oxente jornal - edição 02 - 2007

16
Grupo de Camaçari se apresenta em festival de Minas Gerais. “JUDITE FIAPO NA SERRA PELADA”, o espetáculo de rua da Fundação Cultural Ca&Ba, premiado em festivais pela Bahia desde 1995, estará em cartaz no VII Festival de Teatro de Ubá - Minas Gerais. O evento será realizado de 06 a 09 de julho de 2007, quando a cidade completa 150 anos. Além de “JUDITE FIAPO” estaremos encenando “FURÔ TEM QUE CASAR” (teatro de rua) ,“KAIRÓS” (palco) e o espetáculo de dança “CAOS” da Cia de dança do Ca&Ba. Pág. 04 Jornal Cultural e Ecológico da Fundação Cultural Ca&Ba - Camaçari, Junho de 2007. Versão 1.2 Finalmente o projeto social de inclusão pela arte da Ca&Ba, recebe o apoio e o respeito merecido. Abaixo, marca da ONG italiana, nossa parceira. Pag. 03 TAE - Teatro Ação Educar Xaxado é uma criação de Antonio Cedraz e tem tudo a ver com o nosso jornal. Confira. Pag. 13 A Turma do Xaxado no Oxente Pra que Poesia? A doutoranda em cultura e socie- dade Gal Meirelles fala sobre a im- portância da poesia. Pág. 12 O Secretário de Cultura de Camaçari faz uma análise da sua gestão e dos problemas locais. Pags. 08 e 09 Entrevista com Ivanildo Antonio Terreiro de Jauá. 40 anos O Terreiro de Jauá comemorou de 24 de maio a 05 de junho os seus 40 anos de fundação com o apoio da Câmara dos Vereadores, das Secretarias de Cultura e de Turismo e Instituto SOL. Iniciação da Sociedade. O doutor em antropologia Sebastião Heber explana sobre o processo da iniciação nas sociedades contemporâneas. Pág. 04 Geraldo Maia fala sobre Evo Morales, critica imprensa baiana e defende o socialismo Pag. 15 Ave Evo. Evoé Socialismo.

Upload: erick-cerqueira

Post on 03-Aug-2016

225 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

Jornal cultural, social e político desenvolvido em Camaçari no ano de 2007, pela Fundação Cultural Ca&Ba com o apoio do MINC. Idealização: Wilson Bizerra, Geraldo Maia e Erick Cerqueira. Agradecimentos aos professores Jorge Lisboa, Gal Meirelles, ao saudoso Sebastião Heber, ao mestre Bule Bule, Jackson Arleo, Verbena Córdula. Emerson Leandro, Solange, Helmut, Ivan Antonio, e Rita Papaiz. Apoio: Ministério da Cultura

TRANSCRIPT

Page 1: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Grupo de Camaçari se apresenta em festival de Minas Gerais.“JUDITE FIAPO NA SERRA PELADA”, o espetáculo de rua da Fundação Cultural Ca&Ba, premiado em festivais pela Bahia desde 1995, estará em cartaz no VII Festival de Teatro de Ubá - Minas Gerais. O evento será realizado de 06 a 09 de julho de 2007, quando a cidade completa 150 anos. Além de “JUDITE FIAPO” estaremos encenando “FURÔ TEM QUE CASAR” (teatro de rua) ,“KAIRÓS” (palco) e o espetáculo de dança “CAOS” da Cia de dança do Ca&Ba.

Pág. 04

Jornal Cultural e Ecológico da Fundação Cultural Ca&Ba - Camaçari, Junho de 2007. Versão 1.2

Finalmente o projeto social de inclusão pela arte da Ca&Ba, recebe o apoio e o respeito merecido. Abaixo, marca da ONG italiana, nossa parceira.

Pag. 03

TAE - Teatro Ação Educar

Xaxado é uma criação de Antonio Cedraz e tem tudo a ver com o nosso jornal. Confira.

Pag. 13

A Turma do Xaxado no Oxente

Pra que Poesia?A doutoranda em cultura e socie-dade Gal Meirelles fala sobre a im-portância da poesia.

Pág. 12

O Secretário de Cultura de Camaçari faz uma análise da sua gestão e dos problemas locais.

Pags. 08 e 09

Entrevista comIvanildo Antonio

Terreiro de Jauá. 40 anosO Terreiro de Jauá comemorou de 24 de maio a 05 de junho os seus 40 anos de fundação com o apoio da Câmara dos Vereadores, das Secretarias de Cultura e de Turismo e Instituto SOL.

Iniciação da Sociedade.O doutor em antropologia Sebastião Heber explana sobre o processo da iniciação nas sociedades contemporâneas.

Pág. 04

Geraldo Maia fala sobre Evo Morales, critica imprensa baiana e defende o socialismo

Pag. 15

Ave Evo. Evoé Socialismo.

Page 2: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 2

Muita trapalhada e pouco a infor-marUm show de trapalhadas da imprensa brasileira entrou em cena desde a mi-diática “Operação Navalha”, da Polícia Federal. Cada veículo noticia o acon-tecimento com suas verdades e todas acabam se atrapalhando pelo desco-nhecimento do assunto em questão.O absurdo maior apareceu no mais as-sistido jornal televisivo do país – Jornal Nacional (sábado, 19/5). O repórter afirmou que o “prefeito do PT” Luiz Carlos Caetano foi corrompido por uma “viagem a Salvador” e entradas para um camarote durante o carnaval da capital baiana. Será que ele sabia a distância que separa Camaçari de Sal-vador? Ou será que Caetano chegou de helicóptero no circuito momesco?Uma outra emissora destacou um pas-seio de lancha como o motivo da cor-rupção do prefeito baiano.O jornal eletrônico Último Segundo, do portal IG, destacou o depoimento do deputado federal Nelson Pelegrino. Segundo a matéria, o deputado teria afirmado que: “... em 1999, o prefei-to baiano se recusou a assinar contrato com a empreiteira (Gautama), que te-ria ganho uma concorrência. Detalhe, Caetano venceu a eleição para prefeito em 2004.

Imprensa em campanhaA Polícia Federal afirmou que a orga-nização criminosa era estruturada em três níveis. Primeiro estariam as pessoas diretamente ligadas à construtora Gau-tama; no segundo, auxiliares e interme-diários responsáveis pelo pagamento das propinas; no terceiro, autoridades

públicas que seriam responsáveis por remover obstáculos à atuação do gru-po.Sejamos sinceros, qual administrador público, responsável por gerenciar mais de um milhão e meio de reais por dia, somente de arrecadação, iria se corromper por um passeio de lancha (valor estimado de R$ 100,00), um in-gresso em um camarote de carnaval (no máximo R$ 200,00) ou ainda uma “via-gem a Salvador” (de carro, R$ 20,00), cidade que fica a menos de 60km de Camaçari? E o pior de tudo, como al-guém é pago para facilitar uma compra de licitação e cancela a única que foi vencida pela empresa “contratante” logo no início do seu governo?Outra coisa interessante foi a velocida-de com que as imagens e as informa-ções desencontradas chegaram às re-dações da imprensa baiana. Ninguém sabia o que tinha acontecido ao certo. Todos diziam: “Está preso na Polícia Federal o prefeito de Camaçari do PT, Luís Caetano”, mas nem os advogados do prefeito, nem a imprensa, souberam de imediato o motivo da prisão.É bom destacar também a ênfase dada à prisão de um prefeito petista e as dis-cretas citações sobre a participação de Nilton Leitão (PSDB), que foi coorde-nador da campanha à Presidência de Geraldo Alckmin. Por que será? Esta-mos a um ano da eleição. E pelo jeito, a campanha, principalmente na mídia, já começou.

Erick da Silva CerqueiraDiretor de Marketing da Fundação Ca&Ba e

Estudante da Faculdade 2 de Julho

(Texto retirado do site Observatório da Imprensa).

MíDiA CoNfUsA

ExpEDiENtE Do oxENtECONSELHO CONSTITUTIVO Erick Cerqueira - Geraldo Maia - Wilson BizerraRevisão: Janete Bezerra (DRT 2152)Diagramação: Erick CerqueiraFotos: Pedro Santos/ Erick Cerqueira/ Wilson Bizerra.Matérias: Geraldo Maia, Bule Bule, Wilson Bizerra, Erick Cerqueira. Agradecimentos: Verena da Silva Cerqueira, Vaniele e Livia (SECULT), Jorge Lisboa, Sebastião Heber, Faculdade 2 de Julho, Isabela Borges, Gal Meirelles, Emerson Leandro, Francisco Aírton, Solange (SINART), Helmut e Rita Papaiz Equipe do Ca&Ba: Toninho Barreto, Cácia Gomes, Isa Santos, Lucas Ronan, Refson Scarpin, Marcelo Ricardo, Mônica Homem, Ceilma Santos, Audrin Cavian, Mari Araújo, Milena de Souza, Biuna Bizerra, Antonio Erachel, Glícia Santos, Cleber Conceição, Natasha Kiss, Seilma, Bya Bizerra, Reandra Rosa, Adriana Santos, Alex Brito, Anelisa Batista, Jamile, Cris, Bel e Ghycia Carvalho

FUNDAÇÃO CULTURAL CA&BA Travessa Paranapanema Nº. 33 - Nova Vitória – Camacari - BahiaNúcleo de Artes Cênica: Estação Rodoviária de Camaçari Salas 01/02 1º Piso • CNPJ MF Nº 02 459 455/0001-03• Tel.: (71) 3627-0132 / 8136-2499• Utilidade Pública Municipal: Lei nº 441/99 - 09/11/99 • Utilidade Pública Estadual: Lei nº 9489 - 10/05/05 Tel: (71)3627-0132/ 8136-2499/9962-8095

Tiragem: 10.000 exemplaresCirculação: Região Metropolitana e mais 80 municípios entre Bahia e Minas

Maiores informações:• Portal: www.caeba.org.br/oxente• E-mail: [email protected]

Imprensa Nacional sobre a operação NavalhaNão ouviu direito. Falou o que não viu. E quando viu as bobagens divulgadas, calou-se.

Foi -se o tempo em que se podia f reqüentar as praças da nossa Camaçar i a té a l tas horas da ma-dr ugada , tocar v io lão, ouvir boa música , aprec iar as per ipéc ias de Paulo Abraan, Or lando Dedão, Naldo e seu maravi lhoso sax , Es-querdinha , Jaguarana , Miro Baia , Nadja Meire les, Adah Br i to, en-f im inúmeros monstros da nossa r ica cu l tura , a lém daqueles que me fogem os nomes neste instan-te. Porém as lembranças me le -vam a lém do i r e v i r dos ar t i s ta . Lembro-me das ex ib ições mam-bembes do nosso c inema ambu-lante, percor rendo os d is t r i tos de Camaçar i e munic íp ios v iz inhos, um projetor de 16 mm e muita vontade de fazer ar te. Os shows de Calouros, produzidos no c ine-ma e apresentado por Tony Char-les, S i lva Cava lcant i . Depois do prog rama Gi l Cava lcante t ivemos a honra de produzir a prog rama-ção te lev is iva . O Beco Cul tura l , o Quar te i rão Cul tura l , imaginado e d iscut ido, foram descar tados por força de pol í t icos e pol i t ique i ros. Como poder ia esquecer do proje -to VIVA O TEATRO NAS RUAS, que levava para as praças e a ve-lha fe i ra de Camaçar i os adeptos da ar te de Téspio. O Pr imeiro Fest iva l P lur icu l tura l , que t rans-for mou Camaçar i num verdadei -ro for miguei ro de ar t i s tas e de apresentações das mais var iadas for mas e nos mais d is t intos espa-ços. O ve lho Ter mina l Rodoviá-r io que mais parec ia um ponto de ônibus, j á era pa lco dos nossos ar t i s tas. Os shows e espaços para d ivulg ação da nossa cu l tura , ape-sar de inus i tados, eram abundan-tes, começando pe lo New Wave, o Cantor ia , Mega Show, Bar ra -mas, o Cajue i ro, os bares e espa-ços de encontros e de ex ib ição

da nossa ar te. Sem esquecer os concursos de dança , de t ransfor-mismo, cover ’s, os prog ramas nos ba i r ros como o Meu Bair ro Faz o Show, comandado por Diniz Ol i -ve i ra , com repor tagens de Nelsão conhecido como 5 .0 e Jota Lessa , eram prat icas cot id ianas. Tem-pos bons aqueles, a t iv idades que poder iam vol tar a cena para fo-mentar os mor ta is que ex ibem em suas comunidades e redutos seus dotes ar t í s t icos. Camaçar i , em 1996, depois da empre i tada do CA&BA, t inha 64 g r upos de dan-ça espa lhados pe los ba i r ros da sede e d is t r i tos, a g rande maio-r ia “AMADORES”. E da í? De lá para cá , apenas a lguns g atos p in-gados, como Dener e Renat inho conseguiram o espaço na mídia e no mercado PROFISSIONAL da ar te. Na verdade cada tempo é um tem-po, cada ação que fazemos hoje, ref le t i rá no passado quando con-tar mos a h is tór ia , no presente com a inc lusão de verdadeiras leg iões de jovens, cr ianças e adolescen-tes, num mundo bem melhor, do ponto de v is ta da miserabi l idade de um povo que tudo c lama e que nada tem. Ou no futuro, quando somados os esforços puder mos ass i s t i r a v i tór ia de um c idadão e de uma c idadã , que conseguiram transpassar os r i scos das drogas, dos cr imes, da prost i tu ição dos v íc ios e preparados encaram um traba lho d igno. Is to para nós im-por ta e mui to. Is to just i f ica por s i só o t í tu lo de AMADOR

Wilson Bizer ra

VELHos tEMpos, NoVos DiAsE os AMADoREs, sEMpRE.

Page 3: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 2 Camaçari, junho de 2007 Página �

Oficinas de Arte para jovens carentes de CamaçariComeçam em junho as atividades relacionadas com a parceria firmada entre a S.J.A.M.O, uma organização Italiana que trabalha com adoção e proteção de crianças e adolescentes e inclusão produtiva para mulheres de baixa renda, o CEDECA - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Ives de Roussan e a FUNDAÇÃO CULTURAL CA&BA, entidade de Camaçari que trabalha a arte como ferramenta de inclusão social.A proposta é desenvolver oficinas de arte-educação para adolescentes em situação de abrigo. As oficinas vão contribuir no empoderamento de jovens adolescentes de 10 a 17 anos para o exercício da cidadania responsável e autônoma, com aulas de teatro, dança, criação literária, canto e percussão ministradas aos sábados e domingos, nos dois turnos, para duas turmas de trinta alunos cada e culminarão com a montagem do espetáculo teatral “CORDELECA ETNOÉTICA” de autoria de GERALDO MAIA. O objetivo principal é a formação da cidadania para a inclusão produtiva. O projeto foi idealizado pelo Poeta, Ator, Diretor Teatral, Escritor e Arte-educador, GERALDO MAIA e conta com o patrocínio da Ong Italiana, SJAMO, é promovido pela Fundação Cultural CA&BA, de Camaçari, que conta com a parceria do CEDECA, Bahia.

INFORMAÇÕES:Tel: (71) 3627-0132/ 9978-9593/ 9177-5123E-mail: [email protected] [email protected]

Site: www.caeba.org.br

Fundada em 01/10/1995MISSÃO - Promover o homem através da arte, alicerçando o futuro em pilares sólidos de cidadania.ESTRATÉGIAS - Criação, manutenção e desenvolvimento de técnicas culturais para uma maior integração entre os seres humanos, descobrindo talentos, gerando emprego e renda, possibilitando a forma-ção de novos conceitos sociais e culturais, exercitando os princípios básicos do cida-dão, correlacionado com o seu meio;Ter no jovem “Adolescente”, o foco prin-cipal das ações, despertando nestes, o inte-resse pela arte, como ferramenta de forma-ção humana e desenvolvimento sensitivo, de modo a incluí-lo na saciedade; Princípios Básico: .Promoção humana;.Desenvolvimento cultural;.Conhecimento Causas sociais;.Ecologia;.Sustentabilidade e eficiência OBJETIVOS I GERAL - Desenvolver ações que pro-porcionem a melhoria da qualidade de vida das pessoas, através de atividades culturais, educativas e profissionais, volta-das à promoção da igualdade social.II ESPECÍFICOS - Aumentar o conhe-cimento cultural e histórico das pessoas, em relação à arte, ao município, estado, ao pais e ao mundo, tendo como alicerce as riquezas naturais renováveis e susten-táveis; Aprimorar atividades e projetos já de-senvolvidos, buscando parcerias, promo-vendo a capacitação constante da equipe de trabalho, participando ativamente de oficinas, atividades e projetos congêneres, inclusive em outros estados, município, país, na busca da perfeição; POLÍTICA SOCIAL - Ter no homem, o foco de todas as ações, valorizando e estreitando os laços entre a educação e a cultura, extraindo da pluralidade da arte possibilidades, revertendo os resultados para o próprio homem!

As diretrizes que norteiam a ação desta associação são:- assumir iniciativas de cooperação com os Paises em desenvolvimento através de projetos voltados à tutela das crianças e de suas famílias;- sensibilização dos jovens e das famí-lias aos temas da cooperação, educação à mundialidade e ao desenvolvimento co-operativo;- serviço adoções internacionais em con-formidade com os princípios da Conven-ção de Haia de 29/05/1993 e com a Lei italiana nº 476 de 31/12/1998 que ratifica e cumpre a mesma Convenção e modifica a Lei nº 184 de 04/05/1983, em matéria de adoção de crianças estrangeiras.A associação reconhece o papel funda-mental da família no desenvolvimento da criança. Por este motivo se propõe de cooperar com os Organismos nacionais e internacionais que favorecem com opor-tunos subsídios o crescimento psicofísico e espiritual da criança em seu País de ori-gem e em sua família natural, ajudando quem contribui a eliminar as causas (pre-valentemente econômicas) que determi-nam o abandono das crianças.Por isto, a associação promove iniciativas como, por exemplo:- o “apoio à distância” de crianças ou de famílias em dificuldade assinaladas à as-sociação por entidades religiosas ou lei-gas que operam no lugar, reconhecidas no País estrangeiro;- o “turismo solidário” que, através de férias responsáveis, além de favorecer o contato entre povos diferentes e de per-mitir a imersão na cultura local, permite ao “turista solidário” participar direta-mente dos projetos concordados com os Paises em desenvolvimento (PVS);- qualquer outra iniciativa voltada a apoiar os citados projetos na tutela das crianças, respeitando os princípios enunciados no estatuto da associação.

Centro de Defesa da Criança e do Ado-lescente Yves de Roussan/ CEDECA-Ba é uma organização não-governamental e tem como missão enfrentar todas as for-mas e manifestações de violência contra crianças e adolescentes, sobretudo contra a vida e a integridade física e psicológica. Através de seu Programa de Defesa e Promoção dos Direitos de Crianças e Adolescentes , desenvolve mecanismos asseguradores de proteção jurídico-so-cial, de prevenção e de atendimento di-reto às crianças, adolescentes e seus fa-miliares em situação de violência sexual e homicídios.METAS: Participação e monitoramento na formulação de políticas públicas so-ciais básicas; Realização de pesquisas se-toriais e diagnósticos da realidade em que serão desenvolvidas as ações; Articulação junto a órgãos governamen-tais, não-governamentais, sociedade civil organizada, artistas e outros segmentos; Formação da opinião pública através da mobilização dos meios de comunicação, influenciando na elaboração de políticas públicas de defesa e promoção dos di-reitos fundamentais de crianças e adoles-centes. Fundado em 1991 por 31 entidades so-ciais de Salvador, e contemporâneo ao Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), o Centro nasceu para garantir a proteção integral jurídico-social da popu-lação infanto-juvenil, combatendo, prin-cipalmente, a violência contra a vida. Naquela época, começou a ser deline-ado um movimento para sensibilizar a população, bem como segmentos sociais específicos, como a mídia, em tomo da questão da violência contra a população infanto-juvenil. Antes da articulação e mobilização da sociedade civil, final dos anos 80, as mortes de crianças e adoles-centes por grupos de extermínio passa-vam despercebidas ou eram inseridas na lógica policial que justifica os assassinatos ao criminalizar as vítimas.

Saiba ao lado quem é quem nesse projeto.

pRojEto ARtE-EDUCAção - CoRDELECA

Page 4: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página �

A INICIAÇÃO DA SOCIEDADEA iniciação, atualmente é vista e analisada como elemento que constitui as diversas sociedades, pois sem transmissão de valores não há continuidade. Van Gennep apresenta o modelo clássico de toda iniciação, com seus três elementos( separação, morte e retorno) e seus critérios permanecem sempre atuais.O próprio fato de existir a crise da iniciação na nossa sociedade gera, em contrapartida, a necessidade de novas iniciações e novos ritos de passagem, pois persiste sempre a necessidade de ritos iniciáticos, que subsistem sob formas não institucionalizadas, informais e até conhecidas por alguns como “iniciação flutuante”( DELCHAMBRE,1994,p.30).As sociedades humanas são marcadas pela institucionalização da cultura, isso porque ela é o instrumento de transmissão dos meios de sobrevivência, seja dos indivíduos, como da sociedade. Como o homem ao nascer é dependente de tudo, ele tem necessidade de ser educado, de receber o patrimônio construído pelos outros, para que ele possa se inserir no seu contexto. Como hoje há um certo deslocamento de tarefas, com relação à missão dos tradicionais agentes formadores, a formação tem passado para outras instâncias que escapam ao controle das camadas dominantes. Isso gera, naturalmente, uma tensão entre a formação formal e informal.Nem sempre os estudiosos vêem essa tensão como algo negativo, mas ela pode ser sinal de uma busca e sobretudo de recomposição de novos valores. A própria crise da iniciação leva o homem, a sociedade, como que a “fabricar” novos ritos de iniciação.É como se o grupo quisesse reforçar a coesão, interiorizar as normas do grupo pelos novos que vão chegando e de permitir, de alguma forma, àquele que aceita a regra do jogo, que aceite se religar a uma história contínua e de ser depositário de uma memória da qual será incumbido de transmitir.A palavra “tradição”tem várias acepções. No sentido mais sócio-antropológico quer significar o conjunto de valores sobre os quais as pessoas fundamentam suas vidas na sociedade. Nesse contexto,é apresentado o problema da ruptura com as tradições, que traz como conseqüência uma perda de valores da memória coletiva.Atualmente há autores que não querem ver a modernidade como a anti-tradição, que não querem defini-la pelo negativo, mas como forma de libertação. É incontestável que o mundo de hoje seja marcado por um fenômeno de indiferença religiosa que atinge as massas. Mas isso traz um aspecto importante a aprofundar: esse fenômeno é visto com uma amplidão maior, isto é, a crise contra a religião representa uma crise estrutural mais básica; ela vai de encontro ao próprio homem, ao desaparecimento do bom senso, e é contra a cultura ( COSTA,1999,p.151)E, de fato, o mundo e a sociedade estão mudando. Surge um novo mundo sem haver ainda um modelo preestabelecido para a construção desse novo mundo. A modernidade traz no seu bojo suas contradições: se de um lado ela se ufana de ser detentora de uma racionalidade técnica, é , ao mesmo tempo,seduzida por tudo aquilo que pode haver de irracional, mágico e misterioso. Além disso, há as ameaças à democracia e as disparidades entre países pobres e ricos. Agora tudo mudou: as concepções, as mentalidades, os princípios, o sentido das palavras. A mudança da nossa imagem de mundo afeta a todos, crentes e descrentes.E o homem prefere ficar sozinho, como “adulto” com relação ao seu destino, à vida, até com relação a Deus. Como aceitar mistérios incompreensíveis, numa época em

que a ciência vem explicando tudo? A grande razão para a falta de fé ,nos nossos dias, é que o homem moderno não aceita os aspectos da fé que não podem ser explicados pela razão.Pode-se dizer que os valores e contravalores da modernidade questionam a religião como um todo e, no nosso caso, o cristianismo de modo especial. O questionamento atinge não apenas a forma, a expressão religiosa e cristã, no sentido de valor a ser transmitido e que possa responder aos anseios da sociedade.O mundo moderno no qual vivemos, que podemos chamar com muitos autores de pós-moderno (MILBANK, 1992:57-68), é, sem sombra de dúvidas, um mundo onde há uma crise da iniciação. As três grandes instituições clássicas da civilização ocidental e cristã ( mas é importante salientar que o mesmo esquema se repete em outras culturas), isto é, a família, a religião e a escola, fazem um grande esforço em transmitir seus valores às novas gerações.E nos nossos dias, podemos falar de uma crise da iniciação, de uma crise da valores a transmitir? Podemos ainda, com bases, falar do fim da iniciação?

RAZÕES PARA A ATUAL CRISE DA INICIAÇÃOHá, evidentemente, uma clara crise da iniciação na nossa sociedade. Podemos nos perguntar: qual a razão para esse desvanecimento no processo de iniciação? Algumas razões podem ser apresentadas na visão do professor belga J. Claes ( 1994,p.11-21) :- Nas sociedades antigas a transmissão das tradições, em geral , e, especificamente, das religiosas, era efetuada por meio de uma iniciação; atualmente, o que predomina é o aprendizado imediato das coisas, isto é, querer conhecer a última novidade.- Ao mesmo tempo,o pertencer e engajar-se num grupo, é feito de modo apenas parcial, de modo funcional.- O homem moderno é atraído pelo detalhe, o relativo, o passageiro. Desse modo, há pouca memória a transmitir. Cada um é chamado a fabricar suas próprias crenças, sem o auxílio das tradições anteriores, especialmente das tradições religiosas.- Para o processo da iniciação é importante valorizar a relação com o tempo – isso pede uma duração. Visa-se mais a eficácia imediata, a rapidez, o pronto.- Nesse contexto, é interessante constatar que na nossa sociedade tudo vai sendo programado para formas de auto-iniciação : nos restaurantes e bancos o sistema mais rápido é o self-service e os caixas rápidos (“do it yourself ”).Desse modo, as nossas sociedade modernas não são um terreno favorável à iniciação, pois ela não vê com clareza o que ela quer transmitir( PASQUIER, 1998:132). A iniciação pede um percurso a realizar, algo programado previamente. E hoje somos alérgicos aos programas preestabelecidos (BOURGEOIS, 1991,p.121). Podemos ressaltar que nas nossas sociedades, onde o processo iniciático subsiste de maneira organizada, está ele circunscrito a certos grupos, certas seitas, a grupos esotéricos, sob formas estranhas e, às vezes, até degradantes para o atual contexto de conquistas dos direitos dos humanos.Hoje em dia, o termo iniciação está na moda: há obras múltiplas, artigos, em várias áreas como ciências humanas, turismo, esporte, religião etc.Há um risco dele ser usado como um termo de vários usos, com feitos diversos(apud PASQUIER,1991,p.79).A iniciação tem suas origens e ligações com as religiões de “mistério”. Há uma certa desconfiança em torno dela: será esotérica,é disciplina do arcano, a condição de sucesso dela será o segredo? É justificada tal desconfiança?Por questões de sobrevivência, todo grupo

humano transmite suas conquistas, suas leis, seus valores, suas razões de viver. Para isso ele dispõe de três instrumentos de comunicação: a instrução, a aprendizagem e a iniciação.Cada modo de transmitir tem a sua lógica e sua dinâmica próprias que o estrutura e o organiza.A iniciação reenvia a toda situação de passagem da existência e favorece a realização pessoal e social dos indivíduos e grupos em crise.Há um processo de “mutação ontológica do indivíduo” ( ELIADE, 1959,p.238). A iniciação se reveste de um triplo aspecto(VAN GENNEP,1981:56) :a- Ela gera as grandes crises da vida.b- Faz viver um percurso simbólico de morte/vida.c-Opera uma mudança na busca de identidade.Cazèneuve, um dos apóstolos da primeira evangelização da América Latina, é o primeiro a ter encarado a iniciação como” uma sorte de rito pré-religioso, até mesmo a-religioso, que foi integrado ao seio dos diversos sistemas da história dos povos “(Apud PASQUIER,1998,p.32). Como a iniciação é um modo de transmitir os valores em toda a sociedade, não se pode reservar esse valor apenas para as sociedades passadas ou exóticas. A iniciação tomou tempo para se livrar do esoterismo onde quiseram aprisioná-la. Mas isso não é próprio da iniciação. Ela vive, ela está presente entre nós. Acontece que num primeiro momento, só se descobre os processos iniciáticos em setores marginais ou em setores sem grandes conseqüências. Mas à medida que se analisa de mais próximo as situações vividas por nossos contemporâneos, percebe-se a importância que a iniciação tem nas instituições tão fundamentais como a escola, hospital, esporte, turismo, catecumenato etc.

O momento histórico no qual vive o Ocidente oferece em todos os domínios, possibilidades espantosas no que se refere à iniciação.Vive-se atualmente numa cultura mediática, tendo como referência o global, o holístico. A iniciação, ou a reiniciação nos valores da sociedade, pedem um trabalho de articulação e de estruturação que não são imediatamente compreensíveis. Mas, apesar de uma crise de iniciação que marca a nossa sociedade, pode-se dizer que há uma persistência do processo iniciático sob formas não institucionalizadas. Por isso mesmo, pode-se dizer que existe uma “iniciação flutuante”. Exatamente por causa desse universo racional e técnico que parte, que divide a vida, as pessoas, numa reação inconsciente, têm a necessidade de reapropriar a existência em uma unidade.O interesse em participar de redes, grupos,círculos,clubes, debates,grupos de viagens, manifesta, simplesmente, essa necessidade básica de se encontrar, de reconhecimento interpessoal e de procura de identificação de si na relação com o outro e com a sociedade. Hoje se fala em valores e atividades holísticos, isto é,que pedem uma integração maior da pessoa com a natureza, com as energias que a circundam – muitas vezes esses valores colocam a pessoa próxima do terapêutico e do espiritual. Por tudo isso, procura-se a melhoria de um bem-estar global. Desse modo, podemos afirmar que a preocupação iniciática guarda toda a sua atualidade e ganha uma persistência cultural nova.

Sebastião Heber Viera CostaDoutor em Antropologia da Religião.

Professor da UNEB da Faculdade Visconde de Cairu e da Faculdade 2 de Julho

A pERsistêNCiA DA iNiCiAção E As MUDANçAs NAs iNstâNCiAs DA soCiALizAção

A muito tempo, muito tempo mes-mo, a Trupe de Teatro CA&BA, participa de festivais e mostras de arte em toda Bahia. É verdade também que fomos premiado na maioria deles, seja por intervenções de rua ou de palco. Assim como é real que nunca fomos para outros estados da federação, além do vi-zinho estado de Sergipe. Participar de um Festival em terras mineiras será para nós um grande passo para analisarmos profundamente o nosso trabalho desenvolvido em Camaçari e na Bahia. Esse é um Festival especialmente importante, pois no dia 03 de julho a cidade comemora o seu aniversá-rio de 150 anos. Veja o Convite de UBÁ“Ubá, 22 de maio de 2007.Venho através desta oficializar convite ao Grupo Ca e Ba, para participa-rem do VI Festival de Teatro de Ubá , que se realizará nos dias 6, 7 e 8 de julho de 2007.Este evento se realiza já a seis anos na cidade de Ubá. Cidade Carinho! Desde já agradecemos o empenho de vocês em promover o desenvolvimento cultural de Ubá e Região.Gostaria de que o mais rápido possí-vel seja enviado todas as informações sobre o Grupo . Elenco, sinopse do espetáculo e uma carta de comprome-timento da parte de vocês em estarem presente durante o evento . Todo o ma-terial que é necessário está sendo envia-do em anexo! Gostaria também que me fosse enviado via SEDEX carta de autorização pelo responsável legal do grupo para utilização da imagem dos mesmos em cartazes e material de divulgação do evento. Em breve mando roteiro de viagem, pois acho que lhe dei informação er-rada sobre o caminho da viagem do ônibus.Aguardo email de confirmação de re-cebimento deste.Patrícia Vicência de Oliveira - Coor-denadora Geral do Festival de Teatro de Ubá.Não posso deixar de lhes dizer Ô TREEM BÃO, SÔ .CA&BA em Ubá em julho!!!!!!!!!”

CA&bA EM Ubá-MG. ê tREM bão

Foto extraída do site: www.wikipedia.com

Vista aérea da cidade de Ubá.

Page 5: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página � Camaçari, junho de 2007 Página �

Page 6: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 6

MáqUiNA NEM sEMpRENOSSA ANÁLISEO primeiro verso do primeiro quarteto “Um dia perderei a juventude” é claramente um discurso linear, heterogêneo, em que cada palavra possui um significado único, igual ao do dicionário, portanto, prosa. No segundo verso, “se já não a perdi. Perdi a conta”, não mudou muito, exceto pela repetição (discurso poético) de duas palavras (perdi) com o mesmo significado, mas ainda dentro do universo da prosa. O terceiro verso “de tudo o que perdi. Hoje o que conta”, o discurso continua direto, objetivo, denotativo, prosaico, apesar de aparecer a palavra “conta” (o que se considera, predicado) com o significado diferente da mesma do verso anterior (conta, substantivo). Já no quarto verso “é tudo o que sou, não sei, não pude”, discurso é totalmente denotativo, direto, dicionário, prosa. No segundo quarteto o primeiro verso “Ah, chega de trilhar a senda rude”, também é discurso direto, linear, objetivo, heterogêneo, (mais) característico da prosa. No segundo verso, “de perdas e saudades. A sorte aponta”, aí temos então um ligeiro desvio, uma impertinência predicativa, “a sorte aponta” ( a sorte, algo imaginário com o predicado de apontar, próprio de seres e coisas concretas). O terceiro verso é todo de impertinências, “lugar da vertigem” e “vida tonta”, mas pouco inspiradas (comuns). No quarto verso do segundo quarteto “Resta perder a sede de altitude” temos outra construção conotativa, afetiva, impertinente, com uma figura mais criativa, embora também comum “sede de altitude”. No primeiro verso do primeiro terceto, temos “Girar... e a cada giro perder tanto”, novamente o discurso denotativo, prosaico. O segundo verso, “que reste apenas giro e inconsciência” também é denotativo (prosa).O terceiro “depois que tudo for perdido. Entanto,” é prosa pura. O segundo e último terceto o primeiro verso, “deixar para perder a prepotência” é também prosa total. O segundo,”no último momento, quando o espanto” também é prosa (apesar do espanto revelar no próximo verso). No verso final do soneto decassílabo, “revele que foi tudo reticência”, temos aí um desviozinho “revelado”, mas, na realidade, a despeito do rigor métrico, da existência de rimas, ritmo, aliterações, assonâncias, quebra de paralelismo, impertinências fono-semânticas, o poema apresenta poucos momentos de arte poética (invenção, transgressão, conotação, destruição, etc). Ou seja , baixa proporção de desvios, configura-se num texto mais de prosa (e menos de poesia) metrificada em formato de soneto. Ao longo do livro (e da obra de Cãe), a prosa está mais presente. Assim, tem razão o Secchin quando o compara a uma “implacável fábrica de poemas”. É por aí. Mas eu conheço o Luís Antonio Cajazeira Ramos um pouco, mas o pouco me diz que ele é muito mais uma pessoa humana com um inexorável dom para o desvio, ainda que o ambiente que teime freqüentar o reprima de sobremaneira. Por enquanto, ganhamos uma “máquina”, mas ainda gozaremos o aprendiz de inventor de poesia por “mais que sempre”. A solidão tá na cola, gente!

Geraldo Maia Poeta e aprendiz repetente de Arte Poética

[email protected]

Bolha de Sabão à Kátia Borges The art of losing isn´t hard to master. (Elisabeth Bishop )

Um dia perderei a juventude, se já não a perdi. Perdi a conta de tudo o que perdi. Hoje o que conta é tudo o que não sou, não sei, não pude.

Ah, chega de trilhar a senda rude de perdas e saudade. A sorte aponta o lugar da vertigem, vida tonta. Resta perder a sede de altitude.

Girar... e a cada giro perder tanto, que reste apenas o giro e inconsciência, depois que tudo for perdido.

Entanto, deixar para perder a prepotência no último momento, quando o espanto revele que foi tudo reticência.

Recebi um e-mail outro dia em que al-guém, que não me ocorre agora, quei-xando-se dos escritores baianos pelo ma-rasmo, nenhuma voz discordante, todos elogiam todos para (cada um) garantir o seu quinhão de elogios e por aí. Pude comprovar esta realidade de perto na últi-ma Bienal do Livro, mais precisamente no Café Literário, onde os mesmos nomes de todos os anos (os pretensos famosos) desfilaram egos inflados precocemente às custas da total ausência de auto-crítica e de visão crítica do público presente. Quando a diva Myriam Fraga desafiou para que fizessem a avaliação de alguns textos, se prosa poética, poesia-prosa, prosa em versos ou só poesia, ninguém teve coragem de encarar, nem mesmos os mestres doutos e pós-doutos. Ppara que se expor se o quinhão de glória está garantido no círculo fechado da citação mútua, do elogio mútuo (da premiação mútua), farto e piegas? Quando também o laureado bardo, Rui Espinheira, de cima de sua pilha de prê-mios, desandou a espinafrar o Manoel de Barros, indignei-me, mas me contive, até que o dito literato de prêmio começou a esculhambar com os leitores do (para mim) maior (em termos de qualidade e quantidade de desvio poético) poeta vivo da atualidade, não segurei as ondas e parti pra briga (verbal, calma). A coisa esquen-tou um pouco e logo- logo a mediadora apaziguou os ânimos. (ainda tem essa). Quê dizer? Que a mediocridade tem tons corporativos (igrejinhas). Mas detratar o único poeta brasileiro vivo que merece realmente ser chamado de poeta, e pelas costas, a seguir fazer o mesmo com o seu público (sou parte dele) é muita arrogân-cia, prepotência, covardia e insensibili-dade para o meu gosto. Que vergonha! Aí saiu todo mundo pro linchamento do Manoel. Que coisa! Mas o que eu quero mesmo é falar do livro do meu querido amigo Cãe, o “bi-gbrodiano” Luís Antonio Cajazeira Ra-mos (LACR, que chique!), que conheci no restaurante macrobiótico Gergelim da Neide Benitez, que fica na rua Minas Gerais, Pituba. Eu confirmava uma nova etapa do meu aprendizado de padeiro integral tendo como mestre o também dublê de poeta e padeiro, Gabriel Cohim (Lê Haim!), raro cultor e autor de belos versos fesceninos. O Cãe chegou a trabalhar no local como auxiliar administrativo (ou sub-gerente, sei lá). Importa é que um dia ele chegou junto e me apresentou um maço de po-emas (riscos no breu?), pediu que des-se uma lida e depois comentasse. Veio a calhar. Eu andava às voltas com a “Es-trutura da Linguagem Poética”, de Jean Cohen (Ed. Cultrix) e aprendia que po-esia é transgressão da norma, desvio, impertinência, destruição da linguagem, ruptura com o código da norma, que-bra do paralelismo fono-semântico, etc, etc. Realmente foi (e é) um aprendizado fantástico, o da “Arte Poética”. Saber que a função do poeta é inventar palavras (Manoel de Barros, João Cabral), que o modernismo abriu pra muita gente fazer prosa com forma de poema e achar que

é prosa poética (Drummond). O pior é que nas academias universitárias os se-nhores mestres, doutores e pós-doutores, além do que lhes é específico (ciência é isso: esquizofrenicar no laboratório, de-partamentalizar, pulverizar, tomar a parte pelo todo (especializar-se) e se dar bem (e como!)), pouco se sabe que o discurso da prosa é (mais) linear, heterogêneo, di-reto, cognitivo, paralelo, dicionário, gra-matical, obediente ao código, denotativo, etc. O da poesia é espirálico, homogêneo, quebra o paralelismo de som e sentido, afetivo, subjetivo, inventivo, desobedien-te, destrutivo, transgressor, etc. Onde tem poesia não tem prosa (quase) e vice-versa. Para existir, a poesia precisa destruir a linguagem da prosa e construir discurso poético, exprimindo um mundo que só a poesia é capaz de descrever. E que não adianta metrificar no rigor da vaidade, meter rima rica, ritmo, esmerar-se na forma como se fosse sinônimo de domínio da técnica da arte poética. Bom, tudo isso para falar de “Mais que sempre”, o novo livro de Luís Antonio de Cajazeira Ramos (Cãe), detentor do Prêmio Nacional Gregório de Matos, da Academia de Letras da Bahia em 2002. O livro, por sinal, gerou comentários mal-dosos sobre uma suposta conspiração do corpo de jurados, mas tudo não passou de inveja porque “Temporal, Temporal” foi vencedor. Muitos garantem que se alguém quiser ganhar um concurso lite-rário, a manha é enviar poemas para vá-rios acadêmicos, principalmente do eixo rio/são paulo/brasília/belo horizonte para que o estilo fique familiar na hora de alguns deles compor um júri nacional. Neguinho inventa cada uma! Mas voltando ao Gergelim, naquela épo-ca eu tinha sentido a poesia do Cãe um tanto prosa (nos dois sentidos) e distante da arte poética (apesar do já insinuante rigor métrico). Realmente, métrica per-feita, solidez técnica, domínio do verso, mas (para mim, e isso não é uma verdade absoluta, só a minha opinião que não sig-nifica nada) muito pouco de transgressão, inversão, impertinência, ruptura, desvio, destruição e gozo, quer dizer, poesia. Com relação à “Mais que sempre”, o novo livro, digo que ainda sinto mais o prosador que o poeta, apesar de mo-mentos de pura invenção como “pele lisa da aurora” (lindo!), e “rugas do fim da tarde” (maravilha...). Muitos (inclusive o próprio) sustentam que poesia é forma. Isto também é verdade. Mas a prosa e a poesia definem dois tipos opostos de mensagem, às vezes pela forma, às vezes pela substância, em termos de expressão e de conteúdo. A realidade ao ser falada, passa a fazer parte da linguagem e será poética se for poema, prosaica se for prosa. Mas exis-tem coisas que por si só são mais poéticas do que prosaicas. A noite, por exemplo. A potencialidade poética de qualquer con-teúdo depende da forma de expressão. O conteúdo permanece estável quanto à existência poética que é definida pela ex-pressão, prosa ou poesia. A noite é poéti-ca quando “tinge tudo de breu” ou “cres-ce pelos matos” mas é prosaica como a

“hora de dormir” ou o “fim do dia”. O valor estético do poema está tanto no que é dito como na forma com que é dito. Tanto o nível ideológico como o lingüísti-co deve ser considerado. Nesse caso o que menos importa é o poe-ta. Poesia é tanto significado e significan-te, ambos indivisíveis, inseparáveis, com-plementares, simultâneos, proporcionais e relativos. A poesia trata da linguagem poética. E o poeta só existe pelo que diz, fala, recita; pelas palavras que inventa, que liberta da prisão dicionária. A qua-lidade do fazer poético não está só nas palavras, nas idéias, nos sentimentos, mas também, e principalmente, na invenção verbal. O poeta domina tanto o conteúdo quanto a forma expressiva porque versos são construídos com palavras e não com sentimentos ou idéias. Portanto, é parcial-mente enganoso afirmar que poesia é só forma ou só conteúdo. Dizer que a forma já é o conteúdo, define apenas uma visão de arte poética defen-dida pela teoria estruturalista em contra-ponto à teoria substancialista. Mas poesia é arte, não é ciência, como arte é forma e função, artifício e emoção, invenção, des-vio, revolução. Vamos então observar a quantidade de desvio da norma, dos códigos gramati-cais, que definem um texto como mais poético ou mais prosaico. Observemos o poema “BOLHA DE SABÃO”, do nos-so querido Luís Antonio Cajazeira Ra-mos. Vamos ver a quantas anda o nível de desvio fono-semântico do texto.

Luís Antonio Cajazeira Ramos

Page 7: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 6 Camaçari, junho de 2007 Página 7

CULtURA E ViAGEM (fEijoADA E CAssoULEt)Inequívoca expressão da sensibilidade e criatividade humana, o lusitano Fernan-do Pessoa, no século XIX, convencido das inúmeras vantagens acumuladas por todos aqueles que abraçam o hábito de viajar, preconiza a integração das socie-dades sugerindo poeticamente: “Navegar é preciso, viver não é preciso“. Acompa-nhando a inspiração do poeta, podemos dizer que viajar não se reduz à simples ação de se deslocar no espaço geográfi-co, mas constitui a realização do desejo de experimentar diretamente lugares e coisas que nos interessam. Significa ir ao encontro do outro, do desconhecido, do diferente. Viajar é também uma das coisas mais gratificantes que o ser humano pode desfrutar. Então, aproveito o momento para refletir sobre a experiência de viver em outro país e reforço a recomendação do poeta português. Assim, buscando encorajar os espíritos aventureiros, com grande entusiasmo digo que nada pode superar a recompensa de conhecer outras terras, outras culturas.Não é nenhum exagero afirmar que toda viagem vale à pena tão somente pela memória do percurso. Não há dúvi-da que a troca de experiências pra-ticada numa viagem é muito mais enriquecedora do que os registros feitos por meio de anotações, fo-tografias, vídeos, etc. O ganho é inquestionavelmente muito grande! Imaginem quanta des-coberta pode uma memória guardar de uma visita a ou-tro país, outra sociedade. E as viagens científicas? Ainda que com bas-tante freqüência gerem infinitas controvér-

sias, é inegável a colaboração delas para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das ciências, das artes e das civilizações. Os exemplos de Paul Gauguin, Julio Verne, Lévi-Strauss, João Ubaldo Ribeiro, Milton Santos e Oscar Niemeyer, pelas inestimá-veis contribuições que acrescentam às suas respectivas áreas de atuação, bastam para reafirmar o valor de tais excursões às sociedades humanas. Além da validade cultural das viagens, o assunto me interessa em particular, pois desconsiderando os inconvenientes de adaptação: clima, idioma, alimentação etc, viver em outro país pode proporcionar ao indivíduo significativa amplitude de vi-são e de espírito. A França, por exemplo, país onde estudei e vivi por algum tempo, apresenta muitos elementos que podem facilitar a integração do brasileiro que por lá se aventure. No aspecto alimentação, muitos pratos se aproximam da nossa culinária: bouillabaisse (muito pareci-da com a nossa moqueca), e o cassoulet (que lembra a tradicional feijoada). No entanto, se estas especialidades brasileiras e francesas servem para amenizar o difí-

cil período de adaptação, existe uma gama de produtos capazes obstacu-lizar a estadia do visitante em terras gaulêsas, como: boudin, escargot e champignon. Todavia, estas ques-tões podem ser superadas, afinal Brasil e França possuem uma série de afinidades que certa-mente ajudam aos inspirados e simpáticos viajantes.Brasileiros e franceses sem-pre demonstram grande

cordialidade entre si, sendo este o elemento

predominante nas relações entre

ind iv íduos dos dois

países. Nem mesmo as disputas esporti-vas que envolveram as duas nações du-rante as últimas copas, França 98 e Ale-manha 2006, cujos placares colocam em vantagem o país de Edith Piaf, puderam quebrar os elos que unem os gaulêses aos patrícios de Tom Jobim. Por certo, deve haver muito mais elementos para promo-ver a união do que induzir à cisão destas sociedades distintas, mas declaradamente amigas. Os comentários acintosos e in-felizes de Thierry Henri, no Mundial da Alemanha, são esquecidos rapidamente, pois não merecem sequer ser rebatidos. C’était honteux pour lui! Enfim, França e Brasil sabem reconhecer valores mútuos e não poupam homena-gens um ao outro. Se considerarmos as inúmeras contribuições compartilhadas, podemos mesmo pensar em certa com-plementaridade. O desejo de cooperação entre eles é irrefutável. Pode-se relacionar as influências acadêmicas, inspirações so-bre o pensamento social brasileiro, técni-cas profissionais, sítios naturais, doações arquitetônicas (Cristo Redentor), material para pesquisas de todo gênero. Os franceses são verdadeiros admi-radores da cultura brasileira. Nossos ritmos musicais exercem grande

f a s -cínio sobre eles. Sucessos de Chico Buarque, Gilber-to Gil, Jorge Benjor, entre outros são executados com freqüência em emissoras de rádio do país. Reconheço que nem tudo é perfeito quando se trata de contatos diretos entre os indi-víduos originários dos países

Loucuras de verão é o novo espetá-culo do Comediante Renato Piaba, que estará em Camaçari numa úni-ca apresentação no Clube Social de Camaçari dia 08 de junho às 21:00.Loucuras de verão estreou no Tea-tro Módulo em Salvador onde teve uma temporada de sucesso. De sexta há domingo durante um mês, todos os dias de casa cheia.O público na sua maioria formado por turistas, se divertiu, e conheceu um pouco das coisas que aconte-cem no verão baiano, na ótica de Piaba é claro. Com um público cativo na Bahia e nos estados do nordeste, Piaba agora pretende atingir o sul e su-deste do país.Com a contratação do produtor Ari Rodrigues para o trabalho de “abri praças”, em todo o Brasil, Piaba aposta no sucesso de seu tra-balho, atingindo logo o eixo Rio e São Paulo. O produtor vem desen-volvendo um trabalho voltado para

expansão e divulgação do espetácu-lo Intimidades.com (o primeiro de uma série que sairá da Bahia), onde em dois meses de trabalho já agen-dou a ida para Porto Alegre, onde fez um final de semana no Teatro Novo a convite do diretor Ronald Radde.Após temporada em Itabuna Ilhéus, Vitória da Conquista, Alagoinhas, agora chegou a vez de Camaçari.Piaba diz estar a vontade, pois, seu público nestas cidades, é extrema-mente cativo e acompanham seus espetáculos há mais de dez anos. “Sempre voltam porque sabem que nunca um espetáculo é igual ao ou-tro, e as surpresas são inevitáveis”.A interação com o público é um es-petáculo a parte, “Quando eu des-ço para a platéia, eu vejo o reboliço que é formado, e quando passo por uma ou por outra pessoa, só escu-to, graças a Deus que ele passou”.Em busca de novos parceiros e apoiadores, o produtor do espetá-

culo Ari Rodrigues, agendou várias reuniões com empresários de Ca-maçari. Já com contrato assinado, a produção pode contar com o apoio da Fundação Ca&Ba, Oxente Jor-nal. Grupo Cultural Zimbabwe, Loja Pirajá, Cia Teatral Corpo Cê-nico, Shoping Riviera e após reu-nião com o Secretário de Cultura Sr. IVAN, a Secretaria de Cultura também entra no leque de apoia-dores e amigos de Renato Piaba.Então não esqueçam, Clube Social de Cmaçari, única apresentação no dia 08 de junho às 21:00. Os in-gressos serão vendidos num stand montado no Shopping Riviera ao custo de 20,00 a inteira e 10,00 a meia.

Quem paga meia entrada?Maiores de 65 anos.Estudantes munidos de carteirasPoliciais militares e civis (apresen-tando credenciais), Bancários, Pro-fessores municipais e estaduais.

emergentes e os das sociedades industria-lizadas. Não raramente se percebe dis-crepâncias no comportamento daqueles que integram as comunidades européias. Porém penso que a França pode ser um destino agradável para aquele que preten-da aproveitar bem o seu tempo de férias, ou deseje aprofundar estudos acadêmi-cos. Andar pelas margens do Rio Sena, cruzar a Ponte des Arts, descobrir as preciosi-dades do Museu do Louvre, passear pelo Quartier Latin, contemplar a beleza do Jardim de Luxembourg e subir a colina de Montmartre para um cafezinho aos pés do Sacré-Coeur, faz parte do roteiro dos visitantes. Vale salientar que mesmo o parisiense tendo fama de emburrado, existe um padrão de atendimento com o objetivo de prestar um serviço de ótima qualidade. Afinal, Paris ainda é a capital da moda, da etiqueta, do turismo e das convenções, além disso, nos já nos acostumamos a ouvir expressões como : enfant gâté, ma-rionete, femme fatale, petit-suisse, purée,

toilette, entre outras. As dificuldades menores permanecerão menores tou-jours.

Como diz a canção de Louis

Amade e Gilbert Bécaud: L’important c’est la rose !

Jorge Lisboa Mestre em Sociologia Faculdade 2 de Julho

L o U C U R A s D E V E R ã o

Page 8: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 8

Quando o Jornal Oxente teve a idéia de en-trevistar o Secretário Ivanildo Antonio sobre a cultura de Camaçari, não imaginou que iria ouvir também o artista por trás do terno. O secretário soltou o verbo. Falou sobre a Cida-de do Saber, as instituições e manifestações culturais locais, as bandas e músicos da cida-de, Semanas de Cultura, intercâmbio cultural, defendeu o prefeito e muito mais. O que vem a seguir é mais que uma entrevista, é um desa-bafo de um Secretário-poeta em sua jornada para colocar Camaçari no Caminho da Ter-nura.

Oxente – Qual a importância da Cida-de do Saber para Camaçari?IVAN – A Cidade do Saber Professor Rai-mundo Pinheiro é de fundamental importân-cia não tão somente para o crescimento da classe artística de Camaçari, mas para toda a comu-nidade. É um espaço que permite crianças, jovens e adultos além de aprender possam também ensinar, tro-car conhecimento. Centenas de pessoas de todas as idades terão oficinas não só a r -tistas, mas de outros campos do conhecimen-to. E essa grande articulação de saberes no mesmo espaço é o que mais enriquece o pro-jeto e impulsiona a cidade para o futuro. Em relação á classe artística, muitas oficinas serão destinadas para a profissionalização e para o aperfeiçoamento de cada campo de atuação. A Cidade do Saber será palco para grandes e importantes vertentes da arte, como semi-nários, congressos municipais, nacionais e in-ternacionais. Aqueles que virão de fora virão para nos ensinar e nós, para vos ensinar. Será um intercâmbio maravilhoso, um enriqueci-mento mútuo. É um espaço para receber os grandes artistas e as grandes companhias.

Você não teme que possa haver exclu-são de artistas da cidade, já que o te-atro, como você mesmo disse, é para abrigar os grandes artistas e as gran-des companhas?IVAN – Não! Ao contrário. Quando falo dos grandes, incluo os nossos artistas. Digo é que haverá seleção justa e o critério será o mesmo para todos, porque além dos artistas da nossa terra teremos que prestar contas também a comunidade. E essa quer ver o que não con-segue ter acesso ao Teatro Castro Alves, por exemplo, ou outros espaços de ponta. Alguns dos nossos artistas, isso eu não posso temer que me censurem, terão que se preparar para ocupar um espaço como esse. Outros já estão prontos e já mostraram isso. Não gosto de citar nomes porque isso me traz uma série de transtornos por parte daqueles que não são citados, mas como não imaginar um show de Paulo Carrilho no teatro da Cidade do Saber? É um artista de uma maturidade impressio-nante. Tem a paciência daqueles que sabem onde querem chegar e a disciplina de preparar um show, não só para ganhar dinheiro a cur-to prazo, mas de maturar uma carreira com solidez; Celso Domingues, outro músico ex-traordinário, fico emocionado todas as vezes que o vejo no palco. Quem sabe, um dia tere-mos aqui um grande encontro de Celso Do-mingues e João Bosco? Há também projetos que estamos lançando no segundo semestre, que incluem aqueles artistas que estão come-çando ou que ainda não tem uma maior visi-bilidade. Os festivais de dança, música, teatro, teremos que ter a responsabilidade, por conta da nossa vontade de ajudar, de ter o cuidado de não expor os nossos artistas. Se você ex-

põe um artista num determinado espaço que ele ainda não está preparado, o efeito é con-trário a sua pretensão e isso a classe artística entenderá um dia.

Como fuinciona a parceira entre a Secretaria de Cultura e a Cidade do Saber?IVAN – A Cidade do Saber foi concebida para atender as demandas das Secretarias de Educação, Cultura e Esporte e é regida no sentido de privilegiar a comunidade através do que sempre pensamos em termos de polí-ticas públicas, para essas três secretarias. Isso quer dizer que as diretrizes são nossas, sem perder de vista a política do governo num todo. Isso significa dizer que as demais se-cretarias sempre terão espaços para desen-

volver atividades que possam ser articuladas com a Cidade do Saber. Quando o Prefei-to Luiz Caetano estava em campanha dizia que, “se eleito, o povo de Cama-

çari teria um lugar para trocar conhecimentos a altura do seu povo”. A

Cidade do Saber é o cumpri-mento da sua promessa. Era

inaceitável uma cidade como Camaçari não ter um Centro Cultural. Camaçari por certo foi a primeira cidade brasileira a exercitar o fazer teatral. Quando os Jesuítas chegaram no Brasil para catequizar os índios, usaram o teatro como instrumento. Isso quer dizer que Abrantes (distrito de Camaçari), poderá ter sido o berço do teatro brasileiro e mesmo assim os antigos governantes não se sensibi-lizaram com isso. Durante décadas a cidade não possuiu um teatro. Hoje o sonho virou realidade. A SECULT também é parceira no entendimento de que aquele equipamento que hoje opera com verbas dessas três secre-tarias, futuramente terá que ter vida própria, ser administrada com os seus próprios recur-sos, por isso é gerida por uma OSIP, para nos dar mais capacidade de captar recursos externos e fugir da burocracia do setor públi-co. É parceira ainda na política séria e de re-conhecimento do Prefeito Luiz Caetano quanto a valorização da nossa gente, quando esco-lhe profissionais de Camaçari para em parceria administrar e trabalhar em uma das mais importantes obras da nossa cidade. É uma mostra que o prefeito respeita e valoriza as pessoas da nossa terra e esse reconhecimento se dá não apenas por “bairrismo”, mas também pela competência do povo Camaçariense.

Qual a diferença entre essa Secre-taria de Cultura e a coordenação do governo passado?IVAN – Quando fui nomeado Secretario de Cultura, fiz uma grande reflexão sobre todos esses anos em que antigas administrações es-tiveram no comando da nossa cidade e uma das coisas que mais me entristecia era que havia na coordenação de cultura uma grande ausência de pessoas da nossa cidade, artistas, produtores locais ou pensadores da cultura no quadro de funcionários. Hoje 70% dos nossos funcionários são artistas de Camaça-ri e profissionais que moram aqui. Isso na realidade nos causou durante um tempo, grandes dificuldades, já que os artistas não tenham tido a oportunidade para se capacita-rem como gestores. Depois de dois anos de caminhada, olho para traz e vejo como essa gente tem me ajudado a construir uma polí-

tica de cultura que beneficie não só a classe, mas toda a comunidade, porque é uma equi-pe que além de unida em o espírito de desbra-vamento. Falo com emoção sobre essa minha querida equipe, pela gratidão e pelo reconhe-cimento que tive de retorno em ter investi-do naqueles que sempre sonharam com uma oportunidade. Tudo isso também agradeço ao prefeito que me apoiou nessa iniciativa. Atualmente, além das seis bibliotecas, duas na sede, duas na orla, duas itinerantes, temos uma casa de cultura no bairro da Piaçaveira, funcionando com diversas oficinas e servin-do como sede de instituições culturais, como COOPERAROCK, AARTICA (Associação de Artistas de Camaçari), TAC (Teatro Ama-dor de Camaçari), movimento negro e outras. Administramos ainda o Teatro Magalhães Neto, antes caindo aos pedaços e agora em pro-cesso de reforma, graças a mais uma vez a sensibi-lidade do nosso prefeito e seu olhar de respeito à cul-tura municipal. Essa ação provê a comunidade de mais um espaço para que ela se manifeste. Vários artistas da cidade têm se beneficiados com ações da secretaria de cultura. Alguns deles dividiram o palco com grandes nomes da música popular brasileira. Esses encon-tros fizeram parte do nosso projeto de inter-câmbio cultural, onde pudemos ver juntos Is-lane Michele e Belchior, Chico César e Pernas Cabiluda, Esquerdinha e Elomar, Miguelão do Forró e Alceu Valença. Além das aber-turas de shows, como por exemplo,D´jauá abrindo o show de Djavan. Apoiamos tam-bém, algumas bandas e músicos independen-tes que viajaram para outros estados para se apresentarem ou participarem de Festivais, artistas não só da sede como da orla. Dezenas e músicos, que até então não tinham oportu-nidade de mostrarem seus trabalhos, hoje já tem no currículo participações em importan-tes eventos que a Prefeitura promoveu.

Na área de teatro, levamos uma das companhias locais para o Festival Internacional de Artes Cênicas em PORTUGAL, logo após, mais uma vez através da secretaria de cultura, o grupo foi à São Paulo se apresen-tar no teatro Plínio Marcus. O TAC (Teatro Amador de Camaçari) via-jará dia 02 e Junho de 2007 ao Fes-

tival de teatro de Paraty (Rio de Janeiro). Algumas bandas foram a Minas Gerais como o nosso

apoio, outros grupos se apresen-taram em outras cidades e estados

brasileiros ou em eventos das demais secretarias municipais, como Educação, Saú-de, Limpec e outros departamentos.

Quais as principais ações da sua ges-tão?IVAN – Em apenas dois anos e meio de go-verno, já realizamos duas Semanas de Cultura e uma delas de porte Internacional, na qual a secretaria promoveu encontros memoráveis de artistas de Camaçari com artistas nacionais e internacionais. Um encontro que a cidade não pode esquecer, por exemplo; Nadja Mei-reles cantando com Geraldo Azevedo, Nadja, notavelmente é uma das grandes composito-ras e cantoras brasileiras, e quando digo isso, quero desmistificar essa idéia de que os nos-sos músicos são apenas locais. Esse encon-tro além de demonstrar a magnitude do seu talento, deu ao povo de Camaçari um orgu-lho de sermos dessa cidade e termos tantos

artistas de alto nível. Val do Canto Samba e o grupo Os Cancioneiros ao cantarem no mesmo palco, deixou emocionado Roberto Mendes um dos mais renomados composi-tores brasileiros (autor e diversos sucessos de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilber-to Gil e outro). Roberto Mendes, enquanto ouvia comentava: “quantos artistas brasilei-ros temos e que apesar do enorme talento não tem espaço na mídia”. Rege Santos (FX), Pablicio (Clube de Patifes) e Flávio (Ladrões Engravatados) tocando junto com artistas do porte de Rock Laurence (Bluesman, ameri-cano), Sean Dillon (Roqueiro Canadense) e Bernard Snyder (Homem-banda – Alema-nha) os coloca em pé de igualdade. SEAN DILLON, por exemplo, convidou o músico

Rege Santos para uma apre-sentação com ele nos

Estados Unidos. O poeta João Isidório lançava seu livro durante o evento e assim o credencia-va para participar de bienais, feiras

literárias em vá-rios cantos do país. O nome Semana Inter-

nacional de Cultura tem peso e quem

dela participa cresce com isso. Esse evento tem uma característica interessante, a de reconhecimento de grandes artistas que por falta de apoio se ausentam dos eventos da cidade; Jorge Abelha um dos maiores guitarristas da Bahia, nos presenteou com um belo concerto. Jorge iniciou sua car-reira tocando guitarra baiana, vários foram os artistas baianos que tiveram o privilégio de tê-lo tocando em sua banda. Outras coi-sas que acho de grande importância é o aces-so de outras culturas a nossa população. Ao trazer Zeca Baleiro, Nação Zumbi, MV Bil, Renato Teixeira, Cidade Negra, Paralamas do Sucesso, Chico César e Elomar para os even-tos que a Prefeitura promove, estamos sedu-zindo a comunidade a perceber que existem outras coisas a serem ouvidas e assistidas e não apenas o que a indústria cultural nos im-põe. A presença maciça da população nesses eventos tem mostrado que essa experiência vem sendo uma grande vitória, não apenas da secretaria, mas do governo municipal como um todo.

E as manufesta-ções populares? Ficam de fora dos projetos da Secult?IVAN – A Che-gança, o Samba de roda, o Lobo gua-rá, o Boi janeiro , Pastoris, são mani-festações que tam-bém estão sendo resgatadas através desses eventos. O Mes- tre de cultura popular Bule-Bule e Enoque Nober-to, assessores na secretaria, atualmente estão catalogando e dialogando com esses grupos sobre um grande Seminário que faremos em Agosto, sobre cultura popular. Nesse Semi-nário discutiremos meios de construir polí-ticas públicas e sólidas para o fomento des-sas manifestações. Estamos em contato com empresários, produtores e redes de hotéis na Bahia, que possam contratar esses grupos, deixando bem claro, no entanto que esse não é o papel da secretaria, agenciar grupos. Essa iniciativa se deve a falta de interesse de

ENtREVistA CoM o sECREtáRio DE CULtURA DE CAMAçARi

Page 9: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 8 Camaçari, junho de 2007 Página �

produtores locais por esse tipo de trabalho. Esperamos que os empresários se sensibili-zem com isso e nos ajudem nesse fomento, afinal de contas, nossos empresários e produ-tores brasileiros investem mais em festas de HALLOWEN do que em quadrilhas juninas, cheganças ou samba de roda.Enquanto as instituições culturais? Como você enxerga elas?IVAN – Instituições como Fundação Cultu-ral Ca&Ba, Bamuca, Associação de Capoeira Abolição, Aartica, Cooperarock (deixo claro que existem outras, mas que desconheço se estão regularizadas juridicamente) devem

ter um tratamento diferenciado pelo poder público e

pelas empresas privadas. São

o rg an i z ações que durante o seu

tempo de existência mantiveram um grau de maturidade e responsabilidade jurídica que já os capacita para reivindicarem convênios e outros tipos de reconhecimentos pelo tra-balho desenvolvido. A Fundação Ca&Ba e a Bamuca, são exemplos dignos disso. Além da vertente artística, desempenham um ma-ravilhoso trabalho de inclusão social. Quan-tos jovens que poderiam estar no caminho das drogas, hoje estão nas aulas de música da Bamuca e nos ensaios de teatro e dança do Ca&Ba.

Então as irregulares estão de fora da ajuda do governo?IVAN – Não é isso. Existem na nossa se-cretaria, profissionais capacitados a ajudar na orientação de qualquer representante que queira se capacitar profissionalmente. Existem grupos maravilhosos na cidade, como o TAC – Teatro Amador de Camaçari, por exemplo, esse ano completa 32 anos de existência, o prefeito Luiz Caetano já autorizou a publi-cação do livro TAC, já poderíamos ter feito um convênio com o grupo, para que tivesse uma verba mensal para sua manutenção. O governo reconhece a importância desse gru-po e de seus criadores Cilene Guedes e Al-berto Martins, mas infelizmente o grupo não se encontra regularizado juridicamente e isso esbarra na legalidade que é fundamental pra as nossas ações. Mas nem por isso a prefei-tura, como disse antes, se furta de colaborar. Além do livro com histórias do TAC, a pre-feitura patrocinará a viagem do grupo agora no mês de Junho para o Festival Nacional de Teatro de Pa-raty- RJ e, assim como outros gru-pos, a secretaria sempre paga ca-chês pelas apre-sentações que realizam na cidade. Quero fazer aqui, e peço permissão ao jornal, um registro de agrade-cimento: FUI, SOU E SEREI ETERNA-MENTE UM APRENDIZ DO TEATRO AMADO DE CAMAÇARI. Minha grati-dão aos mestres Cilene, Beto e vida longa ao tão importante grupo, que honra como alguns outros em diversos cantos do ter-ritório nacional, o teatro amador no Brasil. Outro exemplo é a FILARMÔNICA, uma instituição que somos solidários ao trabalho que desenvolvem. O prefeito já autorizou um convênio desde o inicio da gestão, como citei acima. A Filarmônica é uma das instituições que apesar do belo trabalho que desenvolve, esta irregular juridicamente e mais uma vez o município não pode fazer convênio, a pre-feitura colabora financiando um profissional

gabaritado para reger e ministrar aulas aos alunos da Filarmônica, cedendo espaços para os ensaios e aulas, adquirindo fardamentos e calçados para suas apresentações e pagando cachês pelas suas apresentações. Em diversas ocasiões oferecemos profissionais, da nossa secretaria, para construir o site da instituição, que é de grande importância para a visibili-dade da mesma. Profissionais para formar projetos na lei Rounet, Faz Cultura e várias outras leis de incentivo a cultura. Foi ofereci-da uma das salas da casa de cultura, no bairro da Piaçaveira, para servir de sala de apoio a Filarmônica. Permanece vazia, pois o grupo alegou ser muito distante do centro da cida-de.

Camaçari está a caminho da ternura?IVAN – Este é o projeto de mais longo prazo da Secretaria de Cultura. Sementes plantadas nele serão colhidas ao longo dos anos. É um projeto que tem como objetivo através de oficinas culturais em todos os cantos da cidade, formar grupos de jovens que além de apren-derem arte e cultura, possam transformar a cidade por um olhar de ternura, perdão e acima de tudo SOLI-DARIEDADE HUMA-NA. O projeto não é ape-nas da Secretaria de Cultura ou do nosso governo, esse pro-jeto é da cidade e de todo aquele que queira discutir a humanidade a partir do seu municí-pio, do seu bairro ou do quintal da sua casa. Hoje estamos em 48 bairros com 64 oficinas, entre elas, teatro, dança, canto, artes plástica. Além das oficinas o projeto irá montar um es-petáculo onde irão participar 1.000 (mil) pes-soas de diferentes segmentos sócias (empre-sários, mendigos, policiais, garis, professores, estudantes e operários), segmentos religiosos diversos e pessoas de todas as idades. A intenção é que cada pessoa assuma o compromis-so de fazer o outro feliz. Quando menciono felicidade, estou falando de uma outra vertente da felicida-de. A do direito e da igualdade. O mendigo que participa do gru-po terá o direito de saber porque é mendigo, que engrenagem social o levou a sê-lo, que ele não é um coitado e na-quele grupo não vai ser tratado como tal. Como temos 64 oficinas, são 64 grupos, são

64 lugares que ele vai ter o direito de no mínimo saber o porquê está e que

mecanismo poderá usar para sair da exclusão. Essa discussão, por si só, já se desdobra em vários questio-namentos que temos que enfrentar junto à sociedade como um todo.

Pode ser que a partir daí a gente des-cubra que mendigo não é só aque-les que esta dormindo pelas ruas, e

que podem haver outros doutores, batendo na nossa porta enquanto estamos esperando para ser atendidos nos gabine-tes e instituições acadêmicas. Queremos formar a partir do projeto vários grupos artísticos também, grupos de teatro, dança, música enfim. Estamos com um curso de direção para alunos que se destaca-rem em sues grupos e esses conduzirão a parte artística de cada grupo futuramente. Curso de captação de recurso e formação de projetos serão ministrados, para que possam surgir nesses grupos potenciais produtores. Serão inúmeras palestras para todos que par-

ticiparão desse longo e grande projeto. Como acabar com intolerância religiosa. O proje-to hoje já esta implantado em várias igrejas evangélicas, terreiros e candomblé e em gru-pos de jovens da igreja católica e outros seg-mentos. Dezenas de policias participam das oficinas de teatro e a policia militar, através do seu comandante Coronel Castro, tem sido uma grande parceira desse projeto, a SEDUC e a SEAS sempre colaboraram com o proje-to e em conversa com o atual secretario de Assistência Social, Carlos Silveira, devemos ampliar a nossa parceria. Além dos idosos do CONVIVER, das crianças da Casa da Crian-ça e adolescentes do CREA, queremos inse-rir trabalhadores do movimento sem terra no projeto. É um trabalho fácil? Claro que não é, por isso peço ajuda, por isso convoco a sociedade a nos ensinar a melhorar o nosso próprio projeto. Por isso peço ajuda dos pro-fessores da rede particular de ensino, da rede estadual, das escolas particulares, dos artistas,

dos operários do pólo petroquímico, dos empresários, da imprensa, de to-

dos. Esse não é um projeto de cari-dade, não é um projeto para aju-

dar apenas “o mendiguinho” ou a “criança de rua”, é um

projeto de solidariedade a todas as pessoas, inde-pendente da classe social.

QUEM TEM PÃO, AS VE-ZES TEM SOLIDÃO. A prefeitura

de Camaçari através da Secretaria de Cultura planta uma semente num terreno árido, pre-cisamos de jardineiros.

Tendo mais noção dos problemas do município, que fazer daqui pra fren-te?IVAN – Realizaremos ainda esse ano o FES-TIVAL DE MÚSICA e publicaremos um l i v r o com os nossos poetas. Aliás

era o nosso desejo de que esse livro fosse editado o ano passado. Ten-tamos por diversa vezes articular

com os poetas a criação de uma coopera-

tiva de poesia. Essa iniciativa resultaria

na publicação de livros de vários poetas em curto prazo. O projeto previa publicação de mais de dez livros por ano. A idéia é simples e bastante viável se nossos artistas, na sua maioria tivessem espíritos de companheiris-mo. Nesse concurso a prefeitura premiaria os cinqüentas melhores colocados com uma co-letânea. Essa coletânea seria ilustrada por ar-tistas plásticos também da cidade. O segundo prêmio seria a publicação de mil exemplares do livro do primeiro colocado, desses mil li-vros, quatrocentos seria do autor, cem livros para ser distribuídos para as bibliotecas, jor-nais, imprensa e outros veículos da mídia. Os quinhentos exemplares restantes seriam da

cooperativa, cinqüen-ta poetas cada um vendendo apenas dez livros seria o suficiente para em um mês vender

os quinhentos e xe m p l a r e s , com a renda a

própria cooperativa publicaria o livro do

segun- do colocado e assim por diante. O mais importante nesse projeto é que os po-etas poderiam produzir seus próprios livros independentes da prefeitura ou empresas pri-

vadas. Seriam verdadeiramente autônomos. A prefeitura continuaria a criar projetos de valorização daqueles que fazem literatura no município que são muitos, contistas, roman-cistas, dramaturgos etc. Infelizmente a idéia não vingou e vamos promover o concurso fazendo assim a nossa parte.Ainda nessa linha estamos criando o PIN-TANDO POESIA, uma espécie de galeria a céu aberto, onde pintaremos os muros da cidade com poesia e ilustrações. Estamos se-lecionando artistas plásticos e poetas para o projeto. Mais quatro projetos serão iniciados este ano. Mostra de Cinema Nacional nos Bairros, Arte na Praça, Artistas Brasileiros de Camaçari (Show com Artistas de Camaçari na Cidade do Saber) e Camaçari 250 anos de História Pra Contar.

Para encerrar, qual palavra o Secretário Ivanildo Antonio escolheria?

IVAN – Apenas a palavra gratidão. Gratidão ao povo de Camaçari que generosamente tem apoiado o trabalho que realizamos, gratidão aos artistas pela confiança e a compreensão de que tenho dado o meu melhor para ser o mais justo possível ao Prefeito Luiz Caetano, pelo companhei- rismo, pelo respeito.

Aproveito para dizê-lo que sem-pre pôde e pode contar nas horas de alegria e nas horas de tristeza com esse hu-

milde operá-rio, que acre-dita na sua

dignidade, como homem, como

políti- co e como ser humano que é.

E o artista Ivan?IVAN – Tenho cinco livros publicados, participações em alguns filmes e novelas, algumas dezenas de canções com genero-sos parceiros e um método de teatro que chama-se TEATRO DA SOLIDÃO SO-LIDÁRIA. Isso tudo me faz ser um artis-ta e como artista a minha maior conquista esta por vir. ESTOU DESCOBRINDO UMA COISA MARAVILHOSA: estou descobrindo que depois de tantos anos de arrogância, que minha arte não é superior a do pedreiro que levantou as paredes da casa que me abriga e nem mais importan-te do que a arte do carpinteiro que com suas mãos calejadas bateu os pregos das telhas que me amparam do sol e da chuva. Descobri ainda que enquanto eu reivindicava Whisky no meu camarim e reco-nhecimento na mídia, isso era menos importante para que eu conseguis-se ser artista, do que um dia de trabalho duro no sol, de um ajudante de pedreiro, que bebe água quando o suor lhe molha o rosto. Talvez tudo isso seja mais importante do que a minha tola luta para ser uma estrela.

Entrevista ao repórter Pedro Santos. Concedida dia �0 de maio de 2007 com

exclusividade para o Oxente Jornal

ENtREVistA CoM o sECREtáRio DE CULtURA DE CAMAçARi

Page 10: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 10

fÓRUM ViRtUAL Do MiNC

Conhecimentos Tradicionais Tema do texto que servirá de de-bate preparatório para o ‘Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: Práticas e Perspectivas’, que acontece de 27 a 29 de junhoO fórum virtual promovido pelo Ministério da Cultura, com o objeti-vo de gerar discussões em torno de temas da Convenção sobre a Prote-ção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, já apresenta o texto sobre Conhecimentos Tra-dicionais escrito pelo antropólogo da Universidade de Brasília (UnB), José Jorge de Carvalho.O fórum integra o trabalho organi-zado pelo MinC para suscitar deba-tes que se relacionem à diversidade cultural, antes da realização do ‘Se-minário Internacional sobre Diver-sidade Cultural: Práticas e Perspec-tivas’, que acontecerá em Brasília, de 27 a 29 de junho. O seminário é uma promoção do Ministério da Cultura, em parce-ria com a Organização dos Esta-dos Americanos (OEA). Além do fórum, serão realizadas no mês de junho quatro oficinas prévias - Conhecimentos Tradicionais, Economia da Cultura, Cultura Di-gital e Propriedade Intelectual -, com a participação de especialistas no assunto. Os debates no fórum têm como base os textos criados pelos curadores das oficinas.Os leitores já podem fazer seus comentários acessando direta-mente o blog no site do MinC (www.cultura.gov.br) no endere-ço Fóruns de Cultura, acessando o link Diversidade Cultural ou no site www.conhecimentostradicio-nais.blogspot.com.

(Texto: Gláucia Ribeiro Lira - Comunicação SID/MinC)

O novo modelo prevê mu-danças na distribuição dos recursos, que vai beneficiar também os pro-dutores do interior O programa lançado ontem pelo secre-tário Márcio Meirelles foi elogiado pelo artista plástico Gaio e pela cineasta Dia-na Gurgel. O Governo do Estado vai disponibilizar este ano R$ 48 milhões para o fomen-to à cultura, por meio de programas de incentivo e editais. As iniciativas da Se-cretaria da Cultura (Secult) para o aporte de recursos na área foram agrupadas e integram agora o Programa de Fomento à Cultura. O novo modelo inclui mudanças no Fun-do de Cultura e no Faz Cultura, além da formatação de uma linha de microcrédito e o lançamento de editais públicos para diversas linguagens artísticas. O anún-cio do programa foi feito ontem pelo secretário da Cultura, Márcio Meirelles, em evento no Palácio da Aclamação, no Campo Grande. Este ano, o Fundo de Cultura vai contar com R$ 30 milhões, sendo 5% deste va-lor destinado ao Fundo de Participação dos Municípios. O Faz Cultura disponi-bilizará até R$ 15 milhões, por meio de incentivos fiscais a empresas que apóiem projetos na área cultural. Os R$ 3 mi-lhões restantes serão investidos em pro-jetos vencedores dos 17 editais que serão lançados pela Fundação Cultural, Ipac, Fundação Pedro Calmon e Irdeb. As principais mudanças no Faz Cultura se referem à definição de cotas por lin-guagem artística e para projetos da capi-tal e do interior. De acordo com o se-cretário, o objetivo é a diversificação dos beneficiados. “Queremos democratizar o acesso aos bens e aos meios de produ-ção cultural, ampliando as oportunidades para o interior do estado”, destacou. Se-gundo ele, a idéia é evitar a concentração

de recursos nas mãos de um pequeno número de produtores, como aconteceu no ano passado, quando 93,5% dos in-vestimentos do Faz Cultura ficaram em Salvador. De acordo com o secretário, o Faz Cul-tura ainda não atende a todas as inten-ções do Governo do Estado para o setor. Ele prevê uma reformulação maior para 2008 - o programa é regulamentado por lei e só com a alteração desta ele pode ganhar um novo perfil. Ontem, Meirelles abriu uma série de debates sobre o tema, com a participação de artistas, produto-res culturais e patrocinadores que ajuda-rão a reformular as leis que regulamen-tam o Faz Cultura e o Fundo de Cultura. Após a definição do novo modelo, ele será submetido a votação na Assembléia Legislativa. As proposições serão debatidas também em reuniões preparatórias para a II Con-ferência Estadual de Cultura, que acon-tecerão em várias cidades do interior. Estão previstos ainda um seminário com a participação de especialistas e profis-sionais da área cultural, além de encon-tros com representantes de associações e sindicatos ligados à cultura. O secretário justificou a demora no lançamento do edital do Faz Cultura. Ele informou que o Tribunal de Contas da União e a Audi-toria Geral do Estado realizaram vistoria em diversos projetos, principalmente os que tinham indicação para prorrogação. O trabalho durou 90 dias e resultou na suspensão de nove beneficiados do Fun-do de Cultura e de alguns do Faz Cultu-ra. “O Faz Cultura é muito fácil de ser burlado. Nosso trabalho será no sentido de dar mais segurança e transparência ao programa”, disse. Para o ator e diretor de teatro Dody Só, o Estado continua sendo o grande fomen-tador da cultura. “Em um estado carente como o nosso é necessário esse apoio. O mais importante nessa mudança é a preocupação em englobar o interior”, afirmou.

pRoGRAMA DE foMENto à CULtURA tERá R$ 48 MiLHõEs pARA pRojEtos EM 2007

O artista plástico Gaio tem a mesma opinião sobre a interiorização dos recur-sos. Ele também elogiou a forma como o projeto foi lançado. “É a primeira vez que vejo esse projeto ser explanado des-sa forma. Agora ele deixou de ser uma coisa velada”, ressaltou. A cineasta Diana Gurgel acredita que com o novo formato de cotas todas as áreas passarão a ser beneficiadas. “O Faz Cultura, por exemplo, tinha deixado de cumprir seu objetivo, não por falta de projetos de qualidade, mas porque a antiga SCT tinha outros inte-resses, como o turismo, por exemplo”, disse. Microcrédito. A concessão de microcré-dito, que será disponibilizada em breve, é uma das novidades do Programa de Fomento à Cultura. Desenvolvido pela Secult, Desenbahia, Prefeitura de Sal-vador e Sebrae, o programa vai liberar empréstimos de R$ 200 a R$ 5 mil para empreendedores de baixa renda, com o objetivo de viabilizar pequenos negócios na área de cultura. O projeto piloto será desenvolvido no Centro Antigo de Sal-vador. Os empréstimos serão destinados a pro-fissionais que prestam serviços funda-mentais para a realização de produções culturais, como técnicos de som, ilumi-nadores, costureiras, maquiadores, cenó-grafos, músicos, figurinistas, revisores, roteiristas, artesãos, webdesigners, entre outros. A mediação com os profissionais da cultura será realizada via agentes de crédito. A idéia é que o projeto seja es-tendido, em seguida, para o interior. As inscrições para o Fundo de Cultura e o Faz Cultura estão abertas a partir do dia 4, das 14 às 17h, na sede da Secult (Avenida Tancredo Neves, 776, Edifício Desenbahia).

Mais informações, (71) 3116-4134.Site da Secretaria de Cultura da Bahiawww.cultura.ba.gov.br

Um dos temas mais comentados e importantes da atualidade é a inclusão social. Muito se tem falado a esse respeito, principalmente em ano de eleição, mas qual o verdadeiro papel dos educadores nessa questão? Quais são as práticas que estão dando certo mundo afora?Para discutir essas e outras questões referentes ao tema estamos realizando o 1º Encontro de Educadores para Inclusão Social em Camaçari nos dias 14, 15 e 16 de junho de 2007. Na programação, grandes nomes da educação do Brasil e do Mundo se encontrarão para discutir e trocar experiências nos cursos e palestras do evento.

O IEEPIS objetiva conciliar a teoria com a prática proporcionando aos educadores informações que possibilitem a reflexão da prática educativa, um ‘saber fazer’ para a inclusão social: “Educação direito de todos”. Estarão presentes ao evento nomes como Rubem Alves, Philippe Perrenoud, Cipriano Luckesi, Celso Antunes, Marcelo Densnchi, Claudia Mascarenhas, Arlinda Paranhos, Jeane Cruz, Suzane Lima, Narciso Pereira, Federico Manchado, Nelson Pretto, Antônio Carlos, Gilson Rego, Jardelina Bispo, Vasco Moretto, André Luiz Teixeira, Cláudia Paranhos e Leny Magalhães.Informações e inscrições através siteSite: www.escolasorriso.com telefone (71) 3627-0680. E-mail: [email protected]

1º ENCoNtRo DE EDUCADoREs pARA iNCLUsão soCiAL

Page 11: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 10 Camaçari, junho de 2007 Página 11

A cultura permeia os povos para expres-sar suas existências, definir seus proces-sos históricos e suas presenças no uni-verso, explicar ou defender seus modos de vida. A cultura perpassa todo o corpo social no sentido da construção das es-truturas e está presente em todos os es-tágios da vida social, desde a organização de quilombos à cons-trução de uma usi-na termoelétrica.Na última Bienal do Livro da Bahia, a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA) montou em seu estande uma “ F Á B R I C A DE LIVROS” onde, graças à tecnologia di-gital de impressão, era possí- vel imprimir qualquer livro em poucas horas com a mesma qualidade dos modernos sistemas em “off-set”, isso para peque-nas tiragens de 20, 50, até 200 exempla-res com um custo relativamente acessí-vel a qualquer um que queira iniciar ou prosseguir a carreira de escritor. Agora, como esse tecnologia nova o es-critor (ou pretendente) pode mandar im-primir a quantidade de livros que já ven-deu aos amigos ou que foi encomendada por uma empresa sem precisar fazer um grande investimento. Então, “impressão por demanda”, “pequena tiragem”, “edi-ção personalizada”, “tecnologia digital”, “faça-você-mesmo” , livro eletrônico, “scrap book”, mercado informal, “mídia pirata”, tudo isso faz parte da Cultura Nova que está sendo processada em tor-no e dentro de cada um nós, queiramos ou não. O que antes era “produção em massa” agora está sendo “produção por deman-da”, “personalizada”, “individualizada”, “peça por peça”, não só de cunho ar-tesanal mas de alta tecnologia. O mun-do torna-se cada vez mais segmentado: mala direta, entrega individual, telecom-pra, produção por demanda, tudo isso para atender à proliferação de pequenas tribos e grupos minoritários até então sem poder de voz e expressão, desde os

solteiros, idosos, gays, índios, quilombo-las, “povo de santo”, sem terra, sem teto, sem emprego, sem partido, sem pátria, enfim, uma diversidade cada vez mais ampla e minimalizada de culturas, raças, credos, crenças, ideologias, sexos, mini-grupos de pessoas que estão revolucio-nando a economia e a tecnologia porque

criam e utilizam peque-nos meios de produzir diferenciação continu-ada fazendo com que a produção em massa vá se tornando cada vez mais defasada e

obsoleta.A Cultura Nova é mais inclusiva

e pluralista porque exclui mais o que é

uniforme, padrão, repe-titivo, sectário, massificante, estressante, careta, burocrático, vertical, autoritário e inclui o que é mais criativo, inovador, ho-rizontal, diferenciado, cognitivo, afetivo, prazeroso, poético, individual, regional, tribal, ancestral, vertical, operacional, re-alizador, solidário, facilitador, etc. A Cultura Nova, do Milênio Novo, valoriza e utiliza a multiex-pressão das inteligências, a habilidade no trato com símbolos, ima-gens, abstrações, o domínio da fala, do gesto, da ló-gica, da emo-ção, a habilidade no trato com o computador e com o outro, com o vídeo e com os conflitos, com as mídias e as diferentes atitudes com relação ao trabalho, ao sexo, ao amor, à nação, ao prazer, à autoridade, à educação, à política, à produção, etc. A Cultura Nova incorpora um univer-so que até então foi mais desvalorizado, humilhado, marginalizado, desprezado e menos remunerado, principalmente nas populações tradicionalmente excluídas e minoritárias.

Pontualidade, obediência a uma autori-dade central, única, burocrática, a postu-ra subserviente e resignada com relação à rotina e ao trabalho repetitivo e me-cânico, tudo isso está sendo excluído ou minimizado na Cultura Nova que se uti-liza bem mais de habilidades cognitivas e afetivas, da educação e da poesia, da engenharia e da ecologia, da condição de adaptabilidade, flexibilidade, capacidade trabalhar para múltiplos eixos e ao mes-mo tempo atuar como eixo.Estamos no bojo e na realização do in-cremento de uma cultura mais da curio-sidade e da dúvida, da necessidade de saber o porquê e o que acontece em tor-no para opinar e de alguma forma poder contribuir e influenciar, mudar, revolu-cionar a cada instante, decidir, ponderar, refletir, resolver e operar em meio ao conflito, à crise, à desordem, ao medo e à violência. É o limiar e a expansão de uma cultura que contempla mais a experiên-cia em áreas diferentes e a capacidade de influenciar de uma pessoa para outra e que dispensa o teórico especialista num só sentido.A cultura ora em gestação no interior de

cada pessoa e na comunidade planetária prefere tra-

balhar com pessoas conciliadoras e

mediadoras que servem de intérpretes de diversos interesses conflitantes no sentido de melhor resolve-los

e necessita de pioneiros e

visionários, so-nhadores e de um

número nunca pensa-do de poetas, de criadores

e inventores, dos que anseiam (como Maiakowsky) pelo futuro aquiagora. Mas a Cultura Nova não é monopólio de alguma nação, grupo racial, étnico, reli-gioso, político, sexual, etc. Ela permeia todas as culturas e é assim que se origi-na porque é a expressão da quebra dos

monopólios e o crescimento da multipli-cidade de poderes, ideologias, religiões, partidos, modos de vida e de produção. É um caleidoscópio dinâmico de regis-tros culturais minoritários até então sem vez e voz e está sendo trançada nas redes eletrônicas, nas posses e assentamentos, nas rodas de leitura, nos pontos de cul-tura, nos teclados e vídeos, nas ações co-munitárias, nas contações e escritos que a memória lavra. A Cultura Nova também combate de forma sistemática e lúdica o analfabe-tismo total, funcional e titulado através de ferramentas convivenciais que a todo momento estão sendo criadas de modo que o simples uso das mesmas implique nesse combate. Já podemos encontrar jogos eletrônicos que disparam sílabas e sinais de pontuação com prêmios às suas corretas aplicações. Centenas de novos instrumentos de ensino de alta tecnolo-gia (como os utilizados em tele e video-conferências) começam a ser disponibi-lizados para viabilizar a erradicação dos diferentes tipos de analfabetismo (men-tal, emocional, espiritual, etc). Outro aspecto importante da Cultura Nova é o redescobrimento por parte de grupos tradicionalmente excluídos de suas histórias, memórias, origens e an-cestralidades como imprescindível no processo de resgate da auto-estima, do sentimento de pertencimento, e da auto-nomia, da auto-inclusão, da recuperação e afirmação da dignidade ultrajada, rom-pida, exilada. A Cultura Nova, portanto, também significa a possibilidade efetiva de expressão e valorização de todas as culturas até então oprimidas, inferiori-zadas, desvalorizadas, oprimidas. E tem como principal característica a sua di-mensão multicultural e policêntrica em permanente mutação.Daí a importância da atividade cultural para a evolução revolucionária da espécie humana, e tudo que dificulte, minimize, ignore, desdenhe, deforme, desvalorize, agrida as variadas formas de fazer cultura está fadado ao mais retumbante fracasso, à mais obscura lata de lixo da história.

Geraldo MaiaPoeta e crítico cultural.

C U Lt U R A N o V A

... impressão por

demanda”, “pequena tiragem”, “edição personalizada”, “tecnologia digital”, “faça-você-

mesmo” , livro eletrônico, “scrap book”, mercado informal, “mídia pirata”, tudo

isso faz parte da Cultura Nova que está sendo processada em torno

e dentro de cada um nós, queiramos ou não.

CoMéDiA DELL´ARtE NA CiDADE Do sAbERA comédia dell´Arte surgiu na Itália em meados do século XVI. Os atores da época, conhecidos como mercená-rios, dedicavam-se toda a vida para um único personagem e deveriam executar o seu trabalho de maneira brilhante, pois disso dependia o seu lucro.A Commedia dell’Arte sobreviveu du-rante gerações em toda a Europa com suas máscaras e efeitos cômicos. O espetáculo “O mentiroso” foi es-crito em 1750, porém sua história continua muito atual e recebe agora um toque de brasilidade, nessa mon-tagem realizada por alunos da Escola de Teatro da UFBA.

No elenco, três atores de Camaçari. Ro-gério Chagas e Leo Andrade, alternam nas apresentações, o personagem, Lélio dos Humildes. A nossa Elisângela Sena interpreta um homem, o Doutor Balela. Vale a pena conferir essa comédia que nos remete a Veneza de séculos atrás (mesmo que nunca tenhamos ido à Veneza), com um belo cenário e figurino. E como artista gosta mesmo é de apare-cer, vamos colocar o nome de todo mun-do aí embaixo.Elenco: Raiça Bomfim, Maria Bela, Karen Souza, Ana Paula Bezzerra, Bia Roriz, Lilia-ne Pires, Mariana Correia, Raiça Bomfim, Rebeca Dantas, Cida Lima Barreto, Lenira Santos, Elisângela Sena, André Trindade,

Leo Andrade, Rogério Chagas, Daniel di Britto, Toni Sena, Analisse Lessa, Lélia Car-valho, Paula Moreno e Mariana Correia. Texto: Carlo Goldoni. Encenador e tra-dutor: Marcus Villa Góis. Assistente de direção e Coreografia: Marta Saback. Consultoria Dramatúrgica: Marcos Bar-bosa. Figurinos: Rino Carvalho. Direção Musical e Trilha Sonora: Luciano Bahia. Desenho do Painel: David Barreto. Cos-tureira: Angélica da Paixão. Melodia da Serenata: Raiça Bomfim. Cenotecnia: Maurício Pedrosa. Confecção das Másca-ras/ Produção/ Roupas: o elencoTeatro Cidade do Saber em Camaçari. Dias 13 e 14 de julho Informações: (71) 3621-1588

Page 12: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 12

pRoGRAMA bRAsiL ALfAbEtizADo- GoVERNo fEDERAL -

O projeto BRASIL ALFABETIZADO é um novo método de alfabetização que tem por finalidade levar ao encontro de jovens e adultos um processo de apren-dizagem diferente do convencional, pois trabalhamos com o método ARTE-EDU-CADOR, que ao longo dos últimos anos vem demonstrando uma alta eficácia.O método de ensino é bem simples, o arte-educador tendo em mãos um mate-rial didático, adquirido em um curso pre-paratório, tem a possibilidade de ensinar a escrita e a leitura de forma lúdica através da arte, facilitando a assimilação dos as-suntos.O tempo de alfabetização de cada turma é de seis meses, sendo possível o aumento do período para oito meses; As horas das aulas semanais somadas devem ter o total de no mínimo 6 horas, ficando a cargo do instrutor, juntamente com sua turma, decidir os dias e horários das aulas.As turmas do projeto deverão ter no mínimo entre 15 a 25 alunos, poden-do cada instrutor abrir novas turmas assim que possível. Todo o material didático necessário será distribuído pela entidade que detem a autoridade e o dever de fiscalizar e de auxiliar o projeto em cada município, sendo os materiais entregues mediante apresen-tação da ficha de inscrição dos alunos, contendo: NOME, RG, ENDERES-ÇO e TELEFONE.

O arte-educador portará um diário do instrutor que deverá ser preenchido dia-riamente com todo o desenvolvimento das aulas, pois no fim de cada semana, é prestado conta a uma equipe de pedago-gos que avaliará os métodos e auxiliará o instrutor no que for necessário.Durante as aulas poderão acontecer, inva-sões culturais nas turmas, com apresenta-ção de teatro, dança, poesia e literatura, com a finalidade de não só ajudar na al-fabetização mas também de aproximar os alunos da arte, pois para o projeto, a arte é uma grande ferramenta no processo de aprendizagem do aluno.No termino de 6 meses haverá uma ava-liação por turma para determinar a eficá-cia do método de ensino, lembrando que os alunos participantes do projeto, pode-rão se matricular normalmente em uma escolar secular, sem precisar passar nova-mente pelo processo de alfabetização e a depender do estudante, e da avaliação do arte-educador, o aluno poderá avançar as séries de acordo com uma avaliação.Com esse projeto o governo federal quer erradicar o analfabetismo no nosso país e também levar para pessoas sem acesso a arte o direito de conhecer esse universo tão fantástico que é a cultura e o saber.

Alex Brito(Arte-educador, ator, membro da

Fundação Cultural CA&BA)

O Dia das Mães de 2007 foi marcado por uma grande festa na Rodoviária de Camaçari. A Fun-dação Ca&Ba reuniu, como sempre, vários artistas da cidade para homenagear as donas da festa. Foram tantos grupo que vamos dividir por categoria para facilitar a identificação:Os grupos de Dança: Aniquilação (Fazenda Coutos/ Salvador), Cover Jackson Funk e Ati-tude Dance. Além da Cia de Dança Ca&Ba, com o Espetáculo CAOS com os dançarinos Biuna Bizerra, Aldrin Cavian e Cleber Concei-ção sob a direção de Tony Erachel. A música foi representada por Geisa San-tiago e o Grupo “Ki Mania”.O teatro não podia ficar de fora. O Núcleo de Artes Cênicas Ca&Ba aprsen-tou “Filomenena uma Emprega Quase Perfeita”, com Biuna Bizerra, Mari Arujo, Toninho Barretho, Cacia Gomes e Refi-son Scarpin; “Pense Pense” com Cácia Gomes, Mari Araujo e Isa Santos (Texto:Wilson Bizerra) e “Desabafo de uma Filha” com Mari Araújo. “As Loucas de Pedra Lilás”, uma Parceria da Associação Cultural Afro Omikaiá e a Fundação Cul-tural Ca&Ba. Texto do Grupo Carranca. Direção e adaptação de Elson Campos. Assistente: Analisa Batista. Com: Jamile Santos, Alex Brito, Adriana Santos, Rean-dra Rosas, Bell Miranda, Jadson Amaro e Cris Anjos.Parabéns Mamães, não só pelo 2º do-mingo de maio, mas por todos os dias de nossas vidas. Vidas que foram dadas por vocês. MÃES.

DiA DAs MãEs

Por certo, ao menos desde Platão, pre-ocupam-se em responder a esta per-gunta. De antemão, vale ressaltar que as linhas a seguir não se propõem a respondê-la, mas lhe acrescentar outra, formulada criativamente pelo poeta sul-mato-grossense, Emmanuel Mari-nho, no livro Caixa de poemas (2001): “Poesia não compra sapato, mas como andar sem poesia?” Nesse sentido, não se intenciona discutir o proveito da poesia, entretanto, sua mais com-pleta inutilidade. Assim, considera-se poesia toda enunciação verbal em que se evidencia valor estético, sendo este mensurado por – basicamente – dois elementos: capacidade de amplificação dos sentidos da palavra para além dos usualmente arbitrados e uso do rit-mo como primordial à ordenação das idéias. Ou seja, o valor do texto poéti-co está intrínseco a ele na medida em que consegue multiplicar os sentidos das palavras ao relacioná-las por meio de determinado trabalho rítmico, pois, para Otavio Paz (1982), a função pre-dominante do ritmo distingue o poema de todas as outras formas literárias. O poema é um conjunto de frases, uma ordem verbal, fundados no ritmo.Sobre o assunto, surgem comentários: “poesia não é coisa séria” ou “poesia é coisa para poucos”. Teses desta natu-reza contêm alguma verdade: a poesia não precisa ser séria, pois nem mesmo a vida o é. A poesia assenta-se em ele-mentos que vão além da compreensão lógico-racional aceita por muitos como única forma séria de conhecimento, por isso poesia é apenas para os muitos que se dispõem a exercitar a desautomatiza-ção desta lógica e propor-se a construir um saber sensorial dado pela palavra. Poesia, no âmbito do verbo, é palavra constituída de alto poder de significa-ção. Relaciona-se com outros sentidos – olfato, paladar, audição – envergan-do modo de conhecimento distanciado das referências racionalistas que vêem na capacidade intelectiva do homem a única maneira de apreender o mundo. Segundo Paz (1982), a função da lin-guagem é significar e comunicar os sig-nificados, mas nós, homens modernos, reduzimos o signo à mera significação intelectual e a comunicação à transmis-são da informação. Esquecemos que os signos são coisas sensíveis e que operam sobre os sentidos. A comunicação humana, desde os pri-mórdios, é feita através da pele. No entanto, aos seres intelectivos governa-dos pelo primado da razão, por vezes, é restrito o valor atribuído à comuni-cação sensorial, aquela que, não ne-cessariamente, é circunstanciada pelo

pensamento. Assim, mesmo havendo predomínio da linguagem como ele-mento comunicativo, nem todo ato de linguagem pode ser racionalizado: as palavras, que carregam em si verdades próprias, comunicam aos sentidos. A poesia desvela as palavras da carga que lhes foi imposta, fazendo surgir algo novo, que ainda não é, por isto o poeta se esforça para purificar a linguagem, devolver-lhe sua natureza original, Paz (1982). Portando, poesia demanda es-forço em compreender não apenas o dito, mas, sobretudo o não-dito, vez que também se compõem pelo silêncio e pelo encadeamento analógico – e não lógico – das idéias dispostas em estado original de linguagem, haja vista as pa-lavras existirem por si, não se limitando a meras conseqüências ou reflexos das coisas ou impressões provocadas pelas coisas sobre os sentidos. Na linguagem poética há o predomínio do pensamento analógico, do ritmo, das correspondências sonoras, do va-lor prosódico; fundamenta-se no des-conhecimento ou na crítica do princí-pio da identidade, de que uma coisa, sendo o que é, não pode ser outra. Esta compreensão do fazer poético permeia toda a obra de outro poeta sul-mato-grossense que há quase sete décadas – desde o primeiro livro, Poemas con-cebidos sem pecados, (1937) – faz o verbo “delirar”. Fala-se sobre Manoel de Barros, que aos 92 anos, em seu es-critório de “ser inútil”, dedica horas di-árias ao exercício de criar “desobjetos” em forma de linguagem, por acreditar que Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer nascimentos – o verbo tem que pegar delírios, Barros (2004). Nestas paragens, poucos são os que conhecem a obra do poeta, composta de 20 livros e mais uma série de contri-buições poéticas para jornais e revistas de todo o país. Tal desconhecimento, deste e de outros poetas, não acarreta danos físicos e morais, é bem verdade, a ninguém. No entanto, os muitos que conhecem gozam do prazer imenso propiciado pela materialidade sensível do texto poético. Desse modo, não sendo possível falar da função da po-esia, lista-se suas duas principais inuti-lidades: auxílio ao passar do tempo e alimento para o sonho. Assim, a partir de então, em tratando de assuntos rele-vantes, quando um dos poucos servos da poesia for questionado sobre sua presteza, responda-se: Ó subalimenta-dos do sonho, a poesia é para comer! (Natália Correia. Defesa do poeta. Po-emas a rebate, 1975). Gal Meirelles

Doutoranda em Cultura e Sociedade – UFBA

pRA qUE, poEsiA?

Page 13: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 12 Camaçari, junho de 2007 Página 1�

o CoRDEL Está soRRiNDoA Bahia descobriu que a literatura de Cordel esta dando largas gargalhadas, sustentada por alguns guardiões que afir-mam “quem morre de medo, não sabe do que morreu”. Viajando em algumas das muitas linhas de pesquisa do ciclo Cordeliano, alguns “estudiosos” afirmaram: “o cordel está de vela na mão”, ou ainda, “a literatura de cordel morreu, não se produz na região e nem vem de fora”. É como quem diz:“A loja já fechou? O caixeiro foi embora? Agora eu quero ver, Com quem a moça namora.” Os estudiosos americanos torcem pelo resto do mundo aceitar como a palavra fi-nal, as determinações das suas pesquisas, em muitos casos viram ordem, mas na cultura popular do Brasil, desta vez eles se lascaram, graças a Deus.Primeiro um dou-tor afirmou em um vasto dossiê que o samba de roda es-tava extinto. O samba hoje é patrimônio da humanidade, é a modalidade musical representante do povo brasileiro no mun-do e a literatura de cordel esta dando ri-sada da cara de quem disse que ela tinha morrido ou estava de vela na mão, note bem: Além de cordelistas novos, estão surgindo editoras populares dando sus-tentação aos escritores. Nunca se fez tan-ta monografia, nem tanta tese de douto-rado e mestrado em literatura de cordel. Nunca se pesquisou tanto a literatura de cordel e os seus estilos, além dos ciclos como: o ciclo do cangaço, dos beatos, de encantamento, da cavalaria, etc. É uma pena que assim como o artesana-to, tem o apoio dos governos federal e estadual, a literatura de cordel não seja contemplada. Talvez seja porque tivemos cordelistas como José Soares - o poeta re-pórter, Cuíca de Santo Amaro, Leandro Gomes de Barros, e outros tantos que tiraram o sono de alguns políticos e de forma unânime eles resolveram penalizar esta arte renegando ao pior dos planos, o desprezo.

“ Um monge descabelado me disse no caminho: “ Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruínas é uma desconstrução. Minha idéia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um

monturo.” E o monge se calou descabelado.”

Manoel de BarrosDo livro

Ensaios fotográficos

Ninguém diz, mas todos temem um cor-del bem feito, falando de algum malfeito político. De forma espontânea os quatro brasilei-ros de quem mais se escreveu são, Lam-pião – o Rei do Cangaço, Padre Cícero, Getúlio Vargas, e Juscelino Kubitschek. O poeta sério trata bem, mas não puxa o saco e jamais nega um reconhecimen-to, se tantos governantes tivemos e não foram cantados em versos de cordel é porque nada fizeram pelo povo. O can-cioneiro popular está atento a tudo que se passa em sua volta, as rodas de samba es-tão cheias de chulas falando da ruindade de George W. Bush e Saddam Hussein, as bancas de cordéis também, isso prova como eles são autênticos nas suas ruinda-

des e os poetas estão atentos.Surgiu a Licutixo Produções Artísticas, colocando no mer-cado trabalhos de poetas como Con-de Barbosa de Cruz das Almas, (1901-1979), seu trabalho

como era antigamente, escrito na década de quarenta e André Peixoto também de Cruz das Almas, (1908-1994), deste a grande obra que tem o título A Gran-de Linhagem da Cachaça. Ainda lançou também da cordelista Zuzu Oliveira, “A história de Jeca Tatu” da obra de Mon-teiro Lobato e a história de “Frei Manoel sem Cuidado e um Caboclo Cuidadoso”. Bule Bule lançou também pela Licutixo, o “Tremendo Duelo de Quirino Beiçola com Tomaz Tribuzana”, “A Bahia Não se Divide” e “Irmã Dulce da Bahia San-ta Mãe de Todos Nós”, “Judite a Mulher Divina que Salvou o Marginal”. A Licutixo Produções artísticas tem par-ceria com a editora Nova Civilização na cidade de Cruz das Almas, por tudo isso eu afirmo: O Cordel está sorrindo. Bule BuleCordelista, violeiro, cantador, tiraneiro e reticências.

RUíNA

Xaxado, Zé Pequeno, Marinês, Marie-ta, Arthurzinho e Capiba. Esses são alguns dos integrantes da Turma do Xaxado, um grupo com personagens tipicamente brasileiros que contam a história do povo nordestino e exalta a nossa cultura em suas tirinhas. Com criação e ilustração de Antonio Ce-draz, a Turma do Xaxado é uma ótima opção de leitura para crianças de 5 a 90 anos. Suas estórias tem um teor di-

dático e ético, tão necessárias na atualidade, com lições de moral, críti-ca política e principalmen-te incentivo a leitura.

EspAço poEsiA

Quero o tempo todo o dolo do teu coloRoubar tuas esperas de infinitoQuero o gesto abortado em teu gritoE penetrar no poço do teu solo

Sorver todo o silêncio do conflitoPara quando te amar em qualquer ritoEm qualquer lua com olhos de marEm quantos riscos se quiser amar

Num campo negro onde a luz é nuaAmar-te de um modo que chegue à ruaA canção que ensaias nas entranhas

Onde teces a nova partituraUm novo ser em ti me inauguraDo que se perdeu é o quanto ganhas

Geraldo Maia

CoRisCoEspAço poEsiA

x A x A D o N o o x E N t E

Quem vem lá, quem vem lá,Quem bate na porta do homem

É o avanço tecnológico em busca do nobreNa busca do óbvioDancem, cantem, chorem, lutemO milênio esta aí, o terceiro afinalA pane é real? Linux, Microsoft.Sei lá o que seja, seja lá o que for...Quem vem lá, quem vem lá Quem bate a porta do homem.

São os sons do planeta chamando por ele E a luz do néon que demarca os temposGritos varando o por virVoraz alvorada sem relva ou pradaria Sem vida sem morada certaSem rumo, e o prumo a penderDo lado do peito pulsando amiúdeQuem vem lá quem vem láQuem bate a porta do homem

São os gazes tóxicos, a peste, a fomeAs intolerâncias das guerras do homem A áurea é falsa, sem par, deslocadaNo centro do cosmos, no buraco negro...Negro do medo do homem...Do homem, que pensa, que senteQue tem consciência...Quem vem lá, quem vem láQuem bate a porta do homem

É a arte viva, saltando no peitoUm pedaço nobre, disforme, ligado ao geralComando central, espírito e mente O contato é urgente o futuro clamaO passado reclama, víl ignorânciaDe querer ser só, no meio de tudoLave as mãos pecador, ao entregar CristoOu um homem qualquer, de raça humanaSagrada profana, por seus próprios estigmasSalve-se, a si próprio, salvando o planetaDas suas ações!!!

Quem vem lá, quem vem láQuem bate a porta do homem!

Wilson Bizerrada obra “PENSE”

qUEM VEM Lá?

Por isso, com muito prazer informa-mos que as tirinhas do Xaxado estarão no Oxente Jornal. Acesse, também, o site www.xaxado.com.br

Valeu Cedraz!

EspAço poEsiA

Page 14: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Camaçari, junho de 2007 Página 1�

Publicidade A publicidade é uma atividade profis-sional cuja principal função de difundir idéias associadas a uma empresa, produto ou serviço entre um público significativo com o intuito de gerar lucro.Surgida no final do século XIX como parte das inovações trazidas pela revolu-ção industrial. A publicidade nessa época limita-se a textos impressos de forma ru-dimentar, mas com o intuito de divulgar e diferenciar o produto anunciado dos de-mais. Essa necessidade de diferenciação, juntamente com a concorrência imposta pelo crescimento do capitalismo, ajuda, e muito, a propaganda comercial. Com a chegada dos novos veículos de comunicação de massa, a publicidade ga-nha fortes aliados. O surgimento do rádio nas décadas de 20 e 30 fez aumentar o alcance das divulgações e os profissionais da área de comunicação enxergaram o grande potencial deste novo veículo. No entanto, nesse mesmo período líderes es-tadistas começam a utilizar a força do rá-dio em prol de seus governos totalitários e com isso a propaganda política passa a ser a principal atividade da época. Hitler, Mussolini, Vargas, Perón, todos utilizam o poder da propaganda para vender suas idéias absolutistas aos governados. O rádio deu voz à propaganda. A veicu-lação de anúncios no rádio brasileiro so-mente é autorizada no ano de 1932, por decreto do presidente Getúlio Vargas. Juntamente com esse decreto fica estabe-lecida a exploração comercial do veículo por parte de pessoas jurídicas através de concessões. Nesse período grandes em-presas passaram a anunciar e surgir na mídia nacional. A divulgação no rádio em nosso país ajuda a consolidar as empre-sas nacionais e multinacionais anuncian-tes. Marcas como Omo, Nougat, Toddy, Varig e outras menos conhecidas hoje, como refrigerantes Grapete e Coberto-res Paraíba cresceram e consolidaram-se como líderes do segmento com a ajuda da “publicidade sem imagem” do rádio. Surge o cinema e com ele a imagem passa a ser reproduzida, porém, no início, ainda sem som. Com o surgimento dos filmes falados a publicidade cresce grandemen-te, mas o cinema teve o seu poder rapida-mente diminuído devido ao carro chefe da publicidade no século XX, a televisão. O ano de 1935 marca o início da primeira transmissão televisiva oficial da Europa, em plena Alemanha Nazista. A torre de transmissão utilizada na época foi a Torre Eiffel em Paris. Desde então, a publicida-de volta suas forças para o sistema mais completo da época. A televisão transmite som como o rádio, imagem como o cine-ma, porém com um alcance muito maior que os concorrentes. Os consumidores

eram atingidos em suas casas, com toda a comodi-dade, sentados em seus sofás e não precisavam se deslocar até a sala de proje-ção mais próxi-ma para assistir

ao filme e, conse-

qüentemente, seus comerciais.A televisão, como principal veículo mi-diático, reina tranqüila até o final do sé-culo XX, perdendo força apenas para a internet e os novos meios de comunica-ção da atualidade. Juntamente com sua força, boa parte do capital aplicado em publicidades na TV são transferidos para os novos meios. Esse êxodo dos inves-timentos atende as regras básicas de um sistema econômico baseado no lucro. O capitalismo.

CapitalismoSegundo a enciclopédia digital Wikipé-dia, Capitalismo é comumente definido como um sistema de organização de socieda-de baseado na propriedade privada dos meios de produção e propriedade inte-lectual, e na liberdade de contrato sobre estes bens (livre mercado)Essa definição simplória desconsidera muitas particularidades do sistema eco-nômico que domina praticamente em todo o mundo.No sistema capitalista as pessoas buscam satisfazer suas necessidades através do acúmulo de riquezas para adquirir bens, produtos e serviços. A propriedade pri-vada e a intelectual são defendidas como sendo o pilar de sustentação da sociedade. Os cidadãos passam a ser divididos em duas classes, seguindo definição de Marx, os proletários e burgueses. As pessoas buscam o dinheiro vendendo suas horas de trabalho em troca de salá-rios. Os salários, em sua absoluta maioria, não satisfazem as necessidades dos proletá-rios, mas sem outra opção, procuram se adequar ao sistema.Ainda, segun-do a Wikipédia, os defensores do capitalismo afirmam:“... é o meio mais eficien-te e eficaz de prosperidade, de-senvolvimento e eliminação de pobreza nas sociedades, devido ao seguinte argu-mento central: cada indivíduo, por depen-der basicamente do seu próprio esforço, por ter direito a acumular e desfrutar dos produtos gerados por este esfoço, por ter de assumir e colocar em risco seu pró-prio patrimônio é altamente motivado a utilizar seus recursos (materiais e intelec-tuais) da melhor forma (mais eficiente) possível, e a melhor possível é a que gera maior riqueza para a sociedade, já que os indivíduos dependem de transações vo-luntárias.”Essa teoria é muito boa, porém a prática mostra que o “eficiente sistema” aumen-ta cada vez mais a desigualdade social e demais mazelas vividas, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.O Capitalismo teve início junto com a Revolução Industrial, mas precisamente durante o final do século XVII. A palavra “capitalista” aparece pela primeira vez,

ironicamente, no “Manifesto do partido Comunista” (Manifest der Kommunistis-chen Partei) de Marx e Engels, para defi-nir os objetivos das revoluções burguesas durante a Revolução Gloriosa de 1685. Para Marx, maior crítico do sistema, o ca-pitalismo baseia-se na luta de classes. Os que têm dinheiro (burgueses) contra os que não têm (proletariados).O sistema capitalista é catapultado para todo mundo junto com os novos meios de produção. As indústrias produzem produtos para atender necessidades ou desejos dos seus consumidores. Para isso, em suas fábricas, utilizam o material hu-mano para operar máquinas e produzir mais rapidamente e em grande escalas os produtos a serem consumidos. As vendas desses produtos geram riquezas que ser-ve para pagar os custos da produção e os lucros dos empresários.

Publicidade e CapitalismoCom o desenvolvimento dos meios de comunicação e os estudos nessa área, descobre-se, através da elaboração de vá-rias teorias, a força de persuasão da mídia. A teoria hipodérmica surge entre as duas grandes guerras mundiais cuja principal idéia é inércia humana, pois para eles “o homem não age, e sim reage a estímulos”. Essa idéia, também defendida pela escola psicológica behaviorista, estimula a pro-dução de propagandas com o intuito de induzir o consumidor a comprar os pro-dutos apresentados pela mídia, indepen-

dente da sua necessidade. Esse conceito, bastante difun-

dida no século XXI, leva a publicidade a destacar-se

como principal impul-sionador do capitalis-mo no mundo atual. No filme “O corte” o protagonista é levado pela propaganda a de-sejar o emprego de um

executivo em uma fábri-ca de papéis, que possuía

as mesmas habilidades dele. Para isso elaborou o terrível

plano de eliminar seus possíveis concorrentes, antes de eliminar o executi-vo por ele invejado. Essa atitude drástica é fruto de um desespero do personagem desempregado, sem dinheiro para pagar custear as necessidades básicas de sua família, nem as suas necessidades de ego e aceitação na sua sociedade, gerando a inveja ao ver um outro profissional, com capacidade compatível a dele, melhor po-sicionado socialmente.A publicidade ganha forte aliada com a chegada dos estudos do marketing. Seus serviços pas-sam a integrar uma das áreas do marketing, que tem como mis-são analisar o mercado e enten-der as suas necessidades antes de oferecê-los publicamente. Entender os desejos do pú-blico alvo, identificar, separar e desenvolver ou aprimorar os produtos e serviços para adequá-los ao seu consumi-dor em potencial, levando-os a efetivar a compra. Como dito an-

teriormente, a publicidade faz parte do marketing aparecendo como a parte de divulgação, ou seja, um dos cinco “Ps”, o de propaganda.Através da divulgação, a publici-dade influencia o consumo ali-mentando assim o capitalismo em seu pilar maior. A geração de lucros. A economia em um país capitalista é movimentada pela venda de produtos e serviços, para dentro ou fora das suas divisas. A mídia é o prin-cipal motivador de consumo, portanto, a principal impulsionadora de um sistema econômico. No filme “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” vemos os avanços do século XX e como foram responsáveis por mu-dar o mundo. A utilização da mídia como arma de guerra. A revolução feminina e sua grande importância para os comerciais nos quais as mulheres desfilam semi-nuas para vender produtos. A indústria cultural e a utilização das artes para anunciar no-vas mercadorias disponíveis no mercado. O desprezo pela vida humana e a exalta-ção dos grandes personagens da história. A Revolução Russa e a pregação da inu-tilidade da igreja. A queda do socialismo perante o capitalismo na União Socialista e a destruição do muro de Berlim. Essas ações citadas expandiram o mercado para o mundo capitalista e, consequentemen-te, para a introdução de novas ações da publicidade nesses países. O mundo se moldou ao sistema capitalista e este teve como principal aliado à publicidade. Mui-tas das mudanças apresentadas no filme, parecem contribuir com essa idéia. A mídia hoje tem o poder de levar o ci-dadão a comprar esse ou aquele tipo de música, pedir um sanduíche específico, beber a cerveja A ou B, escolher um can-didato e especialmente determinar a sua tendência na hora de se vestir. A moda é um ótimo exemplo de como a publicida-de e a propaganda definem as opiniões da “opinião pública”. Pessoas obesas vestem roupas desenhadas para pessoas magras e mesmo com um visual esteticamente ina-dequado, orgulham-se de dizer “estou na moda”. A perda da individualidade é um seus outros fatores. Grupos vestem-se e pintam-se exatamente igual, ouvem os mesmos cantores, freqüentam as mesmas lojas. Tudo isso, fruto do marketing.Enquanto houver marketing, teremos pu-blicidade. Enquanto houver publicidade, teremos vendas. Enquanto houver vendas, teremos lucro. Enquanto houver lucro,

teremos capitalismo. Enquanto houver capitalismo, teremos desigualdade so-cial. Enquanto houver desigual-dade social, teremos campanha

de marketing mostrando que só o capitalismo sal-va. E enquanto houver marketing...

Erick da Silva CerqueiraEstudante de Marketing

Faculdade 2 de Julho

pUbLiCiDADE E CApitALisMo

Amoda é um ótimo

exemplo de como a publici-dade e a propaganda definem as

opiniões da “opinião pública”. Pes-soas obesas vestem roupas desenhadas para pessoas magras e mesmo com um visual esteticamente inadequado, or-

gulham-se de dizer “estou na moda”.

Page 15: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

Página 1� Camaçari, junho de 2007 Página 1�

AVE EVo, EVoé soCiALisMo!Conversava outro dia com o índio es-critor e poeta Juvenal Payayá sobre a experiência do socialismo no planeta, o que ficou conhecido como “socia-lismo real”. A questão era “como im-plantar um estado socialista se a única referência de estado é o burguês?”. É verda-de, em que realidade foi implantado um estado socialista no planeta antes da revolução de outubro? “Em nenhu-ma”, dirão os cultores do corpo teórico bran-co, europeu, positivista, excludente, cientificista, racista, redu-cionista, mecanicista, cartesiano, ab-solutista, judaico-cristantan. Não há registro de uma prática so-cialista no mundo ocidental dito ci-vilizado antes de 1917. Então como praticar algo que nunca foi praticado por séculos e milênios? Qualquer mu-dança de paradigma, nesse campo, por mais bem intencionada que fosse, es-taria fadada ao fracasso porque daria de cara com todo o condicionamento altamente cristalizado da longa prática de estado aristocrata e burguês. Daí o estonteante desastre da experi-ência do socialismo até então, porque falta nas pessoas a prática, a cultura, a herança de uma prática socialista efetiva. Não bastam idéias, discursos, programas, planos, projetos, decretos e leis se não existe quem vai por tudo isso em execução. Como praticar o so-cialismo sem ter tido uma única vez ouvido falar e muito menos tido con-tato com pessoas, documentos, fatos, com toda uma cultura, arte, pensa-mento, educação, produção de cunho socialista? Quem é capaz de praticar o socialismo depois de séculos de edu-cação burguesa? Ninguém. Mas se pessoas como o senhor Rena-to Simões e o editorialista do jornal A Tarde prestassem uma única vez na vida, na história, na cultura e no pen-samento filosófico dos povos autóc-tones de Abya-Yala (américa latina e saxônica, em língua Kuna) poderiam encontrar entre os remanescentes do latrocínio (matar para roubar) ci-vilizatório cometido pelos espertís-simos reis de Espanha e Portugal, conluiados com a Santa Sé, aos quais se juntaram os da França, Inglaterra, Holanda e Estados Unidos contra as

nações chamadas equivocadamente de “indígenas” (pensaram ter chegado à Índia), principalmente da África e do continente abya-yalano, o referencial de socialismo que o mundo ocidental ainda não conhece.

Eu e o índio Juvenal Payayá chegamos à conclusão que só os índios (e negros) sãocapazes de praticar o verdadeiro e ver-dadeiramente o so-cialismo. Por que? Óbvio, já o fazem há milênios, está no san-

gue, no gen, na cultura, na história, na memória, na prática cotidiana. Se um índio pesca um peixe, ele traz para a aldeia e divide com todo mundo, to-dos comem do peixe, é comum, é co-munismo puro. Só o índio e o negro são capazes de construir com sucesso um estado socialista com espírito so-cialista. Payayá então acrescentou: “Se Marx tivesse estudado a vida dos ín-dios com certeza não teria escrito “O Capital””. Não precisava. Entre os índios não existe propriedade privada, explora-ção, “mais valia”, “ópio do povo”, ju-ros, ganância, usura, lucro (logro), não existe escola nem uniforme, hospitais e asilos, hospícios, creches, pobres, ricos, bancos, miséria, latifúndio, cartéis, mi-lionários, prostituição, patrões, polui-ção, inflação, prisões, tráfico, farmácias, egoísmo, supermercados, shoppings, redes de tv, rádio e jornal, etc, etc.Marx não conheceu o avançado so-cialismo dos índios que rolou entre os Incas, em Canudos, em Palmares, entre os Astecas e os Guaranis, pela maioria dos povos de Abya-Yala. Tal-vez por isso muitos dos que se dizem de esquerda em todo o mundo prefe-rem (assim como a direita) continuar a matança dos índios do que aprender com eles. E perdem a cada instante a oportunidade preciosa e única de, fi-nalmente, conhecer e praticar os fun-damentos do socialismo. O jornal A Tarde ataca o grande chefe estadista Evo Morales porque o mes-mo faz, depois de muita exploração, massacre e miséria, a defesa e o resga-te da dignidade de seu povo tantas ve-zes roubado, humilhado, escravizado, espoliado. O senhor Renato Simões chama o presidente Evo Morales de “autoridade inexpressiva”, esculhamba com o nobre e valoroso povo bolivia-

no chamando-o de “arrogante” e “primitivo” ( jornal A Tar-de, domingo, dia 13/05/07,

capa). Pode isso? Um jornal pode atacar todo um povo irmão e a figura do seu mandatário supremo assim im-punemente? È permitido isso mesmo? Não há sanções? Limites? Então tá.Então pergunto mais. Quem é o real

primitivo? A burguesia selvagem e ociosa que o senhor Renato Simões representa com seus métodos cruéis de exploração, manipulação e lavagem cerebral das massas que ainda oprime e massacra? Quem é mesmo “autori-dade inexpressiva”, o presidente Evo Morales ou o despachante Renato Si-mões, que de tão medíocre e inexpres-sivo trabalha como “bibelô de jornal” às custas de torpes favores?Aviltante é o jornal A Tarde atacar de forma covarde e desavergonhada um país irmão como a Bolívia. O presidente Evo Morales é um índio, sim, gostem ou não os burgueses que até então mandaram e desmandaram, cometeram impunemente toda sorte de crimes contra os povos originais de Abya-Yala e África. Evo Morales é ín-dio, e boliviano, e socialista (ser índio (e negro) já é ser socialista), e isso é motivo de orgulho para todos nós que optamos pelo que somos de índio, de negro e de socialismo abya-yalano. E por ser índio nosso irmão de ALBA Evo Morales merece todo o nosso respeito e consideração, se além disso não fosse um chefe de estado. Morales está fazendo nada mais nada menos o que é de sua obrigação fa-zer, estancar a sangria das riquezas de seu povo, nunca beneficiado por elas, oportunizar uma vida mais digna e justa para quem só viveu explorado, massacrado impiedosamente no aban-dono e na miséria ao implantar na Bo-lívia o socialismo abya-yalano, o ver-dadeiro e único socialismo até então, herdado de seus antepassados índios. O Brasil devia ter vergonha de cobrar da Bolívia por duas refinarias com as quais explorou o povo irmão por dé-cadas de imperialismo “verde-amare-lo”, cópia abjeta do atual imperialismo norte-americano. O Brasil, através do presidente Lula, deveria doar (so-cializar) as refinarias e devolver pelo menos uma parte substancial do lucro que obteve explorando as riquezas do país irmão, ombreando-se à ladroagem internacional que também está sendo banida do território da Bolívia através do seu povo, nosso irmão, mais irmão ainda porque índio, porque negro, porque socialista, povo esse que final-mente conquistou o direito legítimo de se governar, o que já está acontecendo em vários outros países, inclusive o nosso ( e na Bahia), devolvendo aos legítimos donos o que lhes foi usurpa-do durante séculos pelos quadrilheiros internacionais e seus asseclas locais como o senhor Renato Simões. Evoé Morales, Evoé Castro, Evoé Chávez,

Evo é socialismo!Geraldo Maia

Poeta índio e negro

Existem certas músicas que, mais do que qualquer tratado acadêmico, representam e analisam uma determinada época.Começamos uma série para apresentar al-gumas canções que marcaram gerações.

Final dos anos 60Nessa época, embora se vivesse a ditadura militar, achava-se que os militares volta-riam para os quartéis se houvesse pressão social nesse sentido. Era um tempo de sonho, de achar que o mundo poderia ser mudado e que o povo unido venceria. Ne-nhuma canção marcou tanto essa época de esperança e crítica social quanto “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré.

“Caminhando e cantando e seguindo a canção Somos todos iguais braços dados ou nãoNas escolas nas ruas, campos, construçõesCaminhando e cantando e seguindo a canção. Vem, vamos embora, que esperar não é saberQuem sabe faz a hora, não espera acontecerPelos campos há fome em grandes plantaçõesPelas ruas marchando indecisos cordõesAinda fazem da flor seu mais forte refrãoE acreditam nas flores vencendo o canhão. Há soldados armados, amados ou nãoQuase todos perdidos de armas na mãoNos quartéis lhes ensinam uma antiga liçãoDe morrer pela pátria e viver sem razão.Vem, vamos embora, que esperar não é saberQuem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

Década de 70A história mostrou que os soldados não estavam tão perdidos assim, tanto que ar-ranjaram um jeito de continuar no poder. Todos sabem o restante do enredo: o AI5 fechou o Congresso, cassou políticos e eli-minou os direitos civis. Uma parte da es-querda acreditando que caminhando e can-tando e seguindo a canção, conseguiriam mudar a sociedade chegou à conclusão de que as coisas só mudariam através das ar-mas. Começaram as guerrilhas urbanas e rurais, ambas rapidamente sufocadas pelo regime militar. Sem ter o que fazer, os car-rascos voltaram sua atenção para qualquer um que discordasse do regime. A tortura chegou aos intelectuais e artistas. A morte do jornalista Herzog é sintomática desse período. Criou-se uma era de terror e qual-quer um podia ser a próxima vítima dos militares. No final dos anos setenta, embo-ra já houvesse indícios de que a democra-cia voltaria (inclusive com o governo dos EUA pressionando nesse sentido), ainda havia o medo. A música “Cartomante”, de Ivan Lins e Victor Martins (mas que ficou famosa na voz de Elis Regina) é a melhor representação desse período.

“Nos dias de hoje é bom que se protejaOfereça a face pra quem quer que sejaNos dias de hoje esteja tranqüiloHaja o que houver pense nos seus filhosNão ande nos bares, esqueça os amigosNão pare nas praças, não corra perigoNão fale do medo que temos da vidaNão ponha o dedo na nossa feridaNos dias de hoje não lhes dê motivoPorque na verdade eu te quero vivoTenha paciência, Deus está contigoDeus está conosco até o pescoçoJá está escrito, já está previstoPor todas as videntes, pelas cartomantesTá tudo nas cartas, em todas as estrelasNo jogo dos búzios e nas profeciasCai o rei de EspadasCai o rei de OurosCai o rei de Paus.”

Teka O´Neill

MúsiCA E poLítiCA

Page 16: Oxente Jornal - Edição 02 - 2007

www.caeba.org.br