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Patologias do sistema musculoesquelético: achados de imagem Neysa Aparecida Tinoco Regattieri 1 Rainer Guilherme Haetinger 2 1 INTRODUÇÃO As modalidades diagnósticas utilizadas para o estudo do sistema musculoesquelético são a radiologia convencional, a tomografia computadorizada, a ressonância magnética e a ultrassonografia. Esta última não será discutida pois não faz parte do processo de trabalho do técnico em radiologia. O médico assistente escolherá a modalidade de diagnóstico por imagem a ser utilizada, na dependência da suspeita clínica. Outras modalidades diagnósticas incluem a tomografia por emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada (PET-CT) e exames por medicina nuclear. Esses métodos, porém, não serão abordados neste capítulo. A tomografia computadorizada oferece vantagens sobre a radiologia convencional por ser um método que possui maior acuidade na identificação de diferentes densidades teciduais. Também elimina o problema de sobreposição de estruturas, pois é obtido por meio de cortes seccionais transversais. O estudo por ressonância magnética é a modalidade de exame que fornece melhor contraste entre os tecidos quando comparada à radiologia convencional e à tomografia computadorizada, tornando essa modalidade de exame de grande valia nas avaliações das lesões do sistema musculoesquelético 1 . 1 Médica Radiologista. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutora em Ciências, área de concentração Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Mestre em Medicina, área de concentração Radiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do curso Superior de Tecnologia em Radiologia. 2 Médico Radiologista na área de Cabeça & Pescoço e coordenador da Tomografia Computadorizada da Med Imagem, Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutor em Ciências na área de Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Professor da Pós-graduação no Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

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Patologias do sistema musculoesquelético: achados de imagem

Neysa Aparecida Tinoco Regattieri1

Rainer Guilherme Haetinger2

1 INTRODUÇÃO

As modalidades diagnósticas utilizadas para o estudo do sistema

musculoesquelético são a radiologia convencional, a tomografia computadorizada, a

ressonância magnética e a ultrassonografia. Esta última não será discutida pois não

faz parte do processo de trabalho do técnico em radiologia. O médico assistente

escolherá a modalidade de diagnóstico por imagem a ser utilizada, na dependência

da suspeita clínica. Outras modalidades diagnósticas incluem a tomografia por

emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada (PET-CT) e exames

por medicina nuclear. Esses métodos, porém, não serão abordados neste capítulo.

A tomografia computadorizada oferece vantagens sobre a radiologia convencional

por ser um método que possui maior acuidade na identificação de diferentes

densidades teciduais. Também elimina o problema de sobreposição de estruturas,

pois é obtido por meio de cortes seccionais transversais.

O estudo por ressonância magnética é a modalidade de exame que fornece melhor

contraste entre os tecidos quando comparada à radiologia convencional e à

tomografia computadorizada, tornando essa modalidade de exame de grande valia

nas avaliações das lesões do sistema musculoesquelético1.

1Médica Radiologista. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutora em Ciências, área de concentração

Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Mestre em Medicina, área de concentração Radiologia pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do curso Superior de

Tecnologia em Radiologia.

2Médico Radiologista na área de Cabeça & Pescoço e coordenador da Tomografia Computadorizada da Med Imagem,

Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Doutor em Ciências na

área de Anatomia Morfofuncional pela Universidade de São Paulo. Professor da Pós-graduação no Departamento de

Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

2 MODALIDADES DIAGNÓSTICAS

2.1 Radiologia Convencional

A radiologia convencional é usada, até os dias de hoje, para se caracterizar

morfologicamente, uma lesão óssea de origem neoplásica. Muitas vezes, é o

primeiro exame em traumas desse sistema1.

Pode ajudar também na caracterização de processos degenerativos e inflamatórios

crônicos2.

2.2 Tomografia Computadorizada

O advento da ressonância magnética (RM) fez com que a tomografia

computadorizada (TC) deixasse de ser o método de escolha, em algumas situações,

para o estudo de várias patologias do sistema musculoesquelético.

Quanto aos casos de traumatismos, a TC ainda é largamente utilizada, pois permite

a obtenção de informações rápidas e, em alguns equipamentos, a possibilidade de

reformatações em três dimensões (3D). Deve ser utilizada quando exames obtidos

pela radiologia convencional falharem em demonstrar toda a extensão da lesão,

como por exemplo em traumatismos da coluna vertebral com comprometimento

neurológico3.

Tanto a TC quanto a RM são utilizadas no diagnóstico e seguimento das doenças

articulares, quando há suspeita de complicações1.

2.3 Ressonância Magnética

Os estudos por RM, quando comparados com a radiologia convencional e a TC,

permitem uma melhor avaliação de estruturas que compõem o sistema

musculoesquelético, tais como1:

Tendões, cartilagens, ligamentos e medula óssea

Permitem a detecção de edema ósseo e fraturas não diagnosticadas pelo

exame de radiologia convencional, o estadiamento de tumores e a avaliação

de infecções musculoesqueléticas

A RM permite a obtenção de imagens multiplanares, ou seja, em outros planos que

não o axial, tais como o sagital, o coronal e o oblíquo.

Como os exames realizados por RM permitem caracterização de sinal distinto nas

diversas ponderações utilizadas, é uma ferramenta de grande valia na avaliação de

processos inflamatórios e em edemas secundários a lesões de diversas etiologias.

A RM pode ser utilizada como ferramenta de auxílio para avaliação da extensão do

comprometimento, tanto da parte óssea quanto das partes moles circundantes, nos

casos de neoplasias ósseas malignas4.

3 ATLAS DE PATOLOGIAS DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO

3.1 Aspectos de Imagem das neoplasias ósseas

Para que sejam diferenciadas lesões ósseas com características de agressividade

daquelas com características de benignidade, é necessário o reconhecimento de

alguns critérios estabelecidos pela literatura médica4. Um exame de boa qualidade

deve permitir responder a algumas questões importantes, tais como:

A lesão é delimitada por margens escleróticas?

Há destruição da cortical óssea?

Qual o tipo de reação periosteal observado?

Há uma região de transição entre o osso normal e aquele acometido pelo

processo patológico?

Há envolvimento das partes moles circundante ao segmento ósseo

acometido?

3.1.1 Neoplasias malignas

As lesões de natureza maligna destroem a cortical óssea. Sua reação periosteal,

que nada mais é do que a resposta do periósteo a um estímulo, ocorre de maneira

mais aguda, sem tempo suficiente para sua consolidação. Dessa maneira, lesões

agressivas possuem aspecto lamelar, como no sarcoma de Ewing ou do tipo raios

de sol, como observado nos osteossarcomas. A zona de transição dessas lesões

com o osso normal é quase imperceptível. Isso fala a favor da agressividade da

lesão, o que não significa que essa lesão seja maligna. Um exemplo de doença com

esse tipo de acometimento é a osteomielite, que, apesar de sua agressividade, é

uma doença benigna, na qual a zona de transição entre o osso comprometido e o

normal é, muitas vezes, de difícil delimitação. Nas neoplasias malignas, células de

origem cancerígena podem invadir as partes moles circundantes ao sítio primário da

lesão4,5.

3.1.1.1 Sarcoma de Ewing

É um tumor maligno que tem sua origem na medula óssea vermelha. Essa doença

acomete, preferencialmente, indivíduos do sexo masculino, entre os cinco e vinte e

cinco anos de idade, sendo seu pico de incidência por volta dos quinze anos. Seu

aspecto de imagem é a de uma lesão destrutiva, que acomete a medular da metáfise

de um osso longo, preferencialmente o fêmur. Pode acometer ossos chatos. Quando

isso ocorre, os principais ossos acometidos são o sacro e a escápula. Nas imagens

obtidas por radiologia convencional e por tomografia computadorizada pode-se

observar ruptura da cortical óssea, reação periosteal em camadas e

comprometimento das partes moles circundantes. Esse tumor pode simular uma

lesão por osteomielite4,5,6,7. Nas imagens obtidas por ressonância magnética,

quando ponderadas em T1, esse tipo de sarcoma apresenta intensidade de sinal de

moderada a baixa (Figura 1).

Figura 1 - Sarcoma de Ewing.Exame por ressonância magnética ponderada em T1. Cortes coronal

(A) e axial (B) do ombro direito demonstrando lesão com intensidade intermediária em medular óssea

do terço proximal do úmero, com invasão das partes moles adjacentes.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)

Nas imagens ponderadas em T2 e em STIR, essas lesões apresentam intensidade

de sinal aumentada7(Figura 2).

Figura 2 - Sarcoma de Ewing. Exame por ressonância magnética nos planos coronal (A) e axial (B) na

sequência STIR do ombro direito, demonstrando alterações na cortical. Nessa sequência observa-se

aumento de sinal do tumor com boa definição da extensão da lesão na medular óssea e do edema

peritumoral.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)

3.1.1.2 Osteossarcoma

È uma lesão maligna. Responde por aproximadamente 20% de todos os tumores

ósseos primários7. Esse tumor acomete preferencialmente a extremidade de ossos

longos4. Nas imagens obtidas pela radiologia convencional observa-se uma massa

de origem intramedular, destrutiva, sem definição das bordas de transição entre a

lesão e o osso normal. Possui reação periosteal agressiva com aspecto em raios de

sol (Figura 3).

Figura 3 - Osteossarcoma. Radiografia em AP da perna esquerda demonstrando lesão expansiva

predominantemente osteoblástica com comprometimento periosteal.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

Na ressonância magnética, quando há presença de matriz óssea, o tumor apresenta

baixa intensidade de sinal nas imagens ponderadas em T1 e em T2. Quando há

matriz óssea mineral, apenas a massa de partes moles possui intensidade de sinal

intermediária nas imagens ponderadas em T1. Naquelas ponderadas em T2, a

intensidade de sinal é alta7 (Figura 4).

Figura 3 - Osteossarcoma. Exame por ressonância magnética demonstrando lesão expansiva óssea

que apresenta hipointensidade em T1 e impregnação heterogênea após a injeção do contraste

paramagnético.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.1.2 Neoplasias benignas

Lesões de origem benigna podem apresentar margens escleróticas, ou seja, com

maior densidade óptica, pois esses tumores possuem crescimento lento, permitindo

um depósito ósseo em maior espaço de tempo. Sua reação periosteal costuma ser

sólida, sem interrupção. Podem afilar a cortical óssea de modo a deixá-la quase

imperceptível, porém não a rompem.

3.1.2.1 Osteocondroma

O osteocondroma é o tumor ósseo benigno mais comum, sendo também conhecido

pelo nome de exostose. Pode tornar-se maligno, após degenerar sob a forma de

condrossarcoma em 1 a 2% dos casos. Isto pode ocorre em lesões solitárias. Essa

neoplasia benigna é constituída por osso e cartilagem, sendo que a cartilagem pode

calcificar tardiamente. Geralmente acomete as extremidades distais dos ossos

tubulares longos, porém os locais mais frequentemente acometidos são a

extremidade distal do fêmur e as extremidades superior e inferior da tíbia. São

lesões assintomáticas, mas, quando crescem muito, podem comprimir estruturas

circundantes causando dor ou alteração funcional. Seu aspecto de imagem é o de

uma lesão que possui um pedículo e seu crescimento ocorre em direção oposta ao

da articulação. A cortical do tumor tem continuação com a do osso acometido

(Figura 5). Esta lesão tem início na infância e para de crescer com a fusão das

epífises. Nos exames por ressonância magnética, apresenta sinal intermediário nas

imagens ponderadas em T1. Nas imagens ponderadas em T2, o osteocondroma

possui alta intensidade de sinal em seu constituinte cartilaginoso (Figura 6). A

radiologia convencional é a modalidade de diagnóstico por imagem preferencial para

a avaliação inicial dessa alteração.

Figura 4. - Radiografia demonstrando osteocondroma em terço proximal do fêmur.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

Figura 5 - Osteocondroma. Exame por ressonância magnética demonstrando uma formação

expansiva óssea em diáfise proximal do úmero. Lesão apresentando base larga (séssil).

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

A tomografia computadorizada e a ressonância magnética são reservadas para a

avaliação da porção cartilaginosa dessa neoplasia4,5,7.

3.1.2.2 Fibroma não ossificante

É uma lesão radiotransparente, assintomática e sua localização característica é a

metáfise cortical do osso. É excêntrica e circundada por uma fina lâmina de

esclerose. O exame obtido pela radiologia convencional é a modalidade diagnóstica

de escolha para seu diagnóstico (Figura 7). A extremidade distal do fêmur e as

regiões proximais ou distais da fíbula e da tíbia são os sítios de acometimento

preferencial. Crianças e adultos jovens são os indivíduos acometidos. Como tende a

desaparecer, raramente é encontrado após os trinta anos de idade4,5.

Figura 6 - Fibroma não ossificante. Radiografia anteroposterior e em perfil do joelho direito

demonstrando lesão radiolucente justacortical com margem esclerótica fina e bem definida, com

reação periostal e septações em seu interior.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.2 Fraturas

O termo fratura refere-se a interrupções da superfície óssea, geralmente causadas

por trauma direto8.

A radiologia convencional costuma ser, na maioria das vezes, o primeiro exame a

ser solicitado. Um exame de boa qualidade deve permitir responder a algumas

questões importantes, tais como:

A fratura é completa ou incompleta? Fraturas completas comprometem as

duas superfícies corticais vistas na radiografia simples. Podem ser

classificadas como transversas, oblíquas ou em espiral, quando avaliadas em

relação ao seu plano de orientação. Fraturas incompletas acometem apenas

uma superfície da cortical óssea.

Há deslocamento de um dos fragmentos ósseos?

As superfícies articulares estão deslocadas totalmente ou parcialmente entre

si?

Para que essas questões sejam respondidas de forma adequada, é necessário que

o exame de radiografia seja obtido em pelo menos duas incidências ortogonais pois,

algumas vezes, a linha de fratura é vista somente em uma dessas incidências5.

3.2.1 Fratura por estresse ou fadiga

Pode ter o aspecto de uma lesão agressiva. Caso o quadro clínico apresentado pelo

indivíduo não seja característico, e as imagens obtidas pela radiologia convencional

não sejam diagnósticas, deve-se realizar outro estudo uma a duas semanas após o

primeiro, sem que isto signifique que a radiografia obtida anteriormente seja de baixa

qualidade diagnóstica. Nesses casos, tanto a tomografia computadorizada quanto a

ressonância magnética podem ajudar na demonstração desses tipos de

fratura4(Figura 8).

Figura 7 - Fratura de estresse. Radiografia do pé demonstrando um espessamento fusiforme da

cortical óssea (reação periosteal) no terço médio da diáfise do 2º metatarso com ruptura da cortical.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.3 Edema ósseo

O edema ósseo, decorrente do trauma mesmo quando não há fratura, pode ser

identificado pela RM. É caracterizado por áreas com aumento na intensidade de

sinal nas imagens ponderadas em T2 e com baixa intensidade de sinal naquelas

ponderadas em T12 (Figura 9).

Figura 8. Exame por ressonância magnética do pé esquerdo demonstrando edema em medular óssea

secundário à fratura no terço médio da diáfise do 2º metatarso.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.4 Lesões tendíneas e cartilaginosas

Os estudos por ressonância magnética permitem avaliar lesões de meniscos e

rupturas de tendões, assim como alterações cartilaginosas secundárias a traumas

ou a processos degenerativos.

Alterações cartilaginosas são caracterizadas, nas imagens ponderadas em T2, como

áreas com aumento da intensidade de sinal. Nas rupturas tendíneas, geralmente são

observadas linhas com aumento na intensidade de sinal que se dirigem às

superfícies articulares.

Rupturas ou estiramentos podem acometer ligamentos submetidos a trauma. Nos

estiramentos podem ser vistas áreas de edema adjacentes ao ligamento, traduzidas

por um aumento de sinal nas imagens ponderadas em T2. Nas rupturas

ligamentares são observadas indefinição das fibras ligamentares e áreas com

alterações de sinal no interior do ligamento 2(Figura 10).

3.5 Processos inflamatórios das bursas

Nos processos inflamatórios das bursas articulares, também conhecidos como

bursites, observa-se aumento na intensidade de sinal nas imagens ponderadas em

T22(Figura 10).

Figura 9 - Exame por ressonância magnética na sequência ponderada em STIR (corte coronal) do

ombro direito demonstrando ruptura parcial próximo à inserção do tendão do supra-espinhoso. Há um

aumento de sinal dentro do tendão e presença de líquido na bursa subacromial-subdeltóide (bursite).

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)

3.6 Doença articular degenerativa

Essa doença é caracterizada pela redução do espaço articular, esclerose óssea e

formação de osteófitos4.

3.7 Artrite reumatóide

Os aspectos de imagem característicos dessa patologia são mais bem avaliados

pela radiologia convencional. Essa patologia, de etiologia desconhecida, acomete

mais indivíduos do sexo feminino, entre os vinte e os sessenta anos de idade, com

pico de incidência entre os quarenta e cinqüenta anos. Pode acometer qualquer

articulação sinovial do corpo. Suas características são o edema de partes moles,

osteoporose periarticular, erosões ósseas marginais e redução do espaço

articular4,5,6,7. Geralmente o envolvimento articular é múltiplo e simétrico.

Inicialmente, as articulações, interfalangeanas proximais, as articulações

metacarpofalangeanas e a articulação do punho são os sítios mais comumente

acometidos8 (Figura 11).

Figura10 - Artrite reumatóide. Exame por ressonância magnética (cortes coronais) nas sequências T1

e STIR demonstrando sinais de alteração dos contornos com presença de cistos subcondrais e

edema ósseo em ossos do carpo e ulna.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.8 Hérnia de disco

A hérnia de disco ocasiona um quadro clínico doloroso, muitas vezes incapacitante.

A dor é secundária à compressão do saco dural e das raízes nervosas pelo material

herniado. Essa patologia é caracterizada pelo deslocamento focal do material que

compõe o disco, seja ele o núcleo pulposo ou o anel fibroso, para além das margens

do disco intervertebral, ou seja, para o interior do canal medular2,5 (Figura 12).

Figura 11 - Exame por ressonância magnética, imagens sagitais ponderadas em T2 e T1,

evidenciando uma hérnia de disco entre a sexta e sétima vértebras torácicas. Esta hérnia produz uma

compressão sobre o saco dural e a medula.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.9 Nódulos de Schmorl (hérnia de Schmorl)

O nódulo de Schmorl ocorre quando células da vida embrionária, em torno das quais

os corpos vertebrais se desenvolvem, persistem após o nascimento. Na radiologia

convencional aparecem como defeitos nas superfícies de um ou mais corpos

vertebrais, podendo ocorrer protrusão de material do disco para o interior do corpo

vertebral. Acometem, geralmente, os corpos vertebrais inferiores da coluna torácica

e os superiores da coluna lombar5 (Figura 13).

Figura 12 - Estudo por ressonância magnética ponderado em T1 e T2, no plano sagital: Nódulos de

Schmorl nos platôs vertebrais inferiores de T5 a T9 e superiores de T6 a T9.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.10 Osteoporose

O termo osteoporose significa redução na quantidade de osso. Suas causas são

várias. A osteoporose primária é aquela que acomete mulheres após a menopausa e

a secundária é aquela que tem uma causa subjacente como observada em

distúrbios renais. A osteoporose por desuso pode acometer indivíduos de qualquer

idade e decorre da imobilidade, como por exemplo, após o tratamento de fraturas.

Seu aspecto no exame obtido pela radiologia convencional é o de redução da

densidade óptica, afilamento da cortical óssea e trabeculado ósseo de aspecto

grosseiro4,5,8.

13 Osteopetrose

A osteopetrose é uma doença rara e hereditária. É caracterizada pelo aumento da

densidade do tecido ósseo, porém são ossos frágeis, suscetíveis a fraturas (Figura

15). Quando as fraturas ocorrem, são geralmente de orientação transversa em

relação ao eixo longo do osso acometido4,5 (Figura 14).

Figura 14 - Osteopetrose. Radiografia de crânio em perfil demonstrando esclerose principalmente dos

ossos da base do crânio.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA – SP)

3.11 Doença de Paget

Geralmente acomete indivíduos após os cinqüenta anos de idade. Pode acometer

qualquer osso. Apenas 20% dos indivíduos acometidos são sintomáticos. Os ossos

mais acometidos são, por ordem descrescente de frequência, a bacia, as vértebras,

o fêmur, o crânio, a tíbia, a clavícula, o úmero e os arcos costais. Essa doença é

caracterizada pela destruição óssea com posterior tentativa de reparaçãodo do osso

acometido. Por isso, seu aspecto de imagem depende da fase da doença. Assim,

pode apresentar um padrão de lise, ou seja, de destruição óssea; um padrão de

reparação óssea, ou ainda, um padrão misto. Na radiologia convencional o osso

acometido apresenta espessamento de sua cortical e trabeculado ósseo grosseiro.

Também podem ser observadas lesões radiotransparentes com áreas radiodensas

de permeio. O exame por tomografia computadorizada (Figura 15) mostra os

mesmos achados observados pela radiologia convencional. É utilizado, assim como

a ressonância magnética, para estudo das complicações dessa doença4,5.

Figura 15 - Exame de tomografia computadorizada demonstrando lesões mistas predominantemente

osteoblásticas em vértebra devido a doença de Paget.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.12 Mieloma múltiplo

É um processo maligno onde há o comprometimento difuso da medula óssea

vermelha. É comum o envolvimento dos corpos vertebrais. Os exames por

tomografia computadorizada ou por ressonância magnética são solicitados quando

há suspeita de comprometimento neurológico em fraturas patológicas5 (Figura 16).

Figura 16 - Mieloma multiplo. Exame de tomografia computadorizada demonstrando lesão expansiva

lítica do corpo da terceira vertebra torácica.

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

3.13 Metástase óssea

As metástases ósseas podem ser líticas (radiotransparentes), blásticas (radiopacas)

(Figura 17) ou mistas (quando há combinação dos dois tipos anteriores).

Geralmente, a maioria das lesões metastáticas para os ossos são líticas. Ocorrem

mais frequentemente em indivíduos acima de cinqüenta anos. O comprometimento

ósseo por uma lesão metastática pode levar a fratura patológica. Os principais

tumores malignos que enviam metástases para os ossos são: os pulmões, as

mamas, os rins e a glândula tireóide2,5,8.

Figura 13 - Metástase óssea de meduloblastoma. Radiografia em AP do quadril demonstrando

múltiplas lesões osteoblásticas

Fonte: MED-IMAGEM (HOSPITAL DA BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - SP)

Glossário

Plano axial: horizontal, axial, transaxial, transversal ou transverso: são os planos que

formam, com qualquer um dos outros planos, ângulos retos.

Margem esclerótica: este termo refere-se a uma maior deposição óssea nas

margens da lesão. Lesões de natureza benigna costumam possuir margens

escleróticas2.

Cortical óssea: o osso compacto do corpo, ou a diáfise, que envolve a cavidade

medular, é a substância cortical2.

Epífise: parte que se encontra mais próxima da articulação, sendo estreita e

revestida pela cartilagem articular. No nascimento, pode ser uma estrutura

completamente cartilaginosa e, devido a isso, não aparece nas radiografias9.

Fise: é a chamada placa de crescimento ou cartilagem de crescimento, sendo

localizada entre a epífise e a metáfise9.

Metáfise:é a porção alargada, junto às articulações. Na região metafisária encontra-

se tecido ósseo esponjoso9.

Diáfise: Constitui a maior porção do osso longo e estende-se do centro para as

extremidades. Encontra-se tecido hematopoiético (formador de sangue) nessa

região9.

STIR: o objetivo do STIR é suprimir a gordura. Logo, ele baseia-se no ponto nulo

inerente da gordura, que ocorre em um TI curto quando comparado a outros

tecidos10.

T1: este termo refere-se a um tempo de eco notavelmente menor do que T2,

praticamente independe dos valores de T2 dos tecidos avaliados. Para isso, deve-se

escolher um tempo de repetição TR curto, assim a intensidade do sinal depende

somente de T1 e da densidade de prótons. Esta é dita uma sequência curta. Este é

um sinal ponderado em T111.

T2: este termo refere-se a um tempo de eco “longo”, com a mesma ordem de

grandeza que o dos tempos T2 dos tecidos, relacionado a um TR longo. Assim a

intensidade do sinal depende somente dos valores de T2 e da densidade de prótons.

Este e um sinal ponderado em T211.

Agente paramagnético: os agentes de contraste são utilizados para aperfeiçoar a

especificidade dos exames. Os agentes paramagnéticos agem principalmente em

T1, formados por complexos de gadolínio11.

Osteoblástico: este termo refere-se à deposição (formação) contínua de osso novo12.

Reação periosteal: formação do osso novo pela membrana periosteal em resposta

aos processos patológico, sendo influenciada pela agressividade e velocidade de

desenvolvimento da patologia13.

REFERÊNCIAS

1 KATZ, D; MATH, K.R.;GROSKIN, S. Segredos em Radiologia. 1. ed. Porto

Alegre: Artmed, 2000.

2 JÚNIOR, C. F. M. Radiologia Básica, Rio de Janeiro, RJ: Revinter © 2010.

3 WEBB, W. R.; BRANT, W. E.; HELMS, C. A. Fundamentos de Tomografia

Computadorizada do Corpo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

4 RBRANT, W. E.; HELMS, C. A. Fundamentos de Radiologia: Diagnóstico por

Imagem. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2008.

5 JUHL J.H.; CRUMMY A.B.; KUHLMAN J.E.; PAUL & JUHL

R . 7a ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2000.

6 HARRISON T.R.; FAUCI A.S. Medicina Interna. 16a Ed. Rio de Janeiro:

McGraw-Hill; 2006.

7 STOLLER D, TIRMAN P, BREDELLA M, Diagnostic Imaging: Orthopaedics.

New York, NY: Elsevier; 2004.

8 STIMAC G. K.; KELSEY C. A. Advanced Techniques in Diagnostic Imaging.

In: Introduction to Diagnostic Imaging. Seattle: WB Saunders Company, 1994.

9 RUARO, A. F. Ortopedia e Traumatologia.

10 WESTBROOK, C. Manual de Técnicas de Ressonância Magnética. Rio de

Janeiro: Guanabara koogan, 2002

11 CABANIS et al, Diagnostico por Imagem em Ressonância Magnética, 2 ed.,

2000

12 GUYTON, Arthur C. Fisiologia Humana. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2008

13 EDEIKEN et al. New Bone Production and Periosteal Reaction. Am. J.

Roentgenol.; Jul 1966; 97:708 -718