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1Panorama da AQÜICULTURA, março, abril 2014

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Uma parceria que resgata a imagem do Bijupirá

Por:Fernando Kubitza, Ph.D.

Acqua Imagem Serviços em [email protected]

A abundância de água doce nos rios e grandes reservatórios do país, aliada à grande extensão de áreas agrícolas, faz com que os brasileiros deem pouca atenção ao grande potencial de produção de alimentos no mar, exceto aqueles que vivem o dia a dia da aquicultura. Já al-cançamos considerável destaque no cultivo de camarão marinho no litoral nordestino. E também cultivamos mexilhões, ostras e vieiras sistematicamente em ambientes marinhos, embora em volumes ainda pequenos, levando em conta nosso potencial. A produção da mari-cultura brasileira é apenas uma gota no mar de possibilidades que temos para o cultivo de pescados em águas oceânicas. Diversos países já acumulam alguns anos de tradição no cultivo de peixes e outros organismos marinhos em mar aberto. Nosso vizinho, o Chile, nos dá uma lição de como tirar proveito do potencial aquícola do mar, com uma produção de salmão próxima a 500 mil toneladas, praticamente toda a produção da aquicultura brasileira, com uma única espécie e em um país de extensão muito menor que o nosso.

Imagem subaquática do bijupirá dentro de um dos tanques-rede de cultivo em Ilhabela-SP

Foto: Fernando Kubitza

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Espécies marinhas na GalíciaBijupirá

Já é mais do que hora de o Brasil deixar de apenas ex-plorar a pesca extrativa e se juntar ao seleto grupo de nações que cultivam o mar. A adoção dos conhecimentos científicos e da tecnologia de produção disponíveis nos países tradicio-nais produtores pode nos ajudar a encurtar esse caminho. Em Ilhabela-SP e Angra dos Reis-RJ alguns produtores de bijupirá já deram os primeiros passos nessa direção. Recentemente, essas iniciativas ganharam o apoio de uma empresa de nu-trição animal, que desenvolveu uma ração específica para a espécie, o que pode solucionar um dos principais gargalos para a expansão dos cultivos do bijupirá em tanques-rede. Resumiremos nesse artigo a origem dessa cooperação e seus resultados preliminares, que resgatam a imagem do bijupirá e abrem novas perspectivas para o desenvolvimento da pisci-cultura marinha no Brasil.

O bijupirá

Para aqueles poucos familiarizados com a espécie, o bijupirá é um peixe marinho de hábito alimentar carnívoro que chega próximo de 60 kg na natureza. Em condições de cultivo, esse peixe pode atingir 4 a 5 kg em 12 a 15 meses. Há quem diga que pode chegar a 6 a 8 quilos nesse período, se cultivado em condições ideais de temperatura e alimentação. Hamilton, Severi e Cavali, pesquisadores do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco, fizeram uma completa revisão sobre a biologia e a aquicultura do bijupirá, publicada no Boletim do Instituto de Pesca de São Paulo (39(4): 461 – 477/ 2013). Na revista Panorama da AQÜICULTURA também podem ser encontrados artigos e notícias sobre reprodução e engorda do bijupirá (ver relação ao final desse artigo). Com uma rápida busca na Internet o leitor também poderá encontrar muita informação sobre a biologia e o cultivo desse peixe. Recentemente, Nunes e colaboradores elaboraram um livro com informações sobre a biologia e cultivo do bijupirá e os resultados de experimentos realizados no Brasil sobre a nutrição da espécie (que pode ser acessado através do link http://pt.slideshare.net/alberto46/livro-beijupira-final).

O rápido crescimento, eficiente conversão alimentar e alta qualidade da carne fazem do bijupirá um peixe de grande interesse para os cultivos marinhos. Vários cultivos comerciais de sucesso já estão estabelecidos na Ásia, Estados Unidos e Caribe, estimulando o desenvolvimento de pesquisas e o aprimoramento da tecnologia de produção. No Brasil seu cultivo está apenas começando, mas os resultados alcançados nos fazem acreditar que estamos diante de uma espécie que contribuirá muito para o desenvolvimento e consolidação da piscicultura marinha no Brasil.

A saga do bijupirá em águas brasileiras

Resgato aqui a história da criação do bijupirá no Brasil, através de uma revisão das matérias publicadas nessa revista, notícias na internet e registros pessoais. A Bahia Pesca foi a primeira empresa a se enveredar na tentativa de reproduzir o

bijupirá. Em 2003 a empresa começou a formar plantel de reprodutores dessa espécie, através da captura de alevinos com a ajuda de pescadores. O projeto da Bahia Pesca era uma parceria entre instituições públicas e privadas, com apoio tecnológico de especialistas da Universidade de Miami. Participou dessa parceria a Secretaria de Aqui-cultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR). Mais tarde uma empresa privada, a TWB S.A Construção Naval (com sede em Cananéia, SP), também entraria nessa parceria, com o foco de assimilar a tecnologia de reprodução e engorda e montar o que seria um dos mais modernos laboratórios de produção de alevinos de bijupi-rá no Brasil. A TWB também tinha o objetivo de instalar fazendas marinhas no litoral sul do Estado de São Paulo e no Estado da Bahia para o cultivo da espécie.

Paralelo à iniciativa da Bahia Pesca, organizava--se um esforço conjunto entre a Aqualider Maricultura Ltda., uma empresa produtora de pós-larvas de camarões, e a Universidade Federal Rural de Pernambuco, em um projeto para viabilizar a reprodução do bijupirá. Em julho de 2005 foram capturados os primeiros reprodutores, que foram encaminhados ao laboratório da Aqualider em Porto de Galinhas, PE.

Em outubro de 2006 a Bahia Pesca anunciou a primeira desova controlada do bijupirá no Brasil. Em Pernambuco, a iniciativa da Aqualider também começava a produzir resultados, com a empresa logrando sucesso na produção de alevinos no ano seguinte. Em 2008 a Aqualider conseguiu a concessão de uma área para a implantação de um projeto pioneiro de engorda do bijupirá em tanques--redes de grandes volumes em mar aberto, em frente à praia de Boa Viagem, no Recife-PE. Esse projeto previa a implantação de 48 tanques-rede de 5.400 m3 cada (25 m de diâmetro por 11 m de profundidade) e tinha como meta alcançar uma produção anual de 5.000 toneladas de bijupirás. Durante o período em que a Aqualider produziu alevinos, a empresa também abasteceu alguns poucos pro-dutores do Nordeste e, até mesmo, de São Paulo.

No início de 2008 foi inaugurado o LANAM (Laboratório Nacional de Aquicultura Marinha) em Ilha Comprida – SP, em um convênio firmado entre a prefeitura daquele município e a SEAP/PR. A SEAP/PR proveu os recursos para a construção das instalações e compra dos equipamentos. A empresa TWB, que já havia firmado um convênio com a Universidade de Miami para a transfe-rência de tecnologia de reprodução e engorda do bijupirá, cedeu esse “know how” à Prefeitura de Ilha Comprida e Fundação São Vicente, essa última responsável pela gestão do LANAM. O laboratório de Ilha Comprida foi projetado com meta e capacidade para produzir mais de 1 milhão de alevinos de bijupirá ao ano e contava com uma equipe com-posta por 30 profissionais capacitados para sua operação.

Em 2008 conheci as instalações da Fazenda Oruabo, em Santo Amaro-BA, local do laboratório de produção de alevinos de bijupirá da Bahia Pesca. Na ocasião, seus

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Biju

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técnicos já dominavam a reprodução e estavam se preparando para as primeiras avaliações de engorda desse peixe em tanques escavados. Em 2009 também estive nas instalações da Aqualider, atendendo a um cliente de São Paulo que solicitou alguns testes para otimizar a carga de alevinos de bijupirás em sacos plásticos no transporte aéreo. Esse cliente havia começado uma operação de engorda de bijupirás em Ilhabela com alevinos adquiridos junto ao LANAM. No entanto, como o LANAM não dispunha de produção suficiente, ele precisou viabilizar a compra de alevinos da Aquali-der. A grande novidade, na ocasião, era o projeto da Aqualider de engorda do bijupirá em mar aberto. Segundo o relato de técnicos e funcionários da empresa, o projeto teve muitas dificuldades com a complexa logística e engenharia naval envolvida na produção “offshore” e, naquele momento, ainda tinham problemas com o baixo desempenho de crescimento dos peixes nos tanques-rede. Enfim, com os tanques-rede na água e já estocados, os investi-mentos continuavam na tentativa de engordar os bijupirás em mar aberto. Voltamos de Pernambuco com um pouco de conhecimento sobre transporte de alevinos e com a sensação de que ali estava sendo incubado o embrião da piscicultura marinha no Brasil.

Infelizmente, esses empreendimentos pioneiros na produção do bijupirá não lograram o êxito que todos aguardavam. A Bahia Pesca continuou produzindo alevinos, porém numa escala muito pequena. A Aqualider encerrou suas atividades de produção de pós-larvas de camarão e de alevinos de bijupirá, bem como o empreendimento de cultivo em tanques-rede no mar. Com a saí-da da Aqualider da produção de alevinos, os pequenos criadores que experimentavam o bijupirá ficaram sem opção. O LANAM, em Ilha Comprida-SP, operou por um tempo, mas nunca chegou realmente a fomentar a piscicultura do bijupirá como todos an-siosamente esperavam. Fechou suas portas precocemente, sem que a tecnologia de produção de alevinos fosse adequadamente assimilada e pudesse, através de seus ex-funcionários, renascer em outros empreendimentos. Foi assim que o bijupirá, inicialmente uma grande promessa da piscicultura marinha, rapidamente caiu no descrédito de parte da comunidade aquícola.

Motivos diversos concorreram para que essas iniciativas não lograssem os resultados esperados. Um deles foi a ausên-cia de uma ração especificamente desenhada para atender as demandas nutricionais da espécie. Como um bom carnívoro e, ainda por cima marinho, o bijupirá possui algumas demandas nutricionais e preferências alimentares bastante particulares. Peixes carnívoros são muito exigentes no que diz respeito à palatabilidade/atratividade do alimento. Assim, não são gran-des apreciadores de peletes secos e duros, da mesma forma como amam um peixe picado ou triturado. Peixe marinho que é, possui uma demanda particular por ácidos graxos poli-insa-turados da família ômega-3. Esses ácidos graxos somente são encontrados em óleos extraídos de algas ou de peixes marinhos e praticamente não existem nas gorduras de animais terrestres, nem nos óleos vegetais. Esse pode ser um dos motivos dos bijupirás criados em tanques-rede não terem se desenvolvido adequadamente quando alimentados exclusivamente com as rações para peixes carnívoros e trutas disponíveis no mercado. Reduzidas taxas de crescimento e a mortalidade crônica eram

Instalações do laboratório de produção de alevinos na Maricultura Itapema em São Sebastião – SP

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comuns em peixes alimentados com ração. Com isso, os criadores dependiam do fornecimento suplementar, ou mesmo exclusivo, de rejeitos da pesca (pequenos peixes de baixo valor comercial) para engordar seus bijupirás nos tanques-rede.

Com os dois fornecedores de alevinos fora do negócio, outros empreendimentos de pequeno porte começaram a enveredar na produção de ale-vinos de bijupirá. Dois deles estão estabelecidos no litoral norte de São Paulo, um em Ilhabela (Redemar) e outro em São Sebastião (Maricul-tura Itapema). Esses empreendimentos lograram sucesso na produção de alevinos e estão sendo importantes para fomentar os cultivos desse peixe em pequena escala no litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro.

A Maricultura Itapema foi formada em 2009 com o fim exclusivo de desenvolver um empreendimento de piscicultura marinha. Iniciou seus cultivos experimentais em Ilhabela (litoral Norte de São Paulo) com alevinos de bijupirá produzidos pelo LANAM em Ilha Comprida, SP. Quando o LANAM encerrou suas atividades, os alevinos passaram a ser fornecidos pela Aquali-der, em Porto de Galinhas, PE. Com a saída da Aqualider do negócio, a empresa se viu forçada a produzir seus próprios alevinos. Com sua pro-dução estabilizada, passou a focar na engorda, implantando tanques-rede de grande volume e toda a infraestrutura marinha necessária para a condução dos cultivos.

O desafio para viabilizar o cultivo do bijupirá

Para que o cultivo comercial de bijupirá fosse viabilizado era preciso, porém, resolver o problema da nutrição e do desem-penho zootécnico do peixe. Assim, no início do ano passado, a empresa procurou a Acqua Imagem para a solução de um gargalo que vinha limitando a expansão de seu empreendimento: a falta de uma ração específica e confiável para a engorda do bijupirá. Os alevinos são produzidos com alimentos importados, e o em-preendimento de engorda dependia da disponibilidade local de rejeitos da pesca, que em determinadas épocas do ano era muito escassa. Os rejeitos eram triturados, às vezes mesclados com uma ração e, em geral, suplementados com premix vitamínico para serem fornecidos aos peixes. As tentativas da empresa de usar rações comerciais para peixes carnívoros foram marcadas por altos índices de mortalidade e baixo crescimento. Desta forma, a empresa se empenhou em estabelecer parcerias para o desenvolvimento de uma ração específica para o bijupirá, mas também não logrou sucesso. Importar a ração de outro país era uma das poucas alternativas que restavam, porém a um custo elevado e inviável para a engorda. Para aumentar a escala de produção era preciso contar com um alimento confiável e dis-ponível o ano todo.

Imagens da área com os tanques-rede de engorda do bijupirá em Ilhabela, SP

"Como um bom carnívoro e, ainda

por cima marinho, o bijupirá possui algumas demandas nutricionais e preferências alimentares

bastante particulares. Peixes carnívoros

são muito exigentes no que diz respeito à palatabilidade/atratividade do

alimento."

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O começo de uma parceria de sucesso

Estava aí apresentado um tipo de desafio que exige bons parceiros. O primeiro e mais importante passo foi encontrar uma empresa de ração disposta a produzir um alimento muito específico, que demanda grande atenção na qualidade das matérias-primas e do processo e que não se importasse em produzir um pequeno volume de ração. Na ocasião, a população de bijupirás nos tanques-rede não consumiria mais do que duas ou três toneladas de ração ao mês. Para um grande fabricante de ração, esse tipo de negócio geralmente é pouco interessante e acaba atrapalhando a rotina operacional da fábrica. Outro ponto ideal era encontrar um fabricante não muito distante dos locais de cultivo. Consultei primeiramente a Matsuda Nu-trição Animal, que possuía uma fábrica em São Sebastião do Paraíso, MG. Para nossa surpresa, a Matsuda topou o desafio de imediato.

O que acreditava ser o mais difícil, já estava combina-do. A partir daí passei a revisar as informações e trabalhos de pesquisa sobre as particularidades nutricionais de peixes ma-rinhos de hábito alimentar carnívoro. Há muitas informações valiosas sobre o salmão, sea bass, barramundi (peixes muito parecidos com o Robalo), “yellowtaill” (peixe da família do Olhete), além do próprio bijupirá e muitos outros carnívoros

Biju

pirá

marinhos. Com base nesses estudos foram definidos os níveis de proteína, gordura, fósforo, energia, ami-noácidos, outros nutrientes essenciais, suplementação mineral e vitamínica, aditivos importantes para peixes carnívoros, etc. Feito isso, precisavam ser seleciona-dos os ingredientes mais adequados para compor a ração e critérios para o controle de qualidade de cada matéria-prima. Em seguida, foram identificados os possíveis fornecedores dos ingredientes que não esta-vam disponíveis na fábrica. A pequena escala inicial de produção da ração limitava os potenciais fornecedores. Mas aos poucos foram surgindo alternativas. Ao final de tudo, foi elaborada a matriz nutricional e o desenho da fórmula básica do produto.

Entre o contato inicial da piscicultura e a pri-meira batida da ração para o bijupirá pela Matsuda, se passaram quase três meses. Nesse meio tempo foram tentadas outras possibilidades e a mortalida-de de peixes nos tanques-rede permanecia crônica, inclusive com o uso do rejeito de pesca. Uma ração específica para o bijupirá era ansiosamente aguardada. E essa ração foi desenhada não apenas para suprir a exigência nutricional, mas também para fortalecer o sistema imunológico dos animais, devido ao histórico de mortalidade registrado no cultivo.

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Espécies marinhas na GalíciaBijupirá

Um início surpreendente

Recordo bem o momento da primeira batida da ração VittaMar no dia 4 de março de 2013, uma data que seguramente vamos nos lembrar. Quatro toneladas de ração apenas, que entupiram algumas vezes o moinho da fábrica, tamanha a quantidade de gordura na sua composição. Os ajustes se seguiam na expansão do produto e no tamanho dos peletes. Uma considerável quantidade de produto foi perdida nesse primeiro teste de fabricação. Enfim, alguma ração foi produzida e despachada rumo ao mar. O processo foi bastante trabalhoso, diferente da rotina normal de ex-

Desenvolvimento inicial da ração VittaMar para o bijupirá em uma das fábricas da Matsuda e recebimento de uma carga de ração pela Maricultura Itapema

Com uma semana de fornecimento da nova ração, a mortalidade dos peixes diminuiu progressivamente, até zerar por completo com duas semanas. A mortalidade ainda persistia nos lotes alimentados com o rejeito de pesca. Diante disso, a empresa tomou a decisão de usar a nova ração em mais outro tanque-rede que vinha recebendo exclusivamente rejeitos de pesca, deixando apenas os peixes de um tanque sendo ali-mentados com o rejeito de pesca triturado junto com a ração (material com cerca de 42% de matéria seca). Após 32 a 47 dias de uso da ração foi realizada uma biometria dos peixes (Tabela 1). O crescimento dos bijupirás alimentados com a nova ração foi compatível ao dos peixes que foram alimentados

Tanque 1 Tanque 2 Tanque 3 Tanque 4

AlimentoVittaMar Matsuda

Rejeito de pesca misturado com ração VittaMar

VittaMar Matsuda

VittaMar Matsuda

Peso médio inicial (g) 58 62 59 84

Peso médio biometria (g) 168 242 239 212

Dias de avaliação 32 40 47 35

Conversão alimentar base original 1,64 3,00 1,56 1,30

Conversão alimentar base seca (1) 1,51 1,27 1,43 1,19

Tabela 1 – Resultados preliminares de crescimento do bijupirá alimentados com a ração Vitta Mar ou com rejeito de pesca triturado a ração. Temperatura da água a 25ºC

(1) A conversão usando para o rejeito de pesca misturado com a ração foi calculada com base na matéria seca do material (aproximadamente 42%). Para a ração foi estimado com 92% de matéria seca.

Fonte: Maricultura Itapema

trusão de rações para outros peixes e para pets. Surgiram dúvidas se valeria mesmo a pena levar adiante a proposta de produzir essa ração, mas a Matsuda manteve seu compromisso, apostando na parceria e confiante de que estava ajudando a dese-nhar um brilhante futuro para a piscicultura marinha no Brasil.

A ração foi imediatamente colocada à prova em um dos tanques-rede instalados em uma pequena baía na face norte de Ilha-bela. De imediato, uma excelente notícia: os peixes aceitaram de pronto a ração. A palatabilidade da ração parecia estar na medida certa. Isso não aconteceu com outras rações que haviam sido avaliadas anteriormente. Os bijupirás, acostumados a comer peixes triturados, geralmente demo-ravam alguns dias para aceitar uma ração.

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com o rejeito de pesca misturado à ração. A conversão alimentar na base seca foi muito próxima entre os dois tipos de alimento. Na base úmida foi necessário usar 3 kg de mistura de rejeito de pesca com ração para cada quilo de ganho de peso. Com isso, no custo por quilo de ganho de peso a ração levava vantagem em relação ao uso do rejeito de pesca triturado com a ração.

Uma prova de fogo

O bom resultado inicial ele-vou os ânimos dos parceiros. Nos meses que se seguiram novas re-messas da ração foram produzidas pela Matsuda. As dificuldades na fábrica foram muitas na tentativa de acertar a estabilidade do produ-to. Ainda havia uma considerável quantidade de ração perdida nas batidas. Mas, a cada novo lote de ração produzido e ofertado, os âni-mos de todos eram renovados. Se aproximava o mês de junho/2013 e a temperatura no mar já havia caído para 24ºC. Os dias e a água iam ficando cada vez mais frios. O inverno é o período de cultivo considerado mais crítico para o bijupirá na região. A experiência da equipe indicava que a mortali-dade dos peixes seria mais intensa e inevitável nesse período. O con-sumo de alimento pelos peixes di-minuía gradualmente com a queda na temperatura. Mas os peixes se mostravam saudáveis, e a mortali-dade, para a surpresa e felicidade de todos, continuava muito baixa. Em agosto a temperatura chegou ao mínimo registrado no ano, 19ºC. Os bijupirás - que têm seu conforto térmico ao redor de 27ºC - comiam e cresciam pouco, mas não mor-riam. Um sinal de que a nutrição e a saúde estavam em equilíbrio e os peixes no cultivo pareciam ter maior resistência do que os peixes do inverno anterior. Deu resultado a aposta nos conceitos de imunonu-trição aplicados nessa ração.

Os bijupirás atingem o peso de mercado

Os bons resultados obtidos com a ração estimularam a piscicultura a reavaliar seu plano de produção e a se preparar para um aumento na capacidade produtiva. Outros criadores que já vinham cultivando bijupirás em tanques--rede (no litoral norte de SP e sul do RJ) também começaram a migrar do rejeito de pesca para a ração VittaMar. Alguns criadores usam a ração como alimento único, enquanto outros ainda ofertam um pouco de rejeito de pesca como complemento. Após praticamente um ano alimentados com a ração, os bijupirás cresceram de 60 gramas a 3 quilos, atingindo o peso desejado para a comercialização. O primeiro lote produzido ainda enfrentou um período de praticamente seis meses com temperaturas da água entre 19 e 23ºC, consideradas pouco adequadas ao crescimento da espécie.

Mortalidade acumulada

Dias do período

Peixes mor-tos por dia no período em todo o

projeto

Com o uso de rejeito de pesca

e uma ração para peixes carnívoros.

1070 peixes

43 (final do verão

e início do outono)

24,9

A partir de 14 dias do início

do uso da ração VittaMar.

23 peixes

174 (outono e todo o

período de inverno)

0,13

Tanques-rede de grande volume usados no cultivo do bijupirá em Ilhabela (SP) e tanques-rede de menor volume em cultivo na Ilha Grande (Angra dos Reis, RJ). Kazuo, um dos criadores pioneiros no Rio de Janeiro, exibindo exemplar de bijupirá com cerca de 2 kg dos seus tanques-rede em Ilha Grande

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Espécies marinhas na GalíciaBijupirá

o cultivo e o crédito, bem como financiar pesquisas estratégicas para solucionar gargalos na larvicultura, produção de alevinos e nutrição. Também surgirão problemas relacionados à sanidade, uma questão cada vez mais importante com a intensificação dos cultivos e que deverá ser equacionada pelos criadores e profis-sionais da pesquisa e extensão.

Ração: um desafio global na produção do bijupirá

Mesmo colhendo bons resultados nesse início, os pro-dutores de bijupirá sabem que ainda há um longo caminho a percorrer para que essa espécie se torne expressiva no cenário aquícola do país. Em outros países, onde o bijupirá é cultivado a mais tempo do que aqui, ainda existem importantes gargalos a serem solucionados. O desenvolvimento de uma ração eficaz e econômica é um dos principais, sem dúvida. Isso, não apenas para o bijupirá, mas também para outros potenciais peixes marinhos carnívoros que debutam no cultivo. No Vietnã há um tabu de que, a partir dos 3 kg de peso, os bijupirás alimentados com ração praticamente param de crescer, enquanto se desenvolvem normalmente quando alimentados com os rejeitos da pesca. No

O mercado agora é o próximo desafio a ser equacio-nado. Por enquanto os volumes de produção são pequenos e o produto está sendo comercializado a um preço compa-tível com o seu ainda alto custo de produção. O bijupirá seguramente vai conquistar os clientes pela qualidade excepcional de sua carne branca, de textura firme, sucu-lenta e sem espinhos. Lombos altos vão fazer sucesso nos restaurantes. O produto serve bem para o “sashimi”. Taiwan, um dos principais países produtor de bijupirás, vende parte da produção para o mercado japonês. No Brasil o bijupirá é um peixe desconhecido do consumidor, mas não creio que isso será um grande problema para que ele seja comerciali-zado a um valor que justifique sua produção. Tilápias, que hoje são muito apreciadas e valorizadas pelo consumidor brasileiro, tinham uma péssima reputação no passado, que chegava ao ponto de completa aversão. Através do cultivo e da oferta de produtos de qualidade, a tilápia passou a ser um peixe valorizado, com preços hoje próximos aos do salmão. Muito provavelmente o bijupirá vai competir com peixes marinhos nobres, hoje escassos no mercado, como o badejo, cherne e garoupas. Atingindo uma escala industrial, o preço do bijupirá provavelmente se balizará pelos preços desses peixes e do próprio salmão que importamos do Chile. Ainda há um longo caminho pela frente para chegar a um cultivo eficiente e competitivo. Mas a aquicultura do bijupirá certamente terá condições de encarar esse desafio, com a aposta do setor privado (empresas de cultivo, fábricas de ração, fornecedores de equipamentos e frigoríficos) e o bem--vindo suporte institucional para viabilizar as licenças para

"Provavelmente o bijupirá vai competir com peixes marinhos

nobres, como o badejo, cherne e garoupas.

Atingindo uma escala industrial, o preço do

bijupirá provavelmente se balizará pelos preços

desses peixes e do próprio salmão que

importamos do Chile. "

Bijupirás com cerca de 2 kg em um dos tanques-rede da Maricultura Itapema e um exemplar de bijupirá com cerca de 3 kg

sendo exibido por João Carlos Manzella Jr.

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Espécies marinhas na GalíciaBijupirá

ano passado, em um congresso no Vietnã, conheci um grupo de especialistas que discutiam como essa questão vem inviabilizando os grandes cultivos de bijupirá em países asiáticos onde o peso de mercado desse peixe é, em geral, de 5 a 6 kg ou mais. Para produzir bijupirás grandes assim, em uma escala industrial, é preciso dispor de grandes quantidades de rejeito de pesca. São necessários cerca de 8 a 10 kg de rejeito de pesca (trash fish) para cada quilo de ganho de peso do bijupirá. O custo disso onera demasiadamente o custo de produção, segundo me informou o gerente de um grande empreen-dimento de cultivo de bijupirá na Ásia. Além do mais, rejeitos de pesca têm oferta irregular durante o ano e, cada vez mais estão servindo à alimentação humana ou virando matéria prima para a produção de concentrados proteicos de alto valor agregado para a nutrição humana ou de animais de estimação. Assim, começam a ficar cada vez mais escassos e com preços elevados, sendo impossível sustentar o crescimento da piscicultura de peixes carnívoros com o uso desses rejeitos.

Eu e a equipe da fazenda gastamos um bocado de tempo refletindo sobre esse fenômeno de estagna-ção do crescimento do bijupirá após 3 kg com a ração. Alguma peça desse quebra-cabeça deve estar perdida, pois, alimentados com rejeitos, os bijupirás continuam crescendo. Revisei novamente os estudos sobre os pei-xes carnívoros marinhos tentando encontrar algumas respostas e me antecipar a esse fenômeno. Não sabemos se a ração VittaMar, hoje usada, será capaz de superar a barreira dos 3 kg. Nos próximos meses vamos saber. Em uma biometria realizada ao final de março deste ano, onde os peixes haviam atingido a média de 3 kg, foram encontrados exemplares acima de 4 kg. Em mergulhos frequentes dentro dos tanques-rede, o gerente técnico da empresa, João Manzella viu peixes que acreditava terem mais do que 5 kg. Mas nenhum deles ainda apareceu em

uma biometria. Esperamos que isso seja apenas uma ques-tão de tempo e que a ração que estamos aperfeiçoando a cada dia seja capaz de sustentar esse crescimento. Com o inverno chegando por aí, vamos ter mais um período de pouco crescimento. Talvez tenhamos que aguardar outro lote de bijupirás com um ano de cultivo que ficarão prontos no próximo verão para ver se a síndrome dos 3 kg acontece por aqui.

Apesar do bom resultado de crescimento e con-versão alimentar, a ração hoje disponível para o bijupirá (45% de proteína e 16% de extrato etéreo), pela qualidade e tipo de ingredientes que a compõem, e também por conta da ainda reduzida escala em que é produzida, é cerca de 70 a 80% mais cara do que uma ração de boa qualidade para peixes carnívoros de água doce. O leitor deve consi-derar, no entanto, que uma ração regular para carnívoros de água doce tem 38 a 40% de proteína e apenas 10 a 12% de gordura. Além do mais não demanda ácidos graxos poli-insaturados, provenientes de óleos de peixes marinhos. Assim, seu custo de fórmula é obviamente bem mais baixo. Particularmente, acredito que com mais alguns ciclos de produção e experimentações a campo, especialmente com peixes acima de 1 kg, aumentará a confiança nas rações e será possível definir fórmulas com preços cada vez mais competitivos.

Em busca da sustentabilidade, o objetivo é chegar ao ponto de eliminar por completo o uso de farinhas e óleos de pescado provenientes da pesca. A meta é produ-zir bijupirás de peso comercial com rações sem qualquer ingrediente oriundo de pescado capturado. O uso do rejeito de pesca já foi eliminado pela Itapema. O Brasil possui uma forte indústria animal (aves, suínos e bovi-nos) que provê subprodutos a preços competitivos para uso nas rações, embora a qualidade nutricional desses subprodutos seja bastante variada e demande contínua atenção quanto à qualidade do que está sendo adquirido.

Pratos orientais, sushi e sashimis, preparados com o bijupirá cultivado

Page 11: Panorama da AQÜICULTURA, março, abril 2014 1acquaimagem.com.br/docs/Pan142_Kubitza_bijupira_racao.pdf · litoral nordestino. E também cultivamos mexilhões, ostras e vieiras sistematicamente

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Espécies marinhas na GalíciaBijupirá

Em países onde a indústria animal não é tão abundante como aqui, os farelos e concentrados proteicos vegetais, especialmente os da soja, são os candidatos em potencial à substituição dos produtos de pescado, como já ocorre na ração de outras espécies. Há diversos resultados promissores dessa substituição completa para alguns peixes marinhos carnívoros, inclusive para alevinos e juvenis de bijupirá. No entanto, por limitação de infraestrutura nos laboratórios de pesquisa, esses trabalhos estão sendo realizados com peixes pequenos (menores que 200 g) e por um período de tempo reduzido (geralmente menos de 3 meses). É necessário levar esses estudos para as condições regulares de cultivo e experimentar com peixes maiores de 1 kg, fase a partir da qual acreditamos que a nutrição/qualidade das rações começa a ser especialmente crítica para o bijupirá.

Os bons resultados alcançados resgatam o potencial e a imagem do bijupirá

Particularmente, fiquei muito impressionado com a velocidade de crescimento do bijupirá. Um peixe mari-nho carnívoro, criado com ração, atingir um peso médio de 3 kg, em 12 meses de cultivo, me parece um resultado muito animador, ainda mais considerando que em cinco meses desse período as temperaturas estiveram entre 23 e 19ºC, abaixo do ideal para a espécie. Seguramente, numa condição de cultivo com águas a 27-28ºC durante o ano todo (litoral do Nordeste, por exemplo), acredito que esse peixe teria alcançado a marca dos 5 kg com uma conversão alimentar ainda melhor do que as registradas nos cultivos do litoral de São Paulo. É óbvio que não dá para comparar esse ganho de peso com os 10 kg ou mais ganhos por um pirarucu no mesmo período. Mas frente a outros peixes marinhos criados no mundo, o bijupirá é um “monstro”. E olha que ainda não há qual-quer processo de seleção nos animais que estão sendo criados por aqui. Comparado ao salmão, que traz em sua bagagem anos de melhoramento genético e desenvolvi-mento tecnológico, eu diria que o bijupirá nasceu com uma tremenda vantagem em ganho de peso, que pode ser bastante amplificada com estratégias simples de seleção e outras tecnologias de cultivo.

O aumento na escala de produção contribuirá para a redução nos preços das rações e dos alevinos, bem como para diluir os custos com a logística da ope-ração dos cultivos, que são especialmente elevados nas condições de grandes tanques-rede em mar aberto. O ponto positivo para a expansão da criação do bijupirá no Brasil é que há suficiente tecnologia em instalações e equipamentos já disponíveis e empregados no cultivo de outros peixes marinhos no mundo. O negativo é que esses equipamentos e tecnologias custam caro e exigem um alto investimento inicial. Tanques-redes e malhas de grandes volumes já são fabricados por empresas na-cionais, no entanto, a um custo ainda elevado. Acredito

também que o cultivo de bijupirá em tanques-rede no mar não será exclusividade de grandes empreendimentos. Tanques-rede de pequeno volume se prestam à criação desse peixe e podem ser empregados em locais mais protegidos, viabilizando empreendimentos de menor porte, com menor investimento nas instalações.

Considerações finais

O que o futuro reserva a uma espécie como o bi-jupirá, é difícil prever. Mas não há dúvida de que esse peixe tem atributos para se tornar a principal espécie em cultivos marinhos no Brasil. Há muitos outros candida-tos em potencial para a piscicultura marinha em nossas águas, mas nenhuma ainda demonstrou os resultados que temos visto com o bijupirá. Com certeza precisamos ter um pouco mais de domínio e desenvolvimento tecnoló-gico para viabilizar novas espécies. Mas o bijupirá pode acelerar bastante a saga da nossa piscicultura no mar. Há uma grande fronteira a ser racionalmente explorada para a produção de pescado: os oceanos. No Brasil, em particular, esse potencial de água salgada é tremendo. Qualquer um se estupefata ao contemplar a vastidão do mar azul, ainda mais aqueles que sabem o potencial de produção de alimento que pode vir de suas águas através da aquicultura.

No Brasil há muitos profissionais e empresários com grande experiência na piscicultura em água doce e na carcinicultura marinha. Essas pessoas conhecem as peculiaridades de diferentes espécies e sabem bem as demandas para viabilizar empreendimentos industriais. Tenho certeza de que esse contingente de profissionais tem muito a contribuir para o desenvolvimento da pis-cicultura marinha no país. A experiência e tecnologia de países tradicionais produtores de peixes marinhos também são muito bem vindas e deve ser valorizada. Temos muito a aprender com as suas experiências e de-senvolvimentos. Na altura dos meus 49 anos, dos quais mais da metade dediquei à piscicultura em água doce, estou extremamente feliz pela oportunidade que tive de participar, contribuir e compartilhar de uma iniciativa pioneira de cultivo de peixes marinhos no Brasil. Ir para o mar aberto para mim é um grande desafio (tanto do ponto de vista profissional, como pelos enjoos, que um dia ainda vou superar). Há pouco mais de um ano envolvido nesse trabalho fico com a sensação de que eu deveria ter prestado atenção ao bijupirá há muito mais tempo. Resta o consolo de que, na vida, as coisas acon-tecem quando realmente têm que acontecer.

Agradecimentos especiais

A equipe da Maricultura Itapema, especialmente a Vasco Simões e João Carlos Manzella Jr. pela oportunidade de participar desse projeto e pela revisão e contribuição com dados, informações e imagens a essa matéria.