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1 OVNI’s NA GARDUNHA, UMA QUESTÃO DE FÉ José Manuel Gonzalez Sottomayor (*) Nota prévia Torna-se imprescindível esclarecer desde já, que a sigla O.V.N.I. significa, definitivamente e apenas, as palavras “Objecto Voador Não Identificado”, ou seja, algo que se desloca no espaço aéreo mais ou menos próximo e que, devido a várias circunstâncias, não é possível identificar com qualquer “coisa” conhecida, mormente aeronaves mas também fenómenos ou situações pouco comuns. Esta designação aparece correcta quando interpretada por quem é conhecedor de todos os tipos de visualizações menos esclarecedoras. Somente se associa esta sigla a uma possível procedência não terrestre, quando todos os aspectos referentes ao sujeito, escapam plenamente a tudo o que é conhecido. Mesmo nesta circunstância, a procedência E.T. deverá ser sempre posta em dúvida. No entanto, para a quase totalidade dos cidadãos, quando se pronuncia a palavra “ovni” (neste caso já uma palavra/adjectivo e não uma sigla), fala-se e associa-se o “fenómeno/objecto” a algo exclusivamente extraterrestre! No decorrer deste trabalho, a sigla O.V.N.I. irá aparecer em inúmeras situações, muitas vezes como sendo algo fora da Terra (extraterrestre) e raramente como aquilo que de facto significa. INTRODUÇÃO Decorria o ano de 1978 e o C.E.A.F.I. (Centro de Estudos Astronómicos e Fenómenos Insólitos), estava no seu auge. Relatos de avistamentos de fenómenos aéreos incomuns, apareciam a um ritmo cada vez maior. Só nesse ano haviam dado entrada nos gabinetes dessa organização mais de 120 reportes, dando conta desses estranhos objectos(?) não identificados deslocando-se no espaço aéreo nacional, um pouco por todo o País. A grande maioria destes relatos que nos chegavam eram altamente duvidosos e sem o mínimo de credibilidade. Alguns deles, precisamente e apenas dois (2), na área da Gardunha, nomeadamente no Fundão e em Castelo Novo. Mas eis que, inesperadamente, surge num jornal quinzenário uma notícia bombástica; Mais de 500 OVNI’s em Portugal numa determinada região da Beira Baixa”. Embora a publicação em causa fosse um quinzenário dedicado a matérias do “fantástico e do misterioso”, tinha conteúdos com razoável credibilidade e alguns espaços jornalísticos bem fundamentados, o que acabava por contribuir para uma aceitação suficiente em termos dos media. Essa notícia aconteceu no “Nostra”, no seu 24º número de 28 de Outubro de 1978, ocupando a metade superior da sua front page. No interior desse referido jornal, entre as páginas 8 e 14 podia ler-se o “relatório” referente a essas fantásticas observações. Desde o dia 26 de Junho desse ano, até ao dia 8 de Outubro desse mesmo ano, num espaço de 80 dias (as observações não eram diárias), contabilizavam-

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OVNI’s NA GARDUNHA, UMA QUESTÃO DE FÉ

José Manuel Gonzalez Sottomayor (*)

Nota prévia

Torna-se imprescindível esclarecer desde já, que a sigla O.V.N.I. significa, definitivamente e apenas, as palavras “Objecto Voador Não Identificado”, ou seja, algo que se desloca no espaço aéreo mais ou menos próximo e que, devido a várias circunstâncias, não é possível identificar com qualquer “coisa” conhecida, mormente aeronaves mas também fenómenos ou situações pouco comuns.

Esta designação aparece correcta quando interpretada por quem é conhecedor de todos os tipos de visualizações menos esclarecedoras. Somente se associa esta sigla a uma possível procedência não terrestre, quando todos os aspectos referentes ao sujeito, escapam plenamente a tudo o que é conhecido.

Mesmo nesta circunstância, a procedência E.T. deverá ser sempre posta em dúvida.

No entanto, para a quase totalidade dos cidadãos, quando se pronuncia a palavra “ovni” (neste caso já uma palavra/adjectivo e não uma sigla), fala-se e associa-se o “fenómeno/objecto” a algo exclusivamente extraterrestre!

No decorrer deste trabalho, a sigla O.V.N.I. irá aparecer em inúmeras situações, muitas vezes como sendo algo fora da Terra (extraterrestre) e raramente como aquilo que de facto significa.

INTRODUÇÃO

Decorria o ano de 1978 e o C.E.A.F.I. (Centro de Estudos Astronómicos e Fenómenos Insólitos), estava no seu auge. Relatos de avistamentos de fenómenos aéreos incomuns, apareciam a um ritmo cada vez maior. Só nesse ano haviam dado entrada nos gabinetes dessa organização mais de 120 reportes, dando conta desses estranhos objectos(?) não identificados deslocando-se no espaço aéreo nacional, um pouco por todo o País.

A grande maioria destes relatos que nos chegavam eram altamente duvidosos e sem o mínimo de credibilidade. Alguns deles, precisamente e apenas dois (2), na área da Gardunha, nomeadamente no Fundão e em Castelo Novo.

Mas eis que, inesperadamente, surge num jornal quinzenário uma notícia bombástica;

“Mais de 500 OVNI’s em Portugal numa determinada região da Beira Baixa”.

Embora a publicação em causa fosse um quinzenário dedicado a matérias do “fantástico e do misterioso”, tinha conteúdos com razoável credibilidade e alguns espaços jornalísticos bem fundamentados, o que acabava por contribuir para uma aceitação suficiente em termos dos media.

Essa notícia aconteceu no “Nostra”, no seu 24º número de 28 de Outubro de 1978, ocupando a metade superior da sua front page.

No interior desse referido jornal, entre as páginas 8 e 14 podia ler-se o “relatório” referente a essas fantásticas observações. Desde o dia 26 de Junho desse ano, até ao dia 8 de Outubro desse mesmo ano, num espaço de 80 dias (as observações não eram diárias), contabilizavam-

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se 522 “fenómenos aéreos” (ovni’s = naves extraterrestres), vistos apenas por um privilegiado protagonista e com a “aprovação” da esposa, filha e dois vizinhos próximos.

O período dessas observações verificava-se em regra, entre as 21.00h e as 23.30h. Nesse curto espaço de tempo, houve dias em que a testemunha registou 14 a 16 “ovni’s!

Os investigadores do C.E.A.F.I., nomeadamente os da secção lisboeta, já tinham conhecimento que nessa zona do país se constava existirem fenómenos aéreos, mas cujos reportes não possuíam a credibilidade necessária para uma investigação profunda. Esta notícia, porém, justificava plenamente a atenção da organização.

A zona do país era a Gardunha e a testemunha de todos esses “ovni’s” era um cidadão que ali costumava passar os seus tempos livres.

Impunha-se uma tomada de posição frontal, esclarecedora e responsável. Uma notícia deste tipo só poderia ser aceitável se estivesse devidamente fundamentada.

Assim, conhecidos os elementos da direcção desse jornal (António José Maya responsável pela redacção), o elemento coordenador do C.E.A.F.I. em Lisboa, dirigiu-se à sede desse quinzenário no próprio dia em que a notícia foi divulgada, decidido a esclarecer os motivos e a credibilidade dessa notícia. Em termos de idoneidade seria completamente desastroso a publicação de uma notícia desse tipo, sem que para tal tivesse havido uma investigação séria, científica, desapaixonada.

Era óbvio que não tinha existido tal tipo de investigação. O jornal “Nostra” tentava ganhar audiências e vendas a todo o custo.

De imediato o coordenador do C.E.A.F.I. de Lisboa verificou não existirem as mínimas condições de cooperação e entendimento com esse jornal e pessoalmente cessou todo o tipo de colaboração.

Em pouco tempo se verificou que na Gardunha havia algo de anormal, mas não seriam decerto “discos voadores”.

Em posse da identidade do protagonista das histórias, tentou-se uma abordagem lenta e bem calculada, tendo como objectivo entender essa pessoa e ir até ao local dos acontecimentos para verificar in loco o que se estava a passar.

Só cerca de três anos depois, em 1981, os investigadores do núcleo de Lisboa viram reunidas as condições necessárias para uma deslocação até à misteriosa(?) Serra da Gardunha e ao embrião de toda a história e tirar tudo a limpo, sempre com o cuidado e a atenção que o assunto merecia.

Seria que, no meio de todos aqueles avistamentos duvidosos não existiria alguma “verdade”?

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Capítulo l

APRESENTAÇÃO

Situada numa das zonas mais intocáveis de Portugal, em plena Beira Baixa, longe das modernidades, com o seu quotidiano agreste, simples, sisudo, mas gentil e apaixonado, ergue-se uma das mais belas serras do país, a Gardunha. Numa paisagem bravia, ocupando uma área de dez mil hectares, inserida no maciço Hespérico, tendo, ali perto como sua companheira, a Serra da Estrela.

Orientada no sentido Sudoeste Nordeste, a Serra da Gardunha desenvolve-se em terrenos acidentados e nela nasce o Rio Ocresa, uma das razões para que, desde os tempos da pré-história, estes lugares tenham sido povoados. Disso são prova a existência de castros e incontáveis vestígios de pedras trabalhadas, certamente milenares, assim como marcas em rochas fazendo lembrar “tigelas” nelas escavadas.

Muitas rochas com essas concavidades, encontram-se espalhadas pelos locais mais elevados. Talvez para ali serem acesas tochas com finalidades diversas no âmbito militar. Talvez com outra qualquer serventia. Nunca me foi possível saber qual a real serventia dessas “concavidades na rocha”.

Por essa serra decerto, num passado mais recente, teriam passado Celtas, Visigodos, mais tarde Romanos e até os povos do norte de África, os Berberes, designados na gíria popular por Mouros, os povos que dominaram a Hibéria, durante séculos.

É muito possível ou quase certo, que Viriato, o célebre guerreiro “Lusitano” tenha andado com os seus homens por essas terras, mas no período da reconquista cristã, a caminho do sul, D. Afonso Henriques travou nesses lugares a célebre batalha de Oles, nas imediações de S. Vicente da Beira, de onde, como é óbvio saiu vencedor. Foi uma batalha determinante na conquista do território, hoje chamado Portugal.

O cronista Duarte Galvão descreve a fuga dos cristãos para a Serra da Gardunha, a fim de se abrigarem das hostes muçulmanas e do seu regresso às terras depois de terminada a ameaça.

A origem do nome “Gardunha” poderá ter três explicações, segundo os investigadores, sendo estas as principais:

-Poderá relacionar-se com um pequeno mamífero ali existente, que em língua hispânica se designa de “garduña”. Essa palavra surge do feminino de garduño, o mesmo que fuinha ou texugo. Um pequeno roedor muito abundante à época nesses lugares.

-Uma outra explicação é a de que, sendo devastada pelos povos Bárbaros a antiga Idanha, a Gardunha foi o refúgio dos moradores (guarda que significa acolhimento) e Odonha ou Odunha o mesmo que Idanha, daí que Guarda mais Odunha se tenham convertido em “Gardunha”, os povos da Idanha refugiados (guardados).

-Talvez a explicação mais aceite se baseie na história militar e nas condições logísticas e do terreno, dado que essa zona teria sido constantemente palco de contendas. Deste modo, Gardunha advêm do vocábulo composto Gardunha, cujo elemento Guarda (Garda), significa ponto de vigia/atalaia, em tempo invasões e de guerras, na disputa de territórios. Curiosamente, hoje ainda existem dois importantes povoados na zona da Serra a Este do pico da Penha, distando deste, cerca de 7.500m. São a Póvoa da Atalaia e Atalaia do Campo, com 1017 e 856 habitantes, respetivamente, nos inícios dos anos oitenta do séc. XX.

Apenas cerca de 1.000m separam estas duas localidades.

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A Serra da Gardunha situa-se nos concelhos do Fundão e Castelo Branco, tendo à sua volta várias freguesias que em inícios dos anos oitenta do século XX (época em que foi investigada pelos elementos do ex-CEAFI de Lisboa), contava com cerca de 43.500 habitantes, numa média de 68,5 habitantes por Km2.

Fundão, Alpedrinha, Alcongosta, Aldeia Nova do Cabo, Donas, S. Vicente da Beira, Louriçal do Campo, Castelejo, Casegas, Vale de Prazeres, Lavacolhos, Póvoa da Atalaia, Soalheira, Castelo Novo, Atalaia do Campo, Bogas de Baixo, Bogas de Cima, Peso, Barco e muitas outras povoações são exemplo da permanência constante de gentes nesse lugar, ainda nos dias que correm, apesar de algum esquecimento a que se encontram votados.

O ponto mais elevado da serra encontra-se assinalado pelo marco geodésico de primeira ordem, à cota de 1227m. Para Sul deste ponto encontra-se um cume denominado Castelo Velho a 1051m de altitude. Para Nordeste fica o Pico da Penha a 1176m, onde gigantescas rochas caídas umas sobre as outras, formam uma espécie de gruta que o povo designou de templo, onde se venerava a Nª. Srª. da Serra, também conhecida localmente como N. Srª. da Penha.

Mais acima do Pico da Penha ergue-se o do Cavalinho, a 1155m e a cerca de 1100m deste ponto situam-se as antenas retransmissoras de rádio e televisão, a 1059m de altitude, a Sudeste do ponto anterior.

DADOS GEOLÓGICOS

(REGIÃO DA GARDUNHA E ARREDORES)

Da zona de Alcongosta e toda a vertente que contorna a parte Oeste e Norte da serra:

-Zona do Precâmbrico de Xistos-Arenitos-Porfiróide (complexo Xisto-Grauváquio), com rochas Metamórficas (séries afectadas por metamorfismo de contacto). Nascentes minerais na zona de Aldeia Nova do Cabo.

De Sobral do Campo a Alpedrinha, área de Castelo Novo, vertente Sudeste/Este:

-Zona de rochas eruptivas Hercínicas, Pós-Estefanianas de Granodioritos e Granitos Nordmarquíticos. Nascentes minerais em termas de Touca (Alpedrinha) e de Castelo Novo (Águas do Alardo).

-Inexistência de falhas tectónicas num raio de cerca de 20Km a partir do marco geodésico dos 1227m.

-Explorações mineiras de Tungsténio, Estanho e Cobre, a funcionar na zona da Panasqueira (Aldeia de S. Francisco de Assis), a cerca de 21Km para Noroeste do marco geodésico dos 1227m.

-Exploração mineira abandonada de Tungsténio e Estanho, nas minas de Argemela, a cerca de 3Km para norte do lugar de Lavacolhos.

Numa zona bastante mais vasta, estendendo-se no sentido Sudoeste/Nordeste, e que se situa perto da Guarda, encontram-se vários filões de Quartzo, os mais próximos a cerca de 30Km do ponto mais elevado da Gardunha (1227m). Aí existem também várias rochas Eruptivas Alpinas. Nesta mesma área existem, por seu turno, algumas explorações mineiras importantes, que embora já afastadas da Serra da Gardunha, importa referir. A primeira em Aldeia do Mato, a 38Km para Nordeste, de Estanho e Titânio. Na mesma direcção, mas a 42km, perto de Seixo

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Amarelo, minas de Estanho. A 44Km, perto da povoação de Vela, existem minas de Lítio e a 56km da Gardunha, minas de Urânio, perto de Faia.

Minas de Urânio já em localidades do distrito de Viseu:

-Canas de Senhorim, a cerca de 57Km da Serra.

-Cunha Baixa, a cerca de 59Km da Serra.

-Ferreirosa, a cerca de 60km da Serra.

De referir a existência de inúmeros linhas de água e cursos de água com alguma importância; Rio Ocreza, Ribeira de Alpeadre, Ribeira da Gardunha, Ribeira da Srª. da Orada, Ribeira do Barbado ou Barbudo, assim como muitas nascentes, represas, tanque e poços.

CLIMA, FAUNA E FLORA

Zona de micro-clima, geralmente húmido, mas com características particulares consoante a região a altitude e a época do ano, como seria de calcular numa área serrana.

Em tempos idos, o lobo dominava toda a serra. Infelizmente já assim não acontece nos dias de hoje. Se procurarmos informações sobre a fauna actual, não iremos encontrar o que existia há menos de meio século e muito menos, em tempos mais remotos, mas considera-se ainda que na Gardunha existe o gamo, o javali, o corço e a raposa. É provável que ainda se encontrem texugos, martas, lontras e coelhos.

Certamente encontrarão répteis, como a cobra vulgar, a víbora (mordedura letal-aplicação de antídoto 6 horas), o sardão, lagartos e osgas, assim como algumas aves; bufo, águia real, milhafre, corvo, perdiz, garça, melro, rola, gralha e algumas aves não residentes. Na classe dos anfíbios, as rãs e os sapos.

Quanto aos insectos, são inúmeros, destacando-se o lacrau, cuja picada é muito dolorosa, mas raramente letal, assim como abelhas e vespas. Aranhas, formigas, escaravelhos e até “joaninhas”, para além do gafanhoto, dos grilos e raramente as cigarras. Pirilampos e carraças existem também.

Da flora primitiva, pouco existe, embora haja exemplares desses tempos um pouco à sorte. Na serra da Gardunha, a partir dos anos setenta, entre os 500m e os 900m de altitude começou a plantar-se a cerejeira e tudo o resto é mato e afloramentos de rocha.

A cereja e a abrótea (Asphodelus Bento-Rainhae), são as grandes plantações da Gardunha. A cereja por ser de excelente qualidade e a abrótea pelas suas propriedades curativas e pela sua raridade. Este tubérculo existe apenas na vertente Norte da serra, entre as povoações de Alcaide e Souto da Casa, numa extensão de aproximadamente 4Km2.

Espécie única no mundo, a abrótea é uma planta da família das Liliáceas. O suco deste tubérculo é utilizado no tratamento de infecções cutâneas, daí a sua importância.

Desde o reinado de D. Dinis (1279-1325) que se procurou harmonizar a cobertura vegetal da serra introduzindo o castanheiro, que perdurou e se tornou na árvore emblemática da Gardunha, até ao seu quase completo desaparecimento, graças à desmesurada acção humana (a castanha como fonte de alimentação) e aos incêndios, que também devastaram grandes áreas de pinheiro (Pinus Pinaster) e de sobreiro.

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CASTELO NOVO

A povoação de Castelo Novo, o aglomerado populacional mais importante na área da Serra da Gardunha, situa-se no “coração” dessa serra e deverá ser o burgo mais antigo da região.

Implantado na vertente Sul dessa serra, junto da ribeira de Alpeadra, foi um concelho próspero e é hoje uma freguesia com uma população pequena e envelhecida (619 habitantes nos inícios dos anos oitenta).

O povoamento disperso da zona serrana e das planícies envolventes data do período proto-histórico, porém, foi com a romanização que, a partir do séc. I que se estabeleceu uma ocupação sistemática com a proliferação de villas rústicas que viriam mais tarde a dar origem aos casais agrícolas da Alta Idade Média.

O núcleo de povoamento medieval mais antigo situa-se no sítio do Castelo dos Mouros.

Em 1202, D. Sancho I atribuiu foral à vila de Alpeadra que mudou o lugar de fundação e o nome para Castelo Novo. D. Paio Gutierrez foi o seu primeiro alcaide que fez doação de grande parte dos seus bens territoriais à Ordem dos Templários, passando esta a beneficiar de todos os rendimentos locais e a promover o povoamento e a exploração económica.

D. Manuel I deu foral novo à vila em 1510, reconhecendo a autonomia do concelho que se haveria de manter até à sua extinção e incorporação no concelho de Alpedrinha em 1835 e, posteriormente, no do Fundão em 1855.

A estrutura orgânica deste antigo aglomerado, mantém uma fisionomia medieval com o lugar do castelo e o largo da câmara. Esta provavelmente do tempo de D. João V, dado que as suas armas encimam o portal do edifício e o castelo com a sua imponente torre de menagem, (servindo de torre do sino) e conservando ainda algumas muralhas. Teria sido construído no tempo de D. Sancho l.

Existem contudo outras referências importantes, como a igreja matriz de raízes medievais e que foi totalmente renovada em 1732. Com um traço arquitectónico Pombalino, possui um interior de tipo barroco de singela beleza.

A casa da família Falcão, construída em 1616 é considerada o mais belo edifício particular da povoação.

A Capela de Santo António, o chafariz e o pelourinho são outras obras a reter, para além da Lagariça, no centro urbano. Trata-se de uma enorme rocha que aflora do chão, a qual possui uma concavidade de dimensões apreciáveis que segundo a tradição, servia para a pisa das uvas. A sua idade é impossível de calcular.

Nas proximidades de Castelo Novo, a menos de 800m das “portas da vila”, do lado esquerdo da estrada, encontra-se isolada de todo o resto, a capela de S. Brás do século XVl. Um edifício Templário (Ordem de Cristo) de uma simplicidade e sobriedade única, ostentando a cruz de Cristo no topo do portal.

Nas proximidades existe um cabeço denominado de Forca. Aí vislumbram-se os restos de uma antiga forca e esculpidas na rocha vêem-se caveiras, tíbias e outros sinais alusivos ao que ali se praticava.

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LENDA DA SENHORA DA PENHA

Conta a tradição que a lenda perpetua, a história prodigiosa de uma mulher de Alcongosta e de sua filha de tenra idade. Indo ambas pelos caminhos da serra, eis que a menina se perdeu. Desesperada, a mãe tentou encontrá-la, sem resultado. Voltou a mulher ao seu povoado, pedindo auxílio aos seus vizinhos. Com eles, percorreu a serra infestada de lobos e ao fim de três ou quatro dias, julgando-a morta, a encontraram dentro da gruta da Srª da Penha (Srª. da Serra), uma pequena caverna formada por rochedos. Estava bem e com boa aparência. Todos ficaram admirados pois junto à menina estava uma imagem perfeitíssima de Nossa Senhora que resplandecia, iluminando todo aquele local. Teria sido ela, segundo palavras da criança que, durante esses dias a teria alimentado, dando-lhe sopas de leite e água.

Esta lenda perde-se no tempo e não é possível datá-la com precisão. Frei Agostinho de Santa Maria, na sua obra “Santuário Mariano, Tomo lll de 1711 (século XVlll)”, faz referência a este orago e mais tarde, em 1967, o padre Jacinto dos Reis, no seu livro “Invocações de Nossa Senhora em Portugal de Aquém e Além-mar e seu Padroado“ volta a referir-se a este orago na página 282, desligando-a como Nª. Srª. da Gardunha e na página 561, como Nª. Srª da Serra.

A cada uma delas, o autor refere uma história que pode ser interpretada de modo diferente e não fala da história do milagre da menina, mas trata-se do mesmo orago.

Entretanto, o advogado e escritor Hippolyto Raposo, em 1917, no seu livro “Outro Mundo”, ao escrever contos e lendas da região Beirã, refere a lenda da menina perdida na Serra da Gardunha (pág. 81 e 82) que o povo chamaria também de N. Srª. Aparecida.

Curiosamente, no livro do padre Jacinto dos Reis, N. Srª Aparecida é orago em algumas regiões do norte e também do Brasil (pág. 55 da sua obra), não fazendo analogias com a da Serra da Gardunha.

Capítulo ll

O FASCÍNIO DA SERRA

O protagonista desta longa e incrível história chamava-se Américo dos Santos Duarte. Em 1956, por mero acidente de percurso, passa pela Beira Baixa, fica a conhecer a vila de Castelo Novo e depara-se com a majestosa Serra da Gardunha. De imediato se apaixona pelo local. A beleza natural, a quietude do lugar e tudo o que lhe está envolvente, deixam-no prisioneiro.

Deslocava-se com a sua família (mulher e filha) com outro destino, mas o destino levou-o para esse “encanto”, como costumava dizer.

Conheci pessoalmente o sr. Américo em Outubro de 1978, poucas horas depois de ter cortado relações com os responsáveis do jornal “Nostra”, por via da notícia dos 500 ovni’s. Morava eu, por essa altura na Venda Nova, às Portas de Benfica em Lisboa.

Vagamente me tinha sido informado que esse sr. tinha sido motorista da Carris, mas parece ter sido motorista de uma empresa, o que para a história, pouco importa. Era um autodidacta em questões de História Universal, mas à sua particular maneira.

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Esse primeiro contacto, por ser importante, descrevê-lo-ei mais adiante. Saltarei para a sua situação na Gardunha.

Por essa mesma altura, o sr. Américo já havia comprado uma casita em Gândaras (cota dos 475m), perto da estrada que liga Castelo Branco à Covilhã a poucos metros da estação ferroviária de Castelo Novo, a menos de 3Km dessa vila, ou seja, cerca de 30 minutos a pé.

De referir que a vila de Castelo Novo em relação à casa do sr. Américo, fica no início da encosta Sul a cerca de 650m de altitude, à direita de Gândaras e bem visível.

Essa casa, que ainda hoje existe, tem o nome de “Casa Flôr do Vale” e a vista sobre a Serra é realmente soberba. Pode-se, desse ponto, vislumbrar praticamente toda a Serra da Gardunha.

Em noites serenas, num local quase que completamente despoluído, a visão do céu é soberba e capaz de esmagar qualquer um.

Nitidamente visível a Via Láctea e milhares de pontos luminosos, estrelas na sua maioria e os nossos companheiros planetários, mas também, como é óbvio, aeronaves comerciais (voos urbanos, de médio curso e de longo curso – altitudes variáveis, rumos variáveis e aspectos também variáveis), satélites artificiais de vários tipos e com rotas diversas, fenómenos astronómicos de visibilidade e comportamento diverso, como são o caso frequente dos meteoritos.

Tudo isto é possível observar naquele céu tão negro, mesmo em noites de Lua cheia, mas é necessário distinguir os objectos observados.

Sem ser psicólogo mas conhecendo um pouco da personalidade do sr. Américo, adivinha-se o impacto que a paisagem nocturna lhe teria causado e as interpretações que teria feito. O mistério, o fantástico, a imaginação o fascínio criaram aos poucos tudo o resto. Para ele haviam “agora” respostas que antes não existiam.

Os mitos e as lendas começaram a misturar-se em coisas reais. A imaginação, a fantasia e o desejo fizeram-no ficar cego a tudo o resto, não admitindo quem o contrariasse.

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Animado com a reacção do jornal “Nostra” relativamente às suas observações nocturnas e às suas histórias, sem que tivesse havido por parte do jornal uma investigação séria e a devida certificação, significava que alguém acreditava nos seus relatórios e nas suas naves extraterrestres, sem as pôr em dúvida.

Esta atitude dava-lhe a garantia de credibilidade e aceitação sem discussão, dos seus argumentos. Algo de muito importante para o seu ego.

Logo mergulhou em espirais de fantasia e cada vez mais convencido de que as suas histórias eram verdades irrefutáveis.

Tentou, no terreno, convencer vizinhos e familiares, que mais tarde pude entrevistar e perceber que essas pessoas, para não criarem conflitos de má vizinhança, aceitavam sem grande discussão as suas opiniões.

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Foi nesse clima que me encontrei com o sr. Américo na Venda Nova/Lisboa, nessa noite de fins de Outubro de 1978.

Recordo-me perfeitamente de lhe ter telefonado com o intuito de saber se poderia ser recebido por ele, ao que concordou de imediato. Disse-lhe que era membro do C.E.A.F.I., que era investigador e que desejava ter com ele uma conversa sobre os “fenómenos” descritos no jornal. Ficou decidido que o encontro poderia ser em sua casa, depois do jantar.

A experiência dizia-me que esse encontro poderia não ser fácil. O assunto estava praticamente resolvido e a prova-lo, a notícia já publicada. Tudo dependia da pessoa que iria conhecer.

Resolvi, por isso, levar comigo algum material de investigação de campo; guia de observação geral, manual de observação de estrelas, mapas com as rotas de voos domésticos e internacionais, material sobre satélites artificiais, seu aspecto e comportamento, variadíssimas normas de procedimento, etc., etc., etc..

Chegado a sua casa, um pequeno prédio térreo com um portão e uma escada de pedra, premi o botão da campainha. Ao segundo ou terceiro toque, volvidos alguns minutos, abre-se uma janela e uma senhora pergunta-me quem sou e o que desejo.

Mau começo, pensei de imediato!

Algum tempo depois subo a escada e a senhora que eu vira, estava agora à porta meia aberta. “O senhor Américo está lá no quarto à sua espera”.

Confirmei mentalmente que o começo do encontro era de facto estranho, no mínimo.

Carregado com dois pesados envelopes cheios do material já descrito, percorri um estreito corredor atrás da senhora que abriu uma porta à esquerda e disse secamente ser ali que o sr. Américo me esperava.

Homem de mediana altura, magro, rosto anguloso, olhos expectantes e pouco amistosos, aspecto geral frio, austero, nada simpático.

“Afinal o que é que quer?”

Foram mais ou menos as suas palavras.

Respondi-lhe quem era e ao que vinha.

“Telefonei-lhe para marcar este encontro, o senhor concordou, aqui estou”.

Com um gesto brusco, indicou-me a porta entreaberta do tal quarto. Entrei e fiquei de pé ouvindo o seu discurso.

Com detalhe foi-me pondo ao corrente das suas observações, mostrando-me os seus relatórios e desenhos do local, da Serra em pormenor e da importância dos seus avistamentos. De vez em quando, interferia com todo o cuidado, na vã tentativa de lhe explicar que porventura existiam ali algumas deficientes observações. Aeronaves em rotas de longo curso, satélites artificiais.

Verifiquei, cerca de hora e meia depois, ser muito difícil, não só um diálogo racional, como também fazer-me ouvir.

A cada argumento meu, o sr. Américo via uma ameaça à sua história fantástica.

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A custo, devo confessar, não me alterei perante os berros e gesticulações da testemunha, mas decidi pôr termo à conversa, entregando-lhe o material que levava, rematando que já era uma hora tardia. Lembro-me ter-lhe dito que naqueles envelopes estavam documentos importantes para executar uma observação eficiente.

Com nítido desprezo, o Sr. Américo atirou com os dois envelopes para cima da cama, apontando-me a porta, com um “boa noite”, bastante azedo.

Não desejando perder o seu contacto, disse-lhe que no caso de querer falar de novo no assunto com mais calma, me poderia telefonar ou passar pelo café “Scala”, na Venda Nova, perto das Portas de Benfica, onde aos sábados de manhã me costumava reunir com o pessoal do C.E.A.F.I..

Regressei a casa deveras desapontado. No meu curto percurso de investigador, nunca me havia acontecido nada de semelhante. Resignado com o resultado desse contacto, comecei a pensar no perfil dessa testemunha, assaz fora da normalidade, concluindo que os papeis se haviam invertido completamente. De um lado aquilo que me pareceu ser um visionário convicto, sem qualquer formação mas avalizado por um jornal de crédito duvidoso e por outro lado um homem conhecedor da matéria. O primeiro era o verdadeiro investigador e o segundo apenas um elemento nocivo (eu)!

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Passaram-se alguns meses depois desse encontro com o sr. Américo dos Santos Duarte. Sobre ele e sobre todas as suas histórias, os meus “colegas” e amigos, Fernando Jorge Torres, Luis Alberto, Jorge Carvalheira e Luis Cabrita, estavam a par, mas o assunto não mereceu demasiada atenção do grupo, apenas suscitou os normais comentários e estratégias futuras, em caso de novos desenvolvimentos.

Porém, numa bela manhã de um qualquer sábado dos inícios de 1979 (lembro-me de ser Primavera), estando como de costume os investigadores do C.E.A.F.I. reunidos no café de referência, eis que pela porta nos surge a figura do sr. Américo.

Vi-o, com os seus olhos penetrantes percorrer todas as mesas à minha prucura. Levantei-me e com um sorriso forçado ergui o braço e chamei-o.

“Sr. Américo, estamos aqui”.

Sorriu também e aproximou-se. Feitas as apresentações, convida-mo-lo a sentar-se connosco. Assim aconteceu, na maior das tranquilidades. Transportava algo consigo. Uma pequena caixa de plástico transparente que guardava entre as mãos, com uma avidez visível.

De imediato se prestou a esclarecer que o conteúdo dessa caixa continha “coisas” que havia recolhido durante as suas frequentes caminhadas serra acima.

Com extremo cuidado, abriu a tampa da caixa e deixou ver alguns pedaços do que parecia metal enferrujado. Pequenos pedaços sem forma definida. Não eram moedas ou algo comum. Eram pedaços sem identificação possível, fora de um laboratório. Podiam ser tudo e nada de especial.

Perguntamos o porquê de tanto cuidado e mistério relativamente a esses pedaços metálicos, com poucos milímetros de tamanho. Podiam ser mil coisas.

As suas palavras nunca as vou esquecer:

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“Isto são coisas de metal que eu ao longo dos tempos tenho vindo a encontrar nos caminhos da Serra da Gardunha. Quem deixou isto ali? Isto quer dizer que alguém anda por ali, estou certo?”

Todos nós ficamos mudos, enquanto o nosso interlocutor nos olhava fixamente à espera de uma resposta. Como ela tardasse, num gesto brusco fechou a caixa, pôs-se de pé e disse:

“Já vi que aqui ninguém percebe de nada!”

Dizendo isto, saíu porta fora resmungando furioso.

A partir daquele momento, as relações C.E.A.F.I. Lisboa e o sr. Américo ficaram bem azedas!

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Os investigadores de Lisboa sabiam que o assunto “Gardunha” dominava em boa parte, o quotidiano da sede dessa organização no Porto, mormente na vasta correspondência que existia entre o “homem dos ovni’s” e o director desse centro, Joaquim Fernandes, na altura jornalista do Jornal de Notícias.

Uma correspondência a “dois tempos”, dado que no Porto se continuava a manter um contacto de circunstância, de um assunto sempre interessante, mesmo que mais não fosse, motivo suficiente para futuras pesquisas. Para o remetente, o asunto era sério pois tratava-se de informação extremamente importante,que devia ser admitida sem rodeios. Para o C.E.A.F.I. Porto, essas cartas apenas serviam para estar a par das actividades do observador e para as arquivar em lugar próprio.

Ao fim de dois anos de correspondência, o dossiê “Gardunha” possuia 209 páginas dactilografadas, com mais de uma dúzia de desenhos e muitas notas marginais explicativas.

Depois dos tais “500 ovni’s”, a senda continuava. Em 1979 e inícios de oitenta, os objectos observados pelo sr. Américo, cada vez eram mais visíveis e “palpáveis”. Observações muito próximas de objectos voadores não convencionais, estruturados e de dimensões muito razoáveis.

Curiosamente só essa testemunha os via e os descrevia dessa forma. Os responsáveis da sede Portuense do C.E.A.F.I., nunca analisaram esses estranhos casos. Iam-nos coleccionando à medida que iam dando entrada. Nunca ninguém parou uns momentos para avaliar essa situação.

Esse vasto dossiê (obra exclusiva do sr. Américo dos Santos Duarte) está completamente contaminado pelos seus sonhos, desejos e confusões.

Entretanto, a equipa de investigadores de Lisboa soube que, à revelia, alguns membros do grupo nortenho e elementos franceses, à socapa, numa acção “secreta”, teriam ido à Gardunha e contactado com o sr. Américo.

Houve alguma especulação sobre esse assunto, mas o pessoal de Lisboa preferiu ignorar o acontecimento, visto que se tinha levantado um grande silêncio sobre a questão e, para evitar desavenças internas, a “coisa” morreu, temporariamente, por ali.

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O “contactado” (viria mais tarde a ser assim catalogado), à medida que o tempo passava, ia contando histórias cada vez mais bizarras. Começando por afirmar ter contactos fortuítos com criaturas alienígenas, construindo cenários rocambolescos.

Triangulações imaginárias ligavam a Gardunha a Fátima e a Tomar, num especial e esotérico lugar único no planeta, onde as forças do bem e do mal se degladiavam, onde os confrontos do passado, presente e futuro se jogavam.

A Serra da Gardunha seria o grandioso santuário dos irmãos vindos do cosmo.

Tudo isto transparecia da pessoa do sr. Américo dos Santos Duarte.

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Entretanto, para o pessoal de Lisboa, os meses iam passando, mas o assunto Gardunha continuava em “stand by”. Naturalmente que para um investigador, mesmo os assuntos mais duvidosos e estranhos, não são encerrados definitivamente. Outras preocupações, contudo, mais importantes no desempenho das funções de um investigador, como a preparação técnica e a necessidade de criar uma equipa de campo capaz de, no terreno, entender o que as pessoas diziam ver, eram o assunto prioritário nesse momento.

O estudo e pesquisa “ovni”, no país e no mundo, não se podiam resumir à Gardunha e a histórias de visionários.

Outras zonas de Portugal pareciam ser palco de sucessivos eventos aeroespaciais estranhos e por essa razão mereciam igual interesse. Eram os casos de Odiáxere, Telhal, Caparica, Alentejo (vários locais) e mais uma porção deles.

Foi no entanto, em meados de setembro de 1980, que surgiu um novo contacto com o sr. Américo. Um telefonema do director do C.E.A.F.I., pedia a nossa intervenção para o mais recente caso vivido por esse senhor, tendo como cenário a Serra da Gardunha.

Era um caso recente, vivido por ele no dia 8 de Setembro desse ano (1980), e que ficou registado nos arquivos do CEAFI-Lisboa com o número 800908.036, não fazendo parte, por isso, do dossiê que hoje se conhece!

O encontro aconteceu e, pela primeira vez lhe foi feito um inquérito específico. Tratava-se de umas pequenas luzes (duas), que segundo a testemunha teriam sobrvoado a serra a pequena altura numa noite de boa visibilidade. Teriam pairado no cimo da serra e depois, as duas a par, teriam descido serra abaixo. Curiosamente em dia de festa em Castelo Novo!

Lembro-me de lhe ter dito que esse “fenómeno” podia apenas ser uma coisa normal, dado que esses dois pontos luminosos talvez fossem os faróis de uma viatura (Bombeiros ou GNR), que de vez em quando subiam a serra até ao posto de vigia de incêndios, no sentido de verificarem se os vigilantes estavam mesmo alerta. O evento descrito tinha-se passado a 8 desse mês e o posto de vigia continuava activo, por isso ser muito natural ter acontecido essa ronda.

Mais uma vez o Sr. Américo ficou irritado com esta sugestão e acabou por ir embora.

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Nos inícios dos anos oitenta, uma deslocação até à Gardunha, partindo de Lisboa e sem meio de transporte próprio, não era tarefa muito fácil. Significava mais de sete longas horas de combóio. Desde S. Apolónia até à estação de Castelo Novo. Da meia-noite até ao raiar da aurora. Era preciso, de facto, muito boa força de vontade.

Estava decidido. A equipa do C.E.AF.I. de Lisboa iria passar uns dias à Serra da Gardunha, muito perto da moradia “Flor do Vale”, onde se encontrava o sr. Américo. O local escolhido ficava a uns 700m da estação, nos terrenos do Carvalhal, onde a D. Conceição nos deixara acampar.

Esta intervenção aconteceu entre os dias 3 e 5 de Outubro de 1981. Da equipa faziam parte para além da minha pessoa, Fernando Jorge Torres, Luis Cabrita e Luis Filipe. Como sempre acontecia em situações semelhantes, interrogamos vários populares, no sentido de apurar o que por ali estava a acontecer. De referir que todas as pessoas interrogadas eram vizinhos do sr. Américo.

Como não o haviamos informado da nossa intenção de nos deslocarmos à Gardunha, este ficou espantado quando nos viu e correu a saber o porquê de ali estarmos. Aproveitou de imediato a nosso presença para nos mostrar que a panorâmica da serra vista daquele local, não era somente um monte de pedras. Ele via, tal como nos disse “na rocha, abaixo do cabeço, um sinal. Uma rampa em forma de S que desce a encosta em curva e contra curva, terminando numa cruz gigantesca ao chegar ao sopé da montanha. É a rampa de iniciação à veneração da deusa Ísis”.

Em poucos minutos falou-nos de todo o imaginário que até essa data havia construido. Uma amálgama de histórias e lendas dispersas, onde os extraterrestres apareciam como que num regresso programado às ancestrais origens.

Decidimos, depois do acampamento montado, ir até à vila de Castelo Novo. Dois elementos apenas, eu e o L. Cabrita. Fomos a pé pela estrada regional. Passamos pela capela Templária, atravessamos a ponte do rio Alpreade e entramos vila acima. Tudo calmo e muito pouca gente. Perguntamos por um café, na esperança de beber algo fresco, mas cafés não os havia.

“Experimentem ali na mercearia. Costumam ter água fresca.”

De facto a vila é encantadora e as vistas soberbas, não tão abrangentes como as de Gândaras de onde se vislumbra toda a totalidade da serra, mas mesmo assim de reter.

Falamos com todos os que encontramos e a resposta sempre idêntica;

“O sr. Américo? Esse que vê ovni’s? Aqui ninguém viu nada, a menos que eu não saiba!”

Nas redondesas ninguém havia visto algo de anormal, mas todos foram unânimes em afirmar que o sr. Américo via coisas! Isso foi um facto que começava a comprovar antigas suspeitas.

Depois de regressarmos ao acampamento e de um ligeiro jantar, apareceu-nos o sr. Américo convidando-nos a ir até sua casa para vermos “uma coisa”. Cinco minutos depois, já ao entardecer, chegamos à “Flor do Vale”. O sr. Américo aguardava-nos para nos contar mais uma das suas histórias. Acontecera uns tempos atrás quando noite alta, já dentro de casa preparando-se para a deita, lhe chegou aos ouvidos um ruído estranho vindo de fora. Foi ver e deparou-se com uma figura de tipo humanóide, que rapidamente se sumiu. Alterado, percorreu o quintal, mas não viu mais nada. Na manhã seguinte reparou que o tampo de uma mesa tinha

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uns pequenos furinhos. Observou com atenção esses incisões na madeira e “viu” ali um sinal. O alienígena da noite anterior teria gravado no tampo da mesa a constelação estelar de onde teria vindo.

Perante esta história, eu e os meus colegas entreolhamo-nos, esboçamos um discreto sorriso e acabei por ser eu a quebrar o silêncio:

“De facto isso é muito interessante” – Respondi.

Mostrou-nos o tampo da tal mesa e de facto, nela existiam uma série de pequenos furinhos. Pareciam feitos com uma agulha ou algo semelhante, contudo nada de espantar. Qualquer um poderia ter feito aquilo.

Dois dias depois regressávamos a Lisboa com uma experiência nova na manga e com a certeza quase absoluta que teríamos que tirar tudo aquilo a limpo. O sr. Américo, no entanto, perdera mais uns pontos!

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Mais uma vez se comprovava a necessidade de existir uma equipa de campo, capaz de fornecer respostas sobre um enigma que, como todos, passam também pelo cérebro humano.

Havia de facto necessidade de deixar para trás a comodidade de um gabinete, dos imensos dossiês, de montanhas de papelada e de trabalho “virtual”, de hipóteses teóricas, nem sempre correctas e de estratégias desenhadas mesmo no imaginário racional. Acções puramente programadas, não são a melhor maneira de proceder a uma investigação.

Tal como um polícia incorruptível, um investigador de fenómenos anómalos, tem que proceder sujeito à mesma “cartilha” e a idêntica disciplina. Investigar com toda a racionalidade e isenção, baseado no concreto, no conhecimento científico e na experiência. Existe aquilo a que se chama de “um sexto sentido” e isso é extremamente importante para um investigador, qualquer que seja a sua área. Assim, não era um projecto mecânico, mas flexível, onde se deveria ampliar o leque de procedimentos.

Foi assim que se alicerçou a equipa de campo do C.E.A.F.I. Lisboa.

Até aí investigava-se aquilo que os outros diziam ver. Impunha-se uma acção contrária, ir para o terreno tentar ver ou perceber o que os outros afirmavam ter detectado. Antecipadamente os dados recolhidos até esse ano, indicavam haver muito poucos casos de alta credibilidade e estranheza, mas mesmo com esses índices, havia que ir para o terreno e “sentir”, nessa atmosfera, aquilo que enchia os nossos dossiês.

Uma futura e próxima deslocação à Serra da Gardunha deveria contemplar um novo plano, mais directo, mais amplo em termos de tempo e de possuir equipamento capaz de captar e registar anomalias físicas.

Durante um ano, os elementos de Lisboa viraram as suas atenções para aquilo que podia ser possível criar para atingir os objectivos em causa. Instrumentos de captação e registo de variáveis electromagnéticas, luminosas, rádio-frequências e imagens em várias gamas do espectro.

Horas e horas de debates de ideias, de procedimentos. Como comunicar com as populações serranas, quais os locais onde incidir atenções? Na zona das antenas, no cabeço da Penha, junto ao posto de observação de incêndios ou em outro qualquer local?

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Devo aqui referir com toda a justiça, o apoio técnico do nosso amigo António Jorge Carvalheira (engenheiro electrotécnico) e um perito em rádio-amadorismo. Um elemento da equipa cuja ajuda e pareceres foram de grande valia.

A equipa de campo do C.E.A.F.I. Lisboa, estava preparada para ir para o terreno depois de um ensaio em terras do interior Algarvio.

A segunda incursão à Gardunha efectuou-se em Setembro de 1982. O mesmo trajecto de combóio, mas dessa vez com paragem em Alpedrinha (1471 habitantes na altura), a estação ferroviária logo a seguir a Castelo Novo.

O destino era um lugar próximo das antenas de retransmissão, dado que esse seria um potencial “íman”, segundo as observações descritas pelo sr. Américo.

A subida até esse lugar a cerca de 980m de altitude, significava uma ascenção de cerca de 420m relativamente à vila. Uma subida quase a corta mato que demorou mais de 4 horas. Uma penosa escalada, já que a fizemos com todo o material às costas. Tendas, roupa, mantimentos, água, aparelhagem, etc..

Dessa vez também não informamos ninguém, exceptp a GNR, como de costume.

Falamos com a população e especialmente com o sr. Gabriel, guarda florestal, que não referiu qualquer tipo de actividade estranha quer na serra ou no espaço próximo. Esse senhor e família vivia a meio da encosta norte da serra, numa casa à beira da estrada que liga Alcongosta às antenas e perto do caminho romano que desce até Alpedrinha. Um local isolado, onde não é difícil detectar, sobretudo à noite, “coisas estranhas”. A casa do guarda fica na zona de Ladeira e é conhecida (ou era), como a Casa da Floresta. Como nota curiosa, essa casa fica a 930m de altitude.

Todos os instrumentos de captação e registo que havíamos levado, funcionando 24 horas por dia, nada captaram e todas as observações nocturnas confirmaram as rotas aéreas conhecidas e do ponto de vista astronómico, para além de inúneros meteoritos, nada se registou de anormal. Muitos satélites de órbitas baixas visíveis, como seria de esperar.

Mais um regresso a casa com muito e muito pouco na bagagem.

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Um ano mais tarde, em Agosto de 1983 efectuava-se a terceira incursão à Serra da Gardunha por um período mais alargado (uma semana) e com outro plano de escalada. Dessa vez pediu-se a colaboração da GNR, no sentido de nos transportar e a todo o imenso material até à zona das antenas. Assim o nosso destino foi parar na estação ferroviária do Fundão, contactar o posto da Guarda e daí partir serra acima com o seu auxílio.

Duas viaturas dessa corporação foram deslocadas até ao ponto solicitado, passando por Alcongosta, casa do guarda e por fim as antenas. Não era nossa intenção montar aí o acampamento, mas sim junto ao posto de vigia de incêndios. A paragem nas antenas servia apenas para fazermos um reconhecimento in loco. O resto do percuso seria feito a pé.

Despedimo-nos dos guaradas da GNR, extremamente simpáticos e solícitos. Com eles combinamos o dia e a hora em que nos iriam buscar, não nesse ponto, mas junto ao posto de

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vigia. Naturalmente que aproveitamos a oportunidade para perguntar-lhes o que se passava na região no que respeitava a fenómenos aéreos não identificados. A resposta já era esperada:

“Nenhuma anormalidade aérea ou outra, registada na vasta area da Gardunha, desde sempre. Mesmo no comando, ninguém detectou algo de anormal!”

Ao princípio da tarde desse primeiro dia, já estávamos no local escolhido, na área denominada de Cavalinho, a uma cota de 1155m, num pequeno planalto a uns 80m da torre de vigia, a 1000m das antenas e a 900m do pico da Penha.

Uma visão fantástica ao redor de 360º, até onde a vista podesse alcançar. Local soberbo, sem dúvida e excelente para observar tudo à volta. Mesmo à nossa frente, para norte, a totalidade da Serra da Estrela, a uns 30km e depois dúzias de povoações, Covilhã, mais perto Fundão, lá em baixo no vale e tantas outras. À noite, as luzes do casario e a negrura dos campos eram um espectáculo esmagador.

Ainda o dia estava a meio, apareceu-nos o guarda da serra, o sr. Gabriel. Vinha-nos indicar o local onde existia uma pequena fonte de água ali perto. Imprescindível para a nossa sobrevivência. Uma ajuda preciosa;

“Sem dúvida que trouxeram água, mas não vai ser suficiente para tantos dias, estou certo?”

O simpático sr. Gabriel tinha caminhado uns bons quilómetros para nos dar uma ajuda preciosa. A tal nascente situava-se a uns 600m dali, nas profundezas de uma linha de água quase inacessível, mas foi a melhor prenda que nos haviam dado!

Algum tempo depois, confraternizavamos com os vigias da torre. Filhos de Bombeiros e guardas da GNR, que ali passavam dois a três meses, ganhando experiência, cidadania e alguns cobres. Tudo gente simpática, colaborante, simples e de uma abertura diferente das gentes do litoral.

Todos conheciam as aventuras românticas do sr. Américo mas, como diziam, “acreditamos que haja coisas de outro lado de lá, só que nenhum de nós viu nada. Estamos aqui mêses seguidos, dia e noite alerta. Coisas estranhas teríamos visto. Aqui todos estamos sóbrios. É altamente proibido o consumo de qualquer bebida alcoólica. Isso seria um descrédito para toda a equipa e a impossibilidade de continuar neste serviço.”

Foi dessa vez que decidimos ir ver de perto o Pico da Penha, conhecido como o “santuário” da serra, onde a lenda conta o milagre da menina perdida e mais tarde recuperada (ver lenda da Srª da Penha).

A caminhada ao longo de uma estrada de montanha, fez-se bem, e ao fim de 45 minutos, estávamos no ponto em que se tem que escalar até ao pico. Uma escalada íngreme, a corta mato, por vezes perigosa, até ao topo. Fizemos o roconhecimento minucioso do local. Verificamos a inexistência de qualquer gruta, como o adjectivo indica, apenas um lugar, uma espécie de pequena caverna, formada por enormes blocos de rocha caídos sobre si, como já foi referido.

Tinhamos atingido um dos pontos mais elevados da serra, 1176m de altitude. Redescobrimos os inúmeros vestígios de longínquos passados; pedras talhadas, escadas na rocha, etc.. Lá estava o abrigo do eremita,que me parece ser o descrito no livro de Hippolyto Raposo (pág. 63 a 65),como o Gargana, os umbrais de um milenar portal, calhaus rolados e muitos outros artefactos, todos ali espalhados, numa vasta área.

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Da Penha, olhando para os lados de Bouças e Barrocas (Oeste), vislumbravam-se, aflorando o solo pedregoso, inúmeros castros. Paisagem magnífica e inesquecível. Era a prova física, concreta, da presença humana pré-histórica.

Dias depois, dávamos por finda a terceira incursão à Gardunha. Partíamos mais uma vez com os bolsos vazios de “ovni’s”, mas cheios de mais conhecimento. As observações astronómicas eram, a par da atenção que nos suscitava a paisagem celeste nocturna, uma verdadeira aula repetida diariamente na prática e na teoria de conversas infindáveis e altamente proveitosas para todos os elementos da equipa de campo.

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Um ano mais tarde, precisamente a 8 de Agosto de 1984, repetir-se-ia mais uma semana no cimo da Serra da Gardunha, com idênticas acções. Seria a derradeira incursão de trabalho a esse local, com os mesmos resultados finais.

Alguns dias depois, todo o pessoal que havia participado nas duas últimas idas à Serra da Gardunha, reuniu-se para fazer um balanço dessa investigação.

Tudo havia decorrido conforme os planos; Levantamento geral da zona e dos locais mais “importantes” em termos de possíveis polos atractivos(?) do fenómeno, contacto com as populações, comportamento do equipamento de captação e registo, elementos auxiliares de voo de aeronaves, eventos astronómicos etc.. Tudo decorrera de forma absolutamente normal, sem o mínimo registo de qualquer anormalidade de qualquer área ou quadrante.

Assim, depois de todo esse gigantesco trabalho, nada se havia detectado a nível de actividade aérea ou outra não identificada, mais precisamente de origem desconhecida.

Entretanto e ao longo do decorrer dos anos, o sr. Américo dos Santos Duarte ia aumentando e engrandecendo as suas fantástica histórias com novos ingredientes.

Eram os “Lux-sitanos”, os Lusitanos homens de Luz, os Lusos, os puros. Depois as origens da pátria Lusa, os Templários, as deusas Egípcias, as triangulações com esse lugar, Fátima e Tomar, os caminhos iniciáticos esculpidos e talhados na serra. Visões de naves tipo “disco voador” e seus tripulantes pousando perto da sua casa.

Já em 1983 afirmava ter visto de madrugada (04.10h), a uns 20 ou 30m da casa “Flor do Vale”, pousar uma nave pequena, com uma cúpula transparente, sustentada por um tripé e;

“De lá vi duas cabeças. Um deles saíu. Parecia um símio, cabeça enorme, orelhas pontiagudas e braços muito compridos. Deambulou perto de mim e foi-se embora”.

O sr. Américo teria tido outros encontros com aquilo que dizia serem extraterrestres, alguns deles em plena Serra da Gardunha.

Em 1995 já falava na existência de uma base subterrânea na Serra, local escolhido pelos ET. Essas criaturas, os Dropas e os Kems, aí tinham as suas bases de “ovni’s”, os mesmos que via às centenas.

Criaturas esguias e muito altas, assim como outras, pequenas e de aspecto simiesco. Segundo ele, seriam originárias da estrela Sírius.

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Entretanto, desde 1992 que o “vidente” suscitava a curiosidade jornalística. Nesse ano, o semanário “Semanário” e o jornal “Tal & Qual”, dedicam-lhe uma entrevista. Em 1993, foi a vez do jornal “Público” falar sobre o tema e de entre muitas outras pessoas, testemunhas de fenómenos aéreos não identificados, dedicou um espaço ao sr. Américo e aos seus mistérios Gardunhenses.

Sem querer errar, foi em 1985 que o jornal “Incrível” lhe dedica algumas linhas para falar das suas aventuras, ficando-se por aí (salvaguardando outra qualquer entrevista que desconheço) a sua participação indirecta (participou sempre por convite), na imprensa nacional.

A jornalista Maria do Rosário Marques mantinha, nos inícios dos anos oitenta, uma rubrica no jornal “Sete” intitulada “Castelo Novo, uma janela para o insólito”, na qual incluiu vários relatos do sr. Américo.

Por esse mesmo tempo conheci-a e ela acabou por colaborar em muitas reuniões do pessoal do C.E.A.F.I. de Lisboa, assim como também o investigador António Rodrigues, colaborador do C.E.C.O.P. (Centro de Estudos Cosmológicos e Parapsicológicos), liderado por Sanchez Bueno.

Discutimos algumas vezes o assunto da Gardunha, mas as opiniões de investigadores raramente coincidem com jornalistas, não sendo isso motivo para a inexistência de francas e abertas tertúlias, que aqui recordo com grande saudade.

Capítuo lll

O LENTO CAIR DO PANO

Naturalmente que o assunto Serra da Gardunha foi, aos poucos e poucos, perdendo a atenção dos investigadores do grupo, que, nessa altura já se designava por C.N.I.F.O., (Comissão Nacional de Investigação do Fenómeno Ovni).

Como qualquer outro dossiê, não se havia fechado, mas continuava em “stand-by”.

Foi por essa razão que, em conversa com dois investigadore da sede Portuense, o antigo membro da organização, Fernando Ribeiro e de um mais recente participante, Paulo C. Seixas (mestre em Sociologia, doutorado em Antropologia e docente da Universidade Fernando Pessoa-Porto), se aflorou de novo o tema Gardunha e o seu vidente sr. Américo.

Pensou-se ser interessante investigar essa personagem sob o ponto de vista sociológico e antropológico.

Estava-se em 1995 e eu já vivia no Porto. Foi em minha casa que se alinhavou um novo “ataque” à Serra dos ovni’s e mais precisamente à pessoa envolvida, que passou a ser considerado(?), pelo “contactado”.

Não achei adequado esse adjectivo. Para mim o sr. Américo era apenas um lunático e pouco mais do que isso, mas tive que me render aos meus parceiros, sem contudo mudar de opinião. Lembro-me bem de ter contactado os meus amigos e investigadores Lisboetas, Luis Alberto e Fernando J. Torres, os que conheciam comigo toda a história dos anos 81 a 84 e informá-los desta nova iniciativa.

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Voltar à Gardunha onze anos volvidos, uns partindo do Porto e outros de Lisboa, para remexer nas cinzas, cheirava a aventura e a um “matar saudades” do lugar e das gentes. Este era o sentimento dos Lisboetas e de mim próprio, para os elementos do Porto era como começar do zero absoluto. Embora com essas diferenças abismais, o projecto foi aceite com “desportivismo”.

Todos os da velha equipa alinharam na ideia e no saudosismo de acções passadas, mas cheias de emoção. Recordar aquele céu coalhado de estrelas, voltar a pôr os pés naquela bela serra, talvez reviver pessoas; a D. Conceição, o sr. Gabriel (guarda florestal), a senhora do restaurante de Alpedrinha (família Nabais), a D. Carolina que nos dava apoio logístico também em Alpedrinha, o sr. Rodrigues, o sr. Infante e o casal Maurício, vizinhos do lado e tantos outros, cujos nomes me esqueci.

Curiosamente, nem eu nem os meus companheiros dos anos oitenta, se preocupou muito com o sr. Américo Duarte. Infelizmente dele tinha ficado uma memória pouco agradável e por esse facto, passou (da minha/nossa parte), para o plano zero, em termos de interesse fenomenológico. Do ponto de vista psicológico, eram outras “estórias”, mas naturalmente fugia à nossa objectividade e à nossa frontalidade. Afinal eramos investigadores não sugestionáveis. Práticos e directos nas nossas analises. Era essa a função que cabe a um investigador de fenómenos inexplicáveis, não apenas isso, mas essencialmente isso, sem “palavrinhas doces”, nem contemplações de qualquer espécie. Só assim seria possível (é e será), um trabalho honesto e responsável, numa área tão transcendente e sujeita a fraudes, como essa. Longe de partidarismos.

Obviamente que todos sabíamos que o propósito principal dessa deslocação a Castelo Novo, se devia ao desejo de falar, mais uma vez, com essa “afortunada testemunha”, mas isso passava-nos, a nós, lisboetas do antigo C.E.A.F.I., ao lado.

Só os investigadores Paulo C. Seixas e Fernando Ribeiro contactaram o sr. Américo, procurando polos de interesse nessas “estórias” passadas e mal contadas. Tudo aquilo que eventualmente apuraram, nunca foi discutido entre os restantes membros desse grupo de investigação. O assunto havia morrido nos meados dos anos oitenta e nada mais havia a acrescentar, apenas a curiosidade tardia de Paulo C. Seixas e por “simpatia” do Fernando Ribeiro, (na altura seu aluno de antropologia).

Toda a equipa (Sul/Norte ou Lisboa/Porto) percorreu de novo a Serra, foi até à Penha, falou com todos os antigos contactos. Felizmente por essa altura todos vivos, lúcidos e repetindo as mesmas opiniões. Nada de ET’s circulando por alí, nada de naves extraterrestres, nem fenómenos estranhos e muito menos bases subterrâneas de “discos voadores”.

Nesse ano de 1995, o sr. Américo já se encontrava doente, mas completamente lúcido. Um tumor malígno localizado na zona do pescoço, fazia-se notar por um inchaço invulgar nessa zona. Ele próprio afirmaria que estava no fim da jornada.

Disso me deram conta os que o entrevistaram. Coisa que não seria mortal, diziam, mas o facto é que a doença estava progredindo.

Hoje arrependo-me de não ter assistido a esse derradeiro “bate-papo”. Pouco tempo depois, provavelmente entre 1996/98, apagava-se para sempre a “alma” das transcendências e das maravilhas da Serra da Gardunha, mas ficou mais uma lenda nova, moderna e proveitosa, como quase todas elas.

A Serra da Gardunha não era apenas um monte de rocha. Ela era um polo de contacto e permanência com seres oriundos do espaço! Era este o testamento deixado pelo sr. Américo e

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naturalmente bem-vindo por todos os que queriam ver a sua terra valorizada e ganhar, com isso, mais alguns cobres.

Circunstância muito bem aproveitada pelos “poderes” regionais, como iremos ver mais adiante.

Por sua vontade, embora não tivesse nascido naqueles sítios, os seus restos mortais repousam no cemitério de Castelo Novo. Uma sepultura simples, mas envolta em permanente mistério. Romagem obrigatória para os bandos de turistas, “caçadores do insólito e de discos voadores”.

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Mais uma vez, com os bolsos cheios de muito e de nada, os “aventureiros” de 1995 regressaram às suas bases. Uns como puros turistas e outros com novidades velhas e já conhecidas, mas para eles, “descobertas únicas”, singulares.

De facto, para antropologistas com leituras de sociologia, as histórias da Gardunha contadas pelo sr. Américo eram um banco de ensaio. Porém, para a investigação “ovni”, tinha terminado em meados da década de oitenta do século XX. Contudo, nesse mesmo ano de 1995, eis que surge, por parte do antropólogo Paulo C. Seixas, um texto sobre os depoimentos do sr. Américo e a sua interpretação como estudioso.

As conclusões a que chegou foram publicadas no anuário “Anomalia” nª 3 de 1995, sob o título “Ritual da Virtualidade – entre a Procura do Outro e o Encontro do Outro”, págs. 145 a 163.

Um discurso teórico, baseado numa conversa de talvez hora e meia, com o sr. Américo Duarte e em conclusões meramente pessoais, dentro do espírito académico do “antes de saber, já calculo”!

Esse artigo, sustentado apenas na sua opinião pouco fundamentada, foi naturalmente colidir com todo o trabalho efectuado desde 1981, ao compararem-se as fantasias do sr. Américo, com a investigação séria, do grupo de campo do C.E.A.F.I./Lisboa.

A natural reacção a esse artigo partiu de mim próprio, por o considerar “avulso” e desenquadrado da verdade. Nesse sentido, no mesmo número desse anuário (Anomalia nº3), entre as págs. 165 a 167, aparece a devida correcção.

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O tempo foi passando, os investigadores guardando as suas experiências e continuando (ou não), o seu percurso, com as memórias da Gardunha arrumadas num canto cinzento da memória ou, para outros se calhar, ainda com “elas” fresquinhas e prontas para novas prosas, novos trabalhos literários, defesas de tese...... Quem irá saber!

De novo o tempo a comandar o destino das “coisas”.

Em 2008, treze anos depois da incursão bi-partida do “pessoal dos ovni’s” e 27 anos depois da primeira ida do C.E.A.F.I./Lisboa a esse lugar, eis que surge mais uma oportunidade para voltar ao velho assunto.

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Uma equipa de produção para a TV, a “HOP! Filmes” propõe-se, num projecto para a RTP 2, recrear, em treze episódios, os eventos “ovni” mais importantes do país. Para esse efeito contacta com o “homem da ovnilogia nacional”, Joaquim Fernandes, nessa altura já fora do jornalismo, fundador do C.T.E.C. (Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência) e docente da Universidade Fernando Pessoa (Mestre em História Moderna, Ciências da Comunicação, Professor Doutor). Aquele que, por vários motivos, mantinha o que havia, em termos de espólio documental e humano, sobre a problemática dos “não identificados”.

Essa iniciativa televisiva teve, numa primeira análise, o mérito de reunir muitos dos investigadores já afastados por variadas razões, mas que continuavam unidos pelo simples facto de serem os pioneiros ou “militantes na reserva”.

Por essa altura e depois de uma divisão de interesses e planos diferentes, já existia a PUFOI (Portuguse UFO Investigation), constituida por cinco elementos, três dos quais oriundos da equipa de campo de Lisboa, Luis Alberto, Fernando J. Torres e José Sottomayor, com mais dois investigadores do Porto - Mário Neves e António Durval.

Entre muitos outros casos “ovni” surgiu, como não poderia deixar de ser, o caso da Serra da Gardunha.

Fui convidado a participar, por conhecer a fundo o assunto, mas também foram convidados o antropologo Paulo C. Seixas. e Fernando Ribeiro, já citados.

Como era de esperar e ao fim de algumas horas de estúdio nas produções “HOP”, na Srª da Hora, em Matosinhos, onde expliquei frente à câmara de TV, tudo o que sabia sobre o tema. Textos, fotos, mapas e desenhos, foram também disponibilizados, o que permitiu à “HOP! Filmes” ficar com o dossiê Gardunha quase completo.

Pediram-me depois, para os acompanhar até ao local dos acontecimentos. Acedi com toda a boa vontade e dias depois partiamos com destino às terras do sr. Américo, entretanto já falecido.

Cinco ocupantes no carro da “HOP! Filmes”: a produtora, Marta Lima, o cameraman, Paulo C. Seixas, Fernando Ribeiro e eu próprio, como guia(?).

Chegados à vasta área da Serra da Gardunha, fomos a quase todos os sítios, começando por Gândaras e pela casa do “contactado”. Como seria de esperar, encontrava-se sem ninguém, mas em relativo estado de conservação.

Felizmente vi os vizinhos do lado da casa “Flor do Vale”. Tinham aparecido, curiosos com os forasteiros. Fui o primeiro a vê-los e, de gravador em punho, lhes disse quem era e pedi-lhes que falassem o que pensavam, agora que o sr. Américo tinha falecido, qual a sua opinião sobre ele e os seus “ovni’s”.

O resultado da pequena entrevista veio confirmar o que eu já sabia. Felizmente mantenho essa gravação intacta.

Curiosos com os meus colegas e com os dois elementos da “HOP”, perguntaram:

“Aqueles alí são da televisão?”

Assim que se aperceberam do que realmente se estava a passar, e começando eu a chamar os meus companheiros para virem até mim, o casal mudou de postura e reagiu de modo muito diferente, ao serem entrevistados por Marta Lima..... Agora era para a televisão.

“Quando é que isto vai dar? Qual é o canal?”

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Passamos por Castelo Novo, todos eles lá à frente e eu sozinho, mais atrás, mirando tudo, tentando situar-me. Vi uma “coisa nova”. Uma casita pequena que tinha um letreiro por cima da porta que dizia, Junta de Freguesia. A porta meio envidraçada estava entre-aberta e, embora o Sol já se estivesse a esconder, via-se que não tinha encerrado portas.

Uma funcionária jovem com um sorriso mandou-me entrar e acabei por perguntar-lhe se era dali, da vila, ou do lugar. Disse-me que sim.

Foi quase à queima roupa que lhe perguntei se conhecia o sr. Gabriel, o guarda da Serra. Respondeu-me que o havia conhecido, mas que já tinha morrido. Fiquei triste com a notícia, perguntando-lhe de seguida se também tinha conhecido o sr. Américo. Como resposta comentou logo de seguida;

“O senhor vem cá por causa dos ovni’s?....Naquela mesa tem um folheto com tudo o que deseja saber.”

Fiquei completamente perplexo e como um autómato dirigi-me à tal mesa e peguei num prospecto de publicidade turística local. Nem queria acreditar. Peguei naquilo, agradeci e saí porta fora. O pessoal estava afastado, conversando, sem dar por nada. Chamei-os e mostrei o panfleto. Marta Lima pediu-mo e eu, ingenuamente, entreguei-lho com a sua promessa de mo devolver. Isso nunca aconteceu.

Relativamente aos casos da Gardunha, a “HOP! Filmes” acabou por dar, também como seria de esperar, demasiada ênfase aos episódios sujeitos a maior mediatismo e a uma maior especulação atractiva de audiências (é isso que vende). Aconteceu com a Gardunha.

Concluir que ali de facto, pouco ou nada existia em termos de fenómenos aeroespaciais, seria o mesmo que concluir que teriam andado a perder tempo e a gastar o orçamento da produtora em passeatas.

Do ponto de vista informativo, o caso “Gardunha” foi um completo fracasso e um sucesso para o turismo local e para a HOP!”.

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Entretanto, em 2009, surge um livro nas bancas, intitulado “De Outros Mundos – Portugueses e Extraterrestres no século XX”, com coordenação de Joaquim Fernandes e editado pela “Planeta Editora”. Tratava-se da compilação de um conjunto de textos de vários investigadores, directa ou indirectamente ligados ao fenómeno dos “não identificados”.

Voltou-se a falar da Gardunha, em dois textos separados. O primeiro, intitulado “Etnografia Breve do Contactismo Português – O Ex(tra)-Territorialismo como Modo de Vida?” , págs. 75 a 99, da autoria de Paulo C. Seixas, onde, de entre outros casos portugueses, volta ao velho tema.

No mesmo livro, mas entre as págs. 284 e 316, com o título “Virtualidade Cosmogónica de um Contactado (entre comas) na Serra da Gardunha”, um outro trabalho, da autoria de Fernando Ribeiro. Este descreve a situação desde o início dos acontecimentos, mas com uma leitura independente e de carácter informativo, embora sem nunca referir as várias intervenções dos colegas de Lisboa, no início da década de oitenta.

Nele disserta sobre o protagonista da história, situando-o como um homem sonhador, convencido de uma importante missão na Terra, especialmente em Castelo Novo, nas suas lendas e em evidentes ligações cosmológicas, onde antepassados, agora alienígenas, regressam às origens, tentando repor o que fora destruido ou esquecido, tendo sempre como tema principal o “Santuário da Penha”.

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O sr. Américo do Santos Duarte aparece agora (de facto ele próprio construiu essa imagem), como uma espécie de guardião, iluminado e predistinado a revelar ancestrais segredos escondidos na Serra. Ele intitula-se ou abre as portas para que alguém assim o julgue, o considere e respeite. Ele deseja que Castelo Novo seja poupada, na hora da verdade.

Isto é, sumariamente, aquilo que transparece do texto do Fernando Ribeiro, algo que naturalmente já se adivinhava desde os inícios dos anos oitenta. Um texto poético mas elucidativo da pessoa, do meio e do sonho/missão, mas deixando em aberto os caminhos do possível, do fantástico, da missão humana e da singularidade de algumas criaturas, quem sabe, “escolhidas”!

Um louco, um visionário ou então, para terminar tudo em bem, com um adjectivo pomposo: “ O Contactado”.

Estamos em 2014. Quase tudo mudou na Gardunha, apenas o mito parece perdurar. Porquê?

Durante milénios nunca acontecera nenhum mistério na Gardunha, nenhum fenómeno aéreo desconhecido, nenhum contacto com criaturas vindas de algures, nenhumas luzes estranhas sobrevoando aquele vasto território.

Em escassos anos de meados do século XX e durante a permanência do “contactado” por essas bandas, contam-se às centenas esses mistérios cósmicos.

Depois da sua morte (cerca de duas décadas depois), nada mais a registar até aos dias de hoje! Unicamente a exploração desse mito, com míseros fins lucrativos.

Nota final

A principal finalidade deste documento é a de clarificar em definitivo o que de facto se passou em termos de fenómenos aeroespaciais na zona da Serra da Gardunha e aparentemente vivenciados pelo Sr. Américo dos Santos Duarte, durante a sua longa permanência nesse local, entre 1978 e 1995. Tudo o que foi, é ou será televisionado, escrito ou dito sobre o assunto e que não corresponda ao que se descreve, deverá, a bem da continuidade de uma investigação criteriosa e séria, ser considerada matéria avulsa e sem validade.

(*) – Investigador da PUFOI (escreve não respeitando o designado “Novo Acordo Ortográfico”

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DOCUMENTOS FOTOGRÁFICOS

Notícia dos “500 ovni’s” publicada no jornal Nostra nº 24 de 28 de Outubro de 1978.

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Vista parcial da Serra da Gardunha, a partir de Gândaras. Encosta Sul.

Esboço da Serra da Gardunha em 1981, quando da primeira incursão da equipa do CEAFI.

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1981-Elementos da equipa do CEAFI em Gandras. Luis Cabrita, Fernando Torres e José Sottomayor.

1982- Equipa de campo do CEAFI em plena Serra da Gardunha, junto às antenas de retransmissão.

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1983-Terceira incursão à Serra. Vila de Alpedrinha - O Sr. Américo pede explicações ao Sottomayor.

1983-GNR presta ajuda à equipa do CEAFI a meio da caminhada, junto às antenas.

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1984- Acampamento junto à torre de vigia de incêndios.

Desenho do local dos dois últimos acampamentos (1983 e 1984). Torre de vigia de incêndios.

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Serra da Gardunha e o Pico da Penha.

1995-(11 anos depois) A velha equipa do CEAFI no local dos últimos acampamentos. Luis Alberto, Sottomayor e Fernando Torres.

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1995-Alpedrinha. Franca “cavaqueira” entre o guarda da Serra, Sr. Gabriel (de boné), elementos da população e os investigadores Sottomayor (de camisa verde), F. Torres e Paulo Seixas, na mesa (de costas).

Senhor Américo dos Santos Duarte, tendo a Serra da Gardunha como fundo.

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2008-Serra da Gardunha-Gândaras, com Fernando Ribeiro, Paulo Seixas, Marta Lima (Hop! Filmes) e José Sottomayor.

Carta militar da zona dos dois últimos acampamentos, assinalados com círculo vermelho.

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Aproveitamento das entidades da região. Quando o dinheiro fala mais alto que a honestidade e a verdade.

Agosto de 2014

José Manuel González Sottomayor