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PANORAMAS DO DIREITO DIGITAL Aula 5: O Anonimato no Brasil

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PANORAMAS DO DIREITO DIGITAL Aula 5: O Anonimato no Brasil

O ANONIMATO NO BRASIL Tópico 1.

Anonimato no Brasil •  Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

•  IV - é livre a manifestação do pensamento sendo vedado o anonimato;

•  (BRASIL, 1988).

Anonimato no Brasil •  “Essa cláusula de vedação - que jamais devera ́ ser interpretada

como forma de nulificação das liberdades do pensamento - surgiu, no sistema de direito constitucional positivo brasileiro, com a primeira Constituição republicana, promulgada em 1891 (art. 72, §12), que objetivava, ao não permitir o anonimato, inibir os abusos cometidos no exercício concreto da liberdade de manifestação do pensamento, (...)”

•  (BRASIL, 2002, p. 7).

Anonimato no Brasil •  Anonimato relativo; •  Anonimato absoluto, e •  Pseudônimo.

Anonimato no Brasil •  “A doutrina identifica dois tipos de anonimato: o de expressão do

pensamento e o de trânsito. O art. 5.o, IV, CF/1988 (LGL\1988\3) veda o anonimato na expressão do pensamento, ressalvada as hipóteses do resguardo da fonte informativa dos jornalistas.

•  O anonimato de trânsito é expressamente autorizado pela Constituição quando consagra no art. 5.o, II, da CF/1988 (LGL\1988\3) que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".

•  No âmbito da Internet o simples navegar anônimo é perfeitamente legal, pois o anonimato é característica principal da Internet. Na rede, o usuário pode acessar websites de qualquer natureza sem se identificar e sem ter contra si qualquer argumento legal que lhe impeça o anonimato, seja de natureza civil ou penal.”

•  (PAREDES, 2002)

DEBATE: PL 1879/2015 Acrescenta o § 5º ao art. 15 da Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, para estabelecer a obrigatoriedade de guarda de dados adicionais de usuários na provisão de aplicações que permitam a postagem de informações por terceiros na internet

PL 1879/2015 •  “Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma

de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.

•  § 5º O provedor de aplicações de internet previsto no caput, sempre que permitir a postagem de informações públicas por terceiros na forma de comentários em blogs, postagens em fóruns, atualizações de status em redes sociais ou qualquer outra forma de inserção de informações na internet, deverá manter, adicionalmente, registro de dados desses usuários que contenha, no mínimo, seu nome completo e seu número de Cadastro de Pessoa Física (CPF).”

•  (COSTA, 2015)

CONTRA O ANONIMATO Tópico 2.

Constituição Federal Brasileira • Por que a CF/88 assegura ao cidadão o livre exercício da

liberdade, mas veda o anonimato?

•  O crescente avanço tecnológico como fonte de permissividade para o cometimento de crimes cibernéticos.

•  Assegurar aos cidadãos maior segurança no meio virtual. •  Evitar a dificuldade ou impossibilidade de identificação de

eventuais responsáveis por violação de direitos. •  O anonimato na Internet não protege a privacidade dos

usuários, mas sim, apenas dificulta a responsabilização dos transgressores da lei ao permitir abusos generalizados e demais ativades ilegais.

Importante ressalva •  É demasiadamente importante que seja colocado que a vedação

dada no dispositivo da Carta Magna, jamais deva ser interpretada como forma de nulificação das liberdades de pensamento. O anonimato é proibido para que sejam evitados abusos relativos às liberdades de pensamento/expressão.

•  Contradição?

Os desafios do Judiciário

•  “Há ações que estão sendo perpetradas na rede mundial de computadores, que estão trazendo dúvidas a respeito da responsabilização dos indivíduos que utilizam a ferramenta da internet.

•  São condutas praticadas sob o manto do anonimato, o qual dificulta ou impossibilita a responsabilização daqueles que exercem a sua livre manifestação do pensamento na Internet. De um lado, há na grande rede de computadores a liberdade de ir e vir, a livre expressão, mas por outro, ocorre a prática de crimes e danos à imagem, à honra das pessoas.

•  É este lado da internet que ainda se encontra indefinido, isto é, somente há pouco tempo surgiu uma preocupação em se determinar soluções para que as condutas individuais causadoras de danos na Internet viesse a receber a devida intervenção do instituto da responsabilidade subjetiva ou objetiva.

•  O Poder Judiciário está enfrentando casos que demandam a aplicação do Código do Consumidor por força da inexistência de meios de identificar o imediato responsável por ilicitudes praticadas na Internet.”

•  (MORAES, 2011)

O fim do anonimato? •  “Alguns governos irão considerar muito arriscado ter

milhares de cidadãos anônimos, irrastreáveis e inverificados; eles irão querer saber a associação de cada conta online e irão exigir verificação a nível estatal, em função de exercer controle sobre o mundo virtual”, escreve o The Wall Street Journal sobre o livro “The New Digital Age” (A Nova Era Digital), escrito por Eric Schmidt, conselheiro do Google e co-escrito por Jared Cohen, executivo da empresa.

COM RESSALVAS Tópico 3.

Porque o Anonimato Parece tão Perigoso?

•  Ele representa perigo real?

•  Representa perigo para os cidadãos, para o governo, ou para ambos?

O Anonimato e sua Importância •  O primeiro fato que devemos ter em mente é que relacionados

com o Anonimato temos o direito à privacidade e sigilo de comunicações na internet. Contudo, o Marco Civil deixa uma brecha sobre isso.

Art. 3o A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal.

O Anonimato e sua Importância •  A principal característica da internet é, indiscutivelmente, o

anonimato;

•  Em suas origens, a internet nasceu com o fim de ser anônima;

•  Mas afinal de contas, qual a importância do anonimato? - Garantir o Direito à privacidade e à intimidade; - Garantir a Expressão do Pensamento sem que outros saibam quem é você;

O Anonimato é totalmente seguro?

•  Infelizmente, há pessoas que se utilizam do anonimato para outros fins, descaracterizando seus benefícios e atraindo as atenções para seus melefícios.

•  Mas se fosse só isso, não era tanto problema.

O Anonimato é totalmente seguro?

•  Deep Web: - A Deep Web pode ser conceituada como todas as coisas conectadas à rede que não são indexadas pelos buscadores. - Sites que não possuem links de entrada para eles; Métodos de não mapeamento de partes de um site utiliados por administradores de sistema; Páginas dinâmicas que mudam de endereço com frequência. - Outras páginas, com conteúdos ilícitos especialmente, não permitem conexões rastreáveis e só podem ser acessadas de modo especial.

O Anonimato é totalmente seguro?

•  Deep Web: - Servidores de Rede Proxy: acesso à internet utilizando o endereço de outro computador conectado à rede como intermediário. São baseadas em códigos criptografados que permitem a comunicação anônima entre os usuários.

A FAVOR DO ANONIMATO Tópico 4.

Anonimato e Identidade •  “A discussão sobre o anonimato está vinculada à questão do

direito a identidade, sendo o anonimato uma forma de proteção contra abusos de vigilância e situações de risco ou constrangimento pessoal.

•  A discussão sobre identidade na Internet é complexa, mas o Brasil não pode negligenciar esse tema sob o risco de criar barreiras de acesso a serviços públicos eletrônicos.”

•  (COMITÊ GESTOR DA INTERNET, 2015)

Direitos de Minorias •  “Anonymity is a shield from the tyranny of the majority. It thus

exemplifes the purpose behind the Bill of Rights and of the First Amendment in particular: to protect unpopular individuals from retaliation—and their ideas from suppression—at the hand of an intolerant society.

•  Pseudonymity allows people who are experimenting with different sorts of interests to do so without social repercussions. People can temporarily obscure their real life and play with a different conception of what their life might be.”

•  (STEIN, 2003).

•  “Anonymity is a shield from the tyranny of the majority.” •  (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, 1995).

Identificabilidade •  Jurisprudência já decidiu que Endereço IP, hora e data de acesso

são o suficiente para identificar usuário (PARAÍBA, 2014).

•  “3. O fornecimento do registro do número de protocolo (IP) dos computadores utilizados para cadastramento de contas na internet constitui meio satisfatório de identificação de usuários.”

•  (AgRg no REsp 1402104/RJ, rel. Min. Raul Araújo, 4.a T., 27.05.2014, DJe 18.06.2014).

•  “3.– O provedor de conteúdo é obrigado a viabilizar a identificação de usuários, coibindo o anonimato; o registro do número de protocolo (IP) dos computadores utilizados para cadastramento de contas na Internet constitui meio de rastreamento de usuários, que ao provedor compete, necessariamente, providenciar.”

•  (REsp 1306066/MT, rel. Min. Sidnei Beneti, 3.a T., 17.04.2012, DJe 02.05.2012).

Escala Mundial da Rede e sua Arquitetura Art. 2. A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, bem como: I - o reconhecimento da escala mundial da rede;

Corrida Armamentista Quem é afetado por um impedimento do anonimato online?

;)

Referências Tópico 1 •  BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível: < http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 04/05/2015.

•  ______. Lei no 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Lex: Diário Oficial da União de 24 abr. 2014. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm> Acesso em: 19 jun. 2015.

•  ______. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança no 24.369. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 10 de out. de 2002. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo286.htm>. Acesso em: 19 jun. 2015.

•  CAPANEMA, Walter Aranha. O direito ao anonimato: uma nova interpretação do art. 5o, IV, CF. 2011. Disponível em: <http://waltercapanema.com.br/wordpress/download/228/>. Acesso em: 20 abr. 2015.

•  COSTA, Silvio. PL 1879/2015. 2015. Acrescenta o § 5º ao art. 15 da Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, para estabelecer a obrigatoriedade de guarda de dados adicionais de usuários na provisão de aplicações que permitam a postagem de informações por terceiros na internet. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1306687>. Acesso em: 18 out. 2015.

•  PAREDES, Marcus. VIOLAÇÃO DA PRIVACIDADE NA INTERNET. Revista de Direito Privado, São Paulo, v. 9, p.183-203, mar. 2002. Trimestral.

Referências Tópico 2 •  MORAES, Paulo Francisco Cardoso de. A vedação constitucional do

anonimato aplicada à internet: o papel do estado brasileiro na identificação dos usuários e responsabilização dos provedores. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 91, ago 2011. Disponível em: < h t t p : / / w w w . a m b i t o - j u r i d i c o . c o m . b r / s i t e / i n d e x . p h p ?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9964> Acesso em out 2015.

•  GIACOBBO, Elisa Olívia. A notitia anônima de crime e a vedação constitucional ao anonimato. 2008. Disponível em: <http://w w w . r e v i s t a d o u t r i n a . t r f 4 . j u s . b r / i n d e x . h t m ? h t t p : / /www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao024/elisa_giacobbo.html>. Acesso em out. 2015.

•  REMUALDO, Pedro Leonel. O anonimato na internet: um direito ou uma ameaça? Disponível em <https://web.fe.up.pt/~mgi97018/is/anoni.html>. Acesso em out. 2015.

•  DIGITAL, Redação Olhar. Conselheiro do Google fala sobre futuro da Internet em livro. 2013. Disponível em: <https://web.fe.up.pt/~mgi97018/is/anoni.html>. Acesso em out. 2015.

Referências Tópico 3 •  BRASIL. Lei nº 12965, de 24 de abril de 2014. Estabelece princípios,

garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.. Lei Nº 12.965, de 23 de Abril de 2014.. Brasília, DF, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 22 out. 2015.

•  MORAES, Paulo Francisco Cardoso de. A vedação constitucional do anonimato aplicada à internet: O papel do estado brasileiro na identificação dos usuários e responsabilização dos provedores. 2009. Disponível em: < h t t p : / / w w w . a m b i t o - j u r i d i c o . c o m . b r / s i t e / i n d e x . p h p ?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9964>. Acesso em: 22 out. 2015.

Referências Tópico 4 •  COMITÊ GESTOR DA INTERNET (Salvador). Relatório Sintético - Trilha 4:

Internet e Direitos Humanos. 2015. Disponível em: <http://forumdainternet.cgi.br/library/>. Acesso em: 19 out. 2015.

•  ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Supreme Court. Mcintyre V. Ohio Elections Commission no 514 U.S. 334. United States Reports. Washington, DC, 25 maio 1995. v. 514, p. 334. Disponível em: <https://www.law.cornell.edu/supct/html/93-986.ZO.html>. Acesso em: 26 maio 2015.

•  PARAÍBA. Tribunal de Justiça. Agin nº 2007048-94.2014.815.0000. Relator: Juiz Miguel de Britto Lyra Filho. João Pessoa, 6 de janeiro de 2014. Revista dos Tribunais Nordeste. São Paulo: Thomson Reuters.

•  STEIN, Edward. Queers Anonymous: Lesbians, Gay Men, Free Speech, and Cyberspace. 2003. Disponível em: <http://www.law.harvard.edu/students/orgs/crcl/vol38_1/stein.pdf>. Acesso em: 19 out. 2015.

Conclusão: Cãezinhos • Site: www.gediufrn.wordpress.com • E-mail: [email protected]