para dar início a nossa reflexão sobre a antropologia cultural da punição e do poder

18

Click here to load reader

Upload: romulo-costa

Post on 08-Nov-2015

214 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Trabalho de antropologia jurídica

TRANSCRIPT

8

A MARAVILHA DO NOSSO COTIDIANOA mo invisvel (no a de Adam Smith) que administra nosso dia-a-dia

ANNIMOANNIMOProfessor ANNIMOINSTITUIIO ANNIMAAntropologia Jurdica - Direito29/11/2013

RESUMONa constituio civil, consta no prembulo que seria assegurado ao indivduo o exerccio de inmeros direitos, dentre estes, o da liberdade. E ento comum escutarmos durante nossa vida que somos livres desde que nascemos (muito presente tambm em discursos otimistas), que podemos fazer o que nos der vontade. Entretanto, se somos livres para escolher o que queremos fazer, por que, por exemplo, um estudante que no sente vontade de estudar, tem que estudar? Observe que muitas pessoas j escutaram essa frase durante a vida, e que o verbo ter empregado no modo imperativo, ou seja, como uma ordem a ser cumprida. Por que algum que no sente vontade de trabalhar, tem que trabalhar? Por que se algum no estuda ou no trabalha, mais cedo ou mais tarde tem a sensao de que est fazendo algo errado e logo comea a trabalhar ou estudar? Por que, se algum estuda, tem que estudar em uma sala com os assentos devidamente organizados da forma que estes se encontram? Pois ora, se a constituio defende o direito do indivduo liberdade, por que ele obrigado no decorrer da vida a executar tarefas que vo contra a vontade desse indivduo? Se ele no tem vontade de executar tal tarefa, porque simplesmente no para de faz-la? Tais questionamentos sero esclarecidos no eixo temtico deste trabalho: analisar a Antropologia Cultural da punio e do poder a fim de encontrar a resposta para estas perguntas.

Palavras-chaves: Cotidiano, Priso, Punio.

1 INTRODUO

Para dar incio a reflexo sobre a antropologia cultural da punio e do poder, deve-se atentar ao sentido da palavra cotidiano. Cotidiano aquilo que habitual ao ser, que est presente no dia-a-dia. Por exemplo, o cotidiano de um ser comum para ns, seria um que acorda por volta das cinco da madrugada ou seis da manh, sai para trabalhar, almoa, volta a trabalhar, e por volta das quatro ou seis horas da tarde sai do trabalho ou volta pra casa ou vai estudar ou algo parecido. At ento, parece no ter nada demais nesse cotidiano. Mas agora vamos pensar em um uma situao hipottica. Digamos que, nessa situao, setenta e cinco por cento da populao no trabalhasse, no estudasse. Sem trabalhar, no h como estas pessoas terem recursos (dinheiro) para comprar produtos que venham suprir suas necessidades humanas. Sem comprar, por exemplo, uma dessas necessidades, a carne, a indstria bovina comea a sentir abalos nas suas estruturas financeiras, pois no esto ganhando dinheiro j que no h pessoas comprando seus produtos, culminando na demisso de funcionrio (reduo de quadros), e logo com a falncia da indstria. Os desempregados e os falidos empresrios agora no teriam mais recursos para comprar produtos que viriam suprir suas necessidades. E ento se repetiria o ciclo (s que com outras indstrias, como a eletrnicos, a de papel, etc). Logo, o Estado se encontraria em um caos: sua economia destruda, sua sociedade dizimada.Obviamente, para evitar tal tragdia, tomam-se providncias. Primeiro, seria vital tornar os setenta e cinco por cento que intil, que prejudica o Estado, em algo til, de tal maneira que venha colaborar para manter a economia do pas estvel. Para tanto, deve-se colocar os indivduos que compem a dita porcentagem para trabalhar, para assim adquirirem recursos para comprar os itens que suprem suas necessidades. Logo as indstrias anteriormente citadas, teriam suas economias reerguidas, pois existiriam consumidores para comprar suas mercadorias, dessa forma, gerando dinheiro para estas empresas, empregos, lucros, etc. Toda via, o Estado teria que garantir que todos os indivduos que compem a sociedade do Estado estivessem trabalhando. Tal garantia seria dada pela vigilncia de cada indivduo. Dessa forma, quem no estivesse seguindo o padro estabelecido pelas autoridades (no caso desta situao hipottica, estar empregado) teria uma punio, e tal punio viria a corrigir o pensamento do indivduo, fazendo com que ele passe a pensar segundo o padro estabelecido pelas instituies, de tal forma que comeasse a agir segundo esses padres, sendo, portanto um ser disciplinado. Isto ser visto detalhadamente, mais frente.A partir do exemplo hipottico citado, pode-se ter a uma breve noo de como se d o poder e a punio na sociedade. Toda via, imprescindvel sabermos que a histria da punio tem sua origem nos suplcios. Mas ora, o que um suplcio?

2 DOS MECANISMOS VINGATIVOS AOS MECANISMOS CORRETIVOS E TRANSFORMADORES DA PUNIO

2.1 DOS SUPLCIOSSuplcio era uma forma de punio, a qual era caracterizada por uma espcie de ritual violento contra o delinquente, infrator, o criminoso; um espetculo de punio, o qual era exposto em locais pblicos, onde era torturado, e mesmo o carrasco o torturando ainda tentava deixa-lo com vida para que sofresse mais, com variadas formas de tortura. Aps a morte do supliciado, o ritual ainda continuava, como por exemplo, aps a morte de Damiens, Foucault ainda narra que seus quatro membros, que foram separados de seu corpo durante o suplcio, foram lanados numa fogueira preparada no local sito em linha reta do patbulo, depois o tronco e o resto foram cobertos de achas e gravetos de lenha, e se ps fogo palha ajuntada a essa lenha (FOUCAULT, 2004, p.9). possvel entender o que era um suplcio e como ele se dava no espao pblico ao analisar os dizeres de Foucault (2004, p.30):

Uma pena, para ser um suplcio, deve obedecer a trs critrios principais: em primeiro lugar, produzir uma certa quantidade de sofrimento se possa, se no medir exatamente, ao menos apreciar, comparar e hierarquizar; a morte um suplcio na medida em que ela no simplesmente a privao do direito de viver, mas a ocasio e o termo final de uma graduao calculada de sofrimentos: desde a decapitao que reduz todos os sofrimentos a um s gesto e num s instante: o grau zero do suplcio at o esquartejamento que leva quase ao infinito, atravs do enforcamento, da fogueira e da roda, na qual se agoniza muito tempo; a morte do suplcio a arte de reter a vida, subdividindo-a em mil mortes...O suplcio era usado pelo soberano atravs de seu poder poltico, de tal forma que no decorrer do fenmeno suplcio, fosse demonstrado a todos que ali esto, assistindo as coisas horrveis, as atrocidades que ocorrem com o supliciado, e dessa forma, abstrassem aquela cena como exemplo de forma de punio a quem infligir lei. Logo, ficariam aterrorizados depois de ver aquela horrenda cena, e, portanto, ningum (hipoteticamente) viria a burlar a lei, logo que, uma vez que se o fizesse, seria supliciado. Tal ideia exposta por Foucault (2004, p.48) no seguinte trecho:Mas nessa cena de terror o papel do povo ambguo. Ele chamado como espectador: convocado para assistir s exposies, s confisses pblicas; os pelourinhos, as forcas e os cadafalsos so erguidos nas praas pblicas ou beira dos caminhos; os cadveres dos supliciados muitas vezes so colocados bem em evidncia perto do local de seus crimes. As pessoas no s tem que saber, mas ver com seus prprios olhos. Porque necessrio que tenham medo; mas tambm porque devem ser testemunhas e garantias da punio, e porque at certo ponto devem tomar parte nela. importante notar que ao infligir lei, o indivduo est atacando a pessoa do soberano (prncipe), pois o crime, alm de sua vtima imediata, ataca o soberano; ataca-o pessoalmente, pois a lei vale como a vontade do soberano; ataca-o fisicamente, pois a fora da lei a fora do prncipe (FOUCAULT, 2004, p.40). Ou seja, a questo da punio na dita era do suplcio se dava tambm como forma de vingana do soberano com relao ao infrator/criminoso.2.2 DA LEI NEGRA

A questo da manuteno do poder do soberano tambm pode ser vista na Lei Negra, cuja origem foi estudada por Edward Palmer Thompson. Segundo Thompon (1997, p. 23), esta nica resulta num total de 200 a 250 delitos. Na verdade, a justificativa que era apresentada para a aprovao de uma lei como essa (um detalhe importante desta lei que, qualquer infrator seria condenado a pena de morte, como explicado pelo autor: [...] Se uma pessoa fosse acusada por qualquer um desses delitos por informaes de testemunhas dignas de crdito [...], quando apreendida, ela poderia ser declarada culpada e condenada a pena de morte sem nenhum outro julgamento.), era a situao emergencial que se encontrava na poca por algo que pudesse reestabelecer a ordem ali nas florestas de Windsor e de Hampshire, pois haviam os negros, indivduos que pintavam os rostos de preto, e comumente transgrediam as lei florestais (roubar ou matar cervos, ameaar os moradores daquelas regies, entre outros). E as violaes eram tantas que havia-se visto por danificada a economia da floresta. At mesmo os guardas estavam desmotivados de fazerem o seu trabalho, ento viu-se a necessidade de algo que pudesse reestabelecer a ordem naquele lugar, j que o que se encontrava realmente danificado, era a figura das autoridades... Ento, assim como o suplcio era uma manuteno do poder do soberano, pode-se dizer que a Lei Negra foi um instrumento de manuteno do poder das autoridades das regies florestais na Inglaterra no sculo XVIII.O autor faz questo inclusive de mostrar a facilidade e a rapidez com que se eram feitos os julgamentos dos rus:Existiam alguns dispositivos que permitiam acelerar o andamento do processo, passando por cima dos procedimentos costumeiros e das defesas da matria. O ru podia ser julgado em qualquer condado da Inglaterra e no somente no condado onde cometera o delito. (THOMPSON, 1997, p. 22-23)2.3 DA MANUNTENO DO PODER ATRAVS DA POLTICA DO MEDOA partir disso, possvel entender tambm que o suplcio era mais uma forma de manuteno do poder do soberano. Pois ora, como dito no pargrafo anterior, se a fora da lei a fora do prncipe, quando a fora da lei se enfraquece, ou se mostra fraca, ou se mostra falha, significa tambm dizer que a fora do soberano est fraca. Logo, o soberano tomar medidas para corrigir essa falha e evitar que um prximo venha cometer o delito que possa abalar a fora do prncipe, e essa medida se concretizar atravs do suplcio. possvel perceber isso quando Foucault (2004, p.41) diz que: O suplcio tem ento uma funo jurdico-poltica. um cerimonial para reconstituir a soberania lesada por um instante. Ele a restaura manifestando-a em todo o seu brilho. A execuo pblica, por rpida e cotidiana que seja, se insere em toda a srie dos grandes rituais do poder eclipsado e restaurado [...]: por cima do crime que desprezou o soberano, ela exibe aos olhos uma fora invencvel.2.4 DA HUMANIZAO DA PUNIOA partir a segunda metade do sculo XVIII, comeam a haver protestos contra o suplcio, pois observaram os filsofos, juristas, tericos do direito, etc. que o poder de punir estava na verdade nas mos do soberano, e o soberano usava este como forma de se vingar do condenado, ou seja, a punio era utilizada de forma particular, de tal forma que cumprisse o interesse do soberano. E o interesse do soberano era justamente se vingar do condenado. H, portanto, a necessidade de tirar o poder de punir da esfera particular, da qual apenas o soberano tem acesso, retirando do poder de vingar os objetivos que convinham apenas ao soberano. O poder de vingar agora se tornaria pblico. Mas desta vez, tal poder no se vingaria dos condenados, ou seja, nada de suplcios, de tortura, de medidas cruis, desumanas. Pois agora, mesmo no pior dos assassinos, uma coisa pelo menos deve ser respeitada quando punimos: sua humanidade.. Temos ento a humanizao da punio. Que as penas sejam moderadas e proporcionais aos delitos, que a morte seja imputada contra os culpados assassinos e sejam abolidos os suplcios que revoltem a humanidade (FOUCAULT, 2004, p.60). imprescindvel portanto ter a noo de que no porque a violncia foi eliminada do ato de punir que pode-se dizer que est se punindo menos. No se trata de punir menos, mas sim de punir melhor.No suplcio, a punio limitava-se apenas extrema violncia do seu ato. No novo sentido de punir, pode-se dizer que o ato de punir vai tornar-se sistematizado, e possvel entender essa sistematizao quando Foucault (2004, p. 62-63) discorre sobre como se procede (segundo o novo sentido de punir) quando descoberto homem no criminoso: Chegar o dia, no sculo XIX, em que esse homem, descoberto no criminoso, se tornar o alvo da interveno penal, o objeto que ela pretende corrigir e transformar, o domnio de uma srie de cincias de prticas estranhas penitencirias, criminolgicas..A partir das ideias expostas nos pargrafos anteriores, chega-se ao ponto em que tudo o que foi citado culmina no novo papel do ato de punir: punir a alma, ou seja, uma punio de cunho psicolgico, a fim de corrigir e evitar que a infrao que cometera o criminoso se repita. Os termos corrigir, evitar nos remetem a uma palavra: disciplina. atravs da disciplina que as instituies (sim, as instituies, no o Estado como alguns diriam) vo impor seus padres para a sociedade atravs de uma srie de recursos disciplinares. Mas afinal, o que a disciplina e como ela se relaciona com o recm-criado sistema de punio?2.5 DA DISCIPLINA possvel notar que quando Foucault fala sobre a transio da punio do corpo para a punio psicolgica que agora a punio vai se interessar agora em transformar o infrator em um ser til. E essa transformao se daria atravs da disciplina do indivduo.No sculo XVIII, descobre-se, ento, o corpo como um corpo dcil. Corpo dcil este, que pode ser modificado atravs da disciplina.Segundo Foucault, a disciplina pode ser observada na histria at mesmo antes do sculo XVIII:Houve, durante a poca clssica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraramos facilmente sinais dessa grande ateno, dedicada ento ao corpo ao que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hbil ou cujas foras se multiplicam. (FOUCAULT, 2004, p.117)E o que haveria, ento, de to novo, nesta descoberta no sculo XVIII? A diferena que, agora, o objetivo desta disciplina est em tornar o corpo em dcil, ou seja, um corpo modificvel. A diferena est no modo como vai ser aplicada, ou na tcnica. Agora no seriam aprimoradas as formas do corpo, o comportamento do corpo, ou, de um modo bem simples, a elegncia do corpo. O que se interessa a eficincia, a rapidez, a habilidade, a utilidade. Observa-se que se investe, agora, no desenvolvimento de uma capacidade de produo por meio daquele corpo, enfim, tornar o corpo dcil: dcil o corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeioado. (FOUCAULT, 2004 p. 118) como nos dias de hoje, nos colgios, nos quartis, onde somos disciplinados: a partir da maneira como se d a distribuio dos lugares e a distribuio dos indivduos em cada lugar, facilitando dessa forma, a vigilncia, punio e a recompensa. 2.5.1 Processos disciplinaresSegundo Foucault (2004), a disciplina procede atravs de quatro processos. So estes: a arte das distribuies, o controle da atividade, a organizao das gneses e a composio das foras. O primeiro processo, o das distribuies, se enfoca basicamente, nas delimitaes do espao e na distribuio dos indivduos por este espao delimitado. Isto permite o melhor monitoramento de todos que ali esto, o que oportuna o afastamento de ms condutas, torna possvel a anlise detalhada de cada indivduo daquele espao, o que consequentemente torna mais fcil vigiar todos, punir os de m conduta e recompensar os que seguem as normas (Remete ao ttulo do livro, Vigiar e Punir). O segundo processo, o controle das atividades, serve para monitorar o que o indivduo faz dentro daquele espao, monitorar o tempo que leva para fazer cada ao. como nas fbricas, onde a produo monitorada atravs do tempo, ou nas escolas, onde definido o horrio para as tarefas do aluno. At mesmo em casa, a pessoa estabelece um horrio para si mesma: s seis da manh, acordar, s sete, caf, s oito, sair para o trabalho, entre outros. O terceiro processo, a organizao das gneses, se baseia na utilizao da hierarquia, da obrigao da disciplina e da troca de servios para gerar a docilidade do corpo. Por exemplo, os militares devem: 1) passar por estgios sucessivos de treinamentos, 2) dos mais simplesaos mais complexos e 3) para passar para a prxima etapa devem atravessar uma avaliao, 4) assim fica bem definido o nvel de cada indivduo, que fica preso sua posio e tarefa. Este processo tem sua utilidade sustentada na economia do tempo para transformar um corpo em um corpo til e na exercibilidade do poder sobre os corpos. O quarto e ultimo processo que se d na composio das foras, ou seja, as foras que compem a dominao institucional (veremos a questo a dominao institucional mais a frente na microfsica do poder).2.5.2 Recursos para uma disciplina bem-sucedida Os recursos, segundo Foucault, se resumem em trs: vigilncia hierrquica, sano normalizadora, e o exame. A vigilncia hierrquica a vigilncia em que o vigilante v o vigiado, mas o vigiado no v o vigilante. Dessa forma, acaba-se podendo perceber aquele que no est agindo de acordo com o padro estabelecido pelas instituies, e dessa forma pode-se aplicar a devida punio para fazer com que o infrator repense, reveja os seus atos, reformule seu prprio pensamento e enfim passe a agir de acordo com o padro. A sano normalizadora seria de certo modo, a punio psicolgica do indivduo. Por exemplo, se um aluno tem um pssimo desempenho nos primeiros meses de aula (falha detectada pela vigilncia hierrquica). Este menosprezado primeiramente pelo professor, depois pelos seus colegas de classe (que diferente dele, esto com um timo desempenho, ou seja, seguem o padro estabelecido pela instituio escola), ou seja, sofre um abalo moral. Mas no exame (o dito terceiro recurso), onde sero classificados e ordenados os indivduos que esto de acordo (ou no) com os critrios pr-estabelecidos pela instituio, o aluno que o sujeito do nosso exemplo consegue responder corretamente a todos os critrios, e por tanto gratificado tanto pelo professor quanto pelos seus colegas de classe por passar de um aluno com um pssimo desempenho um aluno com um excelente desempenho.2.6 O PANOPTISMO E A MICROFSICA DO PODERNos tpicos anteriores, foi citado padres estabelecidos pelas instituies. Esta frase tem fundamental importncia nesse tpico. Primeiro, o que o Panoptismo?? A ideia do panoptico surgiu com o Jurista Jeremy Bentham que projetou uma priso, onde no meio ficava uma pilastra. Nessa pilastra ficaria um vigia, e em volta desta pilastra ficaria as prises, sendo que os presidirios no conseguiriam enxergar nada ao olhar para a pilastra, mas o vigia enxergaria todos os presos. A ideia ento do panoptismo seria ser vigiado sem saber quem est vigiando (exemplo: as cmeras de segurana so representaes do panoptismo). O vigiado voltaria ao seu trabalho por conta prpria, enquanto o vigia estaria garantindo por meio da vigilncia que todos estivessem seguindo os padres estabelecidos pelas instituies (exemplo: para as instituies burguesas, ideal que todos estejam trabalhando para que assim possam comprar bens pra manter a economia do pas). a que se d a questo da microfsica do poder. Para Foucault, a poder no est concentrado na mo do Estado, mas sim disseminado pelo espao. O poder se fragmenta, e cada fragmento se encontra nas instituies que constituem o Estado (exemplos de instituies: escolas, a instituio familiar, os hospitais, os hospcios). Esse pensamento fica muito claro ao analisar os seguintes dizeres de Foucault(2012, p.240):[...] para fazer funcionar os aparelhos de Estado que sero ocupados, mas no destrudos, convm apelar para os tcnicos e os especialistas. E, para isso, utiliza-se a antiga classe familiarizada com o aparelho, isto , a burguesia [...] o poder no est localizado no aparelho de Estado e que nada mudar na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado, em um nvel muito mais elementar, quotidiano, no forem modificadosOu seja, quem est vigiando todos, garantido que sigam seus padres, seus ideais, so as instituies que compem o estado. E caso algum no esteja seguindo estes, ser corrigido( por exemplo, se um filho para de estudar, a instituio famlia tratar de fazer ele estudar; se um trabalhador de repente fica louco, a instituio hospcio tratar de deixa-lo saudvel de novo para que possa continuar a trabalhar)2.7 DAS PRISESSeria ento, a priso, o mtodo de punio que viria a substituir o suplcio. O que antes, era um verdadeiro espetculo de tortura, que servia de imposio do medo nao, valiosa ferramenta de manuteno do poder da figura do soberano (podia-se inclusive dizer que, havia alguma noo de mtodo de disciplina ali, s no era voltado utilidade, mas obedincia), agora vira um rigoroso sistema de vigilncia, um sistema disciplinador (quando relacionado priso, este sim, se volta utilidade) que ainda sim, de alguma forma, por mais diferente que seja, carrega uma forma de punio. o exemplo do infrator da lei, que conhecido por roubar colares de ouro de joalherias. Quando pego, mandado priso. Ali dentro, o indivduo passa a ser constantemente vigiado, analisado detalhadamente, por fim, disciplinado. Em vez de uma punio corporal, lhe aplicado uma punio da alma. Agora, o objetivo passa a ser de fazer o transgressor refletir a respeito do ato cometido, de se arrepender pelo que havia feito de se consentir em corrigir o ato com suas aes futuras. como pode ser percebido no seguinte trecho do texto:Pois bem, tentemos fechar todas essas fontes de corrupo; que sejam praticadas regras de so moral nas casas de deteno; que, obrigados a um trabalho de que terminaro gostando, quando dele recolherem o fruto, os condenados contraiam o hbito, o gosto, e a necessidade da ocupao; que se deem respectivamente o exemplo de uma vida laboriosa; ela logo se tornar uma vida pura; logo comearo a lamentar o passado, primeiro sinal avanado de amor pelo dever. (FOUCAULT, 2004, p.197).E como princpio principal de punio, a priso recorre ao isolamento. Isso remete arte da distribuio da disciplina: se distribuem os indivduos pelo espao para que no os deixem distriburem-se em grupos. E para que ali dentro, no se formem grupos de delinquentes, faces criminosas, grupos rebeldes, separa-os atravs da distribuio por celas e do consequente isolamento. Alis, essa ideia de privar o indivduo de um direito que lhe garantido (a liberdade) traz uma ideia igualitria da punio. Agora, todo o transgressor (com algumas raras excees, claro) seria privado de sua liberdade. Foucault ainda apresenta outros dois princpios da priso. Um deles o trabalho. Ora, se j foi mencionado que o infrator seria disciplinado dentro da priso, e a disciplina neste contexto aplicada objetivando explorar o corpo, tonar aquele corpo til, previsvel que dentro das prises, haver essa estimulao a se tornar til. E ainda aqui, entra o terceiro princpio, que pode ser chamado de reajustamento da pena. A pena (ou melhor, o tempo que fora decretado que o transgressor ficaria na priso) agora ser relativizada com relao ao comportamento dentro da priso daquele indivduo. Observa-se que, aquela igualdade penal estabelecida pelo primeiro princpio (o isolamento, alis, o principal deles) desfeita, pois agora se dividem os indivduos em infratores e punidos. O primeiro ser julgado com base naquilo que havia cometido antes de adentrar priso, ser estabelecida uma pena, um tempo, que levar somente em conta, o crime cometido. J o segundo, o punido, o que trabalha, o que est no processo de se tornar dcil e til, o que j est l dentro h algum tempo, pode conseguir uma reduo de sua pena, levando em conta o eu progresso ali dentro ( como se esquecesse a atrocidade ou atrocidades, quem sabe- que havia cometido quando estava fora da priso). Vale ressaltar, que este ltimo princpio no entrou em vigor nem no sculo XIX, nem no XX, mas que fora muito cedo reclamado pelos responsveis pela administrao penitenciria, como a prpria condio de um bom funcionamento da priso, e de sua eficcia nessa tarefa de regenerao que a prpria justia lhe confia. (FOUCAULT, 2004, p. 205). Na verdade, isto remete ainda ideia de disciplina: vigiar, punir e recompensar. Vigiar o infrator, punir o desobediente, recompensar o obediente. Alis, era necessrio algo que pudesse estimular os prisioneiros a apresentar bom comportamento. Significa dizer ento que o papel da priso de corrigir o indivduo atravs do uso da disciplina e devolv-lo sociedade, quanto feito.Porm, no bem o que se observa: sim, ocorre a devoluo do indivduo sociedade aps cumprir sua pena, porm, este agora vai apresentar em seus documentos a sua pena, e a causa dela. Raramente ser aceito nas entrevistas para emprego, e no pode procurar um emprego em outra cidade, pois est preso cidade onde havia cometido um crime. O que far? Como se sustentar? Observa-se ento, o surgimento de um vadio, que futuramente reincidir. Cria-se o delinquente. Pode-se afirmar neste ponto, que a priso uma fbrica de delinquentes.

3 CONCLUSOAtravs dos fatos mencionados tanto pelas obras Vigiar e Punir e Microfsica do Poder de Michel Foucault quanto por Senhores e Caadores de Edward Palmer Thompson, possvel concluir que a priso na verdade vai alm das instituies penitencirias. Pois o indivduo induzido pelas instituies que tem o poder (como exposto anteriormente) a seguir um padro estabelecido pelas mesmas. So as instituies que compem o Estado que tambm, devido ao Panoptismo, alm de vigiar e aplicar a punio necessria para fazer o indivduo aderir a sua forma de pensar, faz eles (os vigiados) pensarem que normal serem vigiados, que normal agir de acordo com os padres estabelecidos pelas instituies (sendo que eles no tem a noo de que esses padres so estabelecidos por elas), e ento acaba dessa forma criando a palavra apresentada no inicio desse trabalho: cotidiano, sendo que este na verdade uma rotina que cada indivduo na sociedade segue para executar tarefas que foram impostas eles pelas instituies como atividades que deveriam ser executadas quase todos os dias da semana. Por fim, o indivduo na verdade, no desfruta da liberdade que lhe garantida pela constituio, uma vez que este se encontra manipulado (agindo dentro do que se entende por cotidiano) pelas instituies, a fim de fazer o que na verdade a vontade delas. O indivduo, por fim, torna-se preso no prprio cotidiano.Tambm pode-se dizer que as prises no se mostram efetivas em solucionar os delitos desse cotidiano, pois as prises automaticamente prendem o indivduo cidade onde cometeu o delito, alm de prend-lo condio de vadio, que consequentemente, o far reincidir e por fim, fazendo surgir o delinquente. E por mais que possa ser afirmado que a adaptao da punio priso seja uma humanizao da punio, evidente que a priso no a soluo para os problemas de delitos do cotidiano.

4 REFERNCIASFOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 29. ed. Petrpolis: Vozes, 2004.THOMPSON, Edward Palmer. Senhores e caadores. 2. ed. So Paulo: Paz e terra, 1997.FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. 25 ed. So Paulo: Graal, 2012.