path dependency e os estudos históricos comparados

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 Path dependency  e os Estudos Históricos Comparados* Antonin Sérgio Amiíjo Fernandes Introdução O conceito de  path depe ndenc y  (depen- dência de trajetória) está sendo muito uti- lizado em inúmeros estudos de política com- parada com o objetivo de auxiliar a com- preensão do estabelecimento de trajetórias políticas ou econômicas num dado país ou em outra unidade de análise. Kato (1996a: 1) define a  p ath depen dency  como: “fatores em questão num momento histórico particular determinam variações nas seqüên- cias sociopolíticas, ou nos resultados dos países, sociedades e sistemas. Nesse sentido, eventos passados influenciam a situação pre- sente e a história conta”. Levi (1997: 28) provê uma explicação mais apurada: “path  dependency  não significa simplesmente que a história conta. Isto é tanto verdade quanto trivial. Path dependency  significa que um país, ao iniciar uma trilha, tem os custos aumentados para revertêla. Existirão outros pontos de escolha, mas as barreiras de certos arranjos institucionais obstruirão uma rev er- são fácil da escolha inicial”. Dito de outro modo, em momentos críticos no desenvolvi- mento de um país (ou outra unidade de análise), estabelecemse trajetórias amplas que são difíceis de reverter, mas dentro das quais existirão novos pontos de escolha para mudança mais adiante. A análise institucionalista histórica em ciência política dá início à utilização desse conceito, oriundo da disciplina da economia, mais especificamente do campo da economia da tecnologia. Entretanto, a tradição de estudar a política utilizando observação com- parada de trajetórias históricas é antiga nas ciências sociais, e tem Max Weber como um dos seus principais expoente s. Ness e sentido, o conceito de  pa th depe nde ncy , apesar de recente, se mostra como uma reinvenção ou renovação dos métodos de abordagens de sociologia política comparada desenvolvidos por Barrington Moore e Theda Skocpol. Este artigo tem o objetivo de apresentar o conceito de pa th dep end enc y  em seus princi- pais aspectos e mostrar que a perspectiva ado- tada nesse pensamento dentro da ciência política mais recente é comum e originária dos estudos de sociologia política comparada. Na segunda parte, procurase identificar a vinculação do conceito de  pa th dep end enc y  com a abordagem institucionalista histórica. Na terceira parte, observamse os aspectos essenciais que compõem o conceito e sua fili- ação teórica oriunda da economia da tecnolo- gia. Na quarta parte, apresentase a perspecti- va teóricometodológica dos estudos históri- cos comparados em sociologia política com o intuito de observar a proximidade existente entre esta abordagem e a  path dep end enc y. Este artigo faz parte de minha tese de doutorado em andamento no Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Agradeço ao prof. Fernando Limongi pela leitura e pelos comentários ao texto. BIB, São Paulo, n° 53, Io semestre de 2002, pp. 79 102 79

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O conceito de path dependency (dependênciade trajetória) está sendo muito utilizadoem inúmeros estudos de política com paradacom o objetivo de auxiliar a compreensãodo estabelecimento de trajetóriaspolíticas ou econômicas num dado país ouem outra unidade de análise

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  • Path dependency e os Estudos Histricos Comparados*

    Antonin Srgio Amijo Fernandes

    Introduo

    O conceito de path dependency (dependncia de trajetria) est sendo muito utilizado em inmeros estudos de poltica comparada com o objetivo de auxiliar a compreenso do estabelecimento de trajetrias polticas ou econmicas num dado pas ou em outra unidade de anlise. Kato (1996a: 1) define a path dependency como: fatores em questo num momento histrico particular determinam variaes nas seqncias sociopolticas, ou nos resultados dos pases, sociedades e sistemas. Nesse sentido, eventos passados influenciam a situao presente e a histria conta . Levi (1997: 28) prov uma explicao mais apurada: path dependency no significa simplesmente que a histria conta. Isto tanto verdade quanto trivial. Path dependency significa que um pas, ao iniciar uma trilha, tem os custos aumentados para revert-la. Existiro outros pontos de escolha, mas as barreiras de certos arranjos institucionais obstruiro uma reverso fcil da escolha inicial . Dito de outro modo, em momentos crticos no desenvolvimento de um pas (ou outra unidade de anlise), estabelecem-se trajetrias amplas que so difceis de reverter, mas dentro das quais existiro novos pontos de escolha para mudana mais adiante.

    A anlise institucionalista histrica em cincia poltica d incio utilizao desse conceito, oriundo da disciplina da economia, mais especificamente do campo da economia da tecnologia. Entretanto, a tradio de estudar a poltica utilizando observao comparada de trajetrias histricas antiga nas cincias sociais, e tem Max Weber como um dos seus principais expoentes. Nesse sentido, o conceito de path dependency, apesar de recente, se mostra como uma reinveno ou renovao dos mtodos de abordagens de sociologia poltica comparada desenvolvidos por Barrington Moore e Theda Skocpol.

    Este artigo tem o objetivo de apresentar o conceito de path dependency em seus principais aspectos e mostrar que a perspectiva adotada nesse pensamento dentro da cincia poltica mais recente comum e originria dos estudos de sociologia poltica comparada. Na segunda parte, procura-se identificar a vinculao do conceito de path dependency com a abordagem institucionalista histrica. Na terceira parte, observam-se os aspectos essenciais que compem o conceito e sua filiao terica oriunda da economia da tecnologia. Na quarta parte, apresenta-se a perspectiva terico-metodolgica dos estudos histricos comparados em sociologia poltica com o intuito de observar a proximidade existente entre esta abordagem e a path dependency.

    Este artigo faz parte de minha tese de doutorado em andamento no Departamento de Cincia Poltica da Universidade de So Paulo. Agradeo ao prof. Fernando Limongi pela leitura e pelos comentrios ao texto.

    BIB, So Paulo, n 53, I o semestre de 2002, pp. 79-102 79

  • 0 Institucionalismo Histrico: Origem e Caractersticas Principais

    O Neo-institucionalismo e suas Vertentes

    A corrente denominada em cincia poltica de novo institucionalismo ampla e dividida em subcorrentes que possuem um nico aspecto em comum, o fato de encarar o estudo dos processos polticos tendo como varivel independente as instituies, o que a faz se diferenciar do pluralismo e do com- portamentalismo, at ento modelos analticos dominantes na cincia poltica norte- americana (Limongi, 1994: 3).

    H uma grande dificuldade em delimitar as fronteiras da abordagem neo-institucional- ista. Na verdade, difcil supor a existncia de um nico novo institucionalismo. Opta-se aqui por estabelecer uma distino entre os neo-institucionalistas que utilizam o individualismo metodolgico, e que so considerados adeptos da escolha racional, e os que no utilizam o individualismo metodolgico, e que so considerados institucionalistas histricos e sociolgicos. De acordo com alguns estudiosos que tentaram delimitar as diferenas entre as correntes neo-institucionalistas tais como Lowndes (1996), Rhodes (1995), Kato (1996), Hall e Tayior (1996), jmmergut (1998) e Ostrom (1991) - a corrente denominada Escolha Racional, que conhecida tambm no campo da cincia poltica como Escolha Pblica, v as instituies como dotadas de problemas de ao coletiva, dadas as inconciliveis interaes polticas no cooperativas entre os indivduos. A escolha racional constitui-se como uma corrente que utiliza a lgica dedutiva de anlise, cuja premissa bsica so instituies compostas por atores individuais que tomam decises e agem a partir de escolhas e interesses pessoais. Essas preferncias podem geras efeitos coletivos ou decises coletivas. A perspectiva analtica da economia neoclssica e a linguagem da teoria

    dos jogos so trazidas para o interior da arena pblica, onde polticos e burocrtas com interesses prprios competem tal qual num mercado, procurando maximizar votos, apoio e transferncias de renda {rent seekin). Nesta corrente, tem-se, como trabalhos pioneiros, entre outros, Downs (1957), Buchanan e Tullock (1962), Arow (1963), Olson (1965) e McKelvey (1976). Seguindo essa linha de pesquisa, encontram-se importantes contribuies em diversas reas de estudo, tais como, Cox e McCubbins (1987), Weingast e Marshall (1988), Weingast (1979), Shepsle e Laver (1990) e Shepsle e Weingast (1987) - estudos legislativos1 do congresso norte-amer- icano Niskanen (1971) e Moe (1990) anlise da burocracia ; Pzeworski (1991) e Geddes (1991) transies democrticas ; e Hardin (1982), Tsebelis (1990) e Elster (1986; 1994) - anlise terico-conceitual da escolha racional e da teoria dos jogos na disciplina da poltica.

    Uma outra corrente neo-institucional- ista que utiliza a escolha racional chamada de institucionalismo econmico, e vem da tradio da economia dos custos de transao, baseada na teoria da firma (Coase, 1937). Nesta corrente, as instituies so vistas como sistemas de regras capazes de superar dilemas da ao coletiva, gerados por comportamentos oportunistas em transaes sociais em contextos organizacionais hierrquicos. De acordo com Melo (1996), apesar de utilizarem a racionalidade instrumental, os autores desta corrente procuram superar o paradigma do comportamento maximizador (rational choicer), incorporando a noo de incerteza em processos de deciso coletiva. No interior desta corrente entende-se que a principal funo das instituies economizar custos de transao inerentes aos sistemas de mercado. Esta , portanto, a justificativa para a existncia das instituies: a busca da eficincia por meio do suporte e das trocas de mercado. Sobre o institucionalismo econmico ou a economia

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  • dos custos de transao, tem-se como referncias bsicas, entre outras, os trabalhos de Williamson (1991) e North (1993).

    Entre as correntes neo-institucionalistas que no aderem ao individualismo metodolgico, tem-se o institucionalismo sociolgico.2 Esta corrente desenvolve-se com mais intensidade dentro da teoria das organizaes, a partir dos importantes estudos de Powel e Di Maggio (1983) e March e Olsen (1984; 1989). Esses autores entendem as instituies como ruto de processos culturais, respondendo necessidade de assegurar normas, valores, cdigos e crenas adquiridos ao longo do tempo. Neste caso, os indivduos internalizam as normas de comportamento associadas com os papis sociais institucionais. As instituies no so vistas simplesmente como mecanismos capazes de aumentar a eficincia do mercado, mas como processos altamente dinmicos e sensveis a estmulos do ambiente circundante, os quais possibilitam a manuteno da ordem na vida poltica (March e Olsen, 1984). As escolhas e as preferncias individuais, ao contrrio do que pensa a anlise da mtional choice, so endgenas e no dadas de antemo (exgenas). As instituies no s afetam o clculo estratgico e as escolhas racionais dos indivduos, como tambm suas preferncias e suas identidades. Desse modo, os problemas concernentes ao oportunismo e incerteza no so totalmente abandonados nessas anlises, mas complementados a partir da viso de que os processos culturais so determinantes do comportamento institucional.

    A outra corrente neo-institucionalista, que tambm no utiliza o individualismo metodolgico o institucionalismo histrico.

    O Institucionalismo Histrico

    O institucionalismo histrico surge como uma reao teoria comportamenta- lista e sua principal variante o pluralismo

    - , bem como teoria estrutural-funcional- ista e sua corrente derivada o neomarxismo ; teorias dominantes na cincia poltica durante as dcadas de 1960 e 1970. Alm disso, surge tambm em resposta tendncia que se observa no campo da poltica comparada da poca - momento marcado pelo comportamentalismo e pelo pluralismo. Essas correntes de anlise tentavam construir teorias a partir de estudos transnacionais, e, como variveis que procuravam explicar as diferenas na poltica entre os pases, apresentavam as atitudes e os comportamentos dos atores (grupos e indivduos).3

    Segundo Hall e Taylor (1996: 937- 938), o institucionalismo histrico, apesar de ter nascido como uma crtica s escolas anteriormente citadas, ele herda alguns elementos destas. Da teoria de grupos de interesse ou pluralismo, os institucionalis- tas histricos herdam a idia de que o conflito entre grupos rivais, por recursos escassos, est no centro da poltica, porm sugerem como com plem entaridade a este aspecto a busca de melhores explicaes para apontar as distines dos resultados da poltica entre os pases. Essas explicaes estariam na descoberta do caminho trilhado pela organizao da estrutura poltica (polity) ou econmica, que conflita ou privilegia alguns interesses em detrimento de outros. Do estrutural-funcionalismo, os institucionalistas histricos herdam a idia de que a polity , sobretudo, um sistema de partes integradas, porm rejeitam a tendncia predominante nele de que o funcionamento desse sistem a seria unicamente responsvel pelas condutas e traos sociais, psicolgicos e culturais dos indivduos. Dado que para os institucionalistas histricos a organizao institucional da polity o fator principal que estrutura o comportamento coletivo e gera distintos resultados na poltica, sua nfase recai mais sobre o estruturalismo implcito nas instituies da polity do que sobre o funcionalismo,

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  • que via os resultados da poltica como algumas das necessidades do sistema.

    De acordo com Steinmo e Thelen (1992: 3-7), o institucionalismo histrico tem origem com os estudos de poltica comparada entre pases, especialmente os estudos de economia poltica comparada, tais como os de Hall (1986), Berger (1981) e Katzenstein (1978), entre outros, que tm inspirao nas tradies oriundas de Weber e Polanyi. O institucionalismo histrico visa construir teorias de alcance mdio que se preocupem em explicar o desenvolvimento poltico e econmico, entre pases, ou outras unidades de anlise (Estados, regies, cidades), tendo como varivel independente as instituies intermedirias, tais como a burocracia, o eleitorado, as redes estabelecidas entre empresariado e governo, a relao Estado-sociedade, o processo poltico decisrio e/ou de elaborao de polticas pblicas. A evoluo da estrutura social, bem como a trilha de escolha e deciso poltica dos atores ao longo do tempo, moldam a arena poltica e definem as instituies.

    Um trabalho seminal que procura situar os aspectos conceituais do institucionalismo histrico o livro de Skocpol, Evans e Rueschemeyer (1985), Bringing The State Back In. Os autores propem, de forma inovadora, repensar o papel do Estado na sua relao com a economia e a sociedade, tratando-o com um ator autnomo, capaz de fazer escolhas e alcanar metas polticas. Isto requeria, portanto, romper ou transcender a agenda de pesquisa sobre o Estado ento vigente na poca, de cunho sociocn- trico , ou seja, dominada pelo comporta- mentalismo e estrutural-funcionalismo. Esta agenda de pesquisa estava centrada na discusso apenas do papel da sociedade como determinante das aes do Estado; este no era tomado como um ator independente, dotado de relativa autonomia.4 Para Skocpol (1985: 9), pensar a autonomia do Estado conceb-lo na qualidade de organizao que

    formula metas que no so simplesmente reflexos de demandas e interesses de grupos sociais, classes ou sociedades. Para explicar os fatores determinantes da autonomia e da capacidade do Estado, necessrio adotar uma perspectiva weberiana acerca do Estado em ao e utilizar uma abordagem histrica de investigao. Nesse sentido, os estudos histricos comparados entre pases so importantes, pois permitem avaliar a capacidade de autonomia dos Estados a partir de alguns indicadores institucionais, tais como: o grau de centralizao e descentralizao de autoridade, meios financeiros, quadro de funcionrios, o ambiente e o comportamento dos principais atores econmicos e sua relao com o Estado.

    Segundo a corrente institucionalista histrica, o comportamento racional dos indivduos importante para a compreenso do processo poltico, porm, procura-se entender como a escolha de ao depende da interpretao de uma situao, mais do que um clculo instrumental. Assim, os autores dessa linha utilizam a idia de estratgia de deciso junto interpretao de natureza histrico-estrutural como variveis que influenciam o processo decisrio (Hall e Taylor, 1996). Apesar de considerar as escolhas e cursos de ao e deciso individual, os institucionalistas histricos, assim como os sociolgicos, tambm encaram a questo das preferncias como algo endgeno, diferentemente da escolha racional. Neste aspecto, como observa Kato (1996: 560-561), a divergncia entre os institucionalistas histricos e os rational choicers no se d sobre o conceito de comportamento racional, porm sobre o individualismo metodolgico. A escolha racional trabalha com uma lgica dedutiva, ou seja, a partir do comportamento maximizador universal dos indivduos busca-se explicar as escolhas e decises institucionais num dado momento. O institucionalismo histrico utiliza estudos de caso, que partem das instituies, para

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  • explicar o comportamento estratgico dos indivduos e grupos sociais numa dada seqncia e momento da histria.5

    Com relao a este ltimo aspecto, destaca-se o recente estudo de Bates et. al. (1998), denominado Analitic Narratives. Os autores procuram combinar individualismo metodolgico, ou seja, a anlise do comportamento particular dos atores - empregando o modelo matemtico com pesquisa histrica que busca explicar a seqncia de eventos, o contexto e a estrutura de interao desses atores. Nas palavras de Bates et. al. (1998: 30-31): Ns chamamos nossa abordagem de narrativa analtica porque combinamos instrumentos analticos que so comtimente empregados na economia e cincia poltica, com a forma narrativa que mais comumente empregada na histria . Os trabalhos da narrativa analtica so dirigidos pelo problema e no pela teoria, algo bastante incomum na perspectiva da rational choice mais tradicionalmente conhecida.

    De acordo com Hall e Taylor (1996: 938) e Steinmo e Thelen (1992: 2), a corrente institucionalista histrica define instituies como procedimentos formais e informais, normas, rotinas e convenes inseridas na estrutura organizacional da poltica [polity) ou da economia poltica. Com o afirma North (1993: 14), instituies constituem normas escritas formais, assim como cdigos de conduta geralmente no escritos que subjazem e complementam as regras formais. As normas formais e informais e o tipo e a eficcia de sua obrigatoriedade determinam a ndole total da politics (jogo).

    Uma das principais perspectivas de anlise do institucionalismo histrico a path dependency, a qual enfatiza o impacto da existncia de lggados polticos sobre escolhas polticas subseqentes (Hall e Taylor, 1996: 941).

    O Conceito de Path Dependency

    Uma definio de path dependency fornecida por Kato (1996a: 1): A idia de path dependency bem conhecida em poltica comparada. De acordo com esta idia, fatores em questo num momento histrico particular determinam variaes nas seqncias sociopolticas, ou nos resultados dos pases, sociedades e sistemas. Nesse sentido, eventos passados influenciam a situao presente e a histria conta . Levi (1997: 28) prov uma explicao mais apurada: path dependency no significa simplesmente que a histria conta. Isto to verdade como trivial. Path dependency significa que para um pas, ao iniciar uma trilha, os custos para revert-la so muito altos. Existiro outros pontos de escolha, mas as barreiras de certos arranjos institucionais obstruiro uma reverso fcil da escolha inicial . Dito de outro modo, em momentos crticos no desenvolvimento de um pas (ou outra unidade de anlise), esta- belecem-se trajetrias amplas que so difceis de reverter, mas dentro das quais existiro novos pontos de escolha para mudana mais adiante.

    Segundo Pierson (2000: 251), o conceito de path dependeticy tem origem na disciplina da economia, na qual tambm chamado de retornos crescentes (increasing returns).6 Para alguns tericos da economia que trabalham com este conceito, os retornos crescentes so a prpria path dependency e, para outros, so apenas uma forma de path dependency. no campo da economia da tecnologia que argumentos baseados nos retornos crescentes tm sido mais frteis. Em termos gerais, retornos crescentes significam que a probabilidade de dar um passo frente no mesmo caminho ou trajetria estabelecida aumenta cada vez que se move para dentro do prprio caminho. Isto ocorre porque os benefcios relativos da atividade corrente, comparada

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  • com outras opes possveis, aumenta com o tempo. Para optar por outra trajetria diferente, os custos de sair da trilha de alguma alternativa previamente plausvel crescem. Assim, processos de retornos crescentes tambm podem ser descritos como auto-reforos ou processos dzfeedback positivo. Em outras palavras, de acordo com Arthur (1994) e David (1985) apud Pierson (2000: 251): sob condies, na maioria das vezes presentes em setores complexos de conhecimento intensivo, uma tecnologia particular pode conquistar uma vantagem sobre seus competidores, apesar de necessariamente no ser a alternativa mais eficiente no longo prazo. Isto ocorre porque cada tecnologia gera resultados maiores para os usurios medida que se torna prevalecente. Quando uma nova tecnologia sujeita a retornos crescentes os atores tm incentivos para forar uma simples alternativa e a continuar seguindo um caminho especfico, uma vez que os passos iniciais foram tom ados nesta direo. Dado que a vantagem inicial foi obtida, efeitos de feedback positivos podem fechar- se sobre esta tecnologia, excluindo seus competidores. deste modo que argumentos de dependncia de trajetria ou de retornos crescentes, tem sido aplicados para explicar o domnio de mercado, ao longo do tempo, de algumas tecnologias como o teclado Qwerty, o vdeo cassete V H S, ou o sistema de computador Windows.

    Depreende-se, portanto, que o conceito de path dependency sincrnico, no sentido empregado por Stinchombe (1968: 103), para definir explicaes histricas. Isso significa dizer que um efeito criado por causas, em algum perodo prvio, torna-se causa deste mesmo^ efeito em perodos subseqentes. Esse loop que demonstra a estrutura bsica da explicao histrica, segundo Stinchombe (1968: 103), pode ser representado graficamente (Figura 1).

    Na figura, X uma causa histrica original de Y; D encontra-se como um contem- porizador at que Y, num dado momento, opera como uma causa no perodo de tempo seguinte; a flecha 1 de retorno indica que Y, como uma causa no perodo subseqente, reproduz ele mesmo como efeito. O infinito loop criado por D e pela flecha 1 fornece a estrutura causal histrica. Para Stinchombe (1968: 103-104), muitos dos principais processos sociais podem criar infinitos e auto-replicveis loops causais. Diante disto, a explorao emprica que vai fornecer ao investigador a condio de verificar sob quais circunstncias as tradies tendero a ser preservadas, ou entraro em decadncia quebrando o loop causal.

    Sobre o conceito de path dependency aplicado anlise institucional, o trabalho de North (1993) merece destaque. Apesar de ele ser considerado um autor do institucionalis- mo econmico e no do institucionalismo histrico, neste seu trabalho seminal e mais conhecido, ele traz uma contribuio significativa para o estudo das instituies a partir da histria econmica. North utiliza a noo de racionalidade instrumental, por meio da histria econmica, para conceituar instituies como organizaes ou mecanismos que diminuem o custo de transao e aumentam a informao. Com base neste conceito de instituies, ele tenta mostrar as razes que explicam as diferenas de desempenho econmico entre os pases. De acordo com North (1993), as instituies so estveis e a

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  • mudana nestas se d de modo incremental, excetuando-se os momentos revolucionrios. Para tanto, North desenvolve o conceito de path dependency. Segundo ele, as instituies eficientes (sejam elas positivas ou negativas para o sistema de mercado), ao longo do tempo, adquirem estabilidade, o que as faz conservar sua estrutura normativa, tornando qualquer caminho ou rota de mudana dependente desta estrutura preestabelecida. Em cada passo da rota foram feitas escolhas polticas e econmicas - que significaram alternativas que puderam reforar ou no seu curso (1993: 121-131).

    assim que North (1993) procura explicar a distino na evoluo da economia da Inglaterra e da Espanha, diferenciadas radicalmente a partir do sculo XVI, quando tomam trajetrias institucionais contrastantes. Estas refletiram-se provavelmente nas profundas caractersticas institucionais das duas sociedades no curso de sua histria subseqente. Tanto Inglaterra como Espanha, pases feudais no sculo XVI, enfrentaram crises fiscais nesse perodo, decorrentes dos custos cada vez mais altos do financiamento das novas tecnologias de guerra. Na Inglaterra, o parlamento criou o Banco da Inglaterra e um sistema fiscal em que os gastos estavam controlados em relao s receitas. A revoluo financeira colocou o governo sobre uma slida base econmica, e estabeleceu as condies para o desenvolvimento do mercado privado de capitais. Direitos de propriedade mais seguros, declnio das restries mercantilistas e a fuga das empresas txteis das restries gremistas urbanas se conjugaram para aumentar as oportunidades das empresas nos mercados domstico e internacional. Na Espanha, as quebras freqentes entre 1557 e 1647 levaram o governo a tomar medidas desesperadas. A guerra, a igreja e o complexo sistema burocrtico ete administrao passaram a ser considerados um bom negcio e, portanto, o exrcito, o judicirio e o clero

    tornaram-se ocupaes lucrativas e muito cobiadas. A expulso dos mouros e dos judeus, as altas rendas de terra, os preos do trigo, o confisco de remessas de prata dos comerciantes de Sevilha (que se conformavam com bnus de pouco valor), foram sintomas da falta de incentivos atividade produtiva. A incapacidade da coroa e de sua burocracia de alterar a direo da rota espanhola, apesar das evidncias de decadncia e declnio que dominavam o pas, foi o que fez a Espanha deixar de ser a nao mais poderosa no sculo XVII do mundo ocidental desde o Imprio Romano, para se converter numa potncia de segunda. North (1993) acrescenta ainda que estes legados da Espanha e da Inglaterra so transferidos para suas colnias, onde se evidencia uma distino radical, desde o comeo da colonizao, na evoluo da Amrica anglo-parla- mentar e da Amrica espanhola, refletindo a imposio de pautas institucionais distintas tomadas da ptria me.7

    Uma idia-cliave para o conceito de path dependency a noo de momento crtico {criticai juncture). De acordo com Lipset e Rokkan (1967: 37), a idia de escolhas cruciais e seus legados, que pode ser chamada de momentos crticos, tem como foco principal circunstncias decisivas na vida poltica, onde ocorrem transies que estabelecem certas direes de mudana e excluem outras num caminho que molda a poltica por anos. Segundo D. Collier e R. Collier (1991: 29 e 782), momento crtico definido como: um perodo de significativa mudana, que normalmente ocorre em distintos caminhos por diferentes pases (ou outras unidades de anlise), e que hipotetizado para produzir legados distintos . O momento crtico uma situao de transio poltica e/ou econmica vivida por um ou vrios pases, Estados, regies, distritos ou cidades, caracterizada por um contexto de profunda mudana, seja ela revolucionria ou realizada por meio de reforma institucional. O tempo de durao

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  • desse momento crtico pode ser de anos ou at dcadas, durante os quais o processo de mudana que se inaugura deixa um legado que conduz os polticos a fazerem escolhas e tomarem decises sucessivas ao longo do tempo, visando reproduo desse legado (ou path dependency).

    De acordo comThelen (1998: 19), existem duas linhas de argumento que se bifurcam no conceito de path dependency com relao a momentos crticos. A primeira envolve argumentos sobre a fundao de momentos crticos, de formao institucional, que lanam os pases por algum tempo em caminhos amplamente diferentes. A segunda sugere que as instituies continuam a evoluir em reao s mudanas das condies do ambiente, mas em caminhos que so limitados por experincias passadas. Pode-se afirmar tambm que existe a possibilidade de ocorrncia de ambos os argumentos, ou seja, quando uma seqncia histrica estvel e de mudanas incrementais fundada a partir de um momento crtico lanando governos por um caminho inteiramente novo. A anlise comparativa que torna possvel evidenciar as semelhanas e diferenas nos momentos crticos dos pases, e as semelhanas e diferenas nos legados produzidos pela rota inicial de mudana.

    O grande trabalho de Lipset e Rokkan (1967), sobre a formao dos partidos e sistemas partidrios na Europa, foi um dos primeiros a utilizar a noo de momento crtico para identificar conjunturas histricas decisivas que produziram grandes clivagens sociais. Estas organizaram-se dentro dos partidos e, uma vez eliminado o custo para iniciar a atividade partidria (start up costs), bem como superados processos de expectativas adaptativasfos partidos so reproduzidos ao longo do tempo gerando o que Lipset e Rokkan (1967) denominaram de sistemas partidrios congelados. Apesar de o estudo desses autores usar a noo de momento crtico, no importante trabalho de D.

    Collier e R. Collier (1991) que essa noo definida de maneira mais sistemtica. Os autores analisam a emergncia do movimento sindical na Amrica Latina durante o incio do sculo X X e suas diferentes formas de incorporao inicial, isto , de legalizao e institucionalizao sancionadas pelo Estado. Desenvolvem tambm uma exaustiva e complexa anlise histrica comparativa de oito pases (Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Mxico, Peru, Uruguai e Venezuela). Utilizam-se do conceito de path dependency e consideram a noo de momento crtico central para mapear o perodo de incorporao inicial do movimento sindical e seus diferentes legados em cada pas. Os pases foram dividids em pares que apresentavam traos histricos comuns em relao ao tipo de incorporao inicial. Foram comparados os pares e, alm disso, fez-se uma comparao entre os pases que formavam cada par. Os oitos casos foram divididos em dois grandes tipos de incorporao: 1. Incorporao por meio do Estado - Brasil (1930-1945) e Chile (1920-1931); e 2.Incorporao Partidria, que se subdivide em trs subtipos: 2.1. Mobilizao eleitoral pelo partido tradicional Colmbia (1930- 1945) e Uruguai (1903-1916); 2.2. Populismo trabalhista Argentina (1943- 1955) e Peru (1939-1948); e 2.3. Populismo radical - Mxico (1917-1940) e Venezuela (1933-1948).

    O que nos interessa de imediato o tratamento que esses autores do noo de momento crtico, a qual ser utilizada no presente estudo. De acordo eles (1991: 30- 35), alguns elementos importantes compem esta definio:

    1. Condies antecedentes: Representam a linha bsica sobre a qual o momento crtico e o legado so avaliados. As condies antecedentes permitem indicar que importantes atributos do legado podem, de fato, envolver

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  • considervel continuidade, ou links causais diretos com o sistema preexistente, que no so mediados pelo momento crtico. Dito de outro m odo, as condies antecedentes procuram mostrar se a rota tomada pelo fenmeno segue a trilha inicial do momento crtico ou se esto ligadas s condies anteriores ao momento crtico.

    2. Clivagem ou crise: Surge fora das condies antecedentes e desencadeia o momento crtico. E a situao na qual ocorre um rearranjo das foras polticas e sociais, o qual define o fenmeno observado, levando emergncia de uma situao revolucionria ou de reforma que deixar um legado.

    3. Legado e seus trs componentes\ 3.1. Mecanismos de Produo do legado O legado na maioria das vezes no se cristaliza imediatamente depois do momento crtico, mas quase sempre moldado por meio de uma srie de passos intervenientes. 3.2. Mecanismos de Reproduo do Legado A reproduo do legado no mais um resultado automtico, mas quase sempre perpetuado por processos e decises poltico-

    institucionais sucessivos. 3.3. Estabilidade dos atributos centrais do legado So os atributos bsicos produzidos como um resultado do momento crtico, tais como os padres de deciso poltica municipal analisados neste estudo.O que D. Collier e R. Collier (1991) chamam de legado significa um substrato da path dependency, isto , diante de um momento crtico, seja ele revolucionrio ou de reforma institucional, decises iniciais so tomadas indicando um caminho poltico ou econmico que gerar um legado.

    4. Explicaes rivais envolvendo causas constantes: Significa fundamentalmente observar se os atributos do sistema que podem contribuir para a estabilidade do legado no so produtos do momento crtico. Uma causa constante opera ano aps ano, com resultados que revelam relativa continuidade, porm esse padro, ao contrrio de uma causa histrica, no oriundo de momentos crticos.

    5. Fim do legado'. Inevitavelmente o fim do legado deve ocorrer em algum ponto, e, portanto, importante localizar os pontos de descontinuidade e autodestruio

    Figura 2 - Estrutura do Momento Crtico Segundo Collier e Collier (1991: 30)

    CriticaiJuncture

    Cleavage

    Antecedents. Conditions

    Mechamisms of production

    Stability of core atributes

    of the legacyL ___ ___ _ '

    Mechamisms of production

    * .| End of Legacy?

    Rival Explanations Involving Constant Causes"

    87

  • no fenmeno de interesse. O ponto de fim do legado tambm pode no ser detectado, uma vez que o estudo em desenvolvimento esteja sendo feito com a anlise do fenmeno em andamento.

    A estrutura do momento crtico acima descrita pode ser representada tambm na forma esquemtica (Figura 2).

    Path dependency e os Estudos Histricos Comparados em Poltica

    A tradio de estudar a poltica utilizando observao comparada de trajetrias histricas antiga nas cincias sociais e Max Weber um dos seus principais expoentes. Para Skocpol e Somers (1980), existem trs lgicas de anlise na histria comparada: 1. Demonstrao paralela de teoria - exemplos histricos so justapostos para demonstrar que os argumentos tericos aplicam-se convenientemente aos casos e, portanto, deve-se validar a teoria. Trabalhos importantes, entre outros, como os de Einsenstadt (1963) e Paige (1973), seguem esta lgica; 2. Contraste de contextos - busca apresentar os aspectos de cada caso em particular que afeta o funcionamento dos processos sociais gerais. No se preocupa em fazer inferncias causais. Os estudos de Geertz (1971) e Bendix (1964), entre outros, so importantes referncias identificadas dentro desta lgica de anlise histrico-comparativa; 3. Anlise macrocausal - prope-se a fazer inferncias causais sobre estruturas e processos de nvel macro. Tem como estudos representativos, entre outros, Moore (1983) e Skocpol (1979).

    Apesar de esses trs tipos enunciados por Skocpol e Somers (1^80) no serem rgidos e excludentes, pode-se afirmar que a explicao da rota dependente corresponde mais terceira lgica de anlise na histria comparada. Na abordagem da path dependency, o

    pesquisador faz inferncias causais, isto , aponta uma relao causal que procure dar conta de entender como fatores variados em questo mudam de um caso para outro. De acordo com King, Keohane e Verba (1994: 75-113), tanto historiadores como cientistas sociais precisam resumir os detalhes histricos, da a necessidade de fazer inferncias descritivas, porm, para a proposta da cincia social, a inferncia descritiva sozinha incompleta. As inferncias causais devem ser projetadas onde so apropriadas, e com a melhor e mais honesta estimativa de incerteza. A demonstrao na variao dos fatores explicativos (variveis independentes) e explicados (variveis dependentes) pode ser feita usando a orientao lgica clssica de pesquisa comparada, apresentada por Stuart Mill (1999: 79-82), a qual corresponde aos mtodos da semelhana e da diferena.

    No mtodo da semelhana, se dois ou mais casos de um fenmeno sob investigao tm apenas uma de muitas possveis circunstncias causais em comum, ento a circunstncia na qual todos os casos concordam a causa do fenmeno de interesse. O mtodo da semelhana uma busca por padres de invarincia, isto , visa-se determinar que possvel varivel causal est constantemente cruzando todos os casos. No mtodo da diferena, os fatores causais so similares e observam-se diferenas nos resultados polticos entre os casos, porm um fator crucial explicativo, que variado cruzando todos os casos, relacionado como causa destes diferentes resultados. Com o considera Ragin (1987: 47) a este respeito, quando dois casos muito similares apresentam resultados diferentes, a meta da investigao identificar a diferena que responsvel por resultados contraditrios. Ao invs de destacar as similaridades entre os objetos relativamente dspares, o investigador estuda a diferena casualmente crucial entre os objetos relativamente similares.8 A partir do esquema traado por Skocpol (1984: 379) e Skocpol e

  • Figura 3 - Os Dois Projetos de Anlise Histrica Comparativa de John Stuart Mill (Skocpol, 1984: 379)

    The Method o Agrement

    Casse 1 Casse 2 Casse n

    a d 9b e hc f iX X X

    y y y

    Overall Differences

    Crucial Similarity

    The Method of Difference

    PositiveCase(s)

    NegativeCase(S)

    a ab bc cX not x

    y not y

    x = Causal Variable y = Phenomenon to be

    Explained

    Overall Similarities

    Crucial Difference

    Somers (1980), na Figura 3, pode-se observar melhor os mtodos da semelhana e dilrena de Stuart Mill.

    Numa pesquisa em que se utiliza a abordagem da path dependency, usa-se um dos dois mtodos, ou a combinao deles. O exemplo clssico de estudo de caso histrico comparado que usa a lgica de anlise macrocausal o trabalho de Barrington Moore (1983). Nesta obra seminal, Moore identifica trs trajetrias polticas para a modernizao econmica: 1. Democracia liberal por meio de revoluo burguesa (Frana, Inglaterra e Estados Unidos); 2. Fascismo por meio de revoluo vinda de cima (Japo e Alemanha); 3. Comunismo por meio de revoluo camponesa (China e Rssia). O caso da ndia estudado para se tentar entender qual ser a rota poltica alternativa trilhada por pases do terceiro

    mundo, mas neste exemplo ele no oferece uma resposta clara, dado que considera a ndia como um fraco impulso modernizador. Moore (1983) procura explicar os processos polticos do sculo XX nestes pases, lanando mo de variaes ocorridas no deslanchar do processo de modernizao econmica, ou seja, o momento crtico vivido pela economia destas naes entre os sculos XVIII e XIX. Considerando as alianas de classe como condio causal fundamental, ele observa a predominncia da burguesia em relao aos senhores feudais, os modos de comercializao da agricultura e os tipos de relao entre camponeses e proprietrios de terra. Desse modo, Moore explica a razo pela qual os pases analisados trilharam uma trajetria ao invs de outra. Dentro de cada trajetria (democracia liberal, fascismo ou comunismo) ele trabalha com o mtodo da

    89

  • semelhana estabelecendo uma condio causai comum. Ao cruzar as trs trajetrias, utiliza o mtodo da diferena, uma vez que para discutir cada rota particular vai fazer referncia outra, ou s outras duas, como exemplo contrastante que ajuda a desenvolver suas inferncias causais.

    Do ponto de vista metodolgico, estudos de caso histricos comparados recebem duas crticas fundamentais: o nmero e o processo de escolha dos casos, e a base de evidncia histrica para desenvolver a explicao causal. No que tange ao nmero e escolha dos casos, dado que projetos de pesquisa comparada so estratgias para reduzir o nmero de variveis independentes relevantes que explicam um fenmeno, os estudos comparados da cincia poltica orientada pela histria, possuem o problema de sobredeterminao, isto , tm poucas observaes sobre variveis teoricamente relevantes de explicao do fenmeno9 (Lpez, 1995: 63). Uma soluo seria aumentar o nmero de casos, porm, por razes prticas, estudos qualitativos transnacionais sempre so quase-experimentais, raramente podem ser randmicos, e as escolhas tticas para a melhor combinao de pases so consideradas a partir de limitaes de custo ou de acesso por parte do pesquisador (Pzeworski e Tenue, 1970: 32-38). Da decorre a dificuldade na escolha terica que arbitrar o experimento e tambm o contrrio, a dificuldade na escolha dos casos que podem melhor se adaptar teoria que rege o estudo. Em contrapartida, Ragin (1987: 51) defende que a abordagem de estudo de caso comparado funciona bem quando o nmero de casos relativamente pequeno. Pelo fato de os estudos comparados de caso considerarem combinaes em momentos de condies causais, o volume 'potencial da anlise aumenta geometricamente com a adio de um simples caso, e aumenta exponencialmente com a adio de uma simples condio causal. O estudo de Barrington

    Moore um exemplo disso. Sua anlise muito complexa o autor tenta construir uma intricada teia de similaridades e diferenas entre oito casos. Apenas um compara- tivista muito hbil poderia considerar todas as similaridades e as diferenas relevantes e tentar sistematiz-las. Essa complexidade inerente ao tipo de investigao de estudo de caso histrico comparado. Da acreditar-se aqui na posio de que no o nmero de casos relevantes que limita a seleo do mtodo, mas a natureza do mtodo que limita o nmero de casos e o nmero de condies causais que o pesquisador est hbil a considerar.

    A outra crtica feita aos estudos de caso histricos comparados diz respeito forma de obteno de evidncia. Goldthorpe (1991: 213) critica o uso da histria pela sociologia quando esta produz evidncias a partir de inferncias causais.10 Para ele, fatos histricos so inferncias sobre relquias (documentos, artefatos, construes, obras de arte etc.), ou seja, so fontes de conhecimento do nosso passado, e por isso so incompletas e finitas. Os dados com os quais os historiadores trabalham no permitem conduzir orientaes subjetivas dos atores em massa. A grande sociologia histrica do sculo XX, de Barrington Moore e Theda Skocpol, toma como evidncias fontes secundrias. Nesse sentido, a ligao entre evidncia e argumento tender a ser sempre arbitrria. Assim, para Goldthorpe, os nicos socilogos que criam evidncias legtimas so os analistas de survey, pois estes se voltam para relquias. Rueschmeyer e Stephens (1997), em artigo que rejeita o ponto de vista desse autor, afirmam que a pesquisa histrica comparada, baseada em causalidades, importante, e que uma sada para o problema da obteno da evidncia seria combinar pesquisa comparada histrica e anlise quantitativa. Assim constata-se que h o risco de o pesquisador no conseguir desenvolver concomitantemente ambas as

    90

  • propostas de pesquisa a contento, ou seja, de realizar apenas um tipo de pesquisa de modo bem-sucedido.

    Tome-se o exemplo do trabalho de Putnam (1996) sobre o caso italiano. Ele estuda empiricamente durante mais de vinte anos o processo de descentralizao poltica na Itlia, ao longo da reforma institucional que se inicia a partir de 1970, analisando comparativamente o carter da mudana e do desempenho institucional entre os governos de suas vrias regies. Seu estudo revela que h uma forte correlao positiva entre modernidade econmica e desempenho institucional, e que o desempenho institucional nas regies tem forte correlao positiva com a natureza da vida cvica. As regies do norte italiano contm padres e sistemas dinmicos de engajamento cvico, enquanto as regies do sul padecem de uma poltica verticalmente estruturada. A comunidade cvica, portanto, tem explicao histrica rota dependente, ou seja, explicada voltando-se quase um milnio atrs, quando se estabeleceram em diferentes regies da Itlia dois regimes polticos contrastantes e inovadores - uma poderosa monarquia no sul e um conjunto de repblicas comunais no centro e no norte que por longo tempo acumularam diferenas regionais sistemticas nos modelos de engajamento cvico e solidariedade social. Para analisar o desempenho institucional de vinte regies italianas entre 1976 e 1989, Putnam utiliza a metodologia comparativa a partir de anlise fatorial e regresso mltipla. Alm disso, desenvolve estudos de caso qualitativos em oito das vinte regies, onde so feitas mais de setecentas entrevistas com conselheiros regionais; trs baterias de entrevistas com lderes comunitrios (banqueiros, lderes rurais, prefeitos, jornalistas, lderes sindicais e empresariais), e seis sondagens eleitorais junto populao entre 1968 e 1988. Concomitante, faz uma pesquisa histrica para dar a explicao rota dependente acerca das tradies cvicas. O

    estudo de Putnam foi muito elogiado na parte cross-sectio?ial, no que tange aplicao de metodologia estatstica e de pesquisa qualitativa nas regies, porm recebeu pesadas crticas em sua anlise histrica. Ao tratar da histria complexa e milenar da Itlia e de suas regies de forma rpida (em apenas um captulo), tentando criar suas cadeias causais para explicar as diferenas de civismo nas vrias regies do pas, Putnam incorre em inferncias imprecisas que levantam o clamor e o protesto de historiadores italianos." Uma das crticas centrais diz respeito tentativa de mesclar histria comparada com anlise quantitativa, que verificada no captulo 5 do seu livro. Putnam cria um ndice de tradies cvicas que se correlaciona perfeitamente entre as regies do norte e do sul da Itlia, tal como enuncia sua hiptese. Entretanto, as variveis que compem esse ndice esto situadas entre os anos de 1860 e 1920, ou seja, s dizem respeito ao final do sculo XIX e incio do XX, e no a um milnio atrs como ele ao longo do texto tenta provar, ao relatar eventos histricos importantes que procuram confirmar sua hiptese. Assim, apesar de at constituir um momento crtico que remonta a mil anos atrs, Putnam no traz uma seqncia de fatos robustos ao longo do tempo que possa dar sustentao mais slida sua hiptese. Isto requereria dele e de sua equipe, uma pesquisa da histria geral e regional da Itlia ainda mais detalhada. Alm disso, uma vez que usa abordagem de histria comparada, talvez devesse relativizar bastante a rgida diferena to marcante que tenta estabelecer historicamente entre o norte e o sul italiano, dado a multiplicidade de contextos que envolveu to antigas localidades ao longo de toda a histria.

    Assim, a tentativa de resolver o problema das evidncias, com a conciliao entre mtodos de pesquisa estatstica e estudo de caso histrico comparado, tal como sugere Rueschemeyer e Stephens (1997), algo

    91

  • que pode trazer dificuldades do ponto de vista do rigor metodolgico para a pesquisa. Pode constituir-se muito mais um compli- cador do que facilitador, dado que cada mtodo de pesquisa exigir um esforo duplo por parte de cada pesquisador ou grupo de pesquisa, uma vez que em cada frente de trabalho ser necessria a presena de especialistas nas duas metodologias. Afinal de contas, a pesquisa de estudo de caso histrico comparado, em sua essncia, distinta da pesquisa orientada pela varivel que utiliza metodologia estatstica. A caracterstica fundamental dos estudos de casos histricos comparados diz respeito complexidade causal, sobretudo a causao mltipla, que se caracteriza pelo dilogo entre idias e evidncia. J na pesquisa orientada pela varivel, que usa mtodos estatsticos, a preocupao principal reside em dirigir estimativas aproximadas, para provar que determinados efeitos de uma causa so os mesmos cruzando diferentes contextos (Ragin, 1987: 167).

    Skocpol (1984: 382), ao discutir o valor das fontes secundrias como evidncia para o investigador de cincias sociais orientado pela histria, afirma que uma insistncia dogmtica em refazer as fontes primrias de pesquisa, para cada investigao, seria desastrosa. Se um ou vrios assuntos j so demasiado explorados por vrias pesquisas primrias, as fontes secundrias so apropriadas como fontes de evidncia para um dado estudo. Us-las no torna o investigador que o faz inferior ao analista de survey. Acredita- se aqui que o ponto de vista de Skocpol coerente, pois sem o uso de fontes secundrias como evidncia os estudos de caso histricos comparados, ou os estudos guiados pela histria em cincias sociais, se tornam inexeqiiveis. Uma posio crtica mais radical nesse aspecto compreensvel por parte de historiadores, mas no cabe s cincias sociais. A crtica dos historiadores aos estudos histricos comparados em cin

    cias sociais, que deve ser incorporada, diz respeito ao arbtrio que o investigador faz das fontes secundrias que utiliza como evidncia. Assim, como considera Skocpol (1984: 382), cabe ao pesquisador que est desenvolvendo anlise histrico-comparativa tomar cuidado com as vrias interpretaes historiogrficas. Neste caso, torna-se fundamental que o pesquisador seja exaustivo e no parcimonioso, ou seja, que busque na literatura que lhe servir de evidncia aqueles estudos que concordam ou discordam de sua hiptese.

    Consideraes Finais

    Como foi visto ao longo do texto, o conceito de path dependency tem origem na economia da tecnologia e desenvolve-se no campo da cincia poltica dentro da corrente institucionalista histrica. Entretanto, sua base terico-metodolgica vincula-se aos estudos histricos de sociologia poltica comparada, sobretudo aos trabalhos de Barrington Moore Jr. e Theda Skocpol. O estudo de Putnam acerca do caso italiano um dos principais trabalhos recentes que utiliza a noo de path dependency para entender o comportamento da poltica italiana em suas distintas regies.

    O conceito de path dependency em estudos histricos comparados um referencial terico metodolgico bastante til para se compreender a institucionalizao de processos decisrios de governo ou o estabelecimento de trajetrias de poltica econmica em pases, regies ou outras unidades de anlise. Tanto a vivncia de momentos crticos comuns, levando os pases a construir diferentes legados, como, o contrrio, a vivncia de distintos momentos crticos, gerando legados comuns entre os pases, so situaes curiosas que suscitam questes- problemas para o pesquisador que opta trabalhar com essa abordagem.

    92

  • Finalizando, os estudos polticos com base na anlise institucional histrica que se utilizam do conceito de path dependency procuram analisar como as decises dos atores, sucessivas e acumuladas ao longo do tempo, so capazes de criar instituies que deixam legados polticos e econmicos

    quase irreversveis. Isso no quer dizer que novas opes de mudana no surjam durante a trajetria e que, portanto, o determinismo histrico seja prevalecente, pois se o investigador agir desta forma acabar criando uma explicao do tipo Deus ex machina.

    Notas

    1. A literatura sobre o congresso norte-americano vasta, existe um sem-nmero de trabalhos sobre este objeto. Para uma reviso da escola neo-institucional da rational choice e os estudos legislativos do congresso norte-americano, ver Limongi (1994).

    2. De acordo com Rhodes (1995), o velho institucionalismo ou o institucionalismo tradicional, com sua nfase em arranjos formais legais, caracteriza a diferena entre esta abordagem e a neo-institucionalista, que passa a ser desenvolvida pela cincia poltica e outros campos de estudo relacionados, como a sociologia, a economia e a administrao pblica. A distino entre o velho e o novo institucionalismo, pelo menos no campo da teoria das organizaes, em que se desenvolve o novo institucionalismo sociolgico, algo polmico e questionvel por autores considerados velhos institucionalistas como Selznik. Sobre isso, ver, entre outros, Selznik (1996) e Prates (2000).

    3. O trabalho de Almond e Verba (1963) um dos principais estudos comparados transna- cionais, dentro do enfoque pluralista que procura analisar a cultura poltica, ou seja, investigar como as atitudes e os comportamentos de grupos e indivduos influenciam a democracia. Nesta mesma linha de anlise situa-se o estudo de Banfield (1958), realizado na cidade de Montegrano no sul da Itlia. Ainda na abordagem pluralista o trabalho de Robert Dahl (1961) representa um das principais contribuies teoria pluralista, assim como, entre outros, Truman (1951); Schattschneider (1960), Eckstein (1960), Einsenstadt e Apter (1963).

    4. A questo da autonomia de Estado discutida por Evans (1995), que elabora o conceito de EmbeddedAutonomy (Autonomia Inserida). Esse conceito, em termos gerais, significa a relao entre Estado e capital privado, visando ao desenvolvimento industrial. A partir da combinao de uma forte tradio burocrtica entre os agentes pblicos (meritocracia, carreiras de longo prazo, senso de dever e lealdade), com uma relao de cooperao e confiana com o setor privado, objetiva-se atingir metas de desenvolvimento econmico. Em seu estudo de caso comparado de seis pases (Zaire, Japo, Coria do Sul, Taiwan, Brasil e ndia), o autor estabelece uma tipologia acerca da capacidade de autonomia dos Estados no desenvolvimento de programas de transformao industrial.

    5. O estudo de Immergut (1996: 162) enfatiza este ponto. Ao analisar, de modo comparativo, o processo de mudana constitucional nos sistemas de sade da Frana, da Sua e da Sucia, a autora afirma que as instituies indicam quais cursos de ao tero mais probabilida3e de sucesso a partir da lgica social da histria, combinada s estratgias e aos recursos dos atores polticos no momento do processo de escolha. Isto quer dizer que

    93

  • decises institucionais passadas indicam os caminhos possveis por onde sero dadas escolhas e decises polticas futuras, visando mudana institucional. As diferenas existentes na reforma de sade desses trs pases so explicadas pela disposio dos atores polticos (sindicatos e confederao de patres e empregados), das arenas polticas (executivo, parlamento, ou eleitorado) e pelo tipo de deciso assumida (regra majoritria, hierarquia ou unanimidade). Ainda, segundo Immergut, em cada caso, medida que os polticos e os grupos de interesse disputavam o uso dos mecanismos institucionais, criavam-se padres diferentes de policy making.

    6. Na economia, o termo path depende?ice normalmente escrito com a letra e ao final da palavra dependence e no com a letra y , como normalmente encontrado na literatura de cincia poltica. Semanticamente, os termos dependence e denpendency so iguais. Prefere-se adotar aqui a grafia dependency.

    7. O tipo de anlise de North, de ntida inspirao weberiana, possui um paralelo na literatura do pensamento social brasileiro, sobretudo nos trabalhos de Srgio Buarque de Holanda (1936) e de Raimundo Faoro (1957), que estudam fundaes histricas do Brasil colnia para estabelecer o vnculo entre a trajetria do pas e sua condio de subdesenvolvimento.

    8. Pzeworski e Tenue (1970: 32-38), ao analisarem o mtodo da semelhana e da diferena em estudos comparados orientados pela varivel, denominam o primeiro projetos de sistemas diferentes e o segundo, projetos de sistemas semelhantes . O primeiro inicia-se com a comparao intra-sistmica (variveis dependentes) que deve variar entre os casos, depois, na comparao intersistmica (variveis independentes), identifica-se um fator causal relevante comum que explique a diferena entre os sistemas. No segundo mtodo, na esfera intra-sistmica, o fenmeno dependente invarivel e na esfera intersistmica, visando a reduzir o nmero de variveis independentes relevantes, busca-se mxima heterogeneidade entre os casos.

    9. Sobre os problemas de seleo no-randmica de casos em pesquisa quantitativa e qualitativa, ver Collier (1995), Caporaso (1996) e Liphart (1971).

    10. A discusso acerca da cincia poltica historicamente orientada, e sua base de evidncia capaz de desenvolver tipologias e avaliar trajetrias de comunidades polticas separadas no tempo e/ou espao, encontrada tambm em Lustick (1996).

    11. Algumas das principais crticas abordagem da histria italiana, realizada por Putnam para demonstrar a diferena de comunidade cvica nas diferentes regies, podem ser observadas, entre outros, em Pasquino (1994), Bagnasco (1994), Cohn (1994) e Sabetti (1995). Alm dos historiadores italianos, h tambm uma crtica abordagem histrica no trabalho de Putnam feita porTarrow (1996).

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  • Resumo

    Path dependency e os Estudos Histricos Comparados

    Este artigo tem o objetivo de apresentar o conceito de path dependency (dependncia de trajetria), mostrando que a perspectiva adotada nesse pensamento dentro da cincia poltica mais recente comum e originria dos estudos de sociologia poltica comparada. Para isto, observam-se os aspectos essenciais que compem o conceito: filiao terica oriunda da economia de tecnologia e vinculao com a abordagem institucionalista histrica. Alm disso, analisa-se a perspectiva terico-metodolgica dos estudos histricos comparados em sociologia poltica a fim de mostrar sua proximidade com a abordagem da path dependency.

    Palavras-chave: Path dependency; Estudos histricos comparados; Institucionalismo histrico.

    Rsum

    Path dependency et les Etudes Historiques Compares

    Le but de cet article est de prsenter le concept de path dependency (dpendance de trajectoire), tout en montrant que la perspective adopte par ce courant de la science politique plus rcente est commun et originaire des tudes de sociologie politique compare. Pour cela, nous observons les aspects essentiels qui composent le concept : filiation thorique issue de lconomie de technologie et lien avec labordage institutionnel historique. Nous analysons, par ailleurs, la perspective thorique et mthodologique des tudes historiques compares en sociologie politique en vue de dmontrer sa proximit avec labordage de la path dependency.

    Mots-cls: Path dependency, tudes historiques compares; Institutionnalisme historique.

    Abstract

    Path dependency and comparative historical studies

    This paper aims at presenting the path dependency concept by showing that the most recent political science perspective has its source in the comparative political sociology. In doing so we focus attention on essential aspects o f the concept: its theoretical origins in technology economy and its links to the historical institutionalist aproach. Finally the article analyses both the theoretical and methodological perspectives o f comparative historical studies in political sociology in order to show its proximity with the path dependency approach.

    Keywords: Path dependency; Comparative historical studies; Historical institutionalism.

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