participação duarte mata
TRANSCRIPT
1
Participação de Duarte d´Araújo Mata,
Arquitecto paisagista
Data: 17 de Dezembro de 2013
Exmo. Sr. Presidente da Câmara de Oeiras
Sendo residente no Concelho desde apenas 2007, tenho hoje uma visão muito diferente do que
a que tinha quando decidi escolher este território para viver.
A minha formação de arquitecto paisagista dá-me também um enquadramento diferente das
potencialidades territoriais, a que junto o da vivência quotidiana.
Preocupa-me frotemente pelo futuro desta terra o que V.Exas pretendem fazer com esta
proposta, a qual descrimino seguidamente nas páginas seguintes no anexo que designo de
“ANÁLISE TÉCNICA”.
Concluo que é da maior urgência que V.Exas promovam a alteração deste modelo de PDM para
o bem de todos e assinalo não só os aspectos com os quais discordo tecnicamente, deixando
claro que a meu ver e pela anáise dos elementos disponiveis, não estão cumpridos sequer os
requisitos legais que permitiriam colocar esta proposta a aprovação.
2
ANÁLISE TÉCNICA
Sobre o Modelo Territorial proposto
Sendo Oeiras um espaço extraordinariamente rico e dinâmico, há que ajustar hoje o melhor modelo
territorial face às exigências actuais e perspectivas de desenvolvimento. Aquilo que poderia ser um bom
modelo há 30 anos com o petróleo a 9 dólares o barril não o é actualmente. A evolução da Área
Metropolitana de Lisboa nas últimas décadas e a forma como as questões energéticas e ambientais
tendem a repercutir-se na economia constituem elementos fulcrais para as tomadas de decisão e os
Planos Directores Municipais devem traduzir-se na espacialização das melhores escolhas para a
localização das actividades e usos.
Hoje, a dispersão e construção de novas frentes urbanas é um acto de mau planeamento, com a
consequente perda de solos de uma riqueza e qualidade excepcionais, como é o caso específico do
Concelho de Oeiras, mas também com os custos directos e indirectos que as deslocações e sobretudo
novas infra-estruturas viárias significariam para a autarquia.
Esta questão que faço referência é de tal forma central hoje em dia que é referida no artigo de opinião do
actual Ministro do Ambiente e Ordenamento do Território Dr. Jorge Moreira da Silva sobre a nova
legislação de Ordenamento do Território em elaboração
(vidé http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/detalhe/a_reforma_do_ordenamento_do_territorio.
html).
De facto, este modelo territorial encontra-se obsoleto antes mesmo de ter sido aprovado!
Oeiras deve encontrar um modelo territorial capaz de vocacionar, com a definição dos usos do solo, as
melhores dinâmicas. E isso deve passar por:
1. Apostar na qualificação dos centros históricos e na diversificação dos usos nos centros históricos.
Vocacionar as empresas a instalarem-se próximo dos pontos de acesso ferroviário e dos centros
consolidados, ao invés de uma dispersão pelo território em função da rodovia e do transporte individual;
2. Salvaguardar integralmente os solos com qualidade agrícola e com importância para a Biodiversidade,
tirando partido dessa mais-valia única que o Concelho comporta, tornando-o competitivo na criação de
emprego agrícola, vocacionando Oeiras para ser um dos grandes abastecedores de toda a área
metropolitana, um território a prazo com quase 3 milhões de consumidores, incluindo a criação de
parques agrícolas de grande dimensão (incluindo solos privados para uso privado) e uma rede de
parques hortícolas para gestão municipal;
3
3. Potenciar uma rede de corredores verdes municipal ao longo de todas as ribeiras, mas também no
sentido Nascente-Poente na área Planáltica e na frente do Tejo, articulada com os Concelhos limitrofes,
salvaguardando as áreas com maior sensibilidade ecológica (e não apenas tendo em conta o risco no
âmbito da protecção civil), tornando Oeiras um destino turistico rural e patrimonial de referência e
apostando no designado "turismo de proximidade", uma actividade económica rentável e em franco
crescimento na Europa desenvolvida. Trata-se de proporcionar a descoberta do território e das suas
paisagens, apelando ao consumo local e ao tirar partido das mais-valias naturais.
4. Qualificação de áreas urbanas muito densificadas, tais como Algés, Miraflores, Linda-a-Velha,
Carnaxide, Paço de Arcos e Nova Oeiras, criando verdadeiros Planos de Espaço Público, articulando
medidas de implementação de "Zonas 30km/h", a devolução de espaço viário a usos pedonais, a criação
de estruturas verdes de proximidade articuladas com a estrutura verde principal e a concretização de
melhorias de estacionamento;
5. Apostar na inversão do actual modelo de transportes assente na rodovia, criando um sistema de
transportes públicos eficaz à custa de linhas de autocarro reconhecíveis, metro / eléctrico de superfície
entre Algés - Miraflores - Linda-a-Velha - Carnaxide e entre Paço d´Arcos - Oeiras - Nova Oeiras,
proporcionando um plano sistemático de acalmias de tráfego, melhoria da acessibilidade pedonal e dos
atravessamentos, arborização e alargamento de passeios, instalação de uma rede ciclável articulada
entre vias para bicicletas e circulação na própria via, em partilha.
Do ponto de vista regional, o papel do Concelho de Oeiras na Área Metropolitana de Lisboa deveria focar-
se na seguinte estratégia de configuração de um território de excelência em matéria de qualidade de vida,
aliando uma dimensão humana capaz de atrair habitantes ao mesmo tempo que visitantes. Esta
estratégia assenta deveria assumir activamente um policentrismo eficaz do ponto de vista energético,
criando, diversificando e desenvolvendo os seus pólos consolidados junto da linha férrea com opções
habitacionais e de comércio e serviços, restringindo fortemente a expansão fora de uma fácil
acessibilidade ao transporte público pesado. É esta acessibilidade à linha ferroviária um dos pontos de
maior potencial de atracção do Concelho, permitindo criar aglomerados compactos e diversificados onde
se a dimensão e escala humana sejam regra, e não a excepção. Viver e trabalhar em Oeiras deveria ser
numa escala e dimensões humanas e locais, apostando-se na qualificação dos centros históricos, na
requalificação habitacional e no mercado de arrendamento, no ajuste do universo de equipamentos
colectivos, na salvaguarda patrimonial e cultural como imagens de marca.
Ao contrário do que este modelo territorial promove, o "solo rural" e a Paisagem não construída não são
menos-valias do ponto de vista global de um município, mas sim hoje áreas de oportunidade para
negócios na área da agricultura local, silvicultura e turismo de qualidade. Para as empresas de serviços e
pequena indústria, a sua aproximação aos aglomerados habitacionais e a proximidade ao sistema de
transportes públicos configuraria uma oportunidade de negócio e uma maior atracção para os seus
trabalhadores, libertando-os de despesas com o veículo particular e permitindo o usufruto de tecidos
4
urbanos mistos e variados, com comércio e equipamentos na proximidade. Esta progressiva
concentração de actividades permitiria ao Município de Oeiras poupar recursos financeiros em menos
investimento em novas vias de comunicação rodoviárias e correspondente manutenção, despesas de
saneamento básico, recolha de RSUs, transportes públicos e outros serviços, bem como optimizar nos
aglomerados consolidados todo um conjunto de equipamentos e serviços já existentes sem um relevante
acréscimo de despesa.
Oeiras deveria ter, como imagem de marca, grandes parques urbanos de carácter metropolitano,
estruturados maioritariamente sobre a sua Paisagem natural e cultural, onde a criação de equipamentos,
percursos e infra-estruturas seria residual, servindo de espaços diferenciadores e atractivos capazes de
vir a sedimentar o gosto por viver e trabalhar no Concelho pela diferenciação de viver numa ambiente
preservado e saudável.
Sobre a salvaguarda dos solos com capacidade de produção de biomassa
Os solos do Concelho de Oeiras são conhecidos pela sua extrema riqueza e constituem um recurso
precioso e estratégico.
A análise de várias entidades na Comissão de Acompanhamento consideram inaceitável a
proposta de RAN proposta.
Seria essencial que nos documentos de acompanhamento constasse a carta de solos para verificação do
cumprimento das classes de solo de acordo com a FAO ou de acordo com a Classe de Capacidade de
Uso do Solo (ex-CNROA). De facto, o espírito da lei refere a inclusão dos solos de qualidade para além
dos designados nas classes de A1 ou A2, designadamente outros que se considerem relevantes do ponto
de vista pedogenéticos, estratégicos ou patrimoniais, conforme refere o explicitamente o artº 9º do Dec-
Lei 73/2009 e que salvo melhor opinião deverão ser tidos em conta para um território com esta
sensibilidade.
Uma rápida análise da peça de RAN apresentada é suficiente para perceber que não estarão
devidamente enquadrados todos os excelentes solos municipais. Isso mesmo é referido por exemplo pela
APC ou pela DRAPLVT, duas entidades fundamentais nesta análise.
Para além deste facto, uma simples consulta ao layer "solos" no âmbito do projecto de investigação
financiado pela FCT em http://epic-webgis-portugal.isa.ulisboa.pt/pmapper/map_default.phtml para a área
de Oeiras permite concluir que não estão contemplados todos os solos a salvaguardar.
5
Figuras: comparação entre RAN proposta pelo PDM e solos de boa qualidade identificados pelo projecto
I&D do ISA
Sobre a requalificação urbana em detrimento de novas frentes de construção
Pela análise da Planta de Ordenamento (Qualificação de Uso do solo), a criação de novas frentes de
construção através da classe de solos urbanizáveis constitui um facto muito negativo deste PDM.
O que se pretende neste modelo parece ser a colmatação da frente urbana para norte até à Auto-
Estrada, mas na área de Porto Salvo verifica-se a constituição de uma frente urbana até à Área do Tagus
Park.
Todas estas novas frentes de construção, para além de contrariarem uma estratégia de requalificação
urbana, obrigam à criação de infra-estruturas viárias, de saneamento e electricidade, que configuram
despesa indesejável tanto para os particulares, como para a administração que terá que as assegurar e
manter.
Hoje no Concelho proliferam loteamentos onde praticamente apenas existem as infra-estruturas viarias e
de saneamento, onde a edificação não chegou e provavelmente não chegará num horizonte próximo,
situação que este Plano prevê perpetuar.
6
Figuras: Imagem representativa do modelo de novas frentes de urbanização em curso no Concelho,
sobre solos de elevada qualidade, assentes na rodovia e na viatura particular.
Pela leitura do regulamento, a situação é ainda mais grave dado que parte das áreas propostas
configuram áreas tendencialmente monofuncionais, quer devido a urbanizações de baixa densidade e
com um carácter residencial, quer pela extensão de áreas destinadas a parques empresariais.
Ainda ao nível do regulamento, a permissão de edificação na categoria de "Solos Naturais" indicando-se
que seria uma classe sem uso de solo dominante definido a aferir em PMOT posteriormente não é, salvo
melhor opinião, legal pois contraria o Dec-Lei 46/2009 de 20 de Fevereiro, que obriga à definição clara do
uso dominante de cada classe de uso do solo. Sobre esta questão, esta pretensão de construção de
edificação em todas as classes de uso do solo constitui na prática uma proposta de reversão de todos os
solos para a classe urbano, situação essa que não se traduz na necessária justificação de procura e é
contrariada de forma clara por diversas entidades que participam na Comissão de Acompanhamento.
7
Verifica-se a definição de solos urbanos de áreas ainda não edificadas. Em planeamento esta atitude é
uma precipitação já que nas condições económicas actuais, não é seguro que o urbanizador efective a
obra, pelo que seria prudente a sua classificação como "urbanizável".
Figura: Principais conflitos entre os usos propostos na revisão do PDM e as potencialidades territoriais,
ao nível da ocupação de áreas com interesse conservativo, solos de boa qualidade e áreas de reserva
de valores ambientais.
Não se considera que os “solos naturais” propostos nesta revisão do PDM apresentam todos os usos
possiveis, situação que aumenta os conflitos assinalados.
8
Sobre a continuidade ecológica ao nível de todo o Concelho
A actual legislação distingue entre solos urbanos e solos rurais. Não é aceitável que um Município peri-
urbano considere plausível tornar todos os solos urbanos, não só porque do ponto de vista Regional isso
não faz sentido, como porque nem sequer as próprias dinâmicas demográficas e económicas justificam
que tal rumo seja equacionado.
Ao contrário do que pretende afirmar a proposta de PDM, a Estrutura Ecológica Municipal não tem
eficácia non-aedificandii, como rapidamente pode ser constatado através da consulta da Portaria nº.
138/2005 de 02 de Fevereiro e o Decreto Regulamentar 11/2009 de 29 de Maio.
Assim, a continuidade ecológica é apenas conseguida através das sub-classes incluídas na Classe "Solo
rural" e na classe de "Espaços Verdes de Recreio e Produção" no âmbito da Classe de "Solos Urbano" ou
"Solo Urbanizável". Assim, não existe a classe de uso do solo "Estrutura Ecológica" pelo que a avaliação
da continuidade ecológica é necessariamente pela Planta de Qualificação de Uso do Solo. Ora, pela
análise desta peça é evidente que as continuidades ficam aquém do necessário tendo em conta um
eficaz funcionamento dos ecossistemas. Mais grave ainda é que mesmo as classes de "Solo Natural"
deixam em aberto a edificação numa fase posterior, não sendo claro o uso de solo a atribuir, o que
confere salvo melhor opinião o estatuto de ilegalidade, contrariando o disposto no Dec. Lei 46/2009 de 20
de Fevereiro.
As maiores parcelas naturais ou naturalizadas apresentam-se comprometidas com usos incompatíveis
com uma estratégia de continuidade ecológica.
a) A continuidade entre a Serra de Carnaxide e o Parque Florestal de Monsanto não está prevista,
sendo a própria Serra de Carnaxide desperdiçada com actividades que alteram o uso do solo de
forma irreversível com edificação, no âmbito de actividades desportivas.
9
b) Da mesma forma o Estádio Nacional prevê uma redução considerável das suas áreas de franja,
nomeadamente com a edificação na Boa Viagem.
c) As ribeiras apresentam um corredor de protecção pouco mais largo do que o estritamente legal do
ponto de vista do DPH. Era fundamental que fossem salvaguardadas as bacias de apanhamento entre
linhas de água, bem como as cabeceiras, numa perspectiva de conservação do solo e da água, nos
termos definidos pelo Dec.Lei 166/2008 de 22 de Agosto da Reserva Ecológica Nacional, alterado pelo
Dec.Lei 239/2012.
c1) A Ribeira de Algés e da Outurela apresenta inúmeras áreas de infiltração de águas que não são
acautelas.
c2) O mesmo se verifica na generalidade das bacias, com especial enfoque na Ribeira de Barcarena.
10
c3) Idem nas cabeceiras da Ribeira de Paço d´Arcos, mais particularmente na área de Porto Salvo.
Às implicações com a falta de recarga dos aquíferos junta-se ainda a ao aumento da probabilidade de
cheias a jusante das bacias, facto a que vários PDMs pela Europa procuraram efectivamente responder
activamente.
d) As áreas planálticas centrais do Concelho aliam ainda parcelas com alguma dimensão que não são
salvaguardas numa perspectiva de garantia da existência de habitats com capacidade de albergar
fauna e flora com interesse de conservação e de funcionar como dispersão de espécies.
11
Sobre as implicações no uso do automóvel
Um modelo territorial como o que é proposto só se concretiza assente numa dispendiosa rede rodoviária,
já que o automóvel particular está na génese deste tipo de planeamento.
Os dados sobre a utilização do Transporte Público (TP) diagnosticados no Estudo de Mobilidade e
Acessibilidade que faz parte das peças de Revisão do PDM são claros: O TP tem uma valor muito mais
elevado nas áreas mais densas, em contraste com um valor residual em areas monofuncionais. E este
modelo territorial com a consequante estratégia de mobilidade acenta esta opção. De facto, para além da
actual rede viária, em muitos casos sobredimensionada, fomentadora de velocidades elevadas e de
conflitos com os peões (e ciclistas), propõe-se um número considerável de novas estradas e a
continuação de novas frentes urbanas de baixa densidade.
Propõe este novo PDM “construir” uma rede viária estruturada e funcional, defendendo novas “soluções
de circulares exteriores ou de vias de desvio de tráfego” bem como “melhorar a capacidade da rede
rodoviária existente”, estruturas de um custo elevado numa altura em que os orçamentos na área das
vias deveriam promover a acalmia de tráfego, as “zonas 30” e a segurança pedonal e ciclável.
Figura: Imagem representativa do tipo de rede viária proposto pelo PDM, em linha com as novas vias
implementadas. São infraestruturas dispendiosas, sobredimensionadas, com um caráter fortemente
rodoviário acentuado pela sobrelargura de faixas de rodagem, separador central com elementos verticais,
geradoras de elevadas velocidades e potenciadoras de atropelamentos nos pontos de conflito
(passadeiras).
Oeiras consegue ser o Concelho mais motorizado do País, com cerca de 70% da partição modal de
acordo com os dados do próprio Estudo, valores impensáveis para um País que se pretenda
desenvolvido.
12
Na verdade, os vários documentos estratégicos sectoriais (designadamente o Estudo das Linhas Gerais
Orientação Estrategica, a Carta de Competencias do Concelho e o Estudo Estratégico de
Desenvolvimento Económico) acabam por ser visóes fomentadoras da dispersão da edificação e do
zonamento mono-funcional, em linha com as ambições deste modelo territorial.
Este modelo rodoviário do PDM acaba por tangencialmente abordar o transporte público, um “parente
pobre” num território de zonamentos e áreas fortemente mono-funcionais. O SATU que circula vazio e
com os prejuízos que são sobejamente conhecidos merece neste PDM uma expansão que mais que
quadriplica a actual rede.
Não são claros os custos destas estruturas no Plano de Execução.
É francamente deficitário em propostas concretas de fomento do transporte público, quer na rede de
autocarros, quer num transporte em sitio próprio, designadamente metro de superfície.
Em áreas mais consolidadas com o Eixo Algés – Miraflores – Linda-a-Velha e Carnaxide, seria mais do
que adequado implementar-se com urgência uma linha de metro de superficie promovendo a acalmia de
tráfego e a qualificação urbana de todo o canal servido.
13
A melhoria da circulação pedonal é praticamente omissa, assim como uma rede ciclável. Sobre esta
última, não sendo o Concelho plano, também não é correcto omitir-se que há áreas consideráveis
planálticas, uma zona ribeirinha e linhas de meia encosta cicláveis que, em conjunto com vias
humanizadas, zonas 30km/h e ciclovias poderiam trazer como uma realidade a bicicleta como um meio
de transporte ecológico, barato e de amplo espectro etário e social.
Sobre a promoção da Biodiversidade
São por demais conhecidas e públicas as acções de “comprometimento” do Município de Oeiras com a
promoção da sua Biodiversidade. Mas de facto esta proposta de PDM atenta sobre os 2 maiores
factores de promoção da Biodiversidade: Áreas Naturais e Continuidade Ecológica.
Sobre as áreas naturais, as mesmas são essenciais numa lógica de dispersão genética, designadamente
de sementes locais. É que a Biodiversidade não pode ser entendida na sua forma redutora de ter "muitas
espécies", mas sim no resultado do funcionamento sustentável dos ecossistemas. Daí que a
Biodiversidade não seja conseguida em "jardins" mas sim na Paisagem natural.
Oeiras prefere gastar milhões em pequenos parques urbanos fortemente articializados e desperdiçar
áreas que apresentam um enorme potencial de parque urbano com custos muito baixos.
14
A actual proposta de PDM não só não garante as áreas mais naturalizadas do Concelho, como sejam o
Estádio Nacional, a Serra de Carnaxide ou as áreas planálticas em redor de Porto Salvo e da Ribeira da
Laje, como não garante as continuidades ecológicas necessárias entre as diversas áreas, uma vez que à
Estrutura Ecológica Municipal proposta não correspondem usos do solo non-aedificandii na Planta de
Qualificação de Uso do Solo.
Com a estratégia para a Biodiversidade Europeia em marcha é impensável submeter uma proposta que
atenta contra várias das metas referidas. A concretizar-se este modelo territorial o Município de Oeiras
não cumpriria nenhuma das metas propostas.
(ver http://ec.europa.eu/environment/pubs/pdf/factsheets/biodiversity_2020/2020%20Biodiversity%20Fact
sheet_PT.pdf e http://ec.europa.eu/environment/nature/info/pubs/docs/2010_bap.pdf)
15
Figura: Imagem representativa das maiores manchas naturalizadas, capaz de funcionar ainda como
áreas de dispersão de sementes e habitats de promoção da biodiversidade, em boa parte comprometidos
com este modelo de PDM.
A somar a esta gravíssima opção de não salvaguardar as maiores áreas naturais ou naturalizadas, a
actual revisão do PDM propõe-se implementar um conjunto de novas estradas e vias que constituem o
maior efeito barreira à continuidade de espécies entre habitats. A fragmentação acentuada é contrária a
uma política de protecção e promoção da Biodiversidade.
16
Sobre a adequação no âmbito de uma política de resiliência face aos riscos naturais
Esta proposta de PDM vem agravar a exposição aos riscos naturais.
Se exceptuarmos os riscos sismicos e de tsunami, a generalidade dos riscos naturais são fortemente
agravados pela intervenção humana.
a) Riscos de Cheia
Um modelo territorial que propõe impermeabilizar fortemente as bacias hidrográficas com novas áreas de
construção, não salvaguardando a generalidade das bacias de apanhamento nem as áreas de maior
infiltração, constribui para o agravamento dos fenómenos de escorrência superficial, erosão e aumento
dos picos de cheia. Sem o investimento paralelo em dispendiosas soluções hidráulicas de retardamento
de cheias, custos esses imputados sempre aos contribuintes, este PDM a concretizar-se aumenta os
riscos naturais em matéria de cheias.
b) Resiliência hidrica
Esta proposta de PDM não propõe políticas activas de protecção do solo e da água, não fomentando a
conservação do recurso água através da criação de áreas de recarga de aquíferos. Não há informação
hidrogeológica nas peças disponibilizadas. A forte impermeabilização proposta esquece a necessidade
de garantir o recurso água no sub-solo. Em caso de, por motivos extremos, vir a ser necessário recorrer a
água de aquífero, quer para rega quer para abastecimento, esse recurso está fortemente comprometido.
c) Recurso solo
Conforme é referido pela própria ANPC, o recurso solo não está minimanente salvaguardado nesta
proposta do ponto de vista da fertilidade.
Da mesma forma, parece não ser previsto salvaguardar convenientemente todos os solos com risco de
erosão, dado que são previstas áreas a edificar abrangendo várias manchas em que o declive é
acentuado.
_______________________________________________________________________________
FIM