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Paixão PantaneiraPantaneira Passion

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Cuiabá, 2012

Paixão PantaneiraPantaneira passion

Flávio Ferreira

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© 2012 Flávio Ferreira Todos os direitos desta edição reservados para entrelinhas editora.

all rights of this edition are reserved to entrelinhas editora.

editora editor Maria Teresa Carrión CarracedoProdução Gráfica Graphic Production ricardo Miguel Carrión Carracedo

Capa Cover Mayte | C&CPaginação Pagination robinson Marcelo Borborema

Fotos Photos rai reis | Mayte Tradução e revisão

Proof reading and english languageversion Yael Botelho

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CiP)Cataloguing in Publication Data (CiP)(Câmara Brasileira do livro, SP, Brasil)

Ferreira, FlávioPaixão pantaneira = Pantaneira passion / Flávio Ferreira;

[tradução e revisão/proof reading and english language version Yael Botelho]. -- Cuiabá, MT : entrelinhas, 2012.

iSBN 978-85-7992-030-1

1. Poesia brasileira i. Título. ii. Título: Pantaneira passion.

12-11490 CDD-869.91

Índices para catálogo sistemático: Índex to the Systematic Catalogue:1. Poesia Poetry : literatura brasileira Brazilian literature 869.91

Av. Senador Metello, 3773, Jardim Cuiabá | Cep. 78030-005 | Cuiabá-MT Telefax. (65) 3624 5294 | 3624 8711

e-mail: [email protected] | www.entrelinhaseditora.com.br

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With love and gratitude, i dedicate these poems

to my parents: Zé Grande and Cila and to my

grandparents: Sate, Miza, Flávio and Cila;

all of them from the Pantanal.

Com amor e gratidão, dedico estes poemas a meus pais:

Zé Grande e Cila e a meus avós: Sate, Míza, Flávio e Cila, todos

pantaneiros.

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Dom Pedro Casaldáliga (1928) é Catalão e bispo emérito de São Félix do araguaia (MT – Brasil). Um dos mais conhecidos adeptos e defensores da Teologia da libertação. recebeu vários prêmios, incluindo o international Catalunya Prize (2006). Dedica boa parte de sua vida ajudando os povos indígenas e defendendo os direitos humanos.

Mgr. Pedro Casaldáliga (1928)is a Catalan-born emeritus Brazilian Bishop of São Félix do araguaia (Brazil). He is one of the most known practitioners of liberation Theology. He has received several awards, including the international Catalunya Prize (2006). Well-known for his work and support of indigenous peoples and for defending human rights.

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apresentação

vocês, querido Flávio e toda a querida tribo Cena onze, levados por uma paixão pantaneira que vem de lon-ge, que faz parte essencial do seu imaginário e de sua luta diária, têm feito dessa paixão uma parábola da ecologia vivida, integral e militante.

Hoje ser ecologista, às vezes, é só uma faixa indigna-da de uma tarde; em vocês a ecologia é memória, história, missão. e o Pantanal é habitat familiar.

Teus textos, Flávio – poeta, dramaturgo, professor – tudo numa peça só de plural identidade integrada, são uma torrente de vivências transbordadas. alma e corpo tangí-veis, utopia e pão diário, protesto e aconchego, ira e ternu-ra, silêncio e clamor, uma antologia autobiográfica de cora-ção aberto. você é seus textos. “Nós somos a nossa palavra”, proclamam os Guaranis.

Continua, continuem, continuemos, cultivando essa emblemática Paixão Pantaneira, semeando conscientiza-ção, convocando para o compromisso. e provocando espe-rança, apesar do sistema homicida, genocida, ecocida, que esmaga o nosso mundo. em última instância, podemos ser derrotados. Mas nossa Causa é invencível. Contamos com o Deus da vida e com “os levantados da terra”.

Com um abraço do tamanho dessa nossa paixão inte-gral, do Pantanal ao Mundo.

Pedro Casaldáliga(velho padrinho de bengala)

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Presentation

Dear Flávio,you and Cena onze, driven by a Pantaneira Passion,

which started years ago and has become essential part of your imagination and your daily struggle, have changed that passion into a parable of the lived, full and militant ecology.

Being an ecologist nowadays is sometimes just an indignation. ecology for you is memory, history, mission. and the Pantanal is a natural habitat.

Your texts, Flávio – poet, playwright, professor – all in a single piece with a plural identity, are a torrent of overflown living experiences. Tangible body and soul; utopia and daily bread; protest and warmth; anger and tenderness; silence and clamour, an open heart autobiographical anthology. You are your texts, “We are our words” proclaim the Guaranis.

Keep on! We will keep on cultivating this Pantaneira Passion, spreading awareness, calling for the commitment. and promoting Hope, in spite of the homicidal, genocidal, ecocidal system which crushes the world. Ultimately, we can be defeated. However, our Cause is invincible. We count on the God of life and on “the raised from the land.”

With a warm hug as big as our whole passion, from the Pantanal to the World.

Pedro Casaldáliga(old sponsor, with a cane in the hand)

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apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Presentation . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

oração a Nossa Senhora do Pantanal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

A Prayer to Our Lady of the Pantanal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Paixão Pantaneira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Pantaneira Passion . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

o Choro de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29God’s Crying . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

o Plantio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35The Planting . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Canoeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38The Canoeist . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Berros e Berrantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42Yells and Blowing Horns . . . . . . . . . . . . . . . 44

O Choro das águas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46The Waters’ Crying . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

No Dedilhar da viola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50Strumming the viola . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

Solidão do Peão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54The Horse Tamer’s loneliness . . . . . . . . . . 56

Sol de agosto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58august Sun . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Zé Grande . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60Big Zé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Boiada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64Cattle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

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Carroceiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68The Carter . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

viola de Nhô Sate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Nhô Sate’s viola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Mulheres do Pantanal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76Women from the Pantanal . . . . . . . . . . . . 78

Desperta Pantanal! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80awake Pantanal! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

visões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84visions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

Sonhos Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88Simple Dreams . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

Chuvas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90rains . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

rastros da imaginação . . . . . . . . . . . . . . . . . 94Traces of imagination . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

Feras Selvagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98Wild animals . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

lua de agosto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102august Moon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

Paisagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106landscape . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

amanhecer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110Dawn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

vida e Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114life or death . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

Pantaná... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118Pantaná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

Som de berrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120Sound of Blowing Horn . . . . . . . . . . . . . . 121

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123Glossary . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

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oração a Nossa Senhora do Pantanal

Maria, Nossa Senhora, Mãe de todas as águas, Mãe de todas as plantas, Mãe de todos os bichos, Mãe de todas as terras, Mãe da Terra!

Mãe do Menino Jesus, Mãe dos peões, Mãe dos cano-eiros, Mãe das parteiras, Mãe de todas as mães, Nossa Mãe eterna!

a vós rogamos, Mãe. olhai pelo nosso imenso Panta-nal. Protegei-nos, Senhora da vida.

Não permita que o cruel agronegócio continue explo-rando o pantaneiro.

Tocai os corações dos empresários da terra, para que eles se sensibilizem e parem de destruir as nossas matas, já tão frágeis, tão tristes, tão débeis, tão sem vida...

É tão triste de ver, Mãe Divina, quando anoitece, lá pelas 6 horas, quando o sol se deita, e as cigarras começam a cantar (tristemente) – na hora da ave Maria – dizem as mães pantaneiras que se ouvem choros vindo das matas, lamentos trazidos pelos ventos, gemidos em forma de uivos... “São as almas das árvores mortas”, dizem elas, “clamando por justiça contra a destruição.”

e ao tocar os pés descalços na terra, Maria Mãe eter-na, o chão treme, parece gritar de dor. “É de tristeza.”, reba-tem as benzedeiras...

Quando chega o cansado vento sul, ele traz o perfu-me da hortelã do campo, mas carrega também o cheiro da

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morte (o inseticida) – profetizam as parteiras – “envene-nam as crianças, filhas e filhos das pantaneiras...”

e ainda nesta Hora Sagrada, rogamos, Mãe Santíssima, que proteja nossas nascentes, nossas matas ciliares, nosso solo, nosso ar, nossos peixes, nossos bichos, nossas borbo-letas, nossos beija-flores...

oh, Maria, apazigue o coração do empresário genoci-da do campo, para que ele deixe de usar a droga nos grãos da ração, que modifica a genética, que confronta a lei natu-ral, que obriga animais a crescerem numa estúpida velo-cidade, para serem abatidos tão precocemente, levando a mesma droga para o organismo de todos nós...

e apesar das justificativas dos empresários da terra, de que o inseticida é necessário na lavoura, “prá saciar a fome no mundo”, bem sabemos, Mãe, que esse discurso sucum-be a qualquer pesquisa séria. É que esses venenos são usados porque são mais baratos e diminuem o custo da produção, e nós pagamos o preço: da doença, do câncer, da morte lenta...

Protegei-nos, Maria! Que esses ricos genocidas parem de contaminar o nosso ar, os nossos lençóis freáticos, os nossos rios, as nossas lagoas. antes, fontes de bênçãos; hoje, armadilhas para os bichos e para o pobre pantaneiro...

ontem, Maria, o pantaneiro sabia: “é tempo de chuva”, “é friage”, “é enchente” “é vazante”. Hoje, é solo esturrica-do, é terra seca... o que era harmonia da natureza, agora é cenário assombrado por cadáveres de animais...

ontem, Mãe Divina, corixos – estradas de água – hoje, caminhos que levam e trazem maquinários, que destroem tudo em volta...

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ontem: mar, a perder de vista, de: piúvas, cumbarus, marmeladas-bola, pequizeiros, jacarandás, jatobás, manga-beiras, lixeiras, aroeiras, figueiras, paineiras, angicos, sarãs, hoje: deserto imenso de soja, que vira óleo, que vira expor-tação, que vira euro, que vira dólar, que vira renda (prá muito pouca gente)...

ontem: pantaneiro, gente respeitada, que vivia e sobre-vivia da água e da terra, que criava suas filhas e filhos, que tinha autonomia para escrever a própria história de vida; hoje é só mais um peão, um empregado, um bóia fria, um ser descartável...

Hoje, Nossa Senhora, há escravidão branca e ser gado é bem melhor do que ser peão. Gado tem tratador, rece-be massagem, banho, ouve música no curral, alimenta-se o tempo todo, porque dá carne, porque dá lucro, porque dá renda (prá muito pouca gente)...

Maria dos Pantaneiros, Maria das Parideiras, Maria dos Peões, Maria das Benzedeiras, Maria das Parteiras, Maria das Marias, Maria dos Josés, Maria das Goiabeiras, Maria das Mangueiras, Maria das Piúvas, Maria dos Cum-barus, Maria das Coroas de Frades, Maria das Marmela-das-bola, Maria das Mangabeiras, Maria dos assa-peixes, Maria das Flores dos Cajueiros, Maria dos Beija-flores, Maria dos Tuiuiús, Maria dos assanhaços, Maria dos Bacu-raus, Maria dos Bem-te-vis, Maria das ariranhas, Maria dos Jacarés, Maria dos Quatis, Maria dos Tatus, Maria dos escravos do agronegócio!

abençoai-nos, Nossa Senhora do Pantanal, Nossa Mãe...

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