paisagem como categoria de análise geográfica

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  • 7/25/2019 Paisagem Como Categoria de Anlise Geogrfica

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    Eugnia Maria Dantas

    Ione Rodrigues Diniz Morais

    Organizao do EspaoD I S C I P L I N A

    Paisagem como categoriada anlise geogrfica

    Autoras

    aula

    05Material APROVADO (contedo e imagens) Data: ___/___/___

    ome:_______________________________________

    VERSO DO PROFESSORVERSO DO PROFESSOR

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    Copyright 2008 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorizao expressa daUFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraba.

    Diviso de Servios Tcnicos

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    Carolina Costa (UFRN)Diagramadores

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    Aula 05 Organizao do Espao 1

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    Apresentao

    N

    esta aula, vamos refletir sobre a paisagem como categoria de anlise geogrfica. Aabordagem est ancorada em reflexes que apresentam a trajetria desse conceitono mbito da cincia geogrfica, mostrando as vertentes terico-metodolgicas

    envolvidas. Assim, analisa a dialtica presente na dinmica do visvel e do invisvel compondoa interpretao paisagstica; discute a oposio entre paisagem natural x paisagemtransformada, problematizando essa questo e sua validade para se compreender a relaohomem/natureza no contexto das transformaes espaciais contemporneas; e, por fim, demaneira a estimular a reflexo autnoma do aluno, sugere alguns temas de pesquisa quepodem ser desenvolvidos pelo aluno.

    ObjetivosCompreender o conceito de paisagem a partir dediferentes perspectivas terico-metodolgicas.

    Analisar a dialtica da paisagem presente na dinmicado visvel e do invisvel.

    Refletir sobre a validade das definies de paisagemnatural e humanizada no contexto da cinciageogrfica atual.

    Aplicar o contedo conceitual em situaes-problema.

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    Aula 05 Organizao do Espao2

    Atividade 1

    Iniciando um caminho...

    C

    omo j dissemos, esta aula traz como tema a paisagem. Voc j estudou a respeitodo espao como objeto e conceito da cincia geogrfica. Agora, vai adentrar pelosmeandros da Geografia, tendo inicialmente por guia a viso, o tato, a audio e o

    olfato, possibilitando o encontro com as formas geogrficas.

    Todos os dias, ao sair de casa, voc se depara com um conjunto de elementos quefacilitam, disciplinam ou impedem o seu trajeto. So ruas, pontes, semforos, caladas,carros, pessoas, bicicletas, rvores, animais etc. que se impem combinando-se ao seupasso, a sua escuta, a sua viso e ao seu olfato.

    Assim, pare e pense sobre um trajeto feito diariamente e reflita como os seus sentidosso acionados para fazer esse percurso.

    Ser que voc consegue distinguir cheiros, sons, cores e texturas no compasso que oseu p levado a ter ao colocar-se em contato com o espao?

    Registre aqui a sua experincia.

    Tipos de cheiros Tipos de sons Tipos de cores Tipos de texturas

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    Aula 05 Organizao do Espao 3

    Voc deve estar se perguntando em que essa tarefa se relaciona com o tema da nossa aula.Pois muito bem, ela um desafio leitura da paisagem, na medida em que exige de cada umo esforo para estranhar aquilo que mais familiar, e de distinguir o que parece homogneo.Voc foi estimulado a colocar-se diante do mundo, de corpo e alma, para experimentar assensaes que, possivelmente, foram adormecidas pela tirania da repetio.

    Para estudar a paisagem, necessrio:

    n olhar aquilo que mais familiar, como se estivesse diante de algo estranho;

    n descrever o que visto, aproximando as sensaes de familiaridade estranhamentodos elementos mveis e fixos na cena;

    n revelar cores, odores, texturas e sons que, misturados, compem a morfologia, guiandoo olhar a identificar, na homogeneidade da cena, a heterogeneidade das formas.

    Assim, o sujeito se relaciona com a paisagem em seu movimento cotidiano de ir e

    vir, seja na cidade ou no campo, na rua ou na casa, no bairro ou na vila. Os objetos fixos emveis se (re)organizam, compondo o cenrio em que se desenrola a vida, em processos deredefinies scio-ambientais e afetivas.

    Outras experincias no meio do caminho...

    A experincia do homem com a natureza criando cenrios geogrficos descrita esentida de formas distintas. A voc, foi sugerido vivenciar essa prtica de estranhar o familiar.Vamos apresentar agora algumas experincias que tiveram no espao o ponto de encontro,

    interseco, intervalo, dvida... do corpo e da alma.

    A casa materna,do poeta brasileiro Vincius de Morais, faz surgir as imagens impressasna memria da casa materna como se fosse um reservatrio de lembranas e sentimentos quepermanecem e do ritmo ao olhar que volta para encontrar, na forma, a vida que a faz pulsar.Leia o texto e perceba como o poeta utiliza o jogo da descrio, trazendo tona o detalhe.

    H, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portotm uma velha ferrugem e o trinco se encontra num lugar que s a mo filial conhece. Ojardim pequeno parece mais verde e mido que os demais, com suas palmas, tinhorese samambaias, que a mo filial, fiel a um gesto de infncia, desfolha ao longo da haste.

    sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mos filiais sepousam sobre a mesa farta do almoo, repetindo uma antiga imagem. H um tradicionalsilncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado,sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmasmanchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como empreces, nos mesmos lugares onde as situaram as mos maternas quando eram moase lisas. Rostos irmos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderemmudamente. O piano fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repeteainda passadas valsas, de quando as mos maternas careciam sonhar.

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    Aula 05 Organizao do Espao4

    A casa materna o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admiravaao tempo em que tudo era belo: o licoreiro magro, a bandeja triste, o absurdo bibel.E tem um corredor escuta, de cujo teto noite pende uma luz morta, com negrasaberturas para os quartos cheios de sombra. Na estante junto escada h um Tesouroda juventude com o dorso pudo de tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viua forma grfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema da beleza: o verso.

    Na escada h o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presena dos passos

    filiais. Pois a casa materna se divide em dois mundos: o trreo, onde se processa a vidapresente, e o de cima, onde vive a memria. Embaixo h sempre coisas fabulosas nageladeira e no armrio da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas-espadas,untuosas compotas, bolos de chocolate, biscoitos de araruta - pois no h lugar maispropcio do que a casa materna para uma boa ceia noturna. E porque uma casa velha, hsempre uma barata que aparece e morta com uma repugnncia que vem de longe. Emcima ficam os guardados antigos, os livros que lembram a infncia, o pequeno oratrio emfrente ao qual ningum, a no ser a figura materna, sabe por que queima s vezes uma velavotiva. E a cama onde a figura paterna repousava de sua agitao diurna. Hoje, vazia.

    A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violo dorme encostado

    junto vitrola. Seu corpo como que se marca ainda na velha poltrona da sala e como quese pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para sempre de suacasa materna, a figura paterna parece mergulh-la docemente na eternidade, enquantoas mos maternas se fazem mais lentas e as mos filiais ainda mais unidas em torno grande mesa, onde j agora vibram tambm vozes infantis. (MORAES, 1991).

    Do Brasil contemporneo, voltamos Renascena do sculo XIV. L encontramos Aascenso ao Monte Ventoux, do Petrarca, poeta italiano, considerado pelos estudiosos dapaisagem uma pedra fundamental. Aqui sintetizamos algumas idias apresentadas por Jean-Marc Besse (2006) sobre esse poeta, no artigo Petrarca na montanha: os tormentos daalma deslocada. Para esse autor, por meio dessa descrio inaugura-se uma nova forma dever a paisagem pautada pelo distanciamento do sujeito do cenrio que o envolve. Ao escalara montanha para simplesmente verificar o que poderia ser visto do seu cimo, teria sido oprimeiro a encontrar a frmula da experincia paisagstica, no sentido prprio do termo: ada contemplao desinteressada, do alto do mundo natural, aberto ao olhar (BESSE, 2006,p. 1/2). Petrarca, ao eleva-se para um ponto mais alto, toma a distncia necessria para vera natureza por ele mesmo, na mesma medida em que se pe dentro dela como se estivessea ritualizar uma peregrinao espiritual. Ao chegar ao cume e experimentar as primeirassensaes que ela provoca, parece elev-lo a certeza de uma assuno e uma confirmaodo espao intelectual inicial no qual Petrarca inscreveu sua empresa, a da busca da grandeza

    da alma, que obtm no exerccio de olhar o mundo do alto (BESSE, 2006, p. 5). Esseexerccio vai ser configurado por um processo de tenso entre viver e conhecer, mediadopela curiosidade. Assim, olhar a paisagem repousar sobre um ambiente para desvelar assuas entranhas, mantendo-se distante dele para ver aquilo que no nos diz respeito. Noentanto, ao desejar isentar-se do espao para ver melhor, o poeta no extingue as marcasque a paisagem vai imprimindo na alma de maneira que se pode sintetizar a ambivalncia dafamiliaridade e estranhamento na descrio da paisagem por meio da seguinte afirmao:enfim, experimentei quase tudo e em nenhum lugar encontrei repouso. O que de fato

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    Aula 05 Organizao do Espao 5

    Petrarca encontra ao contemplar a paisagem? Ele encontra um intervalo, uma distnciatanto no aspecto geogrfico quanto temporal, os quais no podem ser suprimidos, apenaspercorridos pelo olhar e pela reflexo. A separao vivida em dois planos: o topogrfico,do aqui e dali, e o cronolgico, do presente e do passado. (BESSE, 2006, p. 6)

    A partir dos dois relatos, o ambiente se releva por meio do sujeito que olha, contempla,sente, distancia-se e aproxima-se do cenrio visto. Temos a experincia registrando o

    encontro do homem com a fisionomia, levando-os a criar representaes de sua superfciecomo se fosse possvel fazer cpias do mundo visto.

    Voc j estudou noes bsicas de cartografia e sabe que o mapa uma tentativanessa direo. Sabe tambm, estudando Introduo Cincia Geogrfica, que a Geografia

    herdeira da cartografia e das narrativas de viagem, de maneira que, mesmo estando distantessculos dessa tradio, ainda permanece como se fosse uma marca gentica no exerccio dogegrafo a ateno aos signos do mundo, incrustados nas distintas formas espaciais. Assim,na grade de comunicao com a semitica do espao, a paisagem uma representao quedeve ser contemplada pelo sujeito. Nesse sentido, o indivduo, de forma intencional ou no,a representa como espao do qual preciso se afastar, ou em relao ao qual preciso seelevar para apreend-la como imagem. Contemplar a paisagem se efetiva em um prazeresttico em que o olhar capta a ordem do mundo que se faz visvel. Ou seja,

    tudo se passa como se justamente fosse preciso no est ocupado com o trabalho para

    estar em condies de apreender visualmente a paisagem como tal. Como se fossenecessrio colocar o mundo distncia ou, mais exatamente, colocar-se distnciado espao terrestre para perceb-lo em sua dimenso de paisagem. Como se nohouvesse paisagem a no ser na distncia de um olhar por assim dizer exterior, se noestrangeiro, um olhar que passa e julga (BESSE, 2006, p. 35).

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    Aula 05 Organizao do Espao6

    Atividade 2

    A partir das experincias narradas, podemos apresentar algumas dimenses que estopresentes na paisagem. Quais sejam:

    1) a dimenso fsica e objetiva limitada aos elementos que esto na superfcie e que podemser vistos pelo homem;

    2) a dimenso humana, subjetiva e contemplativa que diz respeito ao encontro do homem

    com essa superfcie, provocando sensaes de familiaridade e estranhamento;

    3) a dimenso representacional e imagtica que se apresenta como uma objetivao darelao entre a dimenso fsica e humana, configurando-se em elaboraes sintticas domundo visto e sentido;

    4) as dimenses tica e esttica que se referem s aes e ao prazer estabelecidos a partirdas concepes e interaes do homem com a superfcie terrestre.

    Agora vamos refletir e praticar mais um pouco!

    Veja a fotografia a seguir.

    a) Identifique os elementos presentes na fotografia que compem a paisagem.

    b) A partir dos elementos identificados e tendo por parmetro as dimenses presentes napaisagem, anteriormente definidas, faa uma descrio da imagem.

    c) A partir da resoluo das questes a) e b), das reflexes at ento apresentadas e dasua percepo, o que paisagem?

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    Aula 05 Organizao do Espao 7

    sua

    re

    sposta

    a)

    b)

    c)

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    Aula 05 Organizao do Espao8

    O que paisagem?

    Vamos colocar a sua definio em contato com outras abordagens para que voc sejacapaz de reorganizar as suas idias, ampliando a sua percepo inicial.

    At o sculo XVI, no se conhecia a paisagem em uma dimenso esttica, ou seja, comouma imagem a ser refletida, contemplada e sentida. Ela estava imersa na noo de pas ou nafrao de espao identificado por territrio, ou ainda, em um lugar do ponto de vista de suascaractersticas fsicas, humanas e econmicas. Ao se confundir com base fsica do espao, apaisagem at ento se aparentava com a materialidade revelada de imediato ao sujeito, que,por sua vez, atrelava a feio prtica e ao uso da forma. Nessa perspectiva, a paisagem eraentendida como espao objetivo da existncia, mais territorial e geogrfica do que esttica. ,somente, a partir do sculo XVII, com a pintura, que vai aparecer o valor esttico da paisagem,alimentando-se da imaginao e da contemplao. Com essa ampliao, o inventrio dasimagens da Terra so ressignificados, trazendo tona um vasto quadro que aparece a partir

    dos caminhos feitos pelo olhar. At o sculo XVIII, a percepo estava atrelada pintura e arte e representava o stio lugar visto. Tomada pelo individuo, a paisagem forma eaparncia. Seu verdadeiro contedo s se revela por meio das funes sociais que lhe soconstantemente atribudas no desenrolar da histria (LUCHIARI, 2001, p. 13). Ou melhor,

    A paisagem denotada pela morfologia e conotada pelo contedo e processo decaptura e representao. A paisagem como representao resulta da apreenso do olhardo indivduo, que, por sua vez, condicionada por filtros fisiolgicos, psicolgicossocioculturais e econmicos, e da esfera da rememorao e da lembrana recorrente.A paisagem s existe a partir do indivduo que organiza, combina e promove arranjos

    do contedo e forma dos elementos e processo, num jogo de mosaicos [...] Assima paisagem tem sua existncia condicionada pela capacidade do indivduo reter,reproduzir e distinguir elementos significativos (culturais ou naturais, circunstanciais ouprocessuais, adventcios ou genunos, entre outros aspectos) desse mosaico construdo.A paisagem evoca significados a partir dos signos e valores atribudos. Esses signosassumem amplo espectro de propriedades e escalas numa grade semntica prpria.(GOMES, 2001, p. 56/57).

    Assim, a paisagem se define como sendo tudo aquilo que ns vemos, o que nossaviso alcana. Pode ser circunscrita ao domnio do visvel, daquilo que a nossa visoconsegue abarcar de um s lance. No formada somente de volumes, mas tambm de

    cores, movimentos, odores, sons e texturas.

    Nessa perspectiva, os limites da paisagem so dados pelo olhar e pela localizao dosujeito com relao linha do horizonte. A paisagem assume escalas distintas aos nossosolhos a partir do ponto em que nos encontramos. O que se revela est de acordo com acapacidade de perceber, sentir, escutar e tocar. Na leitura da paisagem, os sentidos soaguados para ativar a percepo, por isso o aparelho cognitivo tem importncia capital,posto que regula e filtra a extenso das sensaes para um campo representacional em queinterferem o capital cognitivo acumulado no processo de formao do sujeito.

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    Aula 05 Organizao do Espao 9

    A abordagem da paisagem no seio da Geografia institui a sua ascenso no patamarda Cincia. No entanto, desde a Antiguidade, ela est presente nos registros de filsofos-matemticos, considerados tambm gegrafos, que construam representaes dasuperfcie terrestre, procurando detalhar as suas singularidades e movimentos. A corografiapraticada por Estrabo um exemplo disso. Humbolt e Ritter, sculos depois, ao sedebruarem para encontrar uma explicao para a dinmica da Terra, tambm traziam como

    ponto de partida a descrio do cenrio que lhe chegava por meio da viso e das experinciasque se estabeleciam com esse mundo visto. Assim, a Geografia partia da descrio dosaspectos fsicos ou naturais, sentidos e percebidos pelo olhar. Os gegrafos do final dosculo XIX e das primeiras dcadas do sculo XX vo fazer uso das mesmas estratgias paraprocurar consolidar a Geografia no espao cientfico.

    No entanto, cabe destacar que, nesse perodo, a Cincia assume contornos distintos,aprofundando o racionalismo como meio para se chegar a um conhecimento verdadeiro. Destafeita, h que reduzir as interferncias subjetivas provocada pelo olhar. E assim, ao assumir adescrio e o olhar como meio de ascenso ao conhecimento, cincia geogrfica, ressalva-

    se ser necessrio contemplar, mas como o legtimo interesse de conhecer. Portanto, o olharno despretensioso, mas erudito, alicerado em teorias e procedimentos metodolgicos.Olhar, descrever, comparar e analisar constituem mecanismos de objetivao paracompreender a singularidade da Terra, revelada em suas mltiplas paisagens. A Geografiatoma a materialidade da paisagem como uma objetivao analtica que impede o sujeito dacincia de se enganar. dessa perspectiva que o vis positivista se instaura, alimentandoespritos como Ratzel e La Blache.

    Para Ratzel, preciso compreender a dinmica da natureza para entender a dinmicahumana. O homem se faz como tal na natureza, sendo necessrio encontrar a explicao

    para essa relao. Nesse sentido, a natureza exerce uma ao poderosa que se manifestaatravs de todas as fases da histria, bem como em todas as esferas da vida. O homemse v como espcie livre, mas na realidade ele servil, pois como as razes que fixam asplantas ao solo, o homem tambm est preso ao solo que recebeu de herana. Assim, oponto de partida para compreender esse processo de servido parte da observao danatureza, das condies objetivas que se revelam inicialmente ao olhar de um observadorerudito. Desvendar a dinmica dos elementos naturais o caminho para estabelecer as leisexplicativas da dinmica do homem na paisagem natural, pois este visto como mais umelemento da natureza a compor o cenrio geogrfico.

    Em La Blache,a paisagem a revelao da Terra como um organismo em equilbrio. Ohomem ao interferir na natureza cria o meio geogrfico, e a partir da observao e descriodesse meio que podemos compreender a dinmica a Terra. Assim, a paisagem assumeimportncia central, sendo a porta de entrada do gegrafo para fazer o inventrio da Terra. Olhare descrever, comparar e sintetizar constituem ferramentas bsicas para a leitura da paisagem.

    Em relao perspectiva cultural de Carl Otto Sauer para ampliarmos mais umpouco essa discusso , podemos ainda trazer tona a idias de Carl Otto Sauer, gegrafo

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    Aula 05 Organizao do Espao10

    americano do sculo XX, que problematizou e discutiu a cincia geogrfica, colocandoluzes sobre a morfologia da paisagem. Para ele, a paisagem deve ser o objeto da cinciageogrfica, sendo concebida como uma associao de formas, fsicas e culturais, resultadode um longo processo de constituio e diferenciao de um espao (GOMES, 1996, p,231). Sauer sublinha a importncia da anlise da estrutura e das funes de cada paisagem,que deve ser vista sobre um plano sistemtico e geral, em que possa ficar evidente a

    estrutura metodolgica e terica, possibilitando analisar os elementos significativos naestruturao da paisagem e criando tipologias morfolgicas. A partir das tipologias, possvel compreender a diferenciao regional, objeto ltimo da Geografia. Para Sauer, apaisagem forma-se da combinao de elementos naturais e humanos. Assim, ela pode serclassificada em paisagem natural e artificial, na medida em que o homem se defronta coma natureza, estabelece uma relao cultural, que tambm poltica e tcnica. Dessa relaocultural, o espao geogrfico assume feies distintas, sendo estas resultado dos diferentesnveis de interveno humana.

    No que diz respeito viso dialtica de Milton Santos, a percepo um processo

    seletivo de apreenso da realidade. Se a realidade apenas uma, cada pessoa a v de formadiferenciada; dessa forma, a viso pelo homem das coisas materiais sempre deformada(SANTOS, 1994, p. 62). Assim, para esse terico, a percepo apenas o primeiro dispositivoque nos permite ver a paisagem, no conhecimento da mesma. O que o homem v apenas sua forma e aparncia, no distinguindo pelo olhar o que a constitui. A percepoque estimula a viso representa apenas a entrada na anlise que desvela o contedo. Paraadentrar seu significado, necessrio ultrapassar a forma vista, o seu aspecto visvel, sendonecessrio ultrapassar a aparncia para conhecer a sua essncia ou gnese. necessrio, paraisso, compreender a dinmica da produo de uma sociedade historicamente organizada. A

    proposio de Milton Santos est apoiada em uma perspectiva dialtica de leitura do espaoem que a relao homem/natureza se d pela mediao da tcnica e do trabalho, ainda emSantos (1994, p. 66), verifica-se que a noo de

    paisagem no se cria de uma s vez, mas por acrscimos e substituies; a lgicapela qual se fez um objeto no passado era a lgica da produo daquele momento.Uma paisagem uma escrita sobre a outra, um conjunto de objetos que tm idadesdiferentes, uma herana de muitos diferentes momentos.

    Dessa perspectiva, depreende-se que para alm das sensaes iniciais que mobilizamo sujeito este deve tomar o distanciamento necessrio para reconhecer na forma o

    contedo, e desta maneira, conhecer a adentrar nos sistemas tcnicos e sociais que movema transformao da natureza primeira em segunda Natureza. A paisagem geogrfica afisionomia que assume a segunda natureza, marcada pelas contradies sociais, econmicase culturais que moldam a sociedade capitalista.

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    Aula 05 Organizao do Espao 11

    A perspectiva fenomenolgicade Eric Dardel

    Nesta abordagem a percepo o meio e o fim do conhecimento, pois o mundo

    no exterior, nem abstrato a vida do sujeito, sempre uma experimentao, umavivncia, ou como sugere Merleau Ponty, o mundo no aquilo que penso, mas

    aquilo que eu vivo. A fenomenologia prioriza o ser no mundo. Assim, a paisagem, nessavertente, resulta da geograficidade perene nas diversas maneiras pelas quais sentimos econhecemos em todas as suas formas. Originalmente, a Geografia um prolongamentoda experincia, em que a paisagem uma dimenso da condio humana de habitar. uma fora imanente que transforma todos os homens em seres topolgicos. A funo dapaisagem se precisa ento: ela permite manter uma relao viva entre o homem e a naturezaque o envolve imediatamente. A paisagem desempenha o papel de mediao, que permite a

    natureza subsistir como mundo para o homem (BESSE, 2006 p. 82). Assim, a Geografia,tem o seu valor positivo como cincia, mas representa tambm um elo fundamental dohomem com a natureza.

    A paisagem geogrfica a sntese primeira dessa condio. Por ela, entramos no espaogeogrfico, encontramos seus limites, conhecemos o mundo e a ns mesmos. A paisagemaqui designada como uma dimenso da sensao, da percepo, como uma orientaono e sobre o mundo. Eric Dardel (apud BESSE, 2006) colocou o sentido da Geografia nomeio caminho entre o saber disciplinar e o eminentemente humano. Em suas indagaes, sepergunta o que habitar a Terra? cuja resposta assume a dimenso originria da existncia

    humana. Para alm de uma dimenso epistemolgica e cientfica, o sentido da Geografia estna frequentao do mundo e na paixo pelo mundo, na sua densidade e variedade fenomenal,ao mesmo tempo em que procura compreender-lhe as estruturas e os movimentos (BESSE,2006, p. 82). Assim, a paisagem, nessa perspectiva, est atrelada ao espao vivido, sentidoe percebido. A Geografia, ou de forma sinonmica, a paisagem no

    procura revelar aos homens o sentido oculto dos lugares, mas ela procuraapreender como, no contato, com os lugares, as significaes pegam, oucomo se diz que uma maionese pega, ou que uma forma nasce de repente,num fenmeno de emergncia que a apario inata de um sentido (BESSE,2006, p. 89).

    A paisagem para Dardel expresso do encontro singular entre a Terra e o projetohumano. No h paisagem de sobrevo. Olhar a paisagem um movimento de intimidadee de profundidade na relao de experimentao que vincula o homem Terra. por essevnculo que se revela a geograficidade originria do ser humano, que , para o espao, opar daquilo que a noo de historicidade representa para a relao do homem com o tempo.(BESSE, 2006, p. 93).

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    Aula 05 Organizao do Espao12

    Atividade 3

    A paisagem criao e recriao da natureza no homem, na medida em que este, aomodificar as formas originais, percebe, experimenta e vivencia os processos scio-afetivosque estruturam e constituem a sua relao com a natureza. Na mesma dimenso, ocorre acriao e recriao do homem na natureza, visto que esta, ao assumir contornos moldadospela ao humana, ressignifica suas formas originais, passando a adquirir ritmos e feiesvinculados ao resultado do encontro do homem com a natureza. De uma perspectiva

    fenomenolgica, a paisagem possibilita ao homem relembrar esse encontro. E mais, permiterefletir que a habitalidade do mundo deve se pautar por um compromisso tico e estticoem que se possa concretizar uma vivncia mais equilibrada entre os limites da natureza e osdesejos humanos. A percepo da paisagem no uma atitude passiva do sujeito diante domundo, mas uma experimentao, criando o espao vivido. A percepo um exerccio deobjetivao da natureza no homem, do homem na natureza.

    Vamos praticar!

    Pesquise como o tema paisagem abordado em livros didticos de 9 ano e deEnsino Mdio.

    Apresente o conceito(s) de paisagem abordado(s) no livro didtico escolhidopor voc.

    Compare as noes encontradas com as idias postas at aqui nesta aula e apresentetrs pontos semelhantes e trs diferenas.

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    Aula 05 Organizao do Espao 13

    A trama do visvel e do invisvel

    Voc viu at agora que a paisagem um conceito que se define a partir da perspectivaterico-metodolgico utilizada. Assim, na perspectiva positivista, ela fica presa aouniverso do visvel e do que pode ser descrito dos elementos que se encontram ao

    alcance da viso do observador. claro que tal observao/descrio procura neutralizaras variveis subjetivas que podem interferir na anlise e na sntese. Assim, h umapreponderncia do que se v e da identificao dos elementos como fundamentais noprocesso de explicao das diferenciaes paisagsticas. O que est disponvel viso setorna central na compreenso da paisagem.

    J na abordagem dialtica, tem-se o reconhecimento da percepo como caminho inicialpara a compreenso da paisagem, mas necessrio ao sujeito saber ultrapassar o aspectovisvel a fim de encontrar os elementos que so responsveis pela trama paisagstica. Assim,ganha centralidade a produo da paisagem como resultado dos movimentos estruturantesda sociedade, como o trabalho, a tcnica e as condies de realizao de dominao dohomem sobre a natureza, alterando a natureza primeira em uma segunda natureza. A paisagemrevela o aspecto imediato desse processo, mantendo em sua fisionomia as contradies,permanncias e rupturas que regem a sociedade em sua relao com a natureza.

    A vertente fenomenolgica assume a percepo como condio para compreender apaisagem, sem cises ou fragmentaes. A paisagem o elo de comunicao do sujeito como mundo. A percepo da forma condio de objetivao do sujeito no mundo. No h,portanto, subordinao entre as condies subjetivas e objetivas na produo da paisagem,na media em que o espao geogrfico a prpria vivncia do homem na Terra. O visvel semistura ao invisvel, de maneira que o que aparece sempre o resultado de processos de

    experimentao e vivncia do homem na natureza.

    Assim, voc deve ter percebido que a discusso da paisagem est enredada na tramado visvel e do invisvel, sobre a qual se estabelece a lgica de explicao da sociedade. Talexplicao decorre da combinao das tcnicas e saberes culturalmente organizados. Assim,o que vemos e sentimos mediado por essa combinao.

    Para compreender melhor o que est sendo dito, podemos perguntar: o que a Terra?Se tomarmos o conjunto de imagens de satlites que so feitos sobre o planeta, podemosenxergar uma superfcie marcada por grandes transformaes, em que a tcnica e ao

    humana se apresentam como mestras.Captada de longe, pelas lentes de cmeras em rbita, a Terra deixa entrever imensosoceanos, imponentes cadeias de montanhas, vastas massas continentais. As imagensnoturnas revelam manchas luminosas e pontos de luz que correspondem s cidades,s concentraes de poos de petrleo e at mesmo aos faris de frotas de naviopesqueiros (MAGNOLI, 2005, p. 13).

    Se recuarmos no tempo e fizermos a mesma pergunta tendo por referncia a Antiguidade,a resposta, porm, no ser a mesma. Essa diferena resulta, justamente, das condies deobjetivao da tcnica e do conhecimento produzidos em escalas distintas.

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    Aula 05 Organizao do Espao14

    Atividade 4

    Hoje, por meio dos instrumentos tcnicos e das informaes existentes possvelencontrar a paisagem do alto sem precisar se elevar ao cume de uma montanha, comofez Petrarca. Pode-se ver a superfcie da Terra como uma incorporao das tcnicas e datecnologia criando a multiplicidade de paisagens. Quando observamos a paisagem, podemosenxerg-la como uma composio de tempos que misturam aes do presente, do passadoe direcionam modelagens futuras. Na trama do visvel, podemos avaliar, criticar e intervir noresultado da ao humana, pois ela est tatuada na paisagem.

    Assim, as paisagens no existem a priori, como um dado da natureza, mas somente emrelao sociedade. Em diferentes perodos histricos, o olhar lanado sobre o meio elegee inventa paisagens em uma construo social que no cessa (LUCHIARI, 2001, p. 20). Pormeio da habilidade humana, a natureza no se esgota, mas regenera-se, refaz-se, renova-se. Esse processo est atrelado ao compromisso do sujeito com o entorno, reconhecendonele a sua prpria existncia. Desta feita, o sujeito, ao se colocar na paisagem, deve assumiro compromisso tico e esttico com a mesma. Essa perspectiva exige dele saber olhar,se posicionar diante do que est sendo visto. Pense que na paisagem est a Histria e aGeografia simultaneamente enlaadas. Verifique que possvel ver as mazelas do mundocom apenas um olhar. Assim, ver a paisagem olhar a realidade em um grande espelho quereflete diversas faces da prpria humanidade.

    Vamos Praticar!

    Veja as imagens:

    A partir delas, o que voc pensa da relao entre paisagem e tica? Reflita e escreva asua opinio.

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    Aula 05 Organizao do Espao 15

    Paisagem natural x paisagemtransformada: uma oposiopossvel?

    Vamos analisar um outro ponto que bastante tradicional no estudo da paisagemgeogrfica: a diferena entre paisagem natural e paisagem humanizada. Define-sepaisagem natural como resultado de uma combinao singular de elementos, como

    relevo, solo e as formaes vegetais. Esses elementos se modificam ao longo do tempo, emum ritmo lento e quase imperceptvel.

    A paisagem humanizada refere-se quelas formaes resultantes da ao humana oudas sociedades na superfcie terrestre. Elas so produtos do trabalho social, isto , do esforocoletivo e organizado das geraes que, por meio de tcnicas disponveis, instalam artefatosos quais so utilizados e recriados a partir das mltiplas interaes que se realizam.

    Essas definies tm hoje valor apenas didtico, no se constituindo um vis deinterpretao e anlise das formas espaciais. No se pode mais considerar uma fronteira materialentre o fsico e o humano na leitura do espao. A fisionomia do espao assumiu uma feio emque elementos da natureza se misturam ao humano criando feies espaciais heterogneas. Asrelaes homem-natureza responsveis pela trama paisagstica combinam ritmos diferenciados,distenses e prteses. O natural no um dado do real, mas uma construo do real. ,segundo Armando Corra da Silva (1993), um ponto de vista derivado da observao. Por isso,

    a natureza s se apresenta ao indivduo, ao grupo por meio de um treinamento (SILVA, 1993,p. 42). E acrescenta: ento, no se trata de procurar o natural nos lugares ainda intocados pelahumanidade. O natural est presente na informtica, na ciberntica, na robtica, na telemtica(Idem, ibdem). A paisagem no nica, mas revela o grau de bricolagem em que se encontraa informao e a comunicao na relao homem-natureza.

    A partir da, possvel perceber que o equilbrio resultante dessas combinaes notm nada de estvel, que ele est merc de modificaes cuja multiplicidade de fatoresabrem uma ampla margem (LA BLACHE, 1985, p. 43). Os estudos geogrficos sobrevivemdas transformaes remanejadas no tempo, das misturas, dos resduos que se incrustam nas

    formas espaciais, resultantes da indissocivel relao entre o homem e a natureza. AfirmaVidal de La Blache (1985, p. 42) que a obra do passado persiste atravs do presente comomatria sobre a qual se exercem as foras atuais. A partir da estamos em plena Geografia. Asuperfcie da Terra laboratrio de mltiplos resduos que, ao se combinarem, formam o meiogeogrfico, exigindo do gegrafo o saber olhar. Para saber olhar, necessrio compreendera prioriesse laboratrio marcado por relaes de interdependncia entre o movimento e ainrcia, a rugosidade e a transformao, o fluxo e o repouso, o real e o virtual, a convivnciae a barbrie, o smbolo e a matria, superando as fronteiras pragmticas e paradigmticasque esto fincadas nas estranhas de sua trajetria.

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    Aula 05 Organizao do Espao16

    Resumo

    Assim, a paisagem uma categoria da anlise geogrfica que possibilita problematizaro espao a partir do conjunto de objetos fixos dinamizados por meio dos fluxos de idias,percepes, valores, condutas, usos apropriaes que variam no tempo. A natureza colocaseus elementos; o homem coloca as suas tcnicas; a paisagem sntese dessa combinaonatureza-tcnica, em que no se pode separar uma da outra sob o risco de cairmos naarmadilha da fragmentao, que isola o homem da natureza, a partir de conceitos quedificultam a compreenso dos problemas. No mundo tcnico-cientfico e informacional,o qual caracteriza a era da globalizao, a paisagem concretiza mltiplos usos e funes.Sugere inmeras apropriaes em funo da utilizao do espao como mercadoria. Pode-se falar, de acordo com Milton Santos (1996, p. 191), em uma cientificizao e tecnicizaoda paisagem, em que cada vez mais so colocadas prteses visando ampliar o raio deacumulao de capitais e de seduo s prticas inovadoras ativadas por agentes sociaisdistintos. O meio geogrfico globalizado impe-se como uma lgica que estimula no espaoa realizao do particular no universal, do universal no particular. Assim, a Geografia um empecilho ou uma abertura a esse modelo, constituindo um ponto ou n na rede deinformaes e trocas que alimentam a sociedade hoje.

    Finalizando a nossa abordagem, sugerimos alguns temas para reflexes, osquais voc pode assumir como caminhos de pesquisa.

    1) A noo de ecossistemas e paisagem: qual o lugar do homem nesse

    contexto?2) Biomas e paisagens: como compreender a natureza em transformao?

    3) Paisagens urbanas: onde est a natureza?

    4) Paisagem: qual o lugar da natureza e do homem na trama morfolgica?

    Nesta aula, foi feita uma abordagem terico-metodolgica e prtica da paisagemcomo categoria da anlise geogrfica. Contextualizamos a reflexo em situaesde ensino-aprendizagem, a qual exigiu do aluno a leitura e a participao ativanas atividades. Assim, vimos que a paisagem um conceito e uma prtica deanlise do espao, constituindo-se em um campo de reflexo e ao do sujeito.

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    Aula 05 Organizao do Espao 17

    Auto-avaliao

    Tendo em vista que a paisagem est enredada na trama do visvel e do invisvel, observeesta imagem.

    A partir do que voc observou, elabore um texto reflexivo em que seja feita uma descrioe uma anlise terico-metodolgica da paisagem como categoria de anlise geogrfica.

    RefernciasBESSE, Jean-Marc. Ver a terra: seis ensaios sobre a paisagem e a geografia. So Paulo:Perspectiva, 2006.

    GOMES, Edvnia Torres Aguiar. Natureza e cultura: representaes na paisagem. In:ROSENDHAL, Zeny; CORRA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem, imaginrio e espao. Riode Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 50-70.

    GOMES, Paulo Csar da Costa Gomes. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 1996.

    LA BLACHE, P. V. As caractersticas prprias da geografia. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.).Perspectivas geogrficas. 2. ed. So Paulo: DIFEL, 1985.

    LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes. A (re)significao da paisagem no perodocontemporneo. In: ROSENDHAL, Zeny; CORRA, Roberto Lobato (Org.). Paisagem,imaginrio e espao. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001. p. 09-28.

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    Aula 05 Organizao do Espao18

    MAGNOLI, Demtrio; REGINA Arajo. Geografia: a construo do mundo. So Paulo:Moderna, 2005. (Geografia Geral de Brasil).

    MORAES, Vincius. Para viver um grande amor: crnicas e poemas. So Paulo: Companhiadas Letras, 1991.

    SANTOS, Milton. Metamorfoses do espao habitado. 3. edio. So Paulo:

    HUCITEC, 1994.______. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. So Paulo:HUCITEC, 1996.

    SILVA, Armando Corra. A geografia humana e a abordagem naturalista. In: SOUZA, M. A etal. (Org.). Natureza e sociedade de hoje:uma abordagem geogrfica.So Paulo: HUCITEC,1993. (p. 42-45).

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    Aula 05 Organizao do Espao 19

    Anotaes

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    Aula 05 Organizao do Espao20

    Anotaes

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    EMENTA

    n

    Eugnia Maria Dantasn Ione Rodrigues Diniz Morais

    Objeto de estudo da geografia; as correntes filosficas que embasam o pensamento geogrfico; espao, territrio,lugar,

    regio e paisagem nas diversas abordagens geogrficas; a importncia das redes no estudo geogrfico do mundo

    globalizado; a cincia geogrfica na sociedade ps-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de

    abordagens dos temas geogrficos no Ensino de geografia; atividades prticas voltadas para a resoluo de problemas

    referentes ao espao geogrfico em situaes de ensino

    Organizao do Espao GEOGRAFIA

    AUTORAS

    AULAS

    01 Despertando para a leitura do espao

    02 Aprofundando o conceito de espao

    03 A Organizao do Espao: um desafio inter-trans-disciplinar?

    04 A dinmica entre o global e o local na globalizao

    05 Paisagem como categoria da anlise geogrfica

    06 Lugar e (des) identidade

    07 Territrio e territorialidade: abordagens conceituais

    08 Territrio e territorialidade: abordagens conceituais (parte II)

    09 Por entre territrios e redes: mltiplas leituras

    10 Regio e a Geografia tradicional

    11 Regio no contexto da renovao da geografia

    12 Organizao do espao: do universo conceitual ao ensino da Geografia

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