a rádio peão no ar

17
A Rádio Peão no ar Um estudo sobre a comunicação informal e a comunicação formal face a face no ambiente organizacional Katia Perez Programa de Pós-graduação em Comunicação Soci Universidade Metodista de São Paulo - 2010

Upload: katia-perez-comunicacao-corporativa-comunicacao-empresarial

Post on 18-Dec-2014

523 views

Category:

Business


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: A rádio peão no ar

A Rádio Peão no arUm estudo sobre a comunicação informal e a comunicação formal face a face no ambiente organizacional

Katia PerezPrograma de Pós-graduação em Comunicação SocialUniversidade Metodista de São Paulo - 2010

Page 2: A rádio peão no ar

Rádio-peão e comunicação formal face a face possuem características semelhantes

ocorrerem pelas interações entre os funcionários de todos os níveis hierárquicos; credibilidade comunicação verbal participação dos funcionários

Descobrir os pontos em comum e os divergentes entre essas duas modalidades de comunicação, principais características e a possibilidade de a comunicação formal face a face conquistar características existentes na rádio-peão, mesmo sendo um formato de comunicação proposto pela empresa, e não espontâneo entre os funcionários, como ocorre com a rádio-peão.

Questão inicial: a comunicação formal face a face tem potencial (e os ingredientes necessários) para conquistar o mesmo envolvimento dos funcionários que a rádio-peão registra? Quais seriam esses ingredientes?

Contexto

Page 3: A rádio peão no ar

Objetivos

O objetivo geral: estudar as características e o papel da rádio-peão e dos processos formais de comunicação face a face dentro das organizações, bem como o envolvimento dos funcionários em ambas as situações.

Objetivos específicos: a compreensão dos motivos pelo qual a rádio-peão permanece ativa e ganha sempre a audiência dos funcionários; as razões que levam as empresas a criar e adotar o formato de comunicação formal face a face, e elaborar uma forma de comunicação mais democrática dentro das empresas, usando-se atributos desses dois formatos de comunicação.

Page 4: A rádio peão no ar

Metodologia

representantes da Academia e do mercado de trabalho, das áreas da Sociologia do Trabalho, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Administração, Comunicação Organizacional e Sindicatos

14 pessoas convidadas; 13 concordaram em conceder entrevistas

entre 25 de setembro de 2009 e 23 de novembro de 2009, gravadas, com duração de aproximadamente uma hora, feitas nos locais de trabalho dos entrevistados (exceção de José Lopez Feijóo)

O objetivo da entrevista de José Lopez Feijóo foi coletar dados históricos da rádio-peão e dos meios de comunicação entre os trabalhadores nos anos 1970.

pesquisa bibliográfica pesquisa documental entrevistas semi-abertas

Método qualitativo:

Page 5: A rádio peão no ar

Entrevistados

Lucieneida Lucieneida PraunPraun

Maria do Maria do Carmo MartinsCarmo Martins Marli Donizeti Marli Donizeti

de Oliveirade OliveiraIzidoro Izidoro BliksteinBlikstein

Elaine SaadElaine Saad Afonso Afonso ChampiChampi Elisa PradoElisa Prado

Sidinéia Sidinéia FreitasFreitas

Suzel Suzel FigueiredoFigueiredo

Luiz Cláudio Luiz Cláudio MarcolinoMarcolino

Paulo LagePaulo LageSérgio NobreSérgio Nobre

José José Lopez Lopez FeijóoFeijóo

Page 6: A rádio peão no ar

A rádio-peão ainda é tida como negativa, ou pelo menos olhada com desconfiança. Poucos a vêm como uma prática saudável de comunicação. Esta observação é semelhante aos dados coletados pelos pesquisadores norte-americanos John Newstrom, Robert Monczka e William Reif, que registraram que 53% dos executivos e funcionários de escritório percebem a rádio-peão como um fator negativo no ambiente da organização e apenas 27% a percebem como positiva.

Conforme os dados coletados nas entrevistas, boa parte das informações distorcidas são geradas pela própria empresa:

falta ou superficialidade da comunicação formal comportamento dos porta-vozes da empresa junto aos empregados jogos de poder dos executivos boatos manipulados

Poucos entrevistados comentaram o fato de que a rádio-peão carrega notícias verdadeiras, como no caso contato por Sérgio Nobre (Sindicatos), sobre a demissão de 1.300 funcionários na fabricante de caminhões de São Bernardo do Campo, em 1995.

Observações

Page 7: A rádio peão no ar

Ainda sobre os executivos das empresas, foram observadas:

questões sobre a proximidade e participação da média liderança com a rádio-peão, citada por Lucieneida Praun (Sociologia do Trabalho) isolamento dos alto executivos e seu desconhecimento dos que é divulgado na rádio-peão, referido por Suzel Figueiredo (Comunicação) e Elaine Saad (Administração).

Estas duas referências também são semelhantes os resultados obtidos pelos pesquisadores Suzanne Crampton, John Hodge e Jintendra Mishra, cujo objeto de estudo era a percepção da rádio-peão pelos diferentes níveis hierárquicos de executivos.

Observações

Page 8: A rádio peão no ar

A importância dos líderes informais para as empresas é ressaltada por Administração e Comunicação como um meio de influenciar outros funcionários, nos moldes dos estudos sobre os líderes de opinião da década de 1940, presentes no difusionismo e no fluxo de informações de dois estágios.

comunicação interpessoal como intermediária entre os meios de comunicação coletiva e seus alvos individuais influenciadores X influenciados (KATZ, 1964, p. 77) líderes de opinião são acessíveis e extrovertidos e têm acesso a informações relevantes provenientes de fora de seu circulo imediato (LAZARSFELD, 1964, p. 89). os meios formais oferecem informação em demasia Nessas condições, não é de se estranhar que as pessoas procurem dividir essas informações com seus colegas. (LAZARSFELD, 1964, p. 92).

Observações

Page 9: A rádio peão no ar

No que se refere à “web-peão”, Keith Davis e John Newstrom, em 1989 (Capítulo II), já viam como uma tendência a proliferação da rádio-peão pelos meios eletrônicos, ao que ele chamaram de boatos eletrônicos.

Nicholas DiFonzo e Prashant Bordia também anotaram essa participação dos meios eletrônicos em 2000 (Capítulo II) como outra forma de divulgação das notícias da rádio-peão.

Nesta pesquisa, vimos esse futuro anunciado, inclusive através de outros avanços tecnológicos, como o celular (instrumento para o torpedo-peão), e as redes sociais virtuais, por onde a rádio-peão se torna mais abrangente e ágil.

Observações

Page 10: A rádio peão no ar

Aproximação entre Comunicação e Administração: rádio-peão: causas, conceito de “boa” e “má”. Não há visão de benefícios em minorar a angústia, ansiedade e insegurança dos funcionários, como em Psicologia Organizacional e do Trabalho Sociologia do Trabalho comunicação formal face a face: bastante valorizada, mas sem a visão histórica ou contextual do seu surgimento, como a Sociologia do Trabalho e os Sindicatos transparência: resguardo de informações sigilosas é uma preocupação maior lideranças formais e informais: pesquisas de Henry Mintzberg sobre o tempo gasto pelos executivos, diferenciação entre comunicar e informar, comunicação como negócio mídia training interno, o “peão-training”

Comunicação poderia ser mais abrangente e independente, em sua teoria e prática.

Observações

Page 11: A rádio peão no ar

Rádio-peão e comunicação formal face a face ainda estão em fase de descobrimento, transformando-se e influenciando-se.

Rádio-peão Temida Combatida Manipulada Empresas tentam mudar seu conteúdo espontâneo tentando injetar o noticiário formal na programação da rádio-peão entender ou dar sentido aos fatos observados quando a comunicação formal se omite ou se restringe à superficialidade novas tecnologias

Comunicação formal face a face papel de veículo oficial das organizações deixa de lado características que contribuiriam para o diálogo usada como uma nova fonte de repasse de informação e não de comunicação Usada para identificação e manipulação das lideranças informais e dos interesses maiores da organização.

Considerações finais

Page 12: A rádio peão no ar

A rádio-peão surge no final da década de 1970, com o movimento operário, com características de comunicação dos trabalhadores, de credibilidade, de agilidade, de contar o que a empresa não conta

A comunicação formal face a face aparece em meados dos anos 90, com as novas formas de gestão empresarial e a necessidade de envolver os funcionários com o negócio da empresa, usando técnicas de persuasão e convencimento.

Ambos mostram características semelhantes (a co-presença, a fala, a comunicação não-verbal, cumplicidade, sensação de poder porque ‘sabemos mais que os outros’). Mas os objetivos e os conteúdos da comunicação formal face a face está vinculado ao negócio da empresa e a rádio-peão, ao negócio dos funcionários

Importância do papel do comunicador, formal ou informal. Pode provocar maior ou menor credibilidade, alimentar a rádio-peão ou não, inibir ou incentivar a participação, provocar diferentes reações emocionais em cada um dos interlocutores.

Contexto leva a dois quadros: o universo comunicacional das pessoas que trabalham na empresa e o surgimento de uma “nova” rádio-peão

Considerações finais

Page 13: A rádio peão no ar

Considerações finais

O universo comunicacional dos funcionários Cercados de informações

o noticiário formal da organização o noticiário oficial dos sindicatos

Em nenhum desses diversos canais (cujos objetivos e conteúdos são diferentes) existe uma participação real dos funcionários das organizações como acontece com a rádio-peão.

A rádio-peão continua sendo o único espaço democrático onde produtores-ouvintes fazem parte da produção do noticiário, onde os assuntos e preocupações sobre a empresa circulam livremente

Neste espaço os boatos manipulados, os balões de ensaio tentam se infiltrar e, muitas vezes, têm se infiltrado, tendo como agentes empresas e sindicatos. Seria este o fim do único espaço democrático de interação e comunicação dos funcionários? Seria esta uma “nova” rádio-peão? Uma rádio-peão com infiltrações?

Page 14: A rádio peão no ar

Considerações

A “nova” rádio-peão Comunicação formal face a face “oficial”

importados das empresas internacionais, juntamente com os novos modelos de gestão inspiração na eficiência da comunicação sindical face a face junto aos trabalhadores.

A rádio-peão como uma comunicação formal “informalizada”: a comunicação formal tradicional, elaborada pela empresa, mas divulgada através de líderes e redes informais

tratamento diferenciado: convidados para os encontros formais face a face com executivos da empresa para ouvir informações diretamente dessas fontes forma de convencimento: contato direto com a cúpula administrativa da empresa, criando um sentimento enganoso de pertencimento a um grupo privilegiado e também um sentimento de poder, por receber informações importantes em primeira mão, da conversa com a diretoria da empresa. mais do que a tentativa de substituir a rádio-peão, esta não seria uma forma de criar uma rádio-peão oficial, uma “rádio-colarinho-branco”?

Page 15: A rádio peão no ar

Considerações

São possibilidades que merecem ser investigadas porque fazem parte das relações entre organizações e funcionários entre comunicação formal e funcionários, organizações e comunicação informal, comunicação formal e comunicação informal e assim ao infinito, porque ao chegarmos ao final, as primeiras terão se transmutado e já serão outras as relações.

Nós não podemos nunca descer o mesmo rio,pois como as águas, nós mesmos já somos outros.

Heráclito de Éfeso

Page 16: A rádio peão no ar
Page 17: A rádio peão no ar

Obrigada.

[email protected]