parâmetros curriculares nacionais - ciências da natureza e suas tecnologias

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Parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências da Natureza e suas tecnologias

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  • Parmetros Curriculares Nacionais Ensino Mdio

    Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica Ruy Leite Berger Filho

    Coordenao Geral de Ensino Mdio

    Avelino Romero Simes Pereira

    Coordenao da elaborao dos PCNEM Eny Marisa Maia

    PARMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MDIO) Parte I - Bases Legais

    Parte II - Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias Parte III - Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias

    Parte IV - Cincias Humanas e suas Tecnologias

    1

  • Cincias da Natureza, Matemtica e suas tecnologias

    P A R M E T R O S C U R R I C U L A R E S N A C I O N A I S Parte III - Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias

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    Parte III

    Cincias da Natureza, Matemtica e suas

    Tecnologias

    Coordenador da rea:

    Lus Carlos de Menezes

    Consultores:

    Ktia Cristina Stocco Smole

    Luiz Roberto Moraes Pitombo

    Maria Eunice Marcondes

    Maria Ignez de Souza Vieira Diniz

    Maria Izabel Irio Sonsine

    Maria Regina Dubeux Kawamura

    Yassuko Hosoume

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    Sumrio Apresentao...........................................................................................................03 O sentido do aprendizado na rea.........................................................................05 Competncias e habilidades .................................................................................11 Conhecimentos de Biologia.......................................................................................13

    Conhecimentos de Fsica ..........................................................................................22

    Conhecimentos de Qumica ......................................................................................30

    Conhecimentos de Matemtica.................................................................................40

    Rumos e desafios....................................................................................................47 Bibliografia...............................................................................................................56

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    Apresentao Esta uma proposta para o Ensino Mdio, no que se relaciona s competncias indicadas na Base Nacional Comum, correspondentes rea de Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias. Pretende, portanto, uma explicitao das habilidades bsicas, das competncias especficas, que se espera sejam desenvolvidas pelos alunos em Biologia, Fsica, Qumica e Matemtica nesse nvel escolar, em decorrncia do aprendizado dessas disciplinas e das tecnologias a elas relacionadas. Lado a lado com documentos correspondentes, produzidos pelas outras duas reas, esse texto traz elementos para a implementao das diretrizes para o Ensino Mdio. O claro entendimento estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB/96) do carter do Ensino Mdio como etapa final da Educao Bsica, complementando o aprendizado iniciado no Ensino Fundamental, foi um primeiro referencial sobre o qual se desenvolveu a presente proposta de rea. Os objetivos educacionais do Ensino Mdio, j sinalizados por subsdio produzido pela SEMTEC/MEC e encaminhado para a Cmara de Educao Bsica do Conselho Nacional de Educao, foram interpretados e detalhados por Resoluo recente (01/06/98). Esses subsdios e essa Resoluo estabeleceram um segundo importante referencial. Tais referenciais j direcionam e organizam o aprendizado, no Ensino Mdio, das Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias, no sentido de se produzir um conhecimento efetivo, de significado prprio, no somente propedutico. De certa forma, tambm organizam o aprendizado de suas disciplinas, ao manifestarem a busca de interdisciplinaridade e contextualizao e ao detalharem, entre os objetivos educacionais amplos desse nvel de ensino, uma srie de competncias humanas relacionadas a conhecimentos matemticos e cientfico-tecnolgicos. Referenda-se uma viso do Ensino Mdio de carter amplo, de forma que os aspectos e contedos tecnolgicos associados ao aprendizado cientfico e matemtico sejam parte essencial da formao cidad de sentido universal e no somente de sentido profissionalizante. No sentido desses referenciais, este documento procura apresentar, na seo sobre O Sentido do aprendizado na rea, uma proposta para o Ensino Mdio que, sem ser profissionalizante, efetivamente propicie um aprendizado til vida e ao trabalho, no qual as informaes, o conhecimento, as competncias, as habilidades e os valores desenvolvidos sejam instrumentos reais de percepo, satisfao, interpretao, julgamento, atuao,

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    desenvolvimento pessoal ou de aprendizado permanente, evitando tpicos cujos sentidos s possam ser compreendidos em outra etapa de escolaridade. A recomendao de contextualizao serve, dessa forma, a esses mesmos propsitos. Essa seo aberta com um texto introdutrio, de carter mais geral, que apresenta sinteticamente os objetivos educacionais da rea, revelando como estes se realizam em direta associao com os objetivos explcitos das outras duas reas nas quais se organiza o Ensino Mdio. Ainda nessa seo est o cerne conceitual deste documento, ou seja, a srie de proposies correspondentes aos aprendizados de Biologia, de Fsica, Qumica e Matemtica, dedicadas a aprofundar a descrio das competncias especficas a serem desenvolvidas pelas disciplinas, explicitando tambm de que forma as tecnologias a elas associadas podem ou devem ser tratadas. Como fecho da seo, apresenta-se uma sntese das competncias centrais a serem promovidas no mbito de cada disciplina. Tambm nessa sntese, v-se a clara interface com as demais reas do conhecimento. Na seo Rumos e Desafios, discute-se o processo de ensino-aprendizagem, a metodologia, os enfoques, as estratgias e os procedimentos educacionais para o ensino da rea. Um breve histrico de algumas dcadas de evoluo desse ensino abre essa seo, seguido de uma discusso geral das condies de ensino, dos desafios para sua modificao e para o encaminhamento pedaggico das propostas apresentadas na seo anterior. Sempre que pertinente, sero destacados aspectos das didticas especficas para o ensino de Matemtica, Biologia, Fsica e Qumica. Entre os desafios, para superar deficincias, carncias e equvocos, aponta-se a necessidade da convergncia de toda a comunidade escolar em torno de um projeto pedaggico que faa a articulao no s das disciplinas de cada rea, mas tambm de todas as reas, tendo como objetivo central a realizao dos objetivos educacionais da escola, a qualificao e promoo de todos os alunos. A primeira verso deste documento, de dezembro de 1997, anterior portanto deliberao CNE/98, j era de certa forma convergente com ela, at porque j partia da compreenso do Ensino Mdio expressa pela LDB/96, assim como levava em conta outras iniciativas.1 Uma primeira consulta foi feita a educadores prximos s temticas do Ensino Mdio, particularmente a especialistas no ensino de Cincias e de Matemtica. Um retorno parcial dessa consulta j forneceu elementos para uma reviso daquele documento, j incorporada ao atual. Entre as modificaes que podem ser facilmente identificadas, no h na presente verso um detalhamento maior das temticas disciplinares, coisa que, eventualmente, ser promovida em outro momento e por outro instrumento. Assuntos relacionados a outras Cincias, como Geologia e Astronomia, sero tratados em Biologia, Fsica e Qumica, no contexto interdisciplinar que preside o ensino de cada disciplina e o do seu conjunto. Como j est dito, esta verso no pretendeu nem pode lidar com esse detalhamento. Nesse primeiro

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    esforo de reviso, foi tambm importante ter tomado conhecimento de novas iniciativas2 e ter acompanhado as etapas de elaborao e discusso do parecer que encaminhou a resoluo finalmente aprovada pelo Conselho Nacional de Educao3 .

    O sentido do aprendizado na rea A LDB/96, ao considerar o Ensino Mdio como ltima e complementar etapa da Educao Bsica, e a Resoluo CNE/98, ao instituir as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio, que organizam as reas de conhecimento e orientam a educao promoo de valores como a sensibilidade e a solidariedade, atributos da cidadania, apontam de que forma o aprendizado de Cincias e de Matemtica, j iniciado no Ensino Fundamental, deve encontrar complementao e aprofundamento no Ensino Mdio. Nessa nova etapa, em que j se pode contar com uma maior maturidade do aluno, os objetivos educacionais podem passar a ter maior ambio formativa, tanto em termos da natureza das informaes tratadas, dos procedimentos e atitudes envolvidas, como em termos das habilidades, competncias e dos valores desenvolvidos. Mais amplamente integrado vida comunitria, o estudante da escola de nvel mdio j tem condies de compreender e desenvolver conscincia mais plena de suas responsabilidades e direitos, juntamente com o aprendizado disciplinar. No nvel mdio, esses objetivos envolvem, de um lado, o aprofundamento dos saberes disciplinares em Biologia, Fsica, Qumica e Matemtica, com procedimentos cientficos pertinentes aos seus objetos de estudo, com metas formativas particulares, at mesmo com tratamentos didticos especficos. De outro lado, envolvem a articulao interdisciplinar desses saberes, propiciada por vrias circunstncias, dentre as quais se destacam os contedos tecnolgicos e prticos, j presentes junto a cada disciplina, mas particularmente apropriados para serem tratados desde uma perspectiva integradora. Note-se que a interdisciplinaridade do aprendizado cientfico e matemtico no dissolve nem cancela a indiscutvel disciplinaridade do conhecimento. O grau de especificidade efetivamente presente nas distintas cincias, em parte tambm nas tecnologias associadas, seria difcil de se aprender no Ensino Fundamental, estando naturalmente reservado ao Ensino Mdio. Alm disso, o conhecimento cientfico disciplinar parte to essencial da cultura contempornea que sua presena na Educao Bsica e, conseqentemente, no Ensino Mdio, indiscutvel. Com isso, configuram-se as caractersticas mais distintivas do Ensino Mdio, que interessam sua organizao curricular.

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    Os objetivos do Ensino Mdio em cada rea do conhecimento devem envolver, de forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos prticos, contextualizados, que respondam s necessidades da vida contempornea, e o desenvolvimento de conhecimentos mais amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e a uma viso de mundo. Para a rea das Cincias da Natureza, Matemtica e Tecnologias, isto particularmente verdadeiro, pois a crescente valorizao do conhecimento e da capacidade de inovar demanda cidados capazes de aprender continuamente, para o que essencial uma formao geral e no apenas um treinamento especfico. Ao se denominar a rea como sendo no s de Cincias e Matemtica, mas tambm de suas Tecnologias, sinaliza-se claramente que, em cada uma de suas disciplinas, pretende-se promover competncias e habilidades que sirvam para o exerccio de intervenes e julgamentos prticos. Isto significa, por exemplo, o entendimento de equipamentos e de procedimentos tcnicos, a obteno e anlise de informaes, a avaliao de riscos e benefcios em processos tecnolgicos, de um significado amplo para a cidadania e tambm para a vida profissional. Com esta compreenso, o aprendizado deve contribuir no s para o conhecimento tcnico, mas tambm para uma cultura mais ampla, desenvolvendo meios para a interpretao de fatos naturais, a compreenso de procedimentos e equipamentos do cotidiano social e profissional, assim como para a articulao de uma viso do mundo natural e social. Deve propiciar a construo de compreenso dinmica da nossa vivncia material, de convvio harmnico com o mundo da informao, de entendimento histrico da vida social e produtiva, de percepo evolutiva da vida, do planeta e do cosmos, enfim, um aprendizado com carter prtico e crtico e uma participao no romance da cultura cientfica, ingrediente essencial da aventura humana. Uma concepo assim ambiciosa do aprendizado cientfico-tecnolgico no Ensino Mdio, diferente daquela hoje praticada na maioria de nossas escolas, no uma utopia e pode ser efetivamente posta em prtica no ensino da Biologia, da Fsica, da Qumica e da Matemtica, e das tecnologias correlatas a essas cincias. Contudo, toda a escola e sua comunidade, no s o professor e o sistema escolar, precisam se mobilizar e se envolver para produzir as novas condies de trabalho, de modo a promover a transformao educacional pretendida. A conduo de um aprendizado com essas pretenses formativas, mais do que do conhecimento cientfico e pedaggico acumulado nas didticas especficas de cada disciplina

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    da rea, depende do conjunto de prticas bem como de novas diretrizes estabelecidas no mbito escolar, ou seja, de uma compreenso amplamente partilhada do sentido do processo educativo. O aprendizado dos alunos e dos professores e seu contnuo aperfeioamento devem ser construo coletiva, num espao de dilogo propiciado pela escola, promovido pelo sistema escolar e com a participao da comunidade. Um dos pontos de partida para esse processo tratar, como contedo do aprendizado matemtico, cientfico e tecnolgico, elementos do domnio vivencial dos educandos, da escola e de sua comunidade imediata. Isso no deve delimitar o alcance do conhecimento tratado, mas sim dar significado ao aprendizado, desde seu incio, garantindo um dilogo efetivo. A partir disso, necessrio e possvel transcender a prtica imediata e desenvolver conhecimentos de alcance mais universal. Muitas vezes, a vivncia, tomada como ponto de partida, j se abre para questes gerais, por exemplo, quando atravs dos meios de comunicao os alunos so sensibilizados para problemticas ambientais globais ou questes econmicas continentais. Nesse caso, o que se denomina vivencial tem mais a ver com a familiaridade dos alunos com os fatos do que com esses fatos serem parte de sua vizinhana fsica e social. Um Ensino Mdio concebido para a universalizao da Educao Bsica precisa desenvolver o saber matemtico, cientfico e tecnolgico como condio de cidadania e no como prerrogativa de especialistas. O aprendizado no deve ser centrado na interao individual de alunos com materiais instrucionais, nem se resumir exposio de alunos ao discurso professoral, mas se realizar pela participao ativa de cada um e do coletivo educacional numa prtica de elaborao cultural. na proposta de conduo de cada disciplina e no tratamento interdisciplinar de diversos temas que esse carter ativo e coletivo do aprendizado afirmar-se-. As modalidades exclusivamente pr-universitrias e exclusivamente profissionalizantes do Ensino Mdio precisam ser superadas, de forma a garantir a pretendida universalidade desse nvel de ensino, que igualmente contemple quem encerre no Ensino Mdio sua formao escolar e quem se dirija a outras etapas de escolarizao. Para o Ensino Mdio meramente propedutico atual, disciplinas cientficas, como a Fsica, tm omitido os desenvolvimentos realizados durante o sculo XX e tratam de maneira enciclopdica e excessivamente dedutiva os contedos tradicionais. Para uma educao com o sentido que se deseja imprimir, s uma permanente reviso do que ser tratado nas disciplinas garantir atualizao com o avano do conhecimento cientfico e, em parte, com sua incorporao tecnolgica. Como cada cincia, que d nome a cada disciplina, deve tambm tratar das dimenses tecnolgicas a ela correlatas, isso exigir uma atualizao de contedos ainda mais gil, pois as aplicaes prticas tm um ritmo de transformao ainda maior que o da produo cientfica.

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    Nunca demais insistir que no se trata de se incorporar elementos da cincia contempornea simplesmente por conta de sua importncia instrumental utilitria. Trata-se, isso sim, de se prover os alunos de condies para desenvolver uma viso de mundo atualizada, o que inclui uma compreenso mnima das tcnicas e dos princpios cientficos em que se baseiam. Vale a pena lembrar que, lado a lado com uma demarcao disciplinar, preciso desenvolver uma articulao interdisciplinar, de forma a conduzir organicamente o aprendizado pretendido. A interdisciplinaridade tem uma variedade de sentidos e de dimenses que podem se confundir, mas so todos importantes. Uma compreenso atualizada do conceito de energia, dos modelos de tomo e de molculas, por exemplo, no algo da Fsica, pois igualmente da Qumica, sendo tambm essencial Biologia molecular, num exemplo de conceitos e modelos que transitam entre as disciplinas. A poluio ambiental, por sua vez, seja ela urbana ou rural, do solo, das guas ou do ar, no algo s biolgico, s fsico ou s qumico, pois o ambiente, poludo ou no, no cabe nas fronteiras de qualquer disciplina, exigindo, alis, no somente as Cincias da Natureza, mas tambm as Cincias Humanas, se se pretender que a problemtica efetivamente scio-ambiental possa ser mais adequadamente equacionada, num exemplo da interdisciplinaridade imposta pela temtica real. O princpio fsico da conservao da energia, essencial na interpretao de fenmenos naturais e tecnolgicos, pode ser verificado em processos de natureza biolgica, como a fermentao, ou em processos qumicos, como a combusto, contando em qualquer caso com o instrumental matemtico para seu equacionamento e para sua quantificao. Incontveis processos, como os de evaporao e condensao, dissoluo, emisso e recepo de radiao trmica e luminosa, por exemplo, so objetos de sistematizao na Biologia, na Fsica e na Qumica. Sua participao essencial nos ciclos da gua e na fotossntese, os situa como partcipes de processos naturais. Por outro lado, esses processos so essenciais para a compreenso da apropriao humana dos ciclos materiais e energticos, como o uso da hidreletricidade e da biomassa. Portanto, evidencia-se tambm seu sentido tecnolgico, associado economia e organizao social. Assim, a conscincia desse carter interdisciplinar ou transdisciplinar, numa viso sistmica, sem cancelar o carter necessariamente disciplinar do conhecimento cientfico mas completando-o, estimula a percepo da inter-relao entre os fenmenos, essencial para boa parte das tecnologias, para a compreenso da problemtica ambiental e para o desenvolvimento de uma viso articulada do ser humano em seu meio natural, como construtor e transformador deste meio. Por isso tudo, o aprendizado deve ser planejado desde uma perspectiva a um s tempo multidisciplinar e interdisciplinar, ou seja, os assuntos devem ser propostos e tratados desde uma compreenso global, articulando as competncias que

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    sero desenvolvidas em cada disciplina e no conjunto de disciplinas, em cada rea e no conjunto das reas. Mesmo dentro de cada disciplina, uma perspectiva mais abrangente pode transbordar os limites disciplinares. A Matemtica, por sua universalidade de quantificao e expresso, como linguagem portanto, ocupa uma posio singular. No Ensino Mdio, quando nas cincias torna-se essencial uma construo abstrata mais elaborada, os instrumentos matemticos so especialmente importantes. Mas no s nesse sentido que a Matemtica fundamental. Possivelmente, no existe nenhuma atividade da vida contempornea, da msica informtica, do comrcio meteorologia, da medicina cartografia, das engenharias s comunicaes, em que a Matemtica no comparea de maneira insubstituvel para codificar, ordenar, quantificar e interpretar compassos, taxas, dosagens, coordenadas, tenses, freqncias e quantas outras variveis houver. A Matemtica cincia, com seus processos de construo e validao de conceitos e argumentaes e os procedimentos de generalizar, relacionar e concluir que lhe so caractersticos, permite estabelecer relaes e interpretar fenmenos e informaes. As formas de pensar dessa cincia possibilitam ir alm da descrio da realidade e da elaborao de modelos. O desenvolvimento dos instrumentos matemticos de expresso e raciocnio, contudo, no deve ser preocupao exclusiva do professor de Matemtica, mas dos das quatro disciplinas cientfico-tecnolgicas, preferencialmente de forma coordenada, permitindo-se que o aluno construa efetivamente as abstraes matemticas, evitando-se a memorizao indiscriminada de algoritmos, de forma prejudicial ao aprendizado. A pertinente presena da Matemtica no desenvolvimento de competncias essenciais, envolvendo habilidades de carter grfico, geomtrico, algbrico, estatstico, probabilstico, claramente expressa nos objetivos educacionais da Resoluo CNE/98. O aprendizado disciplinar em Biologia, cujo cenrio, a biosfera, um todo articulado, inseparvel das demais cincias. A prpria compreenso do surgimento e da evoluo da vida nas suas diversas formas de manifestao demanda uma compreenso das condies geolgicas e ambientais reinantes no planeta primitivo. O entendimento dos ecossistemas atuais implica um conhecimento da interveno humana, de carter social e econmico, assim como dos ciclos de materiais e fluxos de energia. A percepo da profunda unidade da vida, diante da sua vasta diversidade, de uma complexidade sem paralelo em toda a cincia e tambm demanda uma compreenso dos mecanismos de codificao gentica, que so a um s tempo uma estereoqumica e uma fsica da organizao molecular da vida. Ter uma noo de como operam esses nveis submicroscpicos da Biologia no um luxo acadmico, mas sim um pressuposto para uma compreenso mnima dos mecanismos de hereditariedade e mesmo da biotecnologia contempornea, sem os quais no se pode entender e emitir

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    julgamento sobre testes de paternidade pela anlise do DNA, a clonagem de animais ou a forma como certos vrus produzem imunodeficincias. A Fsica, por sistematizar propriedades gerais da matria, de certa forma como a Matemtica, que sua principal linguagem, tambm fornece instrumentais e linguagens que so naturalmente incorporados pelas demais cincias. A cosmologia, no sentido amplo de viso de mundo, e inmeras tecnologias contemporneas, so diretamente associadas ao conhecimento fsico, de forma que um aprendizado culturalmente significativo e contextualizado da Fsica transcende naturalmente os domnios disciplinares estritos. E essa Fsica que h de servir aos estudantes para compreenderem a gerao de energia nas estrelas ou o princpio de conservao que explica a permanente inclinao do eixo de rotao da Terra relativamente ao seu plano de translao. Tambm viso de mundo, alm de conhecimento prtico essencial a uma educao bsica, compreender a operao de um motor eltrico ou de combusto interna, ou os princpios que presidem as modernas telecomunicaes, os transportes, a iluminao e o uso clnico, diagnstico ou teraputico, das radiaes. Expandindo a sistematizao das propriedades gerais da matria, a Qumica d nfase s transformaes geradoras de novos materiais. Ela est presente e deve ser reconhecida nos alimentos e medicamentos, nas fibras txteis e nos corantes, nos materiais de construo e nos papis, nos combustveis e nos lubrificantes, nas embalagens e nos recipientes. A sobrevivncia do ser humano, individual e grupal, nos dias de hoje, cada vez mais solicita os conhecimentos qumicos que permitam a utilizao competente e responsvel desses materiais, reconhecendo as implicaes sociopolticas, econmicas e ambientais do seu uso. Por exemplo, o desconhecimento de processos ou o uso inadequado de produtos qumicos podem estar causando alteraes na atmosfera, hidrosfera, biosfera e litosfera, sem que, muitas vezes, haja conscincia dos impactos por eles provocados. Por outro lado, atravs de intervenes dirigidas a Qumica quem contribui para a qualidade do ar que respiramos e da gua que bebemos, insubstituvel em sua funo no monitoramento e na recuperao ambiental. O entendimento dessas transformaes exige viso integrada da Qumica, da Fsica e da Biologia, recorrendo ao instrumental matemtico apropriado, mostrando a necessidade das interaes entre esses saberes. O que chama ateno, nessa seqncia de elementos disciplinares e interdisciplinares, mais do que a relao entre as disciplinas da rea, so as pontes com as disciplinas das outras reas. A problemtica scio-ambiental e as questes econmico produtivas so cientfico-tecnolgicas e so histrico-geogrficas. As informaes tecnolgicas e cientficas, dotadas de seus cdigos matemticos, seus smbolos e cones, tambm constituem uma linguagem. Na realidade, o aprendizado das Cincias da Natureza e da Matemtica deve se dar em estreita

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    proximidade com Linguagens e Cdigos, assim como com as Cincias Humanas. Essas decorrncias da interdisciplinaridade so objeto de ateno explcita do CNE/98. Os objetivos da educao no Ensino Mdio apresentados nesta Resoluo devero ser cumpridos pelas disciplinas de cada uma das trs reas de conhecimento, ou seja, a de Linguagens e Cdigos, a de Cincias da Natureza e Matemtica e a de Cincias Humanas, cada uma delas acompanhada de suas Tecnologias. Os objetivos explicitamente atribudos rea de Cincias e Matemtica incluem compreender as Cincias da Natureza como construes humanas e a relao entre conhecimento cientfico-tecnolgico e a vida social e produtiva; objetivos usualmente restritos ao aprendizado das Cincias Humanas. Igualmente, rea de Linguagens e Cdigos se atribuem objetivos comuns com a Cincias da Natureza e Matemtica. Esses objetivos, compatveis com valores e atitudes que se pretende desenvolver, como os referidos no texto introdutrio, podem ser agrupados por competncias e habilidades. Podem tambm ser reunidos tendo em vista as interfaces com as outras duas reas do conhecimento, no sentido do que se comentou anteriormente. Os objetivos ou competncias atribuveis rea de Cincia da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias podem ser subagrupados, de forma a contemplar ambos esses critrios. Assim, juntam-se as competncias e habilidades de carter mais especfico, na categoria investigao e compreenso cientfica e tecnolgica; aquelas que, de certa forma, se direcionam no sentido da representao e comunicao em Cincia e Tecnologia esto associadas a Linguagem e Cdigos; finalmente, aquelas relacionadas com a contextualizao scio-cultural e histrica da cincia e da tecnologia se associam a Cincias Humanas. No quadro-resumo a seguir, o elenco dos principais objetivos formativos apresentado, respeitando ambos os critrios mencionados. No se trata simplesmente de classificar mais ou melhor as competncias e habilidades almejadas, mas, sobretudo, de apontar a convergncia dos esforos formativos das trs reas, sublinhando tambm a possibilidade de articulao com os objetivos educacionais. Dessa forma, as competncias e habilidades explicitadas no quadro sinttico a seguir, que conferem unidade ao ensino das diferentes disciplinas da rea de Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias, podem orientar o trabalho integrado dos professores dessa rea e tambm preparar a articulao de seus esforos com os professores das outras duas reas, consubstanciando assim o programa educativo ou o projeto pedaggico, que resulta de uma ao convergente para a formao dos alunos.

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    Competncias e habilidades Representao e comunicao

    Desenvolver a capacidade de comunicao. Ler e interpretar textos de interesse cientfico e tecnolgico. Interpretar e utilizar diferentes formas de representao (tabelas, grficos, expresses, cones...). Exprimir-se oralmente com correo e clareza, usando a terminologia correta. Produzir textos adequados para relatar experincias, formular dvidas ou apresentar concluses. Utilizar as tecnologias bsicas de redao e informao, como computadores. Identificar variveis relevantes e selecionar os procedimentos necessrios para a produo, anlise e interpretao de resultados de processos e experimentos cientficos e tecnolgicos. Identificar, representar e utilizar o conhecimento geomtrico para aperfeioamento da leitura, da compreenso e da ao sobre a realidade. Identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variveis, representados em grficos, diagramas ou expresses algbricas, realizando previso de tendncias, extrapolaes e interpolaes e interpretaes. Analisar qualitativamente dados quantitativos representados grfica ou algebricamente relacionados a contextos scio-econmicos, cientficos ou cotidianos. Investigao e compreenso

    Desenvolver a capacidade de questionar processos naturais e tecnolgicos, identificando regularidades, apresentando interpretaes e prevendo evolues. Desenvolver o raciocnio e a capacidade de aprender.

    Formular questes a partir de situaes reais e compreender aquelas j enunciadas. Desenvolver modelos explicativos para sistemas tecnolgicos e naturais. Utilizar instrumentos de medio e de clculo. Procurar e sistematizar informaes relevantes para a compreenso da situao-problema. Formular hipteses e prever resultados. Elaborar estratgias de enfrentamento das questes. Interpretar e criticar resultados a partir de experimentos e demonstraes.

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    Articular o conhecimento cientfico e tecnolgico numa perspectiva interdisciplinar. Entender e aplicar mtodos e procedimentos prprios das Cincias Naturais. Compreender o carter aleatrio e no determinstico dos fenmenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinao de amostras e clculo de probabilidades. Fazer uso dos conhecimentos da Fsica, da Qumica e da Biologia para explicar o mundo natural e para planejar, executar e avaliar intervenes prticas. Aplicar as tecnologias associadas s Cincias Naturais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. Contextualizao scio-cultural

    Compreender e utilizar a cincia, como elemento de interpretao e interveno, e a tecnologia como conhecimento sistemtico de sentido prtico.

    Utilizar elementos e conhecimentos cientficos e tecnolgicos para diagnosticar e equacionar questes sociais e ambientais. Associar conhecimentos e mtodos cientficos com a tecnologia do sistema produtivo e dos servios. Reconhecer o sentido histrico da cincia e da tecnologia, percebendo seu papel na vida humana em diferentes pocas e na capacidade humana de transformar o meio. Compreender as cincias como construes humanas, entendo como elas se desenvolveram por acumulao, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o desenvolvimento cientfico com a transformao da sociedade. Entender a relao entre o desenvolvimento de Cincias Naturais e o desenvolvimento tecnolgico e associar as diferentes tecnologias aos problemas que se propuser e se prope solucionar. Entender o impacto das tecnologias associadas s Cincias Naturais, na sua vida pessoal, nos processos de produo, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.

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    Conhecimentos de Biologia Cada cincia particular possui um cdigo intrnseco, uma lgica interna, mtodos prprios de investigao, que se expressam nas teorias, nos modelos construdos para interpretar os fenmenos que se prope a explicar. Apropriar-se desses cdigos, dos conceitos e mtodos relacionados a cada uma das cincias, compreender a relao entre cincia, tecnologia e sociedade, significa ampliar as possibilidades de compreenso e participao efetiva nesse mundo. objeto de estudo da Biologia o fenmeno vida em toda sua diversidade de manifestaes. Esse fenmeno se caracteriza por um conjunto de processos organizados e integrados, no nvel de uma clula, de um indivduo, ou ainda de organismos no seu meio. Um sistema vivo sempre fruto da interao entre seus elementos constituintes e da interao entre esse mesmo sistema e demais componentes de seu meio. As diferentes formas de vida esto sujeitas a transformaes, que ocorrem no tempo e no espao, sendo, ao mesmo tempo, propiciadoras de transformaes no ambiente. Ao longo da histria da humanidade, vrias foram as explicaes para o surgimento e a diversidade da vida, de modo que os modelos cientficos conviveram e convivem com outros sistemas explicativos como, por exemplo, os de inspirao filosfica ou religiosa. O aprendizado da Biologia deve permitir a compreenso da natureza viva e dos limites dos diferentes sistemas explicativos, a contraposio entre os mesmos e a compreenso de que a cincia no tem respostas definitivas para tudo, sendo uma de suas caractersticas a possibilidade de ser questionada e de se transformar. Deve permitir, ainda, a compreenso de que os modelos na cincia servem para explicar tanto aquilo que podemos observar diretamente, como tambm aquilo que s podemos inferir; que tais modelos so produtos da mente humana e no a prpria natureza, construes mentais que procuram sempre manter a realidade observada como critrio de legitimao. Elementos da histria e da filosofia da Biologia tornam possvel aos alunos a compreenso de que h uma ampla rede de relaes entre a produo cientfica e o contexto social, econmico e poltico. possvel verificar que a formulao, o sucesso ou o fracasso das diferentes teorias cientficas esto associados a seu momento histrico. O conhecimento de Biologia deve subsidiar o julgamento de questes polmicas, que dizem respeito ao desenvolvimento, ao aproveitamento de recursos naturais e utilizao de tecnologias que implicam intensa interveno humana no ambiente, cuja avaliao deve levar em conta a dinmica dos ecossistemas, dos organismos, enfim, o modo como a natureza se comporta e a vida se processa.

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    O desenvolvimento da Gentica e da Biologia Molecular, das tecnologias de manipulao do DNA e de clonagem traz tona aspectos ticos envolvidos na produo e aplicao do conhecimento cientfico e tecnolgico, chamando reflexo sobre as relaes entre a cincia, a tecnologia e a sociedade. Conhecer a estrutura molecular da vida, os mecanismos de perpetuao, diferenciao das espcies e diversificao intraespecfica, a importncia da biodiversidade para a vida no planeta so alguns dos elementos essenciais para um posicionamento criterioso relativo ao conjunto das construes e intervenes humanas no mundo contemporneo. A fsica dos tomos e molculas desenvolveu representaes que permitem compreender a estrutura microscpica da vida. Na Biologia estabelecem-se modelos para as microscpicas estruturas de construo dos seres, de sua reproduo e de seu desenvolvimento. Debatem-se, nessa temtica, questes existenciais de grande repercusso filosfica, sobre ser a origem da vida um acidente, uma casualidade ou, ao contrrio, a realizao de uma ordem j inscrita na prpria constituio da matria infinitesimal. Neste sculo presencia-se um intenso processo de criao cientfica, inigualvel a tempos anteriores. A associao entre cincia e tecnologia se amplia, tornando-se mais presente no cotidiano e modificando cada vez mais o mundo e o prprio ser humano. Questes relativas valorizao da vida em sua diversidade, tica nas relaes entre seres humanos, entre eles e seu meio e o planeta, ao desenvolvimento tecnolgico e sua relao com a qualidade de vida, marcam fortemente nosso tempo, pondo em discusso os valores envolvidos na produo e aplicao do conhecimento cientfico e tecnolgico. A deciso sobre o qu e como ensinar em Biologia, no Ensino Mdio, no se deve estabelecer como uma lista de tpicos em detrimento de outra, por manuteno tradicional, ou por inovao arbitrria, mas sim de forma a promover, no que compete Biologia, os objetivos educacionais, estabelecidos pela CNE/98 para a rea de Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias e em parte j enunciados na parte geral desse texto. Dentre esses objetivos, h aspectos da Biologia que tm a ver com a construo de uma viso de mundo, outros prticos e instrumentais para a ao e, ainda aqueles, que permitem a formao de conceitos, a avaliao, a tomada de posio cidad. Um tema central para a construo de uma viso de mundo a percepo da dinmica complexidade da vida pelos alunos, a compreenso de que a vida fruto de permanentes interaes simultneas entre muitos elementos, e de que as teorias em Biologia, como nas demais cincias, se constituem em modelos explicativos, construdos em determinados contextos sociais e culturais. Essa postura busca superar a viso a-histrica que muitos livros didticos difundem, de que a vida se estabelece como uma articulao mecnica de partes, e

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    como se para compreend-la, bastasse memorizar a designao e a funo dessas peas, num jogo de montar biolgico. Ao longo do Ensino Mdio, para garantir a compreenso do todo, mais adequado partir-se do geral, no qual o fenmeno vida uma totalidade. O ambiente, que produto das interaes entre fatores abiticos e seres vivos, pode ser apresentado num primeiro plano e a partir dessas interaes que se pode conhecer cada organismo em particular e reconhec-lo no ambiente e no vice-versa. Ficar ento mais significativo saber que, por sua vez, cada organismo fruto de interaes entre rgos, aparelhos e sistemas que, no particular, so formados por um conjunto de clulas que interagem. E, no mais ntimo nvel, cada clula se configura pelas interaes entre suas organelas, que tambm possuem suas particularidades individuais, e pelas interaes entre essa clula e as demais. Para promover um aprendizado ativo, que, especialmente em Biologia, realmente transcenda a memorizao de nomes de organismos, sistemas ou processos, importante que os contedos se apresentem como problemas a serem resolvidos com os alunos, como, por exemplo, aqueles envolvendo interaes entre seres vivos, incluindo o ser humano, e demais elementos do ambiente. Essa visualizao da interao pode preceder e ensejar a questo da origem e da diversidade, at que o conhecimento da clula se apresente como questo dentro da questo, como problema a ser desvendado para uma maior e melhor compreenso do fenmeno vida. Para que se elabore um instrumental de investigao desses problemas, conveniente e estimulante que se estabeleam conexes com aspectos do conhecimento tecnolgico a eles associados. O objetivo educacional geral de se desenvolver a curiosidade e o gosto de aprender, praticando efetivamente o questionamento e a investigao, pode ser promovido num programa de aprendizado escolar. Por exemplo, nos estudos das relaes entre forma, funo e ambiente, que levam a critrios objetivos, atravs dos quais os seres vivos podem ser agrupados. Ao estudar o indivduo, estar-se- estudando o grupo ao qual ele pertence e vice-versa; o estudo aprofundado de determinados grupos de seres vivos em particular anatomia, fisiologia e comportamentos pode se constituir em projetos educativos, procurando verificar hipteses sobre a reproduo/evoluo de peixes, samambaias ou seres humanos. Nesses projetos coletivos, tratando de questes que mereceram explicaes diversas ao longo da histria da humanidade, at que se estabelecessem as atuais leis da gentica, pode-se discutir algumas dessas explicaes, seus pressupostos, seus limites, o contexto em que foram formuladas, permitindo a compreenso da dimenso histrico-filosfica da produo cientfica e o carter da verdade cientfica. As discusses sobre tais representaes e sobre aquelas elaboradas pelos alunos, devem provocar a necessidade de se obter mais informaes,

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    com a inteno de superar os limites que cada uma delas apresenta para o entendimento da transmisso de caractersticas. As consideraes acima sugerem uma articulao de contedos no eixo Ecologia-Evoluo que deve ser tratado historicamente, mostrando que distintos perodos e escolas de pensamento abrigaram diferentes idias sobre o surgimento da vida na Terra. Importa relacion-las ao momento histrico em que foram elaboradas, reconhecendo os limites de cada uma delas na explicao do fenmeno. Para o estabelecimento da hiptese hoje hegemnica, concorreram diferentes campos do conhecimento como a Geologia, a Fsica e a Astronomia. Essa hiptese se assenta em provveis interaes entre os elementos e fenmenos fsico-qumicos do planeta, em particular fenmenos atmosfricos, e que resultaram na formao de sistemas qumicos nos mares aquecidos da Terra primitiva. A vida teria emergido quando tais sistemas adquiriram determinada capacidade de trocar substncias com o meio, obter energia e se reproduzir. Reconhecer tais elementos da Terra primitiva, relacionar fenmenos entre si e s caractersticas bsicas de um sistema vivo so habilidades fundamentais atual compreenso da vida. Os estudos dos processos que culminaram com o surgimento de sistemas vivos leva a indagaes acerca dos diferentes nveis de organizao como tecidos, rgos, aparelhos, organismos, populaes, comunidades, ecossistemas, biosfera, resultantes das interaes entre tais sistemas e entre eles e o meio. Identificar e conceituar esses nveis de organizao da matria viva, estabelecendo relaes entre eles, permite a compreenso da dinmica ambiental que se processa na biosfera. Uma idia central a ser desenvolvida a do equilbrio dinmico da vida. A identificao da necessidade de os seres vivos obterem nutrientes e metaboliz-los permite o estabelecimento de relaes alimentares entre os mesmos, uma forma bsica de interao nos ecossistemas, solicitando do aluno a investigao das diversas formas de obteno de alimento e energia e o reconhecimento das relaes entre elas, no contexto dos diferentes ambientes em que tais relaes ocorrem. As interaes alimentares podem ser representadas atravs de uma ou vrias sequncias, cadeias e teias alimentares, contribuindo para a consolidao do conceito em desenvolvimento e para o incio do entendimento da existncia de um equilbrio dinmico nos ecossistemas, em que matria e energia transitam de formas diferentes em ciclos e fluxos respectivamente e que tais ciclos e fluxos representam formas de interao entre a poro viva e a abitica do sistema. A tecnologia, instrumento de interveno de base cientfica, pode ser apreciada como moderna decorrncia sistemtica de um processo, em que o ser humano, parte integrante dos ciclos e fluxos que operam nos ecossistemas, neles intervm, produzindo modificaes intencionais e construindo novos ambientes. Estudos sobre a ocupao humana, atravs de

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    alguns entre os diversos temas existentes, aliados comparao entre a dinmica populacional humana e a de outros seres vivos, permitiro compreender e julgar modos de realizar tais intervenes, estabelecendo relaes com fatores sociais e econmicos envolvidos. Possibilitaro, ainda, o estabelecimento de relaes entre interveno no ambiente, degradao ambiental e agravos sade humana e a avaliao do desenvolvimento sustentado como alternativa ao modelo atual. Para o estudo da dinmica ambiental contribuem outros campos do conhecimento, alm da Biologia, como Fsica, Qumica, Geografia, Histria e Filosofia, possibilitando ao aluno relacionar conceitos aprendidos nessas disciplinas, numa conceituao mais ampla de ecossistema. Um aspecto da maior relevncia na abordagem dos ecossistemas diz respeito sua construo no espao e no tempo e possibilidade da natureza absorver impactos e se recompor. O estudo da sucesso ecolgica permite compreender a dimenso espao-temporal do estabelecimento de ecossistemas, relacionar diversidade e estabilidade de ecossistemas, relacionar essa estabilidade a equilbrio dinmico, fornecendo elementos para avaliar as possibilidades de absoro de impactos pela natureza. Conhecer algumas explicaes sobre a diversidade das espcies, seus pressupostos, seus limites, o contexto em que foram formuladas e em que foram substitudas ou complementadas e reformuladas, permite a compreenso da dimenso histrico-filosfica da produo cientfica e o carter da verdade cientfica. Focalizando-se a teoria sinttica da evoluo, possvel identificar a contribuio de diferentes campos do conhecimento para a sua elaborao, como, por exemplo, a Paleontologia, a Embriologia, a Gentica e a Bioqumica. So centrais para a compreenso da teoria os conceitos de adaptao e seleo natural como mecanismos da evoluo e a dimenso temporal, geolgica do processo evolutivo. Para o aprendizado desses conceitos, bastante complicados, conveniente criarem-se situaes em que os alunos sejam solicitados a relacionar mecanismos de alteraes no material gentico, seleo natural e adaptao, nas explicaes sobre o surgimento das diferentes espcies de seres vivos. As relaes entre alteraes ambientais e modificaes dos seres vivos, estas ltimas decorrentes do acmulo de alteraes genticas, precisam ser compreendidas como eventos sincrnicos, que no guardam simples relao de causa e efeito; a variabilidade, como conseqncia de mutaes e de combinaes diversas de material gentico, precisa ser entendida como substrato sobre o qual age a seleo natural; a prpria ao da natureza selecionando combinaes genticas que se expressam em caractersticas adaptativas, tambm precisa considerar a reproduo, que possibilita a permanncia de determinado material gentico na populao. A interpretao do processo de formao de novas espcies demanda a aplicao desses conceitos, o que pode ser feito, por exemplo, pelos alunos, se

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    solicitados a construir explicaes sobre o que poderia determinar a formao de novas espcies, numa populao, em certas condies de isolamento geogrfico e reprodutivo. Para o estudo da diversidade de seres vivos, tradicionalmente da Zoologia e da Botnica, adequado o enfoque evolutivo-ecolgico, ou seja, a histria geolgica da vida. Focalizando-se a escala de tempo geolgico, centra-se ateno na configurao das guas e continentes e nas formas de vida que marcam cada perodo e era geolgica. Uma anlise primeira permite supor que a vida surge, se expande, se diversifica e se fixa nas guas. Os continentes so ocupados posteriormente ocupao das guas e, neles, tambm a vida se diversifica e se fixa, no sem um grande nmero de extines. O estudo das funes vitais bsicas, realizadas por diferentes estruturas, rgos e sistemas, com caractersticas que permitem sua adaptao nos diversos meios, possibilita a compreenso das relaes de origem entre diferentes grupos de seres vivos e o ambiente em que essas relaes ocorrem. Caracterizar essas funes, relacion-las entre si na manuteno do ser vivo e relacion-las com o ambiente em que vivem os diferentes seres vivos, estabelecer vnculos de origem entre os diversos grupos de seres vivos, comparando essas diferentes estruturas, aplicar conhecimentos da teoria da evoluo na interpretao dessas relaes so algumas das habilidades que esses estudos permitem desenvolver. Ao abordar as funes acima citadas, importante dar destaque ao corpo humano, focalizando as relaes que se estabelecem entre os diferentes aparelhos e sistemas e entre o corpo e o ambiente, conferindo integridade ao corpo humano, preservando o equilbrio dinmico que caracteriza o estado de sade. No menos importantes so as diferenas que evidenciam a individualidade de cada ser humano, indicando que cada pessoa nica e permitindo o desenvolvimento de atitudes de respeito e apreo ao prprio corpo e ao do outro. Noes sobre Citologia podem aparecer em vrios momentos de um curso de Biologia, com nveis diversos de enfoque e aprofundamento. Ao se tratar, por exemplo, da diversidade da vida, vrios processos celulares podem ser abordados, ainda em um nvel fenomenolgico: fotossntese, respirao celular, digesto celular etc. Estudando-se a hereditariedade, pode-se tratar a sntese protica e, portanto, noes de ncleo, ribossomas, cidos nucleicos. A compreenso da dinmica celular pode se estabelecer quando for possvel relacionar e aplicar conhecimentos desenvolvidos, no s ao longo do curso de Biologia, mas tambm em Qumica e Fsica, no entendimento dos processos que acontecem no interior das clulas. Elaborar uma sntese, em que os processos vitais que ocorrem em nvel celular se evidenciem relacionados, permite a construo do conceito sistematizado de clula: um sistema que troca substncias com o meio, obtm energia e se reproduz. Compreende-se, assim, a teoria celular atualmente aceita, assim como se abre caminho para o entendimento da relao entre os processos celulares e as tecnologias utilizadas na medicina ortomolecular, a aplicao de

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    conhecimentos da Biologia e da Qumica no entendimento dos mecanismos de formao e ao dos radicais livres, a relao desses ltimos com o envelhecimento celular. recomendvel que os estudos sobre Embriologia atenham-se espcie humana, focalizando-se as principais fases embrionrias, os anexos embrionrios e a comunicao intercelular no processo de diferenciao. Aqui cabem duas observaes: no necessrio conhecer o desenvolvimento embrionrio de todos os grupos de seres vivos para compreender e utilizar a embriologia como evidncia da evoluo; importa compreender como de uma clula o ovo se organiza um organismo; no essencial, portanto, no nvel mdio de escolaridade, o estudo detalhado do desenvolvimento embrionrio dos vrios seres vivos. A descrio do material gentico em sua estrutura e composio, a explicao do processo da sntese protica, a relao entre o conjunto protico sintetizado e as caractersticas do ser vivo e a identificao e descrio dos processos de reproduo celular so conceitos e habilidades fundamentais compreenso do modo como a hereditariedade acontece. Cabe tambm, nesse contexto, trabalhar com o aluno no sentido de ele perceber que a estrutura de dupla hlice do DNA um modelo construdo a partir dos conhecimentos sobre sua composio. preciso que o aluno relacione os conceitos e processos acima expressos, nos estudos sobre as leis da herana mendeliana e algumas de suas derivaes, como alelos mltiplos, herana quantitativa e herana ligada ao sexo, recombinao gnica e ligao fatorial. So necessrias noes de probabilidade, anlise combinatria e bioqumica para dar significado s leis da hereditariedade, o que demanda o estabelecimento de relaes de conceitos aprendidos em outras disciplinas. De posse desses conhecimentos, possvel ao aluno relacion-los s tecnologias de clonagem, engenharia gentica e outras ligadas manipulao do DNA, proceder a anlise desses fazeres humanos identificando aspectos ticos, morais, polticos e econmicos envolvidos na produo cientfica e tecnolgica, bem como na sua utilizao; o aluno se transporta de um cenrio meramente cientfico para um contexto em que esto envolvidos vrios aspectos da vida humana. um momento bastante propcio ao trabalho com a superao de posturas que, por omitir a real complexidade das questes, induz a julgamentos simplistas e, no raro, preconceituosos. No possvel tratar, no Ensino Mdio, de todo o conhecimento biolgico ou de todo o conhecimento tecnolgico a ele associado. Mais importante tratar esses conhecimentos de forma contextualizada, revelando como e por que foram produzidos, em que poca, apresentando a histria da Biologia como um movimento no linear e freqentemente contraditrio. Mais do que fornecer informaes, fundamental que o ensino de Biologia se volte ao desenvolvimento de competncias que permitam ao aluno lidar com as informaes,

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    compreend-las, elabor-las, refut-las, quando for o caso, enfim compreender o mundo e nele agir com autonomia, fazendo uso dos conhecimentos adquiridos da Biologia e da tecnologia. O desenvolvimento de tais competncias se inicia na escola fundamental, mas no se restringe a ela. Cada um desses nveis de escolaridade tem caractersticas prprias, configura momentos particulares de vida, de desenvolvimento dos estudantes, mas guarda em comum o fato de envolver pessoas, desenvolvendo capacidades e potencialidades que lhes permitam o exerccio pleno da cidadania, nesses mesmos momentos. preciso, portanto, selecionar contedos e escolher metodologias coerentes com nossas intenes educativas. Essas intenes esto expressas nos objetivos gerais da rea de Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias e tambm naqueles especficos da disciplina de Biologia. Elas incluem, com certeza, compreender a natureza como uma intrincada rede de relaes, um todo dinmico, do qual o ser humano parte integrante, com ela interage, dela depende e nela interfere, reduzindo seu grau de dependncia, mas jamais sendo independente. Implica tambm identificar a condio do ser humano de agente e paciente de transformaes intencionais por ele produzidas. Entre as intenes formativas, garantida essa viso sistmica, importa que o estudante saiba: relacionar degradao ambiental e agravos sade humana, entendendo-a como bem-estar fsico, social e psicolgico e no como ausncia de doena; compreender a vida, do ponto de vista biolgico, como fenmeno que se manifesta de formas diversas, mas sempre como sistema organizado e integrado, que interage com o meio fsico-qumico atravs de um ciclo de matria e de um fluxo de energia; compreender a diversificao das espcies como resultado de um processo evolutivo, que inclui dimenses temporais e espaciais; compreender que o universo composto por elementos que agem interativamente e que essa interao que configura o universo, a natureza como algo dinmico e o corpo como um todo, que confere clula a condio de sistema vivo; dar significado a conceitos cientficos bsicos em Biologia, como energia, matria, transformao, espao, tempo, sistema, equilbrio dinmico, hereditariedade e vida; formular questes, diagnosticar e propor solues para problemas reais a partir de elementos da Biologia, colocando em prtica conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar. No ensino de Biologia, enfim, essencial o desenvolvimento de posturas e valores pertinentes s relaes entre os seres humanos, entre eles e o meio, entre o ser humano e o conhecimento, contribuindo para uma educao que formar indivduos sensveis e solidrios, cidados conscientes dos processos e regularidades de mundo e da vida, capazes assim de realizar aes prticas, de fazer julgamentos e de tomar decises.

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    Competncias e habilidades a serem desenvolvidas em Biologia

    Representao e comunicao Descrever processos e caractersticas do ambiente ou de seres vivos, observados em microscpio ou a olho nu. Perceber e utilizar os cdigos intrnsecos da Biologia. Apresentar suposies e hipteses acerca dos fenmenos biolgicos em estudo. Apresentar, de forma organizada, o conhecimento biolgico apreendido, atravs de textos, desenhos, esquemas, grficos, tabelas, maquetes etc Conhecer diferentes formas de obter informaes (observao, experimento, leitura de texto e imagem, entrevista), selecionando aquelas pertinentes ao tema biolgico em estudo. Expressar dvidas, idias e concluses acerca dos fenmenos biolgicos. Investigao e compreenso Relacionar fenmenos, fatos, processos e idias em Biologia, elaborando conceitos, identificando regularidades e diferenas, construindo generalizaes. Utilizar critrios cientficos para realizar classificaes de animais, vegetais etc. Relacionar os diversos contedos conceituais de Biologia (lgica interna) na compreenso de fenmenos. Estabelecer relaes entre parte e todo de um fenmeno ou processo biolgico. Selecionar e utilizar metodologias cientficas adequadas para a resoluo de problemas, fazendo uso, quando for o caso, de tratamento estatstico na anlise de dados coletados. Formular questes, diagnsticos e propor solues para problemas apresentados, utilizando elementos da Biologia. Utilizar noes e conceitos da Biologia em novas situaes de aprendizado (existencial ou escolar). Relacionar o conhecimento das diversas disciplinas para o entendimento de fatos ou processos biolgicos (lgica externa). Contextualizao scio-cultural Reconhecer a Biologia como um fazer humano e, portanto, histrico, fruto da conjuno de fatores sociais, polticos, econmicos, culturais, religiosos e tecnolgicos. Identificar a interferncia de aspectos msticos e culturais nos conhecimentos do senso comum relacionados a aspectos biolgicos. Reconhecer o ser humano como agente e paciente de transformaes intencionais por ele produzidas no seu ambiente. Julgar aes de interveno, identificando aquelas que visam preservao e implementao da sade individual, coletiva e do ambiente.

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    Identificar as relaes entre o conhecimento cientfico e o desenvolvimento tecnolgico, considerando a preservao da vida, as condies de vida e as concepes de desenvolvimento sustentvel.

    Conhecimentos de Fsica A Fsica um conhecimento que permite elaborar modelos de evoluo csmica, investigar os mistrios do mundo submicroscpico, das partculas que compem a matria, ao mesmo tempo que permite desenvolver novas fontes de energia e criar novos materiais, produtos e tecnologias. Incorporado cultura e integrado como instrumento tecnolgico, esse conhecimento

    tornou-se indispensvel formao da cidadania contempornea. Espera-se que o ensino de Fsica, na escola mdia, contribua para a formao de uma cultura cientfica efetiva, que permita ao indivduo a interpretao dos fatos, fenmenos e processos naturais, situando e dimensionando a interao do ser humano com a natureza como parte da prpria natureza em transformao. Para tanto, essencial que o conhecimento fsico seja explicitado como um

    processo histrico, objeto de contnua transformao e associado s outras formas de expresso e produo humanas. necessrio tambm que essa cultura em Fsica inclua a compreenso do conjunto de equipamentos e procedimentos, tcnicos ou tecnolgicos, do cotidiano domstico, social e profissional. Ao propiciar esses conhecimentos, o aprendizado da Fsica promove a articulao de toda uma viso de mundo, de uma compreenso dinmica do universo, mais ampla do que nosso entorno material imediato, capaz portanto de transcender nossos limites temporais e espaciais. Assim, ao lado de um carter mais prtico, a Fsica revela tambm uma dimenso filosfica, com uma beleza e importncia que no devem ser subestimadas no processo educativo. Para que esses objetivos se transformem em linhas orientadoras para a organizao do ensino de Fsica no Ensino Mdio, indispensvel traduzi-los em termos de competncias e habilidades, superando a prtica tradicional. O ensino de Fsica tem-se realizado freqentemente mediante a apresentao de conceitos, leis e frmulas, de forma desarticulada, distanciados do mundo vivido pelos alunos e

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    professores e no s, mas tambm por isso, vazios de significado. Privilegia a teoria e a abstrao, desde o primeiro momento, em detrimento de um desenvolvimento gradual da abstrao que, pelo menos, parta da prtica e de exemplos concretos. Enfatiza a utilizao de frmulas, em situaes artificiais, desvinculando a linguagem matemtica que essas frmulas representam de seu significado fsico efetivo. Insiste na soluo de exerccios repetitivos, pretendendo que o aprendizado ocorra pela automatizao ou memorizao e no pela construo do conhecimento atravs das competncias adquiridas. Apresenta o conhecimento como um produto acabado, fruto da genialidade de mentes como a de Galileu, Newton ou Einstein, contribuindo para que os alunos concluam que no resta mais nenhum problema significativo a resolver. Alm disso, envolve uma lista de contedos demasiadamente extensa, que impede o aprofundamento necessrio e a instaurao de um dilogo construtivo. Esse quadro no decorre unicamente do despreparo dos professores, nem de limitaes impostas pelas condies escolares deficientes. Expressa, ao contrrio, uma deformao estrutural, que veio sendo gradualmente introjetada pelos participantes do sistema escolar e que passou a ser tomada como coisa natural. Na medida em que se pretendia ou propedutico ou tcnico, em um passado no muito remoto, o Ensino Mdio possua outras finalidades e era coerente com as exigncias de ento. Naquela poca, o ensino funcionava bem, porque era propedutico. Privilegiava-se o desenvolvimento do raciocnio de forma isolada, adiando a compreenso mais profunda para outros nveis de ensino ou para um futuro inexistente. preciso rediscutir qual Fsica ensinar para possibilitar uma melhor compreenso do mundo e uma formao para a cidadania mais adequada. Sabemos todos que, para tanto, no existem solues simples ou nicas, nem receitas prontas que garantam o sucesso. Essa a questo a ser enfrentada pelos educadores de cada escola, de cada realidade social, procurando corresponder aos desejos e esperanas de todos os participantes do processo educativo, reunidos atravs de uma proposta pedaggica clara. sempre possvel, no entanto, sinalizar aqueles aspectos que conduzem o desenvolvimento do ensino na direo desejada. No se trata, portanto, de elaborar novas listas de tpicos de contedo, mas sobretudo de dar ao ensino de Fsica novas dimenses. Isso significa promover um conhecimento contextualizado e integrado vida de cada jovem. Apresentar uma Fsica que explique a queda dos corpos, o movimento da lua ou das estrelas no cu, o arco-ris e tambm os raios laser, as imagens da televiso e as formas de comunicao. Uma Fsica que explique os gastos da conta de luz ou o consumo dirio de combustvel e tambm as questes referentes ao uso das diferentes fontes de energia em escala social, includa a energia nuclear, com seus riscos e benefcios. Uma Fsica que discuta a origem do universo e sua evoluo. Que trate do refrigerador ou dos motores a combusto, das clulas fotoeltricas, das radiaes presentes no

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    dia-a-dia, mas tambm dos princpios gerais que permitem generalizar todas essas compreenses. Uma Fsica cujo significado o aluno possa perceber no momento em que aprende, e no em um momento posterior ao aprendizado. Para isso, imprescindvel considerar o mundo vivencial dos alunos, sua realidade prxima ou distante, os objetos e fenmenos com que efetivamente lidam, ou os problemas e indagaes que movem sua curiosidade. Esse deve ser o ponto de partida e, de certa forma, tambm o ponto de chegada. Ou seja, feitas as investigaes, abstraes e generalizaes potencializadas pelo saber da Fsica, em sua dimenso conceitual, o conhecimento volta-se novamente para os fenmenos significativos ou objetos tecnolgicos de interesse, agora com um novo olhar, como o exerccio de utilizao do novo saber adquirido, em sua dimenso aplicada ou tecnolgica. O saber assim adquirido reveste-se de uma universalidade maior que o mbito dos problemas tratados, de tal forma que passa a ser instrumento para outras e diferentes investigaes. Essas duas dimenses, conceitual/universal e local/aplicada, de certa forma constituem-se em um ciclo dinmico, na medida em que novos saberes levam a novas compreenses do mundo e colocao de novos problemas. Portanto, o conhecimento da Fsica em si mesmo no basta como objetivo, mas deve ser entendido sobretudo como um meio, um instrumento para a compreenso do mundo, podendo ser prtico, mas permitindo ultrapassar o interesse imediato. Sendo o Ensino Mdio um momento particular do desenvolvimento cognitivo dos jovens, o aprendizado de Fsica tem caractersticas especficas que podem favorecer uma construo rica em abstraes e generalizaes, tanto de sentido prtico como conceitual. Levando-se em conta o momento de transformaes em que vivemos, promover a autonomia para aprender deve ser preocupao central, j que o saber de futuras profisses pode ainda estar em gestao, devendo buscar-se competncias que possibilitem a independncia de ao e aprendizagem futura. Mas habilidades e competncias concretizam-se em aes, objetos, assuntos, experincias que envolvem um determinado olhar sobre a realidade, ao qual denominamos Fsica, podendo ser desenvolvidas em tpicos diferentes, assumindo formas diferentes em cada caso, tornando-se mais ou menos adequadas dependendo do contexto em que esto sendo desenvolvidas. Forma e contedo so, portanto, profundamente interdependentes e condicionados aos temas a serem trabalhados. Apresentaremos, a seguir, alguns exemplos que ilustram e demarcam a contribuio da Fsica para a formao dos jovens no Ensino Mdio. Iniciaremos essa trajetria pelo campo da investigao e compreenso em Fsica, na medida em que sobre esse saber que devem desenvolver-se as competncias relacionadas aos demais campos.

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    A Fsica tem uma maneira prpria de lidar com o mundo, que se expressa no s atravs da forma como representa, descreve e escreve o real, mas sobretudo na busca de regularidades, na conceituao e quantificao das grandezas, na investigao dos fenmenos, no tipo de sntese que promove. Aprender essa maneira de lidar com o mundo envolve competncias e habilidades especficas relacionadas compreenso e investigao em Fsica. Uma parte significativa dessa forma de proceder traduz-se em habilidades relacionadas investigao. Como ponto de partida, trata-se de identificar questes e problemas a serem resolvidos, estimular a observao, classificao e organizao dos fatos e fenmenos nossa volta segundo os aspectos fsicos e funcionais relevantes. Isso inclui, por exemplo, identificar diferentes imagens ticas, desde fotografias a imagens de vdeos, classificando-as segundo as formas de produzi-las; reconhecer diferentes aparelhos eltricos e classific-los segundo sua funo; identificar movimentos presentes no dia-a-dia segundo suas caractersticas, diferentes materiais segundo suas propriedades trmicas, eltricas, ticas ou mecnicas. Mais adiante, classificar diferentes formas de energia presentes no uso cotidiano, como em aquecedores, meios de transporte, refrigeradores, televisores, eletrodomsticos, observando suas transformaes, buscando regularidades nos processos envolvidos nessas transformaes. Investigar tem, contudo, um sentido mais amplo e requer ir mais longe, delimitando os problemas a serem enfrentados, desenvolvendo habilidades para medir e quantificar, seja com rguas, balanas, multmetros ou com instrumentos prprios, aprendendo a identificar os parmetros relevantes, reunindo e analisando dados, propondo concluses. Como toda investigao envolve a identificao de parmetros e grandezas, conceitos fsicos e relaes entre grandezas, a competncia em Fsica passa necessariamente pela compreenso de suas leis e princpios, de seus mbitos e limites. A compreenso de teorias fsicas deve capacitar para uma leitura de mundo articulada, dotada do potencial de generalizao que esses conhecimentos possuem. Contudo, para que de fato possa haver uma apropriao desses conhecimentos, as leis e princpios gerais precisam ser desenvolvidos passo a passo, a partir dos elementos prximos, prticos e vivenciais. As noes de transformao e conservao de energia, por exemplo, devem ser cuidadosamente tratadas, reconhecendo-se a necessidade de que o abstrato conceito de energia seja construdo concretamente, a partir de situaes reais, sem que se faa apelo a definies dogmticas ou a tratamentos impropriamente triviais. essencial tambm trabalhar com modelos, introduzindo-se a prpria idia de modelo, atravs da discusso de modelos microscpicos. Para isso, os modelos devem ser construdos a partir da necessidade explicativa de fatos, em correlao direta com os fenmenos macroscpicos que se quer explicar. Por exemplo, o modelo cintico dos gases pode ajudar a compreender o prprio conceito de temperatura ou processos de troca de calor, enquanto os

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    modelos para a interao da luz com diferentes meios podem ser utilizados para explicar as cores dos objetos, do cu ou a fosforescncia de determinados materiais. Essas habilidades, na medida em que se desenvolvam com referncia no mundo vivencial, possibilitam uma articulao com outros conhecimentos, uma vez que o mundo real no em si mesmo disciplinar. Assim, a competncia para reconhecer o significado do conceito de tempo como parmetro fsico, por exemplo, deve ser acompanhada da capacidade de articular esse conceito com os tempos envolvidos nos processos biolgicos ou qumicos e mesmo sua contraposio com os tempos psicolgicos, alm da importncia do tempo no mundo da produo e dos servios. A competncia para utilizar o instrumental da Fsica no significa, portanto, restringir a ateno aos objetos de estudo usuais da Fsica: o tempo no somente um valor colocado no eixo horizontal ou um parmetro fsico para o estudo dos movimentos. Abordagem e tema no so aspectos independentes. Ser necessrio, em cada caso, verificar quais temas promovem melhor o desenvolvimento das competncias desejadas. Por exemplo, o tratamento da Mecnica pode ser o espao adequado para promover conhecimentos a partir de um sentido prtico e vivencial macroscpico, dispensando modelagens mais abstratas do mundo microscpico. Isso significaria investigar a relao entre foras e movimentos, a partir de situaes prticas, discutindo-se tanto a quantidade de movimento quanto as causas de variao do prprio movimento. Alm disso, na Mecnica onde mais claramente explicitada a existncia de princpios gerais, expressos nas leis de conservao, tanto da quantidade de movimento quanto da energia, instrumentos conceituais indispensveis ao desenvolvimento de toda a Fsica. Nessa abordagem, as condies de equilbrio e as caracterizaes de movimentos decorreriam das relaes gerais e no as antecederiam, evitando-se descries detalhadas e abstratas de situaes irreais, ou uma nfase demasiadamente matematizada como usualmente se pratica no tratamento da Cinemtica. A Termodinmica, por sua vez, ao investigar fenmenos que envolvem o calor, trocas de calor e de transformao da energia trmica em mecnica, abre espao para uma construo ampliada do conceito de energia. Nessa direo, a discusso das mquinas trmicas e dos processos cclicos, a partir de mquinas e ciclos reais, permite a compreenso da conservao de energia em um mbito mais abrangente, ao mesmo tempo em que ilustra importante lei restritiva, que limita processos de transformao de energia, estabelecendo sua irreversibilidade. A omisso dessa discusso da degradao da energia, como geralmente acontece, deixa sem sentido a prpria compreenso da conservao de energia e dos problemas energticos e ambientais do mundo contemporneo.

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    Tambm a discusso de fontes e formas de transformao/produo de energia pode ser a oportunidade para compreender como o domnio dessas transformaes est associada trajetria histrica humana e quais os problemas com que hoje se depara a humanidade a esse respeito. A tica e o Eletromagnetismo, alm de fornecerem elementos para uma leitura do mundo da informao e da comunicao, poderiam, numa conceituao ampla, envolvendo a codificao e o transporte da energia, ser o espao adequado para a introduo e discusso de modelos microscpicos. A natureza ondulatria e quntica da luz e sua interao com os meios materiais, assim como os modelos de absoro e emisso de energia pelos tomos, so alguns exemplos que tambm abrem espao para uma abordagem qntica da estrutura da matria, em que possam ser modelados os semicondutores e outros dispositivos eletrnicos contemporneos. Em abordagens dessa natureza, o incio do aprendizado dos fenmenos eltricos deveria j tratar de sua presena predominante em correntes eltricas, e no a partir de tratamentos abstratos de distribuies de carga, campo e potencial eletrostticos. Modelos de conduo eltrica para condutores e isolantes poderiam ser desenvolvidos e caberia reconhecer a natureza eletromagntica dos fenmenos desde cedo, para no restringir a ateno apenas aos sistemas resistivos, o que tradicionalmente corresponde a deixar de estudar motores e geradores. Alm dos aspectos eletromecnicos, poder-se-ia estender a discusso de forma a tratar tambm elementos da eletrnica das telecomunicaes e da informao, abrindo espao para a compreenso do rdio, da televiso e dos computadores. A possibilidade de um efetivo aprendizado de Cosmologia depende do desenvolvimento da teoria da gravitao, assim como de noes sobre a constituio elementar da matria e energtica estelar. Essas e outras necessrias atualizaes dos contedos apontam para uma nfase Fsica contempornea ao longo de todo o curso, em cada tpico, como um desdobramento de outros conhecimentos e no necessariamente como um tpico a mais no fim do curso. Seria interessante que o estudo da Fsica no Ensino Mdio fosse finalizado com uma discusso de temas que permitissem snteses abrangentes dos contedos trabalhados. Haveria, assim, tambm, espao para que fossem sistematizadas idias gerais sobre o universo, buscando-se uma viso cosmolgica atualizada. Em seu processo de construo, a Fsica desenvolveu uma linguagem prpria para seus esquemas de representao, composta de smbolos e cdigos especficos. Reconhecer a existncia mesma de tal linguagem e fazer uso dela constitui-se competncia necessria, que se refere representao e comunicao Os valores nominais de tenso ou potncia dos aparelhos eltricos, os elementos indicados em receitas de culos, os sistemas de representao de mapas e plantas, a especificao de

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    consumos calricos de alimentos, grficos de dados meteorolgicos so exemplos desses cdigos presentes no dia-a-dia e cujo reconhecimento e leitura requerem um determinado tipo de aprendizado. Assim como os manuais de instalao e utilizao de equipamentos simples, sejam bombas de gua ou equipamentos de vdeo, requerem uma competncia especfica para a leitura dos cdigos e significados quase sempre muito prximos da Fsica. A Fsica expressa relaes entre grandezas atravs de frmulas, cujo significado pode tambm ser apresentado em grficos. Utiliza medidas e dados, desenvolvendo uma maneira prpria de lidar com os mesmos, atravs de tabelas, grficos ou relaes matemticas. Mas todas essas formas so apenas a expresso de um saber conceitual, cujo significado mais abrangente. Assim, para dominar a linguagem da Fsica necessrio ser capaz de ler e traduzir uma forma de expresso em outra, discursiva, atravs de um grfico ou de uma expresso matemtica, aprendendo a escolher a linguagem mais adequada a cada caso. Expressar-se corretamente na linguagem fsica requer identificar as grandezas fsicas que correspondem s situaes dadas, sendo capaz de distinguir, por exemplo, calor de temperatura, massa de peso, ou acelerao de velocidade. Requer tambm saber empregar seus smbolos, como os de vetores ou de circuitos, fazendo uso deles quando necessrio. Expressar-se corretamente tambm significa saber relatar os resultados de uma experincia de laboratrio, uma visita a uma usina, uma entrevista com um profissional eletricista, mecnico ou engenheiro, descrevendo no contexto do relato conhecimentos fsicos de forma adequada. Lidar com o arsenal de informaes atualmente disponveis depende de habilidades para obter, sistematizar, produzir e mesmo difundir informaes, aprendendo a acompanhar o ritmo de transformao do mundo em que vivemos. Isso inclui ser um leitor crtico e atento das notcias cientficas divulgadas de diferentes formas: vdeos, programas de televiso, sites da Internet ou notcias de jornais. Assim, o aprendizado de Fsica deve estimular os jovens a acompanhar as notcias cientficas, orientando-os para a identificao sobre o assunto que est sendo tratado e promovendo meios para a interpretao de seus significados. Notcias como uma misso espacial, uma possvel coliso de um asteride com a Terra, um novo mtodo para extrair gua do subsolo, uma nova tcnica de diagnstico mdico envolvendo princpios fsicos, o desenvolvimento da comunicao via satlite, a telefonia celular, so alguns exemplos de informaes presentes nos jornais e programas de televiso que deveriam tambm ser tratados em sala de aula. O carter altamente estruturado do conhecimento fsico requer uma competncia especfica para lidar com o todo, sendo indispensvel desenvolver a capacidade de elaborar snteses, atravs de esquemas articuladores dos diferentes conceitos, propriedades ou processos, atravs da prpria linguagem da Fsica.

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    A Fsica percebida enquanto construo histrica, como atividade social humana, emerge da cultura e leva compreenso de que modelos explicativos no so nicos nem finais, tendo se sucedido ao longo dos tempos, como o modelo geocntrico, substitudo pelo heliocntrico, a teoria do calrico pelo conceito de calor como energia, ou a sucesso dos vrios modelos explicativos para a luz. O surgimento de teorias fsicas mantm uma relao complexa com o contexto social em que ocorreram. Perceber essas dimenses histricas e sociais corresponde tambm ao reconhecimento da presena de elementos da Fsica em obras literrias, peas de teatro ou obras de arte. Essa percepo do saber fsico como construo humana constitui-se condio necessria, mesmo que no suficiente, para que se promova a conscincia de uma responsabilidade social e tica. Nesse sentido, deve ser considerado o desenvolvimento da capacidade de se preocupar com o todo social e com a cidadania. Isso significa, por exemplo, reconhecer-se cidado participante, tomando conhecimento das formas de abastecimento de gua e fornecimento das demandas de energia eltrica da cidade onde se vive, conscientizando-se de eventuais problemas e solues. Ao mesmo tempo, devem ser promovidas as competncias necessrias para a avaliao da veracidade de informaes ou para a emisso de opinies e juzos de valor em relao a situaes sociais nas quais os aspectos fsicos sejam relevantes. Como exemplos, podemos lembrar a necessidade de se avaliar as relaes de risco/benefcio de uma dada tcnica de diagnstico mdico, as implicaes de um acidente envolvendo radiaes ionizantes, as opes para o uso de diferentes formas de energia, as escolhas de procedimentos que envolvam menor impacto ambiental sobre o efeito estufa ou a camada de oznio, assim como a discusso sobre a participao de fsicos na fabricao de bombas atmicas. O conjunto de exemplos e temas aqui apresentados no deve ser entendido nem como um receiturio nem como uma listagem completa ou exaustiva. Procura explicitar, atravs de diferentes formas que, mais do que uma simples reformulao de contedos ou tpicos, pretende-se promover uma mudana de nfase, visando vida individual, social e profissional, presente e futura, dos jovens que freqentam a escola mdia. Quanto s habilidades e competncias desejadas, encontram-se sintetizadas no quadro a seguir.

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    Competncias e habilidades a serem desenvolvidas em Fsica

    Representao e comunicao Compreender enunciados que envolvam cdigos e smbolos fsicos. Compreender manuais de instalao e utilizao de aparelhos. Utilizar e compreender tabelas, grficos e relaes matemticas grficas para a expresso do saber fsico. Ser capaz de discriminar e traduzir as linguagens matemtica e discursiva entre si. Expressar-se corretamente utilizando a linguagem fsica adequada e elementos de sua representao simblica. Apresentar de forma clara e objetiva o conhecimento apreendido, atravs de tal linguagem. Conhecer fontes de informaes e formas de obter informaes relevantes, sabendo interpretar notcias cientficas. Elaborar snteses ou esquemas estruturados dos temas fsicos trabalhados. Investigao e compreenso Desenvolver a capacidade de investigao fsica. Classificar, organizar, sistematizar. Identificar regularidades. Observar, estimar ordens de grandeza, compreender o conceito de medir, fazer hipteses, testar. Conhecer e utilizar conceitos fsicos. Relacionar grandezas, quantificar, identificar parmetros relevantes. Compreender e utilizar leis e teorias fsicas. Compreender a Fsica presente no mundo vivencial e nos equipamentos e procedimentos tecnolgicos. Descobrir o como funciona de aparelhos. Construir e investigar situaes-problema, identificar a situao fsica, utilizar modelos fsicos, generalizar de uma a outra situao, prever, avaliar, analisar previses. Articular o conhecimento fsico com conhecimentos de outras reas do saber cientfico. Contextualizao scio-cultural Reconhecer a Fsica enquanto construo humana, aspectos de sua histria e relaes com o contexto cultural, social, poltico e econmico. Reconhecer o papel da Fsica no sistema produtivo, compreendendo a evoluo dos meios tecnolgicos e sua relao dinmica com a evoluo do conhecimento cientfico. Dimensionar a capacidade crescente do homem propiciada pela tecnologia. Estabelecer relaes entre o conhecimento fsico e outras formas de expresso da cultura humana. Ser capaz de emitir juzos de valor em relao a situaes sociais que envolvam aspectos fsicos e/ou tecnolgicos relevantes.

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    Conhecimentos de Qumica A Qumica participa do desenvolvimento cientfico-tecnolgico com importantes contribuies especficas, cujas decorrncias tm alcance econmico, social e poltico. A sociedade e seus cidados interagem com o conhecimento qumico por diferentes meios. A tradio cultural difunde saberes, fundamentados em um ponto de vista qumico, cientfico, ou baseados e