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In press nas Actas do Colóquio “A Indústria Mineira: Passado e Futuro”. Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, 12 a 14 de Março, 2007 PASSADO, PRESENTE E FUTURO DA INDÚSTRIA EXTRACTIVA EM PORTUGAL Luís M. Plácido Martins; Jorge M. F. Carvalho (INETI - Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação) 1. INTRODUÇÃO A manutenção e melhoramento dos padrões de vida da sociedade actual assentam num contínuo suprimento de recursos minerais que tende a aumentar face ao aumento populacional, pelo que é indispensável uma constante revelação de novas fontes de matéria-prima, à medida que as conhecidas se vão esgotando. No entanto, a competição pelo uso do território a que se associam as preocupações de preservação ambiental, têm vindo a diminuir a acessibilidade aos recursos, o que só pode ser superado pela promoção, consolidação e actualização dos conhecimentos acerca dos locais e modos de ocorrência desses recursos, bem como do desenvolvimento das técnicas para a sua exploração e utilização, numa óptica de desenvolvimento sustentável. Esta abordagem global do ciclo de vida dos recursos minerais que engloba ainda a preservação do património histórico que lhe está associado, é determinante no contexto da União Europeia em que Portugal se insere, devendo ser mantida e promovida no seu relacionamento com outros espaços geográficos com os quais existem afinidades históricas, culturais e científicas, como a Ibero- América e os países de expressão portuguesa. Sendo o acesso ao conhecimento uma parte cada vez mais importante da infra-estrutura das nossas sociedades, a disponibilização pública organizada dos dados decorrentes das acções de inventariação e investigação no domínio dos recursos geológicos revela-se um contributo fundamental para a promoção do seu desenvolvimento. Neste contexto, apresenta-se aqui uma breve retrospectiva do que foi o passado mais relevante da indústria mineira em Portugal, a sua situação actual e ainda algumas das perspectivas futuras.

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In press nas Actas do Colóquio “A Indústria Mineira: Passado e Futuro”. Auditório da Reitoria da Universidade de

Coimbra, 12 a 14 de Março, 2007

PASSADO, PRESENTE E FUTURO DA INDÚSTRIA EXTRACTIVA EM

PORTUGAL

Luís M. Plácido Martins; Jorge M. F. Carvalho

(INETI - Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação)

1. INTRODUÇÃO

A manutenção e melhoramento dos padrões de vida da sociedade actual assentam num

contínuo suprimento de recursos minerais que tende a aumentar face ao aumento

populacional, pelo que é indispensável uma constante revelação de novas fontes de

matéria-prima, à medida que as conhecidas se vão esgotando. No entanto, a competição

pelo uso do território a que se associam as preocupações de preservação ambiental, têm

vindo a diminuir a acessibilidade aos recursos, o que só pode ser superado pela

promoção, consolidação e actualização dos conhecimentos acerca dos locais e modos de

ocorrência desses recursos, bem como do desenvolvimento das técnicas para a sua

exploração e utilização, numa óptica de desenvolvimento sustentável.

Esta abordagem global do ciclo de vida dos recursos minerais que engloba ainda a

preservação do património histórico que lhe está associado, é determinante no contexto

da União Europeia em que Portugal se insere, devendo ser mantida e promovida no seu

relacionamento com outros espaços geográficos com os quais existem afinidades

históricas, culturais e científicas, como a Ibero- América e os países de expressão

portuguesa.

Sendo o acesso ao conhecimento uma parte cada vez mais importante da infra-estrutura

das nossas sociedades, a disponibilização pública organizada dos dados decorrentes das

acções de inventariação e investigação no domínio dos recursos geológicos revela-se

um contributo fundamental para a promoção do seu desenvolvimento. Neste contexto,

apresenta-se aqui uma breve retrospectiva do que foi o passado mais relevante da

indústria mineira em Portugal, a sua situação actual e ainda algumas das perspectivas

futuras.

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Figura 1 – Minas abandonadas em Portugal continental (adaptado de Oliveira et al. (2002))

2. O PASSADO DA INDÚSTRIA MINEIRA EM PORTUGAL

Nos finais dos anos 90 do século passado, o então Instituto Geológico e Mineiro,

actualmente integrado no Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, foi

pioneiro na abordagem à caracterização do património geológico-mineiro, ou seja, fora

do contexto do património puramente industrial. Essa abordagem foi realizada no

âmbito do Projecto Minas Abandonadas (Oliveira et al., 2002), de temática vocacionada

para a avaliação da sua perigosidade em termos de contaminação ambiental, mas que

não deixou de parte a inventariação do respectivo património geológico e mineiro.

De um total de 91 minas inventariadas e caracterizadas no âmbito desse projecto (figura

1), em que as principais substâncias exploradas foram os minérios de cobre, estanho,

volfrâmio, chumbo, zinco, ouro e prata, na figura 2 apresenta-se a inventariação

realizada no que respeita às minas mais significativas em termos de património

geológico e mineiro. Na figura 3 apresentam-se alguns exemplos ilustrativos deste

património.

Figura 2 – Minas portuguesas com património geológico e mineiro mais significativo (adaptado de Matos et al. (2002a))

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Três Minas – Corta Romana da Ribeirinha Minas do Pintor

Minas da Borralha Mina de Vale das Gatas (escombreiras, instalações e

bairro mineiro)

Figura 3 – Alguns exemplos ilustrativos do património geológico e mineiro português

Este Projecto Minas Abandonadas foi, por sua vez, ponto de partida para diversos

outros projectos de recuperação desse património que se encontram em

desenvolvimento, bem como da recuperação ambiental dos locais em causa. Merecem

destaque os casos das Minas de Jales e da Panasqueira. Relativamente a esta importa

salientar a recuperação do antigo Bairro Mineiro Chinês e a existência de

financiamentos aprovados para o projecto turístico da antiga Lavaria do Rio, bem como

o projecto de recuperação e estabilização das escombreiras, trabalhos estes já realizados

em Jales.

Nos anos mais recentes a actividade do INETI no capítulo da requalificação do

património geológico e mineiro tem-se centrado nas antigas minas da região Sul do

país, associadas à Faixa Piritosa Ibérica (figura 4), dado o elevado conhecimento

geológico detido acerca desta província metalogenética. Esta ocupa uma vasta área da

região SW da Península Ibérica, onde se encontram numerosos jazigos de sulfuretos

maciços polimetálicos associados às rochas vulcânicas do Complexo Vulcano-

Sedimentar. A presença de cerca de 90 jazigos de pirite confere à FPI um estatuto de

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província metalogenética de sulfuretos maciços vulcanogénicos de classe mundial, na

qual merece destaque a Mina de Neves-Corvo pelos seus elevados teores em cobre,

zinco e estanho. Estima-se que estes jazigos tenham no total cerca de 1700 milhões de

toneladas de sulfuretos, das quais 20% foram já exploradas desde tempos pré-históricos

e cerca de 10-15% perdidas por erosão (Barriga et al., 1997).

Figura 4 – Mapa geológico da Faixa Piritosa Ibérica

Nesta região do território nacional a existência de numerosas ocorrências de minérios de

cobre, ferro e manganês na FPI foi certamente determinante no modo de vivência das

populações, tendo existido mineração desde o Calcolítico. Os tartéssios, fenícios e

cartagineses efectuaram as primeiras explorações mineiras. Durante o Império Romano

foram intensamente explorados vários jazigos de sulfuretos da Faixa Piritosa como S.

Domingos, Aljustrel e Caveira em Portugal e Rio Tinto e Tharsis, em Espanha,

sobretudo na sua parte mais superficial, marcada pela existência de chapéus de ferro ou

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gossans. Os povos árabes pouco se dedicaram à actividade extractiva antes preferindo

negociar em entrepostos (caso de Mértola) os concentrados de metais extraídos pelas

populações autóctones No seguimento da revolução industrial do séc. XIX reinicia-se a

exploração de sulfuretos extraindo-se, com técnicas modernas, grandes volumes de

mineral com vista à obtenção do cobre. Em Portugal, a mineração operada em S.

Domingos e Aljustrel estende-se posteriormente, durante o início do séc. XX, às minas

de Lousal e Caveira situadas no sector NW da FPI (Matos et al., 2002b).

Figura 5 – Museu Mineiro do Lousal (Fundação Frederic Velge (SAPEC/Câm.

Municipal de Grândola))

Se alguns destes centros mineiros já foram alvo de intervenção, como sejam os casos do

Lousal (figura 5) e do Parque Mineiro Cova dos Mouros – Minas de Cobre de Ferrarias

(este último já na região Algarvia mas no qual houve uma forte intervenção científica

por parte do INETI), outros apresentam elevado potencial museológico, como sejam

Caveira, Aljustrel e São Domingos.

A valorização do património geológico e mineiro para além de contribuir para a

divulgação pública da importância dos recursos minerais na sociedade, pode ser uma

alternativa económica, ambiental e social, após o encerramento das minas activas,

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prolongando o seu tempo de vida. No entanto, muito trabalho há a fazer pois o

panorama actual mostra-nos que:

Há um abandono generalizado, levando a degradação com o tempo.

Algumas infra-estruturas mineiras são factores de insegurança.

Equipamento em ferro está ausente ou muito degradado.

Descaracterização e delapidação do património mineiro por utilização das áreas

mineiras para outros fins.

Ruínas, poços e galerias constituem por vezes um factor de biodiversidade

(ecossistemas específicos adaptados ao meio mineiro).

Afloramentos geológicos com elevado interesse científico em certas cortas e

galerias.

Num âmbito fora do contexto da mineria metálica importa também fazer menção a

trabalhos de recuperação e requalificação que se têm vindo a desenvolver no sentido da

preservação de valores geológicos postos a descobertos pela actividade mineira, como

são os casos das jazidas de icnofósseis da Pedreira do Galinha e de Vale de Meios,

ambas numa área do Maciço Calcário Estremenho abrangida pelo Parque Natural das

Serras de Aire e Candeeiros.

3. O PRESENTE

Desde os finais dos anos 90 e até há bem pouco tempo a indústria extractiva revelou um

cenário depressivo condicionado, não só pelas condições do mercado dos metais, mas

também, em nossa opinião, pelo contexto legislativo europeu essencialmente

direccionado para o preservacionismo ambiental. Com efeito, e apesar da moderna

indústria extractiva (pós anos 60) não ser dos sectores mais poluentes, é vista pela

opinião pública, media e classe política com uma má imagem. Contudo esta imagem é

muitas vezes injusta e deturpada, confundindo-se muitas vezes impacte ambiental com

impacte visual.

Por outro lado, e embora fossem conhecidos os dados referentes ao consumo de

recursos minerais que, a título de exemplo, apontam que no ano 2000 os 15 países da

CE consumiram em 2000 cerca de 30 toneladas/ per capita de matérias primas minerais,

necessários para manter o seu nível de vida, o que representou um consumo total de 11

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295 Mt, esse contexto levou ainda à aprovação, implementação e desenvolvimento de

Directivas Europeias limitativas do acesso da indústria aos recursos geológicos

essenciais, o que é altamente penalizante, já que a localização geográfica de um

depósito geológico de alto valor económico depende de processos naturais, não

podendo ser escolhida ou modificada.

Figura 6 – Evolução da prospecção e pesquisa de metais pelo sector privado entre 1980 e 2002.

Pese embora o contexto económico depressivo e o contexto legislativo, em Portugal a

actividade de prospecção, pesquisa e investigação dos recursos minerais, sempre assumiu um

papel importante (figuras 6 e 7), o que em nossa opinião, se prende com a actividade

desenvolvida pelo ex-IGM no âmbito da prospecção e valorização dos recursos minerais

metálicos, com a legislação mineira portuguesa e, particularmente, com as características

geológicas e metalogenéticas do País.

A este respeito importa então mencionar que Portugal, embora seja um País de pequenas

dimensões, apresenta uma geologia bastante diversificada e forte potencial em recursos minerais

metálicos, dos quais se destacam as potencialidades em ouro, estanho e volfrâmio e sulfuretos

polimetálicos (figura 8).

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Figura 7 – Investimentos em prospecção e pesquisa entre 1990 e 2000

Se até aqui temos vindo somente a abordar os recursos minerais metálicos nacionais, os

restantes, comummente designados por rochas e minerais não metálicos, não devem ser

descurados, tanto pela sua importância económica como social (figura 9)

Portugal é um dos principais produtores mundiais de rochas ornamentais,

principalmente de mármores provenientes da região de Estremoz – Borba – Vila Viçosa

e de calcários da região do Maciço Calcário Estremenho, devendo-se incluir nestes os

explorados para o fabrico de Calçada à Portuguesa e de lajes para revestimentos

rústicos. A nível de granitos são de destacar os provenientes da região Norte do País,

como Vila Real, Braga, Monção e Viseu.

A nível das chamadas Rochas e Minerais Industriais são de destacar:

Agregados para construção civil e obras públicas (calcários, basaltos, areias e

cascalhos)

Argilas comuns (cerâmica estrutural: telha e tijolo)

Argilas especiais (cerâmica branca: pavimentos e revestimentos, louças, sanitários,

etc.)

Quartzo e feldspato (idem)

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Figura 8 – Principais recursos minerais de Portugal Continental

4. O FUTURO

O futuro do aproveitamento dos recursos minerais nacionais está, a curto prazo, muito

condicionado pela situação actual que se caracteriza fundamentalmente por:

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Operações mineiras de Neves Corvo e Panasqueira, ambas de dimensão mundial,

com alta rentabilidade presente e prevista para o futuro;

Retoma da exploração em Aljustrel prevista para finais de 2007.

Perspectivas de serem iniciadas dentro em breve novas explorações de ouro em

Montemor-o-Novo e em Jales-Gralheira.

Exploração do jazigo de urânio de Nisa para o que está presentemente a decorrer a

fase de avaliação das propostas apresentadas por mais de 10 empresas.

Figura 9 – Valor da produção dos recursos geológicos nacionais em 2004

A estes dados que se podem considerar como adquiridos, há que juntar ainda as

potencialidades existentes para o aparecimento de projectos para a eventual reavaliação

e exploração dos jazigos nacionais de volfrâmio, estanho e urânio, entre outros. Tal

facto prende-se com a recente conjuntura mundial do mercado dos metais em que estes

estão com cotações elevadíssimas, batendo recordes.

No campo das rochas e minerais não metálicos o sector das rochas ornamentais, após

um período de recessão recente, começa lentamente a dar mostras de reacção ao

fenómeno de globalização através de investimentos mais racionais, diversificação e

inovação de serviços e produtos. Também a muito curto prazo, a investigação que se

tem vindo a realizar no âmbito das matérias-primas e materiais cerâmicos deverá

começar a dar os seus frutos ao nível da inovação para o aproveitamento de novas

matérias-primas e sua valorização.

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Estas boas perspectivas para o futuro da indústria mineira em Portugal não podem ser

desenquadradas do actual contexto europeu e mesmo mundial. Com efeito, nos

chamados países mais desenvolvidos, as autoridades e agentes económicos começam

novamente a assumir a necessidade de exploração de recursos desde que observado o

princípio genérico de que um “desenvolvimento industrial verdadeiramente sustentado

tem que incluir uma componente ambiental”, o qual, aliás, desde há largos anos tem

vindo a ser implementado na indústria extractiva. Ou seja, a prerrogativa deixa de

assentar unicamente no factor ambiental como tem sido prática generalizada. Como

pretende demonstrar a figura 10, a problemática necessita de ser pensada e centrada em

função dos recursos, da sua disponibilidade e aproveitamento integral. A indústria

extractiva é um dos principais factores a ter em conta pois é o veículo que disponibiliza

esses recursos à sociedade

Ciclo de Vidados Materiais

Ordenamentodo Território

RECURSOSMINERAIS

IndústriaExtractiva

Acesso aosRecursos

Reciclagem

AMBIENTE

ECONOMIA SOCIEDADE

Figura 10 – Recursos Minerais e desenvolvimento sustentável.

Ora, muito recentemente, esta temática ganhou importância a nível mundial e europeu.

No Anexo 1 das conclusões da cimeira dos G8 realizada no passado dia 8 de Junho de

2007 em Heiligendamm1, estão incluídas 4 páginas unicamente dedicadas à temática

1 http://www.g-8.de/Content/EN/Artikel/__g8-summit/anlagen/2007-06-07-gipfeldokument-wirtschaft-eng,property=publicationFile.pdf

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dos recursos minerais e nas quais se afirma que os recursos minerais são um factor

chave para o crescimento sustentado das economias industrializadas, emergentes e em

desenvolvimento. Afirma-se também que é do interesse comum que o uso dos recursos

minerais se faça de modo responsável, contribuindo, assim, para o desenvolvimento

sustentável de muitas das nações mais pobres do mundo dado o seu grande potencial

para aliviar a pobreza.

Se estas afirmações marcam um virar de página relativamente às últimas duas décadas,

a sua importância é do maior relevo ao nível europeu, e portanto nacional, pelo facto de

que na sua base preparatória esteve o Conselho Europeu para a Competitividade de 21

de Maio de 2007, em cujas conclusões2 se requer à Comissão Europeia o

desenvolvimento de uma política coerente no que respeita ao suprimento de recursos

minerais à indústria que inclua todas as áreas relevantes a considerar, nomeadamente a

política e comércio externo, ambiente e desenvolvimento, pesquisa e inovação. Requer

ainda a identificação das medidas apropriadas para avaliar em termos economicamente

eficazes, credíveis e ambientalmente amigáveis as condições de acesso e exploração dos

recursos naturais, seus subprodutos e resíduos recicláveis, especialmente no que

concerne a mercados terceiros. No seguimento destas conclusões e imediatamente antes

da abertura da Cimeira dos G8, foi anunciado em conferência de imprensa pelo Vice

Presidente da Comissão Europeia e Comissário responsável pelas pastas da Empresa e

Indústria, o lançamento da preparação de uma política europeia sobre os recursos

minerais

Trata-se, com efeito, do início de um novo rumo que se espera venha a recolocar os

recursos minerais e seu aproveitamento no lugar de destaque que merecem em termos

do desenvolvimento das sociedades. A nível nacional, embora certamente não a curto

prazo, permitirá a criação de condições para que o futuro da indústria mineira seja ainda

mais favorável. As oportunidades de investigação, valorização e promoção existem e

passam, entre outras, por:

Promover a investigação e prospecção de cenários metalogenéticos pouco

conhecidos, tais como

2 http://www.consilium.europa.eu/ueDocs/cms_Data/docs/pressData/en/intm/94184.pdf

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o Depósitos auríferos associados com intrusões graníticas (tipo Mokrsko – Repª.

Checa) ou no contacto com as formações encaixantes, associadas com skarns

(tipo El Valle – Espanha).

o Depósitos auríferos na dependência de acidentes tectónicos importantes.

o Mineralizações de sulfuretos maciços polimetálicos, associados a metais

preciosos e ocorrentes nas formações do complexo vulcano-sedimentar,

envolventes dos maciços de Morais e Bragança.

o Depósitos de sulfuretos maciços polimetálicos na Faixa Piritosa, com realce

para os eventualmente ocorrentes sob a cobertura Ceno-Antropozóica que

pode ir até às centenas de metros de espessura.

o Mineralizações de metais básicos, em especial Zn e Cu, associadas a

formações carbonatadas (tipo Galmoy – Repª. Irlanda), ocorrentes na zona de

Ossa-Morena e/ou encaixadas nos maciços máficos e ultramáficos de Morais e

Bragança e ainda da Zona de Ossa-Morena, no caso do Ni, Co e Cr.

o Mineralizações de metais básicos, em especial Ni e Co, associados a áreas do

Maciço de Évora da Zona de Ossa-Morena com características geológicas e

metalogenéticas similares ao jazigo de Agua Blanca (Espanha).

Promover a investigação, prospecção e valorização do sector das rochas e minerais

industriais com particular incidência na

o Investigação dos condicionalismos postos pela fracturação dos maciços

rochosos à exploração de rochas ornamentais; prospecção de novas jazidas e

valorização das existentes

o Prospecção de novos jazigos e de novas matérias-primas para a indústria

cerâmica.

Promover a divulgação geomineira, incentivar a sua melhoria qualitativa e

proporcionar a sua cedência gratuita às companhias interessadas.

Actualizar a legislação mineira:

o Diminuição do tempo necessário à efectivação de contratos de prospecção e

pesquisa e de concessão mineira.

o Incentivar a melhoria qualitativa, em termos técnicos, dos planos de trabalhos

e consequente aumento dos investimentos, em prejuízo da carga fiscal

relacionada com os respectivos contratos de prospecção e pesquisa.

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Política governamental de benefícios fiscais motivante para quem pretende investir

nesta actividade em Portugal.

Salvaguarda de áreas para a exploração dos recursos minerais nacionais no âmbito

dos planos de ordenamento do território (PROT’s, PDM’s e outros).

Políticas e acções de educação ambiental que levem à compreensão da importância

dos recursos minerais e indústria extractiva para a sociedade à luz dos conceitos de

desenvolvimento sustentável.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos pelo seu passado rico no que respeita ao aproveitamento dos seus recursos

minerais, Portugal é um país mineiro. Essa situação que se tem mantido até aos dias de

hoje, pese embora as políticas restritivas que têm dominado nas últimas décadas, tem

contribuído muito para a riqueza nacional e, portanto, para a melhoria de vida da

população. Não se devendo confundir impacto visual com perigosidade ambiental, a

indústria mineira nacional tem conseguido adaptar-se aos novos desafios que lhe têm

surgido ao nível da sustentabilidade ambiental e social.

Dada a sua diversidade geológica, as potencialidades mineiras que se mantêm e as

muito recentes expectativas criadas em torno dos últimos desenvolvimentos europeus

para uma reavaliação das políticas que têm vindo a ser seguidas no que respeita ao

suprimento de recursos minerais, importa:

Envolver todos os parceiros da Indústria Extractiva para vencer de vez o desafio

ambiental e melhorar a imagem perante a opinião pública deste sector industrial.

Vontade política para o desenvolvimento em Portugal de projectos mineiros

sustentáveis e responsáveis

Reforçar um novo Laboratório de Geologia e Minas, como organismo percursor do

extinto Instituto Geológico e Mineiro, com capacidade (humana e financeira) para

inventariar, caracterizar, valorizar e promover os recursos minerais nacionais.

Saber como um país pequeno deve sobreviver ao fenómeno da globalização.

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Cremos que estes quesitos e desafios são determinantes para o futuro da indústria

extractiva em Portugal.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barriga, F.J.A.S., Carvalho, D. and Ribeiro, A., 1997. Introdution to the Iberian Pyrite

Belt, SEG Neves Field Conference. Guidebook Series, pp 1-20. Matos, J.X. et al., 2002a. Património mineiro português: estado actual da herança

cultural de um país mineiro. In: J.M. Brandão (Editor), Congresso Internacional Sobre Património Geológico e Mineiro. IGM/SEDPGYM, Beja, Portugal, pp 539-554.

Matos, J.X., Oliveira, V. and Alves, H., 2002b. Património Geológico-Mineiro e Histórico da Mina de S. Domingos (Faixa Piritosa Ibérica). In: J.M. Brandão (Editor), Congresso Internacional Sobre Património Geológico e Mineiro. IGM/SEDPGYM, Beja, Portugal, pp 517-535.

Oliveira, J.M.S. et al., 2002. Diagnóstico Ambiental das Principais Áreas Mineiras Degradadas do País. Boletim de Minas do IGM, 39 (2): pp 67-85.