paisagem, memória e identidade: tumulações megalíticas no ... · do espaço alentejano veio...

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123 R E S U M O Pretende-se efectuar uma leitura da utilização dos monumentos megalíticos alentejanos em momentos posteriores às comunidades que os edificaram, desde o ponto de vista da arqueo- logia da paisagem. Intenta-se aqui avançar com uma análise diacrónica das utilizações dos anti- gos espaços megalíticos, sem perder de vista o contexto social e cénico em que se inserem. A B S T R A C T This article intends to chronicle the use of megalitic monuments in the Alen- tejo at posterior moments to the communities that constructed them from an archaeological landscapes point of view. A diachronic analysis of the uses of these ancient megalitic spaces will be presented without losing sight of the social contexts and landscapes in which they were inserted. 1. Conceitos, leituras e semântica da paisagem 2 A paisagem, enquanto resultado da interacção homem-natureza, surge-nos hoje como um verdadeiro repositório de existências e vivências que se desenrolaram ao longo de milhares de anos. É esta paisagem construída, trabalhada, conceptualizada, que ainda hoje nos acompanha pejada de simbolismos, códigos e significações, que procuramos decifrar com a actividade arqueológica, numa ânsia de criação/preservação da memória colectiva. A paisagem é aqui entendida como o resultado da interacção estreita e unificadora entre a componente natural e o elemento humano, numa dimensão material e imaterial, essencialmente perceptiva e conceptual, numa dinâmica constante de interacção e vivência (Ingold, 1993; Valera, 2000, ambos com diversa bibliografia associada). A paisagem é, no fundo, a percepção cognitiva da envolvente exterior pelo elemento humano, constituindo a memória a tomada de consciência da acção cognoscente. Assim, na realidade, paisa- Paisagem, memória e identidade: tumulações megalíticas no pós-megalitismo alto-alentejano 1 RUI MATALOTO * “Depois de muitos anos de desterro, regressam novamente ao torrão natal os heróis deste atribulado livro. […] Poucos resistem à sua atracção ao verem-se longe dela, seja qual for a órbita em que se movam” Miguel Torga, Contos da Montanha, Do Prefácio à 4.ª edição REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 123-140

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R E S U M O Pretende-seefectuarumaleituradautilizaçãodosmonumentosmegalíticosalentejanos

emmomentosposterioresàscomunidadesqueosedificaram,desdeopontodevistadaarqueo-

logiadapaisagem.Intenta-seaquiavançarcomumaanálisediacrónicadasutilizaçõesdosanti-

gosespaçosmegalíticos,semperderdevistaocontextosocialecénicoemqueseinserem.

A B S T R A C T ThisarticleintendstochronicletheuseofmegaliticmonumentsintheAlen-

tejoatposteriormomentstothecommunitiesthatconstructedthemfromanarchaeological

landscapespointofview.Adiachronicanalysisoftheusesoftheseancientmegaliticspaces

willbepresentedwithoutlosingsightofthesocialcontextsandlandscapesinwhichthey

wereinserted.

1. Conceitos, leituras e semântica da paisagem2

Apaisagem,enquantoresultadoda interacçãohomem-natureza,surge-noshojecomoumverdadeirorepositóriodeexistênciasevivênciasquesedesenrolaramaolongodemilharesdeanos.Éestapaisagemconstruída,trabalhada,conceptualizada,queaindahojenosacompanhapejadadesimbolismos,códigosesignificações,queprocuramosdecifrarcomaactividadearqueológica,numaânsiadecriação/preservaçãodamemóriacolectiva.

Apaisageméaquientendidacomooresultadodainteracçãoestreitaeunificadoraentreacomponentenaturaleoelementohumano,numadimensãomaterialeimaterial,essencialmenteperceptivaeconceptual,numadinâmicaconstantedeinteracçãoevivência(Ingold,1993;Valera,2000,amboscomdiversabibliografiaassociada).

Apaisagemé,nofundo,apercepçãocognitivadaenvolventeexteriorpeloelementohumano,constituindoamemóriaatomadadeconsciênciadaacçãocognoscente.Assim,narealidade,paisa-

Paisagem, memória e identidade: tumulações megalíticas no pós-megalitismo alto-alentejano1

RUIMATAlOTO*

“Depois de muitos anos de desterro, regressam novamente ao torrão natal

os heróis deste atribulado livro. […] Poucos resistem à sua atracção

ao verem-se longe dela, seja qual for a órbita em que se movam”

MiguelTorga,Contos da Montanha,

DoPrefácioà4.ªedição

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 1. 2007, p. 123-140

Rui Mataloto Paisagem, memória e identidade: tumulações megalíticas no pós-megalitismo alto-alentejano

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gemememóriaresultamnumbinómioinseparável,detotalcomplementaridade,cujaconstruçãocorreemparalelo.Poroutrolado,julgoserdaconstruçãoepartilhadeumapaisagem,elogodeumamemória,pelogrupooupeloindivíduo,quesurgeanoçãodeidentidade,enquantosenti-mentodeinclusão/pertença;istoé,aidentidadeéapartilhadeumamemóriacolectiva.

Destemodo,aconstruçãodapaisagemfaz-senãoapenaspelaadiçãooutransformaçãodeumconjuntoderealidadesfisiográficasearquitectónicas,masigualmente,eprincipalmente,pelainclusão,muitasvezesritualizada,denovasconceptualizações,quegeramumanovasemânticadapaisagem.Assim,asuaprofundatransformaçãopoderásergeradasemumaalteraçãoradicaldocontextofísicoematerialdaspré-existências,“apenas”comasuareconceptualização.

Seráentreestebinómio,paisagemeidentidade,queacabaráporsedesenrolaroconjuntodereflexõesquesepretendedesenvolveremseguida,atravésdeum“fiocondutor”particularmentemarcante nos horizontes alentejanos, o Megalitismo, aqui entendido em largo espectro, e logofunerário e não-funerário. Por outro lado, o Megalitismo pode também ser entendido como oconjuntodaspráticasfuneráriasprópriasdoIV/IIImilénioa.C.(Gonçalves,1992),afastando-sedeumentendimentoexclusivamentearquitectónico,justificandoentãoosubtítuloutilizado.

Todavia,seesteéo“fiocondutor”,importaaquitratarasuaexistênciaeutilizaçãonumespaçodetempoposterioraoperíodoclássicodasuaconstrução.Assim,emesmoquesepossatercontinu-adoaerigirmonumentosdeporteouaparênciamegalíticaapósestesperíodos(Bueno,2000;GarcíaSanjuán,2005),talaconteceudeformacertamentemarginalnoterritórioalentejano.

Fig. 1 PaisagemalentejananaenvolventedaAnta1dasMartes.

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Aocupaçãodoespaçotumularmegalíticoemmomentosposterioresàscomunidadesqueoerigiramnãoé,todavia,apanágioapenasdascomunidadespós-calcolíticas,tendoclaramenteassuasraízesemcomportamentosancestrais,contemporâneosdaconstruçãodastumulaçõesmega-líticas;omelhorexemplodestasituaçãoemterritórioalentejanoé,semdúvida,ofenómenodenecropolizaçãoassumidopelaAnta2doOlivaldaPega(Gonçalves,1999),comoutrosparalelospróximosnosmonumentosdaFarisoaeComenda(leisnereleisner,1951),numatradiçãosecularigualmenteaníveleuropeu(Bradley,1998).

Assim,oconceitode reutilizaçãonecessitaumareflexãomaisconcreta,poisécertamentecomplexodiscernirostemposdeumgrandemonumento.Apresençadeespólios“calcolíticos”emlocaisdeenterramentodosfinaisdoIVmilénioa.C.seráumareutilizaçãoouumaocupaçãodelongoespectro,quandosabemosquepodeexistirumespaçodetempomenorentreumatumula-ção“calcolítica”euma“reutilização”campaniforme?

Otempodoritoétambémumtempodistinto,quesemovenumaesferaenumadimensãodistintadotemposocialedotempoabstracto,assumindoemsiamudançaeapermanência(Brad-ley,1998,p.85).Otempodosmonumentosélongonapaisagem,masporvezesbrevenorito.

AutilizaçãodosespaçosmegalíticosalentejanosaolongodaProto-Históriatemsidovistacomoumepifenómenoessencialmentemarginaleexcêntrico.

Todavia,ecomoseriadeesperar,ofenómenocampaniforme,portermaiorproximidadecomosinvestigadoresdaPré-História,acabouporconhecer,nesteâmbito,umdesenvolvimentodife-renciado,integrandológicasrelacionadascomajustificaçãoereforçodospoderesindividuaiseaascensãodelinhagens(Soares,2003).

Avisibilidadedetodooprocessodeutilizaçõesacaboumarcadairremediavelmenteporumatradiçãodeinvestigaçãocaracterizadapelaabordagemparcelardosmonumentos(leisnereleisner,1959)epelainvestigaçãoviradaprincipalmenteparaasrealidadespré-históricas.Poroutrolado,aescassez,oumesmoausência,deestudossistemáticosrelacionadoscomaocupaçãoproto-históricadoespaçoalentejanoveiocontribuirparaumainvisibilidadegeraldasutilizaçõesdosespaçosmega-líticos,dequeapenasagorasecomeçaasair.Estefactosegue,aliás,todaumatendênciareconhecidanoSulpeninsularemgeral(Mataloto,2005;GarcíaSanjuán,2005;lorrioeMontero,2004).

Osmonumentosmegalíticos,pelasuaarquitecturaeinserçãotopográfica,masnãosó,assu-miram-se,desdehámuito,comoelementossignificantesdapaisagem,carregadosdeumvalorqueosintegra,emdeterminadosmomentose locais,numasemânticapaisagística,comoelementosestruturantesdasleiturasespaciaisementaisdoterritório.

Estacargasimbólica,inerenteaoselementoscaracterizadoresdeumaentidadepaisagística,impregna-osdeumavisibilidadementalquesepode,ounão,associaraumavisibilidadefísicaereal;estefactoacabaporlheimputarumafunçãodemarcadoreseorganizadoresdiacrónicosdapaisagem,numageodesiaancestral.

Nestesentido,asuapresençaacabaráporserintegradanatransformaçãodomeionaturalemcampo,comoespaçodevivênciaeacçãohumanaatravésdaconceptualizaçãoeestruturaçãosimbó-lica daquele, efectuada pelas sociedades camponesas, que marcaram profundamente a Proto--Históriaalto-alentejana.

Muitosdosresquíciosdeantigasleiturasdepaisagem,quepassaramdiacronicamenteatravésde gerações de camponeses, encontram-se hoje num inexorável papel de esquecimento, com odesaparecimentodeumavivênciadocampo,antescaracterizadapeloapegoàterraeàssuasmarcasedefinições,nasequênciadoatavismotípicodassociedadescamponesas.

Amobilidadeeodesapegoàterra,quecaracterizamaagriculturaactual,associadaaumacadavezmaiormecanização,ondeaforçatelúricasenãotransmiteaolavradorpelocabodoarado,

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ouondeas“estremas”seconhecempelasvedaçõesenãopelasmarcasnapaisagem,conduzemaumanovasemânticapaisagística,geradoradenovasidentidades,ondeosantigos“topos”sãoanula-dos,numactotalvezsemprecedentes…

2. Do Bronze ao Ferro: breve percurso através do megalitismo alto-alentejano

Aindaquesequeiracentrarodiscursoentreosegundoeprimeiromilénioa.C.,seráofimdoIIImilénioa.C.quemarcaráumatendênciadecontinuidadedeutilizaçãodosespaçosmegalíticosporpopulaçõesqueosdeixaramdeconstruir,noSuldoactualterritórioportuguês.

Nãosãoconhecidasmuitasdestasocupaçõesnoespaçoalentejano,aindaquesejamaregranapenínsuladelisboa;todavia,estasituaçãopoderáestardissimuladapelapresençadiferenciadadatradiçãodecorativacampaniforme,muitoabundantenestaúltimaregião.Osresultadosobti-dosrecentementenaAnta3deSantaMargarida(Gonçalves,2003)tornamabsolutamenteevidenteadificuldadedequantificarestefenómenodenovasutilizações,quandoestassenãofazemacom-panhardequalquerespólio,sendoenquadradasunicamentepormétodosradiométricos,apenasaplicáveisquandoexistemvestígiosósseos,tãoescassosnageneralidadedastumulaçõesmegalíti-casalentejanas.

Assim, se atendermos aos dados disponíveis (Mataloto, 2006) são apenas conhecidas trêsutilizações campaniformes de monumentos megalíticos, todas elas enquadráveis em realidadestardias,dentrodocomplexo“Ciempozuelos”;emdoiscasos,AntadasCasasdoCanal(Fig.2)eEstremoz7,verifica-seapresençadeumataçacarenada,vulgarmentedesignadadecaçoila,asso-ciadaaumvasocampaniformeliso,constituindoumaverdadeiraassociaçãoclássicadasdeposi-ções campaniformes da área da Meseta (Garrido Pena, 1997). Para além destes são conhecidosvários outros casos no espaço alto alentejano onde se depositaram recipientes de morfologiacampaniforme,aosquaisnãoseapôsatradicionaldecoração,sãoelesaAntadoCabeçodaAnta(Crato)(Bubner,1979),AntadosCabacinhitos(Évora)(Mataloto,2006,p.98)eaAntadeValeCarneiro (leisnereleisner,1951).Asuadistribuiçãogeográficaevidenciaoalargamentodestefenómenoatodooespaçoaltoalentejano,afastandoahipótesedeconstituíremrealidadesisola-das.Emtextorecente,foidadoaconhecermaisumdestescasos,igualmenteemespaçoalentejano,masagoradamargemesquerdadoGuadiana,naáreadeVilaVerdedeFicalho(Soares,noprelo).Aquihouveaoportunidadede intervencionaromonumentodoMontedaVelha1,noqual sedetectouumadeposiçãofuneráriasecundária,acompanhadaporváriosrecipientes,umdosquaiscampaniformeliso;apresençadeossoshumanosconservados,arrumadosnoquepareceserumadeposiçãosecundária, entregouumadataçãoqueoscolocano3.º/iníciosdo2.ºquarteldo IIImilénioa.C.,claramentecontemporâneosdealgumasrealidadespuramentecampaniformes,comosepodeconstatarrelativamenteàsdataçõesobtidasrecentementeparaoFosso2dePortoTorrão(ValeraeFilipe,2004,p.201).Estefactoacabaportraduzir-se,desdelogo,numenormecomplexi-ficardaspresençascampaniformes,comadescontinuidadegeográficadastendênciasdecorativasefunerárias,acabandoporrealçarquearealidadecampaniformeédiversaeemmuitosujeitaafenómenosdeaceitaçãodiferenciados,eventualmentedeorigemgrupal.Poroutrolado,nãoécomfacilidadequesepodemvalorizarasdatasdePortoTorrão,namedidaemquenossurgememcontextosderedeposiçãonointeriordofosso,aindaqueasequênciainternasejacoerenteemsi.

Seatendermosàidentificaçãodeoutrositensintegráveisdentrodasrealidadescampanifor-mes,nomeadamenteaoníveldosartefactosmetálicos,comoaspontastipo“Palmela”,aspresen-çasemcontextosmegalíticosmultiplicar-se-ão(Mataloto,2006),vincandooamploespectrodas

ouondeas“estremas”seconhecempelasvedaçõesenãopelasmarcasnapaisagem,conduzemaumanovasemânticapaisagística,geradoradenovasidentidades,ondeosantigos“topos”sãoanula-dos,numactotalvezsemprecedentes…

2. Do Bronze ao Ferro: breve percurso através do megalitismo alto-alentejano

Aindaquesequeiracentrarodiscursoentreosegundoeprimeiromilénioa.C.,seráofimdoIIImilénioa.C.quemarcaráumatendênciadecontinuidadedeutilizaçãodosespaçosmegalíticosporpopulaçõesqueosdeixaramdeconstruir,noSuldoactualterritórioportuguês.

Nãosãoconhecidasmuitasdestasocupaçõesnoespaçoalentejano,aindaquesejamaregranapenínsuladelisboa;todavia,estasituaçãopoderáestardissimuladapelapresençadiferenciadadatradiçãodecorativacampaniforme,muitoabundantenestaúltimaregião.Osresultadosobti-dosrecentementenaAnta3deSantaMargarida(Gonçalves,2003)tornamabsolutamenteevidenteadificuldadedequantificarestefenómenodenovasutilizações,quandoestassenãofazemacom-panhardequalquerespólio,sendoenquadradasunicamentepormétodosradiométricos,apenasaplicáveisquandoexistemvestígiosósseos,tãoescassosnageneralidadedastumulaçõesmegalíti-casalentejanas.

Assim, se atendermos aos dados disponíveis (Mataloto, 2006) são apenas conhecidas trêsutilizações campaniformes de monumentos megalíticos, todas elas enquadráveis em realidadestardias,dentrodocomplexo“Ciempozuelos”;emdoiscasos,AntadasCasasdoCanal(Fig.2)eEstremoz7,verifica-seapresençadeumataçacarenada,vulgarmentedesignadadecaçoila,asso-ciadaaumvasocampaniformeliso,constituindoumaverdadeiraassociaçãoclássicadasdeposi-ções campaniformes da área da Meseta (Garrido Pena, 1997). Para além destes são conhecidosvários outros casos no espaço alto alentejano onde se depositaram recipientes de morfologiacampaniforme,aosquaisnãoseapôsatradicionaldecoração,sãoelesaAntadoCabeçodaAnta(Crato)(Bubner,1979),AntadosCabacinhitos(Évora)(Mataloto,2006,p.98)eaAntadeValeCarneiro (leisnereleisner,1951).Asuadistribuiçãogeográficaevidenciaoalargamentodestefenómenoatodooespaçoaltoalentejano,afastandoahipótesedeconstituíremrealidadesisola-das.Emtextorecente,foidadoaconhecermaisumdestescasos,igualmenteemespaçoalentejano,masagoradamargemesquerdadoGuadiana,naáreadeVilaVerdedeFicalho(Soares,noprelo).Aquihouveaoportunidadede intervencionaromonumentodoMontedaVelha1,noqual sedetectouumadeposiçãofuneráriasecundária,acompanhadaporváriosrecipientes,umdosquaiscampaniformeliso;apresençadeossoshumanosconservados,arrumadosnoquepareceserumadeposiçãosecundária, entregouumadataçãoqueoscolocano3.º/iníciosdo2.ºquarteldo IIImilénioa.C.,claramentecontemporâneosdealgumasrealidadespuramentecampaniformes,comosepodeconstatarrelativamenteàsdataçõesobtidasrecentementeparaoFosso2dePortoTorrão(ValeraeFilipe,2004,p.201).Estefactoacabaportraduzir-se,desdelogo,numenormecomplexi-ficardaspresençascampaniformes,comadescontinuidadegeográficadastendênciasdecorativasefunerárias,acabandoporrealçarquearealidadecampaniformeédiversaeemmuitosujeitaafenómenosdeaceitaçãodiferenciados,eventualmentedeorigemgrupal.Poroutrolado,nãoécomfacilidadequesepodemvalorizarasdatasdePortoTorrão,namedidaemquenossurgememcontextosderedeposiçãonointeriordofosso,aindaqueasequênciainternasejacoerenteemsi.

Seatendermosàidentificaçãodeoutrositensintegráveisdentrodasrealidadescampanifor-mes,nomeadamenteaoníveldosartefactosmetálicos,comoaspontastipo“Palmela”,aspresen-çasemcontextosmegalíticosmultiplicar-se-ão(Mataloto,2006),vincandooamploespectrodas

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utilizações “pós-megalíticas” que, como nos deixa entrever o já citado caso da Anta de SantaMargarida3,deveriasermuitomaisamploqueoexpectávelatémuitorecentemente.Oregistode,pelomenos,seispontasdesetaemcobre,entreoutrosartefactos,efectuadoporManuelHeleno(Rocha,2005,p.181),deixaclaroqueopanoramadasutilizaçõespós-megalíticasseiráalargaràmedidaqueasintervençõesseforemmultiplicando.

Poroutrolado,estefactocoloca-nosaquestãodesaberquecomponentedapopulaçãosefazia sepultar nos antigos monumentos megalíticos. As explicações mais usuais apontam parafranjasdestacadasdapopulação,elitesqueprocuramjustificarnovasouvelhaslinhagensatravésda emulação dos antigos hábitos de tumulação, associando-se a uma paisagem ancestral, em

Fig. 2 AntadasCasasdoCanal(Estremoz)eespólioassociado(seg.leisnereleisner,1959).

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pontostópicosdamemóriacolectiva,demodoasustentaremejustificaremasuaposiçãodedesta-que(Soares,2003).Todavia,maisumavez,seatendermosaosdadosdaAnta3deSantaMargarida,ondenadadedestaqueseregistou,édifícilsustentarestetipodeenquadramentoparaasutiliza-ções campaniformes alentejanas, na justa medida em que, se os gentios, como a “cesteira” deSTAM-3 (Gonçalves, 2003), tivessem acesso a verdadeiros marcadores de paisagem, lugares dememória colectiva, estes dificilmente poderiam ser entendidos como elementos integradores elegitimadores de linhagens e poderes no seio da comunidade. Talvez estejamos, na realidade,peranteumprocessodeforteatavismocomunitárioondenãoseriaalheiaumasemânticadapaisa-gemdeestreitoenraizamentolocal,mantendoosancestraiselementostópicosestruturantesdoespaçodacomunidade.Narealidade,adesagregaçãodosgrandesgruposhumanosquesecoorde-navamterritorialmentenaprimeirametadedoIIImilénioa.C.acabariaporfortaleceraidentidadelocal das pequenas comunidades, organizando o território em que se movimentam através doreforçodocaráctertópicodasantigasconstruçõesmegalíticas,quecertamenteaindanãoteriamperdidooseusignificadocomoespaçosdetumulaçãoancestrais.

OfinaldoIIImiléniopareceser,então,marcadoporumprocessodefragmentaçãodascomu-nidades, que acabaria por derivar no estreitamento da interacção das mesmas com a natureza,nummovimentodemarcaçãoeenraizamentoperanteumanovaordemterritorial;istoé,afrag-mentaçãodosgruposresultarianafragmentaçãodapaisagem,quecareceráagoradeumreorde-namentosemânticoquecoaduneumnovoconceitodeidentidadegrupalaoselementostópicosdaestruturaçãopaisagística.Destemodo,acodificaçãodeconstruçõesancestraiscomoespaçosdeMemória, enquantomarcasdeapropriaçãoevivênciado território,quer sejamfuneráriosquersejamdeoutraíndole,veicularãoumadeterminadacomunidadeaumespaçoproduzidoetraba-lhadopelosantepassados.

Seráesteprocessosocialqueirámarcargrandepartedomilénioseguinte,oqual,creio,seráacompanhadopelaconstruçãodeumapaisagemdegrupoondeasantigasocupaçõesfuneráriasede povoamento serão integradas como marcas identitárias e eventualmente delimitadoras dosespaçosdogrupo.

Os dados referentes a ocupações, digamos “integradoras”, realizadas em antigos espaçoshabitacionais,comevidentesmarcasnapaisagem,nosúltimosmomentosdoIIIegrandepartedoIImilénioa.C.,sãoescassosnoAlentejoCentral,talcomoosãoasintervençõesempovoadosdoIIImilénioa.C.;todavia,têmvindoamultiplicar-se,sendo,desdejá,conhecidosnaáreacentroalen-tejanaoscasosdopovoadodoMercador(Valera,2005),dafortificaçãodoMonteNovodosAlbar-deiros(Gonçalves,1988-1989)oudopovoadodoMoinhodeValadares(Valera,2005)onde,sobreasruínascalcolíticas,sedetectouapresençadeactividadesdecarizfunerárioaolongodaprimeirametadedoIImilénioa.C.Poroutrolado,aindarecentementefoidadoaconhecerumcasoabsolu-tamentesemelhantenavizinhaExtremadura,nopovoadocalcolíticodelosCastillejosdeFuentedeCantos(Cerrillo,2005)eoutrosnopovoadodeSanMarcos(Almendralejo)(Cerrillo,comuni-caçãopessoal).

Autilização,funeráriaounão,dosantigosespaçosmegalíticosdoIImilénioa.C.noAlentejoCentralé,aparentemente,maiscomplexadeavaliaratendendoaovolumededadosdispersos,elargamenteporvalorizar,resultantesemgrandemedidadetrabalhosantigos(Mataloto,2005),compiladosprincipalmentenocorpusdocasalleisner(leisnereleisner,1951).Apublicaçãoaindarecente de outro extenso trabalho sobre o Megalitismo alto-alentejano (Oliveira, 1995, 1998),disponibilizaumconjuntodedadosquenospermiteaproximaràsutilizaçõesdoIImilénioa.C.,semaslimitaçõesjáequacionadassobreumaanálisebaseadanosresultadosdasintervençõesdocasalleisner(Kalb,1994).

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Poroutrolado,jáH.Schubartsehaviadebruçadosobreaquestão,eefectuadoumarevisãodosdadosdisponíveisnosiníciosdadécadade70,apresentando,combaseprincipalmentenostrabalhosdocasalalemão,umalistagemdosmonumentosaltoalentejanosquehaviamproporcio-nadomateriaisreferentesaumautilizaçãoduranteaIdadedoBronze(Schubart,1971,p.186).Nãoé,então,demododespiciendoqueafirma“TambiénseencuentranfrecuentementeentumbasmegalíticasdelAltoAlentejovasoscomcarenaentiposquesonmuysemejantesa loscuencosAtalaia”(Schubart,1971,p.186).

Todavia,ecomojáafirmámosanteriormente(Mataloto,2005,p.122),astumulaçõesemcista,associáveisprincipalmenteaoBronzeMédiodosudoestepeninsular,têmumadispersãoessencial-mentenaáreaSuldoterritórioaltoalentejano,casodagrandenecrópoledecistasdoPeral(Portel)(Schubart,1975),rareandooumesmodesaparecendonaprogressãoparaNorte.Nestesentido,osenterramentosemantigosespaçossepulcraisdeverãoterassumidoumpapelpreponderantenastumulações do Bronze Médio do território alto-alentejano. Este facto poderá associar-se a umprofundoenraizamentolocaldestascomunidadesdaIdadedoBronze,podendoasnecrópolesdecistas representar, no território alto-alentejano, eventualmente, a movimentação para Norte degrupo oriundos de áreas mais meridionais, portadores de uma outra tradição funerária. O seuaparecimentoprincipalmenteemáreasmarginaisdoterritório“megalítico”podeigualmenteasso-ciar-seàsfronteirasfluidasquecertamenteexistiriamentreasduasregiõesetradiçõesfunerárias.Poroutrolado,julgorelevantenãodeixardeassinalarasuaexistêncianasáreascentraisdomegali-tismoalentejano,comanecrópoledosCebolinhosdeReguengosdeMonsaraz(GonçalveseCalado,1990-1991),oudascistasdoBarrocal,naregiãodeÉvora(Arnaud,1979),revelando-nosumentra-mado3algocomplexoquesóumestudobastantemaisapuradopoderádiscernir.

Odesenvolvimentoeaintegração,aolongodoIImilénioa.C.,detodaumanova realidade funerária no territóriobaixo-alentejano, baseada na tumulaçãoem cista, poderão relacionar-se com aefectivaausênciadeuma longa tradiçãomegalíticanestasregiões,aoinvésdoqueacontecenoterritórioalto-alentejano.

Autilização,senãosistemática,pelomenosfrequente,demonumentosfune-ráriosmegalíticosalentejanosduranteoIImilénioa.C.é tambéma imagemquetransparecedoconjuntodasintervençõesque se têm vindo a desenvolver noNordeste alentejano (Oliveira, 1995,1998, 1999-2000). Este facto permite,desde logo, uma revisão bastante maissólida, mas igualmente prudente, dosdados avançados pelos investigadoresalemães,naverificaçãodaocorrênciadeutilizaçõespós-megalíticas.

Umconjuntodetrabalhosrecentes,queincidiramsobremonumentosmegalí-

Fig. 3 ConjuntoartefactualdaIdadedoBronzedomonumentodoCaladinho(Redondo)(seg.MatalotoeRocha,noprelo).

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ticos alentejanos, parece acompanhar com clareza a tendência aqui assinalada, caso de OP2 emReguengosdeMonsaraz(Gonçalves,1999),AntadoChãodaPereiraemPortel(Antunesetal.,2003)oumesmoomonumentodoCaladinhonoRedondo,emintervençãonestemomento(MatalotoeRocha,noprelo)(Fig.3).

Uma breve aproximação aos resultados obtidos para o Nordeste alentejano deixa-nos umquadrodiversificado,multilinearecomplexo,dasutilizaçõespós-megalíticasdosantigosespaçosda morte perspectivando-se, desde logo, uma organização múltipla, eventualmente evolutiva ediacrónicadapaisagemqueenquadraaacçãohumana,fugindoàsgeneralizaçõeseaostopos.

Nãosãoapenasosmaisevidentesmonumentosqueconhecemasuaintegraçãonasnovaspaisa-gens,tambémasmaisdiscretasconstruçõessãoabsorvidasnanovaconstruçãomentaldoespaço;assim,nãoéapenasovisualqueemerge,sendoigualmenterealçadasaspequenascâmarasdememó-ria,agorareevidenciadaspelaimanênciasimbólicadasdeposiçõesfunerárias(Mataloto,2005).

AutilizaçãodosmonumentosfuneráriosmegalíticosnortealentejanosduranteaIdadedoBronzeparece-meestarbempatentenosconjuntosartefactuaisdemonumentoscomo:AntadaBoladaCera,AntadaCabeçuda,AntadasCastelhanas,FigueiraBranca,AntadosPombais,AntaIeIIdeAlcogulo,AntaIIeIVdosCoureleiros,AntadoGalhardo,AntadeOlheiros,AntadoPaiAnes,PortoAivado,AntadaTapadadeMatos,TapadãodaRelva,AntadoValedaEstrada(Oliveira,1995,vol.3);igualmentenaAntaIIdeSãoGensfoiregistadaaclarapresençadeumaocupaçãoaparentementefunerárianumdadomomentodaIdadedoBronze(Oliveira,1999-2000)(Fig.4).

Umbreverepassopelasmonografiasdocasalleisnertransmite-nos,paraoAlentejoCentral,umaimagemmuitosemelhanteàdisponibilizadapelostrabalhosdeJ.OliveiraparaoNortealen-tejano:umafrequênciaelevadadeocupações,aparentementefunerárias,daIdadedoBronzeemcontextosmegalíticos,dequepoderíamosmencionaroscasosdaanta1dosGorginosedosCebo-linhosouodaAntadasVidigueiras(leisnereleisner,1951,1959).OcasodaAnta2dosGorginoséigualmentederelevo,tendoemcontaquenelaserecolheuumapontaaparentementeemcobre,decaracterísticasbastanteevoluídas,integrávelnasdesignadaspontastipo“Pragança”,enquadra-dasnummomentoavançadodoIImilénioa.C.(Kaiser,2003)(Fig.5).

Fig. 4 AntaIIdeSãoGensepartedoespóliocorrespondenteàocupaçãodaIdadedoBronze(Oliveira,1999-2000).

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AsutilizaçõesdosantigosespaçostumularesaolongodaIdadedoBronzeparecemresultarprincipalmentededeposiçõesfuneráriasacompanhadasporespóliovotivo,ondepontuamreci-pientescerâmicosafinsdosrecolhidosnasnecrópolesdoIImilénioa.C.doSudoestepeninsular;nesteparticular,seriaderealçaraexistênciadeformascarenadasclaramentedevedorasdasconhe-cidastaçastipo“Atalaia”emesmodasdotipo“Odivelas”;alémdestas,surgemmesmoasmenoscaracterísticas,mastambémreveladoras,taças“debordeentrante”,bemreconhecidasnasnecró-polesextremenhas(PavónSoldevila,1998).

Autilizaçãodosespaçosmegalíticosancestraisacabariaporcorresponderaumfenómenodeconstruçãodepaisagens (Parreira,1998)comoodetectadonosmonumentosfuneráriosbaixo--alentejanos, aos associar, por vezes, a pontos artificialmente sobrelevados espaços de culto ememóriadosantepassados.Assim,nãoexistiriaapenasummimetismodosrecipientesvotivos,mastambémdetodaumaritualizaçãodapaisagem,conseguidaatravésdaassociaçãodasdeposi-çõesfuneráriasouvotivasarealidadesconcretasdecariztumular.

Fig. 5 Anta2dosGorginoseespólioassociado(seg.leisnereleisner,1959).

Fig. 6 Anta1dosGorginosepartedoespólio,ondesãoclaramenteidentificáveiscerâmicasdaIdadedoBronzeeeventualmentemaistardias.

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Começaapoder-seafirmarqueteriasidoprincipalmentedentrodaprimeirametade/meadosdoIImilénioa.C.queestascomunidadesdaIdadedoBronze,comfortesligaçõesàrealidadedo“BronzedoSudoeste”,teriamocupadodemodorelativamentefrequente,oumesmosistemático,antigosmonumentosmegalíticosdoAltoAlentejo;noentanto,talnãoseriaimpeditivodeque,emcasosaparentementemenosnumerosos,talcontinuasseasucederemmomentosmaistardios.

Asescassasdatasradiocarbónicasdisponíveisparecem,efectivamente,apontarnessesentido,casodadisponívelparaaAntadasCastelhanas(OXA-54323220+65-1630-1320calBCa2σ),efec-tuadasobreossoshumanos;umaoutradatação,dasegundametadedo IImilénioa.C.,obtidaigualmentesobreossoshumanos,recolhidosnaintervençãodeManuelHelenonaquartaantadoZambujeiro(Montemor-o-Novo),epublicadarecentemente(Rocha,2005,p.68),pareceapontarnomesmosentido(Beta196093-3040±401380-1260/1400-1190calBCa2σ).

Narealidade,oscontextosfuneráriospós-megalíticosdatadosdoIImilénioa.C.sãoaindabastanteescassos;todavia,oaumentodonúmerodedataçõessobreossoshumanosrecolhidosemcontextosfuneráriosmegalíticostraduzir-se-á,certamente,naampliaçãodoconjuntorespei-tanteàIdadedoBronze,talcomoosrecentestrabalhosdesenvolvidosemReguengosdeMonsa-raz(STAM3eCebolinhos)(Gonçalves,2003a,2003b)permitiramampliar,emuito,asdataçõesreferentesamomentosavançadosdoIIImilénioa.C.,contemporâneosdasrealidadescampani-formes.

Todavia,sãoigualmenteconhecidasaolongodaIdadedoBronzeutilizaçõesdecarizdistintoemantigosmonumentosfuneráriosenãofunerários,podendoestarassociadasaoutrotipoderitual,usualmentemaisdiscretoartefactualmente,masdeigualrelevânciasócio-simbólica,even-tualmentedecarizcerimonialecomunitário,bemdocumentadoemdiversasparagenseuropeias(Bradley, 1998), mas também, aparentemente, no monumento 7 de Alcalar (Morán e Parreira,2004,p.112,119).

Fig. 7 MeniresdeSãoSebastiãoeoespóliodaIdadedoBronzeassociado(seg.Calado,2004).

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NomesmosentidopoderáserinterpretadaaocupaçãodoBronzeMédiodetectadajuntodosmeniresdeSãoSebastião(Évora)(Calado,2004)(Fig.7).Umconjuntoalargadodepequenosvasosetaçascarenadasfoidocumentadonaenvolventeimediatadosdoismenires,aindaquesedesco-nheçaoseucontextoexactodedeposição,pelasprofundasafectaçõesprovocadaspelaocupaçãoromana,igualmentedetectada.EstaocupaçãodaIdadedoBronzeparece,então,resultardeumautilizaçãoritual/cerimonialdomonumentomenírico,eventualmenteaindaerecto,englobando-onumamesmaestratégiadeintegraçãoeconceptualizaçãodosantigosespaçosmegalíticos,inde-pendentementedoseucariz.

OmesmoprocessopoderáterdecorridonocromelequedaPorteladeMogos(Évora),ondefoiigualmentedetectadaumaocupaçãodaIdadedoBronze(Gomes,1997).

Aconstanteutilizaçãoeincorporaçãosimbólicadeantigosmonumentosmegalíticosmas,igualmente,deantigosespaçoshabitacionaisemnovasdinâmicasconceptuaise semânticasdaPaisagemacabariaporgerarumafamiliaridadecomasrealidadesantigasquepoderiaconduziràinclusão no conjunto artefactual de linguagens morfológicas e decorativas há muito perdidas,originando actos de profunda identificação com as comunidades precedentes. Ainda que reco-nheçaoenormeteorespeculativodestaobservação,julgoconvenienteassinalaraextraordináriasemelhançaentrealgumaspeçascompósitasbastantedistantesnotempo,comooscoposcarena-doscomdecoraçãomamilardetectadosemJuromenha1(Alandroal),datadodofinaldoIVmilé-nio a.C. (Calado, Mataloto e Rocha, em preparação), no monumento do Caladinho (Redondo)(MatalotoeRocha,noprelo)enaNecrópoledaIdadedoBronzedaQuitéria(SilvaeSoares,1981,p.165)(Fig.8).Poroutrolado,éclaraebemdocumentadaarecuperaçãoquesefazduranteoiníciodaIdadedoBronzedemorfótiposclaramentedevedoresdasantigasformascarenadasdofinaldoIVmilénioa.C.,aoquesedeveassociarumarecuperaçãosensíveldapresençadasformasfechadasedasadjunções(mamilos),querdecorativos,querfuncionais(Mataloto,2005).

Seasutilizaçõesdeantigosmonumentosmegalíticos,aolongodegrandepartedoIImilénioa.C.,sãorelativamentefrequentes,jáaspresençasintegráveisnummomentofinaldomiléniopare-cemsersobejamentedistintas,aosurgirembastantedifusaseseremprovavelmentemaisdiscretas,acompanhando um processo semelhante registado em todo o Sul peninsular (García Sanjuan,2005). Todavia, este facto não tem porque derivar obrigatoriamentede um abandonodo valorsimbólicoepaisagísticodestesmonumentos,nãosendoimprovávelaalteraçãodosrituaisfunerá-rios,quesetraduziriamnumacrescenteinvisibilidadedasdeposições,nummovimentoaceiteparaageneralidadedasrealidadesfuneráriasdoFinaldaIdadedoBronze(TorresOrtiz,1999).

Nãodeverásertambémalheioaestefactooprocessodeencastelamentoqueseterádesenvol-vidonosfinaisdestemilénionoespaçoalentejano(Mataloto,2004).Sãoagoraformadosgrandesaglomerados humanos instalados nos topos das principais elevações, dotados de importantesestruturasfortificadas,oqueconduziráaumreordenamentototaldosprincipaisvectorespaisa-gísticos,numanovasimbólicaidentitáriaedepoder,afastadadasplanícieserefugiadanaspene-diasdasserras,numaatitudedefrontalimposiçãodasmuralhasperimetrais.

Agora,oselementosestruturantesdasemânticapaisagísticaseriamantesosespaçoshabita-cionais,evidenciandoumafortehierarquizaçãodoscontextoscénicos,denunciadapelaproemi-nênciadaselevaçõesfortementeacasteladas,numacomposiçãodeelevadovaloridentitário-coer-civo,perantecomplexosdispositivosarquitectónicoscomoosdetectadosnoCastrodosRatinhos(SilvaeBerrocal,2005),onde,creio,apreocupaçãodebasesuplantarialargamenteaspreocupa-çõesdecarizmeramentedefensivo.

Todavia,eaindaquenãopossamosasseverar,emtodososcasos,asuautilizaçãofunerária,nãodeixamdeserconhecidasnoSuldoterritórioactualmenteportuguêsutilizaçõesdeantigos

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monumentos megalíticos durante o final da Idade do Bronze. O monumento do Barranco daNoraVelha,emOurique(Viana,1959),entregouinequívocoselementoscaracterizadoresdeumapresença,eventualmente, funeráriadofinalda IdadedoBronze. Idênticasituaçãoparece ter-severificadonomonumentodoCerrodoMalhanito,emAlcoutim(Cardoso,2004),onde,aoinvésdosucedidonomonumentoanterior,aquiseverificouototalesvaziamentodointeriordacâmara.Nestemesmotrabalhoreequaciona-se,nasequênciadeobservaçõesanteriores,aquelequeé,semdúvida,umdosmonumentosmaiscarismáticosdofinaldaIdadedoBronzenafachadaatlântica

Fig. 8 RecipientesrecolhidosnanecrópoledaQuitéria(SilvaeSoares,1981),emJuromenha(Calado,MatalotoeRocha,empreparação)enoMonumentodoCaladinho(MatalotoeRocha,noprelo).

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peninsular,aRoçadoCasaldoMeio.AtendendoaosresultadosdeCerrodoMalhanito,levantou--seapossibilidadedeocorrerumasituaçãosemelhanteaeste,istoé,ummonumentooriginaria-mentepré-histórico,queteriasofridoumprocessodeeliminaçãocompletadasdeposiçõesante-riores,parareceberasnovastumulações(Cardoso,2004,p.204).Estaperspectivanãoé,todavia,pacífica(VilaçaeCunha,2005),sendodedestacar,noquadrodopresentetrabalhoque,indepen-dentementedeserounãoumreaproveitamentodeumaestruturaanterior,éclaraaemulaçãodetodoumcontextomegalíticoparaadeposiçãofunerárianosfinaisdoIImilénioa.C.

NoespaçoaltoalentejanoasnotíciassobreasutilizaçõesdofinaldaIdadedoBronzeemcontextosmegalíticosestãoparticularmentepoucodocumentadas,muitasvezesporquedifíceisde discernir de outras ocupações da Idade do Bronze; de intervenções recentes são conhecidaspequenasnotíciassobreasuapresençaemdiversosmonumentosdeValeRodrigo(Évora)(Kalb,1994).

Entradoomilénioseguintearealidadenãosealterasobejamente,processando-seagradualdesaparição das presenças em monumentos megalíticos. No entanto, o total desconhecimentosobreosrituaisfuneráriosatribuíveisagrandepartedaprimeirametadedoImilénioa.C.impõefortesreservasaqualquerconsiderandosobreasuaescassezemcontextosmegalíticos.Váriosindi-cadoresimpõemestacautela,nomeadamenteaescassezdeinformaçãodisponível,jáquenasgran-des sínteses, como as produzidas pelo casal leisner, os dados reconhecidamente respeitantes amomentos mais recentes foram omitidos, mesmo que se tenham registado. Por outro lado, aausênciadeespóliofunerárionoenterramentopodeinviabilizarasuaidentificação,comoseveri-ficouparaoutrasépocas(casodasjáreferidasdeposiçõesfuneráriasdosfinaisdoIIImilénioa.C.daAnta3deSantaMargarida)(Gonçalves,2003)eparaoutrasáreasgeográficas,casododólmendelaPantojaIII,naáreadeSevilha,comincineraçõesfunerárias,semespóliovotivo,datadasdosiníciosdoImilénioa.C.(GarcíaSanjuán,2005).

No espaço centro-alentejano foi já reconhecida a frequência de espaços megalíticos emmomentosantigosdaIdadedoFerroregionalnaAnta2doOlivaldaPega(ReguengosdeMonsa-raz)(Gonçalves,2003)enaAntadaRabuje5(Monforte)(Boaventura,comunicaçãopessoal).Paramomentosaparentementemaisrecentes,éconhecidoocasodaAntadoPeral3,emMonforte,ondeAbelVianaregistouapresençadeurnascineráriasdepositadasno tumulus (VianaeDeus,1957);estemesmoinvestigadordeuaconhecerocélebrecasodaAntadoCerrodasAntas(Ouri-que),jánoBaixoAlentejo,ondeforamregistadasurnascineráriasdepostasnointeriordacâmaradaanta(Viana,FerreiraeAndrade,1957).

AindanoespaçocentroalentejanoserádemencionaraprovávelreutilizaçãodeumaplacadexistodaAntaGrandedoZambujeirocomosuporteepigráficoduranteaIdadedoFerro(Gonçal-ves,PereiraeAndrade,2003),revelandoautilizaçãodesteespaço,aquepoderiamassociar-sealgunsrarosfragmentoscerâmicosdaíprovenientes,depositadosnoMuseudeÉvora.

Porfim,serádemencionarocasodanecrópoledaTera,degrandeparticularidade,pelosigni-ficadotranscendentedentrodalinhadeproblemáticadesenvolvidanestetrabalho.

OmonumentodaTera(Pavia,Mora)correspondeaumrecintomegalítico,compostopordiversosmenires,queteriamestadodispostosaparentementeemtornodeumgrandetumulusouempedrado,soboqualseefectuaramasdeposiçõesfuneráriasemurnaeaparentementeemfossa.Pelainformaçãoqueseencontradesdejádisponível,estemonumentodeveráterestadoemusoentreosséculosVIeVa.C.(Rocha,DuarteePinheiro,2005)(Fig.9).

AindaquesejaummonumentoaparentementeerguidoemmeadosdoImilénioa.C.,pareceafastar-sedetodasaspoucasnecrópolesconhecidasatéaomomentonosudoestepeninsular,enve-redandopelaedificaçãodeumaestruturadeclararaizmegalítica.Ogestodeemulaçãodeances-

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traisconstruções,associadasagoraaumrecintofunerário,assinalariaoconhecimentodosantigosmonumentos,erguidosaescassosquilómetrosdedistância,casodoscromelequesdeValed’ElReiouFigueiras(Calado,2004).Poroutrolado,asuaimplantaçãoadjacenteadiversasantaseaumagrandemamoa,aindahojeparticularmentebempreservada, situadasnumraioaproximadode100m,permitesubentenderumaclaravontadedeassociaçãoaumcontextodefortecarizidenti-tário,quepoderiaserfacilmentelidocomoumactolegitimadordaposseeexploraçãodaterra,comoelementodecoesãodogrupo,nummomentodegrandepressãodemográfica.

Estecasoacabaporconstituir-secomoasúmuladoprocessopós-megalítico,verificandoanecessidadenãosódereutilizarosmonumentosprecedentes(oqueparecetambémterefectiva-menteaquiacontecido),masigualmentedeconstruirummonumentoqueevidenciasseasmesmasraízesancestrais,adjacenteaantigosespaçossepulcrais,compondoumconjuntocénicoeidenti-tário de raro cariz transgeracional, onde o sentido funerário parece ter sido recuperado comoelementodecoesãogrupal,aodepositarem-seasurnascineráriassobummesmotumulus,talcomoaconteciaemépocapré-histórica.

Tambémnãoécomaimplementaçãodetodaumanovarealidadepolítica,sociale,emcertoponto,humanaefectuadasobaégidedopoderdeRoma,quesedeixarádefrequentarestesespaçosmegalíticos,continuando-se,inclusivamente,autilizá-loscomoespaçosfunerários,aindaquedemodorelativamentepontual,comopareceteracontecidonaAnta10doBarrocal(leisnereleis-ner,1951)ounasAntasdoCarvão,4doGenemigoou2daSobreira,naregiãodeElvas(VianaeDeus,1955),ouocasodocumentadomaisrecentementenaantadoChãodaPereiraemPortel(Antuneset.al.,2003).

Fig. 9 NecrópoletumulardaTera,comosmenirestombadosemprimeiroplano,àdireita.

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3. Lugares de memória e identidade

Asconstruçõesmegalíticasmarcaramdesdesempreapaisagemalentejana,sendoumafaláciajulgarqueestasforamalgumavezesquecidaspelassociedadesposteriores,todaselascomfortependorcamponês,queutilizaram,viverameconceptualizaramarealidadegeográficaalentejana,transformando-a numa paisagem desde sempre muito humana, pela particular incidência dohomemnasuamodelação.

Nãotenhamos,contudo,umanoçãomeramenteatávicadomodocomoforamsendointe-gradas as realidades megalíticas nos discursos sociais e na construção da memória, sendo comalgumacerteza,apesardosescassosdadosdisponíveis,elementosdinâmicosnasnovasconstru-ções sociais e identitárias, integrando e absorvendo novas cosmogonias, consoante a realidadesociológicaemergente.Todavia,desdecedoparecemsermarcosdaespessuradotempo,assina-landoosancestros,verdadeirosaxis mundiqueacompanhavamtransversalmenteatemporalidadedapaisagem(Ingold,1993),ajudandoaconstruirnovasgeodesiasindividuaisedegrupo.Rarasvezesdevemtersidoelementos inócuos,perdidosnaspaisagens,assumindo-semúltiplasvezescomopalcoscerimoniaisderitosecultosdiversos,bemdistantes,porvezes,dasrealidadesinaugurais,comonosdeixamentenderasváriasantas-capeladispersaspelopaís(Oliveira,SarantopouloseBalesteros,1997).

Omodocomoasantaspermaneceram,ouforamsendointegradas,nosimagináriospopula-resémúltiploediverso(Oliveira,2001),desdeadivisãodepropriedadesàtoponímia(sãomuitososmontesdaAntaouosValdanta),estandodisponíveisdocumentosqueasreferemdesdeoséc.XIII(Oliveira,2001,p.41),multiplicando-seoscasospelosséculosseguintes.

Nesteiníciodeumnovomilénio,écomumaenormearrogânciaqueperspectivamosaredes-coberta do megalitismo como elemento da paisagem alentejana, ao ponto de lhe associarmos,numactodepurahipocrisia,onomedeumvinho(Anta da Serra,AdegaCooperativadeRedondo),especialmentequandoaexpansãodestaculturasetornaumadasprincipaisameaçasàsuaperma-nêncianoshorizontesalentejanos.

Redondo,AlentejoCentral,Marçode2006PontualmenterevistoemJaneirode2007

NOTAS

* InvestigadordoCentrodeArqueologiadaFaculdadedeletrasda decitações.Poroutrolado,abaseconceptualencontramo-la Universidadedelisboa(UNIARQ). emIngold(1993)eValera(2000). Câ[email protected]. 3 Entramadoestequeseadensarácomocontinuardostrabalhos1 Estetrabalhoéanaturalcontinuaçãodeumoutropublicado emsítiosdaIdadedoBronze,atendendoaosresultadosdosítio igualmentenaRPA(Mataloto,2005),equesejustificapelo daMesquita(Évora),ondeforamdetectadasváriastumulações alargamentodoespectrodeanáliseparaalémdaIdadedoBronze. emfossa(informaçõesproporcionadaspelosescavadores;espólio2 NestepontoassumeparticularrelevânciaotrabalhodeCatarina emestudoporequipalideradapeloEng.MongeSoares). Oliveira,Lugar e Memória(2001),peloqueseevitaráareprodução

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