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Parte-Todo: Uma análise plástica dos edifícios do Campus Santa Mônica da UFU e das relações existentes entre eles Jéssica Cristina Teixeira 1 , Robert Soares de Lima 2 Curso de Arquitetura e Urbanismo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – Uberlândia, MG – Brasil [email protected], [email protected] Resumo. Este trabalho visa fazer uma análise plástica do Campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia, reservando-se aos edifícios enquanto partes isoladas e às relações entre os mesmos, considerando, assim, o todo no campus. Para tal análise, será desenvolvido um método de trabalho que possibilita uma classificação desses edifícios em algo que será chamado de momentos, que não são necessariamente períodos cronológicos. Palavras-chave. parte-todo, análise plástica Abstract. This study aims to make a plastical analyzis of the Santa Mônica Campus of the Federal University of Uberlândia, reserving to the buildings as isolated parts and the relations between them, considering, well, the entire campus. For this analysis, will be developed a working method that allows a classification of these buildings into something that will be called moments, which are not necessarily chronological periods. Keywords. part-entire, plastical analysis ______________________________________________________________________ 1 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia E-mail: [email protected] 2 Graduando em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia E-mail: [email protected] about.me/robertsoares

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Parte-Todo: Uma análise plástica dos edifícios do Campus Santa Mônica da UFU e das relações existentes entre eles

Jéssica Cristina Teixeira1, Robert Soares de Lima 2

Curso de Arquitetura e Urbanismo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia (UFU) – Uberlândia, MG – Brasil

[email protected], [email protected]

Resumo. Este trabalho visa fazer uma análise plástica do Campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia, reservando-se aos edifícios enquanto partes isoladas e às relações entre os mesmos, considerando, assim, o todo no campus. Para tal análise, será desenvolvido um método de trabalho que possibilita uma classificação desses edifícios em algo que será chamado de momentos, que não são necessariamente períodos cronológicos.

Palavras-chave. parte-todo, análise plástica

Abstract. This study aims to make a plastical analyzis of the Santa Mônica Campus of the Federal University of Uberlândia, reserving to the buildings as isolated parts and the relations between them, considering, well, the entire campus. For this analysis, will be developed a working method that allows a classification of these buildings into something that will be called moments, which are not necessarily chronological periods.

Keywords. part-entire, plastical analysis

______________________________________________________________________ 1Graduanda em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia E-mail: [email protected] 2Graduando em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design Universidade Federal de Uberlândia E-mail: [email protected] about.me/robertsoares

1. Introdução

Durante a história, a arquitetura e posteriormente o urbanismo discutiram a relação que os edifícios deveriam estabelecer entre si e com a cidade. Passado o tempo, historiadores fragmentaram a história para tentar estabelecer alguns períodos nos quais essas discussões argumentam de forma semelhante. Dentre os períodos e movimentos que surgiram durante o decorrer da história, no que tange à arquitetura, é possível citar clássicos como o Barroco, que tinha por premissas a libertação da mentalidade do artista quanto às regras compositivas de tratados históricos e a liberdade criativa quanto à forma e a simetria; ou mesmo o Modernismo que refutava completamente todos os clacissismos e estilos anteriores a ele, levantando a bandeira de que era necessário, por exemplo, que a arquitetura se livrasse de toda a ornamentação tão presente nos estilos históricos. No Campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), quando se observa os edifícios com um olhar um pouco mais atento, se percebe que alguns deles estabelecem entre si uma linguagem semelhante. Enquanto outros, por sua vez, parecem se distanciar completamente dessa linguagem. O trabalho que se segue visa fazer uma análise dos aspectos formais desses edifícios tentando encontrar e caracterizar os possíveis diálogos existentes entre os mesmos considerando-os de forma isolada e, também, como parte do todo que é o campus e considerando, ainda, o campus e as relações com seu entorno imediato. Para realizar essa análise foi desenvolvido um método de trabalho semelhante ao dos historiadores que foi anteriormente citado. Os edifícios foram classificados no que será chamado de momentos, que não são necessariamente cronológicos. Esta classificação levou em conta aspectos plásticos, como forma, materiais utilizados em sua concepção e distribuição espacial de seus ambientes. 2. Referencial teórico e conceitual

No Campus Santa Mônica da UFU, é possível perceber uma variedade nas formas dos edifícios, nos materiais utilizados, principalmente, em suas fachadas e também, na distribuição interna de seus ambientes. Alguns edifícios do campus, os que foram construídos logo após sua fundação e algum tempo depois, poderiam ser encaixados no que Borda (2003) chama de site especific.

“Diferente do caráter autorreferente e autônomo da arte moderna, no site specific o sentido da obra deriva da relação com um contexto determinado (estético, político, etc), contexto que constitui o ponto de partida para a determinação do trabalho.” (BORDA, 2003)

Estes edifícios possuem uma distribuição espacial simplificada que se resume, basicamente, em um grande corredor central que distribui a circulação para salas de aula em suas laterais. Isto pode se dever ao período da fundação da universidade, no qual o Brasil ainda vivia um governo ditatorial. Durante esse período, oficiais deveriam percorrer e observar as salas de aula para garantir que os professores não estivessem estimulando uma revolução política. Como resultado, esse corredor acaba por criar um edifício com uma forma longitudinal bastante característica. Outros edifícios parecem ter uma intenção de se assemelhar aos anteriores, mesmo que o tempo de sua concepção já não coincida com o momento que os outros

foram construídos. Estes exploram bem mais a forma, tanto externa como internamente, deixando claro que algum diálogo é possível, porém mostrando que não é necessário repetir o que existia até o momento. Percorrendo um pouco mais o olhar, é possível perceber outros edifícios com uma linguagem arquitetônica muito próxima da que se produzira durante o Modernismo.

“Diferente da escultura-monumento, a qual, concebida para um local determinado, “fala de forma simbólica sobre o significado e uso deste local” (KRAUSS, 1985, 88), a arte moderna produz obras abstratas, funcionalmente sem lugar e extremamente auto-referentes.” (BORDA, 2003)

Esses edifícios transmitem uma mensagem que, diferententemente dos anteriores, não pretendem se prender a momento político algum, e de forma contrária, se mostram como algo novo que tem a intenção de quebrar paradigmas e reinventar a forma como se tivera feito arquitetura no campus até o momento. E mais recentemente está sendo construído um edifício que, quase concluído, já mostra uma intenção completamente diferente de todos os anteriores.

“Ao invés do sentido de ruptura instaurado pelo Modernismo, a cidade passa a ser considerada enquanto continuidade histórica. Tal abordagem somente se torna possível, é claro, em virtude do questionamento ao urbanismo modernista, crítica que vinha ocorrendo desde os anos cinqüenta.” (BORDA, 2003)

O que o autor fala sobre o urbanismo, pode facilmente servir de forma análoga ao apelo arquitetônico desse novo edifício. Cada edificação do campus e até mesmo as potenciais relações que poderiam existir entre ele e as outras edificações à sua volta é levada em consideração em sua concepção.

“A partir daí, a idéia de lugar redireciona o sentido da intervenção arquitetônica. Passam a ser levados em conta o caráter particular dos sítios, a história dos locais, o valor a eles atribuído pela memória coletiva. O ambiente da cidade deixa de ser abordado enquanto espaço abstrato, o que põe em relêvo sua especificidade e densidade histórica.” (Rivas Sanz, 1992 apud BORDA 2003).

Cabe fazer ainda uma ressalva quanto ao centro de convivência do campus. Nesta edificação encontra-se uma situação um pouco diferente do que foi dito até agora. Enquanto a maioria dos outros edifícios procuram resolver suas funções dentro de seu perímetro, o centro de convivência procura dialogar, ainda que de uma forma singela, com o meio onde está inserido. “[...]é a idéia de renovação total da formas, a substituição da antiga estrutura por um desenho baseado em novas diretrizes. Ao sentido de ruptura daí decorrente, soma-se o caráter autoreferente e espacialmente fechado de suas formas.”(BORDA,2003) Esse trecho, no qual o autor trata da obra de Oscar Niemeyer, pode facilmente ser adaptado à intenção do arquiteto responsável pelo projeto do centro de convivência. Nele é possível perceber permeabilidade, tão necessária a uma edificação desse tipo, e formas que o destacam no meio onde está inserido, também necessárias por se tratar de um edifício com utilidade diferente dos demais.

3. Materiais e métodos

Para fazer a análise plástica do campus Santa Mônica, incialmente foi desenvolvido um método de trabalho que agrupa edifícios com determinadas características semelhantes no que chamaremos de momentos. Algumas características plásticas como forma e cores (das fachadas e de ambientes internos), materiais construtivos, contexto político e, em alguns casos, datas cronológicas aproximadas foram levadas em consideração para fazer essa distinção. O resultado foram quatro momentos que servirão de parâmetro de comparação para o estudo de caso. O primeiro momento diz respeito aos edifícios que foram construídos, aproximadamente, quando a instituição foi fundada. Percebe-se claramente o diálogo que estes possuem entre si e como a sua identidade é forte e marcante. O revestimento de tijolos cerâmicos, beirais largos, a implantação do edifício em um único patamar desconsiderando o terreno, a estrutura à mostra e a disposição tradicional das salas de aula nos dois lados de um longo corredor são características marcantes desses edifícios, que levaram em seus nomes o prefixo “1”.

Figura 01: Alguns dos edifícios agrupados no primeiro momento.

O bloco 1Q se configura como um “estranho” ao seu respectivo momento, pois quebra, em parte, com os elementos que constitui o grupo. Percebemos isso no revestimento e na cor de sua fachada, nos brises que protegem as esquadrias e na escada helicoidal externa, ambos na cor verde. Porém, a forma retangular das plantas dos edifícios agrupados no primeiro momento ainda se faz presente no mesmo.

Figura 02: Bloco 1Q. Destaque para os elementos de proteção solar nas esquadrias.

As diferenças encontradas nesse edifício podem resultar da especificidade funcional do mesmo. Atualmente ele é utilizado como museu e algumas de suas salas comportam funções administrativas. Sendo assim, pode precisar de elementos que protejam o interior da iluminação externa excessiva, além de um certo destaque. Os edifícios agrupados nesse momento sofreram diversas adaptações desde sua construção até os dias atuais. Na maior parte de suas salas são desempenhadas atividades administrativas o que demandou por improvisações para conseguir adaptar equipamentos de ar condicionado aos edifícios, além de proteções solares como filme nas folhas de vidro das esquadrias, e em alguns casos, protetores solares fixos. O segundo momento nos mostra uma maior preocupação de integrar os edifícios com a topografia local e também uma libertação espacial, melhorando a relação do usuário com o edifício. Há a introdução de novos materiais e outros elementos na construção dos mesmos. O que mais se destaca em suas fachadas são os grandes volumes de suas coberturas e os brises, ambos em materiais metálicos. Porém, há ainda algumas paredes revestidas com o mesmo material utilizado nas fachadas dos prédios do que chamamos de primeiro momento. A planta ortogonal e retilínea do primeiro momento é quebrada com a forma livre e despojada do segundo, onde a espacialidade extrapola a rigidez vista em outrora e a implantação acontece em vários patamares, tirando proveito, assim, da topografia do terreno e possibilitando que o usuário tenha uma relação de descoberta à medida que adentra o edifício. Tais edificações apresentam o prefixo “3” em sua identificação.

Figura 03: Alguns dos edifícios agrupados no segundo momento.

A Reitoria (bloco 3P) também possui algumas características que aparentemente a difere de seu momento. Isto pode ser em parte devido a ela representar o poder da universidade. A sua forma imponente, quase monumental, se vista do ângulo de sua entrada principal, possui uma plasticidade formal e cores que diferem do que se encontra em todo o campus. Sua localização isolada tem a intenção de sobrepor o edifícios aos outros prédios, ressaltando a sua importância e poderio.

Figura 04: Bloco que abriga a Reitoria da universidade.

Já o terceiro momento, é caracterizado por edificações que se autorreferenciam, não se relacionam com parte alguma do campus e possuem formas variadas, bastante geometrizadas. Nesse momento os edifícios possuem o prefixo “5” no seu nome. (O bloco 5S, apesar de conter o prefixo 5 em sua identificação, não faz parte desse momento.)

Figura 05: Bloco 5O.

Os blocos 5O e 5R possuem o mesmo projeto arquitetônico com algumas pequenas diferenças entre si. São edificações que têm a intenção de romper com o quadro arquitetônico geral do campus, chamando bastante atenção para si. Brises metálicos, platibanda, esquadrias em fita e pilotis são elementos bastante marcantes no projeto desses edifícios, o qual dialoga com uma linguagem típica da que foi produzida durante o Modernismo. O bloco 5O possui fachadas na cor branca, o que ressalta ainda mais sua intenção de se destacar. Entretanto, mesmo com projeto arquitetônico idêntico, o bloco 5R possui fachadas em uma cor terracota que muito se aproxima da cor do revestimento cerâmico dos blocos do primeiro momento. 4. Discussões e análises dos resultados

A partir desse breve panorama criado, é possível iniciar a análise dos possíveis diálogos e relações existentes entre os edifícios do campus. Inicialmente, é necessário ressaltar que para essa análise foi considerando que sempre haverá um diálogo entre os edifícios, porém estes podem ser positivos ou negativos. Os blocos que pertencem ao que chamamos de primeiro momento, via de regra demonstram uma identidade muito forte e marcante através das características citadas anteriormente. Essas características em parte se devem ao período político que o país vivia no momento em que foram concebidos. Entre si, esses edifícios dialogam muito bem, possuem basicamente a mesma morfologia externa e materiais construtivos. O

diálogo entre eles é tão nítido e óbvio que, às vezes, é até enfadonho. Porém, com os outros períodos não estabelecem uma comunicação muito positiva.

Figura 06: Mapa geral do campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia. Nele é possível perceber a

semelhança formal entre os edifícios do primeiro momento, predominantemente retangulares. Recentemente, inclusive, ganharam uma espécie de platibanda feita de um material plástico na cor branca, que favorece um pouco esse diálogo.

Figura 07: Bloco 1A. Detalhe para os protetores solares e equipamentos de ar-condicionado.

Percorrendo um pouco mais pelo campus, os edifícios do segundo momento, aqueles com o prefixo “3” em seu nome, demonstram uma liberdade maior na composição de seus espaços externos e internos, porém, tentam dialogar com os edifícios do momento anterior através da utilização do mesmo material para revestir algumas de suas fachadas. Apesar de utilizarem de materiais semelhantes na composição de suas fachadas e possuírem uma liberdade maior quanto à espacialidade, o volume final de cada edifício desse momento, acaba adquirindo características que, muitas vezes, não possibilita um diálogo positivo entre eles mesmos. Os blocos 3C e 3D são os edifícios que mais conseguem se aproximar de um diálogo efetivo com aqueles do primeiro momento. O primeiro bloco, que comporta a biblioteca do campus, também possui algumas características próprias do que foi produzido durante o Modernismo. Pilotis, amplos panos de vidro que ocupam toda a fachada interna, e o elemento de proteção contra luminosidade e ventilação excessivas que é feito em pequenos cubos cerâmicos vazados, onde sua cor e material muito se aproximam do revestimento utilizado nas fachadas dos edifícios agrupados no primeiro momento, são características nítidas nesse prédio.

Figura 08: Bloco 3C que abriga a biblioteca. Detalhe para os pilotis.

Figura 09: Bloco 3D. Revestimento comum ao das fachadas dos edifícios do primeiro momento combinados à novos

materiais e formas, características típicas do segundo momento. Por sua vez, o bloco 3Q parece fazer um pequeno esforço para dialogar com o 3C, 3D e com os edifícios do momento anterior. Uma parte de uma de suas fachadas laterais, a que explicita onde o anfiteatro está situado, também é revestida com elementos cerâmicos. Porém suas outras fachadas não parecem se preocupar com o entorno pré-existente. Esse bloco tira proveito da topografia do terreno para criar três pavimentos sem se elevar muito acima das outras edificações, o que é um ponto positivo para contextualiza-lo um pouco com o local onde está implantado.

Figura 10: Bloco 3Q. Detalhe para o revestimento do volume ocupado pelo anfiteatro.

Figura 11: Panorâmica que mostra o diálogo formal entre os edifícios do segundo momento.

No terceiro momento, o que se percebe é uma vontade de romper com o paradigma existente no campus. Os blocos 5F, 5O e 5R são os que demonstram essa intenção de forma mais clara. Composição geométrica, às vezes monumental, e formas diferentes daquelas comumente vistas pelo campus, fazem com que esses edifícios não produzam diálogos positivos com nenhum outro à sua volta. No 5R ainda se vê uma singela tentativa de contextualização através da cor terracota utilizada em suas fachadas. Porém, essa tentativa se mostra mais como uma insuficiente improvisação a posteriori, do que uma premissa projetual, de fato.

Figura 12: Bloco 5F à esquerda e 5R à direita.

O bloco 5N que comporta o centro de convivência, apesar de possuir formas completamente diferentes das encontradas em seu entorno imediato, possui bastante permeabilidade de fluxos, o que mostra uma preocupação maior com seu usuário. Apesar de suas formas e materiais utilizados em suas fachadas não dialogarem positivamente com seu entorno, o projeto parece demonstrar uma preocupação urbanística desde sua concepção, ainda que em micro escala. Esta característica pode existir devido ao uso do edifício. Por ser um centro de convivência, é interessante que este se destaque das demais edificações, já que se trata de um ambiente em que as pessoas vão se encontrar, conviver e descontrair, mas que preserve uma permeabilidade para que o usuário pudesse adentra-lo dos mais diversos pontos do campus de que ele viesse. Portanto, seria preciso que as pessoas o vissem de uma forma diferente da que veem as outras edificações, para que fosse um ponto de convergência de atenções, gerando, assim, o fluxo de usuários necessários para manter “vivo” um ambiente deste tipo.

Figura 13: Bloco 5N que abriga o centro de convivência.

Atualmente, está sendo finalizada a construção do bloco 5S, que em nosso método de análise, inaugura o quarto momento. Essa edificação, mesmo sem estar finalizada, demonstra claramente preocupações que extrapolam seu entorno imediato, considerando todo o campus em sua concepção. Nela podemos perceber grandes paredes revestidas com o mesmo elemento cerâmico que reveste, principalmente, as fachadas dos edifícios do primeiro momento. É possível perceber ainda uma composição volumétrica que remete à liberdade espacial estreada no segundo momento. Elementos como brises, presentes no segundo e terceiro momentos e platibanda, no terceiro, demonstram a maturidade projetual que os outros edifícios não alcançam. Mais do que se configurar como uma espécie de pastiche, este prédio concilia elementos formais e materiais presentes em vários edifícios do campus. Um belo exemplo de sua autonomia quanto aos elementos que pega emprestado dos outros, são os brises, que apesar de ocuparem uma grande área de várias de suas fachadas, têm sua presença amenizada por serem micro perfurados, permitindo a entrada de uma luz difusa no interior do edifício, diferentemente dos outros edifícios que também possuem brises, mas não permitem uma grande flexibilidade em sua utilização. Além disso, ainda há uma preocupação urbanística em seu projeto, assim como aquela encontrada no centro de convivência. Existem áreas destinadas à permanência do usuário, que levam em conta também, a topografia do terreno. Porém, o que mais chama atenção, é o mirante criado para a observação da paisagem urbana. A vista obtida através desse mirante é fantástica, demonstrando uma contextualização, também, com a cidade.

Figura 14: Bloco 5S à esquerda, e à direita, uma vista aproximada da que se obtém da cidade a partir de seu

mirante.

Figura 15: Bloco 5S. Detalhe para a grande parede com brises microperfurados.

Fazendo uma comparação entre momentos é possível perceber que somente o quarto, e atual momento, se preocupa com o que já existia anteriormente. Esta forma de se produzir arquitetura tem ganhado cada vez mais força em nossa contemporaneidade. Enquanto que na maioria das vezes, os outros edifícios do campus respondem mais a momentos políticos ou até mesmo à formação do arquiteto, do que ao local para o qual foram concebidos. É possível notar um diálogo neutro entre o primeiro e segundo momentos, enquanto o terceiro se mostra contrário à comunicação dentro do campus. Quando o olhar sobre o campus é ampliado, percebe-se que sua implantação no perímetro urbano acontece de forma a criar um obstáculo na malha preexistente. Várias vias são interrompidas, sem a mínima preocupação em dar vasão aos fluxos que provem delas. Existem vários exemplos de campus universitários espalhados pelo globo que mostram ser possível concebe-los como continuidade da cidade e não como um empecilho à sua dinâmica.

Figura 16: O campus rompe com o tecido urbano pré-existente.

5. Considerações finais

Percebe-se que um diálogo arquitetônico pode ser potencializado ou desfavorecido por diversos motivos. No Campus Santa Mônica é possível encontrar projetos que refletem momentos políticos e financeiros da universidade, formação do responsável pelo projeto, e intenções isoladas que o próprio edifício parece querer transmitir.

Seria interessante que cada elemento que compõe, não somente o campus universitário, mas toda a cidade, seja ele arquitetônico ou não, se articulasse positivamente com os demais. Acredita-se que assim, as partes constituiriam um todo muito mais consistente e perceptível, mas que não seria necessariamente uniforme. Sendo assim, enseja-se que o quarto momento identificado neste trabalho, seja preponderante para uma mudança de pensamento quanto à concepção arquitetônica no campus, visto que a universidade passa por um momento acentuado de expansão.

6. Referências bibliográficas

BORDA, L. E. – Espaço e Lugar. In: O Nexo da Forma. Oscar Niemeyer: da arte moderna ao debate contemporâneo. Tese de doutorado. Orientador: Domingos Tadeu Chiarelli. São Paulo: ECA/USP, 2003. RIVAS SANZ, J. L. de las. El espacio como lugar. Sobre la naturaleza de la forma urbana. Valladolid: Universidad, D. L. 1992.