p1+2 Água, produção agroecologia e geração de renda

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1298 Setembro/2013 Bonito de Minas P1+2 Água, produção agroecológica e geração de renda ELIANE ARAÚJO da Conceição Melo e Valdir Alves de Melo são casados há 19 anos e desde então vivem na comunidade de Capim Pubo, município de Bonito de Minas, Norte de Minas Gerais. Quando chegaram ali ainda tinha bastante água, a fonte era o Córrego Macaúba e na proximidade dele plantavam milho, feijão e horta. Além do plantio, sempre tiveram uma meia dúzia de gado e algumas galinhas. Mas o Macaúba está secando. Eliane conta que sua grande paixão é a horta. “Eu sempre tive horta, eu tenho uma coisa por ela e nunca fiquei sem”. Antes ela plantava a horta na beira do Córrego Macaúba, mas ele vem secando e em vários trechos nem corre mais no período da seca. Diante desta dificuldade, há três anos recebeu através da Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, a cisterna- calçadão, que armazena 52 mil litros de água da chuva. A tecnologia social é parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que possibilita em períodos de estiagem, água para a produção de alimentos e criação de pequenos animais, uma estratégia de convivência com o Semiárido da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “O calçadão é minha segunda mãe, ele trouxe uma fartura de coisas, dá pra mim, para os vizinhos. Com ele nunca mais comprei nada dessas verduras cheias de veneno, agrotóxico, esses eu não tenho de comer nunca mais”. Além da produção agroecológica sem veneno eles produzem muito mais variedades que antes, são mais de 10 canteiros, alface, pimenta, cebola, alho, cebolinha, coentro, tomate, abobrinha, repolho, cenoura. “Já colhemos cada cabeça de repolho! Teve uma vez que ela pesou mais de 4 quilos”, contam entusiasmados. Além da horta, tem um pomar de muitas frutas que vieram junto com o programa P1+2, pé de laranja, manga, limão, caju, tangerina, que se desenvolvem apenas com as água das chuvas. Explicam que o calçadão também está ajudando a preservar o Córrego Macaúba. Com a chegada dele não precisaram mais plantar a horta na beira do córrego e que isso ajudou a resgatar a sua água, pois naturalmente está nascendo árvores e, com a sombra delas observam que o chão fica mais úmido. “Se ainda estivéssemos plantando ia limpar e não ia ter a umidade que forma a água”, relata o casal. Eliane e Valdir no pomar. Hortaliças

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Page 1: P1+2 Água, produção agroecologia e geração de renda

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1298

Setembro/2013

Bonito de Minas

P1+2 Água, produção agroecológica e geração de renda

ELIANE ARAÚJO da Conceição Melo e Valdir Alves de Melo são casados há 19 anos e desde então vivem na comunidade de Capim Pubo, município de Bonito de Minas, Norte de Minas Gerais. Quando chegaram ali ainda tinha bastante água, a fonte era o Córrego Macaúba e na proximidade dele plantavam milho, feijão e horta. Além do plantio, sempre tiveram uma meia dúzia de gado e algumas galinhas. Mas o Macaúba está

secando.

Eliane conta que sua grande paixão é a horta. “Eu sempre tive horta, eu tenho uma coisa por ela e nunca fiquei sem”. Antes ela plantava a horta na beira do Córrego Macaúba, mas ele vem secando e em vários trechos nem corre mais no período da seca. Diante desta dificuldade, há três anos recebeu através da Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, a cisterna-calçadão, que armazena 52 mil litros de água da chuva. A tecnologia social é parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que possibilita em períodos de estiagem, água para a produção de alimentos e criação

de pequenos animais, uma estratégia de convivência com o Semiárido da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “O calçadão é minha segunda mãe, ele trouxe uma fartura de coisas, dá pra mim, para os vizinhos. Com ele nunca mais comprei nada dessas verduras cheias de veneno, agrotóxico, esses eu não tenho de comer nunca mais”.

Além da produção agroecológica sem veneno eles produzem muito mais variedades que antes, são mais de 10 canteiros, alface, pimenta, cebola, alho, cebolinha, coentro, tomate, abobrinha, repolho, cenoura. “Já colhemos cada cabeça de repolho! Teve uma vez que ela pesou mais de 4 quilos”, contam entusiasmados. Além da horta, tem um pomar de muitas frutas que vieram junto com o programa P1+2, pé de laranja, manga, limão, caju, tangerina, que se desenvolvem apenas com as água das chuvas.

Explicam que o calçadão também está ajudando a preservar o Córrego Macaúba. Com a chegada dele não precisaram mais plantar a horta na beira do córrego e que isso ajudou a resgatar a sua água, pois naturalmente está nascendo árvores e, com a sombra delas observam que o chão fica mais úmido. “Se ainda estivéssemos plantando ia limpar e não ia ter a umidade que forma a água”, relata o casal.

Eliane e Valdir no pomar.

Hortaliças

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

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Elaine e Valdir contam que com o calçadão no quintal facilita o trabalho para Elaine que aproveitar mais o tempo, consegue cuidar da casa e da horta por ser tudo mais próximo e ainda economiza muita água, é o manejo do quintal para se aproveitar tudo usando pouca água. “Antes eu fazia os canteiros por cima do solo. Agora cavo um buraco no chão, coloco folhas, terra, esterco, depois planto a semente e coloco a folhagem seca por cima, fica muito mais úmido e economiza bem a água”, conta Eliane. No canteiro 5 são econômicos, lonados no fundo e com um cano por onde se joga água. Eliane explica que assim economiza muita água, que é apenas um balde por dia no período sem chuva e nem precisa ser um balde tão cheio. Valdir explica que com a horta na porta aproveita mais as coisas, as folhas que sobram joga pras galinhas, a água usada para lavar a louça e a roupa também molha as plantas. As folhas do terreiro juntam, deixam de um lado e usam como adubo e forragem, tudo sem muito trabalho, uma vez que a horta é no quintal.

Na horta conseguiram plantar muita pimenta. Eliane fazia conserva das pimentas, Valdir fala “as pimentas que vendi na feira deu para salvar a compra de arroz”. Há cinco anos o projeto que ensinou a fazer conserva de pimenta malagueta veio através da Associação Comunitária dos Pequenos Produtores da Agricultura Familiar de Lavarento e Maria Criola.“Esses projetos da associação facilitam a vida do agricultor, pois não temos um trabalho de renda fixa, vivemos do que produzimos e quando dá”, declara Valdir.

A feira de Bonito de Minas surgiu a uns 3 anos, “muita gente desistiu por conta do movimento fraco, mas a gente continua e quando temos bastante também vendemos no mercado”, afirma o casal. Com os produtos vendidos na feira chegam a tirar 200 reais por mês, vendem galinha, óleo de coco de babaçu, mandioca, e verduras da horta mantidas graças ao calçadão e quando dá para fazer também vendem tempero caseiro e conserva de pimenta.

“Na feira estamos percebendo que tem muita gente tomando consciência da produção orgânica sem agrotóxico e eles estão deixando de comprar no mercado para comprar com a gente, pois sabem que não usamos veneno”, relata Eliane e Valdir.

Pela história de Eliane e Valdir vemos que a cisterna-calçadão trouxe não só a água, mas a harmonia com o meio ambiente. Garantindo água para os vizinhos e gerações futuras ao preservar o córrego, garantiu a produção agroecologica com diversidade de alimentos, sem veneno, trazendo a segurança alimentar e ainda a possibilidade de comercialização ampliando a renda, um exemplo de Convivência com o Semiárido.

Realização Patrocínio

CÁRITASBRASILERIA

REGIONAL MINAS GERAIS

Horta, pomar e calçadão ao fundo