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Caridade e fé no Cariri Cearense: A ação missionária doPadre Ibiapina nas Vilas de Crato e Barbalha.
Bolsista: Sara Cavalcante Moreira1
Orientador: Océlio Teixeira de Souza2
Introdução
O presente trabalho é resultado parcial de nossa pesquisa sobre a atuação missionária do
Padre Ibiapina no Cariri Cearense, em especial nas Vilas de Crato e Barbalha, na segunda
metade do século XIX. Neste artigo abordaremos duas características essenciais e, ao mesmo
tempo, elementos propulsores, da ação do Padre Mestre Ibiapina: a caridade e a fé.
Somos impulsionados pela leitura e conhecimento da atuação benéfica do missionário Padre
Antonio Maria Ibiapina pelos sertões nordestinos, a pensar e buscar conhecer o seu papel na
formação religiosa, social e educativa das Vilas de Crato e Barbalha. Tendo em vista as obras
materiais e espirituais deixadas por suas missões nas terras caririenses problematizamos na
perspectiva de sua influência, contribuição e intervenção no cenário sócio-educativo e
religioso do povo daquelas vilas.
Nosso trabalho é erguido sobre o alicerce - ainda pouco conhecido - da atuação do Padre
Ibiapina nas terras do Cariri Novo, no período de 1864 a 1870. A sua ação missionária era de
caráter sócio-religioso, cultural e educacional voltada para o melhoramento da realidade
vivida pelo povo do sertão nordestino. No Cariri especificamente, ele realizou obras e fundou
Casas de Caridade em Barbalha, Crato, Milagres e Missão Velha. Por hora merece nossa
maior atenção a atuação missionária ibiapiniana nas Vilas de Crato e Barbalha e sua
importância na formação da cultura e vida daquele povo.
Traços Biográficos do Padre Ibiapina.
11 Graduanda em História pela Universidade Regional do Cariri e bolsista de iniciação científica PIBIC/URCA
22 Professor Mestre e pesquisador da Universidade Regional do Cariri e Orientador do Programa PIBIC/URCA
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José Antônio Pereira Ibiapina, nosso “Apostolo do Cariri”, nasceu em Sobral a 5 de Agosto
de 1806, sendo o terceiro filho de um humilde casal- Francisco Miguel Pereira e Teresa de
Jesus. Iniciou seus estudos na cidade de Icó e depois acompanhando a família que veio para o
Crato deu continuidade na Vila de Jardim. Ainda jovem seguiu para Olinda, movido já pelo
desejo de seguir a vida sacerdotal.
No entanto, foi obrigado, com a notícia da morte de sua mãe (1823) a abandonar o Seminário
(onde permaneceu por um curto período 10/11 a 15/12) e voltar para o Ceará (1824).
Posteriormente Ibiapina perde seu pai (fuzilado por ter participado da Confederação do
Equador em 1825) e seu irmão preso e supostamente assassinado pela mesma causa.
Depois de resolver os problemas mais urgentes da família Ibiapina retorna a Pernambuco
agora para fazer parte da primeira turma de bacharéis em Direito. Em 1833 é nomeado Juiz de
Direito e Chefe de Polícia de Quixeramobim, no Ceará.
Em 1834 Dr. Ibiapina ingressou na política como deputado. Deixou a carreira política e
dedicou-se á advocacia em Recife. Decepcionado com as injustiças do meio abandonou
também seu ofício em 1850, aos 44 anos de idade. Durante três anos viveu “uma experiênciade silêncio e solidão” em um “retiro espiritual, meditação e exercícios de piedade”
(ARAÙJO, 1995: 107 ) em seu sítio no subúrbio do Recife. Depois desse tempo, em 12 de
julho de 1853, aos 47 anos de idade, ele solicita ao Bispo de Pernambuco, Dom João da
Purificação Marques Perdigão, permissão para ordenar-se padre, sem, no entanto se submeter
aos exames. Ibiapina consegue a permissão, sendo ordenado em 26 de julho de 1853.
Logo após sua ordenação, o Bispo Dom João da Purificação o nomeia Vigário Geral eProvedor do Bispado, e professor de Eloqüência do Seminário de Olinda. No entanto, tais
cargos e honrarias não seduziam Ibiapina, que logo renuncia a eles para dedicar-se ao seu
projeto missionário de viajar, doutrinar, educar e construir algo concreto para as populações
abandonadas dos sertões nordestinos. Em honra ao dogma da Imaculada Conceição troca o
seu sobrenome por Maria e vai missionar pelos sertões nordestinos até sua morte em 1883.
Ação Missionária do Padre Ibiapina no Nordeste
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O Padre Ibiapina, considerado por muitos pesquisadores como “O apóstolo do Nordeste” ou
ainda como “O Peregrino da Caridade”, desenvolveu um trabalho missionário de cunho sócio-
religioso-educativo, na segunda metade do século XIX em cinco províncias do Nordeste
(Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco). Começou então seu trabalho
missionário pelo interior do Nordeste entre os anos de 1856 até sua morte, em 13 de fevereiro
de 1883.
Padre Ibiapina, em cada lugar ele pregava, orientava, promovia reconciliações, construía
açudes, igrejas, cemitérios, cacimbas, dentre outras tantas obras, conforme as necessidades de
cada lugar. Em diversas vilas construiu as famosas Casas de Caridade, destinadas a receber
moças pobres. Nessas Casas elas eram educadas para a fé, para o exercício dos trabalhos
domésticos e para o casamento.
Padre Ibiapina missionou pelo Nordeste em um tempo de muitos desafios e problemas. Na
segunda metade do século XIX a região do Nordeste enfrentava os surtos de doenças
epidêmicas como a febre amarela, o cólera e a varíola que se proliferavam pelo país. Os
problemas gerados pelo banditismo, pelo desaparelhamento da justiça e pelos entravesestruturais vitimavam um povo ignorante e excluído que sofria toda a precariedade física,
humana e espiritual que existia. Nesse período também aflora a urbanização que chega com o
crescimento das rendas fiscais do comércio exportador (reflexo da industrialização).
Mudanças sócio-políticas e econômicas acontecem em todo o país. No Nordeste atrasado e
carente de melhorias para o povo sofrido, as transformações acontecem mais lentamente.
Barros destaca a feira como “elemento da maior importância para a vida econômica do sertão
do século XIX” (BARROS, 2008, pg.100). Era nela que o sertanejo vivia um pouco deautomomia e a prática do comércio de consumo. No Cariri isso foi marcante para o trabalho
livre e o abastecimento de pobres e pequenas famílias.
É nesse cenário que o Padre José Antônio Maria Ibiapina exerceu sua ação missionária junto
ao povo sertanejo, fazendo a opção pela vida itinerante e peregrina em prol do necessitado e
esquecido das políticas públicas. Segundo o Padre Francisco Sadoc, um de seus principais
estudiosos, ele:“Soube ser missionário católico e, ao mesmo tempo, homem estudioso do
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Direito e da Ciência Política, incansável educador do povo, mestre de artes e ofícios e, até
mesmo, meteu-se a poeta e dramaturgo, embora de forma ingênua e de pouco valor literário.
Soube vencer todas as dificuldades do meio hostil e das muitas adversidades da vida
mediante o processo de sublimação centrada na fé, no estudo e no serviço educativo do povo
empobrecido, que é a mais bela e a mais difícil das artes. Soube transmitir ao povo sertanejo
sua própria experiência e fez do sertão nordestino sua imensa sala de aula.” (Sadoc,1995,
pg. 35)
Sua missão pelo Nordeste consistia em criar hábitos novos de comportamento, práticas
associativas, plantar uma religiosidade mais madura, promover uma moral social sadia e
estabelecer a paz promovendo reconciliações, conversões e mudanças de vida.
Missões do Padre Ibiapina no Ceará: Conflito com o Bispo D. Luiz.
A Província do Ceará sofria na segunda metade do século XIX todo o abandono e pobreza
derivada de uma economia em crise. Vitimado pela epidemia do cólera e a pobreza de um
tempo castigado pela seca e descaso do Estado, a região era carente de políticas assistenciais
para a massa. No Ceará ele missionou no período de 1862 a 1870. Primeiro na região norte,na vila de Sobral e adjacências. Depois no Cariri, sul da Pro
No Cariri Padre Ibiapina visitou entre 1864 e 1872 as regiões de Missão Velha, Barbalha,
Conceição do Cariri (hoje Porteiras), Jardim, Goianinha (Jamacaru), Brejo Santos, São Pedro
(Abaiaba), Milagres e Crato.
Em relação ao Clero especificamente, deve-se destacar que, na segunda metade do séculoXIX, a Igreja passava por significativas mudanças em sua postura reformadora com o
ultramontanismo. No Ceará, cuja primeira Diocese é criada em 1853, o bispo D. Luiz Antônio
dos Santos atuou de forma veemente para a concretização de um maior controle das paróquias
e das manifestações religiosas populares.
Desde 1869, o bispo dom Luiz vinha procurando tolher os passos do missionário andarilho,
que apesar de suas recorrentes crises de asma não economizava fôlego para peregrinar e
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arrebanhar seguidores junto ao povo do sertão. Dom Luiz chegou a enviar um ofício, datado
de 19 de julho de 1871, em que prevenia o pároco do Crato, Manoel Joaquim Alves do
Nascimento, contra o trabalho social realizado por padre Ibiapina e suas Casas de Caridade,
apinhadas de beatos. As tais casas, segundo as palavras oficiais de censura do bispo, agiam
“em detrimento da disciplina eclesiástica, da paz e harmonia que deve reinar entre o pastor e
o rebanho” ( NETO, 2009: 46). Apesar de não citar textualmente o nome do padre Ibiapina, o
ofício do bispado determinava ao pároco do Crato de forma taxativa:
“ Não permita nem consinta que missionário algum, de qualquer título e ordem que seja,
missione na sua paróquia sem licença nossa por escrito, na qual com a necessária
autorização declaremos as faculdades de que o Missionário poderá usar neste Bispado, o
que V. Revma. Cumprirá e fará cumprir para maior serviço de Deus e bem dos fiéis”
(BARROS, 2008: 111)
Enquanto isso circulava na região do Cariri um Jornal que era porta-voz da ação missionária e
incentivava a mística popular em relação à figura de Ibiapina. As páginas semanais do jornal,
A voz da Religião no Cariri, que passara a circular desde 1868, propagava os milagres que
aconteciam e as maravilhas ocorridas em um distrito da então vila de Barbalha, vizinha aoCrato. Divulgava ainda um projeto de reforma da sociedade, com manifestações da tradição e
da cultura popular sertaneja.
Vários milagres são relatados pelo jornal legitimando através dos testemunhos de curas
diversas o poder miraculoso das águas do Caldas na Vila de Barbalha. Testemunhos de fé,
curas e milagres surgem e ganham ressonância pela Voz da Religião.
O Bispo do Ceará vê a atuação do Padre Missionário de forma “exagerada” dirigindo censura
ao Pregador em 1863. O elemento que fomenta desconfiança e estranheza na postura de
Ibiapina frente à Igreja é a instituição das ordens de beatos e beatas, sem autorização
eclesiástica. Sua autonomia foi interpretada pelo bispo D. Luiz como sinal de desobediência
ás prescrições canônicas. (BARROS, 2008)
A Ação Missionária do Padre Ibiapina nas Vilas do Crato e da Barbalha
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Somos guiados pelas fontes documentais e instigados pela lacuna na história local a buscar
compreender a importância do trabalho ibiapiniano na formação religiosa, social e educativa
do povo das Vilas de Crato e Barbalha. Tendo em vista as muitas obras sociais deixadas pelo
Mestre Padre nessa região debruçamos sobre a sua atuação missionária na perspectiva de sua
participação efetiva na formação educacional e humana do nosso povo.
No Cariri, o Padre Ibiapina esteve em três momentos. O primeiro teve inicio em 14 de
outubro de 1864, na vila de Missão Velha, estendendo-se até o inicio de fevereiro do ano
seguinte. Durante esse período ele visitou, além de Missão Velha, a vila de Barbalha e o
povoado de Conceição do Cariri (atual Porteiras). Como principal obra dessa primeira visita
ao Cariri, Padre Ibiapina inaugurou em 02 de fevereiro de 1865 a Casa de Caridade na região
da vila de Missão Velha.
A segunda visita ao Cariri ocorreu no período de maio de 1868 a agosto de 1869, passando,
portando mais de um ano na região. Nessa etapa, ele visitou Missão Velha, Barbalha, Caldas
(vila de Barbalha), Crato, Goianinha (atual distrito de Jamacaru), Jardim, Porteiras, Milagres,
Brejo Santo e Vila de São Pedro (atual Abaiara). Construiu nesse tempo capelas e três Casasda Caridade (Crato, Milagres e Barbalha).
A terceira e última visita ao Cariri ocorreu no período de 09 de fevereiro de 1870 a 25 de abril
do mesmo ano. Esteve visitando as Casas de Caridade implantadas na região (Missão Velha,
Crato, Barbalha e Milagres). Depois dessa data, o Padre Ibiapina não missionou mais no
Ceará. A sua desistência de missionar na província natal deve-se a um conflito, pouco
esclarecido ainda pelos historiadores, entre ele e o Bispo do Ceará, Dom Luiz Antônio.Sobre sua passagem e atuação pelo Cariri o Jornal semanário A Voz da Religião no Cariri
noticia:
“Três dias occupo-se o Apostolo do Cariri em provar, com argumentos irrecusáveis, a
necessidade e utilidade, do amor de DEUS, confundindo assim a incredulidade, que
querendo levantar o collo, vio-se obrigada a submetter-se.” (A Voz da Religião no Cariri, 18
DE ABRIL DE 1869: 3)
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O mesmo Jornal que tem como objetivo divulgar a ação missionária do Padre Ibiapina,
mobilizar apoio material e incentivar a participação popular nas missões, fala das Missões a
cada dia na Vila do Crato, detalhando as suas obras e iniciativas para atender as necessidades
específicas daquele povo:
“No quarto dia de missão teve a idéia de edificar naquela cidade um asilo de caridade. Teve
apoio e ajuda de alguns nomes importantes e um povo a seu serviço. No quinto dia cuidou
das reconciliações e no outro dia do escândalo da mancebia”
Sobre a construção da Igreja de S. Vicente na Vila do Crato a edição dominical do jornal
relata:
“ Esta pequena obra, mas de grande necessidade, tendo chegado ao pé em que se acha, pela
valiosa entervenção do Reverendo e sempre lembrado Missionario José Antonio de Maria
Ibiapina, é mais um imblema de perpetua minoria, que ahi fica provando aos seculos futuroa,
que uma alma bemfaseja, e um espírito verdadeiramente patriótico existio no sbeculo XIX
prestando os mais revelantes servissos a DEUS, a sua Patria e a humanidade em geral.”(Idem, pg. 4)
Em Barbalha Ibiapina combateu dois grandes vícios que existia ali: as intrigas e a mancebia.
Muitas reconciliações aconteceram entre famílias rivais e outras tantas conversões e
mudanças de comportamentos através do discurso eloqüente desse Padre que
“ Foi o maior Revolucionário do Nordeste, dando ao sertanejo o direito de cidadania sobre asua consciência, sobre a sua vontade, com a maturidade para ser dono da sua liberdade, do
seu destino. Ensinou o Nordeste a trabalhar sem os grilhões da escravidão e sem a
exploração dos latifundiários e donos do poder. Peregrinou grande parte do Nordeste, e por
onde passava e onde esteve, deixou cristalizado, na terra adusta e árida, uma obra de grande
alcance social, e na consciência do povo, a semente de uma renovação de mentalidade, de
hábitos, de costumes, de convivência humana, na solidariedade e na fraternidade social e
cristã.” (VIEIRA,em Jornal O Povo:9.11.87)
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Ibiapina busca nas suas missões “remediar as necessidades do povo” e esse para seus
estudiosos é o que diferencia e singulariza a missão ibiapiniana.
A Casa de Caridade do Crato ficou sobre a direção suprema do Padre Ibiapina até o ano de
1872 quando aquela foi ‘obrigatoriamente’ entregue á Autoridade Diocesana de Fortaleza e
posteriormente (na primeira década do século XX) á Diocese do Crato, fundada em 1914. A
partir de então ela apossou-se de todo o funcionamento da Casa, continuando seus trabalhos
sócio-educacionais e religiosos.
Padre Ibiapina escolheu os pobres, em especial as mulheres, para ajudá-lo na construção de
suas missões. Elas eram ferramentas imprescindíveis na manutenção e organização das Casas
de Caridade que eram uma das prioridades de seu trabalho, uma vez que proporcionava
educação moral para as órfãs e a formação da mulher cristã, mãe e esposa.
Considerações finais
Diante do contexto da sociedade e da Igreja e a atuação das missões do Padre Ibiapina noNordeste e no Cariri cearense, podemos observar a importância do trabalho deste na formação
social, religiosa e educacional do povo das duas Vilas estudadas, Crato e Barbalha.
Sabendo da edificação das muitas obras em assistência a população pobre da região e a
preocupação do Missionário em atender as necessidades mais urgentes de cada região,
somos embutidos da missão de dar aquele o lugar que por direito é dele na história. Um novo
cenário reveste a vida cotidiana do povo das Vilas de Crato e Barbalha depois das missões eobras materiais e espirituais do Mestre Padre Ibiapina.
“O Cariri regurgita de entusiasmo sob a energia renovadora do pregador. Constroem-se a
Casa de Caridade do Crato, a capela e o açude de Caldas, igreja em S. Bento e Brejo do
Cuité. Multidões se deslocam de uma freguesia para outra, cantando, rezando e trabalhando
sob as ordens do pregador. Inimigos se reconciliam, casais se unem, pecadores se convertem,
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ricos fazem doações generosas e os pobres recebem o novo alento pela perspectiva de uma
vida menos injusta.” (BARROS, 2008: 121)
A educação, a moral, o trabalho e a religiosidade do povo caririense foram transformados
pelas mãos, palavras e coração do “Venerável Apóstolo do Cariri”. Apesar do tempo de sua
estadia nas nossas terras ter sido forçadamente diminuto o reflexo de sua atuação tomou
dimensões gigantescas onde até hoje podemos contemplar frutos da sua missão apostólica e
humana.
Sabemos que muito ainda precisa ser pesquisado sobre a atuação ibiapiniana no Cariri
cearense, para conhecermos e analisarmos mais profundamente os benefícios das sementes
plantadas naquele solo pedregoso pela política excludente e a Igreja romanizada e hierárquica
que combatia todos que não atendiam seus interesses superiores, inclusive a religiosidade
popular sertaneja vivida e missionada por Padre Ibiapina.
Entendemos, portanto a atuação missionária do padre Ibiapina no Cariri como uma benéfica e
louvável forma de inclusão do povo analfabeto e sofredor em um projeto de vida dentro dos
preceitos e valores da Igreja. Com seu método de trabalho (os mutirões) e suas pregaçõeseloqüentes Padre Ibiapina conscientizava a todos de sua participação ativa na transformação
de sua realidade e na busca de sua salvação.
Ele no âmbito educacional foi o maior educador que o Nordeste teve no século XIX,
“ensinando noções de letras, prendas domésticas, práticas da agricultura, ofícios e artes, e
procurando comunicar uma fé cega e formalística, mas uniforme, delicada e poética de
bondade cristã” (MARIZ, 1980: 271.)
Preocupado com a formação instrutiva do sertanejo, em especial da mulher, dedicou parte de
sua missão em educar o povo sem instrução e esquecidos, deixando assim sua marca
edificadora e incomparável para o desenvolvimento e o progresso da sociedade caririense.
Dessa forma compreendemos a ação ibiapiniana como elemento determinante da formação do
caráter popular da nossa cultura sertaneja, com suas bases em uma forte e singular
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religiosidade dentro do catolicismo. Devemos a parte intelectual e bem instrutiva da nossa
gente nordestina á coragem e doação do Padre Mestre Ibiapina em aventurar-se na desafiadora
empreitada de enveredar-se pelos sertões adentro e educar, formar e atender em suas
precariedades toda gente que precisasse de melhores condições de vida.
Para nós portanto, o seu apostolado promoveu uma efervescência da vida religiosa prática e
promotora de mudanças do povo sertanejo. Suas missões preencheram as lacunas sociais e
políticas de assistências as necessidades da classe mais pobre. Sua contribuição foi preciosa
na formação moral e cristã da mulher, do sertanejo e da população que constituía a cultura
popular e erudita da época.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tribuna do Ceará. 1995.
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2. Ed. Fortaleza: Editora IMEPH, 2008.
BAKHTIN, Mikhail M. A cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de
François Rabelais. 2 2d.São Paulo: Hucitec, 1993.
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1998.
7.1 - FONTES
Regulamento interno para as Casas de Caridade, Crato-Ce. (09 de abril de 1872)
Jornal: A Voz da Religião no Cariri, Crato, 1868-1870.
Cartas sobre as Casas de Caridade do Departamento Histórico Diocesano Pe. Antonio Gomes
de Araújo. Diocese do Crato