paisagem urbana

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A cidade como paisagens em rede Tempo, espaço e velocidade

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Slides da disciplina Cartografias Urbanas, Unifasc, Salvador, 2012.

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A cidade como paisagens em rede Tempo, espaço e velocidade

A cidade como paisagens em rede

Tempo, espaço e velocidade

• As cidades são o lócus privilegiado da circulação (de pessoas, de objetos, de informação)

• Até meados do século XIX pode-se considerar que os deslocamentos humanos eram feitos num movimento lento, baseados na força muscular de homens e animais

• No mar, eram baseados na utilização do vento

• As velocidades variavam da imobilidade ao deslocamento por cavalo a galope (13m/s), com as velocidades médias em torno de 3m/s

• O que permitia o deslocamento máximo de 200 km/dia, o mesmo ao equivalente no mar a 8 nós

• O mais comum é que viajantes fizessem seus percursos a uma velocidade de 35 a 40 km/dia, o que significa uma média de 6 a 7 km/hora

• A velocidade humana só conheceu outro patamar a partir da segunda

metade do século XIX com o desenvolvimento da máquina a vapor e o seu

uso em locomotivas e navios.

A distância de Paris a Strasbourg, cerca de 500 km, é feita hoje pelo

TGV (train à grande vitesse) no tempo de 2h (média de 320 km/h)

Paris – New York 5831.26 km

• Essas diversas velocidades em coexistência são hoje fatores decisivos

para entender a organização dos espaços urbanos e as transformações de

suas paisagens.

• Os efeitos da grande velocidade nos lugares de passagem podem ser

resumidos na palavra ruptura: territorial, visual, paisagística, ambiental,

social. À abertura das grandes avenidas de vale em Salvador se seguiram

valorizações e especializações de trechos da cidade; alterações nas

centralidades e segregação de consumo de lugares a partir do acesso, ou

não, aos meios de transporte motorizados

Salvador

Centro Histórico –> Iguatemi (7,8 km)

• a pé - aprox. 1 hora 37 minutos

• de carro - aprox. 13 minutos

Paisagens táteis ou Panoramas

Paisagens táteis

• Trata-se da cidade na escala humana, do pedestre.

• De certa maneira aqui se trata da cidade que existia

hegemônica até meados do século XIX, mas que ainda

sobrevive.

• Cidade que já foi do flanêur e que hoje é, em boa parte, o

território dos despossuídos

• A paisagem tátil se caracteriza pela possibilidade de uma

visão serial, contínua, linear. Aqui quem vê está no controle do

quê vê. Não existe mediação técnica e nem enquadramentos

• A velocidade de circulação na paisagem tátil é lenta. Sustenta-

se nos limites do próprio corpo humano. A cidade que aparece

nesse nível de interação tem os seus contornos definidos pelo

alcance do olho e pelas barreiras físicas. Seja na inércia, seja

nos percursos; seja nas distâncias horizontais, seja nas alturas.

• A cidade da paisagem tátil foi o objeto básico de livros como A

construção da cidade segundo seus princípios artísticos, de

Camillo SITTE; A Imagem da Cidade, de Kevin LYNCH; A

Arquitetura da Cidade, de Aldo Rossi e Paisagem Urbana, de

Gordon CULLEN.

Obras que propunham a abordagem da paisagem da cidade a

partir da sua legibilidade morfológica, considerando a interação

direta com o espaço urbano.

Paisagens táteis

Fotos Mário Vitor Bastos http://www.flickr.com/photos/mvitor/

Paisagens mediadas Fotoramas e Diaporamas

Ipanema, Rio de Janeiro

Morro do Alemão, Rio de Janeiro

Santa Tereza, Rio de Janeiro

Cohab, São Paulo

Pátio do Colégio, Centro, São Paulo

Avenida Paulista, São Paulo

Paisagens mediadas

• Dispostas através de dispositivos técnicos (mecânicos,

eletrônicos ou digitais)

• Podem ser de dois tipos: diaporamas e fotoramas

Paisagens mediadas

Diaporamas

Fotoramas

Diaporamas

• Selecionadas e dispostas através de dispositivos técnicos

(mecânicos, eletrônicos ou digitais)

• Os diaporamas passam pela construção ou filiação a um

discurso

Diaporamas

• O discurso turístico é um dos mais proeminentes,

enquadrando as cidades a partir dos seus cartões postais, mas

não é o único

• Fazer um recorte da cidade à partir das paisagens das suas

periferias significa seguir na mesma lógica do discurso turístico,

por exemplo.

Diaporamas

• No quesito “escalas”, as paisagens mediadas não tem limites.

Os enquadramentos da cidade podem levar em conta a escala

humana como podem a considerar a partir dos seus ângulos

que só são acessíveis através da mediação técnica, como as

imagens aéreas ou as fotos feitas a partir de câmeras

desenvolvidas para o uso em satélites e que permitem capturar

pequenos detalhes a quilômetros de distância.

• As paisagens mediadas são abordagens não-lineares da

paisagem urbana. A continuidade visual não é necessária e, em

geral, nem desejada. A cidade é mostrada – mais do que vista –

apenas nos enquadramentos que interessam à venda de uma

idéia de cidade. Um processo seletivo de mão dupla que, ao

mesmo tempo em que amplifica a visibilidade de alguns lugares

produz a invisibilidade de outros.

Vídeos promocionais Bahiatursa

Diaporamas

• Algumas das ocorrências mais eloqüentes das paisagens

mediadas têm sido as políticas de promoção das cidades que

se espalharam pelo mundo nas duas últimas décadas, as

chamadas estratégias de “city marketing”, que têm como um

dos seus objetivos reduzir as complexidades e ambigüidades

de uma cidade para uma imagem simplificada, que possa

circular facilmente (e velozmente) pelo mundo.

iloveny.com

iamsterdam.com

iamsterdam.com

iamsterdam.com

viscabarcelona.com

viscabarcelona.com

Diaporamas

• Outra característica das paisagens mediadas é a tentativa de

eliminação do olhar distraído. A disposição das imagens (re)constrói

uma narrativa que para ter sentido exige alguma atenção. É aqui que

se chega mais próximo ao que poderia parecer uma prática autoritária,

onde o discurso é basicamente monofônico: a cidade é esta. Contudo,

a aceitação do enunciado não se faz de forma automática. Nas lógicas

hipermodernas o enunciador tem que necessariamente lidar com as

componentes dos jogos de sedução, presentes, sobretudo, nas

práticas da publicidade.

Paisagens mediadas

Diaporamas

Fotoramas

Fotoramas

• Imagens que podem se suceder sem linearidade; com a passagem

do tempo e o movimento as reconfigurando constantemente;

• Embora também contem com a mediação técnica – sejam veículos,

sejam telecomunicações – os fotoramas, diferentes dos diaporamas,

não se estruturam num discurso. Sua leitura é opção do receptor. A

sua não-leitura também; o olhar distraído é parte constituinte da sua

definição;

• Nos fotoramas estão as possibilidades das altíssimas velocidades de

circulação de pessoas, informação e objetos;

• O espaço passa a acessório do tempo-velocidade e a cidade passa a

se (des)estruturar por pontos ou por enclaves.

Fotoramas

• As escalas dos fotoramas são múltiplas, mas o “desprezo” pelo

espaço contíguo induz à valorização de alguns lugares e às grandes

dimensões dos enclaves: a verticalização e a cidade das torres ou os

grandes equipamentos horizontais como hipermercados e shopping

centers;

• A cidade em alta velocidade aparece quase como uma justaposição

de paisagens. Paisagens como eventos. Que aparecem e somem em

segundos;

• No extremo oposto da lógica dos panoramas, os fotoramas se

definem, não na memória, mas na amnésia.

Ponte Rio-Niteroi www.ponte.com.br

Fotoramas

Paisagens mediadas Diaporamas

Fotoramas

Paisagens táteis ou panoramas

Inforamas

• Os Inforamas são paisagens híbridas; possíveis a partir do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs), sobretudo da emergência comercial dos dispositivos móveis dotados dos recursos de posicionamento global por satélite (GPS).

• Os Inforamas se inscrevem no extremo limite das velocidades. Os dados chegam na rapidez de quase instantaneidade das conexões por satélites. Embora essa velocidade extrema, também, não os defina por si só. Ela coexiste com a lentidão das paisagens fisicamente ancoradas no espaço geográfico; os edifícios, as vias e os elementos diversos da paisagem urbana tradicional.

Inforamas

Operadores analíticos | inforamas

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica

• Pode-se dizer que os Inforamas são constituídos por uma camada (layer) de informações sobre o espaço físico das cidades. Camada, essa, que transforma a paisagem urbana numa dimensão de terceiro tipo.

• Os Inforamas prescindem dos deslocamentos físicos. O movimento é, sobretudo, de informações e dados, que o dispositivo capta e traduz nessa nova paisagem; embora a mobilidade corporal seja completamente possível e, mesmo, parte constituinte das suas possibilidades tecnológicas, visto que os dispositivos móveis portáteis, como os telefones celulares, são o lócus hegemônico da sua existência

Inforamas

• É possível enxergar essa paisagem híbrida de dentro de um

veículo em movimento; sentado numa mesa de café, na grama de um parque ou num banco de praça.

• Diferentes das infografias estáticas tradicionais, como as dos guias turísticos ou da sinalização urbana, por exemplo, as informações aqui são dinâmicas: mudam com o posicionamento de quem as vê; mudam com a alimentação dos bancos de dados que lhes dá suporte.

Inforamas

A paisagem urbana é uma coexistência de estágios diversos das relações entre a interação/percepção da visão humana (natural ou ampliada) e as alterações visuais dos elementos artificiais e naturais de uma cidade. Essas relações são estruturadas, fundamentalmente, pela circulação – de pessoas, objetos e informação - em velocidades diversas.

Paisagem urbana

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica

Paisagens mediadas Diaporamas

Fotoramas

Paisagens táteis ou panoramas

Inforamas

Operadores analíticos | panoramas

2007, Marcos Rodrigues

Operadores analíticos | panoramas

2007, Marcos Rodrigues

Operadores analíticos | fotoramas

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica

Linha 21, ônibus, Paris

Operadores analíticos | diaporamas

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica

MetroParis, Paris

Operadores analíticos | inforamas

PANORAMAS DIAPORAMAS FOTORAMAS INFORAMAS

Escala

Humana

Maquínica

Maquínica

Maquínica

Visão

Linear

Não-linear

Não-linear

Não-linear

Discurso prévio

Não

Sim

Não

Não

Mediação técnica

Não

Sim

Sim

Sim

Olhar distraído

Sim

Não

Sim

Não

Memória

Memória

Memória

Amnésia

Amnésia

Velocidade

Lenta

Moderada

Rápida

Rápida

Operadores analíticos | quadro síntese

2009, Marcos Rodrigues. Dromorfoses da Cidade: A Paisagem Urbana na Era da Circulação Numérica