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PALAVRA DE DEUS & palavras de homem

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PALAVRA DE DEUS & palavras de homem

Disse Jesus: «Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e

confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual

conforme a sua capacidade; e depois partiu. Aquele que recebeu cinco talentos negociou

com eles e ganhou outros cinco. Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros

dois. Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro

do seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas.

Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizen-

do: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ O senhor

disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confia-

rei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos:

‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ O

senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te

confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talen-

to: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e

recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui

está o que te pertence.’ O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu

ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu

dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’

‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e

terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. | Mt 25, 14-29

Caros BOMBEIROS: ‘vida por vida’ foi o ‘talento’ que receberam.

Pela fidelidade, pela dádiva, pela coragem, pela disponibilidade,

pelos companheiros que perderam, pelas vidas que salvaram:

OBRIGADO!

‘Vou estar atento e vigilante como sentinela no seu posto, para ouvir o que o Senhor irá

dizer.’ | Hab 2,1a

Escreveu S. Bernardo, comentando esta passagem de Habacuc:

“Procuremos também nós estar sempre de sentinela, porque a vida

presente é tempo de combate. Entremos em nós mesmos, examinemos

o nosso coração, onde Cristo habita, e comportemo-nos com sa-

bedoria e prudência. Mas não confiemos em nós mesmos, não nos fie-

mos demasiado em tão frágil sentinela.”

A vida é dom. Com tempos de festa e horas de combate.

As principais batalhas, sabemo-lo, travam-se dentro de nós.

Acontece que, muitas vezes, evitamos ou adiamos a ‘luta’:

é mais fácil embarcar na aventura de ’sair’ para ‘mudar o mundo’,

do que decidirmo-nos a ‘entrar’ e mudarmo-nos a nós mesmos.

Porém, o futuro começa a sonhar-se e a desenhar-se dentro nós.

Se nos perdermos de nós próprios, perderemos o futuro.

Por isso, somos convocados a ser ‘sentinelas de nós’, a perguntar:

o que mora em ti, coração, com que cores estás pintado?

Como gostar de alguém, quando não se gosta de si mesmo?

Como bendizer a paz, quando se ‘mata’ com a tagarelice?

Como pressentir a Esperança, quando se está atafulhado de trevas?

Como exigir tanto rigor, quando se é tão pouco ou quase nada?

Como gerar comunhão, quando se deixa o egoísmo ser ‘o senhor’?

Como viver sereno, quando se está infetado pelo vírus da inveja?

Como erguer a ‘cidade’, quando se vê um ’inimigo’ em cada canto?

Como tecer uma comunidade, quando nunca se está?

Um mundo mais ‘humano’ forja-se com humanos mais ‘humanos’.

É uma obra interior. Que procede do amor, não de normas e leis.

Para os que, como eu, se sentem frágeis guardiões de si mesmos,

ter Jesus como ‘parceiro’, ouvir o que Ele tem para dizer,

fortalece a segurança e intensifica o zelo na custódia do coração,

o nosso Lugar mais sagrado. Como é contigo?

Cuidar de si, para ser capaz de cuidar dos outros.

Ganhar-se para si, para poder ganhar-se para todos.

Ser guarda de si, para ser guarda do universo inteiro.

(…) Governando-o não por um mesquinho espírito de lucro, mas com zelo; não com um

poder autoritário sobre a herança do Senhor, mas como modelos (…). | 1Pe, 5,2-3

Aos que concorrem às próximas Eleições Autárquicas.

Obrigado por se disponibilizarem e empenharem nesta tarefa funda-

mental na vida de uma sociedade livre e democrática. Agradeço o

trabalho, o tempo, a atenção, o cuidado, o desgaste, que querem dis-

pensar à nossa terra. Por isto, a minha consideração e respeito.

Aos que forem eleitos (os meus parabéns, desde já) peço-vos: ocu-

pem o lugar com humildade, honestidade, modéstia, abertura de

espírito, propósito de colaboração. Não se deixem contaminar por

vírus demagógicos ou ’beatices’ partidárias. Tenham a coragem de

convidar os ’vencidos’ a participar na tarefa do exercício autárquico.

Os adversários políticos não são ‘inimigos’. Com eles, inventem

rumos novos de diálogo e ambientes de cumplicidade. Construam

pontes; não ergam barreiras. ‘Combatam’ juntos, não separados.

Os ‘derrotados’ aceitem os resultados com simplicidade e conforma-

ção, não com atitudes de birra ou azedume, próprias de gente de

pouco caráter ou visão sectária. E, apesar das diferenças ideológicas

que vos separam dos ‘vencedores’, sem perder a vossa identidade,

disponham-se a apoiá-los no que acreditarem ser o melhor para o

bem geral da comunidade.

Olhem para o coração das pessoas e para o futuro, não para o hori-

zonte próximo das eleições que vêm a seguir a estas.

Não anunciem o que é impossível cumprir. Afastem-se da selva das

falsas promessas. E não deixem acumular uma montanha de dívidas.

Não é tão fácil ’fazer obra’, assim?

Apoiem os movimentos de cidadãos, para que possam concretizar o

que o poder autárquico não pode nem tem que materializar. É o

princípio da subsidiariedade.

Aos meus irmãos cristãos envolvidos nesta ‘aventura’, manifesto o

meu regozijo por ‘estarem aí’. Confio que vão deixar a ‘marca’ de

Jesus, através do vosso testemunho e na ’cor’ das vossas propostas.

Rezo por cada um, independentemente das vossas convicções políti-

cas, partidárias ou religiosas.

Que, com todos vós e nós, ganhe Portugal.

‘Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho

e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. ’ | Is 11, 6

Tive um sonho…

Todos os habitantes da Terra, sem exceção,

transportavam, dentro do peito, não uma pedra, mas um Coração.

Tinham desaparecido da superfície do Planeta,

os ‘senhores’ que julgavam ser donos de todos e de tudo.

Os grupos políticos congregavam as suas cores e, ligados,

pintavam ânimo e arrebatamento na alma do povo e da pátria.

Tinham-se abolido mil normas, códigos e burocracias pacóvias,

porque as ‘leis’ que prevaleciam eram o amor, a honra, a verdade.

Gente fingida, cínica, snobe, irritada, reles, violenta, não vi.

Os fiéis das várias religiões, entrelaçando ritmos e coreografias,

dançavam, com fulgor, o bailado da Unidade, do Belo e da Paz.

O vazio ocupava o ‘banco dos suplentes’ e as ‘bancadas’,

pois todos estavam dentro do campo, a jogar o Presente do Futuro.

Os dicionários registavam menos vocábulos, dado que, alguns,

como ‘sectarismo’, ‘intolerância’, ‘ganância’, ‘pedofilia’, ‘corrupção’,

eram desconhecidos, por já não fazerem parte do quotidiano.

Os Bancos estavam mais vazios de notas e moedas,

mas as ruas transbordavam de pessoas-ouro, de rosto sedutor.

Apesar das sofisticadas tecnologias de comunicação existentes,

optava-se por ‘inventar’ encontros ao ar livre e ‘namorar’ ao vivo.

As cidades, organizadas para serem lugares de sabores e afetos,

palpitavam ao ritmo harmonioso dos que lá viviam,

e em cada esquina ouvia-se o riso apaixonante de crianças felizes.

Todos tinham nome, uma casa, um ganha-pão;

ninguém dormia na rua, nem mastigava ar, nem bebia solidão.

Fechaduras e alarmes eram coisas do passado.

A toda a vida humana gerada era assegurado o direito de nascer,

e os idosos eram considerados ‘preciosos’ e protegidos como tal.

As nações eram governadas por gente sábia e límpida.

Acordei. A realidade prosseguia o seu curso. O Sonho ficou.

Provavelmente não entendeste o texto anterior.

Mas, se receberes a chave do ‘código’, tudo se tornará claro.

=a|=b|=c|=d|=e|=f|=g|=h|=i|=j|=l|=m|=n|

=o|=p|=q=r|=s|=t|=u|=v|=x|=z|=(|=)| =1|

=2| =3| =4|=5|=6|=7| =8| =9|=0

Então, vais poder ler:

Eis o que diz o Senhor, o que te criou, ó Jacob, o que te formou, ó Israel:

«Nada temas, porque Eu te resgatei, e te chamei pelo teu nome; tu és

meu. Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu sal-

vador. Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo,

entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa. Não

tenhas medo, que Eu estou contigo.» (Cf Is 43, 1-5)

Talvez afirmes que não há lugar para Deus no teu pensamento.

Que Deus não é uma questão urgente nem importante.

Que a ‘hipótese de Deus’ é algo supérflua, ingénua, ultrapassada.

Que, provavelmente, Deus não existe.

No entanto, tu existes para Ele. És precioso para Ele.

Deus ama-te. E, hoje, escreveu em ti uma mensagem codificada.

Vais tentar decifrá-la?

Disse Jesus: “Eu sou a luz do mundo.” | Jo 7, 12

Chamo-me Cerela. Sou uma vela. Pequena, simples, sem adornos.

A minha tarefa é iluminar. Deixo-me atear, sempre que há necessida-

de. Aprumo-me toda, sorrio e acolho com excitação o instante em

que o pavio se inflama. Nesse momento, inicio o meu labor. Com

entusiasmo. Gosto muito do que faço!

Podem perguntar: não te atormenta o facto de te consumires rapida-

mente? De sofreres a escaldadela dolorosa da chama? De não seres o

centro das atenções, apesar da simpatia que suscitas, porque serves,

fundamentalmente, para fazer ver, não para ser vista? Respondo:

não. Quando estou em ação, esqueço-me de mim própria. Estou a ser

o que sou. E sinto-me agraciada por ser capaz de espantar negrumes

e medos. Eu, tão mínima e frágil, tenho o poder de vencer a mais

densa e assustadora escuridão! Permito que o invisível se torne visí-

vel. Que o mistério se revele. Que uma ‘irmã’ das estrelas possa cinti-

lar na mão de alguém. Perante tudo isto, o padecimento fica recolhi-

do.

Há velas bem mais vistosas do que eu. Algumas assumem formas

elegantes, atavios atraentes, colorações fascinantes, fragrâncias

peculiares. Fico contente por elas. Quanto a mim, não desejo ser

decorativa nem sedutora. Somente útil e fecunda.

Sei de velas que optaram por permanecerem apagadas. Demitiram-

se da sua missão. Recusaram o dom. Um dia, de uma maneira ou de

outra, desapareceram. Terminaram com idade avançada, intactas,

altaneiras, sem feridas. Mas estéreis e vazias. Não se gastaram, mas

também não viveram.

A minha existência vai ser breve. Mas, entre o princípio e o fim, con-

tinuarei a anunciar pontinhos de vida no meio das noites, alumiar

lugares de festa, amaciar espaços de dor, clarear sonhos de esperan-

ça. E ser sinal de uma outra LUZ. A verdadeira.

Sou uma vela. Pequena, simples, sem adornos. E feliz.

‘A Eleázar, varão de idade avançada e de bela aparência, um dos primeiros doutores da lei,

abrindo-lhe a boca à força, tentavam obrigá-lo a comer carne de porco. Mas ele, preferindo

morrer com honra a viver na infâmia, voluntariamente caminhava para o suplício, depois

de cuspir a carne, como devem fazer os que têm a coragem de rejeitar o que não é permiti-

do comer, mesmo à custa da própria vida. Ora, os encarregados deste ímpio banquete proi-

bido pela lei, que, desde há muito tempo, mantinham relações de amizade com ele, toma-

ram-no à parte e rogaram-lhe que mandasse trazer as carnes permitidas, por ele mesmo

preparadas, e as comesse como se fossem carnes do sacrifício, conforme ordenara o rei.

Fazendo assim, seria preservado da morte. Usavam com ele desta espécie de humanidade,

em virtude da antiga amizade que lhe tinham. Mas Eleázar, tomando uma bela resolução,

digna da sua idade, da autoridade que lhe conferia a sua velhice, do prestígio que lhe outor-

gavam os seus cabelos brancos, da vida íntegra que levava desde a infância, digna, sobretu-

do, das sagradas leis estabelecidas por Deus, preferiu ser conduzido à morte. «Não é pró-

prio da minha idade - respondeu ele - usar de tal fingimento, não suceda que muitos jovens,

julgando que Eleázar, aos noventa anos, se tenha passado à vida dos gentios, pelo meu ges-

to de hipocrisia e por amor a um pouco de vida, se deixem arrastar pelo meu exemplo; isto

seria a desonra e a vergonha da minha velhice. Mesmo que eu me livrasse agora dos casti-

gos dos homens, não poderia escapar, vivo ou morto, das mãos do Omnipotente. Por isso,

morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens um

nobre exemplo, se morrer corajosamente pelas nossas santas e veneráveis leis.» Ditas estas

palavras, dirigiu-se para o suplício. Aqueles que o levavam transformaram em violência a

humanidade que pouco antes lhe tinham mostrado, julgando insensatas as suas palavras. E

quando estava prestes a morrer sob os golpes que sobre ele descarregavam, ele exclamou

entre suspiros: «O Senhor, que tem a ciência santíssima, vê bem que, podendo eu livrar-me

da morte, sofro no meu corpo os tormentos cruéis dos açoites, mas suporto-os com alegria,

porque é a Ele que eu temo.» Desta maneira passou à outra vida, deixando com a sua morte,

não só aos jovens mas também a toda a gente, um exemplo de fortaleza e de coragem.’ | 2 Mac

6, 18-31

Numa das minhas viagens pela Bíblia atravessei este texto. Dos

‘lugares’ que visitei, destaco dois:

1. Mas Eleázer, preferindo morrer com honra a viver na infâmia,

voluntariamente caminhava para o suplício. 2. “Não é próprio da

minha idade - respondeu ele - usar de tal fingimento, não suceda que

muitos jovens, julgando que Eleázer, aos noventa anos, se tenha pas-

sado à vida dos gentios, pelo meu gesto de hipocrisia e por amor a

um pouco de vida, se deixem arrastar pelo meu exemplo; isto seria a

desonra e a vergonha da minha velhice.”

Obrigado, Eleázer, pelo teu testemunho. Vou rezá-lo.

(Não conhecem outros como ele?)

O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.» | Ap 21, 5a

2014: novo ano ou ano novo?

Se é novo ano, já está. Resta-nos, somente, deixá-lo deslizar.

Mas, se for ano novo é outra coisa: convoca-nos para a renovação.

O apelo silencioso do ano novo é que nos tornemos novos.

Assim, desejar um ‘Bom Ano Novo’ é uma forma peculiar de dizer:

o ano vai ser bom e novo se formos bons e novos.

Mas, mudar o quê? Sou tão perfeito! Não faço mal a ninguém!

Interroguemos os que nos amam e outros que são próximos.

Pensávamos ser estátuas de perfeição? Talvez haja surpresas...

Não temamos reconhecer, com humildade, ainda que com mágoa,

que todas as nódoas de desumanidade que mancham o mundo,

têm origem no coração de gente. Como eu e tu.

Mas, também aí são concebidas as melodias da santidade,

com as suas harmonias de paz, verdade, justiça, humildade.

E este canto de beleza difunde-se por contágio: de pessoa a pessoa,

de família a família, de bairro a bairro, de cidade a cidade.

Sim, o ano 2014 vai ser novo.

Novo, porque ‘grávido’ do nosso testemunho e empenho.

Novo, porque aberto à surpresa, à criatividade, à ousadia.

Novo, porque nasce com a promessa da vitória do bem.

Novo, porque forja um lugar para a esperança e para a alegria.

Novo, porque inventa um tempo para nos perdoarmos e amarmos.

Novo, porque nos remoça o sonho de demolir todos os impossíveis.

Novo, porque usaremos todas as cores, não só o preto e o cinzento.

Novo, porque estaremos em cima do palco, não no camarote.

‘Próspero’ ano novo? Só porque acreditamos que, no seu território,

já está depositado, em abundância, o mais extraordinário tesouro:

a vida, única e irrepetível, de cada um de nós.

É com elas, com todas elas, que vamos escrever 2014.

Dar-lhe-emos alma, rumo, significado. Enchê-lo-emos de céu.

Deus estará ao nosso lado: discreto, para permitir ser ignorado,

mas suficientemente visível, para poder ser encontrado.

Ano 2014: cá vamos nós!

Então o espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; quando tocou a trombeta, toda a família

de Abiezer se reuniu para o seguir. | Jz 6, 34

“Para levar adiante uma família, é necessário usar três palavras. Três

palavras: com licença, obrigado, desculpa.” (Papa Francisco).

Com licença | Com licença: posso entrar? Com licença: posso ser teu

amigo? Com licença: podes conceder-me um pouco da tua atenção?

Com licença: posso pedir-te que me perdoes? Com licença: posso

ajudar? Com licença: permites que eu caminhe ao teu lado? Com

licença: posso oferecer-te a visão de Jesus sobre o assunto?

Obrigado | Obrigado por me teres escolhido para teu esposo. Obri-

gado por me teres escolhido para tua esposa. Obrigado por serem

pais fantásticos. Obrigado por serem filhos excelentes. Obrigado por

me teres perdoado. Obrigado por estares sempre disponível. Obriga-

do por confiares em mim. Obrigado pela conversa. Obrigado pela

oferta. Obrigado por permaneceres fiel. Obrigado pelo bom conse-

lho. Obrigado pelo abraço. Obrigado pela vida que partilhas comigo.

Obrigado pelo teu sorriso. Obrigado por não teres desistido de mim.

Obrigado pelo teu carinho. Obrigado por gostares de mim como sou.

Obrigado pelos desafios. Obrigado por me permitires fazer-te mais

feliz. Obrigado por cuidares de mim. Obrigado por me dares tanto.

Obrigado por me fazeres sentir especial. Obrigado por me veres com

os olhos de Deus. Obrigado por rezares por mim. Obrigado por esta-

res aí.

Desculpa | Desculpa: fui injusto contigo. Desculpa: pensei errada-

mente. Desculpa: não me entreguei totalmente. Desculpa: fingi que

não vi. Desculpa: fui agressivo. Desculpa: desiludi-te. Desculpa: só

pensei em mim. Desculpa: falhei no meu compromisso. Desculpa:

ainda não te beijei e abracei. Desculpa: faltei-te ao respeito. Descul-

pa: amuei sem ter motivo. Desculpa: menti-te. Desculpa: não te aju-

dei. Desculpa: deixei que a minha irritação tombasse sobre ti. Des-

culpa: magoei-te. Desculpa: deixei-te sozinho quando mais precisa-

vas de mim.

Jesus bradou com voz forte: «Lázaro, vem cá para fora!» O que estava morto saiu de mãos e

pés atados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e

deixai-o ir.» | Jo 11, 43-44

O meu pai partiu para o Céu.

A veemência da ordem de Jesus, ante Lázaro, aninhou-se em mim:

“Desligai-o e deixai-o ir.”

Jesus desafia-nos a não ‘prendermos’ ninguém,

e aceitar a inevitabilidade da sua abalada definitiva.

Nesse momento, podemos chorar, gritar, lamentar, questionar,

mas não devemos resistir. Apenas enfrentar.

Todos os dias agradecia a Deus o dom da vida do meu pai,

e pedia-Lhe, também, que me preparasse para a sua partida.

E o dia chegou. E, também, a dor, o sofrimento, a saudade.

Mas, desde o primeiro instante, antepondo-se em intensidade,

germinaram sentimentos com os tons da serenidade e da gratidão.

O vazio, que parecia vir conquistar um lugar definitivo no coração,

foi sendo ocupado por um aroma de ressurreição,

como que a recordar que não temos aqui morada permanente.

Viajamos rumo a uma outra pátria. Que começa aqui. E termina lá.

O meu pai era militar. E cumpriu, com distinção, todas as missões:

como esposo e pai, como profissional, como homem e cristão.

O espaço aberto pela sua ausência física, e que será só dele,

já está transformado num santuário de silêncio e de encontro.

Escreve o P. Tolentino: “Porventura o mais fecundo a perguntar,

quando os nossos amigos morrem, não é ‘porque partiram?’

O que levaremos o resto da vida a responder,

sempre em total gratidão, é antes: ‘porque é que eles vieram?’”

Para dar resposta a esta questão, não necessito de tempo algum:

sei, muito bem, porque é que o meu pai veio.

E quando se tem um pai assim, torna-se mais fácil ‘perceber’ Deus

e falar com Ele, desta maneira: “Pai nosso...”

Os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do

Céu?» Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: «Quem se fizer humilde

como este menino será o maior no Reino do Céu». | Mt 18, 1-4

“Quem é o maior no Reino do Céu?”

Todos se voltaram para Jesus, a quem era dirigida a pergunta.

Tinha sempre respostas imprevisíveis. Das que se gravam na alma.

Olhou para o Jónatas e chamou-o. Era um catraio de 6 anos.

Correu imediatamente para Jesus, com um sorriso no rosto.

Depois de o ter colocado no meio do grupo, Jesus afirmou:

“Quem se fizer humilde como esta criança será o maior no Reino”.

Depois de uns instantes de silêncio, soltaram-se os comentários.

Jesus abraçou o Jónatas, abençoou-o e foi-se embora. Eu também.

No regresso a casa, ao longo do caminho, envolvido pelo silêncio,

fui refletindo no que tinha visto e ouvido de Jesus.

Querem saber quem é o maior e Ele fala em ser pequeno.

Querem saber como ser famoso e Ele fala em ser discreto.

Querem saber como subir ao telhado e Ele fala em descer à cave.

Querem saber como ganhar a medalha de ouro e Ele fala em barro.

Querem saber como ser uma vedeta e Ele fala em chão de palco.

Querem saber como dominar e Ele fala em humildade.

Querem saber como pertencer à elite e Ele fala de santidade.

Querem saber como ser o primeiro e Ele fala em ser o último.

Querem saber como ser o soberano e Ele fala em ser serviçal.

Querem saber como ter lugar reservado e Ele fala em liberdade.

Querem saber como ser graúdo e Ele fala em ser miúdo.

Querem saber como conquistar o Céu e Ele fala em beijar a terra.

No final do dia, pensava ter compreendido as palavras de Jesus.

Mas só uns tempos depois é que cheguei ao pleno entendimento:

quando recebi a notícia de que Jesus tinha ressuscitado.

Afinal era mais que um homem. Era Deus a caminhar ao meu lado.

Um Deus que se despojou do seu poder, que veio ao mundo,

que lavou os pés aos discípulos, que foi abandonado pelos amigos,

que foi preso, gozado, espancado e crucificado. E, no fim, venceu.

Tudo, por causa da Vida e do Amor. Por ti e por mim. Por todos.

Percebemos, finalmente, o que é ser o maior no Reino do Céu?

Toda a comunidade dos filhos de Israel partiu do deserto de Sin para as suas etapas, segun-

do a palavra do Senhor. | Ex 17, 1a

Ante nós, o deserto. Intimidante. Com a extensão de 40 dias.

Desta vez, não ficamos reféns do medo, como sucedeu no passado,

mesmo que, como sempre, a travessia pareça ser impossível.

Recordámos a Voz que escutámos em tempos precedentes:

“Avancem! É por aí! Não tenham medo!”

Assim, vamos enfrentar o deserto, vazio de vida, cheio de nada,

parco em sinais de orientação, morada do grande silêncio,

onde podemos pensar menos nas coisas e mais no que somos.

Levamos, somente, o ‘equipamento’ estritamente necessário:

mãos disponíveis para acolher todas as outras;

braços, para nos atarmos num baixio de dor ou num pico de festa;

orelhas, para escutarmos os sons vitais dos nossos companheiros;

olhos, para captarmos a fulgor da beleza no miolo da vulgaridade;

nariz, para aspirarmos os aromas sedutores dos ventos novos;

boca, para sonorizarmos as palavras escritas dentro da alma;

pernas, para encurtarmos as distâncias entre nós;

pés, para nos enraizamos, com gratidão, às terras que pisamos;

coração, onde transportamos todos os nossos amores;

cabeça, onde harmonizamos as ideias e confecionamos os sonhos.

Uma ‘Presença’ invisível mas real, nos guiará no rumo certo.

Antever que Ele nos vai “conduzir para além de nós mesmos

a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro”,

leva-nos a almejar, com natural impaciência, o instante da partida.

A aventura alvorece com um sinal: cinzas vertidas sobre a cabeça.

Para recordar que somos fragilidade e caducidade.

Como noutras viagens, sentiremos o incómodo da proximidade,

o embaraço pela presença dos outros, o amargo dos conflitos,

a manifestação das arestas mais afiadas das nossas pessoalidades.

Mas é nesta adjacência que é semeado o prodígio da fraternidade.

Talvez iniciemos a caminhada não totalmente unidos.

Mas Deus dá-nos a possibilidade de terminá-la, como irmãos.

Caminharam três dias no deserto e não encontraram água. | Ex 15, 22b

Exaustos, desanimados, desconcertados, interrompemos a marcha.

A nossa aparência era misérrima.

Os corpos estavam secos. As almas, endurecidas.

Roupas laceradas, escassas gotas de água, algumas micas de pão,

eram todos os nossos bens.

A noite enclausurou-nos. Sentámo-nos em roda. Muito próximos.

Então, sob um céu salpicado por mil estrelas, o admirável sucedeu.

Em total silêncio, fomos enlaçando as nossas mãos. Lentamente.

Os nossos rostos, golpeados pela demasia do calor e do frio,

começaram a iluminar-se e a transfigurar-se.

Nos lábios desenharam-se sorrisos, daqueles com coração.

Lágrimas de paz jorraram dos olhos de muitos.

O espanto ia tomando conta de cada pedacinho de nós.

No meio do deserto, um grupo de homens, mulheres e crianças,

despojados de tudo e cercados de nada, imersos na escuridade,

experienciava os efeitos da energia mais poderosa do universo:

a admirável força da comunhão.

Ali, não se achavam títulos, graus escolásticos, pedantismos sociais.

Apenas seres humanos, na sua mais genuína nitidez.

Naquele círculo de afetos, saboreámos o fascínio da eternidade.

Transpusemos a noite. Sem sono. Ligados. Cúmplices. Autênticos.

O alvor do novo dia descobriu-nos em posição de partida.

Tínhamos chegado àquele campo de areia, abatidos e derrotados.

Estávamos, agora, com o ânimo e a determinação dos super-heróis.

Tínhamos chocado com a muralha invisível do limite.

Estávamos, agora, de novo, perante a vasta estrada do infinito.

A meio da tarde, encontrámos água e alimentos.

AQUELE que viajava connosco, não nos tinha abandonado.

Permitiu que tocássemos a periferia da nossa humanidade,

lugar onde se confirma a força do barro, de que todos somos feitos,

e se fabrica o sublime dinamismo do amor.

Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que

vem à frente, corro em direção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em

Cristo Jesus. | Fl 3, 13b-15

No filme “Momentos de Glória” (Charriots of fire), de 1981,

que narra a preparação da equipa de atletismo da Grã-Bretanha,

para os Jogos Olímpicos de 1924, em Paris,

um dos protagonistas, Eric Liddell, um presbiteriano escocês,

afirma: “Deus fez-me rápido e, quando corro,

sinto o seu prazer na minha velocidade.”

Deixo-te quatro questões para refletires e rezares:

1. “Corres”? Para onde? Porquê?

2. Sabes identificar os dons que Deus te concedeu?

3. Reconheces que os talentos que possuis são uma dádiva?

4. Quando os utilizas para o bem, sentes o contentamento de Deus?

Sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João

pregou: como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual

andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo mal,

porque Deus estava com Ele. E nós somos testemunhas do que Ele fez no país dos judeus e

em Jerusalém. A Ele, que mataram, suspendendo-o de um madeiro, Deus ressuscitou-o, ao

terceiro dia. | At 10, 37-40a

Neste tempo de Semana Santa e Tríduo Pascal,

em que os cristãos se centram na Paixão e Ressurreição de Jesus,

há uma frase de Ganghi (apreendeu-a do testemunho de Jesus)

que me veio à memória e me tem acompanhado nestes dias:

Primeiro ignoram-te. Depois riem-se de ti. Depois atacam-te.

E, no fim, tu vences.

Foi o que aconteceu com Jesus.

Também com muitos outros homens e mulheres. Talvez, contigo.

Conheço o poder da brutidade, da violência, da maldade.

Mas acredito que, no fim, sai vitorioso aquele que ama.

Não é isto que vemos confirmado, por Jesus, de forma soberana?

Os que amam são sempre vencedores. E livres.

Pedro entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao

passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente

com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado no seu lugar. Então, entrou também o

outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a acreditar. Ainda

não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. A

seguir, os discípulos regressaram a casa.

Há o olhar e o ver.

O ‘olhar’ capta a exterioridade. O ‘ver’ descobre a alma.

Pedro e o outro discípulo olharam aquele lugar vazio,

mas não viram o mesmo.

Um, regressou com mil interrogações. O outro, com uma certeza.

Para um, ficou gravada a imagem de um sepulcro esvaído.

Para o outro, a visão dum sacrário, sinal de uma Presença oculta.

Há silêncios que falam e ’falas’ que são apenas inanidade.

Há invisíveis que são evidências e ‘certezas’ que são irreais.

Vai ao túmulo onde esteve sepultado Jesus. Observa-o bem.

Regressa a casa, ou seja, retorna a ti. E deixa-te surpreender.

Só os que dão oportunidade ao espanto são capazes de entender

o milagre da Vida e o fulgor absoluto da Ressurreição.

Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» - respondeu o cego.

Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo

caminho. | Mc 10, 51-52

Mais do que a cura do cego, que me deixou atónito,

fiquei surpreendido e fascinado com a afirmação final de Jesus:

“A tua fé te salvou!”

Ouvi bem: salvou! Mas, não foi uma cura?

Durante alguns dias, fui acompanhando aquele homem.

Passou a seguir Jesus. O seu comportamento mudou por completo.

Tornou-se mais bondoso, mais humano, mais vivo.

A visão recuperada ultrapassou as dimensões do corpóreo.

Apercebeu-se de que, o que ocorreu com ele, foi uma salvação:

uma cura do espírito, que nasceu de uma cura no corpo.

A esta ‘passagem’ chama-se milagre.

Há milagre (S. João, no seu Evangelho, chama sempre ’sinal’)

quando vemos num acontecimento, seja ele uma cura ou outro,

algo mais do que ‘aquele acontecimento’,

antes, um ’toque’, uma ‘carícia’ de Deus, com o brilho do espanto,

que nos convoca e arrebata para uma relação amorosa com Ele,

o Curador que pode sarar as ‘cegueiras’ e outras ´maleitas’,

daquelas que nos paralisam e nos ‘matam’ por dentro.

O milagre incita ao salto, não ao recosto; à conversão, não à fixação.

Como diria Santo Agostinho,

no milagre, é essencial não amar mais o anel que o Noivo.

Partilho estas palavras de um pai:

Rezámos muito a Deus para que curasse a deficiência do nosso filho.

E Deus ouviu a nossa oração. Mas não do modo que esperávamos.

Na verdade o nosso filho não ficou curado.

Deus curou-me a mim e à minha mulher:

agora vivemos em paz e alegria por ter um filho assim.

Quando pensas em ‘milagre’, pensas em quê?

Quando pedes um ‘milagre’, pedes o quê?

Disse Jesus: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas

aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos.” | Lc 10, 21b

As páginas dos quatro Evangelhos, na sua totalidade,

e excetuando o Magnificat, apresentam-nos 5 ’falas’ de Maria:

«Como será isso, se eu não conheço homem?»

Maria questiona. Tenta compreender o sentido das coisas.

Que respostas buscas? Procuras mesmo? Interrogas-te sobre ti?

«Sou a serva do Senhor. Cumpra-se em mim a tua palavra.»

Sem entender tudo, Maria aceita e avança. Porque confia em Deus.

Estás disponível? Acolhes os desafios? Acreditas? Ousas?

«Filho, por que nos fizeste isto?

Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!»

A pergunta sobre as razões do desencontro não é um ralhete.

É o início natural de um diálogo entre pessoas que se amam.

Quem ama, cuida, está atento. E aflige-se com a ausência do outro.

Como é contigo?

«Não têm vinho!»

Maria apercebe-se da falta de alegria e de festa em muitos lugares.

E esse local pode estar não muito longe de ti:

por que andas triste, quando, aparentemente, tens tudo?

Também te preocupas com a tristeza e o sofrimento dos outros?

«Fazei o que Jesus vos disser!»

Escutas Jesus? E fazes o que Ele te diz? Porquê?

Escreveu Oscar Wilde, numa das suas obras:

“Sou tão inteligente que, às vezes,

não compreendo uma única palavra do que estou a dizer.”

Maria, como todos os ‘pequeninos’,

que são aqueles que Deus vê e escuta melhor,

tem o dom de dizer muito, usando poucas palavras.

E as que nos deixou, ela compreendeu-as todas. Nós, também.

São mensagens vestidas de terra. Contudo, falam-nos do Céu.

Será que as deixamos aninharem-se no coração?

Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: «Que discutíeis pelo

caminho?» Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros

sobre qual deles era o maior. | Mc 9, 33-34

Tenho a certeza que és mais inteligente, mais rápido, mais forte,

mais verdadeiro, mais bonito, mais generoso, mais habilidoso,

mais rico, mais honesto, mais esperto, mais simpático,

mais trabalhador, mais criativo, mais eloquente, mais cuidadoso,

mais importante, mais perspicaz, mais atento, mais ilustrado,

mais educado, mais culto, mais humilde, mais organizado,

mais bondoso, mais iluminado, mais perfeito do que eu.

Ou seja: és maior do que eu, em tudo. Que não haja dúvida.

Nunca discutirei contigo sobre o lugar que ocupo na tua escala.

Não ambiciono ser mais nem menos que alguém.

Nem desejo que me ‘pintem’ mais ou menos que alguém.

Recordo palavras do Papa Francisco:

“Não somos mais porque falam bem de nós,

nem menos porque falam mal de nós.

O que somos perante Deus, isso é o que somos e nada mais.”

Entendes? O que eu sou perante Deus é o que me importa.

Peço-te que, assim que perceberes, em mim, tiques de ‘ser maior’,

me corrijas, imediatamente.

É o ‘homem velho’, que habita em mim, a querer dar nas vistas.

Ainda não consegui que partisse para bem longe da minha vida.

Disse Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são envia-

dos! Quantas vezes quis reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos sob

as asas, e tu não quiseste!” | Mt 23, 37

Neste mundo, com tantas zonas farpadas por muros e divisórias,

com muitos a ‘matar’, a ‘apedrejar’, a ‘não querer’,

Jesus convoca-nos para a construção da unidade:

vivermos em paz nesta ‘casa comum’ que é o planeta Terra,

sermos bons vizinhos, apesar das nossas diferenças e divergências.

Deus continua a desejar reunir todos sob as suas ‘asas’.

Pergunto-te: não achas este sonho fascinante?

Queres participar nele? Não a falar, falar, falar, falar, mas a agir?

Afirmas que a caminhada é extensa e árdua. Sim, tens razão.

Atravessa corações, tão idênticos na sua composição química,

e, contudo, tão dissemelhantes nas motivações que albergam,

e nos coeficientes de permeabilidade à ternura e à surpresa.

Mas uma viagem, seja qual for a sua lonjura e grau de dificuldade,

inicia-se com um pequeno e humilde passo.

Ou com um simples abraço.

Vens ou ficas?

Enquanto celebravam a ceia, Jesus, levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e

atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a

enxugá-los com a toalha que atara à cintura. Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe:

«Senhor, Tu é que me lavas os pés?» Jesus respondeu-lhe: «O que Eu estou a fazer tu não o

entendes por agora, mas hás de compreendê-lo depois.» Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca

me hás de lavar os pés!» Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a haver comi-

go.» Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas também as mãos e a

cabeça!» Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois

está todo limpo. E vós estais limpos, mas não todos.» Depois de lhes ter lavado os pés e de

ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós

chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mes-

tre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos

exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. | Jo 13, 3-15

A fascinante simplicidade de um gesto.

Sem palavras, tudo é dito. Em silêncio, a mensagem é comunicada.

Eloquente expressividade de um sinal, inesperado e radical.

Jesus assume a conduta de um escravo. Ajoelha-se perante todos.

A atitude já seria desconcertante se Jesus fosse um homem comum.

Mas, se era Mestre? Ou, Senhor? Ou, realmente, Deus?

Jesus lava os pés aos discípulos, mas está a falar-lhes do Servir.

Jesus lava os pés aos discípulos, mas está a falar-lhes do Amor.

Jesus lava os pés aos discípulos, mas está a falar-lhes da Vida.

Vida que “é o teu navio, não é a tua casa” (Stª Teresa de Lisieux).

Jesus revela-nos a forma mais bela de fazer ‘navegar’ a vida,

na nossa viagem para Casa.

Escassas horas depois daquela ceia com os seus amigos,

Jesus vai estar mais ‘acima’ do que qualquer outro ser humano.

Alteado numa cruz. Como um vulgar malfeitor. Contudo, inocente.

Os dois momentos revelam a mesma e espantosa realidade:

“Podemos cair mais baixo que nós próprios;

nunca cairemos mais baixo que Deus” (A. H. von Balthasar).

Todos os ‘fundos’ já foram ocupados e abençoados por Ele.

Permite que Jesus te ‘lave os pés’. Acolhe o inaudito. Aceita o dom.

Não te apoquentes se, nesse instante, nada entenderes.

Hás de compreender depois.

Não foi o que aconteceu com Pedro e com todos os outros?

Partindo dali, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. | Mc 7, 24a

A vida é pontuada por chegadas e partidas.

Mas o que significa ‘partir’,

se vamos acumulando no coração os corações dos que amamos

e plantando pedaços de nós nas terras por onde passamos?

Esta é a minha última semeadura de palavras neste cantinho.

Obrigado aos que me desafiaram a escrevê-las.

Obrigado aos autores das fotos, com que ilustrei os textos.

Obrigado aos que, gentilmente, passaram os corações por eles.

Obrigado ao ‘O ALCOA’ que, mais que um jornal, é uma família.

Obrigado a Deus, por me ter ‘aproveitado’ para chegar a alguns.

Obrigado a Jesus, que foi meu ‘cúmplice’ neste recanto de jornal.

Permitam-me que vos deixe com uma mensagem de S. Paulo:

Termino, irmãos, com um pedido:

sejam alegres, procurem alcançar a maturidade completa,

e animem-se uns aos outros.

Vivam unidos e em boa harmonia,

e o Deus de amor e de paz estará convosco.