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PAISAGEM E PATRIMÔNIO: o papel da historicidade SAFE, Simone M. S. (1); PEREIRA COSTA, Stael de Alvarenga (2) 1. Escola de Arquitetura da UFMG. Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável MACPS. Rua do Mosteiro, 37/ apto 801, bairro Vila Paris, CEP 30380-780. [email protected] 2. Escola de Arquitetura da UFMG. Prof. Dra. do Departamento de Urbanismo. Escola de Arquitetura/UFMG. Rua Paraíba, 697 sala 404c , Funcionários. Belo Horizonte MG. [email protected] RESUMO A historicidade é um atributo da Escola Inglesa de Morfologia Urbana referente à capacidade de demonstração dos conteúdos históricos, culturais e sociais que permanecem nas paisagens urbanas ao longo do tempo. Pela vida social que se reflete no espaço construído é que acreditamos ser esse atributo útil na demonstração da evolução da sociedade humana e seus assentamentos urbanos ao longo do tempo, obra combinada entre homem e natureza. O foco desse trabalho sustenta-se, portanto, na paisagem cultural e seu valor enquanto patrimônio. A morfologia urbana é, nesse caso, um indicador de valor e um instrumento de leitura da paisagem. Segundo seu fundador, MRG Conzen (1966), "por meio da historicidade, as paisagens culturais exercem uma influência educativa e revitalizadora nas mentes e isto responde aos requisitos sociais em longo prazo." Esse artigo visa atender a dois objetivos que se complementam: compreender como a historicidade pode contribuir na permanência da memória coletiva oferecendo a possibilidade de recordação como o estímulo ativo para o homem na sociedade; um segundo é trazer um exemplo que demonstre a valorização da historicidade pela UNESCO no reconhecimento de um bem cultural como patrimônio mundial. Para isso buscou-se na Escola Inglesa de Morfologia Urbana a base conceitual e teórica de sustentação desse atributo, a historicidade. Para compreender a relação entre historicidade e educação, buscou-se em Johann Heinrich Pestalozzi o entendimento de educação a partir da sua proposta metodológica - a "Pedagogia Intuitiva". Por fim, sugeriu-se como exemplo, a cidade de Rabat, capital do Marrocos, que em 2012 teve o reconhecimento do seu patrimônio histórico compartilhado pela UNESCO. A reflexão sobre essa relação, memória, historicidade e educação, pode contribuir para práticas de preservação conscientes nas paisagens urbanas, incluindo a própria população no processo. Num momento em que práticas sustentáveis se fazem, mais que desejáveis, necessárias, contar com o reconhecimento da historicidade como instrumento de educação, contribuindo para um despertar de consciências, é o ineditismo desse trabalho. Palavras-chave: paisagem; patrimônio; historicidade; educação.

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PAISAGEM E PATRIMÔNIO: o papel da historicidade

SAFE, Simone M. S. (1); PEREIRA COSTA, Stael de Alvarenga (2)

1. Escola de Arquitetura da UFMG. Mestranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável

MACPS. Rua do Mosteiro, 37/ apto 801, bairro Vila Paris, CEP 30380-780. [email protected]

2. Escola de Arquitetura da UFMG. Prof. Dra. do Departamento de Urbanismo.

Escola de Arquitetura/UFMG. Rua Paraíba, 697 sala 404c , Funcionários. Belo Horizonte – MG. [email protected]

RESUMO

A historicidade é um atributo da Escola Inglesa de Morfologia Urbana referente à capacidade de demonstração dos conteúdos históricos, culturais e sociais que permanecem nas paisagens urbanas ao longo do tempo. Pela vida social que se reflete no espaço construído é que acreditamos ser esse atributo útil na demonstração da evolução da sociedade humana e seus assentamentos urbanos ao longo do tempo, obra combinada entre homem e natureza. O foco desse trabalho sustenta-se, portanto, na paisagem cultural e seu valor enquanto patrimônio. A morfologia urbana é, nesse caso, um indicador de valor e um instrumento de leitura da paisagem. Segundo seu fundador, MRG Conzen (1966), "por meio da historicidade, as paisagens culturais exercem uma influência educativa e revitalizadora nas mentes e isto responde aos requisitos sociais em longo prazo." Esse artigo visa atender a dois objetivos que se complementam: compreender como a historicidade pode contribuir na permanência da memória coletiva oferecendo a possibilidade de recordação como o estímulo ativo para o homem na sociedade; um segundo é trazer um exemplo que demonstre a valorização da historicidade pela UNESCO no reconhecimento de um bem cultural como patrimônio mundial. Para isso buscou-se na Escola Inglesa de Morfologia Urbana a base conceitual e teórica de sustentação desse atributo, a historicidade. Para compreender a relação entre historicidade e educação, buscou-se em Johann Heinrich Pestalozzi o entendimento de educação a partir da sua proposta metodológica - a "Pedagogia Intuitiva". Por fim, sugeriu-se como exemplo, a cidade de Rabat, capital do Marrocos, que em 2012 teve o reconhecimento do seu patrimônio histórico compartilhado pela UNESCO. A reflexão sobre essa relação, memória, historicidade e educação, pode contribuir para práticas de preservação conscientes nas paisagens urbanas, incluindo a própria população no processo. Num momento em que práticas sustentáveis se fazem, mais que desejáveis, necessárias, contar com o reconhecimento da historicidade como instrumento de educação, contribuindo para um despertar de consciências, é o ineditismo desse trabalho.

Palavras-chave: paisagem; patrimônio; historicidade; educação.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

1- INTRODUÇÃO

Platão acredita que aprender é recordar (PLATÃO, 1987, p.76). Segundo Ricouer, o fenômeno

mnemônico da recordação enfrenta a simples evocação de uma lembrança que vem ao

espírito. A distinção entre mneme e anamnesis refere-se a da evocação simples e ao esforço

de recordação: "A distinção entre mneme e anamnesis apóia-se em duas características: de

um lado, a simples lembrança sobrevém à maneira de uma afecção, enquanto a recordação

consiste numa busca ativa." (RICOUER, 2010, p.37). Em outras palavras, a lembrança está

sob o império da impressão, movimento que resulta de uma causa exterior (alguém ou alguma

coisa), ao passo que a recordação está ligada a essa ação em nós, um desdobramento

interno à imagem mental. Para Aristóteles, "essa conjunção entre estimulação (externa) e

semelhança (interna) continuará sendo, para nós, o ponto crucial de toda a problemática da

memória." (RICOUER, 2010, p.37)

Para Nora,

A memória é um fenômeno sempre atual, uma ligação do vivido com o eterno presente; a história é uma representação do passado. Porque ela é afetiva e mágica, a memória se acomoda apenas nos detalhes que a conformam; [...] A memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto. A história não se liga a não ser em continuidades temporais, nas evoluções e relações de coisas. A memória é um absoluto, a história não conhece mais do que o relativo. (NORA, 1998, p.9)

O eterno presente trazido à reflexão por Nora nos remete a um tempo. Hoje. Agora. A

recordação, portanto, percorre, um certo intervalo de tempo, entre a impressão original e seu

retorno. E essa recordação acontece no presente, ou seja, na marca de uma memória que

permanece e é reconhecida, de maneira particular e subjetiva, partindo de um estimulo

externo e buscando ressonância interna. É dessa condução reflexiva que chega-se à ideia de

que recordar, através da memória coletiva e história de um lugar (subjetivo e objetivo) é

instrumento de educação.

No âmbito desse artigo, para melhor compreender a educação, busca-se Johann Heinrich

Pestalozzi (1946), que chamou a atenção do mundo por sua ação como mestre, diretor e

fundador de escolas. Suas ideias demarcaram uma vertente da pedagogia tradicional

denominada Pedagogia Intuitiva, cuja característica básica é oferecer dados sensíveis à

percepção e observação dos alunos.

Para compreender a historicidade, capacidade de expressão histórica num ambiente físico,

busca-se na Escola Inglesa de Morfologia Urbana as referências conceituais e teóricas de

sustentação desse pensamento, com base no artigo de M.R.G. Conzen (2010) - As Paisagens

Urbanas históricas na Inglaterra: um problema de geografia aplicada.

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Esse trabalho tem, portanto, dois objetivos que caminham juntos e se sustentam. O primeiro é

compreender como a historicidade pode contribuir na permanência da memória coletiva e,

consequentemente, propiciar a recordação ao indivíduo como resposta a uma afecção, que

segundo definição no dicionário Aurélio, corresponde a uma "alteração de faculdade receptiva

que revela seu modo próprio de receber e transformar". O segundo objetivo é trazer um

exemplo que demonstre a valorização da historicidade no reconhecimento de um bem cultural

como patrimônio mundial pela UNESCO, o que, por si só, suscita a importância de voltarmos

nosso olhar para esse atributo, na preservação de paisagens urbanas, que naturalmente

caminham para um desenvolvimento contínuo.

Castriota (2009) alega que o patrimônio cultural deve ser visto como um suporte para um

processo contínuo de produção da própria vida, ao perceber o potencial transformador que

existe nele e que necessita ser relido e utilizado de forma libertadora. Assim, à ideia de

patrimônio cultural, alia-se a possibilidade de incorporação da população nessa valoração.

Sendo a paisagem um organismo vivo,

não há que impedir o processo de renovação, intrínseco a ele, e que acompanha o próprio desenvolvimento da vida humana. Por outro lado, cabe à sociedade e ao Governo orientar essa renovação e transformação, para que a paisagem urbana evolua de maneira equilibrada e não predominem apenas os interesses econômicos imediatos de um determinado segmento.(CASTRIOTA, 2009)

A morfologia urbana compreende que a paisagem resulta sempre de um processo de

acumulação, mas é, ao mesmo tempo, contínua no espaço e no tempo, é una sem ser

totalizante, é complexa, pois resulta sempre de uma mistura, um mosaico de tempos e objetos

datados. É então a disciplina que percebemos poder interpretar tal organismo, para sugerir

instrumentos de preservação da paisagem sem engessá-la e de tal forma se tornar suporte

desse processo que venha a diminuir a vulnerabilidade de uma paisagem patrimônio frente

aos impactos do tempo. Essa conclusão justifica nossa proposta de investigação do papel da

historicidade frente a paisagem e ao patrimônio, apresentadas nos itens a seguir.

2- HISTORICIDADE E PAISAGEM: a vivência da memória construída

A Escola Inglesa de Morfologia Urbana, fundada por MRG Conzen, geógrafo alemão,

desenvolve estudos para avaliar as transformações e permanências que influem na

conformação das cidades, com intuito de estabelecer parâmetros de planejamento e

possíveis intervenções no ambiente urbano. Essa escola compreende a historicidade como o

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atributo referente à capacidade de demonstração dos conteúdos históricos, culturais e sociais

que permanecem nas paisagens urbanas ao longo do tempo1.

Para Aristóteles, os atos de recordação se produzem quando uma mudança sobrevém após

outra, cuja sucessão pode ocorrer conforme necessidade ou hábito. (RICOUER, 2010). Nas

sociedades contemporâneas, em geral, o valor dedicado às questões econômicas em

detrimento às sociais provoca inúmeras mudanças e substituições, e cria dificuldades em

manter o sentido de continuidade, numa clara incompreensão dos valores de longo prazo.

Para MRG Conzen (2010), o início do desenvolvimento humano e a transformação parcial da

paisagem natural pelo homem socialmente organizado dá origem a uma paisagem cultural,

que apresenta mudanças:

Acumulação, transformação e substituição representam as mudanças dinâmicas das paisagens culturais. Elas são alteradas pela sociedade e mais particularmente pelos arranjos econômicos, nos quais representa, ao mesmo tempo, a variação funcional e geográfica distinta no modo de vida de qualquer civilização particular. Estas unidades da sociedade são grupos funcionais diversificados em si mesmos e organizados na superfície da terra para se adaptarem às condições geográficas. Como tais, eles formam o vínculo essencial entre a natureza e a civilização e são agentes de transformação da paisagem. As comunidades urbanas representam tais grupos sócio geográficos. (CONZEN, 2010)

A sociedade contemporânea apresenta característica de segregação, cujas marcas são a

alienação, o medo, o anonimato, o individualismo e a indiferença. O reflexo desse

comportamento é a ausência de um reconhecimento da própria história e pertencimento na

paisagem na qual se insere. Assim, o espaço vivido aporta um conceito que vai além: o lugar.

A ideia do Lugar tem um papel relevante na concepção do Genius Loci2, que corresponde ao

que o lugar é ou quer ser.

Nesse sentido, MRG Conzen (2010) adiciona o fato de que "a paisagem adquire existência

diferenciada da sociedade que a ocupa e, muito mais que refletir as suas aspirações atuais,

reflete também um processo histórico incompleto, cumulativo de todas as necessidades e

aspirações humanas sucessivas que se desenvolveram neste determinado habitat." Isto

expõe a relação do espaço-lugar com nossa consciência, despertar diário, em que esses

lugares de memória funcionam principalmente à maneira de estímulos à lembrança e reflexão.

O sentido de pertencimento inerente a uma comunidade e seu consequente envolvimento

com o espaço e com os indivíduos que a compõem, está, portanto, diretamente relacionado a

1 Definição extraída a partir de seminários em sala de aula na disciplina de Morfologia Urbana do MACPS/UFMG

oferecida por Stael de Alvarenga Pereira Costa e Manoela Netto no 1º semestre de 2013. 2 Conzen se utiliza desse conceito em 1960. Outros autores deram continuidade à sua aplicação no entendimento

da dicotomia espaço-lugar, sendo outro bastante conhecido o de NORBERG-SCHULZ: "Genius Loci é um conceito romano. De acordo com as crenças romanas qualquer ser 'independente' tem o seu 'genius', o seu espírito guardião. Este espírito dá vida às pessoas e aos lugares, acompanha-os do nascimento até a morte, e determina o seu caráter ou essência." NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius Loci: towards a Phenomenology of Architecture. New York:Rizzoli, 1984, p.18.

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esse contexto paisagístico que abriga o lugar de vida, nos dois sentidos da palavra.

Comportamentos e hábitos de cooperação, só se fortalecerão, combatendo a tendência

atuante na sociedade contemporânea, quando houver maior lucidez dessa consciência.

O espaço construído é também o espaço geométrico, mensurável e calculável; sua

qualificação como lugar de vida superpõe-se e se entremeia a suas propriedades

geométricas, da mesma forma como o tempo narrado tece em conjunto o tempo cósmico e o

tempo fenomenológico. (RICOUER, 2010).

A transição da memória corporal para a memória dos lugares é assegurada por atos tão importantes como orientar-se, deslocar-se, e, acima de tudo, habitar. [...] Assim, as ‘coisas’ lembradas são intrinsecamente associadas aos lugares. E não é por acaso que dizemos, sobre uma coisa que aconteceu, que ela teve lugar. É de fato nesse nível primordial que se constitui o fenômeno dos “lugares de memória”, antes que eles se tornem uma referência para o conhecimento histórico. Esses lugares de memória funcionam principalmente à maneira dos reminders, dos indícios de recordação, ao oferecerem alternadamente um apoio à memória que falha, uma luta na luta contra o esquecimento, até mesmo uma suplementação tácita da memória morta. Os lugares permanecem como inscrições, monumentos, potencialmente como documentos, enquanto as lembranças transmitidas unicamente pela voz voam, como as palavras. (RICOUER, 2010, p.57-58)

MRG Conzen (2010) conclui que, "por meio da historicidade, as paisagens culturais exercem

uma influência educativa e revitalizadora nas mentes e isto responde aos requisitos sociais

em longo prazo."

Buscamos em Kant e Pestalozzi uma sustentação da conclusão extraída por Conzen. Kant,

em seu conceito gnosiológico, "nosso conhecimento experimental é um misto do que

recebemos pelas impressões exteriores e do que a nossa própria faculdade de conhecer

extrai de si própria no momento dessas impressões"(CARDOSO,1972, p.29), alega que o

desenvolvimento sensorial, intelectual e moral do homem devem estar intimamente

articulados. Isso explica a base do método de Pestalozzi em alguns princípios: partir do

conhecido ao desconhecido; do concreto ao abstrato; do particular ao geral; da visão intuitiva

à compreensão geral. A base desse método foi a ideia de percepção sensorial. Para

Pestalozzi (1946, p. 63), “[...] a intuição da natureza é o único fundamento próprio e verdadeiro

da instrução humana, porque é o único alicerce do conhecimento humano”. Desse modo, o

mais importante não é ensinar determinados conhecimentos, mas desenvolver a capacidade

de percepção e observação. Os sentidos devem entrar em contato direto com os objetos.

Para Bergson (1993), intuição é conhecimento e sua atenção se dedica de forma particular à

expressão da intuição:"a intuição, como todo pensamento, acaba por alojar-se em conceitos

[...] e ela não se comunicará senão pela inteligência". Assim sendo o termo intuição usado por

Pestalozzi não pode ser confundido com percepção simples, mas sim como um trabalho

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mental em que o próprio aluno compreende os conceitos, inicialmente através da percepção

pelos órgãos dos sentidos, mas que, como ato contínuo, é desenvolvido um trabalho de ação

mental ou, na moderna linguagem de Piaget, de construção mental. O pensamento intuitivo é

essencialmente fruto da síntese mental. A grande similaridade de pensamento entre a base

conceitual de Piaget com a estrutura metodológica de Pestalozzi, proporciona a associação

desses dois intelectuais na sustentação da educação entendida nesse trabalho. Piaget é

também referenciado no campo da Geografia da Percepção, que possui linha de pensamento

que define "a paisagem a partir da consideração de um espaço subjetivo, sentido e vivido, um

espaço de cada ser humano, um espaço individualizado." (BLEY, 1999, p.125). Para Collot

(1986), não se pode falar de paisagem a não ser a partir de sua percepção: "a paisagem se

define como um espaço percebido. [...] Na percepção da paisagem, o sujeito não se limita a

receber passivamente os dados sensoriais, mas os organiza para lhes dar sentido. A

paisagem percebida é, portanto, também construída e simbólica." (BLEY, 1999, p.125).

Oliveira aponta que as diferenças básicas entre percepção e inteligência podem depender das

relações entre sujeito e objeto:

A percepção estará sempre ligada a um campo sensorial e ficará, consequentemente, subordinada à presença do objeto, que lhe fornece um conhecimento por conotação imediata. A inteligência pode invocar o objeto em sua ausência, mediante a função simbólica, e, quando o objeto está presente, ela o interpreta pelas ligações imediatas, elaboradas graças aos quadros conceituais de que o sujeito dispõe. (OLIVEIRA, 1999, p.203)

A abordagem construtivista trazida por Piaget defende que o homem modifica o mundo e se

modifica. "Ao agir sobre o meio, o indivíduo incorpora a si elementos que pertencem ao meio.

Através desse processo de incorporação, chamado por Piaget de assimilação, as coisas e os

fatos do meio são inseridos em um sistema de relações e adquirem significação para o

indivíduo." (FONTANA, 1997, p.45). Dessa forma, a proposta de Pestalozzi, com muita

similaridade à de Piaget, determina uma função para a historicidade, aplicando-a como parte

do reconhecimento de uma memória coletiva - trabalha com conteúdos integrados, em que

um assunto se liga a outro, o que permite rápida associação de ideias e a compreensão global

de um determinado fenômeno. No nosso caso, esse fenômeno é a própria cidade, ou mais

pontualmente, a paisagem que nela se insere, que mais rica se torna quanto maior for a

possibilidade de detecção de seus conteúdos precedentes.

A morfologia urbana visa reconhecer, através da forma, os valores nela embutidos. Valores

são reflexos da ideologia de um tempo e de uma sociedade. A junção de formas que refletem

a evolução dos tempos no espaço físico, contará, pois, também, a evolução dos valores que

refletem o caminhar de determinada sociedade no tempo. A prática de valores representa a

ação dos mesmos no espaço, o que permite reconhecer os hábitos embutidos na forma. Falar

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de educação, no contexto desse trabalho, é então falar de um conjunto de hábitos a serem

adquiridos de maneira a projetarmos a perspectiva de vida que desejemos.

Por isso é que sugerimos como base o método intuitivo de Pestalozzi, pois esse

caracteriza-se por oferecer dados sensíveis à observação, com ênfase no contato direto

com a natureza e à observação da paisagem. (PESTALOZZI, 1946). Nele se reconhece a

importância da preservação da memória e da presença da historicidade na conformação física

da cidade, espaço concreto, lugar afetivo em que vivemos.

Para Ricouer (2010, p.159) no espaço habitado, na escala do urbanismo é que melhor se

percebe o trabalho do tempo no espaço. Uma cidade se dá ao mesmo tempo a ver e a ler. A

cidade oferece espaço de deslocamento, de aproximação e de distanciamento. "Os mais

memoráveis lugares não pareceriam capazes de exercer sua função memorial se não fossem

também sítios notáveis no ponto de inserção da paisagem e da geografia. Em resumo, os

lugares de memória seriam os guardiões da memória pessoal e coletiva se não

permanecessem “em seu lugar”, no duplo sentido do lugar e do sítio?" (RICOUER, 2010,

p.59-60).

Com essa última questão levantada por Ricouer, destaca-se a relevância do sítio. Assim

propõe-se a apresentação de um lugar que foi considerado em 2012, patrimônio mundial pela

UNESCO, pelo destaque de seu valor universal frente à humanidade. O item a seguir

apresentará o patrimônio compartilhado de Rabat, capital do Marrocos e refletirá sobre o

reconhecimento da historicidade pela UNESCO, como valor patrimonial.

3- HISTORICIDADE E PATRIMÔNIO: a historicidade como valoração no

reconhecimento do Bem Cultural como patrimônio mundial pela UNESCO

O Marrocos possui nove bens culturais tombados como Patrimônio Mundial pela UNESCO,

tendo sido o mais recente Rabat, cidade capital, pelo simbolismo e diversidade de tradições

ligadas ao patrimônio cultural das populações.

Rabat situa-se na parte noroeste do país. Ergue-se na costa nordeste do Oceano Atlântico, na

foz do rio Bouregreg, frente à cidade "gêmea" Salé. O território de Rabat é constituído de uma

vasta planície, com leve declividade direcionada para o litoral. A seguir mapas com

localização geográfica de Rabat.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Figura 01: Localização de Rabat.

Fonte:http://www.google.com.br/search?q=marrocos&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=uFTpUekzhOjyBMKlgLAH&sqi=2&ved=0CAcQ_AUoAQ&biw=1518&bih=666. Acesso em: junho de 2013 e Ministério da Cultura - Direção do Patrimônio de Rabat. Relatório completo UNESCO, Rabat, capital moderna e cidade histórica. Janeiro, 2011.

Para ser incluído na Lista do Patrimônio Mundial, os sítios devem ser de valor universal

excepcional e atender a pelo menos um dos dez critérios de seleção estabelecidos pela

UNESCO3. As informações apresentadas aqui fazem parte do relatório produzido pelo país e

entregue à UNESCO em 2011 para inscrição e avaliação do seu patrimônio4. Rabat atendeu

aos critérios II e IV, segundo relatório apresentado pela International Council on Monuments

and Sites (ICOMOS) 1401.

O critério II corresponde a: apresentar intercâmbio significativo de valores humanos, sobre um

período de tempo ou dentro de uma área cultural, frente aos desenvolvimentos arquitetônicos

ou tecnológicos, aos monumentos artísticos, aos desenhos urbanos ou paisagísticos.

Esse critério foi justificado pelo Estado inscrito, Marrocos, com o fundamento de que a

propriedade é considerada um excelente exemplo da arquitetura do século 20, num momento

em que as ideias modernistas estavam ganhando terreno em todo o mundo. O sítio proposto é

testemunho da disseminação de conceitos urbanos originários da Europa no Magrebe que,

por sua vez, exerceu influência na região do mediterrâneo, nos primórdios do século 20, com

a arquitetura nativa e arte decorativa locais. Como síntese dos elementos europeus e

3 A lista com os dez critérios pode ser encontrada no site da Unesco: http://whc.unesco.org/en/criteria/ e são

explicados no Operational Guidelines for the Implementation of the World Heritage Convention. 4 O relatório completo encontra-se disponível no site da UNESCO [http://whc.unesco.org/en/list/1401/documents/].

Acesso em: abril, 2014.

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marroquinos, o sítio adquiriu um caráter distinto, cuja capacidade de demonstração e

convivência dos conteúdos históricos, culturais e/ou sociais que permaneceram na paisagem

urbana ao longo do tempo apresenta o Genius Loci do lugar. A historicidade se mostra através

das diversas camadas referentes a cada período histórico e evolutivo. A ICOMOS considerou

o critério justificado.

O critério IV corresponde a: ser um excelente exemplo de um tipo de construção, conjunto

arquitetônico ou tecnológico, ou paisagem que ilustre estágio(s) significativo(s) da história

humana.

Esse critério foi aceito pela ICOMOS por ter sido considerado um exemplo excepcional de

capital modernista no século 20, legado de diversas e sucessivas culturas. Demonstrou

também a adaptação de materiais e técnicas tradicionais nos edifícios públicos modernos,

aliados ao uso de materiais contemporâneos, com linguagem distinta, para que o contraste

declarasse os diferentes períodos. A interação entre presente e passado oferece um conjunto

urbano de qualidade incomum.

Dos dez critérios estabelecidos pela UNESCO, esses dois critérios são justamente aqueles

que reconhecem a historicidade enquanto valor adquirido de um bem cultural. Dessa forma,

para compreensão do leitor quanto à nossa afirmativa sobre a presença da historicidade em

Rabat e reconhecida nesses dois critérios, apresentaremos a capital, de forma a elucidar os

diversos tempos evolutivos presentes na sua forma urbana, e as marcas deixadas em seu

espaço físico no tempo.

O desenvolvimento da cidade

A ocupação humana, que remonta à vestígios da civilização pré-histórica, apresenta

evidências de continuidade pelos traços de vários períodos e presença de monumentos

diversos, reflexos das culturas africanas, mediterrâneas, orientais e europeias. O quadro a

seguir apresenta a evolução da cidade de Rabat-Salé nos períodos históricos mais

marcantes, que deixaram registros físicos na cidade, ainda presentes em 2014.

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Quadro 01: Quadro evolutivo da cidade de Rabat.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Fonte: Dr. Es-Semmar, Diretor de Patrimônio da Agência do Bouregreg. Julho: 2011 e Ministério da Cultura - Direção do Patrimônio de Rabat. Relatório completo UNESCO, Rabat, capital moderna e cidade histórica. Janeiro, 2011.

O patrimônio mundial

O mapa abaixo (FIG.2) apresenta a delimitação do perímetro proposto enquanto exemplo

significativo de intercâmbio de valores humanos durante um período de tempo, numa

determinada área cultural. A área em laranja é a área delimitada para tombamento e a área

em azul é a zona tampão para proteção e preservação da área proposta.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Figura 02: Delimitação do perímetro de inscrição do patrimônio compartilhado de Rabat na UNESCO.

Fonte: Ministério da Cultura - Direção do Patrimônio de Rabat. Relatório completo UNESCO, Rabat, capital moderna e cidade histórica. Janeiro, 2011.

As razões listadas e exemplificadas como justificativa de valor universal excepcional que

constam no relatório de avaliação apresentado pela ICOMOS são apresentadas a seguir. O

conjunto de justificativas contribui para o entendimento da historicidade presente nesse sítio,

exemplificando esse atributo enquanto capacidade de demonstração dos conteúdos

históricos, culturais e sociais, ainda que no caso desse trabalho, seja de forma simplificada.

Quadro 02: Justificativa do valor universal excepcional.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

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Fonte: Ministério da Cultura - Direção do Patrimônio de Rabat. Relatório completo UNESCO, Rabat, capital moderna e cidade histórica. Janeiro, 2011.

O fato desse bem cultural ter obtido o reconhecimento como patrimônio mundial pela

UNESCO, faz com que a ele se agregue um valor. Segundo Bley,

A questão do valor da paisagem [...] é muito complexa. Uma corrente filosófica afirma que o homem, em todos os atos e ante todos os fatos, define, analisa, aceita ou rejeita, isto é, realiza uma valoração. Essa valoração é uma apreciação de valores, um juízo de valor. Os juízos de valor enunciam algo que não se junta nem se tira da existência e da essência do objeto. Os axiólogos mais modernos afirmam que 'os valores não são, os valores valem'. (BLEY, 1999, p.126)

Ampliando a reflexão, se os valores valem e os critérios da UNESCO apontam valor para a

historicidade, então a existência desse atributo passa a ser uma possibilidade de educação,

tanto patrimonial quanto do próprio indivíduo, que pode passar a se reconhecer como parte de

uma cultura e de uma determinada sociedade. Um momento que se faz oportuno para que

possamos usufruir dessa compreensão para conscientização e consolidação de hábitos

coerentes com os requisitos sociais de longo prazo.

Além disso, o valor sobre a historicidade na paisagem para reconhecimento de sua

excepcionalidade indica uma qualidade desejável e necessária num mundo que, por algum

tempo cultivou (e ainda cultiva), o hábito do descartável e substituível trazido pela era

moderna e tecnológica. Assim como também o valor da unicidade do lugar, em detrimento da

massificação do espaço reproduzido pela globalização reinante. O caráter único de uma

paisagem ressalta também a relação da obra contínua entre homem e natureza de uma

civilização particular.

Ficam assim alguns questionamentos:

Do que precisa uma paisagem reconhecida como patrimônio histórico pela UNESCO, com

permanência de características excepcionais e cuja interação com o sítio natural pode vir a

ser demonstrada, para ser também reconhecida como Paisagem Cultural?

Até que ponto a presença da historicidade cria a possibilidade de uma conscientização e

educação do ser? Essa educação pode ser medida? Pode ser despertada e incentivada?

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4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espaço habitado aporta possibilidade de recordação enquanto reconhecimento ativo da

memória coletiva e história do lugar no ser em si mesmo. Os lugares de memória, capazes de

demonstrar conteúdos históricos, culturais e sociais incorporados nas paisagens urbanas ao

longo do tempo, são lembretes vivos do aprendizado do homem, de uma determinada cultura,

na Terra. Viver permeado de tais conteúdos desperta a capacidade de percepção e

observação, ativando os sentidos, processo intuitivo educativo trazido por Pestallozzi. Pela

percepção (aprendizado) através das impressões exteriores, exercitamos, ativamente, nossa

própria faculdade de reconhecer em si mesmo os conhecimentos trazidos em estado latente.

Isso se torna possível pelo sentido de pertencimento e continuidade que um determinado

Genius Loci produz e oferece ao espírito. Nesse sentido se confirma a crença de Platão,

aprender é recordar. E da mesma forma se confirma a historicidade enquanto valorização da

memória e oportunidade de educação, de conformação de novos hábitos.

A reflexão sobre essa relação, memória, historicidade e educação, pode contribuir para

práticas de preservação conscientes nas paisagens urbanas, incluindo a própria população no

processo. O reconhecimento da historicidade contribui para um despertar de consciências,

primeiro passo para a construção de novas ações, novos valores, que possam corresponder

aos requisitos de longo prazo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio recebido da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais

-FAPEMIG, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Cientifico- CNPQ e

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES para o

desenvolvimento desta pesquisa e apresentação deste artigo.

REFERÊNCIAS BERGSON. La pensée et le mouvant. Essais et Conférences [1938]. Paris: Quadrige/PUF, 1993, p.31 e 42. BLEY, Lineu. Morretes: um estudo de paisagem valorizada. In: Percepção Ambiental - a experiência brasileira. Organização de Vicente Del Rio e Lívia de Oliveira. São Carlos: Editora da UFSCar, 1999.

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