parecer do procurador eleitoral (1)

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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL – SC Fl. _______ RECURSO ELEITORAL N. 397-92.2012.6.24.0024 CLASSE 30 ASSUNTO: RECURSO ELEITORAL AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO – ABUSO – DE PODER ECONÔMICO – CARGO – PREFEITO – VICE-PREFEITO – ANULAÇÃO DE ELEIÇÃO PEDIDDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA – PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE – PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA – RECURSO NOS AUTOS DA AIJE N. 397-92.2012.6.24.0024 DA 24ª ZONA ELEITORAL / PALHOÇA RECORRENTES: CAMILO NAZARENO PAGANI MARTINS; MILSON JOÃO ESPÍNDOLA RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL MM. Juiz Relator. Trata-se de dois recursos interpostos, respectivamente, um pelo Prefeito, e outro pelo Vice-Prefeito acima nominados em face da sentença proferida pelo Juízo Eleitoral em epígrafe que julgou procedente a Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE proposta pelo Ministério Público da Zona Eleitoral de origem, reconhecendo a prática do abuso de poder econômico e de conduta vedada para que fossem cassados os diplomas dos referidos recorrentes e aplicada multa àquele Prefeito, nos termos do art. 73, IV, c/c §§ 4º, 5º e 11, da Lei n. 9.504/1997, bem como decretada a inelegibilidade do Prefeito apelante pelo prazo de oito anos, conforme previsto no art. 1º, I, ‘d’, da Lei Complementar – LC n. 64/1990, e determinando o cumprimento imediato dessa decisão. Irresignado, após requerer o efeito suspensivo ao presente recurso, o Prefeito recorrente sustentou que não restaram configurados os ilícitos eleitorais acima apontados, razão por que pugnou pelo provimento do apelo para que fosse julgada improcedente a presente ação ou, alternativamente, invocando o princípio da proporcionalidade e razoabilidade, fosse excluída a cassação do respectivo diploma e, caso mantida a multa em questão, requereu a redução do valor desta para o valor mínimo legal pertinente. Em sede de contrarrazões àquele recurso, o recorrido pugnou pelo desprovimento deste.

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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL – SC

Fl._______

RECURSO ELEITORAL N. 397-92.2012.6.24.0024 – CLASSE 30ASSUNTO: RECURSO ELEITORAL – AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL –CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO –ABUSO – DE PODER ECONÔMICO – CARGO –PREFEITO – VICE-PREFEITO – ANULAÇÃO DEELEIÇÃO – PEDIDDO DE CASSAÇÃO DEDIPLOMA – PEDIDO DE DECLARAÇÃO DEINELEGIBILIDADE – PEDIDO DE APLICAÇÃODE MULTA – RECURSO NOS AUTOS DA AIJE N.397-92.2012.6.24.0024 DA 24ª ZONA ELEITORAL /PALHOÇA

RECORRENTES: CAMILO NAZARENO PAGANI MARTINS;MILSON JOÃO ESPÍNDOLA

RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

MM. Juiz Relator.

Trata-se de dois recursos interpostos, respectivamente, umpelo Prefeito, e outro pelo Vice-Prefeito acima nominados em face da sentençaproferida pelo Juízo Eleitoral em epígrafe que julgou procedente a Ação deInvestigação Judicial Eleitoral – AIJE proposta pelo Ministério Público da ZonaEleitoral de origem, reconhecendo a prática do abuso de poder econômico e deconduta vedada para que fossem cassados os diplomas dos referidos recorrentes eaplicada multa àquele Prefeito, nos termos do art. 73, IV, c/c §§ 4º, 5º e 11, daLei n. 9.504/1997, bem como decretada a inelegibilidade do Prefeito apelantepelo prazo de oito anos, conforme previsto no art. 1º, I, ‘d’, da Lei Complementar– LC n. 64/1990, e determinando o cumprimento imediato dessa decisão.

Irresignado, após requerer o efeito suspensivo ao presenterecurso, o Prefeito recorrente sustentou que não restaram configurados os ilícitoseleitorais acima apontados, razão por que pugnou pelo provimento do apelo paraque fosse julgada improcedente a presente ação ou, alternativamente, invocandoo princípio da proporcionalidade e razoabilidade, fosse excluída a cassação dorespectivo diploma e, caso mantida a multa em questão, requereu a redução dovalor desta para o valor mínimo legal pertinente.

Em sede de contrarrazões àquele recurso, o recorrido pugnoupelo desprovimento deste.

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Por sua vez, o Vice-Prefeito apelante, invocando tambémefeito suspensivo ao seu recurso, aduziu que não houve caracterização dos ditosilícitos eleitorais, pelo que pugnou pelo provimento do apelo para que a AIJEfosse julgada improcedente ou, ao menos, em face da inexistência de gravidadesuficiente, requereu a exclusão da cassação dos diplomas dos recorrentes.

Em suas contrarrazões ao recurso em questão, o apeladorequereu o desprovimento deste.

Nesse interregno, sobreveio a decisão proferida na AçãoCautelar – AC n. 156-59.2013.6.24.0000 – Classe 1 que deferiu o pedido doPrefeito apelante para que fosse suspensa a execução da sentença proferida napresente AIJE.

Os autos vieram ao TRE/SC. É o sucinto relatório; presentesos pressupostos de admissibilidade, ambos os recursos merecem conhecimento.

Quanto ao mérito, importa especificar os fatos que ensejarama presente AIJE para o fim de cotejá-los com a legislação eleitoral de regência.Pois bem.

Os apelantes Camilo Nazareno Pagani Martins e Nilson JoãoEspíndola eram, à época das eleições municipais transatas, pela ordem,candidatos a Prefeito e Vice-Prefeito de Palhoça pela Coligação ‘Palhoça deTodos’ (PSD/PDT), os quais lograram êxito em tal desiderato após a invalidaçãodo registro da candidatura majoritária vencedora naquele pleito de Ivon Jomir deSouza por irregularidade na convenção partidária que o escolheu para disputar ocargo de Prefeito de Palhoça pela Coligação ‘Palhoça Tem Jeito ComHonestidade e Respeito’(PTB/PSL/PTN/PSC/PPS/PMN/PSDB/PCdoB/PTdoB).

De forma objetiva, pode-se dizer que o recorrente CamiloMartins fundou a ONG ‘Viver Palhoça’ em setembro de 2010, ocasião em queeste, que é advogado e então desconhecido da população de Palhoça, erafuncionário do setor jurídico da Câmara de Vereadores de Palhoça, a qual eranaquela oportunidade presidida pelo seu pai, Nazareno Setembrino Martins,sendo que a referida ONG lançou o programa social ‘Caminhão do Bem’ um anodepois daquela fundação, em setembro de 2011 e, logo após, em novembro de2011, obteve substancial verba da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura eEsporte do Estado de Santa Catarina, no importe de R$ 153.900,00, para quefosse executado o programa ‘Semeando Cultura’, o qual foi realizado emconjunto com o programa anterior, ‘Caminhão do Bem’, nos meses de dezembrode 2011, e janeiro, fevereiro e março de 2012, nos quais o apelante CamiloMartins era o protagonista, proferia discursos e distribuía brindes e, após taisfatos, já muito conhecido e tendo a simpatia do povo palhocense, na eleiçãomunicipal que ocorreu poucos meses depois, logrou êxito em se eleger Prefeitode Palhoça pela Coligação ‘Palhoça de Todos’ (PSD/PDT).

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No intuito de que seja melhor compreendido o breve relatoacima descrito, deve ser esclarecido de maneira pouco mais detalhada o contextoem que os apontados fatos ocorreram, fazendo-se uma retroação à data na qualfoi fundada a referida ONG ‘Viver Palhoça’. Pois bem.

Na data de 1º.09.2010, constatou-se que, já vislumbrandosua candidatura majoritária nas eleições municipais então vindouras, o recorrenteCamilo Martins liderou o processo de fundação da entidade denominadaAssociação ‘Viver Palhoça’ visando obter dividendos antecipados para suapessoa e fortalecer de maneira desmedida e dissimulada sua, até então,précandidatura a Prefeito de Palhoça desconhecida da população local, alçando-se desde logo Presidente da referida Associação, o que propiciaria a inequívocavisualização e conhecimento de seu nome frente à comunidade de Palhoça comosendo uma pessoa de bem, realmente preocupada com o destino do aludidoMunicípio, com nítido viés eleitoral que seria cabalmente desvendado e reveladono correr dos dias a partir de então (fls. 139-141).

Aliás, ainda sobre esse aspecto, vale ser ressaltado que oVice-Presidente da Associação ‘Viver Palhoça’ era, não por acaso, o próprioirmão de Camilo Martins, Rodolpho Pagani Martins, o qual seria, no pleitomunicipal então vindouro de 2012, justamente o representante da Coligação‘Palhoça de Todos’ (PSD/PDT) pela qual concorreu a Prefeito o recorrenteCamilo Martins, reforçando assim o objetivo eleitoreiro da constituição da ditaAssociação (fls. 139-141).

Com efeito, a Associação ‘Viver Palhoça’ era apresentadacomo uma Organização Não Governamental – ONG (fl. 144), de carátereminentemente filantrópico e assistencialista, sendo que o passo seguinte foiobter a declaração de utilidade pública da apontada Associação no âmbito daCâmara de Vereadores de Palhoça, para que por meio desse procedimento a ditaAssociação passasse do caráter privado que ostentava quando de sua constituição(fl. 139) para uma espécie de pessoa jurídica de direito público, com fins deviabilizar a obtenção futura de vultosa verba advinda do Governo do Estado deSanta Catarina, conforme logo a seguir esclarecido.

Tal tarefa foi sobremaneira facilitada pelo fato de orecorrente Camilo – o qual é advogado – ser, à época, consultor jurídico daCâmara de Vereadores de Palhoça, da qual é funcionário, sendo que na ocasião oseu pai, Nazareno Setembrino Martins, era o Presidente da mencionada CasaLegislativa, sendo que inclusive subscreveu o atestado de funcionamento da ditaAssociação (fl. 145) e, no célere trâmite do Projeto de Lei n. 500/2010 queculminou com a dita declaração de utilidade pública daquela Associação, esta foiassim reconhecida já em dezembro de 2010 (cerca de três meses após suafundação), por ato subscrito, igualmente, pelo então Presidente, pai do apelante

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Camilo Martins, Nazareno Martins (fl. 151), inclusive com o assentimento doVice-Prefeito recorrente, Nilson João Espíndola, o qual exercia o cargo devereador naquela ocasião (fl. 150), o que demonstra efetivamente a amplitude doprojeto eleitoral em questão.

Ato contínuo, na medida em que a eleição de 2012 seaproximava, era necessário que o citado plano fosse efetivamente implementadoe, para tanto, contando com a colaboração e grande receptividade do entãoSecretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte do Estado de Santa Catarina,Cesar Souza Júnior, atual Prefeito de Florianópolis, e também do atualGovernador do Estado de Santa Catarina, Raimundo Colombo, que nomeou oapontado Secretário, não por acaso ambos filiados ao mesmo Partido SocialDemocrático – PSD pelo qual se elegeu o recorrente Camilo Martins, estesubscreveu, na condição de Presidente da Associação ‘Viver Palhoça’, e remeteuàquela Secretaria, em 25.08.2011, pedido de liberação de recursos no importe deR$ 153.900,00, proveniente do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura -FUNCULTURAL, para ser aplicado no programa ‘Semeando Cultura’ (fls. 368-371), no qual inclusive grifou, valendo-se do reconhecimento da utilidade públicada Associação ‘Viver Palhoça’ pela Câmara de Vereadores desse Município, quetal Associação era um pessoa jurídica de direito público (fl. 370), abrindo espaçopara, não por acaso no final do último bimestre de 2011, obter a referida esubstancial verba pública para que esta fosse apenas utilizada já no ano eleitoralde 2012 então prestes a ser iniciado, de modo a dar continuidade a seufamigerado plano de obter dividendos eleitorais e catapultar sua aindaprécandidatura majoritária para que pudesse ser eleito no pleito eleitoral entãocada vez mais próximo.

Acerca desse ponto, vale salientar que o PSD, que era umaagremiação partidária recém ingressa no cenário político brasileiro, planejavalançar candidatos majoritários ao menos em três grandes Municípios da GrandeFlorianópolis, o que contava com a franca colaboração e apoio do atualGovernador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, bastando citar uma notadivulgada em maio de 2012 na coluna de Edmilson Cruz, do Jornal PalavraPalhocense, o qual, invocando uma notícia lançada pelo colunista político PauloAlceu já em março de 2013-10-01, registrou “que o PSD na GrandeFlorianópolis iria trabalhar em renovações, e o mesmo citou os três nomescomo candidatos a Prefeito na região. Em Palhoça: o Advogado CamiloMartins, em Santo Amaro: Sandro Vidal e em Florianópolis: César SouzaJúnior e João Amin.” (fl. 106; grifou-se). Frise-se que, todos os candidatos antescitados lograram êxito em se elegerem Prefeito das respectivas cidades citadas, oque demonstra de modo inequívoco a eficiência do planejamento do PSD na

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aludida região que, no caso de Palhoça, contou com expedientes ilícitos de cunhoeleitoral, conforme explanado até o presente momento.

Assim sendo, na medida em que havia excessiva sintonia,tanto partidária quanto eleitoreira entre o apelante Camilo Martins e o entãoSecretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte do Estado de Santa Catarina,Cesar Souza Júnior, o respectivo contrato foi celebrado entre tal Secretaria e aAssociação ‘Viver Palhoça’ apenas dois meses após o referido pedido, já em27.10.2011 (fls. 436-441) e, três semanas depois, em 17.11.2012, a quantia deR$ 153.900,00 já havia sido liberada por aquela Secretaria (fl. 450) (respectivoprocedimento juntado nas fls. 349-451), sendo o dinheiro efetivamentedepositado em 21.11.2012 (fl. 681; fl. 52, Apenso do Volume 4), ou seja, menosde três meses após a solicitação inicial do apelante Camilo Martins, maisprecisamente às vésperas do início do ano eleitoral propriamente dito entãovindouro.

Após o recebimento de tamanha verba em prol daAssociação ‘Viver Palhoça’, seria de bom alvitre que o apelante Camilo Martinsse afastasse, ainda que formalmente, da Presidência desta, uma vez que o anoeleitoral então vindouro estava prestes a se iniciar, no qual seriam aplicadas taisverbas justamente para sedimentar a futura candidatura majoritária de Camilo, oqual, caso permanecesse em tal cargo diretivo da referida entidade, representariaum inequívoco acinte e flagrante violação frontal ao disposto no art. 73, § 11, daLei n. 9.504/1997, o qual deve ser transcrito para que melhor seja visualizadoesse ponto, verbis (grifou-se):

Art. 73. [...]§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 não poderão serexecutados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida.

Assim, no intuito de manter a aparente legalidade de seufatídico esquema eleitoral, o recorrente Camilo Martins, em 29.11.2011,providenciou seu afastamento da Presidência da Associação ‘Viver Palhoça’, deforma concatenada com o recebimento da grande quantia antes referida, masobviamente, por almejar estar próximo à tal entidade, criou o cargo de Presidentede Honra que assumiu naquela ocasião (cargo este “ilimitado e vitalício” – fl.177), como se isso fosse isentá-lo da responsabilidade do grande imbróglio queestava protagonizando para obter sua eleição a Prefeito de Palhoça, mantendo seuirmão na Vice-Presidência da dita Associação, Rodolpho Pagani Martins, o qualseria, frise-se, não por acaso o representante da Coligação ‘Palhoça de Todos’(PSD/PDT) pela qual concorreu a Prefeito o recorrente no pleito eleitoraltransato, alçando à Presidência daquela Associação outro parente, de nome

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Mauro Alexandre Pagani de Souza (fls. 177-180), municiando-se para prosseguirem seu projeto eleitoral de forma aparentemente legal.

Já em dezembro de 2012, com a vultosa verba liberada paraa Associação ‘Viver Palhoça’, iniciaram-se os gastos empreendidos com afinalidade precípua de alavancar a pretensa candidatura do recorrente CamiloMartins, atrelados a um programa denominado ‘Caminhão do Bem’, cujocoquetel de lançamento fora realizado em 21.09.2011 – fls. 86-87 (ou seja,idealizado praticamente em conjunto com o programa ‘Semeando Cultura’,menos de um mês após o pedido de verba pública efetuado para este peloapelante Camilo Martins), uma espécie de prestação de serviços odontológicos,médicos, advocatícios e contábeis idealizados pela apontada Associação, sob opretexto de se estar prestando um ato de solidariedade às comunidades carentesde Palhoça justamente quando estava prestes a ser iniciado o ano eleitoral no qualCamilo já dava como certa sua candidatura a Prefeito de Palhoça, inclusive pelofato de ter apoio de diversas lideranças políticas do PSD, dentre as quais o atualPrefeito de Florianópolis, Cesar Souza Júnior, e também do Governador doEstado, Raimundo Colombo, que é também filiado àquela agremiação partidária(há pelo menos uma foto deste participando do programa ‘Semeando Cultura’ aolado do apelante Camilo Martins, que está acostada na fl. 78)

Na respectiva prestação de contas à Secretaria de Estado deTurismo, Esporte e Cultura, a Associação ‘Viver Palhoça’ elencou atividadesrealizadas pelo fatídico programa ‘Semeando Cultura’ concernentes aos meses dedezembro de 2011, e janeiro a abril de 2012 (fls. 453-728), comprovados pelosextratos bancários acostados nas fls. 52-57 do Apenso do Volume 4 da presenteAIJE (fls. 681-687), sendo certos que tais atividades capciosas se estenderam, aomenos, até maio de 2012, afora o programa ‘Caminhão do Bem’, que foi usadode forma concomitante com o referido programa ‘Semeando Cultura’ para quefosse potencializado o alcance eleitoral de ambos – em síntese, para que oemprego de dinheiro público supostamente em programa cultural servisse paraimpulsionar programa social neste inadvertidamente inserido, sempre no intuitode obtenção de fortalecimento da futura candidatura que estava sendo construídadesse modo ilícito desde aquela época (para que se visualize a descarada misturaentre tais programas, basta que se visualize a propaganda efetuada de ambos, demodo concomitante, nos dois vídeos insertos no CD de fl. 188, nos quais,obviamente, os programas em apreço aparecem com grande destaque que semprequis se dar a estes e, novamente, com o apelante Camilo Martins proferindodiscursos e capitalizando a perder de vista todos os dividendos que poderiamadvir da propagação desmedida daqueles programas, especialmente os eleitorais,em face do período em que ocorreram).

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Vale salientar que o recorrente Camilo Martins foiprotagonista nos eventos realizados pela Associação ‘Viver Palhoça’ na execuçãodo assim denominado programa ‘Semeando Cultura’, e também nos serviçosprestados pelo programa ‘Caminhão do Bem’, nos quais aparece semprepresente, seja discursando, interagindo com os participantes, efetuandodeclarações para a imprensa, enfim, invariavelmente na linha de frente para queficasse marcado sua figura de forma definitiva no seio da comunidade de Palhoça,bastando que se faça remissão às notícias juntadas nas fls. 65-78, 86-87, 89-103 e496-536 para que se afira efetivamente o alcance dessas palavras (afora os vídeosantes referidos).

Por oportuno, deve ser delineado o quadro sobre parte dasatividades desenvolvidas pela Associação ‘Viver Palhoça’ por meio do programa‘Semeando Cultura’, no qual foi aplicada a expressiva importância, reitere-se, deR$ 153.900,00, oriundo da Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte do Estadode Santa Catarina, que foi levado para as ruas de forma concomitante com oprograma ‘Caminhão do Bem’, iniciando-se com o 1º evento realizado a tal títulona data de 10.12.2011 – ou seja, após se esperar cerca de um ano e três mesesdesde a fundação da dita Associação com a realização de eventos inexpressivos,o apelante Camilo Martins resolveu iniciar seu maior programa, subsidiado comvultosos recursos provenientes da referida Secretaria justamente poucos diasantes do início do ano eleitoral no qual já tinha plena convicção de que seriacandidato a Prefeito pelo PSD, de modo que sua candidatura chegasse forte nafutura disputa àquele cargo majoritário, ainda que por expedientes indevidos soba ótica eleitoral em sentido estrito (frise-se que os jornais e sites adiantemencionados se referem ao Jornal Palavra Palhocense, Jornal O Caranguejo,Jornal Primeira Folha, site palhoca.blogspot.com.br, viapalhoça.com.br e sitecidadepedrabranca.com.br).

Assim, seguindo tal estratagema para garantir sua futuraeleição a Prefeito de Palhoça, foi inaugurado o programa ‘Semeando Cultura’, aoqual estava atrelado outro programa conhecido como ‘Caminhão do Bem’, nadata de 10.12.2011, sábado, no bairro do Pontal, no qual foram atendidos acomunidade desse bairro e, igualmente, do Furadinho, Marivone e Praia de Fora,sendo que nessa ocasião o apelante Camilo proferiu discurso e pousou para foto àfrente do ‘Caminhão do Bem’, sendo que foram apresentados diversos shows,sorteados brindes e uma bicicleta, prestados diversos atendimentos odontológicose médicos, além de serviços de orientação jurídica (reportagens, com fotos deCamilo, nos jornais de fls. 68-70; fotos de fls. 521-522).

No sábado seguinte, em 17.12.2011, o recorrente CamiloMartins foi protagonista de outro evento do programa ‘Semeando Cultura’realizado no bairro Rio Grande, abrangendo as comunidades desse bairro e de

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Laranjeiras, Pachecos e Barra do Aririú, no qual o apelante Camilo Martinsdeixou claro que era o Presidente de honra da Associação ‘Viver Palhoça’ aoentregar pessoalmente brindes, bicicleta e brinquedos no evento em questão,afora a prestação dos aludidos serviços assistenciais, conforme deixou bem claroCamilo Martins nos dizeres constantes na reportagem de fl. 67 (reportagens, comfotos de Camilo, inclusive distribuindo brindes, acostadas nas fls. 66-67 e 74); emoutra matéria jornalística sobre esse evento, na qual aparecem fotos do recorrenteCamilo, este afirma que “a ideia é levar o Caminhão do Bem a todo omunicípio, levando saúde aos palhocenses, principalmente aqueles que nãopossuem condições de pagar por um dentista ou médico” (matéria jornalística defl. 73; fotos de fls. 523-524).

Logo no início do ano das eleições transatas, em 14.01.2012,sábado, estava previsto outro evento do programa ‘Semeando Cultura’,novamente, como sempre o era, com a presença do ‘Caminhão do Bem’(“atendimento médico, odontológico, jurídico e outros”), o qual seria realizadono bairro Brejaru 1, abrangendo as comunidades desse bairro e do Brejaru 2, FreiDamião e Jardim Eldorado, no intuito, nas palavras do próprio e ora apelanteCamilo Martins, de atender as “pessoas menos favorecidas” (site de fls. 71, 90e 93-94), o qual efetivamente ocorreu nos mesmos moldes que os outros eventosanteriormente assinalados (site de fls. 91; e reportagem no jornal de fls. 504-505;fotos de fls. 525-526).

No sábado seguinte, em 21.01.2012, foi realizado novamenteum evento similar no bairro Ponte do Imaruim, para o qual o recorrente CamiloMartins convidou a todos para participarem desse evento (site de fl. 95; e notíciajornalística de fls. 506-507; fotos de fls. 527-528).

Já em 04.02.2012, sábado, mais uma vez, ocorreu a quintaedição do programa ‘Semeando Cultura’, na Praia da Pinheira, de novo com apresença do ‘Caminhão do Bem’, sendo informado que nas quatro primeirasedições houve o comparecimento de cerca de 6500 pessoas, sendo que orecorrente Camilo Martins, que era a voz corrente da própria Associação ‘ViverPalhoça’, afirmou que tal iniciativa “garante o acesso da população local acultura e cidadania” (site de fl. 97), assinalando que compareceram naqueleevento “centenas de moradores e veranistas”, perfazendo a participação de maisde 9000 palhocenses, segundo a matéria (site de fls. 98-99; e matéria no jornal defls. 509-510; fotos de fls. 529-530).

Na data de 10.03.2012, sábado, houve a sexta edição doprograma ‘Semeando Cultura’ no bairro Bela Vista, com discurso do apelanteCamilo Martins, novamente com a presença do ‘Caminhão do Bem’, pelo qualeram prestados os serviços assistenciais referidos, evento similar aos demais

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dessa empreitada (site de fl. 100, com foto de Camilo, e de fl. 102; matéria nojornal de fl. 514; fotos de fls. 531-532) .

Sábado seguinte, em 17.03.2012, no bairro Aririú,novamente com shows e brindes, foi realizado outro evento do programa‘Semeando Cultura’ junto com serviços prestados pelo ‘Caminhão do Bem’, noqual Camilo apareceu em fotos e foi referido como criador do apontado programa(site de fls. 65 e 103; notícia no jornal de fls. 516-517; fotos de fls. 533-534).

Houve ainda outro evento em 24.03.2012, sábado, no bairroCaminho Novo, seguindo o mesmo script e com idênticas condutas às doseventos anteriores (notícia de jornal de fl. 518; fotos de fls. 535-536).

Em 17.05.2012 foi realizado mais um evento social,organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, no qual o recorrenteCamilo Martins compareceu como representante da ONG ‘Viver Palhoça’,capitalizando ainda mais sua candidatura, então pronto para iniciar a disputaeleitoral, já que o pleito nessa data estava na iminência de começar, enquanto seunome tornado conhecido atingia grande ressonância positiva no eleitorado dePalhoça.

Assim, em uma breve retrospectiva, a ONG ‘Viver Palhoça’,criada em 1º.09.2010, iniciou com trabalhos pontuais de pouca expressividademas, próximo ao advento do ano eleitoral de 2012, no qual o apelante CamiloMartins visava e tinha como certa sua candidatura para concorrer à Prefeitura dePalhoça, providenciou a organização dos programas sociais ‘Semeando Cultura’,com grande volume de aporte financeiro do Governo Estadual, em conjunto como programa ‘Caminhão do Bem’, vindo a reboque do primeiro, cujasimplementações foram disseminadas pelos inúmeros bairros de Palhoça afora pormeio dos eventos acima descritos, nos quais o recorrente Camilo erainvariavelmente o protagonista, em verdade personificando e incorporando amencionada ONG e programas, proferindo discursos, entregando brindes e secolocando como aquele que propiciava à população de Palhoça serviçosodontológicos, médicos, advocatícios ou o que fosse preciso, tudo em prol de suacandidatura que logo viria a ser registrada na ocasião própria, conformecomprovado inclusive com a documentação aportada aos autos pela atualpresidente da dita Associação (fls. 739-824).

No intuito de que fossem elucidados esses fatos, sobreveio aaudiência de instrução na qual foram ouvidas quatro testemunhas arroladas pelosrecorrentes (fls. 302-306 e CD de fl. 307).

A primeira testemunha, Valdir José Tomazzi, afirmou quepassou a conhecer a ONG ‘Viver Palhoça’ pelo fato de ser diretor da empresa

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Pedra Branca, em uma ocasião em que foi procurado por Camilo Martins cercade três anos antes da audiência realizada em 22.05.2013, o qual propôs que areferida empresa apoiasse financeiramente a Associação, cujo projeto era social eenvolvia lazer e educação das comunidades mais carentes, o que foi concretizadopor meio do aporte de recursos da empresa em prol da Associação em um valorde cerca de 12 parcelas de R$ 2.000,00. Referiu que isso foi efetivado inclusivepelo fato de a ONG ‘Viver Palhoça’ trabalhar na comunidade mais carente daGrande Florianópolis que é a de Frei Damião, e também pelo fato de a propostada empresa apoiar esse tipo de ação; esclareceu que não havia prestação decontas relativa aos valores especificados, sendo que o depoente apenascompareceu a um dos eventos realizados pela aludida ONG, sendo porémconvidado para vários outros eventos em comunidades carentes mas a que nãopôde ir. Aduziu que no evento ao qual compareceu, ocorrido no bairro Brejaru[em 14.01.2012, conforme antes referido] havia teatro, música, lazer, educação,pintura, distribuição de lanches, pipoca e salgadinhos, estando presente oapelante Camilo Martins, o qual inclusive proferiu discurso. Após o aludidoaporte financeiro a empresa Pedra Branca não foi mais procurada pela ONG‘Viver Palhoça’. Disse que não teve conhecimento de se o recorrente CamiloMartins se apresentava como candidato nos mencionados eventos. Asseverou quea empresa Pedra Branca costuma fazer aportes a outras ONG´s e entidades;afirmou que tem conhecimento de que a ONG ‘Viver Palhoça’ é uma instituiçãoséria que presta serviços de cultura, lazer e entretenimento; esclareceu que o tratopara que a empresa Pedra Branca efetuasse aporte financeiro para a ONG foirealizado diretamente pelo próprio Camilo Martins, não sabendo dizer para qualconta bancária era repassado o dinheiro aportado pela referida empresa naquelaONG (mídia de fl. 307).

A segunda testemunha, José Virgilio da Silva Junior, disseque é tesoureiro da ONG ‘Viver Palhoça’ há mais de um ano, sendo antesmembro [audiência em 22.05.2013]; esclareceu que antes da instituição da ONGem 2010 já havia um grupo de pessoas que realizavam atividades condizentescom as que a ONG passou a realizar, sem que esta, porém, estivesse formalmenteinstituída; após a fundação da ONG foram realizadas atividades no Natal e emoutras datas comemorativas, tal qual no dia das crianças e, após, protocolado oprojeto ‘Semeando Cultura’ que captou verba do Estado; esclareceu que osvalores que eram empregados em tais atividades provinham de parcerias da ONGcom certas empresas, como a Pedra Branca, bem como do próprio bolso dosintegrantes daquela ONG; disse que o projeto ‘Semeando Cultura’ visavadifundir gratuitamente a cultura de Palhoça por todos os bairros desta, tal qual o

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apoio ao boi de mamão e músicos daquela cidade, que seriam opções de lazer;esclareceu que no referido projeto não estavam previstos os serviços de médicos,advogados e dentistas, os quais eram apoiados pela ONG; asseverou que oEstado repassou a ONG para esta efetuar o dito projeto, por meio da Secretariade Cultura, a quantia de R$ 153.900,00; asseverou que o dinheiro da referidaSecretaria foi repassado em novembro de 2011, sendo que os respectivos eventosforam iniciados, ao que lembra, em 07.12.2012, e haveria outros nos próximostrês meses previstos no respectivo contrato, sendo que o depoente compareceunesses eventos, à exceção de apenas um, nos quais, eventualmente, anuncioualgumas das atrações daqueles eventos – “mas não muito”; afirmou que orecorrente Camilo Martins compareceu em alguns desses eventos, nos quais,igualmente, eventualmente anunciava algumas das atrações destes, mas nada decunho político; assinalou que houve prestação de contas ao Estado em face doprograma ‘Semeando Cultura’, havendo uma pendência relativa ao nãorecolhimento do ISS [Imposto Sobre Serviços de qualquer natureza, sendo que adita prestação de contas foi juntada nos autos nas fls. 452-728]; afirmou que osserviços prestados por médicos, dentistas e advogados decorreram deprofissionais que se dispuseram a comparecer naqueles eventos e prestaremserviços voluntários às pessoas que nestes compareciam; disse que o projeto‘Semeando Cultura’ foi encerrado em fevereiro ou março de 2012, não havendomais eventos depois desse período; aduziu que após isso a ONG efetuou diversasatividades, apontando a do kit escolar, travessia e limpeza da praia de cima daPinheira e da páscoa, tudo bancado pelas empresas e por doações próprias dosintegrantes da ONG, sendo que os valores financeiros não transitavam por contabancária; afirmou que já foi efetuado novo protocolo na Secretaria de Turismo doGoverno do Estado para que fosse dado continuidade ao projeto ‘SemeandoCultura’, sendo que a ONG continua prestando seus serviços; aduziu que orecorrente Camilo Martins era apenas mais um voluntário que integrava a ONG,mas que tinha mais facilidade em se comunicar e, por isso, fazia mais anúncios deatrações que compareciam nos ditos eventos, sem que houvesse nenhumaconotação política nisso; acerca das atividades realizadas pela ONGanteriormente ao projeto ‘Semeando Cultura’, esclareceu que eram relativas adatas comemorativas, como no natal, no qual eram recolhidos brinquedos edoados para entidades menos favorecidas e, talvez, no dia das crianças tambémfoi feita alguma atividade; disse que houve a abertura de uma conta da ONGquando esta foi fundada, sendo que há duas contas, uma para captar recursosprivados (Caixa Econômica Federal – CEF), e outra para dinheiro público Bancodo Brasil), como foi o caso do financiamento do projeto ‘Semeando Cultura’;disse que apenas protocolou o pedido de recursos à Secretaria de Turismo, nãosabendo se foram feitos contatos com o próprio Secretário de Turismo (a esse

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respeito, afirmou que “Da minha parte não” (12 min 33 s – 12 min 34 s); sobre apassagem de Camilo Martins para o cargo de presidente de honra da ONG,informou que isso faz parte da filosofia desta para que se evite a permanência porum longo prazo de apenas um presidente, havendo assim um rodízio na ditaPresidência; sobre o cargo de Presidente de Honra, disse que acha que CamiloMartins assumiu este para ficar “por dentro da entidade”, mas sem uma funçãoespecífica do cargo em questão; informou que não sabe especificar o montanteque circulou na apontada conta privada da ONG, já que à época não eratesoureiro desta; sobre os serviços de médicos e dentistas, assinalou que eramprestados pelo pessoal do Pet Saúde da UNISUL e, no caso de advogados,lembrou que a advogada de nome ‘Catiane’, que faz parte da ONG, prestou essetipo de serviço (CD de fl. 307).

Quanto à terceira testemunha, Zeneide Petry Schweitzer, estaafirmou que a ONG ‘Viver Palhoça’ presta o bem à comunidade; aduziu que eradiretora adjunta de uma escola em Palhoça, na qual a ONG compareceu por duasvezes em 2011 (maio/junho), e duas em 2012 (março/abril), para prestarorientações odontológicas e de enfermagem, sendo que o contato pertinente foiefetuado pelo Pet Saúde da UNISUL, o qual tinha uma parceria com aquelaescola, e que participou daqueles eventos, sendo que a ONG já era conhecida deoutras escolas; tais orientações foram efetuadas por meio de um caminhão quecompareceu durante a semana na escola em apreço; esclareceu que estevepresente num dos apontados eventos em 2011, e noutro em 2012, sendo que emnenhum deles o recorrente Camilo Martins estava presente; esclareceu que nãoconhecia Camilo nessa ocasião, apenas o conhecendo durante a campanhaeleitoral; disse que a ONG em questão foi chamada na dita escola pelo fato depossuir um caminhão que facilitava as orientações prestadas pelo dentista e peloenfermeiro, as quais eram, ademais, gratuitas; esclareceu que a ONGdisponibilizou o referido caminhão para que fossem realizadas tais orientações,sendo que a equipe do Pet Saúde iniciou seus trabalhos na escola justamentenessa ocasião (mídia de fl. 307).

No tocante à última testemunha, Sônia Walfride SchmidtSalvador, tem-se que esta afirmou que é atualmente a presidente da ONG ‘ViverPalhoça’; aduziu que mantinha contato direto com o apelante Camilo Martinspelo fato de este ser funcionário do setor jurídico da Câmara de Vereadores, aopasso que a depoente trabalho no setor de contabilidade da referida CasaLegislativa, sendo que havia um conjunto de pessoas que contribuíam com ajudaà comunidade e, disso, surgiu a ideia de constituir a apontada ONG, sendo quepelo fato de a depoente ser uma das principais idealizadoras desse projeto,deveria ser a presidente, mas por questões pessoais, incluindo sua saúde, insistiupara que Camilo assumisse tal cargo e, após surgir uma proposta política para

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que Camilo fosse candidato a vereador, este teve que deixar a presidência daONG em questão, tornando-se presidente de honra desta, uma vez que foi um dosprincipais idealizadores da dita ONG, ao passo que a depoente passou a ser aVice-Presidente de honra, por ser, também, outra das principais idealizadorasdesta; esclareceu que, antes do projeto ‘Semeando Cultura’, a ONG ‘ViverPalhoça’ limitava-se a ações pessoais de alguns de seus integrantes, havendoapenas o projeto ‘Caminhão do Bem’ como destaque, o qual foi implementadoantes do ‘Semeando Cultura’; informou que algumas empresas apoiavam osprojetos da mencionada ONG, tais quais a Pedra Branca e Argamassa DoisIrmãos, que depositava suas doações numa conta própria da ONG na CEF, sendoque existia outra conta no Banco do Brasil; afirmou que os recursos das referidasempresas foram aplicados, inclusive, no projeto ‘Caminhão do Bem’, no qual nãofoi aplicado verba pública; disse que o projeto ‘Semeando Cultura’ foi elaboradopor José Virgilio, o qual fez os contatos também para que fosse obtida a verba daSecretaria de Turismo para sua execução; negou que o projeto ‘SemeandoCultura’ tivesse alguma ligação com o fato de o recorrente Camilo pretender serPrefeito de Palhoça, até pelo fato de o pai deste estar com maior evidênciapolítica na ocasião, mas assentiu que o programa ‘Caminhão do Bem’ foidivulgado em conjunto com o ‘Semeando Cultura’; aduziu que foi em alguns doseventos do projeto ‘Semeando Cultura’, nos quais o apelante Camilo Martinscomparecia e fazia discursos, mas não de cunho político; asseverou que em taiseventos eram entregues adesivos da ONG ‘Viver Palhoça’ e mostrou um brindeque também era entregue às crianças que tinham medo de ir ao dentista; assinalouque houve exposição da ONG ‘Viver Palhoça’ na mídia, mas nada vinculado àpessoa de Camilo àquela ONG, sendo que ficou chateada quando soube daligação política que alguns faziam a respeito, já que a depoente foi mais atuantena fundação daquela ONG do que o próprio Camilo; informou que na Câmara deVereadores havia críticas e elogios à ligação de Camilo com a ONG ‘ViverPalhoça’; disse que o recorrente Nilson Espíndola não teve ligação com a aludidaONG, a não ser apenas uma vez que compareceu rapidamente num evento paraprestigiar o trabalho da própria depoente; aduziu que atualmente a ONG ‘ViverPalhoça’ dará continuidade ao programa ‘Semeando Cultura’, inclusive jáhavendo protocolo de um novo pedido de verba pública para tanto, sendo que talprograma foi fantástico, bastando que fosse visto o brilho nos olhos das criançasao participarem dos respectivos eventos, como o boi de mamão, para que assimse concluísse; afora isso, disse que há outros projetos, tais quais a maratona deElza Luchi, a travessia da Praia de cima Pinheira, com a limpeza desta, acampanha do agasalho e uma campanha para que seja servido cafezinho nas filasdos postos de saúde, o que ainda iria ser implementado; a respeito das críticasfeitas no trabalho da depoente na Câmara de Vereadores, esclareceu que estas já

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haviam se iniciado desde a fundação da ONG ‘Viver Palhoça’, as quais foramfeitas em relação ao recorrente Camilo Martins e à própria depoente, já quealguns achavam que esta também seria candidata a algum cargo eletivo, o quenão foi o caso; explicou que tais críticas eram dirigidas especialmente à depoente,uma vez que o recorrente Camilo não tinha o destaque, em termos políticos, queseu pai tinha (CD de fl. 307).

Assentados os fatos e provas acima alinhavados, sopesando-se estes no contexto em que inseridos, verifica-se que, efetivamente, restaramconfiguradas as condutas vedadas e o abuso de poder econômico ventilados peloMinistério Público da Zona Eleitoral de origem, impondo-se assim odesprovimento de ambos os recursos. Vejamos.

A legislação eleitoral que foi violada pelo apelante CamiloMartins está prevista no art. 73, caput, IV, e § 11, da Lei n. 9.504/1997, bemcomo no art. 22, XIV, da LC n. 64/1990, segundo os quais:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutastendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:[...]IV - fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político oucoligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ousubvencionados pelo Poder Público; [...]§ 11. Nos anos eleitorais, os programas sociais de que trata o § 10 não poderão serexecutados por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por esse mantida.Art. 22. [...]XIV - julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, oTribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído paraa prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a serealizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além dacassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferênciado poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios decomunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, parainstauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisqueroutras providências que a espécie comportar;

A respeito dos dispositivos legais acima transcritos, valeinvocar os seguintes ensinamentos do eminente doutrinador José Jairo Gomes arespeito do art. 73, IV e § 11, da Lei n. 9.504/1997:

Uso promocional de bens ou serviços públicos – LE, artigo 73, IV. Por este dispositivo,é vedado ao agente público “fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato,partido político ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter socialcusteados ou subvencionados pelo Poder Público”. Sua interpretação deve ser feita emconjunto com o § 10 do artigo 73, que proíbe, no ano em que se realizar eleição, “adistribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública,

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exceto nos casos de calamidade pública, de estado de emergência ou de programassociais autorizados em lei e já em execução orçamentária no exercício anterior, casos emque o Ministério Público poderá promover o acompanhamento de sua execuçãofinanceira e administrativa”. Destarte, em ano eleitoral, a Administração Pública só podedistribuir gratuitamente bens, valores ou benefícios se ocorrer alguma das exceçõesespecificadas.Para a configuração da hipótese inscrita no inciso IV, é preciso que o agente use “adistribuição gratuita de bens e serviços” em prol de candidato. Não se exige que duranteo período eleitoral o programa social antes implantado seja abolido, ou tenhainterrompida ou suspensa sua execução. Relevante para a caracterização da figuraem exame é o desvirtuamento da distribuição, em si mesma, a sua colocação aserviço de candidatura, enfim, o seu uso político-promocional.Cumpre trazer à cola entendimento jurisprudencial no sentido de que a “meraparticipação do chefe do Poder Executivo Municipal em campanha de utilidade públicanão configura a conduta vedada a que se refere o art. 73, IV, da Lei n. 9.504/98 (...)”(TSE – Ac. 24.989, de 31/05/2005 – JURISTSE 13:30). Cuidava-se, na espécie, decampanha de vacinação. O contexto é o da reeleição. [...]Proibição de distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte daAdministração Pública – LE, artigo 73, § 10. [...]Claro está que a regra é a proibição da distribuição. Em ano eleitoral, a AdministraçãoPública só pode distribuir gratuitamente bens, valores ou benefícios se ocorrer uma dashipóteses legais especificadas, a saber: calamidade pública, estado de emergência ouexistência de programas sociais autorizados em lei e já em execução orçamentária noexercício anterior. Ainda assim, o artigo 73, IV, da Lei n. 9.504/97, veda o uso político-promocional dessa distribuição, que deve ocorrer da maneira normal e costumeira.A última das hipóteses permissivas pressupõe a existência de política pública específica,em execução desde o exercício anterior, ou seja, já antes do ano eleitoral. Quer-seevitar a manipulação dos eleitores pelo uso de programas oportunistas, que, apenaspara atender circunstâncias políticas do momento, lançam mão do infortúnioalheio como tática deplorável para obtenção de sucesso nas urnas. Por isso mesmo,proíbe o § 11 do artigo 73, da LE, que em ano eleitoral, programas sociais sejam“executado por entidade nominalmente vinculada a candidato ou por estemantida. 1

Especialmente sobre o art. 73, IV, da Lei das Eleições,importa ainda destacar as lições de outro renomado doutrinador, Joel J. Cândido:

IV – O uso promocional pode ser direto ou indireto, discreto ou ostensivo, nominalou impessoal no que concerne ao destinatário do evento e, só por isso, é outraproibição de muito pouco alcance prático na lei, não podendo nos iludir com elaenquanto mecanismo de controle de abusos. Campanhas como a “do leite”, de anosatrás, programas como os da “Comunidade Solidária”, etc., são alguns exemplosdo que aqui se quer proibir.

1 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral – 5ª Edição. Revista, atualizada e ampliada. Belo Horizonte: Del Rey,2010, 5ª edição. Revista, atualizada e ampliada, pp. 533-534 e 539 – grifou-se.

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Nos incisos I a IV, a lei não limitou no tempo, o que autoriza a se entender que sãovedações permanentes. Até mesmo porque os partidos – que são os beneficiários dasilegalidades – são instituições de caráter permanente, e a administração pública, quetambém é a objetividade jurídica das regras, é valor a merecer a constante proteção dalei. 2

Já no tocante ao abuso de poder econômico, nos termos doart. 22, XIV, da LC n. 64/1990, deve ser relembrado que é um dos maiores – senão o mais elevado – fator capaz de causar desequilíbrio em um pleito eleitoral e,além da presença histórica, indubitavelmente uma característica maior da épocaatual, ferida inexoravelmente pelo poder de grandes capitais e pelo custo cadavez maior das campanhas eleitorais.

Em que pese não se possa realisticamente derrotar de fatoessa realidade irretorquível, o Direito não pode se furtar de buscar sempre asombra ideal da Justiça, tendo como norte no prélio a maior equanimidadepossível e a vedação do desvirtuamento do uso desses valores econômicos. Esseo pensamento da atualizada doutrina, traduzido nas seguintes palavraselucidativas a respeito do eminente doutrinador eleitoral, Adriano Soares daCosta:

Não há negar que o poder econômico e o poder político influenciam as eleições, eisque são fatos inelimináveis da vida em sociedade, como o carisma, a influência culturalsobre outros, a dependência econômica, etc. O ordenamento jurídico não podeamolgá-los, eis que são fatos sociologicamente apreendidos, frutos do convício social edo regime econômico capitalista por nós adotado. Nada obstante, embora não os possaproscrever da vida, pode o direito positivo impor contornos ao seu exercíciolegítimo, tornando ilícito, e por isso mesmo abusivo, todo uso nocivo do podereconômico ou do poder político, que contamina a liberdade do voto e o resultadolegítimo das eleições. 3

Nesse mesmo sentido, José Jairo Gomes prelecionaespecialmente sobre os efeitos do abuso de poder econômico aduzindo que

Basta que o uso de poder econômico em benefício de candidato seja distorcido, demaneira a desvirtuar o sentido das idéias de liberdade e justiça nas eleições, democraciaigualitária e participativa. 4

2 CÂNDIDO, Joel J.. Direito Eleitoral Brasileiro – Atualizado até a Lei nº 12.034, de 29.9.2009. Bauru, SP:EDIPRO, 2010, 14ª ed., revista, atualizada e ampliada, p. 620 – grifou-se.3 COSTA, Adriano Soares da. Instituições de Direito Eleitoral. 7ª ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: LumenJuris, 2008, p. 353 – grifou-se.4 GOMES, José Jairo. Op. Cit., pp. 262-263.

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Dito isso, tem-se que, em relação aos fatos objeto dapresente AIJE, a convicção de que, ao ser fundada a ONG ‘Viver Palhoça’ nofim de 2010, já existia um forte viés eleitoral no intuito de alavancar a futuracandidatura majoritária do recorrente Camilo Martins no pleito municipal de2012, então vindouro, foi reforçada pela própria testemunha Sônia WalfrideSchmidt Salvador, quando esta afirmou que já havia muitas críticas a respeitodesse assunto nessa ocasião na Câmara de Vereadores de Palhoça, especialmenterelativas à vinculação de Camilo com a ONG em questão pelo fato de este já serpretenso candidato a Prefeito de Palhoça, o que poderia gerar um conflito deinteresses, qual seja, de um lado a face do apelante Camilo Martins fazendocaridade à população palhocense e, de outro, a face do candidato, ávido parafortalecer sua futura candidatura e obter êxito no pleito majoritário entãovindouro, sendo que esse viés eleitoral já estava estabelecido, sem que essedetalhe pudesse mesmo interferir nessa conclusão, por vários outros fatos acimaassinalados, tal qual o futuro representante da Coligação ‘Palhoça de Todos’(PSD/PDT) pela qual Camilo Martins concorreu no pleito eleitoral transato, oirmão deste, Rodolpho Pagani Martins, participar ativamente da fundação da ditaONG, sendo alçado à Vice-Presidente desta logo na sua fundação.

Vale destacar, ainda, que a ONG em questão não realizounenhum programa social relevante desde a sua fundação até o fim de 2011,momento em que, especialmente em 25.08.2011, protocolou pedido de vultosaverba de R$ 153.900,00 na Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esportedo Estado de Santa Catarina para implementar o fatídico programa ‘SemeandoCultura’, o qual serviria de grande impulso para alavancar a candidatura aPrefeito do apelante Camilo Martins cada vez mais até a eleição municipal de2012 que se aproximava cada vez mais.

No entanto, sabendo que apenas um programa de cunhocultural poderia não ser suficiente, o recorrente Camilo Martins providenciou oprograma ‘Caminhão do Bem’, o qual foi inaugurado num coquetel logo emseguida, em 21.09.2012, que seria realizado em conjunto com o ‘SemeandoCultura’ justamente para potencializar o efeito social do dito ‘Caminhão doBem’, por meio do qual eram prestados serviços de saúde, odontológicos eadvocatícios à população carente de Palhoça, e que seria mais visto justamentepelo fato de se aproveitar a estrutura e recursos do próprio ‘Semeando Cultura’, oqual era subsidiado por recursos públicos oriundos da referida Secretaria deEstado de Turismo, cujo Secretário era o colega de partido do próprio CamiloMartins, Cesar Souza Júnior, com quem a ONG em questão não teria mantidocontato, até onde sabia a testemunha José Virgilio da Silva Junior, o qual afirmouem juízo expressamente que “Da minha parte não” (12 min 33 s – 12 min 34 sdo CD de fl. 307) [infere-se que tal testemunha, sabendo que alguém seria o

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encarregado dessa tarefa dentro da dita ONG, esquivou-se dizendo que ‘ele nãoera a pessoa para manter tais contatos’, já que tal pessoa seria, como foi, opróprio ora apelante Camilo Martins, mas jamais se poderia declinar seu nomeem juízo, por razões óbvias].

Após isso, com ou sem contato de determinada pessoa ligadaàquela ONG, num trâmite ultra célere, o substancial montante de dinheiro públicono importe de R$ 153.900,00 foi depositado na conta da ONG ‘Viver Palhoça’ jáem 21.11.2012, propiciando o início do programa ‘Semeando Cultura’ já emdezembro de 2012, o qual teve sequência nos meses de janeiro, fevereiro e marçode 2012, percorrendo inúmeros bairros Palhoça afora, justamente a poucos mesesdo início do período eleitoral em sentido estrito, logicamente no intuito de daruma guinada na candidatura do recorrente Camilo Martins por meio,especialmente, da aplicação daquela quantia e distribuição gratuita de brindes,sorteios de bens, serviços de saúde, odontológicos e advocatícios, por intermédiodos quais conquistou a simpatia e apreço da comunidade palhocense,especialmente pelo fato de estar, invariavelmente, na linha de frente dos eventosque fizeram parte do programa ‘Semeando Cultura’, nos quais o programa‘Caminhão do Bem’ estava umbilicalmente ligado, conforme acima visto.

Deve ser observado que, por oportuno, diante das condutaspraticadas pelo apelante Camilo Martins, verifica-se de forma clara que estedesvirtuou de modo deplorável o programa ‘Semeando Cultura’, atrelando-o aoutro programa social, qual seja, ‘Caminhão do Bem’, em pleno ano eleitoral,ambos colocados a serviço de sua futura candidatura, já que utilizados com o fimpolítico-promocional do referido recorrente, inclusive com robusta manipulaçãodos eleitores palhocenses por meio de tais programas oportunistas, podendo-semesmo afirmar, conforme lembrado pelo doutrinador Joel J. Cândido 5, que as“campanhas como a “do leite”, de anos atrás, programas como os da“Comunidade Solidária”, etc.”, poderiam ser, no caso específico de Palhoça,serem atualmente chamados de programas do ‘Semeando Cultura’, comoexemplos da conduta vedada prevista no art. 73, IV, da Lei das Eleições.

Frise-se ainda que o próprio recorrente Camilo Martins tinhanoção do risco que poderia correr, uma vez que, tão logo recebida a apontadaverba pública pela ONG, providenciou sua saída formal da Presidência daquelaONG na semana seguinte, em 29.11.2011, passando a ser dela ‘apenas’ o‘Presidente de Honra’, apesar de ter continuado a se portar como o grandeexecutivo dos programas sociais então em trâmite, quais sejam, ‘SemeandoCultura’ e ‘Caminhão do Bem’, dos quais se valeu para obter expressiva votaçãono pleito majoritário então vindouro. 5 CÂNDIDO, Joel J.. Op.Cit., p. 620.

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Aliás, sobreveio nota na coluna de Edmilson Cruz, do JornalPalavra Palhocense, divulgada em 24.05.2012, a pouco mais de um mês do iníciodo período eleitoral relativo ao pleito transato, no qual este afirmouexpressamente que “Estou sentindo. Não sou vidente, mas, ultimamente, o quemais estou ouvindo falar nas ruas de Palhoça é o nome do Advogado CamiloMartins como a esperança de renovação política da cidade. Jovem, ativo,dinâmico, o mesmo tem feito ótimo trabalho pelos quatro cantos do município,como um dos representantes da ONG Viver Palhoça, que teve uma excelenteaceitação.” (fl. 106).

Tal leitura foi muito precisa, já que em justa consonânciacom a sucessão de atos cometidos pelo recorrente Camilo Martins especialmentepara alavancar sua candidatura majoritária na eleição municipal transata, prestes ainiciar, sendo lógico que Camilo Martins fosse elogiado por tais programas umavez que estes possam mesmo ter propiciado benefícios para a comunidadepalhocense. No entanto, avaliados sob a ótica eleitoral, restam maculados pelaconotação eleitoral que em verdade os motivou, uma vez que, valendo-se daexecução dos ditos programas, aproveitou-se para obter proveito eleitoral em prolde sua candidatura majoritária assim trabalhada, mantendo-se, frise-se, ares delegalidade que se foram dissipando na medida em que o roteiro de suas condutasfoi sendo revelado e concatenado na linha do tempo.

Considerando tais peculiaridades, verifica-se que orecorrente Camilo Martins, a favor de sua candidatura fez uso promocional dadistribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados esubvencionados pelo Poder Público, mais especificamente pela Secretaria deEstado de Turismo, Cultura e Esporte do Estado de Santa Catarina, peloprograma ‘Semeando Cultura’, atrelado ao programa ‘Caminhão do Bem’, ambosse valendo da ONG ‘Viver Palhoça’, da qual era o principal idealizador eprotagonista, inclusive pelo fato de ter se postado na linha de frente na divulgaçãode tais programas sociais na imprensa em geral por meio da referida ONG,entidade vinculada à sua pessoa de modo insofismável, da qual foi fundador e nacondição de principal executivo desta, condutas estas que tenderam a afetar aigualdade de oportunidades entre os demais candidatos, em desacordo com odisposto no art. 73, caput, IV, e § 11, da Lei das Eleições.

Portanto, verifica-se que o recorrente Camilo Martins restouincurso no art. 73, IV, e § 11, da Lei n. 9.504/1997, impondo-se assim, frise-se,o desprovimento de ambos os apelos sob esse aspecto, na mesma linha doseguinte precedente da Corte Superior Eleitoral que tratou dessa matéria nosseguintes termos, verbis:

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Ação de investigação judicial eleitoral. Conduta vedada.1. Correto o entendimento da Corte de origem que afastou as preliminares de inépcia dainicial e de julgamento extra petita, pois, estando os fatos descritos e os pedidosdevidamente especificados, o juiz não está vinculado aos dispositivos legais utilizados nainicial, segundo a teoria da substanciação.2. O Tribunal a quo assentou que o serviço social prestado pelos agravantes àpopulação não se enquadra na situação excepcional descrita no § 10 do art. 73 daLei nº 9.504/97, pois foi utilizado como uso promocional em benefício de suascampanhas eleitorais, configurando, na verdade, a conduta vedada prevista noinciso IV do art. 73 da referida lei.3. Para rever esse entendimento, seria necessário o reexame de fatos e provas, o que évedado em sede de recurso especial, ante o óbice da Súmula nº 279 do egrégio SupremoTribunal Federal.Agravo regimental não provido. 6

Igualmente, ao se valer da vultosa quantia de verba públicano importe de R$ 153.900,00 para realizar eventos em prol de sua futuracandidatura majoritária em Palhoça, o recorrente Camilo Martins incorreu emabuso de poder econômico, nos termos do art. 22, XIV, da LC n. 64/1990, já queo apontado valor, além de ser obtido também por um viés de abuso de poderpolítico com conteúdo econômico, na medida em que lançou mão de subterfúgiosespúrios para obtenção de verba na Secretaria de Estado de Turismo, Cultura eEsporte do Estado de Santa Catarina, conforme acima delineado, era alto osuficiente para subverter o quadro eleitoral em Palhoça, quebrando de modoinexorável o próprio princípio da lisura das eleições e da igualdade deoportunidade entre os candidatos, o que não pode ser tolerado pela JustiçaEleitoral em hipóteses que tais, tanto é que obteve a expressiva votação de24.260 votos, o que lhe garantiu a assunção ao cargo de Prefeito de Palhoça.

Levando-se em conta os atos praticados e as cifrasenvolvidas na empreitada realizada pelos recorrentes, verifica-se claramente quehouve não só o abuso de poder econômico, como abuso de poder político comconteúdo econômico, o qual é abordado por José Jairo Gomes da seguintemaneira:

De modo geral, os fatos que caracterizam abuso de poder político não se confundemcomo os que denotam abuso de poder econômico. Em tese, tais formas de abuso depoder são independentes entre si, de sorte que uma pode ocorrer sem que a outra seapresente.Mas em numerosos casos as duas figuras andam juntas. Esse fenômeno bem pode serdesignado como abuso de poder “político-econômico”. Aqui, o mau uso de poderpolítico é acompanhado pelo econômico, estando ambos inexoravelmente unidos.

6 Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral – AgR-RESPE n. 9559738-45 TSE, Relator MinistroArnaldo Versiani Leite Soares, publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 25.03.2011, p. 50 – grifou-se.

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Em Estado historicamente patrimonialista como o brasileiro, em que a elite e o podereconômico sempre dependeram do político, não se pode ignorar esse consórcio deabusos em apreço. O Brasil, aliás, nasceu como empresa: empresa colonial da CoroaPortuguesa. 7

Tal espécie de abuso já foi, igualmente, objeto da seguintedecisão do e. TSE, segundo a qual:

RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2006. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃOJUDICIAL ELEITORAL. GOVERNADOR E VICE-GOVERNADOR.CONDUTA VEDADA A AGENTE PÚBLICO E ABUSO DE PODER POLÍTICOCOM CONTEÚDO ECONÔMICO. POTENCIALIDADE DA CONDUTA.INFLUÊNCIA NO RESULTADO DAS ELEIÇÕES. ELEIÇÕES DISPUTADASEM SEGUNDO TURNO. NÃO APLICAÇÃO DO DISPOSTO NO ARTIGO 224DO CE. MANTIDA A CASSAÇÃO DOS DIPLOMAS DO GOVERNADOR E DESEU VICE. PRELIMINARES: RECURSO CABÍVEL, TEMPESTIVIDADE,JUNTADA DE DOCUMENTOS, VÍCIO EM LAUDO PERICIAL, SUSPEIÇÃODE PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL, TEMPO E ORDEM DESUSTENTAÇÃO ORAL, ILEGITIMIDADE DE PARTE. RECURSOS A QUE SENEGA PROVIMENTO.1. Não cabimento do recurso. O recurso cabível é o ordinário, vez que se trata dematéria que enseja a perda do mandato eletivo estadual. Precedentes.2. Intempestividade do recurso. A devolução tardia dos autos não enseja a decretação daintempestividade de peça contestatória apresentada no prazo legal.3. Juntada de documentos. As partes devem produzir as provas e requerer as diligênciasem momento próprio; não se admite o exame de documento novo sem que ocorramotivo de força maior.4. Vício no laudo técnico pericial. Perita, servidora concursada do Tribunal de Contas daUnião, possui atribuição legal para auxiliar a Justiça Eleitoral no exame de contas.5. Suspeição do Procurador Regional Eleitoral. Procurador Regional Eleitoral queoficiou no feito como custos legis; preliminar rejeitada.6. Sustentação oral. A sustentação oral foi deferida às partes, pelo Tribunal de origem,nos termos de seu Regimento Interno; a concessão de prazo maior para a manifestaçãodo Ministério Público não gera nulidade quando este funciona como fiscal da lei.7. Ilegitimidade de uma das partes. Alegação de ilegitimidade para figurar no pólopassivo da relação processual apenas no recurso ordinário; matéria preclusa.Quanto ao mérito:8. Utilização de programa social para distribuir recursos públicos, mediante a entrega decheques a determinadas pessoas, visando à obtenção de benefícios eleitorais.9. Ausência de previsão legal e orçamentária para distribuição dos cheques;violação do disposto no artigo 73, § 10, da Lei n. 9.504/97.10. Inexistência de critérios objetivos para escolha dos beneficiários; concessão debenefícios de valores elevados a diversas pessoas que não comprovaram estado decarência.

7 GOMES, José Jairo. Op. Cit., p. 266.

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11. Uso promocional do programa social comprovado; participação do Governadorno projeto "Ciranda de Serviços", associado à distribuição de cheques, no qualatendia pessoalmente eleitores em diversos municípios do Estado; envio de foto doGovernador junto com os cheques distribuídos; utilização de imagens doGovernador na propaganda eleitoral gratuita do então candidato à reeleição.12. Elevação dos gastos com o "programa" às vésperas do período eleitoral.13. Potencialidade da conduta; quantidade de cheques nominais e de recursospúblicos distribuídos suficiente para contaminar o processo eleitoral,determinando a escolha de voto dos beneficiários e de seus familiares.14. A probabilidade de comprometimento da normalidade e equilíbrio da disputa ésuficiente para ensejar a cassação do diploma de quem nessas circunstâncias foieleito. Precedentes.15. Cassado o diploma de Governador de Estado, eleito em segundo turno, pelaprática de ato tipificado como conduta vedada, deve ser diplomado o candidatoque obteve o segundo lugar. Precedente.Recursos a que se nega provimento. 8

Portanto, no tocante à configuração do abuso de podereconômico tem-se que o desprovimento de ambos os apelos, igualmente, émedida que se impõe, conforme acima delineado.

Relativamente à gravidade dos fatos praticados pelosrecorrentes, os quais aduziram que esta não foi suficiente para que fossemcassados os seus diplomas e, no caso do apelante Camilo Martins, para que fossedecretada a sua inelegibilidade por oito anos, tem-se que tal pleito não comportaprovimento.

E isso pelo fato de haver gravidade suficiente para aconfiguração do ato abusivo, conforme previsto no art. 22, XVI, da LC n.64/1990, uma vez que as condutas perpetradas pelo recorrente Camilo Martinsforam sub-reptícias, já que este se apresentou como aquela pessoa que praticariao bem por querer praticá-lo em prol da comunidade carente, enaltecendo seu ladohumanitário por esse lado, mas valendo-se de vultosa verba pública para que estaservisse a outro interesse primordial daquele apelante, cuja natureza eraestritamente eleitoral, o que implicou em sua eleição a Prefeito de Palhoça portais meios dissimulados, conforme acima detalhado e especificado com osdetalhes sórdidos de tal empreitada, transparecendo assim o outro lado existentepor trás dessa caridade dirigida a outros fins, no caso eleitoral, ilícito.

Restando assentada a gravidade existente nas referidascondutas vedadas praticadas pelo recorrente Camilo Martins, deve ser mantida acassação do respectivo diploma, na linha de intelecção do seguinte precedente doe. TSE: 8 Recurso Ordinário – RO n. 1497 TSE, Relator Ministro Eros Roberto Grau, publicado no Diário de JustiçaEletrônico de 02.12.2008, pp. 21-22 – grifou-se.

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Conduta vedada. Distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios.1. À falta de previsão em lei específica e de execução orçamentária no ano anterior, adistribuição gratuita de bens, valores ou benefícios, em ano eleitoral, consistente emprograma de empréstimo de animais, para fins de utilização e reprodução, caracteriza aconduta vedada do art. 73, § 10, da Lei nº 9.504/97.2. A pena de cassação de registro ou diploma só deve ser imposta em caso degravidade da conduta.Recurso ordinário provido, em parte, para aplicar a pena de multa ao responsável e aosbeneficiários. 9

Destaque-se que tal gravidade, no caso do abuso de podereconômico e político-econômico, é requisito para que restem configurados taisabusos, na linha da disposição expressa do art. 22, XVI, da LC n. 64/1990, doque se infere, logicamente, que a consequência é a decretação da inelegibilidadedo apelante Camilo Martins pelo prazo de oito anos, nos termos expressamentedeclinados no art. 22, XIV.

Frise-se, ainda, que a cassação do diploma do Vice-Prefeitoapelante, Nilson Espíndola, é consectário direto da cassação do diploma doPrefeito, uma vez que há litisconsórcio passivo necessário entre ambos, conformeentendimento amplamente acolhido pela Corte Superior Eleitoral,consubstanciado no seguinte julgado:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2008.PREFEITA. REPRESENTAÇÃO. ABUSO DE PODER. CONDUTA VEDADA. ART.73 DA LEI 9.504/97. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO VICE-PREFEITO.DECADÊNCIA DO DIREITO DE AÇÃO. NÃO PROVIMENTO.1. Preliminarmente, não conheço do pedido de desistência formulado por NúbiaCozzolino (Protocolo nº 11.837/2013), pois embora se declare recorrente, figura narelação processual como recorrida.2. Há litisconsórcio passivo necessário entre titular e vice da chapa majoritária nasações eleitorais que possam implicar a cassação do registro ou do diploma.Precedentes.3. Na espécie, a representação com fundamento no art. 73 da Lei 9.504/97 foi propostasomente contra o prefeito, sem determinação posterior de citação do vice-prefeito,impondo-se o reconhecimento da decadência do direito de ação.4. Cumpre aos órgãos da Justiça Eleitoral evitar entendimentos conflitantes durante amesma eleição, em homenagem à segurança jurídica. Nesse sentido, o entendimentofirmado a partir do julgamento da Questão de Ordem no RCED 703 não ocasionousurpresa aos jurisdicionados, pois constituiu primeira manifestação do TSE sobre o temae só foi aplicado às ações propostas posteriormente. Precedentes.

9 Recurso Ordinário – RO n. 1496-55 TSE, Relator Ministro Arnaldo Versiani Leite Soares, publicado noDiário de Justiça Eletrônico de 24.02.2012, pp. 42-43 – grifou-se.

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5. No caso dos autos, a AIJE foi proposta em 25.8.2008, ou seja, após a definição donovo entendimento jurisprudencial, sendo obrigatória, portanto, a citação do vice-prefeito.6. Agravo regimental não provido. 10

Por fim, no que diz respeito ao pleito de redução da multaformulado pelo recorrente Camilo Martins, verifica-se que esta foi aplicada novalor de 50.000 UFIR´s, vale dizer, abaixo do valor médio previsto no art. 73, §4º, da Lei das Eleições, o qual prevê que tal multa pode ser estipulada num valorentre 5.000 e 100.000 UFIR´s.

Assim, considerando que o referido valor de 50.000 UFIR´sse mostra proporcional e razoável frente à gravidade detectada nas condutasilícitas praticadas pelo apelante Camilo Martins, conforme acima visto, tem-seque o citado pleito não deve ser provido, na esteira do seguinte julgado do e.Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina – TRE/SC que assinala que taisparâmetros é que devem definir o respectivo valor, verbis:

- ELEIÇÕES 2012 - RECURSO - INVESTIGAÇÃO JUDICIAL - CONDUTASVEDADAS.- DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS À POPULAÇÃO - ART. 73, IV, DA LEIN. 9.504/1997 - SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA DECRETADA NO MUNICÍPIO EMRAZÃO DE ESTIAGEM - EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 73, § 10, DA LEI DASELEIÇÕES - INOCORRÊNCIA.- UTILIZAÇÃO DE BENS MÓVEIS PÚBLICOS - VEÍCULOS - ART. 73, I, DA LEIN. 9.504/1997 - EXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO LEGAL PARA EXECUÇÃO DESERVIÇOS PARTICULARES DE INTERESSE DO MUNICÍPIO - AUSÊNCIA DECOMPROVAÇÃO.- DOAÇÃO DE BENS A ELEITOR EM TROCA DE DESFILIAÇÃO DE PARTIDOPOLÍTICO - ART. 41-A E ART. 73, I, DA LEI N. 9.504/1997 - PROVA FRÁGIL EINSATISFATÓRIA - CONDUTAS NÃO CONFIGURADAS - IRREGULARIDADEAFASTADA.- CONCESSÃO DE CURSO DE INFORMÁTICA À POPULAÇÃO - ART. 41-A EART. 73, I E IV, DA LEI N. 9.504/1997 - PROVA TESTEMUNHALINCONSISTENTE - FALTA DE COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO COMRECURSOS DE ORIGEM PÚBLICA - CONDUTA REJEITADA.- ALTERAÇÃO DO HORÁRIO DO ÓRGÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICAMUNICIPAL, VISANDO USO DOS PRÉSTIMOS DE SERVIDORES PÚBLICOSNA CAMPANHA ELEITORAL - ART. 73, III, DA LEI N 9.504/1997 - ATOADMINISTRATIVO AMPARADO EM LEI MUNICIPAL - PRÁTICA REITERADADA ADMINISTRAÇÃO - NÃO CONFIGURAÇÃO.- PUBLICIDADE INSTITUCIONAL - ART. 73, VI, "b", DA LEI N. 9.504/1997 -MANUTENÇÃO DE PLACAS IDENTIFICADORAS DE OBRAS PÚBLICAS E

10 Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral – AgR-RESPE n. 7848-84 TSE, Relator Ministro José deCastro Meira, publicado no Diário de Justiça Eletrônico de 24.06.2013, p. 59 – grifou-se.

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VEICULAÇÃO DE MATÉRIAS NOTICIANDO AÇÕES ADMINISTRATIVAS NAPÁGINA ELETRÔNICA DA PREFEITURA NO PERÍODO VEDADO -CONFIGURAÇÃO.- APLICAÇÃO DE PENALIDADE - PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE -SANÇÃO DETERMINADA PELA GRAVIDADE DA CONDUTA - ÍNFIMALESIVIDADE - PENALIDADE PECUNIÁRIA SUFICIENTE PARA REPRIMIR ACONDUTA PERPETRADA - MULTA DE VALOR EXCESSIVO - NECESSÁRIAREDUÇÃO AO PATAMAR MÍNIMO - PRECEDENTES."Caracterizada a infração às hipóteses do art. 73 da Lei n. 9.504/1997, é necessárioverificar, de acordo com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, qual asanção que deve ser aplicada. Nesse exame, cabe ao Judiciário dosar a multaprevista no § 4º do mencionado art. 73, de acordo com a capacidade econômica doinfrator, a gravidade da conduta e a repercussão que o fato atingiu. Em casoextremo, a sanção pode alcançar o registro ou o diploma do candidato beneficiado,na forma do § 5º do referido artigo" [Representação n. 2959-86, de 21.10.2010, Rel.Min. Henrique Neves]. 11

Após as considerações supra, levando em conta que restaramcomprovadas as práticas das condutas vedadas previstas no art. 73, IV e § 11, daLei n. 9.504/11997, e o abuso de poder econômico, conforme disposto no art. 22,XIV, da LC n. 64/1990, levados a efeito pelo recorrente Camilo Martins,conforme acima assinalado, impõe-se seja desprovido o apelo deste e,igualmente, por arrastamento, o do Vice-Prefeito recorrente, Nilson Espíndola,uma vez que este é litisconsorte passivo necessário do primeiro na presente AIJE,devendo assim ser cassada a liminar proferida nos autos da AC n. 156-59.2013.6.24.0000 e determinada nova eleição no Município de Palhoça no prazomais breve possível, especialmente pelos graves incidentes ocorridos no aludidoMunicípio concernentes à eleição transata, o que demanda sejam tomadasenérgicas medidas por esta Corte Regional Eleitoral para que se mantenha eresguarde a lisura que deve nortear pleitos que tais, afora o fato de que osrecursos eleitorais, via de regra, não ostentam efeito suspensivo, na linhaexpressamente constante no art. 257 do Código Eleitoral – CE.

ANTE O EXPOSTO, a Procuradoria Regional Eleitoral, porseu agente signatário, manifesta-se pelo conhecimento de ambos os recursos e, nomérito, pugna pelo desprovimento destes, nos termos acima consignados,cassando-se em decorrência a liminar proferida nos autos da AC n. 156-59.2013.6.24.0000 e determinando-se a realização de nova eleição no Municípiode Palhoça no prazo mais breve possível.

Florianópolis, 02 de outubro de 2013. 11 Recurso Contra Decisões de Juízes Eleitorais – RDJE n. 40661 TRE/SC, Relatora Juíza BárbaraLebarbenchon Moura Thomaselli, publicado no Diário de JE de 13.02.2013, pp. 5-6 – grifou-se.

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ANDRÉ STEFANI BERTUOLProcurador Regional Eleitoral