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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PAISAGENS DA CIDADE OLÍMPICA : a gestão da paisagem através
dos megaprojetos urbanos e os mirantes no Rio de Janeiro
FERNANDES, P. H. S.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Geografia – IGEO/CCMN/UFRJ
Av. Athos da Silveira Ramos, 274. Prédio do CCMN, Bloco G, Sala 25 21941-916 Cidade Universitária. Rio de Janeiro – RJ – Brasil
[email protected] RESUMO
A partir do título de Patrimônio Mundial da UNESCO, juntamente com grandes eventos esportivos no Rio de Janeiro, cresce a já consolidada exposição internacional da cidade, juntamente com a importância da gestão de sua paisagem; sendo assim, o poder público, através de diferentes ações e projetos, assume essa condição, utilizando muitas vezes a paisagem como articulador do processo, não apenas de preparação para grandes eventos, mas também de grandes reformas urbanas e uma verdadeira transformação do espaço da cidade. Os projetos públicos de intervenção urbana que têm impactado e modificado o espaço da cidade possuem uma preocupação com a paisagem com desdobramentos e ações sobre esta; seja pela maneira em que a intervenção é dirigida, ou até no próprio sentido e/ou objetivo dos projetos. Essa preocupação é claramente vista através dos mirantes na cidade, já que são estruturas pensadas, desenvolvidas e estrategicamente posicionadas pensando a paisagem a ser observada. Dentro dos diversos projetos incluídos no Cidade Olímpica, mirantes são criados, revelando uma valorização clara da paisagem da cidade, mas não apenas de elementos consagrados e tradicionais, mas descortinando novas narrativas, já que as intervenções constroem mirantes novos, em áreas que antes não os possuíam, ou tinham suas paisagens pouco destacadas. Algumas questões se fazem necessárias para nos guiar durante essa investigação, sendo a principal delas: quais paisagens são objeto de mirantes nos projetos associados ao Cidade Olímpica no Rio de Janeiro? E quais são as intencionalidades incluídas no processo de construção desses mirantes? Como eles impactam as representações da cidade? A metodologia da pesquisa, de uma maneira mais geral, será baseada da tríade de políticas públicas urbanas proposta por Rossi & Vanolo (2013), que tomam como categorias de análise políticas como representação, governo e contestação; dividindo-se então em fases e etapas menores, não necessariamente seguindo a tríade em uma ordem linear. Duas atividades estão relacionadas a essa primeira fase: verificar os mirantes que estão sendo criados. A segunda atividade consiste em avaliar o discurso do projeto acerca da paisagem, como o projeto trata essa questão, como ela é abordada, que paisagens são destacas ao longo desse caminho (já que se tratam de registros imagético também); e também dos mirantes, mas também a partir dos mesmos, o uso dos mirantes durante e após as obras (por exemplo os mirantes utilizados para a filmagem de time-lapses (vídeos gravados por dias ou até semanas, compilados e editados para mostrar a evolução de um fenômeno). O objetivo central da pesquisa consiste em entender a relação entre o prograna Cidade Olímpica e a valorização da paisagem a partir dos mirantes criados em cada um dos projetos, atuando em uma lógica de ressignificação de diferentes espaços da cidade. Analisar também qual o papel da paisagem dentro desse grande projeto de transformação da cidade, buscando compreender como é tratada a paisagem em seu(s) discurso(s), bem como os elementos que são ressaltados e valorizados na paisagem dos novos mirantes. Logo, compreender a transformação da cidade através da ressignificação da paisagem, e o papel dos mirantes nesse processo. Palavras-chave: mirante; políticas públicas; Rio de Janeiro; paisagem;
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INTRODUÇÃO
A temática da paisagem não se trata de uma novidade ao nos debruçarmos sobre a cidade
do Rio de Janeiro. Desde os relatos dos viajantes, as letras da bossa nova, os cartões postais
e até o símbolo do Jogos Olímpicos de 2016, a paisagem carioca possui um caráter
excepcional na cultura, na economia (através do turismo) e na gestão da cidade, sendo esta
última a esfera que mais nos interessa.
Um acontecimento marcante no que tange a questão paisagística na cidade é a candidatura
e posterior título de Patrimônio Mundial da UNESCO, justamente através da categoria
“Paisagem Cultural”. A cidade não recebe o título em sua totalidade, sendo construído um
discurso, uma narrativa de paisagem, embasada em critérios da instituição. O discurso final
empregado nessa candidatura foi o das “Paisagens cariocas entre a montanha e o mar”, ou
seja, a área inscrita compreende uma porção da cidade entre alguns morros e maciços e o
mar (principalmente a porção atlântica da Zona Sul da cidade e uma parte da Baía de
Guanabara), englobando pontos já bastante conhecidos na paisagem da cidade, por exemplo,
o Cristo Redentor, Pão de Açúcar, praia de Copacabana, entre outras paisagens já
cristalizadas no imaginário do Rio de Janeiro.
Somando-se a este processo estão os anúncios de grandes eventos a serem sediados na
cidade, destacando-se a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que atraem ainda
mais olhares para a cidade. Apesar de não possuir um efeito direto na paisagem da cidade,
tais eventos possuem um impacto grande na gestão e nas políticas públicas a serem
´pensadas e empreendidas, consequentemente produzindo mudanças significativas no
espaço urbano. A partir desse processo histórico e cultural de valorização da paisagem,
somando-se a este momento de “consagração” e visibilidade, pensar intervenções no espaço
do Rio de Janeiro estará intimamente relacionado com pensar a paisagem, não só como
reflexo e recorte espacial, mas também como construção de uma narrativa a ser percebida,
significada e assimilada.
SOBRE A PAISAGEM, OS MIRANTES E AS POLÍTICAS PÚBLICAS:
DELIMITAÇÃO CONCEITUAL
Seria uma tarefa hercúlea e até prepotente propor uma discussão completa definitiva acerca
do conceito de paisagem na geografia, tamanha a riqueza histórica e também a pluralidade
de abordagens existentes. Logo, será feita uma discussão acerca do conceito aplicado ao
trabalho, bem como os autores que embasam teoricamente o conceito nesse caso.
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O conceito de paisagem é trabalhado a partir da Nova Geografia Cultural, em que a paisagem
não é apenas um conjunto de técnicas e modos de produção dispostos espacialmente.
Consideraremos a paisagem como uma narrativa, sendo construída a partir de elementos
selecionados por determinado grupo ou segmento social, no qual a cultura não é mero suporte
ou um dos elementos dispostos na paisagem, mas peça fundamental e indispensável para a
compreensão e interpretação da mesma.
A paisagem cultural é um recorte seletivo do espaço, uma escolha dentro de outras inúmeras
possíveis. Obviamente o conceito não se restringe apenas à dimensão concreta do espaço,
sendo construída a partir de signos e produzindo-os; tais significados embutidos na paisagem
são reproduzidos e difundidos, constituindo assim o imaginário social (DUNCAN, 2004);
Uma abordagem que muito contribui para o trabalho aqui proposto é a da paisagem não
apenas como um dado, algo que está cristalizado no espaço apenas esperando para ser
analisado e descrito. Consideremos a paisagem cultural assim como Cosgrove (2012), como
um “modo de ver”, já que diferentes interpretações e significações podem surgir de diferentes
sujeitos ao se depararem com o mesmo espaço, dando origem a diferentes paisagens
possíveis. Para além da paisagem como apenas o que a vista alcança, sendo construída a
partir de diferentes sentidos, interpretações, significados e olhares que irão compor o conceito
de paisagem para a Nova Geografia Cultural.
Sendo então considerado como um modo de ver e sentir o espaço, uma leitura dentre infinitas
outras possíveis, a paisagem possuirá então um aspecto subjetivo, não estando condicionada
apenas à materialidade congelada num determinado instante no espaço; a paisagem é
construída e constantemente modificada através de aspectos imateriais, simbólicos e
culturais. O que uma pessoa vê e ressalta em uma paisagem é completamente diferente do
que seria feito no mesmo processo por outro indivíduo, logo, aspectos subjetivos estão
envolvidos no reconhecimento e/ou valorização de uma determinada por algum agente, como
suas convicções, gostos pessoais, vivência e posicionamento político. Ao mesmo tempo que
se destaca uma porção do espaço e um ponto de vista sobre ele, ao se estabelecer uma
paisagem, um recorte está sendo feito e uma outra porção desse espaço, que possui uma
outra imensidão de elementos e significados está sendo deixada de lado. A paisagem –ainda
mais quando valorizada por políticas publicas- se converte em um poderoso meio através do
qual sentimentos, ideias e valores são expressos” (COSGROVE, 1993b, p. 8).
Sendo assim, a paisagem também possui uma dimensão política, já que, ao representar um
espaço de uma maneira específica, a disseminação de ideias, conceitos e até valores é
facilitada.
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Uma grande contribuição teórica, inclusive incorporada como metodologia de organização da
pesquisa, se encontra no livro Urban Political Geographies de Rossi & Vanolo (2013), no qual
é tecida uma rica teorização das políticas públicas urbanas, suas motivações, representações,
estratégias e impactos/consequências, sendo expressas e melhor compreendidas através de
uma divisão. A tríade das políticas públicas urbanas, que, ao analisar essas políticas, divide-
a em três aspectos principais: Representação, governo e contestação.
As políticas públicas como representação significam toda a construção ideológica e cultural
envolvida nas políticas públicas e no estabelecimento de uma imagem positiva e atrativa da
cidade em âmbito local e global, já que a “produção de imagens, discursos e representações
urbanas nos oferece um ponto crucial para a observação e análise de estratégias
contemporâneas de desenvolvimento urbano” (ROSSI & VANOLO, 2013, pg.27, tradução
nossa). Dessa maneira, a construção da representação dada através de políticas públicas vai
selecionar, destacar e reproduzir elementos culturais que se encaixem no discurso construído
e desejado, já que os próprios projetos de desenvolvimento urbano irão ser estruturados e/ou
encaixados nessa representação, que muitas vezes vai estar aliada a interesses econômicos,
selecionando e excluindo pontos e representações que não estejam alinhadas com o discurso
hegemônico sendo montado.
Já o âmbito do governo diz respeito a todos os instrumentos empregados na implementação
e gestão do discurso, seja ela burocrática ou prática, ou seja, todos os procedimentos,
técnicas e saberes que vão servir para a construção e estruturação desse discurso pelo
Estado, se aproximando conceito foucaultiano de governamentalidade. Um bom exemplo são
os grandes projetos de requalificação e revitalização urbana, que modificam profundamente
o espaço da cidade, de forma a modificar também a forma como esse espaço é visto. É a
partir da governamentalidade que passamos a compreender a racionalidade governamental,
que irá servir muitas vezes para justificar ações e políticas específicas, como as remoções,
em prol de um bem maior segundo essa racionalidade.
A contestação diz respeito às respostas sociais e até políticas que essa representação e a
forma com que ela é estabelecida (gorvernamentalidade), rejeitando o modelo de discurso e
as representações abarcadas, reivindicando muitas vezes a incorporação de outros
elementos, até então ignorados e esquecidos por essas políticas públicas. Também há o caso
da contestação por conta de uma sobreposição, na qual as políticas públicas, ao se
estabelecerem em um determinado espaço, apagam ou deterioram outras representações,
usos e territorialidades, gerando, nesse caso, uma contestação ainda mais inflamada.
O problema da categorização de um mirante e sua respectiva escassez bibliográfica
específica repercutem na elaboração da metodologia da pesquisa, já que se faz necessária
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uma definição clara. O que é mirante para a pesquisa? Que critérios lhe conferem esta
definição? Quem determina e regula esses critérios?
O mirante, dentro da pesquisa, se caracteriza como uma estrutura estrategicamente
posicionada no espaço, “recortando-o” para a observação de uma determinada paisagem,
sendo por excelência um “ponto de vista” (GOMES, 2013), uma seleção que determina uma
porção do espaço a ser selecionada para ser vista/apreciada, transformando-a em uma
paisagem com um destaque ainda maior. Uma espécie de moldura, obviamente posicionada
segundo interesses acerca da paisagem que se deseja realçar. Mais que isso, os mirantes
possuem um papel crucial na construção da paisagem; verdadeiros dispositivos (ANGABEM,
2005) de uma paisagem planejada, concebida e posta em prática pelo poder público, uma
verdadeira ideologia visual que convida-nos a pensar, questionar e interpretar sua construção
enquanto também sistema simbólico (COSGROVE, 1993; DUNCAN, 2004).
Apesar dessa conceituação mais ampla, dentro do recorte metodológico da pesquisa serão
considerados como mirantes aqueles intitulados assim pela esfera pública e que foram alvo
de algum tipo de intervenção e/ou política pública a partir do recorte da pesquisa. Dessa forma
evitamos uma problemática muito comum no Rio de Janeiro que é definir que áreas são ou
não são mirantes, como um laje turística, a varanda de um shopping ou um restaurante à beira
mar. Como estamos aqui nos debruçando sobre os mirantes como ferramentas inseridas
dentro de políticas públicas, restringiremos os que estão associados a esses processos.
PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DE MIRANTES: A MANUTENÇÃO DA TRADICIONAL
PAISAGEM CARIOCA
Os mirantes reformados estão associados ao Programa de Revitalização de Mirantes,
empreendido a partir de 2011 pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e que se encontra
ainda em curso, coordenado principalmente pela Secretaria de Conservação e Serviços
Públicos da cidade. O programa possui caráter itinerante, com a definição de uma série de
mirantes a serem reformados em um primeiro momento, com o objetivo de uma continuidade.
Segue um trecho de um declaração da assessoria do então secretário de conservação, Carlos
Osório, descrevendo melhor o Programa:
"Muitos dos privilegiados pontos de observação da cidade andaram abandonados nos últimos anos. Sem oferecer condições adequadas de uso, por falta de estrutura ou de segurança, diversos mirantes estavam esquecidos e tinham passado a existir apenas nas lembranças dos cariocas. Uma iniciativa especial da Secretaria permitiu a renovação de vários deles e sua reintegração ao cotidiano da cidade como espaços de lazer para o carioca e de recepção de turistas. As ações de recuperação conduzidas pela
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Seconserva envolveram diversos parceiros da própria Prefeitura, entre eles a Fundação Parques e Jardins. As intervenções chegaram aos mirantes da Grota Funda, do Joá, da Prainha, do Grumari, do Leme, do Pasmado e do Leblon, além da Vista Chinesa, que fica no Parque Nacional Tijuca. Neste último local, que volta a ser prestigiado pela frequência de cariocas, foram recuperados 32 metros quadrados de piso em granito, recuperação e pintura de seis bancos, pintura de 50 metros de guarda-corpo e reconstrução de três jardineiras. Também foi feita instalação de bicicletário e efetuados trabalhos de recomposição de 10 metros quadrados de piso em granito, reparo em 15 metros quadrados de muro divisório, instalação e pintura de 20 balizadores metálicos para regular o estacionamento.”
Quadro 1 – Mirantes Reformados
Mirante Localização
Mirante Dona Marta Est. Mirante Dona Marta - Botafogo
Mirante do Leblon Av. Niemeyer – Leblon
Mirante da Prainha Av. Estado da Guanabara – Recreio dos Bandeirantes
Mirante do
Pasmado
R. General Severiano – Botafogo
Mirante da Grota
Funda
Antigo traçado da Av. das Américas – Guaratiba
Mirante de Grumari Praia de Grumari – Recreio dos Bandeirantes
Mirante do Joá Estrada do Joá – São Conrado
Vista Chinesa Parque Nacional da Tijuca
Fonte: FERNANDES, P.H.S.
O que pode ser destacado nessa declaração, além dos mirantes que receberam o Programa,
é o fato de, mesmo sendo um programa de revitalização, focado em aspectos materiais e
estruturais, como o revestimento, calçamento, pinturas, entre outros, o aspecto simbólico
também é bem presente. Destaca –se no início da fala um panorama de abandono e
esquecimento, que através do Programa seria modificado e revitalizado, o que, segundo o
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secretário “permitiu a renovação de vários deles e sua reintegração ao cotidiano da cidade
como espaços de lazer para o carioca e de recepção de turistas”, além de destacar que um
dos pontos voltaria “a ser prestigiado pela frequência dos cariocas”, o que revela um dos
objetivos dessa política pública, de atrair visibilidade para esses espaços dos mirantes e,
consequentemente, para a paisagem produzida a partir deles.
Esse programa é a ação mais próxima de uma centralização na gestão dos mirantes da
cidade, apesar de se restringir a um número relativamente baixo e concentrado, se pensarmos
na quantidade de mirantes que a cidade possui e a variedade de localidades que poderiam
ser contempladas. Principalmente se pensarmos na Zona Oeste (Área de Planejamento 5),
que apesar de possuir um grande número de mirantes (principalmente associados ao Maciço
da Pedra Branca e de Gericinó), teve um único mirante reformado.
Através das tabelas e mapas elaborados, percebemos o intuito de revitalizar mirantes em
pontos que destacam paisagens já consagradas da cidade, reformando-os, realizando
limpezas e ampliações dessas estruturas.
Figura 1: Mirantes Revitalizados por Áreas de Planejamento
Podemos, através desse levantamento, observar também um padrão na localização desses
mirantes reformados, já que apenas dois deles não se encontram na Zona Sul da cidade
(Mirantes da Grota Funda e da Prainha), área privilegiada e mais presente na representação
da paisagem da cidade, Ainda que dois desses mirantes estejam na Zona Oeste da cidade,
um está relacionado à uma praia, próximo à uma reserva florestal e um morro, logo, todos os
mirantes comtemplados pelo Programa se encontram em áreas situadas entre “a montanha e
o mar”, ou seja, regiões próximas à linha de costa e/ou em encostas de morros/maciços.;
AP 1 - CENTRO
AP 2 - SUL
AP 3 - NORTE
AP 4 - BARRA
AP 5 - OESTE
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exatamente a narrativa utilizada pelo IPHAN na candidatura do Rio de Janeiro à Patrimônio
Mundial da UNESCO, que também retrata a paisagem carioca mais classicamente difundida,
da cidade entre a montanha e o mar.
OS NOVOS MIRANTES – A CONSTRUÇÃO DE NOVAS PAISAGENS CARIOCAS
Os projetos que produzem novos mirantes na cidade do Rio de Janeiro são diversos, tanto
em sua escala de atuação quanto em seus objetivos, propósitos e narrativas. Logo, mirantes
de diferentes formas e estruturas irão surgir na cidade, espalhados por diferentes localidades
e descortinando as mais diversas paisagens. Cabe a nós então, buscar compreender, ainda
que de maneira geral, como cada projeto vai trabalhar a questão da paisagem e do mirante,
dando maior ou menor importância a essa questão.
Foram considerados apenas os mirantes inseridos em projetos que já haviam sido concluídos
até Julho de 2015, no início de redação do trabalho, por esse motivo, alguns novos mirantes
podem ter surgido, já que este não é um processo terminado.
Quadro 2 – Novos Mirantes
Mirantes Localização Ação Ano
Mirante da Paz Morro do Cantagalo –
Ipanema
Complexo Rubem
Braga
2010
Mirante do Alemão Teleférico do Complexo
do Alemão
PAC 2011
Mirante do Valongo R. Camerino - Gamboa Porto Maravilha 2012
Mirante do MAR Museu de Arte do Rio -
Praça Mauá
Construção do
MAR – Porto
Maravilha
2013
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Mirante da Conceição Travessa Joaquim Soares
– Morro da Conceição
Porto Maravilha 2012
Mirante da Providência Morro da Providência -
Centro
Porto Maravilha 2014
Mirante do Largo do
Campinho
Morro da Babilônia e
Chapéu Mangueira –
Leme
Projeto Morar
Verde Carioca
2012
Mirante Parque
Machado de Assis
Morro do Pinto – Centro Porto Maravilha 2012
Mirante do Parque
Madureira
Parque Madureira Parque Madureira 2012
Fonte: FERNANDES, P.H.S.
O projeto com maior destaque é o Cidade Olímpica, que consiste em um megaprojeto que
inclui todos os projetos e intervenções realizadas na cidade visando à preparação e o legado
relacionados aos Jogos Olímpicos de 2016, incluindo, nesse caso, os Projetos Porto
Maravilha, que sozinho já produziu 5 mirantes, além do Morar Verde Carioca e Parque
Madureira, totalizando 78% dos novos mirantes.
Figura 2 – Novos Mirantes por Projeto
Complexo Rubem BragaPACPorto MaravilhaParque Madureira
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Outro ponto interessante a ser observado é a diversidade dos projetos envolvidos, passando
desde programas de habitação popular (Morar Carioca Verde), transporte e acessibilidade
(Complexo Rubem Braga e PAC) e também espaços públicos e áreas de lazer (Parque
Madureira), logo, as iniciativas e projetos de intervenção urbana de diferentes naturezas
sendo desenvolvidas na cidade têm produzido mirantes, o que nos revela a importância da
gestão da paisagem na governamentalidade e elaboração de políticas públicas no Rio de
Janeiro.
Como observado na figura dois, o Projeto Cidade Olímpica é o maior produtor de mirantes da
cidade, principalmente por ser o maior deles, se pensarmos no número de “sub-projetos”
contidos no mesmo, além de sua escala espacial e temporal de atuação, sendo conduzido
desde 2009, no ato de criação da Empresa Olímpica Municipal, desde então conduzindo uma
série de intervenções e projetos pela cidade.
O Projeto Cidade Olímpica ainda está em curso, podendo ainda produzir mais mirantes nas
instalações olímpicas, como o Parque Olímpico. Porém, no presente estudo, estaremos
limitados à atuação através dos outros projetos relacionados, buscando entender o contexto
de cada um, bem como, em certa medida, a paisagem que se revela em cada um.
O Projeto Porto Maravilha se destaca não apenas por possuir o maior número na criação de
novos mirantes, mas também pela narrativa cultural e simbólica presentes em discurso,
buscando não apenas uma reestruturação, mas também uma ressignificação da região
portuária, podemos perceber isso pelas diferentes iniciativas relacionadas a museus e centros
de memória, como o Cais do Valongo e o Circuito da Herança Africana. Pensando em todos
esses significados a paisagem se torna essencial para uma efetiva transformação, material e
simbólica, dessa região, ainda mais numa cidade como o Rio de Janeiro, onde essa relação
é ainda mais íntima.
Um ponto que ilustra bem essa preocupação é o levantamento dos pontos turístico-culturais
feito pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro
(CDURP), responsável pelo projeto. Esse levantamento aponta os mirantes como uma dessas
categorias turístico culturais de interesse, apontando quatro mirantes naquele momento,
deixando de fora apenas o Mirante do Museu de Arte do Rio (MAR), que nesse levantamento
foi apontado apenas como museu. O número de mirantes pode parecer pequeno se
comparado às outras categorias como “Interesse Arquitetônico”, “Transportes” ou
“Cinema/Teatro/Espetáculos”, mas se compararmos os pontos onde os mirantes estão
localizados com a proposta da CDURP de regionalização da Área de Especial Interesse
Urbanístico (AEIU) do Porto, podemos perceber que, existem mirantes em 1/3 dessas regiões,
apontados para diferentes direções, englobando boa parte da AEIU nessa paisagem.
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Ainda associado ao Cidade Olímpica temos o Projeto Morar Carioca Verde, realizado nos
morros da Babilônia e Chapéu Mangueira. Sendo derivado do programa de habitação popular
Morar Carioca, mas com o diferencial de absorver conceitos de sustentabilidade em sua
construção, como placas de captação de energia solar e revestimentos feitos a partir de
garrafas PET recicladas. Além disso, uma séria de pequenas praças, decks e um mirante são
o diferencial desse projeto.
O mais interessante ao se analisar o mirante criado pelo Morar Carioca Verde e a paisagem
destacada a partir dele é que se assemelha muito a uma narrativa tradicional da paisagem
carioca, que festeja os elementos da cidade entre a montanha e o mar, bem presente na
candidatura da cidade à Patrimônio Mundial da UNESCO e também nos mirantes reformados.
Uma questão que sem impõe é que, apesar de destacar a praia, a montanha e o mar, o
mirante está inserido em uma favela, e mais, em um programa de habitação popular, o que
dá margem à discussão já suscitada pelo Plano Diretor Decenal da cidade de 2012, que fala
em um “direito à paisagem” por todos os habitantes da cidade. Esse mirante se insere em
uma nova perspectiva da paisagem na cidade do Rio de Janeiro, como um instrumento de
cidadania e pertencimento.
Outro mirante criado através do Cidade Olímpica é o do Parque Madureira, construído em
2012 como uma das ações relacionadas à conferência climática da Rio +20, visando trazer
uma nova área de lazer para a Zona Norte da cidade, aliando ao discurso sustentável do
evento e promovendo o esporte na região.
A peculiaridade desse mirante é a seu posicionamento, enquanto todos os outros estão
localizados em áreas de maior altitude, como morros e teleféricos, o mirante do Parque de
Madureira possui uma estrutura não muito alta, de cerca de 4 a 5 metros de altura do solo,
proporcionando uma visão que contempla apenas o parque e uma pequena parte do seu
entorno.
Outra questão interessante é o uso da estrutura do mirante, que também possui como
estrutura adjacente uma Escada Hidráulica, uma espécie de “cachoeira” onde crianças tomam
banho e acabou inclusive motivando a construção de uma “praia” dentro da expansão do
parque, que, vale ressaltar, receberá mais um mirante. Em maio de 2015 a cobertura do
mirante foi retirada para dar lugar aos anéis símbolo do Jogos Olímpicos na cidade,
considerados, segundo o Portal Cidade Olímpica, “um novo cartão postal no coração da
cidade”, o que nos evidencia não apenas o potencial da paisagem a partir do mirante, mas
também a paisagem do mirante, que passa a receber e produzir grande visibilidade.
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O complexo Rubem Braga é um projeto empreendido pelo Governo do Estado do Rio de
Janeiro, sendo difícil de ser classificado, pois é um equipamento urbano que possui diversas
funções a partir de sua estrutura, localização e objetivos; Podendo-se destacar três funções
principais: transporte/mobilidade urbana e prestação de serviços, sendo elas permeadas pela
questão paisagística.
A questão da paisagem está presente de maneira latente no empreendimento, não apenas
no Mirante da Paz, que fica no topo da primeira torre, mas também em sua própria estrutura
física, que se destaca na paisagem, sendo inclusive iluminada em datas específicas junto de
outros cartões postais da cidade, recebendo inclusive um prêmio da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA) na categoria “Obra Arquitetônica Brasileira”.
Além disso o próprio elevador da primeira torre engloba essa preocupação, já que é
panorâmico e voltado em direção ao bairro, a praça General Osório e à praia de Ipanema, à
medida em que se sobe. Após a vista panorâmica durante a subida, sobe-se mais um andar
através de escadas e chega-se ao Mirante da Paz, que possui uma vista de 360 graus. Por
essa última característica citada, a vista do mirante ganha uma especificidade interessante,
mostrando, ao mesmo tempo, o bairro e a Praia de Ipanema, junto a pontos consagrados da
paisagem carioca, como o Morro Dois Irmãos; e, no lado oposto, a outra torre do Complexo e
a favela do Cantagalo.
A vista do mirante se torna quase uma metonímia das políticas públicas apresentadas no
trabalho, evidenciando e valorizando elementos clássicos e também novos elementos na
paisagem carioca, criando uma nova narrativa nesse processo, em que a montanha e o mar
permanecem, mas coexistem com a favela não apenas no espaço geográfico, mas também
na vista, na paisagem e no imaginário.
Por fim, um dos projetos que produziu novos mirantes na cidade foi o Teleférico do Complexo
do Alemão, financiado a partir de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
do Governo Federal. Dentre os projetos produtores de mirantes esse é o mais antigo, sendo
inserido não apenas na questão da mobilidade urbana, mas também da segurança pública, já
que a inauguração se deu apenas em 2011, depois da operação para a implementação de
uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)
A paisagem tem um peso grande nesse novo momento das políticas públicas na região, já
que o teleférico se propõe não apenas a ser um meio de transporte, mas também um ponto
de vista privilegiado para uma vista das favelas que compõe o Complexo do Alemão e também
seus arredores e até a Baía de Guanabara, sendo também veiculado como um novo ponto
turístico, destacado inclusive com um dos mais visitados da cidade em uma matéria do jornal
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O Globo, que destaca toda a potencialidade turística do teleférico. Parte dessa reportagem
nos fornece um panorama interessante acerca dos elementos que estão presentes na
paisagem, nos auxiliando a descortinar a narrativa composta a partir do Mirante presente em
uma das estações do teleférico:
Mirante e UPP
O passeio básico, feito pela maioria, consiste em pegar o teleférico na
estação em Bonsucesso, seguir numa viagem de 16 minutos sobre as favelas
do complexo e descer em Palmeiras para tirar fotos a partir de um mirante,
onde está localizada a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Fazendinha.
E depois voltar para Bonsucesso.
Do alto da gôndola, vê-se um mar da casas e barracos — alguns ainda de
madeira —, moradores nas lajes, lixo em encostas, uma infinidade de becos.
A grandiosidade do Complexo do Alemão espanta os marinheiros de primeira
viagem, que, de cima, observam também as intervenções públicas pós-
pacificação, como a Praça do Conhecimento, na Nova Brasília. A paisagem
ainda é composta por bairros da Zona Norte, a Serra da Misericórdia (palco
da cena da fuga em massa de traficantes), a Igreja da Penha e a Baía de
Guanabara ao fundo.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/teleferico-do-alemao-bate-icones-
do-rio-em-numero-de-visitantes-8433461#ixzz3xEDuFOLT
O teleférico e o mirante do alemão, sem dúvida alguma contribuíram para a valorização não
apenas do Complexo do Alemão (ou parte dele) mas também da favela como um elemento
forte na paisagem carioca, sendo palco de novelas, filmes e cada vez mais presente em
circuitos turísticos, contudo, é preciso atentar que, ainda nesse caso, a paisagem não é
produzida de maneira ingênua e/ou ao acaso; existem muitos outro pontos de observação e
muitas outras favelas em diferentes áreas da cidade que não receberam mirantes ou ao
menos políticas públicas. Como percebido no fragmento da matéria citado, o mirante colocado
no Teleférico do Alemão está atrelado à ação das UPPs, através dos diferentes projetos
decorrentes dessa intervenção que se tornam elementos de destaque nessa paisagem, além
da própria sede da UPP da fazendinha (uma das favelas que compõem o Complexo), que
está localizada em frente à estação e ao mirante, o que nos fornece um exemplo prático da
ideologia e a política presente na paisagem, que passa a ser utilizada também como parte
fundamental de diversas políticas públicas.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
CONSIDERAÇÕES: VELHOS E NOVOS MIRANTES, VELHAS E NOVAS
PAISAGENS PARA UMA CIDADE EM MUTAÇÃO
Para pensarmos as intervenções nos mirantes e a paisagem, é preciso analisar os diferentes
projetos que as conduzem, pensando as esferas envolvidas, bem como a natureza e os
propósitos envolvidos nessa intervenção.
Gráfico 3 - Tipos de projetos produzindo mirantes
A partir da análise do gráfico, podemos perceber que existem diferentes projetos, de
naturezas bastante distintas produzindo mirantes, o que nos leva a considerar que a paisagem
não funciona apenas como um objetivo em si, mas é uma preocupação de ações de diferentes
objetivos, a paisagem se torna uma ferramenta, uma forma de construir diferentes políticas
públicas, por isso podemos falar em uma política da paisagem na cidade, que se mostra em
seus mais diferentes empreendimentos de intervenção urbana.
É interessante pensarmos também nas diferentes esferas do poder público envolvidas nessas
intervenções, o que nos pode fornecer um panorama de que a paisagem como política pública
não é apenas um fenômeno carioca, apesar da esfera municipal ainda possuir participação
majoritária, mas também começa a ser empreendida pelos governos estadual e federal.
Tipos de projetos produzindo mirantes
Conservação e Reformas Mobilidade Urbana Habitação Cultura Parques
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Gráfico 4 - Projetos produzindo mirantes por esfera do poder público
Apenas o levantamento dos mirantes recebendo intervenção da esfera pública não é
suficiente para uma análise dessas política e da paisagem produzida pelas mesmas; ainda
que nos forneça informações valiosas, é preciso fazer um estudo um pouco mais aprofundado,
mapeando esses mirantes e analisando sua paisagem. Assim se torna mais fácil a leitura das
esferas de governo e representação dessas políticas, expressas também na paisagem que
produzem e seus respectivos elementos.
Municipal
Estadual
Federal
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Mapa 1 – Ações em Mirantes por Área de Planejamento no Rio de Janeiro
A partir do mapa, podemos perceber que as ações possuem áreas de atuação diferentes, o
que vai influenciar também no tipo de paisagem que será valorizada.
O Programa de Revitalização de Mirantes, por exemplo, está concentrado na linha de costa
da cidade, principalmente nas Áreas de Planejamento (AP’S) Sul e Barra. Sendo assim, os
mirantes reformados possuem um certo padrão na paisagem em que representam, muito
alinhado com a candidatura da cidade À Patrimônio Mundial e a um certo imaginário
tradicional, em que os elementos principais são a montanha e o mar. Isso fica claro ao vermos
que metade dos mirantes estão localizados na linha de costa, diretamente voltados para a
praia e o mar (Mirantes da Prainha, Grumari, Joá e Leblon), enquanto a outra metade
localizada em áreas de morros (Mirantes do Santa Marta, Pasmado, Vista Chinesa e Grota
Funda). Como já mencionado, os elementos presentes nas paisagem desses mirantes reforça
a narrativa clássica, já consagrada da paisagem carioca, tão reproduzida mundo afora, junto
dos mirantes essa narrativa é também revitalizada.
Os novos mirantes possuem uma dinâmica espacial diferenciada, se espalhando por três
diferentes AP’s, sendo duas delas não contempladas pelo Programa de Revitalização (AP’s
Centro e Norte). Isso se dá pela quantidade de diferentes políticas, com diferentes propósitos,
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produzindo esses mirantes, o que irá ser refletido ao levarmos em consideração essas
paisagens. Logo, a paisagem produzida a partir desses novos mirantes irá englobar áreas e
elementos diferenciados da paisagem tradicional do mirantes reformados, como a região
central da cidade e a zona portuária (no caso do Porto Maravilha), favelas e o subúrbio carioca
(Mirantes do Teleférico do Alemão, Babilônia/Chapéu Mangueira, Complexo Rubem Braga e
Parque de Madureira), entre outros elementos mais locais. Trata-se de uma nova narrativa,
um outro ponto de vista da cidade que é representado por essas paisagens.
Ao analisar cada projeto no levantamento dos novos mirantes podemos perceber que a
paisagem produzida por cada um deles não é ingênua, cada um dos projetos possui seus
mirantes voltados para elementos próprios a serem destacados. Não se quer mostrar apenas
diferentes áreas da cidade, mas as áreas que estão sofrendo as próprias intervenções que
produzem os mirantes, que emolduram, legitimam e consagram esses projetos através da
paisagem.
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