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  DIAGNÓSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTAL IÇAS NA REGIÃO METR OPOLITANA DE B ELÉM (PA) PARTE I  ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E  AB ORDAGEM GERA L DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTAL IÇAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM (PA) BELÉM, PA 2010

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DIAGNSTICO DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIAS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA)PARTE IASPECTOS TERICO-METODOLGICOS E ABORDAGEM GERAL DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIAS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA)

BELM, PA 2010

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SIGLAS UTILIZADAS ANVISA: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. APHA: Associao dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Gleba Guajar de Ananindeua. APHAURI: Associao dos Produtores de Hortifrutigranjeiros de Abacatal e Uriboca. ASFUMBEL: Associao dos Feirantes do Municpio de Belm. ASPAS: Associao Paraense de Supermercados. BASA: Banco da Amaznia S.A. BB: Banco do Brasil. CEAGESP: Companhia de Entrepostos e Armazns Gerais do Estado de So Paulo. CEASA/PA: Centrais de Abastecimento do Estado do Par S.A. CEF: Caixa Econmica Federal. COMPAF: Cooperativa Mista de Produtores e Agricultores da Agricultura Familiar. CONFEA: Confederao das Associaes Regionais de Engenharia, Agronomia e Arquitetura. CPOrg-PA: Cooperativa dos Produtores Orgnicos do Par. CREA: Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. DIEESE-PA: Escritrio no Par do Departamento Intersindical de Estatsticas e Estudos Scio-econmicos. EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria ETSP: Entreposto Terminal de So Paulo, pertencente rede CEAGESP. FAEPA: Federao da Agricultura do Estado do Par. FNOR: Fundo de Investimentos do Norte. GEEMA: Gerncia Executiva de Estatstica e Mercado Agrcola, pertencente SAGRI. IBGE: Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

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MAPA: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. MCT: Ministrio da Cincia e Tecnologia. MDA: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio. MDS: Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome. MMA: Ministrio do Meio Ambiente. MPE: Ministrio Pblico do Estado (do Par). MPEG: Museu Paraense Emlio Goeldi. MS: Ministrio da Sade. SAGRI: Secretaria de Estado da Agricultura do Par. SEBRAE: Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas. SECON: Secretaria de Economia da Prefeitura Municipal de Belm. SECTAM: Secretaria Executiva de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente do Par SEMA: Secretaria de Estado do Meio Ambiente, do Governo do Par. SEMAGRI: Secretaria Municipal de Agricultura de Santo Antonio do Tau. SENAC: Servio Nacional de Aprendizagem Comercial. SENAR: Servio Nacional de Aprendizagem Rural. SESC: Servio Social do Comrcio. UEPA: Universidade Estadual do Par. UFPA: Universidade Federal do Par. UFRA: Universidade Federal Rural da Amaznia.

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SUMRIOSIGLAS UTILIZADAS..............................................................................................................................2 APRESENTAO ...................................................................................................................................8 Metodologia para o estudo das cadeias produtivas agroindustriais .....................................................10 Referencial conceitual...........................................................................................................................12 Avaliao da Eficincia e Competitividade ...........................................................................................14 Economia dos Custos de Transao (ECT) .........................................................................................14 A Economia dos Custos de Transao (ECT) na cadeia produtiva das hortalias: uma reviso da bibliografia disponvel............................................................................................................................16 CONCEITOS E DEFINIES...............................................................................................................22 A CADEIA PRODUTIVA AGROINDUSTRIAL DE HORTALIAS NO BRASIL E SEUS REFLEXOS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA).....................................................................................24 1. Segmento Fornecedor de Insumos e Servios.................................................................................24 1.1. Mquinas e Implementos...............................................................................................................24 1.2. Sementes, Mudas e Matrizes ........................................................................................................25 1.3. Defensivos agrcolas......................................................................................................................26 1.4. Estufas ...........................................................................................................................................26 1.5. Embalagens ...................................................................................................................................31 A PRODUO ATUAL DA OLERICULTURA BRASILEIRA ................................................................34 A PRODUO DE HORTALIAS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA)........................40 Aspectos Histricos da Olericultura na Regio Metropolitana de Belm (PA) .....................................41 Prticas culturais...................................................................................................................................46 As espcies e cultivares presentes na olericultura regional atual ........................................................47 Grupo: folhas.........................................................................................................................................47 Grupo: frutos ........................................................................................................................................54 Grupo: Razes, Tubrculos, Bulbos e Rizomas....................................................................................58 Produo segura e rastreabilidade de hortalias .................................................................................63 Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em Alimentos (PARA) ..........................................66 Agricultura orgnica ..............................................................................................................................68 Associativismo e Cooperativismo .........................................................................................................70 Relacionamento dos produtores com o mercado atacadista................................................................73 O segmento da distribuio...................................................................................................................74 MERCADO ATACADISTA ....................................................................................................................74 As Centrais de Abastecimento do Par Sociedade Annima - CEASA/PA ........................................75 A Companhia de Entrepostos e Armazns Gerais de So Paulo - CEAGESP..................................79 A comercializao atacadista de hortalias na CEASA/PA..................................................................81 A funo atacadista do Complexo do Ver-o-Peso................................................................................93 A Feira-livre do Entroncamento ............................................................................................................95 MERENDA ESCOLAR ..........................................................................................................................97 Situao dos municpios pesquisados em relao ao fornecimento para a merenda escolar...........102 MERCADO VAREJISTA......................................................................................................................107 Feiras-livres.........................................................................................................................................107 Mercados Municipais ..........................................................................................................................112 Sacoles .............................................................................................................................................113

5 Super e Hipermercados ......................................................................................................................114 Ambulantes .........................................................................................................................................116 CONSUMO DE HORTALIAS NO BRASIL .......................................................................................118 Tendncias..........................................................................................................................................121 Consumo de Frutas e Hortalias e Sade Pblica no Brasil ..............................................................122 Food Service .......................................................................................................................................125 A AGROINDUSTRIALIZAO REGIONAL DE HORTALIAS..........................................................132 Condimentos e conservas alimentcias base de hortalias .............................................................133 Segmento dos vegetais supergelados e congelados .........................................................................134 Segmento dos vegetais minimamente processados (fresh cuts) .......................................................136 Segmento das hortalias desidratadas e liofilizadas ..........................................................................138 Segmento das hortalias irradiadas....................................................................................................140 GESTO DA INOVAO NA OLERICULTURA PARAENSE...........................................................141 Diversificao do mix varietal dos produtos atualmente j cultivados regionalmente........................142 Introduo de novas espcies e cultivares .........................................................................................143 Atualizao tecnolgica na produo, colheita e ps-colheita ...........................................................145 Atualizao tecnolgica na gesto e controle dos empreendimentos................................................146 Adoo da Certificao e de Polticas de Qualidade..........................................................................147 Diversificao e atualizao tecnolgica das formas de apresentao e preparo das hortalias .....147 Adoo de padres mais eficientes na logstica da distribuio ........................................................147 Adequao e formalizao jurdica, legal e documental dos empreendimentos................................148 Diversificao da clientela e dos canais de distribuio.....................................................................148 Desenvolvimento de uma cultura de parcerias estratgicas com a clientela .....................................149 Incentivo diversificao do consumo ...............................................................................................149 Recuperao da cultura de consumo das hortalias no-convencionais (HNC) ...............................150 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................................................151

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. ESTADO DO PAR/ MUNICPIOS SELECIONADOS. Nmero de estabelecimentos dedicados olericultura, 2006............................................................................................. 40 TABELA 2. BRASIL, REGIO NORTE E ESTADO DO PAR/ MUNICPIOS SELECIONADOS Nmeros de estabelecimentos agropecurios dedicados olericultura, em 2006............. 45 TABELA 3. BRASIL/ DIVERSAS REAS GEOGRFICAS. Perdas de hortalias no varejo, em porcentagem, em diversos anos. ........................................................................................ 63 TABELA 4. BRASIL Amostras com deteco de resduos de agrotxicos, em 2009. ...................... 67 TABELA 5. SO PAULO/SP. CEAGESP/ ENTREPOSTO TERMINAL DE SO PAULO (ETSP). Movimentao de mercadorias, no perodo de 2005 a 2009. ............................................. 80 TABELA 6. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Oferta de produtos hortigranjeiros, no perodo de 2006 a 2009......................................................................................................................... 81 TABELA 7. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2006 Subgrupo: Hortalias de Folhas, Flor e Haste....................... 82 TABELA 8. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2007 Subgrupo: Hortalias de Folhas, Flor e Haste....................... 83 TABELA 9. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2008 Subgrupo: Hortalias de Folhas, Flor e Haste....................... 84 TABELA 10. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2009 Subgrupo: Hortalias de Folhas, Flor e Haste....................... 85 TABELA 11. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2006 Subgrupo: Hortalias de Frutos. ............................................ 86 TABELA 12. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2007 Subgrupo: Hortalias de Frutos. ............................................ 87 TABELA 13. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2008 Subgrupo: Hortalias de Frutos. ............................................ 88 TABELA 14. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2009 Subgrupo: Hortalias de Frutos. ............................................ 89 TABELA 15. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2006 Subgrupo das Hortalias: Razes, Tubrculos, Bulbos e Rizomas............................................................................................................................... 90 TABELA 16. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2007 Subgrupo das Hortalias: Razes, Tubrculos, Bulbos e Rizomas............................................................................................................................... 91 TABELA 17. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2008 Subgrupo das Hortalias: Razes, Tubrculos, Bulbos e Rizomas............................................................................................................................... 92 TABELA 18. CEASA/PA Municpio de Belm (PA). Comercializao de hortalias, por procedncia, em quilogramas, em 2009 Subgrupo das Hortalias: Razes, Tubrculos, Bulbos e Rizomas............................................................................................................................... 93 TABELA 19. Municpio de Benevides, PA Quantidades de alimentos adquiridas dos produtores da agricultura familiar para a merenda escolar em 2010. ...................................................... 103 TABELA 20. Santa Brbara do Par, PA Quantidades semanais de alimentos adquiridas dos produtores da agricultura familiar para a merenda escolar em 2010................................ 103

7 TABELA 21. MUNICPIO DE BELM (PA). Evoluo do nmero de feirantes e nmero de feirantes por 1000 habitantes nos principais bairros, no perodo de 1997 a 2005. ......................... 108 TABELA 22. MUNICPIO DE BELM (PA). Situao de ocupao das feiras-livres municipais, por tipo de equipamento, em 2009. ......................................................................................... 109 TABELA 23. BELM (PA). FEIRA DO VER-O-PESO. Nmero de feirantes cadastrado, por setor, em 2010. .................................................................................................................................. 110 TABELA 24. MUNICPIO DE BELM (PA). Situao de ocupao dos mercados municipais, por tipo de equipamento, em 2009................................................................................................. 113 TABELA 25. BRASIL. Indicadores selecionados de sade pblica ................................................... 125 TABELA 26. BRASIL. Evoluo do nmero de refeies servidas diariamente, por tipo de empresa fornecedora, no perodo de 2002 a 2010 .......................................................................... 130 TABELA 27. BRASIL. Evoluo das quantidades mensais, por tipo de benefcio oferecido pelas empresas de refeies coletivas, no perodo de 2002 a 2010.......................................... 130 TABELA 28. BRASIL. Evoluo do faturamento anual das empresas de refeies coletivas, no perodo de 2002 a 2010..................................................................................................... 131 TABELA 29. BRASIL: Composio de alimentos selecionados, segundo teor relativo de gua....... 139

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APRESENTAO

O presente relatrio reporta-se s atividades desenvolvidas no mbito das Ordens de Prestao de Servios (OPS) n.s 2192, 2193, 2194, 2195, 2196 e 2223, de 2010 e que se relacionam com a elaborao do Diagnstico da Cadeia Produtiva de Hortalias da Regio Metropolitana de Belm (PA), elaborado pela empresa de consultoria tcnica especializada JUNQUEIRA E PEETZ

CONSULTORES LTDA (Hrtica Consultoria e Treinamento). O trabalho realizado contemplou a coleta, tabulao, anlise e interpretao dos dados primrios e secundrios a respeito da organizao, estruturao e governana das cadeias produtivas das hortalias no Brasil e na Regio Metropolitana de Belm (PA) e que foram necessrios para a compreenso do tema na rea de abrangncia prevista para esse diagnstico. O levantamento de dados primrios foi realizado em campo nas cidades de Ananindeua, Belm, Benevides, Marituba e Santo Antonio do Tau, conforme constou na proposta tcnica de trabalho devidamente aprovada entre as partes, e se encontram analisados e interpretados nos itens apresentados ao longo do presente Diagnstico. O diagnstico ora apresentado compe-se de quatro (4) partes, a saber:

PARTE I: ASPECTOS TERICO-METODOLGICOS E ABORDAGEM GERAL DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIAS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA);

PARTE II: A PRODUO OLERCOLA NOS MUNICPIOS SELECIONADOS DA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA): ANANINDEUA, BENEVIDES, MARITUBA E SANTO ANTONIO DO TAU;

PARTE III: PLANO DE AES: PROPOSIES TCNICAS E POLTICAS, e

PARTE IV: ANEXO ESTATSTICO E LEGAL.

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Na PARTE I, so tratados todos os aspectos relacionados metodologia empregada no estudo das Cadeias Produtivas, bem como das matrizes de identificao das fraquezas, fortalezas, oportunidades e ameaas. Alm disso, contm a abordagem geral da Cadeia Produtiva das Hortalias na Regio Metropolitana de Belm (PA), especialmente no que se refere reviso de literatura e anlise dos dados secundrios obtidos nas pesquisas setoriais necessrias. Completa-se com a bibliografia geral citada e consultada pelo diagnstico. A PARTE II refere-se especificamente apresentao dos dados coletados, tabulados e analisados que fizeram parte das pesquisas em campo, atravs da aplicao de questionrios junto aos produtores dos municpios de Ananindeua, Benevides, Marituba e Santo Antonio do Tau. Na PARTE III esto contidas todas as propostas de aes tcnicas e polticas elaboradas e sugeridas a partir da anlise crtica das fraquezas, fortalezas, oportunidades e ameaas na Cadeia Produtiva das Hortalias na Regio Metropolitana de Belm (PA) e que visam ao crescimento e desenvolvimento sustentvel dessa atividade no contexto da economia do agronegcio regional. Finalmente, na PARTE IV esto contidos os anexos, tabelas, textos legais e extratos da legislao citada ou de interesse para o perfeito aproveitamento desse Diagnstico.

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METODOLOGIA PARA O ESTUDO DAS CADEIAS PRODUTIVAS AGROINDUSTRIAIS

Nas anlises contemporneas sobre o agronegcio, o enfoque de cadeia produtiva escolhido por privilegiar o aspecto do seqenciamento das atividades no conjunto de agentes e funes relacionadas a um segmento, determinado por um produto agropecurio especfico e seus derivados. O termo usado com o significado de sistema e deve ser entendido como um encadeamento de transaes econmicas, processos tcnicos, custos e rentabilidades que integram o circuito das atividades da produo, processamento, distribuio e consumo final das mercadorias. O conhecimento do funcionamento da cadeia produtiva fundamental para a identificao de suas fragilidades, gargalos e oportunidades, permitindo a anlise abrangente do movimento das transaes e dos problemas relacionados a um determinado subsetor econmico. , portanto, necessrio que os agentes atuantes em cada cadeia produtiva especfica conheam e levem em considerao a totalidade do sistema do qual participam e compreendam a interao entre as suas partes. No Brasil, o estudo dos agronegcios, segundo o enfoque das cadeias produtivas, tomou grande impulso particularmente a partir da segunda metade dos anos 90, sob a influncia de tericos e pesquisadores das principais universidades brasileiras, lderes empresariais e instituies governamentais de pesquisa, ensino e extenso agrcolas. Os trabalhos tcnicos originados a partir dessa nova orientao, embora executados nas mais diversas instituies e regies geogrficas do Pas, adotaram de maneira generalizada o mesmo corpo terico-metodolgico, que pode ser brevemente resumido nos seguintes pontos principais:

a). Adoo do termo agribusiness, cuja traduo para agronegcios ser adotada ao longo deste trabalho, para se referir ao conjunto das funes econmicas tanto para dentro da propriedade, quanto para fora dela relacionadas diretamente

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atividade agrcola, conforme definio de John Davis e Ray Goldberg, da Universidade de Harvard, em 1957: A soma total de todas as operaes envolvidas na manufatura e distribuio dos produtos da unidade agrcola; das operaes produtivas na unidade agrcola; do armazenamento; do

processamento e da distribuio dos produtos agrcolas e dos itens produzidos a partir deles (ZYLBERSZTAJN, 1995)1; b). Adoo dos princpios defendidos por estes autores, segundo os quais as relaes entre a agricultura e os setores que se especializaram e dela saram continuam estreitas, concentradas numa viso sistmica, pois h uma interdependncia entre eles, dado que a agricultura no pode mais funcionar sem insumos e equipamentos vindos de fora, nem esses setores que saram da agricultura (fornecedor de insumos, ferramentas e equipamentos, prestadores de servios ou transformadores de produtos agrcolas) podem funcionar independentemente da produo primria da agricultura (GOLDBERG, 1968)2; c). Constatao de que, hoje, no Brasil, as atividades realizadas fora da unidade de produo agrcola e relacionadas agricultura tm magnitude maior que as desenvolvidas nessas prprias unidades. Assim, enquanto a participao do valor da produo agrcola da ordem de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o valor da produo do agronegcio da ordem de 30%; d). Compreenso do fluxo de relaes entre atividades, agentes e instituies constitutivos de uma cadeia produtiva, a partir de um enfoque orgnico, sistmico, cujo dinamismo totalmente condicionado pelo ambiente institucional vigente. Assim, muito alm da identificao dos elos componentes, do desenho estrutural de seus vnculos e da quantificao material das trocas comerciais entre as partes envolvidas, torna-se necessrio identificar e qualificar as transaes e os mecanismos de sua coordenao (governana) no sistema.

ZYLBERSZTAJN, Dcio. Estruturas de governana e coordenao no agribusiness: uma aplicao da Nova Economia das Instituies. Tese de Livre Docncia. So Paulo, FEA/USP, 1995.2

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GOLDERG, R. A. Agribusiness coordination. Boston: Harvard University Press, 1968.

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Referencial conceitual

Para concretizar a abordagem descrita no item anterior, adotaram-se os seguintes marcos e referenciais tericos e conceituais: 1. Nova Economia Institucional (NEI): linha terica de anlise econmica, na qual o ambiente institucional (composto por instituies formais e informais) torna-se o elemento central para a compreenso da evoluo e das estratgias das organizaes econmicas (empresas privadas e familiares, cooperativas etc.) nele inseridas e estabelece as bases sociais, legais e polticas para a produo, a troca e a distribuio das mercadorias. 2. Economia dos Custos de Transao (ECT): baseada nas definies de Williamson, nos anos 70, para quem os custos de transao seriam determinados pela incerteza3 envolvida na operao, a freqncia4 das transaes realizadas e, por ltimo, o grau de especificidade dos ativos5 envolvidos.

A incerteza refere-se ocorrncia eventual de eventos futuros no passveis de previso prvia elaborao dos contratos ou dos acordos de troca. Assim, transaes com alto grau de incerteza costumam demandar maior tempo de negociao, aumentando as chances de perdas, principalmente decorrentes da ao oportunista de uma das partes. Distinguem-se dois tipos principais: a) a de contingncia, que se relaciona s condies naturais e b) a de comportamento estratgico, que diz respeito ao comportamento de rivais. Assim, transaes de alto nvel de incerteza demandam estruturas de controle mais complexas e onerosas. A busca da reduo dos custos das transaes induz organizao de diferentes formas de governana.4

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O atributo da freqncia se define pelo nmero de vezes que uma determinada transao realiza-se num certo espao de tempo. Assim, transaes com alta freqncia permitem o desenvolvimento da reputao entre as partes envolvidas em um negcio, possibilitando uma alterao nas salvaguardas contratuais, reduzindo os custos de elaborao e monitoramento dos contratos. Neste contexto, as atitudes oportunistas poderiam levar interrupo da transao e, conseqentemente, perda de uma renda potencial futura. A alta freqncia constitui-se num importante determinante das condies de cooperao entre os diferentes elos da cadeia produtiva (BESANKO; DRANOVE; SHANLEY, 2000, apud FAULIN & AZEVEDO, 2003: 26). Williamson (1985) define a especificidade de ativos como a magnitude do valor dos ativos que dependem da continuidade de uma determinada transao. Assim, a especificidade de um ativo alta quando o rompimento contratual provocar perdas para uma ou ambas as partes. (WILLIAMSON, O.E. The economics institution of capitalism: firms, markets, relational contracting. New York: The Free Press, 1985. 450 p). A especificidade dos ativos5

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3. Mecanismos de Coordenao (Governana): necessrios para garantir o funcionamento do conjunto complexo e interdependente de atividades desenvolvidas pelos distintos agentes econmicos, que constituem as diversas cadeias produtivas do agronegcio, pressupondo a coordenao das atividades num mbito que ultrapassa os limites das firmas.

WILLIAMSON (1985) define trs formas ou estruturas alternativas de governana: mercado, hbrida (contratual) e hierrquica (integrao vertical). A forma de organizao via mercado d-se basicamente por meio do sistema de preos, o que implica em menor nvel de controle e maior de incentivo. A forma hbrida aquela baseada no estabelecimento de contratos complexos e arranjos de propriedade parcial de ativos entre firmas localizadas em estgios sucessivos da cadeia produtiva. A organizao via hierrquica baseada na propriedade total dos ativos, compreende a internalizao das atividades em questo na esfera de uma nica firma. As partes passam a ser reguladas pelas normas internas da firma, o que confere maior controle sobre a transao, custa de um menor incentivo. Finalmente, h diversas formas contratuais, que combinam caractersticas de controle e incentivo, sendo, por isso, denominadas de formas hibridas (FAULIN & AZEVEDO, 2003, p. 26). Nenhuma das formas de coordenao, contudo, prescinde da existncia de um mercado que defina os preos e os parmetros para o planejamento empresarial.

se refere ao seu nvel de especializao em determinada atividade e ao custo relativo de sua realocao. Williamson (1985) identifica seis tipos de especificidades de ativos: 1) locacional, referente localizao relativa das firmas responsveis por etapas sucessivas da mesma cadeia produtiva, favorvel economia com transportes e armazenagem; 2) temporal, referente aos investimentos no ganho de tempo nas operaes, extremamente relevantes no caso dos produtos perecveis; 3) humana, naquilo que trata da experincia profissional adquirida; 4) fsica, relacionada s caractersticas fsicas inerentes ao produto transacionado cujo uso especfico; 5) dedicados, naquilo que se trata dos ativos irrecuperveis e 6) marca, referente ao capital que se materializa no nome de um produto e/ou empresa.

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Avaliao da Eficincia e Competitividade

Os conceitos bsicos e instrumentais de Gesto de Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management SCM) foram desenvolvidos recentemente,

incorporando os preceitos da anlise sistmica e lgica das diferentes etapas produtivas, logsticas e comerciais envolvidos nos processos de produo, circulao, distribuio e consumo de mercadorias, servios e informaes. Em sntese, pressupe que a eficincia ao longo dos processos e canais de distribuio possa ser otimizada atravs do planejamento conjunto e do compartilhamento de informaes entre os agentes envolvidos. Os conceitos e instrumentos tericometodolgicos da SCM sero relevantes para as discusses de coordenao e governana entre os elos e os agentes envolvidos e redistribuio de tarefas e responsabilidades entre eles, entre outros aspectos. Trata-se, contudo, de um conjunto instrumental ainda pouco utilizado no Brasil, enquanto efetiva ferramenta de apoio tomada de decises operacionais e gerenciais no setor empresarial e no mbito do empreendedorismo (cf. IEL, CNA & SEBRAE, 2000: 21 e 22)6.

Economia dos Custos de Transao (ECT)

A Economia dos Custos de Transao (ECT) constitui um ramo da Nova Economia Institucional que se ocupa da anlise das instituies que regulam transaes particulares ente os agentes econmicos, tais como: contratos interfirmas e os modelos de governana internos empresa. Segundo Coase, que lanou as bases para o estudo da Economia dos Custos de Transao em 1937 (FAULIN & AZEVEDO, 2003, p.25)7, custos de transao seriam aqueles associados conduo das transaes, como: custos de mensurao das informaes, de

IEL, CNA & SEBRAE. Estudo sobre a Eficincia Econmica e Competitividade da Cadeia Agroindustrial da Pecuria de Corte no Brasil. Braslia, 2000. FAULIN, Evandro Jacia; AZEVEDO, Paulo Furquim de. Distribuio de hortalias na agricultura familiar: uma anlise das transaes. Informaes Econmicas, IEA, SP, v.33, n.11, nov. 2003, p. 24 -37.7

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negociao, de elaborao e de se fazer cumprir os contratos, assim como os direitos de propriedade e, por fim, de m adaptao. A ECT pressupe que a coordenao do sistema produtivo deva ser feita com agentes buscando estruturas de governana eficientes, que, no final, so aquelas que determinam menos custos de transao. Os contratos entre as partes so intrinsecamente incompletos no sendo economicamente vivel especificar

clusulas para todas as possveis contingncias. Uma vez que contratos so incompletos, as partes podem se aproveitar de lacunas contratuais em benefcio prprio, impondo custos s suas contrapartes (FAULIN & AZEVEDO, 2003, p. 25). Por isso, surgem os custos de transao, sendo o papel das estruturas de governana regular o comportamento das partes, de modo a atenu-los. medida que a incerteza e a especificidade dos ativos aumentam, os agentes tendero a buscar formas de governana mais distantes do mercado, aproximando-se da integrao vertical. Antes do incio da transao j h incidncia de custos, os quais derivam da necessidade de obteno de informaes sobre o mercado, sobre o parceiro etc. So os chamados custos ex-ante (NEVES, 1995)8. Os custos de mensurao e monitoramento do desempenho, das renegociaes, entre outros, so os chamados custos ex-post. A ECT se baseia em dois pressupostos bsicos: a racionalidade limitada e o oportunismo. Esse ltimo, por sua vez, parte do pressuposto da prevalncia do jogo negocial no cooperativo entre as partes, onde a assimetria no acesso a informao pode permitir o privilgio de um dos parceiros sobre o outro. Cada forma especfica de governana , essencialmente, um contrato, que busca fazer cumprir o prometido entre as partes, sendo afetado tanto pelo porte mesmo das transaes, quanto pelo ambiente institucional e pelos pressupostos comportamentais. Assim, as diferentes formas de governana so suportadas tambm por formas diferenciadas de contratos legais. Tais contratos podem ser classificados em: clssicos, neoclssicos e relacionais.

NEVES, M.F. Sistema agroindustrial citrcola: um exemplo de quase-integrao no agribusiness brasileiro. So Paulo, 1995. 116 p. Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade, Departamento de Administrao da Universidade de So Paulo.

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Os contratos clssicos ocorrem quando existem transaes isoladas, sem efeito intertemporal, discretas, descontnuas, com regras claras e nos quais possveis ajustes necessrios se do diretamente via mercado. Os contratos neoclssicos ocorrem em transaes nas quais existe continuidade e adaptao, e em que ficam explcitas as existncias da racionalidade limitada e da incerteza. Nesse tipo de contrato, podem ocorrer arranjos. J no contrato relacional, a flexibilidade uma caracterstica fundamental, abrindo permanentes possibilidades de renegociao, que podem, inclusive, de descolar do contrato original entre as partes. Baseia-se no entendimento da incompletude dos contratos, frente racionalidade limitada.

A Economia dos Custos de Transao (ECT) na cadeia produtiva das hortalias: uma reviso da bibliografia disponvel

Especificidade dos ativos

Teoricamente, a Economia dos Custos de Transao (ECT) prev trs diferentes tipos de especificidade dos ativos: fsica (ou locacional), humana e temporal. No caso da Cadeia Produtiva das Hortalias, a especificidade fsica dos ativos geralmente avaliada como baixa, na medida em que se trata de produtos destinados a um amplo espectro tanto de consumidores, quanto de canais de distribuio. Significa dizer que os produtos se apresentam commoditizados, sem diferenciao ou qualquer forma expressiva de segmentao para o mercado. Quanto especificidade do capital humano que se refere ao conhecimento tcnico sobre a produo e a experincia de comercializao adquirida ao longo dos anos esta tambm normalmente classificada como baixa, pois o conhecimento necessrio para tal atividade encontra-se bastante difundido, exigindo pouca tcnica ou preparo profissional dos produtores. J, quanto especificidade temporal em que a transao depende, sobretudo, do tempo no qual se processa esta tende a ser mais relevante, visto que as hortalias constituem-se em produtos altamente perecveis, o que induz a uma alta freqncia de repetio das transaes. As prprias caractersticas da

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maioria das hortalias (ciclo curto, variedades adaptadas a diferentes pocas, entre outras) e os sistemas de produo empregados na olericultura permitem o atendimento satisfatrio dessas necessidades, visto que os produtores costumam obter produtos ao longo de quase todo o ano.

Freqncia

A repetio das transaes viabiliza o conhecimento recproco entre as partes envolvidas nas transaes e a construo da reputao. Essa ltima, por sua vez, possibilita a criao de compromissos confiveis entre as partes, em torno de um objeto comum, que, no caso das hortalias, constitui-se no prprio processo de compra e venda dessas mercadorias. Como j apontado anteriormente, a elevada especificidade temporal dos ativos envolvidos nas transaes setoriais com hortalias leva a que a sua freqncia seja altamente recorrente. Tambm contribui para isso o fato de que o armazenamento das hortalias, alm de dispendioso, tecnicamente limitado. Dessa forma, as transaes de compra e venda objetivam o abastecimento do mercado apenas em curtos espaos de tempo, geralmente limitados a poucos dias. Em mdia, tais transaes costumam se repetir de duas a trs vezes por semana, podendo, ainda, ocorrer com freqncia diria. A alta freqncia das transaes permite a construo da reputao e o estabelecimento de confiana entre as partes, reduzindo a necessidade de utilizao de contratos formais. Ou seja, a recorrncia de uma mesma transao afeta a percepo que as pessoas tm uma das outras, reduzindo a assimetria informacional acerca de atributos individuais, como a competncia para

determinadas atividades, ou os valores e cdigos de conduta que seguem as respectivas contrapartes. Como conseqncia, a repetio de uma mesma transao reduz o custo de coleta de informaes e diminui a possibilidade de rompimento unilateral dos contratos, formais ou informais, estabelecidos entre as

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partes. Em ambos os casos, h uma queda considervel dos custos de transao envolvidos9.

Incerteza

Pode ser entendida como o desconhecimento em relao efetiva ocorrncia dos possveis eventos futuros, assim como tambm como resultado da assimetria informacional entre os diferentes agentes envolvidos nas transaes. Para os olericultores, bem como para os demais agricultores em geral, as maiores incertezas prevalecem em relao aos eventos climticos, os quais podem inviabilizar at completamente as colheitas futuras planejadas. Essa caracterstica tende a ser intensificada nas regies onde o cultivo das hortalias feito sem a proteo de estufas ou telados de proteo, o que potencializa os riscos naturais a que est sujeita a atividade. Os preos tambm constituem-se em fator de incerteza para os olericultores, principalmente porque bastante usual nesta Cadeia Produtiva que os mesmos sejam formados apenas no momento da venda, podendo sofrer os efeitos conjunturais de uma srie impondervel de fatores. Em muitos casos, as mercadorias so entregues aos atacadistas ou cooperativas em consignao; processo no qual os produtores s sabero das quantidades vendidas e dos preos alcanados a posteriori. A incerteza global consideravelmente aumentada haja vista que as informaes do mercado, via de regra, so pouco disponveis e confiveis e, muitas vezes, os olericultores no possuem acesso fcil ou hbito de consult-las regularmente. Finalmente, cabe destacar que, no mbito da olericultura de natureza familiar, ainda pouco usual o emprego de ferramentas de planejamento e gesto da produo, o que faz com que as incertezas comerciais sejam potencializadas. Na Regio Metropolitana de Belm, a oferta reduzida e pouco organizada dos insumos pelos agentes comerciais fornecedores e distribuidores, acarreta certo nvel

Cf. AZEVEDO & FAULIN, 2003. Subsistemas baseados em confiana: o caso da produo familiar de verduras. Disponvel em http://www.sober.org.br/palestra/12/04O201.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.

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de incerteza adicional aos produtores de hortalias, uma vez que estes tendem a ter menor controle sobre seus custos de produo no curto prazo. Tal situao poderia ser minimizada pela organizao dos produtores em associaes e cooperativas que viabilizassem as compras coletivas ou Centrais de Compras focadas nos principais insumos demandados pela atividade. A transao entre o olericultor e o fornecedor de insumos ocorre no primeiro nvel da cadeia produtiva. De uma maneira geral, observa-se que os produtores no buscam compartilhar informaes com outros membros ou parceiros comerciais visando, principalmente, a obteno de melhores preos para as suas compras. Observa-se, assim, um importante grau de submisso e uma forte passividade dos produtores em relao aos revendedores, que acaba sendo o agente que informa e atualiza sobre as novidades, tendncias, produtos e tcnicas de plantio, conduo, cultivo, colheita e ps-colheita de hortalias. Desta forma, o risco associado assimetria informacional tende a ser alto, sobrepondo-se e prevalecendo sobre o desejvel estabelecimento da confiana mtua10.

Estrutura de governana

A estrutura de governana visa atenuar o nvel de riscos envolvidos das transaes, cujas dimenses principais, conforme j visto, so dadas pela especificidade dos ativos, pela freqncia e pela incerteza. No caso das hortalias em geral, a estrutura de governana predominante a do mercado spot, a qual se justifica pela baixa especificidade dos ativos envolvidos (grande oferta de produtos de mesma natureza, atravs de muitos canais simultaneamente), pela elevada freqncia das transaes (dirias, ou de duas a trs vezes por semana), tambm condicionada pela alta temporalidade dos ativos, e pela reduo da incerteza com o aumento da freqncia das transaes, que, por sua vez, incita a construo da reputao e a reduo das necessidades da formalizao de contratos.

Cf. CARVALHO, Karine Lima de; COSTA, Reinadlo Pacheco da. Anlise das transaes na cadeia produtiva da alface. XXVIII Encontro Nacional de Engenharia da Produo. Rio de Janeiro, 13 a 16 de outubro de 2008.

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Dessa forma, comum que contratos informais sejam estabelecidos entre os pequenos olericultores e atacadistas, feirantes ou redes de distribuio varejista. Nesses casos, os produtos so entregues em dias pr-determinados da semana e os novos pedidos realizados pessoalmente, no prprio ato da entrega das mercadorias previamente encomendadas, quase sempre sem a necessidade de grandes negociaes entre as partes. Os preos so formados apenas no dia e so normalmente ditados pelo comprador, com base nas condies conjunturais prevalecentes momentaneamente no mercado. Uma das peculiaridades no caso da produo de hortalias pela agricultura familiar na Regio Metropolitana de Belm que a produo, quase sempre, fica em nvel aqum da demanda, o que dificulta o cumprimento dos contratos informais previamente acordados entre as partes envolvidas nas transaes mais recorrentes. Para esse pequeno produtor de hortalias regional, pode-se confirmar que a governana via mercado spot , de fato, a estrutura que mais reduz os seus custos de transao. Situao diferente se observa, por outro lado, frente consolidao da grande distribuio (principalmente via redes locais de supermercados) e do setor de food service, o que inviabiliza o estabelecimento de contratos informais para pequenas quantidades de hortalias e passa a instaurar a necessidade de outros formatos contratuais mais formalizados, abrangentes e especficos. Tais demandas tendem a alijar o pequeno produtor informal do mercado, privilegiando empresas mais profissionalizadas e formalmente organizadas. Os contratos entre redes super e hipermercadistas, ou entre grandes estabelecimentos do food service, tendem a se complexificar progressivamente, passando a incluir clusulas relativas a preos vinculados a promoes e aberturas de novas lojas; exigentes padres de qualidade, embalagem, sanidade e rastreabilidade; usos de cdigo de barras; disponibilizao de mo-de-obra prpria para abastecimento e promoo no interior das lojas, entre outros fatores. A contratualizao formal entre a grande distribuio e os produtos de hortalias tem servido, entre outros propsitos, ao de garantir a agregao de valor aos produtos, o que, para os atacadistas de maneira geral, no representa uma varivel relevante na seleo e manuteno de fornecedores.

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Os supermercados tm adotado a estratgia de diminuir os custos inerentes s transaes combinando diferentes tipos de governana. Entre elas, as formas hbridas que combinam o papel do mercado na formao dos preos com contratos formais que fixam especificaes de qualidade dos atributos das mercadorias permitem que parte substancial dos riscos das transaes seja transferida aos olericultores11.

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Cf. CARVALHO, Karine Lima de; COSTA, Reinadlo Pacheco da., 2008. Op. cit.

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CONCEITOS E DEFINIES

As hortalias alimentos popularmente identificados como as verduras e os legumes so plantas de consistncia herbcea, geralmente anuais, de cultivo intensivo sua principal caracterstica muito exigentes em tratos culturais e de alto nvel de perecibilidade. A explorao racional e econmica dessas espcies est associada ao campo da olericultura. A explorao olercola que agrega o maior nmero de espcies entre todos os setores agrcolas possibilita a obteno de altos ndices de produtividade fsica dos solos e rentabilidade econmica por unidade de rea cultivada. Seu ciclo curto de produo possibilita alto nvel de retorno financeiro, reduzindo sensivelmente a necessidade de capital de giro, o que viabiliza a permanncia de pequenos produtores em uma atividade com razovel nvel de exigncia de gastos com insumos. Por outro lado, apesar da utilizao intensiva de capital, a olericultura emprega grande quantidade de mo-de-obra, o que faz com que a atividade, alm de seu significado econmico, responda por um importante papel social refletido na fixao do homem ao campo, viabilizando parte da agricultura familiar e mantendo razovel nvel de ocupao, emprego e renda, ainda que em parcelas muito exguas de terra12. Segundo JUNQUEIRA e CABRERA FILHO (1997, p.3), a olericultura distribuise em grandes grupos de produtos: a) grandes olercolas alho, batata, cebola e tomate ; b) as frutas olercolas melancia, melo, morango, e c) os legumes e verduras, constituindo-se de todos os tipos de razes, folhas, hastes, frutos e flores comestveis. Alm disso, outros produtos com caractersticas semelhantes de cultivo, comercializao e consumo similares tambm costumam ser consideradas e contabilizadas como hortalias: abboras, cogumelos, mandioca de mesa, milho verde, palmito e outras.

Estima-se que cada hectare plantado com frutas ou hortalias possa gerar entre 3 a 6 empregos diretos e um nmero idntico de empregos indiretos. Nas culturas tradicionais de gros, essa relao de apenas um posto de trabalho por hectare. Cada hectare cultivado com horticultura gera renda entre US$ 2 mil e US$ 25 mil, contra menos de US$ 500 das culturas tradicionais (FRUPEX, 1994).

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Sistema de produo: conjunto de operaes e interfaces entre essas, necessrias produo de uma determinada mercadoria.

Subsistema Estritamente Coordenado: encadeamento de transaes que se sucedem para produzir um produto final, em que partes e contrapartes so identificadas e asseguram a continuidade da relao por meio de uma estrutura de governana particular (ZYLBERSTAJN & FARINA, 1998).

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A CADEIA PRODUTIVA AGROINDUSTRIAL DE HORTALIAS NO BRASIL E SEUS REFLEXOS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA)

1. Segmento Fornecedor de Insumos e Servios 1.1. Mquinas e Implementos

No Brasil, a olericultura registra um elevado grau de dependncia tecnolgica do mercado externo, principalmente no tocante ao fornecimento de mquinas, implementos e equipamentos especficos para o cultivo das hortalias. A olericultura brasileira no conta, ainda, com um nvel de mecanizao adequado ao seu porte, e que seja capaz de impulsionar o seu desenvolvimento em moldes tecnificados neste aspecto. A indstria nacional tem dado pouca nfase ao desenvolvimento de mquinas de pequeno e mdio portes, no rastro da tradio de cultivo das grandes culturas no Pas, perpetuando, assim, a dependncia das importaes. Entretanto, a olericultura brasileira, pelo vulto que apresenta hoje (atual e potencial), demanda a introduo de mquinas e equipamentos, como forma de multiplicar a capacidade de trabalho do homem, reduzindo o trabalho manual e aumento a preciso e a rapidez das operaes agrcolas. O trabalho manual ainda largamente empregado na cultura de hortalias no Brasil e, com o crescimento econmico desse setor, o desenvolvimento de pequenas mquinas poder permitir ganhos notveis no apenas na produo, como tambm na rentabilidade e qualidade do trabalho, principalmente quando esse envolver uma sucesso de manobras rpidas e leves, onde a agilidade mais importante do que o esforo fsico (MASCARENHAS e ROCHA, 1991). Na Regio Metropolitana de Belm (PA), h um importante agravante representado pela posse de um nmero muito reduzido de mquinas e equipamentos agrcolas por parte dos olericultores. A oferta de servios mecanizados, mesmo quando realizados por mquinas e equipamentos

convencionais, no especficos para a olericultura, dependente da cesso de horas de trabalho de mquinas concedidas em comodato pelo poder pblico estadual a poucas associaes e cooperativas locais de horticultores.

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1.2. Sementes, Mudas e Matrizes

O segmento da produo de sementes de hortalias mundialmente competitivo, sendo caracterizado como uma atividade na qual os custos de desenvolvimento de um novo produto so cada vez mais elevados, ao mesmo tempo em que o perodo de uso de cada cultivar sempre decrescente. Desta forma, a rentabilidade das empresas apresenta srios fatores de restrio, estimando-se uma progressiva concentrao do mercado ao longo das prximas dcadas. Estima-se que cerca de 80% das sementes vendidas anualmente so originrias da produo e comrcio de apenas dez empresas da Frana, Holanda, Japo e EUA. De um modo geral, as empresas atuantes no Brasil realizam pesquisas prprias, com um nvel pequeno de integrao com os rgos governamentais afins. Tais empresas costumam obter material gentico junto a suas matrizes localizadas no Japo, EUA e outros pases , apenas complementando a sua gama de variedades oferecidas com sementes brasileiras. Os produtores de hortalias da Regio Metropolitana de Belm (PA) adquirem um nmero bastante reduzido de espcies de hortalias no mercado, sendo a quase totalidade delas do grupo das folhosas. Os principais produtos cultivados regionalmente e que demandam a aquisio peridica de sementes so: cheiroverde (coentro), alface, salsa, cebolinha, chicria, couve, pepino, pimenta, pimento, quiabo, tomate e tomate-cereja. Outro produto largamente cultivado na regio, mas que multiplicado por sementes produzidas pelos prprios produtores o jambu. J quanto produo de mudas, na moderna olericultura tem prevalecido a terceirizao da sua produo por viveiristas especializados. Porm, na regio estudada esta prtica ainda incipiente. As mudas produzidas so feitas nas propriedades, de forma bastante rstica e so principalmente constitudas pela couve e caruru, alm de outras poucas espcies.

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1.3. Defensivos agrcolas

Um dos principais problemas da olericultura decorre do fato de que, por ser considerada uma atividade de menor expresso econmica, ou minor crops,

detm uma quantidade mnima de defensivos agrcolas registrados e autorizados para utilizao em seus cultivos. Tal situao, na prtica, limita o controle qumico legalizado da maioria das culturas, sendo apontado como a principal responsvel pelas irregularidades sanitrias das verduras e legumes produzidos e consumidos no Pas. Em 1 de fevereiro de 2010, a Instruo Normativa n.1 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento abrigou as minor crops em grupos de culturas que j possuem agroqumicos registrados. A norma estabelece o agrupamento das culturas por critrios de similaridade alimentar e fitotcnica e elege culturas representativas para esses grupos. O objetivo estender os valores dos Limites Mximos de Resduos (LMR) de culturas que j tenham produto registrado para essas culturas de menor representatividade econmica. No caso da olericultura, entre os grupos considerados destacam-se os de razes, tubrculos e bulbos (batata e cenoura); o de hortalias folhosas (alface, repolho e couve) e o de hortalias no folhosas (tomate, pepino e pimento).

1.4. Estufas

O perodo chuvoso, nas condies do Trpico mido, traz srias limitaes produo de hortalias. No comrcio de Belm, o consumidor se depara com aumentos significativos nos preos dos produtos hortcolas. Tambm a qualidade do produto ofertado inferior quela normalmente observada nos locais de venda. Nessa poca, as hortalias tm aumentado a possibilidade de doenas, devido elevao da umidade. Para aquelas plantas, cuja produo dependente de polinizao por insetos, como os pepineiros, ocorre reduo na freqncia de visita de abelhas, uma vez que as chuvas limitam a sua capacidade de vo. Os nutrientes adicionados ao solo pela adubao, tambm so facilmente transportados para camadas mais profundas (lixiviao), reduzindo o seu aproveitamento pelas plantas. As razes tm limitao no processo respiratrio,

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devido reduo na disponibilidade de oxignio no solo, uma vez que boa parte dos poros est preenchida por gua. Tambm ocorre intensa eroso superficial, reduzindo a fertilidade do solo. Alm desses fatores, h reduo na disponibilidade de radiao para as plantas, influenciando assim no seu crescimento e na qualidade do produto colhido. Uma alternativa utilizada para reduzir os efeitos do perodo chuvoso, a proteo das plantas cultivadas, com estruturas semelhantes a telhados. A cobertura feita com filmes plsticos aditivados, permitindo assim que a radiao disponvel seja quase toda aproveitada no ambiente de cultivo. Estudos realizados por pesquisadores do Ncleo de Capacitao e Pesquisas em Horticultura, no Instituto de Cincias Agrrias da Universidade Federal Rural da Amaznia (UFRA), mostraram que h modelos de casas de cultivo protegido mais indicados para as condies regionais, tendo como finalidade servir de guardachuvas para as plantas. As casas, construdas em madeira ou em ligas metlicas, podem ter formato em arco ou em capela (duas guas). Um componente de grande importncia na construo a abertura superior na cobertura, conhecida como semi lanternim, a qual impede o acmulo de ar quente no interior da casa. A altura recomendada do p-direito deve ser preferencialmente, superior a trs metros. O filme plstico da cobertura dever ter espessura igual ou superior a 100 micra. Nas laterais e frontais da casa no h necessidade de usar proteo com plstico ou telas, uma vez que essa medida pode elevar a temperatura no interior da casa, prejudicando o desenvolvimento das plantas. Nessas estruturas podero ser cultivadas todas as hortalias adaptadas para a regio, controlando assim os efeitos negativos das chuvas. Embora no aumente a disponibilidade de radiao solar direta, promove maior disponibilidade de radiao difusa influenciando positivamente na produo. O custo de uma estrutura ir variar com as caractersticas do material utilizado. Entretanto, o incremento na produo resultante da adoo da tcnica, promover o retorno do recurso investido em um curto prazo, demonstrando a sua viabilidade econmica. Outra opo, com menor necessidade de investimento, o tnel baixo, estrutura que cobre apenas o canteiro de cultivo. recomendado no cultivo de hortalias de pequeno porte como alface, coentro e cebolinha.

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Nessa tcnica so montadas, sobre os canteiros, estruturas em forma de arco, podendo ser este confeccionado a partir de materiais rsticos existentes na propriedade estendendo-se sobre os mesmos um filme plstico aditivado com 50 micra de espessura. Nas laterais da cobertura dever haver uma rea de cerca de 30 cm livre de proteo para promover a diminuio da temperatura atravs da circulao da ventilao natural. Tambm recomendvel suspender as laterais da cobertura, nos horrios em que no houver chuva, permitindo assim maior aerao do ambiente. Com o auxlio dessas tcnicas, o olericultor paraense poder manter seus padres de produtividade durante o perodo chuvoso, beneficiando a si e aos consumidores, os quais podero adquirir produtos a preos mais baixos. Um interessante projeto na plasticultura local foi em 2005 desenvolvido pela empresa Alunorte, para os produtores familiares de frutas e hortalias de Barcarena. O projeto foi desenvolvido pela empresa, em parceria com a Cooperativa de Extrao e Desenvolvimento Agrcola de Barcarena (Cedab). O prottipo da estufa emprega 60 tubos de trocadores de calor sucateados cedidos pela Alunorte e plstico poliagro 150 micras. O custo total do sistema seis vezes mais barato que os modelos encontrados no mercado. A estufa para a plasticultura custa R$ 2.500,00 contra os R$ 15 mil dos modelos comerciais. Em menos de dois anos, o projeto j conquistou dois prmios regionais e disputou, no dia 7 de dezembro de 2005, a categoria inovao social do Prmio FINEP de Inovao Tecnolgica 2005, em Braslia. O cultivo de hortalias em ambiente protegido, embora ainda incipiente, crescente em toda a regio Norte do Brasil e, conseqentemente, tambm na Regio Metropolitana de Belm (PA). Entre as vantagens desse sistema de cultivo sobre o modelo de produo tradicional a campo podem-se citar: a) expanso das colheitas para todo o ano, eliminando o efeito da sazonalidade e permitindo a

explorao econmica dos perodos de melhores preos no mercado; b) aumento da precocidade dos cultivos; c) aumento da produtividade mdia das culturas, d) melhoria da qualidade dos produtos, e e) reduo no uso de agroqumicos, otimizando os custos de produo. No Estado do Amazonas, especialmente nos municpios de Manaus e Iranduba, os cultivos predominantes nas estufas dedicadas olericultura so os do pimento, da alface e do coentro. Os hbridos de pimento preferidos pelos

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olericultores tm sido: Nathalie e Magali R, independentemente da poca do ano. So hbridos que produzem frutos de formato cnico e alongado, possuindo colorao vermelha, e atingindo at 230 g por fruto. Costumam ser colhidos ainda verdes, segundo hbitos e preferncias dos consumidores locais13. A topografia geralmente plana e pouco acidentada que caracteriza a Regio Metropolitana de Belm contribui para a eficiente e adequada instalao de estufas. A maioria dos cultivos protegidos na regio instalada em condies de solo, em reas anteriormente cultivadas com outras culturas, especialmente frutferas ou outras olerceas. Entre os principais problemas encontrados pelos olericultores que optam por esse tipo de tecnologia encontram-se: a) falta de oferta de equipamentos, estruturas e servios afins: b) altos custos dos materiais e equipamentos que sejam resistentes e durveis; c) falta constante de assistncia tcnica especializada, especialmente no que diz respeito a orientaes quanto escolha do tipo e dimenses mais adequados de estufas, ao manejo e fertilizao do solo, irrigao e fertirrigao, conduo dos cultivos (espaldeira simples ou dupla, desbrota e quantidade de hastes), ao controle de pragas e doenas; d) cultivares no adaptadas s condies agro-ecolgicas regionais; e) dificuldades de gerir e planejar a produo local em funo do mercado, e f) falta de polticas pblicas focadas no desenvolvimento e expanso da plasticultura na regio. No Estado do Amazonas, na regio de Manaus e Iranduba, observa-se a ocorrncia de trs modelos de estufas (ou casas-de-vegetao): a) a capela convectiva, b) o arco e c) a capela. Nesta rea, o modelo arco tem sido considerado como o de maior facilidade de construo e manuteno, de maior durabilidade e menor custo, bem como o de maior resistncia a ventos De modo geral, as estruturas so cobertas com plstico de polietileno transparente com espessura de 100 a 150 micras e com dimenses variando de 6 a 8 metros de largura, de 30 a 66 metros de comprimento e de 2,30 a 3,30 metros de p direito, usualmente abertas nas laterais. As estruturas utilizadas so geralmente de madeira e, em menor escala, mistas de madeira e ferro. A rea varia entre 160 a 495 m.GAMA. A. S.;LIMA, H.N.; LOPES, M.T.G.; TEIXEIRA, W.G. Caracterizao do modelo de cultivo protegido em Manaus com nfase na produo de pimento. Horticultura brasileira, v. 26, n.1, p.121-125, jan.-mar.2008.13

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A estrutura utilizada deve atender aos requisitos de resistncia, durabilidade, facilidade de construo e manuteno, alm de serem capazes de fornecer ambiente e condies adequados para possvel aos olericultores14. Na produo de mudas de pimento, usual que os produtores conduzam viveiros separados daqueles utilizados na produo comercial dos frutos, sendo a maioria deles construda com protees laterais com telados de nilon contra insetos vetores de doenas. So utilizadas bandejas de isopor de 128 clulas, preenchidas com substrato comercial Plantmax, irrigadas duas ou trs vezes ao dia, com diferentes sistemas de irrigao. O transplante das mudas aps a semeadura varia de 20 a 30 dias, com uma mdia de 24 dias15. De um modo geral, a maioria dos produtores no adota a prtica de realizar a anlise prvia do solo, nem tampouco a da realizao de calagem. Em relao questo fitossanitria nos cultivos de pimento, observa-se um elevado ndice de ocorrncia das seguintes pragas e doenas: pulgo, tripes, lagarta, broca, grilo, mancha-de-cercspora, vira-cabea, talo-oco, murcha-defitftora, murcha-de-esclercio, murcha-de-fusrio e nematides-das-galhas. Tais ocorrncias podem estar associadas ao grande nmero de plantas hospedeiras localizadas ao redor das estufas; falta de cultivares adaptadas s condies agroecolgicas locais e resistentes ou tolerantes aos nveis de pragas normalmente ocorrentes na regio; contaminao de mudas; ao desbalanceamento das adubaes; ao excesso de irrigaes; falta de rotatividade das culturas e utilizao de defensivos agrcolas de forma inadequada e indiscriminada.16 A produtividade mdia dos pimentes cultivados em estufas na regio amaznica pode ser elevada, correspondendo a at 125 toneladas por hectare nos primeiros cultivos. favorecerem o crescimento e o

desenvolvimento das culturas, proporcionando a melhor relao custo/benefcio

GAMA, A.S.; GUERRA, V.M. Cultivo de hortalias em casa de vegetao. Manaus: Gerncia de Difuso e Comunicao Rural, IDAM, 2005. 20 p. 15 GAMA. A. S.;LIMA, H.N.; LOPES, M.T.G.; TEIXEIRA, W.G., 2008 . Op. cit. 16 GAMA. A. S.;LIMA, H.N.; LOPES, M.T.G.; TEIXEIRA, W.G., 2008 . Op. cit.

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1.5. Embalagens

O acondicionamento de produtos hortcolas em embalagens adequadas contribui para a reduo das perdas; para a melhoria do controle dos problemas de ordem sanitria; para maior proteo e integridade e qualidade do produto; para a maior racionalidade e economia no transporte e manuseio de mercadorias e para a melhor apresentao e conservao desses alimentos. No mercado atacadista interno brasileiro, apesar dos avanos verificados, sobretudo nas duas ltimas dcadas, ainda se observa a predominncia da utilizao da caixa K para o embalamento dos produtos hortcolas, notadamente no setor de legumes. Diversos estudos realizados nas ltimas dcadas j comprovaram a inadequao da caixa K para o acondicionamento de produtos hortigranjeiros, ressaltando as seguintes inconvenincias principais: a) dimenses da base muito reduzidas em relao altura, o que provoca o amassamento dos produtos situados nas camadas inferiores, devido ao excesso de peso das demais camadas superpostas; b) ventilao inadequada dos produtos; c) existncia de frestas e ngulos retos, que podem causar danos mecnicos; d) transmisso de molstias de origem microbiolgica, devido reutilizao indiscriminada das embalagens; e) ocorrncia de efeitos abrasivos sobre o produto, causando danos mecnicos, devido rugosidade das superfcies internas; f) ocorrncia freqente do superenchimento das embalagens, provocando o amassamento das hortalias; g) ocorrncia freqente de ns na madeira, ocasionando pontos vulnerveis quebra das embalagens e virtuais danos mecnicos pele dos produtos e h) tendncia crescente carncia na oferta de matria-prima para a confeco da embalagem. Na moderna logstica da distribuio das hortalias demandadas pela crescente especializao e concentrao do varejo alimentar, especialmente nos segmentos super e hipermercadistas, as caixas K, alm dos problemas j relacionados, deixaram, tambm, de atender s necessidades e demandas operacionais, especialmente devido aos seguintes fatores: a) no serem compatveis com a paletizao das cargas; b) serem retornveis; d) exigirem manuseio manual e grande demanda por mo-de-obra; e) demandarem grandes volumes de depsito para manuseio e armazenagem, f) causarem grandes

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transtornos urbansticos, relacionados s crescentes limitaes de horrios e de tempos para a realizao das operaes de carga e descarga de mercadorias, entre outros, e g) no se adequarem utilizao de rtulos de identificao do produto, de seus atributos de qualidade e de origem (produtor e regio). A despeito de tudo isso, o uso alternativo das embalagens de papelo ondulado e de plstico apontado como a alternativa tcnica mais vivel ainda no logrou conquistar espaos significativos no mercado hortcola interno, o que se justifica, principalmente, pelo custo unitrio mais elevado dessas embalagens. A participao do custo da embalagem no preo do produto final que no caso dos produtos olercolas elevado podem diminuir sensivelmente a lucratividade e, at mesmo, inviabilizar a colocao do produto no mercado. Na olericultura, face ao alto risco e perecibilidade dos produtos, nas pocas de grande oferta os preos tendem a cair drasticamente, elevando o custo relativo das embalagens e, conseqentemente, onerando o custo total de produo, reduzindo a rentabilidade. Uma vez que os preos recebidos pelos produtores apresentam estacionalidade caracterstica (safra e entressafra) e os preos das embalagens no mostram o mesmo comportamento, nas pocas de preos baixos dos produtos, as embalagens oneram substancialmente os custos de produo, podendo ocasionar prejuzos e, at mesmo, inviabilizar a comercializao. A adoo de embalagens de papelo ondulado traria diversos benefcios comercializao de hortigranjeiros, porm, outras modificaes teriam que ser introduzidas na cadeia de suprimento, tais como o transporte em caminhes fechados e frigorificados, os quais garantiriam, simultaneamente, a qualidade e a integridade tanto das mercadorias, quanto das prprias embalagens utilizadas. No mbito do mercado atacadista interno, a medida de maior vulto na padronizao de embalagens de produtos hortcolas constituiu-se na edio da

Portaria MARA n. 127, de 04 de outubro de 1991, que normatizou o uso das embalagens para o acondicionamento, manuseio, transporte, armazenagem e comercializao, visando proteo, conservao e integridade desses gneros. Apesar de todo esse esforo, a padronizao de embalagens no mercado hortigranjeiro no se tornou, ainda, uma realidade no Pas, o que se deveu a fatores como: a) ausncia de fiscalizao efetiva; b) indefinio de aspectos tcnicos importantes das normas (especificao de material e da qualidade mnima exigida),

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e c) desatualizao progressiva frente prpria dinmica caracterstica do mercado hortcola.

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A PRODUO ATUAL DA OLERICULTURA BRASILEIRA

O setor produtivo da olericultura conta com poucos estudos aprofundados que permitam traar um panorama mais amplo das condies de produo e das formas de insero social desse segmento especfico do agronegcio. A anlise sobre o desenvolvimento recente da agricultura brasileira permite observar diversas referncias esparsas produo de hortigranjeiros, geralmente citados como um dos exemplos da pequena produo mercantil moderna. Alm de no muito expressivo numericamente dentro do universo da pequena produo no Brasil, o campesinato horticultor constitui um segmento um tanto atpico do ponto de vista das caracterizaes usuais de anlise da agricultura familiar. MLLER (1982) chega a sugerir que se trata de grande e no de pequena produo. Apesar de as reas cultivadas serem geralmente muito exguas, argumenta, esse segmento se distingue dos demais grupos de pequenos produtores pelo volume de produo (...), capacidade em participar da determinao dos preos pagos e recebidos e, notadamente, (...) pela possibilidade de ampliar o processo de acumulao. Contudo, essa caracterizao est longe de poder ser generalizada para o conjunto dos produtores de hortigranjeiros, que semelhana de outros segmentos da pequena produo, muito diferenciado internamente, seja quanto aos nveis de renda e acumulao, seja quanto ao poder de barganha no mercado. O cultivo de olercolas no Brasil efetuado predominantemente por pequenos estabelecimentos com caractersticas de produo familiar, ainda que moderna. E em geral muito pouco assemelhado ao que se convencionou chamar de cultivo de subsistncia. Sua expanso, nas ltimas dcadas, se relaciona diretamente ao crescimento e diversificao da demanda de produtos alimentcios nos grandes centros urbanos, especialmente So Paulo, Rio de Janeiro e Braslia (LOPES, 1976).

Verduras

Entre todos os grupos de hortalias, as verduras so as que apresentam os maiores nveis de perecibilidade, o que as torna mais suscetveis s perdas quando sujeitas a transportes de longas distncias. Por isso, uma das principais

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caractersticas dessas mercadorias a da manuteno da sua produo em locais mais prximos aos pontos de concentrao do consumo, no tendo esse grupo de hortalias sofrido to acentuadamente os processos de deslocamento do cinturo verde, como foi verificado para os demais alimentos do grupo, notadamente a partir dos anos da dcada de 1970. Ainda devido s suas caractersticas intrnsecas, esse grupo de hortalias detm um nvel muito pequeno de beneficiamento ou processamento agroindustrial, prevalecendo majoritariamente o consumo in natura desses alimentos. As excees a esse caso so representadas principalmente pelas hortalias da famlia das Brssicas (repolho, couve-flor e brcolos, entre outras), as quais se prestam industrializao de picles, chucrute e uma diversidade de formas de preparo de supergelados e congelados, sem, contudo, comporem um mercado de significado econmico expressivo, quando comparado ao dos vegetais frescos. Como tendncia geral, observa-se uma franca expanso do mercado para os produtos minimamente processados e embalados em atmosfera controlada, chamados de fresh cuts. Tais produtos vm tendo aceitao crescente nos mercados de food service, fast food e no consumo institucional, principalmente devido s economias que propicia na utilizao de mo-de-obra e nos espaos de armazenamento e conservao frigorificada. No Brasil, so cultivadas cerca de 35 espcies de verduras de interesse econmico, sendo que poucos itens, tais como alface e repolho, chegam a responder por quase 80% da quantidade total das mercadorias movimentadas neste segmento. Na Regio Metropolitana de Belm (PA), as principais verduras consumidas so: alface, coentro (cheiro-verde), jambu, salsa, cebolinha, couve, chicria e caruru. Devido elevada perecibilidade das hortalias desse grupo e, tambm, o seu ciclo muito curto de produo capaz de gerar respostas rpidas ao estmulo momentneo de preos no mercado a comercializao das verduras se caracteriza por apresentar notveis nveis de perdas, o que, por sua vez, acaba por neutralizar os ganhos econmicos esperados com o aumento da produtividade fsica das culturas. Segundo dados consensualmente harmonizados por tcnicos dos centros de pesquisas da EMBRAPA, as perdas fsicas para as hortalias herbceas (folhas, flores e hastes) chegam a atingir, no Brasil, 40,6% do volume global de produo

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(MAARA, 1993), gerando prejuzos financeiros superiores a US$ 40 milhes anualmente (SAA, 1993). Por serem alimentos normalmente consumidos crus, as verduras detm um mercado bastante suscetvel s questes de natureza sanitria. Em casos de suspeitas de contaminao ambiental, principalmente das guas utilizadas na irrigao, so normais as retraes rpidas e de grandes magnitudes no mercado consumidor, o que gera considerveis perdas e prejuzos aos produtores. Tudo isso aponta para a necessidade de um grande cuidado na manuteno das condies sanitrias e tambm uma preocupao relevante no trato das questes afetas opinio pblica em geral. Uma pesquisa realizada recentemente pelo bilogo Samuel da Luz Borges, da Universidade Federal do Par (UFPA) revelou que a alface, o agrio e o coentro vendido em feiras-livres e supermercados de Belm apresentam grau alarmante de contaminao: todas as amostras avaliadas, colhidas em hortas na Regio Metropolitana ou coletadas em supermercados e feiras-livres da capital

apresentavam cistos, larvas ou ovos de parasitas intestinais. Entre os mais comuns detectados nas amostras estavam a ameba, a girdia e a lombriga. Os exames foram realizados ao longo do ano de 2009 no Laboratrio de Patologia Clnica das Doenas Tropicais da UFPA e os resultados foram publicados em maro de 2010, em forma de trabalho de dissertao de mestrado do bilogo. As amostras foram colhidas entre dezembro de 2008 e novembro de 2009 em cinco feiras de Belm, nas lojas de uma rede de supermercados e em trs hortas fornecedoras do produto na Regio Metropolitana. No laboratrio, Samuel identificou 2.316 formas evolutivas dos enteroparasitas. Destas, ele destacou a presena de 11 mais comuns e graves, alm de caros e parasitas de ces e aves. Na lista das doenas relacionadas aos vermes identificados, a pesquisa destaca as que acometem, sobretudo as crianas, provocando a instalao de quadros de desnutrio e deficincia no desenvolvimento fsico, psicossomtico e social. Entre elas, o pesquisador cita a amebase, a cisticercose (a conhecida solitria) e a enterobase, popularmente conhecida como "tuxina". A pesquisa constatou, ainda, que no h diferena nos nveis de contaminao entre as hortalias comercializadas nas feiras e a que oferecida nos supermercados. A descoberta vai de encontro idia comum de que o tratamento

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dado ao alimento no supermercado influencia no nvel de contaminao, o tornando mais apropriado do que aquele comercializado na feira. Tambm no foram detectadas diferenas considerveis entre as amostras recolhidas nas hortas e as amostras dos postos de venda, o que indica que o problema est na origem do alimento, na horta, principalmente por conta do solo contaminado, por dejetos de animais e at mesmo de humanos. Outros gargalos expressivos para o setor so: a) no adoo de padres de classificao dos produtos para o mercado e b) baixa qualidade das embalagens, as quais no mercado atual se concentram especialmente nos engradados de madeira que normalmente provocam elevadas perdas por danos mecnicos e contaminao microbiolgica.

Legumes

Os legumes constituem-se em um grupo de hortalias de grande importncia econmica e comercial, dada a grande diversidade de espcies que agrega, bem como o expressivo volume anual de produo. Contribuem, tambm, para a sua relevncia a grande disperso geogrfica das reas produtoras em relao aos principais centros de consumo, permitida pela maior resistncia desse grupo de alimentos ao manuseio ps-colheita e s condies gerais prevalecentes no transporte s longas distncias. No Brasil, so cultivadas cerca de 30 espcies de interesse econmico, sendo os principais deles: tomate, cenoura, chuchu, abobrinha, berinjela, pepino, pimento, pimentas diversas e vagem, entre outros. Na Regio Metropolitana de Belm (PA), os principais legumes cultivados so: pimenta, pepino, quiabo e maxixe. Dentro do grupo das hortalias, os legumes apresentam uma situao mercadolgica um pouco mais favorvel no tocante normatizao da padronizao e da classificao de seus produtos e embalagens do que as verduras.

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Razes, Tubrculos, Rizomas e Similares17

As principais hortalias do grupo cultivadas e consumidas no Brasil so: batata, cebola, alho, cenoura, mandioca-de-mesa (macaxeira ou aipim), batata-

doce, car, inhame, taro, nabo e rabanete. Na Regio Metropolitana de Belm (PA) os produtos deste grupo mais largamente cultivados so, pela ordem de importncia econmica: macaxeira, nabo e batata-doce

Mercado de ervas aromticas e especiarias

A demanda crescente do mercado da gastronomia tem estimulado o cultivo de ervas aromticas e de especiarias, favorecendo, inclusive, a formatao de parcerias entre produtores e restaurantes especializados. Estima-se que no Brasil este mercado venha crescendo a taxas de 15% ao ano. Apesar do potencial nacional e da sua rica biodiversidade, o Pas tem pouca representatividade no mercado internacional, no ultrapassando 0,7% de um fluxo de mercadorias que movimenta anualmente US$ 47 bilhes. Praticamente todo o comrcio dividido entre Europa, Estados Unidos da Amrica, sia e frica. O Estado do Paran responde por cerca de 90% da produo nacional, o que representa uma colheita da ordem de 15 mil toneladas anuais. A importncia paranaense se deve s suas condies bastante favorveis de clima e solo. Na atividade daquele Estado esto envolvidas cerca de mil propriedades rurais, as quais cultivam uma rea total de 2,7 mil hectares. As principais espcies cultivadas e consumidas atualmente no Brasil so: alecrim (Rosmarinus sp); azedinha (Rumex acetosa); capuchinha (Trapaeolum majus); cebolinha (Allium shoenosprasum); coentro (Coriandrum sativum); dill (Anetho graveolens); funcho (Foeniculim vulgare); hortel (Mentha spp.); manjerico (Ocimum basilicum); menta (Mentha spp.); organo (Origanum vulgare); poejoNos mercados atacadistas e varejistas em todo o Brasil, produtos como batata, cebola e alho, dada a sua relevncia econmica e quantitativa na comercializao so tratados como grupo independente dos demais legumes. A denominao usual para o grupo a de Produtos Diversos.17

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(Mentha polegium); salsa (Petroselinum sativum); slvia (Salvia off); (Satureja Montana); tomilho (Thymus vulgare);

segurelha

Alm de destinarem-se ao consumo in natura, a maioria das espcies do grupo tambm processada industrialmente. Neste caso, costumam ser destinadas desidratao e liofilizao. Mas, registram-se tambm espcies que podem ser utilizadas para a produo de leos essenciais de largo emprego e interesse industrial, como o caso do hortel, da menta e do manjerico, por exemplo. De acordo com o aroma, os manjerices podem ser classificados em doce, limo, cinamato ou canela, cnfora, anis e cravo. Porm, para as caractersticas morfolgicas da planta o manjerico pode receber uma nomenclatura dependendo do porte, formato da copa, tamanho e colorao da folhagem (Simon, 1995; Perry, 1997). O contedo de leos essenciais pode caracterizar os manjerices em tipo Europeu, Francs ou Doce; Egpcio, Reunio ou Comodoro; Bulgrio, Java ou Cinamato de Metila e Eugenol, sendo o primeiro tipo o que contm principalmente linalol e metil-cavicol. O leo essencial pode ser extrado das folhas e pices com inflorescncias atravs de hidrodestilaes, sendo o leo mais valorizado no mercado o de manjerico tipo Europeu (Simon et al., 1990), cujos principais constituintes so linalol (40,5 a 48,2%) e metil-cavicol (estragol) (28,9 a 31,6%) (Fleischer, 1981; Charles e Simon, 1990). O preo do leo essencial do manjerico doce no mercado internacional atinge valor prximo a US$ 110,00/litro. Esse valor sugere que a implantao da cultura do manjerico doce para a obteno de leo essencial pode ser promissora e uma atividade alternativa para os produtores da regio Nordeste. Para se obter sabor e teor adequados dos princpios que compem os leos essenciais, plantios de vrios tipos de manjerico so realizados na mesma rea. Isto resulta em colheita de misturas de sementes (Simon, 1985)18.

BLANK, Arie F. et al. Caracterizao morfolgica e agronmica de acessos de manjerico e alfavaca. Horticultura brasileira, v.22, n. 1., janeiro-maro de 2004: 113 - 116

18

40

A PRODUO DE HORTALIAS NA REGIO METROPOLITANA DE BELM (PA)

O Diagnstico da Cadeia Produtiva de Hortalias contempla quatro (4) municpios componentes da Regio Metropolitana de Belm (PA), a saber:

Ananindeua; Benevides; Marituba; Santo Antonio do Tau.

Neste conjunto de cidades, o universo de produtores de hortalias considerado, segundo o Censo Agropecurio do IBGE de 2006, de 209, conforme discriminado na tabela abaixo:

TABELA 1. ESTADO DO PAR/ MUNICPIOS SELECIONADOS. Nmero de estabelecimentos dedicados olericultura, 2006.

Municpio

Nmero de estabelecimentos dedicados Olericultura

Ananindeua Benevides Marituba Santo Antonio do Tau TOTAL

27 6 24 152 209

Fonte dos dados bsicos: IBGE Censo Agropecurio de 2006 (ltimo dado disponvel). Elaborao: Hrtica Consultoria e Treinamento.

Na regio do entorno de Belm, o cinturo verde est concentrado principalmente nos municpios de Santa Isabel do Par e em Santo Antonio do Tau. A regio chega a ser praticamente auto-suficiente na produo de alface,

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salsa, cebolinha, chicria, coentro (cheiro-verde), jambu e couve, os itens mais consumidos do grupo. Segundo o IBGE (Censo Agropecurio de 2006), em 2006 os principais municpios da regio comercializaram um total de R$ 13.668.000,00 em hortalias de sua produo. A alface foi o principal produto, com uma comercializao global de R$ 5.424.000,00, equivalente a 39,68% do valor total transacionado. A essa hortalia seguiram: coentro (26,11%); cebolinha (25,94%); chicria (19,43%); salsa (17,16%); pimenta (7,67%); couve (6,87%), caruru (5,66%) e pepino (4,22%), entre outros. Na Regio Metropolitana de Belm (PA), os legumes cultivados de maior relevncia socioeconmica so: pimentas diversas, nabo, tomate, abbora, quiabo, maxixe e pepino. O abastecimento da Regio Metropolitana de Belm (PA) em legumes dependente da oferta de produtos cultivados em outras regies brasileiras do Sudeste especialmente So Paulo e Minas Gerais , do Nordeste, principalmente Pernambuco, Cear, Bahia e Maranho, tambm do Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul. Os principais produtos importados dessas fontes de suprimento so: tomate, batata, cebola, cenoura, repolho, berinjela e chuchu.

Aspectos Histricos da Olericultura na Regio Metropolitana de Belm (PA)

A introduo da olericultura e do consumo de hortalias na Regio Metropolitana de Belm (PA) est historicamente associada imigrao nipnica ocorrida no Estado, particularmente no perodo entre 1929 e 1937 - quando chegaram ao Par 2.100 japoneses. O destino principal desses imigrantes foi a colnia de Acar, atual municpio de Tom-Au19. A Companhia de Colonizao da Amrica Latina (Nantaku), responsvel pelo assentamento desses imigrantes japoneses no Par, tinha a inteno de

A propsito da imigrao japonesa no Par, ver: HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. A imigrao japonesa na Amaznia (1915-1945). In EMBRAPA. Amaznia meio ambiente e desenvolvimento agrcola. Braslia: EMBRAPA, 1988; Uma epopia-moderna 80 anos de imigrao japonesa no Brasil. So Paulo: Hucitec e Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, SP: 1992; TSUNODA, Fusako. Cano da Amaznia uma saga na selva. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1988.

19

42

desenvolver a cultura do cacau no Estado; tentativa, essa, logo fracassada. Em 1935, a Companhia se retirou da regio de Acar e, tambm, foram fechadas as estaes experimentais de Aaizal, Monte Alegre e Castanhal. Para os imigrantes, a alternativa que se apresentou para a sua sobrevivncia foi o cultivo de espcies regionais, ao qual se agregou, tambm, o grande esforo em introduzir o consumo das hortalias junto populao de Belm e regio. Vrias iniciativas foram feitas para tornar conhecidos os tomates, berinjelas, rabanetes, pepinos e outros legumes produzidos na colnia de Acar, a partir das sementes trazidas na bagagem desses primeiros imigrantes nipnicos. Os imigrantes contaram com a ajuda significativa do conhecido conde Koma e sua esposa inglesa May, que no pouparam esforos na preparao e oferta, aos amigos da sociedade local, de almoos e jantares elaborados com essas hortalias. A pimenta do reino veio, a partir de 1946 - com a subida das cotaes do produto no mercado internacional -, a representar a principal alternativa econmica para os agricultores imigrantes. A espcie, que se tornou conhecida como o diamante negro da Amaznia passou, ento, a ser disseminada por toda a regio e, em 1980, no auge da sua expanso, chegou a somar mais de 20 milhes de ps. Antes dela, a saga dos imigrantes havia passado por um longo e penoso processo de tentativas de explorao comercial da juta no Par.

Brasil, Regio Norte, Estado do Par e Municpios Selecionados Produtos da Horticultura Quantidade vendida (toneladas) e Valor da Produo em R$ mil 2006Municpios Selecionados Par Total SelecionadosQuantidade vendida Valor da produo (Mil Reais) Quantidade vendida Quantidade vendida Quantidade vendida Quantidade vendida Valor da produo (Mil Reais) Valor da produo (Mil Reais) Valor da produo (Mil Reais) Valor da produo (Mil Reais)

Brasil Ananindeua Benevides Marituba Santa Isabel do ParValor da produo (Mil Reais) Quantidade vendida Valor da produo (Mil Reais)

Regio Norte

Produtos da horticultura

Santo Antnio do TauQuantidade vendida Valor da produo (Mil Reais)

Quantidade vendida

Valor da produo (Mil Reais)

Quantidade vendida

Abobrinha

135 441 1 3 54 173 X X X X

-

-

-

X

X

Agrio

33 15

33 15

13 19

Alecrim

Alface

Almeiro

794 1 4 X

Batata-baroa (mandioquinha)

Batata-doce

Berinjela

-

-

X -

X -

X

X

Caruru

Cebolinha

Chicria

234 11 70 162 11 X X 247 30 8 4 10 10 X 26 8

123 34 87

1 2 0

1 3 0

30 12 3 X

12 17 5 X 35 17 X

953 859 361

Chuchu

Coentro

Couve

685 294

Couve-flor

Espinafre

Hortel

27 9 X X X X -

Jil

Manjerico

Maxixe

X -

X -

-

X -

Milho verde (espiga)

1 -

1 X -

2 8 X

Mostarda (semente)

Nabo

Pepino

6

10 X

X X

X

X 1 2

X 2 3 -

Pimenta

Pimento (Toneladas)

Quiabo

182 54 22 83 X 22 51 X X 3 6 40 195

Rabanete

Repolho

Rcula

X X -

X X -

X X X

X X X X

X

Salsa

Tomate (estaqueado)

Vagem (feijo vagem) Mudas e outras formas de propagao (produzidas para plantio) (Mil unidades)

154.820 99.699 287 515.135 31.212 42.387 258.821 77.682 2.078 96.688 25.415 267.318 103.769 91.507 139.511 34.096 3.985 88.656 1.136 30.845 218.759 4.073 4.944 211.503 18.228 241.376 113.009 10.288 369.048 25.418 28.470 917.361 54.744

88.269 63.636 818 440.055 24.039 25.274 97.125 48.145 1.165 100.502 22.860 101.238 121.313 95.817 94.180 25.288 6.430 55.180 1.827 20.728 124.120 9.221 2.487 112.021 29.774 180.220 99.249 9.015 173.756 36.998 36.303 698.196 48.438

1.822 148 1 10.018 197 141 1.397 451 1.946 8.285 3.702 633 6.518 4.171 679 102 45 1.420 16 3.869 7.047 28 6 7.533 4.136 1.937 2.319 39 1.274 357 2.945 7.346 1.425

1.673 255 3 15.658 267 150 1.426 394 1.064 12.135 3.862 273 13.296 7.014 532 111 78 1.639 23 5.336 6.553 71 15 5.617 6.530 3.022 2.573 55 1.117 621 2.848 7.737 1.533

420 48 1 6.719 26 115 138 145 1.904 5.133 3.216 12 4.369 2.107 234 87 19 402 7 2.079 4.007 18 5 3.837 2.017 505 1.180 4 302 78 2.752 1.612 96

472 76 3 9.187 88 105 160 138 1.033 5.653 2.982 13 7.780 3.486 198 86 27 722 11 3.123 4.190 52 13 2.305 2.933 892 1.153 9 348 189 2.510 1.817 136

X 4.552 1 X 4 X 1.499 3.834 2.999 X 2.423 588 X 59 9 X 2 125 X X X 2.013 1.048 22 169 X X 40 2.663 X 19 X

13 19 X 5.424 3 X 1 X 773 3.545 2.656 X 3.569 939 X 63 14 X 6 129 X X X 577 1.039 17 141 X X 92 2.345 X 21 X

14

X 1.308 3 X 1 X 499 876 714 X 1.576 457 X 53 14 6 10 X X X 108 78 17 62 X 92 475 X 16

3.568 X 281 2.950 2.565 X 1.542 271 X 32 X 116 X X 1.831 987 X 84 X 2.443 5

3.499 X 138 2.615 1.850 X 1.701 425 X 10 X 118 X X 469 949 X 76 X 1.813 5

124.971

84.493

1.749

1.053

1.729

1.038

X

X

-

-

-

-

-

-

X

X

-

-

Fonte: IBGE - Censo Agropecurio Nota: - Os dados com o caracter X, apontam que a produo e seu valor no tem quantidade significativa . Elaborao: Hrtica Consultoria e Treinamento

43

Brasil, Regio Norte, Estado do Par e Municpios Selecionados Produtos da Horticultura Quantidade produzida e vendida (toneladas) 2006Municpios Selecionados

BrasilTotal SelecionadosQuantidade produzida vendida produzida vendida produzida vendida produzida vendida produzida Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade Quantidade vendida produzida vendida Quantidade Quantidade

Norte

Par

Ananindeua

Benevides

Marituba

Santa Isabel do ParQuantidade vendida

Produtos da horticultura

Santo Antnio do TauQuantidade produzida Quantidade vendida

Quantidade

Quantidade

Quantidade

produzida

vendida

produzida

Abobrinha

Agrio

43 15 135 135 1 1 55 54

33 15

43 15 X 804 1 X 4 X X X X

33 15

Alecrim

-

-

-

-

X X -

X X -

794 1 4

Alface

Almeiro

Batata baroa (mandioquinha)

Batata-doce

Berinjela

-

-

X -

X -

X

X

Caruru

Cebolinha

Chicria

234 11 70 162 11 162 11 8 4 8 4

234 11 70

1 2 0

1 2 0 X

30 12 3 X 26 9

30 12 3 X 26 8 X

957 860 361 X 686 303 X 27 9 1 1 3 9 -

953 859 361

Chuchu

Coentro

Couve

685 294

Couve-flor

Espinafre

Hortel

27 9

Jil

Manjerico

X X -

X X -

Maxixe

2 8

Milho Verde (espiga)

Mostarda (semente)

Nabo

X X X 1 2 2 X X X X 1

X X X

Pepino

X X 6

X

X

Pimenta

3.568 X 281 2.950 2.565 X 1.542 271 X 32 X 117 X X 1.831 987 X 84 X X 22 22 X 3 3 191 54 22 84 182 54 22 X 83

3568 X 281 2950 2565 X 1542 271 X 32 X 116 X X 1831 987 84 -

Pimento

Quiabo

Rabanete

Repolho

Rcula

X X -

X X 6 X X -

X X X X X

X X X -

-

-

Salsa

Tomate (estaqueado)

Vagem (feijo vagem) Mudas e outras formas de propagao (produzidas para plantio) (Mil unidades