instituto brasileiro de direito e planejamento municipalbispoadvogados.com.br/download/parecer a lei...

20
Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300 Nos procurou o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e Autárquicos de São Bernardo do Campo – SINDSERVSBC, solicitando a emissão de um parecer discorrendo de forma segura sobre o que pode e o que não se pode ser feito pela Administração Municipal de São Bernardo do Campo em termos de reajuste nos benefícios dos servidores públicos (vale alimentação, vale transporte, convênio médico, auxilio creche, seguro de vida e auxilio funeral, adicional de insalubridade e adicional noturno para estatutários e abono de natal) e até que data, tendo em vista que após reuniões com a Administração Municipal a mesma informou que não poderia conceder nada que envolvesse valores durante este ano devido à lei eleitoral, sendo afirmado que nem mesmo o abono de natal poderá ser concedido devido a lei eleitoral. Para responder à consulta formulada pela entidade sindical supra mencionada, que demonstra plausível preocupação com as limitações das leis – Eleitoral e de Responsabilidade Fiscal (LRF) - quanto ao prazo a partir do qual é proibido promover atualização de salário, elaboramos um sintético parecer esclarecendo sobre a matéria. Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que toda e qualquer atualização salarial a ser realizada no âmbito municipal, exceto a revisão geral anual, terá que estar de acordo com os limites fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal, segundo os quais: “(...) Os municípios poderão gastar até 60% da receita corrente líquida, assim distribuídos: Poder Legislativo, incluído o Tribunal de Contas (6%) e o Poder Executivo (54%).” Em segundo, é necessário esclarecer que as restrições à atualização salarial em 2012 obedecem a duas ordens de restrições, uma relacionada à disputa eleitoral e, outra ao término dos mandatos dos titulares de poder. A primeira, de natureza moral, prevista na Lei 9.504/97, veda condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos, como a concessão de reajustes salariais

Upload: phungtuyen

Post on 28-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Nos procurou o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais e Autárquicos de São

Bernardo do Campo – SINDSERVSBC, solicitando a emissão de um parecer discorrendo de forma

segura sobre o que pode e o que não se pode ser feito pela Administração Municipal de São

Bernardo do Campo em termos de reajuste nos benefícios dos servidores públicos (vale

alimentação, vale transporte, convênio médico, auxilio creche, seguro de vida e auxilio funeral,

adicional de insalubridade e adicional noturno para estatutários e abono de natal) e até que

data, tendo em vista que após reuniões com a Administração Municipal a mesma informou que

não poderia conceder nada que envolvesse valores durante este ano devido à lei eleitoral, sendo

afirmado que nem mesmo o abono de natal poderá ser concedido devido a lei eleitoral.

Para responder à consulta formulada pela entidade sindical supra mencionada, que

demonstra plausível preocupação com as limitações das leis – Eleitoral e de Responsabilidade

Fiscal (LRF) - quanto ao prazo a partir do qual é proibido promover atualização de salário,

elaboramos um sintético parecer esclarecendo sobre a matéria.

Em primeiro lugar, é preciso ficar claro que toda e qualquer atualização salarial a ser

realizada no âmbito municipal, exceto a revisão geral anual, terá que estar de acordo com os

limites fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal, segundo os quais: “(...) Os municípios poderão

gastar até 60% da receita corrente líquida, assim distribuídos: Poder Legislativo, incluído o

Tribunal de Contas (6%) e o Poder Executivo (54%).”

Em segundo, é necessário esclarecer que as restrições à atualização salarial em 2012

obedecem a duas ordens de restrições, uma relacionada à disputa eleitoral e, outra ao término

dos mandatos dos titulares de poder.

A primeira, de natureza moral, prevista na Lei 9.504/97, veda condutas tendentes a

afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos, como a concessão de reajustes salariais

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

superiores à inflação do ano da eleição nos 180 dias antes do pleito eleitoral (a partir de 6 de

abril de 2012).

A segunda, relativa ao controle das finanças públicas para evitar aumento de despesa

permanente para o futuro administrador, prevista na Lei Complementar 101/00 (LRF), torna

nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal nos 180 dias que

anteriores ao término do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão, mesmo que o

aumento vá vigorar em data futura.

Vamos à analise de cada uma dessas duas situações.

A lei eleitoral (9.504/97), conforme transcrito abaixo, no inciso VIII de seu artigo 73,

trata de revisão geral ou da data-base dos servidores, segundo o previsto no artigo 37, inciso X,

da Constituição Federal.

Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes

condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos

pleitos eleitorais:

( ) ......

VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos

servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º

desta Lei e até a posse dos eleitos.

(Art. 7º, § 1º: cento e oitenta dias antes das eleições)

O artigo 7.º estabelece o prazo de 180 (cento e oitenta) dias antes das eleições (data

limite para que sejam publicadas as normas para a escolha e substituição dos candidatos e para

a formação de coligações em caso de omissão no estatuto do partido).

Assim, no período compreendido entre cento e oitenta dias antes da eleição e a posse dos

eleitos (que no caso das eleições municipais é o dia 1.º de janeiro do ano seguinte) é vedada a

conduta prevista no inciso VIII do art. 73 da Lei Eleitoral.

A Lei Eleitoral, como se vê, proíbe, nos 180 dias anteriores ao pleito, apenas a revisão

geral que exceda a reposição da inflação do ano da eleição.

A redação do dispositivo, por certo, não é das mais claras e tem gerado certa polêmica

entre os intérpretes da lei:

O problema aqui é definir qual o período a ser considerado no cálculo da inflação a título

de recomposição salarial no ano da eleição.

Uma interpretação possível é de que se a lei veda o aumento a partir de 180 dias antes

das eleições até a posse, após esse prazo, somente é possível a recomposição das perdas

salariais de janeiro a abril do ano eleitoral.

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Entretanto, para alguns especialistas, a emenda 19/98 da Constituição Federal

estabeleceu o princípio da periodicidade para a remuneração dos servidores públicos, o que

assegura a revisão geral anual da remuneração. Portanto, onde existe o estabelecimento de

data-base para o reajuste do funcionalismo, a revisão deve considerar a inflação do ano anterior

à data-base.

Embora haja argumentos jurídicos, é preciso cautela, principalmente onde não há o

estabelecimento legal de data-base.

Assim, neste ano de 2012, a revisão geral da remuneração dos servidores públicos, que

vá além das perdas do ano (janeiro a abril de 2012) deve ser realizada até o dia 06 de abril de

2012, conforme calendário eleitoral (Resolução do TSE nº 23.341 de 28 de junho de 2011).

O estabelecimento de severa punição pelo descumprimento deste artigo torna a discussão

ainda mais urgente, uma vez que pode significar a impossibilidade de reajuste para os

servidores públicos.

§ 4º O descumprimento do disposto neste artigo acarretará a suspensão

imediata da conduta vedada, quando for o caso, e sujeitará os responsáveis a

multa no valor de cinco a cem mil UFIR.

§ 5º Nos casos de descumprimento do disposto nos incisos I, II, III, IV e VI do

caput, sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior, o candidato beneficiado,

agente público ou não, ficará sujeito à cassação do registro ou do diploma.

(Redação dada pela Lei nº 9.840, de 28.9.1999).

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Como o art. 77 da Constituição Federal e o art. 1.º da Lei Eleitoral estabelecem que as

eleições ocorrerão sempre no primeiro domingo do mês de outubro (que este ano cairá no dia

1.º), o último dia para "revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a

recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição" será 04 de abril de

2012.

Observe-se, entretanto, que, pela Lei Eleitoral, o que está vedado é apenas o reajuste

que "exceda a recomposição da perda de seu poder ao longo do ano da eleição". O que

pressupõe que a recomposição da perda ocorrida ao longo do ano eleitoral é possível sem a

obrigatoriedade de se obedecer o prazo de 180 dias nela fixado." 1

A despeito de eventual entendimento contrário, não conseguimos visualizar a

possibilidade de interpretar o dispositivo em comento de forma a restringir "a recomposição da

perda do poder aquisitivo" ao período entre janeiro a abril do exercício corrente, como sugere

inicialmente o texto retro.

Exegese nesse sentido seria desconsiderar regras comezinhas de hermenêutica, além de

sacrificar o entendimento lógico e gramatical das sentenças constantes do referido inciso.

O texto, a nosso ver, é claro nesse sentido: o que é vedado nesse período é fazer revisão

geral que exceda a recomposição salarial.

Esclareça-se que a recomposição do poder aquisitivo refere-se à recuperação do valor

monetário dos vencimentos em face da inflação ocorrida no período. Assim como ocorre com a

1 Alexandre Brandão Henriques Maimoni, OAB/DF 16.022. Parecer publicado in

http://www.sinal.org.br/cs_2005/menu_2.asp?codigo=766&tipo=documentos

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

correção monetária, não se trata de ganho real ou de qualquer acréscimo efetivo da

remuneração, mas de manutenção do poder de compra (valor monetário) da moeda2.

A questão que se coloca, então, é sobre o alcance da expressão "ao longo do ano da

eleição", referindo-se ao período em que a revisão de vencimentos estará limitada à

recomposição da perda do poder aquisitivo.

O E. Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais tratou do tema nos seguintes termos:

"(...) acerca da proibição da concessão de reajuste aos servidores em ano

eleitoral (Lei nº 9.504/97), em face do inciso X do art. 37 da Constituição

Federal/88, respondo louvando-me no parecer da douta Auditoria de fls. 05 a 08.

Em realidade, o Texto Constitucional de 1988 determina a revisão geral anual de

vencimentos dos servidores públicos e a Lei nº 9.504/97 (Lei Eleitoral), por sua

vez, determina ser defeso a "revisão geral da remuneração dos servidores

públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo" (art. 73,

inc. VIII), vedando, destarte, somente o aumento real de vencimentos em ano

de eleição.

2 Exemplificamos: se o servidor, em determinada data, recebia a título de vencimentos o valor de R$

600,00 (seiscentos reais), que lhe permitia adquirir uma quantidade de produtos, e, depois de decorrido

certo período, tais produtos passaram a custar R$ 630,00 (seiscentos e trinta reais) –– verificando-se

portanto uma inflação de 5% (cinco por cento) –– esse acréscimo de R$ 30,00 (trinta reais) em sua

remuneração não representará qualquer ganho real, mas apenas terá recomposto seu poder aquisitivo

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Assim, tais dispositivos legais convergem no sentido de que nem a Constituição

Federal/88 e nem a Lei citada vedam a recomposição da perda do valor

aquisitivo da moeda." 3

Pode parecer, assim, que a revisão geral poderia ser concedida, em face do preceito

constitucional, mesmo para recomposição de índice inflacionário do período anual anterior à

data-base, vedando-se apenas o aumento real da remuneração.

É o entendimento acolhido no parecer retro citado, do advogado brasiliense Alexandre

Maimoni, especialmente quando há data-base estabelecida na legislação local.

Nesse aspecto, o Tribunal Superior Eleitoral, respondendo consulta formulada sobre a

matéria, manifestou-se, data venia, de forma pouco esclarecedora:

"Revisão geral de remuneração de servidores públicos – Circunscrição do pleito –

Art. 73, inciso VIII, da Lei n.º 9.504/97 – Perda do poder aquisitivo –

Recomposição – Projeto de lei – Encaminhamento – Aprovação.

1. O ato de revisão geral de remuneração dos servidores públicos, a que se

refere o art. 73, inciso VIII, da Lei n.º 9.504/97, tem natureza legislativa, em

face da exigência contida no texto constitucional.

3 Resposta à Consulta n.º 643.178. Sessão do dia 12.02.2003, Relator Conselheiro Eduardo Carone Costa,

in http://www.tce.mg.gov.br/Biblioteca/htms/643178.htm

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

2. O encaminhamento de projeto de lei de revisão geral de remuneração de

servidores públicos que exceda à mera recomposição da perda do poder

aquisitivo sofre expressa limitação do art. 73, inciso VIII, da Lei n.º 9.504/97, na

circunscrição do pleito, não podendo ocorrer a partir do dia 9 de abril de 2002

até a posse dos eleitos, conforme dispõe a Resolução/TSE n.º 20.890, de

9.10.2001.

3. A aprovação do projeto de lei que tiver sido encaminhado antes do período

vedado pela lei eleitoral não se encontra obstada, desde que se restrinja à mera

recomposição do poder aquisitivo no ano eleitoral.

4. A revisão geral de remuneração deve ser entendida como sendo o aumento

concedido em razão do poder aquisitivo da moeda e que não tem por objetivo

corrigir situações de injustiça ou de necessidade de revalorização profissional de

carreiras específicas." 4

A nosso ver, contudo, o texto legal não deixa margem para interpretações extensivas,

consignando de forma contundente que a recomposição inflacionária deve limitar-se à variação

ocorrida no ano da eleição, independente de haver ou não previsão de data-base para a revisão

geral anual.

Ou seja, ultrapassado o limite temporal previsto no art. 73, VIII, da Lei de Eleições,

qualquer revisão geral de vencimentos dos servidores públicos não poderá exceder à variação

inflacionária no período compreendido entre janeiro do mesmo ano e o mês de aprovação da

respectiva lei.

4 TSE, CTA n.º 782, Res. n.º 21.296, de 12.11.2002, Rel. Min. Fernando Neves

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Se em determinado Município o último reajuste geral foi concedido a partir de 1.º de

outubro de 2011, por exemplo, independente da existência de lei definindo a data-base para a

revisão geral anual de que trata o art. 37, X, da Constituição da República, entendemos que

eventual perda do poder aquisitivo entre aquela data e 1.º de janeiro de 2012 não poderá ser

recomposta no presente exercício.

Entendemos, contudo, que a Administração Pública municipal poderá conceder reajuste

geral aos seus servidores ainda neste ano, desde que limitado à variação de índice de inflação

oficialmente reconhecido ocorrida entre 1.º de janeiro de 2012 e a data da vigência da

respectiva lei.

Assim não impede a revisão geral anual, prevista o inciso X do artigo 37 da Constituição,

desde que esta não exceda a recomposição do poder aquisitivo, nem tampouco veda

transformação, alteração de estrutura de carreiras ou reclassificação de cargos, incluindo a

concessão de qualquer vantagem a grupos específicos de servidores, desde que observado o

mesmo princípio, ou seja, o aumento não pode superar a inflação do ano em curso.

Decorre do artigo a fixação de um período vedado, em que se proíbe a revisão

geral que exceda a perda inflacionária verificada ao longo do ano da eleição. O prazo a

que se refere a parte final da norma em comento é o de 180 dias anteriores ao pleito

que, nas eleições de 2012, corresponde a dia 6 de abril segundo o Calendário Eleitoral.

Em resumo: após 6 de abril de 2012, só será possível praticar aumento de despesa

com funcionalismo público na modalidade de revisão geral da remuneração se forem

asseguradas concomitantemente as seguintes condições:

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

a) aplicação de índices oficiais de reajustes;

b) a fim de garantir a mera recomposição do valor da remuneração;

c) em face da perda inflacionária medida no período entre 1º de janeiro e a data da

concessão do reajuste.

São vários os precedentes judiciais fixados, nesse sentido, pelo Tribunal Superior

Eleitoral:

Consulta. Eleição 2004. Revisão geral da remuneração servidor público. Possibilidade

desde que não exceda a recomposição da perda do poder aquisitivo (inciso VIII do

art. 73 da Lei n. 9.504/97) (TSE. Resolução n.º 21.812/2004).

SUBSÍDIO — REVISÃO. Consoante dispõe o art. 73, inciso VIII, da Lei n.º 9.504/97, é

lícita a revisão da remuneração considerada a perda do poder aquisitivo da moeda no

ano das eleições (TSE. Resolução n. 22.317/2006).

O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, nos Recursos Eleitorais n. 1.498/04

e 1.677/05, julgou ilícita a concessão de reajuste de 8,34% a servidores públicos

municipais, no período vedado, quando os índices oficiais não ultrapassavam os 4%.

Contudo, o próprio TRE/MG determinou, no julgamento do Recurso Eleitoral n. 829/05,

ser lícita a incorporação de abono salarial aos vencimentos ainda que em período

vedado:

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Acórdão n. 1.546/2005

Recurso Eleitoral. Representação. Art. 73, inciso VIII, da Lei n. 9.504/97.

Eleições 2004. Extinção do processo sem julgamento do mérito. Art. 267, VI, do CPC.

Preliminares:

1. Incompetência da Justiça Eleitoral. Rejeitada. Art. 96, inciso I, da Lei n.º 9.504/97

dispõe sobre a competência dos Juízes Eleitorais para apurar as reclamações ou

representações relativas ao descumprimento da Lei Eleitoral, nas eleições municipais.

2. Ilegitimidade passiva do recorrido. Rejeitada. Conduta do recorrido, na condição de

Prefeito, enquadra-se nas proibições contidas no art. 73, inciso VIII, da Lei n.

9.504/97.

3. Inadequação da via eleita. Rejeitada. Art. 96 da Lei n. 9.504/97 prevê a

aplicabilidade do procedimento adotado no caso em apreço para apurar a infração à

Lei Eleitoral.

Mérito. Aplicabilidade do art. 515, § 3º, do CPC. Matéria exclusivamente de direito.

Incompetência do juízo eleitoral para se pronunciar acerca de nulidade de lei

municipal criada a partir do devido processo legislativo.

Concessão de abono salarial aos servidores públicos municipais fora do

período vedado pelo art. 73, inciso VIII, da Lei n. 9.504/97. Inexistência de

mudança efetiva e real na remuneração dos servidores ou nos encargos

municipais. Incorporação aos vencimentos do abono anteriormente pago.

Não configuração de infração à Lei n. 9.504/97.

Recurso a que se dá provimento. Improcedência do pedido.

(TRE/MG. Recurso Eleitoral n. 829/2005. Relator: Des. Armando Pinheiro Lago. DJMG

19/11/05). (grifo nosso).

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

A Lei de Responsabilidade Fiscal, (Lei Complementar de nº 101/2000), conforme

transcrito abaixo, em seu art. 21, trata de tornar nulo o aumento com despesa de pessoal nos

180 dias que antecedem ao termino do mandato do titular do respectivo poder.

Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000:

Art. 21 - é nulo de pleito direito o ato que provoque aumento da despesa com

pessoal e não atenda:

I - as exigências dos arts. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no

inciso XIII do art. 37 e no parágrafo 1º do art. 169 da Constituição;

II - o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo;

Parágrafo Único - Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento

de despesa com pessoal expedido nos cento e oitenta dias anteriores ao final do

mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no artigo 20.

A Lei de Responsabilidade Fiscal, no parágrafo único do artigo 21, de fato impõe restrição

temporal em ano eleitoral para efeito de aumento de despesa permanente de pessoal, proibindo

qualquer modalidade de reajuste nos 180 dias que antecedem ao termino do mandato.

Assim, a partir de 5 de julho do ano final do respectivo mandato, é defeso o incremento

no gasto com servidores, ressalvado, por óbvio, o "crescimento vegetativo" da folha de

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

pagamento (este decorrente da materialização de direitos legalmente assegurados aos

servidores por força de norma constitucional ou legal anterior).

A interpretação literal do texto tem sido contestada em razão do sentido que norteia a

LRF, que não tem nenhuma intenção moralizadora da Administração Pública, mas visa ao

equilíbrio das receitas e despesas públicas.

Nesse sentido:

"É importante perceber que não está proibida a concessão de vantagens, está

vedado o aumento de despesas de pessoal. Já vimos que um dos mecanismos

básicos da lei é o da compensação. Assim, caso o Poder ou órgão conceda

alguma vantagem e promova a imediata compensação, não haverá aumento de

despesas de pessoal, portanto a atitude será legal. Mais uma vez, repetimos, a

lei não visa a promover o "engessamento" da Administração, mas sim a

incentivar a responsabilidade na gestão fiscal."5

Ainda, no mesmo sentido:

"(...) o dispositivo não proíbe os atos de investidura ou os reajustes de

vencimentos ou qualquer outro tipo de ato que acarrete aumento de despesa,

mas veda que haja aumento de despesa com pessoal no período assinalado.

Assim, nada impede que atos de investidura sejam praticados ou vantagens

pecuniárias sejam outorgadas, desde que haja aumento da receita que permita

manter o órgão ou Poder no limite estabelecido no art. 20 ou desde que o

5 Carlos Maurício Figueiredo e Outros. Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal, São Paulo, Ed. RT,

2001, p. 160.

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

aumento da despesa seja compensado com atos de vacância ou outras formas de

diminuição da despesa com pessoal. As proibições de atos de provimento em

período eleitoral costumam constar de leis eleitorais, matéria que escapa aos

objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal." 6

A Nota Técnica n.º 15 (Março de 2006) do DIEESE7, assim orienta:

"Em seu artigo 21, a Lei de Responsabilidade Fiscal restringe o crescimento da

despesa de pessoal nos 180 dias que precedem o final do mandato. Isto significa

dizer que a partir de julho do anoeleitoral não deve haver aumento na "rubrica"

pessoal e encargos. (...)”

É relevante destacar que a lei acima citada proíbe o aumento de despesa de pessoal.

Entretanto, não se aplica no caso de vantagens pessoais derivadas de legislação anterior aos

180 dias, que vão se traduzir, na prática, em crescimento vegetativo da folha salarial.

Outra exceção é o abono pago aos professores do ensino fundamental, uma vez que a

Emenda Constitucional nº 14 e a Lei Federal nº 9.424, ambas de 1996, portanto anteriores,

estabelecem, que a remuneração desses professores não fique abaixo dos 60% do Fundo do

Ensino Fundamental – Fundef.

Aqui, a polêmica está no conceito de despesa com pessoal, qual seja: considerar os

valores nominais (números absolutos) ou o valor proporcional à receita corrente líquida.

6 Maria Sylvia Zanella Di Pietro in Comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal/Ives Gandra da Silva

Martins, Carlos Valder do Nascimento, organizadores. São Paulo, Ed. Saraiva, 2001, p. 155/156 7 http://www.dieese.org.br/notatecnica/notatecServidores.pdf

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Em nota técnica, o Tribunal de Contas de São Paulo defende a linha do percentual da

receita corrente líquida."

O parecer cita o entendimento do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo ("As

despesas de pessoal e a nulidade das contratações nos 180 dias finais de mandato"), assim

registrado:

"Ousamos nós, contudo, outra linha interpretativa, no sentido da relativização

das cifras nominais, em fração da receita corrente líquida, vale dizer, o cotejo é

percentual, baseado na taxa do mês que antecede o início de alcance da aludida

regra. Dentro do período restringido e conforme as exceções admitidas na Lei

Eleitoral (art.73, V "a" a "d") tornam-se possíveis aumentos nominais no gasto

do pessoal, desde que isso não implique percentual maior que o registrado no

período-base da regra, vale dizer de junho."

E o parecerista comenta:

"Esta interpretação abre a possibilidade de aumento da despesa com

pessoal, mesmo nos 180 dias, desde que não ultrapasse o percentual da

receita corrente líquida registrada no período anterior (junho) e atenda as

restrições da lei eleitoral.

É preciso ter claro que a Lei de Responsabilidade Fiscal, diferentemente da

Lei Eleitoral, não está preocupada com a questão moral. Objetiva,

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

fundamentalmente, o equilíbrio financeiro entre as receitas e as despesas.

Trata-se de uma lei estritamente financeira." 8

Esse entendimento é corroborado por Flávio Toledo e Sérgio Rossi, Assessor Técnico e

Secretário-Diretor Geral do E. Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que o reproduzem,

praticamente, em sua obra "Lei de Responsabilidade Fiscal comentada artigo por artigo"9,

verbis:

"Para determinada corrente de intérpretes, afora majorações conquistadas em

direito que precede os tais cento e oitenta dias (qüinqüênios, sexta-parte, abono

dos professores do ensino fundamental, convênios, etc.), qualquer incremento no

gasto com servidores está a contrariar a norma fiscal em comento, fato que

enseja tipificação penal (art. 359-G do Código Penal alterado pela Lei n.º 10.028,

de 2000). Designamos nominal tal linha de interpretação, vez que se baseia em

números correntes, em valores absolutos, pois.

Ousamos nós, contudo, outra linha interpretativa, no sentido da relativização das

cifras nominais, em fração da receita corrente líquida; vale dizer, o cotejo é

percentual, baseado na taxa do mês que antecede o início de alcance da aludida

regra (junho). Dentro do período restringido e conforme as exceções admitidas

na Lei Eleitoral (art. 73, V, a a d), tornam-se possíveis aumentos nominais no

gasto do pessoal, desde que isso não resulte percentual maior que o registrado

em junho. Denominamos proporcional tal corrente de entendimento.

8 Idem, ibidem.

9 São Paulo, Ed. NDJ, 2.ª ed., 2002, p. 150/151

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

É bem assim porque, no contexto da LRF, a despesa de pessoal é, sempre, uma

proporção da receita corrente líquida. (...)

Em suma, a apuração desse gasto relaciona sempre duas variáveis fazendárias:

a despesa de pessoal de cada Poder e a receita corrente líquida de todo o ente

federado; se é assim sempre, a barreira em debate não poderia ser observada

de maneira diversa."

Aliando-nos à chamada corrente proporcional, entendemos que o reajuste dos

vencimentos dos servidores públicos não está vedado no período de que trata o parágrafo único

do art. 21 da Lei de Responsabilidade Fiscal, desde que respeitado o limite percentual entre o

gasto de pessoal e a receita corrente líquida apurada em junho deste exercício.

Portanto, o prazo limite para revisão geral, reajuste, aumento ou reestruturação, será até

o dia 6 de junho 2012. Alguns podem interpretar que este prazo seria para a transformação da

proposição em lei, mas não é.

Sobre o artigo 73, inciso VIII da Lei 9.504/97 esclarecem os autores Flávio Caetano e

Wilton Gomes 10que:

“esta norma proíbe que haja um aumento com as despesas de pessoal, por

decorrência da revisão geral da remuneração dos servidores públicos, no período

compreendido entre 180 (cento e oitenta) dias antes do pleito até a posse dos eleitos.

10

Direito Eleitoral, Editora Quartier Latin, São Paulo, 2006.

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

A variação do valor nominal, ou seja, a recomposição da perda do valor aquisitivo da

remuneração é legalmente permitida. A revisão superior a tal recomposição é

rechaçada pelo presente artigo.

Não há que se confundir com a disposição do artigo 21, parágrafo único da Lei de

Responsabilidade Fiscal, que declara nulo de pleno direito o aumento da despesa com

pessoal nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do mandato do agente

público. Esta norma proíbe o acréscimo nas despesas com pessoal, incluídos o

aumento de remuneração real assim como do aumento do número de servidores

públicos. Ademais, o período é diverso, ela só é aplicável nos 180 (cento e oitenta)

dias anteriores ao final do mandato.”

Já o Doutrinador Eleitoralista Joel J. Candido11 ao comentar o assunto, vale dizer, o inciso

VIII do artigo 73 da Lei 9.504/97 em sua obra Direito Eleitoral Brasileiro, dispõe:

“ O inciso tem – deliberada ou acidentalmente – péssima redação. O que se veda, em

síntese, é a concessão de aumento real de vencimento ou salário (assim entendido

aquele cujo índice ultrapassa a perda decorrente da inflação) ao funcionalismo

público. Como o aumento lícito depende de aprovação de projeto de lei, a infração se

consuma, a nosso sentir, com o simples envio e divulgação desse projeto e não com

sua eventual aprovação pelo Parlamento. A não ser assim, a demagogia e cabala de

votos seria possível de parte do Poder Executivo, pondo a culpa pela não-aprovação

do projeto no Poder Legislativo. O período da proibição não é só nos três meses que

antecedem ao pleito, mas vai de abril a outubro (180 dias antes das eleições), único

prazo previsto no art. 7.º mencionado pelo inciso, até a posse dos eleitos.

11

Direito Eleitoral Brasileiro. Edipro. 2004. 11.ª Edição. 2.ª Tiragem. Revista e Atualizada.

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

A palavra circunscrição, aqui neste inciso VIII, só pode merecer interpretação restrita

e deve ser entendida pelito por pleito, com caráter relativo e sempre no que se refere

aos seus respectivos servidores federais, estaduais ou municipais. A não ser assim,

estes últimos sempre estariam abrangidos pela proibição legal. Em outras palavras,

nas eleições presidenciais, só os servidores públicos federais não podem ser

aumentados; nas eleições gerais, só não podem receber majoração salarial vedada os

servidores estaduais, e, finalmente, só nas eleições municipais a proibição atinge os

municipários.”

Diante de nossas considerações preliminares, jurisprudência e das considerações

doutrinárias, de importante colaboração acima colacionadas, podemos concluir que:

Em cada ano eleitoral, é permitida, até o 180° dia antes da eleição (nesse ano 06

de abril pela Resolução do TSE n.º 23.341 de 28 de junho de 2011), revisão geral para

todo o funcionalismo público, com base em índice de reajuste superior ao da inflação.

Após esse prazo, é permitida revisão geral para todo o funcionalismo público,

com base em índice oficial e limitada ao período compreendido entre 1º de janeiro do

ano eleitoral e a data da efetiva concessão.

A partir de 05 de julho do ano final do respectivo mandato, é proibido o

incremento no gasto com servidores, ressalvado, por óbvio, o "crescimento

vegetativo" da folha de pagamento (este decorrente da materialização de direitos

legalmente assegurados aos servidores por força de norma constitucional ou legal

anterior).

Instituto Brasileiro de Direito e Planejamento Municipal

Rua Major Quedinho, 111 – 6º andar – Conj. 610 – Consolação – CEP 01.050-904 – São Paulo/SP – Brasil – Tel/Fax: 55 (11) 3129-3047 Rua Capitão Lisboa, 715 – 8º andar – Conj. 83 – Centro – CEP 18.270-070 – Tatuí/SP – Brasil – Tel/Fax: 55(15) 3259-4300

Trazendo a conclusão especificamente para a consulta que nos fora proposta pelo

SINDSERVSBC nos parece que a Administração Publica do Município de São Bernardo do Campo

pode até o dia 06 de abril de 2012 efetuar reajustes nos benefícios (vale refeição, vale

transporte, convênio médico, auxílio creche, seguro de vida, auxilio funeral, adicional de

insalubridade, adicional noturno e abono de natal) para os servidores públicos do município de

São Bernardo do Campo.

Após o dia 06 de abril só é permitida revisão geral para todo o funcionalismo público do

município de São Bernardo do Campo, com base em índice oficial e limitada ao período

compreendido entre 1º de janeiro do ano eleitoral e a data da efetiva concessão.

Agora se houver algum reajuste destinado ao funcionalismo público do município de São

Bernardo do Campo já aprovada em legislação pretérita, não há qualquer vedação na sua

execução ou implementação.

Ao nosso ver, caso haja o interesse e vontade política da Administração Pública de São

Bernardo do Campo em efetuar reajustes nos benefícios (vale refeição, vale transporte,

convênio médico, auxílio creche, seguro de vida, auxilio funeral, adicional de insalubridade,

adicional noturno e abono de natal) para os servidores públicos do município de São Bernardo

do Campo, tal fato é possível em sem riscos aos Agentes Públicos, devendo o Projeto de Lei ser

remetido à Câmara Municipal o quanto antes e sancionado até o dia 06 de abril de 2.012.

É o que nos parece.,

KLEBER BISPO DOS SANTOS

Advogado e Consultor em Direito Administrativo e Eleitoral. Vice

Presidente do IBDEPLAM – Instituto Brasileiro de Direito e

Planejamento Municipal.