palavra do editor - abril 2013

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Quem Tem Medo Da Tecnologia? Das palestras de João Barcellos proferidas em Alphaville/Barueri [Out.2012] e Sorocaba [Març.2013] Parte 1 nós & o medo das nossas invenções Existem universos além do nosso pensamento e da nossa ação que dificilmente percebemos e, pior, quando nos ´achamos´ acima de tudo e de todos porque achamos que sabemos e, então, decidimos que o melhor é fazer sempre o mesmo... Modernizar é uma palavra jogada às traças quando não percebemos que a humanidade está em mutação a cada nova geração que chega e que, cada nova geração tem o seu ponto de vista e o seu ritmo embasados em plataformas de ciência e tecnologias contemporâneas. Por isto é que escuto muitas vezes: “Quem tem medo da tecnologia?”. E sempre respondo: “Quem se deixou ficar para trás e não aproveitou os conhecimentos

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Quem tem medo da tecnologia?

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Quem Tem Medo Da Tecnologia? Das palestras de João Barcellos proferidas em Alphaville/Barueri [Out.2012] e Sorocaba [Març.2013]

Parte 1 nós & o medo das nossas invenções

Existem universos além do nosso pensamento e da nossa ação que dificilmente percebemos e, pior, quando nos ´achamos´ acima de tudo e de todos porque achamos que sabemos e, então, decidimos que o melhor é fazer sempre o mesmo... Modernizar é uma palavra jogada às traças quando não percebemos que a humanidade está em mutação a cada nova geração que chega – e que, cada nova geração tem o seu ponto de vista e o seu ritmo embasados em plataformas de ciência e tecnologias contemporâneas. Por isto é que escuto muitas vezes: “Quem tem medo da tecnologia?”. E sempre respondo: “Quem se deixou ficar para trás e não aproveitou os conhecimentos

adquiridos para interagir com a geração dos filhos e dos netos!”.

[A velha e sempre moderna luz fluorescente.]

Nos ramos industriais era habitual o pai passar o ofício para o filho, pois, era o tempo do conhecimento prático; e hoje, embora tal seja possível, e o é, a nova geração é desde logo abraçada pelo consumismo educacional que a empurra inexoravelmente para especialidades ditadas por um capitalismo de resultados. É possível conviver com isto? É, mas a pessoa terá que ter a consciência livre para poder agir sob o prisma de um humanismo crítico, construtivo, ou será mais uma peça na engrenagem, ou algo do consumismo enlatado. Ou seja: a tecnologia deve ser absorvida para o bem-estar da humanidade, não contra ela. Por isto é que não se deve ter medo da tecnologia e sim encará-la, torná-la uma ferramenta amigável.

Parte 2 a tecnologia digital

Em todas as plataformas industriais de produção percebemos, agora, que está presente uma tecnologia que faz a ponte entre o convencional e o moderno: é a tecnologia digital. A ciência da computação trouxe-nos a possibilidade de, por exemplo, sermos gráficos e têxteis na mais moderna das funções sem deixarmos de ser parte da cultura do velho ofício. Na verdade, os princípios (e até muitos dos parâmetros) são os mesmos aplicados desde sempre, o que a era digital altera é o conceito de produção ao eliminar etapas cansativas e dispendiosas e permitir um ar saudável no ambiente. De resto, para ser-estar gráfico ou têxtil precisa-se do conhecimento técnico, da experiência feita de muita pesquisa e aplicação. E então, por que ter medo da tecnologia? O traço manual no tecido plano é diferente do traço eletrônico [plotter] no mesmo tecido? Ora, a indústria não é artesanato, é um estado d´arte na sua concepção de velocidade e qualidade em toda a linha de produção. Por acaso o rodo do/da serigrafista tem a mesma eficácia do rodo comandado por um programa [software] de computador? Ora, ora... O que se deve discutir sobre a era digital que agora comanda a indústria é a sua eficácia e de

como treinar as pessoas da atividade artesanal para funções afins e complementares ao exercício das aplicações eletroeletrônicas.

[Têxtil Digital. Equipamento da lusa MTex.]

A aplicação do maquinário [hardware] da computação aos gráficos e aos têxteis não exige desemprego, e sim reciclagem, reaprendizado para funções criadas por essa mesma modernidade que inventamos e nos cerca. O que seriamos sem a invenção da roda e a reaplicação do fogo, hoje? Para cada nova geração aquela que fica deixa legados sociais e tecnológicos: é o ciclo de um humanismo crítico que poucas pessoas estudam. No velho-novo Brasil há uma publicidade televisiva que começa com “Professora, li hoje que...”. Pois é. O que faz falta é leitura generalizada até do próprio empresariado para entender o mercado em que atua e assimilar o novo e o diverso. É por isto que grande parte do empresariado ainda não percebeu a oportunidade social e tecnológica da troca de

conhecimentos, das parcerias. E nesta era digital que vivenciamos é preciso aprender a ler e conversar para se poder decidir pela demanda da qualidade que traz lucro e traz felicidade.

João Barcellos Escritor/Conferencista