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Page 1: PARTO: FATORES QUE INFLUENCIAM AS MULHERES NA … · Dentre os fatores que levam a escolha da via normal estão à melhor recuperação, e da cesárea o conforto, ausência de dor;

Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO

11 a13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358

PARTO: FATORES QUE INFLUENCIAM AS MULHERES NA ESCOL HA

Briena Padilha Andrade (IC Voluntária - UNICENTRO), Gabriela Pasqual (IC Voluntária - UNICENTRO), Maria Luciana Botti (Orientadora), e-mail:

[email protected]

Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências de Saúde, Departamento de Enfermagem, Guarapuava – Paraná. Palavras-chave: Assistência ao parto,parto; Saúde da mulher. Resumo: Este estudo trata-se da caracterização sobre a escolha do tipo de parto. Apresentou como objetivos averiguar percepção da mãe relacionada aos tipos de partos, benefícios e malefícios; identificar as práticas e procedimentos realizados no parto normal diante das diretrizes de humanização do parto; identificar quais fatores influenciou na escolha desse tipo de parto. Com metodologia descritiva com abordagem da análise qualitativa. Os resultados obtidos foram as seguintes categorias de análise: A dor e o parto – a interseção a partir dos fatores culturais; A cultura da cesárea; Assistência pré-natal e sua importância para um parto digno e natural; Abuso das intervenções desnecessárias e descaso diante da assistência ao parto; A escolha pelo tipo de parto. Introdução A mulher é uma figura importante perante a sociedade, ora por sua atuação no meio social, ora no meio familiar. As mulheres representam a maioria da população brasileira, representando 50,77%, e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2004). Diante desse contexto, em 1984, o Ministério da Saúde lança o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), trazendo como um dos objetivos específicos à promoção da atenção obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo à assistência ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e adolescentes, e como subitem a qualificação da assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios e elaborar e/ou revisar, imprimir e distribuir material técnico e educativo (BRASIL, 2004). O processo de nascimento e parturição é essencial diante do viver da humanidade, de acordo com o meio em que essa mulher-mãe está inserida. O trabalho de parto e parto pode ser encarado com maior ou menor intensidade, influenciando direta ou indiretamente no seu modo de vida (CARRARO et al., 2006). Conhecer o conceito da puérpera quanto a vivência do trabalho de parto e parto é de fundamental importância, pois durante toda a gravidez a futura mãe constrói expectativas ao modo de vivenciar o parto (PACHECO et al., 2005).Além disso, fornece informações para uma readequação dos serviços de saúde para adaptar métodos de cuidado e conforto, e proporcionar um trabalho de parto humanizado, objetivando na mulher-parturiente confiança em si e nos profissionais de saúde (CARRARO et al., 2006).

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Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO

11 a13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358

Dado o exposto, surgiu o interesse em investigar o conhecimento das mulheres quanto as vias de parto e sobre os fatores determinantes que influenciaram essas participantes na tomada de decisão do parto normal ou cesáreo.O objetivo geral da pesquisa foi de caracterizar a vivencia das puérperas, e os fatores determinantes que levaram essas mulheres a escolherem o tipo do parto. Os objetivos específicos foram: a) averiguar percepção da mãe relacionada aos tipos de partos, benefícios e malefícios; b) identificar as práticas e procedimentos realizados no parto normal diante das diretrizes de humanização do parto; c) identificar quais fatores influenciou na escolha desse tipo de parto. Material e Métodos Para alcançar os objetivos do estudo, foi realizado um estudo descritivo, com abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foram puérperas que tiveram a data do seu último parto nos meses de março a abril de 2012, residentes na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde da Vila Bela, perímetro urbano do município de Guarapuava – PR. A amostra foi composta por 04 puérperasque tiveram seus filhos por parto normal, 05 puérperasque tiveram seus filhos por parto cesáreo. Utilizou-se de um instrumento semiestruturado que em sua primeira parte abordou a caracterização das puérperas (questões fechadas) e na segunda parte possibilitou-as relatar a experiência do parto (questões abertas).Salienta-se que todos os aspectos éticos foram respeitados conforme a Resolução do CNS 196/96. Resultados e Discussão A análise dos dados possibilitou o encontro das seguintes categorias:

1ª Categoria de Análise: A dor e o parto – a interseção a partir dos fatores culturais A dor relacionada à situação da parturição é normalmente encontrada, já que historicamente muitas mulheres reforçam a valorização deste fenômeno.Antropologicamente a dor é resgatada por interpretações que remota da mitologia arcaica e em diferentes culturas que destacam a dualidade entre o bem e o mal, ou seja, a mulher fez o mal, sentirá dor (TEIXEIRA, OKADA, 2003).Pode-se perceber este acontecimento nas falas abaixo:

De ruim as dores... É uma dor horrível, dói tudo, dói corpo, doíam costas, é horrível a dor. [...] não me lembro, a mãe falou tanta coisa(BEGONIA) Falavam que doía muito... Que quando a gente fosse fazer o parto normal, a gente já tava morrendo. Vendo Jesus! De tão doído que é (LÍRIO) Eu acho que quem é mãe tem que sofre um pouco né (AMOR PERFEITO)

1ª Rubrica de análise: O medo das dores

O medo potencializa-se perante o desconhecido. No caso do parto,parte da dor sentida advém das experiências de ancestrais, de relatos, e vivências dos mesmos.

Eu tinha muito medo de sentir dor de parto, tanto que duas vezes começou a doer minha barriga, fui correndo no médico (CAMÉLIA)

2ª Categoria de Análise: A cultura da cesárea

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Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO

11 a13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358

Atualmente, existem concepções distorcidas a cerca do parto cesáreo, sendo esse visto como o parto seguro, ausente de dor. Seu uso é indiscriminado, devido à intensa medicalização, porém, esse “benefício” não abrange toda a população, ficando restrito às classes dominantes. O uso indiscriminado da cesárea é mais comum em instituições privadas, onde a parturiente apresenta maiores condições sócias e econômicas, e na maioria das vezes menores riscos gestacionais (RATNNER, 1996).

É o que se evidencia nas falas abaixo: Falavam que não sofria muitoporque você tomavaa anestesia, eficava sem dor (AMOR PERFEITO). Eu queria cesárea, não queria normal, porque daí eu nãosentia dor, melhor sentir dor depois (AÇUCENA)

3ª Categoria de Análise: Assistência pré-natal e sua importância para um

parto digno e natural. No momento das consultas de pré-natal, as mulheres deveram receber

informações sobre múltiplos assuntos, sendo um deles a expectativa do momento do parto, o médico deverá ajudar a gestante a amenizar suas angústias e medo em relação ao momento do parto, devendo ainda transparecer o quanto esse pode ser natural (SOARES et.al, 2009).

No entanto, não é o que vem sendo observado na prática onde a atenção fica restrita à fisiologia, e as gestantes não são preparadas para o momento do parto, potencializando assim, seus medos perante o desconhecido. Dessa, forma as mulheres acabam priorizando as intervenções cirúrgicas por considerarem mais segura, essa decisão sendo apoiada na maioria das vezes pelo obstetra. É o que fica evidente nas falas abaixo:

Pedia exames, pesava, escutava o coração do nenê, mas nunca perguntou se eu queria normal ou cesárea (GÉRBERA) Não ele não me falou nada, até um dia em que eu disse que tinha medo do parto normal, e ele respondeu: normal, não sei onde que isso é normal foi então que resolvi fazer cesárea (CAMÉLIA)

4ª Categoria de Análise: Abuso das intervenções desnecessárias e

descaso diante da assistência ao parto. O parto é um momento único e inesquecível na vida da mulher, dessa

forma, o cuidado despendido pelos profissionais deve ser de forma singular, respeitando o protagonismo da mulher, tornando esse momento o mais natural possível.

O corpo da mulher durante o parto vem sendo notado pelos médicos, como objeto de sua ciência e prática, dessa forma os cuidados com a mesma, seus sentimentos, percepções ficam deficientes (NAGHAMA;SANTIAGO, 2005).

Nas falas das participantes da pesquisa, fica clara a ausência de preocupação com a mulher em si, onde a atenção médica fica restrita a prática do parto em si.

O médico foi bem estúpido comigo, eu não falava nada, só queria mesmo saber de me falar mal, dizia que eu não precisava fazer tanto escândalo, eu me senti muito mal com isso (GÉRBERA). Não ele não me falou nada... Só chegou e me levou para a sala de parto, sem dizer nada (LÍRIO).

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Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO

11 a13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358

5ª Categoria de Análise: A escolha pelo tipo de parto

Com base nos relatos observou-se queas mulheres vinculam o parto normal ao sofrimento e dor; enquanto o parto cesáreo a segurança e conforto para ela e o bebê. Assim como ilustra as seguintes falas:

Pela tranquilidade, tive a sensação assim que é tranquilo. Se eu for ter mais um filho com certeza vai ser cesárea(HORTENSIA)

A minha escolha é pela cesárea, porque sofre menos, não sente dor, só sofre depois mais não sente dor(Begonia)

Conclusões A pesquisa trouxe que o culto ao parto cesáreo é relevante, tanto nas mulheres que tiveram esse tipo de parto, quanto nas que pariram por via vaginal. Essa predileção dá-se pela cultura que envolve os tipos de parto, sendo o normal atrelado a dor e sofrimento, enquanto o cesáreo considerado seguro e confortável. Dentre os fatores que levam a escolha da via normal estão à melhor recuperação, e da cesárea o conforto, ausência de dor; medo de senti-la, ressaltando ainda a associação dos tipos de parto a dor/conforto. A visão destorcida sobre os partos é potencializada com a alta medicalização, e a ausência de cuidados e preparo para o momento do parto, fazendo com que esse muitas vezes se torne algo traumático, e intervencionista. Por conseguinte retirando a graça e o protagonismo da mulher nesse momento único. Agradecimentos Ás as mulheres que se disponibilizaram a responder o questionário, bem como me acolheram em suas casas. Á Profª MS. Maria Luciana Botti, pelo carinho e dedicação. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes . Brasília: Ministério da Saúde, 2004. .CARRARO, T. E. et al. Cuidado e conforto durante o trabalho de parto e parto: na busca pela opinião das mulheres. Texto Contexto Enferm. , v. 15, ed. especial, p. 97-104, 2006. PACHECO, A. et al. Antecipação da experiência de parto: mudanças desenvolvimentais ao longo da gravidez. Revista Portuguesa de Psicossomática , v. 7, n. 1, p. 7-41, 2005 SOARES, D.M.D et al. Influência do pré-natal na escolha do tipo de parto: avaliação de gestantes que realizaram o pré- natal em uma unidade básica de saúde de um bairro no interior da cidade de pelotas. I mostra cientifica. UFPEL, 2009. RATTNER, D. Sobre a hipótese de estabilização das taxas de cesáreas do Estado de São Paulo, Brasil. Rev Saúde Pública v.30,p19-33, 1996. NAGAHAMA, I.E.E; SANTIAGO, M.S. Institucionalização médica por parto no Brasil. Ciência e saúde Coletiva. v.10, n.3, p.651-657. Rio de Janeiro, 2005. TEIXEIRA, M.J; OKADA M. Dor: evolução histórica dos conhecimentos. In: Teixeira MJ. Dor: contexto interdisciplinar . Curitiba: Maio; 2003.