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Paulo Spinola Jobim e o mistério dos Mamoés

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Paulo Spinola

Jobime o mistério dos Mamoés

são paulo - 2009

Paulo Spinola

Jobime o mistério dos Mamoés

Catalogação na Fonte. SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Rio de Janeiro, RJ

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagrama-dores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais respon-sáveis por transformar boas idéias em realidade e trazê-las até você.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

Esta obra é uma publicação da

Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.646/0001-33www.livronovo.com.br© 2009. São Paulo, SP

Projeto gráficoFabio Aguiar

DiagramaçãoEquipe Editora Livronovo

CapaZeca Martins

RevisãoFernanda Christina dos Santos

Editores-responsáveisFabio AguiarZeca Martins

AGRADECIMENTOS

À grande amiga e jornalista Priscila Lambert, responsável

pela primeira revisão.

À escritora Carla Caruso pelos préstimos de leitura crítica.

À Jacke pelos mapas que ilustram a trajetória de Jobim.

Aos amigos que sempre me incentivaram desde os pri-

meiros ensaios.

DEDICATORIA

À minha mãe: Helena

Aos meus filhos: Lia, Júlia e Caio que nunca desistam de

seus sonhos e de desvendar os mistérios da vida.

Em memória de Ernesto: meu pai e professor.

SUMARIO

CAPÍTULO I – A BUSCA DE JOBIM

CAPÍTULO II – TUCURUÍ

CAPÍTULO III – UM COMPANHEIRO

CAPÍTULO IV – O GARIMPO

CAPÍTULO V – ILHA DE MARAJÓ

CAPÍTULO VI – O RIO AMAZONAS

CAPÍTULO VII – O RIO TAPAJÓS

CAPÍTULO VIII – O AMIGO

CAPÍTULO IX – A JORNADA DE TABORÉ

CAPÍTULO X – UM INGLÊS NA AMAZÔNIA

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CAPÍTULO XI – PARQUE INDÍGENA DO XINGU

CAPÍTULO XII – A CAPITAL DA FLORESTA

CAPÍTULO XIII – O HIPPIE

CAPÍTULO XIV – EM BUSCA DOS MAMOÉS

CAPÍTULO XV – O PLANALTO GUIANO

CAPÍTULO XVI – OS MAMOÉS

CAPÍTULO XVII – SAMIRIS

CAPÍTULO XVIII – O CAMINHO DE VOLTA

CAPÍTULO XIX - FINAL

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Capitulo i

A BUSCA DE JOBIM

Era uma fria manhã na pequena São Borja do Norte, às margens do Formoso. Os raios do sol não conseguiam cortar a espessa neblina que cobria a região do cais, quando Jobim en-trou cautelosamente com sua pequena canoa no rio. De ouvidos atentos, pois só enxergava poucos metros ao redor, o garoto re-mou entre os barcos ancorados e se deixou levar pela correnteza que seguia lentamente em direção ao Araguaia.

Aos poucos sua visão foi se acostumando com a neblina e ele respirou fundo o ar fresco da manhã. Olhou para trás ten-tando ver sua cidade, mas, a neblina deixava tudo branco e essa imagem lembrou seu passado e o desconhecido.

Aos 15 anos, completados naquele mês de maio, Jobim era um jovem bonito e forte, de pele morena, olhos cor de mel e cabelos louros e lisos, características que o diferenciavam dos garotos de sua cidade.

Ruth, sua mãe, descendia de alemães e havia chegado há 20 anos a São Borja com o marido Luís e com duas filhas peque-nas, vindos do Sul do Brasil.

Compraram uma pequena fazenda na região, onde Luís pretendia criar gado para montar na cidade uma autêntica chur-rascaria gaúcha. Compraram também um antigo casarão aban-donado às margens do rio.

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O casarão tinha sido de um comerciante que ficara mui-to rico no auge do ciclo da borracha da Amazônia, e Ruth se apaixonou de pronto pela casa, não sossegando até conseguir comprá-la, mesmo com o marido tentando demovê-la da ideia de adquirir o imóvel em ruínas.

— Vou transformar esse velho casarão num sonho, Luís! - Dizia Ruth, radiante.

Após meses de muito trabalho, utilizando materiais en-contrados na Natureza, transformaram o antigo casarão em mo-radia para a família e em pousada para os viajantes que por ali passavam. Os hóspedes se maravilhavam com o aconchego do lugar e com o tratamento gentil de Ruth.

A vida do casal e das filhas corria muito bem: enquanto Ruth cuidava da pousada, Luís estava cada vez mais entusias-mado com seu gado. A fazenda entrava no terceiro ano e seu rebanho era de longe o melhor da região, mas, ao entrar na água fresca do igarapé, como sempre fazia todo fim de tarde, uma pi-cada de cobra terminou com seus planos.

Ruth sofreu muito com a perda do marido. Inicialmente ela pensou em abandonar tudo e retornar ao Sul, mas, como ela e as filhas estavam muito bem adaptadas à pacata vida da cidadezinha, resolveu vender a fazenda e usar o dinheiro para ampliar e para me-lhorar sua pousada, tornando-a ainda mais bonita e aconchegante.

O sol dissipava a neblina enquanto as lembranças percor-riam a mente de Jobim. Seus braços aumentavam o ritmo das remadas, cada vez com mais intensidade, pois ele queria chegar rápido ao seu destino.

Jobim estava saindo de São Borja em busca do pai que não conhecia e de quem tinha pouquíssimas informações. Taboré, cacique da região do Tapajós, chegou de canoa pelo rio e se hos-pedou na pousada de sua mãe.

Eles se apaixonaram e Taboré partiu sem saber que teria um filho com Ruth. Ficava imaginando como sua mãe, uma mu-

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lher bonita e fina, pôde se apaixonar por um índio que mal sa-bia falar português, mas, foi dessa união que ele nasceu e agora Jobim queria conhecer esse pai misterioso. Baseado nos relatos de sua mãe ficava imaginando seu rosto e lamentava não ter ne-nhum retrato dele.

Ruth escolheu o nome do filho em homenagem ao grande músico Antonio Carlos Jobim, autor de lindas canções que falam dos rios, das matas e dos bichos, tudo que a fazia lembrar e so-nhar com saudades de Taboré.

Jobim fez questão de fazer a viagem de canoa, herança deixada por seu pai, quando chegou a São Borja pelo rio Formo-so. A pequena canoa representava um elo entre eles e a esperan-ça do reencontro.

Sua mãe lhe contou tudo o que sabia sobre Taboré, o que não era muito, já que conviveram por pouco tempo — não mais que uma semana — quando Taboré passou por São Borja a ca-minho de Brasília, para se encontrar com o Presidente da Re-pública, como representante das tribos indígenas do Tapajós, no Pará. Ruth contou também que Taboré falava muito de um grande amigo chamado Antonio, que o hospedara em sua casa na barranca do rio Tapajós, próximo à cidade de Santarém, e era para lá que ele estava indo.

Seria uma longa viagem. Santarém ficava na junção dos rios Tapajós e Amazonas e, para lá chegar, Jobim teria que descer os rios Araguaia e Tocantins, num percurso de mais de mil qui-lômetros até a ilha de Marajó, de onde seria possível embarcar num navio que subisse o rio Amazonas.

Foram muitas horas remando pelo seu conhecido e que-rido rio Formoso. Parecia que ele tinha nascido dentro daquele rio, tantas eram as lembranças que trazia. Cada árvore das mar-gens, cada curva e cada praia representava algum momento de sua vida. O Formoso era o quintal de sua casa, embora nunca antes tivesse se aventurado até sua foz, quando deságua no Java-

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és — os rios Javaés e Araguaia limitam a Ilha do Bananal, uma das maiores ilhas fluviais do planeta. Jobim há muito desejava conhecer a ilha, mas, por ora, teria que se contentar em observá-la ao longe, enquanto sua canoa seguia rumo ao norte.

O transcurso entre o Formoso e o Javaés deu-se de forma tranquila, mas, ao atingir o Araguaia, Jobim viu que suas difi-culdades iriam começar: o rio era pelo menos dez vezes mais largo que seu querido Formoso e com uma forte correnteza que teimava em carregá-lo para o centro do leito, repleto de ondas que poderiam virar a frágil canoa ao menor descuido. Precisava se manter o mais próximo possível da margem direita, onde as águas eram mais tranquilas. Era como se houvesse dois rios num só, um mais lento e seguro, próximo às margens, e outro muito mais rápido e perigoso, no centro do leito.

Jobim, bom barqueiro apesar da pouca idade, conseguiu manter-se próximo à margem usando os remos como leme e deixou-se levar pela correnteza, mas, aos poucos, começou a aventurar-se no limite entre a faixa tranquila e a forte do rio.

Era emocionante deixar a canoa avançar na correnteza. O aumento da velocidade era espantoso - como se próximo à mar-gem estivesse parado, tamanha a diferença de velocidade que seu barquinho ganhava e assim, aos poucos, foi conhecendo aquele rio e gostando dele.

— Vou mais para o meio de você! — Gritava exultante, surfando nas ondas que se formavam pelo forte vento que so-prava no meio do rio.

— Uh! Uh! Aqui vou eu, o grande capitão dos rios em seu invencível navio Corsário da Amazônia!

Jobim estava tão fascinado pelo prazer de dominar a for-ça do grande rio que divide os Estados de Tocantins e de Mato Grosso que não percebeu a aproximação de um barco que vinha em sentido contrário. Era um grande barco de transporte de car-gas e de passageiros, muito comum nos rios amazônicos.

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Na luta para vencer a correnteza contrária, grandes ondas se formavam em suas laterais e Jobim só se deu conta disso ao ouvir uma forte buzina. Ele levou um susto enorme e percebeu que iria passar muito perto do barco e que as ondas poderiam jogá-lo longe, fazendo-o virar com facilidade.

— E agora, como vou me safar dessa? Por que esse cara tem que viajar tão pelo meio do rio? O pior é que agora não dá tempo de ir para perto da margem antes de ele chegar! Se eu tentar sair de repente, acabarei virando o barco sozinho, mas, se eu ficar aqui, a onda vai me fazer dar cambalhotas.

Jobim tentava raciocinar enquanto o navio chegava cada vez mais perto. As ondas que se formavam à sua frente tinham mais de um metro de altura, o suficiente para atirar seu barquinho para o alto e, se isso acontecesse, ele teria que tomar cuidado para não se machucar com o próprio barco. Talvez seja melhor eu pular antes de a onda chegar e depois tentar recuperar o barco e os remos, senão, só restará nadar até a margem e então dar um jeito de voltar para casa. Não, não posso acreditar que minha aventura vai acabar logo no primei-ro dia! Também por que é que eu tinha de vir com essa canoa, que mais parece uma caixa de fósforos, bem no meio desse bai-ta rio que eu nem conheço? Eu sou é muito burro mesmo, e esse navio que vem vindo vai acabar com o meu projeto, se é que não vai acabar com a minha vida!

Tudo se passava em sua cabeça em frações de segundos, mas, quando finalmente o barco passou ao seu lado e a enorme onda veio em sua direção, ele conseguiu girar a canoa e surfar na onda, afastando-se do centro do rio e das outras ondas que vinham atrás.

Jobim não acreditava no que havia feito. Foi um movi-mento totalmente intuitivo. Ele estava ao mesmo tempo sur-preso e assustado, queria rir, mas não conseguia nem respirar direito. Por fim conseguiu remar até a margem e ancorou em