palavra do ministro

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Presidência da República Ministério da Educação - MEC Secretaria de Educação Superior – SESu Palavra do Ministro A revista do ProUni tem a sua origem relacionada, entre outros aspectos, ao desejo do Ministério da Educação de compartilhar com a sociedade brasileira uma idéia que se transformou em compromisso coletivo e se consolidou como importante política pública de acesso ao ensino superior. As análises resultantes da leitura do material que dá corpo à revista permitem reconfigurar idéias e valores sobre as motivações pessoais e sobre a importância atribuída por segmentos sociais à educação superior. As experiências relatadas por alunos e gestores, as múlti- plas e diferentes visões que os estudiosos da educação nacional têm sobre o ProUni, os vários sentidos que ele comporta, a compreensão e a complexidade da dimen- são ampla e integradora que ele alcançou, são indicado- res que revelam o seu significado social. Assim, por mais que o estudante participante do ProUni alimente o desejo mais imediato de ingressar em uma universidade e concluir a graduação, este programa, na sua essência, é mais que um projeto de curso, ele é parte de um projeto de educação, que igualmente re- flete um projeto de sociedade. Uma sociedade que se revelará em um espaço de práticas sociais no qual esse estudante irá intervir e onde irá utilizar o saber apreen- dido para, de forma solidária, resolver os problemas de sua época, imprimindo dimensão política à sua forma- ção acadêmica. Dessa forma, as reflexões, os artigos e os depoimentos que compõem esta revista traduzem um esforço con- junto em direção ao estabelecimento de um diálogo amplo sobre as práticas que se desenvolvem no âmbito do ProUni e sobre a concretização de compromissos educacionais que se inscrevem no tempo de hoje, mas que apontam para o futuro de uma parcela importante da juventude brasileira. Fernando Haddad Ministro da Educação

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Presidência da RepúblicaMinistério da Educação - MEC

Secretaria de Educação Superior – SESu

Palavra do

Ministro

A revista do ProUni tem a sua origem relacionada, entre outros aspectos, ao desejo do Ministério da Educação de compartilhar com a sociedade

brasileira uma idéia que se transformou em compromisso coletivo e se consolidou como importante política pública de acesso ao ensino superior.

As análises resultantes da leitura do material que dá corpo à revista permitem reconfigurar idéias e valores sobre as motivações pessoais e sobre a importância atribuída por segmentos sociais à educação superior.

As experiências relatadas por alunos e gestores, as múlti-plas e diferentes visões que os estudiosos da educação nacional têm sobre o ProUni, os vários sentidos que ele comporta, a compreensão e a complexidade da dimen-são ampla e integradora que ele alcançou, são indicado-res que revelam o seu significado social.

Assim, por mais que o estudante participante do ProUni alimente o desejo mais imediato de ingressar em uma universidade e concluir a graduação, este programa, na

sua essência, é mais que um projeto de curso, ele é parte de um projeto de educação, que igualmente re-flete um projeto de sociedade. Uma sociedade que se revelará em um espaço de práticas sociais no qual esse estudante irá intervir e onde irá utilizar o saber apreen-dido para, de forma solidária, resolver os problemas de sua época, imprimindo dimensão política à sua forma-ção acadêmica.

Dessa forma, as reflexões, os artigos e os depoimentos que compõem esta revista traduzem um esforço con-junto em direção ao estabelecimento de um diálogo amplo sobre as práticas que se desenvolvem no âmbito do ProUni e sobre a concretização de compromissos educacionais que se inscrevem no tempo de hoje, mas que apontam para o futuro de uma parcela importante da juventude brasileira.

Fernando HaddadMinistro da Educação

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Índice

Revista ProUni – MEC/SESu

Expediente

Conselho Editorial

Iguatemy Maria de Lucena MartinsPaula Branco de Mello

Fernando Antônio Ribeiro de Freitas

Edição e redação

Ellen Santana

Projeto gráfico e diagramaçãoSidna Silva

Foto capaJulio Cesar Paes

Jornalista responsávelEllen Santana - DF 3585 JP

6 ARTIGOProUni - Porta aberta para a inclusão social

11 CONQUISTASuperação de limites

8 EDUCAÇÃOInclusão com qualidade

19 FINANCIAMENTOAcesso e permanência no ensino superior

15 HISTÓRIAS DO PROUNIO Brasil de Daniel

12 ARTIGOProUni - Quatro anos de história

18 TRANSPARÊNCIAControle social do ProUni

16 TECNOLOGIASISPROUNI - Transparência e segurança

20 ETAPA FINALValeu a pena

10 HISTÓRIAS DO PROUNIO Brasil de Paula

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26 ARTIGOEducação e desigualdade: o papel do ProUni

22 ARTIGOProUni e a democratização do acesso e permanência no ensino superior

31 EVENTO1º Encontro dos Estudantes do ProUni

35 BOLSA PERMANÊNCIAProUni - Garantia de permanência no ensino superior

25 MERCADO DE TRABALHOEmprego garantido

32 ARTIGOO ProUni e a formação profissional para o Magistério

38 DEPOIMENTOSFala universitário

36 ENTENDA O PROUNI

24 HISTÓRIAS DO PROUNIO Brasil de Adejane

30 HISTÓRIAS DO PROUNIO Brasil de Danilo

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RTIGOA

PROUNIPorta aberta para a inclusão

social

Quando o Programa Universidade para Todos (ProUni) foi lançado, várias vozes levantaram-se contra ele. A

dúvida na ocasião sobre as conseqüên-cias, especialmente acerca da qualidade acadêmica dos estudantes bene-ficiados, eram compreensíveis, ainda que pouco per-tinentes, como o futuro mostraria. O que se sabe, porém, é que o programa já beneficiou, desde 2005, mais de 300 mil estudantes em todo o País.

Além disso, os estudantes universitários beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) obtiveram, em média, notas superiores, em alguns casos muito su-periores, aos seus colegas não-bolsistas no Exame Nacional de Desempenho dos Estu-dantes (Enade) 2006.

O resultado apontou superioridade dos bolsis-tas do ProUni em 14 das 15 áreas do conhe-cimento avaliadas que permitiam comparação: Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Di-reito, Formação de Professores (Normal Superi-or), Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. Participaram do exame 871 municípios, em todos os estados e no Distrito Federal, com 386.860 estudantes — 211.993 ingressantes e 174.867 concluintes — perten-centes a 5.701 cursos de 1.600 instituições de educação superior.

Com atraso de 16 anos, foram reguladas pelo ProUni as isenções fiscais constitucio-nais concedidas às instituições privadas de ensino superior.

De 1988 a 2004, as instituições de ensino superior sem fins lucrativos, que respondem por 85% das matrículas do setor privado, am-paradas pela Constituição Federal, gozaram de isenções fiscais sem nenhuma regulação do Poder Público. Ou seja, sem nenhuma contrapartida. Acórdão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 1991, tornou reconhecida a lacuna legislativa. Mas, por conta dessa omissão, garantia o gozo das isenções en-quanto perdurasse a situação.

Até 2004, as instituições sem fins lucrativos concediam bolsas de estudos, mas eram elas que definiam os beneficiários, os cursos, o número de bolsas e os descontos conce-didos. Resultado: raramente era concedida uma bolsa integral e quase nunca em curso de alta demanda. A isenção fiscal não resul-tava em uma ampliação do acesso ao ensino superior.

O ProUni estabelece que as instituições be-neficiadas por isenções fiscais passem a con-ceder bolsas de estudos na proporção dos alu-nos pagantes por curso e turno, sem exceção. Ficou estabelecido que só haveria dois tipos de bolsas - integral ou parcial de 50% - e que os beneficiários fossem selecionados pelo

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Enem. A concessão da bolsa teria como único critério o mérito. Além disso, foi definido o per-fil socioeconômico dos bolsistas: egressos de escola pública com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio para bolsa integral e de até três salários mínimos para bolsa parcial de 50%.

Assim, o ProUni é, dentre todos os progra-mas, aquele que melhor sintetiza os pres-supostos básicos da educação superior. A educação superior baliza-se pelos seguintes princípios complementares entre si: expan-são da oferta de vagas, dado ser inaceitável que somente 11% de jovens, entre 18 e 24 anos, tenham acesso a este nível educacio-nal; garantia de qualidade, sendo que não basta ampliar, é preciso fazê-lo com quali-dade; promoção de inclusão social pela educação, minorando nosso histórico de desperdício de talentos, considerando que dispomos comprovadamente de significativo contingente de jovens competentes e criati-vos que têm sido sistematicamente excluí-dos por um filtro de natureza econômica; ordenação territorial, permitindo que ensino de qualidade seja acessível às regiões mais remotas do País; e desenvolvimento econômico e social, fazendo da educação superior, seja enquanto formadora de re-cursos humanos altamente qualificados ou como peça imprescin-dível na produção científico-tecnológica, ele-mento-chave da integração e formação da nação.

Quanto à avaliação da edu-cação superior, ela será em consonância com os três componentes do Sinaes: avaliação institucional, ava- liação de cursos e avaliação de desempenho dos estu-dantes, os quais dialogam

um com o outro. Assim, a avaliação se torna a base da regulação, em um desenho insti-tucional que cria um marco regulatório coer-ente, assegurando ao Poder Público maior capaci-dade, inclusive do ponto de vista ju-rídico, de supervisão sobre o sistema federal de educação superior e abrindo às boas insti-tuições condições de construir sua reputação e conquistar autonomia.

A ampliação do acesso ao ensino superior, público e privado, só adquire plenamente sentido quando vislumbrada como elos adi-cionais de um conjunto de projetos no âmbito da educação superior que articulam, com um olho na educação básica e outro na pós-gra-duação, ampliação de acesso e permanên-cia, reestruturação acadêmica, recuperação orçamentária, avaliação e regulação.

Ronaldo MotaSecretário de Educação Superior

SESu/MEC

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DUCAÇÃOE

A bolsa de estudos ofertada pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) rompe

a limitação imposta pela condição econômica e abre oportunidades para que estudantes ingressem cada vez mais em uma instituição de ensi-no superior. Não basta democratizar o ensino, é preciso promover inclusão social com qualidade.

Por isso, um dos critérios para a ma-nutenção da bolsa do ProUni é o ren-dimento acadêmico. O estudante com bolsa integral ou parcial precisa ser aprovado em, no mínimo, 75% do to-tal das disciplinas cursadas em cada período letivo.

O bom desempenho dos bolsistas do ProUni já pode ser constatado. Os alunos do Programa tiveram as me-lhores notas no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2006. No total, 386.860 (211.993 ingressantes e 174.867 concluintes) fizeram o Enade 2006.

O resultado, divulgado em maio de 2007, revela superioridade em todas as catorze áreas de conhecimento ava-liadas: Administração, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciên-cias Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Formação de Profes-sores (Normal Superior), Música, Psi-cologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. Apenas Arquivologia ficou de fora porque não tinha alunos bolsistas.

Para Francis Irineu, coordenador do curso de graduação em Administração do INEA Faculdades, da cidade de São José dos Campos (SP), o bom resulta-do dos alunos bolsistas no Enade não pode ser avaliado apenas como medo de perder a bolsa. “ Vejo nesses estu-dantes compromisso com a educação que levará a um bom posicionamento no mercado de tabalho”, diz.

ResultadosNo curso de Administração, os estu-dantes do ProUni atingiram nota mé-

O ProUni oferece bolsa de estudos com qualidade educacional

01/2008

a liecoparavezno o esoc

Ponudiboaptap

OdalD

Inclusão com qualidade

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dia de 48,7, enquanto os não-bolsis-tas ficaram com 39,9. Na Formação de Professores (Normal Superior), os beneficiados pelo ProUni obtiveram 50,4 enquanto os não-bolsistas, 46,1. A maior diferença ocorreu nos cursos de Biomedicina que alcançou uma diferença de cerca de 9 pontos.

A estudante de Psicologia Clarissa Borges também contribuiu com o bom resultado. Ela tem bolsa integral do ProUni na Universidade Católica de Brasília (UCB). “Sempre fui muito esfor-çada com os estudos. Procuro ter boas notas na faculdade e corresponder ao incentivo que recebo”, revela Clarissa.

O Enade avalia o aluno utilizando dois critérios: formação geral, que verifica como ele está preparado para viver em sociedade e seu grau de cidada-nia, e formação específica, que são os conhecimentos adquiridos no curso que está fazendo.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) vem acompanhando, semestre a semestre, os bolsistas do ProUni e constatando bons resultados acadêmicos. Segun-do o professor Antônio Mário Bianchi, a Universidade efetuou uma análise

comparativa, quanto ao desempenho acadêmico, entre os bolsistas e os demais estudantes. “Foram consi-deradas cinco variáveis relacionadas com o desempenho acadêmico. Uma comparação baseada, unicamente, no confronto dos valores assumidos pelas referidas variáveis (estatística descritiva) apontou uma superiori-dade dos bolsistas do ProUni em to-dos os aspectos estudados”, explica.

Cursos de qualidadePara manter a qualidade dos cursos que participam do ProUni foi sancio-nada, em julho de 2007, a Lei nº.

11.509, que prevê a desvinculação do Programa de cursos com duas avaliações negativas consecutivas pelo Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes). O siste-ma inclui não apenas o Enade, mais avaliação das condições do curso e da instituição.

Para Márcio de Andrade, estudante de Medicina da Faculdade de Ciên-cias Médicas da Santa Casa de São Paulo, o ProUni vai além da bolsa. “Tenho a oportunidade de estudar numa instituição de ensino bem con-ceituada, com bons professores e in-fra-estutura de ponta”, declara.

Clarissa BorgesEstudante de Psicologia, UCB/DF

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ISTÓRIAS DO PROUNIH

O Programa Universidade para todos (ProUni) reserva bolsas para pessoas com deficiência,

afrodescendentes e indígenas. Esse é o caso de Paula Shirlene de Oliveria, 31 anos, que ingressou no ProUni pelo sistema de cotas para indígenas.

Paula é descendente de índio, mas nunca viveu numa tribo. “Meu avô ma-terno deixou a tribo quando decidiu casar com uma pessoa branca. Ape-nas meu pai viveu na tribo”, explica.

No quinto semestre de Direito, a es-tudante conta que é a única universi-tária de sua família. “ Sempre acalen-tei o sonho de fazer faculdade, mas achava que sendo pobre e índia nun-ca conseguiria chegar até aqui”.

Para estudar, Paula precisou de muita

persisitência. “Só consegui terminar o ensino médio com 29 anos. “Minha família tinha uma vida meio nômade. Começava a estudar e logo era pre-ciso mudar de cidade. Além disso, começei a trabalhar muito cedo para ajudar no sustento da família”.

A universitária mora em Bayeux, na Paraíba, e estuda na capital João Pes-soa. Todos os dias gasta uma hora de ônibus até o Instituto Paraíba de Edu-cação e Cultura, onde estuda.

A vida de estudante não é muito fácil, principalmente, quando se tem filhos. “Tenho dois filhos: uma menina com 6 meses e um rapaz de 16 anos. Mes-mo assim sou bem esforçada com os estudos”.

Um dos maiores desafios de Paula foi

concluir o primeiro ano de faculdade. “Tudo era muito diferente. O choque cultural foi muito grande. Passei por períodos complicados. Até achei que ia desisitir, mas felizmente, consegui vencer. Hoje, me sinto bem mais tran-qüila na faculdade”.

A história de Paula tem sido um incen-tivo para muitas pessoas que moram na cidade Bayeux. “Moro em uma região carente onde os jovens com poucas oportunidades seguem dois caminhos: a prostitiução ou as drogas. Procuro mostrar uma alternativa dife-rente marcada por estudo, esforço, de-terminação e vontade de vencer”.

O BRASIL

de PaulaPaula Shirlene de Oliveira

Estudante de Direito, Instituto Paraíba de Educação e Cultura/PB

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ONQUISTAC

Superação de

As pessoas com deficiências têm no esporte uma opor-tunidade de provar o seu valor

como atletas e cidadãos. O paulista de Osvaldo Cruz, Odair Ferreira dos Santos, 26 anos, deficiente visual, é um destes exemplos de determinação no esporte e nos estudos.

Apaixonado por atletismo, Odair é con-siderado um dos melhores corredores paraolímpicos do Brasil nos 1.500 m rasos. Em 2007, o atleta conquistou três medalhas de ouro no atletismo (1.500m, 5.000 m e 10.000m) nos jo-gos Parapanamericanos do Rio de Ja-neiro. Nas Paraolimpíadas de Atenas (2004) foram duas medalhas de prata e uma de bronze. Em 2003, nos Para-panamericanos de Mar Del Plata, na Argentina, foram três medalhas de ouro.

O atletismo é um dos esportes que congrega o maior número de pessoas com deficiência. Alguns competem em cadeiras de rodas, outros com próte-ses. Já os atletas com deficiência vi-sual total ou parcial (dependendo do grau de deficiência), participam das provas com ou sem um guia.

Com apenas 10 anos, o atleta começou sua carreira como corredor profissio-nal. O primeiro troféu foi conquistado

com 12 anos e desde então nunca mais parou de correr.

Odair conta que só se profissionalizou no esporte paraolímpico em 2003. A retinose pigmentar hereditária começou a se manifestar quando criança e foi se agravando durante a adolescência.

Além do treinamento diário e o tra-balho voluntário na Associação de Cegos de Prudente, Odair também dedica tempo para os estudos. O atle-ta é aluno do 4º semestre do curso de Turismo da UNIESP, em Presidente Prudente (SP), cidade onde reside e treina. Alguns meses depois de in-gressar na faculdade, o estudante conheceu o ProUni.

O estudante revela que o ProUni é uma excelente oportunidade para muitos jovens que, como ele, têm di-ficuldade para arcar com as mensalidades de um curso de ensino supe-rior. “Posso dizer que atualmente minha vida está completa porque estou ga-rantindo o meu fu-turo. Após finalizar o curso superior, pretendo seguir carreira pública,

me dedicar ao ramo de eventos ou ao turismo de inclusão porque a vida no esporte não é muito duradoura”.

Odair relata que com a graduação, novas oportunidades apareceram. “Já fui convidado para palestrar sobre minhas conquistas e superações”.

De acordo com a diretora geral da UNIESP, Cláudia A. Pereira, a insti-tuição aderiu ao ProUni, em 2005, e, desde então, tem acreditado no potencial dos universitários bolsis-tas. “Atualmente, esses estudantes saíram da condição de excluídos socialmente e passaram para a condição de cidadãos atuantes, além de conquistarem formação de quali-dade que os insere no mercado de trabalho regional. O ProUni incentiva o jovem a fixar-se na região após a sua formação acadêmica”.

limites

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RTIGOA

PROUNIQuatro anos de história

Paula Branco de MelloCoordenadora Geral do ProUni

SESu/MEC

Francisco Martins da SilvaDiretor e professor do curso de Educação Física

da Universidade Católica de Brasília

Integrando as políticas de expansão da edu-cação superior, com foco na ampliação do acesso com qualidade, o Governo Federal

criou, em 10/09/2004, por meio da Medida Provisória nº 213, institucionalizada pela Lei nº 11.096/2005, o Programa Universidade para Todos – ProUni.

O Programa concede bolsas de estudos inte-grais e parciais de 50% e 25%, em cursos de graduação e seqüenciais de formação espe-cífica, em instituições privadas de educação superior, oferecendo em contrapartida isenção de tributos federais1.

Dirigido aos brasileiros sem diploma de curso superior, com renda per capita máxima de três salários mínimos, egressos do ensino médio público ou da rede particular na condição de bolsistas integrais, o ProUni apresenta-se como uma realidade no cenário educacional do país. No seu primeiro ciclo, assim com-preendidos os cinco processos seletivos rea-lizados no período de 2004 a 2007, foram

atendidos aproximadamente trezentos e dez mil estudantes.

O ProUni contou com a adesão inicial de 1.142 instituições de ensino superior, encerrando o ano de 2007 com a participação de mais de 1.400 instituições, sintetizando assim sua eficácia e reconhecimento social, ratificados pela também crescente demanda pelas bolsas ofertadas, que chegou a contar com a inscrição de 790 mil candidatos num único processo seletivo.

A dimensão territorial também encontra-se con-templada no Programa, uma vez que o ProUni possui abrangência nacional, estando presente em todas as Unidades da Federação.

Referenciado no Plano Nacional da Educação – PNE, que tem como uma de suas metas a presença até 2010 de 30% dos jovens entre 18 e 24 anos na educação superior, o ProUni con-tabilizou, desde sua criação, a oferta de mais de cem mil bolsas anuais.

Conforme expresso no Gráfico I, representativo da série histórica de bolsas ofertadas, aqui compreendidas as bolsas obrigatórias e as adicionais ofertadas pelas instituições em pro-porção superior à estabelecida pela legislação, verifica-se um crescimento anual dessa oferta de cerca de 20%.

1 A isenção abrange os seguintes tributos (Lei nº 11.096/2005, art. 8º):a) Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ);b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL);c) Contribuição Social para Financiamento da Seguri-

dade Social (COFINS);d) Contribuição para o Programa de Integração Social

(PIS).

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Gráfico I. Bolsas ProUni ofertadas 2005-2007 No que se refere à modalidade de ensino, registra-se uma predominância do ensino presencial, responsável por 92,96% das bol-sas, cabendo ao ensino a distância os ou-tros 7,04%, de acordo com dados expressos no Gráfico III.

Gráfico III. Percentual de bolsistas por modali-dade de ensino (presencial x EAD)

Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007

Ainda, concernente aos cursos presenciais que integram o ProUni, é importante frisar a pre-ponderância dos cursos noturnos, que congre-gam 71,81% dos bolsistas, como demonstrado no Gráfico IV. Situação essa que concorre para ampliar as possibilidades de acesso do es-tudante trabalhador ao ensino superior, per-mitindo a compatibilização de suas atividades laborais e acadêmicas.

Gráfico IV. Percentual de bolsistas por turno

Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007

Em consonância com a política de inclusão social do Governo Federal, o ProUni reser-va um percentual das bolsas aos afrodes-cendentes, indígenas e às pessoas com deficiência, proporcionalmente ao número desses cidadãos nos Estados da Federação, conforme informações do último Censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Fonte: SISPROUNI – 01/11/2007

Com um sistema de seleção informatizado e impessoal, o que confere transparência e se-gurança ao processo de ingresso, os candida-tos às bolsas são pré-selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Médio – Enem. Desse modo, o ProUni conjuga inclusão à qualidade e mérito dos estudantes com me-lhores desempenhos acadêmicos.

Nesse sentido, é importante ressaltar a eleva-ção da nota média do Enem dos estudantes inscritos para as bolsas do ProUni, de 48 pon-tos no primeiro processo seletivo para 54,77 no processo seletivo 1°/2007. Já a nota média do Enem dos pré-selecionados manteve-se, em todos os processos, acima dos 60 pontos.

Soma-se a isso a exigência de aprovação mínima em 75% das disciplinas cursadas, em cada período letivo, para permanência do bolsista no Programa.

Caracterizando o universo desses bolsistas, refe-ridos no gráfico II, merece destacar que a con-centração dos estudantes já atendidos pelo Programa encontra-se nas bolsas integrais, que cobrem a totalidade da mensalidade e são oferta-das apenas àqueles com renda familiar per capi-ta máxima de um salário mínimo e meio.

Gráfico II. Percentual de bolsistas por tipo de bolsa (Integral x Parcial)

Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007

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Traduzindo o caráter includente do Programa, aproximadamente 138 mil bolsistas são afro-descendentes, o que representa um percen-tual de cerca de 45% do contingente de es-tudantes atendidos pelo ProUni. Esses dados, representados no Gráfico V, atestam a rele-vância da inclusão de uma parcela de jovens que, historicamente, não tinham acesso ao ensino superior.

Gráfico V. Percentual de bolsistas por raça

concedendo maior flexibilização na contrata-ção aos estudantes com bolsas parciais do ProUni que encontram dificuldades em arcar com os custos da parcela não coberta pelo benefício.

Ressalta-se, por fim, o baixo custo do ProUni para a sociedade, conforme dados da Re-ceita Federal do Brasil, consubstanciados no gráfico VI. A renúncia fiscal apurada para o ano de 2005 foi de apenas R$106,7 milhões de reais, sendo estimados para os anos de 2006 e 2007 valores de R$114,7 e R$126 milhões de reais, respectivamente.

Gráfico VI. Renúncia Fiscal em milhões de reais/ano

Fonte: SISPROUNI de 01/11/2007

Articulado à concepção sistêmica da educa-ção, traduzida no compromisso do poder pú-blico com todo o ciclo educacional, o ProUni também estabelece critérios diferenciados para participação dos professores no Pro-grama, o que vem ao encontro da política de incentivo à formação e qualificação dos do-centes da educação básica pública. Desse modo, esse segmento é dispensado da com-provação de renda mínima e do ensino mé-dio público ao concorrer a bolsas para os cursos de licenciaturas, normal superior e pedagogia.

O ProUni possui, ainda, ações conjuntas de incentivo à permanência dos estudantes nas instituições, como a Bolsa Permanên-cia e o FIES - Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior. Como parte das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE, no âmbito das políticas de inclusão e permanência de jovens carentes na educação superior, foi sancionada a Lei n° 11.552/2007, que estabelece medidas de aprimoramento desse crédito estudantil,

* Valores estimadosFonte: Receita Federal - Coordenação-Geral de Política Tributária Nota COPAT nº 010/2007, de 02/03/2007.

O ProUni revela-se, assim, um Programa conso-lidado e fecha seu primeiro ciclo ultrapassando a meta inicial de 100 mil bolsas anuais, o que confirma seu elevado poder de abrangência, forte impacto social e a indiscutível qualidade de seus bolsistas. Mais do que isso, extrapola o caráter acadêmico ao possibilitar a expressão do grande potencial de uma parcela significa-tiva dos jovens brasileiros. Questão de opor-tunidade!

Elaboração dos gráficos:Carmen Sílvia Lima Luccas José Alberto da Silva Viegas

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ISTÓRIAS DO PROUNIH

Estudar, trabalhar e cuidar da família. Uma vida comum para muitas pessoas, porém difícil

de ser conciliada. A vida do persona-gem principal dessa história, Daniel de Lima, é assim. Para oferecer uma vida melhor para sua esposa e filha, Daniel precisou priorizar os estudos.

Tudo começou na cidade de Apuí, 450 quilômetros de Manaus, no in-terior do Amazonas. Daniel traba-lhava como eletricista, mas sempre acalentou o sonho de cursar uma faculdade.

“No fim do Ensino Médio, vi na tele-visão uma propaganda sobre o ProUni e me interessei. O gestor da escola onde eu estudava me auxiliou durante a inscrição, pois na época eu não tinha conhecimentos de informática e inter-net. Utilizei meus resultados no Enem e fui aprovado para Ciências Contábeis na Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB-AM)”, explica Daniel.

A jornada de Daniel para estudar não foi fácil. Precisou mudar para Manaus e enfrentar duros desafios. “Ao chegar na capital, após uma viagem de barco que durou cinco dias, eu e minha es-posa alugamos uma quitinete. Passei quase um ano vivendo de bicos até que consegui um emprego como assis-tente contábil. Não tínhamos amigos ou parentes, por isso passamos mui-tas dificuldades. Dormimos dois me-ses numa rede porque não tínhamos dinheiro para comprar móveis”.

No início, a esposa de Daniel não enten-dia o sacrifício e a força de vontade do marido para com os estudos. “Tivemos que conversar muito para que ela en-tendesse que eu estava atrás de uma vida melhor”. Agora numa situação mais confortável, Daniel pôde trazer a filha para morar em Manaus.

Hoje, faltam apenas dois semestre para que Daniel conclua o ensino su-perior. “O ProUni foi importante porque mudou a minha vida e permitiu que

O BRASIL de Daniel

eu realizasse um sonho antigo, entrar numa universidade. Também estou feliz porque minha esposa decidiu seguir o meu exemplo e vai estudar Filosofia”, declara.

Segundo o estudante todo o sacrifício valeu a pena. “Quero fazer carreira como contador e voltar para Apuí um dia. Afinal, este sacrifício só vai ser válido se no futuro puder ajudar no progresso do meu município”.

Daniel de LimaEstudante de Ciências Contábeis, FSDB/AM

Page 14: Palavra do Ministro

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ECNOLOGIAT

SISPROUNITransparência

e Segurança

Certificação digital é chave para a segurança na web

Para aumentar a segurança de transações via internet, empre-sas têm utilizado a tecnologia de

Certificação Digital, que é um conjunto de técnicas e processos que propiciam maior segurança às comunicações e transações eletrônicas, garantindo a autenticidade de documentos.

Os certificados digitais são “docu-mentos de identificação” eletrônicos. Eles são emitidos por uma Autoridade Certificadora, considerada confiável pelas partes envolvidas em uma comunicação e/ou negociação. Na prática, o certificado digital funciona como uma carteira de identidade vir-tual que permite a identificação segu-ra de uma mensagem ou transação em rede de computadores.

O acesso ao sistema do ProUni (SIS-PROUNI) é realizado com a utilização de certificados digitais, emitidos no âmbito da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICPBrasil, sen-do todos os documentos emitidos pelo sistema assinados digitalmente.

A assinatura digital de documentos utili-zando certificados, emitidos pela raiz do ICP-Brasil, em âmbito nacional brasileiro, tem validade jurídica. Por isso, quando uma instituição emite, por meio do SIS-PROUNI, um Termo de Concessão de Bolsa a um estudante e o assina digi-talmente, esse procedimento equivale a emitir o mesmo termo em papel com uma assinatura do mundo real.

Segundo Elmer Alexandre de Oliveira, gerente de projetos da Coordenação Geral de Informática e Telecomunica-ções (CEINF), do Ministério da Edu-cação, a certificação digital permitiu desburocratizar os processos com total autenticidade e segurança. “No

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Brasil, o ProUni foi pioneiro no uso de Certificação Digital via internet, com abrangência nacional”, declara.

O SISPROUNI foi elaborado sob a Gestão da Diretoria de Políticas e Pro-gramas de Graduação da Educação Superior da Secretaria de Educação Superior e desenvolvido pela CEINF. É por meio desse sistema que o MEC é capaz de identificar, em tempo real, a situação dos bolsista e de cada uma das instituições participantes do Pro-grama.

Sistema InteligenteTodo o sistema de seleção do ProUni é realizado, exclusivamente, pela in-ternet, o que confere transparência

ao Programa.

Quando o estudante inicia o processo de inscrição, o sistema busca, auto-maticamente, no banco de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) a nota obtida no Exame Nacio-nal do Ensino Médio (Enem).

Ao fazer sua inscrição, o candidato escolhe até cinco opções de cursos, habilitações, turnos ou instituições de ensino superior, dentre as disponíveis. O estudante é pré-selecionado uma única vez para sua opção de maior prioridade. O estudante que tiver ob-tido o melhor resultado no Enem é o primeiro a ser beneficiado em sua primeira opção.

Também está disponível no SIS-PROUNI consulta que permite ao candi-dato acompanhar, on line, até o encer-ramento das inscrições, as respec-tivas notas mínimas de classificação com base nas inscrições já feitas. Além disso, o Sistema permite que os candidatos possam refazer, a qualquer momento, antes do final das inscrições, suas opções.

Quanto à capacidade de operação, o

SISPROUNI recebeu, no primeiro pro-

cesso seletivo de 2007, mais de 10 mi-

lhões de consultas de estudantes, com

tempo médio de conexão e inscrição de

9 minutos. O Sistema já foi capaz de

receber simultâneamente o acesso de

20 mil usuários.

SISPROUNI recebe prêmio

Em 2006, o SisProUni venceu a 6ª

edição do Prêmio Padrão de Quali-

dade em B2B, categoria educação,

iniciativa da Padrão Editorial, por

meio da Revista B2B Magazine.

Este prêmio tem o objetivo de contri-

buir para o desenvolvimento de negó-

cios e estratégias voltados para tecno-

logia da informação disseminando as

melhores práticas de negócios corpo-

rativos na internet.

As empresas participantes do Prêmio

tiveram seus cases avaliados segun-

do a eficácia e o resultado das suas

estratégias tecnológicas e digitais.

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RANSPARÊNCIAT

doA Comissão Nacional de Acom-

panhamento e Controle Social do Programa Universidade

para Todos (CONAP) cumpre um papel importante como exemplo da consol-idação das estruturas democráticas do nosso país. Sua missão é aper-feiçoar e conso-lidar as qualidades do ProUni, por meio da legítima re-presentação da sociedade civil, reafir-mando o compromisso de oferece aos estudantes brasileiros uma educação superior de qualidade.

Constituída em março de 2006 pelo Ministério da Educação, a CONAP rea-liza reuniões trimestrais nas quais seus membros apresentam críticas, denúncias e sugestões ao Programa. O objetivo é garantir a transparência e estabelecer uma relação direta entre sociedade e os órgãos reguladores e executores do ProUni.

A Comissão que promove o acompa-nhamento dos procedimentos ope-racionais de concessão de bolsas e

demais atribuições consultivas é com-posta por dois representantes do corpo discente das instituições privadas de ensino superior, sendo pelo menos um deles bolsista do ProUni – desig-nados pela União Nacional dos Estu-dantes (UNE); dois representantes dos estudantes do ensino médio público – indicados pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES); dois representan-tes do corpo docente das instituições privadas de ensino supe-rior – definidos pela Confederação Na-cional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Esta-belecimen-tos de Ensino (CONTEE); dois represen-tantes dos dirigentes das instituições privadas de ensino superior – reco-mendados pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB); além de dois representantes da socie-dade, atualmente representados pelo MSU e Educafro.

Controle social

Segundo o secretário de Educação Su-perior do MEC, Ronaldo Mota, “o ProUni já se consolidou como uma iniciativa de impacto muito positivo na educação su-perior brasileira. O importante agora é, cada vez mais, aperfeiçoar os mecan-ismos e os instrumentos de controle e fiscalização, no sentido de garantir que o Programa cumpra as suas diretrizes”.

Sendo assim, os representantes da CONAP atuam em suas instâncias, lo-calidades e entidades no sentido de absorver as demandas dos bolsistas e conhecer suas principais necessi-dades, dificuldades e reivindicações. Durante as reuniões, após apresen-tadas e debatidas, as informações co-lhidas são encaminhadas à Secretaria de Educação Superior (SESu) do MEC.

A Comissão já apresentou contribuições significativas no processo de acompa-nhamento do Programa e prepara ações importantes para 2008, como a elabo-ração de um manual de informações sobre os direitos e os deveres dos bolsis-tas, atendendo a uma reivindicação dos estudantes, feita durante o 1º Encontro dos Estudantes do ProUni de São Paulo. Esse manual será elaborado de forma cooperativa entre o Ministério da Edu-cação e a CONAP, sob a supervisão da Secretaria de Educação Superior/MEC.

A partir de agora, a Comissão entra em uma nova fase, cuja prioridade será o aperfeiçoamento dos mecanismos e instrumentos de avaliação e fiscaliza-ção, a fim de evitar fraudes e verificar o cumprimento da missão do ProUni.

Acima de tudo, a CONAP trabalha para garantir que a aliança entre o compro-misso social e a expansão de vagas no ensino superior seja feita por meio da oferta de uma educação de quali-dade para todos.

PROUNI

Comissão Nacional de Acompanhamento e Controle Social do Programa Universidade para Todos (CONAP)

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INANCIAMENTOF

Integrando as políticas de acesso dos jovens brasileiros à educação superior, o Prouni e o FIES juntos

já possibilitaram a inclusão de mais de 800 mil estudantes.

Criado em 1999, o FIES é um pro-grama que se destina a financiar cursos superiores para estudantes que não têm condições de arcar in-tegralmente com os custos de sua formação. A gestão do programa é realizada conjuntamente pelo Ministério da Educação, na quali-dade de agente supervisor, respon-sável pelas políticas educacionais norteadoras do Programa e pela Caixa Econômica Federal, agente operador e financeiro, responsável pela administração dos ativos e pas-sivos do Fundo, assim como pela concessão e manutenção dos finan-ciamentos. O FIES já atendeu, desde sua criação, mais de meio milhão de

Integrando as ações do Plano de De-senvolvimento da Educação, foi san-cionada, em novembro de 2007, a Lei nº 11.552 que estabeleceu medidas de aprimoramento do FIES, criando melhores condições e facilidades aos estudantes.

Entre as novidades, está a criação da carência de seis meses para início do pagamento, o aumento do prazo de amortização do contrato para duas vezes o prazo de utilização do finan-ciamento, a possibilidade de utiliza-ção da fiança solidária como garantia, dispensando a figura do fiador tradi-cional, o desconto das prestações em folha de pagamento e a ampliação do percentual de financiamento que pode chegar a 100% da mensalidade paga. Ainda como parte das alterações está a possibilidade de extensão do FIES aos cursos de mestrado e doutorado, a serem oferecidos de acordo com as diretrizes educacionais do MEC, após o atendimento prioritário dos cursos de graduação e mediante disponibili-dade orçamentária.

O ProUni e o FIES figuram, assim, como importantes iniciativas do Go-verno Federal para a democratização do acesso focado na qualidade, na in-clusão e na garantia da permanência de milhares de jovens na educação superior.

Acesso e permanência no

estudantes, com um investimento estimado em cerca de 4,8 bilhões de reais.

Estabelecendo a complementarie-dade entre os dois programas, o FIES prioriza as instituições participantes do ProUni na distribuição dos recur-sos assim como concede financia-mento prioritário aos bolsistas par-ciais desse Programa. É o caso da estudante Cristênia Siqueira Alves, da Universidade Paulista. Mesmo recebendo uma bolsa parcial de 50% do ProUni, tinha dificuldades para custear a outra metade da mensali-dade de R$ 1.100,00. “O salário que recebo não é suficiente para pagar o restante da faculdade e os meus cus-tos pessoais, por isso utilizei o FIES. Assim que terminar o curso pretendo conseguir um emprego melhor na minha área e pagar com tranqüili-dade o valor financiado”, declara.

Ensino Superior

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“O fim da graduação é um mo-

mento de alegria para mui-tos estudantes. O sonho da

formatura, o diploma na mão, a rea-lização profissional são os maiores objetivos dos jovens universitários. Um grupo de bolsistas do ProUni, da Universidade Católica de Brasília (UCB), está vivendo a etapa final de mais uma caminhada de estudos. Viviane, Daniel, Greti, Benoni, Michelle e Fábio contam a experiência de ser um estudante ProUni.

Valeua pena

Moro sozinha e sempre trabalhei para a pagar a faculdade. No início do curso, eu recebia uma bolsa social da própria universidade, mas mesmo assim precisava ter dois empregos para custear os estudos e as minhas despesas pessoais.

Quando fiquei sabendo do ProUni não perdi tempo e logo fiz o Enem. Com 78 pontos consegui a única vaga dis-ponível no curso de Pedagogia para alunos que já estudavam na institui-ção.

A bolsa integral do ProUni me deu a oportunidade de trabalhar apenas um período e me dedicar melhor aos estudos.

Na minha opinião, o mais interes-sante do ProUni é a valorização do próprio estudante. É o seu empenho que está em jogo. Tem a questão da carência aliada ao esforço individual em obter uma boa nota no Enem.

Estou realizada e feliz porque agora sou uma Pedagoga. Meu sonho é continuar estudando. Quero fazer pós-graduação e me tornar uma pro-fessora universitária.

Viviane Nunes da Silva (28 anos)PedagogiaBolsa integral

Recebi o ProUni no 6º semestre da facul-dade. Minha grade de curso era irregular porque eu não tinha condições de pagar toda a mensalidade. A bolsa do ProUni facilitou a minha vida e me ajudou a ter-minar mais rapidamente o curso.

Sempre quis fazer Educação Física. Fe-lizmente tive a liberdade de escolher o curso que gosto. Acho que a gente nun-ca se forma totalmente. Por isso, quero continuar estudando.

Daniel Pereira Rosa (30 anos)Educação FísicaBolsa parcial

Apenas no 6º semestre consegui a bol-sa integral do ProUni. Foi uma alegria porque tive a oportunidade de regulari-zar o curso e não atrasar ainda mais disciplinas. O certo seria terminar a faculdade em 4 anos, mas com muito esforço e apoio dos meus pais vou concluir o curso em 5 anos. Não estou triste, pelo contrário, estou feliz. Venci mais uma etapa da vida. Tenho muitas expectativas profissionais. O ProUni me ajudou e agora espero ter uma boa co-locação profissional.

Greti de Oliveira Rocha (27 anos)Engenharia AmbientalBolsa integral

DanielViviane

TAPA FINALE

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Foram muitas dificuldades para eu concluir o ensino superior. Há dois anos desempregado, posso afirmar que sou um engenheiro ambiental graças ao ProUni.

Só recebi a bolsa depois do 5º semes-tre de faculdade. No início do curso, eu trabalhava à noite e para ficar acordado em sala era realmente mui-to complicado. Depois que eu perdi o emprego e passei a ser apenas um estudante eu pude, mesmo em situa-ções adversas, me dedicar melhor. Tive oportunidade de fazer cursos de extensão e estudar mais.

Na minha opinião, o ProUni é um dos melhores programas do Governo Federal. Sem ele, seria praticamente impossível eu terminar a faculdade. Além disso, fico feliz porque minha esposa faz o curso de Direito com bol-sa integral do ProUni. Agora, formado posso garantir um futuro melhor para a minha família.

Benoni Pereira Martins (39 anos)Engenharia AmbientalBolsa parcial

Por ter a bolsa parcial do ProUni, meus pais me incentivaram a priori-zar os estudos. Me dediquei bastante ao curso e, nas horas vagas, estudava para concurso.

Todo esse esfoço valeu a pena. Recebi um prêmio de melhor aluna do curso de Economia e ainda passei em um concurso na minha área. Acredito que correspondi a toda esse incentivo.

Pretendo continuar estudando. Vou tentar mestrado na Universidade de Brasília (UnB).

Estou aliviada porque terminei mais uma etapa, mas triste porque estou saindo da faculdade.

Michelle Pinto Oliveira (24 anos)Ciências EconômicasBolsa parcial

O acesso ao ensino superior é algo muito difícil para a maioria das pes-soas. Hoje, com o ProUni, vejo que a universidade começa a fazer parte da periferia. Num país cheio de desigual-dades sociais, o ProUni trouxe opor-tunidade para as pessoas carentes, porém determinadas a vencer. Ele trouxe a oportunidade para as pes-soas sonharem. Agora, tudo depende do esforço individual.

Posso dividir o meu curso em antes e depois do ProUni. Antes do ProUni, eu trabalhava na UCB numa área dife-rente do meu curso. Ficava ali porque precisava da bolsa.

O mercado de informática é muito prático e exige que você tenha ex-periência na área. Ao ganhar a bolsa do ProUni, eu pude ir para o mercado de trabalho e o meu redimento nas aulas também aumentou. Tudo o que eu aprendia em sala de aula, tive a oportunidade de praticar. Isso para mim foi muito bom.

Hoje, me sinto um vitorioso. Quero continuar os estudos fazendo uma pós-graduação. O meu objetivo é dar aulas em universidades. Meu desa-fio é fazer a diferença numa sala de aula.

Fábio Alves de Almeida (23 anos)Sistemas de InformaçãoBolsa integral

BenoniFábio

Michelle

Greti Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 21

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RTIGOA

PROUNI e a democratização do

acesso e permanência no

ensino superior

O contexto educacional brasileiro tem se caracterizado na atualidade pelo am-plo debate acerca de alternativas pe-

dagógico-educacionais que garantam a todos o ingresso, a participação e a aprendizagem nos diferentes níveis, etapas e modalidades de ensino. Esse movimento, que teve início com a Conferência Mundial de Educação para Todos de 1990, mobiliza os sistemas de ensino e os profissionais da educação a transformarem suas concepções de ensinar e aprender.

A defesa por uma visão sistêmica proposta pelo Ministério da Educação tem promovido a evolução das ações políticas de inclusão social e educacional e tem propiciado o desenvolvi-mento de ações afirmativas no âmbito do Ensi-no Superior. A abordagem sistêmica de educa-ção, na área da educação especial, contribuiu para uma transformação conceitual fundamen-tal, que serve de pilar para a sustentação de uma educação para todos: o entendimento da educação especial como um campo de conhe-cimento e uma modalidade transversal, que perpassa desde a educação infantil até o en-sino superior.

A proposição de uma política de inclusão tem como fundamento a premissa de que todos têm direito à educação e à aprendizagem com qualidade e que aos sistemas de ensino cabe a articulação de ações de acessibilidade, segui-das por transformações conceituais quanto ao ensino e à aprendizagem, superando con-

cepções segregacionistas e classificatórias de educação. Dados do MEC/INEP têm mostrado que menos de 10% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem entrar em uma universidade ou faculdade. Neste contingente é inexpressivo o número de pessoas com algum tipo de defi-ciência, não por sua incapacidade de ascender a uma universidade, como apregoavam con-cepções reducionistas sobre a aprendizagem, mas pela total fragilidade de políticas que ga-rantam condições de acessibilidade ao ensino superior destinadas a essa população.

Tendo em vista essa realidade, o Ministério da Educação desencadeia ações promotoras da inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior, entre elas, o ProUni – Programa Uni-versidade para Todos, criado pela Medida Pro-visória nº. 213/2004 e institucionalizado pela Lei nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Esse Programa tem como objetivo conceder bolsas de estudo integrais ou parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e se-qüenciais de formação específica, em institui-ções privadas de ensino superior, oferecendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. Como critérios para ingresso é necessário participar do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, obtendo a média estabelecida pelo Ministé-rio da Educação e possuir renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos, satisfa-zendo, também, as condições de ter cursado

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ensino médio completo em escola pública, ter cursado o ensino médio completo em escola privada com bolsa integral, ter cursado todo o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em instituição privada, na condição de bolsista integral da respectiva instituição, ser pessoa com deficiência, ser pro-fessor da rede pública de ensino básico em efe-tivo exercício sem formação em nível superior.

O Programa tem contribuído para o avanço e cumprimento dos marcos legais, como a Cons-tituição da República Federativa do Brasil de 1988 - que assegura a educação como um dire-ito de todos e o acesso aos níveis mais elevados de ensino (art.208), o Decreto nº 5296/2004, que regulamenta os critérios básicos de aces-sibilidade em todos os níveis de ensino, e a Por-taria nº 3284/2003 do MEC, que dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas com deficiências para instruir os processos de au-torização e de reconhecimento de cursos e de credenciamento de instituições de ensino su-perior. Com isso, a democratização de acesso e permanência se torna possível, propiciando condições para que os alunos com deficiência alcancem os níveis mais elevados de ensino e, conseqüentemente, tenham adqui-rido seu direito de participação e atuação na socie-dade.

Nesse contexto, o ProUni se apresenta como uma ação afirmativa, que, conjugada à pro-posta do Plano de Desenvolvimento da Educa-ção (PDE), converte-se em efetivo instrumento de democratização da educação superior no Brasil. Por ora, essa importante iniciativa go-vernamental já tem melhorado o acesso e a permanência de brasileiros e brasileiras em situação de vulnerabilidade social que, num passado

bastante recente, jamais vislumbra-riam a pos-sibilidade de entrar em uma universidade. O Plano de Desenvolvimento de Educação afirma que o desempenho dos bolsistas do ProUni é superior ao desempenho dos alunos pagantes, o que demonstra cabalmente que a questão do acesso foi tratada corretamente: os alunos não chegavam à educação superior por uma questão econômica e não por falta de méritos. A superação de uma política afirmativa depend-erá da articulação da comunidade acadêmi-ca e da sociedade como um todo em prol da eliminação das barreiras do preconceito e da indiferença marcando definitivamente um novo patamar de educação no Brasil.

Cláudia DutraSecretária de Educação Especial

SEESP/MEC

O Plano de Desenvolvimento da Educação – Razões, Princípios e Programas. Brasília. MEC, 2007.

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sobre s com de au-

sos e de nsino su-e acesso

opiciando deficiência de ensino

qui-rido seu o na socie-

resenta como jugada à pro-

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ção superior no nte iniciativa go-do o acesso e a brasileiras em

e

da Educação – Razões, . MEC, 2007.

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ISTÓRIAS DO PROUNIH

A deficiência visual nunca foi obs-táculo para Adejane Pereira ir em busca de seus sonhos. Bol-

sista do ProUni ingressante pelo sistema de cotas para pessoas com deficiência, a estudante está no último semestre do curso de Letras na Faculdade do Grande ABC, em São Paulo.

De uma família humilde, o pai pedreiro e a mãe vendedora, Adejane conta que a educação sempre foi uma das priori-dades de sua família. “Tenho mais duas irmãs que também fazem faculdade. Sei que o salário dos meus pais nunca daria para pagar um curso de gradua-ção, por isso sempre fui em busca das oportunidades”.

Na faculdade, Adejane conta com a ajuda dos colegas para copiar as matérias do quadro. “Tenho apenas 20% de visão. Sou totalmente inde-pedente quando se trata da minha locomoção, mas na faculdade sem-pre preciso do apoio dos professores e colegas”.

Desde que começou o curso, a vida de Adejane mudou muito. Já minis-trou palestras na faculdade contan-do sua história de desafios e supe-ração. “Minha vida também mudou porque recentemente consegui um emprego. Não tenho palavras para expressar o quanto estou realiza-da”, diz.

Assim que terminar o curso, a estu-dante pretende continuar na empresa onde trabalha e também dar aulas. “Pretendo estudar ainda mais e ul-trapassar todas as barreiras que ain-da estão por vir. Hoje, só tenho que agradecer a Deus, a minha família, ao ProUni, a universidade e as minhas amigas de sala que contribuíram para o meu sonho se tornar realidade”.

O BRASIL

de Adejane

Adejane Pereira CorreiaEstudante de Letras, Faculdade do Grande

ABC/SP

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ERCADO DE TRABALHOM

Depois de concluir o ensino su-perior, a maior preocupação do jovem recém-formado é

a inserção no mercado de trabalho. Especialistas na área de empregabili-dade são unânimes em dizer que não há crise para os profissionais bem preparados.

Rosilane Santos Vasconcelos, 30 anos, teve o privilégio de terminar a faculdade com um emprego garan-tido. Atualmente, trabalha como en-fermeira em um hospital do Rio de Janeiro. “Estou muito feliz e realizada profissionalmente. Tive a oportuni-dade de fazer um curso por amor e vocação e não apenas para ter um

bom salário”, diz.

Com bolsa integral do ProUni, Rosilane fez o curso de Enfermagem na Universidade do Grande Rio. “No 4º semestre de faculdade ga-nhei a bolsa. Para conseguir pagar a mensalidade, eu trabalhava em três empregos como técnica de en-fermagem. Quando ganhei a bolsa tudo melhorou em minha vida. Co- mecei a trabalhar menos e a estudar mais”, revela.

Numa família de nove irmãos, Rosilane se destaca. Seu esforço e dedicação foram recompensa-dos. “Estar bem profissionalmente

Qualificação é a chave para um bom emprego

é o sonho de qualquer universitário. Além disso, com o meu salário tenho a oportunidade de ajudar meus pais financeiramente”.

Para se manter atualizada, Rosilane não quer parar de estudar. Em 2008, começa a fazer pós-graduação em UTI Neo-Natal. “Meu maior sonho agora é entrar para a Marinha. Como sei que a concorrência é muito grande vou, primeiramente, me especializar e de-pois tentar concorrer à uma vaga”.

A experiência de Rosilane como bol-sista já repercuti dentro da sua famí-lia. Seus sobrinhos também vão tentar uma vaga no ensino superior por meio do ProUni. “Para mim, o ProUni é o programa de governo mais inteligente que já vi. Beneficia quem está dispos-to a estudar e, consequentemente, ajuda o estudante a conquistar um lugar no mercado de trabalho”.

Rosilane Santos VasconcelosEnfermeira

garantido

é h d l

Rosila

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ARTIGO

Educação e desigualdade:

o papel do PROUNI

As sociedades democráticas, apoiadas na concepção soberana do indivíduo, têm na educação seu mais importante

instrumento de afirmação de valores e princí-pios. A partir das premissas da igualdade perante a lei e da irredutibilidade do indivíduo, as sociedades democráticas apostam no valor eqüitativo da educação: cada um de acordo com seus méritos terá acesso ao conjunto de direitos e oportunidades reservadas aos seus cidadãos educados. Acessar a educação é pre-missa para ter acesso à condição de cidadão de pleno direito.

A história da educação brasileira tem sido mar-cada pela iniqüidade e também pela luta para que o acesso à educação realize a promessa democrática. No entanto, a sociedade mantém uma relação paradoxal com a educação: se, por um lado, reafirma sua importância como fator de desenvolvimento – individual e coletivo – por outro, reage fortemente quando se adotam me-didas que buscam dar eqüidade de acesso a segmentos tradicionalmente excluídos da edu-cação, em especial da educação superior.

O Programa Universidade para Todos – ProUni – pode ser visto como um bom exemplo desse rico e complexo debate que envolve valores, visões de mundo, a compreensão do que fomos e do que queremos ser como nação. Nascido para regulamentar um dispositivo constitucio-nal – a filantropia – que concede isenção fis-cal a um conjunto de instituições educacionais, o ProUni tornou-se o maior e mais importante programa de bolsas para o acesso de segmen-tos da população pobre à educação superior

em nosso país. A trajetória da proposta inicial do programa, as alterações que sofreu, as críti-cas a que foi submetido fazem do ProUni um caso exemplar dos paradoxos de nosso país. Acusado por opiniões conservadoras (à direita) de ser uma intervenção indevida na iniciativa privada e por outras opiniões igualmente con-servadoras (à esquerda) de ser um programa assistencialista com a real finalidade de de-fender os interesses do setor privado da educa-ção superior, o ProUni atravessou esses poucos e longos anos de existência confirmando sua pertinência para o tema da democratização do acesso à educação superior. Se criado no mes-mo momento em que a Constituição de 1988 definiu a condição de filantropia, teria gerado milhares de vagas para acesso de segmentos mais pobres da população, uma verdadeira re-volução em nosso país, tão avaro em oportuni-dades para os excluídos.

Esse é, certamente, um dos paradoxos mais gri-tantes: a sociedade reafirma sua crença no va-lor da educação como instrumento de redução de desigualdades e criação de oportunidades e, no entanto, reage quando se cria um pro-grama que pretende democratizar o acesso e ampliar oportunidades.

Quando se trata de considerar o ProUni levan-do em conta os temas da diversidade étnica e cultural, sua contribuição é imensa. Ao esta-belecer a reserva de vagas para afrodescen-dentes e indígenas, entre outros segmentos, o programa aponta para o desafio que precisa ser enfrentado com urgência e que, isoladamente, o próprio programa não dará conta.

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O desafio que o ProUni tem enfrentado diz res-peito à promessa de tornar a educação um fator de mobilidade social para os indivíduos e também um fator de redução das desigual-dades da própria sociedade. Ao estabelecer cotas para afrodescendentes e indígenas, o Programa indica um caminho a ser seguido: a educação deve gerar oportunidades para vencer as desigualdades. Não será a educa-ção isoladamente o único caminho para o en-frentamento da desigualdade em nosso país. Mas se alcançarmos, neste campo, padrões mínimos de eqüidade de acesso, permanên-cia e sucesso, haverá mais vozes, mais atores empenhados e qualificados para a necessária transformação do ambiente social, econômi-co e cultural de nosso país. A rigor, o ProUni inicia a possibilidade da formação de elites intelectuais comprometidas com suas ori-gens, visto que o sentimento de pertencimen-to a determinados grupos – quer sejam afro-descendentes, quer indígenas – é condição para acesso às bolsas.

O debate sobre as cotas talvez não tenha ain-da contribuído o bastante para a compreensão da desigualdade de acesso à educação pelas populações negras. Estudos recentes demons-tram que a diferença de escolaridade entre as populações brancas e negras no Brasil se mantém constante há três gerações. Como é consenso que não se trata de uma diferença natural – não há raças no sentido biológico – a explicação para a desigualdade só pode ser en-contrada no processo histórico, econômico, cul-tural e social que estruturou a nação brasileira. Romper o ciclo de herança da pobreza é um imperativo e cabe à educação – mas não so-mente a ela – um papel decisivo na criação de um novo ciclo de oportunidades para todos. Os estudos educacionais têm apontado que a diferença não é apenas de acesso, mas tam-bém de permanência e de sucesso em todos os níveis de ensino. A herança da pobreza vem se perpetuando, garantida por argumentos insus-tentáveis à luz das premissas democráticas. O ProUni tem contribuído, entre outros aspectos,

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para derrubar os mitos que esses argumentos traduzem. Um dos mais fortes argumentos sus-tenta que o acesso à educação superior deve ser creditado ao mérito e que políticas afirmati-vas teriam como corolário a perda de qualidade da educação superior do país, minando todo o sistema de mérito em que está apoiada esta qualidade. Na medida em que o acesso às bol-sas se faz por meio dos resultados do Enem, derrubou-se o mito do ingresso. As avaliações realizadas pelo Enade apontaram que os estu-dantes bolsistas do ProUni alcançaram resulta-dos superiores aos dos demais estudantes na maioria dos cursos avaliados. Assim se confir-ma que o resultado de uma única prova – seja o Enem, seja o vestibular – não é termômetro suficiente para avaliar mérito, que deveria ser, a rigor, no plural – méritos – visto que provas avaliam aspectos do conhecimento, mas não mensuram outras dimensões que contribuem para o bom desempenho dos estudantes no ensino superior. Os resultados do Enade de-moliram definitivamente o preconceito que atribuía aos mais pobres – em particular aos negros – insuficiência de aprendizado ou de capacidade de superar os obstáculos próprios de uma educação tradicionalmente elitizada, vinculada a um universo de valores marcada-mente europeizante, branco, masculino e ho-mofóbico. No entanto, o ProUni não é uma ação isolada e integra uma política de governo que tem na expansão das redes de educação supe-rior e profissional outro importante instrumento de democratização do acesso. As políticas de promoção da igualdade racial, implementa-das pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR – enfrentam outras dimensões com que o preconceito e a discrimi-nação marcam a sociedade brasileira atual.

O ProUni, tanto do ponto de vista simbólico quanto do ponto de vista da trajetória concreta da vida de milhares de indivíduos, trouxe uma enorme contribuição à educação brasileira e ao rompimento do ciclo de reprodução das desigualdades. O Programa, integrado ao con-

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junto de políticas afirmativas em curso no país, é um marco que deve orientar a criação de no-vas janelas de oportunidades aos excluídos na sociedade brasileira.

Na questão indígena, o ProUni também traz uma importante inovação, ao estabelecer cotas de acordo com os indicadores demográficos de cada estado da federação. Criou-se o primeiro programa de acesso à educação superior para a população indígena – ou melhor, as popula-ções indígenas, visto que não há índio, no sin-gular, mas cerca de 225 povos distintos, falan-tes de 180 línguas maternas. A constituição de 1988 foi um importante marco nas conquistas das comunidades indígenas, garantindo-lhes o direito a uma educação própria, em sua própria língua e em diálogo com suas tradições e proje-tos de futuro. Quando se trata de educação, é disso que se trata: o direito à construção de fu-turos e, para as comunidades indígenas, esse direito ainda aguardava sua realização por meio de políticas adequadas. O ProUni abre a oportunidade para que jovens e lideranças in-dígenas alcancem cursos de nível superior, ha-bilitando-os à aquisição de conhecimentos sem os quais as relações já assimétricas entre suas comunidades e a sociedade envolvente se dis-tanciariam ainda mais.

O ProUni está apenas em seu começo. Estão se formando as primeiras turmas, estão sendo realizadas as primeiras pesquisas mais amplas e detalhadas sobre seus impactos: na vida dos bolsistas e de suas comunidades, no ambien-te acadêmico e no conjunto de valores criado nesse ambiente, nas próprias instituições e nas políticas públicas de educação superior e ações afirmativas. Em recente encontro com o Ministro da Educação, bolsistas apresentaram sugestões para modificação e aprimoramento do Programa. Desde já se pode observar que o ProUni inova e cria oportunidades, tanto para os indivíduos diretamente beneficiados como para suas famílias, mas também para as ins-tituições que os recebem e seus estudantes.

Se acreditamos que educar é mais do queadestrar para uma técnica, se educar é cons-truir valores para a sustentabilidade – ambien-tal, política, econômica, social e cultural – de nossas sociedades, o ProUni inova mais uma vez: a diversidade é, em si, um valor educativo e conviver mais ampla e livremente com a di-versidade étnica e cultural de nosso país for-mará gerações mais aptas a valorizar a riqueza que essa diversidade significa, contribuindo ati-vamente para a sociedade mais justa pela qual lutamos e que o país merece.

A partir do Plano de Desenvolvimento da Edu-cação – PDE – as possibilidades de articulação entre território, educação e desenvolvimento se ampliam enormemente. No caso da educa-ção escolar indígena, o caminho traçado pelo Ministério da Educação é fortalecer os arranjos etno-educativos, promovendo a integração de diferentes atores – as comunidades indígenas, os municípios, estados e a União – para ga-rantir o direito constitucional a uma educação própria. Neste contexto, as bolsas do ProUni ganharão um significado ainda maior, pois es-tarão arti-culadas com um projeto que leva em conta as tradições, línguas e culturas das et-nias participantes.

Há muitos desafios a serem vencidos. Os va-lores culturais desenvolvidos ao longo da história pelos segmentos excluídos também devem eles ser incorporados aos saberes cons-tituídos e valorizados. É o caso, por exemplo, dos saberes dos povos indígenas. Em tempos de piratarias, contar com indígenas formados em biologia, medicina, veterinária e também em letras, pedagogia e história, certamente contribuirá para que a nação brasileira se en-riqueça e distribua melhor a riqueza criada.

André LázaroSecretário de Educação Continuada,

Alfabetização e DiversidadeSECAD/MEC

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ISTÓRIAS DO PROUNIH

O BRASIL de Danilo

Ainda quando cursava o terceiro ano do ensino médio, Danilo Reis de Souza, 23 anos, assis-

tiu pela televisão uma matéria sobre o Programa Universidade para Todos. Sem perder tempo fez sua inscrição e foi aprovado no primeiro processo seletivo do ProUni pelo sistema de co-tas para afrodescendente.

De família muito humilde, o estudante nunca imaginou estar dentro de uma universidade. “Minha família sem-pre viveu numa situação complicada, abaixo da linha da pobreza. Comecei a estudar com 10 anos. Nunca reprovei, mas precisava parar de estudar quan-do a situação complicava”, diz Danilo.

Alegre e espontâneo no falar, Danilo, que mora em Salvador, conta como foi seus primeiros dias de universitário. “No início, tive muito medo da convivên-cia com as pessoas de um nível social mais elevado, mas como sou muito fa-lante fiz amizades e logo me adaptei a esse novo mundo. Nunca senti nenhum tipo de discriminação”, revela.

O estudante começou a estudar turismo na Faculdade Castro Alves (BA), mas no decorrer do curso sentiu a neces-sidade de mudar para Administração com habilitação em Marketing. “Apesar de gostar muito de turismo percebi que não seria fácil conseguir um emprego durante o curso. Precisava trabalhar

para ajudar a família, por isso, optei por Administração. Hoje, faço estágio na minha área e estou gostando muito”.

É Danilo quem colabora com as despesas da casa. O dinheiro que recebe no estágio é a maior renda da família. A mãe, de 59 anos, trabalha como diarista e pela idade não con-segue trabalhar todos os dias.

Mesmo trabalhando durante todo o dia, sem muito tempo para os estudos, o jovem universitário é o mais cotado da turma para ajudar os colegas nas matérias mais complicadas. “Quando chego à faculdade esqueço do traba-lho e me concentro ao máximo para aprender. Além disso, sempre que pos-so tiro as dúvidas dos meus colegas”.

O estudante acredita que só a educa-ção pode dar um futuro melhor para as pessoas. “Vejo no ProUni a esperança de uma vida diferente não só para mim como para a minha família”.

Danilo Reis de SouzaEstudante de Administração,

Faculdade Castro Alves/BA

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VENTO

Revista PROUNI • Edição 01/2008 | 31

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Com o objetivo de promover um debate sobre políticas públicas de acesso ao ensino superior, a

União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e o Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ), em parceria com a União Nacional dos Estudantes (UNE), realizaram o 1º En-contro dos Estudantes do ProUni da cidade de São Paulo.

Leandro, José, Hussein, Filipe, Ronaldo e Artur foram os seis representantes dos estudantes do Programa Univer-sidade para Todos que entregaram uma carta ao Ministro da Educação,

Fernando Haddad. O documento con-tém sugestões de aperfeiçoamento do Programa.

Durante o evento, que contou com a participação de cerca de 400 bol-sistas, os estudantes destacaram o quanto o ProUni ampliou o acesso à educação superior, e indicaram alguns pontos que podem melhorar ainda mais o Programa.

No encerramento do evento, o Ministro da Educação lembrou do lançamento do ProUni, quando alguns setores da sociedade acreditavam que os bolsistas

rebaixariam a qualidade do ensino supe-rior. “O que se viu foi exatamente o con-trário: em todos os exames e avaliações os bolsistas do ProUni têm desempenho superior aos não bolsistas”.

Fernando Haddad elogiou a objetividade da carta entregue pelos estudantes, de-finindo-a como uma das contribuições mais importantes que recebeu desde que está à frente do Ministério da Edu-cação. O ministro afirmou ainda que esta geração entra para a história da educação superior do Brasil por ter der-rubado um mito: mérito não tem a ver, necessariamente, com a situação sócio-econômica do estudante, concluiu.

O evento foi realizado, em São Paulo, em novembro de 2007 e contou com o apoio do MEC.

Fonte: Ministério da Educação

Estudantes do ProUni terão opor-tunidade de fazer estágio na Caixa Econômica Federal. O ministro da Educação, Fernando Haddad, e o vice-presidente de Gestão de Pes-soas da Caixa Econômica Federal, Carlos Gomes, assinaram um Pro-tocolo de Intenções entre a CAIXA e

o MEC, firmando uma parceria que estabelece a oferta de estágios, nas unidades administrativas da CAIXA, aos bolsistas do ProUni.

Podem concorrer às vagas do Pro-grama de Estágio da CAIXA todos os bolsistas do ProUni que estiverem

com a matrícula ativa e que estejam cursando a partir do 3º semestre para os cursos com duração de 3 anos e o 5º semestre para os cursos com duração de 4 ou 5 anos.

A assinatura do protocolo aconteceu em dezembro de 2007, no Palácio do Planalto, e faz parte dos atos complementares do Plano de De-senvolvimento da Educação (PDE).

CAIXA e MEC firmam parceria

para oferta de estágio

1º Encontro dos

Estudantes do

PROUNI

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RTIGOA

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Nos tempos atuais, vive-se o contexto histórico em que a sociedade conquistou um salto brusco de uma dimensão pro-

vincial e regional para uma dimensão planetária: imposta pela abertura de fronteiras econômicas e financeiras, impelida por teorias do livre comér-cio, reforçada pelo desmembramento do bloco soviético, instrumentalizada pelas novas tecno-logias da informação, bem como pela interde-pendência no plano econômico, científico, cultu-ral e político. Ao lado desse fator, convive-se com realidades, tais como o analfabetismo, a mortali-dade infantil,a violência, o que torna a moderni-dade mais complexa. A impressão que se tem é a de que se vive, no próprio Brasil, situações de primeiro mundo e até de submundo.

Se vivemos na era da globalização da econo-mia e das comunicações, também o fazemos numa época de acirramento das contradições tanto inter quanto intra povos e nações, época do ressurgimento do racismo, de certo triunfo do individualismo, de fundamentalismos.

Em um mundo cada vez mais interligado, em que as distâncias se encurtam e a comunica-ção ocorre simultaneamente de várias formas, sem limites geográficos, toda e qualquer Nação que projeta a construção de um desenvolvi-mento com sustentabilidade deve propor, definir políticas de educação com o objetivo de preparar o indivíduo que tenha condições de processar, selecionar e aplicar informações, para inserir-se criticamente na sociedade.

O PROUNI

e a formação profissional

para o Magistério

Neste século XXI, o processo educativo deve privilegiar a diversidade, a criatividade, a imagi-nação e, para tanto, os educandos necessitam dispor de condições para realizar descobertas e experimentações – estéticas, científicas, des-portivas, culturais, sociais -, para se relaciona-rem ativamente com um mundo em mudança.

Nessa perspectiva, o papel da educação escolar é extremamente relevante, pois o profissional precisa dominar, além dos fundamentos teóri-cos do conhecimento formal, o circuito do pro-cessamento informacional e seus respectivos equipamentos tecnológicos. Além da formação teórica, tecnológica e política é papel também da educação escolar buscar o desenvolvimento de determinadas características, como: a aber-tura, a criatividade, a iniciativa, a curiosidade, a vontade de aprender e de buscar soluções, em articulação com as habilidades de coopera-ção, responsabilidade, organização, equilíbrio, disciplina, concentração e solidariedade.

Desse modo, outro desafio se apresenta: o da for-mação de professores com qualidade social e em quantidade para atender esse nosso Brasil diverso, desigual e de dimensão continental. Essa é uma das metas previstas no Plano Nacional de Edu-cação (PNE) aprovado pela Lei Nº. 10.172/2001, em que um dos objetivos centrais é o da melhoria da qualidade do ensino. Este objetivo poderá ser alcançado apenas se for promovida, ao mesmo tempo, a valorização do magistério. Do contrário, tornam-se frágeis quaisquer esforços para alcan-

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çar as metas estabelecidas em cada um dos níveis e modalidades do ensino.

A Década da Educação estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº. 9.394/1996 já expirou em 2007 e ainda não se cumpriram as metas que prevêem a qualifica-ção e a valorização de todos os professores da educação básica. Essa valorização só pode ser obtida por meio de uma política global de ma-gistério, que implica, simultaneamente: a forma-ção profissional inicial; as condições de traba-lho, salário e carreira; a formação continuada. A simultaneidade dessas três condições, mais do que uma conclusão lógica é uma lição extraída da prática (PNE, Lei Nº. 10.172/2001).

Reconhecemos, também, que muito já se fez nesse sentido. Assim, gostaríamos de destacar o papel do Programa da Universidade para To-dos – ProUni, criado pelo Governo Federal em 2004, com a finalidade de conceder bolsas de estudo, integrais e parciais, a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica, em insti-tuições privadas de educação superior. Des-sa forma, esse Programa acolhe a todos em qualquer curso. Ressaltamos, no entanto, que mesmo não sendo específico para os cursos de Licenciatura, tem se transformado em grande incentivo à formação e ao aperfeiçoamento de professores da educação básica. Esse incenti-vo se caracteriza pelos critérios adotados para seleção de professores da rede pública, quais sejam: a) esteja concorrendo à vaga em cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia; b) seja professor da rede pública de ensino básico; c) esteja em efetivo exercício na rede pública; d) integre o quadro permanente da ins-tituição, neste caso, o candidato não precisa comprovar a renda familiar por pessoa e , nem ter cursado o ensino médio em escola pública (ProUni, 2004).

Dados apresentados pela coordenação do Pro-grama em dezembro de 2007 registram que nesses quase 4 anos de existência, o ProUni

já beneficiou com bolsas cerca de 310 mil es-tudantes bolsistas,dos quais 67.729 realizam cursos de licenciatura. Essas bolsas podem ser integrais ou parciais nas modalidades - pre-sencial ou educação a distância, nos diversos turnos: integral, matutino, vespertino ou notur-no. Estatisticamente, esse quadro está assim distribuído: a) tipos de bolsa: integral, 49.793; parcial, 17.936; b) modalidades: presencial, 56.302; EAD, 11.427; c) turnos: integral, 601; matutino, 9.258; vespertino, 2.577; noturno, 43.866 bolsistas.

Outra contribuição em relação à melhoria da qualidade da educação básica está no grande potencial que se abriu para uma interação e ar-ticulação com o Ensino Médio. Só pode se can-didatar ao ProUni, o estudante que tiver par-ticipado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obtido a nota mínima de 45 pontos (média aritmética entre as provas de redação e conhecimentos gerais).

Ressaltamos, ainda, a importância do acom-panhamento estabelecido pelo Programa ao longo da trajetória acadêmica, pois é condição para a permanência do estudante beneficiário de bolsa integral ou parcial, o aproveitamento acadêmico em, no mínimo, 75% (setenta e cin-co por cento) das disciplinas cursadas em cada período letivo.

Outro ponto que nos parece extremamente impor-tante é o entendimento, por parte das Instituições de Ensino Superior que aderem ao Programa, que não é suficiente apenas o compromisso com o acesso desses e dessas jovens aos cur-sos de licenciaturas, mas, sobretudo, a respon-sabilidade de formar professores e professoras para o contexto que já nos referimos e para este Brasil. Dessa forma, as IES que oferecem cursos de formação inicial de docentes para a educação básica devem considerar as Diretrizes Nacionais (Parecer CNE/CP N° 5/2005):

- o conhecimento da escola como organiza-ção complexa que tem a função de promo-ver a educação para e na cidadania;

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- a pesquisa, a análise e a aplicação dos re-sultados de investigações de interesse da área educacional;

- a participação na gestão de processos edu-cativos e na organização e funcionamento de sistemas e instituições de ensino.

As novas referências culturais, com seus códi-gos próprios, impõem desafios para a formação do cidadão, tais como o conhecimento dos sím-bolos, dos diferentes tipos de linguagem e das habilidades que possibilitam a comunicação. As instituições educacionais têm hoje o papel não só de informar e despertar no aluno o de-sejo de aprender, como também o de promover o desenvolvimento das capacidades de produ-zir novos conhecimentos científicos e soluções que atendam às necessidades sociais.

Essa processualidade exige instituições educa-cionais que propiciem o desenvolvimento inten-so das potencialidades do indivíduo, sob pena de metas como a mo-dernização tecnológica, o incremento da produtividade e outras, tão im-portantes para a melhoria da qualidade de vida do cidadão e do País, permanecerem sem res-posta. As políticas de capacitação profissional, e ,em especial dos professores, podem influir

na direção e ritmo das mudanças tecnológicas e do próprio processo de transformação social.

A instituição educacio-nal deve estar atenta à nova dinâmica social, analisando em que me-dida esse cenário inter-fere no projeto educa-tivo, na organização do currículo, nas diversas programações, nas rela-ções interpessoais. Não cabe mais ao educador ser o depósito de todo conteúdo que um edu-cando vai precisar em

sua vida. Para tanto, é fundamental superar a visão epistemológica tradicional do conheci-mento que separa sujeito e objeto, as verdades já prontas, a educação transmissora de con-teúdo que separa o mundo dos sujeitos que o constroem. A escola deve ser o lugar onde há encontro humano.

Para responder a esses desafios, a formação do profissional deverá construir a identidade do professor, centrada em um perfil profissional que expresse o domínio do conhecimento espe-cífico de sua área e do conhecimento pedagógi-co em uma perspectiva de totalidade, permitin-do-lhe perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a globalidade das relações sociais, políticas, culturais, em que o processo educacional ocorre, a produção do conhecimento sobre o seu trabalho, a tomada de decisões em favor da qualidade das apren-dizagens escolares do aprendiz, seja ele, crian-ça, jovem ou adulto.

Essa construção se dá como parte de um projeto de sociedade, que se fundamenta na concepção histórico-social e tem como para-digma educacional as relações entre cultura, sociedade e educação. Nessa perspectiva, rea-firma-se que a formação do professor deverá se fundar nas dimensões: histórica, científica, cultural, pedagógica, emocional e ambiental no interior de um projeto político-pedagógico.

Enfim, é preciso construir uma educação que considere a relação entre a formação inicial e a continuada, que articule os conhecimentos, que promova o encontro entre as pessoas, a investigação, a reflexão, e o compromisso com um mundo em que a separação humanidade-sociedade-natureza perde o sentido.

Profª. Clélia Brandão Alvarenga CraveiroPresidente da Câmara de Educação Básica do

Conselho Nacional de Educação, professora do Curso de Pedagogia e coordenadora de Admissão

Discente da Universidade Católica de Goiás

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OLSA PERMANÊNCIAB

A vida de um estudante univer-sitário não é fácil. Além dos estudos e provas, muitas ve-

zes é preciso trabalhar para custear a mensalidade. Mas, o que fazer quan-do o curso é integral e não sobra tem-po para o trabalho? Além de oferecer bolsa de estudo integral ou parcial, o Programa Universidade para Todos (ProUni) oferta também um auxílio financeiro de R$ 300,00 para que o estudante possa se manter em sala de aula.

Ricardo Correia de Araújo, 22 anos, estudante de Medicina da Universi-dade de Cuiabá, é um dos beneficia-dos da Bolsa Permanência. “Passo

praticamente o dia inteiro na universidade e, por isso, é impossível conciliar estudos com trabalho. A bolsa me auxilia com o transporte, alimentação e livros.”, diz o estudante.

O desejo de ser médico motivou o aluno a sair de Rondonópolis, onde moram os pais, para fazer o curso em Cuiabá. “ Meu sonho de ser médico só está sendo possível gra-ças a bolsa do ProUni. Minha família não teria condições de pagar uma mensalidade de R$ 2.700,00, além de outras despesas. Agradeço por morar com a minha irmã e receber

a ajuda de custo do ProUni”, explica Ricardo.

A Bolsa Permanência, criada pela Lei nº. 11.180/2005, é um benefício con-cedido a estudantes com bolsa inte-gral, matriculados em cursos presen-ciais com carga horária média igual ou superior a seis horas diárias de aula. A bolsa é uma forma de garantir a permanência de jovens que não po-dem conciliar o trabalho com o estu-do em razão dos cursos, que exigem dedicação integral.

A estudante Daniela Brezolin reforça a importância da bolsa para estu-dantes de cursos integrais. “Faço Medicina na Universidade de Santa Cruz do Sul (RS) a 400 km da cidade onde moram a minha filha e o meu esposo. Como não posso trabalhar, a bolsa me ajuda com as despesas de alimentação e livros”, explica.

Atualmente, cerca de 2500 estu-dantes estão selecionados para rece-berem a Bolsa Permanência.

Garantia de permanência

no ensino superior

PROUNI

Ricardo AraújoEstudante de Medicina,Universidade de Cuiabá/MT

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ENTENDA O

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O PROGRAMA

O ProUni é um programa do Governo Federal, criado em 2004, que ofe-rece bolsas de estudos integrais e parciais em cursos de graduação e seqüenciais de formação específica a estudantes brasileiros sem diploma de curso superior, em instituições privadas de educação superior, ofere-cendo, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa.

CONDIÇÕES PARA SE CANDIDATAR

Para se candidatar ao Prouni, o estu-dante deve ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem referente à edição imediatamente anterior ao processo seletivo e obtido nesse exame a nota mínima estabe-lecida pelo MEC de 45 pontos (média aritmética das provas de redação e conhecimentos gerais). Também é necessário que o estudante possua renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos e satisfaça a uma das condições abaixo:

- ter cursado o ensino médio com-pleto em escola pública, ou

- ter cursado o ensino médio com-pleto em escola privada com bolsa integral da instituição, ou

- ser pessoa com deficiência, ou

- ser professor da rede pública de ensino básico, em efetivo exercício, integrando o quadro permanente da instituição e concorrendo a va-gas em cursos de licenciatura, nor-mal superior ou pedagogia. Neste

caso, a renda familiar por pessoa não é considerada.

TIPOS DE BOLSA

Bolsa integral para estudantes com renda familiar por pessoa de até um salário mínimo e meio.

Bolsa parcial de 50% e 25%, para es-tudantes com renda familiar por pes-soa de até três salários mínimos.

RESERVA DE COTAS

O ProUni reserva bolsas às pessoas com deficiência, aos autodeclarados afrodescendentes e indígenas. O per-centual de bolsas destinadas aos co-tistas é igual àquele de cidadãos pre-tos, pardos e índios, por Unidade da Federação, segundo o último censo do IBGE. O candidato cotista também deve atender aos demais critérios de seleção do programa.

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

O ProUni conta com mais de 1.400 instituições de ensino superior par-ticipantes, distribuídas por todo o ter-ritório nacional. A adesão das institui-ções ao Programa é facultativa.

INSCRIÇÕES

As inscrições para o processo sele-tivo do ProUni são realizadas exclu-sivamente pela internet, na página eletrônica do Programa http://www.mec.gov.br/prouni, de acordo com

cronograma semestral divulgado pelo MEC.

PROCESSO DE SELEÇÃO

O ProUni utiliza as notas do Enem como critério de seleção. São pré-seleciona-dos os estudantes que obtiveram as melhores notas nesse exame. Ao fa-zer sua inscrição, o candidato poderá escolher até cinco opções de cursos e instituições. O estudante com melhor resultado no Enem é o primeiro a ser pré-selecionado. Desse modo, o Pro-grama reconhece e valoriza o mérito dos melhores estudantes.

INFORMAÇÕES:

www.mec.gov.br/prouni

e-mail: [email protected]

Telefone: 0800 616161

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EPOIMENTOSD

Fala

Universitário!

“Sou o filho mais velho de uma famí-lia de quatro irmãos. Não foi fácil, mas aqui estou na faculdade, fazen-do um curso que adoro. Não penso na Engenharia como uma forma de ganhar dinheiro, mas como uma forma de melhorar a vida das pes-soas. Esse é o meu objetivo como homem e cidadão. Só tenho a agra-decer ao ProUni. Estou feliz de estar participando de um programa que realmente funciona e que mudou a minha vida para melhor”.

Tiago WilsonEngenharia de Produção MecânicaUniversidade do Grande ABC/SP

“Tenho grande satisfação de fazer parte da primeira turma a ingres-sar no ensino superior pelo ProUni. Esta é uma oportunidade única de realização pessoal e, futuramente, profissional. Procuro estudar e me envolver nos projetos da facul-dade ao máximo, aproveitando todas as oportunidades de cresci-mento pessoal e acadêmico. Hoje, faço pesquisas, escrevo artigos, sempre buscando novas soluções e interpretações aos assuntos estudados. Enfim, espero que to-dos aqueles que conseguiram a bolsa se esforcem para mostrar resultados positivos para que este Programa do governo seja perma-nente e a inclusão do ensino supe-rior seja cada vez maior”.

Andressa SchiaffinoDireitoFaculdade de Direito de Santa Ma-ria/RS

“O ProUni abriu as portas para o ensino superior. Eu já havia ingres-sado duas vezes na faculdade, mas tive que desisitir porque prio-rizei o sustento da minha família. Eu acredito que esse Programa está mudando o perfil da educa-ção do povo brasileiro, incluindo uma camada social de baixa renda que, até então, estava fadada a se conformar com o ensino médio”.

Rodrigo LimaDireito Escola Superior de Administração, Direito e Economia/RS

“De família pobre, filho de mãe solteira, desde pequeno conheço de perto as dificuldades da vida. Como morávamos na roça e desde pequeno trabalhava para ajudar no sustento da casa, o estudo sempre ficou em segundo plano.

Depois de algum tempo, minhã mãe decidiu morar na cidade para que pudéssemos concluir os estu-dos. Somente em 2003, com 27 anos, eu conclui o ensino médio.

A seguir minha meta passou a ser o ingresso em uma instituição de ensino superior, mas esbarrava na falta de condições financeiras e na incapacidade de disputar uma vaga numa universidade federal. Em 2007, depois de fazer o Enem, consegui o ProUni.

O ProUni mudou a minha vida, aumentou minha auto-estima e da minha família. Prentendo não parar de estudar. Depois que ter-minar a gradução quero ser dou-tor em lingüistica e poder ajudar não só a minha família, mas toda a minha comunidade”.

Ronaldo Adriano Lopes da SilvaLetrasFaculdade das Águas Emendadas/DF

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