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PANDEMIA: O GRANDE RESET NO MERCADO FINANCEIRO R$ 20,00 247 DEZ 2020 JAN 2021 por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO RELAÇÕES COM INVESTIDORES www.revistaRI.com.br ESG por ANA BORGES ANDRÉ VASCONCELLOS ANTONIO EMÍLIO FREIRE BRUNO BRASIL CARLOS LAZAR DANILO CABRERA GILSON FINKELSZTAIN GUSTAVO CARRIJO IZABELLA MATTAR JANDARACI ARAÚJO JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN PEDRO MELO PH ZABISKY ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA ROCHANA GROSSI FREIRE RODRIGO KNUDSEN EM PAUTA MODISMO, SOBREVIVÊNCIA OU CONSCIENTIZAÇÃO? AGENDA DO MERCADO

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PANDEMIA: O GRANDE RESET NO MERCADO FINANCEIRO

R$

20,0

0

nº247DEZ 2020JAN 2021

por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO

RELAÇÕES COM INVESTIDORESwww.revistaRI.com.br

ESG

por

ANA BORGES • ANDRÉ VASCONCELLOS • ANTONIO EMÍLIO FREIRE • BRUNO BRASIL CARLOS LAZAR • DANILO CABRERA • GILSON FINKELSZTAIN • GUSTAVO CARRIJO

IZABELLA MATTAR • JANDARACI ARAÚJO • JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMANPEDRO MELO • PH ZABISKY • ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

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EM PAUTA

MODISMO, SOBREVIVÊNCIA OU CONSCIENTIZAÇÃO?

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REVISTA RI©

É uma publicação mensal da IMF Editora Ltda.

Av. Erasmo Braga, 227 - sala 511

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Tel.: (21) 2240-4347

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Publisher e Diretor Editorial: Ronnie Nogueira | Presidente do Conselho: Ronaldo A. da Frota Nogueira (1938-2017)

Conselho Editorial: Antônio Castro, Edison Arisa, Eduarda La Rocque, Fábio Henrique de Sousa Coelho, Hélio Garcia, Jurandir Macedo, Marcelo Mesquita, Raymundo Magliano Filho, Ricardo Amorim, Roberto Teixeira da Costa e Thomás Tosta de Sá

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Os artigos aqui publicados não pretendem induzir a nenhuma modalidade de investimento. Os dados e reportagens são apurados com todo o rigor, porém não devem ser considerados perfeitos e acima de falhas involuntárias. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É proibida a reprodução desse volume, ou parte do mesmo, sob quaisquer meios, sem a autorização prévia e expressa da IMF Editora.

nº 247 • Dez 2019 | Jan 2020

06 Ponto de VistaMercado de Capitais: Projeções para 2021POR ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

10 Em PautaAgenda do Mercado 2021POR ANA BORGES

22 Estratégia Auditoria nas Estratégias 2021:o próximo normal em construçãoPOR ANTONIO EMILIO FREIRE

E ROCHANA GROSSI FREIRE

26 Enfoque Pandemia: o grande reset no mercado fi nanceiro POR ANDRÉ VASCONCELLOS

30 Orquestra SocietáriaESG: modismo, sobrevivência ou conscientização?POR CIDA HESS E

MÔNICA BRANDÃO

36 Capitalismo ConscienteA era do Capitalismo ConscientePOR LUCAS MEDOLA

38 DiversidadeDiversidade nos Conselhos de Administração:a pauta racial para além dos programas de traineePOR JANDARACI ARAÚJO

42 IBGC Comunica 15 medidas para uma Governança que inspira, inclui e transformaPOR PEDRO MELO

44 JurídicoOs efeitos da Pandemia na Recuperação JudicialPOR ELISA FIGUEIREDO E

ALINE DANTAS

46 Forum ABRASCAVoto Plural é tendência internacionalPOR NAIR SALDANHA E

EDUARDO LUCANO DA PONTE

50 Espaço APIMECAgora somos APIMEC BRASILPOR APIMEC

52 Educação FinanceiraO risco da inteligênciaPOR JURANDIR SELL MACEDO

55 IBRI NotíciasComissão ESG do IBRIpromove reunião com palestra de diretor da CVMPOR RODNEY VERGILI

61 RegistroIn Memorian: Ney CarvalhoPOR ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

63 OpiniãoA construção do conceito ESG começa pela edifi cação de quatro colunas de conhecimentoPOR ALEXANDRE PEGORARO

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por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

Não tem sido fácil, aqui e no exterior, fazer previsões. O ano de 2020 foi pródigo em acontecimentos que terão consequências em nosso futuro, e ainda de difícil avaliação. As mudanças de comportamento já estão acontecendo, e continuarão na mesma trilha nos meses e anos seguintes. O mundo mudou, e ainda não está claro o que nos reserva o futuro.

Quando escrevi para a Revista RI, meses atrás, animava-me uma visão que o mundo poderia mudar para melhor (eu sem-pre prefiro errar sendo positivo e otimista).

Infelizmente, o que temos constatado são problemas fun-damentais que nos assediavam como o desnível de rendas e a questão da pobreza, que não estão dando qualquer sinal positivo, por aqui e em outros países. Temos também dificul-dades macro econômicas derivadas da pandemia que estão muito longe de estarem com soluções encaminhadas.

Se por um lado a eleição de Biden foi uma benção, os de-safios que terá pela frente para recolocar os EUA nos tri-lhos, onde o multilateralismo volte a imperar, e também em outras áreas priorizadas como a questão climática e seu relacionamento com a China possam ser equacionados. Te-remos desdobramentos que, no curto prazo, poderão nos afetar negativamente.

O que temos constatado são problemas fundamentais que nos assediavam como o desnível de rendas e a questão da pobreza, que não estão dando qualquer sinal positivo, por aqui e em outros países. Temos também dificuldades macro econômicas derivadas da pandemia.

MERCADODE CAPITAISPROJEÇÕES PARA 2021

PONTO DE VISTA

6 REVISTA RI Dezembro 2020 | Janeiro 2021

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Mas vamos às variáveis que, certamente, tanto do ponto de vista interno como externo, afetarão nosso mercado nos anos vindouros.

1. COVID-19 - Quando, e se, teremos uma situação em que essa pandemia estará superada. Será que voltaremos a uma nova normalidade? Qual será? O que imagino é que mesmo com a vacina, dificilmente, teremos um ambiente de tranquilidade que nos permitirá um nível de convivência semelhante ao do passado.

2. No que toca a vacina, o que tínhamos ao final de novembro, era o avanço de 4 diferentes vacinas, e que poderíamos iniciar a vacinação ainda no primeiro semestre de 2021. A questão fundamental, além obviamente de sua eficácia, é como ela será distribuída e aplicada. Creio que no nosso país estamos bem posicionados com 2 das 4 vacinas testadas com sucesso. A questão logística de sua distribuição será fundamental. Nesse meio tempo, somos atacados por diferentes análises que, ao invés de nos ajudar, nos confundem.

3. Como se comportará a economia mundial? Pelo que se pode verificar em diferentes países, dependendo dessa segunda onda que assolava os europeus, novos programas governamentais talvez sejam necessários para que a economia não perca seu ímpeto de recuperação. O mesmo com os Estados Unidos, onde não tivemos uma segunda onda, mas sim o prolongamento da inicial depois de um recuo de vários meses. O Presidente Biden terá que lidar com o Congresso para aprovar um novo pacote de apoio, que não foi conseguido pela administração anterior, e o papel do Senado será relevante caso não consiga a maioria, inclusive para a formação do seu governo.

4. A variável “emprego” será um fator determinante, não só pelo aspecto social como também para que haja demanda pelos consumidores. No caso brasileiro, os números estimados de desemprego para 2021 não são animadores, beirando os 15%.

5. A se confirmar as projeções negativas sobre o emprego, resta saber como os governos enfrentarão as tensões sociais. A decisão de uma possível renda mínima esbarra na questão de onde sairão os recursos.

6. No caso dos países em desenvolvimento, a questão do câmbio em função do comportamento do dólar é sempre

variável importante. No nosso caso, um dólar forte afeta a economia interna e encarece as importações. Positivo, dentro de certos limites, para os exportadores, mas com impacto sobre a inflação interna.

7. Taxa de juros - interna e externa é variável chave - no passado, defendemos ao longo de muitíssimos anos que com a taxa de juros que convivemos era impossível criar um mercado de capitais de longo prazo tendo em vista a segurança oferecida, principalmente por diferentes títulos, além da rentabilidade e liquidez. Pois bem, pedíamos que chovesse e o que vimos foi uma inundação. Assim, é que tínhamos uma distorção com taxas de juros que desestimulavam investimentos de longo prazo e agora temos uma situação inversa. Os investidores abandonando em manada os títulos de dívida devido aos rendimentos que consideramos insatisfatórios da renda fixa, com uma taxa básica de juros situada em 2% a.a., e saindo em busca de alternativas mais rentáveis. Isso beneficiou o mercado de novas emissões (IPO’s) que se aproximavam de R$ 100 bilhões para 2020, um número relevante na história do mercado. O número de investidores individuais pulou de 1,7 milhões (2019) para estimados 3,14 milhões! Uma mudança sem dúvida notável, mas que acendeu uma luz amarela de alerta para os riscos de que o mercado de novas emissões possa sofrer retrocesso. No entanto, não chegamos a constatar

Quando, e se, teremos uma situação em que essa pandemia estará superada. Será que voltaremos a uma nova normalidade? Qual será? O que imagino é que mesmo com a vacina, dificilmente, teremos um ambiente de tranquilidade que nos permitirá um nível de convivência semelhante ao do passado.

7REVISTA RIDezembro 2020 | Janeiro 2021

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os disparates do encilhamento de 1971, mas uma palavra de cautela esteve presente. Outros investimentos também se beneficiaram com a queda de juros, tais como letras imobiliárias, certificados de dívida agrária e similares, títulos de dívida privada com a criação de diferentes fundos com diversa especialização. Muitos investidores, apesar do dólar ter mostrado expressiva valorização contra nossa moeda, optaram por diversificar com a aplicação em diferentes investimentos no exterior. Os investidores estrangeiros só reagiram aplicando no nosso mercado a partir de outubro pois até então tinham sido vendedores líquidos e muito cautelosos.

Mas a discussão principal em relação ao fator tomou novo im-pulso, principalmente a partir de duas variáveis importantes:

a. Preocupação com o aumento da dívida interna que se aproximou de 100% do PIB (em função também do crescimento insatisfatório).

b. A defasagem entre o IPCA e IGPM que chegou a nível de diferencial superior a 15%. A preocupação fundamenta-se em que à medida essa discrepância poderá afetar a manutenção da taxa de juros na cada dos 2%, sendo que as projeções já estavam na casa dos 3,5%. Havia a preocupação que a inflação voltasse ao horizonte.

Portanto, temos um quadro cheio de incógnitas, onde as in-certezas são muito maiores que as certezas.

Olhando a política de governo, seja no plano social, econômi-co-financeiro, saúde e nas relações exteriores, não encontra-

mos muito em que nos apoiarmos. As reformas econômicas prometidas ficaram nas pranchetas e nas declarações dos ministros.

Passadas as eleições municipais, esperamos que o Congresso possa avançar em algumas reformas aguardadas há longa data pelos mercados.

No que toca nossas relações com o novo Presidente Biden, te-mos outra grande interrogação, pois até o momento em que escrevia esse comentário, nosso governo, um dos pouquíssi-mos do mundo ocidental, não havia reconhecido a eleição de Biden substituindo Donald Trump, que buscava a reelei-ção e era a predileção do nosso Presidente e de qualificados representantes do Ministério das Relações Exteriores.

Terminaria citando um pensamento de Richard Thales, Prê-mio Nobel de Economia em 2017, que em longa entrevista ao Estado de São Paulo em 22/11 registrou: “O maior erro dos investidores é excesso de confiança”. Pelo que aqui observo, o fator confiança no quadro atual está em falta! RI

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA é economista, e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Conselho Empresarial da América [email protected]

No que toca nossas relações com o novo Presidente Biden, temos outra grande interrogação, pois até o momento em que escrevia esse comentário, nosso governo, um dos pouquíssimos do mundo ocidental, não havia reconhecido a eleição de Biden substituindo Donald Trump, que buscava a reeleição e era a predileção do nosso Presidente e de qualificados representantes do Ministério das Relações Exteriores.

PONTO DE VISTA

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10 REVISTA RI Dezembro 2020 | Janeiro 2021

EM PAUTA

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Retomada do crescimento econômico, novo recorde de IPOs, manutenção da taxa de juros em patamar historicamente baixo, chegada de mais investidores na Bolsa. Estas são algumas tendências que marcam as perspectivas para o mercado de capitais em 2021. É esperado ainda que mais iniciativas voltadas para a educação financeira aconteçam, qualificando os novos entrantes e as práticas ESG se consolidem como algo comum entre as empresas, ao invés de um diferencial para aquelas que levam a sigla a sério.

por ANA BORGES

Pela primeira vez na história recente da economia brasileira, durante uma crise econômica, o Banco Central do Brasil foi na mesma direção do mercado externo: ao invés de subir a taxa de juros para atrair capital estrangeiro e controlar a des-valorização da moeda, cortou a Selic reunião após reunião. Hoje a taxa se encontra no menor patamar da história (2%) e a consequência positiva foi sentida imediatamente: o merca-do de capitais passou a cumprir seu papel de financiador de longo prazo das empresas brasileiras. “Por diversas vezes falávamos: agora o CDI vai ficar baixo. E aí voltava. Esta foi a primeira crise que a gente passou que o Banco Central baixou os juros para fomentar a atividade. Nas outras, a medida era dar um salto nos juros para cima. Agora nos comportamos como primeiro mundo. Então, tudo indica que esses juros atuais são estruturais e isso mudou a cabeça do investidor”, avalia o gestor da Vitreo Rodrigo Knudsen. Por quanto tempo este cenário vai se manter ainda é uma incógnita, mas não é esperado nenhum sobressalto dos juros para cima de forma a mudar a conjuntura atual e provocar uma nova migração dos investidores para a renda fixa. “A si-tuação do Brasil é um pouco particular. Quando me pergun-tam quanto tempo esses juros baixos duram, eu digo: não RODRIGO KNUDSEN, Vitreo

11REVISTA RIDezembro 2020 | Janeiro 2021

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JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN, Economista

sei, mas no Japão começou em 1990 e dura até agora. Então, é complicado saber quanto tempo permanece essa conjuntu-ra de juros baixos. No Brasil, a situação não é a mesma dos EUA, da Zona do Euro, ou do Japão. Nós temos uma taxa de poupança muito reduzida, a situação fiscal é complicada e há uma certa incapacidade do governo de propor soluções para melhorar a situação fiscal, afirma o economista José Alexandre Scheinkman. Para ele, o mercado de capitais como fonte de transformar poupança privada em investimento funciona razoavelmente bem no Brasil, mas há dois problemas. Primeiro, o governo absorve parte desta poupança para financiar o seu déficit, valor que fica indisponível ao mercado de capitais. Segundo é que o Brasil está obtendo uma reputação muito ruim junto aos investidores internacionais.

“Este é um fenômeno relativamente novo e o governo tem uma responsabilidade muito grande, pois não parece enten-der como funciona este mercado de grandes investimentos do resto do mundo. A maior parte do dinheiro pertence a fundações e diversos pools em que o investidor final é um agente e não um autônomo do dinheiro”, explica.

Por esse motivo, quando um fundo de pensão de bilhões de

Este é um fenômeno relativamente novo e o governo tem uma responsabilidade muito grande, pois não parece entender como funciona este mercado de grandes investimentos do resto do mundo. A maior parte do dinheiro pertence a fundações e diversos pools em que o investidor final é um agente e não um autônomo do dinheiro.

dólares quer tomar uma decisão de investimento, é preciso considerar o que as pessoas proprietárias deste fundo pen-sam sobre o Brasil. “Não é uma decisão do presidente dos EUA, ou do governador onde está este fundo e nem do pró-prio gestor sozinho. É preciso ver a reputação do país porque as pessoas que detém o dinheiro acabam mandando o gestor embora. É diferente do Brasil onde os gestores dos fundos de pensão tomam as suas próprias decisões”, explica Scheink-man. Assim, enquanto o Brasil não mudar sua postura e con-tinuar permitindo o que está acontecendo com a Amazônia, por exemplo, pagará o preço. “Por enquanto o Brasil vai depender de recursos internos. Vai haver inversão externa, mas para ter um fluxo importante para financiar a economia e projetos, vamos precisar mudar a atitude do governo. Precisamos também melhorar a segu-rança jurídica do Brasil e a questão dos impostos. Isso requer reforma. Há muita coisa para fazer”, alerta Scheinkman.

A restrição dos investimentos externos para o Brasil e o ele-vado déficit fiscal, podem até impactar a taxa de juros pela maneira como os mercados funcionam, mas não há previsão de mudança relevante no patamar dos juros no próximo ano. Aparentemente, os juros de um dígito vieram para ficar e isso mudou o comportamento dos investidores.

EM PAUTA

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Antes acostumados a receber rentabilidade de dois dígitos sem fazer esforços, os brasileiros passaram a buscar a diver-sificação. Assim, a bolsa registrou uma enxurrada de novos CPFs e hoje conta com mais de 3 milhões de pessoas físicas. No acumulado do ano até outubro, o número de cadastra-dos cresceu 82,4%. O perfil também mudou. A maioria dos ingressantes é da faixa etária mais jovem. Do total, 33,7% possuem entre 26 e 35 anos. No início do ano passado, pre-valecia a faixa entre 36 e 45 anos, 27,5%.

Junto com esse movimento, dois outros ocorreram con-comitantemente: o aumento das inciativas de educação financeira e a disseminação do mercado através do uso das mídias sociais, além do crescimento do número de empresas que optaram por captar recursos via equity. “Apesar de acreditar que a queda de juros seja um gran-de motivo para o aumento de pessoas físicas na Bolsa, não acho que seja o único fator. O crescimento de plata-formas digitais, que facilitam a escolha de investimen-tos, deve ser levado em conta, juntamente com a edu-cação financeira, mais o infinito conteúdo educacional na internet e o maior número de ferramentas e bancos digitais que auxiliam os usuários na tomada de deci-são”, avalia Gustavo Carrijo, novo superintendente de RI do Banco Pine.

GUSTAVO CARRIJO, Banco Pine

O crescimento de plataformas digitais, que facilitam a escolha de investimentos, deve ser levado em conta, juntamente com a educação financeira, mais o infinito conteúdo educacional na internet e o maior número de ferramentas e bancos digitais que auxiliam os usuários na tomada de decisão.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Um dos grandes desafios do mercado é preparar os novos en-trantes a entenderem como funciona a renda variável. Neste sentido, crescem as iniciativas de educação financeira. Esta é uma das bandeiras levantadas pela XP Investimentos. “O maior investimento brasileiro ainda é a poupança que soma R$ 1 trilhão. Mas, a poupança hoje rende negativamente em relação a inflação. As pessoas estão começando a entender que o Brasil mudou e que esse cenário de juros a 2% requer mais tomada de risco. Não é igual a 10 anos atrás em que a taxa de juros era de 14%.”, afirma Izabella Mattar, head de educação da XP.

A migração de capital demanda mais conhecimento dos in-vestidores. “É interessante para nós termos a educação como um pilar do sistema financeiro para ajudar essas pessoas a tomarem as melhores decisões e o Brasil a prosperar como um todo. Queremos que o cliente tenha rendimentos positi-vos para que se sinta cada vez mais encorajado a colocar mais dinheiro e não o contrário.

Se o cliente entra despreparado, ele perde dinheiro e vai ficar com medo de colocar mais capital no risco. A gente quer que as pessoas venham cada vez mais. A educação é um pilar do ecossistema muito relevante”, resume.

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Em 2020, a XP lançou a Xpeed School, uma empresa inde-pendente e 100% voltada à educação financeira. A empresa nasceu com cinco escolas, mais de 100 professores e 195 mil alunos impactados. Há a escola de educação financeira, de in-vestimentos, de trade, de empreendedorismo, além do Xpeed Pro, que oferece cursos de pós-graduação. “Temos inúmeros cursos, inclusive gratuitos para oferecer ao potencial cliente uma completa noção do mercado de investimentos de forma geral, além de todos os influencers que estão ligados à XP. Temos uma série de vozes no mercado, o que ajuda muito”, diz Carlos Lazar, diretor de RI da XP.

O gestor da Vitreo Rodrigo Knudsen, explica que o aumento das iniciativas de educação financeira foi causado pela con-juntura de juros estruturais baixos e pela própria busca de autonomia por parte do investidor. “As pessoas começaram a se mexer, a sair da poupança e as plataformas de investi-mentos atraíram os clientes que estavam buscando por mais retorno e, por consequência, correndo mais risco”, conta.

Inicialmente, o movimento de migração para a renda variável ocorreu de forma desordenada e à mercê de interesses, pois muitos agentes eram comissionados e nem sempre indicavam a melhor opção ao investidor. Agora com as redes sociais e com o público mais jovem ingressando na bolsa, a tendência é que o agente autônomo seja retirado do caminho e as pessoas busquem informação para investir por conta própria. “É o que chamamos de “Indústria 3.0”. A nova geração tem interesse em conteúdo. Tudo isso vai levar para uma educação financeira de forma que a pessoa vá buscar aprender a investir sozinha. O desejo é por produtos baratos, de fácil acesso e entendimento. Esta é a principal tendência de 2021”, defende Knudsen.

Ele lembra que todas as casas estão se mexendo para prover educação. “É mostrar o risco do produto e que este possa ser comparado. Com o tempo, as pessoas vão entender. A pan-demia já foi um grande aprendizado. Quem esperou pratica-mente já recuperou tudo”, ressalta.

Segundo o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, o com-portamento do investidor durante a pandemia mostrou que o público está cada vez mais informado sobre os meandros do mercado acionário. “O investidor pessoa física este ano deu show, calou a boca de muita gente que achava que na primeira crise ele iria colocar a viola no saco e ir para casa”, declarou em live promovida pela Empíricus e a Vitreo. De acordo com o executivo, a grande contribuição da crise é que as pessoas passaram a dedicar tempo e serem protagonistas em seus investimentos. “O que para nós aconteceria em dois, três anos, aconteceu em quatro meses, catalisado pela crise”.

IZABELLA MATTAR, XP

O maior investimento brasileiro ainda é a poupança que soma R$ 1 trilhão. Mas, a poupança hoje rende negativamente em relação a inflação. As pessoas estão começando a entender que o Brasil mudou e que esse cenário de juros a 2% requer mais tomada de risco. Não é igual a 10 anos atrás em que a taxa de juros era de 14%.

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Mesmo diante desta postura, o acesso a conteúdos sobre educação financeira ainda é um problema no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) que realizou um levantamento, realizado com 975 consumido-res, destacam que 41% dos entrevistados nunca receberam informações sobre o tema por meio dos canais dos bancos, embora tenham ciência que as instituições possuem canais sobre educação nos sites e nos aplicativos. No ano passado, o BC emitiu o comunicado nº 34.201, o qual recomenda que as instituições autorizadas assumam mais responsabilidade na distribuição de materiais sobre educação financeira para os clientes. Não há obrigatoriedade. DE CEMITÉRIO A ROUPAS USADAS

Junto com o crescimento das pessoas físicas, o ano de 2020 também foi marcado pela onda de IPOs. Apesar da pande-mia, até novembro, 25 empresas ofertaram suas ações, mo-vimentando R$ 31,7 bilhões. Esses números só ficam atrás do recorde de 2007, que registrou 64 IPOs, com captação de R$ 55 bilhões. Somente nos meses de outubro e novembro, 19 empresas protocolaram seus pedidos na Comissão de Va-lores Mobiliários (CVM). No total, 32 companhias aguardam na fila para terem suas ações negociadas na B3, mas o núme-ro de intenções é muito maior.

CARLOS LAZAR, XP

Temos inúmeros cursos, inclusive gratuitos para oferecer ao potencial cliente uma completa noção do mercado de investimentos de forma geral, além de todos os influencers que estão ligados à XP. Temos uma série de vozes no mercado, o que ajuda muito.

Para se ter uma ideia, a MZ Group, maior consultoria brasilei-ra para a área de RI já assinou contratos de intenção com 110 empresas que desejam fazer IPO, com horizonte de listagem até meados de 2021. “No nosso lado da MZ, nós costumamos participar entre 90% e 95% dos IPOs realizados. Com certeza nem todos vão para frente porque tem muita a questão do modelo de negócios e da estratégia de investimentos da em-presa, mas a gente está vendo muito case novo. Desde 2007, quando tivemos o recorde de IPOs, nunca vimos o mercado tão otimista”, afirma PH Zabisky, CEO da MZ Group.

Segundo o executivo, há muitos cases de tecnologia entran-do e de empresas que demonstraram uma resiliência neste momento de pandemia em que era preciso ser rápido em se adaptar. “As empresas que fizeram um bom trabalho durante este ano devem ser vistas com carinho pelo investidor”, diz.

Chama a atenção a diversidade de setores que passaram a fazer parte do radar dos analistas de mercado. Ao mesmo tempo, empresas com pouca visibilidade passaram a ser conhecidas pelos investidores de todo o Brasil por terem uma boa história para contar. Neste movimento, destaca-se a rede de supermer-cados Matheus, quarto maior atacarejo do País, mas que tem atuação local: são 137 lojas no Maranhão, Pará e Piauí.

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Outro case foi o da Enjoei.com. A empresa nasceu como um blog em 2009, que vendidas roupas usadas, mas o market-place conseguiu movimentar R$ 1,13 bilhão em sua oferta inicial de ações, com um valor de mercado de R$ 2 bilhões. Também com receita baixa e de um segmento inusitado, o Grupo Cortel, empresa de cemitérios e serviços funerários, fundado há 57 anos, protocolou seu pedido junto à CVM.

“O mercado está encontrando cases diferentes. Há os tradi-cionais de empresas sólidas, mas há aquelas que tem receitas menores e que, apesar disso, estão conseguindo acessar a B3. Há a parte de tecnologia que antes tinha uma tendência de buscar as bolsas estrangeiras e agora fazendo listagem aqui e lá fora”, diz Zabisky.

Otimista com o futuro do mercado de capitais, o CEO da MZ, acredita que o cenário daqui para frente será muito diferente do passado. “Teremos um Brasil diferente, em que empresas não tão grandes vão conseguir ter acesso ao mercado de capi-tais. Isso significa mais governança e capital para crescimento. Também faz com que o mercado de private equity e venture capital cresça muito porque estes fundos acabam vendo pos-sibilidade de saída. É um momento muito bom”, comemora.

Para ele, se o Brasil fizer a lição de casa, tem tudo para registrar uma média de 100 IPOs por ano. “A gente tem um

potencial de abertura de capital enorme no Brasil. Quebra-mos um paradigma muito importante: você não precisa ser uma empresa na casa “bi” de receita para acessar o merca-do. Isso abre um horizonte novo para o país. Em ofertas de valores menores, o varejo consegue absorver grande par-te”, observa Zabisky.

Para Bruno Brasil, diretor-presidente do Instituto Brasilei-ro de Relações com Investidores (IBRI) e RI & Controller da Itaúsa, o cenário para 2021 ainda é de muita volatilidade do mercado, mas a expectativa é de que ocorram algumas de-zenas de IPOs no primeiro semestre. “Felizmente tem vindo um pouco de tudo, de petshop a startups. Não vejo restrição a setores, mas sim o mercado tentando entender cada negócio. Então, o papel do RI neste processo de IPOs, se torna ainda mais importante”, observa. ESG É O NOVO NORMAL

As novas ingressantes vão se deparar com um mercado mui-to mais exigente, em que o segmento máximo de governan-ça corporativa, o Novo Mercado, deixou de ser algo especial para ser praxe entre as companhias mais recentemente lista-das. “Se você for pensar na lista de prioridades do RI, o ESG saltou umas tantas posições nos últimos meses. Esta posição, no mínimo, se mantém em 2021 e vamos ver o engajamento acontecendo”, destaca Bruno Brasil.

O investidor pessoa física este ano deu show, calou a boca de muita gente que achava que na primeira crise ele iria colocar a viola no saco e ir para casa. O que para nós aconteceria em dois, três anos, aconteceu em quatro meses, catalisado pela crise.

GILSON FINKELSZTAIN, B3

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Quando o Novo Mercado foi criado, lá no início dos anos 2000, havia muitos céticos que acreditavam que as regras eram duras demais e, por este motivo, afugentariam as empresas que pretendiam abrir capital. Foi exatamente o contrário que aconteceu. O segmento se consolidou como o mínimo de governança que a empresa precisa oferecer a seus investidores.

Mas os investidores de agora ainda não estão plenamente satis-feitos e não se contentam com as regras do Novo Mercado. Pelo contrário, exigem bem mais e é aí que a sigla ESG, ou ASG, entra em cena como uma tendência que veio para ficar. A pandemia apenas acelerou o processo e a importância das práticas susten-táveis nos campos do ambiental, social e da governança.

“Depois da Covid, esta foi a agenda que mais ganhou des-taque no mercado esse ano. A sigla ESG se tornou latente e as empresas vem tentando fazer uma evolução com afinco, mas é preciso ter cuidado para entender o que é um ESG de verdade e o que é um ESG de marketing”, afirma Lazar. A tendência ficou clara em meio ao boicote de clientes e inves-tidores em casos amplamente divulgados na mídia.

“Isso é inevitável dentro das perspectivas do Novo Merca-do. Os investidores vão procurar as empresas ESG da mes-ma maneira que no início dos anos 2000, quando a Bovespa

PH ZABISKY, MZ Group

Teremos um Brasil diferente, em que empresas não tão grandes vão conseguir ter acesso ao mercado de capitais. Isso significa mais governança e capital para crescimento. Também faz com que o mercado de private equity e venture capital cresça muito porque estes fundos acabam vendo possibilidade de saída. É um momento muito bom.

lançou o Novo Mercado. Isso virou tão importante que todos os novos IPOs saem no Novo Mercado e poucas companhias mantém as PNs, só as mais antigas ou aquelas por restri-ção regulatória. Eu acredito que o modelo ESG vai ser um selo para as ações, assim como foi o Novo Mercado”, defende Knudsen, da Vitreo.

Desde sua criação, o Novo mercado virou mainstream e com o ESG deve acontecer a mesma coisa, mas não no curto pra-zo. “Isso ocorrerá mais para frente. O ano de 2021 vai ser um preparatório até porque não se sabe o que as empresas têm que fazer para ter o selo ESG. Já tem muita gente olhando para isso e ainda não existe um consenso. O Novo mercado tem regras claras. Já o ESG não tem regras e não há nenhum legislador pronto para elaborar as regras”, explica.

Para Knudsen, este é um caminho sem volta. “O passado foi marcado por empresas falando que eram por fora, mas por dentro nada tinha mudado. Quais práticas vão ser exigidas no tema social, ambiental. O que é suficiente? Quais são as práticas reais que as empresas precisarão fazer para se con-siderar ESG? Isso vai ser definido pelo mercado. As empresas entenderam que só falar bonito não funciona mais até por-que logo são rebatidas. Ainda há muito a ser feito porque muito foi falado. As empresas não se transformaram de fato, o que deve acontecer em 2021”, projeta.

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O World Economic Forum divulgou há alguns meses um framework para elaboração e divulgação de informações re-lacionadas a ESG, o que representa importante avanço nessa temática. Mais recententemente, o International Integra-ted Reporting Council (IIRC) e o Sustainability Accounting Standards Board (SASB) anunciaram a intenção de se fundir em uma organização unificada, a Value Reporting Founda-tion, fornecendo aos investidores e empresas uma estrutura abrangente de relatórios corporativos em toda a gama de va-lor empresarial drivers e padrões para impulsionar o desem-penho de sustentabilidade global.

A XP tem feito um trabalho de educação, tanto dos gestores como dos agentes autônomos, para preparar o mercado a fa-zer análises baseadas nos princípios ESG. “É uma educação voltada para como avaliar uma empresa ESG e quais indica-dores fazem sentido você considerar, o que depende do perfil da empresa. Colocamos em prática um ciclo de reuniões e apresentações junto ao mercado. Também alimentamos o ciclo ESG junto a startups. Queremos colocar a sigla em evi-dência e tudo o que ela fomenta”, afirma Lazar.

A XP firmou recentemente uma parceria com a gestora euro-peia Nordea para ofertar ao mercado um programa de trei-namento digital sobre as práticas ESG, chamado de Universi-dade XP (U-XP). A companhia estima potencial de impacto na

BRUNO BRASIL, IBRI e ITAUSA

Felizmente tem vindo um pouco de tudo, de petshop a startups. Não vejo restrição a setores, mas sim o mercado tentando entender cada negócio. Então, o papel do RI neste processo de IPOs, se torna ainda mais importante.

disseminação de conhecimento sobre ESG para mais de 500 mil investidores.

O assunto está muito novo e como tudo que está acontecen-do, muito rápido. As empresas sabem que os investidores vão procurar por isso assim como os próprios consumidores que fazem os boicotes. O cenário exige mudanças, mas ainda está no começo. Pesquisa de uma consultoria internacional reve-lou que o número de investidores que fazem uso de métricas não-financeiras em suas decisões aumentou de 27% para 43% entre 2016 e 2020, tornando os relatórios ESG uma preocu-pação cada vez mais vital. Apenas 9% dos investidores não usaram o desempenho não-financeiro como parte de sua to-mada de decisão, enquanto apenas 2% dos investidores não vêem a necessidade de uma estrutura formal para medir e comunicar o valor intangível.

“É notável que as empresas que têm uma classificação ou práticas ruins de ESG estão tendo uma vida mais difícil e acabam tendo de arcar com mais custos. Mas vale ressaltar que não é necessário abrir mão de rentabilidade para investir segundo os parâmetros ESG, pois você tem que procurar em-presas que vão dar um retorno acima da média e que ainda tenham uma boa classificação ESG, afinal não existe mais a opção de escolher entre ganhos e fazer o certo”, ressalta Gustavo Carrijo.

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Ele também vê como um dos maiores desafios para o merca-do a definição de termos como: “verde” e “sustentável”. “Ain-da não há um padrão internacional único e uniformemente implementado, embora diversas organizações se dediquem ao tema. O principal risco é o “greenwashing” (lavagem verde), isto é, que empresas e produtos sejam apresentados como sustentáveis apenas para fins de marketing”, diz.

Para Carrijo, nos últimos anos têm sido gritante o descasa-mento entre o discurso de sustentabilidade declarado pelas instituições financeiras e suas ações para implementar uma Política de Responsabilidade Social e Ambiental (PRSA). En-tre as principais barreiras à implementação da PRSA, desta-cam-se o custo, a complexidade da análise ESG e a falta de capacitação dos colaboradores.

Não há como negar que o Investimento Sustentável virou formalmente o “novo normal”. Uma pesquisa recente mos-trou que metade dos investidores individuais dos EUA são adeptos ao tema, e 80% das assets estão integrando variáveis de sustentabilidade em seu processo de investimento. Os fa-tores que impulsionam a adoção incluem uma crença cres-cente de que apoiar empresas com fortes práticas de susten-tabilidade pode ser um investimento de longo prazo melhor do que os fundos tradicionais.

“Para mim, em 2020 ficou mais claro ainda que não adianta a empresa ter uma boa nota ESG e ter um negócio ruim. Se o business for bom, provavelmente a nota ESG também será boa, porque a empresa vai ter uma relação saudável com to-dos os stakeholders. Como profissional de RI de um banco, vejo o setor financeiro com um papel essencial na mobiliza-ção e alocação do capital necessário para gerar cada vez mais valor”, complementa Carrijo.

Em 2020, motivado pelas várias discussões no mercado re-lacionadas ao tema ESG, o Pine acelerou o debate de pautas internas que englobam temas relacionados à sustentabilida-de por meio da criação da Comissão ESG e revisão da PRSA. Estas questões já eram consideradas no planejamento estra-tégico, no entanto, o banco está buscando aprofundar a com-preensão dos impactos desse tema, uma vez que o considera essencial para a perenidade de seus negócios.

No caso da Minerva Foods, por liderar a exportação de carne bovina na América do Sul e exportar os produtos para mais de 100 países, há a preocupação em atender aos mais exi-gentes padrões de operação com o menor impacto ao meio ambiente, com suporte às comunidades onde atua, além de adotar as melhores práticas de transparência e governança

corporativa, histórico esse que proporcionou a possibilidade de ser a única empresa do setor na América Latina atualmen-te financiada pela IFC, do grupo Banco Mundial.

“Sob a ótica de negócios, o ESG em nossa indústria represen-ta oportunidades, abertura de novos mercados, capacidade de acessar novos clientes e de posicionar com destaque, espe-cialmente no exigente mercado internacional, a Minerva e nossos produtos”, afirma Danilo Cabrera, head de Relações com Investidores da Minerva Foods. Ele defende que o pro-cesso educativo na pauta de ESG se tornou tão importante quanto a discussão da tese de investimento, da estratégia e dos números da companhia.

MODELO VIRTUAL

Outra tendência que veio junto à pandemia e ganha tração é a mudança na forma de comunicação com os investidores, em que cresce a presença do digital. “Estar frente a frente com o investidor, sempre vai ser muito valioso e fundamen-tal, contudo, a interação via reuniões virtuais, vídeo confe-rências etc. também se provaram bastante efetivas. Alguns investidores se aproveitaram do momento e se aproximaram ainda mais das companhias. A facilidade e a flexibilidade de reuniões via vídeo estreitaram laços e aumentou a frequên-cia dos contatos, creio que esse modelo de discussão virtu-al vai ser um vetor bastante relevante dentro da atuação da área de RI”, observa Cabrera.

Ele recorda que o crescimento das pessoas físicas no mercado, demanda novas formas de comunicação e interação – incluin-do o uso frequente de meios digitais, como lives, webinars, podcasts, redes sociais. “Nós na Minerva Foods desenvolvemos uma série de iniciativas para aproximar a companhia desse perfil de investidor, em particular via abordagem educativa, procurando disponibilizar informações e esclarecer dúvidas tanto sobre a Minerva como sobre o mercado em si”, ressalta.

Bruno Brasil lembra ainda que a comunicação mudou bastante. “A comunicação externa ganha peso e ficou mais complexa com a chegada dos novos investidores e uma diversificação tanto de público quanto de temas. Vejo como uma tendência a aproxima-ção do RI com a comunicação corporativa. Haverá uma unifica-ção de canais, o que leva a ganhos de comunicação”, diz. A se-gunda tendência é repensar o uso das ferramentas tradicionais. “É se questionar ao quanto são eficazes. Não tem mais material distinto para pessoa físicas e institucionais”, observa.

MACROECONOMIA

Projeções dos economistas, indicam que o cenário para 2021 é de manutenção dos juros baixos com retomada da econo-

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mia. Segundo dados do Monitor do PIB-FGV, da Fundação Ge-túlio Vargas (FGV), o PIB caiu 4,4% nos nove primeiros meses do ano em comparação com o mesmo período de 2019. O IBGE ainda não divulgou os dados.

A estimativa para o ano de 2020 é de queda de 4,5%, segundo o relatório Focus do Banco Central. No sistema de expecta-tivas do BC, a média da projeção da queda do PIB esperada para este ano chegou a 6,5% em junho e passou por um pro-cesso constante de revisões.

“A atividade econômica continua em processo de recupera-ção. Aumentamos nossas projeções de crescimento do PIB de -4,5% para -4,1% este ano e de 3,5% para 4,0% em 2021”, afi rma a equipe econômica do Itaú em relatório publicado em novembro de 2020. Para 2021, a projeção é de alta de 4,0%. A visão é de que o consumo de serviços, que ainda vive recuperação lenta, deva ganhar tração à medida que a epi-demia desacelera e o isolamento social recua. Já a projeção da XP Investimentos para o PIB é de queda de 4,6% este ano e alta de 3,4% em 2021.

Mas algumas incertezas ainda pairam. A principal é se ocor-

DANILO CABRERA, Minerva Foods

rerá uma segunda onda da Covid-19 que levará a novas qua-rentenas. Na Europa e EUA, o preço do novo confi namento já tem sido sentido. No Brasil, a situação parece estar sob controle. “Uma primeira onda mais prolongada, a sazona-lidade favorável − com temperaturas mais elevadas no He-misfério Sul − e avanços em testes para uma vacinação ao longo do primeiro trimestre de 2021 diminuem o risco de uma segunda onda do vírus no curtíssimo prazo”, afi rmam os economistas do Itaú.

Scheinkman acrescenta que no Brasil não se sabe se vai ha-ver uma segunda onda ou se a primeira onda continua. A pandemia ainda vai ser um problema para o país. “Há uma total incapacidade do governo de gerir uma política de saú-de”, acrescenta.

Outro fator de preocupação é a situação fi scal do país. O ele-vado défi cit pode, inclusive, pressionar a taxa de juros, que deve subir em 2021. Mesmo assim, a Selic ainda fi cará bem abaixo dos dois dígitos, reforçando o fl uxo de recursos para a renda variável.

A projeção do boletim Focus é de que a taxa encerre 2020 em 2% e suba para 3% em 2021. Já os economistas do Itaú tam-bém prevêem que nada muda até o fi m do ano. “Esperamos que a taxa básica de juros permaneça inalterada em 2,0% até perto do fi m de 2021, quando seria elevada para 3,0% – mas o risco, na ausência de uma solução satisfatória para o dile-ma fi scal do Brasil, é de uma alta antecipada”, afi rmam os economistas do Itaú.

Ao mesmo tempo, a Selic baixa reduz o custo dos juros com a dívida, conforme lembra a Carta Conjuntura do IPEA de 19 de novembro. “O contexto de taxas de juros baixas ate-nua o impacto sobre a conta de juros da dívida no curto prazo”. De fato, a crise ensejou redução nas taxas de juros e a despesa com juros da dívida pública deve cair, em relação ao cenário pré-pandemia, 0,91% do PIB na média de 2020 a 2022, com base nas projeções de resultado primário e no-minal do Focus/BCB.

Em 2021, a incerteza em relação ao cumprimento do teto de gastos deve permanecer até março, quando é esperado que o Orçamento do ano seja aprovado. “Até lá, esperamos que o teto de gastos seja respeitado. Em particular, o primeiro trimestre do ano deve contar com uma redução do auxílio emergencial. O novo montante deve permitir uma transfe-rência de R$ 250 para cerca de 22 milhões de famílias, ao custo mensal adicional ao Bolsa Família de R$ 2,7 bilhões”, complementa o relatório do Itaú. RI

EM PAUTA

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S E I N V E S T I M E N T OF O S S E U M AQ U E S TÃ O D E S O RT E , WA L L S T R E E TF I C A R I AE M L A S V E G A S .

VA L O R I N V E S T E . A Q U I T E M M A I S VA L O R .

T U D O P A R A V O C Ê I N V E S T I R M E L H O R .A C E S S E VA L O R I N V E S T E .

va l o r i nve ste . c o m

U m s i t e c o m p l e t o , c o m a c e s s o g r a t u i t o e c o n t e ú d o s e m

c o m p l i c a ç ã o . O c o n h e c i m e n t o d o m e r c a d o a t r a v é s d e i n fo r m a ç õ e s

c u r s o s e a n á l i s e s , c o m a c r e d i b i l i d a d e d o V a l o r E c o n ô m i c o

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AUDITORIA NAS ESTRATÉGIAS 2021O PRÓXIMO NORMAL EM CONSTRUÇÃO

ESTRATÉGIA

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Embora seja um procedimento padrão, executivos informarem os conselheiros sobre a estratégia e as estruturas em evolução na reunião anual dedicada a esse objetivo, sempre se entendeu que a "propriedade" da estratégia é do CEO e de seus executivos. E por uma boa razão! Para ser eficaz, toda organização exige não apenas uma missão clara e inequívoca, mas também a confiança de que sua alta gestão tem autoridade e capacidade para realizá-la.

por ANTONIO EMILIO FREIRE e ROCHANA GROSSI FREIRE

Entretanto, o processo de supervisão corporativa vem re-cebendo atenção pública sem precedentes e o ativismo dos investidores vem resultando em inúmeras propostas de re-formas urgentes na governança, em especial à cidadania cor-porativa ESG, Gerenciamento de Riscos e Digitalização.

Empresas com modelos de negócios resilientes para acompanhar es-sas tendências vem se distanciando ainda mais de seus concorren-tes, enquanto aqueles com modelos de negócios estáticos ficaram, na maior parte, para trás.

Entre as mais avançadas ferramentas a serem consideradas nesse “Próximo Normal em Construção” está a proposta de se estabelecer um processo formal de Auditoria Estratégica dentro do Conselho de Administração, também a mais pode-rosa e difícil de implementar.

Claramente devido à sensibilidade e ao alto grau de sigilo em que as estratégias corporativas estão inseridas, o único corpo organizacional que tem a autoridade e legitimidade para exercer uma auditoria nas estratégias corporativas é o Conselho de Administração.

Empresas com modelos de negócios resilientes para acompanhar essas tendências vem se distanciando ainda mais de seus concorrentes, enquanto aqueles com modelos de negócios estáticos ficaram, na maior parte, para trás.

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Mas o envolvimento do conselho na formulação e implemen-tação da estratégia corporativa sempre foi uma questão deli-cada. Por natureza, o conselho de administração típico é mal projetado e mal equipado para fornecer produtos práticos e liderança de mercado.

Todos os que atuaram como membros do conselho sabem que comparecer a uma reunião para discutir um plano es-tratégico é como entrar na rampa de uma via expressa na hora do rush: você passa metade do tempo acelerando sem sair do lugar e a outra metade tentando se inserir no tráfego, apenas para descobrir que é hora de sair e tentar novamente um mês depois.

Há também um grande problema de avaliação! De acordo com o IBGC apenas 20% das empresas fazem algum tipo de avaliação formal de seus Conselhos e Conselheiros no Brasil. Essa é uma estatística estarrecedora. Com todas as mudanças que estão ocorrendo fica fácil observar que a governança cor-porativa não será um trabalho para os fracos.

Tipicamente, esses conselhos compreendem indivíduos que agem distantes em contraste a um ambiente de negócios di-nâmico que exige transparência e responsabilidade.

As empresas precisarão mais do que nunca de Conselheiros que tenham visões holísticas e que possam se envolver ati-vamente em praticamente todos os aspectos das operações de uma companhia e nesse contexto, os conselhos tendem a progredir em um continuum de quatro fases: Fundamental, Desenvolvido, Avançado e Estratégico.

Essencialmente o continuum representa uma hierarquia cor-porativa de necessidades, semelhante à famosa hierarquia de desenvolvimento pessoal criada por Abraham Maslow. No modelo corporativo, você equipara um "conselho funda-mental", que fornece supervisão básica de conformidade, às necessidades básicas de sobrevivência, como comida e abrigo na hierarquia humana. Da mesma forma, um “conselho estratégico” fornece pros-pecções para formar a estratégia fundamental de uma em-presa, é totalmente atualizado e de alto desempenho.

Os indicadores financeiros contribuem com padrões que todas as partes interessadas possam entender. Alguns argumentam que o uso de indicadores financeiros é apenas mais um exemplo de uma preocupação míope com

o alto desempenho, levando a decisões de curto prazo que corroem a força competitiva e a lucratividade de longo prazo nos mercados. Devo discordar! Embora ache que os critérios financeiros de-vam ser o foco central da supervisão do conselho, não acho que esse foco impeça o conselho de considerar outros tipos de progresso, em especial os relacionados aos riscos dos fato-res ambientais e sociais. Os critérios mais adequados ao processo de supervisão estra-tégica compartilham duas características importantes. Eles se concentram na taxa de retorno sustentável produzida pelo fluxo de caixa corporativo. Eles permitem comparações entre os fluxos de caixa separáveis da empresa e com investimentos alternativos em outras empresas, dentro ou fora do setor. Esses dados ajudam a determinar se a estratégia escolhida pela empresa - ou uma decisão específica - contribuirá para um retorno a longo prazo do investimento igual ou superior a outras alternativas de investimento com risco comparável. Sem isso, nenhuma estratégia é segura!

Todos os que atuaram como membros do conselho sabem que comparecer a uma reunião para discutir um plano estratégico é como entrar na rampa de uma via expressa na hora do rush: você passa metade do tempo acelerando sem sair do lugar e a outra metade tentando se inserir no tráfego, apenas para descobrir que é hora de sair e tentar novamente um mês depois.

ESTRATÉGIA

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Mas atenção porque apenas fazer melhor do que outras al-ternativas de investimento imediato, melhor do que no ano passado ou até melhor do que todos os principais concorren-tes do mesmo setor num determinado trimestre, pode não ser, no final, suficiente para justificar o apoio contínuo dos investidores. Perseguido em um espírito de respeito mútuo, o processo de Audito-ria nas Estratégias facilita o diálogo contínuo e construtivo.

Para ser realmente eficaz, uma empresa precisa de uma go-vernança com conselheiros que possam trabalhar em grupo para definir claramente sua função corporativa bem como suas funções individuais especializadas, como planejamento de sucessão, aquisições e alocação de capital.

Os executivos-chefes e os conselheiros de administração precisam de um processo de revisão formal e visível para demonstrar aos acionistas seu compromisso compartilhado com uma governança ordenada e eficaz. Uma auditoria nas estratégias é o ponto de partida de cada discussão que examina a situação atual de uma empresa sis-tematicamente.

O principal objetivo da auditoria estratégica realizada pe-los Conselheiros é a avaliação da estratégia atual e mostrar como a empresa pode se posicionar no mercado com estraté-gias alternativas. É igualmente útil em intervenções imedia-tas quando há erosões persistentes da base de investimentos, da qual depende toda a atividade corporativa. Ao fazer a auditoria, algumas etapas devem ser percorridas.

O primeiro é analisar a estratégia atual, que é a análise da empresa, mercado, clientes, produtos, abordagem de marke-ting e vendas etc. Outra etapa é combinar a posição e o perfil atuais da em-

presa, incluindo a marca. As formas devem ser identificadas sobre como elevar o perfil da marca e como alcançar uma maior exploração do mercado. A outra etapa é o estabelecimento de índices de controle. Isso é para garantir uma produção sustentada em marketing e vendas, juntamente com a implementação do planejamento estratégico para melhorar a tomada de decisão.

O status quo com referência ao modelo de negócios e plano de negócios é avaliado pelos conselheiros na auditoria das estratégias. Mas os membros do conselho não devem apenas discutir as propostas que lhes são apresentadas.

Os Conselheiros de Administração Estratégicos são os pilares das empresas de alto desempenho. Eles assumem o risco apropriado de fazer contribuições éticas nas estratégias corporativas e impactam significativamente na continuidade dos negócios, no meio ambiente e na sociedade.

O trabalho deles é que todos os caminhos sejam conside-rados para representar a proposta e torná-la executável. Se algumas propostas tiverem algum tipo de erro, eles pode-rão solicitar a correção e dar sugestões para torná-la mais lucrativa.

Eles devem rever criticamente as premissas atuais dentro da-quelas dezenas de páginas inundadas por gráficos e tabelas e validar as propostas dentro de sete estruturas estratégicas: Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Transferir, Elimi-nar e Rearranjar.

Na análise final, essas estruturas estratégicas devem refletir uma realidade econômica fundamental: Considerados genui-namente os impactos sociais e ambientais, a lealdade a longo prazo dos acionistas depende da sustentação de um retorno competitivo do investimento. RI

ANTONIO EMILIO FREIREé Board Member da Eletrobrás; Fundador e Instrutor da RP Risk Management, Auditor do Distrito Federal. Nos últimos 10 anos vem atuando no aperfeiçoamento da Gestão de Riscos e da Governança Corporativa no Brasil. Possui profunda experiência adquirida em empresas globais com 14 anos nos EUA, Nova Zelândia e Suíça. [email protected]

ROCHANA GROSSI FREIRE é CEO da RP Risk Management; Instrutora e Advisor em Governança Corporativa e Gestão de Riscos. Expert em treinamentos presenciais e EAD e em implementação de frameworks para o gerenciamento de riscos estratégicos, financeiros, operacionais e reputacionais. [email protected]

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PANDEMIAO GRANDE RESET NO MERCADO FINANCEIRO

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ENFOQUE

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por ANDRE VASCONCELLOS

As empresas enfrentaram desafios sem precedentes em 2020, desde o surto da Covid-19 até a subsequente contração da economia global. Entretanto, em meio uma crise mundial que culminou com uma sequência de circuit breakers na B3 e com o Ibovespa atingindo a mínima do ano de 63 mil pontos, surgem oportunidades únicas no mercado de capitais brasileiro.

Muitas companhias abertas têm aproveitado o momento atí-pico não só para comunicar com transparência e confiabili-dade seus desafios de curto prazo e para ratificar os funda-mentos de longo prazo do negócio, mas também aproveitam o momento para reforçar a prontidão empresarial frente às preocupações socioambientais e às incertezas econômicas. Por outro lado, o consumo exponencial de tecnologias nas interações de mercado impulsionou a modernização da co-municação corporativa e da educação financeira no ambien-te de negócios.

Sem dúvida, empresas listadas em bolsa com forte ativismo acionário tem potencializado também o aprimoramento con-tínuo de suas práticas, direcionando a atenção da Alta Ad-ministração para oportunidades de crescimento acelerado, perseguindo melhorias constantes em seus resultados finan-ceiros e operacionais, devolvendo capital aos investidores e aprimorando o grau de relato ESG.

Dessa forma, desde o início da pandemia de Covid-19, os altos executivos enfrentam uma série de decisões difíceis. Consi-deremos, por exemplo, a questão do pagamento de dividen-dos: normalmente, a decisão seria uma questão relativamen-te simples de aplicar uma política de dividendos declarada, seguindo a prática anterior ou escolhendo um valor com base nas expectativas dos acionistas e nos ganhos da empresa para o período.

Mas, neste ano, o novo coronavírus, ao dizimar a economia global e aprofundar a desigualdade social, tornou complexas e sensíveis diversas discussões inclusive sobre dividendos, seus efeitos reputacionais e de sinalização de manter versus suspender ou reduzir a distribuição de dividendo; as expec-tativas e dependência dos acionistas perante à receita de dividendos; a posição de caixa da empresa e seu respectivo plano estratégico; e o que seria prudente em face da incer-teza extrema.

Neste ano, o novo coronavírus, ao dizimar a economia global e aprofundar a desigualdade social, tornou complexas e sensíveis diversas discussões inclusive sobre dividendos, seus efeitos reputacionais.

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O objetivo principal da área de Relações com Investidores, por sua vez, tem sido encontrar um equilíbrio entre fornecer uma avaliação clara e objetiva do impacto macro e microam-biental no curto prazo, bem como transmitir confiança e re-siliência no longo prazo e fornecer esclarecimentos tempes-tivos sobre questões que preocupam investidores e analistas de mercado. Por meio de um alto nível de engajamento e de comunicação multicanal, o RI fortalece a credibilidade com a comunidade de investimentos e ratifica os compromissos da Alta Administração, seja no rigor ao dever de diligência, seja em priorizar e maximizar os interesses dos acionistas.

Por outro lado, com o crescimento exponencial de acionistas pessoa física no capital social das companhias brasileiras, to-talizando até outubro de 2020 em torno de 3,2 milhões de CPFs e R$ 381 bilhões investidos segundo a B3, os formula-dores de políticas públicas e os principais atores do mercado de capitais adotaram também a educação financeira como um antídoto necessário para a complexidade crescente das decisões econômicas dos investidores, que almejam prospe-ridade e uma relação saudável com o dinheiro.

Educar financeiramente no mercado de capitais é ensinar o investidor a ter escolhas inteligentes na busca de um futuro próspero e seguro. Da mesma forma, é papel da educação financeira: (i) incentivar o consumo consciente, controlando o desperdício e as compulsões; (ii) prevenir fraudes ou golpes; (iii) prover um entendimento claro acerca do cenário finan-ceiro e econômico; e (iv) promover uma relação saudável e transparente com o dinheiro, evitando autossabotagens.

Por outro lado, vale ressaltar que transparência do relato empresarial não é sinônimo de fragilidade ou de potencial exposição dos riscos corporativos, e sim de gestão de risco sensata e de governança madura. Quando a comunicação é realizada de modo eficaz, pode demonstrar, de fato, o domí-nio da Alta Administração sobre a situação empresarial, sua forte capacidade de liderança frente circunstâncias desafia-doras e de pronta resposta a preocupações e dúvidas legíti-mas stakeholders, interessados na capacidade de criação de valor sustentável de longo prazo das companhias, conforme se observa nesse momento de retomada da atividade econô-mica e de geração de empregos.

No mercado financeiro, a recuperação no desempenho do índice Ibovespa foi impulsionada, no contexto global, pelos estímulos monetários e fiscais adotados por diversos países e também pelas perspectivas de desenvolvimento de uma va-cina contra a Covid-19; e, no cenário nacional, se relaciona à gradativa redução dos custos de transação e ao aprimora-

mento das regras de negociação, que alteram a formação de expectativas dos investidores, eliminam ruídos no processo de formação de preços, estimulam as negociações de ativos e ampliam a liquidez de mercado.

Sem dúvida, esse momento completamente atípico também proporcionou mudanças estruturais nos processos corporati-vos, como: incremento de eventos institucionais realizados na modalidade virtual; tendência de convocação de assem-bleias digitais ou pelo menos híbridas em temporadas futu-ras; maior consumo de tecnologias para o atendimento e a di-vulgação de informações ao mercado; verdadeira avalanche de relato ESG, impulsionada por analistas e investidores so-cialmente conscientes, assim como maior utilização de redes sociais para comunicação do RI com a sociedade em geral.

Em face do grande reset no mercado financeiro em 2020, a área de RI deve ter processos inteligentes, orientados por dados confiáveis e executados por talentos sempre atentos a mais efetiva “pesquisa de satisfação” do mercado de capitais: a cotação da ação da sua companhia! RI

Vale ressaltar que transparência do relato empresarial não é sinônimo de fragilidade ou de potencial exposição dos riscos corporativos, e sim de gestão de risco sensata e de governança madura.

ANDRE VASCONCELLOSé diretor adjunto-RJ do IBRI e especialista em direito societário e mercado de capitais. [email protected]

ENFOQUE

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O sucesso vem do reconhecimento.

PARCERIA: REALIZAÇÃO:

A 18ª edição da pesquisa ‘’As Melhores na Gestão de Pessoas’’ – parceria do Valor Carreira com a consultoria Mercer – premiou as 35 empresas mais bem avaliadas por seus próprios funcionários em 2020. Obrigado a todas as empresas participantes e a todas as pessoas que assistiram e contribuíram para o sucesso da live de premiação.

Assista à live na íntegra:

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O tema ESG, cuja sigla significa Environmental, Social and Governance, o que em português pode ser traduzido como Ambiental, Social e Governança, nunca esteve tão em evidência, inclusive em vários artigos e matérias recentes da Revista RI. O que propomos discutir nesta seção: Orquestra Societária, é se o ESG é um modismo, que irá passar logo, uma questão de sobrevivência pela exigência dos investidores e consumidores, ou uma real conscientização das empresas, que testemunham diariamente a importância do cuidado com o meio ambiente, o respeito às pessoas e sociedade e a governança corporativa, para se manterem coerentes com os princípios de equidade, prestação de contas, transparência e responsabilidade corporativa.

por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO

MODISMO, SOBREVIVÊNCIA OU CONSCIENTIZAÇÃO?

ESGORQUESTRA SOCIETÁRIA

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No início dos anos 90, percebeu-se que o crescimento econômico deveria ser mais justo em nível social e mais compatível com a preservação da base de recursos naturais. A esse objetivo global, deu-se o nome de desenvolvimento sustentável.

Segundo a Comissão Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente das Nações Unidas, desenvolvimento sustentável é suprir as necessidades da população mundial atual sem comprometer as necessidades das gerações futuras (Relatório Brundtland, 1987).

Com base em pesquisas, opinião de especialistas e em nossa própria interpretação dos fatos, podemos afirmar que houve uma evolução significativa na aplicação das práticas de ESG e da CSR (Corporate Social Responsability) e suas exigências pelas empresas.

O ESG foi criado para capturar a essência da CSR, através de seus pilares, que cresceram substancialmente na última dé-cada, com um aumento particular do interesse pela sustenta-bilidade nos últimos anos. Eles assumiram um papel impor-tante na literatura acadêmica e corporativa e estão criando um crescente interesse entre os executivos e formuladores de políticas.

O início da aplicação das ações do ESG foi tímido e precisou de um incentivo, através dos stakeholders, no momento em que estes passaram a exigir práticas sustentáveis e sociais, suportadas por uma boa governança corporativa, o que cul-minou em maior competitividade, reputação e atendimento às exigências legais.

Vários índices SRI (Socially Responsible Index) foram estabele-cidos por todo o mundo para permitir que os investidores negociassem as ações de empresas consideradas socialmente responsáveis.

Desta forma, para destacar as empresas que adotam práticas sustentáveis e sociais, as bolsas de valores se mobilizaram e criaram os índices de sustentabilidade, por meio dos quais classificam as empresas cotadas com maior liquidez e que fazem a diferença. Apresentamos alguns desses índices em ordem cronológica:

1. DJSI (Dow Jones Sustainability Index), primeiro índice a avaliar o desempenho das empresas listadas na Bolsa de Nova York que utilizam critérios de sustentabilidade. Foi criado em 1999 e se baseia em indicadores econômicos, ambientais e sociais. Este índice utiliza questões que consideramos relevantes para medir a CSR, que gozam de amplo apoio social. Para serem incluídas no DJSI, as organizações devem preencher um questionário detalhado, que é renovado a cada ano, para em seguida passar por auditoria externa. As empresas que compõem tal índice fazem parte do grupo de 10% das lideranças mundiais em sustentabilidade.

2. FTSE4 Good, criado em 2001, sendo aferido pela FTSE (Financial Times Stock Exchange) Russell, uma divisão da bolsa de valores de Londres. A elaboração do índice pela FTSE Russell é baseada em dados de domínio público, inclusive relatórios financeiros ou de sustentabilidade, de forma independente, atendendo a rígidos critérios de seleção. É categorizado em dois índices: o DJSI World e DJSI STOXX, composto por empresas europeias.

Para destacar as empresas que adotam práticas sustentáveis e sociais, as bolsas de valores se mobilizaram e criaram os índices de sustentabilidade, por meio dos quais classificam as empresas cotadas com maior liquidez e que fazem a diferença.

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3. JSE SRI (Socially Responsible Index), criado em 2002 pela JSE (Johannesburg Stock Exchange), transformando a África do Sul no primeiro país emergente a incorporar a sustentabilidade ao mercado de ações.

4. ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), criado em 2005 pela Bovespa, a partir da demanda de entidades para a criação de um índice composto somente por ações de empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, com liquidez, e que se destacam em responsabilidade social e sustentabilidade. O ISE também adota um questionário que atualmente abrange sete dimensões. O propósito do índice é identificar em que medida uma companhia tem a sustentabilidade incorporada de forma fundamentada e estruturada em seus modelos de negócios e suas estratégias.

O papel destes índices é disponibilizar informações sobre as empresas incluídas em suas carteiras e destacar suas práticas sustentáveis e de responsabilidade social.

Os objetivos das empresas que estão listadas nestes índices ultrapassam a maximização de seus resultados econômico--financeiros e abrangem as ações socialmente responsáveis em conjunto com as práticas sustentáveis de seus modelos de negócio, atrelados às suas estratégias.

Para os shareholders, não basta obter o lucro a curto prazo, pois estes cada vez mais sabem que é fundamental para a sobrevivência das empresas, a longo prazo, o respeito à sociedade e ao meio ambiente. As mudanças climáticas afe-tam significativamente a produtividade das empresas e são causadas pelas suas próprias ações, resultado de decisões incoerentes em relação à obtenção de resultados sustentá-veis e longevos.

Destacamos, desta forma, que o ESG vai além do modismo, que logo irá passar; trata-se da necessidade de sobrevivência das empresas, para estas continuarem atuando em seus mer-cados, por exigência dos investidores, consumidores e traba-lhadores, que estão mais conscientes.

Em sua carta anual de 2019 endereçada aos CEOs, o bilioná-rio norte-americano Laurence D. Fink, presidente e CEO do maior fundo de investimentos do mundo, Black Rock, des-tacou a importância do compromisso com uma estratégia de longo prazo, em um cenário global cada vez mais frágil e, portanto, suscetível a um comportamento de curto prazo por parte tanto das empresas quanto dos governos. Ele afir-ma nesta carta:

“Frustrada com as mudanças econômicas fundamentais e a incapacidade do governo em fornecer soluções duradouras, a sociedade está cada vez mais buscando em empresas de capital aberto e fechado soluções para problemas sociais e econômicos. Dentre essas questões, estão a proteção do meio ambiente, aposentadoria e igualdade de gênero e raça. Parte dessas pressões da população sobre as empresas vem das mídias sociais, que estão ganhando cada vez mais força e alcance de uma forma nunca vista antes. Além dessas pressões, as empresas devem lidar com as complexidades de um ambiente financeiro em final de ciclo, incluindo o aumento da volatilidade, que pode criar incentivos para maximizar os retornos de curto prazo, em detrimento do crescimento no longo prazo.”

Além disso, Fink ressalta, na mesma carta:

a. Dentre as prioridades de engajamento da gestão de investimentos da Black Rock para 2019 estão: governança, incluindo a abordagem da sua empresa com a diversidade de seus conselhos; estratégia corporativa e alocação de capital; remuneração que promove o longo prazo; oportunidades e riscos ambientais; e gestão de capital humano. Essas prioridades refletem nosso compromisso de nos envolver com questões que influenciam as perspectivas de uma empresa, não só para o próximo trimestre, mas pelos longos períodos para qual nossos clientes estão se preparando.

b. Atrair e reter os melhores talentos exige que as empresas deixem mais claro o seu propósito. Com o aumento do desemprego pelo mundo, os trabalhadores, e não só os acionistas, podem e terão mais opinião em definir o objetivo, as prioridades e até mesmo detalhes dos negócios das empresas. No ano passado, vimos alguns dos funcionários mais qualificados do mundo fazendo greve e protestando em assembleias abertas, expressando seu ponto de vista sobre a importância do propósito nas empresas. Esse fenômeno crescerá ainda mais quando os millennials e até mesmo as gerações mais novas ocuparem posições mais altas nas empresas.

Em uma pesquisa recente da Deloitte, os trabalhadores mil-lennials foram consultados sobre qual deveria ser o propósito principal das empresas. Mais de 63% responderam que “me-lhorar a sociedade” é mais importante do que “gerar lucro”. Nos próximos anos, o mundo verá a maior transferência de riqueza da história: US$ 24 trilhões dos baby boomers para os millennials. E os sentimentos das novas gerações influencia-rão suas decisões não apenas como funcionários, mas tam-bém como investidores.

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

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Laurence D. Fink tem uma enorme capacidade de influenciar os diversos fundos de investimento do mundo e mudar o min-dset em relação às prioridades das práticas de sustentabilida-de e responsabilidade social, destacadas por ele acima. Atua como membro do Conselho de Curadores da Universidade de Nova York (NYU) e do Fórum Econômico Mundial, e é Co--Presidente do Conselho de Curadores do NYU Langone Me-dical Center. Além disso, ele atua nos conselhos do Museu de Arte Moderna, do Conselho de Relações Internacionais e do Comitê Internacional de Resgate. E ele também está presente no Conselho Consultivo da Escola de Economia e Gestão da Universidade Tsinghua em Pequim e no Comitê Executivo da Parceria para a cidade de Nova York.

Empresas têm se esforçado para demonstrar à sociedade suas políticas de boas práticas sociais e ambientais. É crescente o número das que publicam relatórios de sustentabilidade seguindo padrões da Global Reporting Initiative (GRI) e das que declaram fazer inventário de emissões de GEEs – os gases de efeito estufa –, usando a metodologia GHG Protocol.

Além disso, investimentos que aliam retorno financeiro ao impacto social, o chamado empreendedorismo social, cres-cem no Brasil e no exterior.

Os movimentos internacionais relacionados aos dezessete ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), promovi-dos pela Organização das Nações Unidas em 2015, focam nos resultados até 2030, em acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre os países; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos humanos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas; assegurar a proteção duradoura do Planeta e seus recursos naturais; criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado, pros-peridade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidades nacionais.

Com base nestas evidências de profunda mudança das exi-gências da sociedade, investidores e governos, as empresas realmente se conscientizaram da importância das práticas sustentáveis e de responsabilidade social?

Podemos afirmar que ainda não. Os movimentos de fortaleci-mento destas práticas não sensibilizaram todas as empresas e governos ao redor do mundo. Nações insistem em não fazer parte do Acordo de Paris e, portanto, não se comprometem com a redução das emissões de gás carbônico.

Os países se mobilizaram para a realização dos ODS, mas ainda não apresentaram resultados parciais. O Brasil está realmente colocando em prática o que acordou no encontro das Nações Unidas em 2015? Até 2030 os resultados plane-jados serão alcançados? O que realmente de concreto será realizado?

A creditamos que as ações para uma sociedade mais justa e os cuidados com o Planeta estão ainda relacionados à so-brevivência das empresas, que se não mudarem sua forma de atuar, seus modelos de negócio e suas estratégias alinha-das a estes movimentos, não terão acesso aos créditos mais baratos, não terão seus produtos e serviços adquiridos pelos consumidores conscientes, sofrerão consequências indesejá-veis em relação à sua reputação e penalidades pelo não cum-

Em uma pesquisa recente da Deloitte, os trabalhadores millennials foram consultados sobre qual deveria ser o propósito principal das empresas. Mais de 63% responderam que “melhorar a sociedade” é mais importante do que “gerar lucro”. Nos próximos anos, o mundo verá a maior transferência de riqueza da história: US$ 24 trilhões dos baby boomers para os millennials. E os sentimentos das novas gerações influenciarão suas decisões não apenas como funcionários, mas também como investidores.

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primento das exigências legais. Não é por acaso que a sus-tentabilidade é um dos fundamentos da qualidade do ativo empresa, que temos contemplado em artigos recentes.

Um fenômeno de conscientização pode ser observado com a pandemia causada pela COVID-19. Pudemos vivenciar o comportamento das empresas frente aos problemas enfren-tados por elas e pelos seus stakeholders. Muitas prontamente mudaram seus modelos de negócios e suas estratégias, mas as que foram além de iniciativas em benefício próprio se for-taleceram, através das ações de solidariedade, abrangendo profissionais, fornecedores, clientes e governo.

Uma verdadeira onda de criatividade tomou conta de muitas empresas, que colocaram em prática ações para manutenção de seus funcionários, determinaram o home office, como forma de preservá-los, disponibilizaram financiamentos para garantir a sobrevivência de clientes e fornecedores, re-alizaram trabalhos sociais, sendo significativamente inclu-sivas. As empresas que não adotaram estas práticas foram severamente criticadas pela sociedade, sendo que algumas delas não sobreviveram. É evidente que muitas empresas não sobreviveram em função da crise de liquidez.

Não há dúvida, a julgar pelos movimentos de transformação impostos pela sociedade, que as empresas avançarão para o estágio de conscientização, momento em que optarão por práticas de respeito ao meio ambiente e à própria sociedade, aderindo à energia limpa, economia circular, redução das emissões de gás carbônico, revisão de seus processos de pro-dução, com foco em produção mais limpa, decisões de longo prazo, em detrimento à realização de lucro a curto prazo.

Com a significativa evolução da tecnologia, as empresas e a so-ciedade se beneficiarão com a eficiência de seus processos mais adequados ao novo normal. Ainda não sabemos determinar pre-cisamente quais benefícios reais serão obtidos, mas podemos apresentar o que já aconteceu em curto espaço de tempo, se comparado às grandes transformações da humanidade:

• otimização dos processos, gerando condições favoráveis para produzir produtos e serviços com maior qualidade, agilidade e menor custo, o que impactou positivamente toda a cadeia de valor, inclusive a sociedade;

• simplificação da gestão corporativa, com disponibilidade das informações estratégicas de forma automatizada e em tempo real para tomada de decisões mais eficientes;

• redução do retrabalho, com a substituição de processos rígidos e ineficientes, pela automatização das atividades manuais, possibilitando o monitoramento e acompanhamento contínuo de cada atividade do negócio;

• jornada digital, com um cenário de maior autonomia, produtividade e inteligência na gestão de processos, transformando as relações com os consumidores, que prontamente aderiram às novas tecnologias de consumo; e,

• benefícios significativos alcançados pela área de saúde, através de diagnósticos mais precisos, aprimoramento do atendimento, gestão mais eficiente, integração das informações, exatidão nas técnicas cirúrgicas, foco na prevenção e redução de erros.

A evolução da tecnologia gerará resultados positivos nas empresas, que poderão adotar processos mais conscientes em relação à preservação do meio ambiente e à sociedade, resultando em um ciclo virtuoso para os seres humanos. Se o presente ainda se mostra conturbado, em função da cri-se COVID, em curso, o futuro pode ser promissor. Nossos leitores concordam com essa visão? Ou entendem que não é bem assim? Teremos satisfação em receber suas manifes-tações e percepções sobre o presente e o futuro, sobre a sus-tentabilidade das empresas e o bem-estar do Planeta. RI

CIDA HESSé economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações. [email protected]

MÔNICA BRANDÃO é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora. [email protected]

ORQUESTRA SOCIETÁRIA

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Atualmente, fala-se muito sobre Capitalismo Consciente e seus benefícios. Porém, em muitos casos, não vai além de um simples tópico de discussão. No meu caso, esse item chamou minha atenção há vários anos e considero muito importante aumentar a conscientização sobre o assunto.

Se tivéssemos de defini-lo, o Capitalismo Consciente pode ser descrito como uma forma de capitalismo que promove o po-tencial de os negócios terem um impacto positivo no mundo. São, em poucas palavras, empresas conscientes, motivadas por propósitos superiores que atendem à comunidade.

De fato, fico feliz em ver que, hoje, muitas empresas no mundo aderiram a esse movimento de negócios que está se mostrando inspirador e gerando resultados comerciais sig-nificativos. Isso também se deve a empresários e executivos que adotaram uma nova atitude e que estão começando a liderar com mais paixão, propósito e com a convicção de que as organizações focadas em seus valores podem contribuir, de forma muito mais abrangente, para o mundo e a huma-nidade. A realidade é que o capitalismo, embora muita gente ainda não enxergue dessa forma, pode, sim, ser um impulso para o bem econômico e social.

por LUCAS MEDOLA

É fascinante ver como esses novos “capitalistas conscientes” entendem que as empresas devem existir por razões que vão muito além do lucro. Não é maravilhoso e esperançoso? Fi-nalmente, alguns trabalham por mais do que dinheiro! A grande vantagem é que, quando você tem um objetivo, tam-bém obtém clientes, funcionários e acionistas mais compro-metidos, e isso incentiva a criatividade e a lealdade, exata-mente o que todas as empresas procuram e precisam.

Como em qualquer projeto, precisamos estudar o conceito e suas melhores práticas. Podemos nos fazer perguntas, como “por que esse negócio começou?”; “o que nos motiva todos os dias?”; “qual o nosso valor agregado?”; “que impacto temos sobre nossos clientes e pessoas?”.

Além disso, devemos seguir os quatro princípios a seguir, que regem esse conceito:

A ERA DOCAPITALISMOCONSCIENTE

CAPITALISMO CONSCIENTE

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Propósito superiorComo mencionei anteriormente, um negócio que adere aos princípios do “capitalismo consciente” se concentra em um objetivo que vai além do lucro. Esse item é fundamental.

Inclua todas as partes interessadasUma empresa consciente se concentrará em todo o ecossiste-ma de negócios para criar e otimizar valor para seus clientes, funcionários, fornecedores, parceiros etc.

Aposte na liderança conscienteOs líderes conscientes se concentram em pensar em “nós” para conduzir os negócios e, assim, cultivar uma cultura de capitalismo consciente na empresa. Como líderes, devemos assumir que, quando os funcionários que têm consciência social vêem que a empresa em que trabalham é movida por mais do que dinheiro, fica mais fácil para eles se sentirem identificados com os pilares da companhia. Dessa forma, se tornam defensores e embaixadores da marca - e acabam por divulgar, genuinamente, as ações da empresa para fazer di-ferença no mundo.

INVISTA NA CULTURA CONSCIENTE

A cultura corporativa é a soma de valores e princípios que constituem uma espécie de “índice moral” de uma empresa. Ela promove um espírito de confiança e cooperação. Empre-sas com objetivos baseados no capitalismo consciente criam

LUCAS MEDOLAé CFO do PayPal [email protected]

negócios mais éticos, honrosos e generosos. E isso significa, em síntese, um ecossistema muito positivo e energizante para todos os funcionários, um ambiente repleto de pessoas com o mesmo objetivo, fortes convicções e desejo de melho-rar a sociedade. Esse ambiente, claramente, só pode nos levar a melhores resultados.

A realidade é que o sucesso de uma empresa capitalista cons-ciente não acontecerá da noite para o dia. É trabalho que leva tempo e exige esforço, paciência e persistência, mas os resultados são sempre excelentes e gratificantes. Acima de tudo, devemos consolidar uma equipe de liderança que seja consistente com o comportamento do consumidor - e esse consumidor está em constante mudança, exigindo, cada vez mais, que as empresas contribuam positivamente para a co-munidade em geral. RI

A cultura corporativa é a soma de valores e princípios que constituem uma espécie de “índice moral” de uma empresa. Ela promove um espírito de confiança e cooperação. Empresas com objetivos baseados no capitalismo consciente criam negócios mais éticos, honrosos e generosos. E isso significa, em síntese, um ecossistema muito positivo e energizante para todos os funcionários, um ambiente repleto de pessoas com o mesmo objetivo, fortes convicções e desejo de melhorar a sociedade. Esse ambiente, claramente, só pode nos levar a melhores resultados.

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CONSELHOS DEADMINISTRAÇÃO

DIVERSIDADE NOS

A PAUTA RACIAL PARA ALÉM DOS PROGRAMAS DE TRAINEE

DIVERSIDADE

38 REVISTA RI Dezembro 2020 | Janeiro 2021

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Nas últimas semanas, a grande pauta foram as políticas de ação afirmativa para inclusão de jovens pretos(as) em programas de trainee/estágio, promovidas pela iniciativa privada que foram alvo de vários questionamentos, inclusive sobre a legalidade dessas ações – tema superado com o parecer técnico do MPT. Os programas de trainee são fundamentais para a formação de novas lideranças, no entanto, existe uma gama de profissionais pretos e pardos que estão em posições de alta liderança ou estão aptos para ocupar posições estratégicas nas organizações, como, por exemplo, os conselhos de administração das empresas – o board.

A pauta sobre diversidade em conselhos de administração não é nova. No entanto, é basicamente focada no pilar, di-versidade de gênero, não que as mulheres estejam em van-tagem, longe disso. Segundo estudo realizado pela Spencer Stuart em 2019, o percentual de mulheres em conselhos nas empresas avaliadas é de apenas 10,5%, uma das mais baixas na comparação com outros países, mas é considerado um avanço no comparativo com o estudo anterior.

E por que se têm falado tanto de diversidade também nos conselhos de administração? Para que possamos ficar na mesma página, os conselhos de administração são a base da governança corporativa, responsáveis por monitorar e dar orientação à gestão executiva e principalmente gerar va-lor ao longo prazo. E como gerar valor ao longo prazo, sem pessoas com perspectivas diferentes, sem a disrupção que diferentes origens e backgrounds podem proporcionar? São vários estudos que comprovam o aumento do lucro e maior inovação que a diversidade proporciona. E a pergunta que não quer calar é: O que falta para termos mais diversidade de gênero e racial nos conselhos de administração.

por JANDARACI ARAÚJO

Como gerar valor ao longo prazo, sem pessoas com perspectivas diferentes, sem a disrupção que diferentes origens e backgrounds podem proporcionar? São vários estudos que comprovam o aumento do lucro e maior inovação que a diversidade proporciona.

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Por um lado os “clientes” atentos e cada dia mais engajados em consumir ou se relacionar com empresas éticas e com propósi-to claro. De outro lado, os investidores valorizando não apenas o lucro, mas também o impacto social e ambiental das empre-sas investidas. Trata-se ESG (Enviromental,Social and Governance), na prática, às três letrinhas que viraram trend topics quando o assunto são investimentos. E a diversidade racial está ligada di-retamente ao Social, assim como práticas não-discriminatórias com as demais diversidades. Estamos em um caminho que não permite retrocesso ou práticas como o “diversity washing”, só para escurecer o último termo, são empresas diversas da porta para fora apenas na publicidade, por exemplo. Será que faltam profissionais pretas(os) prontos para ocupar posições nos con-selhos de administração? Ou é apenas uma cegueira seletiva que ignora vários profissionais pretos que possuem uma car-reira sólida e já ocupam posições de alta liderança? Seriam os algoritmos das redes sociais e profissionais? Bem, vou tentar otimizar a indexação e espero que não dê bug, falando da “cota da cota”, as mulheres pretas.

As mulheres pretas no Brasil estão na base da pirâmide, mes-mo quando possuem qualificação e experiência suficientes, chegam a ganhar 159% a menos de acordo com o estudo re-cente do Insper, o que nos coloca no modo, sobrevivência. No entanto, somos várias e me incluo nesse rol, que romperam o teto de vidro blindado do mercado corporativo, hackearam o sistema e são referências em suas áreas, apenas não conse-

guiram burlar o algoritmo. São mulheres pretas que apesar das barreiras impostas - sócio-econômicas, gênero e racial avançaram e estão aptas a ocupar posições em conselhos de administração. Consegue imaginar o quão articuladoras, inovadoras e a alta capacidade de adaptação que possuem.

Assim como meus ancestrais, acredito no poder do coletivo, só iremos avançar e transformar o status quo corporativo, quando várias avançarem. “Se que ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo.”(Provérbio Africano). Não é uma história única, são várias histórias potentes que irão inspirar os mais jovens a acreditarem que podem chegar lá.

Ser a única em espaços de liderança é escolha, sempre há como incluir mais uma, todos são agentes de transformação. Não há mais espaço para histórias únicas, histórias únicas não transformam, não mostram a força e a importância de todo um grupo, afinal somos 27% da população brasileira. É com essa visão que eu integro, como co-founder, o projeto Conselheiras 101 que selecionou 20 mulheres pretas e pardas altamente capacitadas, empoderadas, líderes e de diferentes backgrounds para participar do programa tem por objetivo de ampliar o conhecimento de lideranças negras nos temas relacionados ao papel de conselheira, responsabilidades, for-mação, desafios, assim como incentivar o networking das participantes dentro da comunidade de conselheiros e em-presas. O programa tem o apoio do WCD e KPMG.

Conectem-se e sigam essas mulheres incríveis que estão comigo nessa jornada para o próximo step na carreira – os conselhos de administração. São elas: Ana Fontes, Ana Tér-cia Lopes Rodrigues, Andrea Cruz, Christiane Ferreira Ne-ves, Dilma Campos, Elisângela Almeida, Fernanda Santiago, Ianda Lopes, Mônica Marcondes, Patricia Garrido, Roberta Anchieta, Suellen Rodrigues, Valentine Giraud,Vânia Neves, Viviane Elias Moreira e Lisiane Lemos, que foi a catalisadora desse movimento quando recentemente fez um post questio-nando os programas de diversidade. “As pegadas das pessoas que andaram juntas nunca se apagam.” (provérbio africano).

Vamos ajudar o algoritmo e ampliar as possibilidades? RI

Não há mais espaço para histórias únicas, histórias únicas não transformam, não mostram a força e a importância de todo um grupo, afinal somos 27% da população brasileira.

JANDARACI ARAÚJO é diretora executiva do Banco do Povo Paulista - primeira mulher desde a sua criação em 1997 a ocupar o cargo. É co-fundadora do Conselheira 101 - programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração. Foi também convidada por Hugo Bethlem para ser Conselheira Emérita do Capitalismo Consciente Brasil. É palestrante, professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e consultora. Possui MBA em Finanças e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral e se especializou em Gestão Estratégica pela Business School e Inteligência Competitiva pela ESPM São Paulo. É conselheira da Women in Leadership in Latin America (WILL), ONG voltada para o empoderamento feminino nas organizações e voluntária no Grupo Mulheres do Brasil e Embaixadora do Mulheres do [email protected]

DIVERSIDADE

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Plurale: Plural até no nome www.plurale.com.br twitter @pluraleemsite e-mail [email protected]

ano oito | nº 51 | março / abril 2016 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

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ARTIGOS INÉDITOSILHAS VANUTA

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PLURALE EM REVISTA E PLURALE EM SITE: TREZE ANOS DE INFORMAÇÃO PLURAL SOBRE

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ARTIGOS INÉDITOS

MARIANA,

MEMÓRIAS

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MEMÓRIAS

MARIANA, DA TRAGÉDIA

ano oito | nº 50 | novembro / dezembro 2015 R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

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ESPECIAL OITO ANOS:

ARTIGOS INÉDITOS, BELAS, FAMOSAS

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O IBGC nasceu há 25 anos em torno da ideia da disseminação das boas práticas de governança corporativa nos conselhos de administração. Inspirados pelo legado de nossos fundadores, ao longo de nossa jornada incluímos novos temas e questões a um repertório que consolidou a governança como uma preocupação indispensável para qualquer organização.

por PEDRO MELO

Em 2020, vivenciamos um momento de transformações que provocaram refl exão sobre o futuro que desejamos.

Voltaremos ao “normal” anterior à pandemia ou a um novo contexto de desenvolvimento pautado pelos aspectos am-bientais, sociais e de governança (ASG)? E qual seria o papel dos líderes das organizações nesse novo momento?

Sendo a principal casa da governança no Brasil, o IBGC acre-dita que tem relevância na rede da sociedade civil que busca promover soluções inovadoras e coletivas que visam o bem comum. Para contribuir com o debate público, lançamos a Agenda Positiva de Governança, cujo objetivo é engajar os líde-res – sócios, acionistas, conselheiros e executivos – na ado-ção de medidas de governança em suas organizações, sejam elas privadas, públicas ou do terceiro setor.

UMA GOVERNANÇA 15 MEDIDAS PARA

QUE INSPIRA, INCLUI E TRANSFORMA

Para contribuir com o debate público, lançamos a Agenda Positiva de Governança, cujo objetivo é engajar os líderes – sócios, acionistas, conselheiros e executivos – na adoção de medidas de governança em suas organizações, sejam elas privadas, públicas ou do terceiro setor.

IBGC COMUNICA

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para os líderes aplicarem em suas organizações, indepen-dentemente do porte e do setor de atuação.

As quinze medidas estão organizadas de forma transver-sal em relação aos seis pilares. Elas convidam os líderes a compreenderem como seus comportamentos impactam a organização e a sociedade. Indicam a importância do propósito e da cultura organizacional na geração de va-lor. Reiteram que o relacionamento com as partes inte-ressadas deve ser pautado por princípios de integridade. E destacam a importância de um ambiente de negócios mais íntegro, transparente, seguro, sustentável, diverso, inclusivo e inovador.

Os caminhos de aprendizagem das organizações dentro des-ses temas são complexos. É um momento de novas descober-tas para todos. Por isso o IBGC coloca-se à disposição para debater essa agenda e ser um espaço de troca, aprendizado e fomento de novas ideias rumo a uma governança que inspi-ra, inclui e transforma.

Acesse: www.agendapositivadegovernanca.com e participe dessa iniciativa. RI

As quinze medidas estão organizadas de forma transversal em relação aos seis pilares. Elas convidam os líderes a compreenderem como seus comportamentos impactam a organização e a sociedade. Indicam a importância do propósito e da cultura organizacional na geração de valor. Reiteram que o relacionamento com as partes interessadas deve ser pautado por princípios de integridade. E destacam a importância de um ambiente de negócios mais íntegro, transparente, seguro, sustentável, diverso, inclusivo e inovador.

PEDRO MELO é diretor geral do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança [email protected]

Essas medidas se apoiam em seis pilares. O primeiro pilar trata de Ética e Integridade, colocando o tema como um imperativo moral e um fator decisivo para a continuidade dos negócios. A mensagem transmitida aos líderes é a neces-sidade de construção de um ambiente organizacional basea-do na confiança, no respeito, na empatia e na solidariedade.

O pilar seguinte aborda o tema da Diversidade e Inclusão. Aqui os líderes são convocados a agirem com urgência para assegurar tratamento justo e oportunidades iguais para to-dos, sobretudo na promoção de equidade de gênero e raça.

O pilar Ambiental e Social destaca que os líderes precisam integrar a gestão de impactos à estratégia do negócio, inte-ragindo e colaborando com os diversos setores da sociedade.

O quarto pilar reforça que Inovação e Transformação Di-gital devem ser o alicerce de um crescimento sustentado das organizações. Os líderes devem gerenciar os riscos desse processo e ter disciplina para colher os resultados das ações no tempo certo.

O quinto pilar recomenda que Transparência e Prestação de Contas estejam presentes no diálogo aberto das organi-zações com as partes interessadas, gerando um ambiente mais confiante e melhores resultados.

Por fim, o pilar de Conselhos do Futuro indica que os con-selheiros são agentes essenciais para promoção das transfor-mações necessárias.

Para dar tangibilidade a esses pilares, foram elaboradas quinze medidas que funcionam como propostas de ação

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Os efeitos econômicos decorrentes da pandemia do Covid-19afetaram consideravelmente a saúde fi nanceira de grande parte das empresas no Brasil. As empresas fi nanceiramente saudáveis até então acenderam o sinal amarelo, avaliaram riscos, traçaram planos de reestruturação para manter, ainda que “aos trancos e barrancos”, o negócio em andamento.

por ELISA JUNQUEIRA FIGUEIREDO e ALINE FERREIRA DANTAS

Já as empresas que tinham acendido o sinal vermelho antes mesmo da pandemia, como é o caso das recuperandas, ou seja, aquelas empresas que já haviam ingressado com Recuperação Judicial, se viram, via de regra, com estratégicas para o enfren-tamento da crise, mais engessadas pelas limitações trazidas pela própria Lei 11.101/05 – Lei de Recuperação e Falência.

Isso porque, a aprovação e homologação do Plano de Recupe-ração Judicial, no qual são previstos os parâmetros para paga-mento dos credores, sujeitam a recuperanda ao seu cumpri-

mento fi el, diante da falta de previsão legal de aditivos a tais planos, apesar de já fazer parte de construção jurisprudencial favorável a mudanças dos Planos de Recuperação Judicial, via aditivo, em certas circunstâncias.

Pensando no cenário que estava por vir, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), logo no início da pandemia, aprovou a Reco-mendação nº63/2020,orientando o Poder Judiciário à fl exibili-zação das regras dos processos de Recuperação Judicial, para os casos de empresas que tiveram a capacidade fi nanceira

JURÍDICO

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OS EFEITOS DA PANDEMIA NA

RECUPERAÇÃO

JUDICIAL

JURÍDICO

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afetada pela crise, justamente para permitir que a devedora, dentre outras medidas recomendadas, como por exemplo a prorrogação do stay period, apresente uma modificação do pla-no de pagamento aos seus credores.

Por outro lado, a recomendação, em caráter excepcional, foi recentemente aplicada de forma reversa, em processo judi-cial que tramita perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a uma empresa da área de saúde, em Recupera-ção Judicial, que, durante a Pandemia, teve ganhos extraor-dinários (e que não poderiam ser previstos), considerando o aumento da produção da mercadoria comercializada, que passou de 50 ao mês para mais de 70 unidades por dia, além do aumento dos contratos firmados, possibilitando a melho-ra nas condições de pagamento aos credores.

O que se verifica, portanto, é que, na busca de um tratamen-to justo à empresa devedora e a seus credores, considerando o caráter de excepcionalidade e estado de calamidade que se vive desde o mês de março de 2020, a situação econômica real decorrente do novo cenário ao devedor é ponto crucial para buscar um novo formato de pagamento aos credores, seja com uma alteração das condições mais favorável ao devedor, ou,

ELISA JUNQUEIRA FIGUEIREDO é sócia fundadora do FF Advogados. Graduada em Direito pela PUC/SP. Master en Derecho Internacional y Relaciones Internacionales, pela Universidad Complutense de Madrid. Experiência internacional, em Madrid, em escritório de advocacia. Pós-graduada em Direito Processual Civil pelo COGEAE-PUC/SP e em Direito dos Contratos pelo CEU Escola de Direito (2005). Executive LLM pelo CEU Law [email protected]

ALINE FERREIRA DANTAS é advogada no FF Advogados. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo – FDSBC. Pós-graduada em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG. Pós-graduanda em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas – FGV. [email protected]

como no caso exemplificado, mais favorável aos credores.

Em ambos os cenários, as medidas foram adotadas para miti-gar os efeitos econômicos decorrentes da crise e garantir re-sultados melhores durante esse período de excepcionalidade.

Uma medida e duas faces da mesma moeda.

A pergunta que fica para o período pós-pandemia: seria esse o início do caminho para flexibilização, celeridade e eficácia nos processos de Recuperação Judicial? RI

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Pensando no cenário que estava por vir, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), logo no início da pandemia, aprovou a Recomendação nº63/2020,orientando o Poder Judiciário à flexibilização das regras dos processos de Recuperação Judicial, para os casos de empresas que tiveram a capacidade financeira afetada pela crise, justamente para permitir que a devedora, dentre outras medidas recomendadas, como por exemplo a prorrogação do stay period, apresente uma modificação do plano de pagamento aos seus credores.

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FÓRUM ABRASCA

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VOTOPLURALÉ TENDÊNCIA INTERNACIONAL

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Nos Estados Unidos, onde é comum o voto plural, empresas como Google, LinkedIn, Facebook e Snapchat adotam duas classes de ações, em que o voto dos fundadores vale até 150 vezes o dos novos investidores. A lógica deste modelo é baseada no princípio de que o acionista fundador possui competência diferenciada de gestão por ser o maior interessado e o mais comprometido com o sucesso de longo prazo da companhia.

por NAIR SALDANHA e EDUARDO LUCANO DA PONTE

Atualmente dispositivos como o §313.00 do NYSE Listed Com-pany Manual, proíbem a emissão de nova classe de ações sob o regime de voto plural que venha a diminuir o poder de voto dos acionistas. Todavia, esse mesmo dispositivo permite que ações com poder de voto diferenciado possam ser emitidas (i) antes de um IPO; (ii) após a companhia ter realizado um IPO desde que tenham as mesmas características das ações com voto plural já emitidas; (iii) respeitando a composição pré--existente do capital votante de forma a preservar a mesma proporção entre ações com voto plural e as demais ações; e (iv) sob certas condições, em caso de aquisição da companhia.

Há ainda outros exemplos como os da França e Itália, cujas legislações, tradicionalmente, vedavam o voto plural, mas mudaram recentemente.

A legislação francesa, que em 1933 havia abolido o voto plu-ral, voltou a aceitá-lo por meio da Lei Florange (Lei nº. 2014-384, de 29 de março de 2014) como reação à crescente perda de espaço das empresas francesas no mercado. Com a mu-dança legislativa, hoje é possível conferir o direito ao voto duplo (dois votos para cada ação) (i) ao acionista que mantiver seus papéis por, no mínimo, dois anos em uma companhia

fechada e (ii) ao acionista que mantiver suas ações por ao menos quatro em uma companhia aberta, desde que haja previsão estatutária autorizando.

Na Itália, a mudança ocorreu em 2014 por meio do Decreto nº 91/2014 (convertido posteriormente na Lei nº 116/2014), permitindo também a inclusão de disposição estatutária assegurando o voto plural, contudo, de maneira mais am-pla e detalhada. Para as companhias listadas, foi imposta a lógica das loyalty shares, na qual limita-se o número de votos por ação a dois, sendo tal benefício exclusivo para os acionistas com mais de dois anos de investimento na companhia. Caso haja transferência de ações a terceiros, a prerrogativa do voto plural é extinta. Para as companhias fechadas, possibilitou-se a emissão de ações com até três votos, com circulação livre, sem restrição quanto ao tempo durante o qual o acionista deve manter seu investimento na companhia para que usufrua do voto plural. No entan-to, nos termos da lei italiana, a inserção dessa cláusula em companhias fechadas deve ser aprovada por mais de dois terços dos sócios, sendo ainda necessária oferta pública de ações aos demais acionistas, caso um acionista reúna mais de 30% do poder deliberativo.

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Há outros países que tradicionalmente admitem ações com voto plural, como por exemplo, a Suécia, onde normalmente as ações de classe A carregam poder de voto referente a dez ações ordinárias de classe B – limite este imposto pela lei. A Finlândia, por sua vez, não impõe limite legal sobre as ações de voto plural, sendo até mesmo normal que ações de classe A carreguem poder de voto referente a 20 ações ordinárias de classe B.

Para entender o benefício do voto plural para a economia, cabe usar como exemplo uma startup ou uma companhia familiar que procura investidores para alavancar alguns de seus projetos. Os fundadores, contudo, não pretendem ven-der suas ações, uma vez que isso implicaria na perda do po-der de controle.

Se o nosso ordenamento jurídico permitisse o voto plural, o qual possibilita dissociar o poder político do econômico, se-ria muito mais fácil para essas companhias receberem novos investimentos. Isso porque os investidores confiam no know--how e na expertise dos fundadores, estando interessados, na realidade, no lucro que o investimento poderá lhes render, e não em assumir o controle daquele negócio. Portanto, atri-buir o voto plural a uma classe de ações é uma estratégia com elevado potencial de incentivar a listagem em bolsa.

Essa foi a estratégia empreendida pelas empresas brasileiras que buscaram listagem nas bolsas norte-americanas ao lon-go dos últimos três anos: XP, Stone, PagSeguro, Arco Educa-ção, Nexa Resources e Afya Educação.

Recente reformulação da regulamentação de Brazilian Deposi-tary Receipts - BDRs flexibilizou o conceito de emissor estran-geiro e deixou de exigir a existência da maioria dos ativos da companhia no exterior, voltando a prestigiar a localização da sede social e facilitando o acesso ao investidor local para as companhias listadas em bolsas internacionais.

As mudanças, em nossa visão, contribuem para a interna-cionalização do nosso mercado de forma a elevar a oferta de ativos para os investidores locais e eliminar uma barreira à listagem de empresas locais no mercado norte-americano, ampliando a necessidade de modernização da legislação so-cietária brasileira.

A ABRASCA apoia a proposta de flexibilização da legislação societária, possibilitando a alavancagem de capital pela ado-ção do voto plural. Contudo, a proposta de aumentar a liber-dade do empreendedor de definir a estrutura de capital da sua companhia no momento do IPO, conforme apresentada

no âmbito do GT IMK – Iniciativa de Mercado de Capitais, coordenado pelo Ministério da Economia, prevê restrições importantes que podem acarretar seu fracasso.

As duas principais são a limitação de dez votos que a ação pode reunir e o tempo, limitado a dez anos, de validade deste direito atribuído à ação. Nos dois casos são restrições impor-tantes que reduzirão a capacidade da jurisdição brasileira de atração de empreendedores.

São as companhias e seus investidores quem deve decidir o valor relativo entre as diversas classes de ações e por quanto tempo aquele empreendedor deveria deter maior poder de voto que os demais. Por mais ampla que seja a visão refletida em um projeto de lei, sempre teremos melhores respostas em termos de inovação, concorrência, competitividade e de formação de preços dos ativos no mercado, com suas relações voluntárias de troca e investimentos.

É esse o pleito das empresas modernas. RI

Por mais ampla que seja a visão refletida em um projeto de lei, sempre teremos melhores respostas em termos de inovação, concorrência, competitividade e de formação de preços dos ativos no mercado, com suas relações voluntárias de troca e investimentos.

NAIR SALDANHA é presidente da Cojur da ABRASCA e sócia do Madrona Advogados. EDUARDO LUCANO DA PONTE é presidente executivo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA)[email protected]

FÓRUM ABRASCA

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A APIMEC em 18 de maio de 2020 comemorou 50 anos de existência e nesse tempo é indiscutível sua posição precursora e protagonista de tantos temas e debates no que o mercado financeiro e de capitais é hoje. Nada mais justo, na mesma data comemora o Dia do Analista de Valores Mobiliários, profissão reconhecida, fundamental e imprescindível na recomendação de investimentos, consolidada pela ICVM 598. Se não bastasse, comemorou também 10 anos de autorregulação do Analista de Valores Mobiliários autorizada pela CVM.

por APIMEC

Naturalmente, participativa e colaborativa, essa história de pessoas físicas independentes e aficionadas continuará na busca de um mercado de capitais de ponta. Para isso, agora somos APIMEC BRASIL.

Os associados da APIMEC em Assembleias Gerais Extraordiná-rias realizadas em 29 de outubro aprovaram a reestruturação societária do sistema, criando, por união de regionais, a API-MEC BRASIL, que também será a gestora da APIMEC Autorre-

AGORA SOMOS

APIMECBRASIL

gulação, que trata do credenciamento e supervisão do Analista de Valores Mobiliários PF e PJ, nos termos da ICVM 598.

Novas dinâmicas, novas tecnologias, novos produtos, novas formas de relacionamento, uma visão de Brasil mais am-pliada, impõem um mercado de capitais em evolução, cada vez mais moderno, pujante e que atenda as necessidades de seus participantes e agentes econômicos. Nesses novos tempos, nosso público requer informação, comunicação e

ESPAÇO APIMEC

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Novas dinâmicas, novas tecnologias, novos produtos, novas formas de relacionamento, uma visão de Brasil mais ampliada, impõem um mercado de capitais em evolução, cada vez mais moderno, pujante e que atenda as necessidades de seus participantes e agentes econômicos. Nesses novos tempos, nosso público requer informação, comunicação e qualificação de maneira que lhe agregue eficiência e poder de decisão. Isso tudo traduz-se em mais agilidade nos processos, mais confiança, mais transparência e instâncias decisórias simples e objetivas, com o mais alto grau das boas práticas corporativas.

qualificação de maneira que lhe agregue eficiência e po-der de decisão. Isso tudo traduz-se em mais agilidade nos processos, mais confiança, mais transparência e instâncias decisórias simples e objetivas, com o mais alto grau das boas práticas corporativas.

A nova organização da APIMEC BRASIL propiciará uma pro-funda reformulação no Relacionamento com Empresas e Eventos, de acordo com as necessidades dos associados regio-nais, dos analistas e profissionais de investimentos certifica-dos pela Apimec Brasil e também com os analistas creden-ciados e supervisionados de acordo com a ICVM 598 e perfil do público-alvo de investidores. As Reuniões APIMECs com empresas, ícone de informação empresarial e networking, te-rão novos formatos viabilizando atender regiões que antes eram muito pouco atendidas.

As sinergias capturadas no oferecimento de cursos de know--how e expertise APIMEC, parte suprimida assim como os cursos de formação e qualificação profissional, em novos formatos e conteúdos, presenciais ou digitais, são entusias-mantes diante das necessidades de mercado e do crescimen-to de novos profissionais e investidores. As antigas sedes transformadas em Centros Educacionais, Espaço Histórico e de Memória.

APIMECAssociação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de [email protected]

Ou seja, de forma centralizada iremos atuar com foco prin-cipalmente para regiões desassistidas, altamente deman-dantes de eventos, educação financeira e informações sobre mercado de capitais.

As manifestações e trabalhos em prol do mercado serão refor-çados, com objetivo de manter o protagonismo debatendo e propondo temas e normativos para o mercado financeiro e de capitais, fortalecendo o papel institucional da APIMEC BRASIL.

Enquanto em processo de formalização os gestores atuais do Sis-tema APIMEC continuarão responsáveis por suas atribuições, até a tramitação documental definitiva, quando então seus manda-tos serão extintos, permanecendo os presidentes e conselheiros como gestores interinos da APIMEC BRASIL, até a eleição e posse dos novos conselheiros e executivos por estes indicados.

Na certeza de que estamos no caminho que o mercado pre-cisa o fortalecimento da parceria de nossas instituições rea-firma nossas conquistas. RI

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INTELIGÊNCIAINTELIGÊNCIAINTELIGÊNCIAO RISCO DA

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA

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É comum ver pais felizes quando seus filhos são chamados de inteligentes. Qual pai ou qual mãe não adora quando seus filhos chegam em casa com notas escolares elevadas? Você já viu algum pai comentar satisfeito que o filho tira boas notas mesmo sem estudar muito?

A inteligência é um dos aspectos mais valorizados na socie-dade. Mas será que ela é mesmo tão importante? Antes de responder essa pergunta, vamos entender um pouco mais sobre o assunto.

A primeira tentativa de testar a inteligência aconteceu na China, no século VII, com os Exames Imperiais, que avalia-vam o conhecimento de obras clássicas e a capacidade de es-crever e fazer contas.

No início do século XX, os psicólogos psicometristas Alfred Binet e Theodosius Simon criaram a escala de Binet-Simon. A princípio, eram testes que visavam identificar alunos com dificuldade de aprendizagem escolar. Porém, logo se trans-formaram em testes para identificar aspectos como rapidez e habilidade para raciocinar, planejar, resolver problemas e pensar de forma abstrata – e essas habilidades passaram a ser sinônimo de inteligência.

Os testes de QI tiveram seu auge nos anos 1970. Depois dis-so, passaram a ser muito criticados. Na década de 1980, um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard liderado pelo psicólogo Howard Gardner criou o conceito de inteli-gências múltiplas. Segundo a teoria, os testes de QI não são suficientes para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas humanas.

Mesmo considerando que não existe uma definição exata nem um tipo único de inteligência, quase todos sabem quan-do estão diante de alguém muito inteligente. Mas o inverso não é verdadeiro. Se parece fácil perceber quando a inteligên-cia existe, muitas vezes erramos ao supor que ela não existe.

Há 33 anos, sou professor universitário e, no início de minha

por JURANDIR SELL MACEDO

carreira, acreditava que a inteligência era o fator que mais contribuía para alguém alcançar o sucesso.

Entre meus alunos, rapidamente identificava, admirado, aqueles que eu considerava “muito inteligentes” e acreditava que teriam grande sucesso profissional. Porém, ao contrário de minhas crenças, alguns anos depois de formados, muitos daqueles alunos não se destacavam profissionalmente. Já ou-tros que eu nem havia notado passavam a ter grande sucesso.

Prestando atenção aos alunos da minha classe, percebi que a maioria dos que eu considerava inteligentes estudava muito pouco. Outros, por sua vez, cientes de suas limita-ções cognitivas, estavam dispostos a estudar com afinco para superar a desvantagem inicial. Passei a chamar esse grupo de “esforçados”.

Alguns anos depois, cheguei à conclusão de que era justa-mente no grupo dos esforçados que se concentrava o per-centual de ex-alunos com maior sucesso profissional. A in-teligência, que em princípio parece uma grande vantagem, estranhamente algumas vezes se torna uma inimiga.

Como o professor precisa se preocupar com todos os alunos, a exigência na sala de aula reflete o rendimento médio da turma – um nível, em geral, inferior ao dos alunos que têm mais fa-cilidade de aprendizado. Assim, os muito inteligentes acabam obtendo boas notas sem precisar se esforçar. Passam, então, a acreditar que o sucesso pode ser alcançado facilmente.

No mercado de trabalho, os considerados pouco inteligentes e pouco esforçados são colocados em funções básicas, que não exigem grande dedicação ou talento. Já as tarefas de des-taque são muito disputadas.

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Um dos exemplos dessa disputa são os processos de seleção de trainee, em que milhares de candidatos concorrem para preencher poucas vagas. Muitas vezes, as empresas fazem es-colhas focadas em habilidades cognitivas que eram medidas pelos tradicionais testes de QI. Além disso, valorizam conhe-cimento de línguas estrangeiras e de outras culturas. Assim, são selecionadas pessoas das classes mais abastadas que nem sempre aprenderam a ter garra e suportar os inevitáveis obs-táculos que uma carreira empresarial apresenta.

Só que, no campo de batalha da vida real, os bem formados terão que enfrentar os obstinados esforçados. Nesse campo, alguns fracassam justamente por subestimar a importância do esforço na garantia da vitória.

Fico muito feliz em ver que algumas empresas já estão abrin-do espaço nos seus processos de trainee para aqueles que não vieram da elite econômica. Muitas pessoas ainda acham que essas empresas estão apenas fazendo caridade ou marketing, mas eu discordo totalmente dessa visão. Acredito que elas vão ganhar muito ao colocar ao lado dos bem formados pes-soas que aprenderam na dura batalha da vida a lutar com garra e determinação para superar as lacunas que uma edu-cação de baixa qualidade lhes deixou.

O Brasil precisa muito de pessoas inteligentes e esforçadas. Infelizmente, o acesso à boa escola ainda é um desafio e, por vezes, sequer chegamos a descobrir o potencial de nossas crianças. Temos inúmeros diamantes usados como cascalho.

Os professores que identificam alunos considerados inteli-gentes devem mostrar caminhos alternativos, que permitam ir além daquilo que é dado em sala de aula. Inteligência sem esforço pode se transformar em arrogância e acomodação. Inteligência não desafiada e não cultivada pode ser apenas fonte de frustração de alguém que pensava estar destinado ao sucesso e que no futuro irá se descobrir derrotado, porque não aprendeu a lutar duro na vida.

Muitos pais se dizem orgulhosos dos filhos que, mesmo sem pegar nos livros, sempre tiram excelentes notas. Poucos se orgulham dos filhos que precisam de muito estudo para con-seguir um bom aproveitamento escolar. Mas é o esforço para tirar uma nota dentro da média que ensina o valor do traba-lho duro e aumenta as chances de sucesso na vida.

Os pais precisam mostrar aos filhos que a inteligência, assim como a beleza, é resultado de um golpe de sorte na loteria genética. A criança ou o adolescente deve entender que seu mérito não está na característica em si, mas em como esse talento será aproveitado.

Se você, jovem, é muito inteligente, parabéns! Você teve mui-ta sorte na grande loteria genética da vida. Porém, entenda que sem esforço e dedicação sua sorte pode se transformar em uma enorme desvantagem. Mas se você aproveitar sua sorte genética e se dedicar com garra e afinco, provavelmen-te será um grande vencedor.

No passado, a riqueza de um país podia ser medida na fertili-dade de suas terras e nos recursos minerais. Na sociedade in-dustrial, a riqueza vinha das fábricas. Já na sociedade atual, o verdadeiro patrimônio está no conhecimento. Pessoas inte-ligentes, motivadas e lutadoras são uma enorme riqueza que não podemos desperdiçar. RI

Muitas vezes, as empresas fazem escolhas focadas em habilidades cognitivas que eram medidas pelos tradicionais testes de QI. Além disso, valorizam conhecimento de línguas estrangeiras e de outras culturas. Assim, são selecionadas pessoas das classes mais abastadas que nem sempre aprenderam a ter garra e suportar os inevitáveis obstáculos que uma carreira empresarial apresenta.

JURANDIR SELL MACEDOé doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)[email protected]

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

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Comissão ESG do IBRIpromove webinar sobreCriação de Valor emSustentabilidadePÁGINA 58

IBRI apóia o prêmio+ Admirados da Imprensa de Economia,Negócios e FinançasPÁGINA 60

IBRI participade mais uma ediçãodo Programa TOPXXIII da CVMPÁGINA 59

por RODNEY VERGILI

PÁGINA 56

Comissão ESG do IBRIpromove reunião com palestrade diretor da CVMA Comissão ESG do IBRI realizou reunião, pormeio de videoconferência, que contou com palestra de Henrique Machado, diretor da CVM.

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IBRI Notícias

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Comissão ESG do IBRIpromove reunião com palestrade diretor da CVMA Comissão ESG do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) realizou reunião, por meio de videoconferência, no dia 30 de outubro de 2020, e contou com palestra de Henrique Machado, diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Bruno Salem Brasil, diretor-presidente do IBRI, e Rafael Mingone, coordenador da Comissão ESG, agradeceram a participação de Henrique Machado, diretor da CVM, na teleconferência.

POR RODNEY VERGILI

Henrique Machado parabenizou a criação da Comis-são ESG do IBRI no início de sua apresentação e, em seguida, abordou em sua palestra os seguintes temas: a expectativa de diminuição dos campos de preenchimento do Formulário de Referência na au-diência pública; os registros de TPR (Transações com Partes Relacionadas); a maneira substancial de como serão abordados os temas sobre política de diversi-dade; a necessidade de haver tema separado para os riscos socioambientais e ODSs (Objetivos de De-senvolvimento Sustentável); a aplicação da lógica do “Pratique ou Explique” para quem não publica Relato Integrado; os pontos a serem avançados no campo da comparabilidade e padronização com o Relato In-tegrado no modelo GRI (Global Reporting Initiative); o fato da Instrução CVM 586 ainda carecer de mais experiências práticas de Relato; e a não vinculação dos temas ESG (em inglês, Environmental, Social and Governance, que se referem, em português, a aspec-tos ambientais, sociais e de governança) com a rotina dos órgãos da administração e, também, com o mo-delo de negócio. HENRIQUE MACHADO

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Prêmio APIMEC IBRI 2020

As categorias são: (a) Melhor Analista de Valores Mobiliários credenciado na APIMEC; (b) Melhor Casa de Análise de Valo-res Mobiliários (PJ - Pessoa Jurídica credenciada na APIMEC); (c) Melhor Profissional de Relações com Investidores; (d) Me-lhor Prática e Iniciativa de Relações com Investidores Small/Middle Cap; e (e) Melhor Prática e Iniciativa de Relações com Investidores Large Cap.

A votação é direta e realizada por analistas “Pessoa Física” credenciados e associados pela APIMEC Nacional, além de associados efetivos do IBRI. O voto é secreto (criptografado) e auditado.

Anastácio Fernandes Filho, presidente do Conselho de Ad-ministração do IBRI, diz que o objetivo do prêmio é estimu-lar o desenvolvimento do mercado de capitais, “disseminar boas práticas e iniciativas, além de valorizar os profissionais.

Com a premiação, almejamos ter um mercado de capitais cada vez mais forte e com regras claras em sintonia com as melhores práticas”, enfatiza.

“A primeira edição do Prêmio APIMEC IBRI 2020 deve registrar quem se destacou no mercado em período desafiador e com a presença crescente de pessoas físicas como investidores, o que exigiu uma comunicação mais didática e assertiva”, afirma Ri-cardo Tadeu Martins, presidente da APIMEC Nacional.

O Comitê de Premiação é formado por representantes da API-MEC (Ricardo Martins, Eduardo Werneck e Lucy Sousa) e do IBRI (Geraldo Soares, Fernando Foz e Rodrigo Maia). O 1º Prê-mio APIMEC IBRI conta com o patrocínio do B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), BNY Mellon, Innova, Shearman&Sterling, e MZ.

Mais informações: www.premioapimecibri.com.br/

ANASTÁCIO FERNANDES FILHO RICARDO TADEU MARTINS

A APIMEC (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) e o IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) lançaram premiação com abrangência nacional com cinco categorias.

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IBRI Notícias

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Comissão ESG do IBRI promove webinar para debater: “Criação de valor em sustentabilidade: as métricas do Word Economic Forum”

Mudança na Diretoria Técnica do IBRI

A Comissão ESG do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) realizou, em 27 de novembro de 2020, webinar: “Criação de valor em sustentabilidade: as métricas do Word Economic Forum”, no canal do IBRI no YouTube. De acordo com Rafael Mingone, coordenador da Comissão ESG do IBRI, agentes do mercado de capitais sinalizam a existência de várias estruturas de relatórios ESG (do inglês Environmental, Social and Governance; em português, ASG – Ambiental, Social e Governança).

A falta de consistência e a comparabilidade das métricas são pontos problemáticos, que impedem as empresas de de-

O Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) aprovou, em reunião em 27 de outubro de 2020, novo titular para a Diretoria Técnica, com o término de gestão de André Vasconcellos.

Bruno Salem Brasil, diretor-presidente do Instituto, indicou Ricardo Rosanova Garcia para ser o novo titular da Diretoria Técnica do IBRI. O Conselho de Administração registra agradecimento a André Vascon-cellos “pela enorme colaboração e o grande empenho na execução das atividades do Instituto”.

O IBRI conta com a contribuição de André Vasconcellos como coor-denador do Grupo de Relações com Investidores das Estatais e como diretor-adjunto do IBRI-RJ.

Ricardo Rosanova Garcia é gerente de Relações com Investidores da Smiles e já atuou no passado junto à Diretoria Executiva do IBRI nos cargos de vice-presidente do Instituto, diretor-adjunto da regional São Paulo, dentre outros.

monstrar, com credibilidade, a todas as partes interessadas, seu progresso nas questões ESG. “O tema foi debatido pelo WEF (World Economic Forum) com a colaboração da Deloit-te, EY, KPMG e PwC. O documento registrou um conjunto de métricas ESG e as divulgações recomendadas que pudessem ser refletidas nos principais relatórios anuais das empresas, de forma consistente, em todos os setores da indústria e dos países. As métricas devem ser capazes de verificação e garantia, para aumentar a transparência e o alinhamento entre empresas, investidores e todas as partes interessadas”, destaca Mingone. O evento contou com o apoio tecnológico da TEN Sistemas e Redes.

RICARDO ROSANOVA GARCIA

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Nova turma inicia o 3º Programa de Mentoring do IBRIA terceira turma do Programa de Mentoring do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) iniciou as atividades. “A iniciativa objetiva compartilhar conhecimentos e experiências; além de promover networking entre os profissionais de Relações com Investidores de companhias listadas ou em processo de abertura de capital”, destaca Rodrigo Lopes da Luz, membro do Conselho de Administração do IBRI e coordenador do 3º Programa de Mentoring.

Para esta edição, o IBRI selecionou os seguintes profissionais como mentores: Fernando Foz, conselheiro de Administração do IBRI; Ricardo Rosanova Garcia, diretor Técnico do IBRI; Guilherme Nahuz, conselheiro de Administração do IBRI; Phillipe Casale, conselheiro do IBRI; Bruno Brasil, diretor-presidente do IBRI; Guilherme Setubal, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRI; e Eduardo Galvão, conselheiro de Administração do IBRI.

IBRI marca presença no Programa TOP XXIII da CVMO IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com In-vestidores) vai participar de mais uma edição do Programa TOP XXIII da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), promovido pelo Comitê Consultivo de Educação da autarquia. Haverá apresentação sobre o trabalho do profissional de Relações com Investi-dores, como é sua rotina de trabalho e a importância de interagir com seus públicos estratégicos, como analistas, investidores, órgãos reguladores e autor-reguladores, mídia, dentre outros.

Na ocasião, haverá também apresentação do traba-lho que o IBRI realiza desde sua criação, em 1997, e as opções que a entidade oferece para docentes, como a Área do Professor, que oferece material ex-clusivo para esse público, disponível no site do Ins-tituto (http://www.ibri.com.br/professor).

As inscrições já estão abertas. Será a primeira edição on-line do curso gratuito, voltado para professores vinculados a instituições de ensino de nível superior, de graduação ou pós-graduação, que lecionem ou tenham lecionado disciplinas relacionadas ao mercado de capitais. As aulas serão realizadas de 07/12/2020 a 18/12/2020.

Sobre o Comitê Consultivo de EducaçãoAlém da CVM, atualmente, o Comitê Consultivo de Educação é composto pela ABRASCA, ABVCAP, ANBI-MA, ANCORD, APIMEC, B3, IBGC, IBRI e Planejar. O objetivo principal é promover e apoiar projetos educa-cionais, que contribuam para a melhoria dos padrões de educação financeira da população brasileira.

Mais informações:www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2020/20201104-4.html

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IBRI Notícias

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: Presidente: Anastácio Ubaldino Fernandes Filho (AEGEA SANEAMENTO) | Vice-Presidentes: Diego Carneiro Barreto (IFOOD); e Guilherme Setubal Souza e Silva (DURATEX) | Conselheiros: Eduardo Pavanelli Galvão (GRUPO ULTRA - ULTRAPAR); Fernando Foz de Macedo; Geraldo Soares Leite Filho (ITAÚ UNIBANCO HOLDING S.A.); Guilherme Luiz Nahuz (HAPVIDA); Phillipe Casale (COSAN); José Sálvio Ferreira Moraes; Renata Oliva Battiferro; Rodrigo dos Reis Maia (GERDAU); e Rodrigo Lopes da Luz.

DIRETORIA EXECUTIVA: Presidente: Bruno Brasil (ITAÚSA) | Diretor Vice-Presidente e Diretor Regional São Paulo: André Luiz Gonçalves (JSL LOGÍSTICA) Diretor Regional Minas Gerais: Matheus Torga (HERMES PARDINI) | Diretora Regional Rio de Janeiro: Carla Dodsworth Albano Miller (PETROBRAS) Diretor Regional Sul: Roberto Pezzi (FRAS-LE) | Diretor Técnico: André Vasconcellos (ELETROBRAS); Diretora de Comunicação e Eventos: Marilia Barbosa Nogueira (EDP ENERGIAS DO BRASIL).

Rua Correia Dias, 184 / 11º andar - Paraíso - 04104-000 - São Paulo, SP Tel.: (11) 3106-1836 e (11) 96649-7101Website: www.ibri.com.br | Email: [email protected]

BRUNO SALEM BRASIL

Novos Associados do IBRI Aleksandro Borges (PORTO SEGURO); Beatriz de Castro Horta (LOG COMMERCIAL

PROPERTIES); Emerson Faria (PORTO SEGURO); Fernanda Tolentino Guimarães Matoso

(LOG COMMERCIAL PROPERTIES); Gustavo Scarnera; Jessica Mehler (ÂNIMA EDUCAÇÃO);

Luis Felipe Bresaola (INTERNATIONAL MEAL COMPANY); e Matheus Campos de Matos (CEMIG).

O IBRI apoia institucionalmente o Prêmio “+Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças”, que indica os TOP 50 profissio-nais e os TOP 3 veículos de comunicação, nas categorias Jornal, Revis-ta, Agência de Notícias, Site/Blog, Programa de TV/Vídeo, Programa de Rádio/Áudio. Por vídeo, Bruno Salem Brasil, diretor-presidente do IBRI, participou da solenidade de premiação. O evento ocorreu, em 30 de novembro de 2020, pelo canal do Portal dos Jornalistas no YouTube.

A Premiação dos +Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças é promovida por Jornalistas&Cia e Portal dos Jornalistas para homenagear profissionais e publicações do jornalismo econômi-co brasileiro, contando com o patrocínio das empresas BTG Pactual, Captalys, Gerdau, Telefônica|Vivo e Samsung, tendo, também, como apoiadores ABRACOM (Associação Brasileira das Agências de Comu-nicação), Deloitte, Grupo Pão de Açúcar, Imagem Corporativa e IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores).

IBRI apoia o prêmio “+Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças”

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por ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

Meu convívio por muitos anos com Ney Carvalho foi motivado pelo nosso interesse comum pelo desenvolvimento do mercado de capitais. No final dos anos 50, quando ingressei no mercado de capitais (1958), não éramos muitos os interessados na área e da importância da Bolsa de Valores como instrumento destinado ao desenvolvimento do mercado e elemento fundamental para dar liquidez ao investidor.

De uma família dedicada ao mercado, Ney, sempre na corre-tora da família, esteve constantemente ligado a Bolsa do Rio que na época era destacadamente a Bolsa de maior relevân-cia do Brasil, rivalizando com a Bolsa de Buenos Aires.

Quando convidado por Mario Henrique Simonsen para assumir a presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e estru-turá-la, decidi que necessitava de um colegiado para que repre-sentasse diferentes segmentos do mercado. Para os operadores de mercado minha escolha foi exatamente Ney Carvalho, que assim compôs com Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Antônio Milão Rodrigues Lima e Geraldo Hess, o primeiro colegiado da CVM.

No entanto, depois de alguns meses após o início de nossos trabalhos (estávamos localizados no anexo do MAM, onde funcionava o IBMEC), Neyzinho enviou-me uma carta pedin-do que o dispensasse. Com elegância deixou claro que não se sentia confortável em exercer o papel de polícia do merca-do (A CVM era chamada de “xerife” do Mercado) e concluiu “cabrito não pode tomar conta da horta”. Saiu pela porta da frente e somente deixou amigos na CVM. Foi substituído por Emanuel Sotelino Schifferle que trazia conhecimento de sua experiência como banqueiro de investimentos e da corretora do Grupo Crefisul.

Mesmo fora da CVM nossos contatos nunca foram paralisados e, mais tarde, ele dedicou-se com grande afinco como histo-riador, com ênfase no mercado de capitais. E o fez com muita competência, sabendo explorar agentes do mercado que tive-ram relevância numa visão retrospectiva., fornecendo aspec-tos de valor indiscutível para entendermos como se passaram alguns episódios marcantes na história do mercado.

Vale citar “O Encilhamento : Anatomia de uma bolha bra-sileira”, de 2004, editado pela Bovespa e pela Comissão Na-cional de Bolsas. Como comenta na introdução: “O encilha-mento foi o mais importante episódio na vida das Bolsas e do mercado livre do Brasil, e marcou os primeiros passos da República, nascido em 1989.

Nessa mesma linha, escreveu “A Bolha especulativa de 1971”, em que me convidou a fazer o prefácio. É leitura obrigatória aos interessados na história do mercado e, mais do que isso, retrata o Rio de uma época que, olhando retrospectivamen-te, nos trás muitas saudades. Estes e outros momentos das Bolsas estão reunidos no excelente “Três episódios marcan-tes das Bolsas”, editado em 2018. Menciono também seu ex-celente livro sobre Privatização.

Como admiro o turfe, faço referência também ao seu livro sobre o Jockey Club Brasileiro, com texto e apresentações excelentes do esporte dos Reis no Rio de Janeiro.

Com meu retorno a São Paulo, após a CVM, nossos contatos ficaram mais escassos, mas acompanhava seus artigos nos jornais e revistas. Num país que não valoriza sua história, Ney ocupou em espaço relevante e nos deixou um excelente legado. Sentiremos saudades! RI

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA é Economista e foi o primeiro presidente da CVM – Comissão de Valores Mobiliá[email protected]

NEY CARVALHOIN MEMORIAN

REGISTRO

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Assim como não é sábio começar a construir um edifício a partir do teto, a busca por padrões elevados de funcionamento em qualquer área sem a devida atenção a situações prévias e básicas costuma ter resultados decepcionantes.

A construção do conceito ESG começa pela edificação de quatro colunas de conhecimento

por ALEXANDRE PEGORARO

Devido às pressões dos mercados por práticas mais ligadas aos esforços de responsabilidade socioambiental, começa a ocorrer uma corrida no mundo corporativo para se adequar ao chamado padrão ESG, do termo inglês Environment, Social and Governance. Mas para que todos os esforços neste senti-do não sejam derrubados pela primeira tempestade, como uma casa construída sobre a areia, as empresas precisam começar esta jornada a partir do princípio básico de saber exatamente com quem andam. As questões relacionadas às práticas ESG já pautam as agen-das dos investidores e se refletem diretamente na reputação das empresas, que precisam encontrar soluções customiza-das para o seu grau de necessidade. Trata-se de um compro-misso com a sociedade demonstrado através de questões de governança como transparência e responsabilidade; estru-tura de classes de ações e prevenção a corrupção.

Mas de que adianta a empresa percorrer todo o percurso para estar em conformidade com os mais elevados padrões ESG se lá na frente, um funcionário, um parceiro, um fornecedor ou qualquer ente envolvido com a operação tomar uma atitude que leve a marca a ser percebida justamente pelo contrário de tudo aquilo que o ESG pretende representar?

Recentemente uma importante rede de hipermercados ex-perimentou esta decepção ao ver seu nome estampado nos jornais por práticas de racismo quando funcionários de uma empresa de segurança terceirizada espancaram um cliente negro até a morte.

Mas de que adianta a empresa percorrer todo o percurso para estar em conformidade com os mais elevados padrões ESG se lá na frente, um funcionário, um parceiro, um fornecedor ou qualquer ente envolvido com a operação tomar uma atitude que leve a marca a ser percebida justamente pelo contrário de tudo aquilo que o ESG pretende representar?

OPINIÃO

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ALEXANDRE PEGORARO é CEO da Kronoos Soluçõ[email protected]

Para evitar este tipo de surpresa negativa, as empresas que pretendem ostentar elevados níveis de representatividade no conceito ESG precisam reforçar seus processos primeira-mente nestas quatro colunas:

Know Your Customer (KYC) - “conheça seu cliente”. Ter informações financeiras, jurídicas e outras, para gerar transparência nas relações com clientes e os prospects.

Know Your Employee (KYE) - “conheça seu funcionário”. Adoção de fortes políticas de admissão e contratação de fun-cionários.

Know Your Partners (KYP) - “conheça seu parceiro”. Esses processos vêm ganhando adesão como maneira de evitar frau-des, uma vez que a maioria dos registros em empresas tem participação ativa de funcionários, parceiros e fornecedores ou pelo menos algum grau de facilitação por essas partes.

Know Your Supplier (KYS) - “conheça seu fornecedor” processo que assegura a relação com todas as empresas e entidades com as quais a organização se relaciona, organi-zando toda a sua cadeia de suprimentos. Verificações deste tipo envolvem a busca por dados referen-tes às questões comerciais, reputacionais, criminais e cíveis (judiciais), tributárias, entre outras. Felizmente a tecnologia

já permite que esses cuidados sejam tomados com a rapidez suficiente para não impactar o ritmo dos negócios.

As melhores plataformas que prestam este tipo de serviço conseguem pesquisar, a partir do CPF ou CNPJ, mais de 2.000 fontes para conferir a idoneidade das pessoas e empre-sas em questão de minutos. As informações são procuradas junto a processos em todos os tribunais brasileiros, Ministé-rios Públicos do Trabalho, COAF, OFAC, FATCA, OIT, assim como em cadastros negativos de crédito como Serasa e SPC para detectar a existência de cheques sem fundos e protes-tos, por exemplo.

Como diz o ditado popular, é melhor prevenir do que re-mediar. Ou, para ficar nos exemplos recentes, não adianta demitir o funcionário ou romper o contrato com a empresa terceirizada quando a casa já caiu. O melhor é fortalecer as colunas. RI

Recentemente uma importante rede de hipermercados experimentou a decepção ao ver seu nome estampado nos jornais por práticas de racismo quando funcionários de uma empresa de segurança terceirizada espancaram um cliente negro até a morte. Para evitar este tipo de surpresa negativa, as empresas que pretendem ostentar elevados níveis de representatividade no conceito ESG precisam reforçar seus processos primeiramente nestas quatro colunas.

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OPINIÃO

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PANDEMIA: O GRANDE RESET NO MERCADO FINANCEIRO

R$

20,0

0

nº247DEZ 2020JAN 2021

por CIDA HESS e MÔNICA BRANDÃO

RELAÇÕES COM INVESTIDORESwww.revistaRI.com.br

ESG

por

ANA BORGES • ANDRÉ VASCONCELLOS • ANTONIO EMÍLIO FREIRE • BRUNO BRASIL CARLOS LAZAR • DANILO CABRERA • GILSON FINKELSZTAIN • GUSTAVO CARRIJO

IZABELLA MATTAR • JANDARACI ARAÚJO • JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMANPEDRO MELO • PH ZABISKY • ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA

ROCHANA GROSSI FREIRE • RODRIGO KNUDSEN

EM PAUTA

MODISMO, SOBREVIVÊNCIA OU CONSCIENTIZAÇÃO?

AGENDA DOMERCADO

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