p-002 - a terceira potência - clark dalton

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  • 8/2/2019 P-002 - A Terceira Potncia - Clark Dalton

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    (P002)

    A Terceira Potncia

    Autor

    Clark Darlton

    Digitalizao

    Okidoki

    RevisoYuna e Arlindo_San

    http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Clark_Darlton&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Clark_Darlton&action=edit
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    Perry Rhodan e mais trs oficiais da Fora Espacial dos Estados

    Unidos haviam pousado na Lua a bordo da nave Stardust.L encontraram a gigantesca nave espacial dos arcnidas, que tinha

    realizado um pouso de emergncia. Era tripulada pelos representantes de

    uma grande potncia galctica que, apesar de sua superioridade tcnica ecientfica, estavam em decadncia. O cientista-chefe da expedio, um dos

    poucos que no fora atingido pela total apatia que dominava os tripulantes,

    padecia de uma enfermidade do sangue que s a medicina terrena podiacurar.

    Perry Rhodan decide ajudar os arcnidas: retorna Terra em

    companhia de Crest, o cientista-chefe e, ao invs de aterrissar em territrio

    dos Estados Unidos, prefere a solido do deserto de Gobi a fim de evitar que

    os avanados conhecimentos arcnidas caiam nas mos de qualquer

    potncia terrena.

    Rhodan tem motivos de sobra para proceder dessa forma. Seussuperiores hierrquicos, contudo, vem nele um traidor...

    = = = = = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = = = = =

    Major Perry Rhodan Comandante da nave Stardust.

    Capito Reginald Bell Engenheiro eletrnico da. Stardust.

    Capito Clark G. Fletcher Astrnomo da Stardust.

    Tenente-mdico Eric Manoli Mdico de bordo da Stardust.

    General Lesley Pounder Chefe da Fora Espacial dos Estados Unidos.

    Allan D. Mercant Chefe do Conselho Internacional de Defesa.

    Crest Chefe cientfico da expedio de uma raa extraterrena.

    Professor Lehmann Diretor da Academia de Tecnologia Espacial da Califrnia e paiespiritual da Stardust.

    Major Perkins Agente dos pases do Ocidente. Vai em direo sua autodestruio sem

    de nada desconfiar.Marechal Roon Comandante-chefe da Federao Asitica.

    Dr. Frank M. Haggard Descobridor do soro anti-leucmico.

    Klein, Li Shai-tung e Peter Kosnow Agentes que saram com a misso de matarRhodan.

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    O silncio era enganador.A superfcie do lago salgado de Goshun, situado ao norte da China, apresentava-se

    lisa como um espelho. Calmo e sem vida, estendia-se no deserto imenso. No soprava amais leve brisa. O ar quente e seco oprimia os homens. Parecia tremular sobre as pedras

    escaldantes e subia, perdendo-se na imensido azul do cu sem nuvens. Bem ao longe, umacadeia de montanhas destacava-se contra o horizonte. Era de l que vinha o rio, cujas guasalimentavam o lago salgado. Constava dos mapas da regio com o nome de Morin-Gol.

    Era a nica coisa viva que aparecia na paisagem dessa parte do deserto de Gobi.Arrastava-se preguiosamente; no era muito largo nem profundo e nunca secava. Sua

    presena era o nico sinal visvel de vida naquela regio inspita.Nenhuma planta crescia naquele solo pedregoso e nenhum animal encontraria

    alimento em meio quelas rochas. Excluindo o deslizar manso do rio, no parecia haver omais tnue sinal de vida pelos arredores, mas o silncio parecia esconder alguma coisa.

    Aquele objeto esguio e prateado que se via perto da margem do rio destoava da

    paisagem agreste e solitria. Era uma nave de mais de trinta metros de comprimento. Seucorpo aerodinmico e suas asas em forma de delta ofereciam um contraste flagrante face natureza hostil do lugar.

    A nave, batizada com o nome de Stardust, tinha sido a primeira a pousar na Lua. Aoretornar ao nosso planeta, o comandante decidiu aterrissar no deserto de Gobi. Este fato,agora j conhecido por todos, causou perplexidade e revolta nos governos das grandes

    potncias. No entanto, s uns poucos desconfiavam que no se tratava de um pouso deemergncia, mas de uma manobra deliberada.

    Uma escotilha retangular abriu-se em um dos lados do corpo da nave. Um homemapareceu na abertura e olhou para a solido do deserto. Seu olhar passou para alm do rio e

    perscrutou as montanhas; depois, procurou o lago e deteve-se no mesmo. O capitoReginald Bell, piloto da Fora Espacial dos Estados Unidos e engenheiro da Stardust,aspirou avidamente o ar, embora este pudesse ser tudo, menos refrescante. Trajava ouniforme azul da Fora Espacial e trazia a boina debaixo do brao direito.

    Um tnue sinal de esperana iluminou seus olhos quase descorados quando se viroue gritou para o interior da nave:

    Pode-se tomar banho nessa poa d'gua?Algum emergiu da penumbra do corredor e colocou-se ao lado de Bell. Usava o

    mesmo tipo de uniforme, mas no tinha as platinas e os passadores no peito. Aparentava unstrinta e cinco anos. Era magro e seu rosto, com os olhos duros, cinzentos azulados, eraencimado por uma curta cabeleira castanho-escura. Tratava-se do major Perry Rhodan,comandante da Stardust e chefe da primeira expedio lunar.

    claro que pode disse em resposta pergunta de Bell. Mas a gua morna; no refresca. Alm disso contm sal demais para o meu gosto.

    Sempre gostei de comida bem temperada observou Bell. Em caso denecessidade, eu bebia toda a gua desse lago.

    Voc teria uma surpresa. Comparada com esse lquido, a gua do Atlntico atparece refresco.

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    Bell olhou o Sol, que estava quase atingindo o znite. Seria bom que houvesse tempo para isso! Acho que no nos deixaro em paz

    por muito tempo. Ser que Crest tem algum meio de nos proteger?Crest era o cientista-chefe de uma expedio extraterrena que havia pousado na

    Lua. H milnios sua raa dominava boa parte da Via Lctea, mas, a essa altura, j entrara

    em decadncia. O prprio Crest sofria de leucemia. Se os homens no o ajudassem, estariairremediavelmente perdido. Foi esta a razo que o levou a embarcar na Stardust para vir Terra.

    Este era o segredo que a Stardust trazia em seu bojo e que, at ento, no havia sidorevelado a ningum.

    O anteparo protetor deve ser suficiente. Pelo que Crest diz, no h nada quepossa atravess-lo, nem mesmo uma bomba atmica. Basta ligar uma chave para quesejamos cobertos por uma cpula transparente contra a qual todo o mundo a que

    pertencemos atacaria em vo. Isso me tranqiliza bastante Bell acenou a cabea num gesto de aprovao.

    Os amarelos no tardam a chegar. Provavelmente pensam que foi erro nosso e que, a estahora, estamos esperando que eles venham nos buscar. Devem estar morrendo de ansiedadepelos segredos da Stardust.

    Eles ficariam apalermados de tanta curiosidade se soubessem que passageirotemos a bordo disse Rhodan. verdade que s recebi ligeiras indicaes do poderiodos arcnidas. Uma coisa, porm, certa. Crest tem condies de dominar o mundo semqualquer auxlio. Dentro de algum tempo, certas pessoas vo ficar desesperadamentefuriosas conosco.

    Uma sombra fugaz atravessou o rosto largo de Bell. Infelizmente, provvel que nossa prpria gente tambm fique. Ser que no

    poderamos, ao menos, explicar-lhes o motivo que nos impediu de descer em NevadaFields?Perry sacudiu a cabea.

    Voc conhece o general Pounder. Acha que ele ia abrir mo das enormesvantagens que poderia tirar do nosso hspede extraterreno? Isso, sem falar no pessoal doServio Secreto e do Conselho Internacional de Defesa. Quando me lembro de um certoMercant...

    Allan D. Mercant era o chefe do Conselho Internacional de Defesa, subordinadoapenas ao comando supremo da OTAN. Era dirigente do setor especial designadooficialmente como Agncia de Informao e Segurana. No existia um nico pas ondeMercant no tivesse os seus agentes.

    Bell suspirou e voltou a falar. Mas compreendo a atitude de Fletcher. muito natural que queira voltar sua

    terra. possvel que, no fundo do corao, reconhea o acerto de impedir que qualquernao se apodere de Crest. Mas vive pensando na esposa e na criana que est para nascer.Duvido que a gente consiga segur-lo para sempre.

    Ele pode ir embora quando quiser disse Perry para surpresa de Bell.Este engoliu em seco.

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    Ir embora? Para onde? apontou em direo ao deserto. Por a? Quer queele se perca?

    No vamos ficar ss por muito tempo. Perry olhou para o relgio. Estouadmirado de que ainda no tenha surgido nenhum avio de reconhecimento.

    Acenou com a cabea para Bell e voltou para o interior da nave. No compartimento

    um tanto apertado, o Dr. Manoli estava sentado junto ao leito em que Crest repousava. Ocapito Fletcher estava perto da escotilha de vidro. Olhava para o deserto com os lbioscerrados.

    Ento? perguntou Perry que percebera o olhar de Manoli. Como vai onosso doente?

    Antes que o mdico pudesse responder, Crest falou: Obrigado, major. Sinto-me fraco; s isso. O ar do seu planeta me faz muito bem.

    Acredita, realmente, que poder ajudar-me a ficar bom?O mal que atacara Crest, a leucemia, consistia na multiplicao exagerada dos

    glbulos brancos do sangue. O que, pouco a pouco, acabava com os glbulos vermelhos.

    De certa forma, o paciente morre por asfixia, embora continue a respirar normalmente pelospulmes. O problema que o oxignio que chega aos pulmes de nada serve se noestiverem presentes os glbulos vermelhos que o transportam aos diversos rgos. O

    primeiro sintoma o cansao, o paciente enfraquece a olhos vistos. A decadncia orgnica seguida pelo definhamento mental. A morte inevitvel.

    Todavia, cerca de dois anos antes, tinha sido descoberto, por um pesquisadoraustraliano, o remdio contra a leucemia: o soro anti-leucmico.

    claro que poderemos ajud-lo, Crest. Mas, para isso, necessrio queconfiemos um no outro. Estou interessado nas invenes de seu povo, no seudesenvolvimento tcnico e cientfico e, falando com franqueza, nos seus armamentos. Em

    troca disso, ofereo-lhe a cura e a completa regenerao. um negcio simples, comoqualquer outro. Sua sinceridade muito reconfortante. H muitos milhares de anos nosso povo

    tambm era assim. Hoje, muitos de ns estamos demasiado cansados para sermos sinceros.Parece-me que poderamos aprender alguma coisa com seu povo.

    Rhodan pensava nos arcnidas estendidos nos seus leitos a bordo da nave pousadana Lua e que, para afugentar o tdio, contemplavam os quadros abstratos e irreais queapareciam nas telas.

    O grau de apatia a que chegaram impedia-os, sequer, de tentar o reparo da prprianave. O exerccio do poder, por milhares de anos, e os robs, verdadeiros servosincansveis, haviam transformado os arcnidas em um povo sem qualquer outra motivaoque no fosse ficar deitado e sonhar de olhos abertos.

    Tambm entre ns a renovao do sangue considerada o melhor remdiocontra a degenerescncia e a decadncia gentica disse Rhodan.

    Crest ergueu-se na cama. Recostou-se contra a parede. Era cerca de um palmo maisalto que Rhodan. Seu aspecto exterior pouco o distinguia dos homens. O que lhe conferiauma aparncia estranha eram os cabelos quase totalmente brancos, os olhos despigmentadose a testa de altura descomunal. Detrs dela, porm, havia uma peculiaridade invisvel ao

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    olho humano. Alm do crebro normal, dispunha de um crebro suplementar, como noexiste em qualquer ser vivo na Terra. Esse crebro era um potente centro de armazenamentode dados e uma espcie de memria fotogrfica. Outra coisa ignorada pelos homens era a

    placa protetora do corao e dos pulmes que, no seu peito, substitua as costelas.Crest era o ltimo dos descendentes da dinastia reinante em rcon, o planeta que

    servira de bero sua civilizao e, sendo cientista, interpretou literalmente a observao dePerry Rhodan.

    provvel que uma renovao do sangue apresentaria resultados positivos.Acontece que qualquer cruzamento com um membro de uma raa primitiva, ou melhor,uma raa que ainda no atingiu determinado grau de evoluo, constituiria uma violao dalei dos arcnidas.

    Sossegue disse Rhodan com um sorriso irnico. No pretendo me casarcom Thora.

    Bell, que acabava de entrar, soltou uma gargalhada enquanto Manoli, preocupado,tomava o pulso do seu paciente. Fletcher no demonstrou o menor sinal de que tivesse

    ouvido alguma coisa.Por um instante, Rhodan imaginou-se de volta gigantesca nave espacial dosarcnidas. Viu, diante de si, Thora, a comandante da expedio que sara procura do

    planeta da vida eterna. Era uma mulher alta, muito bela. Tinha os cabelos claros, quasebrancos, e seus grandes olhos brilhavam com um tom vermelho dourado..

    Seria uma mulher? Talvez fosse no seu aspecto exterior. Mas era s isso. Narealidade, no passava de uma calculista fria, dotada de um raciocnio cristalino e de umintelecto altamente desenvolvido. Sua conduta era marcada por um preconceito extremocontra os seres inferiores. Foi somente o raciocnio lgico que a levou a entrar em acordo.Sabia, perfeitamente, que no lhe restava outra alternativa, a no ser que quisesse passar o

    resto dos seus dias na Lua.Crest abanou lentamente a cabea. Admiro a sua fantasia. Mas creio que no convm perder tempo com palavras

    inteis. Devemos pensar no que vamos fazer. Voc me prometeu auxlio... E ter auxlio asseverou Rhodan. Depois, dirigindo-se a Bell, prosseguiu:

    Voc ter que deixar o banho para mais tarde. Por enquanto, procure captar as notcias queandam por a. Faa o possvel para registrar as transmisses mais importantes. Precisamossaber o que est acontecendo no mundo.

    Se algum pretender lanar um ataque contra ns, no nos avisar comantecedncia. Prefiro falar com Pounder.

    Por enquanto, no. Vamos permanecer calados. Eles que dem tratos bola paradescobrir por que no respondemos s suas mensagens. Tero de ficar maduros para aquiloque pretendo fazer.

    Maduros! Bell abriu a porta que dava para a sala de rdio e radar. Achoque, daqui a pouso, somos ns que estaremos maduros!

    Perry no se preocupava com Bell. Conhecia-o e sabia que poderia confiar nele. Eric, preocupe-se exclusivamente com Crest. Fletcher, peo-lhe que cuide logo

    da comida. possvel que, mais tarde, no haja tempo suficiente para isso. Enquanto isso

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    eu cuido da nossa situao estratgica. Quais foram as armas que Thora entregou, Crest?O arcnida continuava sentado na cama, com as mos entrelaadas.

    Acho que, por enquanto, o mais importante o anteparo energtico. Trata-se deum dispositivo puramente defensivo, mas que apesar disso, no deixar de impressionar umeventual agressor. Alm disso, dispomos de trs armas manuais, os psico-irradiadores. Sua

    intensidade regulvel. Com a regulagem mxima, consegue-se a paralisao psquica deum homem a dois quilmetros de distncia, mas nunca se pode causar sua morte. Com umaintensidade menor, a conscincia da pessoa atingida debilitada de tal forma que ser fcilassumir o comando sobre seu corpo. Como se no bastasse, podem ser transmitidas ordens

    ps-hipnticas que sero executadas em quaisquer circunstncias, mesmo quando a pessoaatingida j se encontra fora do alcance das psico-irradiaes. Tudo isso vem acompanhadode uma amnsia artificial. A pessoa no se recorda de coisa alguma.

    Isso j nos serve disse Rhodan. H mais alguma coisa? S o transmissor que nos permite entrar em contato com Thora a qualquer

    momento. Conforme do seu conhecimento, as ondas emitidas pelo mesmo atravessam a

    Lua. Sem isso, no conseguiramos nos comunicar com ela, j que a nave est pousada naface oculta do satlite.Rhodan ficou por uns momentos com o ar pensativo. Crest compreendeu que algo o

    preocupava. No se preocupe. O anteparo energtico e o irradiador manual bastam. Se

    surgirem problemas mais graves, Thora intervir. Que tal o neutralizador de gravidade que o senhor colocou a bordo para facilitar

    a decolagem quando viemos da Lua? Ah, sim! J ia me esquecendo dele, se bem que ele no possa ser considerado

    uma arma. Seu alcance enorme: mais de dez quilmetros. E funciona tanto na base da

    radiao direcional como na da radiao circular. Pode-se diminuir sensivelmente ou ateliminar a gravidade da Terra num retngulo de dez quilmetros de comprimento e a larguraque se desejar, ou ento num crculo de vinte quilmetros de dimetro, que ter por centro oirradiador, ou seja, no nosso caso, a Stardust.

    Excelente! exclamou Rhodan. Acho que isso basta.Dirigiu-se porta.Fletcher passou os olhos pelo deserto. Depois, lanou um olhar provocador para

    Rhodan, mas, quando se defrontou com os olhos do comandante, que pareciam de ao,limitou-se a um ligeiro aceno de cabea.

    Est bem, Perry. Oportunamente falaremos sobre o resto.Bell abordou Perry junto escotilha de sada.

    Est havendo interferncia nas transmisses. No consigo pegar os EstadosUnidos. Todas as freqncias esto ocupadas. Mas h um emissor muito forte que deveestar bem prximo de ns. O sujeito fala ingls com sotaque. Diz que no devemos tomarnenhuma providncia porque a operao de resgate j est em andamento.

    Operao de resgate! disse Rhodan. uma expresso muito bonita paradesignar aquilo que os chineses pretendem fazer. Responda que no queremos qualquerauxlio.

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    Bell no respondeu. Olhou para longe. Uma nuvem de p levantou-se do outro ladodo rio, perto das colinas. Parecia um lenol sujo estendido por cima do deserto. Pontinhosminsculos moviam-se em direo ao lago salgado. Perry seguiu o olhar do amigo.

    Ah, est na hora! Esto chegando. Veja! Um helicptero!Os rotores que giravam com o zumbido caracterstico mal se distinguiam no ar que

    tremulava no calor. A fuselagem delgada faiscava ao sol ofuscante. Quando desceu, amenos de cem metros da nave, a areia foi atirada para o alto.

    Bell, fique aqui. Segure um dos irradiadores e aguarde um sinal meu. Regulepara a intensidade mxima. Vou falar com eles.

    Mas... No h nenhum mas. Esta gente nos quer vivos. No h perigo.Bell desapareceu no interior da nave. Dentro de cinco segundos estava de volta.

    Segurava um basto prateado com uma lente na ponta. Havia um botozinho vermelhodeslocvel, que podia ser firmado em qualquer posio.

    Perry acenou com a cabea e desceu a escada. Foi andando em direo ao

    helicptero, do qual haviam sado dois homens que envergavam o uniforme da FederaoAsitica. Enquanto aguardavam, olhavam-no com curiosidade.O piloto permaneceu na cabina do helicptero. Soltou o manete de direo e pegou

    uma pistola automtica.No rosto de Rhodan surgiu um sorriso de compaixo. Essa gente teria uma surpresa

    enorme.Os dois oficiais vieram ao seu encontro. Falavam ingls quase sem sotaque.

    Ficamos satisfeitos em ver que conseguiu realizar um pouso tranqilo disse ooficial mais graduado. Sou o marechal Roon, comandante das foras terrestres do nossoimprio. Este aqui o major Butaan.

    Perry Rhodan apresentou-se Rhodan, inclinando-se ligeiramente. O quedesejam?Os dois homens ficaram mudos de espanto. Olharam-se ligeiramente e depois

    lanaram um olhar indagador ao cosmonauta. Estavam convencidos de que o mesmoprecisava de auxlio.

    Perry esboou um sorriso gentil. Foi muita gentileza tomar todo este trabalho, mas as providncias destinadas a

    nos ajudar so inteis. Para tranqiliz-los quero acrescentar que, se estivesse falando comum oficial do exrcito americano ou russo, a resposta seria idntica.

    No compreendo disse Roon, enquanto sua mo alisava a cala do uniforme,que ficara amassada com a longa permanncia no helicptero. O senhor realizou um

    pouso de emergncia, no mesmo? Est precisando de auxlio. Ou ser que est emcondies de decolar com seus prprios meios?

    E se estivesse? No poderamos permitir a decolagem, j que o senhor aterrissou em territrio

    chins.Perry sorriu.

    Ah, agora est comeando a falar com sinceridade. O que lhe interessa no

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    ajudar-nos, mas agarrar-nos. Muito bem bolado. Acontece que no pousamos aqui parasermos presos pelo senhor.

    Roon ia dar uma resposta violenta, mas foi contido por um olhar de advertncia domajor que o acompanhava. Controlou-se imediatamente. Tudo indicava que o major exerciauma influncia bastante acentuada sobre o comandante do exrcito.

    Ningum est falando em restringir sua liberdade de locomoo. evidente queteremos de revistar a nave para verificar se no tiraram fotografias sobre o territrio daFederao Asitica.

    Fizemos mais que isso. Fotografamos toda a Terra; da Lua. Ser que isso proibido? A nave dos senhores no tira fotografias?

    Os dois oficiais olharam-se rapidamente. Nossa nave foi destruda logo aps a decolagem. Foi sabotagem. No sabia

    disso?Perry ficou abalado. Para ele, a conquista do espao interessava a toda a

    humanidade. Sabia que as fronteiras que separam os povos s seriam demolidas depois de

    reconhecida sua insignificncia face s fronteiras mais amplas do espao. No reconhecianenhuma diferena entre as raas e as naes. Para ele, todos eram homens, terrenos.Alegrar-se-ia com o xito de qualquer expedio Lua, ainda que a mesma fosse realizada

    por um inimigo seu se tivesse um. Foi, portanto, em virtude de um impulso espontneoque se dirigiu ao marechal, estendendo-lhe a mo.

    Lamento muito. No sabia. Foi sabotagem?Roon fez de conta que no estava vendo a mo que Perry lhe estendia.

    S pode ter sido. Os nossos cientistas mais competentes examinaram a nave nadecolagem. No encontraram o menor defeito. Ao atingir cem quilmetros de altitude anave partiu-se em duas e caiu ao solo.

    Existem milhares de circunstncias que podem determinar uma falha. No existenenhuma prova de que tenha sido sabotagem. Um elemento a soldo do Ocidente entrou furtivamente na nave e danificou o

    reator. Besteira! disse Perry em tom spero. No se deve procurar encobrir os

    prprios fracassos.Sentiu-se contrariado pela suspeita insultuosa dos asiticos. Roon no era chins;

    provavelmente seria natural da ndia ou de alguma ilha. Nenhum de ns teria interesse em impedir sua viagem Lua prosseguiu

    Perry. Mas no falemos mais nisso. O que deseja de ns?Pela primeira vez o major dirigiu-lhe a palavra.

    Pousou neste local por sua livre vontade? indagou.Era uma pergunta muito direta. Perry decidiu dar uma resposta igualmente direta.

    Perfeitamente. Se quisssemos poderamos ter pousado no deserto do Saara ouna Amrica.

    Por que pousou justamente aqui? Temos nossos motivos. Vejo-me forado a pedir que daqui por diante considere

    o trecho de terra que circunda esta nave como territrio submetido soberania de uma

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    potncia neutra, embora o mesmo se encontre dentro das fronteiras do seu pas. Seu povono faz nenhum uso deste deserto; portanto, a nossa deciso no lhe acarretar qualquer

    prejuzo econmico. Garantimos-lhes a no-interferncia nos assuntos internos do seu pase respeito s fronteiras do mesmo. Realizaremos negociaes diretas com seu governo.Quanto ao senhor, marechal Roon, recomendo-lhe que ordene s tropas que se dirigem para

    c, a fim de transformar a nave americana numa presa valiosa, que faam meia-volta.Estamos entendidos?

    O major Butaan recuou um passo. A sua mo direita repousava sobre a coronha deuma pesada pistola. Apertou os lbios. Seus olhos chamejaram.

    O marechal Roon conseguiu controlar-se. Com um sorriso cativante, falou: O senhor s pode estar brincando, major Rhodan. Cabe-nos o direito de revistar

    qualquer objeto voador que pouse no territrio submetido nossa soberania. Se no houvermotivos para suspeita, ser liberado. Acho que sua observao relativa a uma potncianeutra s pode ser considerada uma piada de mau gosto.

    Interprete minhas palavras como quiser, mas no diga que no foi prevenido. E

    agora, passe bem. Provavelmente, ainda nos encontraremos outras vezes. Um momento!O major Butaan puxou a arma e apontou-a para Rhodan. Era uma pistola de grosso

    calibre que lanava balas explosivas. Um pouco antiquada, mas muito eficiente,principalmente a pouca distncia.

    Perry cruzou os braos sobre o peito. Sentia atrs dele, a menos de oitenta metros, apresena de Bell pronto a experimentar o neutralizador. Certamente j o teria feito seRhodan no estivesse no campo de ao do aparelho.

    Pois no. Major Rhodan, o senhor um espio. Esta nave no passa de uma base

    americana que os senhores fizeram pousar propositalmente neste local. Certamenteesperavam ser tratados com condescendncia porque iramos acreditar que se encontrassemem dificuldades. Acontece que descobrimos o seu jogo e...

    No prometa aquilo que no pode cumprir advertiu-o Rhodan. Nossopouso neste local deixou os americanos to surpresos quanto os senhores. Tambm no tma menor idia das nossas intenes. E tambm seriam repelidos se procurassem aproximar-se de ns. Compreenderam? Muito bem! Nesse caso permitam que volte minha nave.Repito, marechal: retire suas tropas, pois do contrrio no me responsabilizo pelo que vier aacontecer.

    Cumprimentou os dois oficiais com um aceno de cabea, lanou um olhar deadvertncia ao piloto que segurava a pistola automtica, voltou-se e foi andando devagarem direo Stardust. Bell estava no topo da escada de acesso, indeciso, com o basto

    prateado na mo. Percebia-se o seu alvio quando viu, finalmente, o comandante se afastarda rea de alcance da arma.

    Devamos fazer uma brincadeira com eles gritou para Rhodan. Essesujeito de calas cinzas deve ser general. Poderamos incutir-lhe a idia de que porteiro decirco e mand-lo-amos de volta ao emprego. Seria engraado.

    Rhodan atingiu o primeiro degrau e voltou-se. O marechal Roon e o major Butaan

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    e ele apostaria qualquer coisa como este ltimo pertencia ao servio de contra-espionagem continuavam parados no mesmo lugar, indecisos, na expectativa. Butaanainda tinha a arma na mo.

    No vejo nada de mal numa brincadeira respondeu Rhodan, depois de terchegado ao lugar em que Bell se encontrava. Traga o neutralizador, depressa!

    O... ?Bell no disse mais nada. De um salto desapareceu no interior da nave. Voltou

    alguns momentos mais tarde com uma pequena caixa metlica na mo. Apesar do seuaspecto simples, ele concentrava uma quantidade enorme de energia, concentrada numespao extremamente reduzido. Crest chamara o aparelho de neutralizador da gravidade.Quanta coisa no encerrava este nome... O sonho de muitas geraes de cientistas.

    Perry regulou o aparelho. Depois, foi empurrando devagar a chave do lado direitoque ativava o raio direcional, e diminua gradativamente a gravidade.

    O major Butaan voltou a guardar a arma. No compreendo como o senhor permite que um bando de espies nos d

    ordens. A meu ver uma atitude irresponsvel. Terei de informar s autoridadescompetentes. Fique vontade disse Roon com toda calma. Olhou para a Stardust com os

    olhos apertados. Estou convencido de ter agido corretamente.Nessa nave h muita coisa de que nem o senhor nem eu desconfiamos. Para o

    senhor, tudo no passa de uma ao disfarada do pessoal do Ocidente. Mais precisamente,acha que colocaram uma base neste lugar. A idia no m... pode, at, ser verdadeira.Acontece que no sabemos. Talvez o tal Rhodan nem seja maluco. s vezes chego a pensarque devem ter descoberto algo extraordinrio na Lua; alguma coisa que lhes confere um

    poder formidvel.

    Parou de falar. Havia algo errado. Subitamente, sentiu-se leve, como se estivesseflutuando; at parecia que tinha bebido. O pior era que tinha a impresso de ter perdido,tambm, o equilbrio. Sentia-se mais alto, como se estivesse crescendo por cima de sua

    prpria cabea.Que diabo!, pensou. Tomara que o major no perceba nada.Butaan estava to preocupado consigo mesmo que no tinha tempo para pensar no

    marechal. Um movimento irrefletido fez com que o cho lhe fugisse de sob os ps.Devagar, como um balo, foi subindo em direo ao cu azul. Girava como um campeo desaltos ornamentais em cmara lenta.

    Roon no se movera; por isso ainda continuava de p sobre as pedras aquecidas dodeserto de Gobi. De boca aberta, no tirava os olhos de Butaan que praguejava e invocava aajuda dos antepassados. Mas as maldies no adiantaram nada, nem os antepassadosvieram em seu auxlio. Continuou subindo.

    Piloto! berrou o marechal e virou-se abruptamente.No devia ter feito uma coisa dessas. O movimento giratrio no foi amortecido;

    subindo em espiral, Roon seguiu o chefe do Servio de Defesa.O piloto no se conteve mais. Num movimento instintivo, segurou-se ao encosto do

    seu assento at que alcanasse a sada estreita. Por um instante, contemplou de boca aberta

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    e olhos arregalados seus superiores que subiam para o cu. Depois, empunhou a pistolaautomtica.

    O primeiro tiro varreu-o para fora da cabine do helicptero, que foi deslizandolateralmente poucos centmetros acima da superfcie do solo. Sem perceber, abaixou o canoda arma e, como fizera fogo contnuo, o pobre piloto subiu como um foguete para o cu do

    deserto. A velocidade foi aumentando a cada tiro, at que o carregador da arma estivessevazio. Mas o impulso foi suficiente para que ele continuasse a subir.

    Era um quadro incrvel o que se desenrolava em plena luz do dia. Trs homensflutuavam no ar e um helicptero, em posio oblqua, balouava entre as rochas como sefosse um navio encalhado batido pelas guas do oceano.

    Perry levantou-se e olhou para o rosto radiante de Bell. Ento, o que acha disso? formidvel! Um verdadeiro espetculo circense. Trs bonecos pendurados no

    ar. Calculo que estejam com medo. O que faremos agora? Pretende deix-los morrer defome ali no alto?

    No, claro que no! Diga-me uma coisa: voc sabe pilotar helicpteros, no ? Sei, por qu? Depois falaremos a esse respeito. Por enquanto, faa-os aterrissar suavemente.

    Isso, recue a alavanca aos poucos. Acho que metade da gravitao terrestre basta. No,receio que caiam com muita velocidade. Regule para um quarto. bom que levem algumasmanchas roxas de recordao, para que no pensem que tudo no passou de um sonho. Isso!Muito bem!

    O marechal Roon atingiu o solo. Pasmado, olhou para todos os lados como seestivesse procura do ser invisvel que o erguera. Butaan aterrissou com mais violncia, auns dez metros de distncia do marechal. Bateu numa pedra e o rosto contorcido de dor e de

    espanto falava por si s. J o piloto, que foi o que mais subiu, foi, por conseguinte, o quecaiu mais rpido. Por sorte, o deslocamento horizontal que ele sofreu, levou-o a mergulharno rio de cabea para baixo. Com apenas vinte e cinco por cento do seu peso normal,flutuou como uma rolha, o que contribuiu para aumentar ainda mais a sua perturbao. Jtinha largado a pistola.

    Marechal Roon! Est me ouvindo?Perry gritou essas palavras o mais alto que pde. O marechal ergueu o punho e

    sacudiu-o num gesto ameaador. Isso vai lhe custar muito caro. O que foi mesmo? O senhor eliminou a

    gravidade? O marechal at que sabido! exclamou Bell alegremente, batendo com a

    mo na coxa. Estava se divertindo a valer. Se no retirar imediatamente as tropas, ter outras surpresas. Perry apontou

    para a Stardust. Temos em nosso arsenal, armas com as quais o senhor no chega nem asonhar.

    Ele sabia que talvez fosse imprudente dizer aquilo, mas estava interessado,principalmente, em fazer com que os outros agissem com cautela. Todavia, o efeito foiexatamente o contrrio.

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    Quer dizer que trazem armas? resmungou Roon, brindando o chefe doServio de Defesa, bem mais jovem que ele, com um olhar que parecia dizer: veja quantovale o seu trabalho e o seu Servio de Informaes! So uma porcaria! No fiquei sabendoda existncia de uma arma americana capaz de eliminar totalmente a gravidade.

    Ento, o que houve? berrou Bell agitando os braos. Ser que o passeio

    areo lhes prendeu a lngua?Roon disse alguma coisa ao piloto, que j atingira, so e salvo, a margem do rio e

    se juntara a eles. Perry tinha colocado a alavanca do neutralizador na posio zero. Ascondies de ponderabilidade eram normais.

    Um momento! advertiu Perry, ao ver que o piloto ia se dirigindo para ohelicptero. Esse helicptero vai ficar aqui. Pousou sem permisso em territrio da

    potncia recm-criada. Est confiscado.O rosto do marechal ficou rubro de raiva.

    Calma, marechal, o senhor passou da idade de se aborrecer! O que esto pensando? berrou Roon, fora de si. Vou...

    No chegou a dizer o que pretendia fazer. O major Butaan cochichou-lhe algumacoisa no ouvido. Ainda tero notcias minhas terminou abruptamente. Depois voltou-se, fez

    sinal ao major e ao piloto, e foi andando em direo s colinas distantes.Nesse meio tempo, a nuvem de p havia se aproximado assustadoramente. Perry

    suspirou aliviado. Ento este foi o nosso primeiro encontro com a Federao Asitica. O segundo

    deixa-me menos curioso. Acho que teremos que pr em funcionamento o anteparoenergtico. Seu alcance chega a dois quilmetros. Portanto, o rio, parte da margem do lagoe o helicptero esto situados no interior do crculo de proteo. este o territrio do novo

    imprio: o menor da Terra, porm o mais poderoso. O que voc pretende fazer com o helicptero? Que pergunta! Voc sabe muito bem que um belo dia teremos de sair daqui para

    arranjar peas sobressalentes e medicamentos. Ser que voc pretende atravessar a p odeserto de Gobi?

    O rosto de Bell corou ligeiramente. Eu? Por que justamente eu? Quer que... Perry acenou tranqilamente com a

    cabea. Um de ns tem que ir, no ? Por que no ser voc? Afinal, ningum merece

    mais confiana que voc.Bell fez um gesto largo com os braos.

    Bem... naturalmente! claro que tem razo. Quando partirei? Assim que o mundo se tiver acalmado.Com o neutralizador debaixo do brao, Perry entrou na nave. Bell seguia-o devagar.

    Com o olhar de um perito examinou ligeiramente o helicptero, pousado em posiooblqua. Depois enfiou o neutralizador no bolso e fechou a escotilha.

    Encontraram Fletcher no centro de controle. A comida est pronta. O que aconteceu?

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    Perry explicou em poucas palavras. Ser que voc acredita que isso dar resultado? J lhe disse que no entro nessa.

    Quero ir para casa. Quero rever minha esposa. Dentro de trs meses ela ter um beb. At l, tudo estar liquidado, Fletcher. Seja razovel! Voc me conhece h muito

    tempo. Nunca fao nada sem ter um motivo. Vou explicar mais uma vez por que tivemos de

    pousar aqui e no em Nevada Fields. Voc nunca me convencer! A paz que est reinando na Terra ilusria. O menor ensejo bastar para que os

    foguetes atmicos sejam disparados em todas as direes, espalhando a devastao peloglobo terrestre. Voc acha que esse estado de coisas deve durar para sempre? Agora estamosem condies de intervir. O bloco ocidental e a Federao Asitica esto se defrontando.Desde que a China se tornou a maior potncia atmica, o bloco oriental, dirigido porMoscou, s desempenha um papel secundrio. Somos o fiel da balana, o nico poder quese interpe entre as duas superpotncias. Contamos com os recursos incrveis dos arcnidas.O poder dos arcnidas concentrado nas mos de uma s nao significaria o fim de toda

    liberdade, mesmo que essa nao fosse os Estados Unidos. J est na hora de compreenderisso! Voc sabe que um traidor?Uma expresso de sofrimento desenhou-se nos lbios de Perry.

    Muita gente dir a mesma coisa, porque no me compreende. Mas no sou umtraidor. Acontece apenas que deixei de ser um americano, para transformar-me num terreno.Ser que voc compreende ao menos isso?

    Talvez. Que mais? Fletcher engolia em seco. Apesar de tudo voc podiater pousado em Nevada Fields.

    No podia. De qualquer maneira temos de nos defender, c ou l. E antes lutar

    contra os asiticos que enfrentar nosso prprio povo. Podia ser que me amolecessem, queconseguissem me convencer. uma coisa que aqui nunca acontecer. Sei muito bem o queme espera caso ceda quela gente. Crest encarna um poder ilimitado, Fletcher. Est ao seualcance e, portanto, ao nosso, impedir a irrupo da guerra. Quando as grandes potncias

    perceberem que se encontram sob o controle de uma potncia mais forte esquecero oconflito que lavra entre elas. Talvez at cheguem a um entendimento.

    Isso no passa de uma utopia. Esperemos. A fbula segundo a qual os discos voadores pousaro na Terra e nos

    traro a paz, deve encerrar um gro de verdade. Crest s se prontificou a ajudar-nos sob acondio de nos comprometermos a restituir-lhe a sade e respeitar sua liberdade pessoal. Eno estaramos respeitando essa liberdade se o entregssemos a qualquer potncia da Terra,fosse qual fosse. Qualquer outra potncia teria motivo para sentir-se ameaada.Desencadearia a guerra final. Da forma como as coisas esto, no se atrevero a faz-lo.

    Fletcher fez um movimento cansado com a mo. Voc me deixar partir assim que eu desejar? Bell o levar quando sair para buscar os medicamentos e as peas

    sobressalentes. O helicptero est esperando l fora.Fletcher afastou-se, pensativo.

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    Girando uma chave, Perry ativou o campo energtico. A Stardust ficou coberta poruma cpula invisvel de dois quilmetros de altura e igual extenso para todos os lados.Quem olhasse do alto pensaria que ali no deserto, junto ao lago, apenas havia umaminscula nave inutilizada.

    Na verdade, porm, naquele lugar estava o germe de um novo imprio, cujas

    fronteiras, nessa altura, no chegavam a treze quilmetros de extenso. Mais tarde, porm,atingiriam milhares de anos-luz.

    O aspecto exterior do general Lesley Pounder era to marcante que dava a qualquerum a idia de sua resistncia e fora. De constituio slida, seu corpo revelava uma forade vontade e uma energia inacreditveis. Todo mundo sabia que no recuava diante de nada,nem mesmo de Washington ou do Pentgono. Era chefe da Fora Espacial dos EstadosUnidos e seus homens adoravam-no e temiam-no ao mesmo tempo. Podiam procur-lo aqualquer hora se tivessem algum problema. Raramente dava mostras do seu humor mordaz.

    Isso fez com que os maledicentes afirmassem que um dia o general acabaria devorado pelaprpria raiva.Estava no gabinete do quartel-general, sentado atrs da enorme escrivaninha, cuja

    superfcie estava quase totalmente tomada pelos mais variados equipamentos decomunicao. O restante do espao era ocupado por pilhas de papis e pastas. Tinha diantede si um homem de aparncia modesta. Este era o extremo oposto do general. Um crculoralo de cabelo castanho circundava sua calva lustrosa. A impresso pacata era reforada poralgumas mechas de cabelos brancos nas tmporas. Apesar da coroa de cabelo e dastmporas grisalhas, esse homem tinha um aspecto jovem e inofensivo. Seus olhos pareciamtransmitir uma impresso suave de tolerncia.

    Todavia, Allan D. Mercant era tudo, menos suave e tolerante quando se tratava documprimento do dever. No desempenho das suas funes de chefe do ConselhoInternacional de Defesa de todo o bloco ocidental, era o caador mais obstinado que se

    poderia imaginar. O senhor confia muito no major Rhodan e nos seus homens disse em tom

    brando, apontando para o mapa do mundo pendurado na parede. A Stardust pousou nodeserto de Gobi. Ainda de opinio que foi por simples acaso?

    A nave expediu o sinal internacional de perigo antes que seu equipamentosilenciasse. O mecanismo propulsor, certamente, falhou.

    Por que Rhodan no permitiu que o pouso fosse dirigido pelo controle remoto?Dessa forma a nave teria atingido a base de Nevada s e salva. Por que ele mesmo assumiuo comando? O senhor pode dar alguma explicao?

    O general Pounder sacudiu a cabea, sem saber o que dizer. No tenho nenhuma explicao para isso. Mas no por esta razo que eu deva

    estar preso, com meu estado-maior, aqui na base. Certamente foi sua a idia de cercar toda abase de Nevada Fields.

    apenas uma medida de precauo disse Mercant com um sorriso amvel,para tranqiliz-lo.

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    Quem conta com o pior nunca sai decepcionado. Mas quem sempre conta com o pior tambm cria problemas desnecessrios

    advertiu Pounder. Ainda que Rhodan tenha pousado no deserto de Gobi por sua livre e espontnea

    vontade, ele deve t-lo feito com uma idia bem definida.

    Tenho certeza que assim! observou Mercant em tom irnico. A finalidade que tem em vista no deve ser, de forma alguma, dirigida contra

    ns. Se o senhor acha que ele pretende entregar a Stardust Federao Asitica, est muitoenganado.

    Que outra finalidade poderia ter ele em vista? No sei admitiu Pounder. Mas conheo o major Rhodan muito bem.

    digno de toda a confiana. Trata-se de um elemento que est acima de qualquer suspeita. O homem sempre constitui um fator de incerteza em qualquer equao, general.

    Ningum consegue ver a alma do prximo. A riqueza e o poder, ou melhor, a esperana deobter essas coisas, pode perturbar at mesmo o esprito mais ntegro.

    O general Pounder pareceu crescer atrs de sua escrivaninha. Ser que o senhor quer insinuar que Rhodan ficou louco? De forma alguma, general. Uma pessoa que ambiciona o dinheiro e o poder no

    pode ser considerada louca. Conforme o caso poder ser um traidor...Pounder saltou da cadeira. Inclinou o enorme corpo sobre a escrivaninha e colocou

    o punho cerrado por baixo do nariz do outro. Agora, chega! Embora seja Allan D. Mercant, no admito que insulte os meus

    homens. Rhodan no um traidor. A Stardust realizou um pouso de emergncia. Prove ocontrrio! Enquanto no conseguir faz-lo, fique bem quieto. De resto, Washington jestabeleceu contato com o governo da Federao Asitica.

    Interessante! observou Mercant, e afastou o punho do general com umaelegncia to displicente que este ficou desarmado. Posso perguntar qual foi o resultado? At agora, nada respondeu Pounder. Aguardo informaes diretas do meu

    pessoal em Washington. Pois eu lhe digo qual ser o teor dessas informaes: o governo da Federao

    Asitica lamenta o incidente e afirma ter tomado todas as providncias que estavam a seualcance para salvar os cosmonautas. Os destroos da Stardust sero liberados, desde queno tenham sido completamente destrudos. Pouco depois, receberemos outra nota na qualse dir que a nave foi totalmente destruda e que s foram encontrados os cadveresirreconhecveis dos tripulantes. Depois disso, o assunto ser envolvido pelo mais absolutosilncio; ningum falar mais nada a respeito. A realidade, porm, ser completamenteoutra.

    Se eu fosse dotado de sua fantasia, escreveria romances disse Pounderfingindo admirao pelo interlocutor. Todavia, ouamos qual ser a realidade... na suaopinio.

    Os asiticos desmontaro a Stardust e utilizaro o resultado da viagem em seubeneficio. Rhodan e os demais tripulantes, que evidentemente esto sos e salvos, receberoa recompensa prometida, depois de terem revelado tudo o que sabem. Talvez a recompensa

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    seja um palacete situado no Tibet, talvez seja um tiro na cabea.Pounder voltou a sentar-se.

    O senhor no um homem normal; uma vtima da sua profisso diagnosticou Pounder. Rhodan sabia muito bem que entre ns teria uma existnciatranqila e ganharia at dois palacetes, se quisesse. Por outro lado, tambm no ocorre

    nenhum motivo ideolgico. Logo, s resta o pouso de emergncia. a minha opinio.Rhodan entrar, logo que possa, em contato conosco. Aguarde.

    Mercant passou a mo pela calva. Prefiro confiar nas informaes dos meus agentes. O major Perkins no nos

    deixar na mo.Perkins at mesmo Pounder conhecia-o de fama era um dos melhores agentes

    de Mercant. No foi ele quem descobriu o atentado planejado contra o campo de provas da

    NATOM, situado na Austrlia, e liquidou os cabeas? Foi ele mesmo! Mandei-o a Pequim h poucas horas a fim de cuidar do assunto.

    E o senhor acredita... claro que viaja com nome falso. Os documentos so legais e o fato demantermos boas relaes comerciais com a Federao Asitica facilitar bastante seutrabalho.

    Nesse momento, o rudo do videofone chamou a ateno de Pounder. Ele girou umboto e a tela iluminou-se. Um rosto surgiu.

    Ligao de Washington disse uma voz suave. para os senhores Poundere Mercant.

    Esto ambos presentes disse Pounder com a voz ofegante. Tem certeza deque com os dois que a pessoa pretende falar?

    Washington faz questo disso. Pediram que s completasse a ligao quando aspessoas solicitadas estivessem no aparelho. Pode ligar. O senhor Mercant est aqui no meu gabinete. Um instante, cavalheiro. Continue com o aparelho ligado.Pounder olhou para Mercant.

    Quais so suas relaes com Washington? perguntou espantado. So muitas disse Mercant com um sorriso ingnuo. Basta citar um

    exemplo: l que se encontra o meu superior imediato, o Presidente.Pounder engoliu em seco, conservando os olhos fixos na tela de imagem como se

    de l pudesse vir algo em seu auxlio.O rosto da operadora tinha desaparecido. No seu lugar, surgiu outro: era o chefe do

    Setor de Informaes da Casa Branca. o general Lesley Pounder? Ele mesmo disse o general. Mercant inclinou-se ligeiramente para a frente

    para que a cmera receptora pudesse captar a sua imagem. Mercant tambm estpresente.

    Obrigado. Acaba de chegar a resposta do governo de Pequim. Seu contedo to estranho que resolvemos no tomar qualquer medida antes de ouvir sua opinio. Seu

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    gravador est ligado?Pounder comprimiu um boto oculto sob a tampa da escrivaninha.

    Acabo de ligar. Muito bem. Oua. O teor da nossa mensagem a Pequim foi o seguinte:De Washington para Pequim. Solicitamos autorizao imediata para enviar uma

    comisso que dever examinar os destroos da nave espacial Stardust que realizou umpouso forado. Acreditamos que no haja qualquer impedimento diplomtico j que a nave

    destinava-se a investigao cientfica. Aguardamos sua concordncia.

    A resposta, que acabamos de receber, diz o seguinte:Autorizao recusada. O governo da Federao Asitica entende que a instalao

    de uma base ocidental no seu territrio constitui uma violao grave dos acordos

    celebrados. No se trata do pouso forado de um pretenso foguete espacial. A tripulao

    rechaou um comando de resgate e, para isso, usou uma nova arma que subtrai aos

    homens a ao da gravidade. A base, que j foi cercada pelas nossas tropas, ser

    destruda, a no ser que seu governo ordene imediatamente que a mesma nos seja entregue

    em boas condies. Concedemos-lhes um prazo de duas horas. este o teor das duas mensagens. Que me diz a respeito, general Pounder?O chefe da Fora Espacial estava exultante.

    Quer dizer que a Stardust conseguiu pousar em boas condies. Ainda bem!Rhodan e os outros tripulantes esto vivos. Fomos os primeiros a alcanar a Lua econseguimos pousar nela. Formidvel!

    Realmente muito interessante admitiu o chefe do Setor de Informaes deWashington. Mas, no momento, o importante a sua opinio a respeito da mensagemdos asiticos. O que significa isso? Uma arma que subtrai aos homens a ao da gravidade?A Stardust levava alguma coisa parecida com isso a bordo?

    Em absoluto! Eliminar a fora da gravidade? J foram realizadas pesquisasnesse sentido, mas no produziram qualquer resultado. Os asiticos esto blefando. Querem fazer desaparecer a Stardust, mais nada.

    Mercant interveio. Existe alguma prova de que a nave espacial pousou em boas condies? No dispomos de qualquer prova respondeu o chefe do Setor de

    Informaes. Se dispusssemos, a respectiva observao teria chegado a ns por seuintermdio, senhor Mercant. Comunicamos a Pequim que infelizmente no conseguimosestabelecer contato com a Stardust e, por isso mesmo, no podamos tomar qualquer

    providncia. Rejeitamos com a maior energia a afirmao insensata de que a nave seria uma base americana. Ainda no recebemos a resposta. Aguarde! Pequim est chamando.Continue com o aparelho ligado. Vou coloc-los na linha para que possam ouvir, tambm, amensagem. O rosto do chefe do Setor de Informaes desapareceu. A tela ficou vazia. MasPounder e Mercant ouviram cada palavra que era pronunciada naquela sala situada a maisde trs mil quilmetros de distncia. Sem querer, testemunharam o incio de uma srie deacontecimentos que conduziriam extino da espcie humana, caso no acontecesse ummilagre antes.

    Aqui Washington. Pode falar, Pequim.

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    Pequim falando. Os senhores no atenderam s nossas exigncias. A base quemontaram no deserto de Gobi tambm se recusou a permitir uma investigao. Em vistadisso, a diviso comandada pelo marechal Roon recebeu ordens de destruir a base. Emboradevam estar bem informados, queremos dar-lhes um ligeiro relato do que aconteceu.

    Nossos tanques avanaram. A dois quilmetros do lugar onde se encontra

    pousada a Stardust esbarraram num obstculo invisvel. As buscas que mandamos realizarrevelaram que esse obstculo cerca a nave por todos os lados, delimitando um territrio de

    pouco mais de doze quilmetros quadrados que, segundo um certo Rhodan, o territrio

    de uma potncia neutra recm-criada. Nossos tanques recuaram e abriram fogo contra abase. As granadas detonaram muito antes do alvo, como se o anteparo invisvel tambm

    continuasse acima da nave, cobrindo-a como uma cpula protetora. Nossos consultores

    cientficos so de opinio que a base est coberta por uma cpula energtica. Dessa forma,

    seria inexpugnvel. Queremos avis-los de que consideramos a Stardust uma ameaa paz

    mundial e extrairemos as conseqncias cabveis dos fatos. Pedimos que a base seja

    retirada ou entregue s nossas autoridades dentro do prazo de vinte e quatro horas. De

    outra forma, consideraremos rompidas as relaes diplomticas entre Pequim eWashington. Aguardaremos o seu pronunciamento. No transmitiremos outras mensagens

    sobre o assunto. Fim.

    Pounder olhou para Mercant. Sua pele j no tinha a cor sadia de dez minutosantes. O sorriso suave do chefe do Conselho Internacional de Defesa tambm tinha sidosubstitudo por algumas rugas que demonstravam sua preocupao.

    Um anteparo energtico? disse, esticando as palavras. Nem mesmo nstivemos conhecimento disso. Meus respeitos, Pounder. Os seus cientistas souberam guardarsegredo.

    No diga tolices, Mercant. Tambm nunca tive conhecimento da existncia de

    um anteparo energtico. Esses asiticos esto blefando e s. H tempos esto procurandoum pretexto para despachar seus foguetes atmicos. Agora, encontraram um.Mercant inclinou o corpo.

    O senhor quer fazer crer que no sabe nada a respeito do anteparo energticoque est cobrindo a Stardust? E quer afirmar, tambm, que no tem conhecimento doaparelho que subtrai s pessoas a ao da gravidade?

    Eu considero isso tolice! Uma coisa dessas no existe! Para mim os asiticosesto blefando, j disse!

    Al! A discusso foi interrompida pela voz do chefe do Setor de Informaesde Washington. Os senhores ouviram, no ?

    claro que ouvimos! confirmou o general Pounder. Isso a maisformidvel estupidez que j vi algum pronunciar at hoje. Julgo conveniente...

    Essa estupidez pode se transformar numa estupidez pior: a guerra. Temos queimpedir que isso acontea.. Procure entrar em contato com a Stardust. Mercant lhe prestarauxilio. E procure descobrir o que vem a ser este antepara energtico. Lehmann deve estarem condies de dar alguma informao. Aguardo sua resposta antes do trmino doultimato formulado pela Federao Asitica.

    Combinado resmungou Pounder, que ainda no tinha a menor idia do que

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    devia fazer. Entrarei em contato com o senhor antes que o prazo se encerre.A tela apagou-se. Mercant soltou um suspiro.

    Se no recebermos logo notcias do major Perkins estaremos em maus lenis.Sugiro que chamemos Lehmann. possvel?

    Pounder berrou algumas ordens pelo intercomunicador. Poucos minutos depois, um

    homem alto, de meia-idade, entrou no gabinete. Era o professor Lehmann, diretor-cientficodo Programa Lunar. H muito ocupava o cargo de diretor da Academia de TecnologiaEspacial da Califrnia. Era o maior especialista no setor. Quando sentia uma disposiotoda especial para ser sincero, o general Pounder era levado a confessar que Lehmann era o

    pai espiritual da Stardust.O professor parecia bastante admirado. Cumprimentou os dois homens com um

    aceno de cabea. Querem falar comigo?Pounder confirmou com um aceno de cabea.

    O senhor j conhece Mercant, portanto no h necessidade de apresentaes.

    Quero evitar todo e qualquer rodeio. Oua!Suas mos moveram-se sob a tampa da escrivaninha. Ouviu-se o leve chiado deuma fita em movimento.

    Preste ateno a esta conversa, Lehmann. Bastante ateno! medida que o professor Lehmann era posto a par dos acontecimentos, Mercant,

    com ar distante, realizava mentalmente os movimentos de suas peas de xadrez. Se Perkinsconseguisse entrar em contato com Rhodan desde que este ainda se encontrasse nodeserto de Gobi e no tivesse sido transformado em instrumento dos asiticos, comoMercant supunha a trapaa seria descoberta. Havia vrias possibilidades.

    Caso a Stardust tivesse pousado intencionalmente no territrio da Federao

    Asitica, Rhodan seria um traidor. Tambm era possvel que a nave tivesse realizado umpouso de emergncia. Nesse caso, estaria sendo desmontada pelos asiticos, cuja afirmativade terem sido rechaados representaria, apenas, um simples estratagema. Mercant estavaconvencido de que essa afirmativa representava, to-somente, o preparativo de umcomunicado posterior, segundo o qual as defesas da Stardust teriam sido rompidas e a navedestruda.

    Ainda havia uma terceira possibilidade. Mas essa era to fantstica que quase no podia ser considerada seriamente. Apesar do seu extraordinrio amor aos animais algum j o vira tirar uma minhoca do anzol de um pescador estarrecido, pousando-acuidadosamente no solo Mercant raciocinava com uma frieza tremenda. Sua vidaconsistia em fatos, dados, relatrios e normas.

    Todavia...No chegou a concluir seus pensamentos. A fita gravada chegara ao fim. O general

    esticou o queixo e olhou para Lehmann Ento, professor? O que me diz? Acha que o major Rhodan um traidor? Um traidor? Quem teve essa idia maluca?Pounder lanou um olhar significativo em direo a Mercant.

    Foi s uma pergunta, professor. O que ir importar sua opinio a respeito do

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    anteparo energtico e do resto. A eliminao da gravidade? Ambas as coisas representam uma utopia inatingvel

    com os meios de que dispomos. Os asiticos inventaram uma fbula bonita que lhes sirvade pretexto para ficarem com a Stardust. Aposto que amanh informaro que a nave no

    poder ser entregue por ter sido destruda.

    Mercant aprovou com um aceno de cabea. Muito bem pensado disse. Quando me aposentar, sugerirei o senhor como

    meu sucessor. Agradeo retrucou seriamente o professor Lehmann. Prefiro acompanhar

    a viagem a Marte. No h dvida de que a Stardust conseguiu pousar em boas condies.Se no fosse assim, a manobra de despistamento seria intil. Se soubssemos as causas,tudo estaria esclarecido; Para um bom servio secreto isso no devia ser nenhum problema.

    O golpe, desferido como se fosse por acaso, atingiu o alvo. O rosto de Mercantficou vermelho. A expresso branda desapareceu subitamente. Seus olhos adquiriram umaexpresso dura. Levantou-se sem fazer caso dos gracejos do general.

    O senhor ainda se surpreender com a eficincia do nosso servio secreto disse a Lehmann, enquanto se dirigia para a porta. General, faa o favor de me avisarassim que haja noticias de Washington. At logo, cavalheiros.

    Fechou ruidosamente a porta. O professor Lehmann lanou um olhar de espantopara Pounder.

    O que ser que houve com ele? Por que anda to sensvel? O senhor o atingiu no seu orgulho profissional. Pounder sorriu; parecia muito

    satisfeito. Bem feito! Quem manda tratar qualquer pessoa que no seja um dos seusespies como um homem de categoria inferior? Bem, agora que ningum nos incomodamais, diga-me, com toda sinceridade, professor, qual sua opinio a respeito de tudo isso?

    Lehmann inclinou-se para a frente. Pounder continuou: Acho que estamos de acordo em que o major Rhodan est acima de qualquersuspeita. O que aconteceu no deserto de Gobi?

    O professor Lehmann sorriu. Seu olhar perdia-se atravs da janela, contemplando ohorizonte. Sem olhar para o general, comentou:

    Talvez seja conveniente, meu caro Pounder, reformular a parte geogrfica dapergunta. O correto : o que aconteceu na Lua?

    Pounder arregalou os olhos.

    Depois de ter desembarcado do Stratolinerem Pequim, o major Perkins dirigiu-se aum hotel de primeira categoria. Poucos minutos depois, um dos agentes do seu pasforneceu-lhe o endereo de uma firma que trabalhava para o governo. Telefonou ao

    procurador e combinou um encontro.Nos documentos do agente, constava o nome Alfons Hochheimer, e a profisso de

    engenheiro de minas. Segundo os dados do passaporte, encontrava-se na Federao Asiticah mais de dez anos e j trabalhara vrias vezes para empresas estatais de minerao.

    Na sala de recepo da empresa, decorada em estilo ultramoderno, um chins

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    trajado europia recebeu-o com um sorriso imperscrutvel. o senhor Hochheimer, no? Meu nome Yen-Fu. Posso lhe ser til em alguma

    coisa? Tive conhecimento de que sua firma participa da explorao de regies

    economicamente pouco interessantes disse Perkins, enquanto apertava a mo que o outro

    lhe estendia. J tive oportunidade de pesquisar trechos extensos do deserto de Gobi, aservio de outras empresas. Conheo um lugar em que h possibilidade de se encontrarurnio, desde que as pesquisas alcancem uma profundidade suficiente.

    O sorriso de Yen-Fu tornou-se ainda mais intenso. Urnio no deserto de Gobi? O senhor deve estar enganado! J enviamos vrias

    expedies para l, mas nenhuma delas teve xito.A essa altura, tambm no rosto de Perkins via-se um sorriso misterioso.

    Acontece que os participantes das suas expedies no possuam osinstrumentos de busca de que disponho, senhor Yen-Fu. J ouviu falar na sonda deSpielmann?

    O chins sacudiu a cabea. No. Para ser sincero, nunca ouvi falar. Perkins no se admirou com a resposta.Acabara de inventar o nome.

    lamentvel, senhor Yen-Fu, muito lamentvel. Spielmann um dos cientistasmais conceituados do mundo ocidental. As grandes descobertas de urnio no continenteamericano foram devidas ao seu invento. Disponho de um dos seus modelos mais recentes.

    Apesar do terno sorriso, o rosto do chins passou a revelar uma certa dose dedesconfiana.

    No americano? No, sou alemo. Mas encontro-me na Federao Asitica h mais de dez anos.

    Aqui esto os meus documentos. Espero que os mesmos o convenam da sinceridade daminha proposta.O procurador examinou cuidadosamente aqueles documentos. Falsificados com

    perfeio extrema. No encontrou nada de anormal, e devolveu-os a Perkins. Sabe onde se poderia encontrar urnio no deserto?Perkins confirmou com um aceno de cabea.

    Existe quantidade suficiente para abastecer vinte usinas por cem anos. claroque o material tambm pode servir para outra coisa disse com um sorriso significativo.

    Queira esperar.Perkins esperou. Mas no o deixaram esperar por muito tempo. Falou com o diretor

    da firma. Depois com um funcionrio categorizado do governo. Finalmente falou com opiloto do avio que devia lev-lo juntamente com os membros da comisso regio em quese encontravam as pretensas jazidas de urnio.

    O senhor traz consigo essa sonda? perguntou Yen-Fu curioso. Ela permitea leitura imediata dos resultados?

    Perkins lembrou-se da caixinha metlica bem concebida. No seu interior havia umabateria e alguns fios, e do lado de fora vrias escalas e botes. Confirmou com um aceno decabea.

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    claro que sim. No viria a sua presena sem o equipamento necessrio.Quando partimos?

    Daqui a uma hora, se estiver de acordo. Ainda estamos aguardando aconfirmao definitiva da repartio competente.

    Tomara que isso acabe bem!, pensou Perkins. Mas dificilmente conseguiriam

    descobrir sua verdadeira identidade, pois seus documentos eram melhores que os dequalquer chins. Todavia...

    Perkins tomou um refrigerante no caf situado do outro lado da rua. Deu algumasmoedas a um mendigo, que lhe queixou suas mgoas com voz rouca e estridente, afirmandoque tinha filhos menores para sustentar. O homem fez vrias mesuras e, subitamente,entremeou seus agradecimentos com algumas palavras bem mais sugestivas.

    No conhece mais os amigos, meu velho? Por que ser que Mercant resolveuenviar justamente voc? O representante do governo que viajar no avio um dos nossos.Trate-o bem. Oh, pai dos justos, exemplo celestial de misericrdia humana, receba milagradecimentos pelo seu gesto bondoso. Meus filhos pediro pelo senhor junto aos

    antepassados. Que os deuses da fecundao abenoem o senhor, que dispensou a umindigno como eu a graa de poder beijar seus ps...Perkins piscou para o mendigo. Depois virou-se com um gesto de desprezo. Atirou

    uma moeda sobre a mesa e saiu do caf.O avio era um pequeno jato particular. Alm do piloto viajavam um representante

    do governo, um engenheiro e Perkins. O luxo da pequena cabine indicava que o aparelho sedestinava a finalidades especiais. Era dotado de deslizadores que permitiam o pouso emterreno irregular e mesmo na gua, pois os flutuadores esguios impediriam seuafundamento.

    As turbinas uivaram, mas o rudo foi se tornando praticamente imperceptvel

    medida que o avio ganhava altitude.Abaixo deles, Pequim foi desaparecendo. O aparelho tomou o rumo oeste. Asplancies frteis foram ficando para trs. Surgiram as primeiras montanhas e, depois, odeserto cinzento e trrido.

    O representante do governo inclinou-se para frente e bateu no ombro do engenheiroque estava sentado perto de Perkins.

    Onde fica a regio, Lan-Yu? A leste de Sutschou, nas proximidades do lago salgado de Goshun. Mais ou

    menos no lugar em que teria descido a nave espacial americana. So boatos disse o engenheiro. Virou-se e sorriu. O senhor no acha? claro que so boatos.Com cerca de hora e meia de vo, j tinham percorrido cerca de 1.300 quilmetros.

    Foi quando o piloto abriu a portinha minscula que dava para a cabine e disse: A Diretoria de Controle de Vo de Pequim acaba de dar ordem para regressar

    imediatamente. proibido sobrevoar a rea que fica situada entre Ordos, Schan-Si, a serrade Nan-Schan e Ning-Hsia. O lago de Goshun fica exatamente no centro dessa rea. Noinformaram o motivo da proibio.

    Lan-Yu lanou um olhar em direo ao representante do governo.

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    O que significa isso? Pois o senhor obteve autorizao do governo paraacompanhar-nos neste vo. E devia saber que...

    Prossiga e desligue o equipamento de rdio ordenou o representante dogoverno. No siga as instrues.

    Tenho de deixar o receptor ligado por causa das comunicaes sobre o tempo.

    Alm disso sou obrigado a transmitir nossa posio de cinco em cinco minutos.O representante do governo olhou para Perkins. Este deu um aceno de cabea quase

    imperceptvel e colocou a mo no bolso do casaco. Desligue o equipamento voltou a ordenar o comissrio. Peo-lhe

    encarecidamente que daqui por diante se atenha estritamente s minhas instrues. Se no ofizer, as conseqncias correro por sua conta. No se esquea que represento o governo.Desa junto ao lago de Goshun. Quanto tempo ainda levar para chegar l?

    O piloto hesitou por um instante. Depois lanou um olhar para o painel deinstrumentos: Dez minutos respondeu.

    Daqui a oito minutos deveremos iniciar a manobra para aterrissagem. At l

    nada de mudanas de rumo. Entendido? A responsabilidade ser sua disse o piloto, enquanto confirmava com ummovimento de cabea, e desapareceu.

    O engenheiro Lan-Yu acompanhara o dilogo sem dizer uma palavra. O sorrisodesaparecera do seu rosto. Seus olhos oblquos estreitaram-se ainda mais. Percebeu quePerkins, ou melhor, Alfons Hochheimer ainda estava com a mo no bolso.

    Por que no segue as instrues do governo? perguntou, falando devagar. No vamos criar problemas? A proibio deve estar relacionada com a nave espacialpousada na rea.

    No tenho a menor dvida disse o representante do governo. Mas no se

    preocupe. Sei perfeitamente o que estou fazendo. Para mim nada importa desde que encontremos o urnio disse Lan-Yu.Passou os olhos pela impressionante caixinha metlica que se encontrava no assento vago

    junto a Perkins. O aspecto da mesma era to impressionante que convencera o chefe dafirma. S fao votos de que realmente o encontremos.

    Dali a cinco minutos o piloto voltou a aparecer. Temos um avio da Fora Area nossa frente. Est dando ordem para

    regressarmos. Como que o senhor vai saber disso, se no mantm qualquer comunicao

    com eles? Tiros de advertncia! disse o piloto em tom seco. Aparentemente ele no

    conhecia o medo. Ligue o aparelho de rdio. Irei at a.O representante do governo lanou um olhar significativo para Perkins. Depois, foi

    carlinga apertada, fechando a porta atrs de si.Perkins tirou a pistola automtica do bolso e apontou-a para Lan-Yu.

    Por acaso tem uma arma?O engenheiro quase chegou a engasgar de susto. Arregalou tanto os olhos que eles

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    quase ficaram redondos. Sacudiu a cabea, enquanto fitava o orifcio negro do cano daarma.

    O que deseja que eu faa? balbuciou. Quero que fique bem quietinho, com a boca fechada. Se fizer de conta que nem

    existe, poder sair so e salvo desta aventura. Seno...

    O silncio significativo deixou a alternativa em aberto. Mas, o senhor sozinho no vai conseguir... No estou s. E agora no diga mais uma nica palavra. Devemos aterrissar

    daqui a pouco.Na verdade, o avio comeou a descer. O avio militar se afastara, depois de

    trocadas algumas mensagens radiofnicas. Atravessaram a barreira area da FederaoAsitica e passaram bem baixo por cima de algumas formaes de tanques que recuavam.Subitamente, avistaram a Stardust bem frente, junto desembocadura do Morin-Gol.

    A nave espacial parecia solitria e abandonada.No se via qualquer sinal de vida perto dela. Apenas, bem alto, um pontinho

    minsculo destacava-se contra o cu azul. Descrevia crculos como se fosse uma ave derapina que, a qualquer momento, precipitar-se-ia sobre sua vtima.Nem Perkins nem o outro agente que se encontrava em sua companhia sabiam que

    esse ponto minsculo era um bombardeiro da Federao Asitica levando uma bombaatmica que seria lanada contra a nave.

    Onde vamos aterrissar? perguntou o piloto. O representante do governo, queera um dos membros mais competentes do servio de espionagem ocidental, apontou para olado.

    Ali no deserto, perto da nave espacial. Faa o avio parar a menos de cem metrosda Stardust. Entendido?

    O piloto confirmou com um movimento de cabea. Descreveu uma curva bemampla e preparou-se para aterrissar. O aparelho foi descendo sobre o deserto. A altitude noultrapassava algumas centenas de metros. A distncia que os separava do ponto em que seencontrava a nave foi diminuindo vertiginosamente. Faltavam poucos quilmetros...

    Nesse meio tempo, a bomba lanada pelo outro avio foi caindo. O pontinhominsculo parou de descrever crculos e foi se afastando em linha reta. Portanto, havia doisobjetos que se aproximavam da Stardust.

    Perkins foi carlinga, depois de ter amarrado Lan-Yu na sua poltrona. O aviodeslizou pelo solo pedregoso em velocidade vertiginosa. Quando se encontrava a poucomais de dois quilmetros da Stardust, um segundo sol surgiu repentinamente dois milmetros acima da nave. O cogumelo atmico chamejante, que se ergueu a pouqussimadistncia e cujos gases incandescentes deslizaram pela cpula invisvel, cegou seis pares deolhos.

    Ainda chegaram a sentir o choque produzido pelo embate contra o anteparoenergtico.

    Depois, no houve mais nada...

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    Ei, Perry! Pounder est no aparelho. O homem est muito nervoso.Rhodan acenou a cabea para Crest, com quem estivera conversando.

    Com licena, Crest. Pretendo esgotar todas as possibilidades.No caso, a expresso est no aparelho era a menos adequada. A comunicao

    visual atravs do satlite era perfeita. O rosto de Pounder na tela era to ntido como se

    estivesse olhando por uma janela. Os asiticos no interferiam mais nas transmisses, o queera sinal de que no mais sabiam o que fazer.

    Bell inclinou-se ligeiramente e fez um gesto em direo tela. Permita que o apresente: o general.Perry empurrou-o para o lado.

    General Pounder, comunico nosso retorno da expedio lunar. A tripulao estbem. A Stardust no est em condies de decolar em virtude de defeitos mecnicos.Misso cumprida. Os resultados das pesquisas cientficas sero encaminhados ao professorLehmann.

    O general respirava com dificuldade.

    Rhodan, o senhor enlouqueceu? Quer fazer o favor de explicar o motivo que olevou a pousar no deserto de Gobi? O mecanismo de controle remoto falhou? Podia aomenos ter tentado descer no oceano.

    O pouso neste local foi proposital. O qu? o rosto de Pounder adquiriu uma tonalidade vermelha bem viva. O

    que est dizendo? Foi proposital? Major Rhodan, o senhor no vai me dizer que... No vou dizer coisa alguma. Pelo menos, no o que o senhor est pensando.

    Procurarei explicar... No h nada a explicar berrou Pounder a plenos pulmes. O senhor vai

    destruir imediatamente a Stardust por meio da carga explosiva e entregar-se s Foras da

    Federao Asitica. Entendeu?Um brilho glido surgiu nos olhos de Rhodan. Entendi, general. Mas no cumprirei suas ordens. No vai cumprir a ordem? Pounder oferecia um quadro assustador. O

    vermelho do seu rosto tornou-se mais intenso. Bell, instintivamente, abaixou-se como setemesse que a cabea que aparecia na tela fosse explodir. Major Rhodan, ordeno-lheque...

    General, permita-me diz-lo que j no sou mais major, e, por isso, nego-me areceber ordens do senhor. Como v, removi os distintivos do meu uniforme. Se permitir,comearei a explicar.

    O rosto do professor Lehmann tinha surgido perto de Pounder. Nos seus olhoshavia um brilho de curiosidade.

    Rhodan, ser que nas crateras da Lua existem vestgios de atmosfera e atmesmo restos de...

    Silncio! berrou Pounder e empurrou o cientista para o lado. Fale,Rhodan! E procure ser convincente, pois suas palavras decidiro se dentro de dez horasteremos guerra ou no. A Federao Asitica est convencida de que a Stardust no passa deuma base americana colocada intencionalmente em seu territrio. Se no for abandonada

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    at amanh, as relaes diplomticas estaro rompidas. Acho desnecessrio salientar quaisas conseqncias que adviro deste fato, caso ele seja concretizado.

    Ento as coisas j chegaram a este ponto? murmurou Perry assustado. Nesse caso, no temos um segundo a perder. Preste ateno, general. Pousamos na Lua,conforme previsto, e descobrimos os restos de uma civilizao extraterrena. No posso dar-

    lhe detalhes de tudo o que encontramos, mas algumas indicaes sero suficientes. Paratranqilizar o professor Lehmann, diga-lhe que a Lua nunca foi habitada, mas, h muitotempo, posou l uma nave exploradora tripulada por membros de uma civilizaointerestelar. Esta nave ainda est intacta e em seu bojo existe um arsenal que daria paradestruir no apenas a Terra, mas todo o sistema solar. Raios mortferos e anteparosenergticos, neutralizadores da gravidade e campos anti-neutrnicos capazes de impedirtoda e qualquer exploso atmica so apenas alguns exemplos. Alm disso, existem armasmanuais, cujos efeitos o senhor nem seria capaz de imaginar. General, o senhor h decompreender que eu no estava disposto a colocar esse poder tremendo nas mos dequalquer das naes da Terra.

    De um golpe, Pounder recuperou o sangue-frio. Acontece que pousou no territrio da Federao Asitica. H outras pessoas queesto escutando nossa palestra. Logo, todo mundo saber o que o senhor descobriu na Lua.Expedies sero enviadas para l e haver uma corrida frentica que decidir quem h dedispor do poder final. O senhor devia ter ficado calado.

    Quero que todo o mundo saiba disse Rhodan, sacudindo a cabea. Almdo mais, ningum pousar na Lua, a no ser que eu queira. No se preocupe, general, poisos asiticos no conseguiro estas armas. Os russos e os americanos tambm no. S eudisponho delas. E cuidarei para que ningum inicie uma guerra que os destruiria a todos.

    O senhor?

    Estas palavras foram proferidas com tamanho desprezo que Rhodan ficou rubro deraiva. Recuou um passo e fitou o general com olhos frios. Eu, sim! O senhor j devia ter compreendido que a poltica falhou. H sculos

    os governos tentam evitar a guerra quente. Uma ameaa segue-se a outra, uma confernciaa outra. A culpa no apenas do bloco oriental e da Federao Asitica, mas tambm do

    bloco ocidental. Ningum quer ceder; todos continuam a se armar. Os foguetes com cargasatmicas esto estacionados em todos os pontos do globo. Basta comprimir um boto paradispar-los, o dispositivo automtico de que so dotados os conduzir ao alvo. Todavia,antes que possam atingi-lo, as armas de retaliao sero acionadas do lado oposto. Os povosde ambos os lados do mundo praticamente deixaro de existir no mesmo instante. Hdecnios defrontamo-nos com essa viso macabra. Ningum conseguiu conjurar o perigo.At hoje apenas o equilbrio de foras tem impedido a guerra. Mas, ai de ns se um doslados se tornar mais forte. Ver-se-ia obrigado a destruir o outro lado para viver em paz. Nsfaramos isso, da mesma maneira que os asiticos. Compreende por que nenhum dos blocosdeve pr as mos na Stardust, que tem a bordo algumas das armas extraterrenas?

    Ouviu-se a respirao pesada do general. O senhor poderia ter prestado um servio inestimvel ao seu pas se... Se tivesse levado as armas para Nevada Fields? Est enganado, general. A

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    Federao Asitica e o bloco oriental sentir-se-iam to ameaados que se lanariam a umaguerra de extermnio contra o bloco ocidental. No poderiam agir de outra forma. Seria ofim da nossa civilizao. De qualquer maneira, agirei de acordo com um plano que tracei,quer o senhor aprove, quer no.

    Que plano esse?

    Formarei uma terceira potncia, que ser neutra, ficando eqidistante dos blocosque se defrontam sobre a Terra. Estamos em condies de transformar qualquer fogueteatmico que seja disparado em um projtil inofensivo. Qualquer bomba atmica estalar noar sem produzir o menor efeito, como se fosse fogos de artifcios. Repelirei qualquer ataquedirigido contra a Stardust parta de onde partir. Vou...

    Perry Rhodan parou de falar. Atrs dele, ouviu-se um rudo. Virou-se. Bell seguravao brao de Fletcher que entrara na sala de rdio.

    No caia na conversa dele, general! gritou Fletcher. Ficou doido. Osarcnidas com suas idias decadentes fizeram com que enlouquecesse. Opus-me aterrissagem neste local. Mas ele me ameaou com a pistola. um amotinado.

    Perry fez um sinal a Bell e deixou que Fletcher terminasse. Finalmente, aproximou-se dele e colocou-lhe a mo sobre o ombro. Escute, Fletcher. O general pode ouvir o que tenho a dizer. Talvez agisse da

    mesma forma se fosse voc. Acontece que no sou. Voc livre para deixar a Stardustassim que o deseje. No prendo ningum. Mas quero que, antes de ir embora, confirme

    perante o general Pounder que na Lua encontramos armas que nos permitem controlar omundo. No lhe diga mais nada, s isso.

    Fletcher hesitou. Fitou os olhos ameaadores de Bell. O tcnico tinha na mo obasto prateado do irradiador psquico. Perry lanou-lhe um olhar quase gentil. Na tela, orosto de Pounder espreitava a cena.

    Confirmou com um aceno de cabea. verdade, general. Se Rhodan quiser, pode destruir o mundo.Abaixou a cabea, virou-se e saiu da sala. Rhodan, suspirando aliviado, dirigiu-se

    ao general. General, alm do senhor, os homens que tomam as decises no bloco oriental e

    na Federao Asitica ouviro as minhas palavras. Quero acrescentar apenas o seguinte: aextenso territorial da terceira potncia muito limitada. No deixe que este fato o engane.Cumpram os meus desejos. E no se atrevam a levar ao extremo as suspeitas que nutremum contra o outro. Acho que, a esta altura, j devem ter compreendido que a Stardust no uma base americana. Por outro lado, no pousou aqui para cair nas mos da FederaoAsitica. E o bloco oriental ter de abandonar as esperanas de colher os despojos doconflito entre os dois outros blocos. Os senhores podero se comunicar comigo a qualquermomento nessa faixa, e tambm usarei a mesma quando tiver que entrar em contato com ossenhores. Lamento o ocorrido, general, mas acho que um dia o senhor me compreender.Por ora s posso pedir que me desculpe.

    Pounder fitou os olhos de Perry Rhodan, depois acenou com a cabea. Parei o possvel, Rhodan. E espero em Deus que Mercant concorde. O senhor o

    conhece!

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    Um sorriso estranho passou pelos lbios de Rhodan. Ele compreendeu aadvertncia, mas esta j no o assustava mais. Mercant passara a ser apenas um homem.

    E Perry Rhodan no mais temia os homens.

    De Washington para Pequim:Conseguimos estabelecer contato com a Stardust. Comandante Rhodan afirma estar

    de posse de armas incrveis que teriam sido levadas Lua por uma potncia extraterrena. Jno temos a menor influncia sobre os acontecimentos. Solicitamos seu pronunciamento.

    De Pequim para Washington:Acompanhamos palestra visualizada entre General Pounder e Rhodan. Explicaes

    inverossmeis muito fantsticas. Ultimato fica de p. Prazo se esgotar daqui a setehoras.

    De Moscou para Washington:Participamos da opinio do governo da Federao Asitica. Tambm consideramos

    a presena de uma base americana no deserto de Gobi como uma ameaa paz mundial.Mas, no caso de um conflito armado, Moscou se conservar neutra.De Moscou para Pequim:Concordamos com a opinio do governo da Federao Asitica. Tambm

    consideramos a presena de uma base americana no deserto de Gobi uma ameaa pazmundial.

    De Washington para Pequim e Moscou:Voltamos a afirmar que o governo de Washington no tem conhecimento de uma

    base americana no deserto de Gobi. Ordenamos tripulao da nave Stardust que serendesse. Sugerimos um encontro dos dirigentes das naes interessadas.

    A ltima nota americana no obteve resposta. s sete horas to preciosascomearam a correr. Na sia, as torres das rampas de disparo comearam a girar emdireo ao Oriente e ao Ocidente. Os monstros de ao emitiram reflexos ameaadores sob aluz dos refletores. Homens corriam de um lado para outro. Depois, fez-se o silncio.

    O quadro repetiu-se nas reas de defesa do bloco ocidental.No bloco oriental, as torres das rampas de disparo foram giradas de tal forma que

    abrangiam todos os quadrantes do globo.Nas trs partes do mundo, um homem sentado bem abaixo do nvel do solo,

    contemplava um conjunto de painis de controle e instrumentos eletrnicos. Comunicava-secom os postos de comando atravs de telas de imagem. Sua mo descansava sobre a mesa

    junto a um boto vermelho. Um boto que parecia falar-lhe de uma destruio total eterrvel para todo o gnero humano; uma hecatombe que varreria todos os traos de umacivilizao.

    Em dois outros lugares, sobre duas outras mesas, dois outros homens esperavam,suas mos perto dos botes que dariam incio ao caos.

    Crest estava sentado na cama, recostado na parede forrada de almofadas. Manoli

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    aplicara uma injeo em Fletcher que estava, agora, mergulhado em um sono profundo. Bellencontrava-se na central em companhia do mdico, acompanhando as transmissesradiofnicas. De meia em meia hora informava Rhodan do que acontecia no mundo.

    Aos poucos, Crest compreendeu as conseqncias que sua presena na Terradesencadeara entre os homens, embora estes nem tivessem conhecimento dele. Com um ar

    pensativo e preocupado, disse: Rhodan, no compreendo como seu povo consegue resistir a esta tenso

    psicolgica. Pelo que voc diz h decnios que seu mundo vive sob esta atmosfera desuspense. Basta que algum aperte um boto para que a destruio seja lanada sobre aTerra. Por que no houve, ainda, quem se erguesse contra este estado de coisas? Por queno se formou um governo comum que reunisse todos os arsenais para us-los na defesacontra o possvel ataque de um agressor extraterreno?

    Rhodan suspirou. No h nenhuma resposta vlida sua pergunta, Crest. Se houvesse, no

    viveramos constantemente entre a vida e a morte. Talvez nenhuma resposta seja possvel

    enquanto a humanidade estiver convencida de constituir a nica fora deste sistema solar.S tememos algo que seja mais poderoso que ns. Os dois blocos mais poderosos da Terrase equivalem em fora e poder. O terceiro bloco desempenha um papel secundrio. Todomundo sabe que no caso da irrupo de uma guerra, os segundos sero decisivos. Mas todomundo sabe, tambm, que aquele que for surpreendido pelo ataque, ter tempo ainda paradisparar os foguetes de retaliao antes que o pas mergulhe nos escombros e nas cinzas. Aconseqncia inevitvel ser a morte de ambos os adversrios. S o conhecimento destefato tem evitado a catstrofe.

    Comeo a compreender o problema. Quando minha civilizao ainda era jovem,defrontou-se com as mesmas dificuldades. Viveram mais de duzentos anos sob o medo

    constante do aniquilamento total. Foi quando uma populao de insetos guerreiros vindados confins da Via Lctea nos descobriu e desfechou um ataque contra ns. Em menos demeia hora, os governos se uniram e derrotaram o inimigo comum. Como o perigocontinuasse, a aliana foi mantida. Foi assim que nos tornamos um povo unido e iniciamosa ascenso.

    Perry Rhodan concordou com um aceno de cabea. Seus olhos reluziam. a primeira vez que ouo essa histria, mas, apesar disso, ela no constitui

    novidade para mim. a nica soluo lgica dos problemas que surgem quando um grupode seres inteligentes descobre as armas definitivas. A esta altura j deve compreender porque tenho que agir da forma como estou agindo. No nada agradvel ser apontado comotraidor pelos amigos e superiores hierrquicos. Mas se me deixar levar pelos sentimentos, omundo estar perdido. Um dos blocos poderia se apossar das armas e destruiria o outro.Todavia, antes que conseguisse faz-lo, o outro poderia desencadear a ao suicida. No,Crest, vejo perfeitamente o caminho que devo percorrer. Seu problema a resposta sminhas indagaes. Voc quer recuperar a sade. Vou ajud-lo. Precisa de sobressalenteseletrnicos. Vou consegui-los. Sua nave poder decolar em busca do planeta da vida eterna. possvel que acabe se esquecendo de ns. Mas aproveitarei a sua curta presena aqui paratrazer a paz Terra, a paz pela fora. De outra forma no possvel. S o medo de uma

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    potncia ainda maior far com que as potncias do nosso planeta recuperem a razo.Acredito que poderei contar com a sua ajuda.

    Farei o que estiver ao meu alcance. Mas, por enquanto, no parece que suaatuao esteja sendo coroada de xito. Falta pouco para expirar o prazo do ultimato. Edepois?

    Thora ter de intervir. O antepara energtico e o neutralizador da gravidade noforam suficientes para convencer os asiticos de que se defrontam com formidveisinventos extraterrenos. E o meu pessoal do ocidente acredita que tudo no passa de um

    blefe. Portanto, necessrio que acontea alguma coisa que deixe patente para todos osinteressados o poderio imenso da terceira potncia. Sua nave est estacionada na Lua. Oque pode ser feito de l para que toda a humanidade fique ciente do perigo que paira sobreela? No seria possvel erguer o rochedo de Gibraltar e fazer com que o mesmo caia no mara mil quilmetros de distncia? Ou transferir a Esttua da Liberdade de Nova Iorque paraPequim? Quem sabe se poderia paralisar todas as comunicaes radiofnicas do mundo?

    Poderamos fazer tudo isso e, provavelmente, seria conveniente dar uma

    demonstrao bem visvel aos homens. Pense no assunto e avise-me da sua deciso. Thorafar aquilo que eu lhe pedir. De minha parte sugiro a utilizao de um raio energtico.Escolha uma regio no muito afastada, mas despovoada. Previna os homens. Avise-os deque dentro de duas horas, isto , trs horas antes do trmino do ultimato, queimar as areiasdo deserto, produzindo um funil de cinqenta quilmetros de dimetro. Previna-os que seno agirem de acordo com os seus desejos, o raio ser dirigido contra zonas habitadas. Achoque isso bastar para convenc-los.

    Um sorriso se esboou no rosto de Rhodan. A insensibilidade aparente, porm,ocultava uma preocupao sincera com o futuro da espcie humana. Sabia que no havianenhum argumento que pudesse incutir bom senso na mente dos guardies das ideologias.

    S um choque seria capaz de tanto. Estava disposto a aplicar a terapia de choque no mundo. Acredito que sim respondeu. Acha que Thora est disposta a nos ajudar? obrigada a ajudar, quer queira, quer no. O seu orgulho diante de uma raa

    inferior tamanho que a faz esquecer de que tambm j atravessamos este estgio: osestgios de evoluo de D a A. Talvez tenha sido a poca em que nossa civilizao foi mais

    produtiva. ramos jovens e ativos. Amvamos o progresso e a novidade. Hoje tudo mudou.Somos degenerados e presunosos. Vou usar de franqueza, Rhodan. s vezes, quando pensona nossa semelhana exterior, chego a ter idias bem estranhas. Se combinssemos oesprito de sua raa com o da nossa, se unssemos a sua vitalidade ao nosso saber,

    poderamos dominar o Universo...Os olhos de Perry Rhodan perderam o brilho duro. Vagaram numa distncia ignota,

    que se media por eternidades. Sem que percebesse, seus punhos se cerraram, os dedosvoltaram a se distender. A imagem do futuro desenrolou-se diante do seu esprito como umaviso instantnea.

    Os homens e os arcnidas uma s raa. A iniciativa e o esprito de aventuraaliados a um saber vetusto e a uma tecnologia inimaginvel. Naves espaciais que sedeslocavam a velocidade superior da luz, tripuladas por homens e mulheres vidos deao, penetravam nos recantos mais profundos da Via Lctea, descobriam novos mundos,

  • 8/2/2019 P-002 - A Terceira Potncia - Clark Dalton

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    fundavam colnias e imprios. O comrcio interestelar proporcionava um bem-estarindescritvel. Surgia um novo imprio galctico. Surgia uma nova raa...

    Talvez Crest imaginasse o que se passava na mente de Rhodan. Um sorriso desabedoria aflorou-lhe aos lbios.

    Ainda nos encontramos no comeo, Perry Rhodan. Voc representa o gnero

    humano; eu, os arcnidas. Voc precisa do nosso auxlio; ns, do seu. um pacto, podemoscham-lo assim, nascido da necessidade comum. Mas acredito que, futuramente,cheguemos a uma unio em prol do interesse mtuo, fundada na razo. At possvel que aTerra seja o planeta da vida que estamos procurando, pois o rejuvenescimento traz consigouma vida mais longa.

    Antes de mais nada, devemos preparar o incio, Crest. Depois poderemos falarsobre o resto. O mundo que pode trazer-lhe a sade est prestes a soobrar. O diomesquinho e a desconfiana egosta, a falta de respeito pelas opinies alheias, a obstinaocom que so mantidos certos princpios prestabelecidos, foi isso que nos conduziu situao atual. Antigamente o temor a Deus obrigava os homens a serem honestos e

    tolerantes. Hoje, esses resultados s podem ser alcanados atravs do medo incutido porameaas palpveis. Portanto, pea a Thora que dirija o raio energtico para a frica doNorte, a cerca de cinco graus de longitude leste, na altura do Trpico de Cncer. O raiodever atingir a vertente norte da serra de Ahaggar. Expedirei um aviso para que a regioseja evacuada imediatamente, embora, pelo que sei, esteja praticam