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UBE O ESCRITOR Aziz Ab’Sáber indicado para o Prêmio Intelectual do Ano Dois assuntos que causaram polêmica nos meios da produção literária: livro didático e reprografia Conheça alguns dos palestrantes e coordenadores de oficinas literárias PÁGINAS 4, 5 E 6 PÁGINA 14 PÁGINAS 8 E 9 Inscrições abertas para o Congresso Veja os lançamentos de livros de associados. Um dos destaques é a tradução, diretamente do russo, por Luís Avelima, de Fiodor Dostoievski PÁGINAS 16 E 17 POLÍTICAS CULTURAIS JORNAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES NÚMERO 125 JUNHO DE 2011

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Page 1: PáginaS 4, 5 e 6 - alexandresanttos.com.br file2 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011 Jornal O Escritor – edição n° 125, junho de 2011 Publicação de distribuição dirigida para os associados

1 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011UBE O ESCRITOR

Aziz Ab’Sáber indicado para o

Prêmio Intelectual do Ano

Dois assuntos que causaram polêmica nos meios da produção literária: livro

didático e reprografia

Conheça alguns dos palestrantes e coordenadores de oficinas literárias PáginaS 4, 5 e 6

Página 14

PáginaS 8 e 9

Inscrições abertaspara o Congresso

Veja os lançamentos de livros de associados. Um dos destaques é a tradução, diretamente

do russo, por Luís Avelima, de Fiodor

DostoievskiPáginaS 16 e 17

POLÍTICAS CULTURAIS

JORNAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES NÚMERO 125 JUNHO DE 2011

Page 2: PáginaS 4, 5 e 6 - alexandresanttos.com.br file2 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011 Jornal O Escritor – edição n° 125, junho de 2011 Publicação de distribuição dirigida para os associados

2 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

Jornal O Escritor – edição n° 125, junho de 2011

Publicação de distribuição dirigida para os associados da União Brasileira dos Escritores. Todas as informações podem ser reproduzi-das, desde que citada a fonte.

Conselho Editorial:Joaquim Maria BotelhoRodolfo KonderLuís AvelimaReginaldo DutraGabriel KwakRenata PallottiniAudálio DantasJeanette Rozsas

O Escritor 124: Edição:Audálio Dantas Joaquim Maria BotelhoLuís Avelima

Editoração:Luís Fernando Zeferino

Diretoria da UBE (biênio março de 2010/março de 2012):Diretoria executivaJoaquim Maria Guimarães Botelho – presidente [email protected] Renata Pallottini – primeira [email protected] Audálio Ferreira Dantas – segundo [email protected] Sueli Carlos – secretária geral [email protected] José Vianna – primeira secretá-ria (afastada)Luiz Avelino Lima – segundo secretário [email protected] Nicodemos Neves Sena - tesoureiro [email protected] Gabriel Kwak – primeiro [email protected] da Silveira Allegro – segundo [email protected] Caio Porfírio Carneiro - secretário executivo

Conselho consultivo e fiscal Anna Maria MartinsAntonio Carlos Ribeiro FesterAntonio Possidônio SampaioFábio Lucas

EXPEDIENTE

Caro Presidente: Incrível! 53 anos de UBE

e eu, esse tempo todo com ela! Recostei-me, cerrei os olhos e disparei o filme: o clima sócio-lítero-político dos dias iniciais da entidade, o esforço para fun-dir as duas entidades – então quase antagônicas – o meu nome apontado por ambas para o Con-selho (onde fiquei por decênios e de onde não pedi para sair), o ambiente febril com heroísmos nem tanto em momentos difí-ceis.

Mais de meio século! E não méritos eventuais e sim a longe-vidade fazem-me homenageado. Inclusive, com largo espaço no “O Escritor” número 20. Mais do que tudo comoveu-me o ver quantos confrades enviaram ao jornal a sua adesão à referência. Pedi desculpas aos que me ante-cederam na inscrição e na via-gem para o “quem sabe onde”! Estranha essa sensação de que a ampulheta e não a apenas avali-saram a aclamação.

Enfim, venha o abraço e can-temos juntos, a vitória da UBE. Por favor, receba pela União, pelo jornal e por todos os missi-vistas, o agradecimento do vete-raníssimo Hernâni Donato.

Resposta do presidente:Hernâni, a sua obra fala por

si mesma. O aniversário da UBE foi apenas pretexto para uma singela homenagem a você. E aguarde porque teremos outras.

José Carlos GarbuglioLevi Bucalem FerrariMarisa LajoloPaulo OliverPlínio CabralRodolfo Konder

Diretores departamentaisAntonio Francisco Carvalho Moura [email protected] Célio Roberto Turino de Miranda Cláudio Jorge [email protected] Deonísio da [email protected] Dirce Lorimier [email protected] Giselda Penteado di [email protected] [email protected] Antonio [email protected] João Braff [email protected] Raquel [email protected] Paulo de Assunçã[email protected] de [email protected]é Eduardo Mendes [email protected]

“Em cada processo, com o es-critor, comparece a juízo a própria liberdade.” (Rui Barbosa)

A União Brasileira de Escrito-res repudia veementemente a deci-são do Tribunal de Justiça de São Paulo que proibiu a distribuição, na rede pública do estado, do livro “Os Cem Melhores Contos Brasi-leiros do Século”.

Causa estranheza que, só ago-ra, quase 30 anos depois de publi-cado pela primeira vez, o conto do escritor e associado da UBE, Ignácio de Loyola Brandão – que serviu de mote para a decisão do magistrado relator do caso – te-nha sido considerado indecente e impróprio para crianças na fase pré-adolescente do ensino funda-mental e médio. O conto passou ao largo de qualquer contestação durante o tremedal de trevas da di-tadura militar. E só agora, quando estamos redemocratizados, recebe o carimbo da proibição.

Parece, portanto, que está aberta a jurisprudência para proi-

Escritura tutelada

União Brasileira de Escritores: Rua Rego Freitas, 454 - 12º andarVila Buarque. Cep: 01220-010 São Paulo - SP. Telefones: (11) 3231-

4447/3231-3669. Site: www.ube.org.br

CORREIO

CONVERSA COM O ESCRITOR

bir Bocage, Petrarca, Gregório de Mattos, os autores de contos fes-ceninos da Roma Antiga e muitos milhares de outros livros. Estarão os educadores tendo a sua liberda-de de cátedra ameaçada? Por que, ao que parece, está sendo repas-sada, dos professores para os ma-gistrados, a tarefa de definir que conteúdo é mais adequado para a formação de repertório que, por sua vez, forma caráter.

Data venia, por analogia, e sem considerar que a ação foi im-petrada por certa instituição que se diz defensora dos interesses dos consumidores, seria o mesmo que questionar os senhores juízes diante de cenas de sexo explícito, exibidas por certos programas de televisão de baixíssimo nível cul-tural. Ou, dirão, ouvir estrelas: pe-sos e medidas são diferentes para avaliar e julgar o conteúdo de uma obra literária e o lixo despejado sem o mínimo de controle de qua-lidade pelos portais de internet? E as redes sociais? Isto será resolvi-do pelo Marco Civil da Internet e

deixará as crianças a salvo de em-pedernidos de plantão?

São muito preocupantes deci-sões como a que agora atinge um escritor consagrado como Loyola Brandão e, por extensão, toda a comunidade literária do país. Sem contar que, num outro episódio extra-judicial, Monteiro Lobato foi considerado racista no livro “Caçadas de Pedrinho”.

O tema da vigilância, que já estava na pauta de debates do Con-gresso Brasileiro de Escritores que a UBE vai realizar em novembro na cidade de Ribeirão Preto, cer-tamente dará muito mais moti-vação para que nos fortaleçamos em torno da defesa dos direitos de expressão e manifestação cultural. Em 1945, os escritores que parti-cipavam do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores estavam ocupados com a própria liberdade de expressão, sufocada por uma das ditaduras que já vivemos. Hoje, quando pensávamos poder avançar para outros temas, supon-do superada aquela luta, verifica-

mos que, a cada dia, há um meta-fórico novo leão a ser combatido.

Reiteramos nossa indignação diante desse desserviço para com a nossa ainda adolescente demo-cracia, tão ávida de posturas e procedimentos coerentes com a maturidade que se espera das ins-tituições de um país emergente – e até avançado, em outras instâncias de desenvolvimento.

Joaquim Maria Botelho

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3UBE O ESCRITORJUNHO, 2011

Abertas as inscrições para o CongressoEVENTO

Associados da UBE e interessados em geral podem se inscrever pelo site www.ube.org.br/congresso. Mais informações pelo telefone 11 3237-4462 e pelo endereço [email protected]

A União Brasileira de Escri-tores está com inscrições aber-tas para o Congresso Brasileiro de Escritores de 2011. Escrito-res, professores, estudantes e amigos do livro, interessados em participar, poderão fazer sua inscrição pelo site

www.ube.org.br/congresso ou pelo e-mail

[email protected]

No ato da inscrição, o inte-ressado deve indicar a oficina e a palestra a que prefere as-sistir – a informação é necessá-ria para dimensionamento das salas, uma vez que os eventos serão simultâneos. Para as me-sas redondas e para o debate programados para o dia 12 de novembro o acesso será livre.

Haverá uma sala de apoio durante os dias 13 e 14, das 13h às 18h. Nesses dias e horários, o agente literário Ralph Peter dará plantão gratuito de atendimento a autores interessados em obter orientações sobre publicação de livros.

A manhã do dia 13 será de-dicada a oficinas literárias.

Está aberta também a pos-sibilidade de lançamentos de livros de autores associados à UBE, na noite de 13 de no-vembro, no saguão principal do evento. Credenciamentos para lançamento devem ser feitos também no ato da inscrição.

O evento cultural progra-mado para a noite de 13 de no-vembro inclui declamação de poemas e crônicas curtas se-lecionadas. O interessado deve declarar intenção de participar, no ato da inscrição, enviando seu poema ou sua crônica, ime-diatamente, ao endereço eletrô-nico [email protected]. As peças inscritas serão analisadas e aprovadas previamente por uma comissão de diretores da UBE.

A manhã do dia 14 será des-tinada a comunicações, nos gê-neros ensaio ou texto literário. O interessado deverá, no ato da inscrição, informar o título de sua comunicação e enviar cur-rículo e sinopse de até 500 pala-vras para o endereço eletrônico [email protected]

A tarde do dia 14 de novem-bro será dedicada a palestras, que ocorrerão das 14h às 17h, simultaneamente, em salas de aulas com capacidade para 70 pessoas cada uma. (Palestras que tiverem mais inscrições po-derão ser deslocadas para am-bientes maiores.)

Associados da UBE estão isentos de taxa de inscrição. Outros interessados estarão su-jeitos a uma taxa de organiza-ção de R$ 100,00 (cem reais).

Lançamento oficial

Está sendo programada uma cerimônia oficial de lan-çamento do Congresso Brasi-leiro de Escritores, em Ribei-rão Preto. A União Brasileira de Escritores vai assinar pro-tocolo de intenções com os parceiros da entidade na rea-lização do evento: Fundação Instituto do Livro de Ribeirão Preto, Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, Câmara dos Vereadores e Prefeitura de Ri-beirão Preto e Uni-SEB COC, esta a instituição que vai se-diar o Congresso Brasileiro de Escritores de 2011.

Nas próximas páginas, o leitor acompanha sinopses e currículos de alguns dos pa-lestrantes e coordenadores de oficinas confirmados.

SÍNTESE DA PROGRAMAÇÃO

(consulte programação com-pleta no site www.ube.org.br/congresso)

Dia 12 de novembro14 horas - mesas redondas20 horas – debateDia 13 de novembro9 horas – oficinas literárias20 horas: evento cultural

com orquestra e lançamento de livros

Dia 14 de novembro9 horas – comunicações 14h às 17h - palestras e

conferências20 horas, programa cultural

e palestraDia 15 de novembro10 horas – palestra 11 horas - divulgação da

Carta de Princípios do Escritor11h30 - entrega do Troféu

Juca Pato 12 horas – encerramento

Ralph Peter é bacharel em Direito e Comunicação Social. Professor universitário e jornalista, apresenta o programa “Livros em Revista”, que vai ao ar toda quinta-feira, ao vivo, às 17horas, neste endereço: [email protected]

Ralph Peter mantém a coluna semanal” Livros em Revista” no jornal Empresas & Negócios, tratando do universo livreiro. É também agente literário e atende, gratuitamente, a todos associados da UBE. Consulte-o sem compromisso. Contato: [email protected] (11) 2606-4331 – 9993-1632

Logotipo desenvolvido pela equipe de marketing do Uni-SEB COC, parceiro da UBE na realização do evento

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4 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

Veja aqui os escritores que já confirmaram palestras

Laura BacellarPalestra “Conversa de uma editora

com autores iniciantes”14/11/2011

Laura Bacellar trabalha em editoras desde 1983. Começou na Editora Paz

e Terra como estagiária e já ocupou todas as funções editoriais – de

produtora na Hemus a editora chefe na Brasiliense. Fundou e dirigiu o

primeiro selo editorial inteiramente dedicado às minorias sexuais, Edições

GLS. Escreveu três livros como ghostwriter e um com seu próprio

nome, “Escreva seu livro – guia prático de edição e publicação”, pela Editora Mercuryo. Adaptou seis clássicos do inglês, Robinson Crusoé, Drácula, Sherlock Holmes, Frankenstein, Rei Artur e Caninos brancos para a editora Scipione, tem

mais dois no prelo e escreveu uma outra obra infantil, Mini Larousse da educação no trânsito, para a Larousse do Brasil em 2005.

É co-autora, com o índio cariri Tkainã, do livro juvenil Mãe d’água pela Scipione em 2008. No mesmo ano publicou O mercado gls com Franco Reinaudo pela editora

Ideia e Ação. Em 2010 lançou A mãe possível – Os caminhos do xamanismo para dissolver a culpa da mãe que não é perfeita com a mestra xamã Carminha Levy.

Dá cursos regularmente para autores e editores em instituições como a Universidade do Livro, ligada à Unesp. Mantém o site www.escrevaseulivro.

com.br, que é bastante utilizado por editores para instruir autores que os procuram. Atualmente trabalha como free-lancer para várias grandes editoras e é

responsável pela Brejeira Malagueta, www.editoramalagueta.com.br, a primeira editora dirigida a lésbicas do Brasil.

Caro Joaquim Maria BotelhoEspero que os acertos para

a realização do Congresso Bra-sileiro de Escritores de 2011, estejam correndo de maneira po-sitiva. Eu, entretanto não pode-rei estar presente, por mais que desejasse participar de tão im-portante evento. Entrando agora

CORREIO

Frei BettoPalestra “Os escritores e as ditaduras”Dia 14/11/2011

Autor de 52 livros, editados no Brasil e no exterior, Frei Betto nasceu em Belo Horizonte (MG). Estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia.Frade dominicano e escritor, ganhou em 1982 o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, por seu livro de memórias “Batismo de Sangue”. Em 1986, foi eleito Intelectual do Ano pelos escritores filiados à União Brasileira de Escritores, que lhe deram o prêmio Juca Pato por sua obra “Fidel e a religião”.

Foi coordenador da ANAMPOS (Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais), participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da CMP (Central de Movimentos Populares). Prestou assessoria à Pastoral Operária do ABC (São Paulo), ao Instituto Cidadania (São Paulo) e às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Foi também consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).Em 2003 e 2004 atuou como Assessor Especial do Presidente da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Desde 2007 é membro do Conselho Consultivo da Comissão Justiça e Paz de São Paulo. É sócio fundador do Programa Todos pela Educação.

Affonso Romano de Sant’AnaPalestra “Ler o mundo: um desafio”

Dia 14/11/2011

Nas décadas de 1950 e 1960 participou de movimentos de vanguarda poética.

Em 1965 publicou seu primeiro livro de poesia, “Canto e Palavra”. Em 1968

participou do Programa Internacional de Escritores da Universidade de Iowa, que agrupou 40 escritores de todo o mundo.

Em 1969 doutorou-se pela Universidade Federal de Minas Gerais e, um ano

depois, montou um curso de pós-graduação em literatura brasileira na

PUC do Rio de Janeiro. Foi Diretor do Departamento de Letras e Artes da PUC-RJ, de 1973 a 1976, realizando então a

“Expoesia”, série de encontros nacionais de literatura.Foi cronista no Jornal do Brasil (1984-1988) e do jornal O Globo até 2005. Atualmente escreve para os jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense.

Algumas de suas obras: O Desemprego da Poesia (ensaio, 1962); Poesia sobre Poesia (1975); Que País é Este? (poesia, 1980); O Canibalismo Amoroso (1984); A Mulher Madura (crônicas, 1986); O Lado Esquerdo do Meu Peito (1993); Fizemos

bem em Resistir (1994); Mistérios Gozosos (1994).Entre os prêmios recebidos: Prêmio Pen-Club; Prêmio União Brasileira de

Escritores; Prêmio Estado da Guanabara; Prêmio Mário de Andrade do Instituto Nacional do Livro; Prêmio do Governo do Distrito Federal

Severino AntônioOficina “Escrever é desvendar o mundo”Dia 13/11/2011

Doutor em Educação, autor de “A Educação e Conhecimento: uma nova escuta poética”; “O Visível e o Invisível”; “Redação: Escre-ver é Desvendar o Mundo”; “A menina que aprendeu a ler nas lápides”; “Novas Palavras” (com Emília Amaral e outros); “A Utopia da Palavra”; “A Irmandade de todas as coisas”, dentre outras obras.SINOPSE: Nesta oficina, ao mesmo tempo prática e teórica, faremos experiências criativas com as palavras, a partir das modalidades clássicas de texto. Exercícios de escrever e de ler - criadoramente, com lógica; lucidamente, com imaginação.A linguagem é dimensão da existência. Não pode ser reduzida a instrumento, nem mesmo a ferramenta para fazer ferramentas. Como escreve Otávio Paz, com sabedoria poética, “a palavra é um símbolo que emite símbolos. Pela palavra, o homem é uma metáfora de si mesmo.”A partir destes pressupostos, serão feitas algumas sugestões de redação e de leitura, para despertar a capacidade criadora.- experiências de liberação da linguagem e do pensamento;- experiências de descrição: redescobrindo as coisas a partir da redescoberta da própria capacidade de percepção;- experiências de narração: como redescoberta do gosto de criar enredos e personagens – as narrativas que vivemos, as que escutamos, as que sonhamos;- experiências de dissertação: para recuperar a alegria de pensar, a paixão de questionar o mundo, com diversos jogos lógico-expositivos.

na década dos 90 anos, decidi definitivamente não participar de mais nenhum evento e usar o tempo que me restar (espero mais uma década!), para avançar com a escrita dos livros progra-mados.

Já falei com a Profa. Maria Zilda Cunha, excelente sucesso-

ra de meus trabalhos na USP, e que antecipadamente aceitou me substituir na coordenação de ofi-cina de Crítica Literária.

Com minhas desculpas pela mudança de rumo, aqui deixo meus melhores Votos de total sucesso na organização e realiza-ção do Congresso.

Cordialmente. Nelly Novaes Coelho

Resposta do presidente: Lamentamos, mas enten-

demos a sua decisão. Já con-tatamos a dra. Maria Zilda, que aceitou a incumbência de substituí-la.

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5UBE O ESCRITORJUNHO, 2011

Deonísio da SilvaOficina “A arte de narrar. Contos de fada, lendas, Dostoievski ou Machado: por que, como e para quem contamos histórias?”Dia 13/11/2011

Escritor, Doutor em Letras pela USP, com 34 livros publicados, entre romances e con-tos (publicados em Portugal, Cuba, Itália, Alemanha, Suécia etc), além de ensaios e livros infanto-juvenis. Seus livros, constan-temente reeditados, foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional etc. Recebeu também o Prêmio Internacional Casa de las Américas. SINOPSE: O complexo, misterioso e diver-tido mundo dos contos de fada e das lendas

está em A arte de narrar. O escritor Deonísio da Silva desconstrói estruturas nar-rativas para mostrar aos alunos como foram construídas: quais seus personagens solares, temas, problemas, mensagens etc. Segundo ele, esses são os primeiros passos para se escrever romances.Em seu habitual estilo bem-humorado, ele ensina: “A avó da menina foi abando-nada num asilo florestal. (Des)orientando a filha, a mãe avisa, antes de pedir-lhe que vá fazer uma visita à mãe dela: “Cuidado com o lobo!”. Lá chegando, a pirralha encontra o feroz animal vestido com a camisola da vovó. Ela o confunde com a vovó. Afinal, a pimpolha “sofre das vistas” ou a mãe de sua mãe é muito feia e pode ser confundida desse modo? Mas – tcham, tcham, tcham! - vem sempre um homem para salvar a mulher, de preferência devastando a floresta e matando os animais. E este é o lenhador! Ou o caçador, dependendo da versão”. Mas, esclarece: “Não é assim que a história vem sendo lida para e pelas crianças há vários séculos. A leitura é outra! E por quê?”.A Oficina vai durar duas horas e os textos utilizados pelos alunos serão forneci-dos em forma eletrônica ou impressa.

Mouzar BeneditoPalestra “O Saci como ícone de identidade nacional na literatura”Dia 14/11/2011 Mineiro de Nova Resende. Jornalista e geógrafo, foi engraxate, aprendiz de barbeiro e de seleiro, caixeiro, calculista, técnico em contabilidade, pesquisador de cultura popular, professor, tradutor de teatro e de livros etc. Trabalhou ou colaborou em cerca de trinta jornais e trinta revistas. Participou da fundação dos jornais Versus e Em tempo e colaborou em várias outras publicações alternativas. Tem 22 livros publicados e participou de três coletâneas. No início da década de 1980, produziu a versão brasileira (em parceira com Henfil) da revista Mafalda, de Quino, pela Global Editora. SINOPSE: Estamos numa fase em que o brasileiro vem perdendo progres-sivamente o que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata”. E o que propomos é isso: uma afirmação da literatura brasileira, que inclui a abordagem de temáticas brasileiras, o uso de um vocabulário brasileiro e até a “antirreforma” ortográfica. Mas o que tem o Saci com isso?Em 1917, Monteiro Lobato passeava pelo Jardim da Luz, ponto de encontro da burguesia paulistana, e viu estátuas de nibelungos, fadas, gnomos... E concluiu: parece que estamos perto do Polo Norte! Perguntou: cadê o Saci? Cadê a Iara? Cadê o Curupira? Foi para a redação do Estadinho (vespertino do Estadão) e pediu que os leitores escrevessem contando se nos locais onde moravam tinha Saci e o que ele fazia. Recebeu tantas cartas que publicou um livrão chamado Inquérito sobre o Sacy.E o Saci representa bem o brasileiro: é pobre (nem roupa tem), negro e perne-ta... e vive alegre, é brincalhão. Além disso, ele era índio na origem, virou ne-gro e ganhou o gorrinho mágico dos europeus. É mesmo a síntese do brasileiro. É ícone do nosso imaginário. E o que seria da literatura sem o imaginário?

Jorge da Cunha Lima:Palestra “Cultura na era digital”14/11/2011

Advogado, administrador de empresas e jornalista. Como poeta e romancista, tem as seguintes obras publicadas: Ensaio Geral (Ed. Martins), Mão de Obra (Ed. Brasiliense), Véspera de Aquárius (Ed. Paz e Terra) e O Jovem K (Ed. Siciliano). Desempe-nhou também atividades editoriais para casas como a Editora Senac e Imprensa Oficial do Estado. Foi diretor do jornal Última Hora e da revista Senhor-Vogue.Na área cultural pública presidiu a Fundação Cásper Líbero, o Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica e o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (atualmente é vice-presidente). Como secretário da Cultura do governo Franco Montoro, foi um dos principais responsáveis pela realização do Congresso Brasileiro de Escritores de 1985, tendo dado todo o apoio ao seu alcance. Blog: HTTP://blogjorgegedacunhalima.blig.ig.com.br

José Eduardo Mendes CamargoPalestra “O projeto Usina de Sonhos”Dia 14/11/2011

Natural de Dois Córregos, Estado de São Paulo, é autor de quatro livros de poesia e administrador de empresas. Empresário do setor agroindustrial, é diretor do Departamento de Integração Regio-nal do CIESP e membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP. Preside o Instituto Usina de Sonhos - instituição de atividades sócio-culturais que utiliza a poesia como agente de transformação do comportamento humano (reconhecido pela UNESCO e MinC). Realiza anualmente o Festival Internacional de Poesia em Dois Córregos, que

neste ano teve a sua 5ª edição. SINOPSE: O Instituto Usina de Sonhos foi criado em 1996 na minha cidade natal, Dois Córregos-SP, com a finalidade de disseminar a poesia entre os estudantes locais das escolas publicas e particulares. Devido ao sucesso que obtivemos, con-seguimos o reconhecimento e apoio da UNESCO, e elogios oficiais do Ministério da Educação e Cultura e da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.O projeto foi realizado por seis meses seguidos através de oficinas de poesias com industriários, trabalhadores rurais, detentas da cadeia pública, religiosos, comerciários, estudantes e alunos da APAE. Nesta palestra exibiremos um documentário de 71 min., produzido pela Bossa Nova Films, que fala sobre a vida de poetas de Dois Córregos, e que será inscri-to em festivais nacionais e internacionais.

A. P. Quartim de Morais: Palestra “Singularidades do mercado editorial” Dia 14/11/2011

Jornalista, articulista e editorialista de O Estado de S. Paulo. Elaborou em 1995 o projeto de implantação da Editora Senac São Paulo. Atualmente é também editor-associado da Global Editora, onde coordena a linha de títulos de ficção e não-ficção para comercialização no varejo.SINOPSE: Sob a permanente pressão das transformações impostas pelas novas tecnologias no campo das comunicações e pelo fundamentalismo de mercado decorrente da globalização, a indústria do livro no Brasil enfrenta uma crise de identidade que ameaça colocar em sério perigo o futuro da literatura brasileira.Como reflexo retardado de um fenômeno que se manifesta pelo menos desde os anos 70 no Primeiro Mundo, o big business

editorial brasileiro tem intensificado, a partir da virada do século, a tendência a ser gerido como um negócio qualquer, desconsiderando a responsabilidade social que implica o fato de trabalhar com um produto especial, o livro. O resultado disso é que as grandes corporações editoriais brasileiras que atuam no segmento trade, que trabalha com conteúdos de interesse geral destinados à venda basicamente nas livrarias, hoje estão muito mais preocupadas com o desempenho comercial do que com o conteúdo dos títulos que lançam. Enquanto um grande número de escritores iniciantes, e até mesmo daqueles com obras já publicadas, encontram enormes dificuldades para publicar seus livros, as grandes editoras investem centenas de milhares de dólares no pagamento de advances para autores estrangeiros que despontam com sucesso nas listas de mais vendidos no Exterior. A missão de divulgar a literatura brasileira, principalmente o indispensável trabalho de novos autores, acaba ficando quase que completamente sob a responsabilidade de pequenas e médias editoras ou das casas publicadoras sem fins lucrativos.

ADRIAN

A ELIAS

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6 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

Dirce Lorimier e Paulo de Assunção: Palestra “Projeto Memória da UBE”Dia 14/11/2011

Dirce Lorimier é crítica literária e ensaísta. Doutora em História So-cial pela USP. Membro da diretoria da UBE e da Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA. É co-autora dos livros: Meu Nome é Zé, Antologia de Contos da UBE, Inquisição Portuguesa - Tempo, Razão e Circunstância (Prefácio, Lisboa, 2007). Também é organiza-dora e co-autora do livro Religiões e Religiosidades - Leituras e abor-dagens (Arké 2008), dentre outras publicações didáticas. Autora de A Inquisição na América (Arké, 2004)

Ruth GuimarãesOficina “Composição de crônica”Dia 13/11/2011 Romancista, cronista, contista e tradutora. Traduziu grande parte da obra de Dostoieviski, do francês, para a Editora Cultrix. Traduziu, diretamente do latim, também para a Editora Cultrix, “O asno de ouro”, de Apuleio. Como folclorista escreveu livros como “Filhos do Medo”, sob orientação de Mário de Andrade, e “A saga de Pedro Malazarte”. Seu romance de estreia, “Água Funda”, foi lançado em 1946, em São Paulo, no mesmo evento em que foi lançado “Sagarana”, do seu amigo Guimarães Rosa - uma nova edição está em processo de arte-finalização pela Editora 34. Foi cronista do jornal “Folha de São Paulo” na década de 60, dividindo espaço, em dias alternados, com Carlos Heitor Cony, Padre Vasconcelos e Cecília Meirelles. Mantém coluna semanal de crônicas no jornal O Vale, de São José dos Campos.Ocupa a cadeira número 22 da Academia Paulista de Letras desde 2008.

Sueli Carlos e Armando Taminato: Palestra “O Mutirão Cultural da UBE e a importância da palavra falada na comunicação”Dia 14/11/2011

Sueli Carlos é fonoaudióloga com especialidade em Motricidade Orofa-cial. Poetisa, pintora, diretora da UBE e coordenadora do Mutirão Cultu-ral da União Brasileira de Escritores. Participação nas coletâneas Poetas da Mário de Andrade, III e Poetas de todos os Cantos.

Armando Taminato é advogado e também coordenador do Mutirão Cultural da UBE.

Antonio Penteado de Mendonça: Palestra “O papel das Academias de Letras”

Dia 14/11/2011

Antonio Penteado de Mendonça é advogado e professor. Atual presidente

da Academia Paulista de Letras. Colunista dos jornais O Estado de

S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal da Tarde e Tribuna do Direito.

Apresentador de programas na Rádio Eldorado AM. Tem mais de 2.000

artigos técnicos publicados no Brasil e no exterior. É autor de “Crônica da

Cidade”, “Crônicas de Amor e Outras Histórias”, “Um Passeio pela História do Brasil e de São Paulo”, em conjunto

com Luiz Gonzaga Bertelli, e “A Cidade em Movimento”.

Levi Bucalem Ferrari: Palestra “O Escritor e a Política”

Dia 14/11/2011

Levi Bucalem Ferrari é professor de ciências políticas, poeta e ficcionista. Participou da resistência à ditadura militar e foi preso político. É mem-

bro da Accademia Siculo-Normanna di Cultura di Palermo e Monreale.

Coordenou a implantação do Estado de Rondônia e o Programa Estadual de Desburocratização – SP. Recebeu em 1998 o prêmio Melhores do Ano

da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, com o livro O seqüestro

do senhor empresário. Apresenta o programa Outras Palavras de divulga-ção literária na Rádio Cultura Brasil.

Presidiu a UBE por três gestões.

Estão programadas também duas conferências, na tarde de 14 de novembro:“Multiculturalidades: a con-tribuição de várias culturas para a formação da língua portuguesa”Participantes: Antonio Ca-brita, escritor moçambica-no, e Maurício Melo Júnior, apresentador do programa

ConferênciasLeitura, da TV Senado(com mediação de Nicode-mos Sena, diretor tesoureiro da UBE)“A experiência de regionali-zação da UBE”Participantes: representantes de Seccionais e Núcleos(coordenação de Menalton Braff, diretor de Integração Nacional da UBE)

Na sua edição de agosto, o jornal O Escritor trará informações sobre os participantes das mesas redondas, conferências e debate.

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Claudio Willer é meu amigo de infância. Fomos vizinhos, durante décadas, e marcávamos poeticamente a hora dos encon-tros : 9h32 ou 12h13 ou... Mos-tro a ele os meus textos, porque sabe me ler. Inclusive fez os posfácios d’O Clarão e d’A Tri-logia do Amor.

Convidei-o para alm oçar, sugerindo que viesse com Joa-quim Maria Botelho e convidei outro amigo de infância, De-onísio da Silva. Faríamos um almoço de escritores aqui na Ministro Rocha Azevedo, onde gosto de receber. Uma tradição paulista em vias de desapari-ção.

Durante o almoço, falamos do Congresso da UBE e eu su-geri ao Joaquim uma entrevista para o jornal sobre o livro nos tempos da internet com Jean Sarzana, ex-diretor do Sindi-cato Nacional dos Editores na França e autor, com Alain Per-rot, do livro Impressions nu-mériques Através da entrevista seria possivel abordar questões essenciais. Como, por exemplo, o que mudou na história do livro com a internet . Como devemos nos organizar para defender os direitos autorais , cada vez mais ameaçados pelos opera-dores que trabalham em escala planetaria. Que livros tendem a desaparecer do mercado e que efeitos a internet tem sobre a literatura. Que parceria entre autores e editores é necessária afim de que o espaço já redu-zido da literatura não se reduza ainda mais.

Já no dia seguinte, Joaquim me enviou um e-mail aceitando a sugestão, dando o número de toques “10.000” e a data limite para o trabalho “15 dias”. Mais que isso, me pedia um texto de

Congresso: por que não?duas laudas sobre o que eu es-pero do próximo congresso da UBE. Um ato generoso, de re-conhecimento.

No entanto, me perguntei se ele acaso imaginava que sou jornalista... escrevo como má-quina automática etc. Ao me perguntar isso, paradoxalmente me dei conta de já ter escrito o equivalente a 6 livros na im-prensa (Jornal da Tarde, Folha de S. Paulo, Veja e outros veícu-los). Uma pergunta sem pé nem cabeça, que me levou a uma segunda pergunta interessante: Por que você trabalhou tanto no jornal se é escritora? Conduzi-da pelo monologozinho, che-guei no próximo Congresso da UBE. O que espero?

Antes de mais nada, uma política de defesa da literatura brasileira, cada vez mais ame-açada pela globalização. Tanto no Brasil, onde as editoras es-tão com os olhos postos no best seller, quanto no exterior, onde a nossa literatura é pouco e mal editada, em geral, mal traduzida e pouco difundida.

Nem mesmo os autores li-terários que se impuseram são realmente lidos.

A língua é o maior tesouro de cada povo e o escritor com-prometido com a renovação da língua, ou seja, aquele que trabalha na contramão da co-municação, precisa de apoio. Do contrário, não tem como se dedicar à sua arte, que implica a recusa da língua pobre da mídia e da internet.

Tal política de defesa impli-ca boas políticas publicas, com mais bibliotecas e aquisição de livros. Deve insistir numa dis-tribuição análoga à do best sel-ler e numa difusão semelhante à que existe na França, onde, meses antes do lançamento, a obra é apresentada aos jorna-

listas e aos livreiros e, conse-quentemente, tem o impacto de uma aparição, se vende e se exporta.

Espero ainda uma política junto à Biblioteca Nacional para a exportação da literatu-ra. Porque , como diz Salman Rushdie(1) : « Os escritores são os cidadãos de muitos pa-íses: o país limitado e ladeado pelas fronteiras da realidade observável e da vida cotidiana, o reino infinito da imaginação, a terra semiperdida da memó-ria, as federações do coração simultaneamente incandes-centes e geladas, os estados unidos do espírito (calmos e turbulentos, largos e estreitos, regulados e desregulados), as nações celestes e infernais do desejo e — talvez a mais im-portante das nossas moradas — a república sem entraves da língua ».

Para exportar, é necessário subvencionar traduções e for-mar tradutores, pois, na tradi-ção feliz de Mario de Andrade, nós tendemos a estilizar a ora-lidade e o nosso português não é conhecido no exterior, con-

aRTigO

BETTy milaN

Betty Milan é autora de romances, ensaios, crônicas e peças de teatro. Atualmente é colunista da Veja.

trariamente ao de Portugal. Foi graças a uma ação competente das instituições culturais de Por-tugal na França - e na Europa em geral, incluindo a Suécia do No-bel - que a literatura de um Sara-mago, de um Lobo Antunes, de uma Lídia Jorge se impôs. Por que não ir pelo mesmo caminho trilhado pelos lusófonos que se impuseram? Por que não ter a mesma aspiração?

Last but not least, espero que o próximo congresso faça o espírito da amizade vigorar, en-sinando a ética da qual a litera-tura tanto depende para existir, a do amigo que, além de ser um pacifista, é um protetor. Ilumina quando a paixão cega. Traz fe-licidade porque quer o conten-tamento do outro, respeita a sua liberdade.

Infindáveis os exemplos de amizade na literatura. Quero evocar aqui a de Montaigne com la Boetie. Não apenas por causa da frase mais poética so-bre a razão da amizade–« Por-que era ele e porque era eu »–, mas ainda para lembrar que os dois tinham idéias diferen-tes sobre o sentimento que os unia. Para Montaigne, a amiza-de não é somente a aproxima-ção de dois indivíduos, porém a fusão das suas almas. Já La Boetie tem uma concepção ra-cional. Considera que ela re-sulta de uma “mútua estima” e se sustenta na integridade dos amigos e na igualdade entre os mesmos.

“A língua é o maior tesouro de cada povo

e o escritor com-prometido com a

renovação da língua, ou seja, aquele que trabalha na contra-

mão da comunicação, precisa de apoio.”

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bar para a confusão total. Como se não bastasse o veto do Tribu-nal de Justiça de São Paulo ao livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século na rede pública de ensino, por causa do conto “Obscenidades para uma Dona de Casa” de Ignácio de Loyola Brandão.

Há integrantes do Judiciário achando, pelo visto, que sabem mais que educadores sobre o que pode ser lido por alunos. Assim vão substituindo, com aplicação, a censura que havia sido ou teria sido extinta pela Constituição de 1988.

No começo da década de 1980, o editor Caio Graco Prado da Brasiliense, participante ativo nos debates de política cultural (e outros foros importantes) alertava sobre as conseqüências da cópia reprográfica ou xero-cópia custar menos que a página do respectivo livro copiado.

Na mesma época vi, no bal-cão de uma copiadora, uma moça encomendar trinta cópias de um exemplar de Diário de um ladrão de Jean Genet, edi-tado pela Nova Fronteira. Co-mentou ser estudante da PUC e que a professora havia pedido um trabalho sobre esse livro. O roubo dos direitos autorais do diário de um ladrão foi na gráfi-ca e copiadora Alfa, à Rua An-tonia de Queiroz, entre Augusta e Frei Caneca. (continua)

Todos acompanharam a celeuma provocada por este trecho do manual de ensino da língua portuguesa “Por uma vida melhor” de Heloisa Ra-mos, distribuído pelo MEC:

“‘Os livro ilustrado mais interessante estão empresta-do’. Você pode estar se pergun-tando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro?’.’ Claro que pode. Mas fique atento porque, dependen-do da situação, você corre o risco de ser vítima de precon-ceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, toman-do as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portan-to, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”

O jornal “O Estado de S. Paulo” esclareceu, em matéria publicada dia 15/05, que esse livro foi adotado em programas de educação de adultos. Houve erro jornalístico do Jornal Na-cional, que deflagrou a polêmi-ca, por não haver esclarecido isso. Não obstante, a articulista Dora Kramer, do mesmo “O Estado de S. Paulo”, associou tal orientação pedagógica ao modo de expressar-se do ex-presidente Lula. Outro erro: os Parâmetros Curriculares Na-cionais que consagraram uma versão piorada do relativismo

Dois temas da literatura que abalaram o bimestre

A polêmica sobre “os livro”

A discussão da reprografia

sociocultural são de 1996. Fo-ram adotados durante o governo Fernando Henrique, na gestão Paulo Renato. Na época, havia-me manifestado através deste O Escritor, em um artigo intitula-do “Em defesa da literatura”, de 2002, também ‘on line’ em http://www.revista.agulha.nom.br/ag25willer.htm. Felizmente, foram revistos no governo Lula, na gestão Haddad.

Ataques descomedidos fo-ram situados na devida pers-pectiva por José Miguel Wisnik em artigo no jornal “O Globo” a 21/05; porém, alertando: “A norma culta não é nem um mero adereço de classe nem apenas uma variedade à disposição do aluno para ele usar diante de autoridades ou para preencher requerimentos. A educação pela língua não pode ser pensada apenas como um instrumento de adaptação às contingências. A escrita é um equipamento universal de apuro lógico, que está embutido na estrutura de uma língua dada.”

Iria mais longe: uma ex-pressão como “preconceito lingüístico” é generalização simplificadora. Pior ainda,este ensinamento (do mesmo livro): “[...] as duas variantes [norma culta e popular] são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à esco-laridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse senti-do, é comum que se atribua um preconceito social em relação

à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros.”

Por essa linha de raciocí-nio, quem seguir a norma culta acabará responsabilizado pela desigualdade social, ou sus-peito de ser seu agente. Minha objeção ao baixo populismo no ensino é ética e prática. Quem quiser alguma colocação pro-fissional acima de motoboy, se não for competente na nor-ma culta, irão bater-lhe com a porta na cara. Demandas de ascensão social e segurança econômica são legítimas e de-vem ser atendidas. Além disso, a crítica ao valor literário e à norma culta como imposição da “classe dominante” acabou por sacramentar uma relação especular, com professores ensinando aos alunos o que já sabiam e abrindo mão, como-damente, de transmitir novos conhecimentos. Em oficinas literárias também já se viu co-ordenadores endossando o que viesse, qualquer bobagem es-crita pelos participantes: “mui-to bem .. ! você está se auto-expressando … ! isso é o mais importante….!”

Uma procuradora do Mi-nistério Público Federal an-tecipou que haverá ações na Justiça contra o MEC, pois os responsáveis pela edição e pela distribuição do livro “estão cometendo um crime” contra a educação brasileira. Aí está uma cabal demonstração de que tudo pode piorar; de que debates partindo de premissas equivocadas podem descam-

POlÍTiCaS CUlTURaiS

Cláudio Willer comenta livro distribuído pelo MEC com recomendações duvidosas e o debate sobre a reprografia de livros.

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POlÍTiCaS CUlTURaiS

Projeto Literário Baia-no, antologia idealizada por Valdeck Almeida de Jesus é destaque de no livro “Texto e História – 2006 a 2011”, do PNLL . Contém depoimento de escritores, editores, biblio-tecários, agentes culturais, di-rigentes públicos, acadêmicos e responsáveis por projetos de leitura e do terceiro se-tor. Apresentação de Affonso Romano de Sant’anna, Juca Ferreira e José Castilho.

Doze dos mais consagra-dos jornalistas brasileiros que também fazem sucesso na literatura participaram do Encontro com Jornalis-tas Escritores, que aconteceu entre os dias 24 e 27 de maio, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, com a curadoria de Audálio Dantas, vice-presidente da UBE. Entre os participan-tes, Ricardo Kotscho, Zuenir Ventura; Moacir Japiassu e José Hamilton Ribeiro.

O escritor Francisco Fer-nandes de Araújo continua em sua luta em prol da leitura. Na cidade de Campinas, che-ga à 5ª Campanha “Um livro

NOTaS

(continuação)

Em 1985, participei de uma reunião do CNDA para discutir providências diante do alastra-mento das cópias reprográficas. A proposta aprovada: taxá-las. Continua, penso, a ser a pro-posta mais razoável.

A lei em vigor encontrou, porém, outra solução. E instau-rou a confusão:

Capítulo IVDas Limitações aos Direitos

Autorais Art. 46. Não constitui

ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução:(...) II - a reprodução, em um

só exemplar de pequenos tre-chos, para uso privado do co-pista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

No final da década de 1990, por iniciativa de uma entidade, a ABDR, e com nosso apoio, começou o combate à repro-grafia.

A conseqüência: hoje, esta-belecimentos da região da Ave-nida Paulista e Rua Augusta não aceitam copiar livros. Cer-ta vez, tentei copiar-me – levei um dos meus livros, precisava da xerocópia de um poema. “Livros, não”, foi a resposta taxativa – e não adiantou argu-mentar que não havia infração, posto que autor e cliente eram a mesma pessoa. O comércio tem que ser simples; comerciantes não são chegados à sofistica-ção e refinamento jurídico; melhor perder negócios do que ter polícia baixando na loja; e xerocopiadoras não contratam autoralistas para dar plantão e orientar atendentes sobre o que pode ou não.

Em contrapartida, encomen-do quantas cópias quiser, do que quiser, a oitenta centavos a página dupla, em um dos inumeráveis estabelecimen-tos menos conspícuos em São Paulo. E o faço sem culpa: sou

pesquisador; por isso, mais xe-rocópias equivalem a menos manuseio de algum exemplar de biblioteca.

Se as restrições em vigor funcionassem, causariam pre-juízos à pesquisa, à produção do conhecimento. Principal-mente, se atingissem blogs de professores e apreciadores da literatura, nos quais se pode colher qualquer flor ou fruto proibido no exuberante jardim das letras ao qual se tem acesso através do Google. Por exem-plo, boas seleções da poesia de Cecília Meireles, cujos herdei-ros, notoriamente, dificultam a edição de sua obra e até mes-mo a produção e publicação de pesquisas.

Uma solução intermediária seria aquela adotada em biblio-tecas de boas universidades: cópias, só de livros raros, não encontráveis no mercado; ou então, número limitado de pá-ginas por livro. Mas ao lado, no balcão do diretório acadêmico, prossegue a xerocopiagem ge-ral. E, novamente, seria exigida sofisticação intelectual além da conta dos atendentes de estabe-lecimentos que xerocopiam.

Diante disso, da existência de dois mundos, rigorosamente coexistentes – aquele no qual se pode xerocopiar tudo e aquele outro no qual não se pode xero-copiar nada –, é o caso de reto-mar a proposta anterior, aquela da taxação de cópias reprográ-ficas ou xerocópias. E liberar a cópia, inclusive de obra inte-gral, se for parar uso pessoal e não com finalidade comercial. Além disso, é preciso saber se é possível fazer algo no senti-do de controlar a reprodução no meio digital, hoje em dia com escala e dimensões muito maiores que a xerocópia ou re-prografia mecânica.

Há um desvio de ênfase. Nosso problema não é a xe-rocópia barata, porém o livro caro. Encontro a edição norte-americana ou francesa de um au-

tor norte-americano ou francês em livrarias a preços inferiores à respectiva edição brasileira – e isso significa que lá o mesmo livro custa a metade do preço da edição equivalente aqui. Nossos livros são caros porque tiragens são pequenas. Entre outros mo-tivos, por causa da concorrência das cópias. Como romper o cír-culo vicioso? Não só através de providências jurídicas, porém de políticas culturais públicas: ampliação da subvenção à com-pra de livros por bibliotecas, patrocínios para a produção de obras de qualidade, melhoras na qualidade do ensino, programas

para a redução do analfabetismo funcional. Editores poderiam ar-riscar mais, competir diretamen-te com as xerocópias através de edições baratas com tiragens maiores (a exemplo do que já fazem alguns, com seus “pocket books”).

Cláudio Willer, poeta e crítico, é diretor de Políticas Culturais da UBE.

por um sorriso”, com distri-buição gratuita de obras de sua autoria, para incentivar especialmente àqueles que não têm condições de ad-quirir livros sem prejuízo de atender às suas necessidades primárias e de sua família.

Após dez anos de atua-ção, divulgando e dando es-paço para autores de todos os recantos do país e tam-bém de países como Portu-gal, França, Itália, Estados Unidos e Uruguai, o núme-ro 30, de junho de 2001 do “Jornal do Enéas” encerra sua jornada. Para Enéas Athanázio, seu editor e só-cio da UBE, o jornal cum-priu sua missão. Foram dez anos de intercâmbio com centenas de instituições, co-laboradores e leitores.

Nossa associada Merce-des Cavalcanti tomou pos-se na cadeira de número 8 da Academia Paraibana de Letras. Foi saudada pelo também acadêmico José Nêumanne Pinto. Mercedes é romancista, contista, poe-ta e professora da Universi-dade Federal da Paraíba.

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“Agi em nome de uma lei muito mais antiga que o rei, uma lei que se perde na origem dos tempos”, diz Antígona (Só-focles, séc.IV AC). É a mulher que exerce o direito inalienável de dar sepultura digna ao ir-mão, cujo corpo o rei mandara jogar fora dos muros da cidade, exposto às aves de rapina, no texto que muitos consideram entre os primeiros, na literatu-ra, a tratar dos direitos huma-nos, no caso a oposição entre o indivíduo e o estado. Além do teatro grego, os textos bíblicos e muitos outros textos antigos são ricos em fundamentar os direitos humanos.

Mas é sobretudo no ro-mance, a partir do século XIX, quando o pobre, a prostituta, os excluídos e outros se tornam personagens literários, que os direitos humanos começam a ser debatidos, como nas obras de Victor Hugo ou nas de Char-les Dickens, só para ficarmos em dois exemplos clássicos.

No Brasil, os direitos huma-nos se foram fazendo presentes na literatura da poesia abolicio-nista de Castro Alves à geração de 30, quando o romance, es-pecialmente o nordestino, se debruçou sobre a carência dos direitos sociais em nosso país. Jorge Amado lastimava a atua-lidade de Capitães de Areia, de 1937. Crianças ainda moram em nossas ruas, continua atual.

Hoje, direitos humanos, no Brasil, felizmente já são objeto de políticas públicas, mas ain-da causam polêmica, especial-mente porque pouco conheci-dos e quase nada vivenciados. Afinal, o que são?

Os direitos necessários para a satisfação das necessidades humanas fundamentais são os chamados direitos humanos.

A tensão ego/sociedade na literatura e nos direitos humanos

se o outro é digno de respeito ou não, se é digno de viver ou não) e invioláveis (existem in-dependentemente das leis).

Há questionamentos quan-to à universalidade, devido às diferenças culturais. A estes, Leonardo Boff respondeu em artigo por ocasião do dia da mulher em 2011, Tolerância zero à mutilação genital femi-nina, dizendo: “O que é cruel é cruel em qualquer cultura e em qualquer parte do mundo. A crueldade, por desumana, não tem direito de existir.”

A construção dos direitos humanos baseia-se sobretudo no diálogo. A esperança está na dialogicidade, no diálogo que, superando os monólogos a dois, signifique o encontro dialógico de dois sujeitos, tro-cando seus conhecimentos e construindo e reconstruindo um novo conhecimento e um mundo novo. Para tanto, não podemos nos esquecer de que o diálogo, na cultura grega, racionalista, é uma relação de sujeito e objeto, acabando por significar uma relação de po-der, de domínio. Mas na cultu-ra semita, baseada na sabedoria e no coração, segundo Emma-nuel Lévinas (Entre Nós – En-saios sobre a alteridade,1993), o sujeito se forma na relação de responsabilidade mútua, na dialogicidade.

Permito-me lembrar um dos lemas da educação em direi-tos humanos, uma frase de Cor-nélius Castoriadis (A Instituição Imaginária da Sociedade, 1982): “a minha liberdade começa onde começa a do outro; a minha liber-dade termina onde termina a do outro”. Esta máxima pretende se contrapor ao senso comum que diz: “a minha liberdade termina onde começa a do outro”. Então o inferno seriam os outros, o outro é alguém a quem eu deveria destruir para ampliar a minha liberdade.

São os que garantem a digni-dade e a integridade da pessoa. São os direitos indispensáveis para que uma pessoa seja real-mente uma pessoa. Enfim, di-reito humano é o direito a ser gente.

Como exemplo das necessi-dades humanas fundamentais, podemos lembrar: viver, respi-rar, falar, amar, pensar, comu-nicar, trabalhar, morar, ir e vir (fumar ou ter um automóvel, por exemplo, não é necessida-de humana fundamental).

E definem o ser humano, na sua dignidade de pessoa, certos atributos como a igualdade, a liberdade (possibilidade de orientar-se pela decisão indivi-dual ou grupal), atributos como o direito fundamental à vida e outros (as necessidades bási-cas) e a subsistência em condi-ções dignas (não basta viver, é preciso viver dignamente).

O brasileiro, bem ou mal, sabe o que é liberdade. Mas não tem a menor noção do que seja a igualdade, observa Fá-bio Comparato. Com uma das maiores concentrações de ren-da e de terra do planeta, com a escravidão oficial mais longa da história do ocidente, com uma cultura baseada no clien-telismo e no parentesco muito mais do que na força de traba-lho ou no reconhecimento de competências, a mentalidade dominante, neoliberal e globa-lizada, faz com que o brasilei-ro afirme sua identidade muito mais no ter e no ter mais, do que no ser.

Dalmo Dallari (O preconceito,1996) observa: “avaliar as pessoas e seus atos com base, simplesmente, na condição social, na situação econômica, nas tradições de fa-mília, na profissão, na etnia ou nacionalidade, sem conhecer as circunstâncias concretas de cada um, é praticar o precon-

ceito...” O preconceito acarreta a perda de respeito pela pessoa humana; restringe a liberdade e pode afetar a decisão livre da maioria dos membros de uma população. Introduz a desi-gualdade, promove a injustiça e alimenta a discriminação.

Cada ser humano é único e irrepetível. Portanto, somos di-ferentes uns dos outros, nunca desiguais. Somos iguais onto-logicamente, sujeitos à mesma condição humana, às mesmas potencialidades, aos mesmos desejos e medos. E há que se ter um raciocínio dialético. Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos in-feriorize; temos o direito a ser diferentes sempre que a igual-dade nos descaracterize.

É conhecido na história da literatura o caso de Alfred Dreyfus, capitão francês de origem judaica, acusado de um crime que não cometeu. A França se dividiu entre os que o apoiavam e os que não, o an-tissemitismo tomou proporções assustadoras, e o texto do es-critor Émile Zola, J’Accuse, é um marco na história da defesa dos direitos humanos. Anatole France e Theodor Herzl (cria-dor do sionismo) foram outros que o apoiaram. Dreyfus ficou preso por 5 anos.

Nos dias de hoje, março de 2011, há uma grande polêmica na França quanto à homenage-ar ou não a Louis Ferdinand Celine, o segundo melhor es-critor, segundo alguns, em ter-mos estilísticos, daquele país no século XX, autor de execrá-veis obras antissemitas (o pri-meiro seria Marcel Proust).

Os direitos humanos têm como características serem essenciais (inerentes a todo e qualquer ser humano), uni-versais (pertencem a todos os homens, sem exceção), inalie-náveis (ninguém pode decidir

aRTigO

aNTONiO FESTER

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DESTaqUES

Criação literáriaComo sublinha Bartolomeu

Campos de Queiros, tudo que existe – esta publicação, o com-putador, a cadeira em que me assento, o cômodo no qual me encontro – foi fantasia na mente humana antes de se tornar rea-lidade. Daí a força da literatura de ficção. Também ela foi fan-tasia na mente do autor e remete o leitor a uma realidade onírica que lhe possibilita encarar a vida com outros olhos. A fantasia é o que impulsiona todos os nossos gestos, atitudes e opções.

A ficção funciona como um espelho que faz o leitor transcen-der a situação em que se encon-tra. O texto desvela o contexto e impregna o leitor de pretextos, de motivações que o enlevam, aquele entusiasmo de que fa-lavam os gregos antigos, estar possuído de deuses, de energias anímicas que nos devolvem ao melhor de nós mesmos.

Toda ficção, narrativa ou po-ética, é des-cobrimento, revela-ção. Somos múltiplos e, ao ler, uma de nossas identidades emer-ge por força do encantamento suscitado pela quintessência da obra ficcional: a estética.

A literatura ficcional não tem que ser de esquerda ou de direita. Tem que ser bela. Fazer da ficção um palanque de causas é aprisioná-la numa camisa de força, transformando-a num es-pelho que não reflete o leitor, re-flete o autor e seu proselitismo.

A ficção não tem que ser engajada, o escritor sim, tem o dever ético de se comprometer com a defesa dos direitos hu-manos neste mundo tão confli-tivo e desigual.

No prólogo do evangelho de João, um dos textos mais poéticos da Bíblia, só compa-rável ao Cântico dos Cânticos, diz que “o Verbo se fez carne”. Na arte literária a carne – a criatividade do autor – se faz verbo. Instaura a palavra, que organiza o caos.

No Gênesis, Javé cria o

FREi BETTO Universo pelo poder da palavra. Ele se faz palavra, manifestação que nos remete, como na obra ficcional, à transcendência (o autor sobrepassa a cotidianeida-de ou lhe imprime novo caráter), à transparência (o texto reflete o que está contido nas entrelinhas), a profundência (a narrativa ou o poema nos convida a algo mais profundo do que percebemos na superfície da realidade).

Ler ficção é uma experiência extática – estar em si e fora de si. Somos alçados ao imaginá-rio, induzidos à experiência da catarse, de modo a oxigenar a nossa psiquê. A estética nos im-prime um novo modo de encarar as coisas. Como lembra Mario Benedetti, a literatura não muda o mundo, mas sim as pessoas. E as pessoas mudam o mundo.

A estética literária nos envia ao não-dito, à esfera do desejo, suscitando-nos sonhos, proje-tos, utopias, do encontro com o príncipe encantado (Branca de Neve) ao reencontro amo-roso com a opressiva figura do pai (A metamorfose, de Kafka, e Lavoura arcaica, de Raduan Nassar). Como assinala Aristó-teles, a poética completa o que falta à natureza e à vida. A arte não se satisfaz com o estado factual do ser. Convida-nos à diferença, à dessemelhança, ao tornar-se.

Suscitar em crianças e jo-vens o hábito da leitura é livrá-los da vida rasa, superficial, fútil, e educá-los no diálogo frequente com personagens, relatos e símbolos (a poesia) que haverão de dilatar neles a virtude da alteridade, de uma relação mais humana consigo mesmo, com o próximo, com a natureza e, quiçá, com Deus.

Antonio Fester é conselheiro da UBE.

Frei Betto é sociólogo e escritor.

aRTigO

(continuação)

Na mesma vertente, as refle-xões de Foucault (Microfísica do Poder, 1979). A questão dos direitos humanos não é apenas do embate entre o indivíduo e o estado, mas dos indivíduos entre si, pois o poder (a capa-cidade de respeitar ou desqua-lificar o próximo; a capacida-de de disciplinar; de produzir individualidades), como o vê Foucault, ou melhor, os pode-res, não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social mas funcionam como uma rede de mecanismos sem limites ou fronteiras.

Os direitos humanos cons-tituem um grande progresso da “autoconsciência da humani-dade” (Nazaré Zenaide, A for-mação em direitos humanos na universidade, 2006) e podem se tornar o ponto de intersecção e consenso entre as diferentes doutrinas filosóficas, políticas, religiosas e culturais. Consti-tuem uma oportunidade efetiva, ainda que precária, de transfor-mar o nosso tempo ou, quanto menos, evitar a barbárie.

É farta a produção brasileira empenhada na defesa dos di-reitos humanos e no resgate da memória recente do país. Exem-plos são as obras de Ferreira Gular (Poema Sujo, 1976), frei Betto (Cartas da prisão, 1977; Batismo de Sangue, 1982, e ou-tros), de Gabeira (O que é isso, companheiro ?, 1979) e o recém lançado Segredo de Estado – O desaparecimento de Rubens Paiva, de Jason Tércio.

Os direitos humanos es-

tão presentes na literatura, a qual é um espelho do homem, escreve Sartre (O que é litera-tura? 1963), para quem, nes-ta medida, ela se justifica e o homem se identifica. Antonio Candido, em pronunciamento e texto antológicos (O direito à literatura,1988), é veemen-te em afirmar que a literatura pode humanizar e é um direito de todos, sem exceção: “Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos , e a fruição da arte e da litera-tura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável”.

Alfredo Bosi (História Con-cisa da Literatura Brasileira, 1970) formula uma tipologia do romance brasileiro a partir de Lucien Goldmann (Sociologia do romance,1964), lembrando que a tensão ego/sociedade fun-da a forma romanesca e a man-tém enquanto tal. Nos romances de tensão transfigurada, o per-sonagem procura ultrapassar tal tensão através da transmutação mítica ou metafísica da reali-dade, ultrapassando também os limites do gênero romance e tocando a poesia e a tragédia. É o caso de Guimarães Rosa e de Clarice Lispector cuja leitura, mais do que nos fazer ser, nos faz ser-mais.

Pela primeira vez, a Jornada Internacional de Mulheres Escritoras homenageou um homem. Fábio Lucas foi agra-ciado com o troféu Lygia Fagundes Telles, na quarta edição do evento, realizado em São Paulo, nos dias 18 e 19 de maio, no SESC Pinheiros, e nos dias 20 21, em São José do Rio Preto. Participação escritoras da Argentina, Colômbia, Cos-ta Rica, México, Bolívia, Chile e Brasil.

Durante a XXIV Reunião Anual da ABEU, em Maceió, foi eleita a nova diretoria da Associação para o biênio 2011-2013, em chapa encabeçada por José Castilho Marques Neto (Funda-ção Editora Unesp e nosso associado), e eleita por unanimidade.

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12 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

Todos partiram:os que liame os que escreviam.Os que sorriame os que calculavam.Os que brilhavame os que sofriam.Todos foram de partida.Mudou-se a vida.Hoje estão vivosos que se calam.Os que concordam que estão concordes.Quando se acordamandam dormirquem nos acorda.Partiram os que cantavame os que cantando despertavam.Partiram os que falavame que falando explicavam.Partiram os que lidavamcom brinquedos de palavras;e que brincando ensinavam.Partiram. E no entretantohavendo gente de menoso mundo ficou mais apertado.

A doçura dos Ponteios da Madrugada de Chico Moura Campos, quando fala de Poeta e Poesia:

O poeta é ebulição.Ou – se outra imagem – o poeta é éter que se evaporamesmo sob a aparência balsâmica.O Nada é seu Norteonde se rende e se abastece.

A poesiaé o mais completo vazioa cada instante preenchidocom tudo que a vida nos dá.É o sem explicação.Um sentimento corpóreo: – Como o fenômeno de existir.

(continua na página seguinte)

“A poesia está morta mas juro que não fui eu”, afirmava o poeta José Paulo Paes, em 1988, e continuou a fazer e traduzir ver-sos até o fim da vida. A previsão da morte da Poesia é secular. A cada alteração da estética poética, voltam os preparativos do enterro da Poesia. Aconteceu depois do Classicis-mo, do Romantismo e quantas vezes mais. Na época em que Baudelaire publicava, paulatinamente, os seus Pequenos Poemas em Prosa; após a Semana de Arte Moderna, em 1922, o povo brasileiro também decreta-va o falecimento dramático da Arte Poética. Mas, qual!, papo furado que vem desde a poeta Safo, em 700 a.C. Houve mesmo a imposição de um poeta que dizia: “A Poesia é! / o resto é literatura.” E perpetuava em uma Flor de Pedra a sua eternidade:

A poesia ali tornada Pedra medraA contemplar o temploDo lindo olimpo

A poesia aliPousada ousadaVértice e vórticeDe tudoComo uma verde verdadeBoceja o largo letargoDa eternidade

Noutro dia, na Vila Madalena, após uma noite de autógrafos (de um poeta, claro), eu vinha conjecturando nessas coisas de morte da Poesia, do fim do livro pelo com-putador, quando encontro meu parceiro, diretor da UBE, jornalista e pesquisador emérito, e prosseguimos o papo, escondi-dos atrás de um copo de uísque; ele com seus números, eu com minha filosofia.

A quantidade de entidades que congre-gam intelectuais, escritores, poetas de to-dos os estilos é desmedida em todo o Bra-sil. Todas as Capitais possuem academias de letras, oficiais e amadoras, cada cidade do Interior, idem. Proliferam os clubes li-terários e as mais variadas associações. Então, onde está a morte da Poesia, que os abutres tanto anunciam?

A verdade é que não há leitores. A de-manda é menor do que os fabricantes. Há,

Poetas da UBE (I)sim, uma parte do Ensino tentando as-sassinar a Poesia (e a Literatura, de forma geral). Há governantes híbridos que sequer pensam nisso. Muitos professores tiraram a Poesia do currículo. E enquanto o meu ami-go Gabriel me espantava com suas estatís-ticas, eu pensava derrotado : pobre Brasil ! Ainda bem que eu sou sócio da UBE e essa União de Escritores está sempre atenta às calamidades, insurge-se contra a incultura do País e busca dar alento ao bom Ensino. Mas, não vamos falar de desgraças. Vamos voltar aos fabricantes de Poesia e à pujança de poetas que poderiam nutrir esta Nação, se houvesse mais e mais leitores.

Sem estatísticas, porque poucos órgãos pensam nisso, eu e meu parceiro debulhá-vamos a quantidade de livros de poemas que têm seus lançamentos todos os dias, a ponto de não se poder comparecer em todos. E começamos a contar e lembrar. A cada mês vem o Boletim da Pensão de Jundiaí, com convite para dois, três lan-çamentos, vem o jornal Linguagem Viva, com uma série, com resenhas desse ou daquela poeta, que acontece aqui, no Inte-rior do Estado, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco, Paraíba, Mato Grosso, etc. Vários. Várias estéticas, Vários gostos. Várias tendências.

Até o Modernismo, havia a estética fi-losófica da “escola”, assim, os arcádicos faziam o idílio bucólico, os românticos sofriam o mal de siècle, os parnasianos impunham o realismo, o esforço da for-ma, os simbolistas, a mística religiosa e sabor da morte, em homofonia das pa-lavras, e o modernismo quebrou tudo, as rimas, os sonetos, a forma, trouxe a pilhéria revolucionária contra o acento estrangeiro, exacerbou o modismo, re-velou o pau-brasil, veio o pós-moderno sem qualificação definida e por aí vai. Cada poeta, hoje é uma ilha. Escreve o que acha interessante, do jeito que qui-ser, com ou sem preocupação de forma, mas sempre com o objetivo de transmitir ao leitor o que lhe vai na alma.

Agora, depois de tanta conjectura, vamo-nos ater aos poetas da UBE.

Uma profusão de talentos. A começar por nossa vice-presidente Renata Pallottini, poeta e dramaturga, premiadíssima, cuja coragem iluminou os anos-de-chumbo:

DJalma allEgRO

Djalma Allegro é poeta, embora atue como advogado. É diretor da UBE.

Uma análise da poesia, nas escolas, nas ruas, nos bares. O autor observou, em todos esses ambientes, a poesia retratada por associados da UBE.

algUma POESia

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13UBE O ESCRITORJUNHO, 2011

Poetas da UBE (II)algUma POESia

E o Gole, de Betty Vidigal ? Tome um gole de mim que te sustentepor mais uma semana, um mês talvez.

Um hausto de palavras transparentes,tela translúcida através da qual me vêscomo uma silhueta, simplesmente.

Uma mulher que pensas conhecer?

Me deixa bêbada de ti. Por um momen-to,

quando te afastas, sei que vou morrerde uma ressaca dessas violentas, que fazem viciados renitentesjurarem a si mesmos nunca mais beber.

Mas sei e sabes que estou sempre aqui,e que sou e serei reincidente.

Assim, também, a Solidão de Rosani Abou Adal :

Deitar na camacom um homem invisívelsem sonhossem sono

A música propensa no Adágio de Neide Arcanjo:

Repenso o passadoe a música recortatua figuranaquele umbral fechado.

Talvez de branco estivessesnão seiou de um verdesigiloso e breveque jamais esquecerei.

Johannes Brahmsfaz-te desfilarno tapete em frente.

Da visita crepuscularque concede o temponem sabese nem consentes.

São tantos os estilos e tão longa a lista que queremos lembrar, mas a noite vai alta e o tempo se esgota. Como esquecer tanta gente? Como deixar sem registro as Luas de Júpiter de Beatriz Amaral e o se Ricercari:

eu disse alaúdee súbito ouvi

todas as cordasse afinarem

também vicontra as pedrasum barco narrativo

perdidos remos,pares, réguas

o choque das palavras explodindono ambíguo precipíciosem resposta Ou o Espectador, visto do Parapeito Vital

de Vânia Clares :De um postigo assisto a fatos,cenas e pessoas que assimilo,sugo e sirvo como há mil anos.Todos os ferrolhos capazes, atados,garantem camuflar meus medose retardar a visão do infinito.Nada poderá, nem mesmo amor,derrubar a porta e enfrentar seguir:só se abrirá do lado de dentro.

A dicotomia do Anjo, de Raquel Naveira :

Anjo barroco,oco por dentro,ouro por fora.

Anjo tortoque acompanha o poetaaté o horto.

Anjo louco,preso no candelabro,no descalabro do verso.

Anjo de oratório,de capela,de sala de música,qualquer diadesvendoo enigma do teu sexo.

Ou ainda atender A Pedidos, de Flora Fi-gueiredo :

Querem um verso,mas não sou capaz.Vejo a palavra fraturaras entrelinhas,tento soldá-las,

mas não são minhas.Rompeu-se o verboe me deixou pra trás.

A não exaltação da conspícua análise de A Mulher e o Espelho, da poeta Giselda Di Guglielmo:

Quem é essa mulhera me olhar cinicamentedentro do espelho?

De quem são os olhoscercados por rugas insinuantesque neles fizeram seu ninhoe a bocaesquecida há muito tempodo sabor do beijo?Quem é essa mulher cujos cabelos em vôos rasantesnão mais esvoaçam como pássaros?

Essa mulher não existe.

A mulher que existetem olhos brilhantesboca com perfume de beijose cabelosque já atingiram o infinito.

A noite ia alta, a nossa lista não chegou à metade, era preciso ir. À saideira, ainda trouxe mais uma. Eunice Arruda a fértil poeta de sempre, que acaba de lançar “De-baixo do Sol”. Ah! temos de fazer outra rodada.

O escritor Menalton Braff, também di-retor da UBE, tem seu nome incluído entre os melhores escritores brasileiros. Seu li-vro “Bolero de Ravel” é finalista do prê-mio São Paulo de Literatura, um dos mais importantes prêmios brasileiros na atuali-dade, e também do Portugal Telecom para melhor trabalho em língua portuguesa.

Em preparo o III Encontro Catarinense de Escritores de Alfredo Wagner e Região, previsto para 2 e 3 de setembro de 2011, com escritores de 3 países, 5 estados e mais de 30 municípios. A organizado é da Academia de Letras do Brasil. Informa-ções: www.encontrodeescritores.com.br

REgiSTRO

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14 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

Esta edição de O Escritor foi fechada antes da data de encerramento das indicações para o Prêmio Intelectual do Ano – troféu Juca Pato, 30 de junho. Isto porque a nossa parceira, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, tem cronograma de impressão que não poderia esperar para di-vulgarmos todos os candida-tos indicados.

Até o dia do fechamento desta edição, apenas o associa-do Francisco Moura Campos havia encaminhado correspon-dência, subscrita por 30 (trinta) associados da UBE nacional, como reza o regulamento, in-dicando o nome do geógrafo, professor e ambientalista Aziz Ab’Sáber para o prêmio de In-telectual do Ano. Entre os no-mes que apoiam a indicação es-tão Antonio Candido, Cláudio Willer, Fábio Lucas, Frei Betto, Levi Bucalem Ferrari e Marisa Lajolo.

Temos notícias de que mo-vimentações para indicação de outros candidatos estavam ocorrendo na Paraíba e no Rio de Janeiro, mas não foram efe-tivadas em tempo de serem no-ticiadas. Caso se concretizem, serão divulgadas no site www.ube.org.br

Eleições

Em consonância com o Art. 5º do regulamento (que pode ser consultado no site da UBE), a Secretaria da UBE imprimirá e emitirá as cédulas. Os associa-dos e outros capacitados a votar pelo regulamento terão 30 (trin-ta) dias para votar em pessoa, na sede da UBE ou para postar o voto pelos Correios. O período de votação será encerrado no dia 15 de agosto de 2011.

O candidato

Apesar do nome de origem árabe, Aziz Nacib Ab’Saber é paulista de São Luiz do Parai-tinga, no Estado de São Paulo. Geógrafo, é professor eméri-

aRTigO

UBE indica Aziz Ab’Sáber para o Troféu Juca Pato

TV Cultura apoia o Prêmio Intelectual do Ano

to da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Concebeu teorias e pro-jetos inovadores relativos à ge-ografia brasileira, contribuin-do para com a compreensão e preservação do nosso meio ambiente. Já recebeu o Prêmio Santista e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, oferecido pelo CNPq. Também recebeu, entre outros, o Prêmio Internacional de Ecologia de 1998 e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente de 2001.

Publicou, em 2010, “Leituras indispensáveis 2”, pela Ateliê Editorial, em prosseguimento a um projeto voltado para a forma-ção cultural dos jovens universi-tários. É uma série de textos que envolvem temas como sustenta-

bilidade, políticas sociais, am-bientalismo e economia.

Seus principais livros: “Ecossistemas Brasileiros”, “Domínios da natureza no Brasil - potencialidades paisa-gisticas”, “Litoral Brasileiro”, “São Paulo: ensaios entreve-ros”, “Amazônia: do discurso a práxis”, “Áreas de circudesnu-dação periférica pós-cretácea”, “A Terra Paulista”, “O homem do terraço de Ximango”, “Es-paços ocupados pela expansão dos climas secos na América do Sul, por ocasião dos perí-odos glaciais quaternários”, “Domínios geomorfológicos da América do Sul: primeira aproximação”, “O homem na América Tropical: estoques ra-ciais em contato e conflito”.

LUIZ FILIPE BARCELOS

O professor Aziz é um dos mais antigos e dedicados defensores da preser-vação ambiental no Brasil.

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Novos associados da UBE Ciclo de estudos do Mutirão Cultural da UBE

Conheça os autores que recentemente ingressaram nos quadros da União

Brasileira de Escritores.

O Mutirão Cultural da UBE iniciou ati-vidades há 13 anos. Sua existência é fruto tanto da demanda como da constatação dos que a idealizaram e, consequentemente, da imperiosa criação de um movimento que determinasse, mesmo que inicialmente, o despertar de uma consciência crítica atra-vés de atividades culturais, de debates e de oficinas diversificadas, objetivando, assim, abrangência holística. Se essas propositu-ras foram sonhadoras ou pretensiosas para alguns, elas se tornaram viáveis e verdadei-ras pela determinação demonstrada pelos que se propuseram tornar a pretensão uma realidade.

O Mutirão Cultural teve seu “atestado de nascimento” através da carta de propo-situras, do escritor Carlos Frydman, dirigi-da em 1998 ao presidente em exercício da UBE, professor e crítico literário Fábio Lu-cas, onde constatamos a contínua perda da identidade nacional, fruto de uma mídia tão perversa que determina no povo, além do condicionamento, a incapacidade crítica. Isto é: aceitar tudo tão implicitamente, tor-nando o ser humano mero receptor como a própria TV.

O histórico do Mutirão Cultural é den-so e rico porque existe em nossa atuação reciprocidade e troca permanente de ensi-namentos com o povo que nos frequenta. Daí, os documentos e textos que acumula-mos são éticos e moralmente comprovados no decurso de nossas atividades e postura de militantes culturais.

Atualmente, o Mutirão Cultural da UBE mantém intercâmbio cultural com a Pontifícia Universidade Católica – PUC - Centro de Estudos de História da América Latina- CEHAL, Campus Monte Alegre, Perdizes, com atividades aos sábados pela manhã, e na Associa-ção Comercial de São Paulo - Distrital Centro, na Liberdade, às sextas feiras à tarde. Em ambas, ministramos o ciclo de estudos: Técnicas de Oratória - Dr. João Meireles Câmara, com os orientadores: Dr. João Meireles Câmara, Dr. Armando Taminato e Drª. Sueli Carlos, palestras e conferências com convidados de renome nacional e internacional. (informações: [email protected])

Ass. Comissão diretora do Mutirão Cultural da UBE

aTiViDaDEqUEm gaNhamOS

Alfredo Rossetti -4086

Elisa Alderani Cianca-glini -4078

João Raimundo da Sil-va (João Dico) - 4080

Marlene Bernardo Cerviglieri -4075

Noemia Meireles Nocera -4074

Baco Figueiredo - 4083

Fabiano Leite de San-tana - 4079

Marcelo de Oliveira Souza (Som) - 4085

Mouzar Benedito- 4076

Paulo Dias Neme - 4084

Carolina Estrella - 4081

Fídias Telles de Car-valho -4073

Mária Celia Barbosa Reis da Silva 4070

Nelson Jacintho - 4077

Roldão Aires - 4087 Severino Antonio -4082

Tito Damazo - 4062

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16 UBE O ESCRITOR JUNHO, 2011

afogando é ajudada por sua amiga Lu. A mo-ral: toda boa ação deve ser recompensada

Gente Pobre, Fiodor Dostoievski, tradução do russo de Luís Ave-lima –Editora Letra-Selvagem - neste livro Dostoievski não se contenta em descrever o ambiente de um dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo,

mas que realiza uma in-cisiva e subterrânea sondagem psicológica da humanidade “humilhada e ofendida” que se observa em todos os seus romances.

Minas em pedaços: os movimentos separa-tistas nas gerais, Hugo Pontes, Sulminas Gráfi-ca e Editora – Demons-tra, desde a formação da província, depois Es-tado, que Minas Gerais foi constituída geogra-ficamente em cima de áreas de capitanias here-ditárias, pertencendo inicialmente à capitania do Rio de Janeiro, depois São Paulo.

Poesia, Ensaio & No-vela, João Barcellos, Edicon – reúne, entre participações poéticas de intelectuais, textos que mostram a luz total de um João Barcelos que, para Carlota Mo-reyra “pensa e repensa a humanidade pelo ato crítico e construtivo

com o afazer filosófico e sociocultural”.

Palavras Essenciais Vol.6 – Humanismo Educação & ... Justiça histórica, João Bar-cellos e outros, Edicon – “Nesta edição pode-se

sua linguagem de forma simples e elegante.”

A lagartixa voadora, Ceiça Esch, All Print Editora – Com ilustra-ções de Danilo Mar-ques, mais uma obra de Ceiça dirigida ao públi-co infantil e que conta a história de uma lagar-tixa cujo sonho maior é voar.

Antologia Brasileira Diamantes (I), Fídias Teles (org), Berthier – reunião de contos, crônicas, poemas, pen-samentos de escritores “brilhantes e resis-tentes”, como diz seu organizador. Entre os participantes Frederico Carvalho, Bárbara Kleinunbing Zaniol, Anna PortoJanete Veiga, José Bezerra de Araújo e o próprio Fidias Teles.

As verdades contra os fracassos da vida (Por uma Pedagogia Antro-pológica), Fídias Teles, Alternativa - Segundo o autor sua intenção ao publicar esta obra é “colocar as verda-des contra os fracassos da vida, atitude que só pode triunfar, do ponto

de vista educacional, por vias de uma Peda-gogia Antropológica”.

Cisquinho, a formigui-nha, Geni Pires de Ca-margo Prado, Scortecci Editora – Livro dirigido ao público infantil. A história de uma formi-ga arteira que quase se

Poemas/Versek, Ali-ce Spíndola, Projeto UBE-RJ-Tradução – Edição bilíngüe (por-tuguês/húngaro) com poemas da escritora mineira de Nova Ponte radicada em Goiânia, taduzidos por Lívia Paulini também escri-

tora húngara radicada em Belo Horizonte. Poemas que revelam uma escritora impor-tante no cenário da poesia brasileira.

Depois do inverno, a primavera - B.W. Ma-rinho Martins, Ottoni Editora – Em 2ª edi-ção o ituano Benedito Walter Martinho Mar-tins lança este roman-ce que conta a estória de amor vivida por um casal jovem durante a chamada Guerra das Malvinas.

Garota apaixonada em apuros, Carolina Estrella, Foliocriação. Para Pedro Siquara, um livro de “linguagem simples e moderna, que narra uma aventu-ra romântica de uma adolescente decidida, de personalidade forte,

mas como muitas outras passa por dúvidas, incertezas e sonhos”.

Eternamente..., Ceiça Esch, Artpop – o livro “traz em cada poema o desejo de eternizar sentimentos ímpares que cicatrizam a alma humana”, escreve Iza-belle Valladares, “e Ceiça Esch trabalha

NOViDaDES

Lançamentos de livros de associados da UBE

Todos os associados são bem-vindos para divulgar seus lançamentos nesta página. Basta enviar a capa digitalizada, com sinopse, para [email protected] ou enviar um exemplar para o endereço postal que consta do expediente

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17UBE O ESCRITORJUNHO, 2011

o signo das sombras que, nascendo da inter-ceptação da luz, povoam a noite e a natureza humana, ziguezagueando pelas ruas com os bêbados, acompanhando os assassinos pelas estradas da vida (...), inspirando a imaginação das almas sensíveis”

João Bolão, Ricardo Filho, Editora Melho-ramentos – com ilus-trações de Ângelo Abu o livro traz João Bolão, personagem simpaticís-simo, quer que “jogar um bolão, em vez de ser gozado pelos colegas por causa do sobrepeso (..) mas não é nada fácil para um garoto ven-cer as inseguranças e amadurecer sem ficar

meio passado, né?”

Oficina Natureza, Nilva Ferraro, Edi-tora AGE – “Por que Oficina Natureza? Porque a natureza cria, fabrica, elabora maravilhas, para nos

oferecer de bandeja e nos fazer mais felizes. O livro foi inspirado nas belezas de São José dos Ausentes, RS, e é um cântico a sua prodigiosa natureza, com seus campos e cânions.”

O menino quase per-dido, Francisco Miguel de Moura – Edições Cirandinha – 30º livro do conhecido poeta e prosador pauiense, pode ser lido como crô-nica, conto, romance ou apenas memorial de infância. É um trabalho telúrico, que mostra uma linguagem segura e confirma o poeta como uma das importantes vozes da cultura piauiense;

Chez Mme. Maigret, Renata Pallottini – Glo-bal Editora - Trama policial que tem Paris e o Rio Sena como de fundo. Renata dá voz a Louise, viúva do conhe-cido comissário Jules Maigret, que procura se firmar como dona do seu destino, investigan-

do um crime em que seu marido estava tra-balhando e em cujas circunstâncias ela havia involuntariamente se envolvido.

encontro com a poetisa Cora Coralina, com pessoas que passaram pela sua via na profis-são de jornalista. Um rico painel da diversida-de cultural brasileira.

Osso e ferro velho, Nege Além – Scortec-ci Editora - Reunião de contos escritos em épocas distintas, alguns já publicados em anto-logias e jornais, outros inédito. Prefácio assi-nado por Caio Porfírio

Carneiro que atenta para a marca persona-líssima de contar de Nege Além.

Mangá Tropical, Um Estudo de Caso, Pa-trick Raymundo de Mo-raes, Editora Otimismo - o livro traz um estudo sobre a influência da narrativa e estética de mangás em quadrinhos brasileiros, usando-se de um estudo de caso, tendo o almanaque Mangá Tropical, da edi-tora Via Lettera, como início e centro deste

estudo.

Fatos Históricos de Piracicaba, Paulo Dias Neme, BH Gráfica e Editora - Como o tí-tulo explicita, o autor percorre a história des-sa importante cidade paulista desde o perío-do que antecede a co-lonização. O livro ainda

conta com uma seleção de poemas que ho-menageiam a cidade.

O genial Jorge Luis Borges, textos selecio-nados e traduzidos por Rodolfo Konder, que atestam a genialidade re-ferida no título. Entre os textos “A Moeda de Fer-ro”, “O Elogio da Som-bra”, “Os Conjurados” e

“História da Noite”.

Sombras da noite: contos para a juventu-de, Wilson Pires Ferro, Lithograf - 0 livro reúne 33 contos de temática variada, “concebido sob

ler o grito sociocultural de outra intelectualida-de,: a intelectualidade não-engajada, livre das amarras das ditaduras corporativas, É o grito de quem vive a construir caminhos novos para a liberdade”. Textos de João Barcellos, Alfredo

Pinheiro Marques, J.C. Macedo, Manuel Reis, Carlota M. Moreyra, Fê Marques, Maria C. Arruda, Alfredo Pinheiro Marques e Mário G. de Castro.

Minha vida... escrevo para recordar, recordo para viver, João Dico, Literarte – Memórias de um nordestino cujas ori-gens estão fincadas no Piauí. O livro é resultado de sua volta ao estado de origem, de onde saiu no início dos anos 60 para se fixar na cidade de São Paulo. Bons momen-tos de poesia.

Amália, Amariles e as borboletas, Loreni Fer-nandesGutierrez - Para Hygia Therezinha Cal-mon Ferreira “Amália significa repositório de ensinamentos, proteção. Amarílis simboliza a he-rança ancestral, o misté-

rio e a revelação, dentro e fora da natureza, devastada ou acolhedora, reno-vada e sustentável. As borboletas representam o arcabouço, a iniciação e a transcendência”.

Conto & Reconto, Marcelo Souza, Celeiro de Escritores. Reunião de contos que tratam de aspectos do cotidiano, vivências do próprio autor cuja “imaginação criadora flui mostrando instantes de ficção que bem poderiam ser um be-líssimo reconto da realidade”.

Trem doido, Mouzar Benedito, Limiar – O autor relata histórias de andanças de trem pelo Brasil adentro, memó-rias de sua infância mi-neira, casos do curso de Geografia da USP, seu

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Quando decidi fazer um ro-teiro sobre a vida e obra de Tito Batini já sabia que a tarefa seria árdua, mas também prazerosa. Afinal, teria de discorrer sobre política, ecologia, jornalismo, esporte, cinema, artes plásticas e literatura, assuntos intrínse-cos na vida do escritor. Mas em meio a tanta diversidade, nunca me perguntei o porquê de ter definido a UBE como um capí-tulo à parte.

Quando Joaquim Maria Botelho me pediu gentilmente um artigo para O escritor, me dei conta das tantas lembranças compartilhadas naquele andar do prédio da Rua 24 de Maio, em São Paulo, porque a UBE era mais que literatura, era o cerne da cultura, da crítica so-cial, um espaço para análise da vida. E foi ali, onde era a sede da UBE, que desfilaram as mais influentes personalidades da vida literária brasileira, e onde fui encaminhada para a forma-ção em humanidades.

Minha relação com a UBE começou muito cedo. Nos idos de 70, ainda bem criança, já ten-tava acompanhar os passos lar-gos (e não lentos), de um homem gigante, de pernas longas, nas andanças pelo centro da cidade. Pelo menos uma vez por sema-na, Tito Batini me pegava pela mão, subíamos em um “elétri-co” que, depois de uma hora de percurso tranquilo e sonolento, estacionava na Avenida Cásper Líbero. De lá, caminhávamos a pé até o Largo do Paissandu, onde ainda existe o Ponto Chic, tradicional lanchonete paulista, e Tito sempre lembrava que ali conhecera o autor do famoso sanduíche Bauru.

A esta altura já estávamos próximos da Igreja do Rosário, do monumento à Mãe Preta; cruzávamos a São João e de-sembocávamos na Rua 24 de Maio e, de lá, seguíamos até o número 250. O percurso era completado depois de muitas paradas. Batini acenava e cum-primentava muitas pessoas que eu dificilmente conseguia dis-tinguir e, frequentemente, ouvia a expressão “Salve Batini!”, re-tribuída com serenidade. Entre cumprimentos, buzinas, sirenes, guardas de trânsito, vendedores pululando nas calçadas e ho-mens- sanduíche anunciando “abreugrafia, “carteira de tra-balho”, “compra-se ouro”, con-tinuávamos o nosso percurso.

Grande observador que era, Tito sempre chamava minha

atenção para algum detalhe. Levava-me para contemplar bonecas de porcelana vestidas de chinesas que coloriam as vitrines do quadrilátero (24 de Maio, Barão de Itapetininga, Dom José de Barros e av. Ipi-ranga). Às vezes, parava para me comprar uma cocada de fita, neste roteiro singular.

E, finalmente, chegávamos ao número 250, onde éramos recepcionados por um corre-dor comprido de mármore. Um ascensorista uniformizado de azul e quepe de frisos dourados gentilmente nos convidava para uma viagem de poucos segun-dos em elevador muito largo, até o 13º andar. Era tempo sufi-ciente para uma palavrinha so-bre literatura, política, o notici-ário do dia e, às vezes, futebol:

“E o nosso Corinthians?” Não raro, tínhamos ao nosso lado Raimundo de Menezes, Ab-guar Bastos, Pascoal Mellan-tonio, Aluisio Sampaio, Dalmo Dallari, Fábio Lucas, Miguel Abellá, Judas Isgorogota, Má-rio Donato e Clóvis Graciano, nomes gravados em minha me-mória entre tantos outros que pelo menos uma vez por sema-na compunham esse cenário.

No 13º andar, do lado esquer-do, uma porta de madeira escura dava entrada ao amplo salão. No lado direito, uma porta de vidro com a inscrição “Secretaria”. Era ali que eu passava as minhas tardes. Havia sofás de couro na cor verde-escuro, mesas centrais com cinzeiros do tamanho de pratos e quadros nas paredes que eu não conseguia distinguir.

Janaína conta a história do pai, Tito BatinimEmóRia

Esta matéria, escrita especialmente para o jornal O Escritor, faz parte da biografia de um dos fundadores da UBE, sob o título de Re-cordis

JaNaÍNa BaTiNi

Na sede da UBE, à rua 24 de Maio, Eduardo Sucupira, Tito Batini, Caio Porfírio Carneiro, Stella Carr e Ibiapaba Martins

J.P.AN

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19UBE O ESCRITORJUNHO, 2011

mEmóRia

(continuação)

Uma enorme varanda se abria para um mosaico de ja-nelas e antenas e, também, dava para vislumbrar um pequeno recorte do Edifício Copan. O ambiente acolhedor embalava as “siestas” de senhores muito elegantes que passavam por ali, depois do almoço. Lá pelas 16 horas, já se ouvia rumores de al-guns associados, colaboradores e dirigentes que chegavam para a reunião semanal, que começa-va por volta das 18 horas.

Na secretaria, estava sempre uma figura ávida e emblemáti-ca, sentada sob um retrato de Olavo Bilac. Certa vez pergun-tei não seria a mesma pessoa, tal a semelhança. Era Caio Por-fírio Carneiro, de palavras rápi-das, com sotaque nordestino e sempre de prontidão. Escritor e secretário emérito da UBE, ali Caio organizava tudo. Atendia aos quase mil associados, cola-boradores e aspirantes a escrito-res naquele aparelho de telefone negro, com o trim, trim incon-fundível. Muito assoberbado, andava de lá para cá e lidava com fichários muito compridos, guardados em arquivos de aço pintados de verde.

Compunham ainda o am-biente as pesadas máquinas de escrever Remington e Olivetti, espalhadas pelas mesas. Sem-pre que ouço a música de Leroy Anderson (Máquina de Escre-ver) me vem à memória esse som característico das minhas tardes na UBE. E, às vezes, com o sono de criança, que nos pri-meiros anos de escola acordava às 6 da manhã, faziam lembrar as madrugadas produtivas de Tito Batini, que nos embalava com os tec, tec, tec de uma mi-úda Olivetti de cor laranja. Era dali que saiam inúmeras páginas escritas e reescritas de originais dos romances O Modelador de Máscaras, Menino do Arroio Grande e o livro editado pela Unicamp, Memórias de um Socialista Congênito, publicado postumamente em 1990.

Também ficou gravado nas minhas lembranças do antigo andar da UBE, o auditório sole-ne, local dos principais encon-tros e discussões da época. Nas paredes, molduras delimitando rostos de homens sérios, teste-munhas dos debates e delibe-rações da mais importante enti-dade representativa da literatura brasileira. Mais tarde pude iden-tificar que se tratava de uma ex-posição de fotos dos fundadores, membros, escritores e presiden-tes da UBE , entre eles Menotti Del Picchia, Monteiro Lobato, Carlos Drumond de Andrade, Sergio Milliet e outros de quem não já não me recordo.

Palco de numerosos encon-tros, o auditório da UBE dava margem a mesas redondas dos assuntos mais diversos da atu-alidade brasileira: manifestos a favor do meio ambiente; contra a construção de usinas atômicas; ciclo de debates sobre filosofia, economia, sociologia, literatura nacional e internacional; dis-cussão sobre direitos humanos na década bastante conturbada de 1970. Lembro-me que ain-da nessa sede fora instalado, em 1980, o Centro de Estudos e Divulgação de Moçambique, país que havia se tornado inde-pendente de Portugal em 1975, depois de um conflito que durou 10 anos.

A UBE, principal represen-tante da literatura nacional, tam-bém premiava os escritores que mais se destacavam durante o ano e promovia concursos lite-rários, homenagens, lançamen-tos de livros, exposição de artes. E foi ali que assisti à entrega do Prêmio Intelectual do Ano - Juca Pato ao escritor, sociólogo, historiador e brasilianista Sérgio Buarque de Hollanda, acompa-nhado de dona Maria Amélia e filhos. Seu discurso começou com uma brincadeira: “Antes, quando encontravam meu filho, diziam que o pai dele era o Sér-gio Buarque de Hollanda. Hoje, para quem não me conhece, eu sou o pai do Chico...” Na verda-de, estava ali, diante dos meus

olhos, o escritor, intelectual, historiador, brasilianista e um dos maiores ícones da cultura brasileira do século XX.

Anos antes, também pre-senciei a entrega do prêmio ao jurista e defensor dos di-reitos humanos, Sobral Pinto, ao ex- presidente Juscelino Kubitschek e ao jurista Dalmo Dallari, todos nos anos 70, no tempo em que o prêmio tinha um “efeito dinamizador, indu-zindo à reflexão e à produção de conhecimento e sua relação com o tempo presente”. As ho-menagens e discursos tinham ao fundo uma cortina amarela-da que cobria um vidro de uma pequena sala recheada de livros infantis. Desta sala surgia, às vezes, um homem de óculos e muito sorridente, que nos entre-gava gibis e revistas de pintar, doces e balas, homenageando as poucas crianças que por ali passavam. Era o poeta Eduardo de Oliveira, que tenho sempre na memória.

A UBE era um espaço para o lançamento de livros. Foi lá que, em 1980, Jacob Bazarian lançou O Problema da Verdade, que ainda guardo comigo, e ajudou-me a compreender alguns prin-cípios filosóficos e contribuir para dar rumo à especialização que seguiria anos mais tarde.

Chamava a atenção também, um busto de bronze com uma cabeça muito grande e a inscri-ção “Sérgio Milliet”. E nas tar-des das quartas-feiras, o concor-rido bar do Franco concentrava rodas de conversas com alguns dos mais ilustres representantes da literatura brasileira. Presen-ciei bate-papos entre Heitor Fer-reira Lima, Hermínio Sacchetta, Cláudio Willer, Hernani Dona-to, Celso Alencar e alguns dos novos poetas que surgiam.

Também acompanhei na sede da UBE a eleição de 1988, de que faziam parte Fábio Lu-cas, Enio Squeff, Luis Avelima, Roniwalter Jatobá, José Antonio Segatto, Antonio Romane, Eror-ci Santana, Stella Carr e Walnice Nogueira Galvão, entre outros.

Janaina Batini é editora, pesquisadora, socióloga e produtora cultural. Filha de Tito Batini.

Lembro-me que de alguns itens da proposta, baseados na “Carta do Escritor”, que lutava em de-fesa da herança literária, cientí-fica e artística; contra qualquer forma de preconceito de língua, raça, nacionalidade e ideologia; pelas liberdades democráticas, pela coexistência pacífica dos povos, baseadas no intercâm-bio econômico, científico e cul-tural; pelos direitos de autor e da promoção da defesa dos seus interesses; da organização do arquivo cultural da UBE e am-pliação do Museu do Escritor; congregação de tradutores, au-tores de histórias em quadrinhos e cordel, entre outros.

O inesquecível aroma de madeira nobre daquele am-biente acolhedor, a presença daquelas personalidades, po-voando meu mundo ainda in-fantil, que se destacavam como homens elegantes e as poucas mulheres que mais tarde seriam reconhecidas como grandes ex-poentes da literatura nacional, como Lygia Fagundes Teles, Ruth Rocha, Ruth Guimarães, Antonieta Dias de Moraes, Eu-nice Arruda, Renata Pallotini, Anna Maria Martins, Rosani Abou Adal, e algumas outras de quem, infelizmente, os no-mes me fogem. As discussões eram acaloradas, de discursos exaltados. Construía-se ali, a cada reunião na sede da UBE, os alicerces de uma literatura que se tornou expoente de toda uma geração.

Ao final da noite, em meio a tantas despedidas somadas ao cansaço de uma menina que já não conseguia manter os olhos abertos, depois de tanta agita-ção, tomava as mãos de Batini, e lá seguia de volta para casa, o mesmo trajeto, agora silencio-so, personagens taciturnos,com novas luzes e sombras.

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