passetti, gabriel. um estudo de micro-história

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    UM ESTUDO DE MICRO-HISTRIA: DOMENICOSCANDELLA NOS PROCESSOS DA INQUISIO.

    O QUEIJO E OS VERMES.

    Gabriel [email protected] Ano -Histria/USP

    menocchio.doc - 40KB

    Carlo Ginzburg, em O queijo e os vermes - O cotidiano eas idias de um moleiro perseguido pela Inquisio, faz umdos mais importantes estudos da chamada micro-histria.Sua interessante narrao do cotidiano, da vida e do

    ulgamento do moleiro italiano "Domenico Scandella,conhecido por Menocchio" analisa o processo inquisitrio,partindo da vida cotidiana nos campos italianos do sculoXVI at chegar aos pensamentos especficos desteinteressante personagem. Mas, antes de entrarmosdiretamente no processo inquisitorial pelo qual passouMenocchio, devemos lembrar o leitor de que este umestudo da micro-histria: afinal, trata-se da histria pessoalde um moleiro em especial, em uma vila em especial(Montereale) em uma poca determinada (sculo XVI). Emanlises deste tipo, no se deve passar logo para a

    generalizao, pensando-se que ao estudar um nicopersonagem poder concluir-se acerca da vida e docotidiano do local naquela poca.

    Carlo Ginzburg

    O que pode ser destacado deste estudo, alm da vida interessante dopersonagem, so alguns pontos referentes religio camponesa semi-pagque ainda existia no interior da Europa em pleno Renascimento.

    Perry Anderson, em Zona de compromisso, analisa a obra de Ginzburgdeclarando que se trata do "famoso e vvido retrato do moleiro autodidata

    italiano Menocchio, cuja cosmologia de gerao espontnea - o mundo nascidocomo queijo e vermes - ele (Ginzburg) relacionou a um materialismo camponssubterrneo" (ANDERSON: 67). Entretanto, apesar de ficarmos conhecendotodos os pormenores do julgamento de Menocchio, "ficamos sabendo muitopouco (...) sobre a vida da aldeia que abrigava Menocchio ou os inquisitoresque o interrogaram"(ANDERSON, 87), ou seja, sobre o que estava sua voltana aldeia e quem eram aquelas pessoas responsveis por julgar as heresias dodesconhecido moleiro.

    O prprio Carlo Ginzburg, em sua obra O inquisidor como antroplogo: Umaanalogia e as suas implicaes, afirma que o que o historiador busca nos

    processos inquisitoriais basicamente o mesmo que o inquisidor buscava: aintimidade, o cotidiano, o modo de vida dos acusados. Porm, os meios e os

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    fins so extremamente diferentes. Por fim, deve-se ressaltar que taldocumentao deve sempre ser vista como tendenciosa, principalmente por setratar de um julgamento de valores, onde o acusado corria risco de vida e sofriauma intensa presso fsica e psicolgica.

    Analisaremos a obra de Ginzburg e a vida de Menocchio passando inicialmentea estudar a Inquisio. Tal instituio existiu em diversos pases europeus, massua fora foi vista principalmente na Frana, Alemanha e Itlia. Na Espanha ePortugal, ela surgiu posteriormente, mas no deixou de ser igualmente forte.Esta instituio medieval foi reformulada na Idade Moderna, sendo uma dasbases da Contra-Reforma. Sua origem se deu no sculo IV d.C., ondecomeam as perseguies contra os hereges. Nesta poca, o movimento aindano era institucionalizado, e no largo perodo que vai dos sculos VI ao IX seupoder era restrito. A partir do sculo X, a Inquisio se torna cada vez maisforte e importante. Aps o Conclio de Toulouse, em 1229, sua organizao foiformulada, sendo oficializada em 1231 pelo Papa Gregrio IX.

    No princpio, somente os processos de tortura psicolgica eram utilizados,sendo os de tortura fsica no. Mas, j a partir do Papa Inocncio IV, em 1254,isto ocorre e passa a oficial sendo ento uma importante forma de obtenodas confisses. Os bispos inquisidores eram em sua maioria dominicanos einvestigavam as heresias com o poder para perseguir, prender, investigar epunir quem fosse julgado herege. O acusador no era informado ao ru, queainda no sabia nem qual era a acusao. Com este processo, buscava-se aconfisso de outras heresias alm da acusada. Outro fator que deixa estes

    julgamentos muito diferentes dos atuais que mulheres, crianas e escravospodiam ser testemunhas de acusao, mas no de defesa. Por fim, aInquisio tambm foi utilizada para a obteno de mais bens e terras para aIgreja, visto que todos os bens do acusado poderiam ser confiscados.

    Dos aproximadamente dois mil processos de julgamento da Santa Inquisioocorridos na regio do Friuli sob a dominao veneziana, na Itlia, um deles setornou notrio para o mundo no Sculo XX. Trata-se do julgamento deDomenico Scandella, conhecido como Menocchio, reproduzido e interpretadopelo historiador italiano Carlo Ginzburg. Menocchio no era um camponspobre comum da sua poca, a segunda metade do Sculo XVI. Ele era ummoleiro de respeito na comunidade, autodidata e alfabetizado caractersticas

    raras na poca. Dentro de suas leituras, encontramos obras muito difundidasna poca, mas tambm obras proibidas, como o Decameron e o Alcoro.Durante o primeiro julgamento, Menocchio afirmou ser "moleiro, carpinteiro,marceneiro, pedreiro e outras coisas". J no segundo julgamento, suasatividades foram por ele prprio descritas como de "filsofo, astrlogo eprofeta".

    Na sua poca, a diferenciao entre as classes sociais estava ficando cada vezmais exacerbada aps sculos de feudalismo. Com isso, a elite e a Igrejaperceberam a importncia de manter ideologicamente os camponeses sob seudomnio, para evitar os levantes camponeses e os movimentos como a

    Reforma. Em Friuli em especial, os camponeses adquiriram um pouco mais de

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    liberdade a partir do poder central veneziano, j que tal governo pretendia comisto combater o forte poder das classes senhoriais tradicionais da regio.

    Dentro desta situao encontrava-se em destaque a posio dos moleiros, poisem seus moinhos que se encontrava constantemente parte da populao

    economicamente ativa. Apesar da profisso de moleiro ser sempre malvistapelas camadas baixas da populao e de ter fama de usurpadora, geralmentetais profissionais atingiam posio de destaque dentro da comunidade. EMenocchio no fugira desta tradio. Tal posio pode talvez comear aexplicar o porqu dele no ter sido denunciado Inquisio durante muitotempo, visto que suas idias eram conhecidas de toda a populao deMontereale e alguns dos interrogados afirmaram conhecer o ru haproximadamente vinte ou trinta anos. Porm, o medo diante desta pessoa dedestaque na comunidade no explica tal situao.

    A populao de Montereale conhecia as idias de Menocchio. No podemos

    ter certeza se concordavam ou no com elas, visto que obviamente em umjulgamento inquisitorial elas afirmariam ser contra ele. Em uma poca deguerras religiosas, Inquisio e perseguio a hereges, interessante observara tolerncia popular. Est ai mais uma pista para acharmos o porqu dopensamento do personagem e da omisso da populao. Seriam oscamponeses contra suas idias? Segundo Carlo Ginzburg, "A despeito de suasingularidade, as afirmaes de Menocchio no deviam parecer aoscamponeses de Montereale to estranhas s suas existncias, crenas eaparies" (GINZBURG, 1987: 101).

    Durante o julgamento, Menocchio d fundamentao ao que fala e pensasempre no que leu, portanto nas suas interpretaes destas obras. ParaGinzburg, isto decorria do fato de que a fonte seria menos importante do que arede interpretativa pensada por Menocchio. As razes dele eram maisprofundas do que os prprios textos. Ele juntou assim correntes cultas epopulares em um novo e confuso pensamento teolgico: "Dois espritos, setealmas e um corpo composto pelos quatro elementos: como pudera sair dacabea de Menocchio uma antropologia to abstrata e complicada?"(GINZBURG, 1987: 149). Suas idias, teorias e suposies variaram muito comrelao ao tempo, presso do inquisidor e s intenes deste. Por isso, acriao de um esquema terico ficou difcil tanto para o prprio inquisidor

    quanto para ns.

    Podemos ressaltar algumas tendncias que podem ter o influenciado. Mais deuma pessoa afirma que ele leu ou pelo menos teve contato com o Alcoro -assim como com alguns textos e idias luteranas - ficou muito impressionadocom os relatos de supostas viagens de Mandeville - que influenciaram emmuito alguns de seus pensamentos - e deve ter tido algum contato com osescritos de Orgenes e dos maniqueus. Segundo Peter Brown, em sua obraCorpo e Sociedade, onde analisa as diferentes interpretaes crists dosdogmas pregados por Jesus Cristo e seus Apstolos, "o problema levantadopor Orgenes foi simples: 'Como foi que passou a haver uma multiplicidade to

    grande e diversificada entre as criaturas'? " (BROWN: 143). Mais para a frente,poderemos notar que tal dvida sobre a multiplicidade, junto com as leituras de

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    Mandeville, reafirmaram o pensamento onde h a possibilidade de todas asreligies viverem em comum, por terem as mesmas bases e terem sido criadaspelo mesmo Deus, que acabou sendo denominado de formas diferentes emcada uma delas.

    J "no mito maniquesta, apenas uma pequena parcela do Reino da Luz, umlocal da imaculada pureza e ptria distante pela qual a alma ansiava, tinha sidodevorada pelo Reino das Trevas. primeira vista, o universo visvel podiaparecer uma mistura catica de Luz e Trevas, na qual as Trevas prendiam aLuz num abrao sufocante" (BROWN: 171). Tal explicao do mundo lembra-nos algumas das teorias de Menocchio - como sua principal e uma das maispolmicas, a da criao do mundo: "Eu disse que segundo meu pensamento ecrena tudo era um caos, isto , terra, ar, gua e fogo juntos, e de todo aquelevolume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo feito do leite, e do qual surgem os vermes e esses foram os anjos. Asantssima majestade quis que aquilo fosse Deus e os anjos, e entre todos

    aqueles anjos estava Deus, ele tambm criado daquela massa, naquelemesmo momento, e foi feito senhor com quatro capites: Lcifer, Miguel,Gabriel e Rafael" ele teria afirmado ao inquisidor.

    Como j fora dito anteriormente, Menocchio apresentou um sistema tericoextremamente confuso, e por isso no nos aprofundaremos muito em suaproposta, mas sim no que isto refletia de seu tempo e sua sociedade, bemcomo o que era particular seu. O principal ponto que podemos levantar comrelao a uma religio simplificada defendida por Menocchio, onde h umaequivalncia entre as diferentes fs. Esta religio igualitria existiria porque"Deus est em todos". Dentro deste mesmo pensamento, ele afirmara que eracristo to somente devido sua tradio familiar, e que se tivesse nascido emoutra regio de outra cultura lutaria pela sua f, assim como ele lutaria pela fcrist por ser um cristo.

    Dentro deste pensamento simplificador, Menocchio faz relaes entre aspectosde seu cotidiano e sua religio proposta. Mas tais pontos esto dentro destepropsito no porque esto no dia-a-dia de Menocchio, e sim porque taisaspectos esto dentro do modo de vida campons e de sua religiosidade hsculos. Ele reflete em parte muito da tradio religiosa semi-pag camponesa.

    Dentro desta cultura pag, o corpo e aspectos naturais e sobrenaturais do dia-a-dia so extremamente influentes, como quando Menocchio afirma: "A gemaseria a terra, a clara o ar, a pele fina entre a clara e a casca seria a gua, e acasca o fogo. Dessa mesma forma esto juntos o frio e o calor, e o seco com omido se temperam. Nossos corpos so feitos e compostos por esses quatroelementos: a carne e os ossos seriam a terra, o sangue a gua, a respirao oar, e o calor o fogo (...). O nosso corpo est sujeito s coisas do mundo, mas aalma est sujeita s a Deus, porque ela a imagem dele". Aqui podemosperceber uma clara mistura entre a religio pag materialista e igualitria e aCatlica Apostlica Romana.

    Ginzburg, afirma, sobre a relao da religio camponesa e a religio Catlica,que "ele projetava sobre a pgina impressa elementos tirados da tradio oral.

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    essa tradio, profundamente radicada nos campos europeus, que explica apersistncia tenaz de uma religio camponesa, intolerante quanto aos dogmase cerimnias, ligada aos ciclos da natureza, fundamentalmente pr-crist"(GINZBURG, 1987: 209).

    Menocchio fundamenta grande parte de suas crticas em cima da Igreja e dospadres. Ele afirma que a virgindade de Maria foi forjada, assim como a Criaodo mundo por Deus, a crucificao de Jesus, os Evangelhos, a adorao deimagens, o inferno e diversos outros pontos base dos dogmas catlicos. Elecriticava, alm da religio, o poder dos ricos que se escondiam atrs da lngualatina com a cumplicidade da Igreja Catlica Apostlica Romana, igualmenteproprietria de terras e exploradora. Basta lembrarmos que a Igreja chegou, noseu pice, a controlar um tero das terras cultivveis da Europa: "E me pareceque na nossa lei o papa, os cardeais, os padres so to grandes e ricos, quetudo pertence Igreja e aos padres. Eles arruinam os pobres. Se tm doiscampos arrendados, esses so da Igreja, de tal bispo ou de tal cardeal".

    Por todas estas crticas e por suas idias bem diferentes dos dogmas catlicos,Menocchio foi denunciado pelo padre de Montereale. interessante observaralguns pontos que ele sempre defendeu, mesmo com o passar do tempo e nosdois interrogatrios. Ele sempre pediu perdo, no negava suas idias - nomximo dizia que eram "coisa do diabo" - e nunca dizia que conhecia pessoascom os mesmos ideais que os seus.

    Um julgamento da Santa Inquisio sempre era algo extremamentetendencioso: afinal, as respostas eram sempre baseadas num reflexo dasperguntas tendenciosas do inquisidor. Havia sempre um desequilbrio entreinquisidor e acusado, com presses psicolgicas e fsicas, sendo que esteltimo geralmente acabava caindo nas armadilhas do primeiro. Vejamos, porexemplo, tal afirmao de Menocchio: "Acho que seja assim, mas no sei se verdade". Aqui, podemos ver claramente o medo dele com relao aoinquisidor. Responde o que acha, mas teme em muito a reao do bispo.

    Isto faz, inclusive, com que ele acabe se contradizendo ao afirmar, porexemplo: "Foram estas as palavras que eu disse: morto o corpo, morre a alma,mas o esprito continua" e "Acredito que tenha o esprito como o nosso, porquealma e esprito so a mesma coisa".

    Menocchio, por no encontrar eco de suas palavras dentro dos camponeses deMontereale, passou a acreditar que era extremamente original, e por isso tinhao profundo desejo de repassar suas idias para reis, prncipes ou papas. Afinal,ele se sentia obrigado a falar uma verso simplificada de sua teoria para seuscolegas camponeses, ao passo que reservou uma lio Por fim, 0,43 o muitomais complexa para ser apresentada diante do Tribunal da Santa Inquisio.

    Ele acabou sendo condenado em 1584, afinal tal quantidade de heresiasdeveria ser mantida distante dos camponeses. Por isso, deveria passar o restodos seus dias na priso, sob as custas de seus filhos. Porm, depois de dois

    anos preso, conseguiu que sua pena fosse atenuada e transferida para algocomo uma "priso domiciliar" onde no poderia sair de Montereale e onde

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    deveria carregar um hbito com a cruz. Em 1597 ele finalmente conseguiu aautorizao para deixar Montereale, mas no podia fugir pois tinha um amigocomo "fiador".

    Apesar de ter sido julgado e condenado pela Santa Inquisio, Menocchio

    continuara tendo prestgio na comunidade apesar do seu isolamento. Contudo,ele manteve sua posio e continuou a pregar suas idias herticas, o queacabou estimulando um segundo julgamento em 1598. Em junho de 1599 preso aos 67 anos e com muito medo de voltar priso passou a falar o quequeriam que falasse. Apesar disso, acabou mais uma vez condenado, torturadoe morto na fogueira.

    "Em 2 de agosto a congregao do Santo Ofcio se reuniu: Menocchio foideclarado, por unanimidade, um 'relapso', um reincidente. O processoterminara. Decidiu-se, porm, submeter o ru a tortura, para arranca-lhe onome dos cmplices. Isto ocorreu em 5 de agosto; no dia anterior, a casa de

    Menocchio fora revistada e, na presena de testemunhas, haviam sido abertastodas as caixas e confiscados 'todos os livros e escritos' " (GINZBURG, 1987:207).

    Um grande problema encontrado pelos inquisidores foi em que heresiasclassificar o pensamento de Menocchio. Primeiro pensamos nele como umluterano, depois como um encratista ou um anabatista, mas pode-se chamarele de pertencente a "um ramo autnomo do radicalismo campons (...) muitomais antigo do que a Reforma" (GINZBURG, 1987:70). A Igreja combatia nestemomento uma ideologia pr-Contra-Reforma erudita ao lado de uma culturapopular semi-pag, o que colocou os bispos em uma situao incmoda, poiseles no conseguiam relacionar as idias de Menocchio com nenhum esquemahertico pr-definido. Os inquisidores interpretavam as crenas que eles noconheciam dentro de um cdigo fixo diferente e, para eles, mais claro, cheio deesteretipos.

    Devemos pensar Menocchio no como sendo um campons tpico, mas simum personagem singular e no representativo, respeitando sua originalidade epercebendo dentro de seu discurso "o que comum, o que inveno deMenocchio. Em parte a inveno permite, ainda, apontar para um fundo decultura camponesa que se manteve pago" (RIBEIRO, 238). Esta cultura

    chegou at ns porque a tradio oral pde finalmente se manifestaroficialmente aps a Reforma Protestante e a chegada da Imprensa. Afinal, aorigem do pensamento de Menocchio muito distante, num local j quaseinatingvel do imaginrio coletivo oral das remotas tradies camponesasoriginrias das migraes e das relaes sociais que foram se desenvolvendono continente europeu durante toda a Idade Mdia e que finalmente afloraramneste perodo, tendo Menocchio como um de seus desconhecidos eperseguidos porta-vozes.

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    Portanto, o pensamento de Menocchio nico,porm tambm o reflexo de uma grande quantidadede pensamentos camponeses e de um certoradicalismo que estava dentro das vilas e que achouterreno e interessaante chamar a ateno aps as

    crticas de Lutero e Calvino e a criao da Imprensa.Muita coisa, porm, do pensamento de DomenicoScandella pode ter passado em vo dentro de nossaanlise e da percepo de Carlo Ginzburg; afinal oque temos apenas um retrato tendencioso obtido apartir de um julgamento opressor do Tribunal daSanta Inquisio. Ou seja, desde os pensamentos atas crenas dos camponeses investigados pelaInquisio nos chegam atravs de filtros eintermedirios que os moldaram com intenesclaras. Apesar disso, tal estudo extremamenteinteressante para desvendar o cotidiano e parte dospensamentos de um mrtir da Inquisio que poderiater passado em branco para a histria. Devemosagradecer a Carlo Ginzburg e a sua pacincia paraler tais documentos, relat-los e analis-los paratermos a oportunidade de conhecer essa figurahistrica cativante.

    BIBLIOGRAFIA

    ANDERSON, Perry: "Investigao noturna: Carlo Ginzburg" in Zona decompromisso. Fundao Editora Unesp, sem data.

    BARSA, Enciclopdia. Volume 8 - Infeco-Mapa.

    BROWN, Peter: Corpo e Sociedade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990.

    GINZBURG, Carlo: "O inquisidor como antroplogo: Uma analogia e as suasimplicaes" inA micro-histria e outros ensaios. Lisboa, Difel, 1989.

    __________: O queijo e os vermes - o cotidiano e as idias de um moleiroperseguido pela Inquisio. So Paulo, Cia. das Letras, 1987.

    RIBEIRO, Renato Janine: "Posfcio" in O queijo e os vermes