expansÃo europeia oitocentista

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A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O BRASIL a Edições Afrontamento CEPESE

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Colonização e emigração, expressões carregadas de alta densidade histórica,representam dois fenômenos essenciais à compreensão do processo históricovivenciado pela humanidade no século XIX. Geralmente, analisadas deforma estanque1, constituem, efetivamente, duas faces de um mesmo movimentoque tem suas raízes profundamente fincadas no terreno fértil da industrializaçãodos países europeus, absolutamente coincidentes em sua fase temporalde mais alta intensidade, apesar de díspares em relação ao palco de suaatuação espacial. No fundo, todos os motivos elencados pelos historiadores edemógrafos no afã de explicar os dois movimentos têm um substrato comum,em sua dimensão econômica (a expansão industrial e a concentração do capital);em sua perspectiva social (o crescimento demográfico e a marginalizaçãosocial); em sua esfera política (o elã nacionalista e a insurgência revolucionária);no plano ideológico (embate entre as correntes do liberalismo, tradicionalismoe socialismo); e, até mesmo, no nível científico e cultural (teóricas racistase atração do ignoto).Apesar de inserida num mesmo movimento de expansão européia que seiniciara no século XV, o fenômeno expressa, no século XIX, diferenças qualitativasem relação ao período precedente. Até as primeiras décadas do séculoXIX a colonização tem evidente primazia em relação à emigração. Os deslocamentospopulacionais realizados pelos países europeus desenvolviam-se àcusta de enormes sacrifícios em termos de recursos humanos, num período emque os índices de natalidade superavam exiguamente os de mortalidade, permanentementesubmetido ao espectro das crises periódicas de fome, fruto dosciclos climáticos que assolavam as economias do “antigo tipo”2 e desencadeavamas pestes endêmicas. Pequenos países, escassamente povoados e comvastos territórios a povoar, a exemplo de Portugal, corriam o risco, freqüentementeapontado pelos contemporâneos, de despovoar-se em favor de seus territóriosultramarinos.

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  • A EMIGRAO PORTUGUESAPARA O BRASIL

    aEdiesAfrontamento CEPESE

  • TtuloA EMIGRAO PORTUGUESA PARA O BRASIL

    CoordenaoFernando de Sousa Ismnia de Lima MartinsConceio Meireles Pereira

    Co-edioCEPESE Centro de Estudos da Populao, Economia e Sociedade / Edies Afrontamento

    CEPESE Rua do Campo Alegre, 1055 4169-004 PortoTelef.: 22 609 53 47Fax: 22 543 23 68E-mail: [email protected]

    Edies AfrontamentoRua de Costa Cabral, 859 4200-225 PortoTelef.: 22 507 42 20Fax: 22 507 42 29E-mail: [email protected]

    Capa: Maria Ado

    N. edio: 1117

    Coleco: Diversos / 19

    Tiragem 500 exemplares

    Depsito legal n. 266660/07

    ISBN Edies Afrontamento 978-972-36-0929-5

    ISBN CEPESE 978-972-9970-8-1

    Execuo grfica: Rainho & Neves, Lda. / Santa Maria da [email protected]

    Impresso em Outubro de 2007

  • A EMIGRAO PORTUGUESAPARA O BRASIL

    COORDENADORES:

    Fernando de SousaIsmnia de Lima Martins

    Conceio Meireles Pereira

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    INTRODUO

    A emigrao portuguesa para o Brasil na poca contempornea, mais con-cretamente nos sculos XIX e XX, embora objecto de numerosos trabalhoscientficos, constitui um tema em aberto, a obrigar ainda, por vrios anos, auma longa pesquisa que, para ser coroada de xito, necessita de ser levada aefeito por uma vasta equipa de investigadores, de forma a obterem-se resulta-dos que ultrapassem os meros contributos parciais at agora alcanados e ocarcter impressionista de alguns estudos que, embora meritrios, a partir deuniversos reduzidos procuram extrapolar os resultados a que chegaram paratoda a emigrao portuguesa.

    Face ao conhecimento directo que temos das fontes histricas ligadas emigrao, quer em Portugal, quer no Brasil, o Projecto do CEPESE Centrode Estudos da Populao, Economia e Sociedade, designado por A Emigraodo Norte de Portugal para o Brasil, avaliado, aprovado e apoiado pela FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia, do Ministrio da Cincia, Tecnologia eEnsino Superior de Portugal, pretende dar um contributo indispensvel e, emboa parte, definitivo para o conhecimento:

    do volume dos efectivos migratrios dos portugueses para o Brasil; da origem geogrfica e socioeconmica dos emigrantes portugueses; dos ritmos migratrios compreendidos luz da evoluo econmica dos

    dois pases; do volume e formas do retorno dos emigrantes; das polticas de emigrao e imigrao adoptadas, respectivamente, por

    Portugal e pelo Brasil, no sculos XIX e XX; do impacto scio-demogrfico, econmico, cultural e poltico da emigra-

    o portuguesa para o Brasil.

    Por um lado, trata-se de fazer avanar a fronteira do conhecimento cient-fico desta realidade estrutural que tem muito a ver com a histria recente doBrasil e de Portugal; por outro lado, de dar uma resposta adequada s centenasde milhar de portugueses e brasileiros que, ao presente, por razes de naturezapoltica, social e cultural, se preocupam com as suas razes, as suas origensfamiliares.

    Para tal, pretende-se criar um portal na Internet com uma base de dados dosemigrantes portugueses para o Brasil, registados, a partir de 1835, nos livros depassaportes dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Vila Real,Bragana e Viseu (os distritos para os quais dispomos de equipas de inven-tariao dos livros de registo de passaportes), e complementados com outras

  • fontes brasileiras nomeadamente com a base de dados existente no ArquivoNacional do Rio de Janeiro e que se encontra a ser objecto de reconverso eportuguesas, da qual conste a identificao dos requerentes dos passaportes,isto , o nome, naturalidade, estado civil, profisso, destino (no Brasil, quandopossvel), idade, sexo, alfabetizao e, ainda, os seus acompanhantes.

    O presente Projecto tem assim, por objectivo principal, a criao de umportal, autnomo ou acolhido no portal do CEPESE (www.cepese.pt), onde sedisponibilize uma base de dados relativa aos emigrantes que, do Norte de Por-tugal, saram para o Brasil nos sculos XIX e XX, e que constitua o primeiropasso para se dispor, de modo permanente, de uma fonte de informao, comcarcter exaustivo, relativa emigrao portuguesa para o Brasil na pocaContempornea, fenmeno que est no cerne da herana cultural comum dasduas naes.

    Para alm disso, pretendemos ainda alcanar outros propsitos:

    produzir estudos baseados na recolha destas fontes histricas; articular e aprofundar a cooperao entre os investigadores portugueses e

    brasileiros preocupados com esta temtica, atravs da realizao de semi-nrios anuais e trabalhos conjuntos;

    proceder a uma reviso crtica das fontes, bibliografia, legislao e pro-blemtica que lhe diz respeito, para, deste modo, conhecermos melhor aherana cultural comum dos dois pases e o contributo que os portugue-ses deram para a formao do Brasil Contemporneo;

    aprofundar as relaes cientficas e culturais entre Portugal e o Brasil ereforar o dilogo cientfico do CEPESE com universidades e instituiesbrasileiras ligadas investigao cientfica, designadamente, a Universi-dade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense, aFAPERJ Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro,o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional do Rio deJaneiro, a Universidade de So Paulo, a FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo, a Ctedra Jaime Corteso e outras, e,deste modo, aprofundar a internacionalizao do CEPESE no mundo delngua portuguesa;

    contribuir para a iniciao, formao e qualificao de jovens investiga-dores no domnio das cincias sociais e humanas, quer atravs da equipade investigao j constituda, quer atravs de mestrados e doutoramen-tos, sempre que possvel;

    construir um instrumento de consulta indispensvel, que permitir aosinvestigadores desenvolver pesquisas da mais variada natureza e s pes-soas em geral, conhecer e recolher testemunhos sobre os seus antepassa-dos que emigraram para o Brasil, num processo de recuperao de iden-tidade e memria que se tem desenvolvido, alis, nos ltimos tempos, noMundo Ocidental no Norte de Portugal, praticamente no existem fam-lias em que alguns dos seus antepassados no tenham sado para o Brasil;

    INTRODUO

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  • renovar a problemtica histrica, sociolgica, econmica e cultural daemigrao portuguesa para o Brasil, nos dois lados do Atlntico, assimcomo analisar o impacto do retorno desses emigrantes, luz dos resulta-dos obtidos, a partir de fontes histricas que, at ao momento, nuncaforam objecto de levantamentos sistemticos e globais.

    O presente Projecto tem por mbito, nesta primeira fase, a recolha de infor-mao relativa aos emigrantes que saram do Norte de Portugal para o Brasil,nos sculos XIX e XX, uma vez que o fenmeno de emigrao para o Brasil,no perodo referido, diz respeito, como todos sabem, fundamentalmente aoNorte de Portugal.

    Em ordem a concretizarmos tal objectivo, convidmos os investigadores doCEPESE a participarem neste Projecto, para efectuarmos o levantamento doslivros de registo de passaportes. Ao presente, trabalham no mesmo 25 investi-gadores; e foram levantados j 171 442 passaportes.

    Gostaramos, tambm, de informar que o CEPESE estabeleceu um proto-colo de cooperao em 2005, com a FAPERJ o primeiro que esta Fundaoestabeleceu com uma instituio estrangeira no governamental , destinado aapoiar o levantamento das fontes brasileiras relativas emigrao portuguesa eas actividades cientficas que vierem a ser desenvolvidas.

    Realizmos, no Rio de Janeiro, em Novembro de 2005, um Seminrio sobreo tema, com coordenao nossa e da prof. doutora Ismnia Martins, no qual,alm dos portugueses, participaram mais de 20 investigadores brasileiros dasmais diversas universidades; cujas actas j foram publicadas sob o ttulo dePortugueses no Brasil: Migrantes em dois atos.

    Agora, em Julho de 2006, realizmos o II Seminrio com o ttulo A Emi-grao do Norte de Portugal para o Brasil, encontrando-se j o CEPESE a pre-parar o III Seminrio sobre este tema, que ir ter lugar em Setembro de 2007,em So Paulo e Santos.

    Uma ltima palavra para mencionar que, no mbito deste projecto, estoneste momento a ser elaboradas, por investigadores do CEPESE, duas teses dedoutoramento (Dr. Diogo Ferreira e Dr. Ricardo Rocha) e duas dissertaes demestrado (Dr. Paulo Amorim e Dra. Slvia Braga).

    Resta-nos agradecer a todas as instituies que tm acompanhado este Pro-jecto do CEPESE e que possibilitaram a realizao deste Seminrio: a FAPERJ Fundao de Amparo Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro, a UniversidadeLusada do Porto e o Governo Civil do Porto, entidades que tm apoiado esteProjecto em regime de protocolo com o CEPESE. Para a realizao desteevento, tivemos os patrocnios da FCT Fundao para a Cincia e a Tecnolo-gia; do Programa FACC Fundo de Apoio Comunidade Cientfica; do Pro-grama Operacional Cincia e Inovao 2010; do Fundo Europeu de Desenvol-vimento Regional; da Universidade do Porto; do GRICES Gabinete de Rela-es Internacionais da Cincia e do Ensino Superior; da Cmara Municipal doPorto; da Cmara Municipal de Vila Nova de Gaia; da Fundao Calouste Gul-

    INTRODUO

    7

  • benkian; da Carnady Comrcio Internacional, Lda.; do ISLA Instituto Supe-rior de Lnguas e Administrao; do Banco Esprito Santo; da APDL Admi-nistrao dos Portos do Douro e Leixes; da Fundao Eng. Antnio deAlmeida; da Cmara Municipal de Guimares; da Cmara Municipal de Mato-sinhos e do Arquivo Distrital do Porto. Tivemos ainda os apoios dos HotisFnix; do Jornal de Notcias; das Edies Asa e da Vieira de Castro.

    Equipa de Investigao do ProjectoA Emigrao do Norte de Portugal para o Brasil

    COORDENADORES Prof. Doutor Fernando de Sousa e Prof. DoutoraConceio Meireles PereiraDISTRITO DE AVEIRO Dra. Teresa Soares e Dr. Marco de AlmeidaDISTRITO DE BRAGA Dra. Crmen Morais SarmentoDISTRITO DE BRAGANA Dra. Ana Afonso e Dra. Eugnia FerreiraDISTRITO DO PORTO Dra. Maria Joo Cerqueira; Dra. Maria Jos Fer-raria; Dra. Teresa Cirne; Dr. Idorindo Rocha; Dr. Joaquim Loureiro dosSantos; Dr. Diogo Ferreira; Dr. Nuno Cardoso; Dr. Paulo Amorim; Dr.Paulo Lima; Dr. Ricardo Rocha e Dra. Slvia BragaDISTRITO DE VIANA DO CASTELO Dra. Patrcia Faria e Dra. MariaMagali CandeiasDISTRITO DE VILA REAL Dr. Silva Gonalves; Dra. Fernanda da Silvae Dr. ngelo MatosDISTRITO DE VISEU Prof. Doutora Paula Santos e Dra. Jenifer Ferreira

    Fernando de Sousa(Presidente do CEPESE)

    INTRODUO

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  • FOREWORD

    Portuguese emigration to Brazil in the contemporary age, specifically in the19th and 20th centuries, though have been the object of numerous scientificstudies, is still an open issue, compelling, for several years, a wide researchwhich, in order to obtain success, must be carried out by a great research team,aiming at results that surpass mere partial contributions achieved till themoment praiseworthy they may be, from reduced universes they try to extendtheir conclusions for the whole phenomenon of Portuguese emigration.

    Considering our direct knowledge on the historical sources concerning theemigration, both in Portugal and Brazil, the project developed by CEPESE Centre of Studies on Population, Economy and Society, named The Emigrationfrom North Portugal to Brazil, evaluated, approved and supported by FCT Foundation for the Science and Technology, of the Ministry of Science, Tech-nology and Superior Teaching of Portugal, intends to give a vital, and in a greatpart, definitive contribution to the knowledge:

    of the amounts of Portuguese migratory contingents to Brazil; of the geographical and social-demographic origins of Portuguese emi-

    grants; of the migratory rhythms enlightened by the economical evolution of both

    countries; of the amounts and ways of the emigrants coming back; of the emigration and immigration policies adopted in Portugal and

    Brazil, in the 19th and 20th centuries; of the social-demographic, economical, cultural and political impact of

    the Portuguese emigration to Brazil.

    On the one hand, we intend to push further the scientific knowledge fron-tier upon this structural subject that is deeply connected to the recent history ofBrazil and Portugal; on the other hand, to give an accurate answer to the hun-dreds of thousands of Portuguese and Brazilians who, at the moment, due topolitical, social and cultural reasons, are concerned about their roots and fam-ily origins.

    In this way, is intended to create a data basis website with the Portugueseemigrants to Brazil, registered from 1835 onwards in the passports book fromthe districts of Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Vila Real, Bragana andViseu (districts where we held inventorying teams), and complemented withother Brazilian sources namely the data basis belonging to Rio de JaneiroNational Archive which is know in a matching process as well as Portuguese

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  • ones, in which one can find the passport petitioner identification: name, birth-place, civil status, profession, destination (within Brazil, when possible), age,sex, teaching degree, and also their journey companions.

    This Project aims at a main goal which is the construction of a website,autonomous or within the CEPESE website (www.cepese.pt), which could pro-vide a data basis reporting the emigrants left from North Portugal to Brazil inthe 19th and 20th centuries, considered as a permanent and truly completesource concerning the Portuguese emigration to Brazil in the contemporaryage, phenomenon that is in the core of the cultural heritage of both nations.

    Beside these aspects, we also aspire to reach other purposes:

    to produce studies supported on theses historical sources; to deepen the cooperation between Portuguese and Brazilian researchers

    devoted to this theme through the organization of annual seminaries andjoined research.

    to carry out a critical review of historical sources, bibliography and legis-lation connected to this issues, in order to achieve a wider understandingof the cultural heritage of both countries and the Portuguese contributionto the contemporary Brazil building;

    to deepen the scientific and cultural bond between Portugal and Braziland to strengthen the scientific relationship between CEPESE and Brazil-ian universities and institutions, namely the Universidade Federal of Riode Janeiro, the Universidade Federal Fluminense, the FAPERJ State ofRio de Janeiro Foundation for Research the Rio de Janeiro NationalLibrary, the University of So Paulo, the FAPESP State of So PauloFoundation for Research the Jaime Corteso Cathedra and several oth-ers in order to deepen the CEPESE internationalization in the Portugueselanguage world;

    to contribute to the development of research skills for beginner researchersin the field of human and social sciences, by means of integration inresearch teams or advanced academic studies, whenever its possible;

    to build an indispensable consultation tool which allow the researchers todevelop their different kind of researches, as well as people in general tocollect information about their ancestors who had migrated to Brazil, in aprocess of identity and memory recovery which has become common, inthe last times, in the Western World in the North of Portugal, practicallythere are no families in which some of their ancestors had not left toBrazil;

    to revive the studies on Portuguese emigration to Brazil, under its differ-ent aspects historical, anthropological, economical and sociological inboth sides of the Atlantic, as well as analyse these emigrants coming-backimpact, by the light of this research outcomes supported by historicalsources which, till the moment, have never been submitted to global andsystematic researches.

    FOREWORD

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  • This Project, in its first stage, aims at gathering information about the emi-grants who left from the North of Portugal to Brazil, in the 19th and 20th cen-turies, seeing that the emigration phenomenon to Brazil, in that time, mainlyconcerns the Northern region of Portugal.

    In order to achieve that goal, we had invited CEPESE researchers to jointhis Project, carrying out the complete survey on the registration passportbooks. At the present time, 23 researchers are working in this project and havealready been collected 171 442 passports.

    We also like to report that that the CEPESE has established, in 2005, acooperation protocol with the FAPERJ the first one that his Foundation hasestablished with a non governmental foreign institution in order to supportcollecting Brazilian sources connected to Portuguese migration and promotingscientific activities.

    In November 2005, we organized a Seminary in Rio de Janeiro on this sub-ject under the co-ordination of Professor Ismnia Martins and ourselves, inwhich participated, besides the Portuguese team, more than 20 Brazilianresearchers from several universities, whose papers have already been pub-lished under the title Portugueses no Brasil: Migrantes em dois atos.

    In July 20006, took place the II Seminary A Emigrao do Norte de Por-tugal para o Brasil and the CEPESE is already organizing the III Seminaryon this subject, which will take place in September 2007, in So Paulo and Santos.

    In the scope of this project, two members of CEPESE are developing theirdoctorate thesis (Diogo Ferreira e Ricardo Rocha) and two others their masterthesis (Paulo Amorim and Slvia Braga).

    Lastly, we want to express our thanks to all institutions that have followedthis Project and helped to accomplish this Seminary: FAPERJ, UniversidadeLusada of Porto and Civil Government of Porto, official personages that havesupported this Project under protocol established with CEPESE. This eventalso had the support of FCT Foundation for the Science and Technology;FACC Programme Scientific Community Support Fund; Operational Pro-gramme Science and Innovation 2010; Regional Development European Fund;University of Porto; GRICES Science and Superior Teaching InternationalRelations Cabinet; Town Hall of Porto; Town Hall of Vila Nova de Gaia;Calouste Gulbenkian Foundation; Carnady International Trade; ISLA Supe-rior Institute of Languages and Administration; Esprito Santo Bank; APDL Douro and Leixes HarboursAdministration; Eng. Antnio de Almeida Foun-dation; Town Hall of Guimares; Town Hall of Matosinhos and Porto DistrictArchive. Weve also got support from Hteis Fnix; Jornal de Notcias,Edies ASA and Vieira de Castro.

    FOREWORD

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  • Research Team of the Project Emigration from North Portugal to Brazil

    CO-ORDINATORS Fernando de Sousa (Ph.D) and Conceio MeirelesPereira (Ph.D).DISTRICT OF AVEIRO Teresa Soares (M.A.) and Marco de Almeida(Graduate)DISTRICT OF BRAGA Crmen Morais Sarmento (M.A.)DISTRICT OF BRAGANA Ana Afonso (M.A) and Eugnia Ferreira(Graduate)DISTRICT OF PORTO Maria Joo Cerqueira (M.A.); Maria Jos Fer-raria (M.A.); Teresa Cirne (M.A.); Idorindo Rocha (M.A.); JoaquimLoureiro dos santos (M.A.); Diogo Ferreira (Graduate); Nuno Cardoso(Graduate); Paulo Amorim (Graduate); Paulo Lima (Graduate); RicardoRocha (Graduate) and Slvia Braga (Graduate).DISTRICT OF VIANA DO CASTELO Patrcia Faria (Graduate) e MariaMagali Candeias (Graduate).DISTRICT OF VILA REAL Silva Gonalves (M.A.); Fernanda da Silva(Graduate); ngelo Matos (Graduate).DISTRICT OF VISEU Paula santos (Ph.D) and Jenifer Ferreira (Graduate).

    Fernando de Sousa(Director of CEPESE)

    FOREWORD

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    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA:EMIGRAO E COLONIZAO

    Jos Jobson de Andrade Arruda

    1. DELIMITAO TEMTICA

    Colonizao e emigrao, expresses carregadas de alta densidade hist-rica, representam dois fenmenos essenciais compreenso do processo hist-rico vivenciado pela humanidade no sculo XIX. Geralmente, analisadas deforma estanque1, constituem, efetivamente, duas faces de um mesmo movi-mento que tem suas razes profundamente fincadas no terreno frtil da indus-trializao dos pases europeus, absolutamente coincidentes em sua fase tem-poral de mais alta intensidade, apesar de dspares em relao ao palco de suaatuao espacial. No fundo, todos os motivos elencados pelos historiadores edemgrafos no af de explicar os dois movimentos tm um substrato comum,em sua dimenso econmica (a expanso industrial e a concentrao do capi-tal); em sua perspectiva social (o crescimento demogrfico e a marginalizaosocial); em sua esfera poltica (o el nacionalista e a insurgncia revolucion-ria); no plano ideolgico (embate entre as correntes do liberalismo, tradiciona-lismo e socialismo); e, at mesmo, no nvel cientfico e cultural (tericas racis-tas e atrao do ignoto).

    Apesar de inserida num mesmo movimento de expanso europia que seiniciara no sculo XV, o fenmeno expressa, no sculo XIX, diferenas quali-tativas em relao ao perodo precedente. At as primeiras dcadas do sculoXIX a colonizao tem evidente primazia em relao emigrao. Os desloca-mentos populacionais realizados pelos pases europeus desenvolviam-se custa de enormes sacrifcios em termos de recursos humanos, num perodo emque os ndices de natalidade superavam exiguamente os de mortalidade, per-manentemente submetido ao espectro das crises peridicas de fome, fruto dosciclos climticos que assolavam as economias do antigo tipo2 e desencadea-vam as pestes endmicas. Pequenos pases, escassamente povoados e com vastos territrios a povoar, a exemplo de Portugal, corriam o risco, freqente-mente apontado pelos contemporneos, de despovoar-se em favor de seus ter-ritrios ultramarinos.

    Territrios ultramarinos. Esta a expresso chave. O esgotamento popula-cional do reino justifica-se plenamente na medida em que os espaos a seremocupados eram considerados territrio do vazio3, legitimados pelo direito deconquista e pelo fato de considerarem-se as populaes autctones cultural-

  • mente inferiores, assemelhadas aos recursos disponibilizados pela natureza,passveis, portanto, de idntica explorao: florestas, animais, especiarias,homens, diferenciavam-se apenas enquanto objetos animados e inanimados noaf espoliativo que orientou as colonizaes da poca moderna. Quando algunsdestes recursos estratgicos escassearam ou, por algum motivo, tiveram que seramplificados rapidamente, recorreu-se a massivas transmigraes continentais,caso emblemtico do trfico de escravos em direo Amrica.

    O essencial a reter que as terras do Novo Mundo, ou do continente afri-cano, assumidas como extenses transocenicas do continente europeu, deonde provinham os colonizadores, eram consideradas espaos nacionais. Por-tanto, a transferncia de amplos contingentes populacionais no representavaperdas em termos de recursos humanos, at mesmo porque a grande maioriados emigrantes no tinha a inteno inicial de instalar-se definitivamente nomundo selvagem, assumindo a aventura como experincia passageira que fin-daria no almejado enriquecimento e o conseqente retorno metrpole. Assu-midas como parasos terreais, imaginrio produzido na Europa fini-medieval,as colnias eram tidas como complementos naturais das naes colonizadas,onde a identidade dos povos europeus se firmava pela contra-prova do outro,na qual a diversidade cultural europia, frente unicidade cultural dos povosamerndios, facultou a conquista, a catequese e a posterior colonizao4, con-cepo ideologicamente firmada pela idia de superioridade civilizacional quese traduz em rtulos cravados nos territrios conquistados, chamando-se eufe-misticamente o Brasil Colnia por Amrica Portuguesa, quando todos esto aver que se trata de uma colnia de explorao, gradualmente transformada emcolnia de povoamento, mais pela ironia da histria, do que pela vontade inten-cional de seus feitores. Sob a aparncia de uma Amrica Portuguesa, subjaz aessncia inquestionvel da condio colonial.

    Os Imprios coloniais constitudos na modernidade so o fruto da expansocomercial e martima, que resulta da crise de crescimento inserida na transioda sociedade feudal capitalista. Enquadra-se, portanto, nos regramentos daeconomia ento em formao, a chamada fase da acumulao mercantil quesobreleva o papel da circulao de mercadorias em detrimento da produo,que explica o realce adquirido pela poltica mercantilista ao privilegiar oregime de exclusivo colonial. Outra a natureza dos movimentos populacio-nais do sculo XIX, sobretudo considerados a partir dos anos 1870, momentoem que o capitalismo alcana sua maturidade ao celebrar a supremacia finan-ceira em relao a todas as demais formas de acumulao, instaurando a faseque os intrpretes clssicos cognominaram por imperialismo5.

    Na primeira fase do antigo sistema colonial, a reexportao de produtosexticos, tpicos do mundo tropical, tornou-se a mola mestra das economiasmercantilistas, especialmente o acar que, ao lado da explorao de metaispreciosos, determinou o ritmo da acumulao mundial. Na ltima fase, a partirda segunda metade do sculo XVIII, especialmente no Imprio portugus,ensaia-se uma experincia inovadora: uma colnia diversificada, fornecedora

    JOS JOBSON DE ANDRADE ARRUDA

    14

  • de matrias-primas e alimentos, consumidora de produtos manufaturados, sus-tenta a instalao de fbricas na metrpole, tecendo um novo quadro de rela-es que antecipa, de certo modo, a tnica que viria a ser dominante nas rela-es entre colonizadores e colonizados na segunda metade do sculo XIX6.

    2. BASES MATERIAIS DA EXPANSO OITOCENTISTA EUROPIA

    Outra a natureza dos movimentos populacionais que se desdobraro emcolonizao e emigrao no sculo XIX, sobretudo a partir dos anos 1870,momento no qual o capitalismo alcana sua plena maturidade. Ao capitalismocomercial, havia sucedido o industrial. s barreiras criadas pelo mercantilismoimps-se o livre-cambismo, que correspondia ao chamado capitalismo concor-rencial, momento consagrador da hegemonia absoluta da Inglaterra por ser anica potncia industrializada no planeta que, portanto, ao propugnar pelolivre-cambismo, almejava, em verdade, a abertura de todos os mercados mun-diais para seus produtos industrializados.

    Entre 1780 e 1830, fbricas, mquinas, invenes, inovaes eram quaseque exclusividade da Inglaterra. Da a defesa do livre-cambismo que se tradu-zia em verdadeiro imperialismo do comrcio livre7. Dos anos 1840 em dianteo monoplio ingls comeava a ser rompido. Beneficiada por meio sculo dehegemonia absoluta nos domnios da indstria, a Inglaterra viu-se impossibili-tada de preservar este monoplio pela incapacidade de conter suas prpriascontradies internas, isto , a necessidade do setor de bens de produo emexportar suas mquinas, dada a inelasticidade do mercado interno, procedi-mento esse que resultaria, necessariamente, na instalao de fbricas em pasesque passariam a concorrer com a produo inglesa de bens de consumo, espe-cialmente txteis.

    A poltica governamental que impedia a exportao de mquinas ruiu. Inca-paz de conter a evaso de seus progressos tecnolgicos, ciosamente preserva-dos por dcadas, trataram os empresrios ingleses de assumir, eles prprios, aconduo do processo de exportao de mquinas. Isto explica, de certa forma,por que foi a Blgica o primeiro pas a industrializar-se, na Europa, depois daInglaterra, pela ao de capitalistas ingleses que cravaram na Europa sua pontade lana industrial, inaugurando a fase que ficou conhecida como a dos latecomers, isto , a dos pases de industrializao tardia8. Afluxo de capitais ingle-ses, ricas jazidas de ferro e carvo, proximidade do mercado europeu agiliza-ram o arranque industrial da Blgica que, rapidamente, se enfileirou entre ospases ditos industrializados9.

    O mesmo no se pode dizer da Frana. A experincia francesa nos dom-nios da indstria era muito anterior da Blgica. Em termos de ritmo de cres-cimento econmico, de parque industrial manufatureiro, a Frana estava atmesmo na dianteira da Inglaterra, ao findar o sculo XVIII. Os acontecimentosrelacionados com as guerras da Revoluo Francesa e do Imprio, contudo, tra-

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

    15

  • varam a industrializao do pas. De um lado, as transformaes na estruturaagrria realizadas pela Revoluo Francesa, bloquearam a expanso do mer-cado interno, promovendo a consolidao da pequena propriedade fundiriapreservando o antigo modo artesanal de produo que travou a diviso socialdo trabalho e ps a burguesia francesa na dependncia do campesinato10. Poroutro lado, o Bloqueio Continental, decretado por Napoleo contra a Inglaterra,em 1806, tornou-se uma arma contra a prpria Frana. Senhora dos mares, aInglaterra respondeu com o contrabloqueio martimo da Frana, impedindo quea matria-prima estratgica, que alimentava a crescente indstria txtil, o algo-do, chegasse s fbricas francesas, que haviam sido deslocadas do litoral emdireo regio renana para melhor atingir o mercado continental. O golpe demorte assestado pelos ingleses veio com a ocupao de Portugal depois da fugada famlia real para o Brasil, pois a grande fornecedora de matria-prima paraa indstria francesa era a colnia brasileira11.

    Nos anos 1840, portanto, a Frana no est iniciando, mas, sim, retomandoum processo de industrializao bruscamente interrompido. Difcil falar-seem arranque industrial no pas que, mais propriamente, experimentou um lentocrescimento, cuja acelerao nos anos 40 deve-se a iniciativas do poder pblicoque adotou medidas protecionistas para o setor industrial, proibindo importa-es e estimulando exportaes. De qualquer forma, a escassez de carvo, a mqualidade de ferro e a preferncia dos capitalistas pelos emprstimos pblicos,de baixo rendimento, mas seguros, ou ento emprstimos internacionais, demais alta rentabilidade, entorpeceram o crescimento industrial e atrasaram odesenvolvimento econmico, com todas as conseqncias sociais e polticasque, certamente, vieram a acarretar12.

    Enquanto a industrializao da Inglaterra teve um carter amplamente libe-ral, isto , com reduzida interveno do Estado, limitadas a aes de carterindireto, tais como organizar o sistema bancrio, a dvida pblica, a infra-estru-tura viria e porturia, expandir a marinha de guerra protetora das rotas-chavede comrcio internacional, a Frana optou por uma interveno mais direta,assumida pelo prprio governo imperial de Napoleo III. Opo esta que foitambm a dos alemes. Certos de que a interveno do Estado poderia aceleraro processo de industrializao, a chamada via prussiana, desde cedo as elitespolticas do pas entrelaaram medidas de unificao econmica, como o zoll-verein (unio aduaneira), com aes diplomticas e militares conduzidas pelaPrssia, visando unificao de todos os Estados alemes. Protecionismo esta-tal, aproximao entre a indstria e os bancos, racionalizao empresarial,invenes e inovaes, alm de recursos naturais estratgicos, tornaram ver-tiginosa a caminhada da Alemanha rumo industrializao, capacitando-a adisputar mercados tradicionalmente controlados pelos ingleses. O eixo inds-tria siderrgica-parque ferrovirio alavancou o rpido arranque industrial. Porvolta de 1880, a tradicional indstria txtil inglesa foi superada pela alem,energizada pela adoo de fibras e corantes sintticos em substituio aos similares naturais, anunciando um casamento revolucionrio entre a pesquisa

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  • cientfica, caso da qumica, e o desenvolvimento industrial puxado pelo avanotecnolgico13.

    Da mesma forma que na Alemanha, a industrializao da Itlia foi tardia eorientada pelo Estado. Somente depois da unificao, em 1870, que o impulsoindustrialista tomou conta do pas, alcanando resultados promissores em1880-189014. A indstria siderrgica concentrou-se no norte, prejudicada pelafalta de carvo, mas foi beneficiada pela produo de energia eltrica, cujas usinas foram financiadas pelos alemes. As indstrias mecnicas cresce-ram, sobretudo aquelas ligadas aos setores naval, ferrovirio, txtil e eltrico.Somente o setor txtil, porm, tinha competitividade para se defrontar comingleses e alemes no mercado externo. Um dos mais graves problemas postospela industrializao italiana foi o severo desequilbrio entre o norte e o sul dopas, configurando a perversa dualidade agrrio-industrial.

    No concerto europeu, alm da Blgica, Frana, Alemanha e Itlia, merecedestaque a tardia industrializao da Rssia, mas que atingiu uma das mais ele-vadas taxas de crescimento anual at ento registradas, em torno de 8%. Con-correram para este fato a presena de tcnicos e capitais estrangeiros, alm daindispensvel ao do Estado, que pressionou o consumo dos camponeses paraque os produtos agrcolas fossem transformados em excedentes exportveis,geradores de rendimentos que pudessem ser investidos no setor industrial. Nofinal do sculo, mais da metade dos investimentos industriais eram estrangei-ros, operando atravs de grandes conglomerados, vastos cartis controlavam asindstrias siderrgicas e mecnicas, por exemplo, onde pontificava o capitalfrancs, lder entre outros pases investidores, secundado por alemes e ingle-ses que controlavam o setor txtil, responsvel por um tero da produo daindstria nacional.

    Foi verdadeiramente impressionante o arranque industrial da Rssia nasduas ltimas dcadas do sculo XIX, coincidindo com o retorno do Estado cena econmica, pela adoo de tarifas defensivas, em 1877, que se tornaramdesabridamente protecionistas em 1880, quando assumiu a responsabilidadepela construo de ferrovias, especialmente da obra gigantesca representadapela estrada de ferro transiberiana. O capitalismo na Rssia, portanto, noestava em fase de estagnao, mas sim em pleno florescimento no ano de 1913,s vsperas do pas ingressar na Primeira Guerra Mundial, quando sua produ-o industrial era a quinta do mundo, atrs apenas dos Estados Unidos, Alema-nha, Inglaterra e Frana15.

    Fora da Europa, no sculo XIX, destacam-se as industrializaes do Japo,na sia, e dos Estados Unidos, na Amrica. Ambas tm a ver com os movi-mentos populacionais massivos que se verificaram na Europa, pois na medidaem que deixaram de ser mercados abertos para as mercadorias industrializadaseuropias e, reversamente, passaram a fornecer produtos prpria Europa,desenvolvendo uma poltica agressiva de competio via preos, acabaram porpenetrar em mercados tradicionalmente abastecidos pela indstria europia. Nocaso dos Estados Unidos, particularmente, o arranque industrial foi to vertigi-

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  • noso que criou um mercado extremamente atraente para as massas operrias ecamponesas de todo o continente europeu, gerando um dos mais intensos fluxosmigratrios j testemunhados pela histria.

    O processo de industrializao acarretou uma srie de contradies que, nolimite, seriam responsveis pela colonizao e emigraes do sculo XIX. Aacumulao industrial gerou recursos de tal ordem que, o capital acumulado,para manter a mesma taxa de lucratividade, no poderia se restringir ao mer-cado europeu, tinha que buscar novas oportunidades representadas pelos inves-timentos nos pases de industrializao mais recente, dentro ou fora do conti-nente europeu, especialmente nos empreendimentos de alto porte que exigiamo compromisso dos governos locais, a exemplo de ferrovias, iluminao a gs,abertura de canais, instalao de portos, explorao de minas, prospeco depetrleo. A concorrncia entre os pases industrializados exacerbou a batalhapor mercados, forando no sentido do rompimento das fronteiras ditas nacio-nais, apelando a agressiva busca por mercados nas colnias que trariam a van-tagem suplementar de ofertar matrias-primas requeridas pelas indstrias,sobretudo as estratgicas, tais como cobre, ferro, mangans, petrleo.

    O resultado foi a colonizao avassaladora dos territrios africanos, consi-derados disponveis, das terras banhadas pelo Oceano Pacfico em direo sia, menos para a Amrica Latina, onde a Doutrina Monroe, brandida pelosEstados Unidos, barrava qualquer pretenso dos europeus, por firmar o princ-pio extremamente benfico para os norte-americanos a Amrica para osamericanos, pois preservava os mercados existentes como reserva futura paraos detentores da estrutura industrial mais poderosa do continente. No perodoque medeia entre 1876 e 1914, a Inglaterra viu ampliados os seus territrios emmais de dez milhes de quilmetros quadrados; a Frana em nove; a Blgicaem dois; a Itlia em dois; e a Alemanha em 2,5, isto sem considerarmos o fatode que a Alemanha entrou tardiamente na corrida colonialista, somente depoisque Bismarck foi marginalizado na conduo da poltica exterior, pois o chan-celer do Imprio alemo evitara, a todo o custo, envolver-se nas aventuras colo-nialistas que pudessem abalar seu jogo de alianas conducentes ao isolamentoda Frana na Europa16.

    A face mais visvel do novo capitalismo financeiro, que representa essen-cialmente o casamento entre os interesses industriais e bancrios, sob a gidedo ltimo, o enorme potencial de acumulao, sobretudo os investimentosiniciativos de alta escala. A face menos visvel, mas exatamente aquela que temo impacto social mais desastroso, a tendncia homogeneizao do processoprodutivo em escala cada vez mais ampliada e com padres tecnolgicos progres-sivamente diferenciados17. Esta constatao tem dois desdobramentos extrema-mente importantes para o entendimento da emigrao europia: a incorporaode procedimentos tecnolgicos cada vez mais avanados significava o aumentoda produo com menor nmero de trabalhadores, reduzindo, conseqente-mente, a massa salarial paga e ampliando os lucros dos empresrios, gerandodesemprego e misria; a destruio sistemtica da tradicional produo artesa-

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  • nal e manufatureira, das formas corporativas de organizao do trabalho, cujoresultado era a migrao de trabalhadores dos setores tradicionais para osmodernos, inflando a oferta de trabalho e reduzindo ainda mais a possibilidadede elevao dos salrios. Se atentarmos para o fato de que os trabalhadores daantiga indstria, na maior parte dos pases europeus, com exceo da Ingla-terra, eram ao mesmo tempo artesos e agricultores, pode-se imaginar oimpacto desta transformao, seja pela presso que ser exercida sobre a terra,seja pelas tenses sociais inevitveis18.

    O ponto de encontro entre a riqueza e a misria gerada pela industrializa-o realiza-se na revoluo operada nos meios de transportes. As estradas deferro representaram o maior investimento industrial do sculo XIX. Em 1870,a malha ferroviria europia estendia-se por 104 mil quilmetros de trilhos, 22mil deles na Inglaterra, 20 mil na Alemanha e 18 mil na Frana. Do outro ladodo Atlntico, os Estados Unidos exibiam orgulhosos seus 93 mil quilmetrosde vias frreas. A construo dessas estradas exigiu a mobilizao dos bancose a criao de sociedade por aes, que dinamizaram ainda mais a circulaode capitais. Ampliaram a oferta de trabalho, mobilizando cerca de dois milhesde trabalhadores, por volta de 1860, alm de repercutir diretamente sobre aproduo de ferro, ao, locomotivas, vages, trilho, dormentes, estaes. Agi-lizaram o deslocamento dos operrios das zonas suburbanas ou rurais peladiminuio do custo das passagens. O transporte martimo sofreu transforma-o semelhante. A inveno do barco a vapor impulsionou as viagens tran-socenicas, aps a inveno da hlice, em 1838, transformando em peas demuseus belos clippers, movidos a vela, eles que eram capazes de cruzar oAtlntico em apenas dezessete dias, na linha Europa-Amrica. Sem o sistemaferrovirio e os novos transportes martimos, os deslocamentos massivosseriam impossveis, inviabilizando os movimentos migratrios em direo aocontinente americano.

    Um dos resultados mais impressionantes da revoluo nos transportesmartimos foi a incrvel elevao do deslocamento de carga atravs dos ocea-nos. De dois milhes de toneladas, em 1800, para 9 em 1850, 20 em 1880, e 35em 1910, quando o vapor venceu definitivamente a vela, uma vitria dohomem sobre a natureza, do planejamento racional da utilizao de combust-vel sobre o regime de ventos, cujo significado mais profundo foi a introduoda humanidade numa concepo absolutamente revolucionria de velocidadedo tempo19. Nos barcos a vapor, plenos de carga e apinhados de emigrantes,consubstanciavam-se as duas faces do capitalismo monopolista, a riqueza e amisria, sem as quais, tanto a colonizao quanto a emigrao no teriam lugarna histria. Eles simbolizavam o que de mais essencial representa a nova con-figurao do capital em sua voracidade pelo controle de todas as formas deriquezas disponveis na face da terra, isto , a diminuio do espao pela con-trao do tempo, formulao esta que somente a acuidade intuitiva de umgrande filsofo do porte de Karl Marx poderia apreender e sintetizar:

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  • Ao mesmo tempo o capital tende, por um lado... a conquistar a terra inteiracomo um mercado e, por outro, anular o espao por meio do tempo, isto , areduzir a um mnimo o tempo tomado pelo movimento de um lugar a outro20.

    3. BASES POPULACIONAIS E SOCIAIS DA EXPANSO OITO-CENTISTA EUROPIA

    A revoluo operada nas indstrias e nos transportes martimo-ferroviriosest na base da exploso demogrfica europia do sculo XIX que, por sua vez, a matria-prima essencial para os fenmenos correlatos da colonizao e daemigrao que emblematizaram historicamente o sculo. Entre 1870 e 1913, apopulao mundial passou de 1 bilho e 100 milhes para 1 bilho e 600 milhesde habitantes.

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    EUROPA 401 468 40,1 50%

    SIA 900 923 21,3 18%

    AMRICA DO NORTE 81 108 3,4 222%

    AMRICAS CENTRAL E SUL 63 82 3,4 92%

    FRICA 120 135 4 20%

    OCEANIA 6 8 300%

    MUNDO 1 571 1723 12 42%

    Figura 1: Distribuio continental da populao mundial em milhes de habitantes

    CONTINENTES 1900 1913 DENSIDADECRESCIMENTO

    (1850 a 1913)

    Fonte: PRADA, 1968: 182

  • Mesmo tendo menos da metade da populao da sia, a Europa mantm--se como centro dinmico da populao mundial, no somente porque detinha25% do estoque, mas por ter a maior densidade e se constituir no centro expor-tador de emigrantes para vrios continentes, especialmente para as regies des-povoadas da Amrica, Oceania e partes do continente africano. A populaoeuropia mais do que triplicara no perodo de 1800 a 1920 (de 144 para 486milhes); cresceu mais rapidamente do que as populaes asiticas ou africa-nas. Se levssemos em considerao a populao europia dispersa no mundo,incluindo aqueles que se instalaram na Rssia asitica, o nmero passaria de158 para 703 milhes21. O pice do crescimento populacional se d entre 1870--1880, exatamente o perodo em que tem incio o boom emigracionista.

    A Revoluo Industrial a pea-chave desse crescimento, pois estabiliza oquadro social; estimula os casamentos em mais baixa idade; gera a necessidadede mais filhos para aumentar a renda familiar. Por outro lado, a transformaoda estrutura agrria, sobretudo em pases como a Inglaterra, fixou a populaono campo, implantou o regime salarial e, por decorrncia, intensificou o ritmodo crescimento populacional. O padro alimentar incrementou-se por conta dasnovas condies impostas pela nascente sociedade de massa. Novos produtos erenovados instrumentos de trabalho, que as tecnologias emergentes em cone-xo com os avanos cientficos poderiam oferecer, foram incorporados. Aintroduo da batata inglesa teve uma importncia estratgica na supresso dafome, ao mesmo tempo em que as culturas forrageiras aumentaram considera-velmente a produo pecuria, de carne ou derivados. O mesmo se pode dizerdo trigo, milho e carne procedentes do Estados Unidos, mas tambm doCanad, Austrlia, Argentina e ndia, viabilizados pela reduo significativa docusto dos transportes, que fizeram o bushel (equivalente a 35,23 litros) de trigo,que custava 1 dlar e meio em 1871, passar a 86 centavos em 188522, rebai-xando o custo de subsistncia das populaes de mais baixa renda, ao mesmotempo em que elevava sua esperana de vida pela qualidade nutritiva dos ali-mentos importados23.

    O binmio industrializao-urbanizao, criador de ambientes insalubresna primeira fase da industrializao, foi reequacionado na segunda metade dosculo XIX, especialmente em pases de rpida e pioneira industrializaocomo a Inglaterra, onde os equipamentos urbanos melhoraram as condies dehigiene e, portanto, reduzindo o meio propcio proliferao de molstiasinfecciosas que redundavam em verdadeiras epidemias. Neste particular, oavano da cincia veio em socorro da humanidade, sobretudo dos descobri-mentos de Pasteur e seus seguidores que, com suas vacinas, tornaram possvelcombater os estragos produzidos pelos bacilos do tifo, clera e difteria, sobre-tudo no seio da populao infantil.

    A correlao entre meios, que tornavam a vida mais longa e exorcizavam amorte, pem em movimento um crescimento populacional explosivo, pois ondice de mortalidade normal torna-se, desde o comeo, notavelmente inferioraos nascimentos24. O ndice de mortalidade que era de 25 por 1000 em 1800,

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  • reduziu-se a 18,5 em 1900. Os ndices relativos s taxas de natalidade tambmregistraram descenso, mas num ritmo inferior aos da mortalidade. A baixa foimais intensa nos pases da Europa Ocidental, de industrializao mais ampla eeconomicamente mais desenvolvidos, tais como Inglaterra (de 35 a 24 nasci-mentos por 1000); Alemanha (de 37 a 26 nascimentos por 1000); e, Frana (de26 a 24 nascimentos por 1000). A reduo das taxas de natalidade evidenciadapela estatstica revela que ela inversamente proporcional ao nvel econmicoe social. De qualquer forma, a reduo tambm foi influenciada pelas prticasditas malthusianas, relacionadas com o estmulo ao birth-control, atravs dasujeio moral dos homens entre os quais se exortavam os casamentos tardios,a abstinncia sexual, nos termos do glossrio pensado por Thomas R. Malthusque, em 1897, desenvolvera sua teoria demogrfica baseada em dois princpioscruciais: a populao, no contexto da Revoluo Industrial, tenderia a crescernuma progresso geomtrica, duplicando a cada 25 anos, caso no fosse detidapor pestes, guerras, acidentes naturais; a produo de subsistncia crescerianuma progresso aritmtica, tornando a fome e a misria uma realidade futurae inexorvel.

    As teorias de Malthus pareciam corretas vis--vis aos problemas criadospelo crescimento populacional desenfreado nas dcadas finais do sculo XIX,o que explica o surgimento de associaes malthusianas que defendiam medi-das restritivas aos nascimentos como forma de combate crise econmica esocial, extremamente severa sob a Grande Depresso (1873-1896). A reaodos pases europeus proliferao das clnicas de maternidade, preconizadaspelo movimento conduzido pelo mdico ingls Drysdale, variou significativa-mente. Enquanto a Holanda no colocou obstculos legais pregao malthu-siana, Frana e Alemanha proibiram-na at a Primeira Guerra Mundial, aopasso que, na Inglaterra, a Igreja puritana aceitou a poltica de controle da nata-lidade. Se o problema era diminuir a natalidade, o foco da ao teria que recairsobre a massa operria, mobilizando, sobretudo, as associaes trabalhistas,onde, entretanto, encontrou uma forte resistncia encetada pelos socialistas,neste caso irmanados ao movimento catlico. Paradoxalmente, foi no seio dasclasses privilegiadas que as pregaes do movimento encontrou maior recepti-vidade, o que no se explica pela qualidade de suas mensagens, mas sim pelatendncia natural das camadas mdias em ascenso e das prprias elites a res-tringirem, por motivos de ordem econmica e social, os seus nascimentos25.

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  • O quadro comparativo da distribuio da populao europia entre 1880 e1913 permite-nos estabelecer uma correlao ntida entre suas tendncias maissignificativas e os deslocamentos populacionais, de colonizao ou emigrao.A estabilidade demogrfica da Frana uma exceo regra geral dos paseseuropeus ocidentais. Inglaterra, Alemanha, Holanda e Blgica tm crescimentosignificativo, mas inferior ao dos pases da Europa mediterrnica ou oriental,exatamente de onde saem as massas mais numerosas rumo emigrao. AIrlanda uma excrescncia estatstica, pois sua populao foi reduzida emcerca de 50% em virtude da intensa emigrao.

    A farta disponibilidade de homens e mulheres no razo suficiente paraentender os deslocamentos populacionais, sobretudo a emigrao. A marginali-zao do sistema produtivo gerado pela Revoluo Industrial a pedra detoque. Para aqueles que possuam um emprego nas fbricas, por piores que fossem as condies de trabalho, por mais baixos que fossem os salrios, osdesafios intrnsecos a uma aventura transocenica eram amedrontadores. Oproblema eram os deserdados do trabalho, desempregados ou subempregados,fossem eles originrios das formas artesanais pregressas da atividade industrial,

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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    GR-BRETANHA 29,8 37 40,9 163

    FRANA 37,7 39 39,2 73

    ALEMANHA1 45,1 56,4 66 103

    USTRIA-HUNGRIA 39,2 47 51,3 87

    RSSIA2 75,1 112 122 20

    ESPANHA 17,8 18,6 19,6 37

    HOLANDA 4 5 5,8 170

    BLGICA 5,4 6,7 7,5 227

    SUCIA 4,5 5,1 5,5 11

    DINAMARCA 2 2,5 2,9 64

    NORUEGA 1,9 2,2 2,5 7

    PORTUGAL 4,2 5,4 5,9 59

    SUA 2,8 3,3 3,9 89

    IRLANDA 5,1 4,5 4,3 53

    GRCIA 1,6 2,5 4,8 38

    ROMNIA 4,4 5,9 15,7 15

    BULGRIA 3,7 4,8 54

    Figura 2: Distribuio da populao europeia por pas em milhes de habitantes

    PASES 1880 1900 1913DENSIDADE

    EM 1900

    1 Inclui 1,8 milhes de habitantes da Alscia-Lorena anexada em 1871.2 Somente a Rssia europia, excluindo: Polnia, 13; Finlndia, 3; sia caucsica, 12; Sibria, 9,5; sia central, 10,5;

    totalizando 170 milhes de habitantes. Fonte: PRADA, 1968: 182

  • ou da velha indstria articulada atividade agrcola. O xodo rural foi avassa-lador na segunda metade do sculo XIX. Em 1850, a Inglaterra tinha 50% desua populao na zona rural; em 1870, 35%; e, em 1912, apenas 20%. Na Ale-manha, nas mesmas datas, passaram de 65% para 60% e, finalmente, 33%. Atmesmo a Frana, cujo desenvolvimento industrial fora arrastado, apenas 55,8%viviam no campo em 1913, eles que somavam 68,9% em 1870 e 74,55% em1850. O espelho reflexo deste xodo rural o notvel crescimento das cidades.Somente 44 cidades reuniam mais de 100 mil habitantes em 1850; em 1913, jeram 180. Entre as que ultrapassavam um milho de habitantes, Londres, Paris,Moscou e Berlim, reuniam vrios milhes. Em 1913, viviam nas cidades 36%da populao inglesa, 21% da alem, 18% da belga e 15% da francesa.

    A questo da terra central na compreenso deste fenmeno social. Muitosque se deslocavam do campo para a cidade no o fizeram atrados pela riqueza,mas sim pela necessidade ingente de escapar da misria absoluta. Grandes pro-prietrios preservaram a terra como reserva de valor, de poder poltico e pres-tgio social, mesmo que a mantivessem inculta. Nos casos em que ainda se con-servaram como pequenos proprietrios, viam-se abatidos pelas ms colheitasou pela concorrncia dos cereais importados, cujos preos no cessavam de

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    GR-BRETANHA 50% 35% 20%

    BLGICA 25%

    ALEMANHA 65% 60% 33%

    FRANA 74,5% 68,9% 55,8%

    RSSIA 86%

    Figura 3: Representao percentual da concentrao rural da populao europeia

    PASES 1850 1870 1913

    Fonte: PRADA, 1986: 190

  • cair. Por isso, a dimenso terra tem dois significados: sua escassez, ou inviabi-lidade econmica, gera a repulso, a necessidade de sair; ao mesmo tempo, dis-para o desejo pela terra farta e frtil nos territrios de arribao. Nestes termos,a emigrao do sculo XIX foi, essencialmente, a transferncia de camponesese trabalhadores rurais de regies onde a terra era escassa e o trabalho abundantepara lugares carentes de trabalho em terras inesgotveis. Apesar de a maioriados imigrantes identificarem-se como de origem urbana nas listagens dos pasesreceptores, quase certo que procediam do campo, h mais ou menos tempo.De qualquer forma, se o velho mundo os excluiu, se o novo mundo os incluiu, certo que a imensa maioria partiu movida pela esperana de um futuro melhor.

    4. BASES POLTICAS E CULTURAIS DA EXPANSO OITOCEN-TISTA EUROPEIA

    Se as razes econmicas, sociais e populacionais foram preponderantes na explicao dos movimentos de colonizao e imigrao, no sculo XIX, asmotivaes poltico-culturais no foram menos significativas. Seja pelo desen-cantamento com os rumos da trajetria poltica dos pases europeus, seja pelaexcluso arbitrria imposta por regimes intransigentes, seja pela assunoconsciente de princpios polticos e ideolgicos contrapostos aos dominantes,seja pelo sonho utpico da construo de um modelo ideal de sociedade pol-tica, muitos foram os que se expatriaram, engrossando as ondas de migrantesdos novos tempos.

    Se as emigraes espontneas da poca moderna resultaram, em larga medida,no casamento entre Estado e Igreja, da identificao entre unidade poltica eunidade religiosa consagrada na frmula cada prncipe com sua religio, quefazia da perseguio religiosa uma poltica de Estado, no sculo XIX a energiamotriz urdia-se na onda revolucionria que se arremeteu sobre as monarquiasabsolutistas, inaugurada com a Revoluo Francesa, de 1789, e finalizada coma Comuna de Paris, de 1871. Este foi o perodo glorioso das revolues bur-guesas que se abre com a emigrao dos nobres franceses e se fecha com amigrao forada dos operrios parisienses aps o fracasso da Comuna. Nointervalo, entre esses dois extremos, os picos revolucionrios no deixaram deabalar os alicerces do poder aristocrtico reconsolidado pela restaurao euro-pia, conduzida pelo Congresso de Viena26.

    A Revoluo de 1830, na Frana, viu renascer as barricadas em Paris erepercutiu sobre toda a Europa. A Blgica, com apoio da Inglaterra, libertou-seda dominao holandesa. Na Polnia, uma revolta de cunho nacionalista foiabafada pelos russos. Movimentos de carter liberal e nacionalista explodiramna Alemanha, Espanha e Portugal.

    Abafada em 1830, a vaga revolucionria ressurge com fora ampliada em1848. Voltam a ser brandidos os princpios do liberalismo (contrrio aos regi-mes absolutistas) e do nacionalismo (que buscava unificar os povos de mesmo

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  • origem e cultura), agora reforados pelo socialismo, iderio novo, que fizera suaestria em 1830, e que preconizava reformas mais radicais em prol das massasdespossudas. A crise econmica que se abateu sobre a Europa entre 1846 e1848 agravou a condio das classes inferiores. Pssimas colheitas, paralisaodo desenvolvimento industrial, escassez de recursos financeiros fizeram cres-cer o descontentamento de camponeses e proletrios, que passaram a exigirmelhores condies de vida e reformulao na poltica e distribuio dos recur-sos pblicos.

    Como j era tradio, a revoluo irrompeu na Frana. Os comcios em prolde reformas eleitorais foram proibidos. Manifestantes enfrentaram as tropasleais ao governo, resultando em grande nmero de mortos. As barricadas, denovo, tomaram conta de Paris e a II Repblica foi proclamada na Frana. Asmedidas do novo governo no foram, contudo, suficientes para deter a crise. AsOficinas Nacionais, financiadas com a elevao dos impostos, destinadas aofertar emprego aos trabalhadores, amplificou a crise financeira do Estado. Denovo nas barricadas, o povo insurreto tentou fazer uma revoluo dentro darevoluo. A violenta reao do governo culminou com 16 mil revoltosos mortos e o exlio forado de outros quatro mil. A reao burguesa no se fezesperar e o governo foi entregue a Lus Napoleo, que proclamou o II Imprioda Frana.

    Mais uma vez o exemplo francs incendiava a Europa. Na Itlia, a crticamovida pelas sociedades secretas, especialmente a Carbonria, atingia os Esta-dos italianos dominados por governos absolutistas. A defesa de princpios libe-rais era agora reforada pelo nacionalismo, cujo foco central passou a ser a lutapela unificao do pas. Uma constituio foi imposta ao Reino das Duas Sic-lias; a luta contra os austracos teve incio na Lombardia; revoltas explodiramna Toscana e no Estado papal.

    O mesmo binmio liberalismo/nacionalismo provocou fortes manifesta-es na Alemanha, quando levantes populares obrigaram o rei da Prssia a pro-meter uma constituio, que somente no foi avante pela dissenso entre osprprios revoltosos. No imprio austraco, formado por uma ampla coalizo denacionalidades sob a casa dos Habsburgos alemes, hngaros, tchecos, eslo-vacos, poloneses, rutenos, romenos, srvios, croatas, eslovenos, italianos , osinsurretos provocaram a queda do ministro Metternich, em Viena. Poloneses serebelaram, liderados por Palacky, e, aps terem convocado uma reunio dospovos eslavos em Praga, foram vencidos pela reao violenta dos exrcitos doregime absoluto, implantando-se uma feroz perseguio poltica no Imprio.

    Industrializao e urbanizao acelerada criaram o ambiente propcio fer-mentao das idias revolucionrias que voltaram a agitar a Frana, em 1871,na ecloso da Comuna de Paris. A disseminao das idias socialistas tornoumais cidas as crticas dirigidas pelos insurgentes ao stablishment detentor dopoder. Manifestos e associaes internacionais de trabalhadores alimentaram,com idias e aes, o movimento. A falsa sensao de segurana, adquiridapelas classes dominantes, aps o desfecho favorvel da Revoluo de 1848,

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  • que literalmente havia enterrado o movimento revolucionrio de cunho maisradical, f-la descansar sobre os louros da vitria, desmobilizando-a em relao necessidade de enfrentar objetivamente as reivindicaes das classes subal-ternas, especialmente dos operrios industriais.

    A frgil estabilidade poltica foi rompida com o vexame do exrcito fran-cs perante os alemes na batalha de Sedan, quando o Imprio foi humilhadopela superioridade militar dos alemes na guerra Franco-Prussiana, culminandona proclamao do Imprio alemo na sala dos espelhos do Palcio de Versa-lhes. Um governo de defesa nacional instalou-se em Paris, e a recusa de Napo-leo III em aceitar a oferta de Bismarck no sentido de que ele liderasse suas tropas ainda intactas contra os revolucionrios, decretou o fim de sua trajetriapoltica, de seu Imprio, de sua dinastia. Proclamada a III Repblica, sob a lide-rana de Thiers, fez-se a paz com os alemes, pagando-se pesada indeniza-o de guerra, em ouro, marcos, moedas estrangeiras e, sobretudo, pela entrega dos territrios da Alscia e da Lorena, ricas em jazidas de ferro. Era demais. Asmassas, movidas por um ardor patritico, instalaram a Comuna, isto , umaAssemblia detentora de todo o poder em Paris, reeditando a experincia de1792-1793. O Conselho Geral da Comuna organizou-se em Comits, lideradospor um Comit Central, constitudo por jornalistas, artesos, comerciantes,lojistas, operrios, cujos atos resultaram na separao entre Igreja e Estado, naadoo de um calendrio revolucionrio, na laicizao das escolas pblicas, naproclamao da luta de classes como vrtice mobilizado e no assumir da ban-deira vermelha como smbolo do sentido socialista que impregnava a revoluo.

    A guerra entre o governo republicano instalado em Versalhes e as foras daComuna sediadas em Paria tornou-se violenta. Mais de 500 barricadas foramerguidas na cidade. A Comuna reuniu um exrcito de 160 mil homens, dosquais apenas 30 mil combatiam de forma organizada. As foras republicanassomavam 130 mil homens, mais de 100 mil deles soldados feitos prisioneirospelos alemes, em seguida liberados por Bismarck, interessado em conter anova onda revolucionria que, bem sabia, poderia novamente contaminar aAlemanha. Atrocidades foram cometidas de ambos os lados. invaso de Parispelas foras republicanas seguiu-se a Semana Sangrenta, entre 21 e 28 demaio de 1871. Paris foi incendiada pelas foras da Comuna para tentar contero avano das tropas inimigas; fuzilamentos sumrios foram executados. Osaldo do conflito d bem uma idia da violncia poltica nesse perodo e comoo desejo de segurana e paz poderia facilmente nascer nos coraes doshomens. Calcula-se que foram mortas entre 17 e 25 mil pessoas; que foramexecutados entre 17 e 38 mil insurretos; que 45 mil foram processados; que 13mil foram condenados. A cidade perdeu grande parte de seus artistas, morrerammetade dos pintores e dos profissionais mecnicos. A tradio insurgente deParis foi literalmente soterrada.

    Enquanto o iderio socialista era derrotado na Frana, na Alemanha e naItlia, o nacionalismo vitorioso conseguia a unificao de dois dos pases maisimportantes na exportao de homens e mulheres no sculo XIX, pois tais pro-

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  • cessos no se fizeram sem o concurso de guerras devastadoras que produziramvencidos e vencedores. Na Alemanha, as guerras contra a Dinamarca, contra austria e contra a Frana, etapas sucessivas delineadas pela estratgia de Bis-marck, destinadas a motivar os alemes a se unirem contra inimigos externos,se, por um lado, incendiavam o patriotismo nacional; por outro, barravam apenetrao do iderio socialista propagado pelas internacionais dos trabalha-dores. Na Itlia, o procedimento foi semelhante. Cavour buscou o apoio deNapoleo III contra a ustria para libertar os territrios italianos sob seu con-trole; estimulou Garibaldi a desembarcar na Siclia; voltou-se contra os Estadospapais, invadindo seu territrio; aliou-se Prssia contra a ustria, obtendo aanexao de Veneza; e, aproveitando-se da guerra Franco-Prussiana, terminoupor anexar os territrios papais, completando a unificao da Itlia.

    Revolues e guerras tm, indubitavelmente, um enorme poder de desesta-bilizao das sociedades. As perseguies polticas armaram o brao da lei; aelevao dos impostos para financiar os exrcitos reduziu as rendas; o serviomilitar obrigatrio tornou-se abusivo, trs anos na Alemanha e ustria, cincona Frana, sete na Rssia, entre seis e sete em Portugal27. Tudo isto somado smazelas criadas pela industrializao e urbanizao fertilizaram o ambiente,tornando-o propcio germinao das ideologias que, no plano cultural, ativaramainda mais o el emigrantista. A impossibilidade de implementar nos paseseuropeus a receita dos socialistas utpicos, ou seja, atingir a igualdade socialpelo controle de todo o aparato econmico pelo Estado, como preconizavaLouis Blanc em seu livro A organizao do trabalho, estimulava nos desiludi-dos imaginar a possibilidade de realiz-la fora da Europa, nos pases abertos imigrao.

    Toda uma gama de opes socialistas contribuiu para adensar este caldo decultura poltica: assistencialistas, associativistas, mutualistas, revolucionrios eanarquistas. Nenhuma dessas variveis, contudo, teve a fora do socialismocientfico nascido nas reflexes de Karl Marx e Frienderich Engels, condensa-das no Manifesto Comunista, de 1848, e detalhadas no clssico de Marx, OCapital. A esto consagrados os princpios fundamentais da anlise histricada sociedade humana, baseadas na primazia da luta de classes. Preconizava otriunfo do proletariado e a emergncia de uma sociedade sem classes, que seatingiria pela unio do proletariado. Para executar essa tarefa organizou-se, em1864, em Paris, a I Internacional dos Trabalhadores, que deveria congregar osesforos de todos os partidos socialistas do mundo em prol da tomada do poderpelo proletariado. De fato, como vimos, a fermentao das idias socialistasteve um papel importante nos movimentos revolucionrios de 1848 e, sobre-tudo, na Comuna de 1871. Por outro lado, ps em estado de alerta as classesdominantes em toda a Europa, pronta a exilar pela fora todos aqueles que con-siderasse contaminados pelo iderio que preconizava o fim de sua hegemoniaeconmica, social e poltica.

    A literatura e as artes plsticas jogaram um papel no menos importanteneste el cultural que induzia emigrao28. Os relatos de viagens, reais ou fic-

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  • tcios, produzidos pelos grandes escritores, estimulavam o gosto pela aventura,pelo desejo de conhecer povos e culturas diferentes. As viagens dos explora-dores, financiadas pelas sociedades geogrficas, que percorriam caminhosjamais trilhados pelo homem branco, eram publicadas com grande xito naEuropa. Os folhetins e novelas tinham grande aceitao popular, sobretudoquando falavam da superioridade do homem branco no contato com a naturezaindmita e povos considerados de cultura primitiva, em meio aos quais, aexemplo de Tarzan, poderiam instalar o reinado de seres superiores, brancos,em meio ao caos e selvageria do mundo negro.

    O ideal cruzadista e missionrio, latente desde os tempos do velho colo-nialismo, renascia no embate entre as numerosas correntes religiosas emergen-tes no sculo XIX. A idia de misso civilizadora contemplava as teorias racis-tas de Chamberlain e Gobineau. Atendia aos pressupostos da superioridade dasespcies alardeada pelo darwinismo social. Aparecia de forma explcita na jus-tificativa para a colonizao da frica, da ocupao de pontos estratgicos nasia, da instalao de imigrantes na Amrica do Norte, ou de colnias depovoamento na Amrica do Sul. Dentro da prpria Europa, argumentos civili-zacionais eram mobilizados pelo Czar Nicolau II para estimular o desloca-mento de russos para as franjas asiticas do Imprio, a chamada misso orien-tal. Fome, ambio, glria, motivaes de toda natureza ativaram os circuitosmentais dos europeus, um imaginrio do qual no se apagara a viso de umparaso terreal, que tanta importncia tivera na primeira grande colonizaorealizada pelos europeus nas terras do novo mundo. Um den depurado, poisperdera a sacralidade que a progressiva racionalizao e laicizao do mundorealizara, mas que permanecera no substrato cultural, uma longa durao queempurrava homens e mulheres a enfrentar o desafio do ignoto.

    5. O MOVIMENTO DA EMIGRAO EUROPEIA OITOCENTISTA

    Cerca de 40 milhes de europeus migraram entre 1850 e 1920. Se a datalimite fosse 1930, o nmero se elevaria para 50 milhes. Somente nas trs lti-mas dcadas do sculo saram 20 milhes, que correspondiam a 40% do cres-cimento anual da populao europia nesse perodo. O pico foi atingido entre1909 e 1914, quando o fluxo alcanou um milho e meio de emigrantes. O queexplicaria esses ciclos? Razes endgenas (europias) ou exgenas (dos pasesreceptores)? Nos Estados Unidos, um embate mobilizou a comunidade cient-fica em torno do problema. Para alguns autores, havia uma ntida correlaoentre o desenvolvimento econmico do pas e a intensificao do fluxo migra-trio, reforando a tese da atrao como elemento propulsor do deslocamentopopulacional. Para outros, o clico se explica pelas condies econmicas dospases de origem dos emigrados, sobrelevando o papel da repulso social29. Nofundo, atrao e repulso se completam, sendo o peso relativo de cada umadeterminado pelo momento histrico atravessado pelas economias transoceni-

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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  • cas envolvidas, no havendo dvidas, porm, sobre o fato de que a emigraofoi a vlvula de escape para o intenso crescimento demogrfico.

    A primeira grande vaga da emigrao europia estende-se, grosso modo,entre os anos 1815-1850. Predominam, nesse perodo, os emigrantes proce-dentes da Gr-Bretanha, entre os quais se contam ingleses, propriamente ditos,alm de escoceses, gauleses e irlandeses, atingindo a cifra de 2 370 000, dentreos quais os irlandeses contavam 1 830 000. Somente no perodo crtico de 1845a 1855, quando a crise da fome da batata matou 1 milho de pessoas, emigra-ram 1 841 000 irlandeses. O ano de 1851 foi excepcional, pois saram 250 milpessoas fugindo da fome que se abatera sobre a Irlanda, o que explica o cres-cimento negativo da populao do pas no final do sculo. Os Estados Unidoseram o destino preferido da grande maioria dos emigrantes de procedncia bri-tnica.

    De 1850 em diante, at 1880, os britnicos, que representavam 80% do con-tingente migratrio, reduzem-se a 55%, entrando em cena a emigrao alem e escandinava. O fluxo de emigrantes alemes foi interrompido no incio dosculo XIX pelas guerras napolenicas, mas foi reativado depois de 1815, coma Restaurao e as perseguies polticas instauradas, e tambm pelas pssimascolheitas auferidas. Entre 1841-1845, saram 54 mil emigrantes da Alemanha;no qinqnio seguinte, foram 403 100. No perodo convulsionado pelas guer-ras da unificao, o fluxo voltou a crescer, atingindo 530 200 emigrantes. O picofoi alcanado entre 1881-1885, quando saram 857 300 pessoas, declinandogradativamente, desde ento, at estabilizar-se em torno de 150 mil por ano.

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    1847-1850 145 300 129400 89,1% 9600 6,6% 1100 0,8% 4800 3,3%

    1851-1855 403 100 322400 80% 16400 4,1% 8100 2% 11700 2,9%

    1856-1860 268 500 227300 84,7% 10200 3,8% 9900 3,7% 7000 2,6%

    1861-1865 249 400 28400 83,6% 10800 4,3% 3900 1,6% 7000 2,9%

    1866-1870 530 200 474200 89,4% 14800 2,8% 9600 1,8% 2200 0,4%

    1871-1875 394 700 365100 92,5% 900 ,2% 11600 2,9% 700 0,2% 5200 1,3%

    1876-1880 228 100 195300 85,6% 400 0,2% 9300 4,1% 800 0,4% 4700 2,1%

    1881-1885 857 300 797000 93% 2700 0,3% 7900 0,9% 3000 0,3% 5400 0,6%

    1886-1890 485 200 440100 90,7% 1200 0,2% 10900 2,2% 5300 1,1% 2500 0,5%

    1891-1895 402 600 371500 92,3% 11300 2,8% 8400 2,1% 3600 0,9% 1500 0,4%

    1896-1900 127 200 107400 84,4% 1700 1,3% 4000 3,1% 2800 2,2% 1000 0,8%

    1901-1905 146 600 134900 92% 1200 0,8% 2600 1,8% 1800 1,2% 800 0,5%

    1906-1910 133 100 120300 90,4% 2000 1,5% 1400 1,1% 2800 2,1% 700 0,5%

    1911-1914 78 800 61300 77,8% 3300 4,2% 800 1% 3600 4,6% 1200 1,5%

    Figura 4: Destino da emigrao alem via Hamburgo e Bremen representao absoluta e percentual (1847-1914)

    ANOS TOTAL EUA CANAD BRASIL ARGENTINA AUSTRLIA

    Fonte: MNCKMEIER, 1912: 192

  • Os nmeros so sempre impressionistas. No podem ser tomados em seucarter absoluto, sobretudo os referentes emigrao alem, pois ela inclui eexclui pessoas de modo aleatrio. Dada a especial configurao poltico-admi-nistrativa anterior unificao; dada a existncia de um Imprio Austro-Hn-garo, que congregava uma grande variedade de povos com lngua oficial alem,a tabela em apreo poderia ser dilatada ou restringida, pois muitos que se iden-tificavam como alemes no eram, e outros, como os austracos, que poderiams-lo, foram contabilizados noutra estatstica. De qualquer forma, no menosdo que cinco milhes de alemes emigraram entre 1815 e 1914, um nmeroexpressivo perante os 60 milhes que saram de toda a Europa. Disseminando--se por vrios continentes, da Austrlia Oceania, concentraram-se preferen-cialmente na Amrica, sobretudo nos Estados Unidos, que receberam 90% dosemigrados, isto , um significativo contingente de 4,5 milhes de pessoas.

    Apesar da reduzida escala do crescimento populacional da Frana no sculoXIX, o nmero de emigrantes intensificou-se a partir de 1870. At o ano de1910, abandonaram a Frana 800 000 pessoas, com destinos preferenciais paraa Amrica do Norte, Estados Unidos e Canad, alm da Argentina. Muitosforam para a Arglia e outros domnios pertencentes ao imprio colonial fran-cs. Diferentemente das demais emigraes, em geral os franceses que partiameram pequenos empresrios, gerentes, comerciantes e profissionais liberais,que dava sua emigrao um perfil social especfico.

    A segunda onda comea em 1880 e se estende at 1914, sendo denominadaa nova emigrao por traduzir o recuo da vitalidade demogrfica da EuropaOcidental. Corresponde, em parte, Grande Depresso que se abatera sobre aEuropa a partir de 1873, mas que teve continuidade mesmo depois que o ciclodepressivo se interrompeu, em 1896. Vinte milhes de europeus deixaram ocontinente, num ritmo alucinante que superava a casa de um milho, no ano de1900, e dois milhes, em 1913. Se de um lado do Atlntico a depresso econ-mica na Europa reduzia o passo do crescimento e da oferta de empregos; dooutro lado, o vigoroso crescimento industrial nos Estados Unidos no poderiaser sustentado sem o concurso do brao imigrante, mo-de-obra graciosa, porcujo custo de formao no tivera que pagar. Latinos e eslavos formam ogrande contingente dos novos emigrantes, cerca de 80% do total, dentre osquais se destacavam italianos, espanhis, portugueses, russos, polacos, rome-nos, armnios, austro-hngaros, reduzindo-se a presena dos anglo-saxes,majoritrios no perodo anterior, a meros 20% do total; assim mesmo, so prin-cipalmente irlandeses, pois os ingleses foram direcionados pelo Estado brit-nico para os domnios ultramarinos.

    Os Imprios da Europa centro-oriental incluram-se nos fluxos migratriosde forma mais intensa nesta segunda vaga emigrantista. Insignificantes na pri-meira metade do sculo XIX, em 1876-1880 j ascendiam a 59 mil emigrantesprocedentes da ustria e da Hungria, alcanando, respectivamente, a casa dos2,3 milhes e dois milhes no perodo de 1975-1914, dentre os quais havia,necessariamente, um grande nmero de eslavos. O destino preferencial, seme-

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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  • lhana dos alemes, eram os Estados Unidos, que receberam 90% da massa deemigrados. Tanto em relao ao ritmo quanto aos nmeros e ao destino, a emi-grao procedente do Imprio russo assemelha-se do seu co-irmo. Uma dife-rena importante era a emigrao orientada pelo Estado russo para os territ-rios asiticos do Imprio, o que significa, em ltimo caso, uma forma de migra-o intranacional. Isto no significa que a emigrao transocenica fosse des-prezvel. Entre 1828 e 1859, o fluxo cresceu moderadamente; progrediu rapi-damente entre 1860 e 1899; e, deu um salto significativo aps 1890. No con-junto, entre 1828 e 1915, emigraram 4 500 000 de cidados russos de diferen-tes raas e etnias. A grande maioria era constituda por judeus, seguindo-se ospoloneses, os prprios russos e os finlandeses. A distribuio percentual dosdestinos preferidos indica 71,9% para os Estados Unidos, 4% para o Canad e3,7% para Argentina e Brasil.

    Coube aos povos latinos a parcela maior dos emigrantes no ltimo tero dosculo XIX: espanhis, portugueses e, sobretudo, italianos. O fracasso da indus-trializao na Espanha foi um dos motivos que estimularam fortemente a emi-grao. Sem opo de emprego no setor urbano-industrial, a grande maioria dapopulao submetia-se aos ciclos agrcolas que, muitas vezes, se transforma-vam em epidemias de fome e peste. Para aliviar a tenso social e diminuir aprpria responsabilidade do Estado, os governos espanhis assumiram a lide-rana do processo, seja transferindo condenados a penas prisionais rumo scolnias, Cuba e Porto Rico, ou para outras regies da Amrica espanhola, taiscomo Mxico, Equador ou Venezuela; ou, ento, disciplinando o fluxo migra-trio para regies previamente selecionadas, caso do Brasil, beneficiado pelaordem real de 1865, que transformava o Imprio brasileiro em destino priorit-rio. No obstante, a atrao exercida pelos Estados Unidos, aliada pressopopulacional interna na Espanha, levou ao estabelecimento de uma poltica deportas abertas, beneficiando as regies com maior potencial de emigrantes,especialmente Andaluzia, Galcia, Catalunha e Canrias. Entre 1906 e 1910,emigraram 318 000 espanhis. No longo perodo que vai de 1820 a 1920, oBrasil recebeu 510 515 imigrantes espanhis, o que representa o terceiro con-tingente populacional, atrs apenas de italianos e portugueses.

    Entre os latinos, os portugueses ocupam o segundo lugar na ordem das emi-graes. A vocao para se deslocar atravs do mundo uma das grifes doscidados portugueses firmada num longo percurso histrico30. No sculo XIX,mesmo com taxas modestas de crescimento demogrfico pois o pas passoude 4,2 milhes de habitantes, em 1880, para 5,4 milhes em 1900, e 5,9 em1913 , foi enorme a presso para que os cidados partissem em direo aoutros destinos. No tendo participado do processo de industrializao genera-lizado que percorreu a Europa, assim como a Espanha, a estrutura produtivatornou-se incapaz de absorver os contingentes de assalariados potenciais liber-tos das atividades agrcolas e de subsistncia31, resultando em massa numerosaque no encontrava trabalho nem na indstria, nem no campo. Sem os meiosbsicos de subsistncia, emigravam indivduos ou famlias inteiras. Motivaes

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  • polticas somavam-se s econmicas insuflando o xodo. Perseguies polti-cas, falta de liberdade de expresso e, sobretudo, a obrigatoriedade do serviomilitar por longos seis a sete anos, que estimulava as famlias a preferireminvestir na compra de uma passagem que levasse seus filhos para a seguranano estrangeiro, com a vantagem suplementar do retorno monetrio represen-tado pelas remessas de seus parentes emigrados.

    Tendo hesitado entre estimular e restringir o fluxo emigratrio, o Estadoadotou uma poltica conciliatria, em que uma parte do contingente populacio-nal foi dirigida para as colnias africanas, a fim de manter o aparato adminis-trativo e militar que a dominao exigia; e a outra se permitiu emigrar, apesardas proibies, pois a remessa de divisas tornou-se fundamental para preservaro equilbrio da balana de pagamentos e a sade financeira do Estado. Nestestermos, a emigrao, que era fruto do subdesenvolvimento do capitalismo por-tugus, transformou-se em elemento essencial preservao do status quo32.

    Os nmeros relativos emigrao portuguesa somente se tornam confi-veis a partir de 1855, como se pode depreender da anlise do grfico e da tabelaabaixo disponibilizados.

    Constata-se pelos dados em tela que a emigrao portuguesa arranca a partir de 1865, atingindo seu clmax no qinqnio 1901-1911, quando as sadas registradas oficialmente somaram 385 928 emigrantes que, somados sestimativas daqueles sados clandestinamente, elevam-se a 439 046 indivduos.Foi somente nas dcadas finais do sculo XIX que a emigrao portuguesaalcanou o ndice dos pases considerados de emigrao macia, isto , a taxamdia de quatro emigrantes por cada mil habitantes. O volume total das sadasem todo o perodo atingiu dois milhes de pessoas, com uma mdia anual em torno de 25 mil, evidenciando-se que, para cada 100 sadas, nove se faziam clandestinamente. Nos anos mais agudos da emigrao portuguesa 271 mil indivduos deixaram o pas, entre 1911 e 1915, dos quais 90% se diri-

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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    1855-1864 77 049 80 901

    1865-1878 148 248 155 661

    1879-1890 215 502 247 903

    1891-1900 268 326 307 903

    1901-1911 385 928 439 046

    1912-1920 366 114 391 743

    1921-1930 324 752 347 486

    1931-1940 109 252

    Figura 5: Emigrao portuguesa oficial e estimada entre 1855 e 1940

    PERODOS SADAS LEGAIS ESTIMATIVASCOM CLANDESTINOS

    Fonte: BAGANHA, 2001: 449-450

  • giram para a Amrica, principalmente para o Brasil, que recebeu 1 160 000 por-tugueses entre 1857 e 1924.

    A Itlia colocou-se na liderana dos pases exportadores de homens emulheres no sculo XIX. At o qinqnio 1881-1885, o fluxo migratrio diri-gia-se majoritariamente para os prprios pases europeus, especialmente para aFrana. A partir do qinqnio seguinte, o alm-mar seu principal destino,sem que o fluxo para os pases europeus tenha perdido importncia, como seconstata na Figura 6:

    A massa dos emigrantes procedia, sobretudo, das regies mais sofridas, emvisvel situao de desagregao social, do Veneto e Fruili na fase inicial e dosul aps a Primeira Guerra Mundial. A elevada presso demogrfica contras-tava com a reduzida disponibilidade de empregos, que se traduzia em salrios

    JOS JOBSON DE ANDRADE ARRUDA

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    1871-1875 479 885 125 505 631 975

    1876-1880 411 005 132 975 543 980

    1881-1885 475 730 294 975 770 705

    1886-1890 453 470 655 025 1 108 495

    1891-1895 545 335 737 215 1 282 550

    1896-1900 742 665 809 505 1 552 170

    1901-1905 1 224 040 1 546 210 2 770 250

    1906-1910 1 287 970 1 968 470 3 256 440

    1911-1912 1 448 010 1 665 215 3 113 225

    1913 1 565 160 2 797 830 4 362 990

    Figura 6: Mdias quinquenais das emigraes italianas para a Europa e pases ultramarinos

    QUINQUNIOS EUROPA ALM-MAR TOTAL

    Fonte: Emigrao Italiana. A emigrao como fenmeno social. Disponvel em: http://www.lagosnet.com.br/italia/verpor/index2.htm (1 de Setembro de 2004)

  • aviltantes. Sem polticas governamentais que pudessem minorar a gravidade dasituao, as massas tomaram espontaneamente o caminho da emigrao, pro-cedimento esse que no desagradava de todo ao governo, pois de um lado,diminua as tenses sociais no campo e na cidade; por outro, equilibrava abalana de pagamentos pelas remessas monetrias vindas do exterior. Se a vl-vula de escape funcionou bem durante um certo perodo, o resultado final foinefasto, pois vastas reas do pas nas partes meridionais tornaram-se despo-voadas, afastando ainda mais a possibilidade de integrao dessas regies poro norte do pas, dinamizada pela industrializao. Conjunturas especficascontriburam para agravar ainda mais a situao, como a crise decenal de 1882--1892, que atingiu duramente as regies agrcolas produtoras de vinho e seda.Isto explica, de certa forma, a excepcional sada de emigrantes no ano de 1888,as cifras alcanaram 204 264 pessoas.

    A emigrao italiana para os pases de alm-mar continuou a crescer nasltimas dcadas do sculo. Entre 1876 e 1880 saram 133 000 pessoas, mdiade 26 596 por ano; de 1886 a 1890, foram 655 000, com mdia de 131 005 porano; no qinqnio 1896-1900, somam 810 000, mdia de 161 901; e, o cumeda pirmide entre 1906-1910, quando saram 1 970 000 pessoas, correspon-dendo mdia anual de 393 694 italianos. Nos anos seguintes, a tendnciarevela ligeiro declnio; mesmo assim, no perodo de 1910-1915 abandonaram aItlia 1 546 000 emigrantes, certamente movidos pelo af de escaparem guerra iminente. No conjunto, entre 1876 e 1915, nada menos do que 7 500 000de italianos deixaram a Europa e outros 6 250 000 partiram da Itlia para tra-balhar ou viver em variados pases da prpria Europa. Um xodo que esvaiu asreservas humanas do pas e comprometeu seriamente o ritmo do desenvolvi-mento econmico ulterior.

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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    1861-1870 28 850 4 403 3 818 - - - -

    1871-1880 34 749 10 594 13 282 2 675 - 8 608 3 722

    1881-1890 37 407 8 639 7 118 627 24 487 39 151 21 555

    1891-1900 25 928 23 093 18 906 592 51 433 36 722 58 022

    1901-1910 57 262 59 104 65 567 6 510 232 945 73 460 30 336

    1911-1920 66 449 28 507 43 360 8 363 156 678 31 552 12 588

    1921-1930 109 107 1 153 14 189 3 257 38 861 53 330 7 559

    Figura 7: Mdias anuais da emigrao italiana por pases de destino

    DECNIOS FRANA ALEMANHA SUA CANAD EUA ARGENTINA BRASIL

  • A relativizao desta estatstica impressionante fica por conta da no-con-tabilizao dos retornados, isto , muitos so computados duas vezes ou mais,pois so trabalhadores temporrios em outras paragens que, como aves de arri-bao, retornam periodicamente a seu pas. o caso da emigrao golondrina,em que os trabalhadores italianos flutuavam entre a colheita do trigo nas pro-vncias argentinas de Crdova e Santa f, no vero tropical, e a colheita doscampos do Piemonte, na primavera italiana. Mesmo dentre os que se desloca-vam para os Estados Unidos, cerca de 30% retornavam ao seu pas; da Argen-tina, eram 53%. Nada que se igualasse, entretanto, aos povos de origem balc-nica, cujo ndice de retorno variava entre 86% e 90%.

    Os Estados Unidos foram os maiores beneficirios dessa epopia humana.Receberam, entre 1860 e 1913, mais de 26 milhes de europeus, dos quais 18milhes fixaram-se definitivamente no pas. A populao, que em 1800 contava5 milhes de habitantes, passou para 100 milhes em 1914. AAmrica Latina foio segundo espao geogrfico no mundo em acolhida de imigrantes, especialmenteo Brasil e a Argentina. Com a abolio da escravatura, em 1888, acelera-se o ritmoda entrada de imigrantes no Brasil, sendo que, entre 1890 e 1914, as entradasanuais passaram de 107 mil para 194 mil pessoas, 40% dos quais eram italianos,36% portugueses e 18% espanhis. AArgentina, por seu turno, recebeu uma mdiaanual de 111 mil imigrantes entre os anos de 1886 e 1980, mdia esta que se ele-vou a 360 mil no perodo de 1906 a 1913. Na Amrica do Norte, o Canad recebeu,sobretudo, imigrantes ingleses, que se destinaram tambm Austrlia, regiespertencentes aos domnios britnicos. Neste caso, a corrente migratria foi tointensa que medidas restritivas duras foram adotadas, exigindo-se dos interes-sados um certo montante de capital e saber especializado, procedimento seme-lhante ao adotado na Nova Zelndia. Partes da frica, Arglia, Tunsia e, espe-cialmente, a frica do Sul, tambm foram contempladas com o fluxo migratrio.

    JOS JOBSON DE ANDRADE ARRUDA

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    Fonte: CLOUGH, 1964: 139

  • 6. CONSIDERAES FINAIS

    O significado mais profundo da emigrao europia, no sculo XIX, somenteencontra paralelo histrico na transferncia compulsria de mais de 10 milhesde seres humanos para o trabalho nas minas e nas plantaes do novo mundona poca do antigo sistema colonial. Emigrao forada num caso, espont-nea no outro, ambas se fundem no espao de maior receptao moderna desses fluxos populacionais, gestando a uma experincia singular que traduz a forae a fraqueza dos pases nascidos dessa integrao.

    Mola propulsora dessa epopia nacional, a Europa beneficiou-se de seu impactoeconmico pela intensificao da circulao de capital, expresso no montantede recursos levados pelos emigrantes para o estrangeiro e seu retorno em valoresmultiplicados pelas remessas peridicas realizadas; e mais, promoveu a expan-so do mercado das naes europias, pelo apego tradicional de seus filhos aosprodutos da terra; finalmente, a emigrao promoveu uma alta geral de salriosno continente europeu pela queda do nmero de trabalhadores disponveis nopas, ao mesmo tempo em que contribuiu para a reduo do preo das terras.

    Em termos restritamente demogrficos, pois que este exatamente o centroda questo, as emigraes desequilibraram a balana entre os sexos, gerandouma enorme disponibilidade de mulheres, mais numerosas do que os homensem 253 000 em 1801, tornaram-se 1 197 000 em 1914, com todas as conse-qncias sociais que estes nmeros podem significar. As taxas de natalidadedecresceram; subiram as taxas de mortalidade pela sada dos mais jovens,combinao perversa que poderia estimular as famlias a produzirem filhos quelhes trouxessem recursos do exterior33.

    Se a emigrao europia decorreu, em larga medida, da industrializaoretardatria da Europa e das presses demogrficas, sua contribuio foi essen-cial para o desenvolvimento dos novos pases, ex-colnias. Fruto da urbaniza-o, contriburam decisivamente na ereo das grandes cidades porturias doNovo Mundo: Nova York, Rio de Janeiro, Buenos Aires, promovendo umaintegrao indissolvel entre as culturas de origem e as culturas de adoo. Osarquitetos europeus erigiram grande nmero de obras urbansticas atravs domundo, imprimindo sua marca arquitetnica presente nas edificaes e, sobre-tudo, nos monumentos pblicos que, apesar de motivados pela autctone, foramrepresentados com a roupagem da cultura da importao. Impensvel a ocupa-o das terras do meio-oeste norte-americano sem a fora dos imigrantes. Impen-svel o desenvolvimento vertiginoso da indstria nas grandes cidades dos Esta-dos Unidos sem sua contribuio decisiva. Impensvel tambm o avano dacafeicultura brasileira sem seus braos; a industrializao de So Paulo sem suaparticipao; a pecuria e a agricultura argentinas sem seus esforos. Parceiraincontornvel da colonizao, profundamente enraizados no processo de indus-trializao europia, expressam um momento mpar de europeizao do mundo,de consolidao de sua hegemonia cultural, condio sine qua non de valori-zao do capital que os sculos vindouros saberiam testemunhar.

    A EXPANSO EUROPEIA OITOCENTISTA: EMIGRAO E COLONIZAO

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