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Página | 1 Ivan Costa Os Passos de Alice Primeira Edição Varginha 2013

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Ivan Costa

Os Passos de Alice Primeira Edição

Varginha 2013 PerSe

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ISBN (Livro impresso): 978-85-8196-179-8

ISBN (e-Book): 978-85-8196-178-1

B.N. 572.478

Primeira Edição

Capa e Contra-capa: Ivan Costa

Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao

público e exploração econômica desta obra estão reservados

única e exclusivamente para o autor. Proibida a reprodução

parcial ou total da mesma sema a autorização prévia e

expressa do autor.

Contato autor: [email protected]

1ª Edição Costa, Ivan Os Passos de Alice / I. L. L. Costa – 1ª Edição – Editora PerSe, 2013. ISBN (Livro impresso): 978-85-8196-179-8 ISBN (e-Book): 978-85-8196-178-1 1. Ficção Brasileira. 2. Literatura Infantil. I. Ivan Luiz Leite Costa.

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura brasileira. 869.93

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Eu acredito no ser humano. Eu acredito em um dia que o homem vai achar a sabedoria mais importante do que o dinheiro. Eu acredito no dia em que a igualdade e a justiça vão ser as grandes ambições humanas. Eu acredito que as crianças serão a principal preocupação dos adultos. Eu acredito que o ser humano irá respeitar o planeta e as outras espécies, em detrimento da soberania de uma nação sobre a outra. Eu acredito que o homem entenderá que o amor é o caminho para a felicidade. Eu acredito que nós trocaremos as nossas armas por palavras. Acredito que as pessoas seguirão os exemplos de Jesus, Madre Teresa de Calcutá e Chico Xavier. Eu confio em um tempo, em que cada pessoa buscará ser melhor, dia após dia. Eu acredito em cada um de nós!

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Dedico este livro à minha esposa querida. Foi a ela a primeira homenagem desde as primeiras palavras. Ela emprestou o segundo nome à personagem principal. Além disso, emprestou o carinho e a ternura Que eu tenho por ela... Emprestou um pouco do amor, Com o que eu quis encher todas as páginas.

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SUMÁRIO

1. O precipício...................................................................07

2. A lição da laranja............................................................09

3. Presente........................................................................13

4. A pipa............................................................................16

5. Tempo...........................................................................19

6. O circo...........................................................................23

7. O jardim.........................................................................28

8. Pureza............................................................................31

9. Monólogo......................................................................33

10. Escravos da comida......................................................35

11. Loucura........................................................................36

12. O servo.........................................................................42

13. Tu.................................................................................44

14. Companhia...................................................................47

15. Hospital psiquiátrico......................................................50

16. Sofrimento de mãe........................................................53

17. Alegria de mãe...............................................................57

18. Flores............................................................................59

19. Veteranos.....................................................................61

20. Caminhar alegre............................................................64

21. Irmão............................................................................66

22. Resgate.........................................................................70

23. O autor da idéia ou a idéia do autor..............................72

24. O bom combate.............................................................76

25. Origem..........................................................................79

26. Amizade.........................................................................83

27. Fim da vida.....................................................................85

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28. Em casa.........................................................................88

29. Visita.............................................................................90

30. Epílogo..........................................................................92

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1. O PRECIPÍCIO

Eu era muito nova, quando essa história ocorreu.

Tenho certeza de que não vou lembrar algumas coisas. Mas é preciso contar o que me aconteceu. Era um dia comum, como tantos outros na minha vida...

Havia uma corredeira em algum lugar. Eu ouvia isso dentro da plantação imensa de girassóis. Meu corpo empurrava as flores suavemente em busca de água. Quase não fazia barulho, com medo de cobra.

Meu irmão andava pela estrada que circundava as flores. Ele gritou:

- Tem que atravessar tudo. - Tá bom - respondi brava. Começava a me arrepender da aposta que fizera.

Minha cabeça flutuava entre o amarelo forte das flores sem ver nada no chão. E se houvesse algum bicho? Além disso, mamãe proibira as brincadeiras naqueles girassóis. Eles foram plantados ao lado de um precipício e poderíamos cair nele sem perceber. Mas, a aposta...

Andava atrás daquele barulho. O Sol não me permitiria continuar sem água. Finalmente! Afundara os pés na lama mole. O doce barulho da água chegou aos meus ouvidos como os sons dos pássaros no amanhecer do sítio. A água era o café escuro e doce de vovó na hora da fome; era o barulho do trator do papai, quando eu descansava na rede; era minha mãe contando uma história para dormir.

Senti que conseguiria. No coração da plantação, ela já não parecia tão grande. Enfrentara o medo e o dragão me parecia menor, de perto. Mamãe talvez ficasse sabendo, pois meu irmão contaria a ela. Seria um jeito de ele se vingar da minha coragem. Contudo, não me importava tanto. Essa vitória seria minha pelo resto da vida.

Um barulho estranho me acordou do sonho. Parei atenta. Algumas flores ao lado da estrada se deitaram e

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levantaram lentamente. Dei um passo hesitante para trás. Os girassóis começaram a se abaixar com maior velocidade, até que não tive mais dúvida – aquilo vinha na minha direção. Corri do terror que sentia, sem sentido.

De repente, meus pés ficaram sem chão e comecei a cair, cair. Lá no fim da queda, um rio caudaloso, enorme, cortava o fundo do penhasco, correndo entre capins verde-claros. O reflexo da luz solar, brincando nas águas, atingiu meus olhos. O rio ficava cada vez maior. Seria a...

Nesse momento, um barulho agudo ecoou nas rochas. A sombra que emitira esse som passou por mim e sumiu. Não demorou muito, fui suavemente agarrada por duas garras fortes e agudas. Olhei para cima e vi uma águia cinzenta, quase do meu tamanho, voando ameaçadoramente sobre o meu corpo. A ave me olhou e ouvi uma voz a dizer:

- Não tenha medo, criança. - Quem é você? – perguntei. - Meu nome é Harpia. Eu sou a chave do portal. Ia perguntar sobre o que ela estava falando, mas não

pude. A ave começou a subir vertiginosamente para o céu, rente ao rochedo. Fui perdendo a consciência e perguntei, fatigada:

- Pra onde você está me levando? Não ouvi a resposta. A última coisa que me lembro foi

ver o campo amarelo e meu irmão balançando os braços em desespero. Adormeci, confiando meu destino àquela ave imponente.

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2. A LIÇÃO DA LARANJA

Eu acordei em um bosque. O orvalho da manhã umedecia o ar e as folhas. O verde-musgo e o marrom escuro dominavam aquele quadro da natureza. Ao fundo, um rio azulado descia a suave encosta do morro, incansável, a bater com estrondo as pedras do caminho. Deitei de costas na relva macia, a ver o céu azul-claro. Onde será que eu estava?

- Você está no planeta Mora. - Quem está falando? – perguntei assustada. - Sou eu, o céu deste mundo. Protejo e embelezo as

plantas e as flores, permitindo a vida. Dou o ar, dou a água, dou a cor. De mim tudo se faz.

- Eu estou em outro planeta? - Sim, querida. Isso é algo comum no Universo. Entre o

seu planeta e o nosso, há conexões invisíveis para o seu povo. - Mas eu preciso voltar pra Terra. Meu irmão já deve

ter ido contar pra mamãe o que eu fiz. Ela vai ficar muito brava comigo. Você poderia me ajudar?

- Só há um caminho. Vê essa estrada de terra que segue e atravessa o rio?

- Sim. - Esse é o caminho. - Só preciso atravessar, então? - Não, minha querida! O caminho é longo! Durante o

percurso, suas escolhas irão dizer seguirá pela estrada ou não. - Você vai fazer um teste comigo? - Não, eu não! Sua vida é um teste constante, minha

criança, você ainda não percebeu isso? Depois de um momento em silêncio, o céu continuou: - Você deverá sair dessa estrada melhor e mais sábia

do que entrou, senão... - Senão o quê?

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- Senão não terá valido a pena! No final, quando você

conseguir chegar até lá, descobrirá algo que você procura sem saber.

- O que é? - Não cabe a mim dizer. O céu se transformou em um mendigo. Eu me senti

mais confortável com essa nova forma. O homem perguntou como eu me chamava:

- Alice. - Bem-vinda ao nosso mundo, Alice! Poucas pessoas de

seu povo tiveram o privilégio de pisar o nosso solo. O mendigo me conduziu pelo início do caminho.

Passamos pela ponte de pedra, sobre o rio cristalino. Chegamos a um campo cheio de flores, onde um menino nos esperava, brincando com pequenas pedras. O mendigo me disse:

- Este é o seu primeiro desafio: entre aquelas perfumadas flores encontram-se lindas borboletas de diversas cores. Cada um pegue uma rede de caçar insetos. Alice você deve me trazer uma borboleta vermelha e Pedro, uma verde. Vocês estão prontos? Então vão!

Eu e o menino estávamos afastados um do outro. Andei pelas flores por muito tempo, sem que nenhuma borboleta saísse delas. De súbito, um turbilhão. Diversos insetos entraram a voar desordenadamente. Firmei a vista, mas parecia impossível achar uma que fosse vermelha. Laranja, preta, azul...

- Ali! - gritei. Demorou algum tempo até eu acertar o animal. Sai

correndo em direção ao mendigo, feliz de ter realizado o meu objetivo.

- Achei! – disse a ele. Logo depois, Pedro chegou com a sua borboleta e,

contente, nos disse: - Vejam! Achei a minha!

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Prontamente, eu argumentei: - Mas eu ganhei! Achei primeiro! - Eu não disse que o ganhador seria o que chegasse

primeiro – ressaltou o mendigo. Pedro nos mostrou a sua borboleta. Notei que havia

alguma coisa errada e logo apontei o que era: - Ele errou! A borboleta dele é vermelha! - Não é não! – exclamou o menino. – É verde! - É vermelha! Você não está vendo? Eu ganhei. - Verde. Fiquei muito nervosa. O mendigo propôs repetirmos o

desafio, mas o mesmo aconteceu sete vezes. Achei que o menino estava roubando. Disse revoltada:

- Não aceito, você está roubando! Eu ganhei todas as vezes!

Pacientemente, o mendigo intercedeu: - Você ainda não achou o segredo, Alice? - Segredo, que segredo? O mendigo pediu para eu me sentar. Pegou uma

laranja, cortou a fruta ao meio e me perguntou se eu sabia qual lado da laranja é o mais doce.

- É o de baixo - respondi - Isso mesmo. Agora, você vai ter que me mostrar qual

desses dois pedaços é o mais doce. – o mendigo disse isso, mostrando o lado de dentro da laranja - Se você acertar, encontrará a resposta.

Os pedaços eram idênticos. Eu não conseguia adivinhar. Avisei ao mendigo:

- Vou chutar. - Não. – respondeu o homem – Você deve ter certeza. Depois de muito pensar, achei a solução: era só virar a

laranja. - Muito bem! – exclamou o mendigo – Às vezes, só

precisamos olhar o outro lado para acharmos uma solução, não acha?

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Olhei para o menino, que brincava de pegar insetos

com o puçá. Perguntei a ele: - Que cor é essa da borboleta? - Verde – ele respondeu. - Ah, vai falar que esta rosa é verde também? Para a minha surpresa o menino respondeu que sim.

Perguntei finalmente: - Você não enxerga o vermelho? - Eu tenho uma doença que não me deixa enxergar

algumas cores* – respondeu o menino. O mendigo olhou sorrindo para mim e disse: - Há caminhos para que uma pessoa ganhe, sem que a

outra perca. * O menino têm uma doença que aqui na Terra se chama daltonismo. Ela não permitia a ele diferenciar algumas cores, como o verde e o vermelho.

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3. PRESENTE

O mendigo pediu ao menino que me hospedasse

naquele dia. - Amanhã voltarei para continuarmos a jornada –

afirmou. O garoto chamava-se Pedro. Ele nos conduziu por um

bosque de folhas e troncos escuros. Pequenos fios do Sol, filtrado pelas folhas, iluminavam o caminho. No final das árvores, vi um campo muito verde, cheio de aves de canto alegre e lindas borboletas pretas e azuis. No meio do campo, deslizava um riacho com muitas pedras. Depois, uma plantação de arroz acompanhava o curso d’água pelos dois lados.

Enquanto caminhávamos no meio do plantio, uma voz nos interpelou:

- Quem são vocês, forasteiros, e o que fazem nas minhas terras?

Uma cabeça usando capacete de tartaruga apareceu do nada, apontando dois bambus diretamente para nós. Fiquei surpresa quando Pedro gritou:

- Papai! - Bom dia, meu filho! Quem é a sua nova amiga? Depois que o garoto narrou ao pai a minha história,

nós três fomos à casa onde Pedro morava - uma caverna extremamente confortável e bem cuidada, iluminada francamente por diversas janelas abertas na rocha. Aparentemente, naquela região havia um complexo de cavernas e todos os moradores dali tinham casas semelhantes.

A mãe de Pedro não se incomodou com a visita inesperada. Apenas serviu mais um prato e disse ao marido, rindo, que ele teria que comer menos. Pedro era muito carinhoso com a sua irmãzinha. Àquela época, não admitiria, mas senti saudades de meus irmãos.

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A comida era simples e deliciosa, visto que fora feita

com muito amor e bondade. Depois do almoço, perguntei ao pai de Pedro:

- O senhor não vai voltar para trabalhar? - Só amanhã, minha querida. Eu só trabalho na parte

da manhã. Acordo bem cedo e meio dia já acabei as minhas obrigações com o arrozal da vila.

- A plantação não é sua? - Não. Nada aqui é realmente nosso. Tudo está

emprestado, até meu corpo. Ele e sua mulher começaram a rir. Depois, continuou

falando: - Cada um na vila tem a sua responsabilidade. Alguns

cuidam dos pés de café, outros dos de feijão. Há pessoas nos pomares, nos mercados...

- E como fazem para ganhar dinheiro? Tive que explicar à família de Pedro o que era dinheiro. - Não temos dinheiro aqui, temos trabalho. No fim do

mês, todos se reúnem na sede da vila e dividimos como irmãos a produção. Todos os trabalhadores ganham a mesma quantidade de roupas e alimentos, desde o prefeito até o lixeiro da vila.

Achei surpreendente aquela vida. Perguntei: - Mas então vocês não têm ricos aqui? - Você quer dizer riqueza material. Não a temos aqui,

tampouco temos pobreza. Eu posso comer tranquilamente o meu arroz em casa, pois sei que na moradia ao lado não se passa fome.

Depois de um tempo, ele completou: - A riqueza que temos aqui são as amizades. - E o que você faz quando não está trabalhando? - Todo dia, à tarde e à noite, brinco com os meus filhos,

converso com a minha esposa e meus amigos. Na vila, ajudamos os doentes e os necessitados de outras regiões. Agradecemos cada dia e honramos a força que temos com o

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suor do nosso trabalho. Para nós, o tempo é presente, uma dádiva do Criador, uma oportunidade única de exercitarmos nossa bondade com todas as pessoas que estão em nossas vidas.

À noite, sentamos num velho tronco de árvore, deitado sobre a relva, conversamos e ouvimos histórias até a hora de dormir. Sobre as camas de pedra havia colchões feitos de bambus e algodão. Uma pequena luz, que parecia vir de uma lamparina, impedia que a escuridão penetrasse totalmente na caverna.