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  • 8/9/2019 Para alm da ordem: o cotidiano prisional da Bahia oitocentista a partir da correpondncia de presos

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    Para alm da ordem: o cotidiano prisional da Bahiaoitocentista a partir da correspondncia de presos

    Cludia Moraes TRINDADE

    Resumo: Este artigo tem o objetivo de discutir a comunidadeprisional na Bahia Oitocentista, a partir das correspondncias depresos. Fao uma anlise dessa documentao buscandoreconstruir parte do cotidiano dos presos, pressupondo aexistncia de uma ordem paralela, com igual ou maior fora doque a oficial, mas que no anulava a arbitrariedade e a violnciadesta ltima. Entretanto, essa ordem paralela podia ser rompida,a qualquer momento, seja por confrontos diretos entre osprprios presos ou entre os presos e os funcionrios da priso.Dentre os tipos de protesto, a escrita foi um dos mais utilizadospelos presos e, dependendo da estratgia sugerida nas cartas,era possvel conquistar espaos sem romper com a ordemprisional. O recurso escrita foi utilizado por presos, letrados ouno, de diferentes condies jurdicas escravos, libertos e livres, independentemente do tipo de pena que estivessemcumprindo.

    Palavras-chave: Presos; Penitenciria; Casa de Priso comTrabalho; Bahia - Histria Sc. XIX.

    Introduo

    No perodo de 1830 a 1870, o aparelho prisional de Salvadorsofreu transformaes significativas em decorrncia dasreformas que tomaram conta de todo o Imprio do Brasil nos

    Oitocentos.1

    O deslocamento das cadeias da rea urbana para as

    Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Histria Universidade Federal da Bahia UFBA 40210-730 Salvador BA Brasil. E-mail: [email protected]

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    regies perifricas da cidade, bem como a implantao de novosregulamentos para as cadeias fizeram parte das medidas tomadas pelas autoridades.2 A reforma prisional desviou aateno dos polticos e estudiosos para o interior dasinstituies carcerrias, o que resultou numa atuao maisrigorosa da administrao dessas instituies. Entretanto, amais importante das medidas desse projeto foi a construo e ainaugurao, em 1861, da primeira penitenciria baiana, querecebeu o nome de Casa de Priso com Trabalho.3 A reformaprisional no Brasil seguiu os passos da Frana e dos EstadosUnidos os quais iniciaram o seu projeto de reforma das prisesno final do sculo XVIII.4 No decorrer do sculo XIX, outros

    lugares do mundo tambm aderiram reforma prisional,adaptando-a, estrategicamente, realidade de cada sociedade.5O Brasil foi o primeiro pas da Amrica Latina a dar incio areforma prisional e, tambm, o primeiro a possuir umapenitenciria, a Casa de Correo da Corte, inaugurada em1852.6

    importante destacar que o Brasil, ao tornar-seindependente, continuou escravista, o que significa dizer que aconstruo do Estado nacional brasileiro se deu com base eminstituies que se adaptassem a essa realidade. O prprio

    Cdigo Criminal do Imprio, promulgado em 1830, influencioudiretamente o funcionamento do sistema prisional brasileiro aodar continuidade s prticas de punies do perodo colonial,como a pena de aoites, de gals e de morte, aplicadas aescravos ou homens livres de forma diferenciada. 7 Essas penascoexistiram com o novo conceito de punio, baseado naprivao de liberdade e na reabilitao do criminoso,representado pela priso com trabalho, aplicada somente parahomens livres e libertos.8 Vale lembrar que, nem mesmo nobero da reforma prisional Frana e Estados Unidos -, a

    construo das penitencirias significou uma ruptura com aspunies tpicas do antigo regime, uma vez que a pena de mortee a deportao continuaram a ser aplicadas.9 Porm, repito, nocaso do Brasil, essa continuidade estava relacionada lgica doregime escravista.

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    Num levantamento para o perodo de 1861 a1865 constateique os prisioneiros da Casa de Priso com Trabalho da Bahiaeram sua maioria, sentenciados de justia do sexo masculino, decondio livre e foram denominados de pardos e crioulos. Ocrime de maior incidncia foi o de morte, seguido de furto.10 Pelomenos para as prximas duas dcadas, no observei variaesneste perfil prisional. A penitenciria da Bahia no tinhacalabouos nem celas para escravos como acontecia no Rio deJaneiro e So Paulo. Observa-se claramente a preocupao dasautoridades baianas em direcionar a nova instituio para areabilitao de sentenciados a priso com trabalho, o quesignifica dizer que se tratava de homens livres ou libertos. No

    entanto, o nmero de libertos era bem reduzido, ficandosubentendida a preferncia por homens livres.11 As mulheressentenciadas, eram remetidas para a penitenciria somente noperodo de 1861 a 1865, tambm em pequena proporonumrica. Da em diante, at o final do sculo XIX, o destino daspresas sentenciadas de justia foi a Cadeia da Correo. Omotivo alegado pelo administrador foi a no-concluso dasobras, que impediu o projeto de separao de homens emulheres sentenciados. Entende-se que essas mulheres foramprivadas do projeto de reabilitao pensado pelos

    reformadores.12Nas cadeias comuns, o perfil mudou consideravelmente

    pois alm dos sentenciados que cumpriam pena por falta devaga na penitenciria, encontrava-se uma populao carcerriaflutuante e diversificada: homens e mulheres de condioescrava, liberta e livre, crioulos, africanos e europeus. Esteltimo grupo, em menor nmero, era representadoprincipalmente por portugueses e ingleses.13 As infraesrotineiras que, geralmente, resultavam em poucos dias de prisoeram brigas, pequenos furtos, embriaguez, batuque ou

    candombl, desordem, infrao de posturas municipais, entreoutras. As cadeias comuns eram tambm o destino dosescravos depositados pelos seus senhores a fim de seremcastigados e, logo depois, devolvidos mediante o pagamento deuma taxa. Todos esses assuntos eu j tratei em outros trabalhos.

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    Este artigo tem a inteno de analisar a correspondnciade presos endereada s autoridades baianas. Atravs dessadocumentao, busco entender o espao prisional a partir daviso dos seus principais personagens, uma vez que o discursooficial tende a omitir a voz e a ao desses homens e mulheresque participaram ativamente na construo da Salvadoroitocentista. So documentos que, felizmente, sobreviveram aodesinteresse da instituio prisional em preservar a palavra dospresos e, em muitos casos denunciavam falhas graves defuncionrios e autoridades.14 claro que essas cartas tornam-seainda mais valiosas quando confrontadas com os documentosadministrativos, o que enriquece ainda mais a interpretao das

    questes especficas tratadas em ambos. A escrita foi um meiode protesto bastante utilizado por presos, fossem homens,mulheres, livres, escravos ou libertos, sentenciados ou no.Tratava-se de cartas ou peties individuais e coletivas, queprotestavam contra a m alimentao, privao de visitas,violncia, falta de tratamento mdico, detenes sem motivos,alm de cartas que revelam redes complexas de relacionamentodentro da comunidade prisional, estas ltimas mais comuns napenitenciria. Embora nem todos os presos fossem letrados, elesbuscavam a ajuda de companheiros ou de advogados para

    servirem de mediadores. No entanto, significativo o nmerodesses documentos escritos pelos prprios presos.

    importante ressaltar que outras formas de protesto tambm foram utilizadas pelos presos, confrontos diretos eindiretos. Quando a negociao se esgotava, ou nem tivesseexistido, os presos partiam para um enfrentamento mais abertoatravs das fugas, revoltas, brigas e da insubordinao. Enfim,lanavam mo de aes que, geralmente, resultavam em durarepreslia por parte da administrao ou do prprio chefe depolcia, autoridade mxima na organizao policial e prisional da

    provncia.15 Neste caso, as punies vinham na forma deviolncia corporal, recluso em solitrias, privao de visitas,entre outras. No por acaso que a documentao demonstra apreferncia dos presos pelos meios indiretos de enfrentamento,como o uso da escrita e da simulao de doenas. O uso de

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    estratgias mais sutis nas relaes com o poder visava tornar avida prisional mais suportvel.

    Para Carlos Aguirre, eram raras as ocasies em que ospresos de Lima, no Peru, confrontavam abertamente a ordemprisional. Segundo o autor, muitas das investidas dos presosdemonstravam uma estratgia de acomodao e [...] pela qualeles tiravam tanta vantagem quanto possvel das falhas daadministrao da priso.16 Uma dessas estratgias, porexemplo, era fingir-se preso de bom comportamento. SegundoAguirre, o fato do preso parecer aceitar as normas prisionais noquer dizer que ele estivesse satisfeito ou tivesse aceitado suacondio de forma submissa. Como em tantas outras situaes

    da luta do subordinado com o poder, a aquiescncia eraclaramente uma estratgia para sobreviver e, eventualmente,para sair da priso, no uma indicao de subservinciaideolgica.17 Aguirre cita o caso de um prisioneiro conhecidocomo corneteiro que, devido ao seu comportamento exemplar, tinha autorizao para caminhar livremente dentro da priso eum dia fugiu atravs do porto principal. Os guardas disseramno saber que Corneteiro era um preso.18 Assim como em Lima,existiam presos de bom comportamento na Casa de Prisocom Trabalho da Bahia e, nestes casos, eles tinham privilgios

    como, por exemplo, circular pelo ptio e ficar menos tempo trancado na cela, ou ser escalado para desempenhar algumservio remunerado nas dependncias da priso.19

    Aguirre estudou os presos de trs instituies prisionais,em Lima, no perodo de 1850-1945.20 O autor deu nfase aomundo dos prisioneiros, buscando entender o cotidiano da vidaprisional. No seu estudo sobre a correspondncia dos presospercebo algumas similaridades importantes com a penitenciriada Bahia. Refiro-me ao tipo de retrica, principalmente aquelarepleta de reverncia s autoridades e na qual os presos se

    apropriavam das idias da reforma prisional para tentarsensibilizar as autoridades. 21 Ao trabalhar com ascorrespondncias, Aguirre acentuou as estratgias dos presosno trato com as autoridades visando serem atendidos nas suasreivindicaes. Aguirre ainda compara as estratgias

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    discursivas do final do sculo XIX com as das primeiras dcadasdo sculo XX, quando o tom subserviente foi substitudo por umaretrica mais poltica. Essa transio coincide com o fim dopaternalismo tpico do antigo regime. Claro que sua anlise estvoltada para outro contexto social, cultural e poltico e, em parte, temporal. Embora eu tambm me preocupe com as estratgiasda escrita, minha proposta central no estudo das cartas baianas descortinar o cotidiano da comunidade prisional. Essas cartas tiveram o objetivo original de levar at as autoridades os maisvariados pedidos e denncias dos presos. Enquanto documentohistrico, elas surgem para o pesquisador como um quebracabea que, gradativamente, revelam um mundo difcil de

    penetrar. Quanto correspondncia administrativa, tenho adizer que ela farta, contudo, sem ser confrontada com a dospresos, ela pode se transformar numa muralha que nos impedede enxergar o que realmente interessa: a vida diria do preso.

    Antes de prosseguir, gostaria de fazer uma ressalva comrelao questo da resistncia no interior da priso. Acreditoser prudente no interpretar toda ao e discurso dos presosunicamente como resistncia, o que poderia reduzir o campo deobservao do pesquisador. Michel Brown, em artigo dedicadoao uso exagerado do paradigma da resistncia pelos

    pesquisadores, j advertiu para o perigo da resistncia se unirao projeto foucaultiano de explorao do poder em todas as suasvariaes, subterfgios e disseminaes.22No quero negar comisso as variadas formas de resistncia dos presos e de outrosgrupos subalternos frente aos grupos dominantes, mas apenaschamar a ateno para o perigo das generalizaes. Noconsiderar outras possibilidades alm da resistncia nessascartas, seria o mesmo que negar o ser humano em nossospersonagens.

    Correspondncias de presos da penitenciria.

    O trecho de uma petio coletiva, endereada aopresidente da provncia, um bom exemplo de como os presos

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    costumavam se dirigir s autoridades. O documento foi escritoem 1862 pelo preso Joo Byspo das Neves, na poca com 31anos, livre, pardo e que cumpria pena por homicdio.23 Ao lado desua assinatura, escreveu por mim e meus companheiros.24Neves era um preso conhecido pelos mdicos no Hospital daCaridade, pois costumava simular doenas sob o pretexto de sairde penitenciria para transitar na cidade.25 Esta carta foiendereada ao presidente da provncia, Joaquim AntoFernandes de Leo, na ocasio em que este assumiu aadministrao da provncia. Tenho observado que os presos seaproveitavam de momentos estratgicos para protestar. muitocomum encontrarmos um maior nmero de cartas-denncias

    endereadas a presidentes e chefes de polcia que acabavam deassumir os seus cargos.

    Lanai, Exmo. Senhor Caridosamente Vossos olhos sobre nos, evinde socorrer-nos, lembra-vos Ex. Snr. que apesar dos nossos justos ou injustos crimes somos Brasileiros que arrastados pornossas desgraadas sinas, fomos tirados da sociedade doshomens e vivemos concentrados na enchovia de huma rigorosaInquisio, e que algum de nos depois de comprida nossassentenas ainda possamos hum dia ser til a nossa ptria, e asnossas desamparadas famlias.26

    A deferncia, o reconhecimento do crime, a promessa dereabilitao, o apelo questo familiar e mesmo o patriotismofaziam parte de uma retrica baseada na ideologia paternalistatpica daquele perodo. O que passaria apenas por bajulao defato correspondia a uma estratgia dos presos por dentro daideologia paternalista de dominao das autoridades, neste casodo presidente da provncia. A chance de as reivindicaes serematendidas fora dessa relao vertical era quase nula e os presos

    pareciam conhecer muito bem essa estratgia de sobrevivnciae manipulao. O contexto em que os presos redigiam a carta tambm precisa ser observado para entendermos melhor apoltica paternalista. Mas havia tambm uma adaptao aosnovos ventos ideolgicos especificamente soprados na direo

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    da reforma penitenciria. Ao declararem que depois decomprida nossas sentenas ainda possamos hum dia ser til anossa ptria, e as nossas desamparadas famlias, os presosestavam a dizer o que as autoridades provncias esperavamouvir. Afinal o novo conceito de punio implicava a reformamoral do prisioneiro, segundo o mtodo implantado na recm-inaugurada Casa de Priso com Trabalho, smbolo baiano damodernidade prisional.27

    Os presos tambm utilizavam a escrita para reclamar decompanheiros de infortnios, indicando conflitos internos queapontam para relaes de dominao entre eles o que revelaaspectos importantes da vida na priso. Um desses casos foi

    uma carta coletiva de presos, endereada ao presidente daprovncia, em 1872, que pedia providncias quanto presenade um jovem escravo que fora depositado pelo seu senhor naCasa de Priso com Trabalho. No era comum a presena deescravos na penitenciria. A carta tinha um estilo de escritamais direto do que o usual, embora no abrisse mo dadeferncia.

    Os presos da Casa de Priso com trabalho, pedem a V. Exa. por obrada caridade que faa Sair deste Estabelecimento um esprito maligno

    de nome Juvencio, Escravo, que se acha aqui depositado por ordem doSenhor Dr. Delegado a pedido do Senhor do referido muleque.Esperamos que V. Exa. nos atenda com Justia afim de um destesinfelizes no acabar nas penas da Lei por causa de um diabo destaordem que o Seu Senhor o mandou para a Casa penitenciaria por nopoder com elle pelas mesmas queixas e o terror do muleque.Perguntamos a V. Exa. se esta Casa para os Criminosos ou se he tambm para umprecipcio desta ordem, que caminha pelos presossem distino, os desafia, arroja-lhes qualquer nome injuriosos h,tange pedras, j tem quebrado a cara de diversos presos com pedra, epor ltimo a poucos dias conseguiu [lanou] uma pedra no p de

    ouvido do sobrinho do administrador que quase o mata. Portanto Exm.Sr. a maior parte dos presos deste Estabelecimento tem sofrido asmaiores angustias e martrios por este muleque a 6 mesessem terem aquem recorrer, e por no poderem mais sofrerem recorrem a V.Exa. equalquer violncia que se der causado por este esprito endiabrado he

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    V.Exa. o cmplice por consentir em uma Casa penitenciaria umprecipcio desta ordem.28

    A argumentao dos presos supe a existncia de umespao social dentro da comunidade carcerria no qual o escravoJuvencio no fora aceito. A prpria poltica de ocupao dapenitenciria, que formou o quadro prisional basicamente comsentenciados de condio jurdica livre, possa ter contribudopara transformar a CPCT num espao prisional diferenciadodaquele da Casa de Correo. Nesta ltima, existiam presos detoda a natureza, inclusive sempre um bom nmero de escravos.Essa diferena parecia dar aos presos da penitenciria certo

    status entre a populao carcerria de Salvador. Vejam que osprprios presos deixaram claro que Juvencio no pertencia aogrupo quando questionaram, ironicamente, o presidente daprovncia se a penitenciria era lugar de criminosos ou para umprecipcio desta ordem, se referindo a Juvencio. A rejeio podeser tanto pelo motivo banal da sua priso em local inadequado,uma vez que ele no era um criminoso, como pela sua condioescrava. Este ltimo seria um motivo saliente da excluso,segundo se depreende da petio. Vemos a insistncia dospeticionrios em diabolizar o escravo, pois todos os eptetos, ou

    a maioria a ele atribudos, dizem respeito a essa chave retrica:diabo, esprito maligno, esprito endiabrado eprecipcio.

    Os presos acusavam Juvncio de no respeitar as regrasde distino social quando escreveram que ele caminhava entreos presos sem distino, e ainda os desafiava, o que refora aidia da existncia de uma ordem alternativa s normas doregulamento oficial. Carlos Aguirre constatou nas prises deLima a construo de uma ordem costumeira na comunidadeprisional, margem dos regulamentos, que foi construda no

    cotidiano prisional com a anuncia de funcionrios.29 PawelMoczydlowski chama esta ordem alternativa ou ordemcostumeira de hidden life ou vida oculta, enquanto muitospesquisadores preferem utilizar o termo organizao informalou subcultura prisional. Para Moczydlowsdki, a vida oculta da

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    priso geralmente formada por trs tipos de relaes: aquelasentre prisioneiros, aquelas entre prisioneiros e funcionrios eaquelas entre os funcionrios da priso.30

    A petio deixa claro que Juvencio no se submetia ordem estabelecida pelos presos, pela administrao e, segundoa petio, tambm pelo seu senhor, ou seja, era um rebeldecrnico, dentro e fora da priso. Esse comportamento deJuvencio seria tpico dos chamados moleques que viviam nasruas de Salvador no sculo XIX aterrorizando os habitantes.Walter Fraga investigou os muitos moleques, livres e escravos,que andavam pelas ruas atirando pedras e falando palavres,seja por divertimento ou em brigas entre eles. Segundo o autor,

    as vadiaes e peraltices de rua apareciam como um misto dedesdm, indiferena, protesto e resistncia a um mundo adultode horizontes limitados. Nem mesmo os homens da leiintimidavam os moleques, pois apedrejar e vaiar inspetores eguardas-noturnos era um dos divertimentos preferidos pelamolecada. Ainda segundo Fraga, esses moleques formavambandos que eram, muitas vezes, liderados por menoresescravos.31 Juvncio provavelmente reproduzia na priso oscostumes de sua vida cotidiana, ou seja, fazendo peraltices parase divertir ou para resistir a qualquer tipo de enquadramento. A

    petio sugere que os presos no estavam suportando Juvncio,a ponto de deixar bem claro que algum ato de violncia maissrio poderia ocorrer de parte a parte por causa do moleque,cabendo ao presidente da provncia a responsabilidade de evitaruma tragdia anunciada. Esse tipo de ameaa dos presos, talvezfosse exagerada porque fazia parte de suas estratgias denegociao junto s autoridades, a quem no interessava que aordem interna da priso fosse rompida, muito menos comtragdias.

    Outra correspondncia coletiva, datada de 10 de junho de

    1873, dirigida ao presidente da provncia, refora ainda mais asquestes discutidas acima com relao existncia de umaordem alternativa, alm de salientar as relaes de dominaoentre os presos. A carta coletiva, que identifica os seus autoresapenas como dos presos, contm uma denncia envolvendo

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    corrupo entre enfermeiros e presos. Segundo a carta, os trsenfermeiros da penitenciria no compareciam ao trabalho e,ilegalmente, recrutavam presos para atuarem como serventes, afim de cuidarem dos doentes, trabalho que deveria se feito pelosenfermeiros.

    Os infelizes presos da Casa de Priso com trabalho lhe fazemchegar ao distinto conhecimento as calamidades e maltratos quesoffrem por esperarem justia de V. Exa. Reclamamos e pedimosprovidencia a V. Exa. sobre o abandono que vivem os duentesdesta Casa a falta de Infermeiro porque s se conhece esteshomens na visita do medico, por no puderem deixar de oacompanhar, o contrrio s ouvimos falar em seus nomes em

    queixas e exclamaes. Saiba V. Ex. que os duentes daInfermaria e das Galerias entregue presos cerventes, estesmesmos escolhidos, pelos Infermeiros, aquelles presos infami,ladres que roubo o sol antes de nascer. Estes Saem com omingao, o ch, bulaxa, dietas, vendem tudo aos sos e quando oduente se queixo querem mattar como fez o cervente Jose Luisna nossa Galeria hoje as 8 horas com dous duentes porque sequeixaram. Como tem um tal Manoel Gavio que um terrorvende um mes de mingau a 5 e 6 pessoas.32

    As parcerias entre presos e funcionrios eram, geralmente,acordos baseados na ilegalidade e com diferentes graus degravidade. A carta-denncia revela prticas de agiotagem entrepresos e enfermeiros: Exm. Senhor, no temos Infermeiros s temos uns homens que protejem a quem emprestam dinheiro, tem um [ilegvel] de presos [que] so conservados na dieta ebem tratados por proteo do Infermeiro m, porque no temcom que lhe pagar o que deve.33 A atividade de agiotagemdentro da priso parecia ser comum e o atraso ou falta depagamento podia gerar conflitos ou alguns privilgios. No caso

    do enfermeiro, ele parecia compensar o atraso no pagamentoproporcionando uma dieta especial para seu credor. Na prpriacorrespondncia dos presos consta o despacho do presidente daprovncia, datado de 14 de julho, ordenando que o chefe depolcia fosse informado sobre a denncia dos presos. No dia 25

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    de julho, ao lado do primeiro despacho, o presidente daprovncia encerrou o caso com a seguinte frase: indeferido emvista das informaes.34 No ficou claro o despacho dapresidncia visto que a carta coletiva tinha mais um carterdenunciatrio do que reivindicatrio. Infelizmente no obtivemais informaes sobre a repercusso desta correspondnciaentre as autoridades.

    Outros casos comprovam a prtica da agiotagem na priso.Um bom exemplo est num pedao de papel, escrito com sriasdificuldades gramaticais, que indica a preocupao de ZeferinoFelippe Cardozo em no esquecer datas importantes como a desua priso e de seus dois julgamentos. Anexo sua nota

    diaria, como ele mesmo intitulou, uma espcie de bilhetesugere o seu meio de sobrevivncia. Em algumas linhas eleautorizava um tal Severiano a receber sete mil ris referente atrs emprstimos e venda de uma camisa nova.35

    Como vimos, as informaes analisadas so, na suamaioria, coletadas de correspondncias de presos. Dificilmente adocumentao administrativa nos levaria to longe, salvo emsituaes especficas de conflito entre membros do grupodominante, neste caso, entre os membros da administrao dapriso. Por exemplo, na ocasio em que um funcionrio demitido

    resolveu tornar pblicas prticas ilcitas para tentar se livrar dealguma acusao ou se vingar do superior que o demitiu. O ex-administrador da penitenciria, tenente-coronel Manoel DinizVillas Boas, ao defender-se das denncias que pesaram sobreele, resolveu tornar pblicas prticas ilegais que ocorriam dentroda CPCT, dentre elas agiotagem entre presos e funcionrios.36

    A baixa remunerao dos funcionrios contribua para queeles se envolvessem em negcios comerciais com os presos. Umexemplo se deu em 10 de maio de 1873. Exatamente um msantes dos enfermeiros serem denunciados pelos presos, o

    enfermeiro Francisco Julio Nabuco escreveu ao presidente daprovncia reclamando aumento por achar que o valor dequinhentos mil ris anuais sem dvida diminuto em relaoao trabalho que se acha encarregado.37 O pedido foi negado.Com os guardas a situao no era diferente, geralmente eram

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    homens pobres que exerciam a funo sem, ao menos, seremsubmetidos a um treinamento especfico, sendo comum oenvolvimento em negcios com os presos, como veremos aseguir.

    Joaquim Domingos de Prado, o Tibiri

    O caso deste preso, cuja documentao foi um pouco maisgenerosa, mais uma evidncia de que, apesar de todo odiscurso penitencirio, a Casa de Priso com Trabalho no eraum mundo fechado em si, ou seja, os muros da priso e sua

    estratgica localizao perifrica no foram bastante para isol-la da dinmica social da cidade de Salvador. Desta vez trata-seda correspondncia assinada pelo preso Joaquim Domingos dePrado, datada de maio de 1872. Este documento fornece fortesindcios de que as transaes de negcio dentro da comunidadeprisional iam muito mais alm do que as prticas de agiotagem ecorrupo que vimos h pouco. Joaquim endereou acorrespondncia ao ento presidente da provncia, Joo Antniode Araujo Freitas Henriques que, em 1862, exerceu o cargo dechefe de polcia da Bahia. Henriques ficou conhecido na

    historiografia baiana atravs do estudo de Joo Reis sobre osacerdote africano Domingos Sodr, que sofreu perseguiodeste chefe de polcia.38 Contudo, o preso Joaquim dizia que,por conhecer o bom fazejo corao de V. Exa [o presidenteHenriques] em vista das Graas e caridade que os infelizes temrecebido no curto expasso da Vossa Administrao, a causa dosupplicante vir a vossos ps buscar a sua Alta Protico comoPadrinho dos infelizes disprotigido.39 O tom paternalista deJoaquim tinha um propsito um tanto ousado, como veremosadiante.

    Na carta, Joaquim dizia que ele teria comprado umasobras de cco e madeira de boi em mos dos seus camaradaspara mandar vend-las, a fim de conseguir algum dinheiro. Porno conhecer ningum fora da priso, Joaquim resolveu pedir aosenhor Balduino Jos da Silva, guarda penitencirio, para lhe

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    indicar algum a quem vendesse as tais peas. Foi ento queBalduino apresentou ao preso uma preta, dizendo ser ela umapessoa de confiana, pois era sua Ama de Casa.40 Nestemesmo dia, a negra levou parte da mercadoria para vend-la. Nasemana seguinte, Balduino procurou Joaquim, em companhia damesma mulher e lhe pagou apenas parte do total referente aoprimeiro lote de peas. Alegou que havia necessitado dodinheiro e que em breve ressarciria o preso. Em seguida,convenceu Joaquim a lhe entregar mais peas, as quais foramentregues negra. Segundo Joaquim, toda essa transao teriasido presenciada pelo Tenente Comandante dos Empregados,que escreveu, a pedido de Balduino, uma espcie de recibo de

    entrega, no qual constava a lista das peas e seus respectivosvalores. Foi a ltima vez que Joaquim colocou os olhos emBalduino, pois ele pediu demisso e foi trabalhar naCompanhia nova do Comrcio.41 De fato, em 15 de maio, ochefe de polcia informou ao administrador da priso sobre opedido de exonerao de Balduino.42

    Aps terminar a sua verso da histria, Joaquim pediu aopresidente Henriques que interviesse e forasse o ex-empregadoa pagar a dvida, embargando-lhe o ordenado. A ousadia deJoaquim est no fato de pedir para Henriques intervir numa

    atividade proibida, uma vez que, nas palavras do prprioJoaquim, h na Casa uma ordem do Snr. Dr. Chefe de Policia,que o preso que negociar com Empregado seja castigado.Porm, Joaquim ressaltou que ele no fez negocio com oempregado, pediu-lhe que como filho da Cidade procurasse umapessoa.43 Joaquim apresentou trs pessoas que poderiamatestar sua histria, o j citado tenente comandante, o mestrecharuteiro que mora vizinho de parede e meia com Balduino,que o teria visto vendendo as obras de madeira na sua casa e,por fim, o mestre barbeiro que teria, inclusive, levado um recado

    de Balduino para Joaquim , dizendo que se falar em seu nomeque no lhe paga as obras. O mestre charuteiro, mencionadopor Joaquim era o funcionrio responsvel pela oficina decharutaria da penitenciria; e o barbeiro era, tambm, um

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    funcionrio cuja obrigatoriedade da contratao constava noregulamento da priso.

    De posse da correspondncia de Joaquim, o presidenteHenriques Freitas procurou saber do chefe de polciainformaes sobre o preso. O chefe de polcia consultou oadministrador perguntando se Joaquim tinha ordem paranegociar.44 Embora eu no tenha localizado a resposta doadministrador, acredito que ela foi negativa, pois o chefe depolcia mandou castigar Joaquim mantendo-o por dois dias nasolitria em cela escura, castigo previsto no regulamento. Omotivo alegado foi que o preso continuava a negociar, e dirigir-se as autoridades reclamando providncias para ser indenizado

    pelas pessoas com quem transige.45

    Em quatro de junho, opresidente Henriques despachou a carta de Joaquim dizendoque, em vista da informao do Dr. Chefe de Policia no temlugar o que pretende o suplicante. Tambm no localizei aresposta do chefe de polcia para o Henriques.

    Apesar do castigo Joaquim no desistiu. Henriques deixoua presidncia naquele mesmo ms de junho e, no seu lugar,assumiu Joaquim Pires de Machado Portela, no dia primeiro de julho. Em agosto, Joaquim enviou correspondncia endereadaao novo presidente Portela pedindo sua interveno para que

    Balduino pagasse a dvida. Disse ao ento presidente que oantecessor, Henriques Freitas, havia consultado o administradorsobre a sua transao com Balduino e que ele havia confirmado todo o ocorrido.46 Como vimos, no foi ao administrador queHenriques consultou e sim o chefe de polcia. Pelo visto, Joaquimcontinuou a enfrentar as autoridades pois, em novembro, o chefede polcia pediu para o administrador informaes sobre seucomportamento e desde quando cumpria sentena napenitenciria.47 Em dezembro, seguiu-se novo castigo contra oprocedimento do preso, trs dias de solitria em cela escura,

    com a ressalva de que, em caso de reincidncia, o castigodeveria ser mais rigoroso.48 Entretanto, um acontecimento queantecedeu primeira petio ao presidente Henriques sugereque o chefe de polcia poderia estar sabendo das atividades deJoaquim. Foi no ms de abril, quando o prprio chefe de polcia

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    mandou entregar ao preso setenta mil ris, referente a umadvida que um tal Cndido Jos dos Santos tinha com o preso. Ochefe de polcia tambm pediu que Joaquim fizesse um recibodo pagamento.49

    Joaquim continuou negociando dentro da priso. Umacorrespondncia coletiva de presos, datada de 22 de novembrode 1874, denunciava o administrador da penitenciria por tomardinheiro emprestado nas mos de vrios presos e no honrar advida. Entre os credores estava Joaquim Domingos de Prado, aquem o administrador devia setenta e um mil ris. O motivo dadenncia dos presos era que o administrador oferecia privilgiospara os presos credores, como andar solto pelo ptio, trabalhar

    nas obras do aterro, na oficina de marceneiro com aremunerao de 1.200 ris por dia, trabalhar no refeitrio, dentreoutras regalias. Entretanto, a carta dizia que Joaquim noaceitava privilgios por conta da dvida e, no lugar disso,agradecia, dizendo que quer o seo dinheiro e no importa seesta na chave [trancado na cela], quer imbolsar o seu dinheirocomo emprestou. A carta dizia que o senhor administradorimmoralmente esta no estabelecimento castigando os presos, osque tem dinheiro para imprestar so garantidos. Os vcios degrafia, como por exemplo, trocar a letra e pela letra i, e a

    forma como Joaquim se coloca, como o nico credor que nousufruiu das regalias, sugere ser ele prprio o autor da carta.Alm da questo do dinheiro, a carta denunciava as condiesda comida servida aos presos.

    Outro sim a cumida dos presos, quando os cozinheiros do tres quatro horas da tarde, os cuzinheiros levo o tempo somenteem beberem cachaa e dando cumida aos soldados, a cumida scachorro pode come-la tudo quanto porcaria se encontra dentroda cumida, o Snr. Administrador, no pode dar providencia,

    porque as ordens delle se leva a [ilegvel]. Pedimos a V.Exa.providencia sobre a cuzinha fazendo mudar similhantescozinheiros porque o Snr. Administrador no tem mais fora nacasa todos os presos e Empregados sabe que o Snr.Administrador alguma fora que tinha perdeu-a. O Snr.Administrador diz que de mattar o preso Damasio Alvares dos

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    Santos, na chave e note V. Exa. o motivo, no dia 19 de junho docorrente Damasio Alvares dos Santos, quexando do ex-presoJoo Ferreira Pinto, um preso protigido do Administrador e por

    isso o Supplicante pede humildimenti; entregado doAdministrador, e rogo a V. Exa. para tomar na alta consideraose acontecer morrer V. Exa. saber da onde provm sua morte.

    Dois dias aps a emisso, consta o despacho dopresidente, na prpria carta, mandando comunicar ao chefe depolcia. Percebe-se em Joaquim, desde o caso com Balduino,uma forte perseverana em receber seu dinheiro. A carta tambm diz que o culpado dessas transaes ilcitas era oadministrador que infringiu o artigo do regulamento que proibia

    as negociaes. Joaquim no foi o nico preso a solicitar ainterveno das autoridades para receber seu dinheiro. Em1871, o preso Jos Fernandes de Souza tambm negociou comum funcionrio e levou o calote. Alm de vender algunsobjetos para Jos Vieira do Amaral, Souza lhe emprestoudinheiro. Amaral era ajudante do tenente comandante da guardada Casa de Priso com Trabalho e, assim como Balduino fez comJoaquim, foi exonerado e no pagou o que devia ao preso Souza,o qual tambm fez queixa ao presidente Henriques. 50Vale dizerque os negcios dentro da priso fugiam proibio doregulamento e das autoridades. Numa carta ao chefe de polcia oadministrador admite a incapacidade de inibir tais prticas eque os guardas ocultamente pegam dinheiro emprestado dospresos. Por fim, sugere que todo dinheiro encontrado com ospresos fosse recolhido ao cofre da priso, mas no encontreinenhuma medida neste sentido.51

    As cartas de Joaquim e, por ltimo, a de Pedro, sinalizamque as relaes entre os presos, entre os presos e osfuncionrios e at entre os funcionrios no podem ser

    entendidas dentro dos padres convencionais que os discursosoficiais tentam transmitir. Ou seja, tais relacionamentos noseguiam a lgica de uma pirmide social em que aadministrao se encontrava no topo, os presos na base e osfuncionrios entre eles. Efetivamente, no era assim. J vimos

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    que entre os presos existiam vrias camadas de hierarquia, elasse entrelaavam e algumas se sobrepunham a certosfuncionrios, incluindo o corpo da guarda. Vemos tambm queos castigos no intimidavam os presos, tampouco contribuampara transform-los em indivduos dceis e obedientes. Outroscasos que tenho me deparado tambm caminham nestadireo.52

    Com relao transao comercial entre Joaquim eBalduino, podemos tambm inferir que Joaquim interpretou ocalote do guarda Balduino como sendo mais grave do que a suainfrao que foi burlar as normas do regulamento que nopermitia nenhum tipo de transao comercial dentro da priso.

    Na outra carta citada, que acredito ter sido escrita por Joaquim,o fato do administrador estar envolvido em negociaes ilcitasfoi usado para minimizar o erro dos presos negociantes, pois umsuperior deveria dar o exemplo. Para os socilogos DavidMatza e Gresham Sykes comum o infrator desviar o foco daateno dos seus prprios atos para outra pessoa que,supostamente, deveria estar cumprindo e expressando asnormas da sociedade.53 Este seria o papel do administrador.Outro ponto a analisar a crena que Joaquim parecia ter najustia, a mesma justia que o mantinha preso e que o castigava

    cada vez que ele se pronunciava sobre a transao comBalduino.54 Vale frisar, tambm, que no encontrei nenhumcomentrio do chefe de polcia sobre a transgresso do guardaBalduino que, provavelmente, no fez negcios somente comJoaquim. Assim como Joaquim e Pedro, outros presosbuscavam resolver questes pessoais com o chefe de polciaque no tinham nenhuma relao com o motivo de suas prises.Por exemplo, a presa Maria Benedita, escrava condenada priso perptua, pediu, em 1862, ajuda ao chefe de polcia paraencontrar um filho que teria deixado aos cuidados de um mestre

    de ofcio, morador da Lapa. Ela foi atendida e o homem intimadoa comparecer Secretaria de Polcia para dar explicaes.55 ParaIvan Vellasco, ao contrrio do que a historiografia sustentou ata dcada de 1980, as pessoas pobres buscavam a justia eacreditavam que teriam seus problemas solucionados, os quais

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    tambm incluam pequenas dvidas. Para Vellasco, o acesso justia era, por si, um objetivo crescentemente almejado poraqueles que viviam ou tentavam viver em um acordo bsico comregras sociais imperantes.56 Ora, e no caso dos presos que jhaviam rompido com esse acordo bsico? O acesso justia noera o objetivo somente de pessoas que pretendiam aceitar asregras do jogo social. Como sugere Vellasco, a deciso daspessoas comuns em procurar a justia e no resolver osproblemas movidos pela paixo e pelos impulsos indica umaracionalidade que revela noes sobre a ordem coletiva e opapel das instituies em administr-la.57 No caso de Pedro,Joaquim, Benedita e muitos outros presos vemos que a priso

    no diminuiu nem anulou a percepo que estas pessoas tinhamdo que era justo. Esses entendimentos os levavam a lutar porseus direitos, mesmo em assuntos no relacionados diretamentecom a sua condenao.

    Joaquim no se envolveu apenas em questes comerciais.Ele tambm se mostrou solidrio com seus companheiros. Em 10de maio de 1873, deram entrada na Casa de Priso com Trabalhodois forados, isto , condenados pena de gals. Tratava-se deProcpio e o escravo Victor que cumpriam pena no Arsenal daMarinha at que um mao procedimento resultou na

    transferncia da dupla para a penitenciria.58 Logo aps achegada dos dois presos, Joaquim redigiu uma petioendereada ao presidente da provncia, a pedido de Victor. Nacarta Victor se dizia inocente e solicitava seu retorno para aRibeira (Arsenal da Marinha) ou sua transferncia paraqualquer fortaleza ou quartel. Segundo a petio, Victor foi transferido para a penitenciria apenas por estar acorrentado junto com Procpio, que dera uma pancada no Feitor do trabalho ou encarregado sem que o supplicante tivesse seinvolvido nem concorrido para isso, antes proibio o referido

    Procopio de dar a segunda pancada no homem.59 O pedido foiindeferido, em 15 de maio, conforme o despacho do Palcio daProvncia. Parece que Joaquim tinha tambm a fama de dominaras letras, pois a petio foi redigida imediatamente aps achegada de Victor. Primeiramente falei em solidariedade, mas

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    nada impede que Joaquim tivesse escrito a carta em troco dealgum pagamento. Outra observao a se fazer que a transferncia para a Casa de Priso com Trabalho funcionavacomo castigo para os condenados gals. Eles no suportavama penitenciria porque permaneciam trancafiados nas celas,diferente da rotina do Arsenal e das fortalezas, onde eramdistribudos para trabalhar nas obras pblicas da cidade. Ocostume dos gals de transitar pela cidade e, de alguma forma,ganhar algum dinheiro para garantir o seu sustento, fazia comque eles resistissem ao isolamento na penitenciria. 60

    Joaquim no marcou presena apenas na penitenciria.Sua vida, antes de ser condenado, foi bastante atribulada e

    marcada por conflitos com a justia. Como disse um promotorsobre ele, Joaquim era notado e conhecido pelos seuscrimes.61O promotor no disse quais eram esses crimes.Joaquim era natural da freguesia de So Gonalo, termo dacidade de Cachoeira, mas vivia desde 1858 no Arraial da Lapa,na Freguesia de Nossa Senhora da Oliveira dos Campinhos, termo de Santo Amaro, regio do Recncavo baiano. Ali era trabalhador da lavoura de mandioca, mas tambm disse quevivia de negcios. Declarou saber ler e escrever, era livre, pormsobre sua cor no tive informao.

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    FIGURA 1: Recncavo baiano: cidades e parquias.FONTE: SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos. Engenhos e escravos

    na sociedade colonial, So Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 84.

    Na poca em que escreveu as correspondncias na priso tinha, aproximadamente, 35 anos de idade. Era conhecido por

    Joaquim Tibiri, filho legtimo de Pedro Domingos de Prado e deAna Rosa de Jesus.62 Tambm disse ser casado. Tinha um irmode nome Jos Pedro Domingos de Prado que foi acusado dedefloramento e preso em 1872. Em 1866, Joaquim e seu irmoforam julgados por uma tentativa de homicdio ocorrida em 1858,

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    mas foram absolvidos.63 Em 1866, foi Joaquim que sofreu uma tentativa de homicdio. Segundo ele, seu tio, conhecido comoCazuza, o feriu com um tiro. O tio teria se comprometido aguardar os trastes de Joaquim enquanto este estava preso emSanto Amaro. Conforme Joaquim, o tio vendera tudo sem o seuconhecimento e quando ele saiu da cadeia o tio ficou com receioque ele fosse tirar satisfaes e a atentou contra sua vida. Nadafoi provado contra o acusado, que foi absolvido.64 Entretanto, nofoi nenhum desses conflitos que levou Joaquim penitenciriapara cumprir 16 anos de priso com trabalho. Em 15 de agostode 1866 um oficial de justia, acompanhado de inspetores eguardas, seguiu para o Arraial da Lapa em direo ao

    sobradinho onde se encontrava Joaquim a fim de cumprirem ummandato de priso contra ele, que estava em companhia de umajovem recm tirada da casa dos paes. Joaquim teria resistido priso e, com uma arma de fogo, atingiu um dos inspetoreslevando-o morte, alm de ferir a dois guardas. Joaquim semprenegou o crime, afirmando que foram os prprios companheirosdo inspetor que o mataram. No primeiro julgamento suacondenao foi de gals perptua, pelos crimes de resistir sordens das autoridades e por homicdio sem circunstanciasagravantes. No crime de morte, foi enquadrado no grau mximo,

    o que lhe custou a pena de gals perptua. Joaquim apelou e o tribunal da Relao entendeu que no cabia a sentena e ocondenou a duas penas: dois anos de priso com trabalho pelocrime de resistncia e 14 anos de priso com trabalho porhomicdio que desta vez foi considerado de grau mdio.65 O fatode Joaquim ter sido condenado por homicdio semcircunstncias agravantes indica que ele no era reincidenteneste tipo de crime. Num de seus interrogatrios Joaquim disseao Juiz que era um homem de muitos inimigos e parece que ele tinha razo. Em 1883, ele foi morto, de forma brutal, numa

    emboscada na estrada de Oliveira onde morava. Ao lado docorpo foram encontradas duas armas de fogo e uma faca. Todasas testemunhas, entre elas uma prima de Joaquim de nomeJoanna, alegaram no saber sobre o ocorrido, apenas disseramter ouvido os disparos. 66

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    A histria de Joaquim emblemtica para demonstrar ariqueza da correspondncia de presos, que pode ser utilizadacomo uma espcie de fio condutor para ultrapassarmos osmuros da priso em busca de fragmentos de histrias de vidados presos. So pessoas que se destacaram de forma diferentedaquelas que por muito tempo chamou a ateno dospesquisadores. Refiro-me aos personagens consideradosvultosos e pertencentes s elites. Felizmente, a historiografiamais recente tem se preocupado com a histria de vida daspessoas comuns.67 Entretanto, vale dizer que mesmo se tratandode pessoas comuns preciso que elas tenham se destacado dealguma forma, a ponto de ter gerado documentao suficiente

    para que seja possvel estud-las. No caso dos presos, aacumulao de documentos est, na maioria das vezes,relacionada intensidade dos conflitos que eles tiveram com apolcia e com a justia, como ocorreu no caso de Joaquim.

    Regras de convivncia entre os presos.

    A violncia entre os prprios presos foi outro tema tratadonas correspondncias. Como j foi dito, a ordem costumeira, que

    garantia certa acomodao no ambiente prisional, era efmerapodendo ser rompida a qualquer momento. A violncia, porexemplo, nem sempre vinha dos funcionrios, pois estava aindamais presente entre os presos, que dela usavam para resolverquestes e demarcar fronteiras. Para alguns autores, a violnciapraticada pelos presos nada mais do que uma extenso davida cotidiana da sociedade mais ampla.68 Para a Bahia euincluiria, nesta sugesto no s a violncia, mas outroscomportamentos dos presos como, por exemplo, o preconceitocontra os escravos, as estratgias de dominao, o comrcio e aagiotagem.

    Para analisar a questo da violncia entre os presos citareia carta de Braz Antonio Cardoso, endereada ao Imperador, em1875, pedindo perdo da sua sentena de doze anos de prisocom trabalho que lhe foi imposta por assassinar outro preso,

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    Manoel Francisco Barbosa. Segundo relato de Braz, o presoManoel era o homem mais insolente e timido da Casa, que porseus feitos vivia enterrado em um cobico [cela], s lhe abrio aporta de 24 horas acompanhado de guardas Policiais. Brazcontinuou dizendo que no satisfeito este insolente homemtrazer todos abitantes da Casa de baixo dos ps, no dia sete demaro dirigiu-se a ele, Braz, com palavras mais orriveis que sepode dizer, e jurando-lhe de dar a resposta pela manha quandolhe abrir-se a porta. No outro dia, Manoel, ao sair da cela,dirigiu-se at onde se encontrava Braz e descarregou-lhe umaforte pancada com o barril da faxina que trazia na mo. Foi obastante para que os dois entrassem em luta corporal e,

    segundo Braz, os outros presos, todos inimigos capitaes deManoel, com a desculpa de apartar a briga, se aproveitaram dasituao para bater ainda mais neste. Depois da luta apartada teria restado no cho um cambuc de faca o qual Braz,imediatamente, se apoderou e feriu mortalmente Manoel. A justificativa foi legitima defesa pois, segundo Braz, se ele notivesse pego a faca Manoel o faria contra ele.69A condenao deBraz tambm indica que alguns presos ainda cumpriam pena,no por crimes que cometeram fora da priso, mas dentro dela.

    Tomando como mote o ato violento que resultou na morte

    do preso Manoel, sugiro uma discusso sobre a quebra docdigo prisional. Ficou evidente que Manoel era hostilizadopelos demais presos, o que supunha a sua no participao naordem costumeira da priso, ou que ele teria rompido com ela,talvez por ter violado alguma regra bsica que poderia garantirum mnimo de convivncia com os presos.70 Localizei, at omomento, pelo menos, duas regras que, quando violadas,representavam a quebra do cdigo de convivncia. A primeiradelas era no ser um informante. O preso que se prestasse aesse papel corria risco de vida dentro priso. Por exemplo, em

    1860, na priso do Barbalho, o preso Manoel do Nascimento,conhecido por Padre, precisou ser transferido s pressas para apriso de Gals do Arsenal da Marinha para evitar o mo futuroque contra elle possa acontecer. O motivo foi ter o referidopreso escrito um bilhete para a administrao delatando um

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    plano de fuga em massa, o que impediu a ao dos presos. Talcomportamento despertou a revolta da populao prisional dacadeia do Barbalho, que iniciou uma sublevao, contida pelaao do chefe de polcia, do carcereiro e de guardas enviados doArsenal da Marinha especialmente para conter os presos.71Carlos Aguirre assinala que os delatores das prises de Limatambm despertavam a revolta dos presos. Segundo o autor ossoplones desempenhavam um papel fundamental na vigilnciados presos, como denunciar planos de fuga, de rebelio, deinformar tudo o que se passava entre os presos. Este era umvalioso servio prestado administrao em troca de algumdinheiro ou de privilgios como, por exemplo, ser contratado

    informalmente para trabalhar na cozinha, na limpeza e at comoporteiros. Aguirre cita um exemplo de um preso informante queestava prestes a ganhar liberdade, entretanto ele tinhaprevenido a administrao sobre um plano de fuga dos presos e,como consequncia, passou a ser ameaado. O resultado foi queo informante passou o restante de sua pena no escritrio dodiretor da priso.72

    Outro comportamento repudiado pelos presos, que tenhovisto com frequncia na documentao, tem relao com adescrio feita do preso assassinado por Braz. Os presos no

    suportavam os mais arrogantes e violentos, O caso de espanholFrancisco Panyo ajuda a entendermos essa questo. Em 1842, aenxovia dos homens da cadeia da Relao precisou sofrer algunsreparos e cerca de quarenta presos, que ali se encontravam,foram transferidos, temporariamente, para a Fortaleza do Mar.No retorno cadeia da Relao, em janeiro de 1843, o carcereirosolicitou que Panyo continuasse isolado na Fortaleza, porquedessa medida dependia o sossego das prisoens e atranquilidade dos mais presos.73 Uma representao de presosenviada ao chefe de polcia um ms antes de deixarem a

    Fortaleza do Mar revela o motivo da preocupao do carcereiroem manter Panyo isolado. O preso que assinou a carta em nomedos companheiros dizia que torna-se o maior perigo possvelentre os presos se para as Cadeias [da Relao] vier o perigosoHespanhol Panyo, pela sua m indole e malvadeza que j teve

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    uma vez a arrogancia de insultar e desafiar o Sr. Dr. Delegadoencarregado da inspeo das Cadeias. O preso continuouadvertindo o chefe de polcia,

    Em nome de eu e meus companheiros desejamos o socego napriso e no desejamos agravar nossos crimes e sentena, o queno acontecer se para c elle vier porque a indisposio hgeral e todos esto prevenidos e dispostos, este malvado ExmSnr. est no Forte do Mar em priso separada pelos seus feitosque j l tem praticado, e ali mesmo pode ficar at que acabe suasentena de um ano para ser deportado como V. Sa. ordena poisele protestado de fazer um assacinio na priso para no serdeportado [..] e haja por bem ordenar que aquele malvado

    homem fique na abobada daquela Fortaleza a bem do socego eda existencia dos supplicantes.74

    No estou com isso a generalizar, supondo que todas asformas de violncia atuavam como quebra de cdigo prisional. sabido que a violncia era utilizada por presos como instrumentode dominao e smbolo de masculinidade. Neste caso, o presousaria a violncia com o objetivo de conseguir algo, umaviolncia racional e no aquela usada apenas com o intuito deenfrentar abertamente toda a comunidade prisional.75

    Correspondncias de presos das cadeias comuns.

    Se voltarmos o nosso olhar para as cadeias comunsveremos outro perfil de preso, assim como outro tipo dediscursos e de reivindicaes. Conforme sinalizado no inciodeste texto, at 1861 as penas eram cumpridas nas cadeiascomuns, onde a herana do aprisionamento colonial era muitomais presente, ou seja, no existia nestas cadeias nenhumprojeto de reabilitao como aquele que estava sendo colocadoem prtica na CPCT. Em 1845, o africano liberto Francisco JosLisboa, preso na Cadeia da Relao, localizada no subsolo daCmara Municipal, numa atitude corajosa resolveu enfrentarpossveis retaliaes ao denunciar que ele havia sido espancado

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    pelo carcereiro. A carta-denncia, escrita por um procurador denome Manoel Jos Marinho da Cunha, dizia ao chefe de polciaque Francisco estava na cadeia da Relao, aguardando o dia deresponder a jri, quando foi espancado pelo carcereiro.

    a conta-se que o Carcereiro da mesma cadeia [ da Relao] semmotivo justo o maltratou de pancadas ferindo nas varias [partesdo corpo ?] pondo-o finalmente em estado de se no poderlevantar e depois de o ter assim maltratado deitou-lhe umapesada corrente no pescoo para mais do espao de 24 horas ecomo o suplicante crime algum cometesse e ao passar o filhodeste Carcereiro mandar que o suplicante fosse lanar fora o vazoda servido daquela priso e como o suplicante declarasse estar

    doente acrescendo alm disso estar na mesma priso presos deigual raa a do suplicante quem dispena-se de um tal serviopor motivos de serem mais bem queridos!!! o suplicantemiservel e nessa circunstancia que recorre a V. Sa. implorandoa inabalavel justia, mandando que o dito carcereiro respondaqual o motivo que o obrigou assim proceder e a vista de suaresposta e do estado em que se acha o supplicante fazendo-se asindagaes necessarias do arbitrario procedimento do CarcereiroV. Sa. lhe defira como entender a justia igualmente pede a V. Sa.lhe mande conduzir ao hospital para ali ser tratado.76

    O chefe de polcia remeteu a carta ao delegado inspetordas prises para que este examinasse o estado do preso etomasse as devidas providncias. Essa ordem foi dada no dia 20de junho e consta que no dia 21 a ordem j havia chegado aoinspetor. Infelizmente no localizei o desfecho da histria deFrancisco. A existncia de uma ordem costumeira na priso,como j mencionado, no significava uma ordem estvel, muitopelo contrrio, a qualquer momento ela podia ser quebrada epassaria ento a valer a vontade do mais forte. As relaes entre

    presos e funcionrios, tanto na penitenciria quanto nas cadeias,eram por si s complexas demais e permeadas de uma tensoconstante, o que significa dizer que ela estava sempre prestes aser rompida, como ocorreu com o africano Francisco que, aodesobedecer a ordem do filho do carcereiro, num ato explcito de

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    insubordinao, desafiou o dominante e sofreu as conseqnciasdo seu ato, rompendo imediatamente com qualquer relaoanterior de acomodao (negociao). Neste caso James Scottcomenta que quando, repentinamente, dissipa-se asubservincia e ela substituda pelo desafio aberto nsencontramos um daqueles momentos perigosos e raros nasrelaes de poder.77 No caso de Francisco o perigo veio naforma de espancamento.

    Essa petio alerta para a presena do filho do carcereironas dependncias da cadeia, assim como a petio sobre oescravo Juvncio, que discuti h pouco, revelou que o sobrinhodo administrador tambm transitava ou talvez morasse por l. O

    regulamento da Casa de Priso com Trabalho de fato dizia que oadministrador e os dez guardas deveriam morar napenitenciria, com a ressalva de que estes ltimos deviam ser,de preferncia, solteiros ou vivos.78 Quanto ao administrador,no consta nenhum impedimento quanto ao estado civil.79

    O procurador de Francisco revela o lugar dos presosafricanos na cadeia da Relao, ou seja, limpavam os dejetos. Apetio tambm deixa latente a existncia de algum tipo de tenso entre Francisco e os outros africanos da cadeia daRelao quando diz que os presos de igual raa eram

    poupados de limpar o vaso de dejetos por serem maisqueridos!!!. Chama tambm a ateno o estilo irnico e diretodo procurador que demonstrou no ter a preocupao com ascostumeiras reverncias de que se lanava mo ao tratar com ochefe de polcia, cargo geralmente ocupado por homens que jhaviam sido juzes de direito e de grande prestgio. O procuradorde Francisco, Manoel Jos Marinho da Cunha, no era umcompanheiro de priso, como muitas vezes ocorria, tratava-se deum homem rico, morador de um sobrado na Rua Direita de SoPedro Velho, prximo ao Mosteiro de So Bento. No encontrei

    nenhuma informao que justificasse seu envolvimento com oliberto Francisco, como, por exemplo, se ele era seu ex-senhor ,seu padrinho ou um advogado. Cunha morreu em 1854, e no seuinventrio consta apenas a posse do escravo Tiburcio, cabra,moo, do servio domstico, que foi deixado para seu filho de 19

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    anos que estudava Direito em Recife, na poca de sua morte.No localizei seu testamento. Cunha deixou muitas dvidas,indicando a existncia de dificuldades financeiras. Neste casoele poderia ter vendido escravos para saldar dvidas. Na ocasiodo seu inventario, sua casa foi avaliada em oito contos de reis, oequivalente a dez escravos moos, o que pode nos dar uma idiada sua posio social.80

    A alta rotatividade era a principal caracterstica dascadeias comuns. Dentro delas foram escritas muitas cartassolicitando soltura. Frequentemente, pessoas inocentes eramcolocadas atrs das grades, pois o fato de serem negras faziacom que a polcia as confundisse com escravos em fuga. Nestes

    casos, o suspeito era levado para a cadeia at comprovar suacondio e, s depois disso, era solto. Muitas vezes acomprovao vinha aps o preso ter recebido algum castigoexclusivo para escravos, como palmatoadas ou aoitamento.81Aspeties de soltura tinham uma maneira simples e direta de sedirigir autoridade, bem diferente do tom paternalista utilizadopelos sentenciados. Talvez a falta da retrica paternalista possaestar relacionada ao breve perodo que estas pessoas ficavampresas. Muitas vezes, era questo de dias apenas para quefossem soltas. Sendo assim, elas no tinham, talvez, a

    necessidade de tecer relaes com as autoridades com o intuitode garantir uma melhor sobrevivncia na comunidade prisional,como acontecia com os sentenciados. Dentre esses pedidos deliberdade estava o estranho caso de Manuel Damio de Jesus,preso na cadeia do Aljube, que escreveu ao chefe de polciadizendo que, no dia 12 de maro de 1854, fora detido pelosimples fato de andar passeando pelas Ruas com huma cobrabixo no pescoo e por se achar corrigido desta falta quecometeu pediu para ser solto. Damio teve seu pedido atendidoem apenas trs dias.82 O Jornal da Bahia no pareceu acreditar

    na sua inocncia e o acusou de tentar tirar dinheiro dosafricanos ignorantes ao desfilar com a tal cobra no pescoo.83

    Outra priso, aparentemente banal foi a de Francisco Josda Cunha, que ao escrever sua petio se apresentou comovivo e com filhos. Cunha relatou que saindo ontem a tarde de

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    sua casa para ir aos seus afazeres na Ordem 3 do Carmo onde Andador, ao passar pela Baixa do Sapateiro ai foi preso por umsoldado, sem que ele tivesse se envolvido em desordemalguma e sim que estava a servio como consta no documentoanexo. O anexo era um atestado assinado por oito moradoresda Baixa dos Sapateiros que confirmam a histria de Cunha. Ochefe de polcia lhe concedeu a ordem de soltura no mesmodia.84 Como vemos, muitas pessoas eram presas sem motivoaparente e o fato delas serem soltas aps reclamarem sualiberdade refora essa hiptese. Porm, nem todos eramatendidos, como ocorreu com Thomas da Rocha Barreto que, em1857, escreveu estar preso a 56 dias no Aljube sem culpa

    formada e que tinha a necessidade absoluta de ir a sua casapara ali cuidar de arranjos indispensveis e que precisam de suapresena. O despacho do chefe de polcia se resumiu em trspalavras no tem lugar. 85

    Conforme constatamos, as cartas de presos revelaram-sefontes ideais para conhecermos o cotidiano prisionaloitocentista. Vimos que as cartas geralmente foram escritaspelos prprios presos, demonstrando inclusive o grau deletratamento de cada um. No h dvida de que essas cartasnos proporcionam uma viso do cotidiano prisional atravs uma

    perspectiva muito mais interessante, e por que no dizer, maisreal, do que aquela dos documentos oficiais. Entretanto, sodocumentos que foram escritos no centro do perigo, utilizandoaqui uma expresso de Sidney Chalhoub, e sabemos que diantedo poder raramente se fala a verdade. Conforme assinalaChalhoub, o discurso poltico dos dominados envolvia acapacidade de atingir objetivos importantes utilizandocriativamente - e reforando, ao menos aparentemente - osrituais associados prpria subordinao.86

    Vimos tambm neste artigo que as cadeias e a

    penitenciria da Bahia oitocentista no devem ser pensadasisoladamente da sociedade mais ampla e sim como parteintegrante dela. As transaes comerciais que se verificaramdentro da penitenciria, revelia da administrao e dasautoridades provinciais, estavam diretamente ligadas s

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    prticas sociais, culturais e comerciais do cotidiano da cidade deSalvador. Negros de ganho, ganhadeiras, vendedores,negociantes de toda espcie e at mendigos se apropriavam dosespaos pblicos de Salvador, fosse para trabalhos honestos ou transaes consideradas ilcitas. Quando algumas dessaspessoas caam nas malhas da justia e eram mandadas para apriso, a tendncia era que levassem com elas os elementos queas ajudariam a sobreviver ali dentro. Afinal o ambiente da prisotendia a reproduzir a lgica da sociedade que o criou. Tambmfazia parte da experincia das ruas a capacidade de negociaodos presos por liberalidades junto administrao e sautoridades, atravs dos pedidos de soltura, de denncias e

    outros tipos de ao consciente que os ajudavam a suportarmelhor a vida na priso ou livrar-se dela. A rejeio doscompanheiros de priso ao preso escravo, especificamente,refletia preconceitos existentes na sociedade mais ampla. Ocontexto de onde surgiu a penitenciria brasileira influiu deforma crucial no modelo de sistema penitencirio que seconstruiu no pas ao longo dos tempos. Diante do exposto, restaao pesquisador do tema valorizar as particularidades dasociedade em que a priso est inserida e dar menos destaqueaos modelos e teorias estrangeiras. Caso contrrio, os resultados

    podem nos levar a interpretaes equivocadas, distantes darealidade da qual pretendemos nos aproximar.

    Agradecimentos

    Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla quedesenvolvo como doutoranda do PPGH/UFBA sob a orientaodo Prof. Dr. Joo Jos Reis a quem sou especialmente gratapelos comentrios e indicao de fontes documentais ebibliogrficas. Agradeo tambm as sugestes e crticas feitaspelos membros da linha de pesquisa Escravido e Inveno daLiberdade, do Programa de Ps-Graduao em Histria daUFBA, e a Prof Dra. Maria Ceclia Velasco e Cruz pelos

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    comentrios feitos desde a primeira verso deste artigo. Apesquisa conta com o apoio do CNPq.

    Referncias Bibliogrficas

    Fontes impressasBRASIL. COLLEO das Leis do Imprio do Brazil. Rio de Janeiro:Typografia Nacional, 1878.FILGUEIRAS JUNIOR Araujo. Cdigo Criminal do Imprio do Brazil

    Annotado, Rio de Janeiro, Eduardo & Henrique Laemmert, 1876.Regulamento da Casa de Priso com Trabalho da Bahia. Aprovado pelo

    presidente da provincia o conselheiro Antonio Coelho de S eAlbuquerque em 14 de outubro de 1863, Bahia: Typ. Poggetti deTourinho, Dias & C, 1863, Bahia: Typ. Poggetti, 1863

    Resposta apresentada pelo ex-administrador da Casa de Priso comTrabalho da provncia da Bahia, tenente-coronel Manoel DinizVillasboas, no processo de responsabilidade a que foi submentido poracto da presidencia da mesma provincia de 12 de fevereiro de 1868,Bahia: Typographia Constitucional de Frana Guerra, 1868.

    Livros, Artigos e TesesAGUIRRE, Carlos. The Criminals of Lima and Their Worlds: The PrisonExperience, 1850-1935, Durham, Duke University Press, 2005.______________. Disputed Views of Incarceration in Lima, 1890-1930:The Prisoners Agenda for Prison Reform, in Ricardo Salvatore, CarlosAguirre e Gilbert M. Joseph (orgs), Crime and Punishment in Latin

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    Revista Tempo ( no prelo)

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    Abstract: The aim of this article is to discuss the prisoncommunity in Bahia during the 19th century, using thecorrespondence written by prisoners. I analyze thisdocumentation in an attempt to reconstruct the daily life of theprisoners, presupposing the existence of a parallel order equal toor more powerful than the official prison order, but that did notend the arbitrariness and the violence of the latter.This parallelorder could be broken any moment, whether because of directconfrontation among the prisoners themselves, or due toconfrontation between prisoners and prison staff. Amongdifferent types of protest, writing was widely used by prisonersand, depending on the strategy suggested in the letters, it waspossible to obtain gains without breaking the prison order.Written appeals were used by prisoners, educated or not, ofdifferent legal conditions, slaves, freed and free, independent of

    the type of sentence they were serving.

    Keywords: Prisoners; Penitentiary; Prison-workhouse; Bahia-History 19th Century.

    NOTAS

    1 Sobre a reforma prisional na Bahia, ver TRINDADE, Cludia Moraes. Areforma prisional na Bahia oitocentista, Revista de Histria, So Paulo,n 158 1 semestre, pp. 157-198, 2008; para Pernambuco,ALBUQUERQUE NETO, Flvio de S Cavalcanti de. A reforma prisionalno Recife oitocentista: da Cadeia Casa de Deteno (1830-1874).

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    Recife, 2008. Dissertao (Mestrado em Histria) - UFP; para o Rio deJaneiro ARAJO, Carlos Eduardo Moreira de. Crceres imperiais: aCasa de Correo do Rio de Janeiro. Seus detentos e o sistemaprisional do Imprio, 1830-1861. Campinas, 2009. Tese (Doutorado emHistria) - Unicamp; para So Paulo, SALLA, Fernando, As prises deSo Paulo: 1822-1940. So Paulo: Anablume, 1999 e para Porto Alegre,ver PAIVA, Helena Marisa Vianna. A Casa de Correo de PortoAlegre, 1889-1898. Porto Alegre, 2002. Dissertao ( Mestrado emHistria) PURS.2 A reforma do Cdigo de Processo Criminal, em 1841, centralizou napolcia todos os assuntos inerentes as cadeias e a penitenciriainclusive a elaborao dos regulamentos dessas instituies.3

    A instituio foi construda numa rea pantanosa localizada namarinha fronteira ao Engenho da Conceio, pelos fundos da Capelados Mares.3 Este local pertencia Freguesia da Nossa Senhora daPenha de Frana de Itapagipe, periferia da Cidade de Salvador.3 Apartir de 1870, a freguesia da Nossa Senhora da Penha de Frana deItapagipe foi desmembrada e o local passou a pertencer Freguesia deNossa Senhora dos Mares. Atualmente esta rea conhecida comoBaixa do Fiscal e no edifcio da antiga Casa de Priso funciona oHospital de Tratamento e Custdia do Estado da Bahia. Systema

    penitenciario. Relatrio feito em nome da comisso encarregada, peloExcelentssimo senhor Presidente da Provncia, de examinar as

    questes relativas a Casa de Priso com Trabalho da Bahia:Typographia de Galdino Joze Bizerra, e Companhia, 1847,p. 5. Sobre aimplantao da Casa de Priso com Trabalho, ver TRINDADE CludiaMoraes. A Casa de Priso com Trabalho da Bahia, 1833-1865, Salvador,2007. Dissertao (Mestrado em Histria), PPGH FFCH, UFBA.4 A principal discusso da reforma prisional era substituir as prticasde punies do antigo regime por um novo conceito de puniobaseado na reabilitao do infrator, que deveria ser privado da sualiberdade e internado nas instituies penitencirias. Uma vez isoladodo mundo exterior, esperava-se fabricar um novo homem que, entreoutras qualidades, estaria pronto para fazer parte do mundo do

    trabalho e assim ser til para a sociedade. Sobre este assunto, verTRINDADE, A reforma prisional..., op. cit. Para uma discusso dasdoutrinas penitencirias que fundamentaram a reforma prisional, ver oclssico de FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: histria da violncia nas

    prises, 5. ed. Petrpolis: Vozes, 1987.

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    5 Sobre a reforma prisional fora da Europa e dos Estados Unidos, verDIKOTTER, Frank; BROWN Ian (orgs), Cultures of Confinement: A

    History of the Prison in Africa, Asia and Latin America, (Ithaca, NewYork, Cornell University Press, 2007).6 O Chile e o Peru concluram suas penitencirias em 1856. Em 1874 foia vez do Equador, seguido da Argentina, em 1877. Os ltimos pasesda America Latina a aderirem foram a Colmbia, em 1934, e Cuba, em1939. AGUIRRE, Carlos. Prison and Prisoners in Modernizing LatinAmerica (1800-1940). In Dikotter; Brown, Cultures of Confinement...,op.cit., pp. 19-20; Sobre Colmbia e Cuba, ver SALVATORE, Ricardo D.;AGUIRRE, Carlos. The Birth of the Penitentiary in Latin America:Toward an Interpretive Social History of Prisons. In: SALVATORE,

    Ricardo D.; AGUIRRE, Carlos (orgs) The Birth of the Penitentiary inLatin America: Essays on criminology, prison reform, and social control,1830-1940, (Austin, University of Texas Press, 1996), p. 9.7 A pena de aoites era destinada aos escravos. A pena de gals eraaplicada a homens livres e escravos, mas, geralmente, para este ltimogrupo. A pena de morte era aplicada em trs tipos de crime: homicdio,latrocnio e liderana de insurreio, independente da condio jurdicado infrator.8 Sobre a reforma prisional e a legislao brasileira, ver Trindade, Areforma prisional na Bahia oitocentista. Uma discusso maisaprofundada sobre as penas e os delitos no Cdigo Criminal do Imprio

    relacionados com a reforma prisional poder ser vista no trabalho deALBUQUERQUE NETO. A reforma prisional no Recife oitocentista..., op.cit., pp. 27-51.9 Ver, por exemplo, a Mesa redonda de 20 de maio de 1978 ondeparticiparam Michel Foucault, Catherine Duprat, Jacques Leonard,Michellle Perrot, Jacques Revel, Carlo Ginzburg, entre outros. Uma dasquestes debatidas e apresentadas Foucault foi a subsistncia, naFrana, no decorrer no sculo XIX de outros modos de punir (pena demorte, deportao, etc). PERROT, Michelle (org) LImpossible Prison.

    Recherches sur le systme pnitentiaire au xix sicle, (ditions DuSeuil, col. LUnivers Historique, 1980), p. 40. Para os Estados Unidos,

    ver, entre outros, ROTHMAN, David J. Perfecting the Prison, UnitedStates, 1789-1865. In: MORRIS, Norval; ROTHMAN, David J. (orgs) TheOxford History of the Prison. The Practice of Punishment in WesternSociety(New York, Oxford University Press, 1998), p.100-116

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    10 TRINDADE, Cludia Moraes. O nascimento de uma penitenciria: osprimeiros presos da Casa de Priso com Trabalho da Bahia, 1861-1865.

    Revista Tempo (no prelo). Doravante a Casa de Priso com Trabalhopoder ser indicada pela sigla CPCT ou simplesmente denominada depenitenciria.11 Idem.12 Idem.13 As cadeias comuns, a que me refiro, so as cadeias civis da Relao(1640/1845), localizada no subsolo da Cmara Municipal de Salvador;cadeia do Aljube (1833-1861), localizada na antiga Ladeira do Aljube,nas imediaes onde hoje est o viaduto da S, esquina com a Ladeirada Praa; a Casa ou Cadeia da Correo (1832- sc. XX) localizada no

    Forte de Santo Antnio Alm do Carmo; e a cadeia do Barbalho (1845-1864), localizada no Forte do Barbalho. Por curiosidade, vale destacarque as inmeras fortalezas na cidade tambm serviam de prisomilitar, geralmente, destinadas a militares e presos polticos. Contudo,algumas delas recebiam presos civis como, por exemplo, a priso dosgals localizada no Arsenal de Marinha e a priso da fortaleza do Mar.Nas primeiras dcadas do sculo XIX, existiam tambm os naviosprises, incluindo a Presiganga. Sobre as cadeias de Salvador e aimplantao da penitenciria da Bahia, ver TRINDADE. A reformaprisional na Bahia Oitocentista..., op. cit. As mulheres sentenciadasforam aceitas na Casa de Priso com Trabalho somente no perodo de

    1861 a 1865. O motivo alegado foram as obras incompletas, o quedificultava o projeto de separao de homens e mulheres. Da emdiante, at o final do sculo XIX, o destino das presas sentenciadas dejustia foi a Casa de Correo.14 Michele Perrot destaca que a instituio prisional recusa a palavra[dos presos] e esconde o escrito, quando no o destri, nos obscurosarquivos que s podem ser abertos aps um sculo. Para autora esseprocedimento seria um dos principais obstculos para se chegar avida diria dos presos. PERROT, Michele. Os excludos da histria:operrios mulheres e prisioneiros, 3 edio, So Paulo: Paz e Terra,2001, pp.238-239.15 Sobre as atribuies do chefe de polcia ver Regulamento n 120 de31 de janeiro de 1842; Lei n 361 de 3 de dezembro de 1841;HOLLOWAY, Thomas H. Polcia no Rio de Janeiro: represso e

    resistncia numa cidade do sculo XIX, Rio de Janeiro: EditoraFundao Getlio Vargas, 1997, p. 158.

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    16 AGUIRRE, Carlos. The Criminals of Lima and Their Worlds: The Prison Experience, 1850-1935, Durham: Duke University Press, 2005,pp.143-144.17 Idem, p. 196.18 Idem.19 Ver TRINDADE. A Casa de Priso com Trabalho da Bahia...op. cit.,captulo 4.20 AGUIRRE. The Criminals of Lima...op. cit.21 Ver o estudo de Aguirre sobre as correspondncias de presos.AGUIRRE, Carlos. Disputed Views of Incarceration in Lima, 1890-1930:The Prisoners Agenda for Prison Reform. In: SALVATORE, Ricardo;AGUIRRE, Carlos; Joseph Gilbert M. (orgs), Crime and Punishment in

    Latin America: Law and society since late colonial times(London, DukeUniversity Press, 2001), pp. 342-367.22 BROWN, Michel F. On Resisting Resistence. AmericanAnthropologist, New Series, v. 98, n 4, p.729, Dec.1996.23Relao de presos da Casa de Correo, APEBa, Cadeias, 1857-1861,mao 6271.24 Mantive a grafia e a pontuao original na transcrio dosdocumentos de maneira a sugerir ao leitor o grau de letramento dosseus autores. Joo Byspo das Neves ao presidente da Provncia, (1862),APEBa, Casa de Priso, 1836-1868, mao 3082. Sobre as informaespessoais de Joo das Neves ver Relao de presos da Casa de

    Correo, APEBa, Cadeias, 1857-1861, mao 6271. O mapa de presos datado de 1857 onde aparece Joo das Neves com 26 anos de idade.25 Dr. Possivanio Vieira dos Santos ao provedor da Santa Casa deMisericrdia da Bahia, 04/12/1860; Joo Byspo das Neves ao provedorda Santa Casa de Misericrdia, 1860, Arquivo da Santa Casa deMisericrdia da Bahia (ASMB), Correspondncia avulsa do Hospital daCaridade, 1860.26 Joo Byspo das Neves ao presidente da Provncia, (03/1862), APEBa,Casa de Priso, 1836-1868, mao 3082.27 CHALHOUB, Sidney. Dilogos polticos em Machado de Assis. In:Chalhoub, Sidney; Pereira, Leonardo Affonso de Miranda (orgs) A

    Histria contada: captulos de histria social da literatura no Brasil, Riode Janeiro, 1988, 95-122.28 Dos presos para o presidente da provncia, (28/09/1872), APEBa,Casa de Priso, mao 3084. Grifo do autor.29AGUIRRE, The Criminals of Lima...op. cit.,p. 145.

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    30 MOCZYDLOWSKI, Pawel. The Hidden Life of Polish Prisons,Bloomington e Indianapolis: Indiana University Press, 1992, p. xv.31 FRAGA FILHO, Walter, Mendigos, moleques e vadios na Bahia do

    sculo XIX. Salvador: Hucitec-EDUFAB, 1996, pp.112, 113 e 116.32 Dos presos para o presidente da provncia, 10/05/1873, APEBa, Casade Priso, 1872-1874, mao 3084.33 Idem.34 Idem.35 Nota diria do preso Zeferino Felippe Cardozo, APEBa, Casa de

    Priso, 1872-1874, mao 3084; Bilhete do preso Zeferino FelippeCardozo autorizando o senhor Severino a receber dinheiro em seunome, APEBa, Casa de Priso, 1872-1874.36

    Resposta apresentada pelo ex-administrador da Casa de Priso comTrabalho da provncia da Bahia, tenente-coronel Manoel DinizVillasboas, no processo de responsabilidade a que foi submentido poracto da presidencia da mesma provincia de 12 de fevereiro de 1868,Bahia, Typographia Constitucional de Frana Guerra, 1868, APEBa,Biblioteca.37 Francisco Julio Nabuco para o presidente da provncia, 10/05/1873,APEBa, Casa de Priso, 1872-1874, mao 3084.38 Reis, Joo Jos. Domingos Sodr: um sacerdote africano, escravido,

    liberdade e candombl na Bahia do sculo XIX. So Paulo: Companhiadas Letras, 2008, pp. 27-2839

    Joaquim Domingos de Prado ao presidente da provncia, maio/1872,APEBa, Casa de Priso, 1872-1874, mao 3084.40 Joaquim Domingos de Prado ao presidente da provncia, junho/1872,APEBa, Casa de Priso, 1877-1879, mao 3089.41 Joaquim Domingos de Prado ao presidente da provncia, maio/1872.42 Secretaria de polcia ao administrador da Casa de Priso comTrabalho, 15/05/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5933.43 Idem44 Chefe de polcia para o administrador da Casa de Priso comTrabalho, 24/05/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5933.45 Chefe de polcia para o administrador da Casa de Priso com

    Trabalho, 28/05/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5934.46 Joaquim Domingos de Prado para o presidente da provncia,agosto/1872, APEBa, Casa de Priso, 1872-1874, mao 3084.47 Chefe de polcia para o administrador da Casa de Priso comTrabalho, 11/11/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5934.

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    48 Chefe de polcia para o administrador da Casa de Priso comTrabalho, 13/12/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5934.49 Secretaria de polcia ao administrador da Casa de Priso comTrabalho, 04/04/1872, APEBa, Casa de Priso, mao 5933.50 Jos Fernandes de Souza para o presidente da provncia, agosto de1871, APEBa, Casa de Priso, 1871, mao 5932.51 Administrador interino para o chefe de polcia, 09/02/1972, APEBa,Mapa de presos, 1872-1874, mao 6276.52 Ver por exemplo o caso de Francisco Carvalhal em Trindade, A Casade Priso com Trabalho da Bahia, pp. 150-151.53 SYKES, Gresham MGready; MATZA, David. Tcnicas deneutralizacin: una teoria de la delincuencia, Caderno CRH,