papel da corticosterona na aquisiÇÃo dos …se pretendes vencer.” francisco cândido xavier “o...

90
1 1 PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE APOMORFINA EM RATOS PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOITACAZES – RJ JULHO – 2004

Upload: others

Post on 21-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

1

1

PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS

DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL

INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE

APOMORFINA EM RATOS

PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOITACAZES – RJ

JULHO – 2004

Page 2: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

2

2

PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS

DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL

INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE

APOMORFINA EM RATOS

PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal

Orientadora: Profa. Dra. Marinete Pinheiro Carrera

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JULHO – 2004

Page 3: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

i

i

PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS PROCESSOS

DE CONDICIONAMENTO E SENSIBILIZAÇÃO COMPORTAMENTAL

INDUZIDOS POR ADMINISTRAÇÕES SISTÊMICAS DE

APOMORFINA EM RATOS

PRÍSCILA QUINTANILHA BRAGA

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal

Aprovada em 22 de julho de 2004 Comissão Examinadora:

________________________________________________________________ Profa. Cristiane Salum (D. Sc, Psicobiologia) – USP

________________________________________________________________ Profa. Sylvia Beatriz Jofilly (D. Sc, Psicologia) – UENF

________________________________________________________________ Prof. Luís Fernando Cardenas (D. Sc, Psicobiologia) – UNESA

Profa. Marinete Pinheiro Carrera (D. Sc, Psicobiologia) – UENF (Orientadora)

Page 4: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

ii

ii

“Não te lastimes. Age.

Tens o tempo ao teu dispor.

Não reproves. Destaca

O melhor do que vejas.

Não grites. Baixa a voz,

Se queres que te escutem.

Não desprezes. Socorre,

Caso intentes ser útil.

Não te irrites. Aguarda

O alheio entendimento.

Não desanimes. Ama,

Se pretendes vencer.”

Francisco Cândido Xavier

“O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir

positivamente, bondosamente, calmamente. A mente é tudo! O que pensamos é o

que nos tornamos. A solução está sempre dentro de nós.”

Alan Kardec

Page 5: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

iii

iii

Ao meu pai, por todo o amor, incentivo, mas principalmente pela insigne contribuição

na conclusão desta Tese, por sempre ter-me feito acreditar que com coragem nada

seria impossível.

Dedico

Page 6: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

iv

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ser minha fortaleza e meu refúgio.

A minha mãe, de cuja magnanimidade tenho o privilégio de usufruir.

Ao meu pai, que deixou, além de tanta saudade, um exemplo de generosidade.

Aos meus queridos irmãos, Douglas e Juninho, porque não poderia haver outros

melhores.

A minha querida filha “Tita", por todo o amor que me concede.

Aos meus estimados avós, que não medem esforços para que eu seja feliz.

Ao meu tio e tias, especialmente a tia Lourdes, que tanto torcem pelo meu sucesso

profissional.

Ao meu padrasto Sérgio, sempre disposto a me ajudar em tudo de que preciso.

À minha orientadora, Profa. Dra. Marinete Carrera, pela paciência diante dos

imprevistos surgidos em minha vida, o que foi determinante para a realização e

conclusão deste trabalho.

Aos grandes amigos, Flávia, Rose, Enrico, Michelle e Aline, que sempre me

incentivaram e se mostraram solícitos nos momentos mais difíceis.

Aos amigos, Viviane, Samuel, Lívia e Stefania, que, mesmo distantes, torceram para

que tudo desse certo na realização desta Tese.

À amiga Fernanda, por seu auxílio inestimável na conclusão desta Tese.

Page 7: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

v

v

À coordenação de pós-graduação, especialmente, a Etiene Marques, Elenita

Lacerda e Profa. Célia Raquel Quirino, por todo auxílio e esclarecimentos prestados,

fundamentais para a conclusão desta Tese.

Aos professores que contribuíram para minha formação acadêmica no curso de

mestrado, principalmente Profa. Marinete Carrera (LSA), Prof. Antonio Henrique

Almeida (LBCT), Profa. Silvia Jofilly (LCL), Prof. Alberto Magno (LZNA), Profa.

Rosemary Bastos (LMGA), Profa. Rita da Trindade (LZNA) e Prof. Marcos Matta

(LMGA).

Ao Prof. Dr. Francisco Carlos Rodrigues Medeiros, pela confiança depositada em

meu trabalho.

As ex-bibliotecárias Jovana e Magda, pela amizade e por todas as informações

fornecidas que muito me auxiliaram na reunião do material-base desta Tese.

Ao funcionário “Seu Daniel”, pelos “galhos” quebrados ao longo deste período.

Aos meus colegas de laboratório, Francimar, Ludimila, Nalígia, Lígia, Rachel e Cíntia

pela torcida e pela ajuda quando precisei.

Aos técnicos do laboratório de Sanidade Animal, principalrmente à Gina Nunes, pelo

auxílio no fornecimento de materiais indispensáveis à realização deste trabalho.

A todos os funcionários da xerox que pelo CCTA passaram, principalmente Fabiana,

Lucélia, Renatinha e Dani, pela simpatia e eficiência na entrega das tantas xerox de

aulas, artigos e livros.

Aos guardas sempre presentes, garantindo a segurança nos dias de semana, fins de

semana e feriados.

Ao casal, Paulo Márcio e Ana Paula, pela venda dos tantos “lanches-almoço” nos

horários de experimento.

Aos funcionários da limpeza, por tornarem o ambiente de trabalho salutar e

agradável para se trabalhar.

Aos funcionários do Biotério, particularmente a Joana, pelo fornecimento do

instrumento principal para realização deste trabalho.

À UENF e ao CCTA, pela oportunidade de exercer minha profissão.

À CAPES, pela concessão da bolsa de mestrado.

Page 8: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

vi

vi

BIOGRAFIA

Príscila Quintanilha Braga, filha de José Geraldo Braga e Rosely Quintanilha

Braga, nasceu em 26 de dezembro de 1976, na cidade de Campos dos Goytacazes

– RJ.

Ingressou no curso de graduação em Medicina Veterinária na Universidade

Estadual do Norte Fluminense em março de 1997 e formou-se em fevereiro de 2002.

Foi admitida em agosto de 2002 no curso de Pós-graduação em Produção

Animal, Mestrado, Farmacologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense,

em Campos dos Goytacazes-RJ, submetendo-se à defesa de Tese para a conclusão

do curso em julho de 2004.

Page 9: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

vii

vii

CONTEÚDO

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................. ix

RESUMO ............................................................................................................... x

ABSTRACT ............................................................................................................ xii

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

2. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 4

2.1. O condicionamento induzido por drogas ................................................... 4

2.2. O processo de sensibilização comportamental ......................................... 6

2.3. O sistema dopaminérgico ......................................................................... 8

2.3.1. Relação do sistema dopaminérgico com o processo de condicionamento .................................................................................

10

2.3.2. O sistema dopaminérgico e a sensibilização comportamental ........... 11

2.3.3. Apomorfina ........................................................................................ 11

2.4. Hormônios Glicocorticóides ...................................................................... 13

2.4.1. Receptores Corticosteróides ............................................................... 15

2.4.2. Metirapona .................................................. ...................................... 17

2.5. Interação entre a corticosterona e o sistema dopaminérgico ................... 19

2.6. Relação entre a corticosterona e o processo de condicionamento .......... 21

2.7. Corticosterona e o processo de sensibilização ......................................... 22

3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 25

3.1. Sujeitos ..................................................................................................... 25

3.2. Ambiente experimental .................................................. .......................... 25

Page 10: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

viii

viii

3.3. Drogas ....................................................................................................... 26

3.4. Procedimento experimental ...................................................................... 26

3.4.1. Período de habituação ........................................................................ 26

3.4.2. Fase de condicionamento ................................................................... 27

3.4.3. Período de retirada de droga 1 ........................................................... 27

3.4.4. Teste de condicionamento .................................................................. 27

3.4.5. Período de retirada de droga 2 ........................................................... 27

3.4.6. Teste de sensibilização comportamental ............................................ 27

3.4.7. Quadro 1: Cronograma do procedimento experimental ..................... 28

3.5. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ....

28

3.6. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ....

30

3.7. Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ...............................................

32

3.8. Análise comportamental ........................................................................... 33

3.9. Análise estatística ..................................................................................... 33

4. RESULTADOS ............................................................................................... 36

4.1. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ......

36

4.2. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ......

41

4.3. Experimento 3: efeito do metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ................................................

45

5. DISCUSSÃO ................................................................................................... 50

5.1. Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ......

50

5.2. Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental ......

54

5.3. Experimento 3: efeito do metirapona sobre a atividade locomotora condicionada e a sensibilização comportamental produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina ................................................

56

6. CONCLUSÕES ............................................................................................... 62

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 63

Page 11: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

ix

ix

LISTA DE ABREVIATURAS

6-OH-DOPA – 6-hidroxi-dopamina

ACTH – Hormônio Adrenocorticotrópico

AMP – Adenosina Monofosfato

APO – Apomorfina

ASS – Associado

CRF – Fator de Liberação de Corticotropina

CYP-450 – Citocromo P-450

DAT – Transportador de Dopamina

EC – Estímulo Condicionado

EI – Estímulo Incondicionado

EN – Estímulo Neutro

GRs – Receptores Glicocorticóides

HHA – Hipotálamo – Hipófise – Adrenal

HVA – Ácido Homovanílico

MAO – Monoamina Oxidase

MET – Metyrapone

MRs – Receptores Mineralocorticóides

N-ASS – Não-associado

NMDA – N-metil-D-aspartato

RC – Resposta Condicionada

RI – Resposta Incondicionada

VEIC – Veículo

Page 12: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

x

x

RESUMO

BRAGA, Príscila Quintanilha. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro; julho de 2004. Papel da corticosterona na aquisição dos processos de

condicionamento e sensibilização comportamental induzidos por administrações

sistêmicas de apomorfina em ratos; Profa. Orientadora: Profa. Dra. Marinete Pinheiro

Carrera.

Estímulos estressantes, recompensadores naturais e farmacológicos aumentam a

secreção de corticosterona que, por sua vez, eleva a liberação de dopamina. Dessa

forma, a corticosterona potencializa os efeitos motores e reforçadores de drogas

psicoestimulantes como a apomorfina (APO) – agonista direto dos receptores

dopaminérgicos D1 e D2. Acréscimos na atividade dopaminérgica medeiam os

processos de condicionamento e sensibilização a psicoestimulantes. Este trabalho

investigou o papel da corticosterona na aquisição do condicionamento e

sensibilização comportamental induzidos por apomorfina. Foram realizados três

experimentos. No primeiro, ratos Wistar foram divididos em três grupos: controle;

APO (0,5 e 2,0 mg/kg) associado ao ambiente experimental, onde os animais

receberam APO e foram colocados na arena-teste por trinta min para registro de sua

atividade locomotora (número de cruzamentos) e APO não-associado ao ambiente

experimental, onde os animais receberam veículo foram colocados na arena-teste e,

após trinta min foram retirados da arena, tendo recebido APO na caixa-viveiro. Este

procedimento foi realizado durante 5 dias consecutivos (fase de condicionamento –

FC). Após o término da FC, houve um período de retirada da droga por dois dias e,

Page 13: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

xi

xi

durante este período, os animais não foram manipulados farmacológica e

comportamentalmente. Em seguida, deu-se o teste de condicionamento (TC), no

qual todos os animais receberam veículo e foram colocados na arena por trinta min.

Após um segundo período de retirada de droga, procedeu-se o teste de

sensibilização (TS), no qual os animais dos grupos APO receberam apomorfina e

aqueles do grupo controle receberam veículo e foram colocados na arena-teste. Os

resultados demonstraram que na FC o grupo APO associado 2 mg/kg apresentou

maior número de cruzamentos quando comparado aos demais grupos. No TC, os

grupos APO associados (0,5 e 2,0 mg/kg) apresentaram maior número de

cruzamentos quando comparados ao controle, indicando o desenvolvimento do

processo de condicionamento. No TS, o grupo APO associado 2 mg/kg apresentou

nº de cruzamentos maior que os demais grupos, sugerindo o desenvolvimento da

sensibilização. No segundo experimento, os ratos receberam administrações de

metirapona (MET – 50 mg/kg), inibidor da síntese de corticosterona, obedecendo ao

protocolo experimental citado anteriormente. Os resultados mostraram que, na FC e

no TC, o grupo MET associado apresentou maior número de cruzamentos que os

demais grupos, indicando condicionamento. No terceiro experimento, os ratos foram

pré-tratados com metirapona e, após, submetidos ao mesmo procedimento do

primeiro experimento. Os resultados demonstraram que, na FC, o grupo MET + APO

associado 2 mg/kg apresentou maior número de cruzamentos quando comparado

aos demais grupos. No TC, os grupos MET + APO associados (0,5 e 2,0 mg/kg)

apresentaram maior número de cruzamentos quando comparados ao controle,

indicando o desenvolvimento do processo de condicionamento. No TS, o grupo MET

+ APO associado 2 mg/kg apresentou número de cruzamentos maior que os demais

grupos, indicando sensibilização. Estes resultados mostraram que a APO produziu

condicionamento nas duas doses utilizadas, enquanto apenas a maior dose produziu

sensibilização. A MET sozinha produziu condicionamento. O pré-tratamento com

metirapona não bloqueou o condicionamento e a sensibilização à apomorfina. Estes

resultados sugerem que a corticosterona não está diretamente relacionada ao

desenvolvimento do condicionamento e sensibilização comportamental induzidos

pela apomorfina.

Palavras-chave: apomorfina, atividade locomotora, condicionamento pavloviano,

corticosterona, metirapona, sensibilização comportamental.

Page 14: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

xii

xii

ABSTRACT

BRAGA, Príscila Quintanilha. State University of Norte Fluminense Darcy Ribeiro;

July, 2004. The role of corticosterone in the acquisition of conditioning and behavioral

sensitization induced by systemic administrations of apomorphine in rats; Advisor:

Dra. Marinete Pinheiro Carrera

Stressful and rewarding stimuli, both natural and pharmacological, stimulates adrenal

secretion of corticosteroid, that in turn, cause the release of dopamine. Thus,

corticosteroid increase motor and reinforcing effects of psycho-stimulant drugs such

as apomorphine (APO) a direct agonist of dopaminergic D1 and D2 receptors.

Increases in dopaminergic activity mediate the conditioning and sensitization

processes to psycho-stimulants. The present work investigated the role of

corticosterone in the acquisition of conditioning and behavioral sensitization induced

by apomorphine. Three experiments were performed. In the first experiment, Wistar

rats were divided in three groups: control; APO (0.5 and 2.0 mg/kg) paired to the

experimental environment, in which the rats received apomorphine and were placed

into the test environment during 30 min to register locomotor activity (number of

crossings) and APO unpaired to the experimental environment, in which the animals

received vehicle and then placed in the arena-test and 30 min later they were

removed from experimental arena and received APO in their home cage. This

procedure was performed during five consecutive days (conditioning phase – CF).

After the end of CF a two-days drug withdrawal period was used, in which the

animals were not handled. After the conditioning test (CT), all of the animals received

Page 15: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

xiii

xiii

non-drug vehicle and were placed in the experimental environment. After a second

drug free period, the sensitization test (ST) was carried out, in which the animals

belonging the APO–paired groups received apomorphine and the control group

received vehicle and were then placed in the test arena. Results showed that during

the CF, the APO–paired (2,0 mg/kg) group had higher number of crossings when

compared to the other groups. In the CT, the APO–paired groups (90.5 and 2.0

mg/kg) showed higher locomotor activity than the control group, suggesting the

development of a conditioning process. In the ST, the APO–paired (2.0 mg/kg) group

showed a higher number of crossings when compared to the other groups,

suggesting development of behavioral sensitization. In the second experiment, rats

received metyrapone (MET–50 mg/kg) an inhibitor of corticosterone synthesis, using

the same experimental protocol previously mentioned. Results showed that in the CF

and CT the MET–paired group had higher locomotor activity than the other groups,

suggesting a conditioning reponse. In the third experiment, rats were pre-treated with

metyrapone and then submitted to the same procedure as the first experiment.

Results showed that in the CF the MET+APO–paired (2.0 mg/kg) group had higher

number of crossings when compared to the other groups. In CT, the MET+APO–

paired groups (90.5 and 2.0 mg/kg) had higher motor activity than the control group,

suggesting development of conditioning. In ST, the MET+APO–paired (2.0 mg/kg)

group had a higher number of crossings than other groups, suggesting sensitization.

These results showed that APO produced conditioning at the two doses used while

only the largest dose produced sensitization. Metyrapone alone produced

conditioning. Pre-treatment with metyrapone did not block conditioning or

sensitization to apomorphine. These results suggest that corticosterone is not directly

involved in the development of conditioning and apomorphine-induced behavior

sensitization.

Keywords: apomorphine, behavior sensitization corticosterone, locomotor activity,

metyrapone, Pavlovian behavior.

Page 16: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

1

1. INTRODUÇÃO

O processo de condicionamento induzido por drogas constitui um modelo de

aprendizagem postulado, nas primeiras décadas do século XX, pelo fisiologista

russo, Ivan Petrovick Pavlov. Este cientista admitiu que a associação entre os efeitos

produzidos por uma droga e o ambiente, no qual tais efeitos são experimentados,

representa um processo de condicionamento.

Num de seus experimentos, o cientista emitia um som aproximadamente

dois a três minutos após administrar apomorfina, por via subcutânea, em cães, e os

efeitos observados eram sialorréia, inquietação e tendência à êmese. Pavlov, então,

denominou o som, estímulo neutro, que seria o estímulo que não evoca uma

resposta específica. A apomorfina, Pavlov denominou estímulo incondicionado, ou

seja, estímulo que produz uma mesma resposta em todos os organismos de uma

mesma espécie. As respostas naturais (salivação, inquietação e êmese) ao estímulo

incondicionado foram denominadas respostas incondicionadas.

Contudo, após várias associações entre o som emitido e a administração de

apomorfina, Pavlov verificou que apenas a apresentação do som era suficiente para

evocar os efeitos produzidos pela droga. Pavlov passou a designar o som, estímulo

condicionado, já que sozinho produziu a mesma resposta do estímulo

incondicionado e denominou a resposta resultante do estímulo aprendido – resposta

condicionada. Deste modo, quando uma droga é administrada repetidamente num

ambiente específico, o estímulo ambiental, através de sua história de associação

Page 17: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

2

com a exposição à droga, promoverá a expressão seletiva de ambos os efeitos

comportamentais e bioquímicos da droga.

Uma outra forma de aprendizagem é o processo de sensibilização

comportamental que é caracterizado por um aumento progressivo da atividade

locomotora, induzido pela administração repetida de psicoestimulantes, além de uma

hipersensibilidade comportamental duradoura, mesmo cessada a administração da

droga.

A administração de psicoestimulantes acarreta um acréscimo na atividade

dopaminérgica. A literatura científica estabelece que uma atividade dopaminérgica

elevada, advinda do emprego de agonistas dopaminérgicos, de modo geral, implica

uma hiperatividade locomotora do mesmo modo que um decréscimo na

neurotransmissão dopaminérgica redunda em hipomotilidade. A hiperatividade

locomotora condicionada a psicoestimulantes, como anfetamina e apomorfina,

resulta principalmente de acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e

nigroestriatal. Além disso, o processo de sensibilização também parece ser mediado

pelos sistemas dopaminérgicos mesolímbico e nigroestriatal.

Por outro lado, os psicoestimulantes, estímulos recompensadores

farmacológicos, aumentam a secreção adrenal de corticosterona que, por sua vez,

aumenta a liberação de dopamina, potencializando os efeitos psicomotores e

reforçadores dos psicoestimulantes.

Os corticóides compartilham as principais ações neuroquímicas e

comportamentais com os psicoestimulantes. Neuroquimicamente, ambos elevam as

concentrações extracelulares de dopamina em projeções estriatais ventrais de

neurônios dopaminérgicos mesencefálicos. Comportamentalmente, assim como os

psicoestimulantes, a corticosterona tem efeitos motores e facilita a aprendizagem do

comportamento de auto-administração de drogas, ambas as respostas por meio da

ativação da transmissão dopaminérgica mesencefálica. Desde que a aquisição da

resposta locomotora condicionada aos psicoestimulantes depende da ativação dos

sistemas dopaminérgicos, não seria possível, então, que a corticosterona, ao elevar

a atividade dopaminérgica, participasse do desenvolvimento do condicionamento

clássico?

Similarmente ao observado com os psicoestimulantes, a exposição repetida

ao estresse resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização. Sujeitos

sensibilizados pelo estresse exibem uma insigne resposta locomotora aos

Page 18: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

3

psicoestimulantes, um fenômeno conhecido como sensibilização cruzada. Ambos,

estresse e psicoestimulantes, promovem a ativação do eixo HHA (hipotálamo –

hipófise – adrenal) que culmina na elevação dos níveis de corticosterona circulante.

Postula-se que o acréscimo produzido nos efeitos dos psicoestimulantes produzido

pelo estresse depende de um aumento nos níveis de corticosterona.

Basicamente, três linhas de evidência indicam que a corticosterona

potencializa os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Primeiro,

há uma correlação positiva entre a secreção de corticosterona e a sensibilidade aos

efeitos reforçadores dos psicoestimulantes. Segundo, a administração de

corticosterona, anterior à auto-administração de anfetamina, aumenta as

propriedades reforçadores desta droga. Terceiro, a supressão crônica da secreção

de corticosterona pela adrenalectomia ou metirapona diminui os efeitos

psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes.

Dado o exposto, o escopo deste trabalho foi avaliar a participação da

corticosterona, por meio do bloqueio da sua síntese, no desenvolvimento dos

processos de sensibilização comportamental e condicionamento induzido por

drogas. Para tal, avaliou-se o efeito de administrações sistêmicas de diferentes

doses de apomorfina (0,5 e 2,0 mg/kg), agonista dopaminérgico D1 e D2, sobre a

aquisição da resposta locomotora condicionada e sensibilização comportamental.

Além disso, investigou-se o papel do pré-tratamento com metirapona (50 mg/kg),

inibidor da síntese de corticosterona, na aquisição dos processos de

condicionamento e sensibilização produzidos por apomorfina. Supôs-se que o efeito

indireto da apomorfina, como estimuladora da secreção de corticosterona a qual

aumenta a liberação de dopamina, teria papel relevante no desenvolvimento dos

processos de condicionamento e sensibilização comportamental. Portanto, o objetivo

foi verificar se a ausência de corticosterona afetaria o papel da apomorfina nos

processos de condicionamento e sensibilização comportamental. Vale ressaltar que,

até o momento, não foi proposto um papel consistente para os hormônios

glicocorticóides no processo de condicionamento clássico.

Page 19: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

4

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1- O Condicionamento induzido por drogas

O condicionamento constitui um modelo de aprendizagem, ou seja, um

processo de modificação comportamental dos indivíduos que resulta de suas

interações com o ambiente (BEAVER, 2001). Existem dois tipos de

condicionamento, o clássico (pavloviano) e o operante (instrumental). Neste

trabalho, no entanto, apenas o primeiro esteve em foco.

Sabe-se que um estímulo incondicionado (EI) resulta numa resposta

igualmente incondicionada (RI), o que significa que o mesmo estímulo elicia a

mesma resposta em todos os organismos de uma mesma espécie. Porém, estímulos

originalmente neutros (EN) que, automaticamente, não evocam uma resposta

específica, quando associados a um estímulo incondicionado são capazes de

provocar reflexos. O estímulo neutro torna-se um estímulo condicionado (EC), já que

sozinho passa a produzir a mesma resposta de um estímulo incondicionado. Essa

resposta, resultante do estímulo aprendido, é denominada resposta condicionada

(RC) e o processo envolvido, condicionamento clássico ou pavloviano (PAVLOV,

1927, apud MCKIM, 2000).

Este remoto conceito data das primeiras décadas do século XX, quando o

fisiologista russo, Ivan Petrovick Pavlov, estudando o processo de digestão,

observou que um cão salivava à mera visão da tigela de alimento, ou seja, este cão

aprendera a associar a visão da tigela com o sabor do alimento. Tratava-se de um

caso de aprendizagem associativa e Pavlov decidiu verificar se o cão seria capaz de

associar o alimento com outros estímulos, como luz, som, entre outros (ATKINSON

Page 20: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

5

et al., 1995). Num de seus experimentos, Pavlov colocava o cão em frente a uma

tigela e, após alguns segundos, um pouco de pó de carne era enviado

automaticamente à tigela quando, então, a luz era desligada. O cão faminto salivava

copiosamente, Pavlov denominou a salivação resposta incondicionada e o pó de

carne, estímulo incondicionado. O procedimento foi repetido dezesseis vezes, ou

seja, dezesseis apresentações associadas da luz e do alimento. Finalmente, o

cientista ligava a luz, mas não enviava o alimento e, mesmo assim, o cão salivava. A

esta salivação denominou-se resposta condicionada e à luz, estímulo condicionado.

Em outras palavras, durante a aquisição da resposta condicionada, o estímulo

condicionado tornou-se um substituto do estímulo incondicionado, ou seja, o cão

aprendeu que a luz significava alimento (ATKINSON et al., 1995).

Pavlov (1927, apud DREW e GLICK, 1988) também sugeriu que a

associação entre os efeitos produzidos por uma droga e o ambiente no qual tais

efeitos são experimentados representa um processo de condicionamento. Num de

seus experimentos posteriores, o cientista emitia um som (EN) aproximadamente

dois a três minutos após administrar apomorfina (EI) em cães, por via subcutânea, e

os efeitos fisiológicos ou incondicionados (RI) observados eram sialorréia,

inquietação e tendência à êmese. Contudo, após várias associações entre o som

emitido e a administração de apomorfina, Pavlov verificou que apenas a

apresentação do som (EC) era suficiente para evocar os efeitos produzidos pela

droga (RC) (PAVLOV,1927, apud MCKIM, 2000). Deste modo, quando uma droga é

administrada repetidamente num ambiente específico, o estímulo ambiental, por

meio de sua história de associação com a exposição à droga, promoverá a

expressão seletiva de ambos os efeitos comportamentais e bioquímicos da droga

(DREW e GLICK, 1988).

O processo de condicionamento induzido por drogas apresenta relevância

na identificação dos substratos neurais envolvidos nos processos de aprendizagem

e memória. Isto pode ser comprovado pela resposta (RC) expressa diante de um

estímulo ambiental (EC) similar à resposta incondicionada promovida pela

administração de uma droga (EI). Isso significa que tal resposta, inicialmente

armazenada na memória, foi evocada pela simples apresentação do estímulo

condicionado (DAMIANOPOULOS e CAREY, 1992).

Este modelo também tem contribuído insignemente para o entendimento dos

distúrbios motores associados a anormalidades dos núcleos basais, tais como, Mal

Page 21: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

6

de Parkinson, Doença de Huntington, Síndrome de Tourette, entre outras. Esta

asserção provém do fato de que os núcleos da base estão relacionados não apenas

ao controle de movimentos voluntários, mas também a processos de aprendizagem,

o que pode ser verificado tanto pelas alterações motoras quanto pelas cognitivas

observadas nessas patologias (MARTIN, 1998).

2.2- O processo de sensibilização comportamental

A administração repetida de psicoestimulantes resulta num fenômeno

denominado tolerância reversa ou sensibilização comportamental, a qual é

caracterizada por um aumento progressivo da atividade locomotora induzido pela

droga, além de uma hipersensibilidade comportamental duradoura, mesmo cessada

a administração da substância (ROBINSON e BECKER, 1986; CADOR et al., 1995).

Para O’Brien (1996), a sensibilização consiste no aumento da reposta com a

repetição da mesma dose da droga. Por exemplo, a injeção diária de uma dose de

cocaína, capaz de elevar a atividade locomotora, gera um acréscimo significativo do

efeito motor após vários dias, mesmo se a dose permanecer constante. Com a

sensibilização, há um desvio da curva dose-resposta para a esquerda de modo que,

para uma determinada dose, há um efeito maior do que o observado após a dose

inicial. A denominação tolerância reversa se justifica, tendo em vista que, ao

contrário desta, na tolerância, doses maiores que as iniciais são necessárias para se

obterem os mesmos efeitos, tendo-se então um desvio para a direita da curva dose-

resposta (O’BRIEN, 1996).

A importância do processo de sensibilização comportamental reside em sua

associação com o desenvolvimento de diversas patologias comportamentais, como a

esquizofrenia (KOKKINIDIS e ANISMAN, 1980; ROBINSON e BECKER, 1986),

estresse pós-traumático e doença do pânico (ANTELMAN, 1988). Em humanos, este

fenômeno pode culminar em episódios psicóticos paranóicos e, em indivíduos com

história prévia de abuso de drogas, os episódios psicóticos tendem a rescindir ,

quando da reexposição à droga ou a condições estressantes, passados meses ou

até anos de abstinência à droga (CADOR et al., 1995).

Para Segal e Kuczenski (1991), as adaptações neuroplásticas relacionadas

ao processo de sensibilização comportamental acarretariam o desenvolvimento do

Page 22: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

7

comportamento compulsivo de ingestão, desejo e recaída por drogas. Robinson e

Berridge (1993) propõem uma teoria na qual a sensibilização representaria um

incentivo para o uso abusivo de drogas. Esta teoria aponta que o desejo de buscar a

droga seria um estado de incentivo resultante da liberação de dopamina por

neurônios dopaminérgicos, sensibilizados pela exposição repetida a drogas

psicoestimulantes, principalmente, em áreas mesocorticolímbicas. Em outras

palavras, indivíduos com seus sistemas dopaminérgicos sensibilizados seriam mais

vulneráveis ao abuso e à dependência de drogas.

Algumas hipóteses têm sido propostas na tentativa de explicar o

desenvolvimento da sensibilização comportamental induzida por agonistas

dopaminérgicos, entre as quais, incluem-se a do condicionamento, tolerância dos

auto-receptores e aumento da liberação de dopamina induzida por agonistas

(ROBINSON e BECKER, 1986). Uma possível explicação para a participação do

condicionamento na expressão da sensibilização comportamental seria que o

aumento progressivo na atividade locomotora induzida por psicoestimulantes está

relacionado ao desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada a um

estímulo ambiental associado com a exposição à droga. Na hipótese da tolerância

dos auto-receptores, propõe-se que estes tornam-se subsensitivos com a exposição

repetida a agonistas dopaminérgicos não-seletivos, havendo um decréscimo em seu

efeito inibitório sobre a síntese e liberação de dopamina, com conseqüente elevação

da atividade locomotora (ROBINSON e BECKER, 1986).

Por outro lado, num de seus experimentos, Mattingly e colaboradores (1991)

observaram que o antagonista dopaminérgico D2, sulpiride em concentração

suficiente para bloquear ambos os receptores D2 pré e pós-sinápticos, não impediu

o desenvolvimento da sensibilização produzida pela apomorfina. Além disso, estes

autores constataram que a administração de SCH 23390, antagonista dos

receptores dopaminérgicos D1, obstaculizou o desenvolvimento do processo de

sensibilização à apomorfina. E embora se acredite, que realmente haja uma certa

perda de sensibilidade pelos auto-receptores diante de tratamentos repetidos com

drogas agonistas, este fato sozinho não é suficiente para explicar a ocorrência do

fenômeno de sensibilização comportamental.

Os resultados obtidos por Mattingly e colaboradores (1991) também revelam

que, mesmo diante do bloqueio da resposta condicionada, há manifestação da

sensibilização comportamental produzida pela apomorfina. Apesar de apenas este

Page 23: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

8

achado não excluir o envolvimento do condicionamento na expressão de efeitos

sensibilizantes, ele é consistente com outros trabalhos que sugerem que esses

efeitos desenvolvem-se por meio de processos associativos e não-associativos

(GOLD et al., 1988; MATTINGLY e GOTSICK, 1989).

Finalmente, acredita-se que a sensibilização comportamental resulte de um

aumento na liberação de dopamina (ROBINSON e BECKER, 1986). Por exemplo, a

sensibilização comportamental à cocaína relaciona-se a um aumento nos níveis

extracelulares de dopamina no núcleo acumbens (KALIVAS e DUFFY, 1991). Esta

teoria inclui somente os efeitos pré-sinápticos e, portanto, a atuação de agonistas

dopaminérgicos indiretos, como a anfetamina e cocaína que exercem seus efeitos

basicamente por meio da liberação e/ou bloqueio da recaptação de dopamina,

desconsiderando então o papel dos agonistas dopaminérgicos diretos, como a

apomorfina, no processo de sensibilização (MATTINGLY et al., 1991).

Não obstante, existem evidências mais recentes que propõem o

envolvimento das alterações pós-sinápticas, estimuladas pela atuação de agonistas

nos receptores dopaminérgicos, na expressão do processo de sensibilização a

psicoestimulantes. Dentre tais alterações, incluem-se o aumento da atividade da

proteína G, a ativação da adenilato ciclase com subseqüente aumento na produção

de AMP cíclico e a estimulação da proteínaquinase A. Esta descoberta indica que

tanto as alterações pré quanto as pós-sinápticas, principalmente no sistema

dopaminérgico mesoacumbens, devem contribuir para a sensibilização

comportamental por drogas psicoestimulantes (PIERCE e KALIVAS, 1995).

2.3- O sistema dopaminérgico

Até 1959, a dopamina não era considerada um neurotransmissor do sistema

nervoso central, mas simplesmente um precursor da noradrenalina. Atualmente, são

reconhecidas no cérebro quatro importantes vias dopaminérgicas (HOLLISTER,

1998). Uma via é a nigroestriatal que se projeta da substância negra mesencefálica

para os núcleos caudado e putâmen (corpo estriado) no telencéfalo. Outra via é a

mesolímbica que se projeta da área tegmentar ventral mesencefálica para parte da

amígdala e hipocampo, núcleo acumbens, septo lateral, córtex entorrinal, cingulado

anterior e medial frontal. A terceira via é a mesocortical que vai da área tegmentar

Page 24: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

9

ventral para o neocórtex inervando densamente o córtex pré-frontal. A quarta e

última via é a túbero-infundibular que vai do núcleo arqueado do hipotálamo para a

eminência mediana e neuro-hipófise (BRANDÃO, 1993; HOLLISTER, 1998).

Este neurotransmissor atua em sítios específicos denominados receptores

dopaminérgicos. Até o momento foram identificados cinco tipos de receptores

dopaminérgicos, dispostos em duas famílias distintas. Os receptores D1 e D5 são

classificados como D1-like, enquanto os subtipos D2, D3 e D4 como, D2-like

(MISSALE et al., 1998).

Os receptores D1 são os mais amplamente distribuídos, além de serem

expressos em níveis mais altos que qualquer outro receptor dopaminérgico

(MISSALE et al., 1998). Estes receptores têm sido detectados no estriado, núcleo

acumbens, tubérculo olfatório, substância negra, córtex frontal, hipotálamo e tálamo

(MISSALE et al., 1998; STRANGE, 2001). Os receptores D1 são codificados por um

gene no cromossoma cinco e atuam através da ativação da enzima adenilato ciclase

,gerando aumento na síntese do mensageiro secundário intracelular AMP cíclico. Os

receptores D5, que são codificados por um gene no cromossoma quatro, também

produzem acréscimos na concentração de AMP cíclico e localizam-se principalmente

no hipocampo e hipotálamo (HOLLISTER, 1998).

Os receptores D2 são encontrados no estriado, núcleo acumbens,

substância negra, amígdala, córtex, globo pálido e tubérculo olfatório (MISSALE et

al., 1998; STRANGE, 2001). Estes receptores, que são codificados no cromossoma

onze, reduzem a concentração de AMP cíclico através da inibição da adenilato

ciclase e bloqueiam os canais de cálcio, mas abrem os canais de potássio

(HOLLISTER, 1998). Os receptores D3 também são codificados no cromossoma

onze, estes diminuem o AMP cíclico e localizam-se no núcleo acumbens, córtex

cerebral e tubérculo olfatório (HOLLISTER, 1998). Os receptores D4, os mais

recentemente descobertos, são encontrados no hipocampo, hipotálamo, medula e

córtex frontal (MISSALE et al., 1998; STRANGE, 2001).

Page 25: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

10

2.3.1- Relação do sistema dopaminérgico com o processo de condicionamento

A administração de estimulantes psicomotores acarreta um acréscimo na

liberação de dopamina, ao passo que sua suspensão gera uma redução na

transmissão dopaminérgica (MISSALE et al., 1998). A literatura científica estabelece

que uma atividade dopaminérgica elevada, advinda do emprego de agonistas

dopaminérgicos, de modo geral, implica uma hiperatividade locomotora, do mesmo

modo que um decréscimo na neurotransmissão dopaminérgica redunda em

hipomotilidade (BENINGER et al., 1989).

Segundo Schiff (1982), a hiperatividade locomotora condicionada a

psicoestimulantes como anfetamina e apomorfina resulta principalmente de

acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e nigroestriatal. Em seu

experimento, Schiff (1982) constatou aumento na concentração de ácido

homovanílico – HVA (metabólito da dopamina) em estruturas como núcleo

acumbens e estriado dorsal sugerindo, então, sua participação no processo de

condicionamento. Carrera e colaboradores (1998) apontam que administrações intra-

estriatais de apomorfina resultam numa resposta condicionada, desde que o

pareamento dessas administrações com um ambiente específico produziu uma

atividade locomotora condicionada. Portanto, os agonistas dopaminérgicos

funcionam como um estímulo incondicionado para aquisição de uma resposta

locomotora condicionada (SCHIFF, 1982). Por outro lado, o pré-tratamento com

antagonistas dopaminérgicos, como SCH 23390 e o sulpiride, bloqueia a atividade

locomotora produzida por agonistas dopaminérgicos como a apomorfina

(MATTINGLY, 1991). Hinson e Siegel (1983) verificaram que o antagonista

dopaminérgico, pimozide, bloqueia a resposta locomotora condicionada induzida por

administrações de morfina na área tegmentar ventral.

Lesões dos terminais mesoacumbens com a neurotoxina 6-OH-DOPA, pós-

condicionamento, bloqueia a hiperatividade condicionada evocada por um ambiente

emparelhado com a anfetamina (FRANKLIN e DRUHAN, 2000). De acordo com

Pert e colaboradores (1990), lesões com 6-OH-DOPA no núcleo acumbens obstam

a atividade locomotora condicionada à cocaína. O núcleo acumbens tem sido

considerado um elemento crucial do circuito neural que regula a expressão de

respostas condicionadas pavlovianas a estímulos relacionados a psicoestimulantes

(FRANKLIN e DRUHAN, 2000).

Page 26: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

11

2.3.2- O sistema dopaminérgico e a sensibilização comportamental

A administração repetida de agonistas dopaminérgicos resulta no

desenvolvimento do processo de sensibilização comportamental (MATTINGLY et al.,

1991). A sensibilização cruzada entre diferentes tratamentos, que compartilham a

capacidade de elevar a neurotransmissão dopaminérgica, reforça a hipótese de que

este neurotransmissor é crucial para a expressão da sensibilização comportamental

a psicoestimulantes (PIERCE e KALIVAS, 1995).

A sensibilização parece ser mediada pelos sistemas dopaminérgicos

mesolímbico (ROBINSON e BECKER, 1986; MATTINGLY et al., 1991; PIERCE e

KALIVAS, 1995) e nigroestriatal (ROBINSON e BECKER, 1986; MATTINGLY et al.,

1991). Todavia, Carrera e colaboradores (1998) constataram que administrações de

apomorfina no estriado dorsal, constituinte da via nigroestriatal, não resultam em

sensibilização comportamental.

De acordo com Cador e colaboradores (1995), a ação de drogas

psicomotoras no nível do núcleo acumbens responde pela expressão da

sensibilização, enquanto a ação dessas drogas no nível dos corpos celulares

dopaminérgicos na área tegmentar ventral induz mudanças responsáveis pela

iniciação deste fenômeno. Desse modo, psicoestimulantes no nível da área

tegmentar ventral são necessários e suficientes para indução da sensibilização que

pode ser mais tarde revelada por uma atuação desses estimulantes no núcleo

acumbens. O processo de sensibilização encontra-se associado à alta capacidade

de drogas psicoestimulantes de elevar a concentração de dopamina extracelular no

estriado ventral (PIERCE e KALIVAS, 1995).

2.3.3- Apomorfina

A apomorfina é um alcalóide cristalino pertencente à classe dibenzoquinolona.

Este composto é formulado como um sal hidrocloreto de peso molecular igual a

312,79 , tendo como descrição química 6 αβ-aporfina-10,11 diol hidrocloreto

hemihidrato. Trata-se de uma droga bastante hidrossolúvel e susceptível à oxidação

pelo ar e luz. A apomorfina pode ser obtida a partir do aquecimento da morfina num

Page 27: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

12

ambiente ácido e, apesar de derivado da morfina, não detém propriedades

narcóticas (LE WITT, 2004).

As ações farmacológicas primárias da apomorfina resultam de sua estrutura

amina terciária e policíclica que apresenta homologia com a molécula de dopamina.

Portanto, a apomorfina exerce potente atividade dopaminérgica nos receptores

dopaminérgicos. “In vitro”, a apomorfina exibe alta afinidade pelos receptores D4,

moderada afinidade pelos recptores D2, D3 e D5 e baixa afinidade pelos receptores

D1 (NEWMAN e CUSSAC, 2002). Segundo Creese e colaboradores (1983) a

apomorfina atua como agonista total nos receptores D2 e como agonista parcial nos

receptores D1. Além disso, os receptores D2 pré-sinápticos são seis a dez vezes

mais sensíveis à apomorfina que os receptores D2 pós-sinápticos. De acordo com

Newman e Cussac (2002), a apomorfina também apresenta afinidade moderada

pelos receptores adrenérgicos 1D, 2B e 2C e pelo receptores serotonérgicos 5HT1A,

5HT2A, 5HT2B e 5HT2C.

O alto metabolismo hepático de primeira passagem da apomorfina impede

sua eficácia quando administrada por via oral. A administração oral de apomorfina

tem sido associada ao desenvolvimento de nefrotoxicidade, provavelmente, devido

às altas doses requeridas em virtude do elevado metabolismo de primeira

passagem. Por outro lado, a rota de administração parenteral mais utilizada é a via

subcutânea, tendo-se o início do efeito da apomorfina em, sete a dez minutos e sua

duração por mais de noventa minutos em pacientes parkisonianos (LE WITT, 2004).

Esta droga tem papel relevante no tratamento da Doença de Parkinson, quando não

controlada com levodopa ou outros medicamentos anti-parkisonianos.

A apomorfina é um fármaco com elevada porcentagem de ligação às

proteínas plasmáticas, após sofrer distribuição. Seu metabolismo ocorre através de

várias vias enzimáticas, incluindo oxidação, N-desmetilação, sulfatação,

glicuronidação e metabolismo pela COMT (catecol-o-metil transferase), assim como,

por oxidação não-enzimática. A complexidade dos processos de absorção,

distribuição e eliminação da apomorfina deve contribuir para a variabilidade de seus

efeitos clínicos (LE WITT, 2004).

Page 28: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

13

2.4- Hormônios glicocorticóides

Durante o ciclo circadiano, os hormônios corticóides são secretados pela

glândula adrenal em duas faixas distintas. Tendo-se, então, durante a fase clara,

período de repouso em roedores, a faixa baixa correspondente a concentrações

plasmáticas de corticosterona que giram em torno de 1 �J� �� ���PO�� H� D� IDL[D�DOWD��estendendo-VH�GH����D����J����PO��QR�SHUíodo ativo, fase escura em roedores (MC

EWEN et al., 1986).

Os glicocorticóides endógenos são sintetizados pelas zonas fasciculada e

reticulada do córtex adrenal. A síntese e liberação destes hormônios dependem da

adrenocorticotropina (ACTH), sendo este um hormônio peptídio produzido pela

adeno-hipófise, cuja liberação é controlada pelo CRH (Hormônio Liberador de

Corticotropina). O CRH é sintetizado na parte anterior dos núcleos paraventriculares

hipotalâmicos e secretado no plexo capilar do hipotálamo, sendo, em seguida,

transportado até a adeno-hipófise, onde induz a secreção do ACTH. O ACTH ativa,

então, a adenilato ciclase na membrana das células adrenocorticais com

conseqüente formação de AMP (Adenosina Monofosfato) cíclico. O AMP cíclico

catalisa a transferência de energia do ATP (Adenosina Trifosfato) para a fosforilação

da proteinaquinase A que, secundariamente, fosforila outras proteínas que

produzem os glicocorticóides (FELDMAN, 1997). Tensões físicas, emocionais e

químicas, como a dor, traumatismo, cirurgia, infecção, hipóxia, hipoglicemia aguda,

exposição ao frio, pirógenos (FELDMAN, 1997), restrição alimentar e hídrica,

restrição espacial, isolamento social, exposição a um ambiente novo (MARINELLI et

al., 1996), entre outros; estimulam a secreção do CRH, e subseqüente liberação de

ACTH e corticóides (FELDMAN, 1997). Todo esse processo é regulado por um

sistema de retroalimentação negativo, no qual os níveis circulantes de corticosterona

atuam diretamente sobre o hipotálamo e a adeno-hipófise para a regulação dos

níveis plasmáticos de corticosterona. A secreção de CRF e ACTH é estimulada por

baixos níveis de corticosterona, sendo inibida por níveis elevados deste hormônio

(FELDMAN, 1997).

Por outro lado, estímulos recompensadores naturais como água, comida,

companhia sexual receptiva (PIAZZA e LE MOAL, 1997) e farmacológicos, tais

como, psicoestimulantes (FULLER e SNODY, 1981), nicotina (CAGGUILA et al.,

1991) e etanol (TRUDEAU et al., 1990) aumentam a secreção adrenal de

Page 29: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

14

corticosterona (PIAZZA e LE MOAL, 1997). A auto-administração de

psicoestimulantes, por exemplo, eleva notavelmente a secreção de glicocorticóides

(GOEDERS, 1997; GALICI et al., 2000). Entremente, o papel dos glicocorticóides na

recompensa não estaria em contrapartida ao papel fisiológico clássico desses

hormônios? Como explicar que os mesmos estímulos ditos estressores e, por vezes,

aversivos, incitem não só a ativação de respostas contrárias a eles como também os

substratos da recompensa, pelos glicocorticóides?

Em primeiro lugar, do mesmo modo que, perifericamente, tais hormônios

contraponham-se às ameaças externas pelo controle das respostas primárias do

organismo, ao ativarem o sistema cerebral de recompensa, os glicocorticóides

estariam contrapondo-se às respostas psicológicas e comportamentais às ameaças

externas, diminuindo os efeitos aversivos desta condição. Em segundo lugar,

praticamente, todos os modelos experimentais de estresse aumentam a liberação de

dopamina, substrato neurobiológico da recompensa, em regiões mesolimbocorticais

(PIAZZA e LE MOAL, 1997).

Em suma, os glicocorticóides responderiam às agressões externas não se

contrapondo diretamente às mesmas, mas controlando as respostas primárias às

ameaças externas. Por exemplo, os efeitos antiinflamatórios e imunossupressores

desses hormônios controlam a ativação das respostas imune e inflamatória

induzidas por uma ameaça (MUNCH et al., 1984). Por outro lado, os efeitos

relacionados à recompensa dos glicocorticóides abrangem a regulação das

respostas psicológicas e comportamentais frente às agressões externas. Entre

essas respostas, incluem-se a aversão e a esquiva de situações ameaçadoras. No

entanto, se, em resposta a estímulos aversivos e ameaçadores, a única reação

exibida fosse a esquiva, o potencial adaptativo dos indivíduos seria extremamente

pobre. Na verdade, indivíduos de diferentes espécies são capazes de desenvolver

estratégias complexas de aprendizagem e adaptação diante de estímulos aversivos

e que são consideradas modelos de estresse (PIAZZA e LE MOAL, 1997).

Portanto, as reações biológicas eliciadas por situações ameaçadoras têm a

função de reduzir a aversão e a esquiva induzidas pela ameaça. Tem sido proposto

que o mecanismo pelo qual a esquiva é controlada consiste na ativação paralela dos

substratos biológicos da recompensa, ou seja, ativação dos sistemas biológicos que

conduzem o comportamento em direção oposta. Esta observação indica que a

ativação dos substratos biológicos da recompensa durante uma situação

Page 30: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

15

ameaçadora reduziria os efeitos aversivos desta condição (PIAZZA e LE MOAL,

1997).

Em contraste, a supressão dos glicocorticóides aumenta o impacto de

eventos aversivos, reduzindo a adaptação dos indivíduos aos mesmos. Tal asserção

é corroborada por alguns testes experimentais baseados na exposição a estímulos

aversivos. No teste de Porsolt, os ratos são colocados num cilindro com água onde

seu comportamento é registrado. Os ratos-controle, após um período inicial de várias

tentativas de escape, exibem um período de imobilidade que, progressivamente,

aumenta após repetidos testes. Os ratos com supressão de glicocorticóides

mostram, durante quase todo o teste, tentativas de escape e pouca imobilidade

(PIAZZA e LE MOAL, 1997). Nos teste de esquiva ativa (o animal aprende a evitar o

choque, escapando de um compartimento) e passiva (o animal não entra no

compartimento do choque), os ratos com supressão de corticosterona mostram

aumento de suas respostas de esquiva em relação ao estímulo aversivo (PIAZZA e

LE MOAL, 1997). No teste de Morris, no qual o animal deve aprender como usar

dicas espaciais para encontrar uma plataforma escondida que o permite escapar da

piscina, a adrenalectomia prejudica a aquisição da tarefa (OITZL e DE KLOET,

1992). Esses efeitos são consistentes com o papel dos glicocorticóides de se

contraporem à aversão mediada por situações ameaçadoras, o que permite uma

melhor adaptação dos indivíduos a agressões externas.

2.4.1- Receptores corticosteróides

Os glicocorticóides circulantes atravessam prontamente a barreira hemato-

encefálica e adentram o cérebro onde se ligam a receptores intracelulares tipo I

(mineralocorticóides – MRs) ou tipo II (glicocorticóides – GRs) (MC EWEN et

al.,1986; LE DOUX, 1993). Ao penetrarem nas células, os esteróides glicocorticóides

ligam-se ao complexo receptor-proteína de choque térmico (HSP 90) no citoplasma,

induzindo uma mudança alostérica no receptor e dissociação da proteína HSP 90.

Então, o dímero receptor-hormônio dirige-se ao núcleo no qual interage com

seqüências específicas de DNA sobre vários genes, também denominadas

elementos responsivos aos glicocorticóides (GREs), ponto no qual a transcrição

gênica é ativada ou inibida (SCHIMMER e PARKER, 1996; GOLDFIEN, 1998).

Page 31: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

16

Em consequência do tempo necessário para as alterações na expressão

genética e na síntese protéica, a maior parte dos efeitos dos corticosteróides não é

imediata, mas torna-se aparente depois de várias horas. Em contraste com as ações

genômicas lentas dos glicocorticóides, constataram-se ações esteróides imediatas

ocorrendo dentro de minutos após a exposição a estes hormônios (SCHIMMER e

PARKER, 1996). Tem sido postulado que os corticosteróides modificariam a

atividade neural rapidamente modulando canais iônicos e sistemas de segundos

mensageiros por meio de interações com proteínas receptoras associadas à

membrana (REICHARDT e SCHUTZ, 1998). Sze e Yu (1995) sustentam que os

efeitos rápidos da corticosterona sobre a atividade neuronal são oriundos de sua

ação estimulante sobre o influxo de cálcio através da membrana.

Os receptores MRs e GRs diferem quanto à afinidade pela corticosterona.

Os MRs possuem alta afinidade pela corticosterona e aldosterona, estando quase

saturados em condições basais, enquanto os GRs têm afinidade dez vezes mais

baixa que os MRs pela corticosterona, tornando-se ocupados no pico circadiano

diário e após o estresse, quando os níveis de glicocorticóides são elevados (REUL e

DE KLOET, 1985; BRADBURY et al., 1994; TSUTSUMI et al., 2002).

Inquisitivo à distribuição neuroanatômica, pode-se dizer que os receptores

MRs e GRs encontram-se co-localizados no hipocampo, septo e amígdala (VAN

EKELEN, 1987; LE DOUX, 1993). Porém, os receptores glicocorticóides (GRs), mais

heterogeneamente distribuídos, estão situados em maior densidade no núcleo

paraventricular do hipotálamo, hipocampo e hipófise, cujas estruturas estão

envolvidas na regulação por retroalimentação da resposta hormonal do estresse

(REUL e DE KLOET,1985; RATKA et al., 1989). Já o sistema límbico, implicado nos

processos de aprendizagem e memória, contém os dois receptores. Incluem-se no

sistema límbico: hipocampo, giro parahipocampal, córtex entorrinal e insular,

amígdala, núcleo septal, hipotálamo e tálamo, núcleo acumbens, córtex cingulado e

bulbo olfatório (LUPIEN e MC EWEN, 1997). Aproximadamente, 90 % da população

neuronal no núcleo acumbens contêm ambos os tipos de receptores MRs e GRs,

sendo razoável afirmar que a maioria destes neurônios co-expressam receptores

dopaminérgicos e corticosteróides (CZYRAK et al., 1996).

Os receptores GRs estão envolvidos nos processos de aquisição e

consolidação da memória. A administração de um antagonista dos receptores

glicocorticóides (RU 38486) redunda no detrimento da performance do animal ,

Page 32: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

17

quando este ainda está adquirindo e consolidando uma tarefa. Uma vez consolidada

a tarefa, a administração deste antagonista não exerce mais qualquer efeito sobre a

performance do indivíduo. Já os receptores MRs estão implicados no processo de

formação da memória por meio da integração sensorial. Nesta fase, o animal deve

interpretar o ambiente e selecionar a informação relevante (SANDI e ROSE, 1994).

O bloqueio ou deficiência de receptores tipo I (MRs) causaria déficit em

funções básicas de atenção seletiva e integração sensorial, o que torna mais difícil

para um indivíduo discriminar os estímulos relevantes daqueles irrelevantes. Isto

afetaria o processo de aquisição da memória sem interferir em certos aspectos da

mesma, como a consolidação e evocação. Nessas condições, um indivíduo

manifestaria déficits globais na aprendizagem e memória (LUPIEN e MC EWEN,

1997). Em contraste, a deficiência ou bloqueio de receptores tipo II (GRs) afetaria os

processos de consolidação e evocação da memória. Ou seja, tal distúrbio

possibilitaria a um indivíduo aprender novas informações e reter experiências

passadas por um tempo limitado, estando, todavia, bastante susceptível ao

esquecimento, quando da interferência por outras informações ou fatores, tais como,

tratamento cirúrgico ou farmacológico, estresse, evento concomitante ao tempo de

aprendizagem, entre outros. Portanto, o esquecimento ocorre porque a memória

estaria obliterada ou mascarada por tais eventos (LUPIEN e MC EWEN, 1997).

2.4.2- Metirapona

A metirapona pertence a um grupo de agentes farmacológicos designados

inibidores da biossíntese de esteróides adrenocorticais, entre os quais, incluem-se:

mitotano, trilostano, cetoconazol e aminoglutetimida (SCHIMMER e PARKER, 1996).

Cada uma dessas drogas atua sobre diferentes esteróide-hidroxilases, o que confere

um certo grau de especificidade para suas ações.

A metirapona reduz a síntese de corticóides, inibindo a enzima P-450-���-

esteróide-hidroxilase, que converte a 11-desoxicorticosterona e o 11-desoxicortisol

em corticosterona e cortisol, respectivamente (SCHIMMER e PARKER, 1996;

GOLDFIEN, 1998). Esta droga é um inibidor da síntese estimulada de corticosterona

sem afetar, entretanto, seus níveis basais. Por exemplo, a metirapona nas doses de

12,5 e 25 mg/kg obsta o aumento na concentração de corticosterona em resposta ao

Page 33: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

18

estresse, mas não, os níveis basais de corticosterona de ratos não-estressados (LIU

et al., 1999).

Segundo Goeders e Guerin (1996), a metirapona atenua as propriedades

estimulatórias locomotoras e recompensadoras dos psicoestimulantes. Estes

pesquisadores observaram que o pré-tratamento com metirapona reduz o

comportamento de auto-administração de cocaína sugerindo que a redução nos

níveis circulantes de corticosterona diminui os efeitos reforçadores deste

psicoestimulante (GOEDERS e GUERIN, 1996). O aumento nos efeitos

psicomotores da cocaína produzido por um estresse crônico é revertido pela redução

aguda da secreção de corticosterona (MARINELLI et al., 1996). A administração

aguda de metirapona reduz a ativação psicomotora induzida pela cocaína em

animais sujeitos à restrição alimentar (MARINELLI et al., 1996). Segundo Deroche e

colaboradores (1992), o tratamento crônico com metirapona ou adrenalectomia

bloqueia a capacidade de vários estressores em induzir altos níveis plasmáticos de

corticosterona e subseqüente desenvolvimento da sensibilização aos efeitos

estimulantes locomotores da anfetamina e cocaína.

Por outro lado, o tratamento com metirapona parece potencializar a

expressão da sensibilização motora induzida pelo estresse. Reid e colaboradores

(1998) verificaram que o efeito da anfetamina sobre a liberação de dopamina

aumentou em animais estressados tratados com metirapona (50 mg/kg).

Curiosamente, estes pesquisadores também constataram tal efeito quando

administraram a metirapona em animais controle. Sugeriram, então, que a

metirapona portaria propriedades sensibilizadoras locomotoras intrínsecas,

propriedade esta responsável por seu efeito potencializador sobre a ação

psicomotora da anfetamina. Entretanto, Bratt e colaboradores (2001) observaram

que, apesar da metirapona (25 mg/kg) elevar os efeitos comportamentais da

anfetamina, este composto sozinho não produziu estimulação locomotora

significativa. Este achado indica pelo menos dois fatos. Primeiro, a metirapona não

possuiria uma ação sensibilizadora intrínseca. Segundo, essa ação seria dose-

dependente e, por isso, apenas a dose de 50 mg/kg produziu aumento da atividade

locomotora nos animais que receberam metirapona mais anfetamina, do mesmo

modo que naqueles que receberam somente administrações de metirapona. Um

segundo mecanismo potencial proposto, na tentativa de explanar como a metirapona

aumentaria os efeitos da anfetamina, seria uma interação farmacocinética entre

Page 34: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

19

estas drogas, ao competirem pela enzima hepática citocromo P-450 2DI requerida

ao metabolismo de ambas (SILL et al., 1999). Ou seja, a metirapona se ligaria à

enzima citocromo P-450 2DI, inibindo o metabolismo da anfetamina, a qual teria sua

ação sobre a neurotransmissão dopaminérgica prolongada. De acordo com Bratt e

colaboradores (2001), o tratamento combinado conduziria a níveis mais altos de

dopamina, produzindo estimulação locomotora similar àquela obtida com níveis mais

altos de anfetamina.

2.5- Interação entre a corticosterona e o sistema dopaminérgico

A corticosterona potencializa os efeitos psicomotores (DEROCHE et al.,

1992; PATACHIOLI et al., 1998) e reforçadores (PIAZZA et al., 1994) das drogas de

abuso. A administração de anfetamina (SWERDLON et al., 1993) e cocaína (PIAZZA

et al., 1994) aumenta a secreção de corticosterona conforme a dose administrada,

em paralelo com aumentos na locomoção induzidos por drogas. A supressão dos

glicocorticóides pela adrenalectomia reduz os efeitos psicomotores da cocaína

(MARINELLI et al., 1997) e anfetamina (CADOR et al., 1993).

Conforme Piazza e Le Moal (1997), a corticosterona facilita a aquisição do

comportamento de auto-administração de anfetamina. Igualmente exerce efeito

sobre o processo de retomada do uso abusivo de drogas. Por exemplo, ratos

treinados a auto-administrarem cocaína e, após, submetidos a um período de

remoção da droga, ao receberem a administração de corticosterona, exibem um

recaída ao uso da cocaína (DEROCHE et al., 1992). Além disso, o tratamento com a

metirapona durante oito dias, após a extinção da auto-administração de cocaína,

reduz o restabelecimento do consumo de cocaína quando os animais têm a

oportunidade de voltar a consumi-la (PIAZZA et al., 1994).

Desde que altos níveis de glicocorticóides aumentem a liberação de

dopamina, preferencialmente em projeções estriatais ventrais de neurônios

dopaminérgicos mesencefálicos (PIAZZA et al., 1994), justificam-se, portanto, seus

efeitos sobre as atividades locomotora e de recompensa.

Todavia, esse efeito sobre a liberação de dopamina é estado-dependente

(PIAZZA e LE MOAL, 1997). Doses de corticosterona equivalentes àquelas da faixa

fisiológica alta geram um acréscimo de 20% na concentração basal de dopamina, se

Page 35: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

20

administrada no período de atividade em roedores, sem qualquer efeito, quando

administradas no período claro. Adicionalmente, a administração deste hormônio em

associação com estímulos recompensadores promove um acréscimo de 80% na

concentração basal de dopamina (PIAZZA et al., 1994). Em contrapartida, a

adrenalectomia reduz em cerca de 50% a liberação basal de dopamina no núcleo

acumbens, como também a resposta dopaminérgica a estímulos, como

psicoestimulantes e opióides. A atividade locomotora induzida por uma injeção de

morfina na área tegmentar ventral e/ou cocaína no núcleo acumbens, a qual

depende da dopamina mesolímbica, sofre redução após adrenalectomia, que não

modifica, porém, o aumento na liberação e resposta da dopamina induzidas por

injeção de morfina no estriado dorsal (MARINELLI et al., 1994). De outro modo, o

aumento na locomoção induzido pela corticosterona é bloqueado por 6-OH-DOPA,

em terminais mesoacumbens (PIAZZA et al., 1994).

Além da expressão de receptores para glicocorticóides em neurônios

dopaminérgicos, conforme apontam Harfstrand e colaboradores (1986), outros

mecanismos tentam deslindar os efeitos facilitatórios desses hormônios sobre a

liberação de dopamina. Primeiro, a corticosterona atuaria sobre uma enzima-chave

no processo de síntese de dopamina, a tirosina hidroxilase – TH (ORTIZ et al.,

1995). Estes autores constataram os efeitos estimulatórios dos glicocorticóides sobre

a tirosina hidroxilase na área tegmentar ventral. Segundo, a corticosterona

modificaria o catabolismo da dopamina ao inibir a atividade da monoaminaoxidase –

MAO (ROUGÉ-PONT et al., 1998). Fato consistente com as mudanças induzidas por

este hormônio nos metabólitos da dopamina. A injeção de dexametasona

(glicocorticóide sintético de ação longa), por exemplo, reduz a concentração de HVA,

metabólito resultante da atividade da MAO (LERET et al., 1998). Terceiro, os

glicocorticóides facilitariam a taxa de disparo de neurônios dopaminérgicos

mesolímbicos (OVERTON et al., 1996). Quarto, os glicocorticóides modulam a

atividade dopaminérgica, tendo em vista que a adrenalectomia diminui a densidade

de receptores dopaminérgicos D1 e D2 (BIRON et al., 1992), enquanto a

administração de corticosterona aumenta a atividade dopaminérgica, alterando a

resposta dos receptores dopaminérgicos a agonistas da dopamina (FAUNT e

CROCKER, 1988). Finalmente, Gilad e colaboradores (1987) assertam que a

corticosterona decresceria a recaptação de dopamina. Os gicocorticóides são

capazes de adentrar livremente o cérebro, no qual interagem com sistemas

Page 36: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

21

neurotransmissores como a dopamina, serotonina e noradrenalina (MCEWEN et al.,

1986). Ao interagir com sistemas de recaptação como o DAT (transportador de

dopamina) – este, alvo primário de compostos dopaminérgicos indiretos tal como a

anfetamina e cocaína – os glicocorticóides bloqueariam a remoção sináptica de

dopamina, evento que geraria um aumento na concentração de dopamina na fenda

sináptica. Portanto, o DAT poderia constituir um substrato potencial através do qual

os esteróides agiriam sobre o sistema dopaminérgico (SARNYAI et al., 1998).

2.6- Relação entre a corticosterona e o processo de condicionamento

Uma das características fundamentais dos indivíduos é sua capacidade de

adquirir, reter e usar informações ou conhecimentos, ou seja, sua capacidade

mnemônica. A memória está intimamente relacionada à aprendizagem. Enquanto a

aprendizagem corresponde ao primeiro estágio da memória, a aquisição de novas

informações, a memória refere-se ao processo de retenção, a curto ou longo prazo,

de conhecimentos ou eventos, associado à capacidade de evocá-los, ou relembrá-

los (TOMAZ, 1993).

Desse modo, a formação de memórias inicia-se com a aquisição da

informação que chega aos sistemas neurais. Após a aquisição, a informação é

armazenada no sistema de memória a curto prazo e, para que perdure, deve ser

consolidada, isto é, transferida para o sistema de memória estável ou a longo prazo

(TOMAZ, 1993). Finalmente, pela evocação ou lembrança tem-se acesso à

informação armazenada para utilizá-la na cognição e emoção ou exteriorizá-la num

determinado comportamento (LENT, 2002). Em outras palavras, a aprendizagem

consiste num processo de aquisição de novas informações a serem retidas na

memória. Já o processo mnemônico consiste num armazenamento seletivo de

informações, enfim, uma série de processos neurobiológicos que permitem a

aprendizagem. O condicionamento clássico e a sensibilização comportamental

constituem formas de aprendizagem e, portanto, refletem operações de memória

que o sistema nervoso deve executar (LENT, 2002).

Neste trabalho, especula-se que a estreita relação entre os processos de

aprendizagem e memória associada à alta densidade de receptores corticosteróides

em sistemas neurais implicados em tais processos sugerem o possível envolvimento

Page 37: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

22

da corticosterona no processo de condicionamento clássico. Por exemplo, a

interação de constituintes do sistema límbico, os quais regulam o processo de

memória e expressam alta densidade de ambos os tipos de receptores

corticosteróides (LUPIEN e MC EWEN, 1997), pode ser de particular relevância na

determinação dos efeitos da corticosterona sobre o processo de condicionamento

clássico. Vale ressaltar, porém, que, até o momento, não foi proposto um papel

consistente para os hormônios glicocorticóides no processo de condicionamento

clássico.

Outro fato a ser considerado é que os corticóides compartilham as principais

ações neuroquímicas e comportamentais com os psicoestimulantes.

Neuroquimicamente, ambos elevam as concentrações extracelulares de dopamina

em projeções estriatais ventrais de neurônios dopaminérgicos mesencefálicos

(PIAZZA e LE MOAL, 1997). Comportamentalmente, assim como os

psicoestimulantes, a corticosterona tem efeitos motores e facilita a aprendizagem do

comportamento de auto-administração de drogas, ambas as respostas por meio da

ativação da transmissão dopaminérgica mesencefálica (PIAZZA e LE MOAL, 1997).

Finalmente, o tratamento repetido com glicocorticóides, similarmente ao observado

com os psicoestimulantes, induz o processo de sensibilização comportamental

(DEROCHE et al., 1992).

Desde que a aquisição da resposta locomotora condicionada pelos

psicoestimulantes dependa da ativação de sistemas dopaminérgicos, em particular,

das vias mesolímbica e nigro-estriatal (SCHIFF, 1982), não seria possível, então,

que a corticosterona, ao atuar basicamente no nível desses sistemas

dopaminérgicos, participasse do desenvolvimento do condicionamento clássico?

2.7- Corticosterona e o processo de sensibilização

A administração repetida de psicoestimulantes ou exposição repetida ao

estresse resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização (REID et al.,

1998). A sensibilização comportamental consiste na elevação progressiva dos

efeitos motores das drogas psicoestimulantes. O tratamento repetido com

estressores também redunda num processo de sensibilização. Aqui, os sujeitos

sensibilizados pelo estresse exibem uma insigne resposta locomotora aos

Page 38: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

23

psicoestimulantes, um fenômeno referido como sensibilização cruzada (PRASAD et

al., 1998).

Condições estressantes acrescem não só a resposta locomotora aos

psicoestimulantes, como também a auto-administração destas drogas aumentando a

vulnerabilidade dos indivíduos ao abuso de drogas (MARINELLI et al., 1996;

PRASAD et al., 1998; MARINELLI e PIAZZA, 2002). Postula-se que o acréscimo nos

efeitos dos psicoestimulantes produzido pelo estresse depende de um aumento nos

níveis de corticosterona (MARINELLI et al., 1996). Ambos, estresse e

psicoestimulantes promovem a ativação do eixo HHA que culmina na elevação dos

níveis de corticosterona circulante (PRASAD et al., 1998).

Basicamente, três linhas de evidência indicam que a corticosterona

potencializa os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes. Primeiro,

há uma correlação positiva entre a secreção de corticosterona e a sensibilidade aos

efeitos reforçadores dos psicoestimulantes. Segundo, a administração de

corticosterona, anteriormente à auto-administração de anfetamina, aumenta as

propriedades reforçadores desta droga. Terceiro, a supressão crônica da secreção

de corticosterona pela adrenalectomia ou pela administração de metirapona diminui

os efeitos psicomotores e reforçadores dos psicoestimulantes (DEROCHE et al.,

1992; PIAZZA et al., 1994; MARINELLI et al., 1996).

Embora esteja estabelecido o papel crítico da corticosterona para o

desenvolvimento da sensibilização induzida pelo estresse, pouco se conhece acerca

do papel dos glicocorticóides na manutenção dessa sensibilização (REID et al.,

1998). Um estudo (PRASAD et al., 1998) investigatório sobre a sensibilização

induzida pela cocaína indicou que a adrenalectomia bloqueou a resposta locomotora

sensibilizada diante de uma subseqüente exposição à cocaína, mas apenas quando

tal exposição era realizada logo após a retirada da droga (um dia). Em contraste, a

adrenalectomia não afetou a sensibilização à cocaína quando a exposição foi feita

após um período de retirada de doze dias. Em suma, a sensibilização a longo prazo

à cocaína não seria afetada pela supressão da adrenal. Estes resultados entram em

desacordo com prévios registros que sugerem que a sensibilização cruzada,

induzida pelo estresse, aos efeitos da anfetamina, cocaína e morfina, depende dos

hormônios adrenais (DEROCHE et al., 1992). Segundo Piazza e Le Moal (1997), a

relevância psicopatológica da sensibilização induzida pelo estresse apóia-se

justamente no fato de tratar-se de um fenômeno a longo prazo. Estes autores

Page 39: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

24

explanam que as respostas dopaminérgica e comportamental às drogas podem ser

visualizadas por bastante tempo após o término dos eventos estressantes.

Page 40: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

25

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1- Sujeitos

Foram utilizados 83 ratos machos, albinos, Wistar, pesando entre 250-300 g,

provenientes do Biotério Central da UENF, Campos dos Goitacazes, RJ. Os animais

foram mantidos em gaiolas individuais de plástico, tendo livre acesso à água e à

ração padronizada de laboratório. As gaiolas ficavam em uma sala do setor de

Farmacologia do Laboratório de Sanidade Animal (LSA), com temperatura

controlada (22 ± 2.0 C) e com ciclo de luz claro e escuro de 12 em 12 horas (luz das

7 às 19 horas). O experimento foi conduzido na fase clara, no horário entre 13 e 19

horas, tendo em vista que o laboratório não se encontra adaptado para realização

dos experimentos durante a fase escura, período de atividade dos roedores. Os

animais foram manipulados individualmente por 5 minutos diários, durante 7 dias

antes do início do procedimento experimental.

3.2- Ambiente experimental

A sala experimental consistiu de iluminação vermelha, temperatura

controlada e som de um ventilador como ruído de fundo. Os testes para atividade

locomotora foram realizados em uma arena quadrada medindo 60x60x45 cm, com

paredes pintadas na cor preta. Objetivando gravar cada sessão-teste para

subseqüente análise da atividade horizontal, avaliada por meio do número de

Page 41: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

26

cruzamentos, um sistema de filmagem, contendo uma câmera, foi montado a uma

altura de 60 cm acima da arena, acoplado a uma televisão e um vídeo cassete,

ambos localizados fora da sala.

3.3- Drogas

A apomorfina-Hcl (Sigma, ST. Louis, Mo, USA), – nas doses de 0,5 mg/kg

(volume de administração: 1 ml/kg) e 2 mg/kg (volume de administração: 1 ml/kg),

dissolvida numa solução 0,1% m/v de ácido ascórbico – foi administrada por via

subcutânea. A metirapona (2-Methyl-1,2-di-3-pyridyl-1-propanone) foi administrada

igualmente, por via subcutânea, numa dose de 50 mg/kg (volume de administração:

2 ml/kg) dissolvida em solução salina 0,9% m/v. As soluções de ácido ascórbico

0,1% m/v e salina 0,9% m/v também foram utilizadas como veículo.

3.4- Procedimento experimental

3.4.1- Período de habituação (1º- 3º dia)

Os ratos foram habituados à arena-teste por 30 minutos diários durante 3

dias consecutivos. O objetivo deste procedimento era eliminar quaisquer atitudes

comportamentais resultantes de uma conduta exploratória normal por parte dos

roedores, tendo em vista sua exposição a um ambiente inteiramente novo. Nesse

período, os ratos ainda foram habituados ao procedimento de injeção, administração

de veículo, antes e após a caixa experimental, com a finalidade de excluir qualquer

influência sobre a expressão da resposta locomotora durante a fase de

condicionamento. Nesse período, os animais foram randomicamente designados

para seus respectivos grupos experimentais.

Page 42: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

27

3.4.2- Fase de condicionamento (4º- 8º dia)

Terminado o período de habituação, seguiu-se a fase de condicionamento na

qual ao longo de consecutivos 5 dias os animais receberam tratamentos

farmacológicos. Posteriormente, os ratos foram avaliados comportamentalmente

durante 30 minutos na arena-teste.

3.4.3- Período de retirada da droga 1 (9º- 10º dia)

Findada a fase de condicionamento, durante 2 dias, os ratos não sofreram

manipulação farmacológica nem comportamental, o escopo era eliminar a influência

dos tratamentos farmacológicos.

3.4.4- Teste de condicionamento (11° dia)

Neste teste, todos os animais do experimento 1 receberam o veículo da

apomorfina, ácido ascórbico; os do experimento 2, receberam o veículo da

metirapona, solução salina; e aqueles do experimento 3, receberam o veículo da

apomorfina, ácido ascórbico. E, posteriormente, foram colocados na arena-teste

para registro de sua atividade locomotora durante 30 minutos.

3.4.5- Período de retirada da droga 2 (12º- 13° dia)

Seguinte ao teste de condicionamento, os ratos foram novamente

submetidos a um período de remoção da droga ao longo de 2 dias.

3.4.6- Teste de sensibilização comportamental (14º dia)

Neste teste, os animais do experimento 1 receberam apomorfina, os do

experimento 2 receberam metirapona e aqueles do experimento 3 receberam

Page 43: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

28

apomorfina sendo, posteriormente, colocados na arena-teste para registro de sua

atividade locomotora durante 30 minutos.

3.4.7- Quadro 1: Cronograma do procedimento experimental

3.5- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

Este experimento teve como objetivo verificar se as administrações

sistêmicas de diferentes doses de apomorfina (0,5 e 2,0 mg/Kg) produziriam

aumento da atividade locomotora incondicionada e desenvolvimento dos processos

de sensibilização comportamental e de condicionamento induzido por drogas.

Para isso, utilizou-se o procedimento experimental descrito no item 3.4 com

os seguintes grupos experimentais:

��Fase de condicionamento:

• Grupo 1 (n=5): Apomorfina 0,5 mg/Kg-associada ao ambiente experimental

(APO0,5-ASS)

• Grupo 2 (n=6): Apomorfina 2,0 mg/Kg-associada ao ambiente experimental

(APO2,0-ASS)

Os animais receberam administração de apomorfina e, após 20 minutos,

foram colocados na arena-teste para o registro da atividade locomotora durante 30

minutos. Após 30 minutos da retirada dos animais da arena-teste, já na caixa-viveiro,

Habituação 1º - 3º Dia

Fase de Condicionamento 4º - 8º Dia

Período de Retirada da Droga 1 9º - 10º Dia

Teste de Condicionamento 11º Dia

Período de Retirada da Droga 2 12º - 13º Dia

Teste de Sensibilização 14º Dia

Page 44: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

29

os ratos receberam o veículo da apomorfina (solução de ácido ascórbico 0,1% m–v).

Assim, os animais desses grupos experimentaram os efeitos da droga na caixa-

viveiro.

• Grupo 3 (n=6): Apomorfina 0,5 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental

(APO0,5-NASS)

• Grupo 4 (n=6): Apomorfina 2,0 mg/Kg-não associada ao ambiente experimental

(APO2,0-NASS)

Os animais receberam administração de veículo e, após 20 minutos, foram

colocados na arena-teste para registro de sua atividade locomotora por 30 minutos.

Após 30 minutos da sua retirada do ambiente experimental, os animais receberam

administração de apomorfina e foram colocados na caixa-viveiro. Os animais desses

grupos receberam concentrações da droga equivalentes às recebidas pelos animais

dos grupos associados, porém os efeitos da droga não foram associados ao

ambiente experimental.

• Grupo 5 (n=6): Controle (APO-VEIC)

Os ratos do grupo-controle receberam veículo (solução de ácido ascórbico

0,1%) tanto na arena-teste como na caixa-viveiro.

APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg)

ARENA 30’ VEÍCULO 20’ 30’

APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg)

ARENA 30’ VEÍCULO 20’ 30’

ARENA 30’ VEÍCULO 20’ 30’

VEÍCULO

Page 45: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

30

��Teste de condicionamento:

Todos os animais dos 5 grupos experimentais receberam administração do

veículo da apomorfina, solução de ácido ascórbico 0,1% m-v e, após 20 minutos,

foram colocados na arena-teste por 30 minutos.

��Teste de Sensibilização:

Os animais dos grupos apomorfina-associada e apomorfina-não associada

receberam administração de apomorfina e, 20 minutos após, foram colocados na

arena-teste durante 30 minutos. Os animais do grupo controle receberam veículo, no

ambiente experimental, 20 minutos antes do registro de sua atividade locomotora.

3.6- Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

Este experimento teve como objetivo verificar se as administrações

sistêmicas de metirapona (50,0 mg/Kg) produziriam desenvolvimento do processo de

sensibilização e condicionamento induzido por drogas. Para isso, utilizou-se o

procedimento experimental, descrito no item 3.4, com os seguintes grupos

experimentais:

��Fase de condicionamento:

• Grupo 1 (n=8): Metirapona- associada ao ambiente experimental (MET-ASS)

Os animais receberam metirapona (50 mg/kg) e, 3 horas depois, o veículo

(solução salina 0,9 % m–v). Após 20 minutos, foram colocados na arena-teste por 30

minutos. Depois de 30 minutos de sua retirada da arena-teste, os ratos receberam

veículo.

METYRAPONE (50 mg/kg)

VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 20’ 30’

Page 46: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

31

• Grupo 2 (n=8): Metirapona-não-associada ao ambiente experimental (MET-

NASS)

Os ratos receberam veículo nas 2 administrações e, 20 minutos após a

segunda administração, foram colocados na arena-teste por 30 minutos. Passados

30 minutos de sua retirada da arena, os animais receberam metirapona.

• Grupo 3 (n=9): Controle (MET-VEIC)

Os ratos do grupo controle receberam veículo (solução salina 0,9% m/v) nas

3 administrações.

��Teste de condicionamento:

Os animais dos 3 grupos experimentais receberam administração do veículo da

metirapona, solução salina 0,9% m-v e, após 3 horas, receberam uma segunda

administração de veículo e, 20 minutos após, foram colocados na arena-teste por 30

minutos.

��Teste de sensibilização:

Os animais dos grupos metirapona-associada e metirapona não-associada

receberam administração de metirapona, sendo, posteriormente, colocados na

arena-teste durante 30 minutos. Os animais do grupo controle receberam veículo, na

arena-teste, 20 minutos antes do registro de sua atividade locomotora.

METYRAPONE (50 mg/kg)

VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 20’ 30’

VEÍCULO VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 20’ 30’

Page 47: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

32

3.7- Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora

condicionada e sensibilização comportamental produzidas por administrações

sistêmicas de apomorfina

Este experimento teve como objetivo verificar o efeito da metirapona (50,0

mg/Kg) sobre o desenvolvimento dos processos de condicionamento e

sensibilização comportamental produzidos por apomorfina. Para isso, utilizou-se o

procedimento experimental, descrito no item 3.4, com os seguintes grupos

experimentais:

��Fase de condicionamento:

• Grupo 1 (n=6): Metirapona + Apomorfina 0,5 mg/Kg-associada ao ambiente

experimental (MET+APO0,5-ASS)

• Grupo 2 (n=6): Metirapona + Apomorfina 2,0 mg/Kg-associada ao ambiente

experimental (MET+APO2,0-ASS)

Os animais receberam metirapona e, 3 horas depois apomorfina. Após 20

minutos, foram instalados na arena por um período de 30 minutos. Então, 30

minutos após sua retirada da arena, receberam o veículo da metirapona (solução

salina) e, 3 horas depois, o veículo da apomorfina (solução de ácido ascórbico).

• Grupo 3 (n=6): Metirapona + Apomorfina 0,5 mg/Kg-não associada ao ambiente

experimental (MET+APO0,5-NASS)

• Grupo 4 (n=6): Metirapona + Apomorfina 2,0 mg/Kg-não associada ao ambiente

experimental (MET+APO2,0-NASS)

Os ratos receberam o veículo da metirapona na primeira administração,

veículo da apomorfina na segunda administração, metirapona na terceira

administração e apomorfina na quarta administração.

METYRAPONE (50 mg/kg)

VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 30’

APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg)

20’ 3h

METYRAPONE (50 mg/kg)

VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 30’

APOMORFINA (0,5 ou 2,0 mg/kg)

20’ 3h

Page 48: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

33

• Grupo 5 (n=6): Controle (MET+APO-VEIC)

Os ratos do grupo controle receberam, respectivamente, salina, ácido

ascórbico, salina, ácido ascórbico nas 4 administrações.

��Teste de condicionamento:

Os animais dos 5 grupos experimentais receberam administração do veículo

da apomorfina e, após 20 minutos, foram colocados na arena-teste por 30 minutos.

��Teste de sensibilização:

Os animais dos grupos metirapona + apomorfina-associada e metirapona +

apomorfina-não-associada receberam apomorfina 20 minutos antes do registro de

sua atividade locomotora no ambiente experimental.

3.8- Análise comportamental

A avaliação comportamental foi realizada por meio da quantificação da

atividade locomotora dos ratos na arena-teste. Esta arena-teste foi, para tal, dividida

em 8 quadrados de mesma dimensão, sendo registrado, durante 30 minutos, o

número de cruzamentos (número de quadrados percorridos pelo animal com as

quatro patas) dos ratos.

3.9- Análise estatística

O experimento foi instalado no delineamento inteiramente casualizado (DIC),

em um esquema fatorial com 6 repetições para os experimentos 1 e 3 e 8 repetições

para o experimento 2. Para o período de habituação, no experimento 2, teve-se um

VEÍCULO VEÍCULO ARENA 30’ 3h 30’ 20’

VEÍCULO VEÍCULO 3h

Page 49: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

34

fatorial 3x3, sendo 3 grupos experimentais e 3 dias de habituação, e nos

experimentos 1 e 3, teve-se um fatorial 5x3, sendo 5 grupos experimentais e 3 dias

de habituação. Para a fase de condicionamento, no experimento 2, teve-se um

fatorial 3x5, sendo 3 grupos experimentais e 5 dias de tratamento farmacológico, e

nos experimentos 1 e 3, teve-se um fatorial 5x5, sendo 5 grupos experimentais e 5

dias de tratamento farmacológico.

Modelo estatístico: Yijk = M + Ai + Bj + ABij + eijk

Yijk = observação referente ao animal k do grupo experimental i e dia de

administração j;

M = média de todos os animais para a variável em estudo (média geral);

Ai = efeito do subgrupo experimental i, sendo i = 1,2 e 3;

Bj = efeito do dia de administração j, sendo j = 1,2,e 3 no período de habituação e j =

1,2,3,4 e 5 na fase de condicionamento;

ABij = efeito da interação entre o grupo experimental i e o dia de administração j;

eijk = erro aleatório associado à observação yijk , supostamente independente e

normalmente distribuído;

Os dados concernentes à atividade locomotora foram interpretados pela

Análise de Variância (ANOVA) de 2 fatores, adotando-se o nível de 5% de

probabilidade para o teste F. As diferenças entre as médias dos níveis dos fatores

foram analisadas, por meio do teste de comparações múltiplas de Duncan,

adotando-se também o nível de 5% de probabilidade.

Para os testes de condicionamento e sensibilização comportamental,

realizou-se um experimento, com 6 repetições para os experimentos 1 e 3 e 8

repetições para o experimento 2, instalados no delineamento inteiramente

casualizado (DIC) com 3 grupos experimentais no experimento 2 e 5 grupos

experimentais nos experimentos 1 e 3.

Modelo estatístico: Yij = M + Ti + eij

Yij = observação referente ao animal j do grupo experimental i;

M = média de todos os animais para a variável em estudo (média geral);

Page 50: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

35

Ti = efeito do subgrupo experimental i, sendo i = 1, 2 e 3 no teste de

condicionamento e i = 1,2 ,3 e 4 no teste de sensibilização comportamental;

eij = erro aleatório associado à observação Yij , supostamente independente e

normalmente distribuído;

Os dados comportamentais foram interpretados pela Análise de Variância

(ANOVA) de 1 fator, adotando-se o nível de 5% de probabilidade para o teste F. O

teste de comparações múltiplas de Duncan foi efetuado para avaliar as diferenças

entre as médias dos níveis dos fatores.

Page 51: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

36

4. RESULTADOS

4.1- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

4.1.1- Período de habituação

A figura 1 demonstra a atividade locomotora de todos os animais

experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2

fatores indicou haver efeito principal do fator dia [F(2,72)=31,22; p=0,00], não havendo

diferença estatisticamente significativa entre os grupos [F(4,72)=0,75; p=0,56], assim

como interação dia x grupo [F(8,72)=0,31; p=0,96]. O teste de comparações múltiplas

de Duncan demonstrou que, no 3º dia os animais apresentaram atividade

locomotora menor que no 1º e no 2º dia (p<0,05). A atividade locomotora no 2º dia

também foi menor que no 1º dia (p<0,05). A redução do número de cruzamentos ao

longo dos dias evidencia a habituação dos ratos à arena-teste.

Page 52: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

37

DIA 1 DIA 2 DIA 3

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(Méd

ia +

EP

M)

0

100

200

300

400

500

600

PERÍODO DE HABITUAÇÃO-APOMORFINA

*#

Figura 1: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05). # Indica diferença significativa do 2º dia em relação ao 1º dia (Teste de Duncan; p<0,05).

4.1.2- Fase de condicionamento

A figura 2 demonstra a atividade locomotora dos grupos apomorfina-veículo ,

apomorfina-0,5 mg/kg-associada, apomorfina-0,5 mg/kg-não-associada, apomorfina-

2,0 mg/kg-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada na fase de

condicionamento. A análise de variância (ANOVA) de 2 fatores indicou haver efeito

principal do fator grupo [F(4,120)= 7,81; p= 0,00] e interação dia x grupo [F(16,120)= 2,23;

p=0,03] não havendo diferença estatisticamente significativa entre os dias [F (4,120)=

2,06; p=0,07]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que no 3º dia

da fase de condicionamento o grupo apomorfina-0,5 mg/kg-associada apresentou

atividade locomotora maior que a dos grupos apomorfina 0,5 e 2,0 mg/kg não-

associada, apomorfina-2,0 mg/kg associada e grupo veículo. O teste de

comparações múltiplas de Duncan também mostrou que a atividade locomotora do

Page 53: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

38

grupo apomorfina-2,0 mg/kg-associada foi maior que a atividade locomotora dos

grupos apomorfina 0,5 e 2,0 mg/kg não-associada, apomorfina-0,5 mg/kg associada

e grupo veículo a partir do 4º dia da fase de condicionamento (p <0,05). Estes

resultados indicam que a administração de apomorfina na dose de 2,0 mg/kg,

associada ao ambiente experimental, produziu um aumento progressivo na atividade

locomotora.

FASE DE CONDICIONAMENTO - APOMORFINA

Dias

4 5 6 7 8

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

100

200

300

400

500

600

APO-VEIC APO 0,5-ASS APO 0,5-NASS APO 2,0-ASS APO 2,0-NASS

*

*

#

Figura 2: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. # Indica diferença significativa do grupo apomorfina 0,5 mg/kg em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05). * Indica diferença significativa do grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 54: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

39

4.1.3- Teste de condicionamento

A figura 3 demonstra a atividade locomotora de todos os grupos

experimentais no teste de condicionamento. A análise de variância (ANOVA) de 1

fator [F(4,17)=6,92; p=0,00] seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan,

evidenciou maior atividade locomotora dos grupos apomorfina-0,5 mg/kg-associada

e apomorfina-2,0 mg/kg- associada em relação a dos demais grupos (p<0,05), não

havendo diferença estatisticamente significativa entre os demais grupos. Estes

resultados indicam que a apomorfina nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg produz

condicionamento.

TESTE DE CONDICIONAMENTO- APOMORFINA

Grupos

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

100

200

300

400

500

600

APO-VEICAPO 0,5-ASSAPO 0,5-NASSAPO 2,0-ASSAPO 2,0-NASS

* *

Figura 3: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos

animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa dos grupos apomorfina 0,5 mg/kg-associada e apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

4.1.4- Teste de sensibilização

Page 55: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

40

A figura 4 demonstra a atividade locomotora dos grupos apomorfina-veículo,

apomorfina-0,5 mg/kg-associada, apomorfina-0,5 mg/kg-não-associada, apomorfina-

2,0 mg/kg-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada no teste de

sensibilização. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(4,24)=5,83; p=0,00]

seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo

apomorfina-2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos

outros grupos (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa entre os

grupos apomorfina-veículo , apomorfina-0,5 mg/kg associada, apomorfina-0,5 mg/kg-

não-associada e apomorfina-2,0 mg/kg-não-associada. Estes resultados indicam que

a apomorfina na dose de 2,0 mg/kg produz sensibilização comportamental.

TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- APOMORFINA

Grupos

0 1 2 3 4 5 6

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

100

200

300

400

500

600

APO- VEICAPO 0,5- ASSAPO 0,5- NASSAPO 2,0- ASSAPO 2,0- NASS*

Figura 4: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos

animais no teste de sensibilização. * Indica diferença significativa do grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 56: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

41

4.2 - Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

4.2.1- Período de habituação

A figura 5 demonstra a atividade locomotora de todos os animais

experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2

fatores mostrou haver diferença significativa entre os dias [F(2,66)=9,85; p=0,00], não

havendo efeito dos grupos [F(2,66)=0,83; p=0,44] e nem interação dia x grupo [F

(4,66)=0,20; p=0,94]. O teste de comparações múltiplas de Duncan mostrou que, no 1º

dia, os animais apresentaram atividade locomotora maior que no 2º e no 3º dia

(p<0,05). A atividade locomotora no 2º dia também foi maior que no 3º dia (p<0,05).

Estes resultados indicam habituação dos ratos à arena-teste.

PERÍODO DE HABITUAÇÃO- METIRAPONA

DIA 1 DIA 2 DIA 3

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(Méd

ia +

EP

M)

0

50

100

150

200

250

300

#

*

Figura 5: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos

animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05). # Indica diferença significativa do 2º dia em relação ao 1º dia (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 57: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

42

4.2.2- Fase de condicionamento

A figura 6 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo,

metirapona-associada e metirapona-não-associada na fase de condicionamento.

Segundo a análise de variância (ANOVA) de 2 fatores, houve efeito dos grupos

[F(2,109)=11,77; p=0,00], entretanto, não houve efeito dos dias [F(4,109) = 0,06; p=0,99],

assim como interação dia X grupo [F(8,109) = 1,33; p=0,24]. O teste de comparações

múltiplas de Duncan mostrou que o grupo metirapona-associada apresentou

atividade locomotora maior que a dosdemais grupos (p<0,05). Estes resultados

indicam que a administração de metirapona na dose de 50 mg/Kg produziu aumento

da atividade locomotora.

FASE DE CONDICIONAMENTO- METIRAPONA

MET-VEIC MET-ASS MET-NASS

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(Méd

ia +

EP

M)

0

50

100

150

200

250

300

*

Figura 6: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 58: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

43

4.2.3 – Teste de condicionamento

A figura 7 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo,

metirapona-associada e metirapona-não-associada no teste de condicionamento. A

análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(2,22)=4,78; p=0,02], seguida do teste de

comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo metirapona-

associadoaapresentou atividade locomotora maior que a dos grupos metirapona-

veículo e metirapona-não-associada (p<0,05), não havendo diferença

estatisticamente significativa entre estes grupos. Tais resultados evidenciam que a

metirapona na dose de 50 mg/Kg produz condicionamento.

TESTE DE CONDICIONAMENTO- METIRAPONA

Grupos

0 1 2 3 4

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

50

100

150

200

250

300

MET- VEICMET- ASSMET- NASS

*

Figura 7: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

4.2.4 – Teste de sensibilização

Page 59: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

44

A figura 8 demonstra a atividade locomotora dos grupos metirapona-veículo,

metirapona-associada e metirapona-não-associada no teste de sensibilização. A

análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(2,22)=2,25; p=0,13] mostrou que não

houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos metirapona-veículo,

metirapona-associada e metirapona-não-associada. Estes resultados evidenciam

que a metirapona na dose de 50 mg/Kg não produz sensibilização comportamental.

TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- METIRAPONA

Grupos

0 1 2 3 4

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

50

100

150

200

250

300

MET- VEICMET- ASSMET- NASS

Figura 8: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de sensibilização.

Page 60: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

45

4.3– Experimento 3: efeito da metirapona sobre a atividade locomotora

condicionada e sensibilização comportamental produzidas por administrações

sistêmicas de apomorfina

4.3.1 – Período de habituação

A figura 9 demonstra a atividade locomotora de todos os animais

experimentais no período de habituação. A análise de variância (ANOVA) de 2

fatores indicou haver efeito principal do fator dia [F(2,75)=21,45; p=0,00], não

havendo diferença estatisticamente significativa entre os grupos [F(4,75)=0,86; p=0,49]

assim como interação dia x grupo [F(8,75)=0,76; p=0,64]. O teste de comparações

múltiplas de Duncan mostrou que no 3º dia os animais apresentaram atividade

locomotora menor que no 1º e 2º dias (p<0,05). A redução do número de

cruzamentos ao longo dos dias indica habituação dos animais à arena-teste.

PERÍODO DE HABITUAÇÃO- METIRAPONA + APOMORFINA

DIA 1 DIA 2 DIA 3

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(Méd

ia +

EP

M)

0

200

400

600

800

1000

*

Figura 9: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos

animais no período de habituação. * Indica diferença significativa do 3º dia em relação aos 1º e 2º dias (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 61: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

46

4.3.2 – Fase de condicionamento

A figura 10 demonstra a atividade locomotora dos grupos

metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-associada,

metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, metirapona+apomorfina-2,0

mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada na fase de

condicionamento. Segundo a análise de variância (ANOVA) de 2 fatores houve

efeito do fator principal grupo [F(4,125)=32,99; p=0,00], e interação dia X grupo

[F(16,125)=3,15; p=0,00], sem efeito dos dias [F(4,125)=1,70; p=0,15]. O teste de

comparações múltiplas de Duncan mostrou que o grupo metirapona + apomorfina

2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora maior que a dos outros

grupos (p<0,05) a partir do 2º dia da fase de condicionamento. Estes resultados

indicam que a administração de metirapona na dose de 50 mg/Kg, anterior à

apomorfina, na dose de 2,0 mg/Kg, associada ao ambiente experimental, produziu

um aumento progressivo na atividade locomotora.

Page 62: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

47

FASE DE CONDICIONAMENTO-METIRAPONA + APOMORFINA

Dias

4 5 6 7 8

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(Méd

ia +

EP

M)

0

200

400

600

800

1000

MET+APO-VEIC MET+APO0,5-ASS MET+.APO0,5-NASS MET+APO2,0-ASS MET+APO2,0-NASS

*

*

*

*

Figura 10: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais na fase de condicionamento. * Indica diferença significativa do grupo metirapona+apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos no mesmo dia (Teste de Duncan; p<0,05)

4.3.3 – Teste de condicionamento

A figura 11 demonstra a atividade locomotora dos grupos

metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-associada,

metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, metirapona+apomorfina-2,0

mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada no teste de

condicionamento. A ANOVA de 1 fator [F(4,25)=6,07; p=0,01], seguida do teste de

comparações múltiplas de Duncan, evidenciou maior atividade locomotora dos

Page 63: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

48

grupos metirapona + apomorfina-0,5 mg/kg-associada, metirapona + apomorfina-0,5

mg/kg-não-associada e metirapona + apomorfina-2,0 mg/kg-associada em relação

aos demais grupos (p<0,05), não havendo diferença estatisticamente significativa

entre os demais grupos experimentais. Estes resultados indicam que a metirapona

não bloqueou a aquisição do condicionamento à apomorfina.

*

*

Grupos

TESTE DE CONDICIONAMENTO - METIRAPONA + APOMORFINA

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

200

400

600

800

1000

MET+APO- VEICMET+APO 0,5- ASSMET+APO 0,5- NASSMET+APO 2,0- ASSMET+APO 2,0- NASS

** *

Figura 11: Média e Erro-Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos animais no teste de condicionamento. * Indica diferença significativa dos grupos metirapona + apomorfina 0,5 mg/Kg –associada, metirapona + apomorfina 0,5 mg/Kg -não-associada e metirapona + apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

4.3.4 – Teste de sensibilização

A figura 12 demonstra a atividade locomotora dos grupos

metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-associada,

metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não-associada, metirapona+apomorfina-2,0

mg/Kg-associada e metirapona+apomorfina-2,0 mg/Kg-não-associada no teste de

sensibilização. A análise de variância (ANOVA) de 1 fator [F(4,25)=6,89; p=0,01],

Page 64: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

49

seguida do teste de comparações múltiplas de Duncan, mostrou que o grupo

metirapona + apomorfina-2,0 mg/kg-associada apresentou atividade locomotora

maior que a dos demais grupos, não havendo diferença estatisticamente significativa

entre os grupos metirapona+apomorfina-veículo, metirapona+apomorfina 0,5 mg/Kg-

associada, metirapona+apomorfina-0,5 mg/Kg-não–associada e

metirapona+apomorfina 2,0 mg/Kg-não-associada . Estes resultados indicam que a

metirapona não bloqueou a expressão da sensibilização comportamental induzida

pela apomorfina.

TESTE DE SENSIBILIZAÇÃO- METIRAPONA + APOMORFINA

Grupos

0 1 2 3 4 5 6

mer

o d

e C

ruza

men

tos

(M

édia

+ E

PM

)

0

200

400

600

800

1000

MET+APO- VEICMET+APO 0,5- ASSMET+APO 0,5- NASSMET+APO 2,0 - ASSMET+APO 2,0 - NASS

*

Figura 12: Média e Erro- Padrão da Média (EPM) do número de cruzamentos emitidos pelos

animais no teste de sensibilização. * Indica diferença significativa do grupo metirapona + apomorfina 2,0 mg/kg-associada em relação aos demais grupos (Teste de Duncan; p<0,05).

Page 65: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

50

5. DISCUSSÃO

5.1- Experimento 1: efeitos de administrações sistêmicas de apomorfina na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

No presente trabalho, os resultados mostraram que a administração repetida

de apomorfina nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg produziu condicionamento. Como

índice de desenvolvimento do processo de condicionamento induzido por drogas,

comparou-se o nível de atividade locomotora exibido pelos animais do grupo

apomorfina-associada em relação aos outros grupos, particularmente ao grupo

controle. Durante a fase de condicionamento, os animais receberam apomorfina 20

minutos antes de serem colocados na arena-teste para registro de sua atividade

locomotora. A apomorfina atuou como um estímulo incondicionado que promoveu

uma resposta comportamental também incondicionada – o aumento estatisticamente

significativo da atividade locomotora no caso do grupo apomorfina-2,0 mg/kg-

associada. No dia do teste de condicionamento, os animais de todos os grupos

receberam salina. Os grupos que receberam apomorfina associada ao ambiente

experimental apresentaram atividade locomotora maior que a dos demais grupos,

particularmente em relação grupo controle. Ou seja, o ambiente experimental,

através de sua história de associação com a exposição à droga atuou como um

estímulo condicionado, promovendo aumento da locomoção, na ausência da

apomorfina.

Page 66: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

51

Estes resultados corroboram aqueles verificados por Schiff (1982), nos quais

a administração de apomorfina e anfetamina associada a um estímulo ambiental

produziu acréscimos nas atividades dopaminérgicas mesolímbica e nigroestriatal e

desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada. Segundo Schiff (1982),

os agonistas dopaminérgicos funcionam como um estímulo incondicionado para

aquisição da resposta condicionada. Franklin e Druhan (2000) observaram que

lesões dos terminais mesoacumbens com a neurotoxina, 6-hidroxidopamina,

obstaram a hiperatividade condicionada induzida por administrações sistêmicas de

anfetamina. Pert e colaboradores (1990) também verificaram que a locomoção

condicionada induzida por cocaína foi bloqueada por lesões com 6-hidroxidopamina

na amígdala e núcleo acumbens. Desse modo, os efeitos comportamentais oriundos

do uso de agonistas dopaminérgicos diretos, como a apomorfina, e agonistas

indiretos, como a anfetamina e cocaína, podem se tornar condicionados (GOLD et

al., 1988; MATTINGLY e GOTSICK, 1989; DAMIANOPOULOS e CAREY, 1992).

Por outro lado, tem sido sugerido que os efeitos condicionados das drogas,

na verdade, representariam uma conduta exploratória normal por parte dos

roedores. Em outras palavras, o tratamento com agonistas dopaminérgicos

prejudicaria a capacidade dos ratos em se habituarem ao ambiente experimental. A

resposta condicionada resultaria de uma atividade exploratória dos ratos, tendo em

vista sua exposição a um ambiente inteiramente novo (FILE et al., 1977). Esta

hipótese, denominada ausência de habituação, surgiu de observações nas quais a

resposta locomotora condicionada exibida pelos ratos, que haviam recebido droga

associada ao ambiente experimental, era similar àquela exibida pelos ratos-controle,

em sua primeira exposição ao ambiente-teste (TIRELLI e HEIDBREDER, 1999).

Entremente, os resultados deste trabalho demonstraram que os grupos que

receberam apomorfina não associada ao ambiente experimental apresentaram

atividade locomotora menor que os grupos-associados, ratificando a relevância do

contexto ambiental na aquisição da resposta condicionada.

Apesar da administração de apomorfina em ambas as doses ter produzido

condicionamento, apenas o grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada apresentou um

aumento estatisticamente significativo na atividade locomotora incondicionada. Este

achado indica que existe uma dissociação entre as respostas condicionada e

incondicionada. Ou seja, a aquisição da resposta locomotora condicionada

independe do aumento na atividade locomotora incondicionada ao longo da fase de

Page 67: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

52

condicionamento, sugerindo que, possivelmente, mecanismos diferentes medeiem

essas respostas comportamentais.

Consistentes com os prévios relatos (CASTRO et al., 1985; MATTINGLY et

al., 1988), os presentes resultados também mostraram que administrações repetidas

de apomorfina produziram sensibilização. O aumento progressivo da resposta

locomotora, durante a fase de condicionamento, e sua exacerbação, no dia do teste

de sensibilização, foram utilizados como índices de desenvolvimento do processo de

sensibilização comportamental. Contudo, os resultados mostraram que o efeito do

tratamento repetido com apomorfina sobre a locomoção é dose-dependente. Neste

trabalho, verificou-se que apenas a dose de 2,0 mg/kg de apomorfina resultou em

sensibilização. Sabe-se que a administração repetida de agonistas dopaminérgicos

resulta no desenvolvimento do processo de sensibilização comportamental

(MATTINGLY et al., 1991).

A literatura científica estabelece que uma atividade dopaminérgica elevada,

advinda do emprego de agonistas dopaminérgicos, de modo geral, implica uma

hiperatividade locomotora, do mesmo modo que um decréscimo na

neurotransmissão dopaminérgica redunda em hipomotilidade (BENINGER et al.,

1989). Segundo Mattingly e colaboradores (1989), altas doses de apomorfina (> 1,0

mg/kg) produzem aumento progressivo da locomoção, enquanto baixas doses (< 1,0

mg/kg) geram redução desta atividade. Kinion e colaboradores (1984) apontam que

baixas doses de apomorfina (< 0,1 mg/kg) redundam na sensibilização do

comportamento estereotipado. Acredita-se que as atividades locomotora e

estereotipada induzidas pela apomorfina constituam comportamentos mediados por

distintas vias dopaminérgicas. Especificamente, a estereotipia resultaria da

estimulação de receptores estriatais, ao passo que a locomoção seria mediada pelo

sistema dopaminérgico mesolímbico (MATTINGLY et al., 1988).

Baixas doses de apomorfina atuam preferencialmente sobre auto-receptores

dopaminérgicos D2. Apesar dos receptores D2 serem encontrados pré e pós-

sinapticamente, os sítios pré-sinápticos são 6 a 10 vezes mais sensíveis à

apomorfina. Por outro lado, altas doses estimulam tanto os auto-receptores quanto

os receptores pós-sinápticos (CREESE et al., 1983).

A literatura tem sugerido que a sensibilização motora induzida por agonistas

dopaminérgicos, como apomorfina, estaria relacionada à tolerância dos auto-

receptores (ROBINSON e BECKER, 1986). Nesta hipótese, os auto-receptores D2

Page 68: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

53

tornar-se-iam menos sensíveis ou sofreriam regulação decrescente (“down-

regulation”) diante de repetidas exposições a agonistas dopaminérgicos (ROBINSON

e BECKER, 1986). Esta hipótese, porém, não explica a sensibilização motora com a

dose de 2,0 mg/kg, e não com 0,5 mg/kg, observada no presente trabalho.

Desde que 0,5 mg/kg de apomorfina represente uma baixa dose

(MATTINGLY et al., 1989), haveria uma estimulação preferencial dos auto-

receptores D2 que, ao se tornarem subsensitivos, apresentariam um decréscimo em

seu efeito inibitório sobre a síntese e liberação de dopamina promovendo uma

hipersensibilidade dos receptores dopaminérgicos pós-sinápticos e, conseqüente,

aumento da atividade locomotora o que, neste caso, não ocorreu. Creese e

colaboradores (1993) mencionam que o efeito de baixas doses equivale ao

tratamento repetido com antagonistas. O tratamento com antagonistas

dopaminérgicos promoveria uma hipersensibilidade comportamental a agonistas que

seria mediada por um acréscimo no número de receptores dopaminérgicos

(CREESE et al, 1983).

Além disso, a dose de 2,0 mg/kg produziu sensibilização comportamental.

Nesta dose, a apomorfina estaria atuando nos auto-receptores e nos receptores

pós-sinápticos. Portanto, seria razoável afirmar que a sensibilização a esta dose alta

de apomorfina resultou de seus efeitos pós-sinápticos, ou seja, a estimulação dos

receptores pós-sinápticos gerou aumento na atividade locomotora (MATTINGLY et

al., 1988). Esta hipersensibilidade comportamental não está relacionada a um

aumento na densidade de receptores, visto que o número de receptores encontra-se

reduzido ou inalterado após o tratamento repetido com agonistas dopaminérgicos

(RIFFEE et al., 1982). Não obstante, existem evidências que propõem o

envolvimento de alterações pós-sinápticas duradouras na expressão do processo de

sensibilização a psicoestimulantes. Dentre essas alterações, incluem-se

,respectivamente: aumento da atividade da proteína G, ativação da adenilato ciclase

com subseqüente aumento na produção de AMP cíclico e estimulação da

proteínaquinase A (PIERCE e KALIVAS, 1995).

Por outro lado, Kinion e colaboradores (1984) aventam que somente doses

inferiores a 0,1 mg/kg seriam consideradas baixas, logo, a dose de 0,5 mg/kg

consistiria numa alta dose. Mas, como explicar que a dose de 2,0 mg/kg, e não de

0,5 mg/kg, produziu sensibilização? Provavelmente, a dose de 0,5 mg/kg seja uma

dose intermediária, não suficientemente alta a ponto de promover as alterações pós-

Page 69: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

54

sinápticas necessárias para o desenvolvimento do processo de sensibilização

motora à apomorfina. A estimulação dopaminérgica também encontra-se envolvida

na mediação de outros comportamentos como autolimpeza (“grooming”) e

movimentos orais estereotipados – roer, lamber e cheirar repetidamente

(BENINGER et al., 1989). É possível, portanto, que nesta dose (0,5 mg/kg)

predomine qualquer um desses comportamentos em detrimento da atividade

locomotora. Afinal, ratos mais estereotipados, em geral, locomovem-se menos.

Uma outra hipótese que tenta explicar a sensibilização a agonistas

dopaminérgicos é a hipótese do condicionamento. De acordo com esta hipótese, o

aumento progressivo na atividade locomotora induzido por psicoestimulantes estaria

subordinado ao desenvolvimento de uma resposta locomotora condicionada a um

estímulo ambiental associado com a exposição à droga (ROBINSON e BECKER,

1986). No presente trabalho, constatou-se que, apesar de ambas as doses de

apomorfina produzirem condicionamento, somente a dose de 2,0 mg/kg resultou em

sensibilização comportamental. Além disso, os animais do grupo apomorfina 0,5

mg/kg-associada exibiram uma atividade locomotora similar a dos animais do grupo

apomorfina 0,5 mg/kg-não-associada. Estes resultados são inconsistentes com a

hipótese do condicionamento. Entretanto, a sensibilização motora à apomorfina só

ocorreu no grupo apomorfina 2,0 mg/kg-associada ao ambiente experimental, o

qualapresentou aumento progressivo da atividade locomotora ao longo da fase de

condicionamento, assim como uma atividade locomotora maior que os demais

grupos no teste de sensibilização. De onde se infere que o condicionamento,

embora não seja um fator determinante na indução do fenômeno de sensibilização,

tem participação relevante no desenvolvimento desse processo.

5.2- Experimento 2: efeitos de administrações sistêmicas de metirapona na

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

Os resultados demonstraram que a administração de metirapona na dose de

50 mg/kg produziu aumento da atividade locomotora e condicionamento. Os animais

do grupo metirapona-associada exibiram maior locomoção que a dos animais dos

grupos metirapona-não-associada e controle durante a fase de condicionamento e

no teste de condicionamento.

Page 70: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

55

Segundo Conte-Devolx e colaboradores (1992), a administração de

metirapona inibe a síntese de corticosterona promovendo aumento compensatório

na síntese e secreção do fator de liberação de corticotropina (CRF), do hormônio

adrenocorticotrópico (ACTH) e outros neuropeptídeos hipotalâmicos e hipofisários. A

secreção de corticosterona é controlada por uma alça de retroalimentação

(“feedback”) negativa, ativada por atuação da corticosterona circulante. Esta

corticosterona, por sua vez, atua sobre receptores corticosteróides hipocampais,

hipotalâmicos e hipofisários inibindo a secreção de CRF, ACTH e de outros

neuropeptídeos (KELLER-WOOD e DALLMAN, 1984).

A ausência de corticosterona impede a ativação da alça de “feedback”

inibitório sobre os neurônios parvocelulares dos núcleos paraventriculares do

hipotálamo que, então, liberam secretagogos do hormônio adrenocorticotrópico,

dentre os quais, os mais importantes são o CRF e a arginina-vasopressina – AVP

(HERMAN e CULLINAN, 1997). A arginina-vasopressina atua como um secretagogo

para corticotropina potencializando significativamente os efeitos do CRF sobre a

liberação de ACTH (SCHIMMER e PARKER, 1996).

De acordo com Shaham e colaboradores (1997), a metirapona atua como

um estressor farmacológico inespecífico que além de promover um aumento

compensatório na secreção de CRF e ACTH, ativa sistemas neurotransmissores,

como noradrenalina e glutamato, mobilizados em resposta ao estresse. A exposição

a eventos estressantes facilita a aquisição do processo de condicionamento

pavloviano. Vale ressaltar que o efeito do estresse sobre o condicionamento é

específico para a aquisição, não afetando a retenção ou a performance de uma

resposta após ter sido adquirida. Estes resultados mostram que o estresse facilita a

aprendizagem (SHORS et al., 2000). Tais autores propuseram que esta facilitação

da aprendizagem promovida pelo estresse envolveria a participação da amígdala e a

ativação de receptores glutamatérgicos do tipo NMDA (N-Metil-D-Aspartato).

Os resultados do presente trabalho entram em desacordo com aqueles

obtidos por Liu e colaboradores (1999), nos quais a administração de metirapona

nas doses de 12,5 e 25 mg/kg obstou o aumento na concentração de corticosterona

em resposta ao estresse, mas não o aumento na concentração basal de

corticosterona de ratos-controle não-estressados. Estes autores assertam que a

metirapona inibe apenas a síntese estimulada de corticosterona sem afetar seus

níveis basais. Estes resultados sugerem que a metirapona reduz a ligação da

Page 71: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

56

corticosterona aos receptores tipo II (GRs) enquanto a ligação deste hormônio aos

receptores tipo I (MRs) permance pelo menos parcialmente inalterada. Os

receptores MRs possuem alta afinidade pela corticosterona e aldosterona, estando

quase saturados em condições basais, enquanto os receptores GRs têm afinidade

10 vezes mais baixa que os MRs pela corticosterona, tornando-se ocupados no pico

circadiano diário e após o estresse, quando os níveis de glicocorticóides são

elevados (REUL e DE KLOET, 1985; BRADBURY et al., 1994; TSUTSUMI et al.,

2002). No presente trabalho, constatou-se que a administração de metirapona,

apesar de ter suprimido a concentração basal de corticosterona, produziu

condicionamento em virtude de seu efeito como estressor farmacológico

inespecífico. A obstaculização dos níveis basais de corticosterona e,

conseqüentemente, de sua atuação basicamente nos receptores MRs foi

assegurada pela dose de metirapona – 50 mg/kg – utilizada neste trabalho.

Segundo Roozendaal e colaboradores (1996), a metirapona gera uma

inibição temporária dose-dependente da síntese de glicocorticóides. Estes

pesquisadores também sustentam que a metirapona na dose de 50 mg/kg bloqueia

os processos mediados por ambos os receptores, tipo I e tipo II. Desse modo, a

dose de metirapona de 50 mg/kg utilizada neste trabalho inibiu a síntese basal de

corticosterona. Assim, a metirapona, apesar de ter inibido a síntese desse hormônio,

atuou como um estressor farmacológico que ao promover aumento compensatório

de CRF, ACTH e outros neuropeptídeos, facilitou o processo de aprendizagem. Isso

mostra que o papel facilitatório do estresse sobre a aprendizagem não é dependente

da ação da corticosterona e também mostra que substâncias como CRF, ACTH,

glutamato e noradrenalina, provavelmente, estariam envolvidas na aquisição do

processo de condicionamento pavloviano induzido por psicoestimulantes.

5.3- Experimento 3 (Metirapona + Apomorfina): efeito da metirapona sobre a

atividade locomotora condicionada e sensibilização comportamental

produzidas por administrações sistêmicas de apomorfina

Neste trabalho, os resultados apontaram que o pré-tratamento com

metirapona gerou uma elevação diminuta nos efeitos condicionados da apomorfina

nas doses de 0,5 e 2,0 mg/kg. Em outras palavras, a metirapona, apesar de ter

Page 72: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

57

inibido a síntese de corticosterona, não bloqueou o desenvolvimento da resposta

locomotora condicionada à apomorfina. De tal modo que, os grupos metirapona+

apomorfina-associada 0,5 mg/kg e metirapona+apomorfina-associada 2,0 mg/kg

apresentaram uma atividade locomotora maior que a dos grupos metirapona+

apomorfina-não-associadas e o grupo controle no teste de condicionamento. Faz-se

mister ressaltar que, neste experimento, a administração de metirapona seguida de

apomorfina na dose de 0,5 mg/kg produziu condicionamento, mas não promoveu

aumento significativo na atividade locomotora incondicionada ratificando os

resultados do experimento 1 para a administração exclusivamente de apomorfina.

Pôde-se observar também que a metirapona exacerbou o efeito da apomorfina na

dose de 2,0 mg/kg sobre a atividade locomotora incondicionada, igualmente,

corroborando os resultados do experimento 1. Sustenta-se, portanto, a dissociação

entre as respostas condicionada e incondicionada. Ademais, esses achados indicam

que o efeito da metirapona como estressor farmacológico inespecífico,

provavelmente, somou-se ao efeito agonista direto da apomorfina.

A metirapona, freqüentemente, é usada como uma alternativa para

adrenalectomia, por ser um potente e seletivo bloqueador da síntese de

corticosterona, atuando como uma adrenalectomia química parcial, cujos efeitos

comportamentais são dose-dependentes (KORTE, 2001). Doses baixas de

metirapona como 25 mg/kg obstam predominantemente as respostas mediadas por

receptores GRs, ao passo que uma alta dose (50 mg/kg) bloqueia as respostas

mediadas por GRs e MRs (ROOZENDAAL et al., 1996). Assim pode-se inferir que a

dose de 50 mg/kg empregada neste trabalho foi capaz não só de inibir a síntese de

corticosterona estimulada pela apomorfina, mas também os níveis basais de

corticosterona. Este fato sustenta a hipótese do aumento compensatório de CRF,

ACTH e outros neuropeptídeos, devido à não-ativação da alça de “feedback”

inibitório, controlada pelos níveis circulantes de corticosterona que, neste caso,

estariam diminuídos por efeito da metirapona. Conforme explanado anteriormente, o

CRF, ACTH e outros peptídeos, mobilizados em resposta ao estresse facilitam a

aprendizagem pavloviana (SHORS et al., 2000). O CRF, por exemplo, atua em

diversas áreas cerebrais, tais como, amígdala e locus coerulus, implicadas nos

processos de memória e aprendizagem (SHAHAM et al., 1997).

Interessantemente, os resultados deste trabalho também evidenciaram a

potencialização dos efeitos psicomotores incondicionados da apomorfina pela

Page 73: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

58

metirapona. Assim sendo, houve aumento progressivo da atividade locomotora do

grupo metirapona+apomorfina-2,0 mg/kg-associada, ao longo da fase de

condicionamento, e da hiperatividade motora exibida por este grupo em relação aos

demais, no teste de sensibilização. Diante do exposto, pode-se dizer que o efeito da

apomorfina sobre o processo de sensibilização é dependente de sua ação direta

sobre a atividade dopaminérgica, mas não de seu efeito indireto proveniente de sua

ação estimuladora sobre a secreção adrenal de corticosterona.

Contrariamente, vários trabalhos relatam que a supressão de corticosterona

pela adrenalectomia ou pelo tratamento crônico com metirapona (mínimo de 7 dias)

reduz os efeitos psicomotores e reforçadores de psicoestimulantes, como

anfetamina e cocaína (DEROCHE et al., 1992; CADOR et al., 1993; PIAZZA et al.,

1994; MARINELLI et al., 1996; MARINELLI et al., 1997). Postula-se que a

potencialização dos efeitos dos psicoestimulantes produzida pelo estresse dependa

de um aumento nos níveis de corticosterona (MARINELLI et al., 1996; PRASAD et

al., 1998; PATACHIOLI et al., 1998). Afinal, ambos estresse e psicoestimulantes

,elevam a secreção adrenal de corticosterona (PRASAD et al., 1998). Contudo,

Badiani e colaboradores (1995) constataram que a sensibilização motora à

anfetamina manteve-se inalterada após a adrenalectomia. Este achado é

consistente com a observação de Schmidt e colaboradores (1999) de que, embora

os psicoestimulantes elevem a secreção de corticosterona, este aumento não tem

relação com a locomoção induzida por estas drogas.

Reid e colaboradores (1998) observaram que a administração de metirapona

na dose de 50 mg/kg aumentou os efeitos estimulantes locomotores da anfetamina

tanto em animais estressados quanto em animais-controle não-estressados,

sugerindo que este fármaco portaria propriedades sensibilizantes locomotoras

intrínsecas. Ou seja, a administração repetida da metirapona sozinha pode produzir

sensibilização comportamental. Tal propriedade, entretanto, entraria em desacordo

com os resultados deste trabalho, no qual a administração de metirapona (50 mg/kg)

sozinha não produziu sensibilização comportamental. Bratt e colaboradores (2001)

também verificaram que, apesar da metirapona na dose de 25 mg/kg elevar os

efeitos comportamentais da anfetamina, este composto sozinho não produziu

estimulação locomotora significativa. Portanto, o efeito potencializador da

metirapona sobre a ação motora dos psicoestimulantes não pode ser explicado por

uma ação sensibilizadora intrínseca à metirapona.

Page 74: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

59

Apesar da necessidade imperiosa de mais estudos acerca dos efeitos da

metirapona sobre a atividade locomotora induzida por psicoesatimulantes, alguns

mecanismos tentam deslindar a natureza precisa desses efeitos. A metirapona

atuaria como um estímulo estressor agudo que ativa o eixo neuroendócrino

(CONTE-DEVOLX et al., 1992; SHAHAM et al., 1997; BRATT et al., 2001).

Evidências neuroquímicas sustentam que a metirapona na dose de 40 mg/kg

estimula a síntese de secretagogos do hormônio adrenocorticotrópico pelos

neurônios parvocelulares dos núcleos paraventriculares hipotalâmicos (HERMAN et

al., 1992).

Cador e colaboradores (1993) verificaram que o CRF produziu sensibilização

aos efeitos psicomotores da anfetamina e aumentou a utilização de dopamina no

córtex pré-frontal e núcleo acumbens. A literatura também tem postulado o

envolvimento do CRF na sensibilização cruzada entre estresse e drogas de abuso

(STOHR et al., 1999). Esta sugestão é sustentada por achados, como o de Shaham

e colaboradores (1997), segundo os quais, o CRF, mas não a corticosterona,

responde pela recaída induzida pelo estresse à auto-administração intravenosa de

heroína em ratos. Estes autores afirmam que estes efeitos seriam atribuídos, em

parte, ao aumento na síntese e liberação de ACTH induzido pelo CRF.

Um segundo mecanismo potencial que poderia explicar a potencialização

dos efeitos da apomorfina pela metirapona seria a interação farmacocinética entre

estas drogas durante seu processo de biotransformação hepática. Estudos

farmacológicos têm mostrado a potencialização dos efeitos comportamentais da

anfetamina seguinte ao tratamento com inibidores específicos da isoenzima

citocromo (CYP) P-450 2D1 (TOMKINS et al., 1997) como a quinina e budipina

(DANIEL et al., 1999; DANIEL et al., 2002; BISTOLAS et al., 2004). Tomkins e seus

colaboradores (1997) observaram que as administrações de quinina produziram uma

elevação nos níveis séricos de anfetamina, assim como, um decréscimo nos níveis

plasmáticos de seu metabólito, 4-hidroxi-anfetamina. Sills e colaboradores (1999)

propuseram que a potencialização dos efeitos motores da anfetamina pela fluoxetina

resultaria de um efeito inibitório desta sobre o metabolismo da anfetamina pela

isoenzima CYP-450 2D1. Bratt e colaboradores (2001) também adotaram este

mecanismo como uma das possíveis explicações para o efeito potencializador da

metirapona sobre a hiperatividade locomotora induzida pela anfetamina.

Page 75: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

60

A metirapona é um inibidor seletivo das isoenzimas CYP-450 2B1 e CYP-

450 2B2 (DANIEL et al., 1999; DANIEL et al., 2002; BISTOLAS et al., 2004). Estas

enzimas participam de processos como a N-desmetilação e sulfoxidação (DANIEL et

al., 2002) que ocorrem no metabolismo da apomorfina (LEWITT, 2004). Dado o

exposto, seria possível propor que a potencialização do efeito locomotor da

apomorfina pela metirapona, observada neste trabalho, resultaria do prolongamento

da ação da apomorfina.

Com o intuito de explicar a exacerbação dos efeitos da apomorfina

produzida pela metirapona, discutem-se os dois mecanismos anteriormente citados.

De acordo com o primeiro mecanismo, a potencialização dos efeitos da apomorfina

pela metirapona seria oriunda da ação do CRF e ACTH. Porém, a estimulação da

neurotransmissão dopaminérgica pela apomorfina ativa a alça de retroalimentação

negativa, controladora da liberação de ACTH. Sabe-se que a secreção de ACTH é

controlada por uma alça de “feedback” positiva, ativada pelo CRF e por uma alça de

retroalimentação negativa, ativada pela dopamina. Logo, a estimulação

dopaminérgica ativaria esta última, promovendo diminuição na liberação do ACTH, e

conseqüentemente, acréscimos na secreção de CRF. Dado o exposto, propõe-se

que o CRF responderia pelos efeitos potencializadores da metirapona sobre a

sensibilização induzida pela apomorfina.

O segundo mecanismo sugere que essa potencialização resultaria do efeito

inibitório da metirapona sobre as enzimas microssomais hepáticas CYP-450. Em

outras palavras, a metirapona inibiria o metabolismo da apomorfina, prolongando a

duração de seus efeitos. Em contrapartida, é imperativo que se considere que,

mesmo havendo um efeito cumulativo da apomorfina durante a fase de

condicionamento, seria improvável que esta droga se acumulasse por até 5 dias

após o término dessa fase. Ou seja, como atribuir a sensibilização observada no dia

do teste (5 dias após a última administração de apomorfina), à interação

farmacocinética entre a metirapona e a apomorfina? O fato é que os efeitos

sensibilizadores da apomorfina potencializados pela metirapona na fase de

condicionamento seriam responsáveis por alterações neuroquímicas e

comportamentais duradouras. Segundo Mattingly e colaboradores (1989), a

sensibilização à apomorfina é mantida por pelo menos 18 dias após a última

administração deste fármaco, podendo também desenvolver-se em intervalos tão

longos quanto 7 dias entre as administrações. Dessa forma, os efeitos

Page 76: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

61

neurobiológicos de uma única dose de apomorfina são mantidos por pelo menos

uma semana. Do mesmo modo, o efeito de administrações intermitentes repetidas

desta droga permanece durante um período bastante prolongado. Em suma,

acredita-se que ambos os mecanismos combinados determinem o papel da

metirapona na sensibilização induzida por altas doses de apomorfina.

Page 77: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

62

6. CONCLUSÕES

• O efeito da apomorfina sobre a sensibilização comportamental é dose-

dependente.

• A apomorfina em baixas doses produz condicionamento, mas não, sensibilização

comportamental.

• Altas doses de apomorfina estão relacionadas ao desenvolvimento de uma

atividade locomotora condicionada e do processo de sensibilização comportamental.

• A metirapona facilita a aprendizagem pavloviana.

• A corticosterona não tem participação direta na aquisição dos processos de

condicionamento e sensibilização induzidos por apomorfina.

Page 78: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

63

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTELMAN, S. M. (1988) Time-dependent sensitization as the corner stone for a

new approach to pharmacotherapy; drugs as foreign stressful stimuli. Drug

Development Research, 14:1-30.

ATKINSON, L. R.; ATKINSON, C. R.; SMITHE, E.; BEWN, J. D. (1995) Memória e

Aprendizagem. In: ATKINSON, L. R.; ATKINSON, C. R.; SMITHE, E.; BEWN, J.

D. (eds.) Introdução à psicologia. 11 ed. Porto Alegre. Editora Artes Médicas, p.

206-232.

BADIANI, A.; MORANO, M. I.; AKIL, H.; ROBINSON, T. E. (1995) Circulating adrenal

hormones are not necessary for the development of sensitization to the

psychomotor activating effects of amphetamine. Brain Research, 673:13-24.

BEAVER, B. V. (2001) Comportamento canino de origem sensorial e nervosa. In:

BEAVER, B. V. (ed.) Comportamento canino: um guia para veterinários. 1 ed.

São Paulo. Editora Roca Ltda, p. 55-132.

BENINGER, R. J.; HOFFMAN, D. C.; MAZURRSKI, E. J. (1989) Receptor subtype-

specific dopaminergic agents and conditioned behaviour. Neuroscience

Biobehaviour Reviews, 13:113-122.

Page 79: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

64

BIRON, D.; DAUPHIN, C.; DI PAOLO, T. (1992) Effects of adrenalectomy and

glucocorticoids on rat brain dopamine receptors. Neuroendocrinology, 55:468-

476.

BISTOLAS, N.; CHRISTENSON, A.; RUZGAS, T.; JUNG, C.; SCHELLER, F. W.;

WOLLENBERGER, U. (2004) Spectroelectrochemistry of cytochrome P-450cam.

Biochemical and Biopyysical Research Communications, 314:810-816.

BRADBURY, M. J.; AKANA, S. F.; DALLMAN, M. F. (1994) Roles of type I and II

corticosteroid receptors in regulation of basal activity in the hypothalamo-pituitary-

adrenal axis during the diurnal through and the peak: evidence for a nonaddictive

effect of combined receptor occupation. Endocrinology, 134(3):1286-1296.

BRANDÃO, M. L. (1993) Sistema Nervoso Central. In: GRAEFF, F. G.; BRANDÃO,

M. L. (eds.). Neurobiologia das Doenças Mentais. 2 ed. Lemos Editorial e

Gráficos Ltda, p. 31-50.

BRATT, A. M.; KELLEY, S.P.; KNOWLES, J. P.; BARRET, J.; DAVIS, K.; DAVIS, M.;

MITTLEMAN, G. (2001) Long term modulation of the HPA axis by the

hippocampus: behavioral, biochemical and immunological endpoints in rats

exposed to chronic mild stress. Psychoneuroendocrinology, 26:121-145.

CADOR, M.; BJIJOU, Y.; STINUS, L. (1995) Evidence of a complete independence

of the neurobiological substrates for the induction and expression of behavioral

sensitization to amphetamine. Neuroscience, 65:385-395.

CADOR, M.; DULLUC, J.; MORMEDE, P. (1993) Modulation of the locomotor

response to amphetamine by corticosterone. Neuroscience, 56:981-988.

CAGGUILA, A. R.; EPSTEIN, L. A.; ANTELMAN, S. M.; SAYLOR, S. S.; PERKINS,

K. A.; KNOPF, S.; STILLER, R. (1991) Conditioned tolerance to the anorectic and

corticosterone elevating effects of nicotine. Pharmacology Biochemistry Behavior,

40:53-59.

Page 80: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

65

CARRERA, M. P.; BRUNHARA, F. C.; SCHWARTTING, R. K. W.; TOMAZ, C.

(1998) Drug conditioning induced by intrastriatal apomorphine administration.

Brain Research, 790:60-66.

CASTRO, R.; ABREU, P.; CALZADILLA, C. H.; RODRÍGUEZ, M. (1985) Increased

or decreased locomotor response in rats following repeated administration of

apomorphine depends on dosage interval. Psychophartmacology, 85:333-339.

CONTE-DEVOLX, B.; GUILLAUME, V.; BOUDORESQUE, F.; GRAZIANI, N.;

MAGNAN, E.; GRINO, M.; EMPERAIRE, N.; NAHOUL, K.; CATALDI, M.;

OLIVER, C. (1992) Effects of metirapona infusion on corticotropin-releasing factor

and arginine vasopressin secretion into the hypophisial portal blood of conscious,

unrestrained rams. Acta Endocrinology, 127:435-440.

CREESE, L.; HAMBLIN, M. W., LEFF, S. E.; SIBLEY, D. R. (1983) CNS dopamine

receptors. In: IVERSEN, L. L.; IVERSEN, S. D.; SOLOMON, S. H. (eds.)

Handbook of psychopharmacology: Biochemical studies of CNS receptors. 4 ed.

New York: Plenum Press, pp. 81-138.

CZYRAK, A.; WEDZONY, K.; MICHALSKA, B.; FYAL, K.; DZIEDZICKA-

MASYLEWSKA, M.; MACKOWIAK, M. (1997) The corticosterone synthesis

inhibitor metirapona decreases dopamine D1 receptors in the rat brain.

Neuroscience, 79(2):489-495.

DAMIANOPOULOS, E. N.; CAREY, R. J. (1992) Pavlovian conditioning of CNS drug

effects: a critical review and new experimental design. Neuroscience, 3:65-77.

DANIEL, W.A.; SYRCK, M.; HADUCH, A. (2002) The contribution of cytochrome P-

450 isoenzymes to the metabolism of phenothiazine neuroleptics. European

Neuropsychopharmacology, 12:371-377.

DANIEL, W.A.; SYRCK, M.; HADUCH, A. (1999) Effects of selective cytochrome P-

450 inhibitors on the metabolism of thioridazine. Poland Journal Pharmacology,

51(5):435-442.

Page 81: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

66

DEROCHE, V.; PIAZZA, P. V.; CASOLINI, P.; MACCARI, S.; LE MOAL, M.; SIMON,

H. (1992) Stress-induced sensitization to amphetamine and morphine psicomotor

effects depend on stress-induced corticosterone secretion. Brain Research,

598:343-348.

DI CHIARA, G. (1999) Drug addiction as dopamine-dependent associative learning

disorder. European Journal of Pharmacology, 375:13-30.

DREW, K. L.; GLICK, S. D. (1988) Characterization of the associative nature of

sensitization to emphetamine-induced circling behavior and of the environment

dependent placebo-like response. Psychopharmacology, 95:482-487.

FAUNT, J. E.; CROCKER, A. D. (1988) Adrenocortical hormone status affects

responses to dopamine receptor agonists. European Journal of Pharmacology,

152;255-261.

FELDMAN, E. C. (1997) Hiperadrenocorticismo. IN: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E.

C. (eds.). Tratado de Medicina Interna Veterinária. 1 ed. Editora Manole Ltda, p.

2123-2177.

FILE, S. E. (1977) Effects of parachlorophenylalanine and amphetamine on

habituation to exploration. Pharmacology, Biochemistry and Behavior, 6:151-156.

FRANKLIN, T. R.; DRUHAN, J. P. (2000) Involvement of the nucleus accumbens

and medial prefrontal cortex in the expression of conditioned hyperactivity to a

cocaine-associated environment in rats. Neuropsychopharmacology, 23:633-644.

FULLER, R. W.; SNODY, H. D. (1981) Elevation of serum corticosterone by

pergolide and other dopaminergic agonists. Endocrinology, 109:1026-1032.

GALICI, R.; PECHNICK, R. N.; POLAND, R. A.; FRANCE, C. P. (2000) Comparison

of noncontingent versus contingent cocaine administration on plasma

corticosterone levels in rats. European Journal of Pharmacology, 387:59-62.

Page 82: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

67

GILAD, G. M.; RABEY, J. M.; GILAD, V. H. (1987) Presynaptic effects of

glucocorticoids on dopaminergic and cholinergic synaptosomes. Implications for

rapid endocrine-neural interactions in stress. Life Science, 40:2401-2408.

GOEDERS, N. E. (1997) A neuroendocrine role in cocaine reinforcement.

Psychoneuroendocrinology, 22(4):237-259.

GOEDERS, N. E.; GUERIN, G. F. (1996) Effects of surgical and pharmacological

adrenalectomy on the initiation and maintenance of intravenous cocaine self-

administration in rats. Brain Research, 722:145-152.

GOLD, L. H.; SWERDLOW, N. R.; KOOB, G. F. (1988) The role of mesolimbic

dopamine in conditioned locomotion produced by amphetamine. Behavioural

Neuroscinence, 102:544-552.

GOLDFIEN, A. (1998) Adrenocorticosteróides e antagonistas córtico-supra-renais.

IN: KATZUNG, B. G. (ed.). Farmacologia Básica e Clínica. 6 ed. Editora

Guanabara Koogan, p. 450-461.

HARFSTRAND, A.; FUXE, K.; CINTRA, A.; AGNATI, A. F.; ZINI, I.; WILKSTROM, A.

C.; OKRET, S.; YU, Z. Y.; GOLDSTEIN, M.; STEINBUCH, H.; VERHOFSTAD, A.;

GUSTAFSSON, J. A. (1986) Glucocorticoid receptor immunoreactivity in

monoaminergic neurons of rat brain. Proceedings National Academy Science,

83:9779-9783.

HERMAN, J. P.; CULLINAN, W. E. (1997) Neurocircuitry of stress: central control of

the hypothalamo-pituiary-adrenocortical axis. Trends Neuroscience, 20:78-84.

HERMAN, J. P.; CULLINAN, W. E.; YOUNG, E.A.; AKIL, H.; WATSON, S. J. (1992)

Selective forebrain fiber tract lesions implicate ventral hippocampal structures in

tonic regulation of paraventricular nucleus CRH and AVP m RNA expression.

Brain Research, 592:228-238.

Page 83: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

68

HINSON, R. E.; SIEGEL, S. (1983) Anticipating hyperexcitability and tolerance to

narcotizing effect of morphine in the rat. Behavioral Neuroscience, 97:759-767.

HOLLISTER, L. E. (1998) Abuso de drogas. IN: KATZUNG, B. G. (ed). Farmacologia

Básica e Clínica. 6 ed. Editora Guanabara Koogan, p. 365-374.

HOLLISTER, L. E. (1998) Drogas Antipsicóticas e Lítio. IN: KATZUNG, B. G. (ed).

Farmacologia Básica e Clínica. 6 ed. Editora Guanabara Koogan, p. 329-340.

KALIVAS, P. W.; DUFFY, P. (1991) Similar effects of daily cocaine and stress on

mesocorticolimbic dopamine neurotransmission in the rat. Biological Psychiatry,

25:913-928.

KELLER-WOOD, M.; DALLMAN, M. (1984) Corticosteroid inhibition of ACTH

secretion. Endocrinology Review, 5:1-24.

KINION, B. J.; MERSON, D.; KANE, J. M. (1984) Effect of daily dose of chronic

haloperidol and chronic apomorphine on behavioral hypersensitivity in the rat.

Psychopharmacology, 84:347-351.

KOKKINIDIS, L.; ANISMAN, H. (1980) Amphetamine models of amphetamine

paranoid Schizophrenia: an overview and elaboration of animal experimentation.

Psychology Bull, 88:551-579.

KORTE, S. M. (2001) Corticosteroids in relation to fear, anxiety and

psychopathology. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 25:117-142.

LE DOUX, J. E. (1993) Emotional memory systems the brain. Behavior Brain

Research, 58:68-79.

LENT, R. (2002) As bases neurais da memória e aprendizagem. In: LENT, R. (ed.).

Cem Bilhões de Neurônios (Conceitos Fundamentais de Neurociência). 1 ed.

Editora Atheneu, p. 587-617.

Page 84: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

69

LERET, M. L.; ANTONIO, M. T.; ARAHUETES, R. M. (1998) Effect of metirapona

administration in pregnant rats on monoamine concentration in fetal brain. Life

Science, 62(21):1943-1948.

LEWITT, P. A. (2004) Subcutaneously administered apomorphine pharmacokinetics

and metabolism. Neurology, 62:8-11.

LIU, L.; TSUJI, M.; TAKEDA, H.; TAKADA, K.; MATSUMUJA, T. (1999)

Adrenocortical suppression blocks the enhancement of memory storage produced

by exposure to psychological stress in rats. Brain Research, 821:134-140.

LUPIEN, S. J.; MC EWEN, B. S. (1997) The acute effects of corticosteroids on

cognition: integration of animal and human model studies. Brain Research

Reviews, 24:1-27.

MARINELLI, M.; LE MOAL, M.; PIAZZA,P. V. (1996) Acute pharmacological

blockade of corticosterone secretion reverses food restriction induced

sensitization of the locomotor response to cocaine. Brain Research, 724:251-255.

MARINELLI, M.; PIAZZA, P. V. (2002) Interaction between glucocorticoid hormones,

stress and psychostimulsnt drugs. European Journal of Neuroscience, 16:387-

394.

MARINELLI, M.; PIAZZA, P. V.; DEROCHE, V.; MACCARI, S.; LE MOAL, M.;

SIMON, H. (1994) Corticosterone circadian secretion differentiation facilitates

dopamine-mediated psicomotor effect of cocaine and morphine. Journal

Neuroscience, 14:2724-2731.

MARINELLI, M.; ROUGE-PONT, F.; OLIVEIRA, C. J.; LE MOAL, M.; PIAZZA, P. V.

(1997) Acute blockade of corticosterone secretion decreases the psychomotor

stimulant effects of cocaine. Neuropsychopharmacology, 16(2):156-161.

MARTIN, J. H. (1998) Os Núcleos da Base. IN: MARTIN, J. H. (ed.). Neuroanatomia.

2 ed. Porto Alegre. Editora Artes Médicas, p. 323-348.

Page 85: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

70

MATTINGLY, B. A.; GOTSICK, J. E. (1989) Conditioning and experimental factors

affecting the development of sensitization to apomorphine. Behavior

Neuroscience, 103:1311-1317.

MATTINGLY, B. A.; GOTSICK, J. E.; MARIN, C. (1989) Locomotor activity and

stereotypy in rats following repeated apomorphine treatments at 1-, 3-, or 7- day

intervals. Pharmacology Biochemistry & Behavior, 31:871-875.

MONDADORI, C.; BHATNAGAR, A.; BORKOWSKI, J.; HAUSLER, A. (1990)

Involvement of a steroidal component in the mechanisms of action of piracetam-

like nootropics. Brain Research, 506:101-108.

MATTINGLY, B. A.; GOTSICK, J. E; SALAMANCA, K. (1988) Latent sensitization to

apomorphine following repeated low doses. Behavior Neuroscience, 102:553-

558.

MATTINGLY, B. A.; ROWLETT, J. K.; GRAFF, J. T.; HATTON, B. J. (1991) Effects

of selective D1 and D2 dopamine antagonists on the development of behavioral

sensitization to apomorphine. Psychopharmacology, 105:501-507.

MC EWEN, B. S.; DE KLOET, E. R.; ROSTENE, W. (1986) Adrenal steroid receptors

and actions in the nervous system. Physiology Reviews, 66:1121-1128.

MCKIM, W. A. (2000) Antipsychotic drugs. IN: MCKIM, W. A. (ed.). Drugs and

Behavior: an introduction to behavioral pharmacology. 4 ed. Editora Prentice Hall,

p. 268-281.

MISSALE, C.; NASH, S. R.; ROBINSON, S. W.; JABER, M.; CARON, M. G. (1998)

Dopamine Receptors: from structure to function. Physiological Reviews, 78:189-

225.

Page 86: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

71

MUNCH, A.; GUYRE, P. M.; HOLBROOK, N. J. (1984) Physiological function of

glucocorticoids in stress and their relation to pharmacological actions. Encodrine

Reviews, 5:25-44.

NEWMAN-TANCREDI, A.; CUSSAC, D. (2002) Differential actions of antiparkinson

agents at multiple classes of monoaminergic receptor: agonist and antagonist

properties at subtypes of dopamine D2-like receptor and alpha1/alpha2-

adrenoceptor. Journal of Pharmacology Experimental Therapeutics, 303:805-814.

O’BRIEN, C. P. (1996) Dependência e uso abusivo de drogas. IN: HARDMAN, J. G.;

LIMBIRD, L. E.; MOLINOFF, P. B.; RUDDON, R. W.; GILMAN, A. G. (eds.). As

Bases Farmacológicas da Terapêutica. 9 ed. McGraw Hill Interamericana, p. 405-

420.

OITZL, M. S.; DE KLOET, E. R. (1992) Selective corticosteroid antagonists modulate

specific aspects of spatial orientation learning. Behavior Neuroscience, 1:62-71.

ORTIZ, J.; DE CAPRIO, J. L.; ROSTEN, T. A.; NESTLER, E. J. (1995) Strain-

selective effects of cortiocsterone on locomotor sensitization to cocaine an on

levels of tyrosine hydroxylase and glucocorticoid receptor in the ventral tegmentar

area. Neuroscience, 67:383-397.

OVERTON, P. G.; TONG, Z. Y.; BRAIN, P. F.; CLARK, D. (1996) Preferential

occupation of mineralocorticoid receptors by corticosterone enhances glutamate-

induced burst firing in rat midbrain dopaminergic neurons. Brain Research,

737:146-154.

PATACCHIOLI, F. R.; PONTIERI, F. E.; ORZI, F.; DI GREZIA, R.; ANGELUCCI, L.

(1998) Increased motor response to cocaine administration following recovery

from chronic corticosterone treatment in the rat. European

Neuropsychopharmacology, 8:43-46.

Page 87: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

72

PERT, A.; POST, R.; WEISS, S. R. (1990) Conditioning as a critical determinant of

sensitization induced by psychomotor stimulants. In: ERINOFF, L. (ed.).

Neurobiology of Drugs Abuse: learning and memory. Nida Research Monography,

p. 208-241.

PIAZZA, P. V.; LE MOAL, M. (1997) Glucocorticoids as biological substrate of

reward: physiological and pathophysiological implications. Brain Research

Reviews, 25:359-372.

PIAZZA, P. V.; MARINELLI, M.; JODOGNE, C.; DEROCHE, V.; ROUGE-PONT, F.;

MACCARI, S.; LE MOAL, M.; SIMON, H. (1994) Inhibition of corticosterone

synthesis by metirapona decreases cocaine-induced locomotion and relapse of

cocaine self-administration. Brain Research, 658:259-264.

PIERCE, R. C.; KALIVAS, P. W. (1995) Amphetamine produces sensitized increases

in locomotion and extracellular dopamine preferentially in the nucleus accumbens

shell of rats administered repeated cocaine. Journal of Pharmacology and

Experimental Therapeutics, 275:1019-1029.

PRASAD, B. M.; ULIBARRI, C.; SORG, B. A.; (1998) Stress-induced cross-

sensitization to cocaine after short and long-term withdrawal.

Psychopharmacology, 136:24-33.

RATKA, A.; SUTANTO, W.; BLOEMERS, M.; DE KLOET, E. R.; (1989) On the role

of brain mineralocorticoid (type I) and glucocorticoid (type II) receptors in

neuroendocrine regulation. Neuroendocrinology, 50(2):117-123.

REID, M. S.; HO, L. B.; TOLLIVER, B. K.; WOLKOWITZ, O. M.; BERGER, S. P.

(1998) Partial reversal of stress-induced behavioral sensitization to amphetamine

following metirapona treatment. Brain Research, 783:133-142.

REUL, M. H.; DE KLOET, E. R. (1985) Two receptor systems for corticosterone in rat

brain: microdistribution and differential occupation. Endocrinology, 117:2505-

2511.

Page 88: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

73

RIFEE, W. H.; WILCOX, R. E.; VAUGHN, D. M.; SMITH, R. V. (1982) Dopamine

receptor sensitivity after chronic dopamine agonists: striatal H-spiroperidol binding

in mice after chronic administration of high doses of apomorphine, N-n-

propylmorapomorphine and dextroamphetamine. Psychopharmacology, 77:146-

149.

ROBINSON, T. E.; BECKER, J. B. (1986) Enduring changes in brain and behavior

produced by chronic amphetamine administration: a review and evaluation of

animal models of amphetamine psychosis. Brain Research Reviews, 11:157-189.

ROBINSON, T. E.; BERRIDGE, K. C. (1993) The neural basis of drug craving: an

incentive-sensitization theory of addiction. Brain Research Reviews, 18:247-291.

ROOZENDAAL, B.; BOHUS, B.; MCGAUGH, J. L. (1996) Dose-dependent

suppression of adrenocortical activity with metirapona: effects on emotion and

memory. Psychoneuroendocrinology, 21:681-693.

ROUGE-PONT, F.; DEROCHE, V.; MOAL, M.; PIAZZA, P. V. (1998) Individual

differences in stress-induced dopamine release in the nucleus accumbens are

influenced by corticosterone. European Journal of Neuroscience, 10:3903-3907.

SANDI, C.; ROSE, S. P. (1994) Corticosteroid receptors antagonists are amnestic for

passive avoidance learning in day-old chicks. European Journal of Neuroscience,

6(8):1292-1297.

SARNYAI, Z.; MCKITTRICK, C. R.; MCEWEN, B. S.; KREEK, M. J. (1998) Selective

regulation binding in the shell of the nucleus accumbens by adrenalectomy and

corticosterone-replacement. Synapse, 30:334-337.

SCHIFF, S. R. (1982) Conditioned dopaminergic activity. Biology Psychiatry, 17:135-

154.

Page 89: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

74

SCHMIDT, E. D.; TILDERS, F. J.; BINNEKADE, R.; SCHOFFELMEER, A. N.; DE

VRIES, T. J. (1999) Stressor or drug-induced sensitization of the corticosterone

response is not critically involved in the long-term expression of behavioural

sensitization to amphetamine. Neuroscience, 92:343-352.

SCHIMMER, B. P.; PARKER, K. L. (1996) Hormônio Adrenocorticotrófico, esteróides

adrenocorticais e seus análogos sintéticos, inibidores da síntese e das ações dos

hormônios adrenocorticais. IN: HARDMAN, J. G.; LIMBIRD, L. E.; MOLINOFF, P.

B.; RUDDON, R. W.; GILMAN, A. G. (eds.). As Bases Farmacológicas da

Terapêutica. 9 ed. Mc Graw Hill Interamericana, p. 1082-1102.

SEGAL, D. S.; KUCZENSKI, R. (1991) In vivo microdialysis reveals a diminished

amphetamine-induced DA response corresponding to behavioral sensitization

produced by repeated amphetamine pre-treatment. Brain Research, 571:330-337.

SHAHAM, Y.; FUNK, D.; ERB, S.; BROWN, T. J.; WALKER, C.; STEWART, J.

(1997) Corticotropin-releasing factor, but not corticosterone, is involved in stress-

induced relapse to heroin-seeking in rats. The Journal of Neuroscience,

17(7):2605-2614.

SHORS, T. J.; BEYLIN, A. V.; WOOD, G. E.; GOULD, E. (2000) The modulation of

pavlovian memory. Behavioural Brain Research, 110:39-52.

SILLS, T. L.; GREENSHAW, A. J.; BAKER, G. B.; FLETCHER, P. J. (1999) Acute

treatment potentiates amphetamine hyperactivity and amphetamine induced

nucleus accumbens dopamine release: possible pharmacokinetic interaction.

Psychopharmacology, 141:421-427.

STOHR, T.; ALMEIDA, O. F. X.; LANDGRAF, R.; SHIPPENBERG, T. S.;

HOLSBOER, F.; SPANAGEL, R. (1999) Stress and corticosteroid-induced

modulation of the locomotor response to morphine in rats. Behavioural Brain

Research, 103:85-93.

Page 90: PAPEL DA CORTICOSTERONA NA AQUISIÇÃO DOS …Se pretendes vencer.” Francisco Cândido Xavier “O ser humano é condicionado por hábitos. Habitue-se a pensar e agir positivamente,

75

STRANGE, P. G. Dopamine Receptors. Http:/ www.tocris.com/ dopamine.htm,

23/01/2001, página mantida pela University of Reading, Whiteknights, Reading.

SZE, P. Y.; YU, B. H. (1995) Glucocorticoid actions on synaptic plasma membranes:

modulation of dihydropyridine-sensitive calcium channels. Journal Steroid

Biochemistry Molecular Biology, 55:185-192.

SWERDLOW, N. R.; KOOB, G. F.; CADOR, M.; LORANG, M.; HANGER, K. L.

(1993) Pituitary adrenal axis responses to acute amphetamine in the rat.

Pharmacology Biochemistry and Behavior, 45:629-637.

TOMAZ, C. (1993) Amnésia. In: GRAEFF, F. G.; BRANDÃO, M. L. (eds.).

Neurobiologia das Doenças Mentais. 2 ed. Lemos Editorial e Gráficos Ltda, p.

175-184.

TOMKINS, D. M.; OTTON, S. V.; JOHARCHI, N.; BERNS, T.; WU, D.; CORIGALL,

W. A.; SELLERS, E. M. (1997) Effect of CYP 2D1 inhibition of the behavioral

effects of d-amphetamine. Behavioral Pharmacology, 8:223-235.

TRUDEAU, L. E.; ARGON, C. M.; AMIT, Z. (1990) Effects of ethanol on locomotor

depression and corticosterone release induced by restraint-stress: support for a

stress ethanol interactions. Pharmacology Biochemistry and Behavior, 36:273-

278.

TSUTSUMI, S.; AKAIKE, M.; ARIMITSU, H.; IMAI, H.; KATO, N. (2002) Circulating

corticosterone alters the rate of neuropathology and behavioral changes induced

by trimethyltin in rats. Experimental Neurology, 173:86-94.

VAN EEKELEN, J. A.; KIN, J. Z.; WESTPHAL, H. M.; DE KLOET, E. R. (1987)

Immunocytochemical study on the intracellular localization of the type II

glucocorticoid receptors in the rat brain. Brain Research, 436(1):120-128.