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Palavras doComandante-Geral

Em 1999, o CGCFN publicou seu primeiro perió-dico Âncoras e Fuzis, cujo editorial destacava a rele-vância da divulgação de notícias que atualizassemos conhecimentos dos Fuzileiros Navais, por inter-médio de um instrumento direto, objetivo e auxiliar,inaugurando novo canal de comunicação com a tro-pa, buscando o enriquecimento profissional em seusmais diferentes níveis. Ressaltava, também, a utili-dade do Âncoras e Fuzis como fórum de discussão,incentivando os combatentes anfíbios a somarem esforços para o sucesso dessa inici-ativa. Em quase uma década de existência foram publicadas 36 edições desse importan-te veículo de informação institucional, com matérias sobre os mais modernos avançosdo CFN e das demais forças anfíbias no mundo.

Nessa 37ª edição, o Âncoras e Fuzis marcará o primeiro exemplar elaborado sob acoordenação do CIASC, antecipando um dos momentos mais importantes de nossahistória: a criação do Centro de Estudos do Corpo de Fuzileiros Navais no CIASC, quecontribuirá com o aprimoramento da doutrina e dos recursos humanos do CFN, pormeio de quatro instrumentos principais: do intercâmbio com outros segmentos dasociedade e instituições civis e militares, da verticalização acadêmica entre as OM deensino da MB que ministram disciplinas de FN, de um sistema de “Lições Aprendidas”que armazene e dissemine as experiências e ensinamentos depreendidos das participa-ções do CFN em operações e exercícios e do incremento da cultura militar do CFN porintermédio do Programa de Leitura Profissional e divulgação de sua biblioteca.

O Âncoras e Fuzis exercerá, também, papel fundamental no apoio à divulgação detrabalhos acadêmicos produzidos no Centro de Estudos do CFN, condição básica paracredenciar uma Instituição de ensino como centro de excelência e para creditá-lo juntoaos principais órgãos de fomento a programas de ensino de pós-graduação. A produ-ção de ensaios acadêmicos oriundos dos próprios cursos de Oficiais e Praças FN e depesquisas dos diversos setores do CIASC, como a Escola de Operações de Paz, porexemplo, serão as garantias de manter o CFN no estado-da-arte no campo do conheci-mento e de alcançar as etapas necessárias para torná-lo um verdadeiro centro deexcelência no ensino militar-naval.

Esse momento marcante do Âncoras e Fuzis também coincide com o sucesso doSimpósio CFN BICENTENÁRIO, realizado nas dependências do CIASC, com a pre-sença de mais de 400 Oficiais do CFN, participando ativamente das apresentações,debates e discussões em mesas temáticas sobre os mais importantes assuntos profis-sionais da atualidade para o CFN. Dentre os principais assuntos abordados, destaco apalestra de abertura, sobre o Brasil e seu entorno estratégico, as apresentações dosgrupos de trabalho sobre o preparo e emprego dos GptOpFuzNav e sobre a formaçãode recursos humanos e transformação das OM de ensino do CFN em centros deexcelência do Sistema de Ensino Naval e as diversas mesas de debate, com especialrelevância para o assunto “Comando de Companhia”, com excelente participação dosjovens Oficiais do CFN. Todos os assuntos apresentados devem ser motivo de perma-nente debate e incentivo, portanto, nossos Oficiais e Praças a prosseguirem em suaspesquisas para a produção de artigos para o Âncoras e Fuzis, como um dos principaisveículos acadêmicos do Centro de Estudos do CFN.

Boa leitura e ADSUMUS !

Alvaro Augusto Dias MonteiroAlmirante-de-Esquadra (FN)

Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais

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“Se o CIASC estiver bem, todo o CFN estará bem.”

É com grande satisfação que apresentamos a nova versão da Revista Âncoras e Fuzis, a partir de agora elaboradapelo Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), nas modalidades eletrônica (www.ciasc.mar.mil.br) e física.

Sua periodicidade será semestral e seu principal objetivo será o de divulgar assuntos de interesses operativo eadministrativo, com ênfase em temas atuais que contribuirão para a capacitação de militares que atuam em diferentes funçõese para a elevação do grau de conhecimento profissional de todos. A Revista manterá, tal qual o periódico original, as seções“Pense” e “Decida”.

A revista contou com a contribuição, de forma exemplar, de Oficiais e Praças de nossa tripulação na elaboração deartigos, notas, fotografias e designer gráfico, buscando sempre o melhor e o que existe de mais atual para compor essa novaedição.

Ser reconhecido como Centro de Excelência em médio prazo é a meta estabelecida para o CIASC e sua conquistaexigirá a participação de todos os Fuzileiros Navais, Oficiais e Praças de outros Corpos e Quadros e Funcionários Civis quecompreendem a relevância das tarefas aqui executadas na formação de nossos Fuzileiros e Fuzileiras Navais.

O CIASC é a casa de todos nós. Por aqui passaram gerações seguidas de militares que hoje, silenciosamente, torcempelo nosso progresso, conferindo ao nosso Centro algo mais, alma própria.

Assim, convido todos à leitura dos artigos que compõem esta revista.

Boa leitura!

ADSUMUS!

Viva a Marinha !

Editorial

Alexandre José Barreto de MattosContra-Almirante (FN)Comandante do CIASC

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Revista Âncoras e Fuzis Distribuição Gratuita

Ano VII – Número 37 - 2008

Número I publicada pelo CIASCPublicação semestral do Centro de Instrução Almirante Sylvio de CamargoSituado no Complexo Naval da Ilha do Governador (CNIG)Rua Magno Martins s/n° - Bancários – Ilha do GovernadorRio de Janeiro, RJ – CEP: 21911-430

Alvaro Augusto Dias MonteiroAlmirante-de-Esquadra (FN)Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais

Marco Antonio Corrêa GuimarãesVice-Almirante (FN)Comandante do Pessoal de Fuzileiros Navais

Alexandre José Barreto de MattosContra-Almirante (FN)Comandante do CIASC

Sergio Santos KanekoCapitão-de-Mar-e-Guerra (FN)Imediato do CIASC

Jaime Florêncio de Assis FilhoCapitão-de-Mar-e-Guerra (FN-RM1)Centro de Estudos do CFN

EQUIPE DE PRODUÇÃO

Editor ChefeReinaldo Kireeff CovoCapitão-de-Fragata (FN)

Editor AdjuntoMarcio Pragana PatriotaCapitão-de-Corveta (FN)

Revisão Ortográfica1T (RM2-T) Luciana Aparecida Mendel1T (RM2-T) Barbara Poubel dos Santos1T (RM2-T) Jaqueline Vanessa Barbosa Melo

Formatação1T (RM2-S) Sheila Fontes Miliante2T (RM2-T) Marcela Barcellos Araujo

Arte final e Produção GráficaCF (FN) Gustavo Moreira PierreCF (T) Fábio Marcos de Abreu Santos2°SG-FN-CN Horan de Oliveira Costa2°SG-FN-CN Jorge Marins PereiraCB-FN-IF Orivaldo Barbosa dos Santos

ColaboradoresCF (FN) Pedro Antônio de OliveiraCF (FN) Ludovico Alexandre Cunha VellosoCF (FN) Luiz Octavio GaviãoCF (FN) Alberto Rodrigues Mesquita JuniorCF (FN) Osmar da Cunha PenaCC (FN) Augusto Fortuna BarbosaCC (FN) Cláudio Vicente Issa VieiraCC (FN) Flávio dos Santos NascimentoCC (T) Sidney da Costa RosaCC (FN) Carlos Eduardo Vieira NunesCC (FN) Adauto BunheirãoCC (FN) Vannei de Almeida JúniorCC (FN) Gilmar Diogo GuedesCT (AFN) Cláudio Silvino de OliveiraCT (QC-FN) Anthony R. N. de FariasCT (FN) Fábio Félix RibeiroCT (FN) Carlos Gonçalves da Silva MaiaCT (FN) Daniel Marques RubinCT (AFN) Vinicius Weizel da F. BarretoCT (T) Ana Paula Nascimento GonçalvesCT (IM) Marcelo Fernandes Rebello1T (CD) Angélica Regina R. Pinheiro1°SG-FN-IF Anselmo Ferreira dos Santos2°SG-FN-EG Joel Dias Nóbrega3°SG-FN-MU Daniele dos Santos Teixeira

Foto da Capa: cerimônia de formatura do Curso Especial deHabilitação para Promoção a Sargento 2008.

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Sumário

Palavras do Exmo. Sr. Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais...............................................................................03

Editorial................................................................................................................................................................................................................................04

Sumário.........................................................................................................................................................................................................07

Os desafios da política externa brasileira e a contribuição estratégica da capacidade de projeção anfíbia............................08

Simuladores de Combate...................................................................................................................................................................09

O Batalhão de Comando e Controle e o emprego do Radar de Vigilância Terrestre..................................................................11

Sistemas de Inteligência Tática com informações sobre o Espectro Eletromagnético em um ambiente de conflito...............12

Operações Distribuídas: Parte I – Entendendo a essência............................................................................................................16

Visita ao Marine Corps Recruit Depot..................................................................................................................................................17

Visita ao Marine Corps Combat Development Command (MCCDC)........................................................................................19

Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) Carcará..............................................................................................................................23

Armamento não-letal contribui para a execução das tarefas do GptFNRJ............................................................................24

Missões de Operações de Paz...................................................................................................................................................25

Resenha do livro “The Passion of Command”.............................................................................................................................26

Primeiro Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC............................................................................................................28

Centro de Gravidade: uma única expressão. Diferentes interpretações................................................................................29

Marinha do Brasil, economia brasileira e Amazônia Azul: componentes de uma relação necessária ao desenvolvimento

nacional......................................................................................................................................................................31

A família e o militar...................................................................................................................................................................34

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo e a formação do Corpo de Fuzileiros Navais no terceiro milênio..........36

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo como Centro de Excelência: uma visão do ambiente ideal para a construção

do saber.........................................................................................................................................................................37

A evolução do processo de ensino-aprendizagem no CAOCFN.........................................................................................40

A formação dos sargentos no Corpo de Fuzileiros Navais......................................................................................................41

Lars Grael: exemplo de liderança e superação........................................................................................................................42

Operação Chavín de Huantar: uma demonstração de valiosos preceitos na condução de uma tática de operação.............43

Entrevista com o CMG (FN-RM1) Wagner Junqueira de Souza.........................................................................................44

Formação Militar Naval..............................................................................................................................................................47

CIASC - Breve histórico............................................................................................................................................................49

Crônica: Encantamento arquitetônico.......................................................................................................................................49

Construindo, reformando e modernizando o CIASC.....................................................................................................................53

Programa Forças no Esporte no CIASC....................................................................................................................................55

Acordo de Cooperação Naval Brasil-Namíbia - CIASC e CIAMPA...........................................................................................55

Visita do Dr. Daniel Levy, Procurador Regional da União, ao CIASC.......................................................................................56

Apresesntação da Banda Sinfônica do CFN no CIASC.............................................................................................................56

Departamentos e Escolas do CIASC realizam visitas e exercícios práticos............................................................................57

Resposta ao Decida no 36 – GptOpFuzNav nas Operações de Paz.............................................................................................59

Decida no 37..........................................................................................................................................................................................60

Decida no 38.......................................................................................................................................................................................61

Pense ............................................................................................................................................................................................................61

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CF (FN) Ludovico Alexandre Cunha Velloso

Apesar das dificuldades iniciais, a política externabrasileira obteve resultados extraordinários no início doestabelecimento do Estado brasileiro, êxito consubstanciadopela definição pacífica de suas fronteiras e pela preservaçãode sua integridade territorial. Esse êxito trouxe excelentesreflexos para o país, com efeitos extremamente positivos emsua diplomacia, que oferecem condições apropriadas para oexercício de um papel de destaque no cenário internacional.

Na medida em que o país atinge a condição de uma daseconomias mais fortes do planeta, com uma população decerca de 180 milhões de habitantes, em sua maior parte urbana,e é detentor de parque industrial respeitável, essas credenciaislhe conferem o potencial para ocupar um lugar de maior pesoe influência no concerto dos países. Para isso, é fundamentalsuperar as dificuldades internas decorrentes da pobreza e damá distribuição de renda, que implicam no complexo depotência de segunda classe, e defender estratégias audaciosasde desenvolvimentos político e econômico.

Na busca de seus objetivos de crescimento e de maiorparticipação nas questões relevantes do planeta, o Brasilencontrará desafios que exigirão esforços consideráveis paraum país em desenvolvimento. Entretanto, esse é um custocom que o Brasil terá que arcar, caso tencione realmentepleitear um lugar de destaque no cenário internacional. Osprincipais desafios da política externa brasileira podem serdivididos em três grandes ramos:

- desafios geopolíticos que incluem a promoção daestabilidade regional, por meio do aprimoramento daintegração dos países sul-americanos, contrapondo-seà influência pretendida pelos EUA e ao aumento dainfluência do país no Atlântico Sul;- desafios temáticos que implicam na preservação dasoberania e da independência política por meio daparticipação ativa nas grandes discussões mundiais,referentes à preservação do meio-ambiente, combate àsameaças transnacionais, defesas dos direitos humanose limitação de uso de armas; e- participação do país nos organismos internacionais,particularmente no Conselho de Segurança daOrganização das Nações Unidas.

A América do Sul

A América do Sul é circunstância inevitável, histórica egeográfica do Estado e da sociedade brasileira. O crescimentoeconômico e a defesa dos interesses nacionais passam,necessariamente, pela unidade sul-americana. O territóriobrasileiro representa cerca de cinqüenta por cento da área daAmérica do Sul, e o país faz fronteira com dez países. Essascircunstâncias fazem com que, inevitavelmente, ele necessiteinteragir política e economicamente, de maneira intensa, comos seus vizinhos no continente. Além disso, as assimetriasexistentes entre o Brasil e os demais países sul-americanos,particularmente no que tange ao potencial econômico,apresentam ao país a perspectiva de assumir a condição delíder da América do Sul.

Os desafios da política externa brasileira e a contribuiçãoestratégica da capacidade de projeção anfíbia

Um outro desafio, advindo da disputa pela liderança naregião, são os EUA - embora sejam militarmente incontrastáveisno campo econômico, nota-se o surgimento de rivalidadesque, em médio prazo, poderão comprometer sua liderança,particularmente a União Européia e a China. Outros rivaispotenciais são a Índia e a Rússia. Na América do Sul, destaca-se o Brasil como principal país que pode apresentar dificuldadesà consecução dos objetivos norte-americanos nessecontinente.

Visando à preservação da influência histórica e à garan-tia do acesso preferencial a recursos naturais e ao mercadosul-americano, os EUA buscam impedir a construção de umaunidade sul-americana sob a liderança brasileira, acenandocom a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), comoalternativa ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)1 e reali-zando acordos bilaterais com alguns países como o Chile, maisrecentemente. Além disso, realizam esforços no sentido deimpedir a emergência de potências militares capazes de con-testar, ainda que regionalmente, a sua hegemonia.

À medida que o Brasil amplia os esforços e os traduz eminvestimentos com participação direta de capitais estatal eprivado em projetos de desenvolvimento de infra-estruturaem países como a Bolívia, com a construção de gasoduto, e aVenezuela, com investimentos em redes de transmissão deenergia elétrica, aumentam as necessidades de defesa dosinteresses do país na região e, por conseguinte, o potencialpara surgimento de situações de conflito e de cooperação emrelação aos seus vizinhos e também em relação aos EUA.

Outro ponto crucial reside na dependência do oceanoAtlântico para uma ligação mais efetiva entre o Brasil e ospaíses situados na costa do Pacífico, em face da barreirageográfica imposta pela cordilheira dos Andes. Do ponto devista estratégico militar, esse quadro indica a necessidade dese dotar a Marinha do Brasil de capacidade de projeção depoder apropriada aos objetivos geopolíticos do país em relaçãoao continente sul-americano.

O Atlântico Sul e a África

O Atlântico Sul representa, para o país, um enorme desafiogeopolítico. Um fato inegável é que, para o Brasil, esse oceanorepresenta uma extensa fronteira marítima, onde mais denoventa por cento de nosso comércio exterior é realizado.Adicionalmente, é mister ressaltar que as áreas brasileiras derelevância econômica e com maior densidade populacionalestão, atualmente, em sua maioria, localizadas em uma faixalitorânea de cerca de 500 km.

Ele funciona, para o Brasil, como um largo rio cujasmargens opostas podem vir a ser ocupadas por inimigospotenciais. Duas grandes vulnerabilidades se apresentam em

¹O estabelecimento de uma área de livre comércio no continenteamericano, a partir de 2005, foi proposta pelos EUA em 1990, quandofoi lançada a Iniciativa das Américas, e foi oficialmente adotada naprimeira Cúpula das Américas em Miami, em 1994. O MERCOSUL foicriado em 1991 pelo Tratado de Assunção. Esse mercado comumestabeleceu uma tarifa exterior comum e uma zona de livre comércioentre os seus quatro países-membros: Brasil, Argentina Paraguai e Uruguai.

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face do imperativo geográfico representado por esse oceano:nossos principais centros econômicos são vulneráveis a umataque partindo do mar e ao corte de nossas comunicaçõesmarítimas.

Essas vulnerabilidades indicam a necessidade de o Brasilampliar suas relações com a África. Além disso, é importantemencionar o potencial de exploração de recursos e dedesenvolvimento de relações que propiciem mercados e áreasde influência que venham a contribuir para o desenvolvimentoe a projeção do país no cenário internacional. Nesse sentido,o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães defende o seguinteponto:

Urge elaborar um programa estratégico do Estadobrasileiro com recursos definidos, ainda queinicialmente modestos, para construção de vínculospolíticos, militares, comerciais e tecnológicos.

Os desafios referentes ao continente africano, emespecial o seu cone sul e os países de língua portuguesa, maisque uma aspiração da política externa, representam umanecessidade estratégica, como decorrência da dependênciado país em relação às rotas marítimas do Atlântico Sul.

Os desafios temáticos e a participação brasileira no Conselhode Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU)

Observa-se uma perigosa articulação pelas grandespotências, que usam os organismos internacionais paraexercerem todo tipo de pressão visando a tornar cada vezmais impotentes o aparato estatal nos países periféricos. Alémdisso, observa-se uma tendência crescente da utilização dessasquestões como argumentos para justificar intervenções empaíses periféricos, particularmente no tocante aos direitoshumanos, terrorismo e produção de armas de destruição emmassa. Samuel Pinheiro Guimarães descreve, assim, essaarticulação:

[...] a concentração de poder político e militar que se verificana ação combinada de fortalecimento do Conselho deSegurança da ONU (CS) e da imposição de acordosdesiguais de desarmamento – convencionais ou não – tornaa questão do ingresso do Brasil no Conselho de Segurançauma questão central da política externa.

Verifica-se que há um estreito relacionamento entre osgrandes desafios temáticos e a participação ampliada do paísnas principais decisões e na formulação das políticas dosorganismos internacionais. A questão do CS certamente

ampliaria a visibilidade e a relevância do país no cenáriointernacional; entretanto, essa aspiração deve ser respaldadapor uma estrutura militar compatível com as responsabilidadesexigidas de um país candidato a membro permanente, capaz deprojetar poder no exterior e conduzir ações decorrentes deresoluções emitidas por esse conselho.

A relevância da capacidade de projeção de poder

Torna-se fundamental que o país se empenhe em exercerde maneira eficaz o papel de líder da América do Sul, em ampliarsua influência no Atlântico Sul, especialmente no continenteafricano, em intensificar sua participação nos organismosinternacionais, em particular no CS.

Na esfera militar, a capacidade de projetar poder fora doseu território deve ser feita com respeito à soberania dosvizinhos; entretanto, ela é imprescindível para gerarcredibilidade e oferecer aos demais países da América do Suluma alternativa viável ao julgo norte-americano, projetar poderno Atlântico Sul, ampliar a cooperação com países africanos eaumentar a capacidade dissuasória e de negociação do Paísno cenário internacional, ao apresentar um elevado custo ainiciativas intervencionistas e permitir uma participação maisativa do país em ações militares autorizadas pela ONU. Comoconseqüência, nota-se que a manutenção de uma apropriadacapacidade de projeção anfíbia pode prestar significativascontribuições ao enfrentamento dos desafios da políticaexterna brasileira.

Referências Bibliográficas

1. BRASIL. Decreto nº 5484, de 30 de junho de 2005. Políticade Defesa Nacional. Brasília, jun. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil.htm> Acesso em: 21 jul. 2005.

2. GUIMARÃES NETO, Samuel Pinheiro. Quinhentos anosde periferia. Porto Alegre, RS: Universidade Federal do RioGrande do Sul e Contraponto. 1999.

3. LEAL, Samuel Nogueira. O Conjugado Anfíbio como Núcleopara Projeção de Poder Militar do Brasil. 15 fl. Ensaio – Cursode Estado Maior para Oficiais Superiores, Escola de GuerraNaval, Rio de Janeiro, 2004.

4. PONTE, Waldir Bastos. Os Fuzileiros Navais e as OperaçõesAnfíbias no Limiar do Novo Século. Revista MarítimaBrasileira. Rio de Janeiro, v. 118, n. 4/6, abr/jun. 1998.

Simuladores de CombateCF (FN) Osmar da Cunha Pena

A reprodução da realidade no mundo virtual tem semostrado um grande desafio para várias gerações deprogramadores. Várias empresas têm investido milhões dedólares no desenvolvimento de sistemas de simulação, nasmais diversas áreas do saber humano, dentre elas, a militar.Nesse campo, existem simuladores que permitem a criação desituações nos diversos níveis de condução da guerra, ouseja, o político, o estratégico, o operacional e o tático. É

possível a simulação de crises político-estratégicas, decampanhas e de interações em batalhas. Como exemplos desimuladores no nível tático, podemos mencionar o Jogo deGuerra da EGN, que permite a simulação de engajamentosdurante a condução de uma campanha naval, e o Jogo Didáticodo Centro de Jogos Didáticos do CIASC, que permite arealização de interações durante operações terrestres decaráter naval.

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O presente artigo irá focar o usode simuladores de combate para ainstrução e o adestramento depequenas frações de infantaria, o quedemanda um grau de precisão erealismo muito maior do que o exigidopara os sistemas de apoio à decisão.Os sistemas de simulação de combatepara infantaria (SSCI) buscamreproduzir, com precisão, os diversosambientes operacionais nos quais atropa poderá estar inserida e quedemandariam muitos recursos paraserem criados em áreas de treinamento,simulando, nesses ambientes,situações geradas a partir de relatóriosde ocorrências reais em combate.Como exemplo, estão disponíveis,atualmente, nos Estados Unidos daAmérica, simulações dos ambientesoperacionais encontrados noAfeganistão, no Iraque e até mesmono Timor Leste.

Em 1998, por ocasião de minhaparticipação em um work-up durante o pre-deployment da26th MEU(SOC), pude perceber que todos os OficiaisComandantes de pequenas frações eram incentivados porseus Comandantes de Companhia a jogar, em suas horasvagas, um videogame para PC chamado Close Combate. Taljogo proporcionava uma vista de topo de tropas valor ET/GC/Pel dispostas e progredindo no terreno em situações decombate, exigindo do jogador decisões rápidas para ocumprimento de suas tarefas. Um simples videogame permitia,àquela época, estimular o processo de tomada rápida dedecisões por parte dos Comandantes de pequenas frações,aguçando a iniciativa e o senso de liderança.

Dez anos se passaram, e a realidade dos simuladores emmuito evoluiu. Atualmente, os sistemas baseados no VirtualBattlespace 2 (VBS2), desenvolvido pela Bohemia InteractiveCorporation, representam o estado-da-arte dos SSCI. Essaempresa acaba de lançar o Virtual Battlespace 2 VirtualTraining Kit (VTK), desenvolvido em parceria com diversasForças Militares e voltado para a criação de diferentesambientes completamente customizáveis para o treinamentotático e a realização de ensaios. O USMC pretende, até o fimdeste ano, equipar todos os seus batalhões de infantaria comequipamentos portáteis de simulação, que permitirão “rodar”o Deployable Virtual Training Envaironment (DVTE) System,completamente baseado no VBS2, e que poderá ser carregadocom gráficos e situações que reproduzam ambientes decombate específicos. Trata-se de um sistema que permite atotal imersão de pequenas frações de infantaria em ambientesvirtuais muito próximos ao que iriam encontrar em combate,permitindo a realização de adestramentos e ensaios,independentemente de onde estejam, seja a bordo de basesde treinamento em terra, seja a bordo dos navios anfíbios.Cada batalhão deverá receber um pacote com 33 laptopscarregados com o DVTE, headsets e dois head-mounteddisplay visors, os quais poderão ser conectados em rededurante uma mesma sessão do VBS2. Diferentemente dosvideogames comerciais, o DVTE possui uma reprodução fiel

do campo de batalha, como a precisãobalística dos fogos das armasempregadas. Além disso, o sistemapermite a utilização de uma redeintegrada de armas, incluindo o apoiode aviação de asa fixa e rotatória. Atendência para o futuro dessesistema será permitir a reprodução deambientes específicos para ocumprimento de determinada missão,permitindo o ensaio virtual detalhadodo planejamento.

Os SSCI têm grande importânciano adestramento de tropas nasOperações de Paz, particularmentenas situações que exijamprocedimentos de escalada do uso daforça e que envolvam danoscolaterais à população civil.Normalmente, as regras deengajamento irão determinar, sob oaspecto legal, quando e qual forçapoderá ser utilizada contra um alvolegitimamente determinado e

identificado; entretanto, os procedimentos de escalada douso da força determinarão a evolução da resposta a ser dadapela tropa, face à determinada situação. Tal resposta poderáser, em uma progressão, um alerta audível, o uso de auxíliosvisuais, a mostra de armas, o uso de armas não-letais, osdisparos de advertência e uso de força letal. A Argentina jádesenvolveu, com tecnologia própria, um simuladorempregado no “Centro Argentino para EntrenamientoConjunto de Operaciones de Paz - CAECO-PAZ” para oadestramento desse tipo de operação.

Os SSCI têm sido desenvolvidos por meio de grandesparcerias do USMC (Infantry Skills Simulation WorkingGroup at the Marine Corps Warfighting Lab in Quântico,VA), US Navy (Office of Naval Research and the ProgramManager for Training Systems) e US Army (Army’s ProgramExecutive Office for Simulation, Training &Instrumentation) com grandes universidades e empresasamericanas, tais como a Raytheon, a General DynamicsInformation Technology Division e a Computer SciencesCorporation.

O investimento em simuladores de combate, a longoprazo, possui um baixo custo em relação aos benefícios quepodem proporcionar. Mesmo que os recursos empregadosinicialmente para o desenvolvimento e a implantação de umsistema de simulação sejam grandes, tal custo serácompensado pela economia obtida em termos de recursos,material e tempo dispendido na realização de adestramentosem tempo real. O emprego de simuladores significa otimizaçãodo adestramento, uma vez que o militar, ao realizar oadestramento real, já terá incorporado e assimilado osprocedimentos básicos para as diferentes situações, reduçãono consumo de munição real e redução no desgaste domaterial, além da possibilidade de reprodução de váriosambientes distintos, os quais, por vezes, seriam de difícilcriação nas áreas de adestramento, acarretando a necessidadede deslocamento da tropa para locais específicos, o que nemsempre será possível. Com certeza, vale o investimento.

Ambiente virtual criado a partir do

VBS-2

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Simulador utilizado noCAECO-PAZ - Argentina

O BtlCmdoCt e o emprego do Radar de VigilânciaTerrestre (RVT)CT (QC-FN) Anthony Robertson Nascimento de Farias

Dentre as tarefas do Batalhão de Comando e Controle(BtlCmdoCt), destaca-se a de prover o apoio de sensores ele-trônicos de vigilância terrestre aos Grupamentos Operativosde Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav).

O BtlCmdoCt é composto por três Companhias: a Com-panhia de Comando (CiaCmdo), a Companhia de Comunica-ções (CiaCom) e a Companhia de Inteligência de Sinais (CiaIS).

Na estrutura do BtlCmdoCt foi criada uma fração inéditadentro do CFN, denominada de Pelotão de Vigilância Eletrôni-ca (PelVigElt), pertencente à Companhia de Comando, quedeverá, por meio de sensores de vigilância terrestre, como oRadar de Vigilância Terrestre (RVT), ampliar a capacidade deinteligência dos GptOpFuzNav, quando ativada (QA).

O RVT proporciona um aumento na eficácia do esforço devigilância quando é empregado de forma integrada com umplano geral de vigilância da Área de Operações. Os sinais ad-quiridos por esses sensores podem ser integrados e analisadosno Centro de Análise de Inteligência (CAI), aumentando a ca-pacidade da Força em obter informações sobre a Situação Mili-tar do Inimigo.

Atualmente, os RVT são equipamentos portáteis utiliza-dos para detecção, aquisição, localização e reconhecimentode tropas a pé, veículos leves ou pesados, e aeronaves voan-do a baixa altura. Os RVT podem ser empregados em apoio àsoperações ofensivas ou defensivas, em quaisquer condiçõesmeteorológicas e sob condições de visibilidade reduzida.

Alguns países da América do Sul já empregam esse tipode radar, como a Argentina, o Peru, a Venezuela e o Chile.

2- AN/PPS-5C MSTARna Guerra do Golfo

www.drs.com1- RVT BÜRmontando em umaviaturawww.eads.com

Apesar de o seu emprego em missões de reconhecimentoter sido substituído pelo VANT (Veículo Aéreo Não-Tripulado),que atinge distâncias bem maiores, o RVT ainda é muito empre-gado, pois proporciona a detecção de alvos além do alcancevisual.

Um dos RVT encontrados na atualidade é o RVT BÜR(Bodenüberwachungsradar) da EADS (EuropeanAeronautic Defence and Space Company). A EADS equi-pou as Forças Armadas Alemãs com o radar de vigilânciaterrestre BÜR, que localiza movimentos em terra e no espaçoaéreo próximo ao solo. Esse radar pode processar várias ta-refas de reconhecimento ao mesmo tempo. O BÜR poder sermontado em viatura.

Outro exemplo de RVT é o AN/PPS-5C MSTAR(Manportable Surveillance and Target Acquisition Radar)da empresa DRS Technologies Inc. Esse equipamento possi-bilita detectar e localizar o movimento de alvos inimigos, alémde direcionar e monitorar os engajamentos dos alvos pelofogo da artilharia (segundo o fabricante, é necessário apenasum disparo para que se realize o ajuste do tiro de morteiro oude artilharia). Esse RVT é operado por dois militares e coloca-do em ação em menos de 3 minutos.

A DRS Technologies Inc. apresenta também o Squire,equipamento portátil que permite a detecção de alvos em mo-vimento a uma distância máxima de 48 km, segundo a empresa.

O RVT Squire pode ser implantado em tempo de paz parasalvaguardar áreas de interesse como campos petrolíferos oucentrais elétricas. O Squire possui pequenas dimensões e podeser facilmente transportado em duas mochilas.

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Simulador utilizado no CAECO-PAZ - Argentina

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Sistemas de Inteligência Tática com Informações sobre oEspectro Eletromagnético em um Ambiente de Conflito

CC (FN) Augusto Fortuna Barbosa

Resumo: O conhecimento sobre a posição das Forças Ini-migas é um fator determinante para a tomada de decisão. Com odesenvolvimento da tecnologia, as informações obtidas por ele-mentos de reconhecimento, Veículos Aéreos Não Tripulados –VANT, fotografias aéreas, tropas em contato, entre outros, po-dem ser consolidadas e disponibilizadas permitindo uma visãoglobal do posicionamento das tropas inimigas. Atualmente, Sis-temas de Inteligência Tática são capazes de dispor, em umacarta digitalizada, as posições inimigas resultantes de um traba-lho de análise das informações obtidas da exploração do espec-tro eletromagnético.

Sistemas desse tipo podem proporcionar um aumento consi-derável na rapidez e na precisão das ordens emitidas pelo Coman-do, permitindo a tomada e a manutenção da iniciativa das ações.

Palavras-chave: informações, sistemas de inteligência,emissões eletromagnéticas.

1. INTRODUÇÃO

A evolução da tecnologia tornou possível a utilizaçãode sistemas capazes de receber informações, analisá-las edisseminá-las em um tempo desejável para a tomada de de-cisão e o controle da ação planejada. O conhecimento setornou um fator de desequilíbrio do Teatro de Operações, esurge, então, a necessidade de ferramentas que possibili-tem o acompanhamento da situação do combate.

Este artigo tem como objetivo demonstrar o empregodas informações extraídas do ambiente eletromagnético emsituações de conflito, tornando possível inferir sobre oposicionamento das tropas inimigas, bem como visualizarsua intenção de manobra.

2. SISTEMAS DE INTELIGÊNCIA TÁTICA

A Atividade de Inteligência é aquela que tem por finali-dade produzir e salvaguardar conhecimentos de interesse.

A partir do exame da definição, verifica-se que essaatividade desdobra-se em dois grandes ramos[1]:

- INTELIGÊNCIA - objetivamente voltado para obtençãoe análise de dados, informações, produção e difusão de conhe-cimentos, relativo a fatos e situações de imediata ou potencialinfluência sobre o processo decisório; e

- CONTRA-INTELIGÊNCIA - objetivamente voltadopara prevenção, detecção, obstrução e neutralização da inte-ligência adversa e das ações de qualquer natureza que cons-tituam ameaça à salvaguarda de dados, informações, conhe-cimentos, materiais e valores de interesse, bem como dasáreas e dos meios que os retenham ou em que transitem.

Baseado no primeiro ramo da Atividade de Inteligência, épossível perceber que informações sobre o inimigo, sobre ascondições de relevo, sobre as condições meteorológicas e so-bre outros aspectos relevantes são fatores de decisão para aescolha de uma determinada linha de ação. Pode ser possívelainda chegar-se à conclusão de que o conhecimento das açõesdo inimigo tem uma contribuição significativa na atividade deinteligência. Em épocas não muito distantes, esse tipo de co-nhecimento limitava-se ao tipo de ameaça. Essa abordagem,

atualmente, concentra-se na missão a ser cumprida.Neste tipo de enfoque, o comando exerce um papel de

fundamental importância, devido ao fato de possuir a capa-cidade de priorizar, determinar os meios necessários e ori-entar a busca conforme a missão recebida. Para atender àsnecessidades de processamento de informações (isso in-clui a busca, a análise e a disseminação) em tempo hábilpara uma tomada de decisão que torne possível a obtençãode uma vantagem tática, são necessários a reunião de meiose o desenvolvimento de processos de inteligência. Maravi-lhas da tecnologia atual permitem o gerenciamento desensores [2] de modo eficaz, o que tem reduzido o tempo deanálise e disseminação das informações.

Sistemas de inteligência tática têm sido projetados pararealizar essa gerência e podem ser definidos como um con-junto de equipamentos e processos orientados para a bus-ca do conhecimento sobre a posição, a intenção de ação doinimigo, a análise dessas informações e sua conseqüente eseletiva disseminação.

Atualmente, terminais com sistema de posicionamentoglobal – GPS – permitem que cada usuário (no caso, peça demanobra) mantenha sua posição atualizada em um terminalcentral, dependendo do escalão e da missão a ser cumprida.Um sistema de inteligência focado nas ações do inimigo –Sistema de Inteligência Tática (SIT) – deve ser capaz dedisponibilizar informações acerca da posição do inimigo emtempo real ou próximo do real.

Devido às circunstâncias óbvias de uma batalha, só é possí-vel ser obtido esse tipo de informação pelas seguintes maneiras:

- elementos de reconhecimento;- informações recolhidas em tempo de paz por adidos,

público local, nacionais residentes no local, elementosinfiltrados, simpatizantes, revistas e jornais locais, etc;

- imagens de satélites;- aeronaves, tripuladas ou não;- análise do espectro eletromagnético;- tropa em contato;- elementos avançados diversos; e- fontes oportunas diversas.Este artigo se restringe a uma análise superficial de um

SIT que forneça informações baseadas na análise do espec-tro eletromagnético, independente da doutrina de empregoou da determinação da dotação necessária baseada em esca-lão, missão, efetivo, ameaça ou qualquer discriminante.

Considerando a fase de planejamento como uma confi-guração desse sistema, e a fase de análise das informaçõescomo um trabalho de um elemento do Estado-Maior, as de-mais fases – obtenção de informações e coleta de dados, edisseminação – devem ser realizadas por esse sistema, cominterferência do operador ou não.

De posse do conhecimento a respeito das InteligênciasOperacional e Tática, é necessário definir o objetivo do desen-volvimento ou a aquisição de um sistema de inteligência basea-do em informações do espectro eletromagnético. A seguir, seráapresentado o que é esperado de um ambiente saturado de emis-sões, para que seja possível explorar suas características e faci-litar o trabalho de Inteligência.

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3. O AMBIENTE ELETROMAGNÉTICO NO ESPAÇO DEBATALHA

A Guerra Eletrônica engloba as atividades de busca,monitoração, interceptação, localização e interferência. Paraevitar uma abordagem mais profunda dessas atividades, faz-se necessária uma introdução a respeito da atividade de loca-lização, que pressupõe a utilização de mais de um sistema des-se tipo em diferentes posições no terreno. Semelhantementeao Global Positionning System – GPS, porém em duas dimen-sões apenas (no caso, para tropas em terra), o cruzamento delinhas de origem do sinal – direction finding (DF) – possibilitaa localização do transmissor inimigo.

3.1. O AMBIENTE ELETROMAGNÉTICOPrimeiramente, é necessário saber o que esperar de um

ambiente eletromagnético saturado de emissões. As ações debusca, a localização e a monitoração devem ser direcionadaspara o tipo de equipamento utilizado pelas tropas inimigas, ob-servando-se o padrão de emissão, o tipo de modulação, a fre-qüência, etc. Técnicas de modulação ou codificação emprega-das pelo inimigo vêm a ser fatores condicionantes para o suces-so de uma ação de monitoração, interferência, ou mesmo delocalização. Atividades realizadas em tempos de paz, comomonitoração do espectro eletromagnético, o acompanhamentodas novas tecnologias empregadas e o trabalho de represen-tantes nacionais em outros países, como adidos ou militares emmissões diversas, contribuem significativamente para a elabo-ração e a atualização de um banco de dados.

Para estudar a tecnologia empregada atualmente, uma abor-dagem sistêmica dos tipos de equipamentos e técnicas utiliza-dos por outros países pode facilitar no momento da configura-ção do subsistema a ser utilizado. Em seguida, serão apresenta-dos alguns tipos de equipamentos utilizados e que podem vir aser alvos de ações de Guerra Eletrônica.

3.1.1. Equipamentos de comunicaçõesPara manter o controle das ações, as comunicações devem

ser empregadas seguindo requisitos básicos de confiança, fle-xibilidade, rapidez e segurança. A rapidez já é limitada pela velo-cidade da luz, obtendo seu maior grau de aplicabilidade. O re-quisito da confiança, que pressupõe a certeza de entrega, éatendido por algoritmos de certificação de entrega do pacote decomunicações. A flexibilidade diz respeito ao emprego de meiosou canais alternativos. O principal aspecto a ser estudado nes-se item se refere à segurança.

Um equipamento rádio (ou qualquer outro equipamento decomunicações que se utilize do espectro eletromagnético) deve pos-suir técnicas de modulação e criptografia. Por criptografia entenda-se que seja tanto do conteúdo quanto do método de transmissão.

Outro aspecto a ser levado em consideração é a faixa defreqüência a ser empregada. As freqüências de comunicaçõespara uso militar se limitam às faixas de HF, VHF e UHF. Outrosserviços impedem a utilização de faixas de freqüências diferentes.

3.1.1.1. ModulaçãoA tecnologia atual emprega a modulação digital; porém, as

técnicas de modulação analógica AM SSB e FM ainda são utili-zadas. A modulação analógica não é difícil de ser interceptada eanalisada, desde que não seja empregada uma técnica que alte-re as características da portadora; entretanto, a modulação digi-tal emprega uma técnica de codificação que dificulta – na maio-ria das vezes impede – a interceptação da transmissão, e a aná-lise se torna impraticável.

3.1.1.2. TransmissãoA vulnerabilidade maior de uma transmissão está justa-

mente no seu meio de propagação. De qualquer maneira, o sinaldeverá trafegar no espaço contendo a informação. A modulação– analógica ou digital – pressupõe uma portadora numa deter-minada freqüência. A técnica de salto de freqüência tornou pra-ticamente impossível a interceptação da transmissão, uma vezque a mensagem é transmitida por uma portadora cuja freqüên-cia se altera de maneira aleatória.

Teoricamente, seria suficiente saber o algoritmo de mu-dança de freqüência para que fosse possível utilizar a mesmaseqüência de freqüências utilizadas como portadora. Contudo,alguns analisadores são capazes de mostrar na mesma tela di-versas freqüências simultaneamente. Um transmissor que em-prega um algoritmo de salto de freqüência ainda é vulnerável àsua detecção, e isso pode influenciar na localização do trans-missor. Com um pouco de experiência, o operador é capaz deperceber que a origem de diversos sinais é a mesma. Logicamente,os diversos sinais mostrados na tela não são contínuos, e essemodo de localização pode demandar um tempo maior, mas onível de treinamento do operador e o grau de tecnologia doreceptor (que pode ser capaz de determinar a DF durante amonitoração) podem fazer a diferença na discriminação dos si-nais recebidos.

Outra técnica utilizada que dificulta a interceptação é aprópria modulação digital. Uma vez que o sinal é transformadoem bits, a transmissão é realizada por seqüências de pulsos.Isso diminui o período de transmissão; logo, diminui também otempo de vulnerabilidade.

3.1.2. Radares de busca aérea e de direção de tiroTais radares não são considerados como alvo principal da

Guerra Eletrônica de Forças Terrestres, mas sinais desse tipopodem ser adquiridos pelos sensores de um Sistema de Inteli-gência Tática e, dependendo da proximidade do transmissor,deverão ser processados, e a informação fará parte de uma cartade situação do inimigo.

A faixa de freqüência desses sistemas está entre 3 GHz e 10 GHz.3.1.3. Sistemas-satéliteComunicações satélite são uma realidade atualmente, depen-

dendo do país beligerante. Sinais nessa faixa de freqüência podemvir a ser adquiridos e, muito embora não seja relevante a sua ori-gem, outros parâmetros podem vir a ser analisados e outros tiposde informações serão processados, muito embora a faixa de fre-qüência de operação – bandas C e Ku (3,6 a 14,5 GHz) – dessesistema requeira a dedicação de um receptor que opere nessa faixa,semelhantemente aos radares de busca aérea e de direção de tiro.

3.1.4. Radares de vigilância terrestreRadares desse tipo utilizam transmissores pulsados e tipos

de varredura que, nesse caso, são setoriais. Isso facilita ainterceptação. Uma vez recebido o sinal, é possível analisá-lo eobter os parâmetros necessários, que serão utilizados para medi-das de ataque e proteção eletrônica (MAE e MPE). A freqüênciautilizada por esses radares está entre 8 e 20 GHz.

Radares de vigilância terrestre

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Diagrama de blocos de um Sistema de Inteligência Tático – SIT

3.1.5. Telêmetros laserEsse tipo de equipamento se utiliza do espectro eletro-

magnético na faixa do óptico. Devido à sua direcionalidade,emissões desse tipo tornam-se quase impossíveis de per-cepção. Unidades de reconhecimento devem se aproximar osuficiente para a obtenção de informações acerca de instala-ções e posições de sentinelas. A tecnologia atual não tornapossível a detecção de emissões desse tipo de equipamento.

3.2. BIBLIOTECA DE DADOSSejam quais forem as técnicas utilizadas pelo inimigo, é

importante o conhecimento prévio tanto quanto possível detodas as emissões. Sensores e equipamentos diversos de-vem realizar uma busca constante, na guerra ou na paz, comouma maneira de se manter atualizado quanto à tecnologiadisponível. Alguns sistemas e sensores[3] devem ser utiliza-dos, conforme suas peculiaridades a serem exploradas:

a) Radar Warning Receiver (RWR)Utilizados na detecção do radar inimigo antes que este

possa fornecer informações aos sistemas de armas as-sociados.

Esses tipos de receptores se caracterizam pelo baixocusto, pela simplicidade e pela velocidade de análisedos parâmetros coletados. Devem possuir uma biblio-teca com informações sobre freqüência, largura de pul-so, intervalo de repetição de pulso e outros dados so-bre os radares inimigos. Normalmente, são instaladosem aeronaves para reconhecimento de radares de vigi-lância ou de direção de tiro, mas podem ser utilizadospor estações terrestres, objetos deste trabalho. A finali-dade desse tipo de receptor em campanhas terrestres serestringe à detecção de radares de vigilância terrestre.b) Receptores de Sistemas de Inteligência Eletrônica(ELINT)

O propósito desse tipo de equipamento é principal-mente estratégico, mas também pode ser consideradocomo tático. Em tempos de paz, a detecção de novas emis-sões, ou a operação em uma nova banda de freqüênciadá origem ao desenvolvimento de novas tecnologias paraa análise ou o bloqueio da nova ameaça.

Um ELINT deve ser capaz de medir os parâmetros coma maior confiança possível, não importando o tempogasto no processo. Na verdade, em um enfoque estraté-gico, um ELINT deve estar concentrado nas informa-ções acerca das possibilidades do inimigo no alcancedo radar (identificando o tipo e o funcionamento de seussistemas, número e tamanho dos seus radares, tipo deoperação, etc.). Para uma análise tática, deve ser capazde tecer considerações sobre a intenção de manobra doinimigo.c) Inteligência de Comunicações – COMINT

A função de um equipamento de interceptação de co-municações é apoiar operações militares com a capaci-dade de:- explorar as comunicações inimigas para obter informa-ções sobre seu conteúdo, que indiquem atividades comoa preparação para um ataque, o movimento de viaturas,e, se possível, intenções de movimento;- localizar as estações de comunicações; e- utilizar interferidores.

Sistemas de Guerra Eletrônica devem ser capazes devarrer toda a faixa do espectro utilizada para as comuni-cações, de ELF até UHF. Dependendo da faixa de fre-qüência a ser varrida, as características de cada tipo de

sensor variam consideravelmente.Devido a isso, diferentes tipos de receptores e de an-

tenas são utilizados, e as técnicas de localização podemvariar desde uma plataforma embarcada em uma aerona-ve até estações terrestres posicionadas no terreno.

Outros aspectos também são importantes na análisedo tráfego de mensagens:- intensidade do sinal;- tempo de uma emissão; e- determinação da rede, entre outras.

As principais funções de um Sistema de Guerra Ele-trônica são:- varredura contínua da faixa;- varredura discreta da faixa;- varredura combinada;- coordenadas de posição das estações transmissoras; e- determinação das operações de guerra eletrônica (medidas de ataque eletrônico – MAE).d) Sensores Magnéticos

Os sensores magnéticos operam estabelecendo umcampo eletromagnético que sofre alteração quando neleé introduzido um objeto de metal. Seu alcance dedetecção depende do tamanho do campo gerado. É uti-lizado em conjunto com o sensor sísmico, podendo con-firmar se a origem de vibrações é de causa natural ouartificial.

Agora, a partir da modelagem de um ambiente ele-tromagnético saturado esperado, é possível anali-sar as características desejadas de um SIT, por meiode uma abordagem sistêmica, e estabelecer os re-quisitos operacionais para seu desenvolvimento ousua aquisição.

4. SISTEMA DE INTELIGÊNCIA TÁTICO PROPOSTO

SIT devem ser desenvolvidos conforme o estabeleci-mento de requisitos operacionais. O diagrama de blocos abai-xo simplifica a interligação entre subsistemas, reduzindo-osde acordo com a funcionalidade:

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Um sistema com essa configuração não está disponí-vel atualmente, mas o Exército Brasileiro tem realizado pes-quisas para a sua concretização, já possuindo um protóti-po para fins de instrução. Por esse motivo, é aconselhávela disposição de seus equipamentos em uma estrutura mo-dular, com os equipamentos corretos, interligados de for-ma a não danificar os circuitos ou de forma a obter osmelhores resultados, e antenas dimensionadas e emprega-das de acordo com o objetivo estabelecido, para explorarao máximo suas características.

Observado o diagrama de blocos anterior, é possívelvisualizar uma organização do sistema por módulos, con-forme o esquema a seguir:

As considerações a respeito de sua estrutura devemser observadas e seguidas conforme as características téc-nicas de cada equipamento.

Isso posto, a sugestão de estruturação de um sistemagenérico, neste artigo, não vai fazer referência a umsubsistema que não esteja relacionado com o espectroeletromagnético. E, ainda, conhecendo-se a proposta do sis-tema idealizado de acordo com o esquema da figura acima,já pode ser visualizada a elaboração de uma proposta deequipamentos com possibilidade de compor cada subsistemacom mais propriedade.

5. CONCLUSÕES

Um Sistema de Inteligência Tática torna possível aredução do tempo disponível para a tomada de decisão naação de Comando e Controle, fornecendo as informaçõesa respeito do posicionamento das tropas inimigas.Concomitantemente, a exploração do espectroeletromagnético é influenciada pelo desenvolvimentotecnológico, tanto negativamente – possibilitando a apli-cação de novas técnicas pelo lado inimigo – quanto posi-tivamente – criando novos tipos de análises com equipa-mentos melhores.

A configuração proposta para um sistema desse tiponão propôs uma solução completa . O espectroeletromagnético em um espaço de batalha é saturado deemissões, e o Elemento de Guerra Eletrônica deve ser ca-paz de extrair o máximo de informações dos sinais de inte-resse, garantindo, ao Comando, uma vantagem em todosos níveis – tático, operacional e estratégico.

A análise desses sinais produz informações em doisníveis distintos:

- o primeiro nível de análise, de equipamentos, dá-se

pela obtenção dos parâmetros do sinal , comofreqüência, largura de pulso, tipo de modulação, etc.,tornando possível a identificação do equipamentotransmissor. Isso se dá pela comparação desses valo-res com outros constantes em um banco de dados; e- o segundo nível, de comunicações, procura obser-var uma semelhança no padrão das emissões e avaliao conteúdo. A combinação das informações obtidasdesses sinais, por meio de um sistema especialista oupela experiência de um analista, forma uma matriz quepossibilita ao analista concluir sobre posições de tro-pas inimigas, estrutura da rede de comunicações ini-miga, dimensão da tropa, etc.Logicamente, é natural que haja uma continuidade na

observação das deficiências a serem corrigidas e namelhoria do desempenho do sistema. Em princípio, é pos-sível visualizar algumas sugestões de desenvolvimento,com base na breve análise do parágrafo anterior:

a) diminuição do número de antenas a serem utiliza-das, observando-se o acúmulo de subsistemas conectadose diminuindo a ocorrência de interferência e a sobrecargade um equipamento, além de reduzir a potencialidade dautilização como alvo;

b) desenvolvimento ou criação de um hardware ca-paz de aumentar o número de canais a serem analisados,relativamente ao número de receptores de monitoração.Uma análise sobre a possibilidade de incremento do nú-mero de canais por software pode facilitar a operação ereduzir os custos;

c) estudo sobre a recepção de sinais digitais - umaanálise sobre decodificação e decriptografia pode fomen-tar o desenvolvimento de tecnologia própria;

d) emprego de uma plataforma de código livre ou pró-prio para o desenvolvimento do software utilizado comointerface para o operador;

e) proposta para desenvolvimento e fabricação naci-onais, objetivando a independência tecnológica necessá-ria à manutenção da nossa soberania;

f) acréscimo de sensores ópticos ou de outra faixa doespectro, com extensão gráfica; e

g) desenvolvimento de um sistema especialista paraa análise dos sinais.

Sugestões não faltam e, tampouco, as possibilidadesdesse tipo de sistema. Idéias afins são necessárias para odesenvolvimento tecnológico. A tendência de alteraçãono cenário de batalha exige a exploração desse vetor tantona defesa quanto em operações de ataque. Oaprofundamento desse estudo pode vir a diminuir a dife-rença de tecnologia nesta área que nos separa dos paísesmais desenvolvidos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Manual de Comando e Controle nos GrupamentoOperativos de Fuzileiros Navais, Marinha do Brasil, 2005.

[2] Xiong, N. e Svensson, P..Multi-sensor Managementfor Information Fusion: issues and approaches. Artigopublicado na Revista Information Fusion, Ed. Elsevier.Stocolmo, Suécia, 2002

[3] Neri, Felippo. Introduction to Electronic DefenseSystems. ed. Boston: Artech House, 2ª ed, 2001.

Esquema de um SIT genérico (por equipamentos)

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“A arma mais eficiente ainda é o Fuzileiro, que aprende, pensa e luta contra qualquer adversário”. Gen Michael W. Hagee Cmt USMC

Operações DistribuídasParte I - Entendendo a essênciaCC (FN) Vannei de Almeida Silva Junior

Como parte do projeto “Strategy 21” – processo demodernização doutrinária do Corpo de Fuzileiros Navaisdos Estados Unidos (USMC) – o Warfighting Laboratory,com a colaboração do Center for Emerging Threats andOpportunities, vem desenvolvendo um “novo” conceito:As Operações Distribuídas (OpDstr).

O conceito nasceu a partir dasidéias do General James Mattis ebusca maximizar a capacidade dosComandantes de GptOpFuzNav paraempregar suas unidades táticas emprofundidade e amplitude em umCampo de Batalha não-linear, visan-do engajamentos favoráveis, orien-tados pela Intel igência (Recon-pull), como parte de uma Campanhaou até mesmo no desenrolar de Ope-rações de baixa intensidade comoOperações de Manutenção de Pazou de Garantia da Lei e da Ordem(GLO). Atualmente, esse conceitodeve ser compreendido, inicialmen-te, como uma resposta para o ambi-ente incerto da Guerra Global ao Ter-rorismo. A necessidade de combater inimigos adaptáveis,descentralizados e evasivos, inseridos em um ambientecomplexo e de múltiplas ameaças, impõe, às forças con-vencionais, a habilidade para descentralizar a decisão e adistribuição das forças. Não podemos, todavia, chamarde “nova” a forma que o conceito toma no Campo deBatalha. Na história contemporânea podemos observar autilização de modus operandi similar na II Guerra Mundi-al, com as pequenas unidades alemãs na Campanha daRússia (1939-1940); nas táticas uti-lizadas pelos “Chindits” contra osjaponeses e até mesmo na Guerra doVietnã, no bojo do Combined ActionProgram do USMC.

Trazendo para o campo da Guer-ra convencional, as OpDstr devemser entendidas como uma “forma” deGuerra de Manobra na qual peque-nas unidades, altamente capazes,dispersas em uma Área de Operaçõesvasta, criarão uma vantagem signifi-cativa sobre seu adversário pelo usodeliberado e coordenado dessa dis-persão, através de ações táticas independentes, de modoa obter um ritmo superior nas operações e concluir o CicloDecisório (Ciclo OODA) cada vez mais rapidamente queseus oponentes, levando-os a um colapso em seu sistemade Comando e Controle. Um sistema C4I robusto e facil-mente acessível, em sincronia com um Sistema de Apoiode Fogo integrado, respalda essa capacidade.

Essa “forma” de Guerra de Manobra será dependen-te de Comandantes de pequenas frações bem treinados eprofissionais; adestramento mais enérgico, focado naação e na cultura do oponente; comunicações mais ro-bustas – em razão da dispersão – e mobilidade tática paraessas pequenas unidades. As pequenas unidades empre-

garão as armas de apoio, seu poderde fogo e até mesmo o combate apro-ximado para negar o acesso do inimi-go às Vias de Acesso e aos Aciden-tes Capitais, impedindo, em ultimaanálise, que se estabeleçam corredo-res de mobilidade para as tropas opo-nentes, ou que estes possam ser mo-biliados, caso existam.

O primeiro – e decisivo – passopara desenvolver essa capacidade éprover melhor educação, treinamentoe equipamento ao Fuzileiro Naval, suaEsquadra de Tiro, seu Grupo de Com-bate e seu Pelotão. Essa idéia se con-trapõe à de muitos observadores e

analistas de peso, que pregam o recrutamento de mais sol-dados para ampliar o efetivo do Exército norte-americano edo USMC. O conceito de OpDstr traz, em seu seio, a visãode que unidades menores, porém mais bem treinadas e pre-paradas, executarão melhor as tarefas, hoje a cargo de for-mações maiores ou “especializadas”. O desenvolvimentoda capacidade dos GptOpFuzNav de conduzirem OpDstrservirá para elevar a habilidade e a capacidade de todos osFuzileiros Navais no plano individual, criando uma sinergiaem todos os escalões e Componentes até chegar ao pró-

prio GptOpFuzNav.

Enquanto a tecnologia moder-na trabalha, freqüentemente, parapossibilitar um processo decisóriocentralizado, o conceito de Opera-ções Distr ibuídas busca treinar,educar, equipar e dar autoridade aoslíderes de Pequenas Frações paraque eles possam agir com confian-ça, baseados na Intenção do Co-mandante, para que obtenham oEfeito Desejado almejado pelo seu

Comandante. Em consonância com a preparação doslíderes de Pequenas Frações, busca-se tornar os Fuzi-leiros Navais mais inteligentes, espertos, rápidos, con-fiantes e adaptáveis a mudanças do que os padrõesatuais. Diferentemente do desejado pela maioria dasforças terrestres, aqui se busca “Equipar o Homem, aoinvés de “humanizar” o Equipamento”.

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No início da segunda quinzena do mês de junho do cor-rente ano, foi realizada uma visita ao Marine Corps RecruitDepot (MCRD), localizado em Parris Island, Beaufort, SouthCarolina, que é o órgão responsável pela condução do RecruitTraining, curso que pode ser considerado equivalente ao Cur-so de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN). Avisita teve como representantes o CC (FN) Paulo Roberto Sa-raiva (CIASC) e o CC (FN) Carlos Eduardo Vieira Nunes(CIAMPA) e lhes proporcionou o intercâmbio de conhecimen-tos relativos às atividades desenvolvidas para a formação daspraças do United States Marine Corps (USMC), além de terpossibilitado, ainda:

- observar a execução de diversas instruções em sala deaula e ambientes externos: pistas de adestramento, insta-lações de alunos e instrutoria, incluindo alojamentos, sa-las de aula e refeitórios; a prática de tiro na linha de tiro eno simulador ISMT (Indoor Simulated MarkmanshipTrainer); competição, entre pelotões, de ordem unida einspeção formal em companhia de recrutas antecedendo acerimônia de formatura; e- acompanhar o início do processo de recepção a novosrecrutas, conhecendo parte do funcionamento do suporteadministrativo do curso.Em relação às experiências e aos conhecimentos obtidos

durante a visita, cabe mencionar sucintamente os aspectos rele-vantes, a seguir:

A OrganizaçãoRecruit Training Regiment (RTR) - Na organização do

MCRD, todas as atividades ligadas ao processo de formaçãoestão sob responsabilidade do RTR, que é composto por quatroRecruit Training Battalions, sendo um deles feminino (tantoos instrutores como os recrutas são do sexo feminino), e umSupport Battalion.

No MCRD-Parris Island, em todas as semanas um novogrupo se apresenta para iniciar o curso. Assim, as turmas sãoconduzidas simultaneamente, de forma escalonada, como umaespécie de “linha de produção”, sendo formados mais de 20.000marines por ano.

Recruit Training Battalion (RTBn) - Cada um dos quatrobatalhões de recrutas, comandados por tenentes-coronéis, fun-ciona de forma semelhante ao Corpo de Alunos no CFN. Essesbatalhões se dividem em companhias, que por sua vez são divi-didas em duas series (dois a três pelotões). O comandante dacompanhia e das series são oficiais, normalmente capitães. Os

instrutores (chamados drill instructors, equivalentes aos ins-trutores do Corpo de Alunos no CFN) acompanham os recrutasincessantemente, tendo a formação da mentalidade militar comoo propósito mais amplo de suas tarefas. A carga administrativaconcentra-se no comando da companhia, de forma que os ins-trutores e mesmo o oficial comandante da serie possam ocupar-se inteiramente do acompanhamento dos recrutas. É relevante ofato de que não faz parte dessa carga administrativa oprocessamento documental inicial dos alunos, que é realizadono Support Battalion, ou seja, as companhias recebem o aluno“pronto” para iniciar o curso.

Support Battalion (Spt Bn) - O Spt Bn apóia a instruçãocom três companhias diretamente ligadas aos recrutas e com aescola responsável pelo curso de formação de drill instructors.A presença do Spt Bn na estrutura do RTR permite que todos osaspectos relativos à formação do recruta estejam sob uma uni-dade de comando, proporcionando racional e coerente divisãode tarefas, de acordo com a visão de formação em voga noUSMC. O Spt Bn está organizado como a seguir:

· Drill Instructor School: é responsável pelo curso de for-mação dos instrutores, com duração de 12 semanas (são realiza-das quatro turmas por ano);

· Special Training Company: é responsável pelas instru-ções em assuntos que requerem instrutores possuidores de ha-bilidades especiais, como artes marciais, natação e tiro;

· Instructional Training Company: é responsável pelasdemais instruções, na sua maioria as realizadas em sala de aula,equivalendo-se, guardadas as devidas proporções, aos Depar-tamentos de Instrução no CFN; e

· Recruit Processing Company: é responsável peloprocessamento inicial dos recrutas, além do processamento desaída dos desligados durante o curso. O processamento inicialdura três dias e inclui os procedimentos de recepção, providên-cias de documentação, distribuição de uniformes e equipagense exames de saúde.

O CursoRecruit Training - O Recruit Training, também conhecido

como “Boot Camp”, tem como propósito formar basic marines(fuzileiros navais com treinamento básico que fundamentalmentetenham assimilado os core values - valores de essência, centraise fundamentais do USMC) através de uma minuciosa doutrina-ção na história, nos costumes e nas tradições do USMC, incutin-do, nos recrutas, os alicerces morais, mentais e físicos necessári-os para bem servirem ao USMC) e ao país. O propósito é atingidotrabalhando-se sete quesitos, chamados training objectives (ob-jetivos do curso): disciplina, conduta militar, espírito de corpo,desenvolvimento do caráter, assuntos militares gerais, tarefas in-dividuais básicas de combate e condicionamento físico.

Visita ao Marine Corps Recruit DepotCC (FN) Paulo Roberto Saraiva

CC (FN) Carlos Eduardo Vieira Nunes

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O curso desenvolve-se em regime de internato durantedoze semanas ininterruptas, isto é, sem qualquer tipo delicenciamento aos finais de semana. Quanto à rotina diária,dois pontos são dignos de nota: aos recrutas são invariavel-mente destinadas 8 horas para dormir e, aos domingos, éconcedido um tempo livre, a bordo, de quatro horas. O cursoé dividido em três fases:

· Na primeira fase, da 1ª à 4ª semana, aproximadamente,são criados os alicerces dos core values, disciplina, preparofísico, usos e costumes, tradições e história do USMC;

· Na segunda fase, da 5ª à 8ª semana, aproximadamente,são reforçadas as instruções sobre os core values do USMCe fornecidos o treinamento inicial e a qualificação para o tiro;

· Na terceira fase, da 9ª à 12ª semana, aproximadamente,ocorre o adestramento em técnicas básicas de campo e sãoavaliados os core values. Esta fase termina com o Crucible(acampamento de fim de curso, com duração de três dias, emum total de 54 horas, em que as atividades são intensas e ocondicionamento do recruta é explorado ao máximo, avalian-do os seus desenvolvimentos mental, moral e físico comométodo para validar a sua transformação em um marine). Porfim, ocorrem as atividades para a transição da condição derecruta para a de marine.

Há sete requisitos curriculares necessários à conclusãodo curso. São eles: qualificação em artes marciais; qualifica-ção em tiro; aprovação no teste de conhecimentos profissio-nais; aprovação no teste de aptidão física; qualificação emnatação (inclui natação utilitária); aprovação sem restriçõesna inspeção do comandante do batalhão; e realização, porcompleto, do Crucible.

Ao longo do curso, o aspecto moral, de extrema impor-tância, é fundamentado sobre os core values. Eles sãoenfatizados em todas as atividades, estão estampados nasparedes, são ensinados pelos instrutores e, curricularmente,fazem parte das três fases do curso. São, inegavelmente, umaidentidade comum dos fuzileiros navais americanos, um pon-

to de encontro entre eles, uma razão para os fuzileiros execu-tarem as tarefas difíceis e se superarem; ao mesmo tempo, ummotivo para esses militares evitarem os erros. Eles estão for-malmente presentes nos Objetivos Estratégicos do RTR. Oscore values eleitos pelo USMC são Honra, Coragem e Com-promisso.

A InstrutoriaDrill Instructors - Durante todos os contatos realiza-

dos por ocasião da visita e, em particular, na palestra minis-trada pelo Subcomandante do RTR, o drill instructor foi apre-sentado como a chave do sucesso do curso. Ele é considera-do a peça essencial, sem a qual toda a estrutura de que o RTRdispõe não seria suficiente para que os propósitos do cursofossem alcançados.

A compreensão do exposto anteriormente é fato assi-milado pelo USMC e facilmente constatado pela simplesobservação sobre os instrutores: são militares cônscios daimportância do seu trabalho, que demonstram orgulho esatisfação profissional no exercício da sua função; possu-em apresentação pessoal impecável, preparo físico, conhe-cimento dos assuntos ministrados no curso e são espelhosvivos dos core values. A figura do drill instructor é extre-mamente valorizada pelo USMC, uma verdadeira instituição

dentro da instituição, tendo o seu trabalhonotoriamente reconhecido. Os aspectos re-levantes relacionados aos drill instructorssão citados a seguir.

Seleção de instrutores e curso de quali-ficação - Para alcançar o nível de qualidadedesejado, o USMC seleciona e prepara ade-quadamente os drill instructors. Todos osinstrutores são voluntários e rigorosamenteselecionados. Devem ter, pelo menos, 26 anosde idade e sete anos de serviço ativo, poden-do ser de qualquer especialidade, além depossuirem relevante experiência profissional.Os voluntários selecionados são qualificadosna DI School (subordinada ao Spt Bn, con-forme citado anteriormente), onde realizam ocurso, que dura doze semanas, e somenteapós a conclusão tornam-se aptos para o exer-cício das atribuições relativas à função dedrill instructor.

Ressalta-se que o curso de qualificaçãoé composto dos módulos pertinentes à ins-trução dos recrutas, além do adestramento emtécnicas de ensino, porém sem se limitar aestas últimas. No curso, o drill instructoraprende a se portar como instrutor militar (não

apenas um professor), cujo resultado do trabalho dará retor-no ao USMC na forma de competentes novos marines. Ocurso, além de proporcionar a necessária capacitação dosmilitares que exercerão a função de instrutoria (nos campostécnico, moral, físico e mental), também proporciona a indis-pensável padronização de procedimentos e a transmissão,de maneira uniforme e sistemática, de experiências eensinamentos colhidos pelos instrutores mais antigos, ca-bendo reiterar que tudo isso antes de exercerem a função, edentro do próprio RTR.

Rodízio de funções entre instrutores no Recruit TrainingRegiment - Todo instrutor cumpre um ciclo de três anos noexercício da função de instrutoria, durante o qual ocorre um

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Visita ao Marine Corps Combat Development

Command (MCCDC)CF (FN) Luiz Octavio Gavião

Em cumprimento ao Programa de Intercâmbio com ou-tras Marinhas e Organizações Estrangeiras para 2008, o CFNrealizou uma visita ao Marine Corps Combat DevelopmentCommand (MCCDC), responsável pelo preparo dos Fuzilei-ros Navais norte-americanos (Marines) para o combate epela educação profissional-militar dos Oficiais do USMC,com diversas OM de ensino subordinadas. A visita tevecomo principal finalidade conhecer a metodologia de ensi-no-aprendizagem do USMC, para avaliação e eventual alte-ração curricular dos cursos equivalentes do Sistema de En-sino Naval (SEN). Nesse contexto, cabe destacar os princi-pais aspectos observados em relação ao ensino profissio-nal-naval dos cursos de Aperfeiçoamento, de Estado-Maiore Estado-Maior Avançado do USMC, a partir do extrato dorelatório do representante dessa visita.

Expeditionary Warfare School (EWS – equivalente aoCAOCFN)

Esse curso destina-se ao preparo do Capitão USMCpara o Comando de CiaFuzNav e exercício de funções nosEstados-Maiores de Marine Air-Ground Task Forces(MAGTF – similares ao GptOpFuzNav). Tem a duração de 9meses, sendo realizado em uma única turma no ano acadê-mico norte-americano (AGO-MAI).

A atividade de ensino do EWS se desenvolve por meiodos Grupos de Conferência (CG), constituídos por, aproxi-madamente, 15 Oficiais-Alunos (OA), orientados por um ins-trutor permanente durante todo o ano letivo. Em 2008, oEWS constituiu 14 CGs com 241 OA, sendo 22 Oficiais deNações Amigas (ONA), sob a orientação de um Major emcada grupo, que conduziu a maior parcela das atividadescurriculares dos OA. Esses Majores, denominados “FacultyAdvisors”, representam o núcleo do processo de ensino-aprendizagem da escola, sendo selecionados por perfil decarreira e por experiência no Comando de CiaFuzNav emoperações reais. Normalmente, os grupos são reorganiza-dos somente durante os exercícios de planejamento, pornecessidade de inclusão dos OA nas seções de Estado-Maior (EM), de acordo com suas especialidades.

O currículo aloca tempos de aula para que o OA realizea leitura dos assuntos selecionados para o debate orienta-do dos CG, estabelecendo o parâmetro de 1 hora para 20páginas de leitura. Os debates orientados são denomina-dos “seminários”, normalmente realizados em períodos de 2a 3 horas nos CG, com constituição fixa durante o ano aca-dêmico. A contribuição do OA nos debates recebe avalia-ção subjetiva do orientador e constitui o principal índice

revezamento entre atuar nos RTBn e no Spt Bn. O propósitodo revezamento é proporcionar ao instrutor um “descanso”da função de drill instructor, considerada extenuante físicae psicologicamente, além de contribuir para o processo deformação como será visto a seguir. Somente em casos excep-cionais, o prazo de três anos e o rodízio não são atendidos,sendo o respeito a essas regras algo relevante no processo,devido à segurança que traz às praças que se voluntariam àfunção. O procedimento habitual de revezamento é o seguin-te: o primeiro ano é cumprido em um dos RTBn; o segundo,no Spt Bn; e o terceiro, novamente em um dos RTBn. A pro-porção de instrutores dentro das unidades do RTR respeita,a priori, os percentuais de 75% nos RTBn e 25% no Spt Bn,o que se adequa aos três anos de comissão.

Esse método de rodízio proporciona ao instrutor iniciaro exercício de sua função na posição onde ele terá um conta-to cerrado com o recruta, o que permite que ele entenda arotina e a realidade vivida pelos alunos, ao mesmo tempo emque acumula experiência com os instrutores mais antigos. Jáno segundo ano, estando em uma das companhias do SptBn, ele poderá desempenhar as suas tarefas (agora mais es-pecíficas) de forma mais eficaz, graças à experiência adquiri-da no ano anterior. Por último, no terceiro ano, regressandopara o RTBn e para a função de drill instructor, ele poderá, àmercê de todos os ensinamentos colhidos, melhor desempe-nhar as tarefas sob sua responsabilidade, agora, como seniordrill instructor.

Estrutura de trabalho - Aos drill instructors é destina-da uma infra-estrutura impecável em termos de meios e insta-

lações, o que consiste em mais um fator de motivação. Talfato, combinado com a preocupação existente na seleção ena qualificação, mais o sistemático cuidado nogerenciamento do pessoal demonstrado com o rodízio defunções, somado a uma compensação pecuniária de aproxi-madamente US$ 300.00, são os sinais visíveis da valorizaçãoque o USMC dá a seus instrutores.

Considerações FinaisCom base em tudo o que foi observado durante a

visita e considerando o padrão de excelência do USMC,que é uma referência mundial em termos de doutrina an-fíbia, depreende-se (ao mesmo tempo em que se consoli-da o entendimento) que, em relação à formação do Sol-dado Fuzileiro Naval, será sempre necessário ter-se umaestrutura organizacional e curricular eficiente, bem comoinstalações e recursos instrucionais adequados, aspec-tos que devem ser alvo de constante acompanhamento eatualização. Contudo, notadamente, nesse processo deformação do combatente anfíbio, é mandatório salientarque não se pode prescindir da figura fundamental, o nos-so próprio recurso humano, o nosso Fuzileiro Naval, oprincipal vetor das tradições e dos valores historicamen-te incutidos no CFN.

Isso posto, torna-se imperioso difundir e alicerçar, emtodas as oportunidades, os conceitos relativos à importânciade se ter um Instrutor incondicional, essencial e visceralmenteFuzileiro Naval para formar FUZILEIROS NAVAIS, de modo apermitir engendrar e fortalecer um ciclo que, assim, sempreserá extremamente virtuoso na esfera do nosso CFN.

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para a avaliação do aprendizado em cada módulo, por apre-sentar o maior peso ponderado na média final do OA. Ten-do em vista a diversidade dos CG, a subjetividade na avali-ação dos orientadores e a ênfase no desenvolvimento dacapacidade de “pensar criticamente”, o EWS não estabele-ce uma classificação final dos OA. O Diretor do EWS acres-centou, em sua palestra, que o USMC entende que o focona classificação individual prejudica uma metodologia queestimule o debate orientado. Ao final do curso, instrutorese alunos indicam um percentual, limitado a 10% do efetivo,dos OA de cada CG que obtiveram o melhor desempenhoacadêmico, para uma distinção com menção honrosa noencerramento do curso.

O EWS emprega sistema de pontuação numérico de100 pontos para avaliação da aprendizagem, sendo 75 anota mínima para aprovação. No entanto, a base da ava-liação é subjetiva, considerando-se as habilidades paracomunicação oral e escrita, as contribuições dos OAnos debates em seminários nos respectivos CG, aperformance nos exercícios de campo (OccupationalField Expansion Course – OFEC) e o desempenho emjogos de guerra, simulações e demais exercícios práti-cos. No que se refere à avaliação do OA, o acompanha-mento personalizado do Faculty Advisor é essencial, oque reforça a necessidade de permanência de um únicoorientador para cada CG, durante todo o ano letivo, demodo a reduzir eventuais “efeitos de halo” que prejudi-quem as avaliações subjetivas.

O programa de instrução é nucleado em três módulos:Módulo 1 - Comando & Controle (aborda o Processo

de Planejamento Militar):“Warfighting”; PPM; Gerenciamento da informação; e

Teoria e Sistemas de Comando e Controle.Módulo 2 - “MAGTAF Operations Ashore”:Componentes de combate, apoio ao combate, apoio de

serviço ao combate e aviação; concepção da batalha, infor-mações operacionais e armas combinadas/integradas.

Módulo 3 - “Naval Expeditionary Operations”:Doutrina e planejamentos anfíbios, “MEU Operations”

(GptOpFuzNav, nível UAnf) e Preposionamento da ForçaNaval.

O EWS não oferece programas de Mestrado aos OA epossui um programa de ensino a distância, denominado“non-resident program”, estabelecido pelo USMC aos ofi-ciais com indisponibilidade para realizarem o curso sob aforma presencial (“resident program”). É conduzido pormeio de material acadêmico (livros, manuais, apostilas emídia) fornecido para os alunos e realização de vídeo-con-ferências para os debates dos seminários. Cabe ressaltarque o ensino a distância é desenvolvido por um segmentodo curso distinto do que conduz o ensino presencial e, parao USMC, equivale ao curso presencial. O Diretor do EWSacrescentou, no entanto, que a ênfase do desenvolvimentoda capacidade de “pensar criticamente” torna o cursopresencial preponderante, por privilegiar a comunicaçãodireta entre orientadores e OA.

Command and Staff College (CSC – equivalente ao C-EMOS EGN)

Esse curso destina-se ao preparo de Majores e Capi-tães-de-Corveta do Departamento de Defesa dos EUA parao desempenho de funções em EM combinados,multinacionais ou interagências governamentais, com ên-fase nos desafios do século XXI relacionados à segurança

nacional. Tem a duração de 10 meses, sendo realizado emuma única turma no ano acadêmico norte-americano (AGO-JUN).

A filosofia educacional do CSC é similar à do EWS,com maior ênfase na preparação individual e nos debatesem Grupos de Conferência (CG), com vistas ao desenvolvi-mento do pensamento crítico e da capacidade de julgamen-to dos OA. O gráfico abaixo exemplifica a ênfase na cargahorária de Personal Study and Preparation Time (PSPT),que visa proporcionar ao OA as condições para a sua pre-paração aos debates orientados pelos Faculty Advisors. Arelação de 1 hora de PSPT para cada 20 páginas de leitura éessencial nesse processo, sendo o volume semanal de, apro-

ximadamente, 300 a 400 páginas de livros, manuais ou apos-tilas para a preparação do OA. O elevado peso atribuídoaos debates nos seminários dos CG, em relação à média pon-derada das avaliações acadêmicas, garante o incentivo ne-cessário ao OA para o cumprimento fiel da tarefa de ler,analisar e elaborar a sua visão crítica sobre os assuntos aserem debatidos. Cabe ressaltar que o uso de somente 129horas-aula para palestras expositivas evidencia a ênfase des-sa filosofia educacional para o debate orientado, reduzindoo volume de aulas expositivas, por ser considerada a técni-ca de ensino mais limitada para a produção do conhecimen-to individual e desenvolvimento da capacidade de “pensarcriticamente”.

Diferentemente do EWS, os CG do CSC são orientadospor dois Faculty Advisors, sendo um professor com Dou-torado (PhD) e um Tenente-Coronel ou Capitão-de-Fragata,preferencialmente pós-graduado no C-PEM ou curso equi-valente. Esses orientadores permanecem fixos para cada CGdurante o ano letivo, de modo a ampliar a confiança mútuaentre instrutores e alunos e melhorar a performance e a li-berdade acadêmica dos OA na análise crítica e na capacida-de de julgamento nas funções de Comando e EM.

O programa de instrução é nucleado em quatro módulos:Módulo 1- Warfighting from the Sea (WFTS):Análise da doutrina de emprego da MAGTF em ambi-

ente combinado e multinacional, com ênfase no MarineCorps Planning Process (MCPP), no emprego de MarineExpeditionary Brigade (MEB) em operações anfíbias e noemprego de Marine Expeditionary Force (MEF) em contra-insurgência.

Módulo 2- Culture and Interagency Operations(CIAO):

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Visa ampliar o conhecimento e a capacidade de análisedas diversidades regionais culturais que influenciam o em-prego do poder militar no nível operacional, incluindo aanálise crítica de guerras limitadas, operações de paz e ope-rações multinacionais.

Módulo 3- Operational Art (OpArt):Envolve o estudo de arte e ciência da guerra no nível

operacional, permitindo o desenvolvimento do plano de cam-panha a partir do estabelecimento dos objetivos estratégicos.

Módulo 4- Leadership Course:Programa desenvolvido em paralelo com os demais

módulos.A tabela a seguir ilustra os temas de debates orienta-

dos nos seminários dos CG durante o ano letivo 2007-08,referentes aos módulos de Arte Operacional e CIAO. Caberessaltar a relevância que o CSC atribui ao estudo da his-tória militar, disciplina considerada essencial ao desen-

volvimento da capacidade de julgamento e de análise críti-ca dos OA:

O CSC oferece um programa de Mestrado, o Masters ofMilitary Studies (MMS), em caráter voluntariado, para osOA que mantiverem os seus graus acima de “B”. O processosegue estrita aderência às normas de pós-graduação norte-americanas, tendo como base as seguintes áreas de pesqui-sa: relações internacionais, história militar, liderança, terro-rismo, insurgência e contra-insurgência, teoria militar, con-flitos regionais, segurança ambiental, direitos humanos, ope-rações de paz, dentre outras. Cabe ressaltar que os progra-mas de Mestrado oferecidos aos OA do CSC, do School ofAdvanced Warfighting e do Marine Corps War College(equivalente ao C-PEM) são exclusivos ao aprofundamentode assuntos de natureza profissional-militar, sem equiva-lência aos cursos de pós-graduação tipo Masters of BusinessAdministration (MBA).

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O CSC não emprega sistema de pontuação numéricopara avaliação da aprendizagem. Todo o sistema é subjeti-vo, com avaliações que variam do grau “A+”, máximo apro-veitamento, ao “C”, que representa desempenho deficien-te. Um trabalho com grau inferior a “B” (equivalente a 80%de aproveitamento), normalmente requer a repetição da ta-refa acadêmica e compromete definitivamente a participa-ção do OA no programa de Mestrado.

A exemplo do EWS, o CSC não estabelece classifica-ção final entre os alunos, distinguindo os OA com melhoraproveitamento acadêmico por meio de “menção honrosa”,decorrente da avaliação subjetiva dos Faculty Advisors edos pares, normalmente limitado a 10% do Corpo de Alu-nos.

O CSC também pode ser realizado em modo de ensinoa distância, sob a responsabilidade do SecurityCooperation Education and Training Center, uma OM in-dependente do CSC. Em relação às desvantagens acadêmi-cas do programa de ensino a distância, cabem as mesmasobservações referentes ao EWS.

School of Advanced Warfighting (SAW – sem equiva-lente no SEN)

Esse curso destina-se à educação continuada de Ofi-ciais no ano que se segue ao CSC ou a curso equivalente,tendo como propósito o estudo, com maior profundidade,da arte operacional. Tem a duração de 11 meses, sendo re-alizado em uma única turma no ano acadêmico norte-ameri-cano (AGO-JUN).

A filosofia educacional do curso difere do EWS e doCSC, no que se refere à ênfase na solução de problemas ena tomada de decisão no nível operacional, empregando oprocesso de planejamento militar como ferramenta para aanálise de campanhas históricas que contribuam com o de-senvolvimento intelectual dos OA. O aluno é submetido aelevado volume de informações, por vezes correspondendoa 1.000 páginas de leitura semanais, para apresentar as suassoluções a um determinado problema. As respostas podemocorrer sob a forma de um briefing com debate orientado,uma análise de um plano de campanha, decisões em jogosde guerra, elaboração de resumido sumário-executivo (so-mente uma folha para argumentação), dentre outras. No quese refere à relevância dos debates orientados em grupos deconferência, o SAW é semelhante ao CSC e ao EWS.

O SAW é de caráter voluntário, tendo a constituiçãomédia de 24 OA (16 do USMC, 2 da US Navy, 2 do USArmy,2 da USAF e 2 ONA). O processo seletivo é semelhante aode pós-graduação, incluindo entrevistas, análise prelimi-nar de tese, desempenho acadêmico no CSC e cartas derecomendação de professores com Doutorado.

O programa de instrução é nucleado em três módulos:Módulo 1- Fundamentos da Arte OperacionalAnálise de arte e ciência da guerra no nível operacional,

estabelecendo a ligação entre os objetivos estratégicos e odesenho operacional necessário para a sua consecução.

Módulo 2- Planejamento OperacionalEstudo de campanhas militares com o enfoque no ní-

vel operacional, incluindo viagens de estudo aos camposde batalha da Guerra Civil Americana, do Teatro Europeu edo Pacífico durante a II Guerra Mundial e Sudeste Asiáticopara estudos de campanhas do Vietnã.

Módulo 3- Guerra do FuturoEnvolve o estudo das capacidades de inovação, adap-

tação e implementação de mudanças do poder militar, anali-

sando cenários com novos desafios relacionados à segu-rança e à defesa.

À semelhança do CSC, o SAW também oferece umprograma de Mestrado, denominado Masters ofOperational Studies (MOS) e tampouco estabelece umaclassificação final dos OA.

Considerações FinaisDe maneira geral, verificou-se que os currículos e a

metodologia de ensino-aprendizagem do USMC são rele-vantes para a avaliação e, se for o caso, para a adaptaçãodos cursos equivalentes do SEN. Cabe ressaltar, no en-tanto, que essas adaptações provavelmente necessita-rão de reavaliações nas TL das OM de ensino, para que ametodologia seja aplicada nas melhores condições e pos-sa, efetivamente, ampliar a performance dos alunos. Essametodologia das escolas do USMC pode, ainda, ser utili-zada como padrão de referência para as OM do SEN queestabeleceram como meta a certificação como Centros deExcelência na área de ensino, caso específico da EGN edo CIASC.

Outro aspecto observado refere-se à “verticalização”de toda a atividade de ensino do USMC no Marine CorpsCombat Development Command (MCCDC), sob a mesmacadeia de comando, coordenando os cursos até o posto deCoronel (Marine Corps War College). Esse aspecto facilitaa supervisão da política de ensino profissional e a supervi-são necessária para otimizar o relacionamento entre os di-versos currículos dos cursos de oficiais e praças do USMC.

A atualização curricular dos diversos cursos do SENaplicados no CFN deve, sempre que possível, refletir asexperiências decorrentes do emprego real do Fuzileiro Na-val, no atendimento à sua atividade-fim. Em um contextoregional brasileiro relativamente pacífico, com o decorren-te emprego dos meios de Fuzileiros Navais basicamente emexercícios e operações de não-guerra, com ênfase atual paraa operação de paz no Haiti (MINUSTAH), verifica-se a re-levância do contato com as Forças de países aliados queefetivamente empregam esses meios em operações de guer-ra anfíbia.

Nesse contexto, as diversas atividades acadêmicas ede pesquisa desenvolvidas nas escolas e OM visitadas doUSMC podem ser relevantes para manter a aderência doSEN às necessidades do combate, em que pesem as dife-renças culturais e materiais entre o Brasil e os EUA. Assim,o intercâmbio com os setores formadores de doutrina ecom profissionais de alto nível, sob a forma de visitas e,preferencialmente, por meio da matrícula de Oficiais-alu-nos para os diversos cursos do USMC, poderia receberprioridade no empenho dos recursos destinados aconclaves, intercâmbios e cursos do CFN no exterior.

Outro aspecto que reforça a importância desses inter-câmbios, refere-se ao bloqueio, ao Brasil, do acesso aosportais de internet do Departamento de Defesa dos EUA,com extensão “.mil”, limitação decorrente do elevado índi-ce de interferência de “hackers” brasileiros a portais nor-te-americanos. Esse aspecto prejudica o acesso às infor-mações disponíveis nas páginas das OM visitadas, difi-cultando o trabalho de atualização curricular dos diversoscursos supracitados e impedindo o uso de produtos os-tensivos dos centros de disseminação de lições aprendi-das (MCCLL, CALL e JLLIS), potencialmente úteis aoscontingentes brasileiros em apoio à MINUSTAH.

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Veículo Aéreo Não-Tripulado (VANT) CarcaráCF (FN) Pedro Antonio de Oliveira

Acompanhando a crescente tendência mundial no em-prego de veículos aéreos não tripulados, o Batalhão deControle Aerotático e Defesa Antiaérea, em parceria com ainiciativa privada, vem implementando o ProjetoCARCARÁ, que consiste de um veículo aéreo remotamen-te pilotado de curto alcance – RPV (Remote PilotedVehicle), que possibilita visualização, em tempo real, deuma área de operação ou de uma cena de ação, flexibilizandoo planejamento e a execução das missões dosGptOpFuzNav. Dentre a diversidade de tarefas desempe-nhadas por esse meio, podemos citar: apoio cerrado aoselementos de infantaria em primeiro escalão, apoio à con-dução dos fogos de artilharia e apoio à segurança da áreade retaguarda (SEGAR).

Em 05 de abril de 2007, em uma das fases do projeto, foiativado o Pelotão de Veículos Aéreos Não-Tripulados(PelVANT) com três Seções de Apoio Direto, para empregotático em apoio às peças de manobra em primeiro escalão, euma Seção de Apoio Geral, para emprego no reconheci-mento profundo nas vias de acesso que incidem nas áreasde interesse dos GptOpFuzNav.

Para definição do veículo a ser empregado no CFNforam realizados, inicialmente, testes com diversosaeromodelos até a escolha do VANT CARCARÁ, que aten-deu plenamente aos requisitos estabelecidos, que foram:simplicidade, portabilidade, facilidade de operação, facili-dade de treinamento, facilidade de manutenção, robustez,recuperabilidade e baixo custo.

O VANT CARCARÁ consiste em um aeromodelo hí-brido de uma asa delta de combate, com envergadura de1,60 m, motor de propulsão elétrico com um quilograma deempuxo, alimentado com uma bateria de lítio polímero de2200mAh, autonomia de 40 minutos e alcance de 2.000metros. Possui um transmissor de vídeo de 2 Watts de po-

tência na faixa de microondas, o qual transmite para umaEstação de Terra as imagens em tempo real captadas poruma câmera de vídeo “day/night” de 480 linhas; acopladoà Estação de Terra há um minigravador para gravação dasimagens captadas. Incorpora um sistema com GPS que, alémde informar a posição da aeronave em coordenadas, permi-te visualizar, na tela da Estação de Terra, as seguintes in-formações: altitude da aeronave em relação ao solo, tempe-ratura ambiente, autonomia das baterias, direção de vôoem relação à Estação de Terra e velocidade. Para facilitar apilotagem e possibilitar maior mobilidade, o operador doVANT pode empregar “óculos de pilotagem”, conduzindo,assim, o vôo pela imagem transmitida, em tempo real, apartir da aeronave.

Em outubro de 2007, durante a Operação ALBACORA,realizada na Região de ITAOCA-ES, foi empregada umaEquipe VANT, que desembarcou por CLAnf à Hora-H, emapoio direto ao Componente de Combate Terrestre. Reali-zou tarefas em proveito da manobra do Comandante da3ªCiaFuzNav, em reconhecimento de itinerários, possíveislocais para zona de reunião, reconhecimento de líderes,reconhecimento da posição de ataque, cruzamento da li-nha de partida na hora do ataque e coordenação do assaltosimultâneo de dois PelFuzNav ao objetivo, sempre com ima-gens em tempo real.

Contribuindo para a renovação da doutrina do CFN,o VANT agrega, à tropa apoiada, alta flexibilidade, agilida-de e capacidade de reação, além de diminuir a exposição dehomens na aquisição das informações sobre o inimigo emambientes cada vez mais complexos, conturbados e letais.

O implemento desse projeto como ferramenta operativaaumenta a capacidade C3I dos GptOpFuzNav nas tomadasde decisões, colocando o CFN na vanguarda do estado daarte, como tropa de elite no Brasil e no mundo.

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Armamento não-letal contribuipara a execução das tarefas do GptFNRJCT (FN) Carlos Gonçalves da Silva Maia

Ao longo do ano de 2007, o Grupamento de FuzileirosNavais do Rio de Janeiro esteve diretamente envolvido naOperação de Segurança das Organizações Militares da Ma-rinha na área do Rio de Janeiro – SegOM, conforme determi-nação do Comandante da Marinha. Tal operação envolveutambém meios da Força de Fuzileiros da Esquadra – FFE.

Devido às peculiaridades da Operação, fez-se neces-sária a utilização de armamento não-letal, armamento esseaté então muito pouco conhecido e utilizado no CFN.

Para que se pudesse ter um melhor entendimento quantoà utilização do novo armamento, foram necessários várioscontatos com a Empresa Condor Não-Letal, pioneira nesseseguimento no Brasil, para que nossos militares pudessemse familiarizar e assimilar as novas formas de utilização etécnicas de emprego.

A não-observância das normas de segurança pode tor-nar o material não-letal em letal. Assim, é exigido um contí-nuo adestramento dos militares que irão utilizar esses arma-mentos e munições, tais como as armas de choque,aspergidores de pimenta, munição de borracha da espingar-da militar calibre 12 e granadas outdoor luz e som, efeitomoral e lacrimogênea.

Dentre os armamentos e munições citados, destaca-sea utilização do TASER X26. Trata-se de um importante ar-mamento não-letal que emite Ondas T - as TWaves, que para-lisam o agressor mediante a interrupção da comunicação docérebro com o corpo.

Seu funcionamento consiste no arremesso de doisminidardos conectados com fios de até 6,40 metros de com-primento. Como principais características, destaca-se a mira

laser, que reduz ao máximo a possibilidade deerro no alvo e a numeração da munição, sendoque cada cartucho possui seu número de série.Além disso, no interior de cada cartucho, háuma quantidade propositadamente indefinida deconfetes, contendo, cada qual, o mesmo núme-ro serial da respectiva munição. Quando o car-tucho é deflagrado, os confetes são liberadosno cenário do disparo, bastando coletar um de-les para detectar a origem do cartucho, ou seja,para quem foi fornecida a munição. Vale ressal-tar, ainda, que o TASER X26 registra e armazenaem seu interior todas as informações sobre oseu uso, quais sejam: dia, hora e número deacionamentos que ficam armazenados e podemser transferidos e checados, de forma totalmen-te segura e inviolável, em um microcomputador.

Assim sendo, essa nova concepção deconflito, em que as forças adversas poderão seros próprios nacionais, impõe o uso desses no-vos armamentos e munições, levando-nos, con-seqüentemente, a uma nova forma de combater.

Nesse aspecto, o GptFNRJ, hoje, encontra-se na van-guarda dos acontecimentos, tendo em sua dotação o arma-mento e a munição necessários, além de pessoal especializa-do para desempenhar tais tarefas.

2 - Lançador de Granada de gás lacrimogênio de

40mm

1 - Aspergidor de pimenta

3 - Taser X26

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As Operações de Manutenção da Paz (OpMntPaz) re-vestem-se de grande complexidade em função do ambientemultinacional da operação, das incertezas provenientes danatureza do terreno e de um “inimigo” difuso, da necessida-de de uma tropa adestrada e preparada para alternar o modusoperandi de acordo com o tipo da tarefa recebida, da fortedependência do ramo administrativo (civil) da missão e dadiversidade de fontes de suprimentos, tendo em vista o abas-tecimento durante a missão ser proveniente da própria ONU,do país a que pertence a Força Armada, assim como pormeio de aquisições no comércio local.

A permanência de um GptOpFuzNav com plena capaci-dade operacional durante todo o período de uma OpMntPazrequer um planejamento logístico detalhado, uma prepara-ção minuciosa da tropa, do seu material, dos equipamentose suprimentos, assim como um apoio logístico continuado(The logistics establishes limits on what is operationallypossible1). Assim, o conhecimento da burocracia das Na-ções Unidas, principalmente a relacionada à área logística, éfundamental para que se obtenha sucesso nas negociaçõese acordos entre o Brasil e a ONU, assim como para a compre-ensão dos direitos e deveres do contingente na AOp, quesão imprescindíveis para o desempenho das atividades comsucesso.

Por se tratar de uma missão real e de longa duração, oplanejamento do material a ser empregado para a missãodeve ser minucioso, assim como se deve considerar a ne-cessidade de se estabelecer uma base eficiente e auto-sus-tentável, que garanta operacionalidade ao GptOpFuzNav e

Missões de Operações de Paz

o máximo de conforto aos militares, disponibilizando os equi-pamentos e descanso adequados para que o CCT desenvol-va suas tarefas operativas com eficácia.

A rapidez e a eficiência na operacionalização dos meiosna chegada à AOp devem ser objeto de preocupação quandodo planejamento da missão. Nessa fase, deve-se buscar o má-ximo de flexibilidade com relação ao material, a priorização dainstalação dos equipamentos vitais, assim como o indispensá-vel apoio dos navios, de forma que o CCT tenha capacidade dedesencadear suas atividades o mais rápido possível.

Tendo a base sido instalada, o esforço passa a residirna manutenção da capacidade operativa do GptOpFuzNav.A ligação permanente e estreita com o escalão superior damissão, com os órgãos da ONU responsáveis pelo apoio aosetor militar e, principalmente, com a FFE no Brasil é funda-mental para que as pendências logísticas sejam, se não eli-minadas, reduzidas, permitindo que o contingente recebaapoio adequado e contínuo.

Nesse contexto, é fundamental que o GptOpFuzNavexerça um controle rigoroso de seu acervo material e de seusestoques, de forma que sua operacionalidade seja preserva-da durante toda a missão. Para tal, sua estrutura logísticadeve ser mantida e aperfeiçoada a cada contingente.

Assim, as inspeções do DPKO2, realizadas antes e du-rante o decorrer da missão, constatarão um contingente bra-sileiro, especificamente um GptOpFuzNav, preparado commaterial adequado e pessoal habilitado à operação de seusmeios e equipamentos, cuja logística viabiliza o empregooperativo com credibilidade e pleno êxito.

O ESFORÇO LOGÍSTICO PARA PREPARAR, OPERACIONALIZAR E MANTER O GRUPAMENTO OPERATIVODE FUZILEIROS NAVAIS EM UMA MISSÃO DE MANUTENÇÃO DA PAZ

CF (FN) Alberto Rodrigues Mesquita Junior

1A logística estabelece os limites para o que é operacionalmente possível. www.tpub.com/content/USMC/mpdpub4/css/mpdpub4_86.htm.2 DPKO: Department of PeaceKeeping Operations - Departamento de Operações de Manutenção da Paz da ONU.

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Resenha do Livro “The Passion of Command”CF (FN) Luiz Octavio Gavião

O livro do Coronel USMC B. P. McCoy reúne valiosaslições aprendidas em sua recente experiência no Iraque, comênfase na preparação de um Batalhão para a guerra. Em quepesem as diferenças entre os contextos estratégico eoperacional e as devidas particularidades do emprego dasforças norte-americanas e brasileiras, as suas observaçõesatinentes ao nível tático trazem importantes reflexões capazesde aprimorar o adestramento de nossa Força de Emprego Rá-pido (FER), a preparação do nosso GptOpFuzNav HAITI e oadestramento interno de nossas unidades operativas.

O título do livro se refere ao que o autor denomina de“imperativo moral da liderança”, ou seja, a responsabilidadedecorrente da confiança que a tropa deposita em seu coman-dante, ao ceder o seu bem mais precioso, as suas vidas, emtroca da segurança e do seu bem-estar. Para o Coronel McCoy,essa pesada tarefa sobre os ombros do comandante requermais do que dedicação ao seu Batalhão; demanda certa “pai-xão” que, no sentido figurado, o autor associa ao extremozelo pelos subordinados, ao dedicado estudo da história mi-litar, à análise do comportamento do homem em combate e,por fim, à necessária fúria quando em contato com o inimigo.

O Coronel McCoy comandou o 3º Batalhão de Marinesnorte-americanos, participando das operações “IraqiFreedom” e “Vigilant Resolve”, no período de maio de 2002 ajulho de 2004. O autor relata uma emboscada de flancodesencadeada contra o seu Batalhão na cidade de Al Kut,situada a 200 km de Bagdá, durante a redução de bolsões deresistência ultrapassados da Guarda Republicana de SaddamHussein, tarefa que sua unidade realizava com o propósito degarantir a segurança da retaguarda da 1ª Divisão de Marines,em ofensiva à capital do Iraque. Sendo bem-sucedido na rea-ção imediata à emboscada, o autor inicia uma análise sobre apreparação do Batalhão para o combate, que durou aproxima-damente quatro meses.

O desafio do Coronel McCoy era desenvolver um pro-grama de adestramento capaz de simular os rigores estima-dos do combate no Iraque, adaptando os soldados física epsicologicamente para reconhecer e sobrepujar os efeitosadversos do campo de batalha. Nesse trabalho, o CoronelMcCoy buscou, nos livros do Dr. David Grossmann, de S. L.A. Marshall e de Richard Holmes, renomados autores quese dedicaram ao estudo do estresse do combate sobre ohomem, os fundamentos para prontificar o seu Batalhão paraa guerra.1

Assim, o Coronel McCoy abordou o problema com baseno que denominou os “cinco hábitos”, ou seja, cinco áreas-chave identificadas em “cinco mil anos de registros de histó-ria militar”, julgadas essenciais ao sucesso nos engajamentos.2

Dessa forma, o seu programa de adestramento incluiu ativi-dades que exigiram dos seus subordinados a prática intensi-va desses cinco hábitos.

O primeiro hábito referia-se à perícia no tiro. Relatos deex-combatentes que participaram do desembarque nas costas

da Normandia, durante a II Guerra Mundial, descreveram queo sucesso das Companhias de Fuzileiros dependeu, essenci-almente, da perícia dos tiros de fuzil e dos arremessos dasgranadas de mão, a despeito do intenso volume de fogo navale de aviação.3 O Coronel McCoy ressalta que a certeza daeficácia do tiro com o armamento individual era relevante tan-to sob o aspecto tático quanto o psicológico, por ser capaz deamenizar os efeitos maléficos do campo de batalha no desem-penho do soldado. Nesse sentido, criou um programa de ades-tramento de tiro para a tropa, com base na rapidez do empregodo armamento e na precisão do tiro, que se fundamentava emseis princípios:

1 - os exercícios eram conduzidos com a tropa portandotodos os equipamentos, armamentos e acessórios que utiliza-riam em combate;

2 - os alvos deveriam fornecer o feedback imediato daeficácia do tiro - o autor citou o uso de balões de gás e até depinos de boliche, em detrimento de alvos comuns;

3 - o registro de dados para cada disparo era essencialpara comparar com padrões de eficácia e permitir que odebriefing auxiliasse na melhora de performance do tiro. O

1 O autor referiu-se aos seguintes livros: Dr. David Grossmann, “On Killing: the psychological cost of learning to kill in war and society“; SamuelL. A. Marshall, “Men Against Fire: the problem of battle command in future war“ e Richard Holmes, “Acts of War: the behavior of men in battle“.2 O autor citou o General USMC P. K. van Riper, “cinco mil anos de registros da história militar não permitem qualquer explicação para a falta dededicação do comandante ao permanente estudo.”3 O autor citou S. L.A. MARSHALL, em “Men Against Fire: the problem of battle command in future war.“

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autor mencionou o uso de sistemas de pontuação, depercentuais de acertos e registro de dispersão dos tiros nosalvos;

4 - os exercícios sofreram acréscimos graduais em realis-mo, no que se refere aos tiros diurno e noturno, ao uso deequipagens de proteção QBN e ao tiro sob estresse físico;

5 - as dimensões, a camuflagem e os tempos de exposi-ção dos alvos deveriam simular as condições de combate doIraque, conforme as informações operacionais existentes;

6 - os exercícios deveriam permitir o emprego integradode todos os armamentos disponíveis em sua unidade. O autormencionou a relevância no uso de fuzis, granadas de mão earmas automáticas nos exercícios, evoluindo gradualmentepara o uso simultâneo das armas e em exercícios de fogo emovimento.

O segundo hábito referia-se ao TFM adaptado ao com-bate. O Coronel McCoy aboliu o uso de shorts e camiseta,realizando o TFM com os equipamentos, armamentos e aces-sórios a serem utilizados no Iraque. O programa incluiu a gi-nástica com fuzil, marchas forçadas e artes marciais. O autorconvidou profissionais de nutrição e educação física paraauxiliar na adaptação do TFM. Periodicamente realizava umacompetição entre os Grupos de Combate, que consistia nosseguintes eventos:

1º dia – teste de aptidão física (TAF);2º dia – trabalho de carga com os pés (10 repetições),braços (10 repetições) e evacuação de feridos (10 per-cursos);3º dia – corrida de 15km;4º dia – pista de obstáculos com EIBC e equipagem deguerra QBN; e5º dia – marcha forçada de 32km.O terceiro hábito referia-se à evacuação de feridos. O au-

tor Richard Holmes descreve que, “em termos psicológicos, aagressividade do soldado só pode ser mantida se ele tiver acerteza de que será corretamente evacuado se for ferido emcombate.” Nesse contexto, o Coronel McCoy incluiu o atendi-mento pré-hospitalar (APH) e a evacuação médica em todos osadestramentos. Sua maior preocupação era evitar que um sol-dado ferido ocasionasse a perda de impulsão no ataque de suaequipe. Seu foco era condicionar a tropa para prosseguir noataque, garantindo melhores condições de evacuação quandoo inimigo não mais oferecesse ameaça ao APH.

O quarto hábito referia-se às normas gerais de ação(NGA), técnicas de ação imediata (TAI) e demais procedimen-tos operativos padronizados (POP). Richard Holmes ressaltaque “um procedimento padronizado minimiza a incertezado campo de batalha, por permitir que o soldado reconheçasituações familiares já treinadas, como um farol no mar emtormenta.” O Coronel McCoy creditou, ao seu Batalhão, abem-sucedida resposta à emboscada inimiga e à insistênciano adestramento e na padronização de diversas situaçõescomuns em combate, relatando que a contra-emboscada foiumas das TAI ensaiadas.

O quinto hábito era a disciplina, que, de fato, significatreinar e ser disciplinado o suficiente para repetir o procedi-mento quando necessário. Dentre os diversos padrões de com-portamento adestrados, o autor enfatizou a disciplina de fo-

gos, luzes, ruídos, do uso dos uniformes e da carga prescritacorrespondentes, de procedimento fonia, de higiene pessoal,de manutenção dos equipamentos e armamento individual ede segurança coletiva. Nesse sentido, ao iniciar o período depreparação do Batalhão, o autor emitiu uma “cartilha”, deno-minada “Expectativa dos Líderes em Combate”, indicando avoga a seguir e exigindo a disciplina dos subordinados nes-ses aspectos.

A preocupação do Coronel McCoy em aprimorar o tra-balho de equipe dos seus subordinados para a execução deprocedimentos simples, historicamente identificados no ní-vel tático, traz reflexões interessantes aos que desejam apro-veitar a experiência dos outros, principalmente quando setrata de experiências bem-sucedidas em combate. O autorreforça o lema “seja brilhante nos procedimentos básicos”,ao utilizar o tempo disponível para aprestar um Batalhão ematividades normalmente não priorizadas nos programas deadestramento. A despeito das circunstâncias em que a suaunidade se encontrava, nos momentos finais que antecedi-am o emprego em combate, a ênfase do seu programa deadestramento apresenta similaridade com as atividadescurriculares do C-Esp-GAnf ou mesmo do C-Esp-ComAnf.O Coronel McCoy buscou, na simplicidade e na repetiçãode procedimentos básicos, adaptados ao ambienteoperacional do Iraque, as condições para o efetivo exercícioda liderança em combate.

As lições do Coronel McCoy merecem uma atenção es-pecial por serem aplicáveis a diferentes contextos. Recente-mente utilizamos os ensinamentos desse autor para um deba-te com os Oficiais do Batalhão Tonelero, em proveito de umprograma interno denominado “sexta-feira doutrinária”, parao fomento de estudo e análise da história militar. Dentre osdiversos assuntos relevantes, identificamos uma relação en-tre as lições aprendidas do Coronel McCoy com as Liçõesdos Comandos Anfíbios, que refletem uma série de procedi-mentos básicos para as OpEsp, resultantes das experiênciasde combate em guerras de guerrilha. Ainda identificamos, tam-bém, haver uma similaridade das lições do Coronel McCoycom os ensinamentos que deram origem aos Rangers norte-americanos, originalmente elaborados em 1759. A diversidadede épocas, de contextos operacionais e da natureza das tro-pas mencionadas chama a atenção para o fato de que a ênfasenos procedimentos básicos de combate foi decisiva para avitória, principalmente para o nível tático.

Considerando a tese central do livro do Coronel McCoyverdadeira, ou seja, o “ser brilhante no básico”, que permiteao homem sobrepujar os efeitos adversos do campo de batalhae conduz à vitória nos engajamentos, conclui-se o seguinte: ahabilidade para selecionar e diferenciar o que é procedimentobásico do que é complementar no aprestamento da unidadefacilitará a adaptação dos programas de adestramento parapriorizar o que o Coronel McCoy definiu como “os cinco hábi-tos”. Nesse caso, o novo programa de adestramento, com ên-fase nos procedimentos básicos de combate, pode ser um dife-rencial para a prontidão de nossa FER, para a preparação donosso GptOpFuzNav HAITI e para o adestramento interno denossas unidades operativas, independentemente da naturezada OM, do componente ou mesmo do escalão considerado.

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Primeiro Concurso de Trabalhos Acadêmicos doCIASC

A primeira edição do Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC teve por objetivo estimular a pesquisa e promovera difusão de estudos sobre temas de relevância para o Corpo de Fuzileiros Navais, por meio de Ensaios. Com a preocupaçãodo Comando em transformar o CIASC em um Centro de Excelência, foi criada essa oportunidade para todos os Oficias e Praçasdeste Centro de Instrução divulgarem os seus trabalhos, principalmente os que exercem a função de instrutores.

Inspirados pelos assuntos militares, os candidatos puderam escolher um dos seguintes temas: Corpo de FuzileirosNavais - 200 anos; A participação do Corpo de Fuzileiros Navais no Haiti; A Missão das Forças Armadas para o século XXI;O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo – uma visão prospectiva para um “Centro de Excelência” do ensino militarno Corpo de Fuzileiros Navais do terceiro milênio e A contribuição da Marinha do Brasil para os interesses nacionais na“Amazônia Azul”. Imaginando que, apesar da variedade de assuntos, algum candidato não tivesse afinidade com nenhumdeles, foi permitida a escolha, pelo próprio candidato, de outros temas específicos de cada Especialidade da Marinha do Brasil.

O resultado do concurso foi divulgado em uma cerimônia de premiação dos melhores trabalhos acadêmicos, de acordocom as seguintes categorias: Oficiais instrutores ou pertencentes à oficialidade do CIASC; Oficias-alunos; Sargentosinstrutores; Sargentos/Cabos/Soldados-alunos e Suboficiais/Sargentos/Cabos/Soldados pertencentes à guarnição do CIASC.

O concurso premiou os dois (02) melhores Ensaios de cada categoria com um laptop para o primeiro colocado e umamáquina fotográfica digital para o segundo colocado.

Embora não constituindo uma categoria, foram premiados, ainda, os dois melhores trabalhos elaborados sobre o tema “OCentro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo – uma visão prospectiva para um ‘Centro de Excelência’ do ensino militar noCorpo de Fuzileiros Navais do terceiro milênio.”

Obedecendo à ordenação das categorias, os vencedores e seus respectivos títulos de trabalho foram:

1) Trabalhos sobre o tema “CIASC”:1º Colocado: CT(A-FN) UILSON VILLAS BOAS DEOLIVEIRATítulo: “O CIASC como Centro de Excelência: uma visão doambiente ideal para a construção do saber”.2º Colocado: 3ºSG-FN-ES GILVAN CARDOSO DE SOUZATítulo: “A importância da participação do CIASC no processode educação ambiental”.

2) Categoria “Oficiais”:1º Colocado: CF(FN) OSMAR DA CUNHA PENHATítulo: “Centro de Gravidade: uma única expressão. Diferentesinterpretações”.2º Colocado: CC(FN) MARCIO PRAGANA PATRIOTATítulo: “Marinha do Brasil, economia brasileira e AmazôniaAzul: componentes de uma relação necessária aodesenvolvimento nacional”.

3) Categoria “Oficiais-alunos”:1º Colocado: CT(FN) RENATO HEIL FRANÇATítulo: “O emprego do Corpo de Fuzileiros Navais na primeirametade do século XXI”.2º Colocado: CT(FN) ALESSANDRO BRAGA GONÇALVESTítulo: “O CIASC e uma nova concepção de ensino”.

4) Categoria “Sargentos Instrutores”:1º Colocado: 2ºSG-FN-CN HERIVELTON AMARAL GRIJÓTítulo: “A família e o militar”.2º Colocado: 3ºSG-FN-AT PAULO ROBERTO ABREU COSTATítulo: “O CIASC e a formação do CFN no terceiro milênio”.

5) Categoria “Praças-alunos”:1º Colocado: 3ºSG-FN-ES GILVAN CARDOSO DE SOUZATítulo: “A importância da participação do CIASC no processode educação ambiental”.2º Colocado: 3ºSG-FN-CT ROBERTO DE PAULA OLIVEIRATítulo: “CIASC: Centro de Excelência na formação de militarese integração entre nações”.

6) Categoria “Guarnição”:1º Colocado: 1ºSG-FN-IF ANAEL ALVES DOS SANTOSTítulo: “A participação da Marinha do Brasil para osinteresses nacionais na Amazônia Azul”.2º Colocado: 1ºSG-FN-EG CARLOS ALEXANDREFIGUEIREDO CARVALHOTítulo: “A participação do CFN no Haiti: ação cívico-social”.

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Com essa iniciativa, fomenta-se as reflexões acerca dos temas em apreço, incentivando o desenvolvimento de pesquisasa toda a sua tripulação, administração, alunos e instrutores.

Não podemos esquecer que escrever bem é um importante diferencial para o profissional moderno. Mais que o domínio dalíngua portuguesa, a boa escrita e a pesquisa indicam a alta capacidade cognitiva, o raciocínio bem estruturado, o bom nívelcultural, o zelo e a atenção a detalhes, características valorizadas pela instrutoria. Escrever bem é essencial para o sucesso dequalquer profissional nos dias de hoje.

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Centro de Gravidade: uma única expressão.Diferentes interpretações.

CF(FN) Osmar da Cunha Penha

1- INTRODUÇÃO

Há grandes discussões e confusão sobre o que realmenteconstitui um centro de gravidade (CG). A maioria dos teóricos daguerra tem atribuído o conceito aos escritos do famoso generalprussiano, Carl Von Clausewitz, em cuja obra semi-acabada – OnWar – escreveu:

[…] o ponto essencial é ter em mente as condições quepredominam nos dois campos. A partir destas, um certocentro de gravidade, um centro de poder e de movimentode que tudo depende, formar-se-á por si só, e é contraeste centro de gravidade do inimigo que se deve desferiro golpe concentrado de todas as forças.(CLAUSEWITZ,1976, p. 726) (grifo nosso)

Clausewitz deve ter pensado em CG conforme oentendimento da física para a expressão, entretanto ele usou,em sua obra, um termo alemão sem igual – schwerpunkt. Osignificado desse termo tem mudado consideravelmente desdeo tempo de Clausewitz (séc. XVIII/ XIX) e, atualmente, éempregado para diferentes propósitos. A partir desses escritosde Clausewitz, diferentes interpretações têm surgido, fruto dosestudos de vários teóricos, gerando mais confusão do queclarividência quanto à aplicabilidade prática do conceito.

No momento atual, no qual a Estratégia Operacionalencontra-se como foco de discussões em vários países domundo ocidental, incluindo-se nesse contexto o Brasil, aMarinha do Brasil (MB) incorporou, na proposta de revisãode sua Doutrina Básica, o conceito de CG, o qual vem a ser omesmo encontrado no Glossário das Forças Armadas,publicação do Ministério da Defesa (MD). Nesse contexto, opresente trabalho tem como propósito apresentar diferentesinterpretações para a expressão “centro de gravidade” e asmetodologias propostas para identificá-los, de forma a suscitara reflexão e a discussão, no âmbito do CFN/MB, da importânciade se adotar não só um conceito, mas também de seestabelecer um modelo que permita transcender a meradiscussão teórica em torno do assunto, tornando-o algoprático, objetivo e palpável para ser aplicado no planejamentodas operações militares.

Para permitir tal contribuição, o trabalho apresentará asinterpretações e os métodos sugeridos por Milan Vego,professor titular de Estratégia do US-Naval War College;Joseph L. Strange, PhD e professor de Estratégia do MarineCorps War College – USMC; e Antulio J. Echevarria II, TenCeldo US Army e Diretor do Strategic Research do StrategicStudies Institute.

Os exemplos mencionados neste trabalho não esgotamas opções de discussão em torno do assunto, havendo outrosmétodos e interpretações sugeridos e adotados,particularmente pelas Forças Armadas dos Estados Unidosda América, o que nos serve de estímulo para o aprofundamentodas análises.

2- AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES

2.1- A interpretação de Milan VegoMilan Vego, em sua obra Operational Warfare (Naval

War College - 1004), apresenta o CG como uma fonte de poder– físico, moral ou de influência – cuja degradação, neutralizaçãoou destruição gerará um impacto decisivo na capacidade, nossaou do inimigo, de alcançar um determinado objetivo militar1.Para cada objetivo, um correspondente CG deve ser identificado.CG e objetivos militares são inseparáveis e devem estar emperfeita harmonia. Do contrário, ambos devem ser reavaliados,buscando-se objetivos mais realistas ou identificando-se novosCG. Nesse sentido, o CG representa o foco sobre o qual todasas fontes de poder, combatentes ou não, devem ser dirigidas,facilitando o processo decisório para o emprego de tais fontes.A correta identificação de um CG gera requisitos para a seleçãodo método de aplicação da força, proporcionando resultadosmais rápidos e decisivos para o alcance do objetivo militar.

Para Milan Vego, os CG abrangem elementos tangíveis eintangíveis. Os tangíveis englobam as forças terrestres, oscomponentes do poder naval e do poder aéreo. Os intangíveisincluem os elementos não-quantificáveis, tais como as liderançaspolíticas, a motivação para o combate, a coesão das forças, acapacidade de operar de forma combinada, o moral e a disciplina.Quanto mais alto o nível de condução da guerra considerado,maior a influência dos elementos intangíveis, os quais, apesarde presentes em todos os níveis, terão maior peso nos níveispolítico e estratégico. Nos níveis operacional e tático, o CGinvariavelmente será identificado nas forças com maiormobilidade e poder de combate. A neutralização, a degradaçãoou a destruição de um CG em níveis mais baixos resultarão,necessariamente, no enfraquecimento do CG no nível acima.Em outras palavras, sucessivas destruições dos CG no níveltático irão degradar o CG operacional, e a ação de destruiçãoou neutralização deste último resultará na derrota do CGestratégico.

O método propalado por Milan Vego para determinaçãodo CG passa, inicialmente, pela identificação e pela análise dosfatores críticos, os quais representam coletivamente as forçascríticas e as debilidades críticas de uma força militar ou de umafonte de poder não-militar. Tais fatores poderão ter naturezafísica ou abstrata e existirão em todos os níveis de conduçãoda guerra. As forças críticas são as capacidades consideradasvitais para que um determinado objetivo militar seja alcançado.As debilidades críticas são as fontes de poder que, por seremessenciais e devido às suas deficiências em quantidade ou emqualidade, afetam adversamente o atingimento de um objetivomilitar. Aquelas debilidades críticas ou seus elementos que sãosuscetíveis ao ataque físico ou outras ações do inimigo –diplomática, informacional, econômica, etc. – tornar-se-ãovulnerabilidades críticas. Em alguns momentos, uma forçacrítica apresentar-se-á como uma vulnerabilidade crítica secarecer de adequada proteção ou suporte e, por conseguinte,tornar-se vulnerável a ataques. Invariavelmente, um CG deve

1 Não devemos entender a expressão “objetivo militar”, aqui apresentada, com base na definição de objetivo apresentada no Processo dePlanejamento Militar adotado na MB (algo material sobre o qual se realiza a ação ou o esforço militar), mas, sim, como um propósito ou efeitodesejado a ser alcançado.

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ser encontrado dentre as forças críticas, nunca dentre asdebilidades ou vulnerabilidades críticas.

A identificação acertada do CG é essencial para a clarezade propósito, a focagem do esforço, e, em última instância, ageração de efeitos sinergéticos no uso das forças. Entretanto,tal tarefa torna-se difícil e árdua devido à grande quantidade deelementos incomensuráveis e não-quantificáveis envoltos naquestão. Aquilo que pode parecer crítico para nossas forças,poderá não ser importante aos olhos do inimigo. Há de se terextremo cuidado para a não-indução ao erro por visõesetnocêntricas de uma outra cultura ou sociedade. Não se deveassumir que o inimigo pense ou aja como nós, de forma que apercepção da realidade do inimigo, bem como seu sistema devalores devam ser considerados no processo de determinaçãodos CG. A mesma análise vale para a determinação dos nossosCG. As conseqüências de uma determinação errônea dos CGpodem ser severas e até mesmo fatais, podendo levar a perdasdesnecessárias de pessoal, material e tempo.

Antes da determinação final do CG como ponto focal doplanejamento, deve-se realizar um teste de validade. Tal testeconsiste, basicamente, de duas perguntas: a primeira é se adestruição, a neutralização ou a degradação do potencial CGirá resultar na progressiva deterioração da moral, da coesão eda vontade de lutar; a segunda é se as forças e os meiosdisponíveis são adequados à destruição, à neutralização ou àdegradação do CG, consideradas as limitações políticas ao usoda força.

2.2- A interpretação de Joseph L. StrangePara Strange, os CG não são características, capacidades

ou localidades. Eles são agentes dinâmicos e potentes, físicosou morais, com certas qualidades e capacidades, que retiramsuas vantagens de determinada localidade ou terreno. Sãofontes de força física e moral, de poder e de resistência. Um CGsomente é relevante em relação ao inimigo; não se trata de umconceito isolado. Nada na guerra é vital, exceto no contexto dacomparação entre as forças combatentes.

Uma vez que o inimigo decida engajar-se em uma luta deforças físicas e morais, os CG são agentes permanentementeativos até o final da contenda. Centros físicos funcionam comoagentes que se esforçam para destruir as capacidades e avontade de resistir do inimigo, ao passo que os centros moraisfuncionam como agentes que buscam influenciar ou controlaros centros físicos. Um CG existe devido ao efeito que gerasobre o inimigo ou determinada situação, não devido às suascapacidades intrínsecas. Um CG necessita certas capacidades,bem como características e localidades para alcançar tal efeito,entretanto esse efeito é o ponto de partida, não as capacidades.

Segundo Strange, a história tem mostrado que diversosconquistadores falharam largamente ao negligenciarem os CGmorais. A enorme vontade de uma população representa umaforte fonte de força moral, ao passo que uma populaçãofracamente determinada representa uma vulnerabilidade crítica.Para se obter uma vitória duradoura – uma paz auto-sustentável– devem-se solapar os CG estratégicos do inimigo, em especialos morais. Há de haver clara ligação entre os objetivos dacampanha militar no nível operacional e a degradação dos CGmorais no nível estratégico. Isso envolve mais do que o esforçomilitar, devendo a estratégia, como um todo, envolver todas asexpressões do poder nacional – militares e não-militares. Se asoperações forem conduzidas de forma isolada, será poucoprovável que a derrota de um CG operacional venha a minaralgum CG moral no nível estratégico.

O método Strange, para análise e determinação dos CG,apresenta algumas definições importantes: a primeira –capacidades críticas (CC), que são as capacidades em que oinimigo se apóia para obter sucesso; a segunda – requisitoscríticos (RC), que são as condições, os recursos e os meiosessenciais a uma capacidade crítica; por último -vulnerabilidades críticas (VC), que são os aspectos ou parte deum requisito crítico que é deficiente ou vulnerável ao ataquedireto ou indireto, o qual geraria um significante ou decisivoefeito. Teoricamente, esse método CG-CC-RC-VC conseguiriaestabelecer a relação entre os CG e as VC; entretanto, devidoao grande número de fatores e agentes dinâmicos existentesem um país ou teatro de operações, esse método parece falhar,em termos práticos, por oferecer uma maneira de focar osesforços de guerra em algo verdadeiramente decisivo.

2.3- A interpretação de Antulio J. Echevarria IIEm sua abordagem do assunto, Echevarria realiza uma

analogia, a princípio a mesma seguida por Clausewitz, com oconceito de CG da física e da mecânica. Para ele, o CG representao ponto onde a força da gravidade converge dentro dedeterminado corpo. Um corpo ou objeto será desequilibradoao ser atingido em seu CG por determinada força. Nesse sentido,o CG é, antes de mais nada, um fator de equilíbrio, e não umafonte de força ou poder, ou mesmo uma fraqueza.

Segundo esse teórico, as menções de Clausewitz àexpressão CG revelam que o conceito somente é aplicável ondeo inimigo possua suficiente unidade ou interdependência, deforma a agir como um corpo único; e mais: as Forças Armadasde determinado Estado ou aliança mantêm certa unidade e,conseqüentemente, certa interdependência ou conectividade -onde tal interdependência existe, pode-se aplicar o conceito deCG. Como resultado dessa análise, antes de aplicarmos oconceito no planejamento de ações de guerra, devemosperguntar se consideramos o inimigo capaz de agir como umaentidade coesa. Caso afirmativo, devemos, então, buscar asvárias conexões que mantêm juntas as diversas partes do(s)adversário(s). O grau de unidade formado pelas forças e oespaço geográfico onde serão empregadas poderá gerar osurgimento de mais de um CG, entretanto, deve-se buscar reduzi-los a um único, sempre que possível. Em resumo, o CG refere-seàquilo que mantém as forças do inimigo juntas, possibilitandoque aja como uma entidade coesa – um ponto focal. Paraidentificar tal CG, devemos buscar aquilo que estáproporcionando tal coesão a essas forças.

Para Echevarria, Clausewitz não fazia distinção ou mençãoa diferentes CG para os diversos níveis de condução da guerra.Para ele, diferentemente dos dois teóricos mencionados nostópicos precedentes, o CG deve ser definido para o sistemainimigo como um todo, evitando-se dividi-lo em tais níveis, e,se possível, defini-lo no estratégico. Além disso, o conceito deCG não necessariamente será aplicável a todos os tipos deguerra. Nas limitadas, onde não se busca, necessariamente, ototal colapso político e militar do inimigo, a aplicação do conceitotalvez não seja necessária, bastando o estabelecimento deobjetivos políticos bem definidos, traduzidos adequadamenteem objetivos operacionais e táticos.

Em suma: CG é um ponto focal, não uma força ou fraquezado inimigo, nem mesmo uma fonte de força ou poder; CGsomente são encontrados onde há suficiente conectividadeentre as partes do sistema inimigo, permitindo que aja comouma unidade; caso tal conectividade não exista, poderá nãoexistir um CG; um golpe no CG inimigo poderá levar seu sistema,

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como um todo, ao colapso; e a identificação de um CG não é,necessariamente, apropriada a todo tipo de guerra.

Echevarria propõe uma definição de CG: pontos focaisque servem para manter o sistema ou estrutura de ambos oscontendores coesos e que drena forças de uma variedade defontes, provendo direção e propósito a esse sistema. Para suaidentificação, apresenta o seguinte método:

- determinar se a identificação e o ataque a um CG sãoapropriados para o tipo de guerra que se pretende conduzir;

- determinar se o sistema ou estrutura do inimigo, comoum todo, é suficientemente conectada e interdependente paraser tratada como uma entidade coesa; e

- determinar qual elemento dessa estrutura possui acapacidade de manter o sistema integrado e coeso.

3- CONCLUSÃO

Tivemos a oportunidade de travar contato com diferentesinterpretações para a expressão “Centro de Gravidade”,propostas por renomados autores e estudiosos da arte daguerra. Um fato ficou notório: não basta nos limitarmos àsdiscussões teóricas sobre qual é o conceito correto de CG. Maisimportante do que isso é, uma vez estabelecida uma definição aser adotada, buscar-se uma maneira de identificá-los, de formaa tornar o conceito útil e aplicável ao planejamento das

Neste início do século XXI, outra tarefa, degrande dimensão, está a exigir um trabalho inadiável:incorporar ao nosso território o mar que nospertence, como faculta a Convenção das NaçõesUnidas sobre o Direito do Mar, e promover o usosustentado de seus recursos naturais. A essa extensãoatlântica , que se projeta para além do litoral e dasilhas oceânicas, e corresponde a cerca da metade dasuperfície do Brasil, se tem chamado de AmazôniaAzul1 (FERREIRA VIDIGAL et al., 2006, p. 18).

INTRODUÇÃO

Desde os idos de 1963, quando o Brasil enfrentou a crisegerada pelos pesqueiros franceses em nossa costa, no episódioque ficou conhecido como a Guerra da Lagosta, tornou-se claraa importância de se prover proteção aos recursos existentes nomar para sua utilização em prol da economia de nosso país. Osanos se passaram, mas pouca coisa parece ter sido feita pornossos governantes para melhor explorar e proteger esses tão

Marinha do Brasil, economia brasileira e AmazôniaAzul: componentes de uma relação necessária aodesenvolvimento nacional.

CC(FN) Marcio Pragana Patriota

valiosos recursos. Tampouco aparenta, a população brasileira,ter noção da importância dos recursos oriundos do mar em suavida. A mentalidade marítima brasileira parece se restringir asetores especializados da sociedade, geralmente aquelesdependentes diretamente do mar para a realização de suasatividades. Como mudar isso?

O presente trabalho tem por objetivo ressaltar aimportância de que o Brasil possua uma Marinha de Guerraforte o bastante para contribuir com o desenvolvimento de suaeconomia a partir da garantia da exploração dos recursosextraídos do mar.

DESENVOLVIMENTO

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito no Mar,em vigor desde 1994 e ratificada pelo Brasil em 1988, estabeleceuos espaços marítimos a serem utilizados pelas naçõesratificantes2. De forma simplificada e medidos a partir da costa,

operações. Particularmente no âmbito da expressão militar dopoder nacional, um conceito meramente teórico, para o qualnão se encontra aplicação prática, de nada servirá, tornandoinócuas as discussões a seu respeito. Além disso, no atualcontexto das operações combinadas, mostra-se essencial àadoção de um mesmo conceito por todas as Forças Armadas. AMB parece ter percebido tal fato ao incorporar o mesmo conceitoadotado pelo MD. Só nos resta partirmos para a discussão dametodologia de identificação a ser adotada, a fim de quepossamos incorporá-la ao Processo de Planejamento Militaradotado em nossa Força.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. Traduzido por Tere-sa Barros Pinto Barroso. Lisboa: Perspectivas & Realidades,1976. 787 p.

ECHEVARRIA, Antulio J. Clausewitz’s center of gravity:it’s not what we thought – battle strategy, 2003. In: Naval WarCollege Review, 2003. Disponível em:http://www.findarticles.com/p/articles/mi_m0JIW/is_1_56/ai_98143823/. Acesso em: 18 jul. 2008.

O ensaio acima corresponde ao primeiro colocado da categoria

“Oficiais” do 1º Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC/2008.

1 Expressão usada inicialmente pelo então Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, em 2004.2 Até 1º. de fevereiro de 2005, 148 Estados já haviam ratificado essa convenção.

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esses espaços são o mar territorial, que não deve ultrapassar12 milhas náuticas (ou, simplesmente, milhas), a zona contígua,cujo limite máximo é de 24 milhas, a zona econômica exclusiva,cuja extensão vai até as 200 milhas e a plataforma continental,que pode se estender até 350 milhas.

De acordo com a Convenção supracitada, o Estadocosteiro possui soberania plena em seu mar territorial, a qual seestende ao espaço aéreo, ao solo e ao subsolo desse espaçomarítimo. Na zona contígua, não exerce soberania, mas apenasjurisdição, assim como nos demais espaços marítimos. Na zonaeconômica exclusiva, ou ZEE, o Estado costeiro possui direitode soberania para fins de exploração e aproveitamento,conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não, daságuas sobrejacentes ao leito do mar, do solo e do subsolomarinhos, dentre outras atividades. Já na plataformacontinental, o Estado costeiro possui direito de soberania parafins de exploração e aproveitamento dos recursos naturais.Esses recursos são os organismos vivos de espéciessedentárias3, além dos minerais e de outros recursos não-vivos.

O Brasil, com seu litoral de 3.978 milhas, possui umadiversidade considerável de recursos a serem explorados emseus espaços marítimos: lagostas, camarões, peixes, petróleo,gás natural, hidratos de gás, evaporitos, enxofre, carvão e sal,dentre outros.

Dentre os recursos acima, o petróleo destaca-se comopassível da ambição estrangeira em um futuro não muito distante.Atualmente, um sexto da economia global é dedicado ao esforçode se obter petróleo de seus reservatórios naturais. O consumodesse recurso, no entanto, tem aumentado cerca de 2% ao ano,enquanto o fluxo dos campos petrolíferos declina cerca de 3 a5% no mesmo período. Se considerarmos o fato de que cercade dois terços do petróleo mundial se encontra em países doOriente Médio, uma região conturbada e instável, podemosconcluir que os países localizados em outras regiões do globodeverão buscar fontes seguras desse recurso em outroslugares, para que sejam independentes em seusempreendimentos que estejam ligados ao petróleo e seusderivados ou que deles dependam. Para ilustrar essanecessidade, o petróleo representa, hoje, mais de um quarto datonelagem de bens transportados pelos oceanos.

No Brasil, o consumo de petróleo aumentou em 34,19%no período de 1993 a 2003, enquanto o aumento de sua produçãotem apresentado uma média de 9,5% ao ano. Do petróleo deorigem nacional, 87% são retirados do mar, utilizando-sesignificativamente a tecnologia de retirada de petróleo de águasprofundas, genuinamente nacional. Ao final de 2003, cálculosindicaram que o petróleo foi responsável pelo recolhimento deR$ 57 bilhões em impostos diretos. Pode-se imaginar, então, oimpacto econômico que sofrerão nosso governo e os brasileiros,em geral, caso a Marinha do Brasil (MB) não seja capaz deprover a adequada proteção às nossas plataformas de petróleoe aos navios que transportam tal recurso.

Dentre os maiores consumidores mundiais de petróleo,um levantamento realizado em 2004 mostrou que os EstadosUnidos da América (EUA) estavam em primeiro lugar, com oconsumo de 20.517 milhares de barris ao dia. O segundo lugarera ocupado pela China, com o consumo de 6.684 milhares debarris diários. O Brasil encontrava-se em décimo primeiro lugar,consumindo 1.830 milhares de barris ao dia. Com uma economiadependente do petróleo para mover parte significativa de seu

aparato militar e com um comércio interno que depende quaseexclusivamente de caminhões movidos a diesel, os quaistransportam cerca de 70% dos bens de fábricas e fazendasremotas, os EUA não podem deixar, no momento, faltar reservasde petróleo disponíveis para seu consumo, pois sua economiaprovavelmente ruiria caso faltasse o precioso recurso. Assim,podemos refletir, por exemplo, sobre as razões que levaram essasuperpotência a invadir o Iraque em 2003, país subdesenvolvidoque ocupava, naquele ano, o segundo lugar em reservasremanescentes de petróleo4 e com pico da produção petrolíferaprevisto para 2017.

Além de permitir a exploração do petróleo, o mar é utilizadopara transporte de mercadorias entre países. Essa utilização ésignificativa no Brasil, a ponto de termos mais do que 95% denosso comércio internacional realizado por via marítima, sendoa principal fonte de moeda vinda em definitivo do exterior.

Ocorre que a importância do comércio marítimo não seresume apenas ao transporte de mercadorias. Se pensarmos nautilização dos navios mercantes, devemos pensar também emgeração de empregos para a operação desses navios e dosportos em que esses navios atracarão, além do pessoalenvolvido em atividades correlatas: fiscalização, praticagem,manutenção, armazenagem de mercadorias, centros depreparação de pessoal, etc.

Na indústria de construção naval, a geração de empregostambém é significativa. A título de exemplo, a construção navalbrasileira atingiu o auge de sua operacionalidade em 1979, com1,4 milhão de toneladas de porte bruto, o que resultou emaproximados 39 mil empregos diretos e 31 mil empregos indiretosna indústria naval, além de 140 mil diretos e indiretos em setoresque apoiaram essa indústria. Dessa forma, percebemos que ageração de empregos pelo modal aquaviário, pouco exploradoaté hoje em nosso país, seria fator significativo na redução dapobreza do povo brasileiro.

A Marinha colabora com o comércio exterior à medida querealiza tarefas diversas em prol dos navegantes. A Diretoria deHidrografia e Navegação (DHN), por exemplo, prepara edisponibiliza, ao público interessado, as cartas de navegação,a Lista de Faróis, a Lista de Auxílios-Rádio e a Tábua de Marés.Já o Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego(CAMR), por delegação da DHN, planeja, coordena e controlaa sinalização náutica de responsabilidade da MB. O Centro deHidrografia da Marinha (CHM) divulga os Avisos aosNavegantes, a fim de informar aos interessados as alteraçõespermanentes ou temporárias em cartas náuticas e publicaçõesda DHN. O CHM também é responsável pelo serviço demeteorologia na área que compete ao Brasil e pela subseqüentedivulgação dessas previsões aos navegantes. Cabe também àMB o serviço gratuito e obrigatório de busca e salvamento,cujas tarefas de coordenação são da competência dos DistritosNavais.

No que diz respeito à preparação de pessoal para operarno modal aquaviário, a MB tem responsabilidade, por meio daDiretoria de Portos e Costas (DPC), sobre o Sistema de EnsinoProfissional Marítimo, o qual possui uma estrutura de formaçãode pessoal. Essa formação ocorre nas 59 capitanias dos portos,delegacias e agências e pelos Centros de Instrução AlmiranteGraça Aranha (CIAGA) e Almirante Braz de Aguiar (CIABA),localizados no Rio de Janeiro e em Belém, respectivamente.Sem a contribuição da MB, a preparação de pessoal

3 Espécies sedentárias são aquelas que, no período da captura, encontram-se imóveis na região ou só podem mover-se em contato físico com ela.4 Excetuando-se petróleo extraído de xisto e das areias de alcatrão.

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possivelmente sofreria uma queda em recursos e qualidade,dificultando nossa participação no modal aquaviário, causandodesempregos e, talvez, reduzindo a pequena participação dabandeira brasileira no exterior que, em 2006, não chegava a 3%.

Nosso país é o 27º produtor mundial de pescados. Apesarde nossa ZEE não possuir estoques pesqueiros significativosdevido às temperaturas e salinidade elevadas, as quais resultamem baixa concentração de nutrientes, a pesca industrial ésignificativa nas regiões sudeste e sul do país, onde ocorre amaior concentração de recursos pesqueiros. A frota pesqueiraindustrial brasileira é estimada em 3 mil embarcações, enquantoa atividade artesanal apresenta aproximadamente 27 milembarcações em todo o litoral. Se considerarmos que cadaembarcação de pesca industrial emprega cerca de 10 pessoas,temos um total de cerca de 30 mil empregos. Todo o setorindustrial, estima-se, gera cerca de 800 mil empregos diretos.

A exportação anual de pescado tem crescido. Em 1998, arenda gerada foi de US$ 120,4 milhões, contra US$ 334,1 milhõesem 2002. O maior responsável por isso tem sido o camarão.

Cabe ressaltar que aquele país que não tiver capacidadede efetuar a totalidade de captura permissível em sua ZEE, devepermitir que outros Estados tenham acesso ao excedente,mediante acordos ou ajustes previstos na Convenção dasNações Unidas sobre o Direito no Mar.

A MB contribui para a atividade pesqueira exercendofiscalização sobre ela, especialmente na ZEE. Assim, busca-serespeitar o período do defeso5, inspecionando as embarcaçõespesqueiras (quanto ao direito de pesca e à segurança daembarcação, por exemplo). Como demonstração da necessidadede tal fiscalização, basta citar, dentre outros episódios, o casodo apresamento do barco de pesca Yannick 2, de bandeirafrancesa, a mais de cem milhas do litoral do Amapá, em janeirode 2005, pelo Navio-Patrulha Guarujá.

Outro recurso existente em nossa “Amazônia Azul” é ogás natural, que já responde por 7,5% da matriz energéticabrasileira. O gás é uma opção ao petróleo; entretanto, menospoluente que este último.

CONCLUSÃO

Após abordarmos a importância dos recursos extraídosdo mar para nossa economia, podemos refletir sobre acontribuição, para a economia nacional, de uma MB forte ecapaz de garantir a exploração desses recursos com eficiência.

Com relação às plataformas de petróleo, a MB deve sercapaz de protegê-las ou, pelo menos, dissuadir qualquer Estadoaventureiro de tentar interferir na utilização dessas instalaçõespelo Brasil; entretanto, uma Marinha de Guerra forte não se fazda noite para o dia: é necessário um planejamento a longo prazo,com qualificação de pessoal, aquisição de novos meios earmamentos e, principalmente, desenvolvimento de tecnologiase indústrias nacionais. Meios aeronavais e navios-aeródromos,por exemplo, são essenciais para que se possa exercer asuperioridade aérea em áreas afastadas do litoral, tipicamente

as regiões onde se encontram as plataformas de petróleo e ondenossa Força Aérea teria dificuldades de atuar devido àsdistâncias envolvidas. Investimentos na produção de novossubmarinos e na construção de novas bases em outras regiõesdo Brasil, além da região sudeste, gerariam empregos direta eindiretamente e aumentariam a capacidade ofensiva da MB,aumentando, conseqüentemente, seu poder de dissuasão. Aprodução de nossos submarinos nucleares reforçariasobremaneira essa idéia.

A proteção e a fiscalização dos meios de transportemarítimos também são importantes à medida que proporcionamdivisas ao país. Em caso de conflito, nossa Marinha deve estarem condições de, além da proteção às plataformas de petróleo,dar proteção aos meios de transporte comerciais marítimos e seopor a eventuais bloqueios navais que porventura tentem imporao nosso país.

Acrescentando-se ao seu emprego nas OperaçõesAnfíbias clássicas, os Fuzileiros Navais, como integrantes daMB, também são necessários ao processo de proteção daAmazônia Azul, seja realizando a segurança de instalações deinteresse da MB (ex.: portos), seja recebendo adestramentoespecífico para proteger plataformas de petróleo e navios contraatos de terrorismo ou pirataria.

Além do aspecto do emprego do Poder Naval6, a MBtambém contribui com o preparo e a segurança dos navegantes,reduzindo os gastos públicos com acidentes (perdas deembarcações, vidas e cargas) e hospitalizações. Tambémcontribui para a eficiência do comércio marítimo, zelando pelasinalização náutica e pelos demais serviços já citados.

O futuro nos reserva desafios. A história nos mostra oexemplo do Iraque. A máxima latina diz que é na paz que seprepara para a guerra. Em 1963, fomos capazes de repelir a ameaçafrancesa graças à famosa diplomacia brasileira e seu últimoargumento no mar, ou seja, uma Marinha de Guerra capaz de sefazer presente e impor respeito pela sua qualificação, seuprofissionalismo e sua tecnologia. Estaremos prontos parasemelhantes ocorrências no futuro?

Talvez os mais desatentos e desinformados não perce-bam que o desenvolvimento da economia de nosso país passapela existência de uma MB forte e que seja capaz de cumprirsuas tarefas em sua plenitude. Cabe a todos nós divulgar essarelação, pois desconhecer esse fato ou negar essa verdade trazo sério risco de deixarmos um país empobrecido e subdesenvol-vido às gerações vindouras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SHAN, Sônia. A história do petróleo. Porto Alegre: L&PM, 2007.

VIDIGAL, Armando Amorim Ferreira et al. Amazônia Azul: omar que nos pertence. Rio de Janeiro: Record, 2006.

5 Época em que a pesca de determinadas espécies é proibida.6 Componente militar do Poder Marítimo. O Poder Naval é executado pela MB.

O ensaio acima corresponde ao segundo colocado da categoria

“Oficiais” do 1º Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC/2008.

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“o aprendizado humano é de natureza social e é partede um processo em que a criança desenvolve seu intelecto

dentro da intelectualidade daqueles que a cercam” Lev S. Vygotsky

1. A FAMÍLIA DO MILITAR NO ENSINO: MAIS DO QUEESTÍMULOS... ALICERCES.

A história da educação relata que durante muito tempo,antes do advento da linguagem escrita, o homem passava osensinamentos e conhecimentos para outros tão somente atravésda linguagem oral, limitando-se à sua descendência. Essachamada história falada perdurou longa data como grandesuporte para a preparação dos futuros dirigentes do poder dentroda sociedade. Mesmo após a descoberta da escrita, aaprendizagem se dava em forma de conselhos morais ecomportamentais, fundamentados pelas próprias famílias,fazendo com que as gerações seguintes pudessem aproveitar asexperiências desses antepassados e aprimorá-las, chegando aoalto progresso tecnológico de nossos dias.

A ciência moderna e os estudos desse progressotecnológico avançaram de forma a desenvolver um mundo ondeas mudanças acontecem muito rapidamente, gerando, porconseguinte, uma sociedade cada vez mais ocupada, sem o temponecessário para discernir e opinar de maneira reflexiva sobrequalquer assunto. Tal avanço também chega a interferir naconcepção do ser humano, no que diz respeito, por exemplo, àconstrução do sentimento de maternidade por um recém-nascido,que outrora se interessava por alimentação adequada, sonopropício e vacinas; concepção essa que, posteriormente, gira emtorno de como estimular a percepção e aguçar o raciocínio dacriança, a fim de lhe proporcionar uma autonomia precoce. Nessecontexto atual, a família, tida como base fundamental dasociedade, perdeu a sua autonomia na formação educacionaldas nossas crianças para as orientações dos profissionaisespecialistas de diversas áreas - os resultados desse processoevolutivo ainda são uma incógnita com diversas variáveis.

Frente a incontáveis mudanças, questiona-se: a família aindaexerce influência no processo de aprendizagem de um indivíduo?- Esse também é o motivo desta pesquisa: fazer que se conheçamexemplos de influências exercidas pela família sobre cadaindivíduo, ampliando-se, assim, os horizontes de estudo a novase mais aprofundadas pesquisas sobre essa influência e a suacolaboração no processo de ensino-aprendizagem, elucidando,desse modo, questionamentos sobre sua importância.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Entendendo a abordagem sobre contexto familiarNas literaturas antropológica e sociológica, a definição de

família não se restringe ao grupo domiciliar, pois os laços defamília extrapolam o domicílio, a cidade e até o país. Nessaperspectiva de estudo, uma família engloba pessoas com

diferentes graus de parentesco, definidos a partir dadescendência/ascendência sangüínea, ou através do casamentoe da adoção; entretanto, para operacionalizar o conceito de família,os institutos de pesquisa restringem o escopo da família ao grupodomiciliar. Assim, nos censos demográficos e outras pesquisasdomiciliares (tipo PNAD), o alcance máximo de uma família vaiaté os limites físicos da moradia; contudo, neste estudo,restringiremos o contexto família ao grupo de pessoas ligadasdiretamente ao indivíduo por parentesco, casamento ou adoçãoexistentes em um mesmo espaço físico, o que poderemosdenominar como famílias conviventes 1.

2.2 Entendendo a abordagem sobre o processo de ensino-aprendizagem

O surgimento de novos conceitos tem ampliado a visão doprocesso ensino-aprendizagem e modernizado a acepção doespaço escolar, transformando-o, de um ambiente tradicional, noqual aprender é um singelo ato de memorização e o ensinar, meratarefa de repassar conteúdos prontos, em um ambiente muitomais interativo. Nesse emergente modelo escolar, o conhecer e ointervir no real não se encontram dissociados, e o exercício domagistério não se baseia apenas na aplicação de conhecimentosde psicologia, teorias curriculares e disciplinas acadêmicas, mastambém na sensibilidade de se verificar o retorno do aluno: oconhecimento, por ele gerado, através de sua participação ativa,da vivência de sentimentos, de suas atitudes diante dos fatos eda escolha de procedimentos para que determinados objetivossejam atingidos.

O envolvimento de todo o grupo no processo é o pontocentral dessa forma pedagógica de ensino. Na visão sócio-interacionista de Lev Semenovich Vygotsky, os alunos deveriamser estimulados a adquirir conceitos científicos através deatividades propostas pelo professor ou pela escola e, assim,transformar sua relação cognitiva. Nessa postura, todoconhecimento construído tem relação estreita com o contextoutilizado, sendo, por isso mesmo, impossível separarem-se osaspectos cognitivos dos emocionais e os sociais, uma vez quetodos estão presentes nesse processo global e complexo.

2.3 Mais do que estímulos... alicerces.O ensino é, basicamente, uma atividade psicológica; não

obstante, se um indivíduo não estiver bem psicologicamente,pode defrontar-se com uma barreira em seu aprendizado. Assim,também, indivíduos que carregam frustrações, rejeições, mágoase maus tratos durante o período da infância, devido à máconvivência familiar, podem apresentar dificuldades nasatividades escolares. Um menino, por exemplo, que foi criadopelos seus pais (pessoas que nessa fase da vida são tidas comoas mais importantes para a criança), sendo rotulado de burro, pornão conseguir fazer nada direito; de fracassado, por causa deseus pequenos erros de aprendizado (e cresce como fracassado),pode desenvolver um subconsciente reprimido, o que, mais tarde,fá-lo-á lembrar-se disso em dimensões maiores mediante qualquer

1 O procedimento metodológico que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adota no Brasil para o censo familiar, diferentementede outros países, fraciona as famílias dentro de um mesmo domicílio, definindo um responsável pela família, mesmo que este não seja o responsávelpelo domicílio. A esse modelo de famílias estendidas, compostas por duas ou mais famílias nucleares, parentes ou não, o IBGE define como famíliasconviventes. O emprego de tal termo, neste ensaio, não foi usado em seu sentido próprio, como descrito anteriormente, mas restringindo ainda maisessa idéia de família quanto à proximidade mais direta entre seus membros.

A família e o militar2ºSG-FN-CN Herivelton Amaral Grijó

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desventura ou insucesso com que venha a se defrontar, o quepode conduzi-lo até mesmo à desistência precoce. Emcontrapartida, aquele que tem apoio constante no convíviofamiliar, mesmo diante de seus erros, pode encontrar forças parasuperar obstáculos, aparentemente, intransponíveis. O contextofamiliar muda à medida que o menino cresce e se torna homem,chefe de família, mas a sua essência permanece sempre a mesma:pilar básico para a sociedade. Uma das frases que marcaramhistória foi dita por Aristóteles: “A sociedade é o que suas famíliassão.” - ela retrata a importância da família como base sólida emuma cultura social; negligenciar a força que essa base tem, tambémno ensino, pode significar o diferencial no sucesso dele.

Tempos atrás, o Segundo-Sargento da especialidade deComunicações Navais, Herivelton Amaral Grijó, recebeu uma tarefade instruir um grupo de militares em uma operação deadestramento sobre um assunto que não dominava muito bem;contudo, não relutando em obedecer a seus superiores, aceitoufazê-lo. Logo, iniciou seus trabalhos de preparação, que incluíamdesde o estudo do tema abordado até a preparação dos materiaisdidáticos a serem empregados. Após a conclusão dessestrabalhos, deliberou executar um ensaio da aula e, sozinho,colocou-o em prática. Sua esposa, observando a inusitada cena,ao chegar de seu trabalho, interpelou-o se poderia assistir àapresentação. Um pouco apreensivo sobre o inesperado pedido,seu cônjuge concordou, advertindo-a, entretanto, de que elapouco entenderia sobre o assunto, visto ser ele estritamentemilitar. O epílogo dessa atividade trouxe inúmeras benfeitorias àaula, até então não concebida pelo seu idealizador, pois atravésde perguntas curiosas e interessadas da ouvinte, o instrutor pôdeconstatar uma necessidade de ampliar ainda mais seusconhecimentos a outros assuntos correlatos, capacitando-o,assim, a responder a perguntas diversas que porventurasurgissem. Isso também fez com que procurasse recursosinterativos alternativos para melhor esclarecimento do público,em geral, sem falar do teste a que sua capacidade de oratória foiposta, valendo-se de uma forma simples e objetiva, alcançandoum resultado eficiente de ensino, pois mesmo sem terconhecimento prévio, houve aprendizado por parte da ouvinte.Certamente, a figura dessa mulher não representou a certeza dosucesso ou do insucesso da exposição daquela aula, mas foi umincentivo primordial àquele que a executaria, além de eliminarnele a ansiedade inicial, o que poderia ser um obstáculo aosucesso.

Outro caso que podemos citar como estímulo familiar ocorreuem 1999, quando o até então Cabo da especialidade de Engenharia,Joaquim José Correa da Cruz, dava início ao seu ano letivo noCentro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, visando à suapromoção na graduação de Sargento daquela especialidade. Oque parecia ser um ano comumente escolar tornou-se, em meadosdesse, um fardo; isso porque sua esposa, ao conceber umacriança, recebeu o diagnóstico médico de sua gravidez ser derisco. Não tardou, e fora internada, a fim de permanecer sobobservação e cuidados da equipe médica que a acompanhava,assim permanecendo por penosos seis meses de sua vida. Iniciava-se, então, para o jovem Cabo, uma nova e desgastante rotinaalém daquela que já exercitava como aluno: por muitas vezes elasse confundiram, como nas ocasiões de pernoites junto ao seucônjuge, em que deveria executar também suas obrigações de

estudo. O esforço redobrado logo o levou ao cansaço físico emental; as preocupações que giravam em torno do instável estadode saúde da sua companheira o desgastaram psicologicamente;passou, então, a amargar uma considerável queda no seudesempenho escolar, temendo ser reprovado. Esgotado, e semmotivação aparente, deu ensejo à possibilidade do trancamentode sua matrícula, e mesmo sendo incentivado por amigos eparentes a não fazê-lo, estava convicto de sua decisão. Por fim,manifestou à sua acamada esposa tal desejo e os motivos pelosquais o faria; contudo, ela também se mostrou contrária à decisão.Não levando em consideração as suas necessidades de cuidados,estimulou-o a permanecer no curso, apresentando-lhe outrospontos de vista, de maneira a conduzi-lo à perseverança,lembrando a ele o júbilo que sua família sentiria por conta de suaformação acadêmica, tão representativa para todos. Joaquimrecobrou ânimo com aquelas palavras e optou por permanecerno curso. Hoje, já se passam mais de nove anos que Joaquim éSegundo-Sargento na sua especialidade.

3. CONCLUSÃO

Por certo, casos semelhantes a esses não são incomuns ouraros em ambientes familiares; naturalmente, não podemosnegligenciar a presença de estímulos oriundos de terceiros quenão os enquadrados no contexto familiar, como os de colegas detrabalho, que podem exercer influência na decisão de projetos eplanos de alguém, mas salta aos olhos o poder influenciadordaquele com quem se convive, o que, no primeiro caso,representou satisfatória melhoria no desenvolvimento de umatécnica própria, e no desenvolvimento da didática já aprendida, ea força necessária para que o instrutor desse continuidade aoprocesso de ensino-aprendizagem com a convicção de seusucesso; no segundo, pôde-se perceber a força inspiradora erenovadora promovida pela compreensão e pela coragem, a pontode levar um indivíduo de uma derrota iminente a um sucessoincontestável.

De fato, também não podemos pressupor que apenas essesdois casos sirvam de base para novas teorias, mas convémsalientar que o intento desta apresentação foi demonstrar que afamília convivente, aquela diretamente ligada ao indivíduo porparentesco, casamento ou adoção, exerce influência sobremaneirano comportamento psicológico de um indivíduo, estimulando-oou desestimulando-o, ou seja, o ensino é um processopsicológico de interações em um ambiente propício; então osestímulos gerados pela família ocasionam impactos positivos ounegativos na mente do indivíduo, proporcionando um ambienteadequado ou não ao seu aprendizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. Ediçãoeletrônica. Ed. Ridendo Castigat Mores, 2002.

MONROE, Paul. História da educação, atualidadespedagógicas. Vol. 34. Ed. Nacional, 1979.

HUNTER, Madeline. Ensine mais – mais depressa! 8ª Edição.Ed. Vozes, 1988.

O ensaio acima corresponde ao primeiro colocado da categoria

“Sargentos Instrutores” do 1º Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC/2008.

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INTRODUÇÃO

O presente ensaio tem como objetivo apresentar umabreve reflexão sobre o papel do Centro de Instrução Almi-rante Sylvio Camargo (CIASC) para o Corpo de FuzileirosNavais (CFN) e as necessidades de mudanças impostas peloterceiro milênio.

O terceiro milênio nasce marcado por fortes e rápidasmudanças, que vão desde as tecnológicas às mudanças navida social. Junto às mudanças, o discurso da necessidadede qualificação e aperfeiçoamento está sempre presente eimpõe uma necessidade permanente de formação para to-dos os tipos de carreiras profissionais. Com o Corpo deFuzileiros Navais não é muito diferente; a formação tambémse constitui como um elemento fundamental. Nesse senti-do, o CIASC desempenha um papel crucial, pois através deseus cursos, os Fuzileiros Navais recebem conhecimento eaprimoramento profissionais adequados.

DESENVOLVIMENTO

Em 28 de dezembro de 1955, foi criado o Centro deInstrução do Corpo de Fuzileiros Navais (CICFN) que, maistarde, no ano de 1990, seria conhecido como CIASC, emhomenagem ao Almirante Sylvio de Camargo. Suas depen-dências carregam a história de mais de cinqüenta anos detrabalho em busca de qualificação profissional dos Fuzilei-ros Navais. Somadas a essa história estão as histórias deinúmeros militares que lutaram e acreditaram na necessida-de de construção de um centro de instrução e, acima detudo, lutaram pela construção de uma Pátria mais forte ejusta. Dentre esses homens, podemos destacar o AlmiranteSylvio de Camargo.

No período em que atuou em terra, realizando opera-ções de inteligência entre os anos de 1922 e 1924, o Almi-rante teve contato com as tropas de Fuzileiros Navais epôde constatar que elas careciam de conhecimento de GuerraAnfíbia e de eficiente desempenho nas ações de combateterrestre.

A partir daí, o Almirante abraçou com empenho a lutapela formação profissional das tropas. Apesar das inúme-ras dificuldades, desde a posse do terreno1 até a luta pelosrecursos financeiros, o Almirante Sylvio de Camargo nãoperdeu sua visão estratégica de planejar e construir umainstituição com o objetivo de padronização dos procedi-mentos operacionais e da atitude militar. Todo seu empe-nho garantiu a existência do CIASC para que, passadoscinqüenta anos de sua criação, pudéssemos ler na revistado Corpo de Fuzileiros Navais:

“O Centro de Instrução foi um dos responsáveis peladisseminação da doutrina anfíbia no âmbito do CFN,mas antes de tudo, um instrumento de consolidaçãode uma mentalidade profissional, hoje dominante emtodos os escalões.”(O Anfíbio, nº 24:2005)

Na atual estrutura da Marinha do Brasil, o CIASC éuma organização do Sistema de Ensino Naval que, segundoo art.2º da portaria nº44/2002, tem como propósito “capaci-tar Oficiais e Praças do Corpo de Fuzileiros Navais parao exercício, na paz e na guerra, das funções previstas nasOM da Marinha”. Segundo o regulamento vigente, cabe aoCIASC: ministrar Cursos de Aperfeiçoamento para oficiaisdo CFN; ministrar Cursos de Especialização de Guerra Anfí-bia; ministrar Estágios para Oficiais e Praças Especiais; mi-nistrar Cursos Especiais e Expeditos para Oficiais e Praças;ministrar Cursos de Carreira para militares selecionados doCorpo de Praças de Fuzileiros Navais e estabelecer convê-nios com outras organizações.

Atualmente, o desafio do CIASC é manter-se ajustadoàs necessidades do Corpo de Fuzileiros Navais, ao mesmotempo em que acompanha as mudanças presentes na socie-dade contemporânea.

Vivemos um tempo em que as inovações tecnológicasprovocam inúmeras mudanças na vida social. Podemosexemplificar com o telefone celular e o microcomputador: hámenos de uma década atrás, eles eram artigos de luxo edestinados a uma minoria. Hoje, inúmeras pessoas têm aces-so a celular e a microcomputadores. Isso causou uma ver-dadeira revolução na comunicação. O envio de uma infor-mação que poderia demorar dias, hoje, com o acesso àinternet, fica reduzido a segundos. A utilização dos caixaseletrônicos cada vez mais é difundida. Podemos dizer quevivemos, hoje, a Era da Informação. Muitas vezes, o êxitoem determinada missão é materializado pelo controle da in-formação e do acesso ao conhecimento.

As modificações na forma de acesso ao conhecimentoacabam por influenciar as diferentes instituições.

Nas instruções do CIASC, essas modificações tambémpodem ser observadas através da utilização de diferentesrecursos didáticos, como datashow, computadores, pen-drives, que agilizam a preparação e a realização das aulas ese constituem também como um agente facilitador no pro-cesso de ensino-aprendizagem.

Junto a isso, podemos observar um movimento cres-cente dos instrutores em tentar se qualificar através de cur-sos, palestras e leituras, de um modo geral. Isso reflete suaconscientização quanto à necessidade de um processo deformação permanente.

CONCLUSÃO

A tarefa de instrução é uma das que mais exige preparodo Fuzileiro Naval, pois está nas mãos dos instrutores apreparação de novos Oficiais e Praças. A esses profissio-nais cabe a função de preparar os militares para cumprircom sua função maior: a defesa da Pátria. Nesse sentido,estão em processo algumas modificações no CIASC, quecontribuirão para uma maior qualidade do ensino, tais comomelhores instalações, equipamentos modernizados e o in-centivo à função de instrutor.

1 Foi necessária uma meticulosa pesquisa para se identificarem os proprietários das áreas, onde seria construído o CIASC, pois, até então, a área nãopertencia à Marinha. O processo de pesquisa e desapropriações durou três anos.

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo e aformação do Corpo de Fuzileiros Navais no terceiro milênio.3ºSG-FN-AT Paulo Roberto Abreu Costa

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O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo comoCentro de Excelência: uma visão do ambiente ideal para aconstrução do saber.CT(A-FN) Uilson Vilas Boas de Oliveira

1. INTRODUÇÃO

Este estudo visa ampliar os conhecimentos sobre o ensinono meio militar. Para tanto, faz-se necessário: primeiro,contextualizar a nossa leitura de mundo, pois vivemos um novomomento na história, marcado por mutações tecnológicas, alte-rações de paradigmas históricos e necessidade de preservaçãoambiental, além dos problemas mundiais indicadores de novosconflitos, como falta de água, de energia e de alimentos, e dosproblemas sociais de violência e de desagregação familiar, queimpõem, ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), a necessidade deprosseguir na qualificação de sua massa humana, no sentido detê-la em condições não só de continuar a salvaguardar os inte-resses da Marinha do Brasil (MB), mas também de atuar de ma-neira mais ofensiva na garantia dos interesses nacionais, semperder de vista que somente com a aquisição de um ensino deelevada qualidade os bons resultados serão alcançados. Se-gundo, entender que o Centro de Instrução Almirante Sylvio deCamargo (CIASC), por estar comprometido com a meta de setornar um Centro de Excelência, encontra-se em processo dereflexão para continuar a expandir sua capacidade de criar ofuturo, sem, com isso, desqualificar o trabalho que é executadohá décadas. Por último, externar que, em função de o ensinomilitar ser peculiar à atividade militar, preferiu-se não discutir ostipos de tendências pedagógicas, como se faz no meio civil, massim fazer uma apropriação da fala de alguns teóricos da área deeducação, com respeito à consolidação de um paralelo entre oensino do sistema educacional e o ensino do meio militar; etambém salientar que a presente pesquisa se ateve apenas aoscursos presenciais deste Centro de Instrução (CI).

Nas bases da investigação, percebem-se as ações pedagó-gicas, a postura dos agentes (alunos, instrutores, guarnição,supervisores, comandantes de companhia, Comandante do Cor-po de Alunos, Chefes de Departamento, Superintendentes; en-fim, toda a tripulação do CIASC) no processo de formação dosalunos dos cursos presenciais e o tipo de relação entre a organi-zação e o militar, o docente e o discente e o CI e o próprio saber,

o que define o CIASC como um CI, como meio militar que viabilizao saber.

O meio militar é conhecido, também, por possuir excelentesespaços escolares. Suas academias serviram de base para queas Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) lograssemêxito no cumprimento do seu papel constitucional ao longo dotempo.

No meio civil, a relação entre instituição e indivíduo é, namaioria das vezes, marcada pela obrigação, pela falta de opção.Diferentemente, no meio militar, na maioria dos casos, trabalha-se com pessoal voluntário, selecionado e relativamente bem re-munerado, facilitando, sobremodo, o alcance de melhores resul-tados, o que, às vezes, é um diferencial.

O CIASC, como exemplo de meio militar voltado para oensino, busca capacitar os oficiais e praças do CFN para o exer-cício de atividades militares em tempo de paz e em tempo deguerra. O processo, para se chegar à capacitação, é o foco dareflexão. Pelo que sabemos, seu ensino é a razão da própriaexistência. Há um olhar voltado para o espaço e para asatividades, sobretudo para aquelas que, de uma forma ou deoutra, influenciam diretamente o processo do ensino e da apren-dizagem dos alunos.

O trabalho desempenhado pelo CIASC merece relevância,diante do CFN, porque pode garantir uma padronização de com-portamento e de conduta militar, e é um considerável dispo-sitivo de atualização e um meio de quebra de paradigmas, semmencionarmos, aqui, a estrutura invejável de que dispõe, tantode pessoal, espaço físico e recursos pedagógicos, como de ma-terial e equipamentos.

É bom salientar que outras escolas com estrutura seme-lhante à do CIASC são as bases edificadoras de cidadania emtodo o mundo e que, em nosso país, há uma carência enorme deescolas com esse tipo de estrutura.

O CIASC é um exemplo de organização militar (OM) quepossui o ensino de qualidade e os pressupostos de um Centrode Excelência; por isso ele é a base para a formulação das se-guintes perguntas: O tempo com o discente é aproveitado em

Neste terceiro milênio, a necessidade de acompanharas rápidas mudanças sociais provoca uma carência de pes-soal especializado, o que impõe o desafio de ampliar cadavez mais os conhecimentos dos Fuzileiros Navais em diver-sas áreas, sejam as operações de paz ou as operações emáreas urbanas.

A tropa deve ter um excelente preparo para responderàs questões aqui abordadas, e o CIASC é a instituição res-ponsável por esse preparo. Cabe a ele se inspirar na deter-minação e na persistência de seu idealizador, o AlmiranteSylvio Camargo, e cumprir o seu papel de instruir e qualifi-

car os Fuzileiros Navais, transformando-se em um centro deexcelência na área de instrução e adestramento.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL, Corpo de Fuzileiros Navais. CIASC 50 anos. OAnfíbio, n.24,2005.p.20.

______________. Marinha do Brasil. Portaria nº 44/2002.

O ensaio acima corresponde ao segundo colocado da categoria

“Sargentos Instrutores” do 1º Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC/2008.

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sua plenitude? Todas as oportunidades com o discente visam aproduzir a aprendizagem de qualidade? O discente aprende aaprender? O CIASC é um potencial na transformação do com-portamento pessoal do CFN? Suas docência e não-docênciaestão em condições de atender às demandas do novo milênioem matéria de ações pedagógicas? Possui pessoal qualificadopara liderar os grupos de militares inconformados com poucaprodução do saber?

A importância do CIASC perante o CFN, a MB e, inclusi-ve, a família naval, é traduzida em meio século de dedicação aoensino. Consciente disso foi que me propus a elaborar o pre-sente estudo, tendo por base as experiências e práticas assisti-das e vividas neste centro, quando tive a oportunidade de fazerparte de seu corpo discente no Curso de Especialização, noCurso Especial de Habilitação para Promoção a Sargento e noCurso de Formação de Oficiais e, nos dias atuais, como membrode sua tripulação.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. O ESPAÇO DA CONSTRUÇÃO DO SABERAtualmente, as instituições, por vislumbrarem a consoli-

dação de seus interesses, devem se firmar, cada vez mais, naviabilização eficaz da produção do conhecimento, já que qual-quer inovação ou conflito tem que ser administrado por umamassa humana qualificada.

Essa afirmativa nos serve de base para a articulação doprocesso de fazer emergir o Centro de Instrução, que aproveitabem todas as oportunidades de interação com o aluno, paraviabilizar sua aprendizagem, sabendo que o cenário da aprendi-zagem não se resume ao ambiente de sala de aula; pelo contrá-rio, engloba todos os espaços escolares, e a apropriação dosaber requer, no mínimo, um comprometimento por parte de to-dos os envolvidos, pois faz parte de uma dimensão:

“(...) dimensão que ultrapassa a sala de aula para sesituar nos vários níveis que constituem a escola e lhe dãoforma; direção de turma, organização de horários, organiza-ções da biblioteca, gestão dos laboratórios, acompanhamen-to dos alunos, etc.” (ALARCÃO, 2006, p. 20)

Entende-se, por espaço escolar eficaz de viabilização deaprendizagem significativa1, o espaço que valoriza a aprendiza-gem, permeado pela preocupação de cumprir a tarefa de formarcom qualidade, viabilizando o aproveitamento e a produção ple-na das inovações e justificando todo o investimento aplicadocom a produção de bons resultados, mesmo sem os devidosmeios ou sem o atendimento dos preitos requeridos.

Podemos, em se tratando de ensino militar, afirmar que oambiente ideal para a construção do saber é:

- o espaço que concebe e mantém a tradição sem se tornarobsoleto, percebendo os problemas como uma transposiçãopara o sucesso e agregando o saber continuado;

- o ambiente comprometido em suprimir os entraves noprocesso de ensino-aprendizagem;

- o ambiente aberto para a troca de experiências e para avalorização do outro e convergido para a consolidação de re-sultados significativos, tendo como parâmetro o trabalho emequipe e a manutenção das atitudes corretas; e

- o ambiente que edifica para o indivíduo, para a institui-ção, para a sociedade e para a vida; que é norteado pela regula-

mentação, pela disciplina, pela hierarquia; que valoriza a harmo-nia, só abrindo mão em função da salvaguarda de um bem maior.

Assim, a diferença entre uma organização escolar militar euma organização escolar civil, entre outras, está no tipo do pú-blico-alvo com que se trabalha e no propósito que se desejaalcançar. Esta trabalha com indivíduos de uma sociedade,objetivando construir cidadania, enquanto aquela trabalha compessoas militares ou do meio civil, com o propósito de formá-laspara o exercício de atividades militares em tempo de paz ou deguerra, sendo que, tanto uma, quanto a outra, fundamentam-seem práticas pedagógicas relacionadas ao processo de ensino eaprendizagem dos seus respectivos públicos-alvos. É óbvio queo aluno, em qualquer uma das situações, requer um determina-do tipo de procedimento ou cuidado para que o seu desenvolvi-mento ocorra com qualidade.

2.2 A RELAÇÃO ORGANIZAÇÃO-MILITARNa verdade, sem a consolidação de uma aprendizagem sig-

nificativa no espaço escolar, o aluno e o professor não conse-guem valorizar o tempo e os recursos empreendidos no proces-so de formação, e a instituição, por sua vez, também perde, jáque o sucesso do aluno está diretamente ligado ao cumprimen-to profícuo do seu papel de formar.

Nesse contexto existe, por parte da instituição, a atuaçãoativa, advinda das orientações curriculares, que é aquela efetuadacom o propósito de conduzir indivíduos a uma determinadaaprendizagem, e a passiva, que, embora seja conduzida comoutros objetivos, também resulta no momento de aprendiza-gem, sendo que em ambos os casos não pode faltar o respeitocom o aprendiz, ou seja, ninguém tem o direito de dificultar oacesso à aprendizagem - o aluno é livre para aprender, e a insti-tuição, responsável pela viabilização do processo, não deven-do, portanto, ser desprovida de responsabilidade.

A relação, nesse espaço escolar, é traduzida pelo movi-mento entre a instituição e o indivíduo, de modo que o ganhoou a perda de um reflete diretamente na situação do outro. As-sim, como a atitude do aluno reflete no trabalho do docente, aatitude do docente reflete na vida do aluno. O mesmo ocorre dodocente para com o espaço escolar e vice-versa.

A organização e o indivíduo caminham no mesmo sentidoe devem respeitar-se mutuamente: um agrega valor ao outro; umperde para o outro ganhar. O ensino tanto o sistematiza comonão; guina na emersão de resultados significativos para ambos,sendo, nessa relação, o respeito ao outro a engrenagem princi-pal do engenho chamado construção do saber.

Desse modo, no CIASC, o espaço e o tempo de formaçãode um profissional são vistos com extrema relevância e comopatrimônio coletivo. As relações que o definem como CI sãoavaliadas a cada instante, não havendo um planejamento semum objetivo claro e sem uma cumplicidade de envolvimento.Entende-se que um futuro promissor é, também, construído nospequenos intervalos e nos momentos não formais - por exem-plo: o militar aprende durante o serviço, na formatura, no ran-cho, no alojamento, etc. Em suma, tudo aquilo que o militaraprende em sala de aula pode ser vivido fora dela, e tudo o queaprende fora pode ser trabalhado dentro dela.

Além disso, as questões de cunho individual são traba-lhadas, tempestivamente, a fim de evitar prejuízo à instituição,ao trabalho do professor e ao próprio processo de aprendiza-gem do aluno.

1 Definida, por alguns teóricos da educação, como a aprendizagem que se relaciona com o conhecimento pré-existente do aluno e agrega novos valores.

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2.3 A RELAÇÃO DOCENTE-DISCENTEDiferentemente do passado, hoje se visualiza um tipo de

militar não apenas voltado para a arte da guerra, capaz de matar,mas também em condições de ser empregado nas missões depaz, podendo atuar com o papel de negociador ou de polícia.Esse fato nos remete à mudança de paradigmas e à necessidadede alcançar um novo perfil de massa humana para o CFN.

Quando pensamos no pessoal do CFN, entendemos queuma das melhores maneiras para se transformar uma geração éatravés da imersão dos homens que exercem influência sobre elana de sala de aula, onde a construção do saber deve receber odevido investimento para ocorrer com qualidade.

Com isso, chamamos a atenção para o ambiente de quali-dade e de respeito ao saber, formado pelos docente e discente:entendemos que não cabe um procedimento reconhecido como“pobre”, ou seja, o professor não deve ensinar por ensinar (semque haja realmente aprendizado, sem que o aluno aprenda), oque é um verdadeiro faz-de-conta. Professores e alunos, com-prometidos uns com os outros, não trilham por esse caminho.Eles reconhecem o valor da sala de aula e, em comum acordo,não medem esforços para alcançar os bons resultados e paraconstruir, em sala de aula, a argamassa de edificação do sucessoeterno.

2.4 A RELAÇÃO COM O SABERO saber é, portanto, o foco das atenções. De uma forma ou

de outra, todos, desde o militar mais moderno ao mais antigo doCFN, estão comprometidos com as práticas realizadas no CIASC,uma vez que sua missão de formar com qualidade os oficiais epraças para o exercício de atividades militares (na paz ou naguerra) só poderá ser alcançada com a co-participação das Or-ganizações Militares do CFN, em face de serem elas a clientelado CI e terem melhores condições de avaliar a qualidade daformação do pessoal.

Dados o seu valor patrimonial e a responsabilidade peran-te o CFN, nenhuma atividade, por parte do CIASC, pode serrealizada sem a intenção de agregar valores intelectuais, e oaluno não pode assumir nenhum compromisso de maior rele-vância que o de construir o saber.

Todo o pessoal do CIASC que está ligado, direta ouindiretamente, ao ensino-aprendizagem, tem um papel muito im-portante a ser desempenhado no aspecto de dar sentido às suasatividades e ao próprio Centro de Instrução; portanto, sem acontinuidade de investimento de recursos materiais e humanos,o CIASC não pode cumprir o seu papel; não pode ficar limitadoao processo de construção do saber e, conseqüentemente, cor-rer o risco de ser ultrapassado por outras instituições de ensino,estando ciente de que as novas exigências impõem ao FuzileiroNaval a necessidade de lidar com outros povos e de conheceroutros mundos, sendo o sujeito da construção do seu própriosaber.

Inegavelmente, o sucesso do CIASC existe em função dacredibilidade que o CFN sempre lhe atribuiu, sendo essacredibilidade a mola mestra do saber, a certeza de apropriação daexcelência, tanto como CI quanto espaço da construção do saber.

3. CONCLUSÃO

No que tange ao ensino, vimos que o ambiente da constru-ção do saber nunca deverá ser desmerecido; pelo contrário: devesempre ser focado na busca pela qualidade, pois é nele que seencontram os sujeitos das ações pedagógicas - professor e alu-no, em uma relação de dependência entre si e com o universoque os cercam.

Nesse contexto, também vimos que o CIASC é exemplo.Ele “chegou até aqui”, porque sempre houve empreendimentode ações pedagógicas relevantes.

Sabe-se que a meta estabelecida de se tornar um Centrode Excelência não é algo muito fácil, porém não é nenhuma uto-pia. O resultado positivo se manifesta quando a formação dopessoal (oficiais, sargentos e cabos) se dá de maneira eficaz, ouseja, atualizada, com menos recursos, menos desgastes, menostempo, com elevada qualificação profissional e com capacidadede atuação em diferentes cenários, além do enaltecimento dosenvolvidos no processo.

Assim, os resultados já alcançados nos deixam tão próxi-mos do lugar almejado, que a materialização da excelência é sóuma questão de estabelecimento de metas; portanto, nesse mo-mento, uma boa reflexão deve ser desprendida, a fim de revelaros parâmetros dessa excelência e os indicadores de avaliaçãodo processo, para que o foco não se perca e a evolução doensino militar, no CIASC, possa tomar novos rumos, garantirnovos significados e não cessar nunca.

O fato é que, no meio século de existência, permeado deinovações e conflitos de ordem mundial e sempre contribuindopara com o brio do CFN, o CIASC “deu conta do seu recado”,apresentando uma massa humana bem formada, e não seria ago-ra que ele deixaria de corresponder às expectativas nele deposi-tadas.

Propus a minha contribuição, cônscio de que o assuntonão foi esgotado e que as respostas para as perguntas que meinstigaram a desenvolver a presente pesquisa continuarão emprocesso de reflexão, porém tudo o que foi alcançado me serviráde base para melhorar minha atuação como militar pertencente àtripulação do CIASC, ao CFN, à MB, e como aluno do curso depedagogia, comprometido com a pesquisa e com a valorizaçãoda educação em nosso país, com o propósito de incentivar ou-tros a prosseguirem no caminho de estudo sobre a prática doensino militar tanto no CIASC como em outros centros deinstrução da MB e das Forças Armadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALARCÃO, Isabel. Do Olhar Supervisivo ao Olhar Sobre aSupervisão. In: Rangel, Mary (Org).Supervisão Pedagógica: Princípios e práticas. Campinas, SP.Ed. Papirus, 2001.

ALBUQUERQUE, Carlos de. Almirante Sylvio de Camargo. Re-vista O Anfíbio. Rio de Janeiro, a.XXV, n. 24, p. 3-45, 2005.

O ensaio acima corresponde ao primeiro colocado sobre o tema “CIASC”

do 1º Concurso de Trabalhos Acadêmicos do CIASC/2008.

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“Não se pode ensinar tudo a alguém,pode-se apenas ajudá-lo a encontrar

por si mesmo.”

Galileu Galilei

O Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais do Corpo deFuzileiros Navais (CAOCFN) tem como propósito atualizar eampliar os conhecimentos dos Oficiais FN para o exercício decargos e funções em Estados-Maiores de Unidades (nível Bata-lhão) e Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais(GptOpFuzNav) até o nível Unidade Anfíbia (UAnf), com ênfa-se no caráter expedicionário das Forças de Fuzileiros Navais.

Seu currículo, contendo doze disciplinas conduzidas nodecorrer de 39 semanas, é dividido em cinco fases, com níveiscrescentes de complexidade, abordando os fundamentos dasOperações realizadas pelos GptOpFuzNav, os aspectos relacio-nados ao Processo de Planejamento Militar, Inteligência, Ope-rações Terrestres (Ofensiva e Defensiva), Operações Anfíbias(AssAnf e IncAnf), outras Operações Expedicionárias (ENC eOpPaz) e Operações Ribeirinhas.

Na atual concepção de ensino, após os fundamentosinerentes a cada Operação serem ensinados, são conduzidosEstudos de Casos e Temas Base, de forma a consolidar a apren-dizagem por meio de atividades práticas (planejamentosoperativos), que serão referência para o Trabalho de Estado-Maior a ser desenvolvido pelos grupos de Oficiais-alunos (OA),agora sendo avaliados.

Assim, a didática do Curso é alicerçada em umplanejamento de ensino que prevê os objetivos a serem alcan-çados, o conteúdo a ser desenvolvido e a avaliação adequada ànatureza da aprendizagem. Nesse processo de ensino-aprendi-zagem, o Instrutor deve atrair e manter a atenção do OA duranteas instruções, assim como integrar o assunto ao contexto dotipo de Operação conduzida. Dessa forma, os conteúdos teóri-cos são inseridos em uma situação prática, onde o interacionismoocorre em todo o processo de aprendizagem.

Atualmente, a educação tem sido objeto dequestionamentos, notadamente o processo de ensino-aprendi-zagem e a qualidade do ensino, dando-se relevo à diversifica-ção dos sistemas de aprendizagem com a aplicação de novastecnologias de informação e comunicação, que objetivem a re-novação do ensino, assim como o desenvolvimento do concei-to do auto-aprendizado e do aprendizado continuado ao longoda carreira.

E o CAOCFN? Como o curso poderá se alinhar para acom-panhar a evolução do processo de ensino-aprendizagem de for-ma a melhorar a qualificação de seus alunos?

É notório que o construtivismo tem se tornado cada vezmais popular em alguns países do mundo, particularmente pelofato de o computador aumentar o interesse dos alunos em apren-der, à medida que sugere uma participação ativa na construçãodo próprio conhecimento. Nesse aspecto, o curso desenvolveestudos para utilizar a ferramenta do ensino a distância (EAD) eministrar os fundamentos das Operações, o que capacitará o

Alunos do CAOCFN durante a realização de exercício deplanejamento militar.

Após o planejamento, um grupo de alunos, nos moldes de um Estado-Maior, apresenta seu trabalho à instrutoria e aos demais alunos.

Tutor a desenvolver a disciplina, abordando assuntos que nãonecessitam de um maior aprofundamento nos conceitos doutri-nários; porém, a principal proposta pedagógica refere-se à subs-tituição das aulas expositivas pelas discussões em grupo. Nes-sa técnica de ensino, os alunos são submetidos a uma situaçãohipotética, cujo objetivo é conduzi-los a realizar uma pesquisadirigida aos conceitos nos manuais para, em grupo, discutirem asolução do estudo de caso prático apresentado. Sob a supervi-são de um Oficial Instrutor Orientador, todos os integrantes dogrupo são estimulados a exporem seus respectivos pontos devista, uma vez que isso permite o aproveitamento de experiênci-as individuais, o desenvolvimento do espírito de liderança, otrabalho em grupo e, principalmente, a construção de um co-nhecimento profissional a respeito do tema que está sendo dis-cutido. Ao final do estudo em grupo, o Instrutor responsávelpelo assunto reúne todos os OA na sala de aula, onde poderáreforçar os pontos polêmicos em que foram constatadas dúvi-das, assim como os aspectos mais importantes do tema.

Desse modo, a despeito de o CAOCFN já possuir a cul-tura de atualização contínua de seu currículo para atender àsnecessidades operativas, o Curso não poderia deixar de acom-panhar a evolução pedagógica, passando, então, a implementartécnicas de ensino que permitam a maximização do processo deensino-aprendizagem, de forma a entregar ao setor operativoOficiais cada vez mais capacitados.

A evolução do processo de ensino-aprendizagem noCAOCFNCF (FN) Alberto Rodrigues Mesquita Júnior

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O CFN forma os seus sargentos no Centro de InstruçãoAlmirante Sylvio de Camargo, organização militar subordinadaao Comando do Pessoal de Fuzileiros Navais (CPesFN). NoCIASC, os até então cabos de várias especialidades realizam oCurso Especial de Habilitação para Promoção a Sargento (C-Esp-HabSG), no qual são submetidos a uma intensa vidaacadêmica que engloba o estudo de diversas disciplinas, taiscomo Administração Naval, Gestão Contemporânea, LegislaçãoMilitar, Operações Anfíbias, Instrução Básica de Combate,Treinamento Físico Militar, Ordem Unida, Armamento e Tiro,Noções de Técnica de Ensino e Liderança, esta última comênfase no estudo das relações humanas e do direitointernacional humanitário.

Além do Curso de Habilitação, as praças especiais músicosque são selecionadas através de concurso público, realizam oCurso de Formação de Sargento Músico (C-FSG-MU), no qualsão submetidas a um estágio de adaptação às vidas militares e,após esse período, estudam as mesmas disciplinas constantesdo curso de habilitação.

Os Cursos têm a duração de, respectivamente, 20 e 21semanas, e durante o seu transcorrer também são realizadasdiversas atividades profissionais de cunho prático, como oadestramento na rede de transbordo, evento no qual é simulado,em uma torre, o desembarque de pessoal e material de um naviopara uma embarcação de desembarque (ED). É realizado, também,o adestramento com aeronave, mais conhecido como movimentohelitransportado, atividade na qual os alunos realizam embarquee desembarque de helicóptero, um dos meios utilizados paratransporte de tropas em Operações Anfíbias e Terrestres.

O coroamento dos Cursos se dá com a realização do

Formatura dos novos Sargentos

Exercício de Sobrevivência no Mar

Exercício Prático no terreno denominado “MARAMBEX-I”,adestramento realizado na Ilha da Marambaia-RJ, onde os alunoscolocam em prática todos os conhecimentos adquiridos duranteo transcorrer de todo o curso, sendo avaliados nas vertentesprofissional e pessoal, com estímulo constante à preservaçãodas tradições navais e do tão conhecido espírito de corpo,característica marcante dos combatentes anfíbios.

Assim ocorre todo o processo de formação dos novossargentos fuzileiros navais, priorizando-se a formação de umatropa profissional que, após o Curso de Formação e Habilitação,estará apta para uma nova etapa de sua trajetória: os cursos deaperfeiçoamento.

A formação dos sargentos no CFNCT(FN) Fábio Félix Ribeiro

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“A liderança não se impõe,conquista-se pelos exemplos.”

Lars Grael nasceu em 09 de fevereiro de 1964 na capital deSão Paulo. É irmão de Torben Grael, velejador e um dosprincipais atletas brasileiros.

Como filho de militar, Lars morou em várias cidades, masaos 16 anos foi morar com a avó em Niterói (RJ), onde pôdelevar adiante a prática da vela e o sonho olímpico. Niterói foi oponto de partida para os irmãos Torben e Lars Grael entrarempara a galeria dos maiores velejadores brasileiros de todos ostempos.

Lars Grael em palestra ao CIASC

Como atleta, Lars Grael é titular de duas medalhas debronze: uma foi conquistada nos Jogos Olímpicos de Seul, ea outra, em Atlanta. Foi, ainda, campeão mundial na classeSnipe em 1983, na cidade do Porto, decacampeão brasileiro epentacampeão sul-americano na classe Tornado. Além deatleta exemplar, foi uma liderança em todas as classes e clubesem que velejou, chegando até a ocupar cargos de direção emalgumas delas, como a Tornado, Soling e Oceano.

Em setembro de 1998, Lars sofreu um grave acidenteem Vitória, que causou a mutilação de sua perna direita. Ovelejador teve que se afastar da prática esportiva por algumtempo, dedicando-se, todavia, ao fomento do desporto apartir de uma outra perspectiva: a política, exercendo cargosnos governos federal e no de seu estado natal. Ao longo desua vida, Lars sempre se interessou por política, umatradição herdada do pai.

Em 1998, foi convidado pelo então Presidente daRepública Fernando Henrique Cardoso a ocupar o cargo deSecretário Nacional de Esportes no Ministério do Esporte eTurismo. Algum tempo mais tarde, foi convidado a assumir aSecretaria da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de SãoPaulo, cargo que ocupou até março de 2006.

Recentemente, Lars Grael voltou a se dedicar à vela,atuando na classe Star com o proeiro Marcelo Jordão,classificando-se em terceiro lugar no campeonato brasileirode 2006. Foi campeão brasileiro da Classe Oceano, campeão

carioca, brasileiro e bicampeão sul-americano na classe Starem 2008 e continua ativo na vela.

Lars Grael escreveu um livro intitulado “A Saga de umCampeão”, obra que vale a pena ser lida por todos os queacreditam na força humana e na capacidade de superação dohomem diante de obstáculos. Em um trecho do seu livro,transcrito a seguir, Lars demonstra seu patriotismo, seu orgulhode ser brasileiro e sua alegria em ser um atleta olímpico:

“Lembro muito bem minha emoção em Atlanta aoconquistar a medalha de bronze. Quando atingi a linhade chegada, a primeira coisa que fiz foi pegar a nossabandeira e balançá-la, celebrando e compartilhandoaquela vitória com o povo brasileiro”.

Em 1998, juntamente com seus irmãos, fundaram, emNiterói, o Projeto Grael, com o objetivo de instruir edisseminar o conhecimento náutico, tendo como público-alvo os estudantes da rede pública de educação. Essainiciativa conta hoje com 43 núcleos, que já atenderam maisde 40 mil crianças em todo país.

Devido, principalmente, à sua trajetória olímpica, aoacidente que sofreu, à sua superação e à sua visão política,Lars Grael despertou o interesse de instituições públicas eprivadas. Assim sendo, despertou também o interesse doCIASC; afinal, garra, superação e espírito de corpo são lemasno âmbito militar, e uma palestra contribuiria para a instruçãoe a formação do nosso Corpo de Fuzileiros Navais; por isso,Lars Grael foi convidado a proferir uma palestra versandosobre o tema “Liderança e Superação”, a fim de compartilharum pouco de suas experiências com os militares do CIASC.Aceitando gentilmente esse convite, Lars Grael proferiu suapalestra em vinte de agosto de 2008, patrocinada pelaCompanhia Light S.A., no auditório do CIASC. Em sua fala,o atleta nos deu exemplos de liderança, superação e amorao esporte e à pátria, sentimentos de suma importância àformação dos militares-alunos Fuzileiros Navais. Esseevento contou também com a presença do Exmo. Sr. Contra-Almirante Gener Martins Baptista, Comandante do Centrode Instrução Almirante Alexandrino (CIAA).

Em sua palestra, Lars Grael mencionou que a Marinhado Brasil sempre deu suporte à vela brasileira, por meio daprevisão meteorológica de maré fornecida pela Diretoria deHidrografia e Navegação (DHN), suporte esse fundamentalpara a projeção da vela no âmbito dos esportes nacional einternacional. Mencionou, ainda, que na vela oceânica deveexistir espírito de equipe, comprometimento, disciplina ecomando, valores que ele relacionou à carreira naval de umatropa seleta, como os Fuzileiros Navais, o que ele considerarelevante para o progresso do poder humano componentedas Instituições Militares. Destacou também que osmilitares, assim como os atletas, por serem destemidos, teremcoragem e bravura, são capazes de transformar uma utopiaem realidade, através de treinamento, dedicação e motivação.Ressaltou que, mesmo diante da falta de recursos materiais,por vezes observada tanto na vela como no militarismo,ambos possuem, no seu recurso humano, a capacidade deenfrentamento das adversidades através da ênfase noaperfeiçoamento técnico.

Lars Grael - Exemplo de Liderança e Superação1Ten(CD) Angélica Regina Rodrigues Pinheiro

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Em 23 de outubro do corrente ano, o Centro de InstruçãoAlmirante Sylvio de Camargo, na busca do aprimoramentotécnico-profissional da sua tripulação, recebeu a visita do Ilmo.Sr. CF VICTOR ROBLES, que proferiu palestra versando sobre aoperação CHAVIN DE HUANTAR na Embaixada Japonesa, emterritório peruano.

Operação bem-sucedida de resgate de reféns, executadapor tropas peruanas, teve como aspectos importantesapresentados pelo palestrante: o seu longo tempo de duração, ainfluência exercida pela mídia internacional sobre ela, a importânciado seu planejamento detalhado e a capacidade de adaptaçãodas tropas peruanas frente aos imprevistos ocorridos por ocasiãodo assalto à Embaixada.

Todos os presentes ao evento agregaram comoconhecimento os ensinamentos proferidos e puderam verificarque situações de crises com confinamento de reféns devem sertratadas com seriedade e com tropas de alto grau de prontidão eadestramento.

A OPERAÇÃO

Em 19 de dezembro de 2006, a cidade de Lima, no Peru,abateu-se com a notícia de uma invasão à residência doEmbaixador do Japão, durante uma recepção com cerca de 800convidados, dentre os quais estavam presentes personalidadespolíticas, civis e militares, em celebração à festa de aniversáriodo Imperador deste país.

Tratava-se de uma ação do grupo terrorista MovimentoRevolucionário Tupac Amaru (MRTA), contando com quatorzemembros que planejaram a ação em prol da libertação de 400 deseus companheiros, também membros desse grupo terrorista,que cumpriam pena em prisões peruanas.

Desde o primeiro momento, os olhos do mundo voltaram-se para o Peru, aguardando qualquer reação do governo deAlberto Fujimori, que adotou uma política de espera, recusando-se a atender a qualquer demanda dos seqüestradores. Asnegociações com os terroristas em prol da libertação dos reféns

mantinham-se infindáveis. Em paralelo, o governo decidiu poradotar uma tática de desgaste psicológico contra os terroristas,que tiveram a luz e a água da Embaixada cortadas; carros comalto-falantes circulavam ao redor do prédio, tocando músicasmilitares e canções patrióticas; grupos de policiais bemprotegidos jogavam pedras no prédio, disparavam tiros para oar e gritavam palavrões, privando-os de sono e descanso, natentativa de provocar uma reação.

Junto à tática de enervação aos terroristas, uma força deelite treinava e se equipava para uma possível operação deresgate. Os militares peruanos conseguiram infiltrar um repórterna Embaixada para que pudessem obter informações sobre oprédio, quantos eram e que armamentos os terroristas possuíam,além de se inteirarem a respeito da real situação dos reféns.

Mesmo com a divulgação de notícias pelas rádios, de queos militares treinavam um grupo incursor e que túneis estavamsendo cavados em direção à Embaixada como uma tática de açãopara uma possível invasão, os terroristas permaneciam confiantes

Operação Chavín de Huantar: uma demonstraçãode valiosos preceitos na condução de uma táticade operação1Ten(RM2-S) Sheila Fontes Miliante

CF Victor Robles apresentando palestra sobre a operação.

Assim, a maneira como o homem Lars Grael enfrentoua luta pela vida, a aceitação de sua nova condição, osnovos desafios, as mudanças de planos e objetivos, a lutacontra o preconceito e as novas vitórias no esporte e nagestão pública, motivaram o convite para a palestra comoum instrumento de liderança pelo exemplo e pela motivaçãoaos militares–alunos em formação no CIASC.

Por fim, o atleta pode ser considerado um soldado dapátria no esporte, e o militar Fuzileiro Naval, um soldadoda pátria na defesa nacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CARNEIRO, Marcelo. De volta à vida. Veja, Rio de Janeiro,7 jan.2004. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/070104/entrevista.html>. Acesso em: 29 jul. 2008.

2. ALVES, Marcos. Bons ventos. NovaFisio, Rio de Janeiro, jul/ago.2005. Disponível em: <http://novafisio.com.br/entrevista_lars.htm>. Acesso em: 29jul. 2008.

3. GRAEL, Lars. Site pessoal. Disponível em: <http://www.larsgrael.com.br/conteudo.asp?cdContent=8>. Acessoem: 29jul.2008.

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de que a opinião pública não permitiria um ataque militar aoprédio. O grupo revolucionário relaxou e passou a viver umarotina diária tranqüila, com ações que contribuíam para certograu de envolvimento amigável entre reféns e terroristas, quechegavam a organizar, juntos, partidas de futebol. Os terroristaspouco reagiram à ação dos militares: apenas trocaram oalojamento dos reféns do térreo para o primeiro andar do prédio,ação que eventualmente ajudou a diminuir o risco de ferimentospor ocasião da explosão para a entrada do grupo de resgate.

Apesar de considerados incapazes de deflagrarem umaoperação infalível em resposta à invasão, as Forças Especiais ea Policia peruana atuaram de forma minuciosa e disciplinada notrabalho de inteligência militar, técnica e humana, selecionandoseus melhores membros entre todas as Forças Armadas e setransformando numa única unidade coesa, que passou a atuar,com apreciação permanente da situação, de forma flexível,tranqüila e submissa, o que levou os terroristas a relaxarem suavigilância, certos de que obteriam todas as suas solicitações.

O grande golpe estratégico da invasão ao prédio pelosmilitares iniciou-se na noite anterior, quando metade da força de142 comandos deslocou-se para próximo ao edifício e,silenciosamente, começou a tomar suas posições de ataque.Outros setenta militares formaram um perímetro externo ao redordo prédio e oito snipers posicionaram-se em prédios adjacentespara dar fogo de proteção. O pessoal restante foi dividido emtrês grupos de ataque.

O presidente Alberto Fujimori deu a ordem para o ataqueno dia 22 de abril de 1997, quatro meses após a invasão daEmbaixada pelo MRTA, o qual foi iniciado com explosõescausadas por cargas que foram inseridas, cuidadosamente,debaixo dos pisos da sala principal e da cozinha, através dostúneis que haviam sido cavados.

O primeiro grupo emergiu de um túnel cavado até o jardimda Embaixada, atacou as áreas de serviço e subiu até o segundo

andar. Um segundo grupo, que havia arrebentado o portão oestedo complexo, tomou a entrada principal da Embaixada e os ladosnorte e sul do prédio. O terceiro grupo escalou o muro norte doperímetro. Cargas de demolição foram usadas para abrir buracosnas paredes do prédio, e os atacantes partiram em busca dosreféns. Um minuto apenas depois de ouvida a primeira explosão,os comandos já entravam no prédio principal. O resgate de todosos 72 reféns durou apenas 28 minutos, quando a bandeira doMRTA, que havia sido hasteada por ocasião do ataque terrorista,já se encontrava arriada e queimada. Nenhum terroristasobreviveu ao ataque.

A Operação Chavín de Huantar obteve um êxito táticojamais imaginado, demonstrando, em nível operacional,profissionalismo e treinamento tecnificados dos executores,maturidade para atuar no momento decisivo, ímpeto dos militaresenviados à histórica ação, coordenação milimétrica e decisãoprecisa, a partir de um sistemático trabalho de Estado-Maior,demonstrando valiosos preceitos na condução desse tipo deoperação, podendo ser definida como clássica.

Por ocasião da palestra, pode-se verificar que nem todasas ações planejadas foram executadas com perfeição, haja vistaque, por mais detalhadas que fossem as informações e ostreinamentos, havia fatores desconhecidos que, emdeterminados momentos, interferiram nas ações correntes. Ficao ensinamento de que a atenção no controle da ação em curso éfundamental para o sucesso de qualquer operação.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LINDSEY, George Lee. Operação Chavín de Huantar: a retomadada Embaixada do Japão em Lima. SOF – História, Brasília, 10mar.2008. Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/sof/chavin_huantar.htm>. Acesso em: 10set.2008.

Entrevista com o CMG(FN-RM1) Wagner Junqueira de Souza,

Comandante do CIASC no período de 13/03/1997 a 11/02/1999

CIASC: Na visão do Sr., qual a importância do CIASCpara o CFN?

CMG (FN-RM1) JUNQUEIRA: Não se pode falar nonosso CFN de hoje sem que nossa mente perscrute a décadade cinqüenta no século passado, mais especificamente omês de dezembro de 1955, quando foi inaugurado o Centrode Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais. Entendo quepor uma questão de justiça e de reverência, não devamosdiscorrer sobre o nosso Centro de Instrução sem queabordemos uma breve biografia de seu idealizador e grandeprotagonista - o Almirante Sylvio de Camargo. Pode-seafiançar que a história do nosso Centro se confunde commomentos intensamente vivenciados pelo Alte. Camargotendo em vista a sua criação.

Mineiro, e dos bons, nascido em 16 de fevereiro de1902 em uma pacata cidade do sul de Minas Gerais (SANTARITA DO SAPUCAÍ), deu início à sua carreira militar ao

ingressar na Escola Naval em 1919, tendo sido nomeadoGuarda-Marinha em 1922.

Como Segundo-Tenente do Corpo da Armada e porquestões meramente circunstanciais, travou contato comuma tropa de Fuzileiros Navais, ocasião em que percebeuque lhes faltava conhecimento doutrinário adequado,apesar de reconhecê-los valorosos, por possuíremdisciplina e extrema dedicação ao trabalho. Percebeu,também, que a própria Marinha não possuía acervodoutrinário apropriado ao emprego dessa tropa emoperações navais de caráter terrestre. Esse fato marcousobremaneira a trajetória de sua carreira, fazendo com que,desde cedo, jamais perdesse o foco de buscar soluçõespara o aprimoramento profissional dos Fuzileiros Navais.

Como Capitão-Tenente, por volta de 1929, foiconvidado para servir no Regimento Naval, o que aceitouprontamente. Após a criação do Corpo de Fuzileiros Navais,em 1932, o então Capitão-Tenente Sylvio de Camargo foi

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transferido para o Quadro de Oficiais do CFN. Nessacondição, foi designado para estagiar junto aos RoyalMarines, ocasião em que, verdadeiramente, pôde aquilataras deficiências doutrinárias presentes em nosso CFN,cristalizadas em sua mente desde os primórdios de suacarreira de oficial.

Em 1945, o mundo vivenciou o fim da Segunda GrandeGuerra e se encontrava sob forte influência do sucessoobt ido pelos norte-americanos nas Campanhas doPacífico, em Teatro pontilhado pelas Operações Anfíbias,grandes protagonistas dos sucessos até então obtidos.

Por mera coincidência, em novembro desse mesmoano, o então Capitão-de-Mar-e-Guerra Sylvio de Camargofoi promovido ao posto de Contra-Almirante e nomeadoComandante Geral do CFN em 17 de novembro. Felizcoincidência para o nosso CFN. Aproveitando-se daquelemomento e impulsionado pela ânsia do preenchimento dalacuna doutrinária observada no âmbito do CFN desde oinício de sua carreira, o Almirante Sylvio de Camargoutilizou todas as suas astúcia, inteligência e determinação,além de seu senso de oportunismo e sua capacidade deconvencimento para sensibilizar a Alta AdministraçãoNaval a alocar recursos para a construção do, hoje, nossoCentro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo,inaugurado em 28 de dezembro de 1955, com o nome deCentro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais. Já noano seguinte, em março de 1956, tiveram início os Cursosde Formação de Cabos e os de Formação e Aperfeiçoamentode Sargentos.

Com esse fe i to , pôde, o Al te Camargo, verconcretizado o sonho que tanto alentou, o da construçãode um centro de instrução, próprio dos Fuzileiros Navais,pedra fundamental para sustentar a evolução qualitativado nosso pessoal, conforme a sua destinação.

Para complementar esse grande feito, a Marinhadesignou oficiais para cursarem no USMC e aquiministrarem os conhecimentos da doutrina anfíbia,desenvolvida e consagrada durante a Segunda GrandeGuerra no Teatro de Operações do Pacífico.

Este breve histórico sintetiza tudo aquilo que o CIASCrepresenta para nós, Fuzileiros Navais. Nele, encontramos,verdadeiramente, a origem dos Combatentes Anfíbios,tropa profissional que goza de prestígio e reconhecimento,não só no meio militar, mas também, no seio da nossasociedade civil.

Todo militar profissional do CFN, seja oficial ou praça,passou, em algum momento da carreira, pelo nosso Centrode Instrução, ocasião em que agregou conhecimentos paramanter o nosso CFN dentre os mais bem preparados domundo.

Utilizando linguagem técnica quando do estudo dascaracterísticas de uma Área de Operações - Estudo Táticodo Terreno, das Condições Climáticas, Meteorológicas eHidrográficas, o CIASC é um ponto de passagemobrigatória na dinâmica da carreira dos Fuzileiros Navais,sejam oficiais ou praças. Dessa forma, nessa linguagemlargamente utilizada por nós, no CAOCFN, caracteriza-seo CIASC como um Ponto Crítico e, como tal, sua utilizaçãoreveste-se de cuidados especiais, apropriados ao ambienteoperacional no qual está inserido.

CIASC: Quais as principais mudanças que o Sr. julganecessárias para que o CIASC se transforme em umCentro de Excelência?

CMG (FN-RM1) JUNQUEIRA: Embora todos nóstenhamos uma idéia do que seja “excelente”, ou seja,aquilo que nos agrada sobremaneira, entendo ser esseum conceito caracterizado por relatividade e subjetividade.

Diz o Aurélio: “substantivo feminino significando:qualidade de excelente; primazia; no grau mais alto;acima de tudo”. Portanto, ao transportarmos essesconceitos para o nosso Centro, cabe-nos questionar –Como se situa a Marinha frente a tais conceitos? Entendoque, embora os estabelecimentos de ensino devam serprioridade no âmbito de qualquer instituição, eles nãodevem estar muito discrepantes em termos de equalizaçãofrente aos demais órgãos, naquilo que tange à distribuiçãoe ao aprimoramento dos recursos de toda ordem.Considerando que o CIASC impacta pelo visual, é possívelque algumas administrações tenham se equivocado noestabelecimento do grau de atenção apropriado a estabelíssima Unidade de Ensino do nosso CFN.

Todavia, entendo que o CIASC já tenha nascidogrande e com vocação para continuar grande. Grande emtudo. Nasceu com aura de excelente. Essa excelência seassenta nas dimensões de suas construções, no seubel íss imo conjunto arqui te tônico, no espír i todisciplinado, abnegado e determinado da sua tripulação,focada em sempre fazer o melhor, e na ousadia de seuprojeto que, para a época, estava superdimensionado, mascom visão estratégica para o futuro. A sinergia de todosesses fatores resulta em uma aura que a todos contagia,inebr ia e encanta . Confesso que, a par dasresponsabilidades que me estariam sendo acometidas nosidos de 1997, senti-me extremamente honrado, envaidecidoe profissionalmente realizado, ao assumir o Comando desteCentro em março daquele ano. Foram quase dois anos deintensa realização profissional. A cada dia que retornavapara bordo podia perceber o halo todo especial querevestia e continua a revestir este Centro.

Jamais pode deixar de ser considerado que, passadosmais de cinqüenta anos desde a sua inauguração, o CIASCcontinua atendendo aos anseios do CFN, ministrando aDoutrina Anfíbia e outros conhecimentos, seja no âmbitode oficiais ou no de praças, para que perpetuemos comosoldados profissionais. É uma OM que nasceu com fortepersonalidade, predestinada a jamais ceder o posto deprincipal protagonista na história do nosso CFN.

Todavia, as instituições não vivem em processoadiabático. Por melhor que tenham sido planejadas eimplementadas, sofrem, ao longo dos anos, influências dasincertezas que estão no seu entorno, particularmente daspolíticas que provêm aporte de recursos.

Em passado recente, vivenciamos políticas financeirasdefinidas por orçamentos apertados e contingenciamentode recursos de toda ordem, afetando não só o CIASC, masa Marinha como um todo. Apesar disso, concluiu-se quechegara o momento de priorizar o CIASC e promovermelhorias, não só nos setores que dependem de recursosfinanceiros, mas em todos os outros que, também, são-lheintervenientes.

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Assim, o Comando-Geral do CFN baixou, em 2007, umaOrientação Setorial (ORISET) com o fito de promover asmelhorias julgadas pertinentes e arremeter o nosso Centroa um patamar de excelência. Esse ato desencadeou váriasprovidências, dentre elas a criação de um grupo de trabalhono CIASC que, capitaneado pelo seu Comandante, realizouvisitas a instituições de ensino no âmbito da MB e doExército Brasileiro, com a finalidade de se obteremparâmetros de referência.

Foi elaborado, então, um ofício, em novembro de 2007,para CPesFN, apresentando uma análise dos problemaslevantados, identificados e sugeridos, os objetivos a serematingidos e as metas a serem estabelecidas que, emconjunto, definirão os caminhos a serem percorridos nanobre empreitada. O documento estabeleceu comoobjetivos:

- identificar os recursos humanos afetos às atividadesa serem exercidas no CIASC;- captar e capacitar os recursos humanos para oexercício das diversas atividades do CIASC;- valorizar a função de instrutoria e elevar o nível desatisfação profissional;- aprimorar o sistema de avaliação acadêmica;- melhorar a infra-estrutura;- consolidar o CIASC como centro de difusão deconhecimentos; e- buscar alternativas para o custeio das atividadesdesenvolvidas pelo CIASC.Cabe ressaltar que várias dessas providências já se

encontram em andamento.Claro está que esse é um longo processo e que, após

implementado, carecerá de permanente vigilância para quenão se torne obscurecido com o passar do tempo.

Quero aproveitar esta oportunidade para fazer algumasoutras colocações que, na minha opinião, poderão colimarcom o propósito de implementar profundas melhorias noCIASC.

A primeira, bem abrangente, a ser implementada naMarinha como um todo, é o projeto NETUNO, que recebeucomo orientação do Comandante da Marinha: “Estudar epropor ações para a implementação de um programadinâmico de excelência de gestão, de acordo com oDecreto nº 5.378/2005, que estabeleceu o GESPÚBLICA,visando aprimorar o desempenho Institucional, focadona valorização e capacitação humana e caracterizadopor ações que otimizem processos e permitam ogerenciamento de projetos, levando-se em consideraçãoos resultados obtidos com os processos anteriores deGestão da Qualidade Total (GQT), GestãoContemporânea (GECON) e Reengenharia (RGA)”.

Essa orientação não deixa dúvidas sobre o propósitodo Projeto NETUNO e será um instrumento de grande valiapara, em futuro breve, ajudar a manter o CIASC com odesempenho visualizado pela Alta Administração daMarinha, em particular pelo Comando-Geral do CFN.

Nesse particular, é interessante mencionar que o CIASCconstituiu um GT que vem trabalhando de forma incansávelno sentido de implementar, o mais rápido possível, omencionado Projeto.

A segunda, refere-se à questão do ensino a distância.Segundo José Manuel Moran, Professor da UniversidadeBandeirante, SP, e Assessor do Ministério da Educação, paraavaliação dos cursos a distância, esse processo de ensino-aprendizagem é mais apropriado para o ensino de adultos,em especial para aqueles que já têm experiência consolidadade aprendizagem individual e de pesquisa, como aconteceno ensino de graduação e pós-graduação.

Entendo que o corpo discente do CIASC se insereperfeitamente nesse conceito, particularmente no âmbito deoficiais. Mesmo em se tratando de praças, é importanteconsiderar que um número cada vez maior está cursando oujá possui o 3º Grau.

Em particular, para o CAOCFN, a adoção desse processoseria de extrema valia, pois permitiria que o curso fosserealizado em dois módulos: um a distância, ocasião em queseriam ministrados, tão somente, conceitos doutrinários, eoutro presencial, permitindo uma maior profundidade naexploração dos planejamentos, fossem eles Temas Base ouTrabalho de Estado-Maior, otimizando o processo ensino –aprendizagem.

De maneira semelhante, acho que um ponderávelnúmero de Cursos Expeditos e Extraordinários poderia,também, ser conduzido a distância, pois segundo o ProfessorMoran, vários cursos conduzidos a distância são, narealidade, semipresenciais.

A adoção de um Programa de Ensino bem planejado,associado ao processo de ensino-aprendizagem a distância,permitirão ao CIASC economizar meios, considerando a suacapacidade instalada. Hoje, os alojamentos disponibilizamcerca de duzentos e setenta (270) espaços para a formação/aperfeiçoamento de SG e de quatrocentos e oitenta (480)espaços para a especialização. Nessa totalização, deve serconsiderada, também, a demanda decorrente dos cursosextraordinários/expeditos. Entendo, portanto, que a adoçãodesse processo estaria, também, perfeitamente colimada comas diretrizes emanadas pelo Comando-Geral do CFN, nosentido de buscar o patamar excelente para o CIASC

Por último, quero mencionar a previsão de aumento deefetivo para o CFN para os próximos vinte anos, estimadaem trezentos (300) oficiais e três mil e quinhentas (3.500)praças. Claro que esse aumento trará reflexos para o CIASCna medida em que passará a demandar mais recursos eespaços, em especial na utilização de alojamentos, salas deaulas e rancho. É bom mencionar que já se está trabalhandopara isso e que foi realizado um estudo preliminar para seadequar o CIASC a esse cenário do futuro, obtendo-se umaidéia das alterações que terão de ser realizadas em sua infra-estrutura. Uma rápida análise do problema evidencia, maisuma vez, a importância da questão relativa ao processoensino-aprendizagem a distância, já que permite economizaros meios intrínsecos ao aluno presencial.

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Formação Militar Naval1SG-FN-IF Anselmo Ferreira dos Santos

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo,uma das OM subordinadas ao CPesFN, é a OM de Ensinoresponsável pela condução dos mais importantes cursos decarreira, tanto para praças como para oficiais. Sendo assim,anualmente recebemos Fuzileiros Navais para aqui seremmatriculados nos seguintes cursos de carreira:

• Curso de Aperfeiçoamento para Oficiais do CFN(CAOCFN);• Curso de Especialização em Guerra Anfíbia(CEspcGAnf);• Estágio de Especialização em Guerra Anfíbia (EEGAnf);• Curso Especial de Habilitação para Promoção aSargento (C-Esp-HabSG);• Curso de Aperfeiçoamento de Sargento (C-Ap);• Curso de Formação de Sargentos Músicos (C-FSG-MU);• Curso de Especialização (C-Espc).

Nesse contexto, abordaremos a Formação Militar Navaldo Aluno do Curso Especial de Habilitação para Promoçãoa Sargento (C-Esp-HabSG), pois esse é, com certeza, dentreos cursos de carreira de praças, o de maior importânciapara o CFN.

Apresentação para o cursoAs formaturas diárias, as inspeções e as instruções de

Ordem Unida são ferramentas importantes para se alcançar oelevado padrão disciplinar de um aluno do C-Esp-HabSG.

Treinamento físico militarAtualmente, já não se discute a importância da atividade

física praticada de forma inteligente e planejada. Inteligente,porque se devem ter objetivos definidos que possam direcionaras atividades por que se opta praticar; e, planejada, porquedevemos fazê-la com método e perseverança, buscandoresultados que propiciem uma melhor qualidade de vida,beneficiando tanto o plano físico quanto o psicológico do serhumano. Sendo assim, a prática de TFM, além de ser umaatividade curricular e, portanto, executada diariamente na rotinado aluno, é também uma importante ferramenta deconscientização da importância que o futuro Sargento FN devedar ao bom preparo físico de seus subordinados.

Jogos EscolaresEssa competição visa, além de revelar possíveis atletas

para comporem as equipes representativas da Marinha para oMARESAER (evento esportivo anual em que as escolas deformação de sargentos das três Forças se confrontam), integraros alunos, a fim de se criar um espírito de turma, oferecendo-se-lhes uma oportunidade de mostrarem suas habilidades, seustalentos e o trabalho desenvolvido em suas Unidades anteriores.

Foram disputadas as seguintes modalidades:1-futebol de campo;2-vôlei;3-natação;4-corrida rústica; e5-basquete.

Início da jornada de 22 semanas, em que os Cabos FN das mais diversas especialidades se recordarão dos seus dias de recrutamento.

Corrida rústica do CFN

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MARESAER

Importante competição esportiva entre as Escolas deFormação de Sargentos das Forças Armadas, tem porfinalidade integrar os alunos destes Estabelecimentos deEnsino Militar: o Exército, representado pela ESA (Escola deSargentos das Armas); a FAB, pela EEAR (Escola deEspecialistas de Aeronáutica); e a Marinha, representada peloCIASC e pelo CIAA.

A formação acadêmicaA sala de aula é o local onde os alunos do C-Esp-HabSG

adquirem todo o embasamento teórico-profissional paraposterior aplicação prática em exercícios de campo. Elestambém assistem a aulas de Informática e Língua Inglesa,que não fazem parte do ensino profissional, mas muitoaprimoram a formação desses futuros Sargentos FN.

Exercícios curriculares de campoEssas atividades conferem, aos alunos, a oportunidade

de praticarem toda a gama de conhecimentos que lhes foipassada em sala de aula, bem como a consolidação dosensinamentos e o aprimoramento da sua capacitação técnico-profissional.

Exercícios de Campo

Passeio marítimo

Visita ao museu do CFN Cerimônia de encerramento do C-Esp-Hab-SG/2008

Atividades extracurricularesAo longo do curso, os alunos participam de várias

atividades que ocorrem fora da sala de aula, como, porexemplo, visitas a museus, cujos objetivos são enobrecersua formação e aliviar a pesada rotina a que são submetidosdurante o período letivo.

Cerimônia de encerramentoEsse evento simboliza a coroação de todo o processo de

formação pelo qual o aluno do C-Esp-HabSG se submeteu aolongo das 22 semanas de aulas; a troca de divisas é, semdúvida, o momento mais esperado por todos, quando ossargentos recém-promovidos as ostentam pela primeira vezem suas carreiras.

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo éum estabelecimento de ensino destinado a promover diversoscursos de carreira para oficiais e praças do Corpo de FuzileirosNavais. O Corpo de Alunos é o departamento responsávelpelo corpo discente das praças, cujo principal curso é o deFormação de Sargentos, tarefa destinada aos instrutores da2ª. Companhia, que se empenham em estimular seus aprendizese reforçar a dedicação que cada aluno já deposita em suacarreira.

Para a realização dessa árdua missão, são selecionadosos cabos de carreira de diversas especialidades e de váriaspartes do Brasil, que se submetem a intenso adestramento, oque lhes aprimora o caráter, desenvolve a capacidade física eo conhecimento da profissão militar.

É necessário observar algumas características suigeneris do próprio plano de carreira da Marinha para entenderque a formação do futuro Sargento Fuzileiro Naval ocorreinterdisciplinarmente com as experiências adquiridas ao longoda carreira de cada militar selecionado, que galga essa carreiraprimeiramente como Soldado e depois como Cabo para,finalmente, atingir o objetivo de todo Praça Fuzileiro Naval,que é chegar à graduação de Sargento.

ADSUMUS.

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CIASC - Breve histórico

Em 1948, tendo percebido que o nível de instrução dosFuzileiros Navais no Brasil era muito baixo, o então CA (FN)Sylvio de Camargo constatou que o Corpo de FuzileirosNavais (CFN) não possuía recursos humanos especializadosem guerra anfíbia e combate terrestre, o que melhoraria aqualificação da formação dos Fuzileiros Navais. Para isso,seria necessário local adequado, onde os Fuzileiros pudessemexercer suas atividades instrucionais, motivo por que elepensou em criar um Centro de Instrução.

Para a criação do Centro de Instrução, foi realizado umconcurso em âmbito nacional para escolher o melhor projetoarquitetônico, tendo como vencedores os arquitetos RobertoNadalutti e Oscar Valdetaro.

A construção do Centro iniciou-se em março de 1951,sob a presidência da comissão de planejamento do VA (FN)Sylvio de Camargo. Após longa jornada e grande empenhopara a realização de seu grandioso projeto, o VA (FN) Sylviode Camargo conseguiu inaugurar o Centro de Instrução doCorpo de Fuzileiros Navais (CICFN) em 28 de dezembro de1955. O Centro tornou-se um marco na formação e noaprimoramento dos Fuzileiros Navais.

O CICFN teve a sua denominação modificada em 24 desetembro de 1971, através do Decreto nº. 69.287, para Centrode Instrução e Adestramento do Corpo de Fuzileiros Navais(CIAdestCFN).

Em 8 de janeiro de 1990, fazendo uma justa homenagemao idealizador desse grandioso Centro de Instrução, oCIAdestCFN teve sua denominação alterada para Centro deInstrução Almirante Sylvio de Camargo, através do Decretonº. 98.603.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NUÑES, Cosme. CICFN: o Centro de Instrução do Corpo deFuzileiros Navais.

O Anfíbio. Rio de Janeiro: Comando Geral do Corpo deFuzileiros Navais, ano. XXV, n. 24. 2005.

2T (RM2-T) Marcela Barcellos Araujo

CrônicaEncantamento arquitetônico

1T (RM2-T) Luciana Aparecida Mendel

“(...) Sou o Arquiteto do Saber. Criei umaarquitetura fantástica! Uma arquitetura quetranscendeu minha própria imaginação(...)”

Roberto Nadalutti, arquiteto reconhecido e famoso, poradotar estilo idêntico ao de Oscar Niemeyer (pois executoualguns trabalhos para o também renomado profissional, sendo,por ele, influenciado), citado em pregressos artigos de revistasdo Corpo de Fuzileiros Navais, trabalhou, junto com o compa-nheiro Oscar Valdetaro, no início dos anos 50, para a Marinhado Brasil, cuja missão foi erguer o atual Centro de InstruçãoAlmirante Sylvio de Camargo (CIASC, assim batizado em 1990),anteriormente denominado Centro de Instrução do Corpo deFuzileiros Navais (CICFN – de 1955 a 1971) e Centro de Instruçãoe Adestramento do Corpo de Fuzileiros Navais (CIAdestCFN –de 1971 a 1990).

Sua obra, entregue, em 28 de dezembro de 1955, ao finalda gestão do Almirante Sylvio de Camargo, na épocaComandante-Geral, mantém, ao longo dos anos, os olhos e apercepção magnética de seus freqüentadores e visitantes emestado de graça; sendo, assim, tão apreciada por todos, dostempos remotos aos atuais, merece destaque devido à artecriativa que se transformou em objetos emoldurados noconcreto.

O desejo de todo criador é poder rever suas criações apósalgum tempo decorrido do nascimento da obra. O Sr. Nadalutti,por isso, foi um homem privilegiado, atendendo ao convite, em2002, do então Comandante do CIASC, para participar dacomemoração ao centenário de nascimento do idealizador desseCentro de Instrução, cujo nome o enobrece, o insigne chefenaval Almirante Sylvio de Camargo. Nessa época, contava o

arquiteto com oitenta anos, figura simpática e grisalha; altiva eainda sonhadora.

Foi impedido de comparecer à comemoração docinqüentenário do CIASC, por motivos de pouca saúde, tendo-se dirigido a outro plano de vida em 24 de maio de 2005. Hoje,habitando outro mundo que não o físico, pode ter um estado deconsciência um pouco diferente do que se conhece como normal,mas com certeza, de onde está, continua admirando a própriaobra e realizando outras tantas...

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Construção do Auditório e da Escola de Música.

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Contei com o auxílio de cooperadores fiéis para amaterialização do meu sonho; para a vivificação dos esboçosidealizados por mim – já que seria um lugar para o aprimoramentoprofissional dos Fuzileiros, deveria comportar prédios cujasformas fossem condizentes com o objetivo imaginado.

Criei um vendaval com o meu tapete mágico, pairando,redemoinhando, pensando, criando... Os Fuzileiros precisariamde um espaço condizente com as atividades a serem, por eles,realizadas; precisariam de salas de aula, alojamentos, ranchos...Tudo deveria fazer lembrar que aquele espaço destinava-se àelaboração do saber, à detenção do conhecimento. E por quenão estimular esse gérmen? O estímulo seria, justamente, aarquitetura dos prédios! Bastaria olhar para cada um deles eimediatamente relacioná-los a imagens de objetos dignos deum Centro de Instrução. Sim! Nasce o Centro de InstruçãoAlmirante Sylvio de Camargo!

Sou o Arquiteto do Saber. Criei uma arquitetura fantástica!Uma arquitetura que transcendeu minha própria imaginação:sempre adorei viajar pelo Mundo dos Livros...! Para sonhar,aprender, reaprender, construir, reconstruir, edificar. Mas o deque gosto mesmo é desbravar novos continentes; sobrevoar,no meu tapete mágico, áreas novas e inexploradas; inabitadas(pelo homem), mas em estado latente de desenvolvimento.

Certa vez, faz quase um século, já preocupado com odesmatamento no Brasil (minha bola de cristal apresentou-meum futuro de poluições e intensas variações climáticas nessepaís), descobri extensa área verde, nos arredores de um bairroconhecido como Ilha do Governador, na cidade do Rio deJaneiro. Que região belíssima! Quanto verde a preservar! Quantoverde a salvar! Eu deveria fazer algo! Mas o quê? Como?Solicitando o apoio de quem? Com o Livro da Vida aprendi aauxiliar na construção de um porvir melhor e construtivo; obtiveacesso ao Livro do Amor, cujas palavras, impregnadas de nobresensinamentos, conduziram meus pensamentos e minha vontadeà realização de magnífica obra. Faltava-me saber a quem destinaresta futura reserva ecológica, que já contava com micos, porcos-do-mato, biguás e outras espécies de animais silvestres.

Os Fuzileiros Navais... Camuflados nas matas, para doinimigo defenderem as terras santas brasileiras; imortalizadosnos versos de Rachel de Queiroz... Seriam os colaboradoresideais para tal empreitada, pois possuíam o de que erafundamental para o meu projeto: coragem, vontade de servir eidéias inovadoras. Além disso, precisavam instruir-se melhor,precisavam renovar seus conhecimentos, suas técnicas.

Construção do Prédio do Comando

Construção do Prédio da Saúde, Intendência, Paiol deMaterial e Prédio do Comando.

Torre do “Giz”, ao fundo.

Prédio da Garagem: olho.

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O CIASC, parte integrante do Complexo Naval da Ilhado Governador, abriga energias salutares e formas peculiares:logo na entrada, pode-se visualizar a caixa d´água daGaragem, a famosa R-13, em forma de giz – é na ponta dolápis que se inicia o processo educacional. O prédio daGaragem apresenta o formato de um olho (visão do futuro).Mais adiante, após a placa BEM-VINDO AO CIASC, depara-se com o Prédio de Ensino, uma estante contendo livros

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variados, organizados lado a lado, verticalmente. Em frente, oPrédio do Comando apresenta-se sob a forma de vários livrostambém, mas acondicionados com a parte a ser aberta para baixo– basta puxá-los por cima, para se ter acesso à leitura (afinal, osFuzileiros são gigantes!). Vista de cima, a concha acústica forma,

Prédio de Musculação transformou-se em papel quadriculado.Basta acurar mais o olhar para perceber esses objetos não tãoescondidos assim.

Que prazer este, o de reviver todo o período da construçãodestas paragens...! Que satisfação em rever toda a minha obraconcluída depois de tanto tempo...! Mas... Está faltando algumacoisa... O que será? Puxa! Como não pensei nisso antes? Como

Prédio de Ensino: estante com livros dispostos verticalmente.

Prédios da Saúde eda Intendência:vistos de cima,

apresentam a formade uma régua T.

Prédio do Comando: estante com livros emborcados.

Concha acústica: lupa.

Auditório e Escola de Música: o lápis é inserido nesteapontador pelo lado esquerdo.

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com a cobertura que a liga ao Café dos Oficiais, uma lupa ! OAuditório e a Escola de Música integram-se em um apontador!A junção do prédio da Saúde com o da Intendência (tambémapreciando-se a vista superior) apresenta a forma de uma réguaT, muito utilizada por engenheiros e arquitetos (sou um deles!).Pode-se observar, no teto do Paiol de Material, um livro aberto– a página da direita ficou amassada por causa da água dachuva torrencial que o céu jogou, bem quando o concreto aindaestava úmido; mas ficou bom! Gostei, de qualquer forma – toqueprovidencial! Ah! Os prédios dos ranchos e alojamentos,cobertas, camarotes e câmara transformaram-se em réguastridimensionais, se apreciados ao longo de percurso pelaalameda; vistos de cima, são réguas bidimensionais. O teto do

pude ter esquecido? De que maneira os Fuzileiros poderão seapresentar com magnificência durante os Jogos Internos doCIASC? É certo que a área verde é extensa, contudo... Um grandee nobre evento olímpico requer local adequado e à altura... Umginásio! Quem sabe, o meu sucessor terá oportunidade de defini-lo lindamente? Poderia ser uma construção moderna, futurista:os fundos do ginásio seriam parte de uma esfera prateada (oglobo terrestre – mostrando Brasil e Namíbia, pelo menos); aslaterais, esquadros; e a entrada... uma tela de computador,

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Paiol de Material:livro aberto, com a página direitaamassada (“...foi a chuva que molhou...”).

Portaló do ensino aos Fuzileiros Navais.Prédios da alameda: réguas.

Prédio da Musculação: papel quadriculado.

Fachada do futuro ginásio.

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representando o Ensino a Distância; talvez, várias telas (laptops)dentro de outra. Ou poderia ser algo melhor, maiselaborado? Um ginásio...!

A obra CIASC - sonho ou realidade?Alguns dizem que a arte imita a vida; outros, que a

vida imita a arte. Na maioria das vezes é preciso que causassejam descobertas para que sejam compreendidas asconseqüências. De qualquer maneira, sinto-me um FuzileiroNaval!

ADSUMUS!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BENTINHO, Jorge Mendes. Centenário de nascimento doAlmirante Sylvio de Camargo: 1902-2002. Rio de Janeiro:Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo.

2. REVISTA O ANFÍBIO, Rio de Janeiro: Comando-Geral doCorpo de Fuzileiros Navais, ano XXV, n. 24. 2005.

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Construindo, reformando e modernizando o CIASCCC (FN) Flávio dos Santos Nascimento

O Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo(CIASC) tem recebido, da Alta Administração Naval, um eleva-do investimento de recursos para se tornar um Centro de Exce-lência. Esse esforço da Marinha do Brasil tem sido aplicadopelo CIASC na reforma para modernização das salas de aula einstalações do Departamento de Instrução (DI) no Prédio deEnsino, bem como em melhorias nos alojamentos e instalaçõesutilizadas pela administração da OM.

Com um projeto arquitetônico atual, o segundo piso doPrédio de Ensino abrigará 27 salas de aula e o DI, com todas assuas Escolas, facilitando o bom desempenho das atividadesdocentes e discentes. No primeiro piso, será instalado um Centrode Estudos - referência no Corpo de Fuzileiros Navais.

O Centro de Estudos, além de possuir um amplo acervoabrangendo todos os campos do conhecimento, particular-mente, os assuntos militares, contará, também, com recursosde informática para seus usuários, tais como: computadores,impressoras e internet sem fio.

Nasce o Centro de Estudos do CFN.

Sala de aula reformada, com novo mobiliário,climatização e projetor multimídia.

Todas as salas de aula receberão carteiras novas econfortáveis, possuirão recursos de multimídia, ambienterefrigerado por aparelho central e iluminação apropriada, criando,dessa forma, condições ideais para as atividades de ensino-aprendizagem.

O DI comportará, de maneira adequada, suas Escolas, eproporcionará um excelente ambiente de trabalho para seusinstrutores, com espaço para preparação das aulas edesenvolvimento das atividades administrativas inerentes àsatividades de ensino na Marinha.

Em complemento ao projeto inicial, a reforma desse prédiotambém abrange todos os banheiros, sendo substituídos osmateriais existentes por materiais de melhor qualidade e maiordurabilidade, além da substituição da parte hidráulica.

Uma nova estrutura para o Departamento de Instrução.

Reforma dos banheiros.

Em adição às melhorias nos ambientes diretamentedestinados às atividades de ensino, outras ocorrem em diversasinstalações destinadas à habitação dos alunos e à tripulaçãodeste Centro: inicialmente, visando proporcionar um ambientecompatível com as exigências do Curso Especial de ComandosAnfíbios e do Curso de Especialização de Guerra Anfíbia, foiconstruído um novo alojamento, destinado aos alunos, comdimensões e instalações de acordo com os efetivos envolvidos.

Prevendo-se um possível aumento de efetivo, encontra-se em fase final de desenvolvimento um projeto que visa alojarconfortavelmente os alunos dos dois principais cursos de

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Novos armários construídos em alvenaria.

Praças, no segundo piso do Prédio de CB/SD. As mudançasabrangem, principalmente, a construção de armários emalvenaria, ampliação dos banheiros e dormitórios, além da criaçãode salões de recreio. A primeira fase desse projeto já está sendoexecutada com a construção de armários em alvenaria,utilizando-se material inovador, de simples construção emanutenção, sem prejuízo em relação à resistência e àdurabilidade necessárias. No alojamento dos alunos do Cursode Especialização existem 482 armários em construção e, noatual alojamento de CB/SD, 128 armários, já dispostos de maneiraa permitir a expansão para abrigar os alunos do Curso deHabilitação.

Outra abrangente reforma encontra-se em andamento nosalojamentos dos SO/SG pertencentes ao CIASC: todos oscompartimentos destinados a esses militares terão seus pisossubstituídos e os armários de alvenaria, citados anteriormente,instalados; porém, com dimensões superiores. Também seencontra em reparo de grande envergadura, o banheiro dos SO/SG: inicialmente, visava-se tão somente reparar a partehidráulica, mas a obra avançou para um novo dispositivo eaumento do número de sanitários e mictórios.

De modo a adaptar o ambiente às peculiaridades da parcelafeminina da tripulação do CIASC, inclui-se, ainda, a reformulaçãodo alojamento das Praças femininas e Civis assemelhadas, comsensível ampliação do banheiro e completa reforma do espaçopara armários e dormitórios.

Os compartimentos existentes no piso inferior do Prédiodos Oficiais receberam condicionadores de ar do tipo split, oque proporcionará uma satisfatória climatização do ambiente,além de otimizar o consumo de energia.

A parte administrativa do CIASC também foi contempladacom recursos: o primeiro setor da OM a ser beneficiado foi oDepartamento de Saúde, que teve seu piso substituído, devidoao alto grau de deterioração do anteriormente existente, a fim depermitir a utilização de um piso mais compatível com as atividadeshospitalares.

A Frigorífica também sofreu uma grande reforma, queincluiu a parte de instalações e maquinário, e hoje é capaz deatender, em excelente condição, às demandas da OM.

As fotos acima apresentam a obra de ampliaçãodo refeitório de CB/SD.

A Divisão de Material Bélico, como parte de umprocesso de reajuste no seu interior, atualmente encontra-se na fase de reposicionamento de sua secretaria, o queconferirá uma maior segregação dos seus diversoscompartimentos, incrementando a segurança, característicaindispensável em função das atividades ali desenvolvidas.

O Refeitório no Prédio de CB/SD também passa poruma expansão, visando ampliar a capacidade do rancho daUnidade. Nesse ambiente, optou-se por um design, ainda aser definido, que valorize a vista da baía; além disso, far-se-á uso de materiais sofisticados, objetivando conferir aoambiente a versatilidade necessária para o uso diário pelatripulação do CIASC, bem como a capacidade de acolhereventos comemorativos de grande envergadura.

Essa ampla reforma, desenvolvida nas instalações doCIASC, permitirá melhores condições para a condução doscursos sob responsabilidade deste Centro de Instrução eserá um local ideal, no Corpo de Fuzileiros Navais,destinado à busca de conhecimento através da atividadede pesquisa.

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Acordo de Cooperação Naval Brasil-Namíbia - CIASC e CIAMPA

Em 21 de maio de 2008, o CIASC recebeu a visita doComandante da Marinha da Namíbia (CMN), ComodoroPETER HAFENI VILHO. A ocasião, marcada pelacordialidade que tem caracterizado as relações entre osmilitares dos dois países, foi um dos eventos integrantes daviagem realizada pelo Comodoro em proveito do Acordo deCooperação Naval Brasil-Namíbia. Na oportunidade, o CMNconheceu as instalações ocupadas pelos alunos namibianose, em seguida, fez questão de dirigir suas palavras aos seuscomandados. Ao final, brasileiros e namibianos congraçaram-se confiantes no sucesso que o Acordo de Cooperação temalcançado e nos bons frutos que certamente advirão daparceria entre as nações amigas.

Esse encontro marcou, também, a resolução da vinda de45 novos alunos namibianos para o CIASC, não habilitados ase comunicarem utilizando a língua portuguesa. O CIASC tevea honra de recebe-los, nos dias 27, 29 e 30 de agosto de 2008.No dia 09 de setembro, teve início o Estágio de Preparaçãopara Militares da Namíbia (E-Prep-MilNam), com previsão detérmino para 19 de dezembro de 2008. Há, ainda, um Oficial(Primeiro-Tenente) da Guiana Inglesa que foi incluído no grupo,a pedido do CIAW.

Comandante da Marinha da Namíbia (à esquerda), recebeuma panóplia das mãos do CA(FN) Alexandre.

Os alunos e seus instrutores.

Uma equipe formada por 4 Oficiais e 1 Suboficial,subordinados à Superintendência de Ensino, ministra aulas deLíngua Portuguesa, com o objetivo de viabilizar a compreensãodos aspectos gramaticais que compõem o idioma, utilizadosnas comunicações oral e escrita, uma vez que os militares-alunos serão matriculados em cursos no CIAMPA e no CIAWem 2009, quando deverão utilizar, adequadamente, o idioma oraem fase de aprendizagem. Além disso, esse processo de ensino-aprendizagem inclui noções gerais sobre usos e costumesbrasileiros, Tradições Navais e Treinamento Físico-Militar.

Igualmente, há um esforço para promover não apenas oconforto do grupo, viabilizando recursos para suasnecessidades, mas também a inserção desses estrangeiros nonosso mundo cultural, de modo a lhes propiciar lazer e fluênciano nosso idioma, com a programação de visitas a algunsimportantes pontos turísticos da cidade, como o MuseuNacional de Belas Artes e o Estádio do Maracanã.

Para o conforto a bordo dos novos alunos, foidisponibilizada a utilização da internet após o expediente epromovidas sessões de vídeo no Auditório, às terças e quintas-feiras, no horário de 20 horas.

É com grande satisfação que se trabalha em prol de talacordo, uma vez que os alunos são muito interessados edemonstram vontade de aprender, o que é um ponto fundamentalpara a assimilação dos conhecimentos pré-estabelecidos paraestudo.

Foi implantado, no CIASC, o Programa Forças noEsporte, desenvolvido pelos Ministério do Esporte e daDefesa, com o propósito de promover, a crianças e jovens,por intermédio da prática esportiva (atividades físicas ede lazer), a integração social e a saúde, além da prevençãocontra a marginalidade e a violência que os acometem.

O programa, que faz parte de um processo dedesenvolvimento social, em que se valoriza a cidadania,tem por objetivo a interação com a comunidade local, deonde, em média, 100 crianças de 10 a 14 anos, de três

escolas públicas próximas, foram selecionadas para deleparticiparem nos turnos da manhã ou da tarde. Em futuropróximo, deverão participar até 200 crianças.

Além das atividades esportivas, são desenvolvidastambém atividades de reforço escolar, com o pessoal deapoio capacitado. As crianças almoçam a bordo erecebem acompanhamento do Departamento de Saúde.

É O CIASC contribuindo para o desenvolvimentosocial - mais um passo para uma Instituição de Excelência.

Programa Forças no Esporte no CIASC

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Visita do Dr. Daniel Levy, Procurador Regional da União, ao CIASC

Apresentação da Banda Sinfônica do CFN no CIASC

A vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, trouxeconsigo não apenas o luxo da Corte Portuguesa e os benefíciossociais, mas também a arte da Música Imperial, através de umpequeno grupo de músicos, o qual, pelo brilhantismo comque proporcionava entretenimento aos que o ouviam, originoua criação das Bandas de Música na Marinha, dentre as quaisa nossa gloriosa Banda Sinfônica do CFN, conhecida ereconhecida internacionalmente.

Essa banda é composta por músicos oriundos de diversasinstituições, com excelente nível técnico-profissional, os quaissão formados e aperfeiçoados pela Escola de Música doCIASC.

Sendo este o ano em que se comemora o Bicentenário doCorpo de Fuzileiros Navais, a Banda Sinfônica, que dentreoutras missões tem a de representação do CFN e da MB, tem

Apresentação da Banda Sinfônica do CFN no CIASC.

Em 12 de agosto de 2008, o Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargorecebeu a visita do Procurador Regional da União, Dr. Daniel Levy de Alvarenga.

O Dr. Levy é “Amigo da Marinha” e possuidor de Medalha Mérito Tamandaré.Além disso, possui participação notável em diversos eventos relacionados à Marinhado Brasil, dentre os quais citamos:

- presença, como palestrante, do IV Ciclo de Palestras do CFN, ocasião em queenfatizou a importância do estreitamento de laços entre a MB e sua Procuradoria, como intuito de agilizar e facilitar a defesa dos interesses da Força;

- participação, como observador, da Operação Albacora-2007, envergando ouniforme camuflado; e

- participação, ativa, na defesa dos interesses da MB na Região sob suaresponsabilidade, destacando-se sua atuação nas discussões sobre a Ilha da Marambaia.

O Dr. Levy teve seu nome indicado para Procurador-Chefe após eleição conduzidapor seus pares, a qual foi ratificada, por reconhecimento a seu valor, com sua nomeação,para o atual cargo, pelos seus superiores Dr. Daniel Levy, na foto, à direita.

se apresentado em várias cidades do país, levando sua músicacontagiante a um público diversificado que, nem sempre, temcondições de freqüentar teatros e salas de concertos.

No dia 15 de agosto do corrente ano, os componentes datripulação do CIASC foram presenteados com um momentoímpar de entretenimento, proporcionado pela brilhanteapresentação da Banda Sinfônica que, sob a regência do CT(AFN) MARCOS LEITÃO RABELLO, apresentou umrepertório popular, passando por composição de Edu Lobo,homenageando o saudoso Dorival Caymmi, relembrandoFreddie Mercury e Montserrat Caballé. A apresentaçãoarrancou merecidos aplausos ainda mais efusivos quando,após o atendimento da solicitação do público para execuçãode mais dois números, executou o maravilhoso arranjo dacanção “Aquarela do Brasil”.

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Comitiva em frente à EsACosAAe.

Mostruário de material antiaéreo.

Escola de Engenharia

Em 25 de agosto de 2008, realizou-se, na ponta do Ibitimirim, a instrução prática da disciplina de explosivos e detonações. Talinstrução teve como propósitos reforçar os conhecimentos teóricos obtidos em sala de aula pelos alunos do Curso de Especializaçãoem Engenharia (C-Esp-EG) e recordar alguns importantes procedimentos para os alunos do Curso de Aperfeiçoamento emEngenharia (C-Ap-EG). No decorrer dessa instrução prática, os alunos do C-Esp-EG tiveram a oportunidade de realizar todos osprocedimentos de um lançamento de carga elétrica, finalizando-o com detonações de petardos de 50g de TNT. Concomitantementeao adestramento do Curso de Especialização, os alunos do C-Ap-EG foram incentivados a participar, juntamente com os instrutoresda disciplina, das retificações e ratificações de aprendizagem do C-Esp-EG e, conseqüentemente, a exercitar a liderança característicados comandantes de Grupos de Pioneiros sobre seus integrantes.

Departamentos e Escolas do CIASC realizam visitas e Exercícios Práticos

Foram realizados, na Região de Seropédica, nos períodos de 11 a 15 e 25 a 29 de agosto de 2008, os Exercícios no Terrenopelos alunos dos Cursos de Especialização e Aperfeiçoamento em Infantaria, sendo abordados os temas de Ofensiva, Defensiva,Patrulha e OMAU (Operações Militares em Áreas Urbanas).

Os exercícios foram realizados em duas fases cada um: na primeira fase, foram executadas oficinas práticas, em que osassuntos foram tratados detalhadamente, permitindo aos alunos sanarem dúvidas e ampliarem seus conhecimentos; na segundafase, foram realizados Temas Táticos - um tema abordando todas as fases de uma Operação Ofensiva e outro tema sobre OMAU,abordando, principalmente, a Fase de Limpeza de uma localidade.

Pela primeira vez na Escola de Infantaria foi utilizado o Simulador Tático de Infantaria, permitindo um melhor aproveitamentodos exercícios, principalmente os de OMAU, em que os alunos verificaram a necessidade do adestramento específico nesse tipode ambiente. Dessa forma, os alunos de ambos os cursos trabalharam separadamente as mesmas instruções, que foram abordadasconforme a graduação de cada curso, e os deixaram nivelados para os próximos exercícios, quando trabalharão juntos, distribuídostaticamente, e ainda, como alunos, poderão exercer as diversas funções atribuídas a cabos e sargentos das CiaFuzNav e CiaApFde um Batalhão de Infantaria.

Esses Exercícios foram de grande valia para os alunos, visto que consolidaram e ampliaram os conhecimentos ministradosem sala de aula.

Escola de Artilharia

No dia 14 de agosto ocorreu a visita dos alunos dos cursosde Aperfeiçoamento e de Especialização em Artilharia à Escola deArtilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), uma instituiçãosingular do Exército Brasileiro (EB) que surgiu a partir do Centrode Instrução de Artilharia de Costa (CIAC), inaugurado em 09 dejulho de 1934.

Os alunos foram recebidos pelo Comandante da Escola,Coronel (Art) João CHALELLA Júnior e, em seguida, assistiram apalestras sobre diversos temas relacionados à artilharia antiaéreae à defesa aeroespacial, tais como: ameaças aéreas, defesaaeroespacial, Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro(SISDABRA), medidas de coordenação e controle da ArtilhariaAntiaérea, sistemas de armas antiaéreas em uso pelo EB, noçõessobre o planejamento da Defesa Antiaérea, Veículo Aéreo NãoTripulado (VANT), Centro de Operações Antiaéreas (COAAe)digital e o radar SABER M60, de fabricação nacional, entre outrosassuntos.

Após as palestras, os alunos visitaram algumas instalaçõesda escola e um mostruário dos seguintes materiais de artilhariaantiaérea de baixa altura utilizados pelo EB: míssil Igla; canhõesOerlikon 35mm e Bofors 40mm; e o Equipamento de Direção deTiro FILA, dentre outros.

A visita teve como propósito ampliar os conhecimentosadquiridos pelos alunos em ambos os cursos, colocando-os emcontato com os materiais e doutrinas do EB, e melhor prepará-lospara a vida profissional na área de artilharia antiaérea.

Escola de Infantaria

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Dessa forma, ao final da instrução prática, 25 alunos do Curso de Especialização e 10 alunos do Curso de Aperfeiçoamentoem Engenharia puderam reforçar o aprendizado adquirido e se preparar para, posteriormente, na MARAMBEX, realizarem umadestramento mais completo e detalhado.

Departamento de Cursos Operacionais - I

Foi realizado, no dia 03 de abril de 2008, a bordo do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, um exercício de rapel,que envolveu 42 oficiais-alunos do Curso de Especialização de Guerra Anfíbia / Estágio Especial de Guerra Anfíbia (C-Espc-GAnf/ EEGAnf/2008) e um destacamento do 1º Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque (HA-1).

Apesar de as aeronaves desse Esquadrão não realizarem, rotineiramente,exercícios dessa natureza, sua grande versatilidade associada a uma tripulaçãobem adestrada permitiu que fosse obtido máximo aproveitamento na atividade,acarretando grande vibração nos futuros comandantes de pelotão das Unidadesoperativas do CFN.

Exercício de rapel comoficiais-alunos do C-Espc-GAnf /EEGAnf - 2008 e um

destacamento do 1ºEsquadrão de Helicópteros

de Esclarecimento eAtaque (HA-1).

Departamento de Cursos Operacionais - II

No dia 30 de junho de 2008 teve início o Curso Especial deComandos Anfíbios (C-Esp-ComAnf), sendo sua aula inauguralproferida pelo CMG (FN) José Jorge da Silva. O C-Esp-ComAnf,ministrado no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo(CIASC), é destinado a Oficiais e Praças voluntários e tem porobjetivo prepará-los para planejar e executar Operações Especiais(OpEsp) de Fuzileiros Navais. As OpEsp são aquelas realizadas porpessoal especialmente selecionado e adestrado, empregando meiosnão convencionais e executando ações também não convencionaiscom o propósito de destruir ou danificar objetivos específicos,capturar ou resgatar pessoal ou material, coletar dados, despistar eproduzir efeitos psicológicos. Normalmente são operações deduração limitada, caracterizadas pela surpresa, dissimulação, audáciae velocidade, empreendidas por pequenos grupos constituídos deelementos com diversificada habilitação.

Com os recursos do próprio CFN, do Corpo da Armada, doExército e da Força Aérea, o Curso Especial de Comandos Anfíbios proporciona uma formação completa e abrangente nos maisdiversos cenários, empregando uma gama extremamente diversificada dos meios e equipamentos disponíveis nas FFAA brasileiras.

Aula inaugural proferida pelo CMG (FN) José Jorgeda Silva ao C-Esp-ComAnf.

Instrução prática da disciplina de explosivos e detonações.

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CT (FN) Daniel Marques Rubin

Resposta ao Decida n° 36 - GptOpFuzNav nas Operações de Paz

Diante da situação em questão, é imperativo que umarápida decisão seja tomada. Para tanto, compete ao Co-mandante da Cena de Ação, bem como a todos os compo-nentes da patrulha, o prévio conhecimento de alguns con-ceitos inerentes às Operações de Paz, principalmente aque-les relacionados ao emprego das Regras de Engajamento.

A idéia central das Regras de Engajamento é empre-gar a força mínima necessária e proporcional à hostilida-de, de modo a se evitar o dano colateral.

Considerando o ambiente operacional em questão,extremamente urbanizado, torna-se difícil evitar o danocolateral com o emprego de elevado apoio de fogo, inclu-sive com o emprego de armas automáticas, conduta coe-rente nas operações de guerra. A passividade ou a falta deação, entretanto, não seria a melhor solução, visto queisso poria em risco a nossa própria tropa, exposta aos fo-gos inimigos, além do que seria uma oposição ao cumpri-mento da missão.

Faz-se necessário, então, a adoção de uma condutaintermediária, sem expor nossas tropas e civis ao fogo,que demonstre, à força adversa, ação de choque e firmeza,fazendo-a desanimar e, assim, não permanecer na luta.

Para tanto, é importante atentar para indícios de pos-síveis ações hostis contra nossas forças, de forma aminimizar os efeitos da surpresa por parte da força adver-sa. Um desses indícios é a mudança repentina dos hábitosda população local, como sair rapidamente das ruas du-rante a aproximação das tropas de paz. Tal fato permiteque a tropa redobre a atenção, diminua a silhueta exposta,carregue armamentos se já não estiverem carregados, alte-re o itinerário da patrulha, se for o caso, dentre outrasações.

Na situação em questão, o engajamento ocorreu. Valelembrar que nossas tropas possuem blindagem, mobilida-de, considerável poder de fogo e bom adestramento, nãohavendo motivos, portanto, para desespero.

Face à rapidez com que ocorrem os fatos nesse tipode situação, é normal que o combatente se volte para adireção dos disparos e os contraponha com elevado po-der de fogo. Entretanto, a escolha criteriosa do alvo deveser buscada, o que nem sempre é fácil, bem como umarápida resposta - duas ações antagônicas que devem serconsideradas no processo decisório, cuja eficiência está

diretamente relacionada com o nível de aprestamento datropa.

Compete, nesse momento, ao comandante de fração, amanutenção dos devidos setores de tiro de seus militares,a rápida busca de alvos e a ação contra eles e o efetivocontrole de consumo de munição. Naturalmente, sua pos-tura corajosa, centrada e segura resume a sua capacidadede liderança, influenciando diretamente o moral de seussubordinados.

Apesar de aparentemente desnecessário, o empregode meios não-letais associados aos letais, nessa situação,pode surtir bons efeitos. O emprego de granadas de luz esom, por exemplo, pode inibir a atuação da força adversapelo simples ruído, sem causar nenhum ou pouco danocolateral.

Não menos importante, deve-se manter as viaturas emmovimento, já que a força adversa escolheu o local deengajamento, estando melhor posicionada, com atiradoresnormalmente posicionados nas construções mais altas. En-tretanto, deve-se manter uma velocidade tal que permita oenquadramento dos alvos e eficientes disparos de nossossoldados. É preferível, portanto, não parar o deslocamento.

Na primeira oportunidade, o Comandante da Cena deAção deve certificar-se de todos os fatos ocorridos ereportá-los de forma clara ao escalão superior.

Finalmente, as experiências anteriores nos ensinam quetorna-se fundamental, para as corretas conduta e decisão,a tomada de diversas providências antes da saída de qual-quer patrulha, que abrangem desde adestramento até aprontificação do material. Tais providências se materiali-zam completamente na realização do briefing. Alguns dosaspectos a serem abordados na reunião que antecede ocumprimento da missão são:

- novos aspectos da situação vigente e missão;- itinerários (principal e alternativo), detalhando osobstáculos, cobertas, abrigos, pontos críticos e locaiscom histórico de emboscadas;- organização da patrulha (pessoal e material);- dispositivo e conduta no deslocamento;- regras de engajamento;- técnicas de ação imediata (TAI)/conduta em eventu-alidades; e- teste de comunicações.

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Decida nº 37CC (FN) Cláudio Vicente Issa

SituaçãoElementos de reconhecimento reportaram que o inimigo

está deslocando um comboio logístico, trazendo suprimentosclasse I e V, na direção N-S, para ressuprir seus efetivos quese encontram a S do rio UNA. Foi levantado que a pontesobre o rio UNA é um ponto crítico, pois esse rio se constituiem obstáculo impeditivo a Vtr SR e SL; além disso, suadestruição não foi autorizada. Estima-se que o comboioinimigo atingirá o corte do rio UNA a partir do FCVN de25MAR, previsto para as 18h. O inimigo é de natureza Mtz.

Missão do 2ºBtlInfFuzNav(Ref)Atacar em 251200P MAR 200x, na direção geral SE-NW,

para conquistar e manter o Obj 1, a fim de se obter o controleda ponte sobre o rio UNA antes do FCVN de 25MAR.

Intenção do Cmt do 2ºBtlInfFuzNav(Ref)É minha intenção conquistar o Obj 1 e, conseqüente-

mente, controlar a ponte sobre o rio UNA no mais curtoprazo possível, visto que elementos de reconhecimento re-portaram que o comboio logístico do inimigo poderá chegara partir do FCVN.

Decisão do Cmt do 2ºBtlInfFuzNav(Ref)Esse Btl atacará em 251200P MAR 200x, na direção ge-

ral SE-NW, com uma CiaFuzNav a W para fixar o inimigo emsua ZAç e outra CiaFuzNav(a 4 Pel) a E para conquistar emanter o Obj 1. Manterá em reserva uma CiaFuzNav(a 2 Pel).

Estamos em 251500P e a situação é a seguinte:Um dos pelotões inimigos que se encontrava na ZAç

da 1ªCiaFuzNav(Ref) conseguiu retrair para a posição pre-parada e não ocupada a NW de PCot 46 Q(01-51). A1ªCiaFuzNav(Ref) mantém o outro pelotão inimigo, que es-tava posicionado mais ao S, fixado em sua ZAç.

A 2ªCiaFuzNav(Ref), apoiada pelo 2ºPelCLAnf e pelo2ºPelCC, vinha progredindo com o dispositivo em coluna naViaA PCot 46 – Obj 1, porém, ao atingir a crista topográficadas Altu de PCot 46, o 1º/2ªCiaFuzNav(Ref) começou a rece-ber fogos do pelotão inimigo posicionado a N de PCot 46. Oinimigo conseguiu abater um CC com suas armas AC. O co-mandante do pelotão imediatamente desembarcou seus mili-tares dos CLAnf e aguarda ordens do Comandante da Ciaque se encontra no compartimento anterior posicionado nasAltu de PCot 48 Q(01-50), juntamente com os outros pelo-tões da 2ªCiaFuzNav(Ref).

PedidoDiante disso, como comandante da 2ªCiaFuzNav(Ref),

decida qual será a sua conduta.

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Decida nº 38CC (FN) Gilmar Diogo Guedes

SituaçãoDurante uma Operação Militar em Área Urbana exe-

cutada por um GptOpFuzNav, cujo CCT é nucleado pelo3ºBtlInfFuzNav, para conquista da Cidade deCARRAPICHO, já em sua Fase de Limpeza, a 1ªCiaFuzNavvem enfrentando grande resistência inimiga em sua Zonade Ação, particularmente no quarteirão ALFA, cuja res-ponsabilidade de limpeza foi atribuída ao 1ºPelFuzNav. A1ªCiaFuzNav deve atingir a Linha de Controle Tigre até021800XX. Após duas horas de forte resistência, às021500XX, o referido Pelotão sofreu pesadas baixas, quan-do um dos 2(dois) CLAnf que o apoiavam foi atingido porum RPG, sendo quatro MEA(incluindo seu comandante) etrês FEA graves. O SG-FN-IF SAFO (Auxiliar) assumiu ocomando do Pelotão e providenciou o pronto-atendimen-to e a evacuação dos feridos. Logo em seguida, determi-nou aos Comandantes de Grupo de Combate que prosse-guissem na missão atr ibuída pelo comando da1ªCiaFuzNav. Mesmo com seu efetivo reduzido, o

1ºPelFuzNav conseguiu pressionar o inimigo para próxi-mo da Linha de Controle TIGRE, tendo este se concentra-do em um prédio de três andares que domina por vistas efogos quase todo o quarteirão ALFA. Estima-se que oefetivo inimigo no interior do prédio seja de 10 elementos.A população da Cidade de CARRAPICHO se mantém neu-tra em relação ao confronto. O referido pelotão deve atin-gir essa linha de controle até às 021800XX com o quartei-rão ALFA limpo. Dentro das Regras de Engajamento destamissão, não está autorizada a destruição total de prédioscom mais de dois andares, por ser de interesse operacionala sua conservação, visto que a cidade possui poucas cons-truções desse porte. A população da cidade deve ser pre-servada, sempre que possível , nos confrontos. OGptOpFuzNav conta com o Apoio de Fogo Aéreo prestadopor duas Aeronaves Esquilo UH-12 e também com duasAeronaves de Transporte de Pessoal Super Puma UH-14.O senhor, como Auxiliar do 1ºPelFuzNav, deve decidir so-bre o que fazer para terminar a limpeza do quarteirão ALFA.

CF (FN) Alberto Rodrigues Mesquita Junior

Pense

Segundo Clausewitz, a força deve ser aplicada no centro de gravidade de forma a se

obter a vitória. O Pense desta edição propõe uma reflexão sobre o tema, considerando-se os

vários níveis de planejamento.

Centro(s) de gravidade: como identificá-lo(s) e atingi-lo(s)?

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Esta obra foi composta na fonte Times New Roman e impressaem papel couchê matte 230g (capa) e couchê matte 115g (miolo)

pela Agência 2A Comunicação para oCentro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo - CIASC

em dezembro de 2008.

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