faz-se altamente relevante e

necessário na atualidade, porque as forças globais de mudança demonstram uma

alteração significativa no processo de gestão das organizações empresariais,

apontando um salto qualitativo na inter-relação entre instituições e comunidades,

revelando que uma precisa da outra para prosperar.

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É um fenômeno mundial que as empresas venham sendo cobradas pelo

cumprimento do seu papel de cidadãs. Analisando vários aspectos que demonstram

essa mudança na filosofia das empresas para uma nova ética empresarial, é

possível perceber que as organizações empresariais ganharam uma nova

preocupação: implementar programas de responsabilidade social.

Se o foco das organizações em relação à comunidade até pouco tempo

atrás estava apenas direcionado para o mercado, era apenas uma forma de analisar

seus desejos e a capacidade de consumo, agora as organizações também se volta

para os aspectos sociais, avaliando aquilo que a sociedade necessita.

O próprio desenvolvimento da organização dos trabalhadores, nas primeiras

décadas do século XX, contribuiu para reavaliar a perspectiva de atuação do

empresariado frente às questões sociais. A pressão da classe trabalhadora

concretizada em inúmeras greves aliada a fatores de ordem econômica e política

levou diversos capitalistas a atuar no sentido de modelar o sistema formal de

proteção social.

É muito comum em análises acadêmicas encontrar observações críticas e

desconfiadas sobre as ações de Responsabilidade Social Empresarial, quase

sempre pressupondo que essas ações são única e exclusivamente voltadas ao

marketing empresarial, reafirmando uma política neoliberal do capitalismo pós-

moderno que se anuncia global e flexível. Portanto, a crítica realizada a essas ações

está muito direcionada ao chamado terceiro setor que vai desde Organizações Não-

Governamentais (ONGs) até entidades tradicionais de caridade.

É exatamente neste ponto que a presente pesquisa distancia-se da crítica

sobre ações de responsabilidade social advindas de empresas. Ao tratar o tema e

definir a responsabilidade social como sendo ações sistematizas de empresas que

implementam, avaliam ou investem em projetos sociais. Esta definição abre espaço

para que, cada vez mais, haja maior racionalidade na execução dessas ações e no

controle de busca de bons resultados.

A Responsabilidade Social Empresarial (RSE) não é associada, na presente

análise, a ações esporádicas sem planejamento, sem comprometimento efetivo com

resultados sociais.

Atualmente, empresários e empresas divulgam nos meios de comunicação a

participação em projetos sociais ou o apoio a eles por meio de doações. Só que a

gestão de responsabilidade social abrange muito mais do que simples doações

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financeiras ou materiais. Há definições que englobam a relação ética e socialmente

responsável da empresa em todas as suas ações, em todas as suas políticas e

práticas.

A doação pura e simples nada mais é do que uma prática filantrópica, ou

seja, uma ação social externa à empresa beneficiando a comunidade. O problema é

que na atual conjuntura social a filantropia não busca continuidade das ações, mas

se concentra em ações esporádicas.

Muitas vezes, tem-se a ideia de que para fazer e gerir um projeto social basta

fazer o bem e ter boa vontade. O que vem se buscando, atualmente, é o equilíbrio

desse processo entre fazer o bem e fazer bem feito através da transparência nas

decisões e negociações além de maior profissionalismo, consolidando os projetos

sociais como uma ação realmente eficiente.

Segundo matéria publicada pela revista Veja em 5 de julho de 2006,

intitulada “Os santos do capitalismo”, é possível verificar que mesmo ações

filantrópicas podem ser efetuadas com procedimentos formalizados envolvendo o

reconhecimento do ambiente a da realidade na qual a organização a ser destinada a

doação está envolvida, assim como a verificação de tendências, forças e interesses

que atuam sobre ela. Esse reconhecimento é necessário justamente para que as

ações possam ser objetivas e, dessa forma, alcançar com presteza as

transformações almejadas. Uma das questões mais importantes na elaboração de

projetos sociais é ter claramente definido as diferenças essenciais entre esfera

pública e privada. Em termos de gestão, é preciso identificar com clareza qual é o

ambiente no qual a organização opera.

A matéria traz a informação de que, nos Estados Unidos da América, o

imposto sobre a transmissão de grandes heranças pode atingir 70% desta maneira,

para eles, muitas vezes faz mais sentido criar fundações com objetivos sociais e

colocar os filhos ou herdeiros para comandá-las. Também há a possibilidade de

abater do imposto de renda boa parte do dinheiro gasto com caridade, o que levou

os EUA ao pioneirismo da moderna filantropia com doações anuais, cerca de 260

bilhões de dólares. Na mesma reportagem, é indicada ainda uma doação realizada

pela Microsoft de 28 bilhões de dólares e por Warren Buffet, empresário que aos

setenta e cinco anos, e com fortuna avaliada em 44 bilhões de dólares, doou 40

desses, sendo que 30,7 para a Fundação Bill e Melina Gates que financia escolas

públicas e pesquisas para a cura do câncer. A reportagem, ainda, coloca em

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questão a análise marxista sobre a concentração de renda capitalista e exploração

do proletariado, demonstrando a influência de Bill Gates, a toda geração atual de

jovens milionários que buscam máxima eficiência e elevados retornos a

investimentos sociais. Essas ações filantrópicas são guiadas por critérios

empresariais como autossuficiência, tendo em vista a consistência financeira por

meio de fontes de renda próprias.

Há metas para a obtenção de resultados efetivos e controles para impedir o

inchaço da burocracia filantrópica. A garantia da eficiência está justamente em ter

claro que as fundações não devem ganhar mais que 20% do que emprestam. Da

mesma forma, as doações não podem perder o foco e se tornarem aleatórias. Os

projetos devem ser selecionados criteriosamente, de acordo com metodologias

exequíveis, buscando retorno econômico e social de acordo com o que podem

gerar. Há fundações que trabalham com objetivos claros, por isso as ações

filantrópicas e sua administração financeira passam por auditorias e apresentam

relatórios anuais de suas atividades e resultados.

Esses filantropos bilionários da atualidade não querem apenas aliviar o

sofrimento dos ainda não incluídos, mas promover a ascensão e transformá-los em

consumidores e mesmo acionistas do sistema de mercado. Está evidente que o

capitalismo não comporta segmentos expressivos de pobreza, mas exige cidadãos

com boa formação educacional e vontade de ascensão social. A dicotomia desse

processo revela, ao mesmo tempo em que se assiste aos avanços benéficos,

aumento nas disparidades e desigualdades sociais, o que obriga o empresário a

repensar os sistemas econômicos, sociais e ambientais. Justamente, por isso, nada

adianta ser uma grande empresa no ranking de seus negócios se não for possível

contar com uma sociedade que compartilhe das mesmas perspectivas.

O envolvimento e o investimento na comunidade em que a empresa está

inserida contribuem para a viabilização dos negócios, exatamente por isso esse

canal deve estar aberto, lembrando que o enfoque da qualidade não está nas coisas

ou nas pessoas, mas nas relações estabelecidas entre elas.

Os mercados fortemente protegidos da concorrência e consumidores

habituados a pagar o ônus do defeito, sem direitos assegurados e nem mesmo

reconhecidos, são um cenário que há muito não fazem mais parte da realidade dos

mercados globalizados. A mudança é percebida nitidamente no comportamento dos

consumidores que aprendem de modo gradativo que seu papel é legalmente

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assistido e que sua postura pode levar a perda de credibilidade de uma empresa e,

consequentemente, trazer dificuldades na comercialização de seus produtos para

concorrentes mais ajustados às exigências atuais.

É possível detectar no âmbito empresarial que, para muitas empresas, falar

em responsabilidade social representa agir de forma estratégica por meio de metas

que são traçadas para atender às necessidades sociais de forma que o lucro da

empresa seja garantido, assim como a satisfação do cliente e o bem-estar social.

Portanto, neste discurso, também é possível dizer que há envolvimento e

comprometimento sustentável.

Há ações nomeadas de responsabilidade social empresarial que em muitos

casos se restringem apenas ao marketing da empresa. A crítica necessária e

relevante para esses casos está em demonstrar que a qualidade dos projetos é de

extrema importância, pois, ao adotarem projetos de caráter social buscando

indentificar-se como empresas que assumem um comportamento ético e

socialmente responsável, as empresas buscam adquirir o respeito das pessoas e

das comunidades que são atingidas por suas atividades, sendo assim são

reconhecidas pelo engajamento de seus colaboradores e atingem a preferência dos

consumidores. Isto demonstra que esse fator está se tornando ponto importante para

o sucesso empresarial, além de criar novas perspectivas para a construção de um

mundo social e economicamente mais próspero.

Cada vez mais, com o mercado competitivo, as empresas devem estar

atentas ao público que gera e sofre impacto nos negócios.

Empresas que demonstram sintonia com as atuais mudanças

organizacionais realizam ações de RSE para atender aos chamados stakeholders,

ou seja, todas as partes envolvidas com a entidade: proprietários, sócios ou

acionistas, diretores funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, clientes,

governo, o meio ambiente e a comunidade. As empresas devem desenvolver a

capacidade de ouvir os diferentes interesses das partes envolvidas para incorporá-

los no planejamento de suas atividades, promovendo assim a melhoria da qualidade

de vida da comunidade como um todo.

Há ainda um diferencial nessas ações. Em sociedades altamente

amadurecidas quanto a RSE, esse conceito é assimilado não apenas como gestão

estratégica de algumas empresas, mas como um comportamento econômico

adquirido, ou seja, como postura empresarial de quem atua na esfera coletiva e

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social, exigindo, antes de qualquer resultado, um compromisso efetivo com as

ações. Essas são empresas que assumem uma administração de dimensão ética e

política, tendo clareza de que o desenvolvimento social é responsabilidade e

compromisso de um Estado democrático e de uma sociedade civil organizada.

A relação atual entre empresa e cidadão leva a empresa a incorporar

práticas e dinâmicas que atendam aos anseios da sociedade a qual está inserida. O

atributo da responsabilidade com os aspectos e direitos sociais se torna um requisito

indispensável para obtenção de bons níveis de efetividade por parte da organização.

Maria de Lourdes Manzini Covre destaca três conjuntos de direitos que, em

suma, comporiam os direitos do cidadão. Segundo a cientista social, são eles: os

direitos civis, sociais e políticos. Em sua análise, o papel dos direitos sociais assume

destaque na contemporaneidade.

Chamo a atenção para a importância que assumiram os direitos sociais na etapa contemporânea; é precisamente sobre esses direitos que os detentores do capital e do poder têm construído sua concepção de cidadania. Com ela procuram administrar a classe trabalhadora, mantendo-a passiva, “receptora” desses direitos, que supostamente devem ser agilizados espontaneamente pelos capitalistas e pelos governantes. Mas, ao mesmo tempo, essa concepção de cidadania faz parte de um conjunto de modificações do capitalismo contemporâneo que pode acenar uma sociedade melhor. (COVRE, 2002, p.14).

A dimensão técnica que agora é dada também aos projetos sociais

demonstra maior competência na busca de conteúdos e estratégias que permitem

alcançar resultados mais eficazes. Portanto, esse tema tornou-se indispensável sob

a lógica do mercado globalizado, onde os consumidores estão cada vez mais

exigentes não só quanto à qualidade do produto e do serviço, mas a todo o processo

produtivo. Um bom exemplo disso é a não tolerância de lançamentos de dejetos

industriais no meio ambiente, a não utilização de mão de obra infantil, propagandas

enganosas, desrespeito as leis trabalhistas, etc.

A relação estabelecida entre um projeto e os cidadãos usuários não pode

ser vista de forma assistencialista. Em um projeto social, também se fazem

necessários, como em qualquer outro projeto, a potencialização de talentos e o

desenvolvimento da autonomia de seus atores. As empresas, atualmente, são

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consideradas grandes polos de interação social, tanto com os fornecedores como

também com a comunidade e seus próprios funcionários. Exatamente por isso, o

processo de elaboração de projetos sociais, bem como os investimentos sociais de

origem privada destinados aos projetos, deve ser encarado com muita lógica,

desmistificando a ideia de que este campo de atuação requer apenas ações

voluntariosas.

Todo projeto precisa ter a base bem estruturada e um dos pilares principais

desta estrutura é a educação que funciona como a entrada e a saída nos processos

de gestão da qualidade. Educar-se para um determinado projeto é como mergulhar

em seu segmento, naquilo que o caracteriza especificamente. É preciso estar

inserido em seu contexto para alcançar a verdadeira dimensão que o engloba. Se a

qualidade é um processo ou uma filosofia de vida organizacional e pessoal, não há

como atingi-la se não identificar as variáveis representativas do processo que

permitem quantificá-lo e avaliá-lo mais efetivamente.

Os diversos setores da sociedade estão redefinindo seus papéis adotando o

comportamento socialmente responsável através de ações sociais muito bem

estruturadas. Cada vez mais, a questão social poderá estar amparada pela

exigência e sistematização de ações com alto nível de planejamento,

desenvolvimento, controle e avaliação.

1.2 Da Responsabilidade Social do Estado para a Responsabilidade Social das Empresas

O termo responsabilidade social é definido por diversas áreas do

conhecimento, como a Administração, Economia, Ciências Sociais e demais áreas,

assumindo formas particulares de descrições de acordo com especificidades de

cada uma das áreas. São interpretações distintas, mas independentemente das

possíveis interpretações do termo, é fato que a responsabilidade social tornou-se

quase um imperativo de gestão para empresas que pretendem manter-se

competitivas no mercado em que atuam. Este imperativo não quer dizer que,

necessariamente, as empresas que assumem esse compromisso, o fazem como

uma decisão puramente social. Muitas empresas tateiam o terreno sem encontrar

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um caminho efetivo ou legítimo para assumir com responsabilidade um programa de

responsabilidade social.

A noção de responsabilidade social atrelada ao mundo empresarial como

forma de gestão pode ser considerada recente, visto que o que havia antes desta

incorporação do conceito ao mundo dos negócios era a prática da filantropia que se

diferencia em vários aspectos das práticas de RSE. Responsabilidade social

empresarial é um conceito plural por atingir não apenas os acionistas da empresa,

mas por envolver funcionários, mídia, governo, terceiro setor e comunidade.

Abrangente por se aplicar a todos os envolvidos, a responsabilidade social das

empresas deve propor ações que sejam de interesse comum aos envolvidos. Este

conceito ganhou destaque a partir da década de 1970, quando o desemprego foi um

dos pontos mais corrosivos para a política dos países industrializados e de

desastrosas consequências sociais.

Historicamente, a Grande Depressão Econômica e os efeitos do pós-guerra

foram fatos marcantes para o capitalismo, capazes de demonstrar as fragilidades do

sistema e de gerar um dos maiores impactos sentidos pelos próprios “donos do

capital”. Curiosamente, o senso de catástrofe e desorientação causado pela Grande

Depressão foi talvez maior entre os homens de negócios, economistas e políticos do

que entre as massas. (HOBSBAWN,1995, p. 98). O cenário internacional e inclusive

o brasileiro, até o final da década de 1960 e início dos anos de 1970, demonstrava

que ainda não havia condições de consumo no mercado interno que acompanhasse

o nível de produção alcançado. Os percentuais de lucro caíram, dentre outros

motivos, pelo aumento nos custos da força de trabalho; o modelo fordista/taylorista

começava a esgotar-se por não conseguir interromper a retração de consumo que

se intensificava permanentemente.

Todas as transformações foram analisadas por estudiosos de diversas

nações que anunciavam o início da sociedade pós-industrial ou pós-capitalista, a

civilização pós-moderna e o sistema neocapitalista, assim como a preconização do

fim da história pelo avanço do livre mercado, vinculando tais predições ao êxito

relativo do neoliberalismo e às surpresas convulsivas do mundo pós-Guerra Fria.

(SROUR, 1998).

Diante de tantas transformações no mundo, o sociólogo Robert Srour realiza

uma análise iluminadora sobre os paradigmas do mundo pós-moderno,

esclarecendo que as preconizações da literatura econômica e administrativa exaltam

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os conhecimentos técnicos e científicos como fontes de valor agregado, relacionam

a globalização econômica à supremacia definitiva do mercado, descartando

qualquer planejamento econômico. Há uma plêiade de autores que visualiza no

liberalismo econômico a superação de todas as formas concorrentes de exercer o

poder, predizendo, dessa forma, a reinvenção do Estado e entendendo a qualidade

total, a gestão participativa como pontos de inflexão nas arquiteturas

organizacionais. Portanto, mais do que um turbilhão de constatações, Srour chama a

atenção para a avalanche de transformações que é muito menos enfrentada pelas

forças administrativas e econômicas do que pelas forças sociais que recebem essa

variedade de processos de maneira impactante.

Através de profundos questionamentos com propósito social, Srour indaga:

Quais os fios que costuram tantas descontinuidades? Haverá algum espaço para os

atuais modos de pensar e de fazer, de gerir e de se associar? Em suas palavras:

Ora o que confere sentido a chamada crise da sociedade industrial? Seria o domínio do setor terciário que delineia uma nova sociedade de serviços? Ou ainda: o caráter volátil do capital especulativo, à procura de lucros fáceis em qualquer quadrante do planeta, dada a instantaneidade das comunicações globais? A conversão da produção padronizada, destinada a mercados de massa, em produção flexível, voltada para mercados segmentados? O vertiginoso declínio do operariado na população economicamente ativa, a exemplo do campesinato em vias de extinção? A generalizada perda da importância relativa da força de trabalho física para a força de trabalho mental? A absorção generalizada das mulheres no mercado de trabalho? A passagem da remuneração da mão de obra calculada em horas despendidas para a remuneração variável vinculada aos resultados obtidos? A redução dos postos de trabalho em função da informatização, da automoção e da robotização dos processos produtivos? A globalização do fornecimento de insumos e de componentes, compondo produtos mundiais e transcendendo fronteiras? As tendências à ”precarização” do trabalho – explosão do mercado informal, emprego em tempo parcial, trabalho temporário, trabalho autônomo complementar ou eventual – levando à dissociação entre crescimento e emprego? (SROUR, 1998, p.16-17).

Transitando filosoficamente pela história, o sociólogo analisa as mudanças

ocorridas nas relações de trabalho demonstrando claramente que os trabalhadores,

na economia globalizada, deixaram de ser meras engrenagens na linha de produção

pela busca de se tornarem profissionais qualificados e polivalentes, contrapondo-se

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a utilização da força física como único atributo de destreza para a utilização das

faculdades mentais. Altruísmo? Benevolência? Voluntarismo? Não. Na verdade, as

transformações ao longo da história decorreram de inúmeras pressões que a

cidadania organizada exerceu no cotidiano das empresas e das ruas. O processo de

intervenção política da sociedade civil veio testando e redefinindo as relações

capitalistas desde o período entre as duas guerras mundiais. E, após todas as

inferências norteadoras do processo histórico das relações de trabalho, ele conclui

indagando novamente:

Todos estes vetores estão presentes na situação contemporânea e não exaurem a sua complexidade. Fazem com que inúmeras evidências explicativas, que serviam de chaves para decifrar a realidade social – confortáveis como velhas pantufas –, rebentem em pedaços. De maneira que vêm à tona mais algumas dúvidas. Estaria ainda ativa a lógica de um sistema capitalista de natureza excludente? Já não se esboçou a superação dos Estados nacionais pela existência de empresas transnacionais “deslocalizadas” e pela aplicação de suas estratégias globais? Como entender o desmoronamento interno do totalitarismo soviético sem que fosse preciso a hecatombe de uma nova guerra mundial? Quais os caracteres distintivos do novo Sistema Mundial? A liberalização negociada do comércio internacional e a globalização dos processos produtivo, comercial e financeiro não estariam redesenhando o mapa do planeta? (SROUR, 1998, p. XVII).

Essas séries de perguntas realizadas pelo autor estão colocadas muito mais

como questionamentos filosóficos do que como indagações que realmente procuram

uma única resposta, a intenção do autor parece levar o leitor a crer nas questões

como afirmações complexas e exatamente por isso necessitam de profunda

reflexão.

Após a Segunda Guerra Mundial, a bipolaridade entre as superpotências,

Estados Unidos e União Soviética, deu o tom a um Novo Sistema Mundial que

dividiu o mundo em capitalismo versus socialismo; portanto, um sistema neo-

imperialista. Com o fim desse período denominado Guerra Fria, a multipolaridade

das potências econômicas sobrepôs-se às potências militares dando enfoque à força

dos blocos econômicos que se sistematizaram, cada vez mais, promovendo a

internacionalização do processo produtivo, aumentando em escala global o mercado

de trocas e circuitos financeiros. Formou-se então um sistema econômico

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globalizado e altamente competitivo cuja essência que o fundava gerou um processo

dialético: ao mesmo tempo em que a globalização parece levar a uma

homogeneização universal, sua natureza política e cultural também é capaz de

colocar frente a frente civilizações de hábitos culturais e sociais díspares e, dessa

forma, provocar uma aproximação ou até mesmo fusões e uniões alicerçadas em

interesses econômicos comuns a esses grupos distintos.

Está colocada, a partir desse novo cenário mundial, a nova divisão

internacional do trabalho. A intensificação dos fluxos mundiais do comércio e de

ativos monetários ultrapassa fronteiras, sendo uma economia universal que se

diferencia claramente de uma simples internacionalização, pois ganha importância

neste processo o fornecimento global de produtos mundiais. (SROUR, 1998).

Para compreender a transição da responsabilidade social do Estado para a

disseminação do conceito de Responsabilidade Social das Empresas, é necessário

pontuar alguns fatos históricos. A disseminação do conceito de Responsabilidade

Social Empresarial (RSE) no mundo está relacionada ao período pós Segunda

Guerra Mundial. A história do capitalismo avançado no século XX é percebida por

muitos autores como uma ruptura plena de uma forma de dominação para a outra:

do welfare-state para o neoliberalismo econômico. (DIAS, 2008). Mas é possível

identificar através de análises bibliográficas que além de rupturas, verificam-se

continuidades. Estas continuidades estariam representadas na clara intenção de

perpetuar e aprofundar o legado político de projetar na consciência dos indivíduos a

sociedade capitalista como única e melhor modelo de sociedade possível, mesmo

estando claro que o neoliberalismo rompe com o welfare-state no plano econômico.

Europa e Estados Unidos da América (EUA), não conseguindo a expansão

de seus mercados consumidores, entraram em crise e estagnação econômica,

revelando o desgaste do modelo, e desencadeando, portanto, problemas sociais

como desemprego em massa, fome, problemas políticos e a ameaça representada

pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ao capitalismo além da

ascensão de regimes nazi-fascistas dentro da Europa. A Grande Depressão

confirmou a crença de intelectuais, ativistas e cidadãos comuns de que havia alguma

coisa fundamentalmente errada no mundo em que viviam. (HOBSBAWN, 1995,

p.106). A Grande Depressão de 1930, ocasionada no período entre guerras

mundiais, deixou marcas profundas ao capitalismo. Este fato histórico colocou em

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evidência falhas e fraquezas do modelo econômico capitalista apoiado na não

intervenção do Estado sobre a economia (Liberalismo Econômico).

De qualquer modo, o que era uma economia de “livre mercado” em uma época em que a economia era cada vez mais dominada por imensas corporações que tornavam balela o termo “perfeita competição”, e economistas críticos de Karl Marx podiam observar como ele se mostrava correto, especialmente em sua previsão de crescente concentração de capital. (LEONTIEV, 1938, p.78 apud HOBSBAWM, 1995, p.107).

Devido à crise econômica, os republicanos foram vencidos nas eleições

nacionais pelo partido Democrata em 1932. Franklin Delano Roosevelt foi eleito

presidente dos Estados Unidos e uma de suas primeiras providências foi intervir na

economia para limitar o liberalismo econômico, por meio de um plano econômico: o

New Deal. Baseado nas teorias do economista John Maynard Keynes (1884-1946),

com o New Deal, o liberalismo econômico de Adam Smith cedeu lugar ao

neocapitalismo, que buscava um planejamento econômico baseado na intervenção

do Estado. O presidente Roosevelt determinou grandes emissões monetárias,

inflacionando, deliberadamente, o sistema financeiro; fez investimentos estatais e

estimulou uma política de empregos, entre outras medidas.

O crescimento contínuo da economia, seguindo o modelo keynesiano que

propunha a intervenção estatal na vida econômica, o aumento da produtividade, o

pleno emprego e o crescimento da renda per capita, constituía um sistema de

proteção social sofisticado. A época era considerada antiliberal, assentada no pacto

entre o capital e o Estado. O trabalho era a base do acordo e o Estado exercia o

papel de controle das crises econômicas assegurando o chamado Estado de Bem-

Estar Social (Welfare State), termo que entrou em uso à partir de 1940. Dessa

forma, a responsabilidade social era assumida pelo Estado.

[...] a pesquisa comparada sobre as políticas sociais soube identificar claramente a enorme diferença que separava o assistencialismo e as várias formas prévias de ajuda mútua do novo sistema securitário e compulsório que nasce nos anos 80 do século passado. O que o distinguia foi o fato de propor medidas e práticas permanentes; assentar-se sobre um núcleo institucional diferenciado; concentrava-se sobre trabalhadores masculinos e os obrigava à contribuição

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financeira compulsória e, finalmente, institucionalizava procedimentos completamente diferentes dos que foram utilizados pelo assistencialismo prévio. Nascia ali um novo paradigma, conservador e corporativo, onde os direitos sociais, definidos de forma contratual, eram outorgados "desde cima" por um governo autoritário que ainda não reconhecera os direitos elementares da cidadania política. Modelo que generalizou-se pela Europa, como no caso do assistencialismo inglês, mas que acabou tendo, também, enorme influência na construção conservadora dos sistemas de assistência e proteção social que se multiplicaram na periferia latino-americana durante o século 20, mas sobretudo depois de 1930. (FIORI, online, p.3).

O estudo bibliográfico de Fiori aponta diversos estudiosos sobre o welfare-

state que afirmam que esta política não pode ser compreendida apenas em termos

de direitos e garantias. Ao citar Anderson (1991), Fiori destaca a necessidade de

considerar que as atividades estatais desenvolvidas na política do welfare-state se

entrelaçaram com o papel do mercado e família em termos de provisão social. Fiori

também aponta Mishra (1991) que chega a anunciar que não era possível falar em

Estado de Bem Estar Social antes de 1950, pois Mishra associa o novo padrão de

intervenção social não apenas como base para condição do trabalhador e de seus

beneficiários, mas a uma mudança de paradigma que ocorre na evolução da política

social que, além de apresentar a base para o reconhecimento de direitos dos

cidadãos, demonstra estar, simultaneamente, atrelada ao plano da regulamentação

da economia de mercado e à afirmação hegemônica das políticas econômicas ativas

de inspiração keynesiana. Para ele, afirma Fiori, não há como dissociar os serviços

sociais universais, a redistribuição e a interação das rendas do objetivo maior do

pleno emprego que norteou as políticas econômicas nacionais até os anos de 1980.

A implementação do Welfare State significou o início de uma nova fase dentro

do sistema capitalista que procurou silenciar os ideais do liberalismo econômico.

Harvey (1993) afirma que sob o intermédio do Welfare State assiste-se o advento de

um novo modo de acumulação que procurou aliar o keynesianismo ao fordismo, a

fim de reaquecer a economia por meio do controle de ciclos econômicos, cuja

finalidade seria a combinação de políticas fiscais e monetárias dirigida para áreas de

investimento público, de crescimento da produção e do consumo em massa e de

garantias sociais como a política de pleno emprego e de complemento social.

Harvey (1993) estabelece relação entre a transição do período fordista como sendo

reflexo de um padrão rígido de acumulação de capital para a transição ao mundo

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pós-moderno, tempo e espaço em que os modos de acumulação tendem a adquirir

flexibilidade devido a novas práticas e formas culturais, como a inserção de novas

tecnologias, o “descartabilidade” das coisas que segundo Harvey se manifesta na

moda, na manipulação da opinião e gosto, a partir da construção de novos sistemas

de signos e imagens.

Estas são mudanças significativas que levam à necessidade da reconstrução

do capitalismo pelas classes dominantes a fim de manterem a sua própria condição

de dominação, o que acabou por intermediar os interesses imediatos dos

trabalhadores de superar a condição de miséria. Era uma nova conjuntura política

que a própria crise de 1929 impôs sobre o capitalismo, a necessidade de

estabelecer um compromisso que atendesse ao mesmo tempo ao objetivo central e

vital do capitalismo, o lucro, e colocasse em negociação a classe dominante com a

classe dos trabalhadores. Obviamente, a classe dos trabalhadores relegou a um

futuro distante, com a negociação, o seu projeto revolucionário em busca de direitos

de seguridade e estabilidade econômica.

A relação entre a classe trabalhadora e as classes dominantes passou a ser

intermediada pelo Estado, garantindo que os interesses, mesmo sendo divergentes,

vigorassem. Contudo, a classe dos trabalhadores não deixou de ser a classe

dominada. A diferença é que a classe dominante passou a reconhecer o direito de

negociação dos trabalhadores, mesmo que dentro dos limites concernentes aos

objetivos do capitalismo. O Estado colocou-se então como estrutura que garantia e

sustentava o compromisso entre empresários e trabalhadores. Nesse momento, foi

possível identificar que os partidos e sindicatos hegemônicos passaram a assumir

um modelo inspirado em parâmetros reformistas da social-democracia, ingressando

nas estruturas da legalidade das negociações intermediadas pelo Estado.

Com a queda dos regimes socialistas do leste europeu e o fim da Guerra Fria,

houve a necessidade de as empresas buscarem novos mercados o que originou o

avanço do neoliberalismo e a onda de privatizações. O surgimento de novos setores

de produção, mudanças estratégicas de fornecimento de serviços financeiros,

mercados emergentes e a inovação comercial, tecnológica e organizacional geraram

consequências sociais, econômicas e até mesmo psicológicas na divisão

internacional do trabalho. Do ponto de vista social, o impacto mais marcante é o

desemprego que se origina cada vez mais da desqualificação e despreparo da mão

de obra para as funções atuais. A nova ordem mundial denominada globalização

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realoca as atividades produtivas fazendo prevalecer a racionalidade econômica,

visto que, segundo Furtado (2007), esta racionalidade econômica planeja a alocação

de recursos, direcionando para unidades produtivas estrategicamente localizadas

em função dos insumos e de alterações nas taxas de câmbio e juros.

Entre os objetivos e as estratégias traçados pela racionalidade econômica da

globalização, o congloramento das empresas transnacionais busca enfatizar a

aplicação da tecnologia intensiva como sinônimo de eficiência, assim como

prevalece a busca de matérias-primas abundantes e a baixo custos, e a abertura dos

mercados financeiros de telecomunicações, eletricidades etc. Essa é uma nova

distribuição espacial das atividades econômicas que faz com que as atividades

produtivas de alcance estratégico tendam a ser controladas por grupos privados

transnacionais. Estes grupos assumem o controle do capital fixo reprodutivo do país.

Com o advento da globalização, as relações comerciais e financeiras são

impulsionadas pelo setor de telecomunicações. Os processos produtivos se

internacionalizam reduzindo custos de mobilidade e promovendo um crescimento

exponencial das empresas.

As empresas, na necessidade de obter ganhos em escala para alcançar

preços competitivos, buscam implementar condições específicas do mercado

globalizado para atingir os novos padrões de qualidade que estão necessariamente

atrelados à qualidade da força de trabalho, ciência e tecnologia, aplicados à

produção. As características específicas do processo de globalização são capazes

de gerar altos impactos econômicos principalmente pelo fato de o sistema de

telecomunicações funcionar em tempo real, o que expõe o conjunto das economias

nacionais às condições vulneráveis.

A exposição da política nacional e as medidas como elevação da taxa de

juros, controle de déficits públicos e demais informações repercutem de forma

imediata junto aos agentes financeiros internacionais, podendo causar grandes

prejuízos aos países envolvidos. Nesse âmbito financeiro, Srour (1998) cita o

exemplo de governos nacionais que não conseguem controlar taxas de câmbio ou

proteger suas moedas, pois especuladores podem produzir oscilações capazes de

fazer esses governos desembolsarem bilhões na tentativa de segurar a taxa de

câmbio, como foi o caso, em 1990, da libra inglesa, do franco francês e da coroa

sueca, além do “efeito dominó” que abalou as moedas asiáticas em 1997. Esta seria

a “mão invisível” do mercado, capaz de gerar uma competição muito mais acirrada

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por estar em escala global e, portanto, essa dinâmica acelerada da economia e da

busca por inovações tecnológicas também torna menor o ciclo de vida dos produtos,

fazendo com que o novo torne-se velho com imensa rapidez; além de fazer crescer a

oferta de bens e serviços, o comportamento do cliente torna-se cada vez mais

exigente devido a variedade de produtos e serviço em evidência para o consumidor.

Está apresentado, dessa forma, um patamar elevado da competitividade

internacional evidenciando ainda mais o paradoxo da economia globalizada que

requer também estratégias de relacionamento ou estratégias associativas entre

empresas e clientes, fornecedores concorrentes e possíveis competidores. As

palavras de ordem são: negociação, acordo ou parcerias. Estas palavras denotam

uma transformação do sistema capitalista, muito mais evidente em países

desenvolvidos que estabelecem uma conexão mundial de capital com o mercado

através de grandes financiamentos internacionais e atualização tecnológica intensa.

O quadro pós-Guerra Fria que estava delimitado por um cenário de segurança

militar expresso por meio dos blocos militares dos EUA e URSS é substituído pela

competição econômica em escala mundial. Um processo aparentemente

contraditório se instaura, pois o mesmo tempo em que a globalização parece

pasteurizar ou homogeneizar o mercado, ela reforça o processo de regionalização

institucionalizado nos blocos econômicos e agem diversificando e segmentando o

mercado em acordos protecionistas estrategicamente negociados.

Guerras nacionais - locais afloram ao mesmo tempo em que acordos e

alianças são conquistados e reconhecidos. Alto crescimento populacional em países

de baixo desenvolvimento social e econômico faz parte de um dos fatores que

anuncia falha e rachadura de um sistema mundial competitivo que começa a

considerar a necessidade de intervenção cooperativa internacional para enfrentar

questões como a miséria, a fome, o analfabetismo e o combate às endemias. É o

princípio da disseminação do conceito de solidariedade social em paralelo com a

expansão do capital e a crescente interdependência dos negócios, que vai

gradativamente desafiando o papel do Estado-nação colocando em risco a sua

autoridade e capacidade de controle social. É neste ponto que se inicia uma ruptura

com a lógica do capitalismo excludente instalado. Para Srour (1998), o imperativo da

inclusão que necessita integrar crescentes contingentes populacionais ao mercado

de consumo e completar o processo de construção da cidadania com a vigência de

direitos sociais.

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O simples fato de uma empresa existir pressupõe que ela tenha um mercado

com um produto ou serviço a oferecer e assim através de seus modos de produção

obtenha lucro e realize novos investimentos. Qual o seu mercado, o seu produto ou

serviço são as características que definem o que a empresa faz, para quem e o

quanto faz. Se no passado uma empresa para alcançar sucesso bastava ser grande,

produzir muito e lucrar muito, atualmente as qualidades que determinam o sucesso

ou o fracasso estão também relacionadas à maneira como essas empresas fazem o

que fazem; e porque fazem. Outros tipos de características ganham importância

diante dessa nova visão mundial, são qualidades intangíveis, mas que provocam

mudanças em seu próprio benefício e ao ambiente ao seu redor. Mais do que uma

onda politicamente correta, o conceito de responsabilidade social começou a

estabelecer suas bases em razões estratégicas de negócios em uma sociedade

globalizada, extremamente competitiva, com consumidores mais bem informados e

que possuem amplo poder de escolha.

Exatamente por isso, não basta apenas oferecer um bom produto, é preciso

cuidar da imagem da empresa. Diante do exposto, é necessário compreender como

o conceito de RSE se propagou e ainda se propaga pelo mundo e especificamente

no Brasil, país em que as demandas sociais são latentes. O capítulo seguinte

proporcionará acompanhar a trajetória do conceito de RSE em organizações sociais

e corporativas, e a adoção de práticas que corporificam o conceito.

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CAPÍTULO 2 CENÁRIOS PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

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2.1 A disseminação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial no mundo

As primeiras manifestações sobre o tema Responsabilidade Social descritas

estão em um manifesto subscrito por 120 industriais ingleses.

Tal documento definia que a responsabilidade dos que dirigem a indústria é manter um equilíbrio justo entre os vários interesses dos públicos, dos consumidores, dos funcionários, dos acionistas. Além disso, a maior contribuição possível ao bem estar da nação como um todo. Contudo, as primeiras manifestações desta idéia surgiram no início do século XX, com os americanos Charles Eliot (1906), Hakley (1907) e John Clark (1916), e em 1923 com o inglês Oliver Sheldon. Apesar de defenderem a inclusão da questão social entre as preocupações das empresas, além do lucro dos acionistas, seus questionamentos não tiveram aceitação e foram postos de lado. O marco inicial para estudo e debate do assunto “Responsabilidade Social” foi o lançamento do livro de Howard Bowen, Responsabilities of the businessman, nos Estados Unidos e, 1953. (OLIVEIRA apud INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2005, p.297-298).

Em artigo publicado em 23 de outubro de 2005, Pessoa (2005, online) faz um

apontamento histórico detalhado das primeiras manifestações sobre o termo

Responsabilidade Social Empresarial. A primeira citação de Pessoa (2005, online) é

de uma publicação realizada em 1949, o artigo “Responsabilidades dos Negócios

num Mundo Incerto”, escrito por Donald David e publicado na Harvard Business

Review. Nesse artigo, David alertava os líderes de negócios a vislumbrar também as

questões públicas, indo além das funções econômicas imediatas de suas

respectivas empresas. Dois meses depois da publicação, Bernard Dempsey

escreveu na mesma revista o artigo “Raízes da responsabilidade dos negócios”. Por

meio da análise de Pessoa (2005, online), esse artigo continha uma base filosófica

sobre o conceito de responsabilidade social empresarial explicitada através de

quatro conceitos de justiça que, segundo ele, embasariam a noção de

responsabilidade dos líderes de negócio.

Os quatro conceitos de justiça que emergiam da análise de Dempsey eram:

a justiça da troca, a justiça distributiva, a justiça geral e, por fim, a justiça social ou

contributiva.

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A justiça da troca estava, segundo Dempsey, explícita na relação de

confiança que é necessária e subjacente às trocas mercadológicas; a justiça

distributiva era a relação justa entre o governo e os indivíduos; a justiça geral seria o

próprio cumprimento das leis e a aceitação social dos quadros legais instituídos que,

de acordo com Dempsey. as leis deveriam ser aceitas como obrigações éticas e, por

fim, a justiça social ou contributiva que seria a obrigação do homem em contribuir

para o bem estar e o progresso dos indivíduos em sociedade.

Merece destaque a justiça social ao se falar em responsabilidade social.

Este conceito oriundo da visão cristã pode reforçar ainda mais a relevância da

responsabilidade social empresarial uma vez que o princípio de justiça social supõe

crescimento da economia e sua repartição social.

O termo Justiça Social aparece pela primeira vez nos documentos sociais da

Igreja criada oficialmente por Pio XI e empregado nos documentos posteriores do

magistério eclesiástico para expressar o ideal ético da ordem econômico-social.

(SILVEIRA, 2003, p.47-49). O documento papal expressa que as riquezas devem ser

repartidas pelos indivíduos ou pelas classes particulares para utilidade comum. Esta

seria a lei de justiça social que proibiria que uma classe social fosse excluída por

outra.

Nos dois artigos escritos no final da década de 1940, os autores Dempsey e

Donald David apresentavam duas razões para que os homens de negócios fossem

responsáveis com a justiça contributiva, a primeira argumentação era a de que

nenhum homem e nenhuma empresa podem sobreviver isoladamente como se

fossem uma ilha, todos necessariamente precisam de uma comunidade estabilizada;

o segundo argumento era de que as empresas são controladoras de recursos

substanciais e, exatamente por isso, o progresso e bem estar dos indivíduos

também estão relacionados às responsabilidades que as empresas assumem.

Nos anos 50, Morrel Heald descreveu o movimento de passagem da filantropia para a cooperação real e a participação efetiva de muitos líderes numa ampla gama de iniciativas comunitárias. Heald desenvolveu perfis extensos de iniciativas no campo da educação, da “boa vizinhança” e do apoio às artes por parte das empresas. (PESSOA, 2005, online).

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Em 1970, foi publicado também por Morrell Heald uma história abrangente

sobre políticas e práticas desenvolvidas pelos homens de negócios que

configuravam ações socialmente responsáveis. Este livro intitulado “As

Responsabilidades Sociais das Empresas: Empresa e Comunidade 1900-1960” não

abordou o tema Responsabilidade Social como um conceito assimilado pelo grupo

empresarial.

Outro autor citado por Pessoa (2005, online) foi Archie Carrol, reconhecido

por ter dado uma grande contribuição para a evolução do conceito de

Responsabilidade Social da Empresas no período pós-Segunda Guerra. Este autor

considera Howard R. Bowen o pai do conceito. O livro de Bowen, publicado em 1953

e intitulado “As Responsabilidades Sociais do Homem de Negócios”, defendia a

prática como obrigação dos líderes empresariais no sentido de perseguir políticas,

tomar decisões e definir estratégias de ação que respeitassem os valores e objetivos

da sociedade em que estavam inseridos.

É interessante a ressalva de Pessoa (2005, online) em seu artigo, chamando

atenção para as opiniões divergentes e resistentes na época.

Num extremo, Carroll chama a atenção para o amplamente citado artigo de Milton Friedman, datado de 1970 e publicado na revista do New York Times, que argumentava que a RSE, enquanto princípio era “fundamentalmente subversivo” no que respeita às verdadeiras responsabilidades das empresas, ou seja, aumentar o lucro e o valor para o acionista. Este ponto de vista tem a sua origem na teoria econômica, articulada por Adam Smith, de que o mercado livre e a perseguição do auto-interesse (mais tarde denominado como valor para o acionista) iriam resultar no maior dos benefícios para a sociedade como um todo. Outros acadêmicos questionavam se as obrigações básicas legais e econômicas teriam lugar dentro do conceito da RSE ou se o seu domínio estava “bem para além” destas obrigações básicas. Na verdade, qual o âmbito e limites dessa responsabilidade? (PESSOA, 2005, on-line).

O debate em torno desta questão ganhava corpo. Os primórdios do conceito

de responsabilidade social corporativa estavam presentes como doutrina nos

Estados Unidos e na Europa até o século XIX.

Nessas localidades até esse período, o direito de conduzir negócios de forma

coorporativa era prerrogativa do Estado ou da Monarquia e não um interesse

econômico privado. Os monarcas expediam alvarás para a exploração e colonização

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do Novo Mundo às corporações de capital aberto que prometessem benefícios

públicos. (HOOD apud ASHLEY. 2005 p.45).

Mas segundo Ashley (2005), a premissa fundamental da legislação sobre

corporações nos Estados Unidos até o início do século XX tinha como propósito

apenas a realização dos lucros de seus acionistas. A grande mudança da

concepção coorporativa veio somente com os impactos da Grande Depressão e da

Segunda Guerra Mundial, quando os impactos econômicos e sociais demonstravam

que os acionistas não poderiam mais abdicar da responsabilidade de assumir o

papel social da empresa.

Para demonstrar a trajetória de incorporação do conceito de

Responsabilidade Social Empresarial, Ashley (2005) resgata dois julgamentos

ocorridos nos Estados Unidos, o primeiro, em 1919, envolvendo o grande

empresário Henry Ford e o segundo datado de 1953. São relatos de resultados

opostos capazes de revelar a mudança de percepção sobre o papel das empresas

na sociedade.

Em 1919, a questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade dos dirigentes de empresas abertas veio a público com o julgamento do caso Dodge versus Ford, nos Estados Unidos, que tratava da competência de Henry Ford, presidente e acionista majoritário da empresa, para tomar decisões que contrariavam os interesses dos acionistas John e Horace Dodge. Em 1916, Henry Ford, alegando objetivos sociais, decidiu não distribuir parte dos dividendos esperados, revertendo-os para investimentos na capacidade de produção, aumento dos salários e fundo de reserva para redução esperada de receitas em função do corte no preço dos carros. A Suprema Corte de Michingan foi favorável aos Dodges, justificando que a corporação existe para o benefício de seus acionistas e que diretores corporativos têm livre-arbítrio apenas quanto aos meios para alcançar tal fim, não podendo usar os lucros para outros objetivos. A filantropia coorporativa e o investimento na imagem da corporação para atrair consumidores poderiam ser realizados na medida em que favorecessem os lucros dos acionistas. (ASHLEY, 2005, p. 45-46).

O segundo episódio demonstra mudança significativa que adota a filantropia

como ação legítima da corporação, podendo, dessa forma, priorizar os objetivos

sociais e não apenas os retornos financeiros dos acionistas.

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Em outro litígio julgado nos Estados Unidos, em 1953, o caso A. Smith Manufacturing Company versus Barlow, retomou-se o debate público sobre responsabilidade social corporativa. Nesse caso, a interpretação da Suprema Corte de Nova Jersey quanto à inserção da corporação na sociedade e suas respectivas responsabilidades foi favorável à doação de recursos para a Universidade de Princeton, contrariamente aos interesses de um grupo de acionistas. A Justiça determinou, então, que uma corporação pode buscar o desenvolvimento social, estabelecendo em lei a filantropia corporativa. (ASHLEY, 2005, p.46).

Estava em pauta a mudança organizacional que levaria as empresas não

apenas a focar em seus interesses próprios, mas a assumir uma nova postura de

reconfiguração de suas relações de negócios. Funcionários, clientes comunidades,

fornecedores, prestadores de serviço, entre outros são percebidos como importantes

no desenvolvimento das corporações, e suas opiniões e demandas passam a

despertar interesse das organizações que buscam dialogar e estreitar

relacionamento com eles. (INSTUTUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL,

2005, p.113)

São os chamados stakeholders, público ligado direta ou indiretamente às

empresas que influenciam na relação que a empresa estabelece com a comunidade,

chegando a afetar positivamente ou negativamente os negócios da empresa,

dependendo da imagem que esse público assimila sobre a empresa e transpõe ao

mercado.

Acionistas, fornecedores, consumidores, comunidade, governo, funcionários

são considerados cada vez mais parte importante a ser trabalhada no plano de

comunicação da empresa. Ser uma empresa socialmente responsável engloba

então estar atenta às expectativas dos stakeholders e à qualidade da relação que se

tem com eles. (INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE, 2005, p.113.).

O capitalismo excludente foi questionado com mais veemência na década de

1960 nos Estados Unidos e na Europa. Uma das formas assumidas por essa postura

questionadora se manifestou por meio de ações de responsabilidade social cada vez

mais regulares e sistematizadas por estratégias gerenciais do universo teórico-

administrativo. Mas foi a partir dos anos 80 que diversas organizações começaram a

trabalhar sistematicamente com o tema da responsabilidade social empresarial e o

conceito passou a se manifestar na pauta de grandes empresas que passaram a

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apresentar efetiva preocupação com o meio ambiente, tanto nos EUA quanto na

Europa.

Outro fato que intensificou a reflexão sobre o papel das empresas na

sociedade foi o período de Guerra Fria. Neste momento, as preocupações estavam

voltadas ao futuro do sistema econômico no ocidente. Os altos déficits públicos, a

revolução informacional, a transformação produtiva, o desemprego e as

desigualdades sociais vinham demonstrando que o cenário mundial requeria novas

posturas tanto do setor público quanto privado.

A bibliografia sobre o tema aponta o Conselho Empresarial Mundial para o

Desenvolvimento Sustentável, no ano de 1998, na Holanda (INSTITUTO ETHOS DE

RESPONSABILIDADE, 2005 p.24) como um marco para a formalização do conceito

de Responsabilidade Social. Este evento apresentou o conceito de responsabilidade

social como sendo um dos pilares para o desenvolvimento sustentável e contou com

a presença de sessenta representantes de diversos países. Em debate realizado, foi

discutida a atuação das empresas no âmbito social.

Por possuir uma ampla escala de atuação, o conceito de RSE define-se das

demais ações sociais ou filantrópicas por meio do conceito de sustentabilidade. O

que lhe confere caráter de sustentabilidade está relacionado às parcerias duráveis

que um projeto de responsabilidade social necessita para que suas ações sejam

efetivas e obtenham resultados mensuráveis. Além disso, para ser sustentável, o

projeto ou o programa de RSE deve ter, em seu cerne, uma postura preventiva que

seja capaz de orientar, educar e conscientizar os envolvidos por meio de suas

ações.

A consciência em relação ao meio ambiente e às demandas sociais está cada

vez maior entre as comunidades e as organizações empresariais, mas

independentemente da natureza da ação de responsabilidade social é fundamental

que o projeto seja autossustentável.

A necessidade de integrar os projetos com o desenvolvimento econômico,

social e ambiental é fundamental para a própria longevidade das ações. O termo

“sustentabilidade” foi usado pela primeira vez em 1713 por Hans Carl von Carlowitz,

capitão-mor de minas do Eleitorado da Saxônia, cunhou o termo alemão

Nachhaltigkeit em uma referência à exploração de florestas na Alemanha; em

português, o termo veio a ser sustentabilidade. Porém, a sustentabilidade não é uma

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invenção da atividade florestal: ela significa uma atitude, um posicionamento em

relação ao trato do ambiente em que vivemos como um bem renovável.

Assimilar a sustentabilidade como expressão dominante significa envolver-se

com as questões tanto do meio ambiente quanto do desenvolvimento social e

econômico. Diante de todo o exposto, não é possível, portanto, demarcar um único

fato para estabelecer de fato a responsabilidade social empresarial como

comportamento assimilado nas corporações.

O fato é que gradativamente as empresas vêm incorporando práticas e

dinâmicas, voltadas aos anseios da comunidade na qual a empresa está inserida,

assumindo, dessa forma, o atributo da responsabilidade social como mais um

requisito indispensável para as organizações empresariais que ganharam uma nova

preocupação: implementar programas de responsabilidade social.

Exatamente por serem importantes agentes na promoção do desenvolvimento

econômico e do avanço tecnológico, a qualidade de vida da humanidade depende

cada vez mais de ações cooperativas de empresas que, de forma progressiva, vêm

incorporando o conceito de responsabilidade social empresarial, tornando-o um

comportamento muitas vezes formalizado em projetos de atuação na sociedade civil.

Alguns acontecimentos mais recentes divulgaram nos meios de comunicação

empresas que agiram de maneira irresponsável ou não ética. Empresas que

cometem algum tipo de violação dos direitos humanos, que utilizam matérias-primas

consideradas de preservação ambiental ou que possam agredir o meio ambiente,

que utilizam trabalho escravo ou exploram mão de obra infantil. Essas ações, que

desconsideram totalmente a postura ética, não cabem mais em um momento em

que os valores éticos estão cada vez mais sendo associados às empresas.

Se o foco das organizações em relação à comunidade até pouco tempo atrás

estava apenas direcionado para o mercado, era apenas uma forma de analisar seus

desejos e a capacidade de consumo, agora ela também se volta para os aspectos

sociais, avaliando aquilo que a sociedade necessita.

Essa nova postura das empresas está longe de substituir o papel do Estado e

a sua responsabilidade com o progresso social de uma nação, mas é fato que, a

partir dos anos 90, as empresas, inclusive no Brasil, aumentaram os investimentos

em projetos sociais, passando a defender padrões éticos na relação com seus

públicos de interesse (fornecedores, funcionários, clientes, governo e acionistas) e

práticas ambientais sustentáveis.

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O conceito de responsabilidade social disseminou-se no Brasil sob um rótulo

que inclui um conjunto de normas e práticas que se tornou condição para garantir

lucratividade e sustentabilidade aos negócios. Uma das hipóteses é de que as

mudanças assimiladas no mundo empresarial em relação aos conceitos de ética e

cidadania que culminam nas práticas de responsabilidade social não decorrem

apenas de condicionamentos infligidos pelo consumidor ou pelo mercado, mas da

interpretação que os gestores fazem do cenário e do que entendem ser a melhor

conduta para a empresa.

O perfil dos gestores e os fatores estruturais que facilitaram a difusão das

normas de responsabilidade social no ambiente corporativo são indícios de que as

normas presentes no ambiente institucional penetram nas empresas e influem na

sua estrutura organizacional e na maneira como se relacionam com seus públicos de

interesse.

Dimensionar as ações de Responsabilidade Social no Brasil torna-se tarefa

difícil ao levar-se em consideração de que essas se iniciaram informalmente na

sociedade por meio de entidades eclesiásticas e empresariais. Por isso, é relevante

destacar o amadurecimento do conceito de RSE no país por meio da criação de

algumas organizações que possuem força representativa no país conforme será

analisado no próximo item.

2.2 A disseminação do conceito de Responsabilidade Social Empresarial no Brasil

Para os brasileiros, a questão da responsabilidade social surgiu timidamente

em esparsos discursos notados a partir da década de 1960 conforme afirma Torres

(2002, online, p.139):

Os primeiros e isolados discursos em prol de uma mudança de mentalidade empresarial no Brasil já podem ser notados em meados da década de 60. E nesse sentido, a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas, publicada em 1965, é um marco histórico incontestável do início da utilização explícita do termo responsabilidade social diretamente associado às empresas e da própria relevância do tema relacionado à ação social empresarial no

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país mesmo que ainda limitado ao mundo das idéias e se efetivando apenas em discursos e textos, o tema já fazia parte da realidade de uma pequena parcela do empresariado paulista.

Ganhou evidência maior após o período de redemocratização e abertura

econômica do país na década de 1990.

O poder público, historicamente, vem realizando investimentos na tentativa de erradicar o leque de problemas sociais do País, mas que pouco contribuem para minimizar a situação de calamidade e degradação social que o afeta. A incapacidade do Estado para cumprir suas obrigações na área social traz à tona situações como a má gestão dos serviços públicos e a falta de eficiência e efetividade dos programas governamentais. “O Brasil não é um país que gasta pouco na área social. O problema é que gasta mal. Os investimentos representam 20,9% do PIB, sendo que a média latino-americana é de 10,8% (Neri apud Melo Neto,1999,p.10), ou seja, há recursos sendo aplicados pelo Governo, mas estão sendo mal gerenciados e, muitas vezes, sequer chegam às populações que realmente necessitam. O País vive o paradoxo de ser a 10ª economia industrial do mundo e a 69ª no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (Disponível em: <http://www.gazeta.com.br>). Assim a responsabilidade social das empresas, cuja projeção nos EUA e na Europa aconteceu em meados da década de 60, passou a ser pauta na agenda dos empresários brasileiros, com mais visibilidade, na década de 90, incentivado pelo período de redemocratização e abertura econômica do País, pelos direitos conquistados com a Constituição Federal de 1988, pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor em 1990, pela aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) em 1992 que contribuíram para uma maior conscientização e organização da sociedade civil sobre seus direitos, também favorecendo a fundação de ONGs e o fortalecimento do Terceiro Setor. (ALESSIO, 2008, p.100)

No Brasil, a ação das empresas no âmbito de função social não lucrativo

tornou-se significativa entre as décadas de 1980 e 1990. Foram detectadas, a partir

das duas últimas décadas do século XX, ações mais organizadas sistematicamente

e estrategicamente voltadas para o tema responsabilidade social empresarial. É

possível dizer, portanto, que esse período marca a inserção do tema

Responsabilidade Social Empresarial (RSE) na agenda de interesses da população

brasileira.

Um exemplo de como esta realidade se consolidou na atualidade é

demonstrado na “Pesquisa Responsabilidade Social Empresarial: Percepção do

Consumidor Brasileiro”, realizada nos anos de 2006 e 2007 e lançada pelos

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Institutos Akatu e Ethos de Responsabilidade Social. A pesquisa foi coordenada pela

Market Analysis Brasil e sua publicação patrocinada pela empresa Carrefour. Os

resultados indicam que 77% dos brasileiros têm interesse em saber como as

empresas tentam ser socialmente responsáveis, revelando estabilidade na

comparação com os índices obtidos nas pesquisas anteriores. Além disso, dois em

cada três brasileiros têm uma avaliação positiva sobre a contribuição das grandes

empresas para o desenvolvimento da sociedade. A porcentagem de entrevistados

que se encaixaram nesta categoria em 2007 (66,5%) sofreu um acréscimo de dez

pontos percentuais em relação a 2006 (57%).

Por outro lado, o caminho não está totalmente consolidado. Para que as

empresas se beneficiem imediatamente da divulgação de suas ações de

responsabilidade social, ainda é necessário enfrentar a desconfiança do consumidor

em relação à atuação empresarial neste âmbito. Este é o principal desafio para as

empresas que incorporam os princípios da RSE em suas práticas.

Mas pode-se dizer que a chave dessa questão está relacionada à educação

continuada que auxilia no processo de assimilação do conceito e da prática da

responsabilidade social empresarial. Segundo Cohen (1999), a educação continuada

exige, da parte das pessoas, desprendimento, humildade e disposição, e, da parte

das empresas, uma nova percepção do que é investimento.

Historicamente, atrelado à prática da filantropia, o movimento de

responsabilidade social no país traz consigo desde o período colonial a presença

das igrejas cristãs atuando direta ou indiretamente, prestando assistência à

comunidade. Alessio (2008) realiza um relato histórico da atuação social das

empresas no Brasil, adotando como marco a fundação da Associação dos Dirigentes

Cristãos de Empresas (ADCE) de São Paulo em 1961. Com o intuito de atuar por

meio de valores éticos e morais pregados pelos ensinamentos cristãos, essa

entidade, formada por empresários, ganhou força em 1977, passando a atuar em

todo o Brasil e se comprometendo a transformar as empresas dos próprios membros

em ambientes de trabalho coletivo, solidário e em busca de melhorias pessoais, bem

como proporcionar à sociedade brasileira a geração de empregos, trabalho e renda

na comunidade, qualificação profissional, organização do voluntariado, apoio e

promoção a entidades comunitárias.

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A ADCE foi pioneira, em 1977, no lançamento do debate sobre o Balanço Social, embora sua publicação só aconteceu em 1984, com a empresa Introfértil e em 1992, com o Banco do Estado de São Paulo (BANESPA), que publicaram todas as suas ações sociais. A partir de 1993, outras empresas passaram a publicar o Balanço Social, mas este obteve maior visibilidade nacional somente em 1997, através de uma parceria do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE). (ALESSIO, 2008, p.109)

No ano de 1980, professores do Departamento de Administração da

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São

Paulo (FEA/USP) se uniram para criar uma instituição conveniada à escola – a

Fundação Instituto de Administração (FIA). Desta fundação, surgiu o Centro de

Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS).

O CEATS é considerado no Brasil um espaço pioneiro na geração e disseminação

de conhecimento sobre a gestão das organizações da sociedade civil e responsabilidade

social empresarial. Professores, pesquisadores e estudantes interessados em

compreender e estimular o desenvolvimento social sustentável no Brasil, viabilizado por

empresas, a sociedade civil organizada e em alianças estratégicas reunindo empresas,

Terceiro Setor e Estado, desenvolvem pesquisas e análises acerca do

empreendedorismo social, da responsabilidade socioambiental, avaliação de programas

e projetos sociais, e das formas de atuação e parcerias. Além disso, o CEATS publica

suas conclusões no Brasil e no exterior, além de promover cursos e ações de aplicação

experimental na comunidade. (CEATS,2009, online).

Outro fato que abriu caminho para as práticas de responsabilidade social no

Brasil foi a criação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE).

Criado em 1981, surgiu como proposta de democratização da informação sobre as

realidades econômicas, políticas e sociais no Brasil. Instituição de caráter

suprapartidário e suprarreligioso, o IBASE divulga ser sua missão o aprofundamento

da democracia, seguindo os princípios de igualdade, liberdade, participação cidadã,

diversidade e solidariedade.

O IBASE foi fundado por Herbert de Souza, conhecido como Betinho, o

sociólogo lançou em 1993 a Campanha de Ação da Cidadania contra a Miséria e

pela Vida, popularmente conhecida como “Campanha do Betinho”. Esta foi uma

grande mobilização da sociedade brasileira e das empresas em busca de soluções

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para as questões da fome e miséria, disseminando a co-responsabilização da

sociedade na luta pelas questões sociais do país.

O IBASE promove a divulgação do balanço social, esta também foi uma

prática originada das demandas éticas envoltas na discussão sobre a RSE

desenvolvida mundo afora. A transparência como valor agregado às mudanças do

mundo globalizado passou a exigir das empresas, a publicação dos relatórios anuais

de desempenho das atividades sociais e ambientais desenvolvidas, além dos

impactos de suas atividades e as medidas tomadas para prevenção ou

compensação de acidentes. Essa diferenciação se inicia com a própria noção de

que as ações de RSE devem envolver ações planejadas que vislumbram resultados,

melhor desempenho nos negócios indo além da relação com a lucratividade.

Em 1990, ano de promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente no

Brasil pela Lei n° 8.069, foi fundada a Associação Brasileira dos Fabricantes de

Brinquedos (Abrinq). Pautada no Estatuto da Criança e do Adolescente, na

Convenção Internacional dos Direitos da Criança e na Constituição Federal

Brasileira (1988), adota como missão promover a defesa dos direitos e o exercício

da cidadania de crianças e adolescentes por meio de ações que garantam os

direitos da criança e do adolescente. (FUNDAÇÃO Abrinq, 2009, online).

No relato histórico de Alessio (2008), é citada a criação, em 1992, do Prêmio

ECO-Empresa e Comunidade da Câmera Americana de Comércio de São Paulo e

destaca o prêmio como um marco para o reconhecimento dos esforços realizados

por empresas que desenvolvem projetos sociais em busca da promoção da

cidadania. O Prêmio ECO-Empresa desde sua criação já segmentava as ações

realizadas por meio de projetos sociais em cinco categorias: cultura, educação,

participação comunitária, educação ambiental e saúde. Demonstrando as origens e

a evolução da atuação social das empresas brasileiras, a autora afirma que as

iniciativas privadas com fins públicos suscitam questionamentos e reflexões sobre a

abrangência e a competência do Segundo e do Terceiro Setor1, frente à área social.

(ALESSIO, 2008, p.110). Esta coexistência entre o terceiro setor não lucrativo e não

governamental, como o setor público estatal e o setor privado empresarial, tem

1 Além das instituições que compõem o aparelho do Estado (primeiro setor) e as empresas privadas que

objetivam lucro (segundo setor), existe um “segmento social” que pode ser denominado de “terceiro setor” que é composto por organizações que visam a benefícios coletivos (embora não sejam integrantes do governo) e de natureza privada (embora não objetivem lucros).

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demonstrado resultados na busca da minimização das carências sociais que afetam

grande parcela da população brasileira.

Outro apontamento realizado por Alessio (2008), em termos legais, foi a

autorização do Governo Federal às empresas tributadas em regime de lucro real de

deduzir em até 2% do lucro operacional bruto em doações, desde que destinadas a

entidades sem fins lucrativos, pela Lei n° 91/35, das Organizações da Sociedade

Civil de Interesse Público (OCIPS). (GIFE, 2002 apud ALESSIO, 2008, p.112).

A própria definição e conceituação sobre responsabilidade social das

empresas, portanto, abre espaço atualmente para um amplo campo de atuação

tanto no mundo quanto no Brasil. Seja investimento social privado, cidadania

coorporativa, governança empresarial, o que se diferenciam de fato são as formas

de operacionalização de acordo com o contexto social e econômico a qual se

aplicam.

Todos esses fatos foram importantíssimos para o movimento de

Responsabilidade Social no Brasil, mas o destaque está na criação, em 1998, do

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social que proporcionou ao

movimento um perfil fortemente baseado na ética, cidadania, transparência e na

qualidade das relações da empresa.

A missão do Instituto Ethos2, desde então, é mobilizar, sensibilizar e ajudar as

empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, com base na

construção de uma sociedade sustentável e justa. Para disseminar essa prática, o

instituto ajuda as instituições a incorporar de forma progressiva o conceito de

comportamento empresarial socialmente responsável, implementar políticas e

práticas que atendam a elevados critérios éticos, contribuindo para o alcance do

sucesso econômico sustentável a longo prazo. Demonstrar aos seus acionistas a

relevância de um comportamento socialmente responsável para um retorno a longo

prazo sobre seus investimentos. Para cumprir sua missão, o instituto desenvolve

uma série de atividades que vão desde a disseminação de informações sobre

responsabilidade social empresarial, conferências, debates e encontros nacionais e

internacionais, orientação através de consultoria, elaboração de manuais para o 2 Esclarecimentos importantes sobre as atividades do Instituto Ethos:

O trabalho de orientação às empresas é voluntário, sem cobrança ou remuneração. O Instituto Ethos não realiza consultoria, não credencia ou autoriza profissionais a oferecerem qualquer tipo de serviço em seu nome. Não fornece certificação de responsabilidade social ou “selo” com essa função. Não permite que nenhuma entidade ou empresa (associada ou não) utilize a logomarca do Instituto Ethos sem o consentimento prévio e expressa autorização por escrito.

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auxílio das empresas no processo de gestão que incorpore o conceito de

responsabilidade social, elaboração de ferramentas de gestão que oriente as

práticas socialmente responsáveis, até a área de comunicação, articulação e

mobilização para facilitar a participação da ação articulada de empresas,

organizações não governamentais e poder público na promoção das iniciativas de

bem-estar social.

Para isso, foram adotadas três linhas de atuação que mobilizam o setor

privado, a sociedade por meio da imprensa (prêmio Ethos Jornalismo – para

matérias que promovem o conceito de responsabilidade social), as instituições de

ensino através do prêmio Ethos Valor (que premia trabalhos acadêmicos sobre o

tema) e o prêmio Balanço Social, criado em 2001 por iniciativa da Associação

Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE), da Associação dos Analistas e

Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), do Instituto Ethos

de Empresas e Responsabilidade Social, da Fundação Instituto e Desenvolvimento

Empresarial e Social (FIDES), e do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas (IBASE).

Através do Prêmio Balanço Social, o consumidor pode verificar o

comprometimento dos líderes com valores e princípios éticos, perceber a empresa

ou o grupo como um todo e não apenas no que se refere aos seus negócios, assim

como é possível verificar a existência de um processo de gestão da

responsabilidade social, ou seja, se a empresa se compromete com um

planejamento de médio/longo prazo e não apenas com ações pontuais e

filantrópicas. Também é possível detectar a participação de diversos públicos na

gestão da responsabilidade social como funcionários, ONGs, fornecedores,

consumidores, membros da comunidade etc.

Um ponto de destaque é a visualização da geração e distribuição de riquezas

pela empresa através da apresentação da Demonstração do Valor Adicionado

(DVA), são dados sobre a geração de riquezas decorrentes de atividade produtiva

ou ganho financeiro comparado com o período anterior e dados de distribuição de

riquezas entre os diversos públicos de funcionários, acionistas, governos ou

financiadores também relacionados com períodos anteriores.

As informações reveladas no Balanço Social demonstram dados que

comparam a empresa no seu setor econômico e social (benchmarking), e, dessa

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forma, também é verificado se o investimento social e ambiental da empresa está

integrado ao foco de negócios da empresa, o que justifica sua vocação.

Por isso, atualmente, o Instituto Ethos se tornou uma referência qualitativa

que identifica formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as

comunidades na construção do bem-estar comum, contribuindo assim para o

desenvolvimento social e econômico, e uma relação harmoniosa com o meio

ambiente.

Em 2005, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) lançou o Índice de

Sustentabilidade Empresarial (ISE) que reflete o retorno de uma carteira composta

por ações de empresas reconhecidamente comprometidas com a responsabilidade

social e a sustentabilidade empresarial e atua como promotor de boas práticas no

meio empresarial brasileiro. Existem alguns indicadores que sinalizam uma mudança

de mentalidade da iniciativa privada na questão da responsabilidade social no Brasil.

No entanto, ainda é pequeno o conhecimento sobre as ações com esse caráter que,

efetivamente, estão sendo desenvolvidas pelas empresas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou em 2006 a

segunda edição do mapeamento da participação do setor empresarial em atividades

sociais voltadas para as comunidades mais pobres. Intitulado Pesquisa Ação Social

das Empresas, reproduz, com algumas inovações, um levantamento anterior,

realizado pelo Ipea, no final dos anos de 1990. A segunda edição atualiza os dados

e inicia a construção de uma série histórica sobre o comportamento das empresas

na área social. É importante mencionar que a pesquisa ocorreu em anos diferentes

para as regiões pesquisadas. Na primeira edição do levantamento, a região Sul foi

investigada em 1999, as regiões Nordeste e Sul em 2000, e o Norte e o Centro-

Oeste em 2001. Desta vez, o estudo se deu em dois anos: Nordeste e Sudeste

foram pesquisados em 2004 e as demais regiões em 2005. A cada momento, as

informações foram recolhidas para o ano imediatamente anterior à realização do

estudo. (IPEA, 2006, online).

A pesquisa divulga que entre o final da década de 1990 e 2004, observa-se

um crescimento generalizado na proporção de empresas que declararam realizar

algum tipo de ação social para a comunidade (por região, por setor de atividade

econômica e por porte). Ao se analisar o conjunto de empresas brasileiras, nota-se

que a participação empresarial na área social aumentou 10 pontos percentuais,

passando de 59% em 2000, para 69% em 2004. São aproximadamente 600 mil

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empresas que, de alguma maneira, atuam voluntariamente em prol das

comunidades (IPEA, 2006, p.11). Chama-se a atenção no resultado da pesquisa o

fato de que nas duas publicações efetuadas foi detectado que o montante desse

investimento social privado é pouco influenciado pela política de benefícios

tributários.

É possível observar que se a proporção de empresários que se utilizava dos benefícios fiscais já era pequena em 2000 – apenas 6% – em 2004, ela é ainda menor: somente 2% das empresas que atuaram no social fizeram uso dos incentivos. Esse resultado confirma que o envolvimento social do setor privado ocorre independentemente do Estado: trata-se de uma forma de intervenção das próprias empresas que não reconhecem influências do governo no processo de sua atuação. (IPEA, 2006, p.18).

Ao serem questionados sobre o porquê, não utilizavam os incentivos fiscais,

cerca de 40% dos empresários alegaram que o valor do incentivo era muito pequeno

e que, portanto, não compensava seu uso. Segundo a pesquisa, este resultado

demonstra que grande parte do empresariado nacional que realiza investimento

social no Brasil, com enfoque na comunidade, o faz de forma independente ao

Estado.

A Pesquisa Ação Social das Empresas do Ipea demonstra que as

perspectivas das ações de Responsabilidade Social no Brasil são crescentes. Em

quatro anos de diferença da primeira publicação da pesquisa para a segunda, o

interesse do empresariado nacional em expandir os recursos e o atendimento à

comunidade cresceu de 39% para 43%. Portanto, está evidente que o cenário que

se forma no Brasil apresenta o tema Responsabilidade Social Empresarial como

uma ascendente tanto pelo crescente interesse acadêmico na área, a inclusão da

Responsabilidade Social como disciplina pertencente à matriz curricular de cursos

de administração de empresas, a criação de institutos e fundações oriundos de

organizações empresariais, o lançamento de prêmios que promove a prática de

responsabilidade social coorporativa, o papel fundamental de congressos e

seminários que lança o tema em debates e análises críticas, profundamente

necessários para a revisão tanto do conceito como da prática de responsabilidade

social empresarial.

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2.3 O processo de reconhecimento das demandas sociais no Brasil

A temática que envolve as ações de Responsabilidade Social Empresarial

vem se difundindo não apenas como temática social, mas também se mantendo nas

pautas do universo político e econômico como uma nova demanda das sociedades

complexas. A ação das empresas no âmbito de função social não lucrativo

acompanhou a trajetória do capitalismo brasileiro.

O próprio contexto econômico e social da década de 90 propiciou situações

para que houvesse uma reflexão sobre a estruturação do setor produtivo devido,

principalmente, ao aumento significativo do desemprego que provocou o

agravamento das desigualdades sociais atingindo diversos segmentos da

sociedade. A sociedade pós-industrial ao produzir bens imateriais, como informação

e serviços, transferiu o esforço humano para as máquinas, exigindo mão de obra

altamente qualificada.

A automação de base microeletrônica, os equipamentos computadorizados, os avanços no campo da eletrônica, a capacidade de processamento e controle das informações e sistemas, os microcomputadores, a Internet e a robótica, utilizando robôs em substituição à mão de obra, com capacidade de realizar e substituir algumas tarefas humanas forma algumas das novas tecnologias que trouxeram grandes avanços nas esferas industrial, nuclear, na Medicina e em outros campos do conhecimento [...]. As inovações tecnológicas e organizacionais impostas pela competição global desencadearam um cenário que revolucionou as tradicionais formas de produção e organização do trabalho, representando grandes avanços tecnológicos e administrativos, embora seus impactos ainda não sejam completamente visíveis. (ALESSIO, 2008, p.32-33.)

A década de 1990 revela a formação de um abismo cultural existente entre o

processo industrial e o pós-industrial. Na sociedade pós-industrial, o trabalho possui

uma natureza diferente do modelo anterior e o que ocorreu foi exatamente o que o

economista John Maynard Keynes definia como desemprego tecnológico: quando a

eficiência técnica se desenvolve em um ritmo mais rápido do que a capacidade da

economia de encontrar novos usos para o trabalho. Segundo Cohen (1999), do

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desemprego tecnológico surge o paradoxo do progresso, pois ao mesmo tempo em

que sua natureza é intrinsecamente boa, exatamente por ser um progresso, não é

algo necessariamente bom aos seus contemporâneos, pois há falta de sincronia

entre o progresso que chega e a preparação da mão de obra para as consequências

deste progresso.

No Brasil, essa falta de sincronia ou abismo cultural está expressa na própria

discussão sobre a questão social e as desigualdades econômicas, políticas e

culturais das classes sociais. Sua raiz está no processo da formação histórica

nacional e todas as suas particularidades: colonização de exploração, escravização,

economia voltada para latifúndios monocultores; enfim, elementos de uma herança

histórica colonial e patrimonialista que, consequentemente, revelava pouca ou

nenhuma mobilidade social.

A sociedade brasileira mesmo após a libertação dos escravos não criou

condições para a formação de classes sociais intermediárias. O país possuía

distinções sociais claras, compostas por senhores de engenhos e demais

latifundiários e escravos, contando apenas com uma parcela quase insignificante de

comerciantes e demais profissionais. Esta estrutura sem mobilidade de ascensão

econômica gerou um país de extremos contrastes sociais e econômicos.

As desigualdades que presidem o processo de desenvolvimento do País têm sido uma de suas particularidades históricas. O “moderno” se constrói por meio do “arcaico”, recriando elementos de nossa herança histórica colonial e patrimonialista, ao atualizar marcas persistentes e, ao mesmo tempo, transformá-las no contexto de mundialização do capital sob a hegemonia financeira. As marcas históricas persistentes, ao serem atualizadas, repõem-se, modificadas, ante as inéditas condições históricas presentes, ao mesmo tempo em que imprimem uma dinâmica própria aos processos contemporâneos. O novo surge pela mediação do passado, transformado e recriado em novas formas nos processos sociais do presente. A atual economia dita “emergente” em um mercado mundializado, carrega a história de sua formação social, imprimindo um caráter peculiar à organização da produção, às relações entre o Estado e a sociedade, atingindo a formação do universo político cultural das classes, grupos e indivíduos sociais. (IAMAMOTO, 2007, p.128.).

O peso de uma formação histórica que reforça as exclusões sociais, aliado a

nova reestruturação produtiva e industrial requer a compatibilização entre as

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transformações institucionais e organizacionais nas relações de trabalho e de

produção com as demandas sociais da nação. Torna-se insustentável para o

desenvolvimento de um país possuir um cenário de total desencontro entre milhares

de pessoas procurando emprego ao mesmo tempo em que inúmeras empresas não

conseguem preencher suas vagas por falta de mão de obra qualificada.

Para a compreensão dessa trajetória do conceito de responsabilidade social

no Brasil, é necessário contextualizar esta temática relacionando-a a trajetória

econômica do país, uma vez que a proposta desta pesquisa enfoca ações

empresariais de responsabilidade social.

Após a 2° Guerra Mundial, o Brasil passou por um processo de

industrialização acelerado em busca de fornecer ao país as bases do

desenvolvimento para orientar a economia em direção aos mercados mundiais. O

objetivo era renovar a indústria de base nacional em busca da substituição do

modelo agro-exportador para o modelo urbano-industrial.

Frente às mudanças ocorridas na economia mundial em decorrência dos “Anos Dourados” do capitalismo mundial, o Brasil precisou também se adaptar, o que tornou premente a introdução de mudanças na base tecnológica para a modernização do parque industrial brasileiro [...]. (ALESSIO, 2008, p.47).

O perfil socioeconômico do país começou a desenhar-se a partir da década

de 1930 fortalecendo-se entre as décadas de 1940 e 1960, quando o crescimento

populacional e urbano ganhou proporções significativas devido a dinamização da

indústria que buscava tomar o lugar da agricultura. A aceleração industrial e urbana

foi a base do processo de modernização no Brasil que visou diversificar sua

economia e ampliar as condições para geração de riquezas.

Desde a Revolução de 1930 com a política econômica industrializante da era

Vargas até o início dos anos de 1950, o objetivo econômico do país estava

diretamente relacionado à implantação da indústria de base nacional que por ser

fornecedora de equipamentos e materiais semielaborados formava a linha de frente

para a consolidação da indústria no Brasil.

No período denominado desenvolvimentista no governo de Juscelino

Kubitschek (1956-1961), o eixo do seu governo estava baseado no chamado Plano

de Metas, visando os setores de energia, transporte, indústria de base, alimentação

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e educação. A promessa era fazer o país crescer “cinquenta anos em cinco” por

meio do amplo programa de desenvolvimento econômico dos setores mencionados.

Nesse período, o presidente Juscelino Kubitschek trouxe para seu governo,

técnicos e intelectuais do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) e outros

recrutados na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), criado pela

Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, com o objetivo de estudar o

subdesenvolvimento latino-americano e apontar novos caminhos para o

desenvolvimento do continente.

Entre seus pesquisadores estava o brasileiro e economista Celso Furtado que

compartilhava com os demais pesquisadores desse grupo na industrialização como

estratégia para os países latino-americanos deixarem de ser apenas exportadores

de matérias-primas e importadores de bens de consumo.

É importante destacar que essas ações não significaram a fórmula para

diminuição das desigualdades sociais. Em apenas duas décadas de 1940 a 1960, a

população brasileira passou de 41 milhões de habitantes para 70 milhões, foi a

chamada “explosão demográfica”.

Inspirando-se em muitas das ideias e propostas do Cepal em 1955, foi criado

no Rio de Janeiro, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Tornou-se um

importante centro de estudos e de projetos voltados para o desenvolvimento,

defendendo o incentivo do governo à modernização industrial brasileira.

Paradoxalmente, a fundação do Iseb, instituição que se tornou possível em virtude

das iniciativas de intelectuais e setores governamentais progressistas (entre os quais

estavam Candido Motta Filho, ministro da Educação e Cultura, e Anísio Teixeira) foi

concretizada por meio de um decreto assinado por um político conservador, o

presidente Café Filho. (TOLEDO, 2005, online).

As atividades do Iseb iniciaram no governo de Juscelino Kubitschek que criou

o Conselho do Desenvolvimento exatamente para buscar pesquisadores que teriam

por missão dedicar-se aos problemas brasileiros. Entre os intelectuais que

compunham o Iseb, a visão nacionalista prevalecia fazendo ressalvas ao modelo

desenvolvimentista indicando que o desenvolvimento econômico do país deveria ser

alcançado com uma margem maior de independência frente ao capital estrangeiro.

Propunham também uma melhor distribuição regional dos investimentos para

estimular o desenvolvimento econômico e social de áreas fora do centro-sul,

sobretudo o Nordeste como é possível conferir nas palavras de Alzira Alves de

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Abreu pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Escola de Ciências Sociais e História da

Fundação Getúlio Vargas.

Dentro do Iseb, os principais formuladores do projeto de desenvolvimento nacional foram Hélio Jaguaribe, Guerreiro Ramos, Cândido Mendes de Almeida, Álvaro Vieira Pinto e Nelson Werneck Sodré. Para esses intelectuais, o Brasil só poderia ultrapassar a sua fase de subdesenvolvimento pela intensificação da industrialização. A política de desenvolvimento deveria ser uma política nacionalista, a única capaz de levar à emancipação e à plena soberania. Sua implementação introduziria mudanças no sistema político, determinando a substituição das antigas elites dirigentes do país. Em um país de economia desenvolvida, a nova liderança política deveria ser representada pela burguesia industrial nacional, que teria o apoio do proletariado, dos grupos técnicos e administrativos e da intelligentzia. Em oposição a esses grupos estavam os interesses ligados à economia de exportação de bens primários. O investimento de capitais e de técnica estrangeiros era considerado obstáculo ao desenvolvimento industrial nacional, já que o capital estrangeiro era visto como interessado não nos setores industriais, e sim nos setores extrativos e de serviços. A partir da identificação de dois grupos defensores de interesses divergentes, o Iseb propunha a formação de uma "frente única" integrada pela burguesia industrial e seus aliados para lutar contra a burguesia latifundiária mercantil e o imperialismo. A luta seria travada, em suma, entre nacionalistas e "entreguistas" – aqueles que tendiam a vincular o desenvolvimento do Brasil à potência hegemônica do capitalismo, os Estados Unidos. (ABREU, online).

A divisão interna do grupo demonstrou claramente que seria necessário

ajustar a proposta do Iseb à política de JK. Mesmo não sendo o nacionalismo o

projeto político identitário do governo de JK, foram desenvolvidas ações balizadas

nas análises do Iseb.

O nacionalismo não foi, entretanto, o projeto político que prevaleceu na orientação dada ao desenvolvimento industrial pelo governo JK, já que foi incentivada a política de cooperação internacional. Mas é inegável que o governo deu amplo apoio aos empresários nacionais e facilitou investimentos do capital nacional. Deu ênfase, também, a algumas propostas dos nacionalistas, como a de intervenção do Estado no planejamento do desenvolvimento do Nordeste como meio de atenuar as diferenças regionais, criando a Sudene. Embora não tenha sido dominante na política de JK, o nacionalismo desempenhou, como ideologia, uma função importante nos anos 50 e 60, na medida em que serviu como instrumento de mobilização política. (ABREV, online).

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A intenção de ressaltar a criação do Iseb, neste capítulo, dá-se pelo fato deste

órgão ter representado, para o período em que foi criado, uma expressão

vanguardista do pensamento desenvolvimentista e que pela primeira vez buscava

sistematizar os estudos dos problemas socioeconômicos brasileiros. Mesmo com

suas formulações contrárias a internacionalização da economia promovida por JK, o

Iseb contribuiu com análises de importantes intelectuais que apoiavam a estratégia

governamental destinada à industrialização do Brasil.

Ao promover seminários, debates públicos e publicar livros sobre a conjuntura

político-econômica do país, o Iseb se notabilizou por oferecer cursos regulares a

empresários, oficiais das Forças Armadas, sindicalistas, parlamentares, funcionários

públicos, burocratas e técnicos governamentais, docentes universitários e de ensino

médio, profissionais liberais, religiosos, estudantes etc. Sendo considerado, portanto,

um centro de formação pública ideológica de orientação democrática reformista, o

Instituto foi criado para servir de instrumento para uma ação eficaz no processo

político do país, representando para o Brasil contemporâneo a simbolização e

concretização da noção (e prática) do engajamento intelectual na vida política e

social de um país. (TOLEDO, 2005 online).

Identifica-se, dessa maneira, uma manifestação formalizada da disseminação

dos problemas sociais brasileiros sendo levados ao empresariado nacional.

O aumento do PIB e a geração de emprego proporcionados pelo crescimento

econômico dos “Anos Dourados” do capitalismo mundial, vivenciados durante o

governo de Juscelino Kubtischek, tornaram-se um difícil desafio de se manter para o

governo de Ernesto Geisel, inciado em 1974. Os altos patamares econômicos

apresentados no período de JK impôs novos padrões de qualidade e produtividade

aos quais o Brasil ainda não estava adaptado, o que ocasionou o aumento da

concorrência interna. Consequentemente, a década de 1980 é considerada a

“década perdida” na qual foram registrados vários problemas, bem como queda do

Produto Interno Bruto (PIB), aumento da inflação, desvalorização cambial, dentre

outros desequilíbrios internos e externos além de transformações em termos de

organização do trabalho empresarial, com características tayloristas-fordistas

(BAUMANN,1999 apud ALESSIO, 2008, p.48).

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) possui um

estudo encomendado ao Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio

Vargas (FGV). O estudo publicado em 2005 faz parte da Coleção Referências da

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FIESP. Intitulado de “Crescimento Econômico: como superar limitações e atingir o

desenvolvimento social”, o estudo examina as perspectivas do crescimento

econômico do país e os impactos sociais, sobretudo sobre o desemprego e a renda.

O desenvolvimento econômico brasileiro no período 1980-2000 mostrou-se bastante inferior a sua trajetória histórica. Nesse período, a renda per capita em reais cresceu a uma taxa média de 0,6% ao ano. Segundo, essa performance insatisfatória do crescimento da renda foi acompanhada por uma estagnação dos indicadores sociais, especialmente pobreza e desigualdade, durante todo o período. Em períodos mais recentes, notadamente após 1994, houve uma piora considerável no índice de desemprego para todas as regiões metropolitanas, isso pode ter gerado uma piora considerável na renda familiar per capita, especialmente para as camadas mais pobres [...]. O processo de crescimento econômico e seus impactos sociais se colocam hoje como os temas mais relevantes no debate das questões econômicas no Brasil. Estes temas sofrem influência tanto do comportamento conjuntural dos cenários e das políticas macroeconômicas como dos fatores estruturais e institucionais mais permanentes [...]. O crescimento econômico é uma condição necessária para redução da pobreza no Brasil. Um aumento de 1% na renda média se reflete numa redução de aproximadamente 0.9% no número de pessoas abaixo da linha de pobreza. Nossos resultados indicam que mesmo os cenários mais favoráveis de crescimento para os próximos anos não será capaz de promover grandes avanços no combate à pobreza. Crescimento, por si só, não reduzirá de forma significativa o contingente de indivíduos abaixo da linha de pobreza. Isso sugere a necessidade de políticas sociais complementares que possibilitem que as camadas mais pobres da população se integrem no processo de desenvolvimento. Nossas análises do perfil da pobreza mostram que 80% dos pobres brasileiros vivem numa família chefiada por uma pessoa com um máximo de quatro anos de educação, sendo a metade deste total advinda de famílias chefiadas por uma pessoa com menos de um ano de escolaridade. As evidências empíricas têm demonstrado também que maior escolaridade está robustamente correlacionada com o aumento de renda do indivíduo. Portanto, os investimentos na educação devem fazer parte de uma política de redução da pobreza no Brasil. Estes investimentos deveriam concentrar-se na educação primária, sem contudo deixar de contemplar políticas de estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico. (FIESP, 2009, online).

O estudo apresentado pela FIESP conclui que a questão social se coloca

como tema fundamental para o país, ressaltando a educação como política social

fundamental para o desenvolvimento. A relevância deste estudo está na

comprovação de forma mensurável de que as mudanças realmente significativas

para a melhoria das condições e desenvolvimento do país não podem estar focadas

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exclusivamente no aspecto econômico. Mesmo chegando à conclusão de que o

crescimento econômico é essencial para a redução da pobreza no país, o estudo

comprova que esta condição também está diretamente relacionada à falta de

estudo, perpetuando a condição de pobreza. São indicados 43% de pobres residindo

em áreas rurais e 44% em áreas urbanas não metropolitanas. Apenas 13% da

população identificada como pobres vivem em áreas metropolitanas. O apontamento

desses dados é acompanhado da seguinte análise:

Políticas voltadas para a diminuição dos desequilíbrios regionais poderiam reduzir o fluxo migratório para as regiões metropolitanas, as quais possuem custos de redução da pobreza consideravelmente maiores do que nas regiões não metropolitanas. A interiorização do crescimento econômico poderia reduzir mais rapidamente a pobreza com custos menores. Uma medida importante nesta direção é o aumento dos investimentos em educação, sobretudo em áreas rurais e áreas urbanas não metropolitanas. Deve-se complementar estes investimentos com políticas de renda, dado que o problema de educação na área rural é agravado pelo maior custo de ir à escola. Nessas áreas, 90% da população pobre tem chefe trabalhando. Dos domicílios ativos, 80% trabalha na agricultura, 80% por conta própria ou sem carteira assinada. Programas de educação têm de se adaptar a essa realidade: educação para trabalhadores emigrantes e incentivos econômicos para os filhos de trabalhadores agrícolas irem à escola. A bolsa-escola não é necessariamente incentivo suficiente para este grupo. Neste caso, políticas de renda complementares devem ser contempladas em conjunto com políticas de estímulos para a micro e pequena empresa (microcrédito, por exemplo). (FIESP, 2009,online).

Pode-se verificar que a análise do desenvolvimento social e econômico do

Brasil está diretamente relacionada a um amplo conjunto de políticas públicas que

traria benefícios tanto no nível microeconômico quanto no nível macroeconômico.

Mas com certeza a educação coloca-se como índice significativo nesse quadro. O

fato é que para ressaltar a relevância da responsabilidade social em um país como o

Brasil, é preciso ter em mente que o cenário social e econômico do país necessita

de medidas capazes de buscar interações e sinergias entre as diversas linhas de

política, ao invés de encará-las de forma individualizada. Portanto, diante dessa

realidade, há emergência na busca de alternativas para o enfrentamento da questão

social brasileira.

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Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha ocorrendo no

Brasil há muito tempo, vem crescendo, nos últimos anos, a preocupação com um

envolvimento mais sistemático da iniciativa privada com o tema da responsabilidade

social. Este fenômeno reflete uma percepção, cada vez mais generalizada na

sociedade, de que a solução dos problemas sociais é uma responsabilidade de não

apenas do Estado; é imperativo garantir a todos o acesso à alimentação, moradia,

educação, saúde, emprego, um meio ambiente saudável e a outros bens sociais

fundamentais; além de que não é mais possível conviver com a exclusão de uma

larga parcela da população desses bens sociais, como até agora ocorre no Brasil.

Diante do exposto, deveria a educação ser encarada como prioridade para

ações de Responsabilidade Social no Brasil, uma vez que a educação é considerada

um caminho efetivo para disseminação dos valores éticos e de cidadãos e que

estes, portanto, são os valores que antecedem e dão solidez a todos os demais.

Esta é a discussão apresentada no capítulo seguinte, apresentando a ética e a

cidadania como categorias fundamentais da RSE.

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CAPÍTULO 3 ÉTICA E CIDADANIA PARA RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS NEGÓCIOS

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3.1 Ética e Cidadania: Categorias fundamentais para a prática da Responsabilidade Social Empresarial

O mundo não é estático e nossa era revela uma velocidade nos processos de

mudança organizacional com efeitos poderosos sobre pessoas e sobre a sociedade.

Se compararmos o cenário vivido no mundo há cinquenta anos, verificaremos

uma enorme alteração de condições ambientais e importantes mudanças no

desempenho organizacional. Se antes verificávamos estabilidade, definição, certeza,

abundância, pouca sofisticação tecnológica e baixos níveis de consciência social,

hoje passamos por períodos de turbulência, ambiguidade, incertezas, escassez,

sofisticação tecnológica e a melhoria significativa dos níveis de consciência social.

Ponchirolli (2007) afirma que as empresas, por serem como “organismos

vivos”, incorporam mudanças e adotam procedimentos adaptados à nova realidade

e, diante das novas transformações, a empresa deve assumir um papel mais amplo,

transcendente ao de sua vocação básica de geradora de riquezas.

A essa crescente demanda da sociedade oferecem-se várias respostas e vários entendimentos, pois este novo papel pode estar associado não só a motivos de obrigação social, mas também a sugestões de natureza estratégica ou ainda, a uma postura verdadeiramente ética e cidadã da empresa. O exercício da cidadania empresarial pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretos sejam indiretos, possuindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores e externos. (PONCHIROLLI, 2007, p. 49).

O autor introduz sua obra, Ética e Responsabilidade Social Empresarial,

realizando um levantamento de fatos marcantes que sinalizam a mudança de

paradigma da atualidade. Estas mudanças, segundo o autor, trouxeram o tema ética

na pauta dos ambientes corporativos para um reexame da compreensão da

responsabilidade do executivo. Entre as proposições destacadas por Ponchirolli

(2007) estão: o crescimento econômico global, ocorridos entre a década de 90 e

2000, o renascimento em massa das artes, a emergência do socialismo de livre

mercado fazendo brotar uma nova política e economia devido às transformações

após a queda do socialismo oriental, o surgimento de um novo estilo de vida

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globalizado e ao mesmo tempo regionalizado, o surgimento de uma forte economia dos

países da região do Pacífico, a liderança das mulheres em cargos de altos níveis de

responsabilidade, a ideologia da biotecnologia provocando grandes debates éticos, o

renascimento religioso do terceiro milênio desempenhando um papel crescente de

busca da espiritualidade como regulador das condutas morais e da reflexão ética, o

triunfo do indivíduo como ser criativo e propositivo que buscam qualidade de vida, e a

transferência de algumas responsabilidades para as empresas privadas denominada

como a privatização do Welfare State (Estado de bem-estar).

O que o autor denomina de privatização do Welfare State é, na verdade, um

fenômeno mundial que acentua a cobrança da sociedade sobre as empresas para

que exerçam cada vez mais uma administração ética e com enfoque na cidadania.

A prática da ética nas organizações vem se caracterizando por manifestações

concretas, dentre as quais destacamos a Filosofia Empresarial, o Comitê de Ética,

as auditorias éticas, a figura do Ombudsman, Linhas Diretas, Programas

Educacionais e o Balanço Social.

A ética, na era tecnológica, é a estratégia para tolher males que vêm minando

as organizações, como a robotização social, a sociedade estressada, o desemprego

e a violência. Essa tendência se faz necessária atualmente, justamente porque as

forças globais de mudança têm alterado de modo significativo o processo de gestão

das organizações, o que demonstra um salto qualitativo na inter-relação entre

instituições e comunidades, revelando que uma precisa da outra para prosperar.

O foco das organizações, em relação à comunidade, até pouco tempo atrás,

estava direcionado apenas para o mercado, analisando exclusivamente os desejos e

a capacidade de compra. Na atualidade, esta análise também se volta para os

aspectos sociais avaliando aquilo que a comunidade necessita, além dos produtos

ou serviços que a instituição oferece. Pode-se concluir então que há uma mudança

significativa na relação das organizações empresariais com a sociedade.

A antropóloga Maria das Graças Tavares afirma que:

Impõe-se um novo modelo de gestão das relações externas e internas das organizações. Esta gestão para o ajustamento a um ambiente modificado pressupõe padrões de pensamento, de comportamento, posturas, habilidades, sentimentos diversos, dos até então instalados no interior da organização. Nesta nova gestão, há uma visão modificada do homem, tanto na posição de consumidor quanto na de produtor. (TAVARES, 2002, p.05)

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Esse modelo demonstra a preocupação de ver o homem em sua totalidade, é

uma visão holística que exercita a capacidade de compreender, comparar, escolher,

tomar decisões e participar das ações empresariais, modificando não somente os

processos produtivos, mas também seus processos sociais internos. A organização

procura desenvolver processos de formação da sua cultura organizacional, visto que

esta organização, ao se transformar em uma cultura, cria um conjunto de ações

relativas a seu posicionamento externo e a sua coordenação interna. Esse

posicionamento reflete o caráter ideológico da organização tanto comportamental

quanto material, proporcionando sua sobrevivência, sua manutenção e seu

crescimento.

Essas ações são executadas, testadas e avaliadas, e então são transmitidas

socialmente, passando por ajustamentos que cada vez mais são capazes de fazer

uma interpretação da realidade para a criação de modelos e definição de planos de

ação.

Tão importante quanto à alta produtividade e a capacidade de inovação

tecnológica das empresas, também é necessário estabelecer uma comunicação

aberta, ética, eficiente e transparente com seus parceiros. O envolvimento e o

investimento na comunidade em que a empresa está inserida contribuem para a

viabilização dos negócios da empresa, exatamente por isso esse canal deve estar

aberto, lembrando que o enfoque da qualidade não está nas coisas ou nas pessoas,

mas sim nas relações estabelecidas entre elas.

O respeito aos costumes, às culturas locais e o empenho na educação, na

disseminação de valores sociais devem fazer parte de uma política de envolvimento

comunitário da empresa, resultado da compreensão de seu papel de agente de

melhorias sociais. Através de uma análise macro e micro do ambiente, é possível

analisar o salto qualitativo que esse conceito de empresa cidadã pode gerar, criando

benefícios para a sociedade e revertendo-os para a própria empresa.

Surge a partir da possibilidade de benefícios revertidos à própria empresa

uma pergunta: Como qualificar este interesse empresarial? A resposta, portanto,

pode ser associada à outro questionamento realizado por Robert Srour (2008): Seria

egoísta a natureza desse interesse? O próprio autor responde: De modo algum! A

economia de mercado capitalista repousa no capital de risco. Isso significa que o

empresário tanto pode lucrar quanto pode perder seu investimento.

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Sua análise sobre a postura ética empresarial caminha no sentido de

esclarecer o que representa a ética no mundo empresarial. Sendo claro e coerente

com a natureza do mundo dos negócios, Srour (2008, p.26) afirma que a relação

entre empresários e clientes apresenta necessidades complementares, uma vez que

o primeiro produz e vende e o segundo compra e consome. As negociações,

portanto, são possíveis na medida em que os interesses de ambas as partes

estejam compatíveis.

O diferencial dessa análise está no fato de clamar para a busca da clareza

sobre os objetivos empresariais, ou seja, a obtenção de lucro. Mas para que tal

objetivo seja atingido, é necessário que os empresários estejam sintonizados com as

demandas do mercado, como afirma o cientista social:

Desta situação resulta o altruísmo estrito (a geração de um bem restrito que não prejudica outrem) e não uma prática egoísta, pois a realização do interesse pessoal empresarial, a reprodução ampliada do capital, requer o reconhecimento da interdependência das partes. (SROUR. 2008, p.27).

Esse reconhecimento da interdependência das partes é o que vem

provocando mudanças significativas na postura ética empresarial. Os mercados

fortemente protegidos da concorrência e consumidores habituados a pagar o ônus

do defeito, sem direitos assegurados e nem mesmo reconhecidos são um cenário

que há muito não faz mais parte da realidade dos mercados globalizados. A

mudança é percebida nitidamente no comportamento dos consumidores que

aprendem, de maneira gradativa, que seu papel é legalmente assistido e que sua

postura pode levar à perda de credibilidade de uma empresa e, consequentemente,

trazer dificuldades na comercialização de seus produtos para concorrentes mais

ajustados às exigências atuais.

Conscientes de que seu papel na realidade atual deve assumir uma postura

diferenciada, algumas empresas saem à frente assumindo novos modelos de gestão

tanto nas relações externas quanto internas, são novos padrões de pensamento,

comportamento, postura, habilidade e até mesmo sentimentos.

Para Ashley (2005, p.110), a empresa começa a ser vista como uma rede de

relacionamentos entre stakeholders (partes envolvidas ou associadas aos negócios

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da empresa), contextualizada no tempo e no espaço, e que se encontra diante de

desafios éticos e da busca pela congruência entre discurso e prática empresarial.

Como as empresas orientam suas estratégias para esta nova concepção que

envolve a postura ética e cidadã?

A concepção de responsabilidade social é atualmente uma resposta para a

prática efetiva de ações que possam representar a preocupação das empresas em

desenvolver um papel social na sociedade e comunidade que se relacionam.

Obviamente, é necessário destacar que o conceito de responsabilidade social

empresarial não tem como objetivo central servir de instrumento de relações

públicas ou marketing apesar de claramente desempenhar este papel também. Mas,

muito mais do que uma onda politicamente correta, a responsabilidade social está

estabelecendo suas bases em razões estratégicas de negócios, já que atualmente

encontramos uma sociedade globalizada extremamente competitiva com

consumidores mais bem informados e que possuem amplo poder de escolha.

O capitalismo excludente exercido pelas empresas, até então, passa a ser

amparado por ideais éticos que transformam o enfoque da iniciativa privada,

buscando um desenvolvimento capaz de articular mercado e cidadania,

desenvolvimento econômico e justiça social. Redefinindo seus papéis, as empresas

que adotam esse comportamento socialmente responsável devem fazê-lo por meio

de projetos sociais muito bem estruturados, com alto nível de planejamento,

desenvolvimento, controle e avaliação.

Se antes de se falar em responsabilidade social, as decisões empresariais

eram apenas de acordo com os interesses estratégicos da organização, atualmente

ela deve incorporar elementos provenientes da sociedade que se balizam pela

noção de bem comum.

Por iniciativa conjunta do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade

Social, do jornal Valor Econômico e da Indicator Opinião Pública, foi realizada em

2001, no Brasil, a pesquisa Responsabilidade social das empresas – Percepção do

consumidor brasileiro que apresenta o dado de que 63% dos entrevistados

brasileiros valorizam o tratamento que as empresas dispensam aos funcionários.

Embora o engajamento de empresas em ações sociais já venha ocorrendo no

Brasil há algum tempo, cresce nos últimos anos, a preocupação com o envolvimento

mais sistemático da iniciativa privada com a temática da responsabilidade social.

Esse fenômeno reflete a percepção, cada vez mais generalizada na sociedade, de

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que a solução dos problemas sociais é responsabilidade de todos, e não apenas do

Estado. Também é imperativo garantir a todos acesso a alimentação, moradia,

educação, saúde, emprego, meio ambiente saudável e a outros bens sociais

fundamentais. Não é mais possível conviver com a exclusão de uma larga parcela

da população alijada de acesso aos bens sociais, como até agora.

A gestão da política social sempre está ancorada na parceria entre Estado,

sociedade civil e iniciativa privada; e a base desse arranjo está sedimentada em um

valor social que é o da cidadania. Surge um movimento interno de descentralização

através da formação de blocos econômicos, flexibilização e fortalecimento da

sociedade civil compondo um novo pacto para as condições de governabilidade de

um país. Nessa interdependência, o campo social ganha espaço através do

chamado Terceiro Setor; uma zona que se coloca entre o Estado e o mercado

representado por organizações da sociedade civil e fundações empresariais sem fins

lucrativos.

A responsabilidade social empresarial está longe de assumir o papel do

Estado e esse não é o propósito, assim como não é o fundamento deste conceito.

Busca-se destacar a responsabilidade social empresarial como uma postura ética e

cidadã que contribui para minimizar as desigualdades sociais por meio do exercício

da crítica atuante e não apenas a crítica oriunda do próprio exercício reflexivo que o

tema suscita.

3.2 A ética e a cidadania na prática: a aplicabilidade de indicadores de responsabilidade social das empresas.

A doação pura e simples nada mais é do que uma prática filantrópica, ou seja,

uma ação social externa à empresa beneficiando a comunidade. O problema é que,

na atual conjuntura social, a filantropia não busca a continuidade das ações e se

concentra em ações esporádicas. A relação estabelecida entre um projeto e seus

cidadãos usuários não pode ser vista de forma apenas assistencialista. Em um

projeto social, também se fazem necessários, como em qualquer outro projeto, a

potencialização de talentos e o desenvolvimento da autonomia de seus atores.

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Nas ações de responsabilidade social, uma das exigências básicas é a

condução dessas ações de forma ética, por meio de práticas que demonstrem que a

cultura organizacional da empresa está focada nos princípios de solidariedade e

compromisso social. A adequada compreensão do novo conceito de

responsabilidade social empresarial supõe o entendimento das novas exigências de

racionalidade e o equilíbrio sistêmico do processo de globalização da economia. Por

isso, é importante destacar a ideia de que um país com o mercado integrado pela

globalização passa a exigir das empresas uma nova conduta que, além de atenuar

os efeitos negativos da globalização, seja capaz de atender às demandas

crescentes do mercado e da sociedade por uma atividade empresarial sustentável

dos pontos de vista ambiental, econômico e social.

O sexto capítulo desenvolvido na obra Ética e Responsabilidade Social dos

Negócios, coordenado por Ashley (2005), explica as orientações estratégicas de

responsabilidade social desenvolvidas pelas organizações empresariais de forma

genérica. Facilitando o entendimento da relação que as empresas estabelecem por

meio de ações de responsabilidade social com os possíveis stakeholders.

O primeiro apontamento é para a orientação das relações com o capital nos

requisitos da lei. Nesse ponto, a responsabilidade social é entendida como função

econômica e financeira, ou seja, maximização do lucro, atendendo aos interesses

dos acionistas da empresa sob o aspecto jurídico-legal. Isto obriga a empresa a

gerar lucros para os proprietários do capital da empresa. No entanto, essa seria uma

postura arriscada diante das próprias mudanças jurídicas, sociais e econômicas. A

segunda forma de responsabilidade social possível é as ações voltadas para a

relação com os empregados que vêem, nessa atuação, uma forma de atrair e reter

funcionários com qualificação para a empresa, promovendo uma boa imagem no

mercado. Para essa postura, a RSE é uma responsabilidade básica da gestão de

recursos humanos que devem estar de acordo com a certificação SA 8000.

(ASHLEY, 2005, p.111-113).

A Social Accountability International (SAI), organização não governamental

sediada nos Estados Unidos e criada em 1997, concebeu um programa denominado

AS 8000 que visa por meio de auditoria a certificação de que a empresa adota

condições de trabalho por promoverem o bem-estar e as boas condições de

trabalho. (PONCHIROLLI, 2007, p.84).

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Ashley (2005) continua a demonstrar as possíveis orientações de RSE de

acordo com seus stakeholders, apresentando a RSE voltada para fornecedores e

compradores. Esse enfoque, segundo a autora, transpõe a cadeia de produção e

consumo, tendo como base um comércio nacional ou internacional ético. Isto é feito,

por exemplo, nos procedimentos de seleção, capacitação, retenção de fornecedores

e procedimentos éticos nas dimensões econômica, ambiental e social. Nas relações

com compradores, a forma de atuação voltada para educação do consumidor ou

comprador e a informação sobre cuidados com seleção, uso, descarte de produtos

e serviços exemplificam o tipo de responsabilidade social. Ainda são apontados pela

autora a responsabilidade social voltada para a prestação de contas (accountability)

que é a publicação de demonstrativos ou balanços sociais e econômicos, e

apresentam transparência dos resultados de desempenho da empresa, sejam

resultados econômicos ou do desempenho social e ambiental. Como modelo mais

reconhecido mundialmente, há a Norma AA100, do Institute of Social and Ethical

Accountability, uma organização não governamental sediada em Londres. A AA100

é uma norma de accountability, com foco em assegurar a qualidade da

contabilidade, auditoria e relato social e ético. (PONCHIROLLI, 2007, p.87).

No Brasil, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Instituto de

Análises Sociais e Econômicas (IBASE) são os precursores em recomendar e

orientar modelos de publicação dos demonstrativos ou balanço social, apesar dessa

publicação ainda possuir caráter voluntário no país.

Ainda tem-se a RSE voltada para as relações com a comunidade, expressas

em ações sociais empresariais, investimento social privado ou benevolência

empresarial como aponta Ashley (2005, p.113).

As empresas podem atuar por meio de campanhas periódicas, apoiadas fortemente na mídia, o que facilita a captação de recursos, e/ou por meio de uma fundação ou instituição criada especificamente para esse fim ou um departamento ou setor responsável pela elaboração, seleção e apoio a projetos sociais.

Nesse caso, é mais evidente a relação entre marketing e causa social,

ressaltando que o empresariado brasileiro ainda está amadurecendo para a adoção

das práticas de responsabilidade social com responsabilidade.

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É fato que o cenário de desigualdades sociais no Brasil é apelativo para que

as empresas no país voltem suas ações muito mais para o público externo, ou seja,

a comunidade, na busca pela redução dos desequilíbrios sociais sob a égide da

justiça social.

A pergunta que deve ser permanentemente realizada pelos propositores e

gestores de ações de responsabilidade social empresarial seria: O conceito de

responsabilidade social assimilado nesta ação passa em sua obrigatoriedade por

razões de natureza ética? Este seria o ponto para demonstrar efetivamente a

evolução da noção assistencialista para o alcance da responsabilidade social

corporativa, como comportamento ético econômico socialmente assimilado.

Por último, Ashley (2005) aponta a orientação das ações de RSE voltadas

para o ambiente natural em busca de ecoeficiência, integrando fatores como

tecnologia, recursos, processos, produtos, pessoas e sistemas de gestão. O padrão

internacional utilizado para auditoria ambiental é a certificação ISO 14000 que

caracteriza os negócios da empresa como comércio ecossensível.

É imprescindível citar a iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações

Unidas, o Global Compact.

O Global Compact, traduzido para a língua portuguesa como Pacto Global, é

um conjunto de diretrizes que deve ser adotado voluntariamente por lideranças

corporativas para a promoção do desenvolvimento sustentável e cidadania. Em 31

de janeiro de 1999, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi A. Annan, desafiou

os líderes empresariais mundiais a “apoiar e adotar” o Global Compact, tanto em

suas práticas corporativas individuais quanto em apoio a políticas públicas

apropriadas. (PONCHIROLLI, 2007, p.89).

São várias as formas de atuação e inclusive de interpretação acerca da

responsabilidade socialmente responsável, mas para Ashley (2005) o principal

motivo para uma empresa ser socialmente responsável é que isso proporciona a ela

consciência de si mesma e de suas interações na sociedade.

Em um mundo em que a realidade de mercado muda com velocidade cada vez maior, a empresa precisa saber exatamente qual é sua missão, e a busca de um sentido ético para sua existência deve voltar-se tanto às relações de mercado quanto às relações além do mercado. (ASHLEY. 2005, p.71).

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Mesmo sendo a maximização dos lucros, a lógica vital e orgânica do sistema

capitalista, é evidente que por uma questão racional, muito mais que ideológica, os

empreendedores conhecem os riscos de investimento do seu capital. Dessa forma, o

destino do investimento impõe uma reflexão para que não se perca o ponto de vista

ético nos negócios, a fim de procurar o lucro como um impulso competitivo sem

sequer se importar o quão predatória possa ser a atividade escolhida para o

investimento. Exatamente por isso, Srour (2008, p. 227) afirma que, neste último

caso, os empreendedores confundem lucro com pilhagem e descambam para uma

postura antiética em que os interesses gerais são menosprezados em benefícios de

poucos.

Pressões externas exercidas pela sociedade nas três últimas décadas estão

levando os empreendedores a trilhar caminhos em busca da sustentabilidade

empresarial e a adotar práticas de responsabilidade social.

Em outras palavras, a lógica do sistema capitalista foi temperada por uma lógica exógena-fruto da reflexão ética e obra do ativismo político. Esse notável ponto de inflexão contribuiu para moldar o capitalismo social. Foi responsável, notadamente, por inaugurar uma nova partilha dos excedentes econômicos. Com efeito, parte menor dos lucros vem sendo convertida em ganhos sociais, beneficiando muitos públicos de interesse afora os acionistas. (SROUR. 2008 p. 229).

Mas qual o significado de um discurso que cada vez mais ganha evidência se

as ações destinadas a efetivar o discurso ético e politicamente correto não estiveram

sintonizadas com a realidade da demanda social da localidade em que as empresas

atuam, no caso deste estudo, o Brasil?

Bomeny e Pronko (2002, p.11) afirmam que:

Poucas questões parecem tão consensuais hoje em dia quanto a noção de que a educação é crucial para o desenvolvimento. Nenhum país obteve progresso econômico significativo sem expandir a cobertura da educação e melhorar sua qualidade.

As denominações dadas às intervenções sociais do empresariado são muitas:

responsabilidade social, cidadania empresarial, filantropia empresarial e assim por

diante. Assumir a denominação Responsabilidade Social Empresarial, neste estudo,

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é adotar um rigor não necessariamente conceitual, mas ético, na medida em que a

palavra responsabilidade pressupõe critério e acompanhamento rigoroso. Em

definição dada pelo dicionário Aurélio, responsabilidade é: situação de um agente

consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. Portanto, se a

empresa for realmente praticar responsabilidade social empresarial, ela necessita

acompanhar todo o processo de planejamento, propositura, gestão e avaliação de

um projeto social.

Exemplo de gestão em responsabilidade social empresarial é o Grupo de

Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) que reúne organizações de origem privada

e financiadoras de projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. O

GIFE aponta o Investimento Social Privado como uma das formas de ação da

Responsabilidade Social Empresarial. Criado em 1995, suas práticas não são

caracterizadas como doações filantrópicas assistencialistas, justamente por atuar em

busca da promoção de ações sistematizadas a longo prazo de desenvolvimento

sustentável, por meio do fortalecimento político-institucional e do apoio à atuação

estratégica de institutos e fundações de origem empresarial, e de outras entidades

privadas que realizam investimento social voluntário e sistemático, voltado para o

interesse público. (GIFE, 2009 b, online).

Alessio (2008) dedica boa parte de seu resgate histórico sobre a RSE no

Brasil ressaltando a criação e a atuação do Grupo de Instituições, Fundações e

Empresas (GIFE), como grupo de trabalho instituidor do embasamento do conceito

de “cidadania empresarial”, iniciado em 1995 no Brasil. Organizado em torno da

Câmara de Comércio Brasil–EUA em São Paulo, American Chamber of Commerce

for Brazil (Amcham), o grupo destaca o termo terceiro setor, com enfoque especial

para as organizações sociais de origem empresarial.

Para o GIFE, o investimento social privado não pode ser realizado de maneira

assistencialista, e o que diferencia a doação assistencialista do investimento social

privado é o fato de que este último realiza-se de forma planejada, verificando se a

ação é condizente tanto com o segmento da empresa quanto com as reais

necessidades da comunidade beneficiada por meio de um projeto social. A doação

deve ser monitorada, com acompanhamento dos benefícios gerados pelo

investimento social privado, além de dever ser efetuada de maneira sistemática, pois

ações esporádicas não proporcionam segurança para planejamentos futuros aos

projetos implementados. A empresa que decide realizar investimento social privado

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deve profissionalizar ou institucionalizar sua ação social com a comunidade. Ao

decidir repassar recursos privados para fins públicos, a empresa transfere, para a

área social, seu know-how de gestão, planejamento, cumprimento de metas, e sua

avaliação de resultados para promover transformação social, dessa maneira ela

estará realmente praticando investimento social privado.

3.3 Educação: um caminho transformador para o compromisso ético e cidadão.

O ser humano para se desenvolver plenamente deve estar envolvido desde a

infância em atividades diferenciadas que atendam as necessidades cognitivas,

psicológicas, sociais e culturais, levando à perspectiva universal e ampliadora do

conhecimento científico. Este é o papel da educação que ultrapassa o universo

escolar indo muito além das paredes institucionais e de doutrinas. A educação busca

a formação de cada indivíduo como cidadão, preparando-o para as práticas da

cidadania por meio de uma formação que proporcione a reflexão dos valores éticos.

Segundo Freire (1996), ensinar exige compreender que a educação é uma forma de

intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma

ruptura com o passado e o presente.

As preocupações que norteiam este estudo estão relacionadas às categorias:

ética e cidadania, levando em consideração que, para assumir estes valores, as

empresas vêm realizando investimentos em ações sociais e denominando as ações

de responsabilidade social empresarial. Torna-se, portanto, fundamental refletir

sobre as seguintes questões: o que levam as empresas a realizar investimentos

desta natureza? Que formas assumem tais investimentos? As ações realizadas e

decorrentes desses investimentos são esporádicas ou se formalizam em projetos ou

programas sociais? As empresas planejam, acompanham e avaliam essas ações

denominadas de responsabilidade social? Atuam de forma amadora ou

profissionalizam uma equipe para o gerenciamento das atividades? E, por último,

mas com certeza a pergunta que leva ao ponto central deste estudo: as empresas

investem em ações de natureza transformadora ou compensatória?

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Esta última questão leva ao cerne da proposta deste estudo: analisar o

compromisso ético e cidadão do empresariado nacional com a educação. Isto porque o

presente estudo considera ser a educação o eixo fundamental na estruturação do éthos

de um povo que traria resultados transformadores e não apenas compensatórios ao

público beneficiado por ações de responsabilidade social empresarial.

Como afirma Bittar (2004, p.76):

A conclusão primeira que se pode ter, portanto é a de que a questão ética (valor, comportamento, intenção, consciência, ação humana e inter-relação social) e a questão educacional (formação, aquisição de instrução, burilamento, preparo social) caminham lado a lado. Esse parece ser um compromisso inelutável da própria natureza do ato educacional, da própria essência de qualquer pensamento sobre a questão e também algo presente em toda a política pública para o setor.

Torna-se impossível, portanto, dissociar o tema Responsabilidade Social

Empresarial à preocupação com o processo de formação do indivíduo (ou a um

grupo de indivíduos, sociedade). Este processo está diretamente relacionado à

questão educacional por ser em sua origem o seu principal objetivo: desenvolver a

cidadania e os atributos éticos que o indivíduo reunirá em sua formação. Como

assegura Bittar: isto não significa retomar a espinhosa controvérsia de saber se a

ética é inata ou pode ser ensinada, mas significa verificar o quanto, a partir da

liberdade de escolha, pode-se oferecer ao indivíduo e à sociedade por meio da

educação. (BITTAR, 2004, p.77).

A educação tratada aqui não é vista apenas como ensino formal e escolar,

mas está se abordando o conceito de educação em seu sentido amplo e libertador,

pela concepção de Paulo Freire de que a educação proporciona a desobsessão do

indivíduo à sua condição de oprimido, a educação como compromisso ético.

A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, gênero e classe. É por essa ética inseparável da prática educativa que devemos lutar, não importa se trabalharmos com crianças, jovens e adultos. (FREIRE, 1996, p.17-18).

A área educacional é muito ampla; por isso, é importante destacar que os

dados apresentados nos Censos GIFE cobrem desde a população infantil até a

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educação continuada de adultos e consideram diversos tipos de atuação, incluindo

atividades educativas propriamente ditas, atividades complementares e apoio a

pessoas, instituições e sistemas escolares.

A Pesquisa Ação Social das Empresas do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea)1 revela que o envolvimento do empresariado com educação

apresenta modestos 23% do total de empresas, consideradas na pesquisa, atuando

nesse segmento. O destaque de atuação do empresariado nacional está voltado

recentemente para a área da alimentação, envolvendo 52% das empresas.

A própria análise realizada sobre esses dados na pesquisa afirma ser um

perfil de atendimento predominantemente de caráter emergencial no país. Para

esclarecer melhor os motivos desta questão, Alessio (2008, p.107) afirma que:

No Brasil, é fato que as necessidades básicas de grande parcela da população ainda não estão sendo supridas. Questões relativas à sobrevivência, à fome, ao desemprego e à exclusão social, dentre outras, remetem a outro patamar, as discussões acerca da responsabilidade social das empresas. Os primórdios das discussões sobre responsabilidade social empresarial nos EUA e Europa, eram problemas relativos ao meio ambiente e aos direitos dos consumidores; a realidade brasileira suscita outros questionamentos, muito mais intensos e urgentes de serem enfrentados e solucionados.

Essa é uma questão que não exclui de forma alguma a educação como

prioridade, uma vez que também é importante destacar que ações de caráter

emergenciais, bem como as voltadas para a questão da fome no Brasil, possuem

apelo social muito forte desde a criação da Campanha Nacional de Ação da

Cidadania contra a Miséria e pela Vida de 1993, e o Programa Fome Zero do

Governo Federal brasileiro que visa assegurar o direito humano à alimentação

adequada às pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos.

1 A Pesquisa Ação Social das Empresas é um retrato da participação do setor empresarial em atividades sociais voltadas para as comunidades mais pobres. A Segunda Edição da Pesquisa aqui citada foi iniciada em julho de 2004, e seus resultados finais foram lançados em julho de 2006 e tem como objetivo principal atualizar e aprofundar o conhecimento sobre as atividades ou doações que as empresas das regiões Sudeste e Nordeste realizaram, em 2003, e Sul, Centro-Oeste e Norte, em 2004, para atender às comunidades com serviços de saúde, educação, alimentação, meio-ambiente, capacitação e desenvolvimento comunitário, dentre outros. O que se quer saber é o que as empresas fizeram na área social e que não se limitou aos benefícios concedidos aos seus empregados e familiares, e como esse comportamento tem se modificado do final da última década até os dias atuais.

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O Grupo de Instituições, Fundações e Empresas (GIFE) aponta a educação

como eixo fundamental para as práticas de Responsabilidade Social no país.

Há consenso crescente, na sociedade brasileira, de que as limitações do sistema educacional são o principal entrave que o país necessita enfrentar para superar seus problemas de pobreza, desajuste e desigualdade social. Isso se reflete nas atividades dos associados do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), que fazem da educação sua área prioritária de atuação, como revelado no Censo GIFE 2005/2006. Das 68 instituições que deram informações sobre suas áreas de atividade, 55 executam ou financiam projetos na área de educação, 26 executam projetos próprios, 13 financiam terceiros e 16 fazem as duas coisas. Do total, 34 indicaram o valor de seus investimentos em educação, que somaram cerca de 124 milhões de reais em 2005, ou seja, 28% dos investimentos sociais relatados. Estima-se que o investimento total deva ser de pelo menos o dobro desse valor. (GIFE, 2006b, p.14).

A base de associados GIFE cresceu 208% em treze anos conforme descrito

em página própria na internet da Rede GIFE de Investimento Social Privado. A rede

completa dos associados GIFE é composta no total por 120 associados entre

institutos, fundações e empresas.

Os dados atualizados do último Censo GIFE apontam que, entre o total de

seus associados, 25% são Fundações de origem corporativa, 29% associações ou

institutos de origem corporativa, 6% holdings e 18% empresas únicas, compondo um

total de 24% de empresas. Portanto, predominam associados de origem corporativa,

e, por essa razão, o GIFE torna-se representação significativa do empresariado

nacional para o presente estudo, uma vez que 72% do capital total das empresas e

mantenedoras associadas ao GIFE são de origem nacional.

Educação, geração de trabalho e renda, apoio à gestão do terceiro setor,

desenvolvimento comunitário de base, meio ambiente, assistência social, saúde,

defesa dos direitos, esportes e comunicações são as áreas de atuação dos

associados GIFE. Para atingir a missão de disseminar e aperfeiçoar conceitos e

práticas de investimento social privado, o GIFE realiza edições regulares de livros e

guias que oferecem informações para o desenvolvimento de ações sociais. Entre as

edições, o Censo GIFE representa um mapeamento sobre o Investimento Social

Privado (ISP) de seus associados no Brasil.

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Censo GIFE 2007-2008 é a quarta edição que vêm sendo publicada pelo

Grupo de Institutos e Fundações e Empresas (GIFE), divulgando informações sobre

os maiores investidores sociais privados do país. Dessa forma, o GIFE começa a

traçar cruzamentos que permitem conhecer mais a fundo as características do

associado GIFE e, por extensão, do investidor social privado brasileiro, uma vez que

juntos os associados da rede GIFE representam um investimento de R$ 1,15 bilhão

em diferentes áreas sociais, principalmente Educação, Formação para o trabalho,

Cultura e artes, e Geração de trabalho e renda.

É importante destacar que os associados GIFE representam uma fatia

altamente significativa e relevante do empresariado nacional, pois seus

investimentos correspondem a 20% do que o setor privado nacional destina à área

social, cerca de R$ 4,7 bilhões, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea), por meio da pesquisa Ação Social das Empresas: "Bondade ou

Interesse? Como e por que as empresas atuam na área social"2.

A pesquisa do último Censo GIFE teve como parceiros o Instituto Brasileiro de

Opinião Pública e Estatística (IBOPE) Inteligência, Instituto Paulo Montenegro e

apoio financeiro do Instituto Ibi de desenvolvimento social. Foram entrevistados 80

associados.

É importante destacar que o GIFE possui associados com diferentes

estratégias de ação, ou seja, os investidores do GIFE atuam em ações de

responsabilidade social de três formas: há os operadores dos seus próprios projetos,

há financiadores de projetos de terceiros e há atuações mistas, ou seja, investidores

que atuam tanto em projetos próprios quanto em projetos de terceiros. Todas essas

formas de atuação diferenciam-se de ações assistencialistas e da filantropia como

simples doação, porque, independentemente da análise do perfil3, as ações sociais

protagonizadas pelas empresas, fundações ou institutos do GIFE, são planejadas,

monitoradas, sistematizadas e avaliadas permanentemente.

2 465 companhias aplicam 0,4% do PIB (R$ 4,7 bilhões) em projetos sociais valor próximo ao que o país investe

em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Esses recursos são considerados privados, visto que apenas 6% das empresas, deste universo, utilizam-se de incentivos fiscais.

3 A análise do perfil diz respeito à origem institucional do associado GIFE – isto é, se ele é de origem corporativa, familiar, comunitária ou independente. Sendo assim, os dados encontrados são claros em evidenciar a predominância do investimento corporativo. Entre as 61 associações e fundações, nada menos do que 44 têm mantenedor corporativo, chegando a um total de 79% de associados de perfil empresarial. Cada vez mais, percebe-se no Brasil e no mundo que esse tipo de investidor social tem características específicas: o investidor corporativo revela-se mais operador de seus próprios projetos do que financiador de terceiros; tem horizonte de planejamento e ação de curto prazo; concentra suas áreas de ação em temas mais relacionados ao seu entorno e a seu ambiente de negócios, entre outras características. (GIFE, 2008, online).

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Essa postura que diferencia investimento social privado de caridade é

anunciada pelo GIFE. Diferentemente do conceito de caridade, que vem carregado da noção de assistencialismo, os investidores sociais privados estão preocupados com os resultados obtidos, as transformações geradas e o envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ação. (GIFE, 2009c, online).

A cada publicação do Censo GIFE é dado um enfoque específico de acordo

com a área de atuação prioritária dos investidores. O Censo 2005-2006 estava

voltado para a Educação, como foco principal das ações dos investidores sociais

brasileiros. Nesse período, o GIFE realizou uma publicação separada do censo que

analisava o investimento em todas as áreas do grupo, publicando o Censo GIFE

Educação. Essa publicação proporcionou a criação de um amplo painel dos

investimentos sociais na área educacional efetuados pelo setor privado, a partir da

análise das atividades desenvolvidas nesse segmento pelos integrantes do GIFE.

O estudo indicou as áreas que receberam mais apoio das organizações

associadas ao GIFE e quantificou as entidades e as pessoas beneficiadas naquele

período. Os resultados das iniciativas atestaram que a educação foi, sem dúvida, o

foco prioritário das atividades de responsabilidade social promovidas pela rede de

associados do GIFE, indicando 55 associados que executam ou financiam projetos

na área educacional entre o total de 68 organizações que responderam ao Censo

GIFE Educação 2005-2006.

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TABELA 1 – Áreas de atuação: associados, entidades e pessoas beneficiadas e recursos investidos dos associados GIF. Censo 2005-2006.

Fonte: GIFE, Censo Educação 2005-2006. Quadro 1 ,p.15

O Censo GIFE 2007-2008 é a publicação mais recente do GIFE e sistematiza

as informações de investimento social privado efetuado pelos associados GIFE

desde as publicações anteriores, traçando um perfil do comportamento dos

associados GIFE em investimento social.

O primeiro levantamento censitário do GIFE foi feito em 2001 e revelou a situação do Investimento Social Privado entre 63 associados nos anos de 1997 a 2000. A segunda edição, divulgada em 2005, trouxe dados sobre os recursos investidos e as ações desenvolvidas ao longo de 2004 pelos então 71 associados ao GIFE. A terceira edição, lançada em 2006, apontava desafios, soluções e contradições do setor, com maior número de dados, obtidos com 72 respondentes, dentre os 91 associados à época. (GIFE, 2008, online p.23).

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A publicação do Censo GIFE 2007-2008 enfocou especificamente a

juventude, visto que esta é a faixa etária identificada com maior número de

investidores entre seus associados.

Mesmo não possuindo uma publicação específica para o eixo educação, na

última edição desse censo, o tema continuou em destaque em relação aos demais

temas de investimento, de forma a dar continuidade ao olhar iniciado há dois anos

com o Censo GIFE Educação.

Assim como na edição de 2005-2006, o Censo GIFE 2007-2008 identificou a

educação como área de maior volume de investimentos representando a escolha de

atuação de 83% dos associados, entre o período da pesquisa realizada para o

censo que foi de novembro de 2007 a março de 2008.

Por ser a educação uma área abrangente e atuante que atinge desde infância

até a fase adulta, o último Censo GIFE dedicou-se a analisar a faixa etária em que

se concentravam neste período os Investimentos Sociais Privados (ISP) de sua

rede. Foi identificado pelo Censo 2008 que sua rede de associados concentrou-se

na juventude como foco de atuação. A faixa etária considerada juventude para este

Censo foi dividida em três grupos, sendo estes de 15 a 17 anos, de 18 a 24 anos e

de 25 a 29 anos.

Os dados comprovam que 81% dos associados investem em uma destas

faixas etárias. Isto demonstra, primeiramente, que os empresários seguem as

diretrizes sociais apontadas pelo setor público como resposta ao aumento das

políticas públicas para a inserção de jovens no mercado de trabalho, como é o caso

da Lei do Aprendiz. Assim como demonstra que esse investimento na juventude está

em sintonia com o próprio crescimento demográfico do país que revela o aumento

percentual do número de jovens com relação à população total do país.

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TABELA 2 - Percentual de atuação dos associados GIFE por área. Censo 2007-2008.

Fonte: GIFE, Censo 2007-2008. Tabela 28, p.53-54.

Em 2005, os investimentos em educação somavam 124 milhões de reais. Em

2007, os associados ao GIFE destinaram cerca R$ 400 milhões para atividades na

área de educação, isto significa aproximadamente um terço do total de investimentos

dos associados GIFE. Portanto, os dados do Censo 2005, em relação ao Censo de

2007, apresentam um crescimento percentual de 222,58% de investimento na área

educacional.

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TABELA 3 – Linhas de ação prioritárias na área de educação

Fonte: GIFE, Censo Educação 2005-2006. Quadro 05, p.31

A tabela 3 aponta os resultados do Censo Educação de 2005-2006 em

relação às linhas de pesquisa prioritárias para os investimentos em educação. É

demonstrado, nesta tabela, que a maioria dos associados GIFE desenvolvia, nesse

período, ações diversificadas para grupos que iam desde a faixa etária de zero a 3

anos, até a educação superior e pós-graduação, visto que o segmento da educação

especial e técnica também foram considerados. Dentre todos os grupos, as

atividades de formação de professores predominam sobre as demais seguidas de

atividades de complementação da educação regular. Segundo análise desse censo,

as atividades são desenvolvidas na forma de oficinas de arte e atividades de

complementação e reforço escolar, seguidas por várias atividades de transferência

de recursos, bem como bolsas de estudo, doações de equipamentos e material

escolar. Em 2007-2008, o Censo deu prioridade à juventude, portanto, não foi

apresentado entre os dados específicos de linhas de ações prioritárias na área de

educação, mas foi destacado que, entre as linhas de ação, projetos/programas,

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destinados à juventude 64% dos associados, atuam voltados para a formação

profissional não regular.

TABELA 4 - Investimentos em Educação

Fonte: GIFE, Censo 2007-2008. Tabela 30,p.56.

Também é possível verificar pela tabela 4 que, entre os investidores na área

de educação, os maiores investimentos são dos associados que operam os próprios

projetos. Isto significa que a empresa apresenta alta maturidade e comprometimento

no controle das ações sociais realizadas. Os dados desse censo apontam também 4

milhões de pessoas e mais de 52 mil entidades como beneficiadas em projetos de

Educação.

TABELA 5 - Número de entidades e pessoas beneficiadas em projetos de Educação

Fonte: GIFE, Censo 2007-2008. Tabela 31, p.56.

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Entre as áreas de atuação dos projetos de educação, foram identificadas 38

ações direcionadas para a educação regular, 30 para atividades extracurriculares,

26 para educação não regular e 16 atividades educacionais de apoio às famílias. No

total de 66 respondentes entre os associados GIFE, foram realizados 110 projetos

destinados à educação, sendo aproximadamente 65,5% dos projetos não

direcionados à educação formal. Um dos fatos que chama a atenção no Senso GIFE 2007 é o dado de que

74% dos associados da Rede GIFE de Investimento Social Privado adotam práticas

de monitoramento em todas as ações que desenvolvem e 68% dos 80 associados

que responderam ao Censo GIFE 2007-2008 relataram adotar práticas de avaliação

de resultados. Portanto, são mensurados os impactos do projeto no público alvo e

esse tipo de avaliação permite elaborar um histórico do próprio projeto que pode ser

constantemente alimentado para que sejam efetuadas as correções em suas

estratégias de ação para cada novo processo de planejamento. Esta é uma forma

continuada de exercer a responsabilidade social e de transformar os projetos em

programas permanentes. Este acompanhamento dos projetos também proporciona

que o projeto não se afaste do seu objetivo primordial, ainda mais quando o foco

adotado é a educação que deve ser entendida como um processo de transmissão e

aquisição de valores, de cultura e de conhecimento.

Esta é uma questão relevante para esta dissertação, por apontar claramente

a educação como foco primordial para ações de responsabilidade social, uma vez

que este segmento possui capacidade de desenvolver nos indivíduos as

competências básicas que lhe permitirão continuar estudando e se aperfeiçoando ao

longo da vida.

Em contrapartida ao Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), a

Pesquisa Ação Social das Empresas (Ipea) demonstrou tanto na primeira edição de

2000 quanto na edição de 2004 que a atuação do empresariado nacional

concentrou-se em atividades voltadas para alimentação e assistência social. Essas

ações não estão necessariamente formalizadas em projetos de responsabilidade

social empresarial, assim como não tratam o conceito com a mesma delimitação

realizada por esta dissertação que destacou o conceito como a forma de gestão que

se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos, com

os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que

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impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade. (INSTITUTO ETHOS DE

RESPONSABILIDADE SOCIAL, 2009, online).

Por esse motivo, não é possível afirmar que esta pesquisa representa um

mapeamento da responsabilidade social empresarial no Brasil, como identifica-se na

afirmação no trecho abaixo retirado da própria pesquisa do Ipea.

Inicialmente, é importante registrar que o conceito utilizado pela Pesquisa para definir ação social empresarial foi, deliberadamente, amplo, tendo sido considerada qualquer atividade que as empresas realizaram, em caráter voluntário, para o atendimento de comunidades nas áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, entre outras. Essas atividades incluem desde pequenas doações eventuais a pessoas ou instituições, até grandes projetos mais estruturados. Foram excluídas do conceito de ação social, portanto, as atividades executadas por obrigação legal, como, por exemplo, as contribuições compulsórias às entidades integrantes do chamado Sistema “S” (Sebrae, Sesi, Sesc, Senac, Senai, Senat, Sescoop e Senar). (IPEA, 2006 p.4).

Esta pesquisa do Ipea é um mapeamento da participação do setor

empresarial em atividades sociais voltadas para as comunidades mais pobres e

reproduz, com algumas inovações, um levantamento anterior, realizado pelo Ipea, no

final dos anos de 1990. A segunda edição atualizou os dados e iniciou a construção

de uma série histórica sobre o comportamento das empresas na área social. A

coleta de dados foi realizada em anos diferentes para as regiões pesquisadas. Na

última edição, a qual é utilizada para esta dissertação, o estudo se deu-se em dois

anos: nordeste e sudeste foram pesquisados em 2004 e as demais regiões em

2005, a publicação, portanto, ocorreu em 2006.

Os dados de 2004 apresentaram um crescimento das ações na área de

alimentação que, como consequência, tornou-se a área prioritária de atendimento,

envolvendo, em 2004, 52% das empresas, contra 41% daquelas que se dedicam à

área de assistência social. Acredita-se que essa mudança de comportamento esteja

relacionada à mobilização nacional e, até mesmo, internacional, em torno do

problema da fome que foi destacada na agenda das prioridades sociais do país.

Portanto, a característica das ações identificadas por esta pesquisa aponta um

comportamento do empresariado nacional ainda dedicado a questões de caráter

emergencial e, saindo do ambiente das organizações associadas ao GIFE, ainda

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tem-se modestos 23% de envolvimento de empresários apontados pelo Ipea em

relação às atividades na área da educação.

Mesmo que a história do empresariado brasileiro mostre que desde a década

de 1930, período da emergência da produção industrial no Brasil, os empresários

brasileiros participavam ativamente na definição, no controle e no apoio ao

investimento em mão de obra. Foi apenas a partir da década de 1990 que se

associou o investimento empresarial a uma atuação consciente e articulada da

sociedade civil, associada à luta pelos direitos civis e a um novo marco de cidadania.

(BOMENY; PRONKO, 2002).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Buscou-se apontar a evolução da responsabilidade social empresarial no

mundo e no Brasil, reafirmando o objetivo desta pesquisa de averiguar o

compromisso ético e cidadão do empresariado nacional com a educação, por meio

das práticas de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) denominadas

Investimento Social Privado. Foi ressaltado para este fim, o Grupo de Institutos,

Fundações e Empresas (GIFE) que possui cerca de 80% de associados de perfil

corporativo.

A trajetória da própria assistência social no país relacionada às organizações

cristãs e às ações filantrópicas e assistencialistas acompanhou a inserção do

conceito de responsabilidade social no Brasil que, do início dos anos 80 até o fim

dos anos 90, verificou-se a consolidação de importantes fundações, institutos e

organizações da sociedade civil ligados ao meio empresarial. O foco para a questão

da ética culminou no chamado comportamento empresarial ético e responsável.

Enfatizou-se o final da década de 1990 na disseminação do conceito de RSE,

realizando uma reflexão sobre o predomínio do perfil de investidor corporativo no

Brasil, a partir de apontamentos históricos como os apresentados no segundo

capítulo. Este capítulo ressaltou o processo de redemocratização e abertura

econômica do país, e destacou a década de 1990 como um marco dos

investimentos em projetos sociais em que foi possível verificar padrões éticos na

relação entre empresas e seus públicos de interesse (fornecedores, funcionários,

clientes, governo e acionistas), além da adoção de práticas ambientais sustentáveis.

Também foram destacas, nesse período, ações mais organizadas tanto

sistematicamente quanto estrategicamente voltadas para o tema responsabilidade

social empresarial.

Além das transformações destacadas no mundo do trabalho nesse período,

apresentou-se o dado de que 72% das fundações e associações nacionais da rede

GIFE foram criadas a partir de 1989 a 2006, comprovando que esse período,

realmente possibilitou a discussão e abertura para o tema da responsabilidade social

no Brasil.

O Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) foi apresentado como a

primeira associação da América do Sul a reunir empresas, institutos e fundações de

origem privada ou instituídos que praticam investimento social privado – repasse de

recursos privados para fins públicos, por meio de projetos sociais, culturais e

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ambientais, de forma planejada, monitorada e sistemática. Esta associação teve

papel significativo para amostragem do empresariado nacional devido ao fato de que

seus associados respondem por cerca de 20% do montante total investido na área

social pelo setor privado, reunindo os maiores investidores do país principalmente

em educação como demonstraram os dados no terceiro capítulo.

Identifica-se pela análise bibliográfica que organizações como o GIFE e

Instituto Ethos de Responsabilidade Social estão desempenhando um papel

importante no país de sensibilização do setor empresarial para o investimento social.

Além disso, as organizações indicam os setores ou as áreas para os investimentos

serem realizados de forma positiva, ou seja, o GIFE e o Instituto Ethos de

Responsabilidade Social orientam o empresariado nacional associado a estabelecer

uma relação racional entre custo e resultado, de acordo com a realidade social do

país. Investir apoiando a escola pública, por exemplo, tem sido identificado como um

grande exemplo de boa aplicação de energia e recursos.

O estudo sobre o comportamento médio do setor privado, realizado pelo Ipea,

divulgado por meio da pesquisa A iniciativa privada e o espírito publico: a evolução

da ação social das empresas privadas no Brasil, certamente demonstrou grandes

diferenças de comportamento, principalmente em relação à área de atuação

preferencial se comparado ao perfil dos associado GIFE.

O uso dos dados do Censo GIFE aliado aos demais estudos quantitativos e

qualitativos apresentados nesta dissertação permitiu avançar a discussão sobre

responsabilidade social empresarial, no sentido de que os dados comprovam o

profissionalismo e a efetividade de ações desta natureza.

Pelo Censo GIFE, foi possível perceber que há uma forte cultura no Brasil de

envolvimento direto do investidor na área social, em projetos e estruturas próprias –

para esta dissertação, foram apresentados os dados relacionados aos investimentos

em educação e, neste caso, confirmou-se que os maiores investimentos na área de

educação são provenientes de organizações que operam os próprios projetos.

Dessa forma, foi destacada a necessidade de se dedicar e aprofundar a

temática sobre o Investimento Social Privado no Brasil, ressaltando a educação

como prioridade para o desenvolvimento do país, assim como a necessidade de se

reconhecer a influência que fundações, institutos e empresas de origem empresarial

podem alcançar no país em torno da questão social, seja operando ou financiando

de maneira responsável ações pelo bem comum. Os conceitos de Ética e Cidadania

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foram ressaltados como categorias fundamentais da responsabilidade social. Estes

conceitos foram reconhecidos como precursores para o compromisso efetivo do

empresariado nacional com ações sociais. Para os investimentos sociais privados

realizados na área educacional, destacou-se também a relevância da ética nos

ambientes corporativos, a fim de proporcionar um reexame da compreensão da

responsabilidade do empresariado nacional com a comunidade interna e externa à

corporação.

Destacou-se a relevância de atuar de maneira altamente profissionalizada

desde a propositura, gestão e avaliação das ações direcionadas à responsabilidade

social empresarial, revelando que o compromisso ético de uma organização não

está apenas nos tipos de ações com as quais se envolve, mas na forma como as

ações são conduzidas reafirmando que para que se faça o bem é preciso fazer bem

feito.

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REFERÊNCIAS

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