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    2PROJETO AGRONMICO DAIRRIGAO LOCALIZADA

    Antes da realizao do projeto hidrulico do sistema de irrigao,

    necessrio conhecer as caractersticas agronmicas que este sistema ter deatender, ou seja, a quantidade de gua que dever ser aplicada por irrigao,o intervalo entre as irrigaes, a disposio e o nmero de emissores porplanta, entre outras.

    2.1 Clculo da Necessidade de gua

    Para efeito de projeto, geralmente interessa conhecer a quantidadede gua necessria cultura na poca de sua maior demanda, visto que

    nesta poca o sistema dever ser capaz de atender a demanda sem prejuzopara a planta. Fora da demanda de pico, o tempo de funcionamento dosistema alterado para que no aplique gua em excesso; caracterizando-se desta forma, duas situaes definidas: a de projeto e a de manejo dairrigao durante o ciclo da cultura, quando esta for anual, ou durante o ano,quando esta for perene.

    Para qualquer sistema de irrigao, o importante para projeto oconhecimento da evapotranspirao da cultura objeto deste projeto. Vriasso as formas de clculo da evapotranspirao de uma cultura; desde os

    resultados de um balano hdrico real do solo at o emprego de inmerasequaes empricas com base em dados climticos do local de interesse. Amaneira mais difundida de clculo, baseia-se na determinao daEvapotranspirao de Referncia (Eto) e no coeficiente de cultura (Kc)referente ao estdio de desenvolvimento desta. A Eto muitas vezes calculada por equaes, com base em dados climticos mdios de uma sriede pelo menos trinta anos, ou mesmo estimada a partir da evaporao de umTanque Classe A (ECA), usando-se coeficientes (Kp) os quais so variveisdependendo das condies climticas e da exposio do tanque. Maiores

    detalhes do clculo da Eto, valores de Kc e Kp foram apresentados nomdulo Relao gua-Solo-Planta-Atmosfera, integrante deste curso.

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    Considerando-se que a irrigao localizada molha apenas parte da reacultivada, tem-se difundido que uma das maiores vantagens desta irrigao a economia de gua; entretanto a economia na evapotranspirao pequena visto que h uma reduo na evaporao direta da superfcie mas

    ocorre um acrscimo na transpirao da planta. Tal economia se devebasicamente diminuio das perdas ocorridas durante o transporte eaplicao da gua em outros mtodos de irrigao.

    Para o clculo da lmina de gua necessria irrigao, Pizarro (1996)apresenta o fluxograma reproduzido na Figura 2.1. Neste fluxograma apresentado os coeficientes de localizao e de correes por condieslocais os quais geralmente no so usados para clculo da lmina de guanecessria em outros mtodos de irrigao. A seguir, ser descrito aimportncia de uso destes coeficientes.

    2.1.1 Coeficiente de localizao (Kl)

    Este coeficiente utilizado com o objetivo de corrigir aevapotranspirao da cultura devido ao efeito da localizao da gua.Numerosos tm sido os procedimentos adotados para esta correo. Aqui,apresenta-se um dos procedimentos bastante utilizados, o qual foirecomendado por Keller (1978) e que se baseia na frao da reasombreada (A), a qual definida como a frao da superfcie do solo

    sombreada pela cobertura vegetal ao meio dia, no solstcio de vero, emrelao superfcie total cultivada. Na prtica, considera-se a superfciesombreada por uma planta isolada como sendo quela resultante daprojeo da copa sobre o terreno. Neste caso, a frao da rea sombreada(A) dada pela diviso desta pela rea teoricamente explorada pela planta(rea dada pelo espaamento da cultura).

    O procedimento recomendado por Keller (1978) para clculo docoeficiente de localizao (Kl), conhecendo-se a frao da rea sombreada(A), est apresentado na equao 2.1.

    Kl = A + 0,15 (1-A) eq. 2.1

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    FIGURA 2.1: Fluxograma para clculo da lmina bruta de irrigao, adaptadode Pizarro (1996).

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    2.1.2 Correo devido s condies climticas (Kcl)

    De acordo com Pizarro(1996), citando recomendao de HernndezAbreu, este coeficiente deve ser da ordem de 1,15 a 1,2; isto porque quando

    a Eto calculada com base em dados mdios do perodo, tambm aevapotranspirao da cultura (Etc) ser um dado mdio, o que quer dizerque aproximadamente na metade dos anos o valor calculado seriainsuficiente. Alm dessa variao anual, existem variaes dirias, de formaque sendo a Eto calculada com base em dados mensais, podem ocorrer diascom necessidades maiores que as mdias mensais, e este coeficiente levaisto em conta, elevando-se o valor da evapotranspirao calculada.

    2.1.3 Correo devido a variaes por adveco (Kad)

    De acordo com Doorenbos e Pruitt (1977) esta correo depende dotamanho da rea irrigada e, para calcular o valor do coeficiente de correoestes autores apresentam um grfico correo versus tamanho da reacultivada(ha) para trs condies de plantas, o qual foi reproduzido na Figura2.2.

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    FIGURA 2.2: Fator de correo da evapotranspirao em funo dotamanho da rea irrigada (Doorenbos e Pruitt, 1977).

    2.1.4 Lmina Lquida de Irrigao (LLI)

    Uma vez calculado os coeficientes de correo a evapotranspiraocorrigida para as condies da irrigao localizada pode ser calculada deacordo com o apresentado na equao 2.2 e a lmina lquida de irrigaopode ser calculada de acordo com a equao 2.3.

    Etcl = Eto .Kc. Kl. Kcl. Kad eq. 2.2

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    LLI = Etcl - Pe - AC - A eq. 2.3

    Em que:

    Etcl = Evapotranspirao para a condio de irrigao localizada

    Eto = Evapotranspirao de Referncia

    Kc = Coeficiente de cultura

    Kl = Coeficiente de localizao

    Kcl = Coeficiente de correo devido s variaes climticas

    Kad = Coeficiente de correo devido adveco

    LLI = Lmina lquida de irrigao

    Pe = Precipitao efetivaAC = Asceno capilar

    A = Variao de armazenamento no solo

    Mesmo que estatisticamente exista probabilidade de ocorrncia dedeterminada chuva efetiva no ms de maior demanda da cultura, geralmenteesta no considerada, tendo em vista o pequeno intervalo entre as irrigaes(Pe = 0). Quanto asceno capilar esta pode ser importante nos casos em queo lenol fretico esteja situado prximo superfcie. Para este clculo o leitordever recorrer ao Captulo 3 do mdulo Relao gua-Solo-Planta-Atmosfera,deste Curso. Quando o lenol fretico situa a mais de um metro da superfcie,geralmente considera-se AC igual a zero. A variao de armazenamento degua do solo, para o caso da necessidade de pico que a que se usa no clculodo projeto de irrigao, no deve ser considerada(A=0), uma vez que se pretendemanter o potencial matricial do solo prximo a zero. Caso permita que anecessidade das plantas seja suprida com gua anteriormente armazenada no solo,tanto a umidade quanto o potencial matricial iro diminuir podendo distanciar dotimo desejado.

    Dessa forma, na maioria dos casos, a equao 2.3 reduzir para acondio expressa na equao 2.4.

    LLI = Etcl eq. 2.4

    2.1.5 Lmina Bruta de Irrigao (LBI)

    Para o clculo da lmina bruta de irrigao torna-se necessrio levar

    em conta as perdas de gua na conduo e aplicao da gua, necessidadede aplicao de gua em excesso para promover controle de sais no solo e a

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    falta de uniformidade da irrigao. As perdas de gua na conduo da fonteat a rea a ser irrigada no devem existir visto que a mesma geralmente conduzida em tubulaes. Considerando-se que durante a aplicao nodeve existir escoamento superficial e que a evaporao e mesmo a perda por

    deriva ocasionada pelo vento (microasperso) desprezvel (gua aplicadaembaixo da copa; portanto rea sombreada e protegida), as perdas sereduzem s perdas por percolao (Pp). Assim, a eficincia da Irrigao (Ea)retrata o valor destas perdas.

    Pp = LLI(1-Ea) eq. 2.5

    Em alguns casos a perda de gua por percolao no suficiente paramanter a salinidade do solo em nveis exigidos pela cultura e, nestes casos,

    torna-se necessrio aplicar gua em excesso para promover a lavagem de saisdo solo. O clculo da lmina de drenagem (Ld) necessria para manter asalinidade do solo nos nveis exigidos pela cultura, segundo Pizarro(1996)pode ser feito de acordo com a equao 2.6.

    Ld = CEi/2CEe eq. 2.6

    Em que:

    Ld = Lmina de drenagem necessria para manter a salinidade nosnveis desejveis para a cultura;

    CEi = Condutividade eltrica (dS/m) da gua de irrigao;

    CEe = Condutividade eltrica (dS/m) do extraio de saturao do solo,

    mximo aceitvel para a cultura no nvel de produtividade desejado.

    Caso a lmina perdida por percolao seja maior do que Ld, esta suficiente para manter a salinidade abaixo do nvel requerido, no sendonecessrio acrescentar gua de drenagem. Caso contrrio (Ld > Pp),

    necessrio acrescentar lmina lquida de irrigao a Ld calculada parasatisfazer a exigncia da cultura quanto salinidade do extrato de saturaodo solo.

    Na Tabela 2.1 apresenta-se a tolerncia salinidade de algumasculturas e seu rendimento potencial em funo da salinidade do solo ou dagua, conforme apresentado por Ayers (1991).

    O valor resultante da soma LLI + Pp ou LLI + Ld no equivale s

    necessidades totais da irrigao, visto que preciso levar em conta adesuniformidade da irrigao ocasionada pela diferena existente entre os

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    emissores, devido ao processo de fabricao e tambm pelas condieshidrulicas de operao, provocando aplicao de quantidades diferentes de guana rea irrigada. Para efeito de projeto, se estabelece a condio de que a parteda rea que recebe menos gua deva receber no mnimo uma certa frao da

    lmina mdia requerida. A esta frao tem-se denominado "Coeficiente deUniformidade (CU)". Na prtica, considera-se que a frao da rea menos irrigadadeva receber a lmina mdia requerida resultante da soma anteriormente referida(LLI+Pp ou LLI+Ld, a que for maior).Assim, pode-se resumir o clculo da LBIconforme apresentado na equao 2.7.

    LBI = LLI / (1-K) CU eq. 2.7

    Em que:

    LBI = Lmina bruta de irrigao;

    LLI = Lmina lquida de irrigao;

    CU = Coeficiente de uniformidade desejado;

    K = 1 - Ea ou K = Ld, o que for maior.

    Para o clculo de K, Keller (1978) recomenda os valores de Eaapresentados na Tabela 2.2.

    O coeficiente de Uniformidade deve ser fixado pelo projetista, porm bom lembrar que quanto maior for CU mais uniforme ser a irrigao e menor sera LBI, entretanto maior ser o custo da instalao. Valores de CU recomendadospara projeto, conforme Projeto de Norma 12:02.08-022 da ABNT, soapresentados na Tabela 2.3.

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    TABELA 2.1: Tolerncia salinidade das culturas

    selecionadas e seu rendimento potencial emfuno da salinidade do solo ou da gua1.

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    1. Fonte Maas & Hoffman (1977) e Maas (1984). Os valores devero serconsiderados apenas como de tolerncia relativa entre grupos de culturas.Os valores de tolerncia absoluta variam com o clima, condies desolo e prticas culturais. Nos solos com alto teor de gesso, as plantaspodem tolerar aproximadamente 2 dS/m de salinidade do solo (CEes)acima dos valores de tolerncia indicados. No entanto, a salinidade dagua permanece igual como mostrado na tabela.

    2. CEes, significa salinidade da zona radicular medida em condutividadeeltrica no extrato de saturao do solo, medida em deciSiemens pormetro (dS/m) a 25C. CEa significa condutividade el trica da gua deirrigao em dS/m. A relao entre salinidade do solo e da gua (CEes= 1,5 CEa) supe frao de lixiviao equivalente a 15 - 20% e ummodelo de uso da gua 40-30-20-10 (padro de extrao normal).Estas suposies foram usadas para desenvolver as diretirizes da

    Tabela 1.

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    3. O rendimento potencial zero implica a salinidade mxima terica(CEes), com a qual cessa o crescimento e desenvolvimento da planta.

    4. Cevada e trigo so menos tolerantes durante a germinao e oestgio de plntula. CEes no se deve ultrapassar 4-5 dS/m na

    camada arvel do solo durante este perodo.5. Beterraba mais sensvel durante a germinao. CEes no deve

    ultrapassar 3 dS/m nesta fase para as beterrabas ornamentais eaucareiras.

    6. As culturas desenvolvidas comercialmente que so mais precoces,podem ser menos tolerantes.

    7. Tolerncia reportada a mdia de vrias variedades de capim-bermjuda. As cultivares "Suwanne" e "Coastal" so cerca de 20% maistolerantes enquanto as cultivares "comum" e "Greenfield" so 20% menos

    tolerantes.8. O trevo de folha larga parece menos tolerante em comparao ao

    de folha estreita.

    9. Tolerncia reportada a mdia para "Boer", "Wilman", "Sand" e"Weeping". A "Lehman" parece ser 50% mais tolerante.

    10. Esses dados so aplicveis quando os porta enxertos no acumulamNa* ou Cl" rapidamente ou quando esses ons no predominam no

    solo. Se um dos ons predominar, ver a discusso sobre toxidade naSeco 4.

    11. A avaliao da tolerncia baseada no crescimento da rvore e nosobre seus rendimentos.

    TABELA 2.2: Valores de Ea recomendados por Keller (1978)para Climas midos.

    Profundidade Texturade razes (m) Muito porosa Arenosa Mdia Fina

    (cascalho)

    1,50 0,80 0,90 0,95 1,001 Estes valores podem ser diminudos em 0,05 para o caso da microasperso.

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    TABELA 2.3: Valores de Coeficiente de Uniformidade (CU)recomendados pela ABNT - Projeto de Norma12:02.08-0221

    Tipo e condio de

    emisso

    Topografia, gradiente de

    declive CU-%Puntual, culturas com

    espaamento superior a 2mUniforme, inferior a 2%

    Ondulada, superior a 2%

    85-9075-85

    Puntual, culturas comespaamento inferior a 2m

    Uniforme, inferior a 2%

    Ondulada, superior a 2%

    80-85

    70-80Linear e microasperso Uniforme, inferior a 2%

    Ondulada, superior a 2%

    75-8065-75

    1 Estes valores podem variar em funo de justificativa econmica.

    2.1.6 Volume de gua a ser aplicado por planta

    Nos casos em que a irrigao ser feita para culturas de grandeespaamento como o caso de frutferas, pode ser necessrio o clculo dovolume de gua a aplicar em plantas individuais. Assim sendo e uma vezdeterminado a LBI o volume de gua a ser aplicado por planta em litrospode ser obtido multiplicando-se a LBI em milmetros pela rea doespaamento da planta em metros quadrado como apresentado na equao

    2.8.

    V = LBI. Aesp eq. 2.8

    Em que:

    V = Volume de gua a ser aplicado por planta (L)

    LBI = Lmina bruta de irrigao para o perodo considerado (mm)

    Aesp = rea disponvel para uma planta (m2)

    Exemplo:

    Como exemplo apresenta-se a seguir dados fictcios para clculo daquantidade de gua necessria irrigao.

    Dados:

    Etc no ms de maior demanda da cultura: 5,0mm/dia Cultura: laranjeira

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    Espaamento da cultura: 8,0m x 4,0m

    rea de projeo da copa: 19,2 m2

    Profundidade de razes: 1,1m

    rea cultivada. 10 ha Solo de textura mdia

    Topografia ondulada com declividade superior a 2%

    Condutividade eltrica da gua de irrigao: 0,2 dS/m

    Resoluo:

    a) Clculo do coeficiente de localizao(KI)

    Como a rea de projeo da copa de 19,2 m2

    e a rea do espaamentoda cultura de 32m2 (8x4) a frao de rea sombreada A igual a 0,6(19,2/32) e o coeficiente de localizao ser:

    Kl = 0,6+ 0,15(1-0,6) = 0,66

    b) Clculo do coeficiente de correo devido condiesclimticas(Kcl)

    Considerando-se que a Eto foi obtida com base em dados mdiosmensais, ser adotado o valor de 1,2 para este coeficiente.

    c) Clculo do coeficiente de correo devido a adveco (Kad)

    De acordo com a Figura 2.2 e considerando-se uma rea cultivada de 10 hao valor de Kad retirado do grfico de 0,9.

    d) Clculo da evapotranspirao para a condio da irrigao localizada

    (Etrl)Etcl = 5 . 0,66 . 1,2 . 0,9 = 3,6mm/dia

    e) Clculo da lmina lquida de irrigao (LLI)

    Desconsiderando-se a precipitao efetiva entre as irrigaes, bem comoa asceno capilar e a variao de armazenamento no solo, ento tem-se:

    LLI = Etcl = 3,6mm/dia

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    f) Clculo da lmina bruta de

    irrigao(LBI)

    Conforme a equao 2.7 a LBI ser

    dada por:

    LBI = LLI/(1-K). CU

    O valor de K definido com base na eficincia da irrigao(Ea) ou na lminade drenagem(Ld), portanto preciso analisar estes dois valores.

    Com base na Tabela 2.2 e considerando-se que a profundidade dosistema radicular da cultura de 1,1 m, cultivada em um solo de textura mdia,ento o valor de Ea ser igual a 0,9 e, neste caso, tem-se:

    K=1-Ea = 1-0,9 = 0,1

    A lmina de drenagem necessria para manter a salinidade do solo de formaa no prejudicar a produo da cultura pode ser calculada pela equao 2.6. Paraisto, necessrio verificar o valor da CEe que deve ser mantida no solo.

    Pelos dados apresentados na Tabela 2.1 para a cultura da laranjeira, verifica-se que necessrio manter a CEe no mximo igual a 1,7 dS/m para 100% deprodutividade e , considerando-se que a gua de irrigao tem uma condutividadeeltrica de 0,2 dS/m, tem-se:

    Ld = CEi / 2CEe = 0,2 / 2. 1,7 = 0,06

    Portanto o valor de K a ser usado na equao 2.7 ser 0,1 visto que apenas a

    gua de percolao suficiente para manter a salinidade nos nveis exigidos.Com base na Tabela 2.3 e considerando-se a topografia ondulada com

    declividade superior a 2%e ainda que ser usado um sistema de microaspersopara a irrigao, verifica-se que o valor de CU recomendado pela ABNT pode variarde 65 a 75%. Ser adotado aqui 75%. Dessa forma a LBl ser:

    LBI = 3,6 / (1 - 0,1). 0,75 = 5,3 mm/dia

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    h) Clculo do volume de gua a ser aplicado por planta

    (V) Pela equao 2.8, tem-se:

    V = LBl. Aesp = 5,3 . 32 = 169,6 L/dia

    Para satisfazer esta aplicao a vazo contnua necessria ser

    de:

    Qc = (5,3 . 10000) / (24 . 3600) = 0,61 L/s.ha

    2.2 Turno de Rega (TR)

    Na irrigao localizada, tem-se como princpio manter o solo com altopotencial hdrico na regio radicular e, por isto, o turno de rega semprepequeno nesta modalidade de irrigao, existindo situaes de mais de umairrigao por dia, ou seja, TR menor do que um dia. Isto acontece principalmente emirrigaes de viveiro de mudas e em casas de vegetao. Nestes casos, o sistemaexige um certo automatismo para facilitar a operao do mesmo. Na prtica,geralmente o TR adotado como sendo um valor menor do que quatro dias. O quetem que ser respeitado a mxima capacidade de armazenamento do solo, de formaque a lmina de gua aplicada (varivel com o TR adotado) no pode superar acapacidade de armazenamento deste solo.

    Pizarro (1996) sugere os seguintes valores de turno de rega mximo:

    Textura TR mximo (dias)

    Leve 3

    Mdia 4

    Pesada 5

    A lmina mxima de gua que pode ser aplicada em uma irrigao dependedo tamanho da rea que ser molhada pelo sistema. Por sua vez, a rea molhadadepende do nmero de emissores por planta e de sua disposio no campo.

    A LLI dependente do TR adotado conforme apresentado na equao 2.9

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    LLI = Etcl.TR eq. 2.9

    A maior LLI ser dependente da capacidade de armazenamento do soloconforme a equao 2.10.

    LLI (cc- ea). z . P eq. 2.10

    Em que:

    LLI = Lmina lquida de irrigao (mm);

    cc = Umidade do solo na capacidade de campo

    (cm3/cm3);

    a = Umidade do solo no momento da irrigao

    (cm3/cm3);

    z = Profundidade do solo que se deseja irrigar(mm);

    P = Frao da superfcie molhada (decimal).

    Para efeito de projeto necessrio estabelecer um mnimo de volume de soloa ser umedecido. No entanto, no existe uma definio de qual volume dever serumedecido em funo da cultura irrigada. De maneira geral, tem-se consideradoque irrigando de 30 a 40% suficiente.

    Na prtica, o conceito de volume de solo molhado tem sido substitudo por

    Porcentagem de Superfcie Molhada(P) que a relao entre a rea molhadapelos emissores e a rea total cultivada, expressa em porcentagem.

    Keller e Karmeli (1975) recomendam, no mnimo, valores de P de 20% e33% para regies de clima mido e de clima rido, respectivamente.

    A definio de P, determina a maior lmina de gua que poder seraplicada (eq. 2.10) e, por consequncia, o maior turno de rega possvel de seradotado. Maior valor de P aumenta a segurana do sistema de irrigao nocaso de ocorrncia de alguma falha que no permita efetuar a irrigaocomo programada; no entanto ao aumentar P aumenta-se o custo dosistema. Quanto maior for o TR, maior ser o risco no caso de se adotar Pmnimo.

    2.2.1 rea molhada por um emissor

    A rea molhada por um microaspersor ou um difusor facilmentedeterminada com base no alcance do jato deste emissor ou at mesmo combase no perfil de distribuio de gua do mesmo, fornecido pelo catlogo do

    fabricante, uma vez que o solo no influenciar neste alcance. J no casodos gotejadores ou das tubulaes porosas a rea molhada por um emissor

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    ou unidade de comprimento do tubo depende do movimento lateral da guano solo. A parte de solo umedecida por um emissor puntual denominada debulbo mido e quando se tem emissores lineares ou mesmo emissorespuntuais com pequeno espaamento, o solo umedecido forma um cilindro cuja

    seo transversal toma a forma do bulbo mido. A Figura 2.3 mostra oesquema de um bulbo mido para um solo de textura fina.

    FIGURA 2.3: Esquema de um bulbo mido em um solo detextura fina.

    No caso de gotejadores e tubos porosos, a forma do bulbo mido afetada por vrios fatores. Os principais so: tipo de solo, estratificao dosolo, vazo do emissor e volume de gua aplicado pelo emissor. O efeito do

    tipo de solo pode ser visto na Figura 2.4 e da estratificao do solo na Figura2.5. Na Figura 2.6, apresenta-se um esquema ilustrativo do efeito da vazodo emissor e do volume aplicado em dois tipos de solos.

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    FIGURA 2.4: Efeito da textura do solo na forma do bulbo mido.

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    FIGURA 2.5: Efeito da estratificao do solo na forma do bulbo mido.

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    FIGURA 2.6: Efeito da vazo do emissor e do volume de gua aplicadona forma do bulbo mido, para dois tipos de solos.

    Em termos quantitativos, a rea molhada por um gotejador pode ser obtida portrs maneiras diferentes, ou seja, empregando frmulas matemticas referentes aomovimento de gua no solo; utilizando algumas tabelas que so apresentadas naliteratura, em funo da textura do solo e da vazo do gotejador ou com base em

    testes de campo realizados no local de interesse.

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    Quanto ao emprego de frmulas, alm de ser um pouco mais complicado doque os outros por exigir conhecimento de algumas caractersticas hdricas as quaisna maioria das vezes no esto disponveis, tambm envolve simulaomatemtica que requer maior conhecimento do tcnico e equipamento de

    informtica compatvel. J as tabelas disponveis na literatura alm de ser umamdia das situaes, baseiam-se na textura e numa determinada lmina deirrigao pr-fixada. Sabe-se que apenas a textura do solo no caracteriza bem omovimento lateral da gua, visto que a estrutura tem uma influncia grande noavano desta gua lateralmente no solo. Assim sendo, o mais aconselhvel arealizao de um teste no local que se deseja fazer a irrigao e levantar osdados para calcular a rea molhada naquela situao particular.

    O teste de campo para avaliao da rea molhada pelo emissor deve serrealizado em condies mais parecido possvel com quelas que se ter aps a

    instalao do equipamento de irrigao. Estes testes so fceis de realizar eno necessita equipamentos caros. Para a realizao do mesmo necessrio teruma idia aproximada das lminas de irrigao e das vazes dos emissores osquais sero utilizados.

    Os equipamentos necessrios so um depsito porttil de gua deaproximadamente 1001 de capacidade, alguns metros de tubo de polietileno e trsemissores para cada volume testado.

    O procedimento para realizao do teste, consiste na conexo dosemissores no tubo de polietileno, num espaamento tal que garanta a no

    interferncia nas reas individuais, ou seja que no tenha sobreposio de reamolhada dos emissores. Esta tubulao ser conectada no depsito de maneira quepossa ser controlado o suprimento de gua para os emissores. Para cada grupo detrs emissores aplica-se o volume de gua desejado, controlando-se o tempo deaplicao. Uma vez aplicado os volumes ou, preferencialmente aps vrios ciclosde umedecimento e secamento, abre-se uma trincheira no solo e, por meio dela,avalia-se o raio de umedecimento a partir do ponto de aplicao e tambm aprofundidade deste umedecimento. O fato de usar trs emissores para tirar umamdia do avano da gua no solo, para aquela situao.

    Caso o tcnico no tenha disponibilidade de emissores para a realizao doteste, este pode ser feito usando qualquer procedimento que simule a vazodesejada e a sada localizada conforme ocorre no gotejador. muito comum usar umrecipiente Mariote para manuteno da presso constante ligado a um tubo depequeno dimetro com regulador de vazo do tipo usado em hospitais paraaplicao de soro.

    Na Figura 2.7, apresenta-se o esquema de teste e as dimenses dobulbo que so objeto de medida. Nota-se que o raio molhado medidoabaixo da superfcie, no local onde ele atinge a maior largura. Geralmente isto

    ocorre na profundidade de 20 a 30 cm.

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    FIGURA 2. 7: Esquema para realizao de teste de campo paradeterminao do bulbo molhado por gotejador e as

    dimenses avaliadas.

    Na fase de projeto, ainda no se definiu o volume de gua que seraplicado, da a necessidade de realizao do teste com vrios volumes, paradepois, com os dados, tomar a deciso mais correta.

    Como exemplo de uso de dados de um teste de campo paradeterminao do bulbo molhado, apresenta-se a seguir o procedimentorecomendado por Pizarro (1996).

    Exemplo:

    Dados:

    Espaamento da cultura: 8 x 4m

    Profundidade radicular (pr): 1,1 0m

    Superfcie molhada: no mnimo 33%

    Turno de rega mximo: 4 dias

    Turno de rega mnimo: 1 dia

    Volume a aplicar por planta por dia: 169,6 L

    Vazo do gotejador a ser usado; 4 L/h

    Resultados do teste de campo para determinao do bulbo molhadocom gotejador de vazo igual a 4 L/h:

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    Resoluo:

    A profundidade atingida pelo bulbo de umedecimento deve ficar entre oslimites estabelecidos na equao 2.11.

    0,9 pr < p < 1,2 pr eq. 2.11

    em que:

    pr = profundidade radicular;p = profundidade do bulbo de umedecimento.

    No exemplo, tem-se:

    0 ,9 .1 ,1

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    em que:

    Ne = Nmero de emissores por planta;Aesp = rea disponvel para uma planta (m2);

    P = Porcentagem de rea molhada (%)Ae = rea molhada por um emissor (m2)

    Com os dados do exemplo, tem-se:

    Ne > (32. 33)/(100. 2,2) >4,8

    Com base no volume a ser aplicado por emissor, no nmero de emissores porplanta e volume total a ser aplicado, o turno de rega pode ser determinado com

    base na equao 2.13.

    TR = (Ne . Ve) / V eq. 2.13

    Para o exemplo, se for utilizado 5 gotejadores por planta (Ne = 5), o turno derega ser:

    TR = ( 5. 28) /169,6 = 0,82 dias

    Para facilidade de manejo da irrigao, foi estabelecido no exemplo que nodeveria trabalhar com turno de rega inferior a 1 dia, por isto este ser o TR adotado.Neste caso, torna-se necessrio avaliar se este TR no provocar perda de guaneste solo. Isto ser verificado a seguir.

    Para TR = 1 dia, Ne = 5 e V = 169,6 Ll /planta x dia-, pela equao 2.13

    tem-se:

    Ve = (1 .169,6)7 5 =33,92 L

    Neste caso, o volume a ser aplicado por gotejador ser de 33,92/ e no 28/conforme o clculo anterior. Dessa forma, interpolando os dados provenientes doteste de campo, obtm-se:

    Ve = 33,92 L r = 0,88m p = 1,31m

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    Portanto mesmo aplicando 33,92 ipor gotejador a profundidade atingida pelobulbo molhado ainda situa dentro dos limites estabelecidos pela equao 2.11(0,99

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    FIGURA 2.8:Representao esquemtica da disposio dos emissores nocampo conforme publicado por PIZARRO (1996).

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    FIGURA 2.9: Esquema representativo de sobreposio dosbulbos de umedecimento ao longo da linha de irrigao.

    Exemplo:

    a) Calcular o espaamento entre gotejadores na linha deirrigao para que haja uma sobreposio de 15% quando o raiodo bulbo molhado for de 0,83m.

    Se = 0,83 (2 - 15/100) = 1,53m

    b) Calcular o espaamento entre gotejadores (Se), oespaamento dentro dos pares de linhas de irrigao (SI) e oespaamento entre pares de linhas de irrigao (S1) e a porcentagem derea molhada (P), para o caso de se usar duas linhas de irrigao porlinha de plantio; considerando-se 4,0 x 1,0m o espaamento da linha dacultura (Sp), r igual a 0,4 m e Ps igual a 25%.

    Para este caso, tem-se a seguinte situao:

    Se = 0,4 (2 - 25/100) = 0,70 m

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    SI = 0,70 m ( para ter a mesma sobreposio entre as linhas)

    S1 = 4,0 - 0,70 = 3,30 m

    P = [(0,7 x 1,5)/(0,7 x 4,0)] x 100 = 37,5% ( a faixa molhada tem largura de

    1,5m 0,7m entre pares + 0,8 m do dimetro molhado)

    c) Calcular o espaamento entre gotejadores na linha deirrigao para o esquema usado por produtores de alface queusam canteiros de 1,2 m de largura com 4 linhas de plantioespaadas de 35 cm e 2 linhas de gotejadores por canteiro;considerando-se P> 50% e raio do bulbo molhado de 40 cm para umgotejador de vazo igual a 2,0 l/h.

    Para r = 0,4 m Ae = 3,14 x 0,42 = 0,5 m2

    Pela eq. 2.12, considerando-se 1 m2 de rea => Ne > (1 x 50 / 100 x 0,5) Ne=1 emissor/m2 o que ser igual a 1 m2/emissor.

    Com o esquema de plantio adotado, a rea de um emissor ser Se x 0,7;portanto,

    Se x 0,7 = 1m2 Se = 1,42 mDesta forma, colocando-se gotejadores espaados de 1,42m na linha e 0,7m

    entre linhas, atende-se a condio de P=50%, porm com o bulbo molhado dogotejador (r = 0,4m) haver rea seca entre gotejadores na linha de irrigao,fazendo com que determinadas plantas no receba gua, fato que no pode seraceito, visto que seria exigido pelo menos 15% de sobreposio do raio molhado aolongo da linha de irrigao. Portanto esta soluo no satisfatria.

    Para Ps = 15%, tem-se:

    Se = 0,4 (2 - 15/100) = 0,74 m

    Neste caso, os gotejadores devero estar separados de ,no mximo, 0,74mo que fornecer um valor para P igual a 100% (todo o canteiro ser molhado).