paternidade - agencia.ecclesia.pt · paternidade 28 - entrevista: joão miguel tavares 52 - estante...

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04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: José Luís Gonçalves22 - Opinião: DNPJ24 - Semana de.. Lígia Silveira26 - Dossier Paternidade28 - Entrevista: João Miguel Tavares

52 - Estante54 - Multimédia56 - Vaticano II58 - Agenda60 - Por estes dias62 - Por outras palavras63 - YouCat64 - Programação Religiosa65 - Minuto Positivo66 - Liturgia68 - Família70 - Ano da Vida Consagrada74 - Fundação AIS76 - Lusofonias

Foto da capa: Sónia NevesFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Jubileu daMisericórdia[ver+]

Nova Basílica emPortugal[ver+]

Celebrar apaternidade[ver+]

Octávio Carmo | José LuísGonçalves | Fernando CassolaMarques | Manuel Barbosa |PauloAido | Tony Neves | Luis FilipeSantos | Alexandra Viana Lopes

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Assumir a paternidadeAs sociedades ocidentais vivem numparadoxo existencial: ao longo dosúltimos séculos têm visto crescer asreivindicações de fraternidade, masforam perdendo o sentido depaternidade. Ao pai correspondeu,durante demasiado tempo(infelizmente), a ideia de uma figuraautoritária, que impede a afirmaçãodo indivíduo em liberdade dos seusfilhos.Vale a pena assumir o discurso daternura e da proximidade - tãopresente no atual pontificado - e,mais

do que isso, assumir a paternidade.O momento em que o homem vê asua vida transformar-se em algomaior do que si próprio implicamudanças, sacrifícios, abnegação etraz consigo recompensasinesperadas, de realização interior ede sentido.Assumir a paternidade na sociedadeatual, entenda-se, é mais do que terfilhos. Não é um mero ato mecânico.É entrar na maturidade humana,espiritual, intelectual, abandonar acentralidade egoística e entender ooutro como uma responsabilidadepessoal e coletiva.Do ponto de vista católico, implicatambém, necessariamente,reaprender a sentir-se filho deDeus, redescobrindo a suaidentidade como Amor e nãodesfigurando o seu rosto, com asreduções injustas a um elenco deregras e proibições. O avanço dostempos tem mostrado, de formaindiscutível, que não é possívelconstruir uma sociedade verdadeirafraterna sem este sentido genuíno eprofundo da paternidade.

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

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A experiência de vida de um bispo ilhéu (D. António de Sousa Braga)numa homilia aos «colaboradores» da Conferência Episcopal Portuguesa.

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- «Mais de uma década a levar àsigrejas do Baixo Alentejo umaseleção de música de excelentequalidade, pensada numaarticulação com o patrimónioarquitetónico e natural»(Manuela Paraíso, Jornal de Letras– 18 a 25 de março de 2015) «Em pouco tempo, Bergogliotornou-se o pragmático dareforma da Igreja Católica. Nãose ficou pelo Banco do Vaticanoe pela Cúria Romana, apesar detodas as resistências aíinstaladas»(Frei Bento Domingues, Jornal«Público» - 15 de março de 2015).

«O que nós percebemos é que asensibilidade do Santo Padre lheaflora aos olhos. Às vezestambém com as lágrimas. Quenão são de sermão, mas da durarealidade do sofrimento deJesus Cristo, que ele sente eacolhe, vivo, nos pobres, nosmarginalizados, nos sós, nasvítimas de toda a espécie deviolência»(Querubim Silva, Jornal «Correiodo Vouga» - 18 de março de 2015) «Para já, o primeiro-ministro afastoua turbulência acumulada à sua voltacom explicações embrulhadas quefoi dando sobre as suas dívidas àSegurança Social»(Público 15 de março de 2015)

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Santuário de São Bento da PortaAberta,a nova basílica portuguesaO Santuário de São Bento da PortaAberta vai receber este sábado otítulo de ‘basílica menor’, numacerimónia presidida pelo arcebispode Braga, D. Jorge Ortiga, a partirdas 11h00. A decisão tinha sidoanunciada a 11 de fevereiro, peloarcebispo primaz, durante umaMissa a que presidiu no local deculto situado em Rio Caldo, Terrasde Bouro. “O facto de assinalarmos os 400anos com esta solenidade, a Igrejaconfirma que este não é umsantuário qualquer mas honra-ocom a dignidade de uma basílica.Foi o povo que impôs esta

devoção sobretudo pela afluênciade fiéis”, explica o presidente damesa administrativa da Irmandadede São Bento da Porta Aberta.O título de basílica é concedido pelaSanta Sé a certas igrejas pela suaantiguidade ou por serem centrosde peregrinações.Peregrinos que, segundo o padreFernando Monteiro, para além dadevoção ao patrono da Europa,também peregrinaram com sol,chuva e vento “desejosos” do queSão bento “deu ao longo da históriaà Igreja e ao próprio mundo”.

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À Agência ECCLESIA, o sacerdotecontabiliza “milhões de peregrinos”que ao longo do ano deslocam-seao santuário a pé, de bicicleta, deautocarro “não” só nas grandesfestividades, com “motivaçõesestreitamente religioso”, mastambém atraídos pela “beleza” doParque Natural Peneda-Gerês.“É precisamente a fraternidade quequeremos construir. Ao longo destesanos, muitas pessoas não crentes,atraídas pela beleza do Gerês, umlugar paradisíaco, não ficaramindiferentes e através da naturezachegaram ao criador”, observou osacerdote.Neste contexto, o presidente damesa administrativa da Irmandadede São Bento da Porta Abertaassinala que em Rio Caldo, Terrasde Bouro, estãosituados doissantuários, o

edificado e religioso onde “sevenera São Bento, pai da Europa”, eo santuário natural.Segundo a página oficial doSantuário, o culto a São Bento, emRio Caldo, deve a sua origem àinfluência dos monges de SantaMaria de Bouro, remontando aoséculo XVII:O atual Santuário foi reconstruído no século XIX, tendo sidoinaugurado um novo espaço deculto, junto ao templo primitivo, em2002.O responsável revela que aIrmandade de São Bento da PortaAberta sente-se “muito honrada” e“comprometida” pela celebraçãodeste acontecimento.“Hoje somos apenas uns meros instrumentos de que Deus se servepara fazer esta transmissão dadevoção a São Bento. Que seja ocorolário de um novoempenhamento de evangelização nadiocese e em Portugal”, observou.

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Emigração exige mudanças de fundo A diretora da Obra CatólicaPortuguesa das Migrações (OCPM)afirmou que o novo planoestratégico do Governo para osetor, que passa por incentivar osregressos ao país, tem de seracompanhando por “mudançasestruturais de fundo”. Em entrevistaà Agência ECCLESIA, EugéniaQuaresma saúda o esforço que estáa ser feito, mas alerta que, para osemigrantes portuguesesacreditarem que vale a pena voltar,não basta acenar com apoiosfinanceiros.“Estas medidas, para vingarem, vãoter de mexer também com asestruturas do país, com os seusserviços, com a capacidade deacolher e integrar o valor que estaspessoas têm”, salienta aquelaresponsável.Para a diretora da OCPM, osmaiores obstáculos ao projeto doGoverno serão a excessiva“burocracia” e o modo como muitasvezes os aspetos funcionais ouprocessuais “não permitem àspessoas voarem mais alto,mostrarem o seu potencial”.Eugénia Quaresma recorda que “aintenção do Governo não é nova”,pois começou a ser manifestada “hádois ou três anos”.

Apesar disso, nesse período muitoportugueses, cerca de 300 mil,continuaram a sair do país embusca de um futuro melhor, algo quena opinião da responsável católicamostra que é preciso consolidarmelhor os passos que estão a serdados. “Nós sabemos que houvepessoas que emigraram justamenteporque o empreendedorismo falhouaqui em Portugal”, recorda.O Plano Estratégico para asMigrações 2015-2020 prevê apoiosfinanceiros à contratação deemigrantes desempregados ou àcriação de emprego próprio. No querespeita ao autoemprego, estãoprevistos incentivos na ordem dos10 a 20 mil euros por projeto,comparticipados pela UniãoEuropeia.“No início, o discurso estava muitobaseado nos talentos, nas pessoasqualificadas que iam para fora. Agrande novidade agora é que sequer também trazer as pessoas queestão lá fora e que estãodesempregadas. Vamos ver como éque isto se concretiza na prática”,refere Eugénia Quaresma.

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25 anos ao serviço dodesenvolvimentoe capacitação em países lusófonosA Fundação Fé e Cooperação(FEC) comemora, ao longo de 2015,25 anos de atividades marcadaspela promoção humana e pelodesenvolvimento solidário daspopulações mais carenciadas,nomeadamente nos paíseslusófonos. “É um ano que nos fazpensar no futuro e preparar ospróximos 25 anos. Estamos acelebrar a Quaresma com asdioceses portuguesas mas ao longodo ano vamos ter oportunidade decelebrar com quem está maispróximo da FEC”, explica a diretoraexecutiva da fundação católica.À Agência ECCLESIA, SusanaRéfega revela este aniversário é ummomento de “reflexão e avaliação”das questões da cooperação para odesenvolvimento, do trabalho nosoutros países e do “papel da Igrejanesta área”.

Com ação por exemplo na Guiné-Bissau, em Angola e Moçambique, aFEC trabalha pela capacitação daspopulações em áreas como aeducação, saúde, alimentação.Segundo Ana Patrícia Fonseca, afundação procura ter um trabalho de“influência politica” e de advocaciasocial” para promover “alteraçõesestruturais” e influenciar a opiniãopública, a fim de que esta conheça“questões de justiça social, dedesenvolvimento global”. Aresponsável destaca ainda otrabalho de coordenação com umarede de organizações devoluntariado missionário, desde ofinal dos anos 90, e o programaespecífico ‘Move-te pela mudança’,com professores de Educação Morale Religiosa Católica.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Fundação Ajuda à Igreja que Sofre visita cristãos no Líbano e Iraque

EMRC: Semana Nacional assinala importância da «mensagem cristã»

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Papa convoca Jubileu daMisericórdia“Pensei muitas vezes no modo comoa Igreja pode tornar mais evidente asua missão de ser testemunha damisericórdia. É um caminho quecomeça com uma conversãoespiritual; e devemos fazer estecaminho. Por isso decidi proclamarum jubileu extraordinário que tenhano seu centro a misericórdia deDeus. Será um Ano santo damisericórdia”Foi desta maneira que o PapaFrancisco anunciou, durante umacelebração penitencial na Basílicade São Pedro, o Jubileu daMisericórdia que a Igreja Católicavai celebrar entre 8 de dezembrodeste ano e 20 de novembro de2016, dia da solenidade de Cristo-Rei.O Papa defendeu que “ninguémpode ser excluído da misericórdiade Deus” e que a Igreja “é a casaque acolhe todos e não recusaninguém”. “As suas portas estãoescancaradas para que todos osque são tocados pela graça possamencontrar a certeza do perdão.Quanto maior é o pecado, maiordeve ser o amor que a Igrejamanifesta aos que se convertem”,realçou.

À imagem do que fez em 2014,durante o ‘rito pela reconciliaçãodos mais penitentes’, comabsolvição individual, o Papacomeçou por se confessar, antes dedirigir-se a outro confessionáriopara ouvir algumas pessoas.A abertura do próximo jubileu, oprimeiro desde 2000, vai decorrerno 50.º aniversário do encerramentodo Concílio Vaticano II e, segundoexplica a Santa Sé, em comunicadode imprensa, “adquire umsignificado particular, impelindo aIgreja a continuar a obra começadacom o Vaticano II”.O Conselho Pontifício para aPromoção da Nova Evangelização,responsável pela organização dascelebrações deste jubileu, recordaem nota oficial que o Papa tinhaafirmado no início de 2015 que sevivia “o tempo da misericórdia”. Esteé um tema muito presente no atualpontificado e já como bispo JorgeMario Bergolgio tinha escolhidocomo lema ‘miserando atqueeligendo’, que evoca uma passagemdo Evangelho segundo São Mateus:“olhou-o com

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misericórdia e escolheu-o”.O diretor do Apostolado daMisericórdia de Deus em Portugalacredita que o ano jubilarconvocado pelo Papa dará “novoalento” à divulgação de umamensagem essencial, muitas vezesencarada como “apenas mais umadevoção”. Em entrevista concedidaà Agência ECCLESIA, o padreBasileu Pires realça que “amisericórdia, mais do que

uma devoção”, é “um bálsamo, umacura para uma sociedade cheia deangústias”.É também expressão “do amorabsolutamente gratuito de Deus portodos os homens”, que são“chamados a viver” essa dimensão,“na mesma medida”, nas suascomunidades. LER MAIS: Elenco dos Jubileus

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Francisco condena atentado naTunísiaO Papa Francisco afirmou a sua“firme condenação do atentadoterrorista desta quarta-feira naTunísia, que provocou 24 mortos emais de 50 feridos, que consideraum ato “contra a paz e a sacralidadeda vida humana”. Em telegramaenviado hoje ao arcebispo deTunes, D. Ilario Antoniazzi, o Papamanifesta a sua tristeza pelo “graveatentado”, associando-se à dor dasfamílias enlutadas e do povotunisino.Também o secretário de Estado doVaticano condenou o atentadoterrorista, que classificou o ataquecomo “uma coisa muito cruel edesumana, verdadeiramenteinconcebível”.O atentado aconteceu em Tunes,

capital daquele país da África doNorte, quando “um grupo dehomens armados commetralhadoras” começou a dispararcontra turistas no Museu Bardo,próximo do parlamento tunisino. Asvítimas do ataque têm“nacionalidade espanhola, italiana,polaca, sul-africana, colombiana ebrasileira”.Segundo o serviço de informação daSanta Sé, “algumas fontes indicamque o alvo inicial do grupo seria oparlamento, onde os dois homensarmados teriam sido bloqueados naentrada pela segurança do edifício”.“No interior do parlamento decorriao debate sobre a nova leiantiterrorista proposta pelo governoda Tunísia”, refere a mesma nota.

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Sociedade impede crianças de nascer

O Papa Francisco afirmou que aIgreja e a humanidade têm devalorizar sempre o “dom” que ascrianças representam, lamentandoque a sociedade esteja a ficar“cinzenta” porque as exclui. “Hojevou centrar-me no grande dom queas crianças são para a humanidade.É verdade e obrigado poraplaudirem, são o grande dom paraa humanidade, mas são também asgrandes excluídas, porque nemsequer as deixam nascer”, afirmou,perante milhares de pessoas naPraça de São Pedro, queaplaudiram a intervenção.Francisco sustentou que é possível“julgar a sociedade pela forma comoas crianças são tratadas”, afirmandoque estas trazem “vida, alegria e

esperança”. “Trazem também,certamente, preocupações e àsvezes problemas, mas é melhor umasociedade com estas preocupaçõese estes problemas do que umasociedade triste e cinzenta porqueficou sem crianças”, assinalou.As crianças, precisou o Papa,ajudam a compreender melhor queo ser humano não pode serautossuficente. “Todos precisamosde ajuda, de amor e de perdão”,referiu.Francisco observou, por outro lado,que os mais pequenos ajudam todosa ter a consciência de que sãosempre “filhos”. “Isto significa que avida não tem origem em nósmesmos, mas recebemo-la; ogrande dom é o primeiro presenteque recebemos, a vida”, precisou.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

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Francisco ligou a Bento XVI no dia do seu onomástico

Papa condena atentados no Paquistão e pede fim da «perseguição» contracristãos

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Três tradições culturais que ajudama compreender a sede pelo espiritual

José Luís Gonçalves Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

Em Inteligencia Espiritual de Francesc Torralba(2010, Plataforma Editorial), o autor desenvolvea ideia segundo a qual todo o ser humano,independentemente das suas opções religiosasou laicas, dispõe de uma inteligência espiritualque deve ser cultivada, em associação comoutras formas de inteligência, como condição dedesenvolvimento integral da pessoa e até dasculturas e dos povos. Ora, se existe hoje relativoconsenso a respeito desta tese, não é menosverdade que o Ocidente nasce culturalmente dediferentes tradições/conceções de ser humano edaquilo a que se designa por espiritual. A nossacivilização ocidental/mediterrânica resulta de trêscidades-símbolo responsáveis por influênciasculturais distintas: Jerusalém, Atenas e Roma.Nestas, nasceram três ideias-guia clássicas arespeito do significado de espiritual que aindahoje influenciam as nossas visões de ser humanoe de mundo:Em Atenas, com Platão nasce a ideia do ‘homemracional’. Este ‘homem racional’ é quaseequivalente a ‘homem espiritual’ na medida emque a alma, sendo imaterial e imortal, é a partenobre e mais importante do ser humano emcomparação com o corpo material. Neste sentido,racionalidade é quase sinónima deespiritualidade, pois a atividade superior dohomem consiste na vida contemplativa, naexigência de uma vida moral superior a favor davida do ‘espírito’,

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como Platão explicita na imagem docabelo em Fedro. A vida moral temcomo meio instrumental a virtude ea necessidade da sua práticamediante a ascese.Em Roma, Séneca propõe a ideiado ‘homem virtuoso’. Nascido doestoicismo como filosofia de vidagrega, o homem virtuoso romanoprima pela austeridade, piedade eabnegação e, como modeloeducativo, imprimem-se-lhe ascaracterísticas da firmeza decarácter, do espírito de sacrifício, doautodomínio e da superação daspaixões. O ideal de homem sábio éa virtude – que é de caráterintelectual – e a indiferença peranteos bens materiais, princípio daliberdade interior unificada do sábio.Em Jerusalém, e com Bíblia, nasce aideia de ‘homem espiritual’. Paraesta, o ideal de homem não é oconhecimento racional, como emPlatão, nem a virtude pela virtude,

como em Séneca, mas a relação‘salvífica’ e dialógica que um Deusvivo (um Outro não disponível),único (anti idolatria) e transcendente(contra os antropomorfismos)propõe ao homem, mediante umavida espiritual. Esta revoluçãocultural confere ao homem umadimensão ‘transcendental’, pela qualaceita Deus como sua origem, meioe fim. Nesta conceção, o centroantropológico desloca-se da cabeçapara o coração, definindo-se ohomem como um intrincado debondade e maldade, de indigência ede esperança, à espera de resgate– salvação – dessa sua condiçãocontraditória da existência. Deus é oseu para onde …Não obstante esta diversidadecultural ocidental, constata-se quetodas são portadoras de uminiludível desejo de transcendênciainscrito nas profundezas do coraçãohumano, uma aspiração à felicidadeincondicionada que deve sercultivada e educada.

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Pensar na juventudeantes e depois de ser paiNovas perspetivas surgem e, semdar conta, vemos o futuro com umolhar diferente.Desde o momento em que se vive aexperiência da paternidade, pelaprimeira, segunda ou terceira vez(não importa), deixamos que pensarno futuro a partir de nós mesmos eda nossa condição pessoal epassamos a pensar muito mais nofuturo dos nossos filhos.Que desafios irão encontrar quandoforem jovens?Na Pastoral de Jovens também énossa preocupação preparar ofuturo dos jovens. Essa preparaçãopassa por conhecer as expectativasque os jovens de hoje criam emrelação ao futuro, ouvindo o queeles têm para dizer. Para além deouvir é importante criaroportunidades dos mesmos jovensparticiparem na comunidade e de seassumirem em diferentes áreas. E,por fim, cabe a todos nós, família,igreja e sociedade educar, formar,apoiar e deixar que cada umdescubra a sua vocação e construao seu

caminho dentro da liberdade que édada para a opção pessoal.Como pai é também isso quedesejo: um futuro capaz de acolhere apoiar cada um na fluidez da vida,independentemente dasexpectativas, dos receios ou dasdecisões que tomarem. Que afelicidade esteja sempre nohorizonte do meu filho, que possafazer a descoberta pessoal de terDeus sempre consigo e de poderanunciá-lo aos outros.Sabendo que, o futuro começa a serconstruído no presente eu procurocuidar da Pastoral de jovens,embora com perspetivas diferentes,como cuido do meu filho: com muitocuidado, carinho e muito Amor.

Alberto Gonçalves,coordenador do DepartamentoArquidiocesano da Pastoral deJovens de Braga, para o DNPJ

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Fátima Jovem 2015

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Ser pai

Lígia Silveira Agência ECCLESIA

Um dia uma mãe teve duas filhas gémeas quenasceram prematuras. Durante algum tempo, ascrianças viveram numa incubadora. Um dia, amãe aproximando-se dos ventres artificiais,percebeu que o ritmo cardíaco de uma das suasfilhas estava acelerado. O ambiente externo nãoseria tão confortável como o ventre materno,quente e protetor, onde o ritmo do coração damãe é audível e conforta. Olhando para asenfermeiras, ficou evidente a incapacidade decompreender o que se estava a passar. Numinstinto, a mãe aproximou-se da incubadora ecolocou a mão por cima da cabeça da sua filha,afagando-a e o ritmo começou a baixar até voltarao normal.A história das gémeas é verdadeira, mas poderiaser uma metáfora para qualquer pessoa. Evocoesta história no dia em que a tradição católicaassinala a paternidade de São José e a históriaportuguesa celebra o Dia do Pai porque acreditoque todos somos convidados a baixar o ritmocardíaco de quem conhecemos em diferentesexpressões e situações que atravessamos.Neste episódio a figura da mãe poderia sersubstituída por um cidadão que se dispõe àescuta, podíamos encontrar uma instituição queauxilia na fragilidade, um médico ou umsacerdote que cura, qualquer uma pessoa quecria e ajuda a cuidar.Todos somos filhos; nem todos serãoprogenitores. Contudo, todos podemos ser paisenquanto protetores e benfeitores da causacomum – e que razão haverá maior do quecuidar de um ser humano?

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Recorda o dicionário que «pai» éaquele que foi progenitor, queexerceu funções paternas, que é“criador e fundador”. São ações quetantas vezes se atribuem a pessoasconcretas mas que dificilmentereconhecemos em instituições.Assimilamos gestos, até carismas,ações solidárias mas dificilmenteidentificamos funções depaternidade num Estado que sedeseja social. Como é que hoje nossentimos filhos e pais uns dosoutros, com olhar atento, capaz decuidar, dando liberdade?Neste dia do Pai, que provocaalegrias e sorrisos em muitaspessoas,

memórias felizes em tantas outrasou saudades de um tempo vivido,queria evocar em especial aquelesque cresceram e se constituíramlonge da figura efetiva de um pai. Oafago e a normalização do ritmocardíaco teve outra proveniência,mas por certo aconteceram. E vãoacontecendo, haja disponibilidade,capacidade de escuta e amor.É esta dimensão de proximidade econtacto que nos torna humanos eseres em relação. Só desta forma seconhecem dificuldades, fragilidadese necessidades e só através destaligação é que podemos sermedidores das tensões uns dosoutros.

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A solenidade de São José é a data escolhida para acelebração do Dia do Pai, uma festa que evoca umafigura tão fundamental para a vida humana e para a fécristã. O dossier apresentado pela Agência ECCLESIApassa em revista questões teológicas, sociais e jurídicasligadas à paternidade, a que se soma uma entrevista aojornalista e cronista João Miguel Tavares, numa reflexãosobre o que significa ser pai hoje e como se falapublicamente disso.

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Ser pai no século XXIA Agência ECCLESIA sentou-se para uma conversa com o jornalista ecronista João Miguel Tavares sobre a sua experiência depaternidade, que durante muitos anos deram origem a reflexões,recheadas de bom humor, publicadas num jornal nacional. Neste Diado Pai, fomos saber como tenta compatibilizar o ser marido, pai e teruma profissão muito exigente.

Entrevista de Luís Filipe Santos Agência ECCLESIA (AE) –Como éser pai de quatro filhos em plenoséculo XXI?João Miguel Tavares (JMT) – É,certamente, muito diferente do queser pai nos séculos anteriores.Mesmo muito diferente. Acho quehouve uma verdadeira rutura nesteséculo. Ser pai no século XII, XIII ouXIV podia ser muito parecido, mas,hoje, é radicalmente diferente. Achoque, às vezes, as pessoas não têmconsciência disso. Existe uma largatradição do movimento feminista naluta pelos direitos das mulheres,mas existe uma falta de reflexãosobre o que é ser pai nos temposatuais. AE – Esse papel mudou de formaradical.JMT – A nossa presença dentro decasa é muitíssimo maior do que ados nossos pais. E as nossasexigências, enquanto pai, sãomuitíssimo superiores. Com a graçaou o azar, para nós pais, se estamos bem

preparados para enfrentar essepapel. Tenho a teoria de que opapel do pai, hoje em dia, é umbocadinho angustiado. E isso não édevidamente valorizado, inclusivepelas próprias esposas.Da mesma maneira que houve omovimento da mulher para fora decasa, houve o mesmo movimentoinverso do homem para dentro decasa. O homem, tal como a mulher,tem de trabalhar, mas também temde cuidar dos filhos. Atualmente,não existe um pai que possa dizer –a não ser com grande dose devergonha – que não sabe mudaruma fralda. Recordo-me que o meupai já ajudava nas lides domésticase já lavava a loiça.Estás em casa, és um igual, aindaque as mulheres se queixem, e comrazão, que o papel do homem e damulher continua a não ser igualitáriodentro de casa. Tenho perfeitaconsciência que a minha mulher,Teresa, trabalha muito mais do queeu dentro de casa.

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AE – Trabalha mais, mas é ela que«manda» em casa?JMT – O papel da mulher a mandarem casa é algo que ela não abdica,em 99% dos casos que conheço. Éa mãe que desempenha um papelde liderança dentro de casa. Issofaz com que ela trabalhe mais.

AE – O pai passou do «Eu» paraum «Nós»?JMT – Hoje em dia o pai senteessas obrigações familiares e senteque tem de estar próximo dos seusfilhos. Aquela ideia do paitrabalhador que a única obrigaçãoera colocar a comida

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na mesa já desapareceu. O pai temde dar mimos aos filhos e àsmulheres. Há uma série de tarefasque recaem sobre ele e que tornamo seu papel social muito exigente.No entanto, o homem ainda vive umbocadinho naquela mitologia de nãose queixar. Tem dificuldade em falardessas coisas. AE – Acompanhar e ver os filhoscrescerem torna-se um fascínio?JMT – É muito fascinante, mas noinício da paternidade existe muitaangústia da parte do homem. E issonão é devidamente valorizado. Oshomens não têm aquela cultura -que as mulheres têm - de estarem afalar uma hora com a amiga. Ohomem quando se junta é para falarde miúdas ou de futebol. Este tipode cultura ainda existe muito. Falta-lhe desabafar mais. AE – O homem ainda não estápreparado para lidar com essepapel.JMT – Verdade. Não estápreparado e para as exigências queisso lhe traz. AE – Sem esquecer que existe o paida cidade e o pai da aldeia.JMT – Sim. Quando escrevo sobreessas coisas há muita gente que me

critica. Dizem ‘na minha terrinha nãoé nada assim’. No entanto,considero que existe uma grandediferença entre ser pai em Lisboa,com o que isso representa, e o serpai numa pequena terra do interior.Conheço os dois mundos porquesou de Portalegre, mas já vivo emLisboa há muitos anos. É evidenteque a exigência da vida citadina émaior do que em terras maispequenas, onde existe uma posturamais tradicional. AE – O ser filho de um casal dePortalegre tem reflexos na suapaternidade?JMT – Tem imensos reflexos. Tantona nossa vida como naquilo quesomos e no que passamos aosfilhos. Depois passa-se aquela coisaclássica: «As coisas que dissemosquando éramos filhos que nuncairíamos fazer isso quando fossemospais». E isso muitas vezes acontece,tal como a falta de paciência.Quando somos paiscompreendemos melhor os nossospais e aquilo que elesdesempenharam. Mas tambémtentamos, em parte, sermos paiscontra os nossos pais, no sentido detentar corrigir aquilo que achámosque eles estiveram menos bem. Nemsempre conseguimos.

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AE – Com quatro filhos, comoconsegue conciliar ou articular olado profissional com o ladopaternal?JMT – A articulação do ladoprofissional com o lado paternal ésempre uma fonte de angústiamoderna da parte de um pai.Porque as exigências do ladopaternal aumentaramexponencialmente. O pai tem deestar presente nas festas ereuniões dos filhos. Quando seaproxima o Natal e as festinhasrelacionadas com esta data, jádeitamos festas pelos olhos. É deuma exigência tal que quase tenhode deixar de trabalhar nessasépocas.No meu caso, o lado profissional é,absolutamente, essencial paramanter o equilíbrio mental. Costumodizer que sou pai de quatro filhos,mas a culpa é da minha mulher(risos…). Costumo dizer que eraperfeitamente feliz numa bibliotecacom internet de banda larga(risos…). Nasce muito do amor quetenho pela minha esposa… É sobreele que se constrói, realmente, umafamília. É este amor que está nabase de tudo.Há uma frase do filme «Lost inTranslation» de que gosto imenso.Ele diz: “a primeira vez que nasceum filho, a tua vida como aconheceste acaba”. Isto é verdade.A vida como nós a conhecemos atéaí, acaba de vez.

AE – Mas depois eles começam acrescer e a vida torna-semaravilhosa…JMT – Isso é absolutamenteverdade, mas há sempre umprimeiro click de loucura quando setem o primeiro filho. Como venho deuma família pequenina é semprecom espanto quando olho e vejo àminha volta 4 miúdos. Foi uma coisaque nunca imaginei para a minhavida. AE – Mesmo quando namoravanunca pensou ter muitos filhos?JMT – Começamos a namorar emmarço de 1992 e falávamos em tertrês filhos. Na verdade imaginavaeste cenário apenas teoricamente.Não é fácil compatibilizar isto com avida profissional.

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AE – E cada filho é um ser único.JMT – Cada filho é único ediferente. Isso é muito fascinante.Ficamos pais mais experientes e jánão nos preocupamos tanto quandoele chora. Não existem regras fixasporque aquilo que se aplica a umpode não funcionar com outro filho. Com uns émelhor gritar e dar uma palmada norabo e a outros não vale a penafazer isso. Por exemplo, ao Tomásbasta dizer-lhe que estou desiludido com ele. Para ele é uma coisa mais agressiva do que dar uma palmada no rabo. Os miúdossão, de facto, muito diferentes. Algumas pessoas pensam que têm uma fórmula muito fabulosapara criar os filhos. Não concordocom isso. A única fórmula é estaratento a cada um deles e respeitar asua individualidade.

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AE – No entanto, escreveu um livroonde dá «dicas» para a educaçãodos filhos.JMT – Nesse livro, «Manual deSobrevivência para pais e maridos»,acrescento que as dicas são umaaldrabice. Aquilo não é um manualde instruções. No fundo são 112partilhas. São coisas que eu vivi epoderei partilhar com outraspessoas. Não me apanham –tirando duas ou três regras de ouro– a dizer: faz assim… é assim quese tem de fazer… AE – Como se educa um filho numasociedade consumista onde o verbo«ter» pesa mais do que o verbo«ser»?JMT – Não tenho um discursocontra a questão do consumismo.No entanto, acho que é preciso tercuidado com ele. O consumoexcessivo não é bom para ninguém.Parece bizarro e estúpido aspessoas passarem um fim-de-semana num centro comercial.Todavia, o consumismo tem umavantagem. Os meus filhos têm osquartos cheios de brinquedos e,assim, é mais fácil dar e oferecer.Os miúdos têm de ser sensibilizadosque existem outras coisas mais

importantes. O facto de eles teremmais coisas, torna-os desapegadosa cada uma delas. Isso é positivo.Eu era muito mais agarrado àsminhas coisas. Eles são mais livresde dar as coisas. Por terem mais,estão menos presos a cada umadelas. É uma face positiva de teremmais coisas. AE – A chamada educação para osvalores…JMT – A educação para os valoresé essencial. Muitas vezes, até poraquilo que se chama asecularização do mundo, perdeu-seuma sensibilidade para valores quesempre foram parte da humanidade.Quando falamos de religiões e deum livro como a Bíblia, aquilo é umasapiência acumulada ao longo demilénios. Aquilo que ali está foidepurado e representa umpensamento profundo sobre asverdadeiras questões da existência.

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A educação para os

valores é essencial.Muitas vezes, até poraquilo que se chama asecularização do mundo,perdeu-se umasensibilidade para valoresque sempre foram parteda humanidade.

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AE – A secularização conseguiu diluir esse lado profundo? JMT – É um dos grandesproblemas da secularização do mundo, independentemente ou não da existência de Deus. Quando se fala da secularização coloca-se muito a questão se Deus existe ou não existe.

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AE – Para si, existe ou não existe?Já disse que era um católico ateu…JMT – É verdade que disse.Sempre achei isso muito bizarro, atéque um dia, Graham Greene disse amesma coisa. Olha que belacompanhia que tenho (risos…). Ocatólico ateu está relacionado comtudo aquilo que estou a dizer agora:tenho imensas dúvidas se Deusexiste ou não… Mas tudo o queexiste no catolicismo me interessa.Sou uma pessoa permanentementefascinada com os evangelhos. Éalgo que é fundamental na minhavida. Ali há uma sapiência de vidaem que acho que ela é a maneiracerta de agir.Para mim e para a Teresa – ela éuma mulher de muito mais fé do queeu – nós educamos os nossos filhosna religião cristã. Eles vão àcatequese. AE – Um pai cheio de dúvidas queleva os filhos à catequese?JMT – Sim e rezamos de noite. Éum momento de olhar interior. Háuma sensação de aproximação aalgo… Para um algo mais profundo.Existe uma dimensão deprofundidade na nossa vida queestá muito além da superfície dodia-a-dia.

AE – Um momento de partilha…JMT – Se há coisa em que acreditoé na família. Acho que esta é abolha (não no sentido de estarfechado aos outros) e o nossorefúgio. Isso para mim é,absolutamente, indiscutível. Nesteaspeto não sou nada relativista,costumo dizer que sou liberal emrelação aos outros, masconservador em relação a mim. AE – É um «pai galinha»?JMT – Não, nem quero ser. Acreditoimenso em dar liberdade aos nossosfilhos. Recentemente insisti imensopara que a Carolina (filha que tem11 anos) começasse a ir sozinhapara a escola. Dou-lhe imensaliberdade para ela fazer o quequiser. Ela sabe que existe umacoisa que é proibida em casa:mentir. Desde de que não me mintatem a minha confiança. Estou a criarmiúdos responsáveis… AE – Os seus olhos indicam que éum pai feliz e um profissionalrealizado.JMT – Sou uma pessoa feliz. Tiveimensa sorte com a pessoa comquem casei. Sou um privilegiado.Mesmo no meio da gritaria em casa,somos uns privilegiados e tentamosdar graças a Deus por isso, mesmoque tenha dúvidas que ele exista…(risos)

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São JoséA Igreja Católica assinala hoje asolenidade litúrgica de São José,desde cedo apresentado símbolo eexemplo de pai e de trabalhador,estando por isso associado àcelebração do ‘Dia do Pai’. Osfactos relativos à vida de São Josésão contados nos Evangelhos,sobretudo nos textos de Mateus eLucas, que o citam pela última vezno episódio da perda e encontro deJesus no Templo.A morte de São José não é relatada,embora se conclua, pelosEvangelhos, que ocorreu antes doinício da vida pública de JesusAcredita-se que o culto a São Joséteve início entre as comunidadescristãs do Egito; no Ocidente, osservitas, membros de uma ordemmendicante do século XIV,

começaram a festejar o dia 19 demarço como data da morte do santo.Essa devoção logo teve defensores,entre os quais o Papa Sisto IV e amística espanhola Santa Teresa deJesus.Declarado patrono da Igrejauniversal em 1870, por Pio IX, teveinstituída em 1955, por Pio XII, afesta em que é homenageado comoSão José Operário, a 1 de maio.João Paulo II dedicou à figura deSão José uma exortação apostólica,a “Redemptoris Custos” (O protetordo redentor), onde escreve que osanto “é um exemplo delaboriosidade e honestidade notrabalho quotidiano”.Bento XVI abordou esta figura pordiversas vezes, com destaque parao dia 19 de março de 2006, numa

Papa FranciscoUm pai sabe bem quanto custa transmitir esta herança: quantaproximidade, quanta meiguice e quanta firmeza. No entanto, queconsolação e recompensa se recebe, quando os filhos honram estaherança! É uma alegria que compensa todos os esforços, que superaqualquer incompreensão e cura todas as feridas.Papa Francisco, audiência geral de 4 de fevereiro de 2015

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catequese dominical, em quesublinhou a fé de São José “noDeus que guia os acontecimentosda história segundo o seumisterioso desígnio salvífico”. “Oexemplo de São José é para todosnós um forte convite a desempenharcom fidelidade, simplicidade ehumildade a tarefa que aProvidência nos destinou. Pensoantes de tudo, nos pais e nas mãesde família, e rezo para que saibam

sempre apreciar a beleza de umavida simples e laboriosa”, disse.João XIII colocou o Concílio VaticanoII (1962-1965) sob a proteção deSão José, como padroeiro doencontro eclesial, e escreveu acarta apostólica ‘Le Voci’, na qualpassa em revista as intervenções devários Papas dos séculos XIX e XXsobre este santo, “augusto chefe dafamília de Nazaré e protetor dasanta Igreja”.

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São José, o «conselheiro» do PapaA Igreja Católica celebra estaquinta-feira a solenidade de SãoJosé, patrono da Igreja universal,que o Papa evocou na audiênciapública semanal como “exemplo devida humilde e discreta”.Francisco apresentou ainda comouma inspiração para os católicos,em particular os doentes, a “atitudede silêncio e de oração do paiadotivo de Jesus”, bem como, nocaso dos casais, “o amor que ligouJosé à Virgem Maria”.O pontificado do Papa argentinoiniciou-se precisamente no dia 19de março, em 2013, e o sucessor deBento XVI apresentou então SãoJosé como “«guardião», porquesabe ouvir a Deus, deixa-se guiarpela sua vontade e, por issomesmo, se mostra ainda maissensível com as pessoas que lheestão confiadas, sabe ler comrealismo os acontecimentos”.Em 2014, no mesmo dia, Franciscodisse que São José é o modelo de“educador” e de “papá” para todosos pais do mundo.“A missão de São José é,certamente, única e irrepetível,porque Jesus é absolutamenteúnico, mas na sua custódia deJesus, educando-o para

crescer em idade, em sabedoria eem graça, ele é modelo para cadaeducador, em particular para todosos pais”, referiu.Em janeiro deste ano, no encontrocom as famílias filipinas, em Manila,o Papa confessou a sua devoçãoparticular por São José.“Eu gosto muito de São José porqueé um homem forte e de silêncio. Nomeu escritório, eu tenho umaimagem de São José a dormir e,dormindo, ele cuida da Igreja.Quando tenho um problema ou umadificuldade, escrevo-o numpapelinho e coloco-o debaixo deSão José, para que ele sonhe sobreisso, ou seja, para que ele reze poreste problema”, afirmou.A 19 junho de 2013, o nome de SãoJosé foi inserido nas OraçõesEucarísticas II, III e IV do MissalRomano através de um decretoemitido pela Congregação para oCulto Divino e a Disciplina dosSacramentos.A decisão de acrescentar estareferência na principal oração dacelebração da missa justifica-se, deacordo com a Santa Sé, “pelo seulugar singular na economia dasalvação como pai de Jesus”. “SãoJosé de Nazaré,

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colocado à frente da Família doSenhor, contribuiu generosamentena missão recebida na graça e,aderindo plenamente ao início dosmistérios da salvação humana,tornou-se modelo exemplar degenerosa humildade,

que os cristãos têm em grandeestima, testemunhando aquelavirtude comum, humana e simples,sempre necessária para que oshomens sejam bons e fiéisseguidores de Cristo”, assinala odocumento.

Papa FranciscoA comunidade civil com as suas instituições, tem uma certaresponsabilidade — podemos dizer paterna — em relação aos jovens,uma responsabilidade que por vezes descuida e exerce mal. Tambémela muitas vezes os deixa órfãos e não lhes propõe uma verdadeiraperspetiva.Papa Francisco, audiência geral de 28 de janeiro de 2015

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José acrescenta humanidadeà encarnação do VerboS. José tem um papel de relevo nosevangelhos da infância de Jesus.Os evangelistas não escondem estafigura da vida de Jesus, mesmosendo Jesus o Filho de Deus.Precisamente por isso não oescondem. Mas José fica com umpapel mais escondido. A atençãonem sequer recai sobre a mãe(Maria), mas sobre Jesus. Maria dáa Deus a encarnação, José dá aJesus também espaço para essaencarnação, mas agora na históriade Israel e no tempo dadescendência davídica. Esta figuradiscreta, muito discreta, cumpre oseu papel na infância de Jesus, edepois desaparece. É, no fundo, umoutro precursor como foi JoãoBaptista. E tal como ele faz a ligaçãoao Antigo Testamento. Por isso, saide cena quando chega o Novo.Protege o Menino Deus, educa-O,alimenta-O. Neste sentido, dáespaço e tempo à encarnação doVerbo para lá do seio de Maria.Para que a encarnação sejacompleta é necessário uma família.José compõe essa família, e dáfamiliaridade a Jesus. O próprioJesus, na sua

humanidade, não deixa de começara nomear o Pai embalado pelaoração que José vai ensinando edirigindo a Deus. Tal como nósnomeamos Deus marcados pelaexperiência que recebemos danossa paternidade biológica, Jesustambém bebeu da fé do pai adotivo.Esta é a absoluta humanidade dafamília de Nazaré e da fé do próprioJesus, mesmo sendo adotado. Ora,Jesus sendo adotado por José, nãofoi menos amado.S. José é apresentado como filho deDavid em Mt 1,20, é dito em Lc 1,27da “casa de David”. Mais à frente Lc3,23 informa-nos que José, por suavez, era filho de Eli. Por José Jesusencarna em Israel, nasce e cresceem Israel. É José, como é costumeum pai fazer no judaísmo, a dar onome ao filho para que este recebaa sua identidade por umadesignação patronímica. Jesus éconhecido como Jesus (filho) deJosé. Para o judaísmo é só isto.José torna Jesus conhecido para asociedade judaica e para o mundo,pois Jesus, à maneira judaica, éconhecido como Jesus (filho) deJosé (Lc 3,23) de Nazaré.

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Papa FranciscoA primeira necessidade é precisamente esta: que o pai esteja presentena família. Que se encontre próximo da esposa, para compartilhar tudo,alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E que esteja perto dosfilhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam,quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quandose exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quandotêm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar ocaminho; pai presente, sempre.Papa Francisco, audiência geral de 4 de fevereiro de 2015

Em S. João, José só é referido duasvezes para dar a conhecer Jesus(cf. Jo 1,45; 6,42). Segundo Mt1,18-19 José soube que Mariaestava grávida e resolveu repudiá-laem segredo. Por isso, também eleprecisou de ser objeto de umaanunciação (Lc 1,21-24), comoMaria tinha sido. Por estaanunciação sabe o nome a dar aJesus, como é normal que o pai ofaça na tradição judaica. Para que ahistória continuasse depois daanunciação a Maria, foi necessáriatambém uma anunciação a José. Oque aconteceu era demais paraJosé. A sua reação era normal, aprópria lei o pedia. Só umaanunciação vinda do céu poderiacontornar a dificuldade. Isto alterouo olhar de José. Também elepercebeu que recebeu uma grandeprenda do céu.

Segundo Mt 13,55 José tinha aprofissão de “teknôn”, conceitobastante genérico e que poderáindicar alguém que trabalhava querna construção quer no mundoagrícola ou do artesanato. Aassociação à profissão decarpinteiro resulta de Mc 6,3 ondeJesus é conhecido assim, como o“filho do carpinteiro”. Esta referênciatransformou S. José no respetivopatrono. Mas a “técnica” de José éde outro calibre. O própriosignificado da raiz do seu nome emhebraico (yoseph) significa“acrescentar” / “continuar” /“repetir”. Ora, José acrescentahumanidade à encarnação doVerbo, e uma humanidade familiar.Deus Pai, pela humanidade de José,quis Ele mesmo proporcionar isto aoSeu Filho.

José Carlos Carvalho

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PaiHoje, apetecia-me falar sobre afigura do pai, porque é o Dia do Pai.E dizer que urge valorizar oinsubstituível papel do pai naeducação dos filhos e no equilíbrioafetivo e emocional dos membros dafamília. E dizer que o pai émuitíssimo diferente da mãe, não sóem termos biológicos, mas tambéma outros níveis (por isso, nãoconcordo que o pai possa sersubstituído por uma qualquermulher, porque “casada” com outramulher, ou possa ser identificadocomo um mero progenitor, comopretende a teoria do género). Edizer a tantos homens casados quenão tenham medo de ser pais, nãoporque nos faltam crianças, masporque ser pai é uma honra, é umdom, é um gosto. Por isso, comopai, considero sublime o meu papelde educador, completando o papel –igualmente extraordinário - da mãe.

Hoje, Dia do Pai, apetecia-me“adorar” S. José, porque terá sidoum pai fantástico, pelo pouco quesabemos das Escrituras, e pelomuito que paira na nossaimaginação: discreto mas atuante eforte nos momentos bem difíceis davida; obediente a Deus; paciente;trabalhador.Hoje, apetece-me dar os parabéns atodos os pais que sabem amar osseus filhos quando brincam comeles, quando à noite lhes dão umbeijo depois de rezarem emconjunto, quando sabem dizer sim esabem dizer não, quando promovema autonomia e recusam oprotecionismo.Hoje, sinto ainda mais orgulho deser pai, apesar de já ter idade paraser avô…

Jorge Cotovio,Diretor do Secretariado Diocesano

da Pastoral Familiar de Coimbra

Papa FranciscoA ausência da figura paterna da vida das crianças e dos jovens causalacunas e feridas que podem até ser muito graves. Com efeito osdesvios das crianças e dos adolescentes em grande parte podem estarrelacionados com esta falta, com a carência de exemplos e de guiasrespeitáveis na sua vida de todos os dias, com a falta de proximidade,com a carência de amor por parte dos pais. É mais profundo de quantopensamos o sentido de orfandade que vivem tantos jovens.Papa Francisco, audiência geral de 28 de janeiro de 2015

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SER PAI, UMA AVENTURA

Para assinalar o Dia do Pai, o Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar(SDPF) e o Centro de Aconselhamento Familiar (CAF), com a colaboraçãodos Casais de Santa Maria, vão organizar um encontro/ debatesubordinado ao tema «Ser pai… que grande aventura!».Esta sessão ocorrerá no dia 22 de março (domingo), pelas 17 horas, naloja FNAC, do Fórum Coimbra, tendo como orador principal o pai CarlosAlcobia, professor do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra.Num altura em que a identidade do género procura abalar o papelinsubstituível do pai (e da mãe), devemos afirmar publicamente as nossasconvicções, humanas e cristãs, a este respeito. Para tal, nada melhor doque fazê-lo em espaços concorridos por muitas pessoas, algumas dasquais vivendo e sobrevivendo nas periferias da fé e dos valoresfundamentais da vida.

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Pai ausente, pai presenteTantas e tantas formas de se serpai! Mais presente, mais ausente,mais rigoroso, mais descontraído,mais novo, mais experiente… eassim continuaria, numa diversidadeque só a sua descrição levaria todoo dia do Pai! Do pai José, velhocarpinteiro de profissão e maridosempre atento, ao pai João,astronauta de outros mundos emarido de sua mulher. E eu, quetipo de pai sou? De filho passei apai… que pai consigo ser? Comoquero ser pai? Muito cedo perdi omeu. Tornou-se ausente? Nem porisso! Tantas e tantas vezes lhepergunto o que acha do que faço, oque faria ele no meu lugar…Penso nisso a propósito de, há unsanos para cá, passar muito tempofora de Portugal, tal como entãoacontecia com o meu pai! Naverdade, por esta altura passo maistempo fora do que em Portugal:mais ou menos um mês e meio porcá e outro tanto por lá, por terras deÁfrica que, coincidência ou talveznão, eram aquelas que tantogostava.Passo mais tempo fora do meu paíse da minha família do que juntodeles. Sofrimento? …algum…masos tempos não estão para lamúrias!Dou-me

conta que assim criei o meuemprego e tenho muito trabalho,que posso dividir esse trabalho comoutros e assim criar mais emprego;dou-me conta de que com essesacrifício consigo participar no bem-estar da minha família e que, comalguns ajustes ao longo do tempo,temos conseguido preservar oequilíbrio familiar e encontrar novasformas de encontro, de presença ede afecto.Dou graças a Deus por viver numaaltura em que o saber dos Homensdesenvolveu tecnologias tais quenos permitem estar cá estando lá,que nos permitem ver, falar e ouvircomo se estivéssemos cá e afinalestarmos do lado de lá… e isso,podem crer, faz toda a diferença!É verdade que fruto dessecalendário acabo por faltar amomentos importantes; que mesmocom muita ginástica na marcaçãodas viagens não consigo evitar estardo lado de lá quando osaniversariantes estão do lado de cá;sucedem-se as minhas faltas aosdias da Mãe, ao dia do Pai, aosaniversários dos mais próximos, aosdias em que um qualquer sucessode um dos filhos daria lugar a umenorme abraço ou a uma

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comemoração especial. Não nego, éa parte dura desta forma de ser pai!Porém, algo em mim não deixa olharpara este período como triste. Difícilsim, mas triste não! São momentosintensos, cheios também dealegrias, que sendo diferentes nãodeixam de ser fortes! Não me sintoum pai ausente nem sinto a minhafamília distante. Basta lembrar-medos ansiados reencontros noaeroporto de Lisboa, nos sorrisos,nos abraços e até nos cartazes comque a minha mulher e os meus filhosse divertem a receber-me; naslongas conversas por Skype com aminha mulher e que, quase sempresem imagem, nos lembram ostempos das cartas físicas, que noinício da nossa vida em comum láiam afastando as saudades.Também das sessões de Skype(desta vez com imagem onde cabema mulher e os 3 filhos) onde pomosas notícias em dia, em quecelebramos e brincamos como seestivéssemos à mesa, todos do ladode lá… ou de cá, tanto faz.Relembro-me especialmente de umaniversário de casamento em quetivemos a celebração mais originalde todas, preparada de surpresapelos filhos: Do lado de lá umambiente à luz das velas, com umamesa posta a rigor e cheia derequinte, onde um manjar delicioso

(imagino!) foi preparado e servidocom esmero pelos 3 filhos, que deseguida se retiraram para darprivacidade ao casal! Do lado de cá,um manhoso arroz de atum,evidenciava os meus poucos dotesculinários, mas tornou-se numa dasmais maravilhosas refeições quepartilhei com a minha mulher!Obrigado filhos!Nestes novos caminhos decomunicação acompanho as notasdos filhos, as preocupações que porvezes trazem, vibro com a alegriaque emanam quando sãoportadores de notícias felizes…Não,não é tão bom como estar ali aolado, é verdade, mas é uma novaforma de ser feliz e claro, uma novamaneira de ser pai, um paipresente!

Ricardo Maia e MouraDia do Pai e dia de aniversário do

meu Sogro (desta vez estou do ladode cá)

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Paternidade de filhos-Direitos fundamentais, harmonias e desarmonias-

“A paternidade não é uma antecipação. É a presença do filho quevo-la dá, esta paternidade; é ele que dela vos investe subitamente,como se fosse um facto demasiado grande.” Fabrice Hadjajd, in “Oque é uma família”, no Grennelle de la Famille, em 8 de março de2014, em Paris

1. A paternidade, tal como amaternidade, constitui um valorsocial eminente, tendo o pai e amãe direito à proteção da sociedadee do Estado na realização da suaação insubstituível em relação aosfilhos (art.68º/2 e 1 da Constituiçãoda República Portuguesa) 2. No ordenamento jurídico emmatéria de direito da família são osfilhos que iluminam a paternidade ea maternidade (vide, v.g., arts. 64º/2,67º, 68º e 69º da Constituição daRepública Portuguesa).É aos direitos dos filhos e aos seusinteresses, enquanto crianças ejovens, que o Direito concedeprimazia e superioridade em relaçãoaos direitos dos seus pais outerceiros e à atuação dos podereslegislativo, executivo e judicial e detodas as instituições públicas eprivadas (art.3º/1 da Convençãodos Direitos

das Crianças, assinada em NovaIorque a 26 de janeiro de 1990). 3. No contexto da filiação, noentanto, registam-se quatro núcleosde direitos fundamentais dos filhos edos pais cuja tutela integral estálesada por contradições einoperâncias que reclamam melhorDireito e Justiça. 3.1. Os filhos têm direito à vida(art.6º/1 da Convenção sobre osDireitos da Criança; art.24º/1 daConstituição da RepúblicaPortuguesa).Este direito do filho à vida e o direitodo pai em exercer a sua paternidadeencontram-se, todavia,absolutamente lesados pelaadmissão legal da interrupçãovoluntária da gravidez e pelo regimeque não atende à vontade do pai donascimento do seu filho (art.142º doCódigo Penal; Lei nº16/2007, de 17de abril)

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3.2. Os filhos têm direito àidentidade paterna e materna,concretizada nos direitos aconhecer os pais, a preservar assuas relações familiares, ahistoricidade do seu patrimóniofamiliar, social e cultural (arts.7º/1 e8º da Convenção sobre os Direitosda Criança; art.26º da Constituiçãoda República Portuguesa).Neste âmbito, apesar de seencontrarem previstos meios comvista a tutelar esse direito (pelaobrigatoriedade da averiguação

oficiosa obrigatória da paternidadee da maternidade quando estasestiverem em falta- arts.1803º ss e1808º ss do Código Civil; arts.1826ºss do Código Civil), o direito dosfilhos à sua identidade já seencontra limitado em matéria deadoção plena de crianças e de sigiloda identidade dos pais (art.1875º doCódigo Civil) e encontra-searredado no regime que admite aprocriação medicamente assistidapor inseminação artificial comdoador externo ao casal e anónimo(arts. 15º e 19º a 22º da Leinº32/2006, de 26 de julho).

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3.3. Os filhos têm direito a não serafastados do seu pai e da sua mãe,contra a vontade destes, salvo pordecisão judicial fundamentada e emcaso de incumprimento dos deverespara com os filhos (art.9º/1 daConvenção sobre os Direitos daCriança; art.36º/1 da Constituiçãoda República Portuguesa).Apesar da prevalência dada nalegislação civil ordinária àpreservação da família biológica e,na sua falta, à promoção da adoçãocomo figura que restitui essarealidade (art.4º/f) d), g) da LPCJP,por si e ex vi do art.147º-A do DLnº314/78, de 27.10.), continuam aafastar filhos de pais as limitaçõesde desenvolvimento e cuidado decrianças nascidas em famílias emcontextos de pobreza material eeducacional e as falências dotrabalho público e privado no apoioao seu desenvolvimento integral,afastamento que carece de umaintervenção prioritária do Estado eda sociedade na sua minimização,em favor dos direitos pessoais decada pessoa e da coesão social.

3.4. Os filhos têm direito a sercuidados e educados pelo pai e pelamãe, com responsabilidade comumna sua educação e desenvolvimento(arts.7º/1 e 18º/1 da Convençãosobre os Direitos da Criança).A legislação ordinária define aresponsabilização de ambos os paissobre os filhos em todo o conteúdodas responsabilidades parentais, deforma irrenunciável (arts.1874º ss e1882º do Código Civil, art.4º/f) daLPCJP), expressa: quer nas regrasespecíficas do casamento ou dacoabitação dos pais não casados,em que lhes é reconhecido o deverde exercício conjunto das suasresponsabilidades; quer após odivórcio ou a cessação dacoabitação de pais não casados, emque lhes é reconhecido o dever deexercício conjunto dasresponsabilidades dos atos departicular importância; quer nassituações em que os filhos sãoconfiados a terceiras pessoas, emque é reconhecida aos pais apossibilidade de exercício dasresponsabilidades em favor dosfilhos, que não sejam

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afastadas por decisão judicial(arts.1901º a 1912º do Código Civil).Apesar deste quadro de princípio deresponsabilização de pai e mãe pelofilho, o crescente aumento dadissociação familiar e a limitação demeios públicos e privados queapoiem a estabilidade familiar e aconciliação e mediação nosconflitos, continuam a lesar osfilhos, os seus pais e as suas mães.

4. As harmonias e desarmonias dassociedades contemporâneas,expressas no seu Direito, continuama reclamar, no processo histórico deadaptação do homem ao mundo,melhor humanidade. Humanidadeque começa para todos ao seremfilhos dos seus pais e que continuapara a maioria ao serem pais defilhos.

Alexandra Lopes. Juiz.

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Em louvor de São José"A nascente - Em louvor de SãoJosé" é um livro-infantil baseadonuma das “várias peças teatrais”escritas pelo cardeal-patriarca deLisboa, explica a Paulinas Editora.O texto do novo livro de D. ManuelClemente é baseado numa das“várias peças teatrais” que escreveupara serem interpretadas porseminaristas, “especialmente emmomentos significativos da vidacomunitária dos seminários”,informa a editora.“José: Estive quase, João, estivequase... Estava há poucodesposado com Maria - com Maria,a mais virginal das mulheres, a maisbranca das flores -, há pouco nosdesposáramos, quando percebi queela esperava um filho... um filho quenão era meu! Oh como eu quisdesistir então, fugir, fugir,desaparecer, esconder a tristeza e aconfusão!Joaquim: Fugiste?José: Não. Chorei tanto que caí decansaço e sono. Dormi, sonhei ecompreendi.Joaquim: Compreendeste o quê?José: Que não somos donos denada,

nem de ninguém. Apenasguardamos mistérios.»”A obra publicada pela PaulinasEditora conta com ilustrações deAbigail Ascenso para quem ilustrarlivros para um público infantil écomo “dar cor a histórias da própriafamília” com implicações“emocionais e afetivas que estãoimplícitas”.“O que me agrada na ilustraçãoinfantil é que se destina aos leitoresmais criativos, àqueles que se ligamàs ilustrações da forma mais livre eimprevista: as crianças”, destacounuma entrevista ao suplementoIgreja Viva, do jornal Diário doMinho.Para a ilustradora não é preciso terfé para fazer trabalhos de âmbitoreligioso: “Há mesmo quem diga quea fé é um ‘mau princípio estilístico’,porque limita a criatividade e aliberdade.”São José, é patrono da Igrejauniversal, do Dia do Pai, estaquinta-feira quando a Igreja Católicacelebra a sua solenidade, doscarpinteiros, em referência àprofissão o pai adotivo de Jesus.

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O livro infantil "A nascente - Emlouvor de São José" foi apresentadono Vaticano por ocasião da criação

do patriarca de Lisboa como cardealpelo Papa Francisco, em fevereiro.

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Aristides de Sousa Mendes onlinehttp://mvasm.sapo.pt/

Esta semana a proposta denavegação passa por um sítiobastante interessante, original esingular. Estamos a falar de ummuseu virtual de homenagem aoantigo cônsul de Portugal emBordéus, que contribuiu para salvarmuitas vidas durante a perseguiçãodos nazis aos judeus. Certamente jáperceberam que falo de AristidesSousa Mendes, esse extraordináriohomem que com um espíritoaltruísta e certo das suasconvicções e valores morais nãohesitou em enfrentar os poderososdaquela época.Conhecendo bem ou mal a suahistória, vale a pena visitar estemuseu virtual que é o “resultado deuma parceria entre uma equipapluridisciplinar coordenada porLuísa Pacheco Marques Arquiteta ea Direção Geral das Artes (anteriorInstituto das Artes) do Ministério daCultura”.O sítio está concebido para oferecerao visitante uma viagem pela vida eobra deste homem, através de doiscaminhos bastante distintos. Um

primeiro caminho é a exposiçãovirtual onde é disponibilizada umaexperiência audiovisual e interativabastante interessante. O outro éuma base de conhecimento que foicriada com o objetivo de oferecer aoutilizador a possibilidade deaprofundar os temas tratados naexposição virtual, através de umapesquisa rápida e fácil.Na componente da exposição virtual,é narrada de uma formacontextualizada, com uma qualidadegráfica fabulosa e uma excelênciade conteúdos impar para arealidade nacional, o ato dedesobediência consciente que ocônsul de Portugal em Bordéuspossibilitou, através dos vistosconcedidos, salvar um número depessoas que se estima de 30 000.Esta mostra virtual está organizadaem três corredores; o da Guerra, oda Fuga e o da Liberdade,proporcionando aos visitantes umaexperiência audiovisual profunda,com base em filmes da época(dobrados ou legendados), commapas e testemunhos reais.Por outro lado, quem procurainformação específica e nãopretende efetuar a visita pelosvários corredores da exposição, temcomo opção a

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consulta da base de conhecimento,onde toda a informação se encontracatalogada por áreas e disponívelpara todos. Sempre muito bemestruturada e de fácil acesso.Pois bem, claramente este é maisum sítio que pode muito bem ser

adicionado aos favoritos, com acerteza que nos irá possibilitar umaviagem única ficando a conhecer umpouco mais a vida e obra desteHomem de Deus.

Fernando Cassola Marques

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II Concílio do Vaticano: Osprotagonistasno anfiteatro da Basílica de SãoPedro

O II Concílio do Vaticano (1962-1965) teve quatrosessões no anfiteatro da Basílica de São Pedro. Estaassembleia magna, convocada pelo Papa João XXIII econtinuada pelo Papa Paulo VI, teve também outrosprotagonistas chamados padres conciliares.Quando se aproxima o Dia Mundial do Teatro (27 demarço), convém recordar através de fotos osprincipais atores (padres conciliares) deste grande emediático acontecimento da Igreja no século XX.

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A palavra teatro deriva do grego «théatron» (lugar onde se vê). Há os queveem e os que são vistos. Há os que ouvem e os que são ouvidos. Comoescreveu o encenador Rui Mendes (Público, 28 de março de 2014) “hámuitas formas de iniciar um espetáculo de teatro, mas só há uma de oterminar: é com a imperecível recordação do que, afinal, não é tão efémerocomo parece”. Passados 50 anos, o II Concílio do Vaticano ainda está bemvivo e presente na memória e ação dos cristãos.

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Março 2015Dia 20 de março * Fátima - Apresentação do projetopara a construção do novopresbitério do recinto de oração

* Braga - Auditório Vita - Sessão dociclo «Olhares sobre economia,cultura, política e família» com apresença do presidente daAssociação Cristã de Empresários eGestores (ACEGE), António PintoLeite, da psicóloga Margarida Cordoe de Rosário Carneiro, a ex-presidente da ComissãoParlamentar para a Paridade,Igualdade de Oportunidades eFamília.

* Coimbra - Cantanhede (CentroParoquial) - Conferência quaresmalsobre família e enquadramentoteológico por D. Manuel Clemente,patriarca de Lisboa.

* Coimbra - Soure (CentroParoquial) - Conferência quaresmalsobre «Cristão hoje... como?» porJuan Ambrósio, professor da UCP

* Porto - Assembleia geral daAssociação de Juventude Católicado Porto

* Porto - Espinho (Multimeios) -Conferência quaresmal sobre «Asferidas da comunidade» pelo padrede Espinho, padre José PedroAzevedo

* Braga – Sé - Concerto «Requiem»de Mozart integrado nassolenidades da Semana Santa deBraga

* Viana do Castelo - Monção (Igrejados Capuchos) - Concerto demúsica sacra portuguesa

* Porto - Casa Diocesana do Vilar -Exposição e apresentação do Livro«Aforismos por aí dentro» de MiguelMoutinho com ilustrações de RosaAmaral.

* Fátima - Casa de São Nuno -Conselho Nacional da PastoralJuvenil com o tema «Felizes ospuros..."Campus Misericordiae"rumo a Cracóvia 2016» comconferência do padre JoãoRodrigues da Comunidade dosMarianos da Imaculada Conceição(MIC). (20 e 21)

* Viana do castelo - Monção (CasaMuseu) - Seminário sobre arte,música e devoção nos mosteiros deCister (20 e 21)

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* Porto - Casa Diocesana do Vilar -Conselho geral da CáritasPortuguesa (20 a 22)

* Braga - Centro Comercial deBraga - Mostra de cartazes sobre a«Semana Santa de Braga - umahistória gráfica» (20 a 10 de abril)

* Braga - Câmara Municipal deBarcelos - Exposição «Pedraangular» com obras da pintoraCarmen Faria e do escultor SérgioPinheiro (20 a 12 de abril)

* Braga - Casa dos Crivos -Exposição «Encontros com Cristo»com obras de João OsvaldoRodrigues (20 a 18 de abril) Dia 21 março * Itália – Nápoles - O PapaFrancisco visita a cidade italiana deNápoles.

* Guarda - Seminário Maior daGuarda - Anúncio dos vencedoresdo concurso «Quem Somos?»promovido pelo DepartamentoDiocesano da Catequese deInfância e Adolescência da Guarda.

* Itália – Nápoles - O PapaFrancisco visita a penitenciária deNápoles, em Poggioreale.

* Braga - Santuário de São Bento daPorta Aberta - Eucaristia presididapelo arcebispo de Braga, D. JorgeOrtiga, em rito bracarense, nascomemorações jubilares doSantuário de São Bento da PortaAberta.

* Évora - VII edição do Rock inScouts - festival da música escutista

* Coimbra - Salão da Paróquia deSão José - Dia diocesano do doente

* Fátima - Peregrinação dasMissionárias Reparadoras doSagrado Coração de Jesus aoSantuário de Fátima

* Braga - Galeria da Junta deFreguesia de São Victor -Inauguração da exposição deartigos religiosos «Cristo... por amora nós»

* Lisboa - Associação deCozinheiros Profissionais dePortugal - O Serviço Jesuíta aosRefugiados (JRS) organiza um ciclode workshops de culinária, com oobjetivo de angariar fundos para oprojeto «Casa em Ordem», projetocriado pelo Gabinete de Emprego eFormação do JRS, que pretendeformar mulheres refugiadas eimigrantes na área dos serviçosdomésticos. O primeiro workshopestá a cargo do Chef Pedro SommerRibeiro.

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Esta sexta e sábado reúne-se o Conselho Nacional daPastoral Juvenil com o tema «Felizes ospuros..."Campus Misericordiae" rumo a Cracóvia2016», em Fátima, com a conferência do padre JoãoRodrigues da Comunidade dos Marianos da ImaculadaConceição (MIC). Este segundo encontro do ano, queenvolve os secretariados diocesanos e movimentosjuvenis, centra-se nas atividades mais próximas comoo Fátima Jovem'15 a realizar-se nos dias 2 e 3 demaio. Neste sábado, dia 21 de março, o Santuário de SãoBento da Porta Aberta vai receber o título de ‘basílicamenor’, numa cerimónia presidida pelo arcebispo deBraga, D. Jorge Ortiga, a partir das 11h00. No domingo no Fórum Coimbra (loja FNAC) éassinalado o dia do Pai com a organização doSecretariado da Pastoral Familiar da Diocese deCoimbra e o Centro de Aconselhamento Familiar, coma colaboração dos Casais de Santa Maria, numencontro/ debate subordinado ao tema «Ser pai… quegrande aventura!» tendo como orador principal o paiCarlos Alcobia, professor do Instituto Superior deEngenharia de Coimbra. O Papa Francisco vai visitar a penitenciária deNápoles este sábado e a visita à cidade italiana incluiencontros com autoridades civis e trabalhadores, paraalém de um almoço com os presos. De tarde estáprevisto um encontro no centro da cidade, na Praçado Plebiscito, com os jovens, uma passagem pelaCatedral para um discurso aos sacerdotes e bispos dadiocese, e a Missa.

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POR OUTRAS PALAVRAS

4º Domingo da Quaresma

Não se pode ver o amor de Deus senão com olhos de espanto: amou-nosenquanto éramos pecadores e enviou-nos como Salvador o Seupróprio Filho.Mas os olhos de espanto são olhos lavados pela água e pelo Espírito– e não simplesmente olhos abertos num desvairo qualquer… São, por isso,olhos tornados capazes de se abrirem à Luz, deixando-se embeber paradepois brilhar nas obras de cada dia.O pecado é a escolha das trevas!... Cónego João Aguiar

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Podemos forçar alguém a crer emDeus?

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h18Domingo, dia 22 - Água -Recurso de todos a serprotegido por todos RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 23 -Entrevista a EugéniaMagalhaes sobre SantaTeresa de Ávila e aexperiência mística noquotidiano;Terça- feira, dia 24 -Informação e entrevista aopadre Eduardo Novo sobre o Dia Mundial daJuventude;Quarta-feira, dia 25 - Informação e entrevista aEugénia Costa Quaresma sobre as migrações;Quinta-feira, dia 26 - Informação e entrevista ao padreArmindo Vaz sobre o Ano da Vida Consagrada;Sexta-feira, dia 27 - Apresentação da liturgia dedomingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio. Antena 1Domingo, dia 22 de março - 06h00 - Dia internacionalda Água Segunda a sexta-feira, 23 a 27 de março - 22h45 -Quaresma: vivências do irmão marista António Leal

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Ano B - 5.º Domingo da Quaresma Ver, servir eseguir Jesus

Queremos ver Jesus! Assim pedem os gregos noEvangelho deste 5.º Domingo da Quaresma. Naresposta, Jesus anuncia a sua próxima glorificação,isto é, a sua morte. Estranha associação esta, damorte com a glória! Mas Jesus explica: Se o grão detrigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas semorrer, dará muito fruto.Sabemos que, na realidade, o grão enterrado na terrasofre uma profunda transformação. O seu invólucroexterior deve rebentar e acabar por desaparecer paraque o germe, até então escondido, possa crescer eproduzir novos grãos.Na morte de Jesus acontece a explosão daRessurreição. Os discípulos reconhecem em Jesusglorificado a presença imediata de Deus. A verdadeiraglória, a verdadeira densidade do ser de Jesus estána sua humanidade como o lugar da incarnação doFilho eterno do Pai. Porque estamos ainda no tempoda germinação secreta, não vemos ainda esta glóriado Senhor. Mas acolhendo o testemunho dosapóstolos que “comeram e beberam com Ele depoisda sua ressurreição de entre os mortos”, podemosdeixar-nos atrair por Jesus, acolher e ver já pela fé oseu mistério de glória, e testemunhar assim, nocoração do mundo, que Ele, o Filho do homem, éverdadeiramente o Filho de Deus, vencedor da morte.Ver Jesus e o seu projecto de salvação aconteceatravés da comunidade dos discípulos. Aí se encontrao caminho de amor e de doação que conduz à vidanova do Homem Novo, à salvação. Isto recorda-nos anossa responsabilidade de testemunhas de Jesus e dasua salvação no meio das situações do nosso tempo.Será que aqueles irmãos que se cruzam connosco noscaminhos

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da vida descobrem no nossotestemunho o rosto de Jesus? Seráque todos aqueles que vêm aoencontro de Jesus à procura da vidaplena encontram na forma como nosdoamos, como servimos e comoamamos a proposta libertadora que,através de nós, Jesus quer passar atodos as pessoas? Quem quiserservir Jesus tem que o seguir, paraassim poder estar atento eempenhado no serviço ao próximo.Ver Jesus é perceber que ele é amáxima realização da Nova Aliançade que fala Jeremias na primeiraleitura. Uma aliança gravada noíntimo da alma e do coração. UmaAliança

que implica que Deus mude ocoração do Povo, pois só com umcoração transformado o homemserá capaz de pensar, de decidir ede agir de acordo com as propostasde Deus.Que assim seja nesta quintasemana da Quaresma, que nosaproxima do mistério da Páscoa, dacelebração festiva e quotidiana doAmor de Deus derramado emnossos corações e anunciado comuma constante atitude defraternidade. Levados pela Palavra,intensifiquemos as atitudes de ver,servir e seguir Jesus.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.pt

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Afirmar a beleza do MatrimónioO juiz Pedro Vaz Patto, do TribunalEclesiástico de Lisboa, defende anecessidade da Igreja Católica“investir mais na promoção dabeleza do matrimónio, de formapositiva”, sobretudo junto dosjovens. Em entrevista à AgênciaECCLESIA, aquele responsáveldestacou a importância de reforçara “preparação para o casamento”,não só “imediata” mas ao longo dotempo.Desta forma a Igreja Católica estaráa “prevenir situações” que fazemcom que hoje existam muitas“famílias feridas, por questões dedivórcio e outras”, sustentou.Para Pedro Vaz Patto, éfundamental que as estruturascatólicas estejam atentas a um“fenómeno cada vez maisgeneralizado, em muitos países: oda recusa do próprio matrimónio”.“Em causa“, na opinião daqueleresponsável, está “a incompreensãodo que é verdadeiramente omatrimónio, às vezes reduzido a umprocesso burocrático, ao ter papelpassado, como se diz”.“Não é assim, no fundo o casamentoé a expressão pública de umadoação para toda a vida, de umadoação incondicional, e é isso que aIgreja,

que os cristãos, devem pôr emrelevo”, salientou.A participação dos casais cristãosno processo de formação doscandidatos ao matrimónio, através“do seu testemunho”, é essencial,pois transportam consigo aexperiência de uma vida “que não ésó um mar de rosas, é feita demuitas dificuldades”.O atual presidente da ComissãoNacional Justiça e Paz, da IgrejaCatólica, abordou a questão estaterça-feira no âmbito de umaconferência no Seminário deAlfragide para os serviços daConferência Episcopal Portuguesa,intitulada “A família no contexto doSínodo dos Bispos”.Frisando que a preparação doscasais para o matrimónio “deverá virmais em relevo” na próximaassembleia extraordinária doSínodo, em outubro, o juiz ressalvouque esta maior exigência “nãosignifica fechar as portas àspessoas que se dirigem à Igreja eque habitualmente não afrequentam”. Até porque “a vocaçãopara o matrimónio não é reservadaa uma elite, de pessoas perfeitas”,complementou.Ao longo da conferência, Pedro Vaz

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Patto abordou a sua experiência noTribunal Eclesiástico de Lisboa,onde lida com processos dedeclaração de nulidade domatrimónio. Sem prejuízo da noçãode “indissolubilidade do casamento”,pois o que está em causa é “saberse o sacramento é ou não válido”, ojuiz encara este procedimento comouma solução viável para “regularizara situação” de muitas pessoas hojeem “sofrimento”.

“E tornar este processo maisacessível é algo em que a Igrejaestá atualmente empenhada”,assegurou.A reunião dos serviços daConferência Episcopal Portuguesa,no Seminário de Alfragide, contoucom a participação do bispo deAngra, D. António Sousa Braga.Recentemente recuperado de umaintervenção cirúrgica, o preladopresidiu à Eucaristia do encontro.

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Religiosa libanesa lutapela dignificação das mulheresA irmã Hanan Youssef é umareligiosa libanesa, das irmãs deNossa Senhora da Caridade do BomPastor, uma congregaçãointernacional, espalhada por 70países, incluindo Portugal. Vive noLíbano uma missão delicada, faceao atual cenário internacional,centrando-se na dignificação dosrefugiados e das mulheres.“Estamos no Líbano há cerca decinco, dez anos, e a nossa missão éverdadeiramente ser a compaixãode Jesus, Bom Pastor, ao lado dapessoa que sofre, marginalizada,especialmente das mulheres vítimasdo tráfico, da violência, e das jovensem dificuldade”, explica à AgênciaECCLESIA.“Em relação ao nosso trabalho noLíbano, decidimos, há uma década,estar presentes junto de todos osrefugiados que ali chegam do MédioOriente. Eles estão algodesorientados, não há muitasorganizações que tenham tempo deos escutar, de os orientar, deprestar um serviço válido. NoLíbano, sou responsável por umdispensário, dedicado a SantoAntónio, que

desde a sua criação tem a vocaçãode acolher todos os refugiados, semolhar nem para a sua religião nempara a sua pertença cultural, étnicaou qualquer outra”, acrescenta.A religiosa libanesa sustenta que o“silêncio” do Ocidente está a ajudaros extremistas do Médio Oriente queperseguem as populações, emparticular as minorias cristãs,falando num cenário de “barbárie”.“Milhares de vidas acabam todos osdias, milhares de mulheres sãovendidas nos mercados e temoseste silêncio, esmagador”, referiu,durante uma passagem porPortugal, a convite da FundaçãoAjuda à Igreja que Sofre (AIS).Hanan Youssef confessa que nãoconsegue “suportar”, como irmã doBom Pastor, “a venda pública demulheres, nos mercados, como se avida humana já não tivesse valor”.“Vendem-nas como se vende umacadeira, uma mesa ou, desculpem aexpressão, como se vende umanimal. Como é que estasatrocidades podem acontecer eninguém diz nada?”, alerta.

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A religiosa mostra-se impressionadacom todos os que partem “semesperança, sem vontade deregressar” ao seu país, por causade tudo o que sofreram.A chegada de refugiados provocouuma “crise social”, esgotando acapacidade de resposta doshospitais e escolas. “É uma situaçãocatastrófica”, sustenta.Em Beirute, a sua comunidade

promove um “serviço de caridade”:duas mil pessoas por mês sãoatendidas em “contentores”, à beirada estrada, utilizados comodispensário.As religiosas apostam no apoiopsicológico, porque “milhares demulheres, de meninas foramvioladas” e “milhares de pessoasforam obrigadas a deixar as suascasas, de noite, sem levar nada”.

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ABC da Vida Consagrada (7ª parte)Superior/a (o mesmo quepior ou priora)Há a necessidade do superiorreligioso, por duas razões: trata-sede um grupo humano submetido aregras psicossociológicas e é ogarante da unidade carismática dacomunidade; que coordena todos ossectores, estimula a participação eresponsabilidade dos irmãos. A níveleclesial e religioso, não é um grupomeramente humano, masconvocado por Deus para umamissão. Cristo é a verdadeiracabeça da Igreja e de cada grupo, eo Pai, o único Senhor, mas estaestrutura ontológica concretiza-sede maneira visível na hierarquia,nos padres, mediante o sacramentoda ordem, e na comunidadereligiosa pelo superior/a quedesempenha este trabalho comhumildade e com a consciência deque é apenas um serviço que oSenhor lhe pediu e lhe confiou,quando o termina volta a ser umirmão exatamente igual aos outros.O superior pode ser eleito pelosseus irmãos ou nomeado pelaautoridade competente, mas “aautoridade dos superiores procededo Espírito do Senhor em conexão

com a sagrada hierarquia, é umaautoridade eclesial, mas com umajusta autonomia de governo, comum carater público”. É umaautoridade pessoal, não épropriedade do superior,carismática, por isso aqui “poderecebê-la tanto um homem comouma mulher”, diferente daautoridade hierárquica, Ao contráriodo que se passa com os padres oucom os Bispos o superior nãonecessita da confirmaçãosacramental. TrindadeA vida consagrada vive e reflete oamor da Trindade no dom dosconselhos evangélicos, pois refleteo amor de Cristo que nos amou, sedoou por nós, o Espírito Santoconcede-nos o dom dos votos,predispõe-nos a acolher e a viver avontade, o projeto do Pai, que é ofim último da vida consagrada.Porque a vida comunitária é oexemplo perfeito da vida eclesial. Avida consagrada nasce na Igreja e épara a Igreja. Deve transparecer aimagem da Comunidade Apostólica,isto é, deve ser paradigma da igreja

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na sua dimensão mistérica, mastambém Trinitária. A consagraçãoreligiosa de cada pessoa redundaem favor da Igreja inteira, é nela epor ela que nos consagramos, éícone da Santíssima Trindade. União (Vida fraterna,Comunhão, Fraternidade)A vida fraterna em comunidadepode ser o sinal de união credívelque interpela o mundo, étestemunho de comunhão eclesial,sinal de união com o Bispo e comtoda a Igreja. Se é dom de Deus o objetivo final,está para além do recetor imediato,a vida fraterna supera um projetohumano, provém da relaçãoexistente entre as pessoas daSantíssima Trindade e destina-se àIgreja e ao mundo, o que acarretauma responsabilidade para oreligioso. “O sentimento defraternidade universal é umainovação cristã.” A vida fraterna é aforma que Jesus encontrou para ocumprimento da missão no mundo,é o seu projeto para a humanidade.No entanto, “a

vida fraterna em comum apareceusempre como radicalização docomum espírito fraterno que unetodos os cristãos”, a vida fraterna,implica tempos de convívio, epartilha da vida, é mais do que viverjuntos e comer juntos, é aceitar oirmão, que não escolhi para amar,isso faz parte da missão doreligioso, não é um passatempo,mas[1] num mundo dividido acomunidade é sinal profético daíntima união com Deus e essencialpara qualquer missão apostólica.

Irmã Flávia DoresComunidade das Dominicanas de

Santa Catarina de Sena - AveiroPara o Correio do Vouga

e a Agência Ecclesia

[1] Vida Fraterna em Comunidade ; Congregação para os Institutos de Vidaconsagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, nº 10

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Serra Leoa: o combate ao Ébola ainda não terminou

Os fantasmas do Padre KontehComo uma sombra, é raro o dia emque o Padre Peter Konteh não serecorda do menino que encontrousozinho em casa, rodeado doscadáveres dos pais, ou do frenesimdos enterros, no quintal nastraseiras do seu escritório. O PadreKonteh não é um herói. É apenasuma pessoa vulgar que nãodesertou das suasresponsabilidades.Tudo começou em Maio de 2014.Depois da Guiné, o surto daepidemia de ébola rebentou naSerra Leoa. O país ficou à beira dodesastre. A ajuda internacional foiessencial. A Fundação AIS declaroucomo prioritária esta batalha. Nãohavia tempo a perder. Ergueram-secentros improvisados para a triagemdos doentes, para osinternamentos. Comprou-seequipamento.O Padre Peter Konteh tem o sorrisoenorme de um bom gigante. Noentanto, por trás desse ar simpáticoesconde-se a memória trágica dequem viveu de perto uma epidemiaque dizimou milhares de pessoas.“Ninguém estava preparado paraaquilo.” A tarefa foi ciclópica. Eraquase missão impossível mudar

hábitos de higiene e decomportamento. Mas era necessáriofazê-lo. “Às vezes, íamos até aosmercado, com megafones, paraalertar as populações.”Hoje, um ano depois, a vida começaa regressar a uma certanormalidade. Mas há ainda umlongo caminho a percorrer. Feridas abertasPara o Padre Peter Konteh, porém,por muitos anos que ainda tenha devida, não se esquecerá dos dias deemergência, quando tudo pareciaperdido. “Via os recém-falecidos aserem trazidos para o enterro, aoritmo de cerca de cinquenta por dia.Conheci pessoas famintas, pessoasque procuravam conforto. Erasempre assim, dia após dia. Não foifácil.”Há memórias que são como feridasabertas. O Padre Konteh, um dia, foia uma casa levar comida a umafamília que estava de quarentena.“Encontrei lá uma criança, aí comuns dois anos. Estava sozinha. Osadultos tinham morrido. Fomos logoavisar os médicos para cuidarem dobebé.

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Soube, mais tarde, que também nãoresistiu. Isso assombra-me aindahoje. Sinto que devia ter agido maiscedo…”Todos os que têm estado envolvidosneste combate ao Ébola ficarammarcados. Profundamentemarcados. Uma colega do PadreKonteh perdeu toda a família. Toda.Pais, irmãos, tios, sobrinhos. Ela foivinte e sete vezes ao cemitérioenterrar os seus entes queridos.“Como podia consolá-la? Agora,somos a sua família…”A Fundação AIS continuaempenhada no apoio à Igreja naSerra Leoa. Há ainda uma tarefaenorme pela frente.

Só na diocese de Freetown cerca de800 crianças estão órfãs. No país,serão mais de 8 mil. É preciso dar-lhes uma família. O Padre Kontehnão se considera um herói. Apenasnão desertou da suaresponsabilidade. Nos momentos demaior desalento, confiava-se àoração e pedia as nossas orações.É por isso que todos nós podemosestar também em qualquer parte domundo, na linha da frente, a fazer obem. Basta querermos. Dependedas nossas orações. Apenas.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Dia Mundial do Síndrome de Down

Tony Neves Espiritano

Somos pessoas e isto é o mais importante. Osadjetivos vêm depois, caracterizando grandezase limites, forças e fraquezas. Esta reflexãopermite enquadrar o 21 de Março, Dia Mundialdo Síndrome de Down, também conhecido porTrissomia 21. Trata-se de uma doença e nãomais que isso. Como tal, há tratamentos a fazer eum acompanhamento personalizado a quemnasceu com este Síndrome.Não há duas pessoas iguais e, por isso, temosque nos habituar a olhar para cada uma delascomo única e irrepetível. Sentimos de formadiferente, raciocinamos, estudamos,trabalhamos, amamos, reagimos também demaneira única.Quando alguma doença gera incapacidadesdiversas, há que saber viver com elas,

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contraria-las na medida do possível,potenciar o muito de qualidade quese possui.É essa a focagem que se pretendelançar sobre as pessoas que vivemcom Trissomia 21. Há limites, sim, eé preciso aprender a viver com eles.Há grandezas, sim, e é precisoreconhece-las e potencia-las aomáximo.Celebrar o Dia Mundial do Síndromede Down é um apelo para quetodos

trabalhemos por mais inclusãosocial e mais respeito pela diferençade ser e agir. Não há qualquer razãopara marginalizar, há todas as boasrazões do mundo para investir naformação destas pessoas que,apesar de alguns limites, têm muitoa dar á sociedade se esta tivercapacidade de capitalizar todos ostalentos.A quantos convivem diariamentecom a Trissomia 21, o meu abraço evotos de que sejam todos muitofelizes.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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